A INCLUSÃO PELO TRABALHO: A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA
NA FORMAÇÃO DAS FEIRANTES DE EMPREENDIMENTOS
ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS*
Ligia Maria Gubert Souza
Orientadora: Profª Marilene Zazula Beatriz
RESUMO
Este trabalho contempla as ações de formação das feirantes de empreendimentos econômicos
solidários realizadas durante a “IV Feira Universitária de Economia Solidária de uma Universidade
Privada no Estado do Paraná”, apresentado à disciplina de Estágio Supervisionado de Psicologia
Organizacional e do Trabalho II. A Economia Solidária é uma nova forma de produção e de consumo,
priorizando o preço justo e a associação de trabalhadores. As pessoas que atuam na Economia
Solidária estão em constante busca por novas frentes e oportunidades para a geração de renda
e trabalho e, para que isto aconteça, o grupo necessita de sujeitos que conheçam os princípios
da Economia Solidária e que estejam engajados nesta causa. Partindo desta idéia e, de acordo
com a demanda de formação identificada em edições anteriores da feira, viu-se a necessidade de
um trabalho direcionado às feirantes, com conteúdos voltados: a autogestão, a carta de princípios
da Economia Solidária, a formação de preços e a integração do grupo. No que tange à prática do
psicólogo, observou-se a possibilidade de atuar e, desta forma, experienciar e vivenciar as atividades
desenvolvidas pelo profissional da Psicologia do Trabalho no que tange a inclusão social por meio do
trabalho. Durante a experiência da formação levantou-se as seguintes questões para reflexões: que
o grupo envolvido na formação ainda está fortemente orientado por valores da sociedade capitalista,
imperando o individualismo, dificultando sobremaneira a sua coesão, enquanto movimento da
Economia Solidária. Além disso, observou-se grande fragilidade por parte dos empreendimentos
quando demonstraram total desconhecimento sobre a formação de preços de seus produtos,
fato este extremamente impactante na geração de renda destas pessoas. Sugere-se que, para as
próximas formações, seja realizado um levantamento de temas de formação a partir do próprio
grupo que irá participar da feira. Neste sentido, acredita-se que a formação poderá beneficiar
sobremaneira os empreendimentos econômicos solidários. Apesar disso, observou-se a atividade de
formação e de desenvolvimento foi de grande contribuição às feirantes na prática de suas atividades
dentro da Economia Solidária e também ao aluno no exercício e aprimoramento de suas habilidades
e competências para atuar na área da psicologia do trabalho.
Palavras-chave: economia solidária. Formação. Psicologia do trabalho.
1 INTRODUÇÃO
A Economia Popular Solidária abrange uma diversidade de práticas econômicas e sociais
organizadas sob a forma de vários tipos de empreendimentos solidários, tais como: cooperativas
populares, associações, empresas autogestionárias, redes de cooperação, grupos informais,
clubes de trocas, entre outros que realizam atividades de produção de bens, prestação de
serviços, trocas, comércio justo e consumo solidário, constituindo-se numa resposta da
sociedade civil à crise das relações de trabalho, do aumento da exclusão social, grandes
mazelas do atual sistema. A feira de Economia Solidária oferece uma oportunidade para a
comercialização dos produtos, bem como a troca de saberes.
* Trabalho premiado na 5a edição do Prêmio Silvia Lane, da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia - ABEP.
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A idéia da formatação de uma feira universitária iniciou-se pela participação da Professora
Orientadora - do estágio supervisionado obrigatório em Psicologia Organizacional e do
Trabalho, disciplina oferecida no último ano de formação do curso de graduação em psicologia
- no movimento da Economia Solidária do Estado do Paraná, em especial no Fórum Estadual
de Economia Solidária. Tal professora observou que uma das grandes dificuldades dos
empreendimentos ali participantes era o escoamento da produção, pois por falta de condições
financeiras e estruturais, apresentavam grandes dificuldades para entrar e se manter no
mercado tradicional.
Outra questão apontada foi a falta de formação em Economia Solidária, pois muitos
empreendimentos estavam construindo sua história no movimento por meio de ações e
práticas políticas e de participação ativa em fóruns e conferências, sem no entanto, passar por
uma formação com debate e discussão sobre o tema. Neste sentido, a referida professora teve
a ideia de formatar um projeto de feira de Economia Solidária e apresentá-la à Coordenação
do curso de Psicologia, bem como ao Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde,
além da Pró-reitoria de Promoção Humana. Após os aceites e os devidos apoios formalizados
por tais representantes, deu-se inicio a feira universitária de Economia Solidária em maio de
2009 e a partir da segunda edição, tornou-se um evento de Extensão daquela universidade.
Os objetivos da feira foram: oportunizar o escoamento da produção e da prestação de serviços
de inúmeros empreendimentos solidários da região metropolitana de Curitiba. Outro objetivo foi
o de possibilitar a conscientização da comunidade acadêmica sobre tais práticas econômicas
e sociais que privilegiam: o trabalho coletivo, a autogestão, a justiça social e o cuidado com
o meio ambiente e a responsabilidade com as gerações futuras. E finalmente, o objetivo de
propiciar uma semana de formação em Economia Solidária aberta aos empreendimentos
econômicos solidários e a comunidade em geral.
A Universidade possibilitou a organização e a operacionalização da Feira Universitária de
Economia Solidária no espaço da Universidade. O primeiro evento ocorreu durante a semana
de comemoração de aniversário da Universidade, no período de 25 a 29/05/09. A segunda
edição ocorreu em outubro deste mesmo ano. A terceira e a quarta edições também ocorreram
nos meses de maio e outubro de 2010, respectivamente. O horário de funcionamento para o
público acadêmico e a comunidade em geral foi das 9h às 21h. Para participar, o empreendimento
deveria ser integrante ativo do Fórum Estadual de Economia Solidária. Durante a semana, os
empreendimentos foram convidados a participar de uma formação em Economia Solidária. Tal
situação desenhou-se a partir da 2ª. Edição, onde se percebeu que no turno da tarde havia uma
queda de circulação de público pela feira, aproveitando-se para fazer a formação dos mesmos.
A Universidade disponibilizou a infraestrutura: espaço, eletricidade, água e segurança, sem
ônus para os empreendimentos, além da divulgação na comunidade acadêmica e em seu
entorno estimulando o comércio justo e o consumo consciente e ético.
Para efeito deste trabalho focalizaremos as ações de formação desenvolvidas por meio do
estágio de Psicologia Organizacional e do Trabalho na IV Feira Universitária de Economia
Solidária realizada nas dependências de uma universidade privada da cidade de Curitiba,
Estado do Paraná.
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2 DESCRIÇÃO DO TRABALHO
Economia Solidária
A Economia Solidária tem como proposta modificar as desigualdades presentes na sociedade
e está centrada na valorização do ser humano. É definida como uma nova forma de produzir,
vender, comprar e trocar o que é necessário para viver, fazendo isto de modo não exploratório.
Para Nascimento (2006), a Economia Solidária está centrada no conhecimento e atendimento
das necessidades sociais da população e:
representa instrumento de combate à exclusão social na medida em que apresenta
alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das
necessidades humanas, eliminando as desigualdades materiais e difundindo os
valores da ética e da solidariedade. (2006, pág. 6)
A exclusão social comentada por Nascimento (2006) é utilizada nas mais diversas situações,
conforme comentam Barros, Sales e Nogueira (2002):
[...] sempre no sentido de uma não-participação imposta, de uma interdição aos
indivíduos de tomar parte no jogo das relações sociais. Atualmente, seu sentido
mais comum engloba pobreza, desemprego e enfraquecimento dos vínculos sociais,
de forma que parece existir um consenso de que as raízes da exclusão estão na
desigualdade socioeconômica e cultural, reforçadas pelo crescimento da precariedade
e pelo desemprego. (p. 324:325)
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a Economia Solidária vem se apresentando, nos
últimos anos, como inovadora alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a
favor da inclusão social e parte dos seguintes princípios gerais:
valores comuns tais como a valorização social do trabalho humano, a promoção
das necessidades como eixo da atividade econômica, comercial e financeira, o
reconhecimento do lugar privilegiado da mulher e do feminino numa economia
fundada na solidariedade, a busca de uma relação de colaboração respeitosa com a
natureza e a prática da cooperação, da reciprocidade, da partilha e da solidariedade.
(ARRUDA, 2003, p.231)
Dentro desta perspectiva a Economia Solidária conforme descrito pelo Ministério do Trabalho
e Emprego possui as seguintes características:
Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades,
a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária.
Autogestão: Os participantes dos empreendimentos econômicos solidários exercitam as
práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas
e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos
graus e interesse.
Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos
pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comercialização e
consumo.
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Solidariedade: O caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes
dimensões como a justa distribuição dos resultados alcançados, melhoria das condições de
vida dos participantes, compromisso com o meio ambiente, preocupação com o bem estar
dos/as trabalhadores/as e consumidores, respeito aos direitos dos/as trabalhadores/as,
entre outros.
Podemos destacar ainda outros princípios da Economia Solidária de acordo com Nascimento
(2006), como, auxiliar na eliminação das desigualdades sociais, propor um projeto que visa a
sustentabilidade, propor um novo projeto de financiamento para pequenos empreendimentos,
facilitar a construção e a manutenção de empreendimentos, buscar o desenvolvimento
de redes de comércio mais justas onde todos recebem em partes iguais os benefícios do
desenvolvimento produtivo.
Segundo Singer (2009),
Economia Solidária é o nome que se dá para novas formas de produção e consumo
que priorizem o preço justo e a associação dos trabalhadores. Na prática, a
economia solidária é exercida por cooperativas, associações e redes de auxílio entre
trabalhadores e consumidores.
Uma destas vertentes sobre o tema da Economia Solidária está sendo desenvolvida por
Singer (2002). Segundo este autor, a Economia Solidária poderia estar mais avançada em
termos de viabilização de seus princípios se no Brasil, em especial, e no mundo, de forma mais
ampliada, os operários e os sindicatos não tivessem preferido lutar para defender os direitos
conquistados durante o processo de industrialização que ocorreu no século XX, ao invés de
desenvolver a Economia Solidária. Um dos grandes motivos para essa estagnação foi a sensível
melhora que os trabalhadores sentiram em suas relações de trabalho com o ganho do aumento
salarial, a seguridade social, a menor carga horária diária de trabalho, entre outros. Ou seja, o
alargamento do trabalho assalariado, no mundo, fez com que essa forma de relação capitalista
se tornasse hegemônica, transformando tudo, inclusive o trabalho humano, em mercadoria.
Quando o avanço da tecnologia e da acirrada competição global tomou pulso no Brasil e no
mundo, o desemprego estrutural ocorreu em massa, os sindicatos perderam força, não sendo
mais possível assegurar os direitos dos trabalhadores, a falência do modelo do Estado de Bem–
Estar Social e o foco dos movimentos emancipatórios voltaram-se para a sociedade civil. Tudo
isso levou as ONGs e os mais variados movimentos a estabelecerem o objetivo de “[...] preservar
o meio ambiente, a biodiversidade, o resgate da dignidade humana de grupos oprimidos e
discriminados [...] e a promoção de comunidades que por sua própria iniciativa e empenho
melhoram suas condições de vida, renovam suas tradições culturais, etc” (SINGER, 2002, p.
112). Assim, acendeu-se novamente a chamada Economia Solidária, também conhecida como:
economia social, socioeconomia solidária, humanoeconomia, economia popular e solidária,
economia de proximidade, economia de comunhão, economia social e solidária, iniciativas
econômicas associativas, entre outros.
Formação em Economia Solidária
A educação como construção social baseou as atividades desenvolvidas durante a semana
de formação das feirantes. Esta educação é concebida como práxis de aprendizagens que
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ocorrem no e com o coletivo a partir do compartilhamento dos saberes e da realidade do grupo
social envolvido. A ideia básica é promover um constante movimento de reflexão e avaliação,
resultando em constantes renovações e/ou reformulações dos saberes e das ações. Segundo
Mendonça et al. (2010, p. 18)
objetiva assim proporcionar a construção coletiva de aprendizados políticos,
estratégicos, econômicos, metodológicos e técnicos com a finalidade de qualificar
e viabilizar os empreendimentos econômicos solidários em conformidade com seus
valores e princípios.
Para Freire (1979, p.15) “A Educação, como prática da liberdade, é um ato de conhecimento,
uma aproximação crítica da realidade”. Neste sentido, considera-se que a formação em
Economia Solidária possa ser uma porta para a conscientização crítica de trabalhadores (as)
explorados (as) no modo de produção capitalista, se propondo a ser libertadora.
A Economia Solidária reconhece o trabalho como princípio educativo na construção de
conhecimentos. As ações educativas baseadas na autogestão, na cooperação, na solidariedade,
na compreensão da diversidade de sujeitos e de ações, busca a emancipação destes mesmos
sujeitos e da sociedade como um todo.
Diante da demanda que surge com a Feira de Economia Solidária, foi levantado por meio de
contato com as feirantes algumas necessidades para a sua formação que perpassam pela
integração do grupo, pelo conhecimento mais aprofundado da Economia Solidária como:
a autogestão, as diferenças entre empreendimentos econômicos solidários e empresas
capitalistas, o debate sobre a carta de princípios da Economia Solidária, até as necessidades
relacionadas com a atividade produtiva, como por exemplo, a formação de preços. Tais temas
foram tratados em forma de oficinas, com o objetivo de trazer maior aproximação entre os
participantes de diversos empreendimentos econômicos solidários, bem como criar e/ou
desenvolver uma consciência crítica sobre o seu entorno.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A oportunidade de participar ativamente da feira por meio das oficinas trouxe bastante
expectativa, tanto do que seria feito, do modo como trabalharíamos para organizar a semana,
como do resultado final.
Buscamos, por meio das experiências dos anos anteriores, encontrar temas que se enquadrassem
na realidade e na necessidade das feirantes da Economia Solidária e pudéssemos, desta forma,
proporcionar uma semana que de fato fosse produtiva.
Depois de alguns contatos e da troca de opiniões conseguimos definir as oficinas da semana
trazendo assuntos de interesse.
No primeiro dia da feira, já soubemos por meio da coordenadora da feira que o clima entre os
feirantes estava desgastado em virtude de alguns acontecimentos ocorridos em outras feiras
e que ainda não haviam sido discutidos. Durante a dinâmica de integração surgiram algumas
questões com relação ao que havia sido nos passado, mas que não ganharam muita força com
o restante do grupo predominando assim um clima mais ameno.
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Sabemos que a reciprocidade entre os membros é um fator determinante para se caracterizar
um grupo e que num grupo existem algumas características fundamentais como: a interação,
a coesão e os objetivos comuns. Quando falamos em Economia Solidária, estas caraterísticas
tornam-se imprescindíveis para o bom funcionamento de um empreendimento, lembrando que
cooperação e solidariedade são alguns dos princípios básicos desta atividade.
O grupo é formado por pessoas, as quais logicamente possuem pensamentos, valores, idéias e
sentimentos diferentes, mas onde todos estão unidos em prol de um objetivo comum.
Foi possível notar a grande diferença entre os membros que já estão há muitos anos envolvidos
na Economia Solidária e aqueles que são iniciantes, diferenças estas tanto na falta de
conhecimento dos princípios da Economia Solidária por parte dos novos integrantes, quanto
ao desânimo daqueles que há muito tempo lutam para terem seus direitos reconhecidos.
Os conflitos existentes fazem parte do dia-a-dia de qualquer grupo. Estes conflitos são
necessários e podem fazer com que o grupo cresça, pois eles rompem a rotina, ativam a
criatividade, estimulam a mudança, no entanto precisam ser moderados, pois em excesso
podem gerar brigas e destrutividade, lembrando que a eficácia de um grupo se dá através da
produtividade, satisfação dos membros e pela capacidade de cooperação contínua.
As reflexões geradas durante a semana trouxeram a tona muitos desses conceitos e dificuldades
enfrentadas e, com o auxílio dos facilitadores que participaram das oficinas, foi possível fazer,
em muitos momentos, que os membros pensassem no coletivo e não no individual.
Algumas manifestações dos participantes explicitaram essas questões ao dizerem que
certamente ao sairem dali muita coisa já seria repensada e, que, certamente, no dia seguinte
algumas coisas ocorridas no dia anterior não se repetiriam e que cada um se olharia diferente.
A reflexão que faço desta semana de formação é que mesmo sendo a Economia Solidária um
novo meio de geração de renda e trabalho, grande parte de seus integrantes não estavam em
sintonia com estes conceitos e, desta forma, a integração do grupo ficou prejudicada, fato que
pôde ser constatado no último dia das oficinas, quando muitos não se envolveram no trabalho
final ou o que fizeram foi um trabalho individual, atitude esta completamente contrária aos
princípios da Economia Solidária.
Alguns acontecimentos que ocorreram durante a feira, como falta de comunicação e cooperação
entre os participantes, demonstram claramente este desconhecimento e assim, poderíamos
dizer, descomprometimento com o grupo e, conseqüente, enfraquecimento da Economia
Solidária.
E quando falo destas deficiências do grupo, destes aspectos mais humanitários que envolvem
a Economia Solidária, penso ser importante destacar também a inexperiência e fragilidade de
alguns empreendimentos em relação ao negócio propriamente dito, quando vemos na oficina
de formação de preços algumas feirantes demonstrando a total falta de conhecimento com
relação ao preço do seu produto, fato este extremamente impactante na geração de renda.
Por outro aspecto, vale ressaltar que algumas feirantes, por já estarem participando pela
segunda ou terceira uma vez da feira no interior da universidade, demonstraram preocupação
em trazer produtos que fossem atrativos aos universitários, agregando assim mais valor a feira.
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A análise que faço do meu desempenho neste processo é satisfatória, pois me envolvi tanto
com o grupo, como com as atividades que foram desenvolvidas. De outro modo sinto que
poderia ter feito mais e melhor, mas muitas coisas só são percebidas após o término das
atividades, mas que servem para serem analisadas e refletidas para próximas oportunidades
de atuação.
De modo geral penso que o evento foi muito proveitoso para os feirantes, dando a eles
oportunidade de aprimorarem suas atividades, aumentarem sua renda e melhorarem a
qualidade de seus produtos, isso de acordo com o que foi expressado pelo próprio grupo, e
também de grande importância e aprendizado para minha forma formação.
Pelo fato de já estarmos na IV edição da feira e por sabermos que haverá continuidade
nos próximos anos, vale destacar aos próximos alunos que atuarão com este grupo que é
imprescindível realizar algumas reuniões e contatos com os integrantes dos empreendimentos
que irão participar da feira no intuito de levantar junto a estas pessoas suas reais necessidades
a fim de promover oficinas que possam cada vez mais agregar valores e conhecimento aos
participantes.
Como já dito anteriormente, no início do estágio tínhamos uma idéia do que trabalhar, mas
a idéia era nossa e não do grupo e no decorrer do estágio através das visitas ao fórum de
Economia Solidária pudemos perceber que a demanda era outra e, assim, reavaliamos
as oficinas e mudamos nosso foco, no entanto, isso poderia ter sido pensado e discutido
antecipadamente com o grupo de Economia Solidária.
4 LOCAL E CONDIÇÕES DE ESTÁGIO
As atividades relacionadas a este estágio tiveram início no 1º semestre do ano de 2010, onde
acompanhei a organização da III edição da feira organizada por outros alunos daquele estágio.
Neste momento, tive oportunidade de conhecer a Economia Solidária, seus principais conceitos
e as maiores dificuldades enfrentadas por aquele grupo de feirantes, por meio dos relatos dos
nossos colegas e da participação efetiva de nossa professora supervisora em fóruns e eventos
da Economia Solidária.
Neste 1º semestre trabalhei em conjunto com outros alunos a elaboração de um projeto
relativo a formação para ser aplicado nas dependências da universidade junto aos feirantes da
Economia Solidária, da comunidade acadêmica e da comunidade em geral.
A formação dos feirantes havia sido realizada na III edição da feira por meio dos alunos de
um curso de pós-graduação e teve grande repercussão entre os participantes, desta forma
surgiu a idéia de que este trabalho fosse desenvolvido na próxima edição da feira pelo grupo
de alunos que estava trabalhando no projeto de formação, e a partir desta nova oportunidade
passamos a ajustar nosso projeto para desenvolver este trabalho com o grupo de feirantes que
participariam da IV edição da feira.
Com este enfoque, direcionamos o trabalho a partir desta nova realidade que nos foi proposta,
assim passamos a pesquisar e conhecer melhor o que é a Economia Solidária a fim de promover
uma semana de formação que se ajustasse as necessidades daquele grupo.
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A IV Feira Universitária de Economia Solidária foi realizada no período de 04 a 08 de outubro,
onde participaram 18 empreendimentos. Estes empreendimentos contavam com uma grande
diversidade de produtos como: bolsas bordadas, artesanato em filtro de café, fantoches, panos
de prato, cachecóis, bonecas de pano, acessórios femininos, além de uma variedade de doces
e salgados das panificadoras comunitárias.
Tanto para a organização da feira quanto da formação, elaboramos check-list contemplando
todas as etapas deste processo a fim de manter todos os alunos envolvidos informados e
integrados do andamento da feira, pois este evento requer muito cuidado e atenção a todos os
detalhes que esta semana exige.
Sendo esta a IV edição da feira, muitos destes detalhes e etapas de organização já eram
conhecidos dos alunos incumbidos desta tarefa, o que facilitou e otimizou os trabalhos. Os
contatos com os responsáveis pelos empreendimentos e participantes da feira já estavam
disponibilizados, entretanto os alunos participaram das reuniões do Fórum Estadual de
Economia Solidária (FEES), a fim de confirmar os empreendimentos participantes, dividir as
vagas entre os interessados e alinhavar os detalhes para a semana da feira.
Os participantes tanto da feira quanto das oficinas variavam de acordo com a disponibilidade
de cada empreendimento, ou seja, ocorre nos empreendimentos uma divisão de tarefas e
responsabilidades, desta forma, enquanto um produzia outro participava da feira e assim
sucessivamente, por isso as oficinas tiveram uma média de 20 participantes por dia.
As oficinas foram realizadas numa das salas de aula da universidade previamente reservada
sempre no período das 15:00 às 17:00 horas. Todo o material necessário para a realização
das atividades durante as oficinas foram disponibilizados pelos alunos que trabalharam na
organização da feira e pelos oficineiros.
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5 REFERÊNCIAS
ARRUDA, Marcos. Humanizar o infra-humano: a formação do ser humano integral: homo
evolutivo, práxis e economia solidária. Rio de Janeiro, Vozes, 2003.
BARROS, Vanessa Andrade de; SALES, Mara Marçal; NOGUEIRA, Maria Luísa Magalhães.
Exclusão, Favela e Vergonha: uma Interrogação ao Trabalho. Em GOULART, Íris Barbosa (Org.)
Psicologia organizacional e do Trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo,
Casa do Psicólogo, 2002.
FREIRE, Paulo. Alfabetização e Conscientização. Em Freire, P.;[tradução de Kátia de Mello
e silva; revisão técnica de Benedito Eliseu Leite Cintra]. Conscientização: teoria e prática
da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes,
1979, p.15-30. Disponível em: http://www.4shared.com/document/0Eyu2-eT/Paulo_
Freire_-_Conscientizao.html. Acesso em: 24 novembro 2010.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/
ecosolidaria/a-economia-solidaria/. Acesso em: 20/08/2010.
MENDONÇA, A.; MEDEIROS, A.; ESPÍNOLA, B.; FRAZÃO, D.; KONZEN, J. I.; HILLESCHEIM, M.;
FERNANDES, R. A. U.; GÓES, R. C.; ARRUDA, R S.; MARIANI, S.; Projeto Político Pedagógico
da Economia Solidária. Brasília: 2010.
NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Princípios da Economia Solidária. Brasília, 2006. Disponível
em http://www.editoraferreira.com.br/publique/media/edson_toque7.pdf Acesso em
20/10/2010.
SINGER, Paul. O impacto da crise no Brasil é “brutal”. 2009. Disponível em: http://
terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3609755-EI6579,00-Paul+Singer+Impacto+da+cris
e+no+Brasil+e+brutal.html Acesso em: 11/05/2010.
___________. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2002.
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6 MEMORIAL
As atividades para organização da semana de formação das feirantes tiveram início no dia 11 de
agosto de 2010. Nos dois primeiros encontros debatemos questões relacionadas a organização,
idéias e sugestões para as oficinas e possíveis oficineiros tendo em vista alguns temas que já
haviam sido levantados como: estética e imagem pessoal e também algo relacionado a design
de produtos.
Contatamos com alguns professores dos cursos de estética, moda e design a fim de buscarmos
opções de oficinas para a semana da feira e recebemos algumas sugestões e também
percebemos que alguns não se encaixavam no perfil do nosso público alvo.
Foi fundamental nesta etapa do processo ter conhecimento dos aspectos que embasam a
Economia Solidária para que pudéssemos fazer as escolhas certas sem prejuízo tanto para
os participantes quanto os possíveis oficineiros. E, assim, percebemos, por exemplo, que
não seria possível, neste momento, realizarmos uma oficina sobre design de produtos, pois
os profissionais que estariam habilitados para isto não tinham a vivência e o conhecimento
necessários desta realidade, o que nos fez procurar outros temas que fossem de interesse dos
feirantes, fato este exposto em nossa supervisão.
No entanto, nossa professora orientadora esteve participando de uma Audiência Pública, e nos
alertou que teria novas sugestões de oficinas, pois neste evento encontrou uma profissional
que propôs a ideia de trabalhar a Carta de Princípios da Economia Solidária, por ser um tema
de altíssima importância para o grupo. Nossa professora supervisora também neste evento
percebeu a deficiência das feirantes na autogestão dos seus empreendimentos e, diante disso,
expôs a ideia de organizar uma oficina sobre este tema.
A partir destas novas sugestões de oficinas, resolvemos mudar o foco inicial e trabalhar mais
fortemente as questões relacionadas aos empreendimentos e suas implicações, trazendo
também para a semana das oficinas o tema “Formação de Preços”, ministrada por um professor
do curso de administração desta mesma universidade que já teve contato com a Economia
Solidária. Assim, ficaram definidos como temas, “Carta de Princípios da Economia Solidária”,
“Autogestão” e “Formação de Preços” e confirmados também os oficineiros.
Após esta primeira etapa, passamos a nos preparar com relação ao material, a sala, a estrutura
e a organização em geral. A seguir, a descrição das atividades e os relatos das oficinas.
1º Dia - segunda-feira 04/10/2010 – horário: das 15h às 17h
Atividade: Integração
No primeiro encontro programamos atividades relacionadas a integração do grupo e, para
isso, escolhemos algumas dinâmicas com caráter lúdico a fim de descontrair e aproximar as
pessoas.
Demos início a 1ª dinâmica, que foi dividida em dois momentos, o primeiro com músicas e o
segundo com a imitação de bichos:
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Distribuímos 5 letras diferentes de músicas populares, como marchinhas e cantigas de roda,
onde cada participante cantava alta sua música e, desta forma, tinha que identificar outras
pessoas que estivessem cantando a mesma música e, assim, formar os subgrupos. Depois de
formados, cada integrante rapidamente se apresentava aos demais. Num segundo momento
fizemos a mesma proposta somente modificando a forma de encontrar os outros integrantes
que foi através da imitação de bichos.
Depois destas pequenas apresentações formamos um só grupo e pedimos que todos se
apresentassem, expondo de que forma conheceu e ingressou na Economia Solidária:
“J. do empreendimento M.O., está há dois anos na Economia Solidária. Acredita que precisa
melhorar, precisa de mais pessoas e mais oportunidades para expor o trabalho.”
“A. está há 1 mês e sugere mudanças com relação a organização e a falta de comunicação,
pois ficou sem almoço.”
“S. é nova dentro da Economia Solidária, e acha que existem pequenos defeitos.”
“G. do empreendimento M.O., está há 8 anos participando e diz que o grupo foi reformulado.”
“R. do empreendimento F., fazia feira em sua cidade, mas não houve apoio do prefeito.
Está na feira por intermédio de uma amiga. Trabalha com arte em filtros de café, busca
convencer as pessoas da consciência ambiental.”
“A. faz artesanato há 4 anos e foi bem recebida por todos.”
“S. do empreendimento N.A. faz marionete voltada para o público infantil, entrou no grupo
através de amigos. Relata que o grupo foi prejudicado pelo atraso de outras pessoas, e diz
que lidar com pessoas é difícil e que a solidariedade ainda deixa a desejar.”
“K. do empreendimento S., faz artesanato há 15 anos e está na Economia solidária há 2
anos. Acha que defeito não tem, mas é preciso conhecer mais uns aos outros.”
“V. conheceu através da TV, a venda de produtos às vezes é difícil, falta um espaço fixo.”
“R. quer ter mais tempo para a família S. (nome do empreendimento em que trabalha). Fala
que Economia Solidária é um nome bonito, mas para que o produto chegue ao consumidor
final é preciso um ponto fixo, ter referencial frente a Economia Solidária.”
“I. do empreendimento A.E., esta no grupo há 6 anos, a prefeitura não ajuda e agradece a
professora M. pela abertura.”
“V. diz que levar não é o problema, união é o problema. Está muito decepcionada, são 10
anos lutando e com muita força.”
“T. conheceu a Economia Solidária através da filha, foi participar de uma reunião e conseguiu
participar da feira.”
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“M. do empreendimento N.S., ficou encantada com a união no grupo de troca, onde
participou por 4 anos e ingressou na panificadora solidária. Diz que se não correr atrás não
se consegue nada.”
Logo no início das apresentações uma das participantes reclamou da falta de organização
e comunicação, pois ela e sua companheira ficaram sem almoço. Depois, outra participante
comentou o fato destas mesmas feirantes que reclamaram da falta de organização, terem
chego após o horário marcado prejudicando o restante do grupo.
Neste momento, senti que o clima ficou tenso e me preocupei por não saber exatamente como
conduzir caso desse início alguma discussão mais calorosa, no entanto, as reclamações não se
estenderam e o clima ficou mais ameno.
Finalizadas as apresentações, passamos o vídeo “O cachorro e o hipopótamo” com o propósito
de descontrair para a próxima dinâmica.
A dinâmica seguinte intitulada “Nem o meu, nem o teu, o nosso”, consistia em escolher um
modo de dançar e ao sinal das facilitadoras formarem duplas, depois quartetos e, assim,
sucessivamente até formar um só grupo, sempre optando por um único modo de dançar, que
deveria ser decidido por eles.
No decorrer da dinâmica, os participantes se envolveram na atividade e aos poucos foram
formandos os grupos e definindo o modo de dançar, ao formarem o grupo com todos os
integrantes foram acatando várias sugestões de dança até criarem uma coreografia.
Ficaram satisfeitos com o resultado final ao verem que todos estavam dançando da mesma
forma.
Ao refletirem sobre a dinâmica, comentaram da dificuldade que sentem em ter que abrir
mão de algo seu em favor do outro, mas que ao verem o resultado sentiram-se satisfeitos.
Comentaram que a atividade se encaixou com o que havia sido comentado anteriormente, e
citaram palavras como: organização, comunicação, união, cooperativismo, aceitação, alegria,
energia. Uma das participantes disse que “certamente amanhã o clima será diferente, cada um
vai se olhar diferente.” (sic)
Após as reflexões as facilitadoras pediram que cada um pensasse no que ficou do dia.
Enfatizando que este era o início, o começo de uma semana, onde ainda seriam colhidas muitas
coisas, e que se pudéssemos comparar a semana da feira a uma árvore, estaríamos plantando
uma semente.
Com esta idéia pedimos que cada um pensasse o que seria pra eles uma semente, se fosse
uma palavra, que palavra seria, se tivesse uma forma, que forma teria, e que isto poderia ser
expresso através de frases, palavras ou desenhos.
Colocamos um vaso no centro do círculo e pedimos que cada um depositasse ali sua semente.
Depois de concluído, formamos um grande círculo e cada um pegou aleatoriamente uma
semente e leu para o grupo. Algumas das frases escritas pelos participantes:
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“Paz no grupo”
“Que todos devemos 1º sonhar para depois realizar, mas sonhar pelo que desejar”
“É na união de cada elo que se faz uma corrente forte”
“Sonhando juntos: realidade. Sonhando sozinho: só um sonho”
Depois de finalizada a leitura das frases, encerramos o primeiro dia da oficina.
2º Dia - terça-feira - 05/10/2010
Atividade/Tema: Autogestão
A oficina teve início com a dinâmica “casa/inquilino/mudança”, onde é solicitado aos
participantes que se coloquem de três em três, em forma de toquinhas de coelho, (dois
elementos com as mãos cruzadas um com o outro de frente e um no meio). Quando o facilitador
der a ordem: inquilino, os participantes que estiverem no centro da toca trocarão de lugar.
Quando der a ordem casa, os integrantes que estão de mãos juntas de frente formando a toca
mudam de lugar. Quando o monitor disser mudança, todos trocam de lugar. Todos participaram
ativamente da atividade, foi um momento de descontração para início da oficina.
A proposta para a oficina de autogestão foi através da formação de três grupos, onde o grupo
C, não teria acesso ao grupo A, somente através da mediação do grupo B, no entanto o grupo
A poderia se dirigir aos demais grupos. Estes três grupos deveriam decidir o que fazer com R$
1,00, sendo que o grupo A ficou com o montante de R$ 0,75, o grupo B R$ 0,25 e o grupo C
sem dinheiro. Já no início das discussões, o grupo A teve a iniciativa de conversar o grupo B e
se uniram ao grupo C e, juntos, decidiram a melhor estratégia de utilização do dinheiro. Nas
reflexões o grupo comentou que o melhor a se fazer era unir forças, e também unir quem tinha
o capital (grupos A e B) com a mão de obra (grupo C). Falaram ainda que surgiram várias idéias,
mas muitas não eram viáveis, porque seria preciso mais que R$ 1,00, mas puderam perceber
que era preciso quebrar hierarquias e que embora não tivessem o capital em mãos, tinham sua
arte.
Na seqüência foi distribuído um texto falando sobre empresa capitalista x empreendimento
solidário, e proposta a reflexão sobre os dois temas. Foram fixados no quadro negro dois
cartazes para que as opiniões e idéias fossem anotadas, e sobre empresa capitalista surgiram
as seguintes opiniões: capital, mão-de-obra, lucro, meta, organização, interesse, hierarquia,
entre outros. E sobre empreendimento solidário: cooperação, autogestão, diálogo, união,
transparência, competência, planejamento, visão ampla, comunicação, conhecimento, entre
outros.
Depois da exposição das idéias o tema foi aberto para reflexões onde os participantes
expuseram suas considerações dizendo ser necessário buscar a mudança para crescer,
trabalhar o cooperativismo, comunicação, ajuda mútua para fazer a Economia Solidária se
desenvolver. Assim foi encerrado o segundo dia de atividades.
3º Dia - quarta-feira - 06/10/2010
Atividade/Tema: Carta de Princípios da Economia Solidária
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No início deste dia foi solicitado que cada feirante trouxesse alguns de seus produtos e os
colocassem no centro da sala.
Formaram, então, um círculo ao redor dos produtos e foi pedido que andassem lentamente e
observassem com atenção o que estava exposto.
Logo após foi solicitado que cada feirante pegasse seu produto. E assim, um a um dos dezessete
participantes falaram sobre seus produtos e do seu empreendimento.
Depois de finalizadas as explanações, a facilitadora entregou um poema a cada participante,
intitulado “Monólogo” de J.C. Araujo Jorge, que trás uma reflexão acerca da desigualdade
social, uma das feirante fez a leitura do poema e depois o grupo refletiu sobre o mesmo. Abaixo
algumas das frases dos participantes:
“Nosso trabalho é muito importante”
“Apesar da desigualdade as pessoas têm a chance de conseguir fazer alguma coisa”
“É preciso continuar para unir forças e assim fazer a diferença”
“A gente sofre, a gente luta tanto e às vezes não tem nem uma passagem de ônibus”
“As pessoas pegam mercadorias do Paraguai por que é mais barato e deixam de ver e
conhecer essas coisas bonitas que são feitas de coração”
“Sentimos a indiferença das pessoas por não estarmos dentro de numa boutique, numa
loja, por ser artesanato”
O grupo refletiu sobre as questões de desigualdades sociais, diferenças entre classes,
preconceito e o que isto acarreta para a vida de cada um, e as implicações disso na Economia
Solidária.
Na continuidade, e, também trazendo o material produzido no dia anterior sobre as diferenças
entre capitalismo e Economia Solidária, foi realizada a leitura de parte da Carta de Princípios
da Economia Solidária e discutida algumas questões das vantagens e benefícios produzidos
por este movimento.
Os participantes colocaram suas opiniões em pedaços de papel e após lidos foram separados
entre capitalismo e Economia Solidária.
O que podemos perceber entre muitos participantes é a falta de contato com os princípios da
Economia Solidária, dificultando desta forma a coesão do grupo em virtude de divergências
de opiniões pela falta de conhecimento e também do que já foi conquistado pela Economia
Solidária.
Os novos integrantes em diversos momentos falaram de ações que deveriam ser tomadas
como, por exemplo, pleitear um espaço junto às Prefeituras Municipais, fato este há muito
tempo solicitado pelos antigos integrantes da Economia Solidária, gerando desta forma
desconforto entre o grupo.
Embora os princípios da Economia Solidária falem de cooperativismo, igualdade, solidariedade,
podemos perceber que existem muitos aspectos do capitalismo introjetados e que acabaram
imergindo durante o desenvolvimento das atividades, e precisariam ser mais explorados e
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trabalhados a fim de que os integrantes percebessem determinados movimentos que vão
contra aquilo pelo que estão lutando.
4º Dia - quinta-feira - 07/10/2010
Atividade/Tema: Formação de Preços
Inicialmente propusemos uma atividade de integração e descontração antes do início da oficina
onde cada participante ganhou uma folha de jornal. A facilitadora passou duas orientações
“dentro e fora”, e nestes momentos os participantes ficavam com os pés em cima do jornal ou
fora dele, aos poucos os jornais foram recolhidos e os participantes procuraram outro jornal
para ficar, até que restaram apenas duas folhas para aproximadamente 20 participantes.
Alguns não se empenharam em tentar achar um local que pudessem ficar, mas a maioria
procurou um meio de apoiar os pés sobre o jornal.
Em seguida, foi realizada a Oficina básica sobre Formação de Preços. Esta oficina foi bem
avaliada pelos feirantes, pois muitos demonstraram total falta de conhecimento quanto a
elaboração do preço final de seu produto. Não sabiam dizer com clareza quanto custava para
fazer um determinado produto e, conseqüentemente, avaliar qual seria o preço justo para
cobrar do consumidor. Acharam que foi pouco tempo para a oficina e que gostariam de que
tivesse continuidade.
5º Dia - sexta-feira - 08/10/2010
Atividade: Encerramento
Para o último dia das atividades levamos vários materiais como: revistas, tinta, canetas, papéis
coloridos, giz de cera, etc, com o intuito do grupo criar um painel com as idéias e percepções
mais marcantes e importantes que ocorreram durante a semana.
Expusemos no quadro negro tudo que foi construído no decorrer da semana, como os cartazes,
as frases, figuras, entre outros materias e falamos sobre aquilo que vimos, e então com a idéia
voltada para estas experiências propomos as atividades.
Ao iniciarem, poucos participantes se manifestaram para criar juntos alguma coisa. A iniciativa
partiu de dois integrantes que começaram a construir uma corrente, aos poucos outros se
aproximaram, alguns fizeram um trabalho individual e se retiraram, outros ajudaram a construir
a corrente.
Neste momento, pudemos perceber o desinteresse por parte de alguns participantes, que
ficaram sentados lendo revistas ou simplesmente olhando o trabalho dos demais.
Por se tratar do último dia de atividades não foi possível pontuarmos estes aspectos, pois
não haveria tempo hábil para trabalharmos as questões que por ventura surgissem desta
intervenção, mas analisando estas atitudes é possível perceber e entender melhor o desgaste
do grupo e a dificuldade relatada pela coordenadora no primeiro dia. Ficou muito claro nesta
atividade a falta de integração e de cooperação tão falada por eles durante a semana.
Enquanto alguns sugeriram que todos trabalhassem juntos para construir uma corrente, outros
faziam um trabalho individual em algum pedaço do painel.
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Depois de finalizado o painel pedimos que cada um falasse sobre aquilo que criou e o que
significava. As pessoas que construíram a corrente falaram da importância da união e
cooperação entre os grupos. Após concluirmos as reflexões, projetamos um vídeo elaborado
por mim com imagens e frases coletadas durante a semana.
Os participantes ficaram satisfeitos ao verem o resultado de uma semana de trabalho e tudo
que por eles foi plantado. Ao finalizarmos, a representante das feirantes nos entregou duas
sacolas com os produtos delas para nos presentear e agradeceram por mais uma edição da
feira, em especial a nossa professora orientadora por dar a eles mais esta oportunidade.
E assim foi encerrada a semana de oficinas da IV Feira Universitária de Economia Solidária.
Esta edição poderá subsidiar as próximas formações.
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A INCLUSÃO PELO TRABALHO: A CONTRIBUIÇÃO DA