BRINQUEDOTECA: PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE ATIVIDADES LÚDICAS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Msc. Tania T. Bruns Zimer, Adriane do Rocio Cardoso; Daniele Claudia Miranda Universidade Federal do Paraná, [email protected] INTRODUÇÃO O projeto Planejamento e Implementação de Atividades Lúdicas desenvolveuse em dois espaços: no Centro de Educação Infantil "Pipa Encantada" do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na Brinquedoteca do Laboratório de Ensino e Aprendizagem de Matemática e Ciências Físicas e Biológicas, do Departamento de Teoria e Prática de Ensino - Setor de Educação da UFPR, envolvendo a elaboração e a aplicação de atividades lúdicas. E, também em dois segmentos de ação: a formação continuada de professores da Educação Infantil e a formação inicial de pedagogos/professores das séries iniciais. A proposta entrelaçou Educação Matemática e Educação Ambiental com elaboração de atividades lúdicas visando o estudo de conceitos curriculares trabalhados com as crianças do jardim II e III, e ainda, o despertar nos educadores à valorização do brincar como complemento significativo nas práticas escolares. A expansão e dinamização da aprendizagem percebida, durante o processo, confirma que a ludicidade tem um papel importante na formação da criança, além de proporcionar momentos de participação solidária em que o respeito e a alegria coletiva tornam-se a ordem do dia. As atividades desenvolvidas foram: história do "Zé Sorveteiro"; jogo "Sua Forma"; "Quebra-Cabeça"; "Caixa Surpresa". Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 2 FORMAÇÃO DOCENTE A educação pode consolidar-se por mudanças ocorridas no contexto escolar a partir do traçado de uma nova perspectiva na formação e atuação dos professores. Essas mudanças estão relacionadas com concepções de educação que contemplam um conceito de vida escolar cujo Sistema Didático (CHEVALLARD, 1991) permite que se instale a descoberta, a dúvida, a construção de verdades, ou seja, a relação pedagógica entre aluno, professor e saber torne-se resultado da interação entre esses três elementos e não de sobreposição de um em outro. Para dar conta dessa perspectiva, são colocadas algumas exigências para o papel docente. Tais exigências precisam estar contempladas desde o início da formação docente para que possa, tornar-se um profissional orientador e mediador entre o ensino e a aprendizagem do educando, ser responsável pelo desenvolvimento da aprendizagem do aluno; lidar com a diversidade e a singularidade existente entre os alunos; ser um incentivador que, através de diversificadas metodologias e estratégias, elabora e executa projetos para desenvolver conteúdos curriculares significativos. Diante destas exigências, é de grande relevância reestruturar os modelos de formação docente valorizando ações que fortaleçam os vínculos entre as instituições formadoras e o sistema de educação (escolas, professores, alunos); formulando, discutindo e implementando um sistema de ensino que contemple aspectos como o da ludicidade em seu programa; atualizando e aperfeiçoando as técnicas de ensino, de tal maneira que articule a formação com as demandas da realidade escolar; preparando os professores, em curso, para serem agentes das mudanças na organização pedagógica. Nesse sentido, a atividade didático-metodológica em torno da ludicidade tornouse o fio condutor da interação entre os alunos da Universidade (futuros professores) e os docentes do Centro de Educação Infantil - CEI (regentes e seus auxiliares). Para os primeiros o desafio de tornar prático o teórico para os segundos a possibilidade de implementar à prática uma nova teoria. O contato com a realidade escolar e o acompanhamento dos resultados obtidos ao longo do período letivo, permitiram despertar entre os envolvidos um certo encantamento pelo potencial deste trabalho na busca da melhoria da qualidade de ensino. Nesse sentido, a pedagoga Mirela comenta sobre o que percebeu em relação a esse trabalho. Eu posso dizer que de manhã a gente sempre bateu na mesma tecla de que a criança tem que brincar, aprender, experimentar e era muito Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 3 difícil, porque tinha aquela resistência como você falou dos professores achando que iria tumultuar. Eu percebi isto nas meninas que depois que elas começaram a freqüentar a brinquedoteca elas começaram a ver soluções diferentes de se trabalhar com as crianças os conteúdos. Não só ficando naquela questão do caderninho, quadro, folha xerocada. Não, elas foram para o concreto, foi bem bacana neste lado. Pois vocês deram segurança para elas. As pessoas de fora estão mostrando à elas que poderiam trabalhar de forma diferente. Este foi um ponto super positivo. No que diz respeito as práticas lúdicas devem ser objetos permanentes de estudo e implementação, para que além de se resgatar valores culturais possa ampliar a capacidade de criação e articulação com uma proposta que valorize a educação em todos seus aspectos. Mas para que se atinja os objetivos que permeiam as práticas lúdicas, é preciso um comprometimento do professor em trabalhar com seriedade, explorando novas possibilidades afim de produzir um ensino significativo de qualidade para a vida de seus alunos. ATIVIDADE LÚDICA A literatura infantil foi o recurso priorizado no trabalho, pois acredita-se ser esse um modo desafiante e lúdico para as crianças da Educação Infantil compreenderem não só a matemática mas também a realidade que as cercam. Segundo SMOLE (1995, p.11), "a literatura infantil tem sido apresenta como uma prática pedagógica aberta, atual, que permite à criança conviver com uma relação não passiva entre a linguagem escrita e falada. De algum modo a literatura aparece à criança como um jogo, uma fantasia muito próxima ao real, uma manifestação do sentir do saber, o que permite a ela inventar, renovar e discordar. Através da literatura, a criança consegue não apenas se relacionar e compreender o mundo, mas consegue também superar problemas presentes em seu cotidiano". Hoje a literatura é muito acessível a todos, e porque não, então, o professor fazer uso desse material tão rico? O recurso da literatura, permite aos alunos e aos professores buscar novos meios de se trabalhar a ludicidade como resolução de problemas e até mesmo como encaminhamento para a compreensão de conteúdos, acabando com o tradicional esquema, quadro–negro, folha de exercício, cálculos. Mas não se deve esquecer, que o professor precisa refletir sobre os assuntos trabalhados nas obras, se são ou se têm relação com o mundo da criança, com os interesses delas. “Ao utilizar livros infantis os professores podem provocar pensamentos matemáticos através de questionamentos ao Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 4 longo da leitura, ao mesmo tempo em que a criança se envolve com a história. Assim, a literatura pode ser usada como um estímulo para ouvir, ler, pensar e escrever sobre matemática.” (SMOLE, 1995, p. 22) Não se esquecer que o brincar é muito importante para a criança, pois por meio delas a aprendizagem se torna mais significativa. Pelo brincar o aluno manifesta as suas decisões, os seus medos, os seus gostos, dúvidas, sua curiosidade, seu desejo de criar, enfim, “quando brinca, a criança se defronta com desafios e problemas, devendo constantemente buscar soluções para as situações a elas colocadas.” (SMOLE, 2000, p.14) Portanto, o brincar no contexto escolar é mais que uma atividade lúdica, é uma possibilidade de fortalecer a relação ensino-aprendizagem. O uso dos jogos, contudo, no ambiente educacional pode ser situado corretamente a partir da compreensão dos fatores que colaboram para uma aprendizagem ativa. Muitas vezes jogos que possuem regras, cujo conhecimento é de domínio público, são vistos sendo usados em sala de aula de maneira adaptada com o intuito em transmitir e fixar conteúdos de uma disciplina, de um jeito mais agradável e atraente para os alunos. No entanto, mais do que o jogo em si, o que vai promover uma boa aprendizagem é o clima de discussão e troca, com o professor e demais colegas, permitindo tentativas e respostas diversas ou alternativas, tolerando os erros, promovendo a sua análise e não simplesmente corrigindo-os ou avaliando o produto final mas como um recurso de exploração e construção de conhecimento novo. Qualquer jogo, mesmo os que envolvem regras ou uma atividade corporal, dá espaço para a imaginação, a fantasia e a projeção de conteúdos afetivos, mais ou menos conscientes, além, é claro, de toda a organização lógica que está ali implícita. Com esse tipo de atividade o professor, além de ter a possibilidade de compreender o simbolismo das manifestações espontâneas, pode também, adequar as atividades lúdicas às necessidades das crianças. O jogo auxilia na construção do conhecimento, dependendo claro de como é conduzido. O jogo ativa e desenvolve os esquemas de conhecimento, aqueles que vão poder colaborar na aprendizagem de qualquer novo conhecimento, como observar e identificar, comparar e classificar, conceituar, relacionar e inferir. Também são esquemas de conhecimento os procedimentos utilizados no jogo como o planejamento, a previsão, a antecipação, o método de registro e contagem. Um outro aspecto presente, na maioria dos jogos, são as atividades em grupo, aprender com o outro é mais rápido e mais efetivo porque é mais prazeroso, além de valorizar as relações sociais. Uma das Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 5 coisas que o lúdico assegura é o espaço de prazer e aprendizagem, onde a competição dentro de regras e o respeito pelo oponente podem promover a percepção de uma situação sob um outro ponto de vista. É o momento que a criança interage com seus pares. O professor deve escolher e criar jogos para serem usados em sua sala de aula, conhecendo primeiramente as condições e as necessidades de cada classe. Não é questão de oferecer jogos diferentes para cada faixa etária (como geralmente vem indicado nas caixas de jogos). Jogos com a mesma estrutura podem servir para várias idades se a sua complexidade for manejada, aumentando-se ou diminuindo-se o número de informações. O jogo sempre foi visto como divertimento, distração, passa-tempo, se o jogo vira obrigação ou é usado com finalidade de instrução apenas, perde seu caráter de espontaneidade e deixa de ser brinquedo porque se esvazia no seu potencial de exploração e invenção. Brincar é fundamental. Por estas questões, a criação de jogos e/ou atividades lúdicas para o estudo dos conteúdos programáticos propostos pela escola de Educação Infantil, também foi uma estratégia priorizada na condução do trabalho. Para a realização destas atividades, adotou-se um ambiente que transmitisse segurança e motivasse a criança à aprendizagem. A própria sala de aula é propícia à isto, mas porque não um espaço alternativo como uma brinquedoteca? BRINQUEDOTECA A Brinquedoteca é um espaço que proporciona por meio da atividade lúdica, a construção e reconstrução do conhecimento socialmente produzido e historicamente acumulado, sendo um ambiente de compreensão da realidade como um todo. Entendese que: É um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. Quando uma criança entra na brinquedoteca deve ser tocada pela expressividade da decoração porque a alegria, o afeto e a magia devem ser palpáveis. Se a atmosfera não for encantadora não será uma brinquedoteca. Uma sala cheia de estantes com brinquedos pode ser fria, como são algumas bibliotecas. Sendo um ambiente para estimular a criatividade, deve ser preparado de forma criativa, com espaços que incentivem a brincadeira de "faz de conta", a dramatização, a construção, a solução de problemas, a Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 6 sociabilização e a vontade de inventar: um camarim com fantasias e maquilagem, os bichinhos, jogos de montar, local para os quebra-cabeças e os jogos. (CUNHA, 1992, P.36-37) Na brinquedoteca a criança tem a oportunidade de experimentar e conhecer, explorar e manipular objetos, vivendo assim experiências diferentes. Construirá assim seu conhecimento, desenvolvendo sua autonomia, criatividade e iniciativa, além de resgatar o direito à infância, ou seja, o direito de brincar. Inspirando-se nesse ambiente, a implementação da atividade lúdica como suporte ao processo de ensino/aprendizagem na Educação Infantil ora foi iniciada na sala de aula e concluída na brinquedoteca e ora ocorria ao contrário. A mediação das atividades entre os diferentes espaços além de estimular as crianças também promoviam maior interação entre os professores regentes das turmas dos jardins II e III e os licenciandos pela cumplicidade das ações desenvolvidas. Mirela comenta, Os resultados que foram bem visíveis, foi da questão da integração das crianças de irem até a outro espaço com outras educadoras, e trabalharem conteúdos que são do dia a dia, da sala de aula deles. No caso de vocês é matemática. Eu achei que, após a primeira ida, o primeiro trabalho que vocês fizeram lá, que foi até com figuras geométricas, eles, começaram a perceber fora mesmo do ambiente as formas geométricas. Até um dia nós estávamos retornando lá da brinquedoteca e eles iam vendo as janelas dos prédios, dizendo: “olha lá o quadrado, lá o retângulo...”, e começaram esta percepção, que de repente eles até tinham com a gente, aqui dentro, mas não era tão visível. E nossa! Eles chegavam aqui e contavam a história para os outros colegas de outras salas, que montaram o boneco, a princesa, o príncipe. Foi então bem gratificante mesmo o trabalho que eles fizeram lá. De uma outra forma, você na escola até tenta fazer, nossas educadoras fazem bastante jogos, bastante brincadeiras, é uma coisa do concreto mesmo para depois ir para o papel, mas o fato deles terem ido em outro ambiente foi muito bom para eles. AS ATIVIDADES Partindo do objetivo central neste presente projeto, que é o de desenvolver atividades didático-metodológicas, por meio da exploração do lúdico na disciplina de Matemática, permite-se então descrever as atividades realizadas com os alunos do Jardim II e Jardim III do Centro de Educação Infantil “Pipa Encantada”, atividades estas realizadas ora em momentos na Brinquedoteca ora na própria escola. Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 7 As atividades realizadas com os educandos envolviam conteúdos préselecionados pelas próprias professoras, conteúdos estes, em que as crianças estavam trabalhando ou até mesmo que já haviam sido estudados em sala de aula, mas que não tinham sido compreendidos completamente . Com base nos depoimentos das professoras regentes e na análise do Projeto Político Pedagógico da escola, iniciou-se então a elaboração das atividades lúdicas e jogos. Antes mesmo de se começar a construí-los, houve a preocupação de lançar um desafio para cada atividade, ou seja, a cada novo jogo apresentado, o grau de complexidade aumentaria. Esta proposta também foi aceita pelos educadores e pedagogas da Instituição parceira. História do Zé Sorveteiro Nesta foi contado uma história adaptada, onde os personagens e o cenário foram construídos com formas geométricas (quadrado, círculo, retângulo e triângulo). Os alunos puderam perceber que ao nosso redor também possui formas geométricas, como eles mesmos falavam: "o quadro é quadrado, a bola um círculo, a placa um triângulo...". As professoras regentes relataram que no dia desta atividade, as crianças no trajeto até a escola, foram observando essas mesmas formas geométricas na rua. E ao chegarem no CEI fizeram o registro da atividade, algumas turmas desenvolveram uma continuação da história, outras uma carta para os personagens, outras ainda construíram os personagens principais para compor um painel na sala, tudo no maior entusiasmo. Após o conto da história, foi proposto na brinquedoteca que os educandos escrevessem uma carta para algum personagem da história, porém usando-se apenas os blocos lógicos, passado esta fase as crianças tiveram que transcrever a mensagem montada com os blocos para uma folha de papel usando aí formas geométricas planas confeccionadas em papel, ou seja, houve a passagem do tridimensional para o bidimensional. O que foi muito interessante de observar, pois muitas crianças criaram mensagens com sobreposição das peças dos blocos lógicos o que produziu transcrições com diferentes representações para uma mesma situação. Sua Forma O desenvolvimento deste jogo começou na própria escola. Distribuiu-se formas geométricas planas feitas de papel para grupos de alunos, então as crianças começaram a montar com as formas geométricas figuras de brinquedos, doces, animais que voam e Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 8 meios de transportes. Depois desta montagem, construiu-se um painel com os desenhos. No encontro seguinte, na brinquedoteca, as crianças puderam jogar o jogo “Sua Forma”. Nesta, os alunos tinham que assimilar o desenho que estava no painel com as figuras que eles tinham em suas mesas. O objetivo em uma primeira fase estava centrado em encontrar a sombra da figura sorteada e no segundo momento encontrar as figuras iguais e pintá-las exatamente do mesmo modo como estava no painel. Neste momento percebeu-se que os grupos, em torno de 4 (quatro) crianças em cada um, apresentaram dificuldades em pintar o mesmo desenho juntos, abrindo mão em certos momentos de pintar para não prejudicar a equipe, uns passavam com a mão na frente, num desenrolar divertido e inédito para eles, pois pintar um único desenho a oito mãos era bastante complicado, o que foi vencido pelo planejamento envolvendo o grupo. Quebra-cabeça e Caixa Surpresa Estas atividades contemplaram a relação número e quantidade. Na Caixa Surpresa, os alunos tinham que organizarem-se antes de jogar, pois o objetivo era pegar a quantidade de objetos de dentro de uma caixa correspondente ao número sorteado no dado, porém essa atividade deveria ser realizada pela equipe e não individualmente. Então nesta atividade em especial pudemos perceber a superação de problemas encontrados no grupo, como por exemplo, tinham que decidir quem iria pegar os objetos na caixa; decidir quem iria devolver os objetos excedente; quem iria pegar os que estavam faltando, enfim problemas a serem resolvidos para alcançar o objetivo do jogo. Neste instante, as professoras regentes se surpreenderam pelas atitudes que as crianças tiveram, em especial as que não sabiam “perder”, ou abrir mão do que tinham. Seqüencialmente a essa atividade foi disponibilizado para as crianças uma série de quebra-cabeças que também continham relações entre número e quantidades sobre diferentes temáticas: profissões, animais e seus filhotes, alimentos, brinquedos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se perceber o envolvimento total por parte dos alunos e docentes em todas as atividades propostas. Todos os jogos, todas as atividades foram realizadas em equipe, até mesmo porque as docentes falavam que este tipo de trabalho, ou seja, atividade em grupos não dava certo, pois tinham alunos que não sabiam compartilhar, ceder, e principalmente não permitiam trabalhar coletivamente. Esta atividade era tida como muito difícil para as mesmas, mas com o passar dos encontros na brinquedoteca e Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 9 consequentemente com as atividades em grupo desenvolvidas, foi possível perceber a mudança de comportamento das crianças, onde até mesmo as professoras, no final, surpreendiam-se com o resultado obtido pelos alunos. Em alguns momentos notou-se que por exigência do jogo, os alunos tinham que se organizar. Mas de que forma? Os próprios alunos que encontravam a solução para os problemas a eles apresentados. O que, para surpresa, tais resultados envolviam atitudes entre as crianças como, "abrir mão" do que estavam fazendo para que outro coleguinha pudesse fazer; os mesmos precisavam tomar decisões antes de realizar o que se estava solicitando, o que por conseqüência houve muita troca de idéias durante as atividades, permitindo assim a superação de desafios e conflitos lançados para a resolução do jogo. Sem falar do estabelecimento das regras, que no decorrer das execuções dos jogos, os próprios alunos chamavam a atenção dos demais, demonstrando desta forma a importância da participação e envolvimento ativo de todos integrantes da equipe. A alegria e a satisfação pelos resultados positivos alcançados era visível através dos impulsos eufóricos demonstrados pelas crianças. Perguntas do tipo: “qual será o jogo de hoje? Quando vamos voltar à brinquedoteca? O que tem nestes armários? Quando vamos brincar? ...” , tornaram-se freqüentes nos encontros, o que gratificou pela forma sincera, curiosa e alegre que os diálogos se conduziam. Estes resultados não foram visíveis apenas para nós que estávamos participando do projeto, mas para os professores, para as pedagogas e até mesmo para os pais. Os professores que participaram (na brinquedoteca e na escola no momento da elaboração e também de fazer o registro), relataram os resultados positivos que as crianças tiveram, como por exemplo, a conquista do trabalho em grupo; a compreensão de assuntos; a vontade de criarem jogos para poderem brincar na escola. As mesmas contaram que ao chegarem na instituição, os alunos relatavam para os demais, inclusive de outras turmas, e também para a pedagoga o que fizeram, quais as atividades realizadas, tudo isso com riquezas nos detalhes. Ao chegarem na Instituição, as professoras faziam o registro das atividades que tinham sido realizadas na brinquedoteca, neste momento, as crianças davam idéias do que fazer (criar uma música, uma história, um desenho, um painel,...). Em relação aos pais, estes se mostraram curiosos, alguns até mesmo foram à brinquedoteca para levarem os filhos e conhecerem o espaço. Relataram que os seus filhos, quando iam à brinquedoteca contavam tudo o que realizavam, nos mínimos Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 10 detalhes, e que perceberam uma evolução em relação aos trabalhos em grupos, à concentração, etc. Já, as atividades realizadas pelas crianças, foi surpreendente, pensava-se que em determinados jogos, por exemplo: a Caixa Surpresa e o Zé Sorveteiro, as crianças não conseguiriam realizar, mas que nada! Elas acharam soluções para os problemas que se deparavam, e ajudavam as que não conseguiam. E ainda, durante o trajeto de volta para a sala de aula iam estabelecendo relações do conteúdo escolar abordado na brincadeira com espaços (prédios, casas), objetos (roda dos carros, semáfaros) e ações presentes no meio social. Para uma compreensão maior dos resultados finais obtidos, realizou-se então uma reunião com a pedagoga da escola que diagnosticou o trabalho desenvolvido de modo bastante positivo. Os resultados obtidos motivaram a equipe da escola a propor a continuidade deste trabalho para o ano seguinte. Foi solicitado para que se possível, fosse incluído as turmas de Jardim I, pois as professoras viram pelas turmas envolvidas nesta etapa, o empenho e o desenvolvimento das mesmas. E, sob o ponto de vista da formação docente, tanto inicial quanto continuada, percebeu-se por esse trabalho que propostas com o mesmo perfil, ou seja, o da interação direta entre escola da comunidade (equipe pedagógica, professores, alunos e pais) e os cursos de licenciatura (Pedagogia, Biologia e Matemática, neste caso), possuem um potencial real de permitir a transposição da teoria para a prática. O modo como os alunos da universidade se envolveram, buscando mais e mais referências sobre o princípio metodológico presente no Projeto, a busca dos professores por espaços em que pudessem estar compartilhando suas experiências e a motivação gerada entre as crianças da Educação Infantil, foram alguns dos indicativos que tornaram-se instrumentos da avaliação deste trabalho. Palavras-Chave: brinquedoteca, educação infantil, formação de professores. Anais do VIII ENEM – Relato de Experiência GT 7 - Formação de Professores que Ensinam Matemática 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHEVALLARD, Y. La transposioción didáctica: del saber sabio ao saber enseñado. Buenos Aires: Aique, 1991. FRIEDMANN, Adriana, et al. O direito de brincar: a brinquedoteca. São Paulo: Scrita: ABRINQ, 1992. LOPES, Véra Neusa. Brinquedos e Jogos. In.: Revista do Professor. Porto Alegre, abril/junho. 1993. SANTOS, Santa Marli Pires. A Ludicidade como Ciência. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2001. SMOLE, Kátia Stocco. Brincadeiras Infantis nas Aulas de Matemática. Porto Alegre: Artmed Editora, Coleção Matemática de 0 a 6, vol.1. 2000. SMOLE, Kátia Stocco. Matemática e Literatura Infantil. Belo Horizonte,MG: Editora Lê,1995.