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Evento realiza-se em Vigo, em Fevereiro de 2015
Encontro Luso Galaico
volta à agenda
Depois de ter marcado a agenda do Norte de Portugal e
da Galiza em matéria de dependências, o Encontro
Luso Galaico, evento que se realizava de dois em dois
anos, voltará à cena. Será no próximo ano, no mês de
Fevereiro, desta feita na cidade espanhola de Vigo.
O final dos financiamentos ao abrigo dos programas Interreg ditaram um certo abrandamento nos investimentos transfronteiriços mas as relações mantiveram-se,
sobretudo nos domínios da formação e da investigação
conjuntas. Está pois assegurada nova partilha de conhecimentos e saberes transversais com técnicos extremamente conhecedores e experientes na área das
dependências, quer ao nível das universidades, quer da
intervenção no terreno. O encontro será enriquecido por
ateliers com profissionais dos diferentes eixos de intervenção, que partilharão experiências concretas, quer
do território Galego, quer do Norte de Portugal. Como
desenvolver programas com resultados efectivos será o
mote. Da agenda constará ainda a realização de conferências de grandes mestres que ajudarão a compreender o “estado da arte”, desde a investigação ao domínio
clínico e em que se discutirá em torno de questões bem
actuais como o duplo diagnóstico, défices de atenção e
hiperatividade, estudos de caracterização, ou os mais
recentes comportamentos aditivos e padrões de consumo…
Em entrevista, Adelino Vale Ferreira, responsável pela
DICAD da ARS Norte, convida à participação dos profissionais portugueses.
Após um interregno, irá realizar-se um novo encontro luso
galaico… Por que pararam esses encontros?
Adelino Vale Ferreira (AVF) – Parar propriamente, não para-
ram… Mantemos esta colaboração desde 1998, com muitos tra-
balhos quer na área assistencial, quer na formação e investigação. O que sucedeu foi que esses trabalhos foram muito sustenta-
dos pelos programas Interreg, fruto de vários apoios materializados, quer na criação de unidades assistenciais transfronteiriças,
nomeadamente em Chaves e em Porriño, quer em programas de
formação e de intercâmbio, de que constituem exemplo os encon-
tros luso galaicos, que realizávamos de dois em dois anos. Com o
final desses programas Interreg, por um lado, e com uma opção
política da União Europeia, por outro, até por via da crise, em que
se priorizaram mais as áreas das comunicações, das ligações e
do mar, a área das dependências, até por força dos resultados obtidos, acabou por ser menos investida e deixámos de ter acesso a
projetos financiados. No entanto, temos mantido a colaboração,
sobretudo através de trabalhos de investigação transfronteiriços.
Temos apresentado trabalhos bastante interessantes e partilhado
conhecimentos em áreas atuais, como o duplo diagnóstico, os dé-
fices de atenção e hiperatividade e estudos de caracterização da
população que assistimos.
Este Luso Galaico surge por iniciativa dos nossos colegas es-
panhóis da Galiza, que reuniram condições para realizar um novo
encontro e nos desafiaram a participarmos. Generosamente, diga-
se, pois a maior parte da organização e toda a sustentação do
congresso, que decorrerá em Vigo, em Fevereiro de 2015, partiu
deles e nós, com um modesto contributo, científico, avançaremos
com o encontro.
O próprio fenómeno das drogas,
ao longo dos últimos anos, pelas
questões que foi colocando, acabou
por ofuscar um pouco o álcool.
Os investimentos foram sendo
orientados no sentido de responder
a um desafio importante e grave para
a saúde mas que ofuscou um pouco
a integração dos problemas ligados
ao álcool. E temos hoje consumos
excessivos.
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O que se espera deste encontro?
AVF – Desde logo, existe esta dimensão da reflexão científica
em áreas que, hoje, nos preocupam muito, nomeadamente a
questão da cannabis, muito presente como sendo a substância
mais consumida, a patologia dual, as questões em torno das dificuldades na integração social, as novas substâncias, os comportamentos aditivos, as estratégias de prevenção. Também as questões das lesões neuropsicológicas provocadas pelo consumo de
drogas, quer no sentido do diagnóstico, quer da intervenção. Um
outro objetivo importante consiste em mantermos esta partilha e
ligação, extremamente rica do ponto de vista científico e da intervenção, não a deixando morrer.
Apesar dessa partilha, parece subsistir uma fronteira política na intervenção em saúde…
AVF – Pensámos nisso há uns anos atrás quando criámos as
unidades transfronteiriças de atendimento, permitindo responder
quer à mobilidade de pessoas de ambos lados, quer criando camas para internamentos de longa duração, que nós podemos usar
na Galiza e eles cá. O grande desafio é resolver, numa dimensão
mais política, a questão dos pagamentos, dos meios auxiliares de
diagnóstico, do receituário… Têm havido várias tentativas mas
ainda não conseguimos estabilizar essa situação que urge resolver.
Que temas estarão presentes no sentido de enriquecer o
conhecimento nos dois territórios?
AVF – Pelos temas principais também passam as questões do
duplo diagnóstico, quer no entendimento, quer ao nível da intervenção; as novas substâncias e os comportamentos aditivos, que
começam hoje a ser um desafio. É extremamente importante assumir essa resposta. Ao nível das comportamentais, salientamos
o jogo e ao nível das novas substâncias, que estão a surgir a um
ritmo que dificilmente conseguimos acompanhar, é extremamente
importante partilhar conhecimento. Temos conseguido avanços
importantes e todas as nossas unidades estão atualmente preparadas para receber utentes que possam ser usuários de novas
drogas e também do jogo. Ao nível farmacológico, também surgirão questões interessantes, bem como ao nível das questões legais e forenses em torno do consumo, onde será interessante encontrarmos pontos em comum e propostas. Outra dimensão importante que trabalharemos, para além das questões farmacológicas e dos avanços terapêuticos, é a intervenção ao nível da
reinserção. Neste momento, por força da própria crise económica,
perdemos muitos recursos e tentaremos partilhar exemplos de
boas práticas.
Quer no Norte de Portugal, quer na Galiza, existe uma tradição bem vincada de consumo de álcool, que gera problemas sociais e de saúde. Que atenção será dada ao fenómeno, que parece ainda não ter encontrado um espaço
próprio de decisão entre a saúde, a economia e as finanças?
AVF – É uma área que, embora seja transversal a muitas
destas questões, não será muito focada no encontro. É, de facto, um problema. O próprio fenómeno das drogas, ao longo dos
últimos anos, pelas questões que foi colocando, acabou por
ofuscar um pouco o álcool. Os investimentos foram sendo
orientados no sentido de responder a um desafio importante e
grave para a saúde mas que ofuscou um pouco a integração
dos problemas ligados ao álcool. E temos hoje consumos excessivos. Por cá, a DICAD tem eleito como grande preocupação a intervenção em prevenção e redução de riscos, sobretudo nos contextos recreativo e escolar e, ao nível do tratamento,
criou condições em todas as Unidades para receber utentes
com problemas ligados al álcool.
Como poderão os portugueses participar no evento contornando as actuais condicionantes financeiras?
AVF – Esse é, de facto, um problema que estamos a ponderar, até porque os preços espanhóis são mais inflacionados, assim
como usufruem de um nível de vida um pouco superior… Estamos
a tentar estimular as pessoas, desde logo, assegurando um grande número de participantes portugueses, quer nos ateliers, quer
nas mesas redondas, nas conferências e apresentações de posters. Temos apelado para que elas próprias consigam encontrar
patrocínios e, da nossa parte, tentaremos patrocinar a deslocação
do máximo de portugueses, solicitando esse apoio às instituições
públicas.
Parece que estamos a falar num custo… Até quando teremos que esperar até que as entidades que gerem o país
considerem a participação neste tipo de eventos um investimento?
AVF – O nosso país vive, de facto, uma crise orçamental e,
por consequência, as instituições também a sentem. Penso que
será a razão principal e não tanto a negação da importância
que assume esta participação. Na ARS Norte, temos tido um
grande apoio do Conselho Directivo. Agora, como é óbvio, não
é suficiente e exigirá também um apoio às outras instituições
onde as pessoas trabalham. Depois, também é verdade que
esta questão das dependências já não constitui uma preocupação prioritária para a população e, também por isso, há uma
tendência a ser menos investida. Esta é uma tendência que já
se constata há pelo menos dez anos e exemplo disso é o encerramento, por parte da Europa, da Direcção Geral V, então
responsável pelo financiamento e todo o apoio. Em suma, este
desinvestimento não é propriamente português mas de toda a
Europa. Portugal, por força da crise que ainda estamos a suportar, tem sentido mais este desinvestimento.
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