O PAPEL DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA FORMAÇÃO DE VALORES DE ESCOLARES Ivana de Campos Ribeiro1 Lucia Scussel Gisele Maria Schwartz Carolina de Souza Rodrigues Fernanda Lopes Andrade Tiago Aquino da Costa e Silva RESUMO A crise mundial envolvendo os bens hídricos configura um cenário o qual suscita ações não apenas mitigadoras, mas indica a necessidade sobre a revisão e formação de valores que atingem todos os grupos sociais e faixas etárias. Este estudo de natureza quali-quantitativa buscou avaliar o impacto de uma animação destinada ao público infanto-juvenil sobre a conservação de bens hídricos, evidenciando seu papel como material paradidático para intervenções em educação ambiental. Foram desenvolvidas pesquisas bibliográfica e exploratória, envolvendo dois grupos de escolares de 4º e 5º ano de uma escola pública da cidade de Rio Claro, SP, que assistiram ao vídeo “Um rio”, participaram de uma roda de diálogo dirigida por uma monitora, e dos registros dessas impressões em forma de desenho ou escrita. Estes dados foram categorizados e analisados quali-quantitativamente e apontaram a eficácia das técnicas utilizadas na animação, levando os alunos a importantes reflexões, especialmente no sentido da relação de causa, efeito e sustentabilidade, colaborando para a formação de valores pró-ambientais. Palavras chave: valores, educação ambiental, atividades lúdicas INTRODUÇÃO Entre os temas de maior necessidade de aprofundamento está a questão da água, merecedora de toda a atenção, em função dos desafios no sentido do seu uso sustentável. Apesar da crise constante, esta se intensifica de tempos em tempos, obrigando o ser humano, seu maior usuário a repensar seus hábitos, ditados por 1 Comunicóloga, mestre em Motricidade e doutora em Ciências, pesquisadora do LEL - Laboratório de Estudos do Lazer - Depto de Educação Física, IB - Instituto de Biociências UNESP/RC e IBEV – Instituto Brasileiro de Educação para a Vida, e-mail: [email protected] seus valores e consciência. A escassez de água é um tema que preocupa a população mundial. Contudo, para além das políticas públicas e gestão desse bem hídrico, prevalece a necessidade do investimento na educação. Neste sentido, o investimento na consciência, atitudes e ações pró-ambientais passa indiscutivelmente pelo sistema de valores de um indivíduo no qual a educação, especialmente a dos mais jovens, pode e deve ocupar espaços cada vez mais frequentes, tanto no âmbito do ensino formal, como nos não-formal e informal, alimentando relações de parceria entre os diversos setores da sociedade, a exemplo das escolas públicas, ONG e terceiro setor. No entanto, num mundo em que as tecnologias estão ao alcance de todos, considerando as inúmeras formas de disseminação e aquisição desses recursos (lícita ou ilicitamente), faz-se necessário que as estratégias de comunicação cada vez mais dinâmicas e eficientes sejam empregadas para a formação de valores próambientais OBJETIVO Avaliar o impacto de uma animação (Um rio) destinada ao público infantojuvenil sobre a conservação de bens hídricos, evidenciando seu papel como material paradidático para intervenções em educação ambiental. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Em 1998, a Educação Ambiental de Corpo&Alma (EA) já via a necessidade da re-união entre o racional e o afetivo, privilegiando a experiência prática (RIBEIRO, 2011). Esta metodologia trabalha as inter-relações e interinfluências entre as dimensões ambientais, a do indivíduo (corpo&alma ou dimensão biopsíquica), a dimensão social e da natureza ou planetária (I-S-N) (RIBEIRO, 1998, 2004, 2010). A EA de Corpo&Alma e a educação através da experiência tornam-se extremamente efetivas e duradouras, uma vez que associam a experiência cognitiva à afetiva, o conhecimento prévio, conceitual, ao experiencial, afetivo, estimulando, simultaneamente, os sistemas cerebrais límbico e neocortical. Em outras palavras, um caminho que reúne “cabeça, coração e mão”. Como lembram Silva e Chao (2011, p. 95, “Uma educação sensibilizadora fortalece a relação entre o homem e a natureza no tocante à responsabilidade ambiental e traz ao homem citadino, novas experiências e um potencial crítico capaz de fazê-lo assumir um compromisso ético com a sociedade e a natureza.”. Neste sentido, a formação humana atinge inevitavelmente a esfera dos valores. Esta proposta metodológica é baseada nas teorias da comunicação, neurociências, psicologia da percepção entre outras. Tem como pressuposto o “modelo das cinco fases” (RIBEIRO, 1998): A 1ª Fase deste modelo é TOMAR CONTATO (ou com-tato, e não, simplesmente, conhecer), onde em que há o reconhecimento da “dinâmica” que “anima” a natureza, esta perfeita “organização”, que sustenta os sistemas vivos e não vivos, o nosso corpo, os ecossistemas e seus processos de regulação, como uma perfeita organização da natureza, da qual fazemos-somos parte. Este contato também implica o racional, as informações conceituais. Este com-tato (afetivo e racional) se baseia em experiências de equilíbrios e desequilíbrios internos, biopsíquicos, como ponto de partida para as questões exteriores, sendo que tudo que ocorre no corpo humano ocorre na Terra. “Se realmente tivermos uma percepção das potencialidades do corpo, de como ele é perfeito - suas partes tão perfeitamente ajustadas, interdependentes, servindo de habitat para outras espécies essenciais à vida como as bactérias que naturalmente habitam os intestinos (um ecossistema, como já é considerado por outros cientistas), assim como o embricamento dos elementos da natureza, são grandes as possibilidades de que promovermos um maravilhamento com tão perfeita produção da evolução” (RIBEIRO, 2011, p.47). No momento que se segue, então, passamos para a 2ª fase, a ADMIRAÇÃO. A “admiração” leva o indivíduo de volta ao TOMAR CONTATO, no desejo de conhecer mais, de sentir mais, pois é justamente a admiração que impulsiona um indivíduo a aprofundar seus conhecimentos sobre algo, desencadeando uma sequência de conheceres. Neste caso, o objeto desta proposta é a apresentação ou representação de um fenômeno, de um conceito, de uma imagem, apresentação essa recebida pelo maior número de canais de entrada de informações possíveis e com maior intensidade, como forma de tomar contato, de causar impacto, revelando de forma mais intensa, as maravilhas da natureza”(RIBEIRO, 2011, p.47). A admiração é um grande passo para envolvimento mais profundo e afetivo e é aqui que surge a 3ª fase, GOSTAR, ou amar. A consequência desse envolvimento afetivo é o RESPEITO, sua 4ª fase, pois acreditamos que só se respeita àaquilo que se admira, que se ama ou, que se teme. Este respeito, imbuído de componentes afetivos, é o grande responsável pela motivação para a CONSERVAÇÃO, sua 5ª fase, afinal, quem respeita conserva, por amor ou por medo, onde sendo o medo é um dos componentes de todas as formas de “des-respeito”. “Necessitamos despertar a consciência do “valor” de cada parte que envolve nossa existência e que todas elas formam um único corpo, ou uma única CASA, onde tudo se interrelaciona e se interinfluencia” (RIBEIRO, 2011, p. 48). PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS As atividades aconteceram na Escola Municipal de Ensino Fundamental Diva Marques Gouveia, na cidade de Rio Claro, SP, com grupos de 4º e 5º anos, totalizando 117 alunos. Apresentação do grupo do IBEV - Instituto Brasileiro de Educação para a Vida e dos alunos; Atividade lúdica para descontrair e estabelecer um primeiro contato com os alunos; Apresentação da animação “Um rio”2, com duração de 4:15 min., o qual mostra, de forma lúdica, algumas transformações que podem ocorrer no meio ambiente, com o crescimento de uma cidade. A animação propõe para o espectador a discussão sobre qual o futuro que queremos para os rios das nossas cidades e aborda temas como mobilidade urbana, preservação, lixo, entre outros ligados à sustentabilidade e cidadania. Após a projeção, teve início a roda de conversas sobre o conteúdo do filme, os comportamentos cotidianos não sustentáveis, os quais todos nós temos, suas opiniões, sentimentos, dever de cada um, (economia de água, papel multiplicador de cada aluno, em casa, com os amigos); Expressão em forma de linguagem de Desenho (4º ano), ou de registro em texto (5º ano), da parte que mais os tocou; Despedida. A avaliação do trabalho desenvolvido teve por finalidade analisar o impacto do filme selecionado, bem como, as informações assimiladas, sentimentos e esperanças. A avaliação foi dividida em duas modalidades: desenhos e textos e, cujo conteúdo permitiu sua análise de forma quali-qualitativa. Para que esses dados, por meio de sua interpretação e avaliação, pudessem ser aprofundados, utilizaremos 2 A animação, desenvolvida pela Galeria Filmes, é parte do projeto “Olhar para Tudo”, que pelo grupo “Seleção Oficial”, do AnimaAção 2013 Brasil e da Seleção Oficial do MFL - Mostra de Filme Livre Brasil, 2014. utilizamos o método da “Triangulação de Dados” (Denzin; Lincoln, 2006). Neste estudo a triangulação se refere a uma alternativa para a validação, e como sugere Jovetchelovitch (2011), seu potencial é útil para a combinação de métodos diferentes que podem revelar aspectos diferenciados do problema sendo estudado. Assim, as modalidades textos e desenhos foram subdivididas em categorias e subcategorias. RESULTADOS Modalidade “desenhos” Os desenhos foram divididos em seis categorias, segundo as três etapas da animação: o ambiente sem a ação do homem civilizado, com a ação do homem civilizado, mas sem a noção de causa e consequência e com a ação do homem consciente: Ambiente natural (sem intervenção do homem “civilizado”) Ambiente degradado (ação antrópica, em desequilíbrio) Ambiente sustentável (harmonia entre ser humano e natureza) Ambientes natural e degradado (dois desenhos na mesma folha) Ambiente natural e sustentável (dois desenhos na mesma folha) DISCUSSÃO Percebe-se que a imagem da natureza intocada (52%), mostrada no início do filme, onde animais e índios conviviam harmoniosamente, foi a que mais marcou as crianças, seguida pela imagem do ambiente sustentável (29%), apresentada no final do filme, representando uma espécie de esperança que povoava o enredo psicológico das crianças. Em menor número estão aqueles que desenharam apenas o ambiente natural e degradado (17%) com dois desenhos na mesma página (comparação), seguido do ambiente degradado (16%), apresentado no meio do filme, como aqueles que causaram maior impacto. Vale lembrar que os 16% dos desenhos apontando aspectos negativos mostram que a grande maioria é impelida a focalizar sua atenção na natureza preservada, ou onde haja equilíbrio entre humanos “civilizados”3 e natureza, a focalizar a atenção apenas nas mazelas perpetradas pelo civilizado e que abortam os sonhos de sobrevivência futura. Entre aqueles que fizeram dois desenhos, 1% representou o ambiente natural e o sustentável e outro 1%, o degradado e o sustentável. Nota-se que a soma dos desenhos onde a sustentabilidade fica evidenciada, 31%, torna-se um número bastante baixo com relação ao observado pelos alunos, os quais ainda detêm a noção de que natureza conservada é natureza intocada (52%), como lembra Diegues (1994), em “O mito moderno da natureza intocada”, onde no qual o autor se refere a áreas naturais protegidas, consideradas como um paraíso, um espaço desabitado, onde a natureza deve ser mantida intocada e livre de qualquer pressão por parte da humanidade. Tal resultado aponta para a necessidade de novos investimentos em Educação Ambiental, os quais mostrem que um mundo sustentável é possível e a mudança de padrões de produção, consumo e atitudes e condutas cotidianas são a base da sustentabilidade ambiental. Porém, condutas sustentáveis são provenientes de valores sustentáveis. A possibilidade de aprofundamento teórico para artigos científicos sobre estes desenhos poderão ser subsidiadas por teorias que vêm das representações sociais uma vez que representam um conjunto de explicações, crenças e ideias, as quais constroem um conhecimento sobre um determinado objeto, uma vez que representam a percepção de um grupo social, e assim permitir a compreensão desses dados, apontando valores os quais podem ser ainda avaliados por teorias, a exemplo da Psicologia Social. 3 Apenas com relação ao habitat, uma vez que os índios vivendo na natureza estão mais distantes do modo de vida das civilizações urbanas, ou organizações sociais, econômicas e políticas que resultam no cenário ambiental que temos hoje. Como um trabalho de Educação Ambiental, o qual sugere invariavelmente uma perspectiva interdisciplinar, a avaliação desses desenhos poderá ainda ser observada para além da perspectiva do “desenvolvimento moral” de Kohlberg (1964), mas também pela ótica dos teóricos da arte-educação, da abordagem lúdica e ainda das neurociências, fechando um ciclo quando retorna às representações sociais em seus estudos acerca da representação social de beleza, tão evidenciada nos desenhos mais representados, o a natureza intocada (MOSCOVICI, 2010). Modalidade “textos” A modalidade “textos” foi divida em duas categorias: percepção sobre aspectos negativos e positivos as quais foram subdivididas em subcategorias e eixos. Categoria “percepção sobre aspectos negativos e positivos” Variante: Aspectos negativos Variante: aspectos positivos Eixo: Eixo: Eixo: Eixo: Poluição Descuido Gratidão Estética - tartarugas, peixes por todo o canto, borboletas e passarinhos voando no mundo, o sol iluminando todos; as - vimos a natureza - ninguém cuidava - a natureza é nosso nuvens para alegrar as era muita poluição nem tinha compaixão maior presente plantas - só não gostei da - o mundo acaba e a - isso é que é bom - eu quero o mundo poluição do rio natureza também assim - as pessoas têm que preservar o meio ambiente para o mundo ficar lindo - os peixes nadando normalmente é assim que a natureza tem que ser Categoria “conscientização e prospecção” Subcategoria: “colaboração” Subcategoria: “futuro sustentável” Eixo: Eixo: Eixo: Eixo: Cuidado Investimento Comprometimento Projeção - se você cuidar da - plantar árvores vai - É só acreditar e não - Um mundo sem água jamais vai faltar demorar, mas poluir poluição é possível - não jogue lixo no esperar a árvore - eu farei tudo para o - quando eu crescer lugar errado vai crescer meio ambiente e os rios eu quero rios e lagos - se o homem não - plantei uma - um pouquinho que limpos e bonitos, desmatar nosso semente, fizermos pode ser muito com peixes, planeta, lindo vai ficar cuidei dela com para o meio ambiente pássaros e flores, - ajudar o meio muita paixão - basta limpar, cuidar, tudo limpo ambiente - gostaria que todas preservar e amar - nós queremos um - para eu ajudar a não as pessoas fossem - ajudar o planeta mundo bom poluir eu não jogaria lixo no rio educadas sempre foi fácil DISCUSSÃO A subcategoria relacionada à “percepção de aspectos negativos” esteve presente em poucas frases, ficando estes aspectos negativos relacionados à poluição e à percepção de causa e consequência, como o descuido e o agravo das condições ideais para a sobrevivência humana. A subcategoria “percepção de aspectos positivos” decorreu de frases em se que orientavam eixos como gratidão e estética. O eixo gratidão foi decorrente de frases que expressavam a natureza (harmônica) como um presente, indicando ainda que este estado “é que é bom”, ou seja, ideal. O eixo estética foi derivado de frases que demonstravam o encantamento e o prazer dos alunos ao observarem a harmonia predominante na natureza antes da ocupação humana. A categoria “conscientização e prospecção” derivou da grande quantidade de frases que apontavam a consciência sobre a importância de boas ações, as quais deram origem a outros quatro eixos divididos em duas subcategorias: COLABORAÇÃO Cuidado, com frases expressando a necessidade de cuidar e ajudar o meio ambiente; Investimento, com frases as quais apontavam que o benefício do cuidado pode ser percebido em longo prazo; FUTURO SUSTENTÁVEL Comprometimento, com frases que expressavam a forma com que poderiam “ajudar” e; Projeção, com frases que demonstravam a esperança e o desejo de um mundo com a natureza conservada. Percebe-se que, em sua maioria, os alunos tiveram uma postura de otimismo e esperança com relação ao futuro, apontando saídas representadas pelos seus próprios esforços. Percebe-se, ainda, que a técnica utilizada no filme, uma animação mesclando a ilustração a imagens reais, associado ao texto, teve papel relevante como linguagem, a qual, em poucos minutos, trabalhou o passado, o presente e o futuro, um futuro sustentável, onde a natureza e o desenvolvimento urbano e econômico coexistam em harmonia. Cultivar desde a infância o respeito ao meio ambiente pode contribuir para um comportamento ambiental mais responsável. Atividades diferenciadas como as aplicadas junto a estes alunos, como as atividades lúdicas para estabelecimento da empatia entre eles e a facilitadora e os desenhos e textos, e, ainda, a projeção do filme, transformam-se em oportunidades que rompem o cotidiano. Como lembra Thompson (1973), ensinar é conseguir atenção e, assim, promove-se a mudança. Estas ações não são importantes apenas dentro de um programa de educação para a sustentabilidade, são vários os estudos que apontam os benefícios ressonantes destas ações. Os estudos de Lawrence Kohlberg (1963; 1984), psicólogo da Universidade de Harvard, baseado nas ideias de Piaget, o qual aprofundou seus estudos sobre o desenvolvimento da moral, constatam que a promoção de atitudes positivas com relação ao ambiente, por meio da discussão de dilemas de conteúdo ecológico, com percepções e experiências de natureza, enriquece o universo das crianças do ensino fundamental. Este fato pode indicar a importância do desenvolvimento e implementação de atividades diferenciadas dentro do ambiente escolar. As pesquisas de Ribeiro (2003; 2007), reiteram a importância dessas atividades no rendimento escolar. Outro exemplo, neste caso com educadores, pode ser percebido nos estudos de Gutierrez-de-White e Jacobson (1994), os quais realizaram quatro diferentes programas de estratégias de educação para a conservação, com crianças de quarto ano, desenvolvidos em Zoológicos na Colômbia. Os autores incluíram um wokshop prévio sobre conservação da vida selvagem, para professores do quarto ano. Em outro momento, o estudo posteriormente aplicado com alunos, envolveu um questionário aplicado de modo bifásico, como pré-teste e pós-teste, em que foi avaliado o conhecimento, a partir de uma escala de atitude. Os resultados apontaram que o comprometimento dos professores, reverberando no aproveitamento escolar das crianças, fora significativo. O mesmo resultado, com relação ao envolvimento da comunidade em ações proambientais, foi descrito na pesquisa de Gonzalez, de campos Tozoni-reis e Silva Diniz (2010). Colvin (1993), ao descrever uma série de workshops para Educação Ambiental, iniciados em 1990, nos quais participaram cientistas, educadores ambientais e professores de escolas de primeiro e segundo graus dos Estados Unidos e Equador, observou que os tópicos discutidos levaram à conclusão de que a preservação da biodiversidade e o uso sustentável de recursos dependem de entendimento, cooperação e participação de comunidades que, atualmente, utilizam esses recursos, ou podem utilizá-los. Este tipo de pesquisa se multiplicou nos últimos 20 anos, dando origem a programas de Educação Ambiental, tanto em nível governamental, como no terceiro setor, não restando dúvidas sobre a importância de programas de intercâmbio de Educação Ambiental e os diversos setores da sociedade, os quais podem ser uma estratégia efetiva para atingir tais metas, com vistas à sustentabilidade. Este trabalho confirma a importância da escola como núcleo de transformação comunitária. É neste ambiente que pais, professores e alunos têm espaço para o aprimoramento envolvendo valores, atitudes e ações. A paisagem escolhida como a ideal pelos alunos é a que representa o ambiente em harmonia, na maior parte das vezes, tendo sido apresentada no filme como o “passado”. Fica clara a posição de grande parte dos alunos a importância das ações que levam à recuperação do que foi degradado, incluindo o comprometimento destes e, acima de tudo, a esperança que permeava os desenhos e textos sobre um futuro melhor, onde a humanidade aprende a conviver com respeito e harmonia com a natureza. Nossa esperança se baseia nos estudos de Yehuda e colaboradores (1995) e Lehrner e colaboradores (2014), os quais analisaram os níveis de cortisol na urina de sobreviventes do holocausto nazista e de seus filhos nascidos após o fim da 2ª Guerra. A pesquisa detectou que, não apenas os pais apresentavam níveis de estresse significativo, mas seus filhos também apresentavam sintomas de estresse acima do normal. De forma semelhante, a tensão gerada pela mídia e observada no mundo circundante, o qual apresenta aspectos insustentáveis do modo de vida atual humano, pode gerar níveis de estresse (SUGLIA, 2010) que afetam as crianças, pode ter um contraponto em ações onde a esperança seja disseminada, caso do vídeo produzido pela Galeria Filmes e que, juntamente com as atividades lúdicas adotadas, podem gerar momentos de alegria e, conseqüentemente de produção de hormônios como a serotonina e endorfina. CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa perspectiva não tanto utópica, uma vez que as pesquisas na área do lazer vêm adentrando a estes campos de interesse como, a esperança, a alegria, o bem estar e a felicidade, percebe-se a importância de estratégias lúdicas as quais tem papel relevante na formação de sociedades sustentáveis em todos os níveis e dimensões. Como lembra a socióloga ambiental portuguesa, Luísa Schmidt (2010), a qual reafirma que os mais eficazes processos de Educação Ambiental ou de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, de onde percebe-se, finalmente, que, numa pequena ação, onde esforços foram somados entre ensino público, instituição não governamental associada a pesquisa universitária e terceiro setor e perfazem resultados que extrapolam a simples observação, quando avaliados do ponto de vista científico. Este fato demonstra a necessidade de que estes esforços em parcerias se repitam, como exemplo de responsabilidade socioambiental de todos os envolvidos. 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