MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO EMERGENTE 2001/2003 2 3 MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO EMERGENTE 2001/2003 2 MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO EMERGENTE 2001/2003 3 4 SUMÁRIO Mapeamento Nacional da Produção Emergente 6 Diagnósticos das Regiões Mapeadas Nordeste e Sudeste Norte e Sudeste Sul, Nordeste e Norte Centro-Oeste e Nordeste 9 10 16 21 24 Artistas 29 Curadores 100 Mostras Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira Entre o Mundo e o Sujeito Poéticas da Atitude: O Transitório e o Precário Arte: Sistema e Redes Sobre(A)ssaltos Grafias do Lugar Risíveis Humores Manifesto das Indiferenças Pupilas Dilatadas O Desconforto da Forma O Discurso do Choque Abertura e Ecos Estranhamento 105 106 115 122 127 133 139 143 147 151 155 159 163 166 Bibliografia 170 Índice Onomástico 174 6 MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO EMERGENTE O programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais, desenvolvido pelo Instituto Itaú Cultural, por intermédio do Núcleo de Artes Visuais, é uma atividade de incentivo a jovens artistas. Os participantes iniciaram sua trajetória profissional na década de 1990 e trabalham com fotografia, instalação, videoinstalação, escultura, objeto, pintura, gravura, desenho, site specific (obras cujo formato varia de acordo com o local em que são montadas), intervenções urbanas ou no espaço expositivo e novas tecnologias. O programa tem como principal objetivo colaborar no processo de formação dos artistas e curadores participantes, recém-surgidos no circuito artístico. Também proporciona ao público referenciais para a leitura da obra contemporânea, por meio de exposições e de textos críticos-curatoriais publicados em materiais gráficos que acompanham cada mostra. Contribui desta maneira para o aprofundamento de conceitos artísticos e significados estéticos, atuando como um instrumento para a educação do olhar e do pensamento crítico sobre a cultura do país. Com base no conceito de que o confronto das produções regionais reforça a multiplicidade e a riqueza da arte brasileira, a cada edição do programa são selecionados artistas e indicados curadores de várias partes do país. Ganha destaque assim a arte feita além do tradicional circuito representado pelas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na edição 2001/2003 do programa, a abrangência nacional foi reforçada ainda em seu cronograma de mostras, que, além de terem sido apresentadas nas unidades da rede fixa Itaú Cultural, tiveram lugar, por intermédio de parcerias, em instituições culturais escolhidas por sua reconhecida atuação como centros difusores de cultura nas localidades em que estão sediadas e em suas regiões. Dessa forma, o público pôde tomar contato com a cultura e a arte de lugares diferentes e estabelecer contrapontos e semelhanças. As instituições culturais regionais, além de locais privilegiados para a exibição das mostras, assumiram outro papel de relevada importância na dinâmica do programa. Atuaram como parceiras do Instituto na complexa logística de recebimento dos portfólios de artistas, disponibilizando sua infra-estrutura física e operacional para que o material fosse adequadamente armazenado e pudesse ser pesquisado pela equipe curatorial. Foi composta equipe curatorial com coordenação geral de Fernando Cocchiarale, curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participam da equipe três curadores-coordenadores – Cristina Freire, integrante do corpo curatorial do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Moacir dos Anjos, curador do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, do Recife; e Jailton Moreira, criador do Torreão, espaço independente voltado para a arte contemporânea, em Porto Alegre – e nove curadores adjuntos – Cleomar Rocha [BA], Cristóvão Coutinho [AM], Eduardo Frota [CE], Juliana Monachesi [SP], Maria do Carmo de Siqueira Nino [PE], Marília Panitz [DF], Marisa Flórido Cesar [RJ], Paulo Reis [PR] e Paulo Schmidt [MG]. A edição iniciou-se com a publicação de edital e regulamento, em março de 2001, e com a realização de uma ampla pesquisa, denominada Mapeamento Nacional da Produção Emergente. Dividiuse o país em nove regiões, que foram visitadas pelos curadores adjuntos. Nessas visitas, foram levantados dados sobre cidades que são pólo de atração cultural e as condições em que ocorre o ensino formal e informal da arte nesses locais; os espaços expositivos, o mercado, o circuito artístico e a escoagem da produção; a circulação e a troca da informação artística; as aparelhagens e a infraestrutura cultural; a presença ou ausência de atividade crítica e curatorial; as características da produção; e as expectativas dos artistas em relação ao programa. As informações do mapeamento geraram diagnósticos que, sintetizados, estão presentes nos textos analíticos dos curadores-coordenadores e do coordenador da equipe curatorial, que seguem este prefácio. Além da indicação, com base no mapeamento, de artistas para integrar esta edição, o elenco formou-se com o recebimento de 1.495 inscrições espontâneas de todo o Brasil. Após análise dos portfólios, a equipe curatorial selecionou 69 artistas, residentes e atuantes em 16 Estados e no Distrito Federal, para participar do cronograma de exposições. Outros 292 artistas mapeados farão parte de um banco de dados e imagens, que será disponibilizado no site www.itaucultural.org.br. Os critérios adotados na seleção final foram a qualidade das obras de cada inscrito; a coerência entre o resultado visual e o conceito proposto; o grau de experimentação do discurso e da poética; o uso de novas mídias; a permeabilidade da obra, sua contaminação ou resistência a outras linguagens; a adequação da mídia ao discurso; a consistência da pesquisa empreendida para a concepção dos trabalhos; e o estágio de formação específica dos artistas. Um workshop organizado para apresentar a dinâmica de atuação do programa reuniu, durante uma semana, em fevereiro de 2002, os 69 artistas e a equipe curatorial, na sede do Itaú Cultural. Esse evento proporcionou a troca de experiências artísticas entre os participantes e o aprofundamento de temas da arte contemporânea, apresentados em palestras por filósofos, sociólogos, artistas, curadores e representantes de instituições culturais. De fevereiro a abril de 2002, foi realizada, em parceria com a Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes, em Belo Horizonte, a exposição Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira, que abriu o cronograma de mostras e reuniu todos os artistas desta edição, sob curadoria de Fernando Cocchiarale. No decorrer do 7 8 ano de 2002 e até o primeiro trimestre de 2003, serão realizadas quinze mostras em espaços culturais brasileiros, com curadoria dos nove curadores adjuntos (exposições de pequeno porte) e dos três curadores-coordenadores (exposições de médio porte). Com o objetivo de contribuir para o aprimoramento da formação artística dos participantes, estabeleceu-se convênio entre o Itaú Cultural e o Consulado Geral da França, em São Paulo. Sob coordenação da Direction des Affaires Culturelles, Paris, órgão ligado ao Consulado, foi oferecida uma bolsa ateliê-residência a um dos artistas desta edição, entre março e abril de 2002, na Cité dês Arts, Paris. A seleção dos candidatos à bolsa levou em conta critérios como a pesquisa dos conceitos de arte contemporânea, a linguagem empregada em suas obras, a capacidade de reflexão sobre a produção e a formação artística e inserção no circuito das artes. Este livro encerra as atividades da edição 2001/2003 do programa. Os textos que compõem a publicação constituem um amplo levantamento das condições em que se faz a arte contemporânea brasileira, ressaltando a densidade poética das obras dos participantes, alguns deles provenientes de localidades em que o processo e o circuito artísticos são práticas ainda incipientes. Cabe aqui agradecer o apoio recebido de instituições com as quais o Instituto estabeleceu parcerias para a apresentação das mostras, que, além de cederem sua infra-estrutura física e operacional para que os eventos pudessem ocorrer da forma mais satisfatória possível, atuaram efetivamente na difusão dos conceitos do programa, bem como das obras, artistas e curadores. São elas Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes, Belo Horizonte; Fundação Joaquim Nabuco, Recife; Galeria Athos Bulcão, Brasília; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba; Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza; e Museu de Arte da Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Registre-se também a prospecção realizada junto de outras instituições que, apesar da frutífera troca, devido a contingências operacionais não puderam abrigar mostras – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e Centro de Artes Visuais Raimundo Cela, Fortaleza; Fundação Casa França-Brasil, Museus Castro Maya – Museu do Açude e Paço Imperial, Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea, Niterói; Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Pinacoteca da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Espaço Cultural Usina do Gasômetro, Porto Alegre; Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba; e Fundação Jaime Câmara, Goiânia. Com o programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais, o Itaú Cultural cumpre o importante papel de democratizar o acesso à cultura e fomentar a diversidade cultural e social do Brasil. Instituto Itaú Cultural São Paulo, dezembro 2002 - DIAGNÓSTICOS DAS REGIÕES MAPEADAS 9 10 Nordeste e Sudeste Alagoas, Bahia e Sergipe Curador adjunto Cleomar Rocha No mapeamento regional decidiu-se pela visita às capitais dos Estados de Alagoas, Bahia e Sergipe e a algumas cidades do interior baiano, considerando-se as atividades artísticas de produção e as exposições regulares nas localidades em questão. As visitas ocorreram ao longo dos meses de março a maio de 2001. Alagoas/Maceió Em Alagoas, não há curso superior de artes plásticas, apenas alguns cursos básicos na área. A falta de atividades de formação artística dificulta o surgimento de nomes na cidade, e a ausência de exposições significativas no contexto contemporâneo torna nulo o envolvimento dos artistas com temáticas e questões relacionadas à arte atual. Os poucos artistas que despontam vêm de formação superior em áreas afins, como arquitetura e comunicação, e normalmente sintonizam sua produção a partir de viagens ao Recife, a Salvador, a São Paulo e à Europa. Existem também espaços culturais como a Pinacoteca Universitária, ligada à Universidade Federal de Alagoas, Ufal, com três salas para exposições. A Ufal não mantém cursos de graduação em arte, oferecendo, esporadicamente, alguns poucos cursos de extensão. A universidade não tem nenhum projeto de desenvolvimento na área. O Serviço Social do Comércio, Sesc, tem um espaço bem interessante, próximo ao centro da cidade, com teatro, salas de treinamento e galeria de arte. A galeria é pequena, o que dificulta a montagem de uma boa exposição. Bahia/Salvador A capital do Estado passa por um período de transição, bastante necessária, no âmbito das artes visuais. Um grupo de artistas dos anos 1960, apadrinhado pelo Estado, manteve a área de artes plásticas relegada a uma cultura visual desatualizada. O grupo, hermético para novos nomes, dominava os setores educacionais - a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, EBA/UFBA - e as políticas públicas dos governos estadual e municipal, além da área comercial de arte. Sua influência foi determinante para que novos nomes não alcançassem espaço ou projeção. Sob nova direção, a EBA foi retomada como centro de formação na Bahia. Entre as instituições de formação, apenas a EBA/ UFBA mantém um curso de graduação em artes plásticas, contando com várias oficinas. A escola passou por uma fase considerada negra. A recuperação está sendo feita com o auxílio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, que disponibiliza alguns de seus professores para o curso de mestrado da escola baiana, reaberto em 2000. Ademais, outras iniciativas, tomadas por instituições privadas, não conseguiram manter-se. Os artistas da nova geração buscam espaços para mostrar seu trabalho e encontram dificuldade em seu próprio território e mais ainda nos principais eixos do circuito nacional de arte. A alternativa para muitos tem sido a participação nos salões regionais, que efetivamente estão longe de ser um espaço legítimo da arte. Não há críticos em atividade na Bahia. A grande contribuição do Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM, dá-se pela manutenção de seus espaços de exposição, que recebem boas mostras e onde se realiza anualmente o Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas, um dos melhores do país. Os artistas vêem com preocupação o espaço do Museu, que não tem uma política de valorização de artistas baianos e conseqüentemente não afina suas relações com a classe como um todo. Algumas galerias comerciais mantêm exposições de seus representados, mas não conseguem projeção ou inferência na produção contemporânea. Dos espaços, a atuação e a importância se restringem verdadeiramente ao MAM, à Associação Cultural Brasil Estados Unidos, ACBEU, e ao Instituto Cultural Brasil Alemanha, ICBA. Recentemente foi aberta uma sala de exposições na escola da Aliança Francesa, que pretende desenvolver trabalho análogo. Contudo, pelas primeiras mostras ali realizadas, falta uma dimensão crítica para se nivelar aos outros espaços. Bahia/Vitória da Conquista A cidade de Vitória da Conquista, interior baiano, apresenta uma expressiva produção em relação ao seu tamanho. A base da atividade é o Museu Regional de Artes, ligado à Fundação Cultural do Estado da Bahia e responsável pela edição de um Salão Regional de Artes Plásticas. Reúne vários artistas, acometidos do mesmo mal que assola Feira de Santana: produções de qualidade duvidosa, mas que colecionam prêmios. Questões como inovação, diferente e choque ainda são tidas como parâmetro para a valorização da arte. Em conseqüência, vários trabalhos não passam de deprimentes estudos vazios. Bahia/Feira de Santana Feira de Santana, a principal cidade do interior baiano, conta com um grupo de artistas interessados em atividades de formação em arte contemporânea, vistos na movimentação do Centro Universitário de Cultura e Arte, Cuca, ligado à Universidade Estadual de Feira de Santana, Uefs. Tendo a sua volta os mais atuantes artistas locais, o Cuca exerce o papel de um verdadeiro centro cultural. De modo geral, os artistas não têm uma orientação de formação ou informação em Feira de Santana. Os trabalhos são, em sua maioria, formal, conceitual ou tecnicamente imaturos. A produção na cidade está basicamente voltada para os salões regionais, que possibilitam a exposição de trabalhos e premiam alguns artistas. A Uefs não tem nenhum curso na área. Mantém apenas um curso de extensão em desenho, que beira o desenho técnico e não consegue avançar no campo artístico. Contíguo ao Cuca está o Museu Regional de Artes, que mantém um acervo de artistas locais e uma bela coleção de desenhos ingleses do século XIX. Entre as instituições, o Museu Regional de Artes é um espaço de atuação referencial, onde se pretende criar uma biblioteca para os artistas. Concentra uma pequena galeria (sem recursos para exposições maiores), um teatro, além de algumas salas de aula. Bahia/Ilhéus Em Ilhéus, Bahia, a atividade cultural e artística é baseada no turismo, sem outras preocupações. Seus espaços são quase inexistentes e a atividade em artes visuais se restringe a uns poucos artistas de pouca qualidade. Foi possível conhecer alguns trabalhos expostos em uma livraria e na associação dos artistas. Entre as instituições, a Casa dos Artistas concentra alguns artistas e um número maior de artesãos. A instituição, que funciona em uma sala no quarteirão Jorge Amado, não tem espaço para exposições nem se dedica à formação. Sergipe/Aracaju A cidade tem também um Museu de Arte Contemporânea, com três salas de exposição - uma maior e duas menores. Não há nenhuma orientação seletiva para a ocupação das galerias do museu. A cidade de Aracaju conta com uma produção bem pequena e tímida em arte. A ausência de cursos e atividades culturais acaba por inibir pre- 11 12 tensões maiores. A Universidade Federal de Sergipe, UFSE, mantém o Centro de Cultura e Arte, Cultarte, responsável pelas atividades culturais da universidade. Contudo, a atividade desenvolvida ali é mínima, em função do que dispõe. O Cultarte está alojado num velho casarão no centro da cidade, com duas amplas salas para exposições, duas salas de aula e um anexo onde funciona a parte administrativa. O velho casarão encontra-se em péssimo estado de conservação, impossibilitando sua ocupação. Há um projeto de criação de um museu nesse espaço, cuja reforma está na dependência de liberação da verba. Por isso, a primeira exposição que deveria ocupar o espaço, montada há meses, não pôde ser aberta à visitação. sável pela formação de artistas no Estado do Espírito Santo. A região sofreu uma grande perda com a interrupção dos Festivais de Verão promovidos pela própria universidade na cidade de Nova Almeida, onde se estabeleciam contatos entre artistas capixabas e os dos demais Estados. A cidade tem poucas galerias, quase desconhecidas. A população também não dá mostras de conhecimento da atividade artística desenvolvida ali, fato curioso numa cidade pequena. No que se refere às instituições culturais, deve-se ressaltar a atuação de duas delas, que, em nichos distintos, têm colaborado incisivamente no circuito cultural capixaba. Além do Cultarte, um novo espaço cultural pode ser utilizado para atividades de formação em arte. Localizada na praça da Matriz, a Galeria Álvaro Santos tem sala de exposições e instalações para cursos e palestras. Sua administração fica a cargo da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esportes de Aracaju, Funcaju, e está aberta a propostas de mostras e eventos culturais. Sem espaços adequados para exposições, o Serviço Social da Indústria, Sesi, mantém cursos de desenho e pintura para iniciantes. A cidade de Aracaju, ao contrário de Maceió, não tem nenhuma relação histórica com arte e é totalmente destituída de referências artísticas. A Casa Porto das Artes, ligada à Capitania dos Portos, vem desenvolvendo importante política de difusão e fomento às artes plásticas por meio de uma programação contínua e da promoção do Salão do Mar, que é hoje o principal evento de caráter competitivo, abrangendo os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Espírito Santo e Minas Gerais Curador adjunto Paulo Schmidt Espírito Santo/Vitória e Vila Velha O curso de artes da Universidade Federal do Espírito Santo, Ufes, é atualmente o único respon- Vitória e Vila Velha contam com um pequeno número de galerias de arte institucionais e é por intermédio desses espaços que o circuito expositivo se dá. Nota-se que a maior parte da programação de eventos constitui-se de exposições concebidas e organizadas por grupos de artistas, como numa reação à escassa iniciativa institucional. O Museu Ferroviário Vale do Rio Doce, inicialmente um museu temático, mantém uma sala e um grande galpão dedicados a mostras de arte contemporânea, viabilizando exposições de artistas brasileiros, acessíveis não apenas aos artistas e estudantes da área, mas também ao público infanto-juvenil e escolar, por meio de seu programa de ação educativa. O Museu de Arte do Espírito Santo, Maes, vem concentrando esforços no Programa de Ação Educativa com a comunidade, ao mesmo tempo que se empenha na constituição de uma biblioteca/banco de dados de artes plásticas e na preparação da reserva técnica para ampliação de seu acervo, podendo tornar-se um importante núcleo de pesquisa e de difusão das artes plásticas no Estado. Minas Gerais/Belo Horizonte A capital do Estado tem hoje um grande número de galerias e espaços destinados à arte contemporânea. O ensino, porém, mantém-se restrito a duas escolas universitárias: a Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, EBA/UFMG, e a Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais. Esta última parece atravessar uma crise de identidade relacionada a diversas mudanças a que se submeteu na década passada. Embora ambas estejam contribuindo enormemente para a formação de artistas voltados às questões da contemporaneidade, prevalece ainda na cidade uma produção bastante conformada aos nichos de comercialização mais imediata e de fácil circulação. A produção emergente, como em outros tempos, padece de mecanismos mais eficientes para sua difusão, como publicações especializadas, que tornem mais possível a interlocução entre artistas, seus pares, crítica e público. Entre os espaços expositivos da cidade, vale ressaltar o esforço que vem sendo realizado pelo Centro Cultural da UFMG, que tem priorizado a apresentação de mostras individuais de jovens artistas, tornando possível uma importante etapa na maturação do processo de trabalho destes. Minas Gerais/Uberlândia e Juiz de Fora Pólos de referência em suas regiões, a Universidade Federal de Uberlândia, UFU, e a Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, oferecem cursos de artes plásticas nos currículos. Tais pólos apresentam características bastante distintas e, por questões geográficas, se voltam, predominantemente, para São Paulo e Rio de Janeiro. A UFU mantém na cidade o Museu Universitário, Muna, que, mesmo com estrutura deficiente, é um espaço de referência na cidade. O trabalho desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura de Uberlândia no sentido de fazer emergir a produção jovem contemporânea, em mostras panorâmicas de artes plásticas e fotografia, tem representado importante papel para os artistas da cidade e da região do Triângulo Mineiro. A UFJF conserva em seu campus alguns espaços expositivos, que não contam, porém, com equipamentos adequados e tampouco mantêm uma regularidade de programação de eventos. Em Juiz de Fora, o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas é a instituição cultural com atuação mais dinâmica. Suas instalações contam com diversas galerias, ateliês, auditório/teatro e salas de aula disponíveis a grupos da comunidade, que as utilizam para cursos, grupos de estudo, ensaios, reuniões etc. Pouco desperta às investigações das linguagens contemporâneas, Juiz de Fora conserva fortes as tradições da pintura e do desenho, construídas ali por gerações de artistas ainda bastante presentes na região. Minas Gerais/Poços de Caldas Embora a cidade tenha um bem equipado centro museológico, a Casa da Cultura de Poços de Caldas, gerido numa parceria entre o Instituto Moreira Salles e a prefeitura, a produção artística local se mostra bastante incipiente. Mesmo sem ter gerado ainda maiores efeitos sobre a comunidade artística, a atuação da Casa da Cultura - mediante exposições de arte brasileira algumas vezes aliadas a cursos ministrados pelos expositores - tem sido de grande importância para a cidade e a região. 13 14 Minas Gerais/Ouro Preto Mesmo demonstrando uma vocação natural mais voltada para a conservação e restauração de bens artísticos históricos, Ouro Preto mantém alguns espaços públicos que se dedicam também à apresentação de mostras contemporâneas, como a Sala Manuel da Costa Ataíde (anexo do Museu da Inconfidência), a Casa dos Contos e a Fundação de Arte do Ouro Preto, Faop, escola que atua na formação de artistas e restauradores. É interessante observar a grande incidência de artistas na cidade que têm se apropriado das tradições religiosas ou da estética barroca colonial para desenvolver seus trabalhos, traduzindo essas experiências numa linguagem contemporânea. Rio de Janeiro Curadora adjunta Marisa Flórido Cesar No Estado do Rio de Janeiro foram identificadas três regiões, segundo características específicas quanto à formação, produção e ao circuito de arte: (1) as cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, que, apesar de constituírem unidades políticas e administrativas independentes, foram consideradas uma só área, em razão do intercâmbio entre elas e de sua contigüidade física e cultural; (2) o sul fluminense, formado pelas cidades de Barra Mansa, Resende, Volta Redonda, Itatiaia e cercanias, por constituírem um núcleo regional de formação e difusão de arte promovido especialmente pela Universidade de Barra Mansa e pelo Museu de Arte Moderna de Resende; e (3) a região serrana, pela proximidade da cidade do Rio de Janeiro. Foram visitados 122 artistas, 99 dos quais no Rio de Janeiro e em Niterói (20 inseridos no banco de dados do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 1999/2000); 12 do interior fluminense (um inserido no referido banco de dados); e 11 da região serrana (dez de Petrópolis, um deles também já inserido no banco de dados, e um de Teresópolis). Rio de Janeiro/Rio de Janeiro e Niterói O Rio de Janeiro tem um sistema institucional de arte bastante consolidado e constitui historicamente um centro cultural de influência nacional. No entanto, isso não evita a intermitência com que vêm ocorrendo seus salões, como o Nacional e o Carioca, que foram importantes referências nacionais durante anos, desde sua instituição. Por outro lado, outros projetos e programas vêm atraindo a participação de artistas do Brasil, a exemplo de O Artista Pesquisador, promovido pelo MAC/Niterói, e o Programa de Bolsas RioArte, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que concede bolsas para o desenvolvimento de projetos artísticos, inclusive em artes visuais. Ainda para cobrir a lacuna deixada pelo Salão Nacional, o MAM do Rio de Janeiro e a RioArte realizaram, no ano de 2002, a 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea. institucional de arte e os núcleos alternativos administrados por artistas. Esses grupos têm propostas, tempos de atuação e consolidação um pouco diferentes na cena carioca e mesmo brasileira. Além de estarem se tornando uma referência às artes, assim como um acontecimento nas cidades, são iniciativas que, no decorrer de suas experiências, estão tomando a dimensão de uma política cultural e social, graças a sua natureza relacional e crítica. Entre os grupos de artistas que agenciam espaços e são por vezes também produtores de eventos artísticos, identificamos quatro que têm proposta de intercâmbio com outros grupos similares. Esses grupos são os mais atuantes no cenário artístico carioca e fluminense e aglutinam, em torno deles, boa parte da produção artística emergente. São eles: Atelier DZ9, Portas Abertas e Prêmio Interferências Urbanas (coordenado por Júlio Castro), Espaço Agora, Projeto Capacete, Galeria do Poste (Niterói), Zona Franca e Projeto Dromo. seminários e palestras ministradas por artistas e teóricos de fora); e na publicação de periódicos especializados, ainda que de forma incipiente. Rio de Janeiro/Região serrana A região serrana não chega a constituir um núcleo de referência especial às artes visuais no Estado do Rio de Janeiro. As visitas aos ateliês foram concentradas na cidade de Petrópolis, que, entre as três principais cidades da serra fluminense (Petrópolis, Teresópolis e Friburgo), vem demonstrando iniciativas mais contundentes para reverter esse quadro. A região como um todo carece de espaços de exposição abertos a mostras de arte contemporânea, de cursos de arte de formação acadêmica ou de centros de debate, reflexão ou crítica de arte. Suas galerias destinam-se principalmente à exposição da produção artística local. Fernando Cocchiarale Duas escolas são as principais responsáveis pela formação em artes visuais no Rio de Janeiro: a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, EAV/Parque Lage, e a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, EBA/UFRJ, com ênfase em seu curso de pós-graduação (mestrado e doutorado). Essa formação é complementada pelos ateliês informais de artistas. A quantidade expressiva de cursos de pós-graduação criados nestes últimos anos, em sua maior parte teóricos, explicita um interesse renovado pelas artes visuais. Esses cursos, sete já funcionando e outros em fase de estruturação, formam historiadores e críticos de arte, assim como artistas que coadunam suas inquietações experimentais com as teóricas. São os principais responsáveis pela publicação de revistas especializadas de qualidade. O interessante a observar é a forma como vem ocorrendo certa permeabilidade entre o ensino Rio de Janeiro/Sul fluminense Barra Mansa, Resende, Volta Redonda e Itatiaia O Museu de Arte Moderna de Resende tem um representativo acervo da arte brasileira (Tarsila do Amaral, Pancetti, Paulo Roberto Leal, entre outros). Além de promover o Salão da Primavera desde 1974 e exposições temporárias, destaca-se como referência às artes visuais do interior fluminense. Essa função, que busca dotar artistas e público de instrumentos para assimilar o acervo moderno do Museu e as exposições de arte contemporânea que ali ocorrem, vem sendo assumida pela Universidade de Barra Mansa, UBM. O empenho da UBM deve ser especialmente enfatizado na formação de artistas, com a criação do curso de educação artística; na organização de mostras de arte contemporânea na galeria da universidade; na promoção de um intercâmbio teórico (com Coordenador da equipe curatorial 15 16 Norte e Sudeste Ao reunir num mesmo relato regiões e Estados como o Amazonas e São Paulo não é possível deixar de aludir ao contraste que quaisquer comparações acabam provocando. Região Norte e São Paulo O contraste, como sabemos, surge da reunião de elementos tão distintos ao serem colocados sob um mesmo foco. No entanto, entendo que as regiões apresentadas aqui são complementares e sintetizam esse mistério da unidade na diferença, que constitui o povo brasileiro e suas manifestações culturais. Oferecer um panorama da produção artística emergente num país de dimensões continentais e contrastes inauditos como o nosso requer de quem se aventura na empreitada dois requisitos fundamentais: flexibilidade e trânsito. A flexibilidade sugere um olhar que se abre ao novo. Isso porque cabe aos curadores conhecer novos talentos mais do que reconhecer trabalhos e artistas já consagrados. Longe de um sistema que se desenha na rota dos grandes centros hegemônicos, o trânsito sugere a possibilidade de rever os caminhos já trilhados. A pouca informação sobre o que se passa nas diversas regiões do país tem como correlato mais desinformação. Essa desinformação multiplica-se quando gerada e reproduzida por meio dos pré-conceitos. No mapeamento proposto pelo programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003, o deslocamento dos curadores para diversas regiões do país sugere a busca de proximidade, neste caso entre os curadores e artistas, no contexto de cada lugar visitado. São Paulo (a capital e o interior) e Estados da Região Norte foram visitados, respectivamente, pelos curadores adjuntos Juliana Monachesi e Cristóvão Coutinho. Se a formação de jovens curadores é um dos eixos desse programa, a participação de ambos foi exemplar. A avaliação do mapeamento regional que se segue pauta-se nas informações colhidas por eles em suas viagens e inúmeras visitas a ateliês de artistas. É certo que o trabalho de campo orienta qualquer investigação que busque na isenção a excelência de seus objetivos. Nesse caso, foi fundamental a visita a diferentes cidades, que se constituíram, ao longo do tempo, pólos de formação ou difusão do ensino ou apoio à arte contemporânea. Do ponto de vista da produção artística, é certo que as diferenças são marcantes. O que em outras regiões do país, eventualmente, apareça mais nuançado, no Norte e no Sudeste surge em seus mais vívidos contrastes. O estudo da Região Norte, realizado por Cristóvão Coutinho, jovem artista e produtor cultural residente em Manaus, pauta-se em observações feitas em cada Estado visitado. Anotou Cristóvão Coutinho em seu relatório: “A Região Norte, onde se incluem os Estados do Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima, necessita de ações imediatas que possibilitem uma aproximação mais rápida do conceito de arte contemporânea. Na maioria das cidades visitadas, constatou-se não só a falta de vários segmentos em termos de acompanhamento no desenvolvimento das artes visuais, mas também o vazio na interpretação e construção do olhar e fazer contemporâneo. Existem casos isolados de pessoas/artistas que vão para outros locais do país e, assim, conseguem inserir-se no sistema de uma maneira periférica, sem descaracterizar o agir de cada local. Nas cidades de Rio Branco e Porto Velho verificase a existência de iniciativas, tanto de artistas quanto de parceiros locais, que possibilitam a formação ou mesmo intercâmbios que aproximam os interessados. Essas cidades dispõem de locais (galerias, oficinas, auditórios) e executam muitos trabalhos com o Serviço Social do Comércio, Sesc, que desenvolve projetos nas áreas de dança, teatro, artes plásticas e outras, sendo muitas vezes a melhor referência para exercer parcerias. Na cidade de Boa Vista observa-se uma falta de receptividade, pela ausência de trabalhos capazes de identificar uma necessidade natural. (...) Existe aqui [em Macapá] um pólo de atração. Os macapaenses se abastecem de uma ligação cultural existente entre sua cidade e Belém, daí haver em Macapá uma vontade de se expressar. A cidade mantém o Centro de Artes Candido Portinari, que, embora não conte com uma ação contemporânea, faz com que pessoas participem e cursem até dois anos regulares de desenho, pintura, teatro, escultura e outros. Há, na cidade, pessoas interessadas em participar de programas de formação ou outro tipo de intercâmbio. De todas as cidades visitadas, Belém é a que apresenta atitude e uma maior visibilidade contemporânea, tanto em formação quanto na permanência de salões de arte, o que a aproxima de uma integração com o restante do país. Para a identificação de uma melhor abordagem, o programa de formação, ou outro tipo de ação, deveria manter um estreito contato com instituições locais, como a Fundação Curro Velho, que trabalha com adolescentes, em uma dinâmica de construção contemporânea. E, ainda, com o Instituto de Artes Visuais do Pará, ou com o próprio Museu de Arte do Belém, Mabe, que, como parceiro local, viabilizaria as necessidades de formação, workshops e intercâmbios. (...) Depois de ter experimentado nos anos de 1998 e 1999 a realização do Salão Plástica Amazônia, cujo objetivo era a aproximação de curadores e pessoas ligadas à arte contemporânea, a cidade [de Manaus] necessita, neste momento, de programas de formação ou outros que possibilitem o acesso a maior interação e aprendizado. Manaus tem locais indicados para as devidas ações. O espaço mais adequado para tal é o Centro de Artes da Universidade do Amazonas, Caua, que dispõe de galeria, oficinas e auditório, cuja diretoria demonstra disposição em estabelecer parceria. Há vários cursos indicados para a cidade de Manaus, mas que poderiam circular pelas cidades de Rio Branco, Porto Velho, Macapá e Belém”. A necessidade de um projeto de formação mais sistemático para os artistas locais fica evidenciada neste relato. Nada de novo ou surpreendente até aqui. No entanto, parece-me significativo ressaltar que seriam ações razoavelmente simples, como viabilizar o acesso dos artistas locais a uma prensa. É simbólico que a impossibilidade de acesso a uma prensa seja razão forte o suficiente para que não haja um gravador sequer na capital do Amazonas. A necessidade de realizar a formação fora da região é também relevante. Mais uma vez evidencia-se o deslocamento para que se possa viabilizar a formação de artistas e curadores, professores de arte e, mais amplamente, produtores culturais. Parece-me significativo ainda, sobretudo com base em minhas próprias observações do contexto artístico e cultural amazonense, especialmente da cidade de Manaus, que tive a oportunidade de visitar algumas vezes, que os artistas locais, de amplo reconhecimento nacional e até internacional, sejam pouco reconhecidos e valorizados pela comunidade local. Os pesquisadores que realizam sua titulação acadêmica em universidades da Região Sudeste, como a Universidade de São Paulo, e retornam após a conclusão do curso aos seus Estados têm também importante papel a des- 17 18 empenhar na formação das gerações mais jovens, no sentido de multiplicar o acesso à formação, especificamente de artes, em sua região. Assim, a universidade poderia configurar-se como um importante pólo de difusão da reflexão ligada à visualidade contemporânea. Uma visita ao Museu do Índio, na cidade de Manaus, é reveladora e tristemente conclusiva sobre a situação de descaso em que se encontra o patrimônio cultural da Amazônia. Repensar a cultura brasileira é incluir como bens nacionais, além da floresta, com toda a sua infinitamente rica biodiversidade, toda a potencialidade cultural e criativa daqueles que habitam essa região. Por contraste... Em São Paulo, tanto na capital como no interior, a possibilidade de acesso, difusão, distribuição e circulação de informações artísticas demonstra uma situação inversa da descrita acima. É interessante notar como a profusão de iniciativas acaba proporcionando maior qualidade dos resultados. Como exemplo observamos que, do total de 1.495 portfólios recebidos pelo programa, 510 são de São Paulo, e 16 foram os artistas do Estado contemplados nesta edição. Sobre a questão da visibilidade da produção artística, o caso dos Salões de Arte Contemporânea, que são realizados na capital e em diversas cidades do interior paulista, é exemplar. Os salões sobrevivem desde o século XVIII, quando foram criados, na França. Ao serem importados pelo Brasil, dois séculos depois, ainda sustentam a lógica e os princípios análogos àqueles de sua criação. A constante querela entre acadêmicos e modernos (leia-se hoje contemporâneos), por exemplo, é uma das características que se mantêm, de diferentes formas, desde aquele período. Sobre os resultados das viagens realizadas em São Paulo, abrangendo a capital e o interior, anotou a curadora adjunta Juliana Monachesi: “Apesar de São Paulo constituir uma referência de ensino e fomento à produção em arte contemporânea, com faculdades de artes conhecidas pela inventividade da produção de seus alunos e instituições culturais que têm projetos com perfil semelhante ao do Rumos Itaú Cultural Artes Visuais, o interior do Estado em geral não se contagia por essa efervescência. Os focos de produção contemporânea no interior de São Paulo caracterizam-se por ações difusas de grupos independentes ou projetos bissextos do governo local. (...) Em São Paulo são três os cursos de artes que mais se destacam: o da Escola de Comunicações e Artes, ECA/USP, o da Fundação Armando Álvares Penteado, Faap, e o da Faculdade Santa Marcelina. Um diferencial para a formação dos artistas em São Paulo é dado pelo grande número de cursos livres e grupos de orientação em ateliê coordenados por artistas ou professores renomados. Entre outros, destacam-se o grupo de estudos em fotografia orientado por Eduardo Brandão e os acompanhamentos em ateliê por Leda Catunda e Sérgio Romagnolo, Nuno Ramos, Paulo Monteiro, Carlos Fajardo, Sandra Cinto e Albano Afonso. A difusão e o fomento da arte contemporânea na cidade de São Paulo estão generosamente distribuídos entre instituições e um mercado de arte consolidado. O Centro Cultural São Paulo e o Paço das Artes realizam projetos semelhantes de seleção por meio de portfólios de artistas jovens, que são contemplados com mostras individuais ao longo do ano, realizadas em paralelo a exposições de artistas com trajetória consolidada. Os dois museus de arte contemporânea da cidade – Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM, e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC/USP – também têm projetos voltados para a produção jovem: o Panorama de Arte Brasileira, do MAM, é realizado bienalmente e mescla trabalhos de artistas consagrados com os de emergentes, assim como o Heranças Contemporâneas, do MAC. De todos os pólos paulistanos de produção e reflexão sobre arte contemporânea, entretanto, os que mais chamam a atenção na história recente são iniciativas dos próprios artistas, ao propor formas de autogestão cultural. A principal delas chama-se Linha Imaginária, grupo que mapeia a produção brasileira realizando exposições independentes pelo país. A produção paulistana tem tantos matizes que é difícil defini-la. Entretanto, é possível falar de duas linhagens básicas nesta produção: os jovens artistas encontram-se, em geral, engajados em discussões de forma ou em discussões temáticas. Assim, o mapeamento em São Paulo detectou, por um lado, artistas voltados para pesquisa de materiais, discursos em torno do espaço, de linhas, cores e superfície. Por outro lado, encontrou muitos artistas cuja produção está centrada em discussões sobre identidade, memória, ideologia, questões urbanas, institucionais etc. Dos trabalhos vistos, os de melhor qualidade foram aqueles que conseguiram aliar as duas preocupações. Interior de São Paulo No interior de São Paulo, com exceção das ‘cidades-satélites’ da capital (Campinas e os municípios do ABC paulista) e de Ribeirão Preto, a produção artística é predominantemente acadêmica ou é uma academia da arte moderna. Em geral, as tentativas de fazer arte contemporânea resvalam em prefigurações de efeito. O único movimento que se opõe a isso no interior é o respeitável circuito de salões de arte antenados com a produção de fato contemporânea. É o caso dos salões de Santo André, São Bernardo do Campo, Santos, Jacareí, Americana, Piracicaba e Ribeirão Preto. O que se nota, entretanto, é que, apesar de os salões levarem uma massa crítica para essas regiões, isso não é suficiente para fomentar nos artistas locais um olhar mais crítico. Em alguns locais, não é possível sequer estabelecer um diálogo inteligível sobre arte contemporânea, porque as pessoas não têm informação sobre o que se fez em arte desde meados da década de 1950. Em São José do Rio Preto, artistas formados pela faculdade de artes local relatam que os professores insistem para que os alunos façam pintura abstrata, por se tratar da tendência mais atual da arte. Não é à toa que Ribeirão Preto, com uma produção contemporânea relevante, tenha tido ao longo de sua história instituições culturais que abasteceram o lugar de informação. A cidade de Campinas é bem provida de espaços expositivos voltados para a arte contemporânea. Além do Centro de Convivência Cultural e do Museu de Arte Contemporânea – ambos com programação inconstante no que concerne ao perfil das mostras –, a cidade conta com a Galeria de Arte Unicamp, que oferece programação continuada com linguagens atuais. De forma semelhante a experiências de gestão independente detectadas em São Paulo, o Ateliê Aberto funciona como local de exposições, cursos, palestras e residência de artistas convidados para realizar site specifics no espaço, além de elaborar projetos de curadoria e produção para mostras em outros locais. Em termos de instalações museológicas, uma cidade vizinha a Campinas está mais bem equipada. O Museu de Arte Contemporânea de Americana passou, entre 1997 e 2000, por reformas e adaptações do sistema de iluminação, do ar-condicionado e da reserva técnica, tornando-se hoje um modelo para as regiões vizinhas. O museu intercala mostras de arte contemporânea com outras históricas, contribuindo para a formação de um novo público, principalmente por meio de investimentos no setor educativo, que já contempla toda a rede escolar pública da cidade. 19 20 As cidades do ABC, apesar da proximidade com São Paulo, apresentam espaços próprios de discussão e difusão da arte contemporânea. Santo André funciona como um articulador da produção local, uma vez que a Casa do Olhar, administrada pelo governo municipal, realiza diversos eventos integrando artistas da região. Os Salões de Arte Contemporânea de Santo André e São Bernardo do Campo, que acontecem, respectivamente, no Salão de Exposições do Paço Municipal e no Espaço Henfil de Cultura, constituem referência obrigatória para os artistas iniciantes do Estado de São Paulo e atraem também artistas de outras localidades. E o Prêmio Revelação de Americana nos últimos dois anos tem alcançado dimensão nacional. A disparidade regional, explícita nas desigualdades sociais, econômicas e culturais que a acompanham, é antiga e profundamente arraigada em nosso país. Esse é, sem dúvida, o maior desafio político e social a ser enfrentado em todos os setores e não seria diferente nas áreas artísticas e culturais. As distâncias que separam os artistas são, não raro, muito grandes, tanto no sentido físico como também no simbólico. As desejáveis aproximações, como condição para o estabelecimento de diálogos profícuos, são realizadas não sem muito esforço e empenho de todas as partes envolvidas. Cristina Freire Dois outros eventos semelhantes no interior paulista integram o circuito de lançamento dos novos nomes da arte brasileira: a Bienal de Santos e o Salão de Arte de Ribeirão Preto, Sarp, que em 2000 completou 25 anos de existência e é conhecido por ter exibido e premiado em início de carreira artistas como Ana Maria Tavares, Rosângela Rennó e José Damasceno. Tanto o Centro de Cultura Patrícia Galvão, onde se realiza a Bienal de Santos, quanto o Museu de Arte de Ribeirão Preto, Marp, onde tradicionalmente acontece o Sarp, são espaços privilegiados. Recentemente, o Salão de Ribeirão Preto precisou ser deslocado para a Casa de Cultura da cidade em razão de desavenças com os artistas locais, que reclamavam o direito de realizar, também no museu, a exposição de um evento similar de arte acadêmica do qual participam. Esse é um obstáculo enfrentado na maioria das cidades, cujos equipamentos culturais precisam contemplar todas as vertentes artísticas. Em cidades como Piracicaba, a contenda foi mais bem resolvida, com a realização de uma Bienal de Arte Naïf; e em São José do Rio Preto, com a criação de um Museu de Arte Primitivista, também para abrigar o legado do artista mais ilustre da cidade, José Antônio da Silva“. Curadora-coordenadora Sul, Nordeste e Norte Quando partimos para a realização do Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003, a situação era muito distinta de quando nos reunimos pela primeira vez, no início de 1999, na organização da primeira edição do programa. Se desta vez não necessitávamos tanto do espírito desbravador, certamente precisaríamos de um segundo olhar que viesse confirmar ou relativizar as primeiras impressões, que fosse ao mesmo tempo autocrítico com as limitações do programa e ajudasse a reafirmar sua identidade buscando as novidades ocorridas neste período. Precisávamos dar continuidade, estabelecendo relações e ao mesmo tempo constatando as diferenças. O Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003 reconfigura, em relação à edição anterior do programa, a distribuição dos Estados em novas regiões ligeiramente distintas. A região que compreendia apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina foi acrescida do Paraná, que na edição anterior compunha com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Na edição de 1999/2000 os Estados do Ceará, Maranhão e Piauí foram agrupados com o Rio Grande do Norte, que nesta edição foi substituído por Tocantins. Essas mudanças foram adequações com o objetivo de aproximar as afinidades dos contextos culturais e obter melhor operacionalização do projeto. O primeiro mapeamento diagnosticou que as aptidões e os problemas de cada região estão ligados a situações culturais complexas e, portanto, difíceis de demonstrar mudanças substanciais num curto período. São processos muitas vezes submetidos às oscilações de políticas culturais omissas ou praticamente inexistentes e que mantêm o movimento e os avanços graças à persistência e tenacidade dos seus produtores. As observações que se seguem foram obtidas por meio da contribuição inestimável dos trabalhos dos curadores adjuntos Paulo Reis e Eduardo Frota, que fizeram uma escuta detida e atenciosa nesses Estados. Seus relatórios e principalmente as muitas conversas proveitosas ajudaram a formar uma visão mais abrangente e próxima dessas regiões. Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina Curador adjunto Paulo Reis Apesar de estes Estados fazerem parte de uma região de espectro geográfico e social relativamente homogêneo, estamos longe de conferir essa mesma homogeneidade ao quadro cultural, principalmente no que diz respeito à formação, produção e circulação da arte contemporânea. Podemos notar uma proximidade entre Porto Alegre e Curitiba, não apenas em relação aos panoramas locais, mas também na relação desproporcional que essas capitais têm com as demais cidades dos respectivos Estados. São diferenças relevantes em relação à qualidade e à profusão dessas produções. A centralização se mantém, embora cidades como Pelotas, Novo Hamburgo e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e Londrina, no Paraná, sejam pólos de irradiação consideráveis. Em Florianópolis verifica-se uma maior carência em relação às outras capitais, mesmo sendo esta a que mostrou mais avanços neste período. A implementação do curso de bacharelado em artes visuais na Universidade de Santa Catarina, Udesc, começa a habilitar uma promissora produção jovem. Santa Catarina também se fez notar pela reformulação da 31ª Coletiva de Artistas de Joinville. O evento, realizado no novo Complexo Cultural Antártida, em 2001, reconfigurou a tradicional mostra dando ênfase a projetos que trabalhavam com a estrutura física e a trama histórica daquele prédio da cidade. Porém, na edição de 2002, a Coletiva se mostrou hesitante quanto 21 22 ao passo dado no ano anterior, retornando ao desgastado modelo de exibições que tentam contemplar toda a produção local, misturando amadorismo e artesanato com artistas ligados a propostas contemporâneas. Este é um exemplo de como se desenvolvem as conquistas nas cidades de menor porte em toda essa região. Quando se conseguem pequenos avanços, eles são sucedidos por uma carga conservadora de proporção por vezes muito maior. Também ocorreu com êxito no Estado o 1º Salão de Artes de Jaraguá do Sul, que demonstrou seriedade e rigor na edição inaugural. Na parte de formação é importante notar a persistência exitosa do 4º Seminário de Artes de Celso Ramos. Esse consta de uma série de oficinas, ministradas por artistas e teóricos de diversas partes do país, que atende um significativo público no Estado de Santa Catarina. No Paraná ocorreram dois fatos cuja importância real ainda está por ser definida nos próximos anos. O primeiro foi o projeto Faxinal das Artes, um programa de residência de artistas que reuniu 100 nomes de todo o Brasil. Sob curadoria de Agnaldo Farias e Fernando Bini, esse grupo produziu, discutiu e aprofundou relações de maneira extremamente informal e direta, sem as costumeiras mediações institucionais. No fim de 2002, inaugurou-se em Curitiba o NovoMuseu. As instalações e as intenções do projeto não têm precedentes e parâmetros em qualquer outra parte do Brasil. Se por um lado isso é motivo de contentamento e otimismo, por outro preocupa-nos saber como irão estabelecerse as relações com a comunidade e principalmente todo o suporte operacional de grande porte que o museu exige. Espera-se que ele atue na formação de agentes locais e do público e não dependa do relativismo dos interesses políticos futuros. No Rio Grande do Sul, poderíamos dividir os acontecimentos em dois diferentes tipos: as confirmações e as novidades. A primeira confirmação a notar é a Bienal do Mercosul, que na terceira edição afirma seu caráter contemporâneo e dá continuidade ao diálogo da produção local com um espectro internacional. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, com uma série de exposições de artistas nacionais e mostras de artistas locais de abrangência até então não usual na cidade, junto com a continuidade dos cursos de mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul são fatos que se consolidaram nesse período. As novidades ficam por conta do lançamento do projeto do Museu da Fundação Iberê Camargo, a cargo do arquiteto português Alvaro Siza, que promete ser um local adequado para abrigar a obra do pintor assim como ponto ativo de exposições e fomento de pesquisa. A inauguração do Santander Cultural também é digna de nota, pois vem aparelhar a cidade de mais um precioso espaço de exibições, cinema e palestras. Ceará, Maranhão, Piauí e Tocantins Curador adjunto Eduardo Frota A situação nesses quatro Estados mudou muito pouco nos dois últimos anos, excetuando-se o Ceará, que no fim de 2002 inaugurou a 1ª Bienal Ceará América, que, seguindo a linha das grandes exposições, ambiciona acionar toda uma dinâmica cultural local. Em 2001, já havia ocorrido em Juazeiro do Norte a Bienal do Cariri, que deixou poucos rastros. Segue-se com o pensamento do poder messiânico dos grandes projetos, porém sem o lastro cultural devido, correndo o risco de terminarem não encontrando sustentação adequada nas frágeis malhas culturais. São propostas que embora bem-intencionadas buscam apenas uma visibilidade, negligenciando as carências de formação. Enganam-se ao achar que certas lacunas de toda uma dinâmica cultural possam ser suprimidas pelo poder mágico do grande evento. Além de Fortaleza, Teresina e São Luís revelam-se com potenciais centros, principalmente no que diz respeito à fotografia. Embora ainda restrita aos padrões de um realismo documental, é o meio pelo qual as ligações com a problemática da arte contemporânea podem fluir, pois a pintura e a escultura estão ainda demasiadamente limitadas a uma produção mais acadêmica. Se por um lado o panorama da produção contemporânea é pouco animador, de outro a situação do artesanato local é ainda mais desalentadora. Nos últimos anos houve uma rápida estandardização e uma pasteurização do trabalho secular de toda uma produção artesanal popular, hoje transformada em objetos impessoais empobrecidos de inventividade. Tudo para atender ao voraz apetite de uma indústria turística de estreita visão cultural. A visita a esses Estados não apenas recoloca as situações levantadas na primeira edição do programa como também acaba questionando os limites do próprio Rumos Itaú Cultural Artes Visuais. Até quando vamos enviar curadores para rastrearem situações de arte contemporânea e, de consciência limpa e dever cumprido, constatar mais uma vez que por ali nada acontece? É tirânico esperar parcerias quando já sabemos que elas não têm condição de se estabelecer. O problema é muito mais profundo, e necessita-se saber dar sem esperar receber. Já não basta a inclusão no mapa de um olhar descompromissado, é necessário criar um mapa de ações efetivas e generosas. Conclusão O relógio que conta o tempo na evolução dos processos culturais não anda na mesma velocidade em todo o país. Se a periodicidade do Rumos Itaú Cultural Artes Visuais será de dois ou três anos, devemos ser pacientes, mas atentos às pequenas oscilações. Paciência não deve significar resignação e inércia. Somente o trabalho lento e contínuo na formação é que poderá alterar substantivamente esse quadro. Se por vezes notamos inversões nesses processos, começando do fim para o princípio, e creditando exclusivamente ao evento a responsabilidade de formação, torna-se difícil a cobrança de resultados. É inegável que vivemos um progressivo aumento dos equipamentos culturais pelo Brasil, embora nem sempre sucedidos das devidas condições operacionais para a sua eficácia. Se em meio a esses processos desordenados conseguimos alguns resultados, creditam-se os méritos quase que exclusivamente ao jovem artista brasileiro, com sua produção diversa e instigante. Jailton Moreira Curador-coordenador 23 24 Centro-Oeste e Nordeste Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Curadora adjunta Marília Panitz Mato Grosso do Sul Goiás Distrito Federal Embora com dificuldades muito semelhantes às de Cuiabá, Campo Grande, a capital do Estado, se diferencia pela existência de curso superior em arte, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e pela postura clara de alguns artistas de buscar mostrar seus trabalhos fora do Estado. Essa tendência convive, porém, com uma resistência da comunidade cultural em relação à abertura do circuito. Embora cidades como Goiás Velho e Pirenópolis – centros turísticos e núcleos patrimoniais do Estado – reúnam grupos de artistas e sediem eventos culturais de relativa importância (o que também, mais recentemente, vem acontecendo com as cidades da Chapada dos Veadeiros), o espaço privilegiado de formação e exposição é Goiânia. Brasília centraliza a produção, a veiculação e as atividades de formação em arte no Distrito Federal, embora cidades como Taguatinga e Sobradinho tenham grupos organizados de artistas dispostos a veicular seus trabalhos de modo independente. Com uma tradição de fomento ligado quase que exclusivamente ao Estado, a cidade passa por uma disseminação de lugares pertencentes a instituições privadas ou formados por artistas e produtores culturais. Mato Grosso As cidades pólos de produção artística no Estado, além da capital, Cuiabá, e da vizinha Várzea Grande, são Rondonópolis e Barra do Garças, onde o trabalho pouco se diferencia do perfil cuiabano. É recorrente a avaliação da necessidade de incluir essa produção no circuito nacional, pela recepção de exposições de artistas de fora ou pela circulação da produção local por outras cidades. Nos discursos dos teóricos e dos produtores culturais – quase todos com formação em outros Estados –, há o reconhecimento da falta de um curso superior na área, para uma maior circulação de idéias, embora não se perceba tal queixa quando são os artistas que falam. Esses demandam, principalmente, workshops sobre novas mídias e de cunho teórico. Os espaços para formação e veiculação da produção artística são escassos e sem um perfil definido. O mais importante permanece sendo o Museu de Arte e de Cultura Popular, criado dentro da Universidade Federal de Mato Grosso, que guarda um acervo de artistas do Estado. Embora bastante deteriorado, sem equipamentos e espaços adequados, ainda é referência para os artistas. A abertura do Sesc Arsenal oferece a Cuiabá um prédio multiuso (galeria, teatro, estúdio etc.), que pode provocar alguma mudança na produção cultural da cidade. Mas a iniciativa que parece ser mais promissora é a criação de A Célula, formada por um grupo de artistas e produtores da cidade, sem nenhum vínculo institucional, interessados em trabalhar com novas mídias. Os espaços para exposição são escassos e isso é, em parte, atribuído ao isolamento da cidade em relação às itinerâncias nacionais. Há somente uma galeria de arte, com perfil estritamente comercial. A universidade funciona, nesse contexto, como um pólo para pesquisas e intercâmbios, viabilizando a vinda de artistas e teóricos para realizar workshops e a apresentação de exposições no Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande, Marco, que está construindo um moderno prédio. Essa iniciativa de intercâmbio está sendo implementada em conjunto com a Secretaria de Cultura da cidade e a Associação de Artistas Plásticos, entidade com forte atuação local. A produção artística em Mato Grosso do Sul continua sendo predominantemente de pintura. Ela também está presente no interior, notadamente em Dourados, onde há uma universidade e um grupo de artistas organizados; Corumbá, onde funciona a Casa de Cultura; e em Aquidauana, com o Museu de Arte Pantaneira. O que diferencia essa produção da de Mato Grosso parece ser a presença de espaço para pesquisa de linguagens e o fato de vários artistas terem passado por experiências de formação em outros Estados. Há, além disso, uma preocupação entre os gestores culturais de que as ações de formação se estendam a esses pólos. Associando-se a esse esforço, Humberto Espíndola, artista que é referência para a produção local, criou o Instituto Enokade, organização não-governamental voltada para o desenvolvimento de projetos culturais de fomento e divulgação da arte do Estado. A produção de Goiânia é diversificada, com predominância de instalações. Há, entretanto, dificuldades em relação às possibilidades de veiculação de propostas mais experimentais, já que as galerias têm perfil comercial e são, portanto, avessas a riscos. Essa produção é geralmente veiculada no Museu de Arte Contemporânea de Goiás, na universidade ou em projetos fora do Estado. A realização do Salão Nacional de Arte de Goiás, desde 2001, pelo Flamboyant Shopping Center – cujos prêmios aquisitivos foram incorporados ao acervo do MAC – gerou grande expectativa em relação a mudanças nesse quadro. O Instituto de Arte da Universidade Federal de Goiás atua como formador e incentivador de pesquisas no campo das linguagens artísticas. Por outro lado, muitos dos artistas em atividade na cidade não estão vinculados à universidade, mas aos cursos livres, como os ministrados no MAC – que em seu quadro conta com artistas representativos como instrutores – e no Centro Livre de Artes, ligado ao Museu de Arte de Goiás, que tem imensa freqüência, mas estrutura precária. Também o Centro Cultural da Fundação Jaime Câmara mantém o Concurso de Novos Valores das Artes Plásticas, cujas premiações têm possibilitado a alguns artistas a realização de estágios no exterior. Há, ademais, uma preocupação de várias organizações culturais em empreender ações de formação do olhar do público, por meio de workshops e seminários sobre a produção contemporânea. Espaços como a Galeria de Arte do Espaço Ambiental Guimarães Rosa/Funarte – responsável pelo projeto Prima Obra –, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Conjunto Cultural da Caixa e a Galeria Le Corbusier da Embaixada da França desenvolvem projetos centrados na divulgação da produção contemporânea, ocupando uma função que tradicionalmente era desempenhada pelo Museu de Arte de Brasília e pelas galerias ligadas à Secretaria de Cultura. A criação de dois espaços particulares voltados para a produção contemporânea de artes visuais, a Arte Futura, que edita um tablóide com informações e críticas de arte, e o Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, que edita uma série de livros de artistas contemporâneos da região, foi de grande importância para a cidade, pois eles oferecem alternativa às vicissitudes políticas. Essas galerias alternam, em suas agendas, exposições de artistas nacionais com as de artistas locais. A maior parte desses estabelecimentos citados mantém programas educativos e de formação de público nos eventos que promovem. A Universidade de Brasília é o espaço que centraliza a formação e as pesquisas de artistas que trabalham com experimentação de linguagem. A criação do mestrado em arte é um fator determinante para a produção emergente, já que muitos artistas (a maior parte deles formada pela UnB) têm desenvolvido trabalhos aliados aos projetos de mestrado. A transformação da área de concentração desse mestrado – de arte e tecnologia da imagem para arte con- 25 26 temporânea, com duas linhas de pesquisa (poéticas contemporâneas e teoria e história da arte) – também parece responder a uma demanda de ampliação de pesquisa, antes concentrada apenas nas novas tecnologias. Com um número significativo de artistas trabalhando com videoarte e web arte, delineia-se também uma tendência ao uso da fotografia como suporte. Uma linha de trabalho recorrente é a que coloca a obra como espaço de cruzamento de questões relativas a outras áreas de conhecimento. Ligados à universidade, estão dois espaços de pesquisa e exposição: Galeria da Casa de Cultura da América Latina e Galeria de Arte da UnB. Esta, inaugurada em 1999 e administrada pelo Instituto de Artes da UnB, alterna mostras experimentais de alunos e professores com propostas de grandes nomes da arte brasileira e internacional, cujos projetos são criados especificamente para o espaço. A Faculdade de Artes da Fundação Brasileira de Teatro, embora tradicionalmente ligada às artes cênicas, organizou um prêmio para novos talentos em artes visuais e se apresenta como mais um canal para a divulgação dos novos artistas. Rio Grande do Norte/Paraíba/Pernambuco Curadora adjunta Maria do Carmo de Siqueira Nino Há aspectos referentes ao meio de artes visuais que são comuns às cidades visitadas nesses três Estados e devem, portanto, ser considerados em conjunto. Os jovens artistas em atividade que se sentem atraídos por formas de expressão que impliquem o uso de mídias e/ou expressões que ainda não fazem parte do repertório do público das pequenas cidades – site specific ou instalações, por exemplo – têm necessidade de se deslocar para as capitais de seus Estados. Lá encontram um ambiente institucional mais propício ao desenvolvimento de suas investigações. Mesmo nas capitais, contudo, sentem-se isolados num contexto cultural que ainda trata suas atividades como exceção no meio das artes visuais. Nesse ambiente de relativo isolamento, o próprio contato com o curador deste programa é freqüentemente avaliado de forma positiva pelos artistas, pois constitui uma oportunidade de discutir as questões que envolvem seus trabalhos. Isso é um índice da relativa carência de atividades de reflexão e discussão sobre arte contemporânea na região. São poucas as oportunidades de obter informações teóricas ou históricas sobre critérios e conceitos de contemporaneidade e de participar de workshops práticos voltados a expressões artísticas atuais. Existe, porém, no sentido oposto do que foi apontado e mesmo entre artistas mais jovens, um certo ”desencanto” causado pela pouca representatividade da pintura em salões de arte. Para esses artistas, a prática da pintura ou de outros meios mais tradicionais, como a gravura, sempre foi a principal via pela qual a grande maioria se inicia em atividades artísticas, além de ser um elo forte de contato com um público mais abrangente, com a possibilidade de aceitação no mercado. Nesse contexto, os artistas muitas vezes sentemse impelidos a alterar, às vezes abruptamente, a direção de sua produção, passando a trabalhar com formas expressivas não tradicionais (instalação, performance, novas tecnologias), suposto condicionante de sua inserção no meio de artes na contemporaneidade. A necessidade de possuir uma formação profissional institucional é outro fator que exerce atração e assume importância crescente para a geração mais jovem. Além de promover a absorção de conhecimentos que podem transbordar para a sua área de criação, a educação formal é vista também como uma maneira de abrir portas a outras possibilidades de atuação no mercado e, potencialmente, liberar o artista para desenvolver uma produção experimental. As instituições Paraíba São quatro as instituições em João Pessoa que se destacam na difusão e promoção das artes visuais contemporâneas. Na Fundação Espaço Cultural da Paraíba funciona a Galeria Archidy Picado, a qual possui instalações em condições para abrigar exposições de médio e grande portes. Ligado à Universidade Federal da Paraíba e com longa história de engajamento com a produção contemporânea, está o Núcleo de Arte Contemporânea. Esse Núcleo sedia cursos teóricos, workshops de artistas e cumpre pauta regular com artistas da região, por meio de propostas selecionadas por curadores convidados. Destaca-se ainda o Centro Cultural São Francisco, no Convento São Francisco, um dos prédios históricos mais visitados da cidade, cujo espaço de exposições é, atualmente, o que mais aposta na experimentação de jovens artistas. Por fim, há o Centro de Artes Visuais Tambiá. Embora suas atividades estejam temporariamente suspensas, esse espaço de exposições e cursos tem promovido e abrigado uma série de convênios de cooperação artística com outros países, notadamente com a Alemanha e a França. Em Campina Grande, por sua vez, a instituição que se destaca é o Museu de Arte Assis Chateaubriand, Maac, onde é mantido um acervo permanente. No entanto, é pequena a interface com a produção dos artistas locais. Rio Grande do Norte Há em Natal uma diversidade de instituições que, de modos distintos, promovem a produção contemporânea, embora a maior parte delas não esteja satisfatoriamente equipada para desempenhar suas funções. Uma das mais antigas é a Fundação Cultural Capitania das Artes, primeiro espaço do município a preservar e a incentivar o fazer cultural, onde funcionam cursos de arte, ateliês e galerias. O Centro Federal de Educação Tecnológica, Cefet, é um estabelecimento de ensino cujo setor de artes plásticas dispõe de algumas salas que servem de ateliês e abrigam cursos de arte. O Centro possui também auditório e sala de exposições. O Solar Bela Vista, por sua vez, aluga seus espaços para a realização de eventos, cursos e exposições. É o jovem Espaço Cultural Casa da Ribeira, contudo, que mais se tem dedicado, programaticamente, a promover e discutir artes visuais contemporâneas, com uma pauta de mostras de artistas nacionalmente conhecidos. Conta com uma sala de exposições e com o suporte financeiro da Petrobras para viabilizar suas ações. Por fim, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte dispõe de um Núcleo de Arte e Cultura, onde funciona a Galeria Conviv’Arte, capaz de abrigar exposições de médio porte. Pernambuco A Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru mantém um amplo espaço, em condições regulares, que pode abrigar obras de grande porte e onde se realiza a maior parte dos eventos culturais e turísticos da região. Em Petrolina, a Fundação Cultural oferece um museu com boa área de exposições e em condições satisfatórias de funcionamento. O Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, situado em Olinda, conserva rico acervo de arte moderna. Tem galerias para exposições, mas suas condições físicas ressentem-se da falta de conservação. Foi a sede do Salão dos Novos, realizado em 2000, evento que se mostrou 27 28 importante por dar visibilidade a vários artistas em processo de afirmação de suas trajetórias. sentado exposições de artes visuais, com ênfase ao suporte fotográfico. É o Recife, entretanto, que concentra as principais instituições do Estado. Na Universidade Federal de Pernambuco destaca-se o Laboratório de Artes Plásticas, sob a responsabilidade do Departamento de Teoria de Arte e Expressão Artística, que também responde pela Oficina Guaianases de Gravura, em funcionamento no prédio-sede do Centro de Artes e Comunicação. Aí encontra-se também a Galeria de Arte Capibaribe, que abriga exposições definidas por convênios com outras instituições e projetos dos próprios alunos e tem elevada freqüência de público. Recife ressente-se, porém, da inexistência de cursos de bacharelato e de pós-graduação em artes plásticas. É, contudo, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Mamam, gerido pela Prefeitura do Recife, o espaço mais atuante do Estado em termos de programação de exposições temporárias de arte moderna e contemporânea, além de abrigar rico acervo do período. O Mamam tem boa freqüência de público, desenvolve trabalho de monitoria para os visitantes e promove exposições de artistas locais, nacionais e estrangeiros, parte de uma política que busca ampliar o repertório visual à disposição da população, incluindo a realização de palestras e cursos. Atrelado à Pró-Reitoria de Extensão da UFPE, está o Instituto de Arte Contemporânea, IAC. Situado na sede do Departamento de Extensão Cultural, o IAC realiza, na Galeria Pequeno Formato, mostras de porte reduzido de jovens artistas da cidade. Outra instituição federal, a Fundação Joaquim Nabuco, mantém, por meio de seu Instituto de Cultura, três espaços dedicados à arte contemporânea – as Galerias Vicente do Rego Monteiro, Massangana e Baobá. Elas alternam, em sua programação, mostras de artistas jovens com outras de artistas já consagrados. Três instituições geridas pelo governo estadual destacam-se no segmento das artes visuais. A mais antiga delas é o Museu do Estado de Pernambuco, que abriga uma pinacoteca de arte moderna e contemporânea e duas galerias – Renato Carneiro Campos e Wellington Virgulino. Nelas, artistas jovens expõem seus trabalhos, mas sem regularidade definida. O Museu da Imagem e do Som de Pernambuco, Mispe, produz exposições em convênio com outros órgãos, além de promover encontros e workshops. Por fim, o Observatório Cultural Malakoff tem apre- Entre as instituições privadas, destacam-se o Instituto Cultural Bandepe e o Instituto Ricardo Brennand. O primeiro tem alternado exposições de arte contemporânea com outras de cunho histórico, embora sinalize serem estas últimas o seu foco de atuação. O Instituto Ricardo Brennand mantém rica pinacoteca de arte brasileira do século XIX e também do período holandês no Brasil e realiza, além disso, mostras temporárias de artistas consagrados desses períodos. Entre as galerias que trabalham com arte contemporânea de forma sistemática e possuem espaços expositivos adequados, destacam-se a Amparo 60, o Espaço Cultural Dumaresq, o Espaço Cultural Ária e a Galeria Observatório Arte Fotográfica. Eventualmente, esses espaços promovem cursos e oficinas ligados à produção contemporânea. Por fim, é preciso fazer menção a dois espaços geridos por artistas: o Submarino – ateliê coletivo de um grupo de jovens artistas – e o N.A.V.E. – também ateliê coletivo, que organiza cursos e oficinas com ênfase multidisciplinar em artes visuais. Moacir dos Anjos Curador-coordenador ARTISTAS 29 30 Adriana Boff Janaina Barros Alexandre Vogler Járed Domício Amilcar Packer Jeanine Toledo Ana Laet Jeims Duarte André Santangelo João Loureiro Arthur Leandro Jorge Fonseca Beatriz Pimenta Jorge Menna Barreto Bruno de Carvalho Caetano Dias Caio Machado Carla Linhares Carla Zaccagnini Carlos Mélo Cinthia Marcelle Clarissa Campello Cláudia Leão Daniella Penna Divino Sobral Domitília Coelho Ducha Elisa Queiroz Enrico Rocha Fabiana Wielewicki Fabiano Gonper Fabiano Marques Fabio Faria Felipe Barbosa Juliana Stein Laércio Redondo Letícia Cardoso Leya Mira Brander Lucas Levitan Luciano Mariussi Luiz Carlos Brugnera Marcelo Cidade Marcelo Feijó Marilá Dardot Mário Simões Adriana Boff Adriana Boff (Caxias do Sul RS 1976) formou-se em pintura pela UFRGS, Porto Alegre, em 1999. Seu trabalho em fotografia traz experimentações nascidas no Clube da Lata, coletivo de artistas gaúchos que emprega a técnica do pinhole. Pesquisa a relação entre espaços públicos e privados e lança um olhar intimista sobre vivências e experimentações na cidade. Participou, entre outras exposições, de Clube da Lata 1 Ano (Casa de Cultura Mario Quintana, Porto Alegre, 1999), Faces da Nova Geração dos Artistas do IA (Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Porto Alegre, 2000), Divergências (Centro Cultural Usina do Gasômetro, Porto Alegre, 2001), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002) e Ven a Casa (Madri, 2001). Integrou a intervenção urbana O Lado de Dentro de um Outdoor (Centro Municipal de Cultura, Porto Alegre, 2001). Vive e trabalha em Porto Alegre. Marta Neves Marta Penner Martinho Patrício Maxim Malhado Odires Mlászho Paula Krause Raquel Garbelotti Rodrigo Borges Frederico Câmara Rodrigo Godá Gabriela Ficher Rosana Ricalde Gabriela Machado Roosivelt Pinheiro Gabriele Gomes Silvia Feliciano Genesco Alves Téti Waldraff Glaucis de Morais Thiago Bortolozzo Graziela Kunsch Tonico Lemos Auad Gustavo Magalhães Wagner Morales Imagem Aurora [série Obscuras Refrigeradas], 2000/2001 fotografia com câmera obscura montada s/MDF [tempo de captação: 120 horas] 120 x 90 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 31 32 Alexandre Vogler Amilcar Packer Alexandre Vogler de Moraes (Rio de Janeiro RJ 1973) graduou-se em pintura pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, onde apresentou dissertação de mestrado em linguagens visuais, em 1999. Foi artista residente no Programa de Utilização dos Ateliers da Lada, Porto, Portugal, em 2000. Coordena o Projeto Zona Franca de Artes Visuais e o Projeto Atrocidades Maravilhosas de Intervenção Urbana no Rio de Janeiro, desde 2000. Sua produção caracteriza-se pela diversidade de operações, orientadas por uma reflexão crítica que traça relações entre o ideal moderno de ordem e pureza do urbanismo e da arte. Realizou a mostra individual Alexandre Vogler (LGC Arte Hoje e Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2000). Participou, entre outras exposições, do 7º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 2000), Check-in (Caldeira 213, Porto, Portugal, 2000), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Amilcar Lucien Packer Yessouroun (Santiago, Chile, 1974) formou-se em filosofia pela FFLCH/USP, São Paulo, em 1999, e estudou fotografia com Eduardo Brandão, em São Paulo, 1997/2000. Suas imagens resultam de um processo que começa pela montagem de cenários em casa, onde executa e registra em vídeo “performances particulares”. As cenas são fotografadas diretamente da tela da TV. Nas fotos, seu corpo figura em ações como vestir roupas de modo inusitado ou interagir com outros “prolongamentos do ser humano”, subvertendo o uso dos objetos e sugerindo novos significados para o próprio corpo. Apresentou mostra individual no Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas do CCSP (São Paulo, 2002). Participou, entre outras exposições, da 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002), Coletiva de inauguração (Galeria Vermelho, São Paulo, 2002), Fotografias no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2002) e Desvio e Norma (Projeto Dromo, Rio de Janeiro, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Tudo Sempre Começa Bem [detalhe], 2000 etiquetas adesivas e carimbos 200 x 500 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Still de Vídeo Sem Título # 35, 1999 fotografia 120 x 160 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 33 34 Ana Laet Ana Maria Andrade de Laet (Barretos SP 1952) formou-se em comunicação visual e desenho industrial pela Faap, São Paulo. Freqüentou cursos da EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, entre 1997 e 1999, e o Ateliê Nelson Leirner, Rio de Janeiro, em 2000. Sua poética está centrada no corpo, seus híbridos e sua representação, utilizando fotografias e imagens digitais de corpos humanos, às quais agrega matéria orgânica, como couro animal, e inorgânica, como plástico-cristal. Participou, entre outras exposições, do Salão Paranaense (Curitiba, 1998), Humor Negro (Paço das Artes, São Paulo, e Anna Maria Niemeyer Galeria de Arte, Rio de Janeiro, 2000), A Imagem do Som de Gilberto Gil (Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2000) e A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim (Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2001). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Você É o que Você Come, 2001/2002 instalação – cabides, capas de couro rústico, fotografias impressas em plástico-cristal e cabo de aço 80 x 50 cm [cada capa] Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural André Santangelo André Luiz Santangelo Vianna (Rio de Janeiro RJ 1977) licenciou-se em artes plásticas pela Faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília, em 1999. Freqüentou a EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, entre 1996 e 1997. É professor de arte na rede pública de ensino. Seu trabalho joga com oposições, com as “tensões entre iguais”. Os espaços que cria necessitam de manutenção diária, produzindo situações que colocam o trabalho no limiar da performance. Vidros, peixes, água corrente, mercúrio são elementos que usa com freqüência. Realizou a mostra individual Doces Instantes (Projeto Prima Obra, Funarte, Brasília, 2000). Em parceria com Antônio Elias, expôs In Extremis e In Vivo... In Vitro (Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional de Brasília, Brasília, 1999/2000). Participou, entre outras exposições, de Box Project e Leveza (Museum of Installation, Londres, 2000). Faz interferências no cotidiano das cidades. Montou DeLeite (Base da Transição Listrada, Fortaleza, 2002). Vive e trabalha em Brasília. Reiniciar, 2001/2002 instalação – aquários, peixes-beta, TVs e câmeras 220 x 150 cm [área aprox.] Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 35 36 Arthur Leandro Beatriz Pimenta Arthur Leandro de Moraes Maroja (Belém PA 1967) tornou-se mestre em linguagens visuais pelo programa de artes visuais da EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, em 2000. Faz instalações fotográficas e videográficas. Procura no real o inconveniente de imagens, trabalhando em torno da natureza pessoal destas, na medida em que se possam apresentar ao senso comum. Realizou a mostra individual Nunca Fomos Tão Felizes (Galeria Theodoro Braga, Belém, 1996). Participou, entre outras exposições, do Salão Nacional de Fotografia (prêmio, Porto Alegre, 1993), Fotografia Paraense Contemporânea: Novas Visões (Galeria de Fotografia e Galeria Sérgio Milliet, Funarte, Rio de Janeiro, 1998), Vermelho 21 (MNBA, Rio de Janeiro, 1999), Projeto Atrocidades Maravilhosas de Intervenção Urbana no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 2000) e 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002). Vive e trabalha em Macapá. Beatriz Pimenta Velloso (Niterói RJ 1960) formouse em comunicação visual pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, em 1984, onde atualmente faz mestrado em artes visuais. Freqüentou o Ateliê de Gravura do Ingá, no Museu do Ingá, Niterói, de 1982 a 1985, e o curso de pintura na EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, em 1992. A produção da artista inclui pintura, fotografia com interferência digital e instalações que interrogam as grandes alterações do conhecimento e da vida ocasionadas pelas novas tecnologias. Realizou a mostra individual Ponto de Vista (Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio Arte, Rio de Janeiro, 2000). Participou, entre outras exposições, do 5º e 6º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 1998/1999), Centro Cultural Recoleta (Buenos Aires, Argentina, 1999), Museu Emílio Caraffa (Córdoba, Argentina, 1999) e Galeria do Poste (Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Rio de Janeiro, 2001). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Não-Negativo, 2002 instalação – espelho com palavras escritas em negativo dimensões variáveis Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista Cabeça, Tronco e Membros, 2000/2002 instalação – fotolitos, acrílico, água, madeira e silicone 800 x 800 cm [área] Coleção da artista Foto: Divulgação/Christina Bocayuva 37 38 Bruno de Carvalho Bruno Pacheco de Carvalho (Rio de Janeiro RJ 1978) formou-se em comunicação social pela PUC/Rio, Rio de Janeiro. Fez, entre 1995 e 2000, cursos de pintura, videoarte e videoinstalação na EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, com os professores Adriana Varella, Suzi Coralli, Anna Bella Geiger e Fernando Cocchiarale. Realiza vídeos e videoinstalações em que o espectador se percebe em um espaço em que disputa ou se confronta com a imagem copiada. Apresentou a videoinstalação e o texto 2HS, em parceria com Júlio Rodrigues (14th International Congress of Aesthetics – Aesthetics as Philosophy, Eslovênia, 1998). Participou, entre outras exposições, da 4ª Mostra MIS de Vídeos (MIS, São Paulo, 2000), Uma Geração em Trânsito (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2001), 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002), 8th Los Angeles Free Waves Festival (MOCA California Plaza e Iturralde Gallery, 2002) e Artefoto (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. V.E.S.A., 2001/2002 instalação – videocassete, fita magnética, colchões, monitor de TV, amplificador, CD-player, sensor eletrônico e caixas de som 260 x 300 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Caetano Dias Alberto Caetano Dias Rodrigues (Feira de Santana BA 1959) cursou letras vernáculas na UCSAL, Salvador, entre 1985 e 1987. Seus trabalhos mais recentes são fotografias tratadas digitalmente e impressas em plotter. A poética do artista está entre o pessoal e o social, o sagrado e o profano, o íntimo e o público, em um jogo de significações que gera a ambigüidade de uma obra complexa, simples e contemporânea. O resultado é o vigor de um trabalho que anseia por respostas, e as indica sistematicamente em vários planos. Realizou mostra individual na Temporada de Projetos (Paço das Artes, São Paulo, 2002). Participou, entre outras exposições, da 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001), 14 Fragmentos Contemporâneos – Artistas Portugueses e Brasileiros (MAM, Salvador, e Galeria 57, Leiria, Portugal, 2001) e 10 Anos Marília Razuk (Marília Razuk Galeria de Arte, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em Salvador. Convivas, 2001 fotografia digital 125 x 175 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 39 40 Caio Machado Caio Cesar Machado (São Paulo SP 1977) formou-se em artes plásticas pela Faap, São Paulo, em 2000. Em seus trabalhos escultóricos, constrói móveis rudimentares de madeira cujas prateleiras irregulares e portas entortadas evidenciam sua inutilidade. O acabamento tosco das peças remete ao vocabulário da arte povera, e a instabilidade dos móveis ironiza sua característica de mobilidade. No processo de trabalho do artista, esculpir esses móveis equivale a desenhar com madeira no espaço, assim como ele constrói objetos semelhantes na superfície de um papel, sempre partindo da observação de paisagens urbanas de lugares abandonados. Participou de exposição coletiva de aquarelas (mezanino da Faap, São Paulo, 1999) e da Mostra da Graduação (Salão Cultural da Faap, São Paulo, 2000). Vive e trabalha em Osasco, São Paulo. Carla Linhares Carla Piedade Linhares de Almeida (Itabira MG 1975) freqüentou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC, Belo Horizonte, e formou-se em desenho pela EBA/UFMG, Belo Horizonte, em 1999. Além de cursos de pintura e reflexão teórica, participou de seminários de arte contemporânea, no Brasil e no exterior. A arquitetura e o urbanismo são fatores preponderantes no seu projeto artístico. Realizou mostra individual na Galeria Thomas Cohn (São Paulo, 2001). Participou, entre outras exposições, de Circuito Antivicioso de Regras Cotidianas (Semana de Arquitetura e Urbanismo e Desenvolvimento Sustentável, PUC, Belo Horizonte, 2000), Salão Paulista de Arte Contemporânea (referência especial do júri, São Paulo, 2000), Projeto Balaio Brasil (Sesc Belenzinho, São Paulo, 2000), Projeto Portas Abertas (1º lugar, Galeria Kolams, Belo Horizonte, 2000) e Mostra Conduta da Imagem (Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, Curitiba, 2001). Vive e trabalha em Belo Horizonte. 162 x 120 x 53 cm [fechado] Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Sem Título, 2000 objeto – madeira Malha Urbana (Belo Horizonte), 2001 miniaturas de móveis estilo chipendale e planta urbana 270 x 350 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista 41 42 Carla Zaccagnini Carla Zaccagnini (Buenos Aires, Argentina, 1973) formou-se em artes plásticas pela Faap, São Paulo, em 1995, e faz mestrado em poéticas visuais na ECA/USP, São Paulo. Realiza desenhos baseados no contorno ou no contato com objetos, o que culminou na frottage da Galeria Adriana Penteado Arte Contemporânea, São Paulo, em 2000. Apresentou diferentes estratégias para dar visibilidade ao acervo de instituições em que expôs, como o financiamento do restauro de uma peça. Realizou mostras individuais no MAP (Belo Horizonte, 2002) e no Torreão (Porto Alegre, 2002). Participou, entre outras exposições, de In Passing (Bard College, Nova York, 1999), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002), Caminhos do Contemporâneo 1952-2002 (Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2002) e Brasileños Contemporáneos (Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam, Havana, Cuba, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Carlos Mélo José Carlos de Mélo (Riacho das Almas PE 1969), entre 1989 e 2000, fez cursos de história da arte e de pesquisa plástica, no Instituto de Arte Contemporânea, e de multimeios, com Paulo Brusky, na Associação Brasil-América, no Recife; e no Barbican Centre, em Londres. Participou do workshop Intervenção na Paisagem, com Penelope Wherli, na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, 2002). Sua obra apresenta uma reflexão fenomenológica sobre arte, religião e sagrado na atualidade, sexo, memória, morte e a dimensão do que nos escapa no imaginário cotidiano. De suas mostras individuais destacam-se Desenhos e Colagens (IAC/UFPE, Recife, 1997), Ausências (DEC/UFPE, Recife, 1998), ZONE (IAC/ UFPE, Recife, 2002). Entre outras exposições, participou de Quatro Artistas de Pernambuco Brasil (Fundação da Juventude, Porto, Portugal, 2001), Permanências e Rupturas (Torre Malakoff, Recife, 2001), 2º Salão de Arte de Goiás (Goiânia, 2002) e 9º Salão de Arte da Bahia (prêmio – MAM-Bahia, Salvador, 2002). Vive e trabalha Assentos, 2001 projeto de bancos dobráveis e modulares [em colaboração com Keila Costa] 40 x 40 x 40 cm [protótipo] Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista Algo, 2001/2002 instalação – slides e plotter s/parede 220 x 300 x 300 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Edson Lucena 43 44 Cinthia Marcelle Cinthia Marcelle de Miranda Santos (Belo Horizonte MG 1974) formou-se em desenho pela EBA/UFMG, Belo Horizonte. Coordenou com o grupo VEM!!!, entre 2000 e 2002, o projeto Caminhando no Lado Selvagem, no qual fez a curadoria da obra do jovem artista falecido Pedro Moraleida. Integram seu trabalho processos coletivos realizados com outros artistas. Apresentou a mostra Aonde Anda Minha Tereza?, em dupla com Sara Ramo. Participou, entre outras exposições, do Circuito Cultural Banco do Brasil (Sesiminas, Belo Horizonte, 2000). Vive e trabalha em Belo Horizonte. Marilá Dardot Marilá Dardot Magalhães Carneiro (Belo Horizonte MG 1973) formou-se em comunicação social pela UFMG, Belo Horizonte, em 1996. Cursou artes plásticas na Escola Guignard, Belo Horizonte, de 1997 a 1999. Termina em 2003 o mestrado em linguagens visuais na EBA/UFRJ, Rio de Janeiro. Fez mostras individuais na EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, 2001, e no Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 2002. Recebeu um dos cinco prêmios da 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002). Participou, entre outras exposições, de MatériaPrima (NovoMuseu, Curitiba, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Nas instalações realizadas em parceria pelas artistas Cinthia Marcelle e Marilá Dardot, são utilizados os sistemas públicos de comunicação, como a telefonia e os correios, por intermédio dos quais o espectador é convidado a interagir no trabalho de arte. Este é concebido como um "entre", uma troca incessante de fluxos que privilegia "os encontros imprevisíveis e os diálogos improváveis", diluindo a autoria e o objeto de arte finalizado e visível. 45 Me Liga, 2000/2002 instalação – telefone público, cartões telefônicos e impressão em catálogos telefônicos Apoio: Brasil Telecom Coleção das artistas Fotos: Divulgação/Arquivo das artistas 46 Clarissa Campello Cláudia Leão Clarissa Campello Ramos (Vitória ES 1978) formou-se em pintura pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, em 2000. Nesse ano, freqüentou cursos na EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro. Ao transitar entre os limites da pintura, fotografia, imagem digital e performance, seu trabalho investiga o estatuto do auto-retrato contemporâneo e as noções de identidade e estranhamento. Participou, entre outras exposições, de Mostrarte (Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2000). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Ana Cláudia do Amaral Leão (Belém PA 1967) formou-se em jornalismo pela UFPA, Belém, em 1996. Atualmente, cursa mestrado em comunicação e semiótica, na PUC, São Paulo. É uma das fundadoras do Caixa de Pandora – Núcleo de Imagens. Constrói imagens por meio da manipulação de filme e papel no laboratório fotográfico, usando como suporte espelhos oxidados e vidros pontilhados. As imagens remetem à perda, à constituição de territórios de desejos inatingíveis e à saudade do que não se pode mais tocar. Realizou a mostra individual O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam (Galeria de Fotografia do Alpendre, Fortaleza, 2000). Participou, entre outras exposições, de Fotografia Brasileira Contemporânea – Coleção Joaquim Paiva (Museu Nacional de Arte, La Paz, Bolívia, 2000) e 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Pintura [série], 2000 jato de tinta s/papel fotográfico 84 x 59 cm [cada imagem] Coleção da artista Fotos: Juninho Motta/Itaú Cultural O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam, 2000 instalação – fotografia manipulada montada entre lâminas de vidro e espelhos [14 imagens] dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Orlando Maneschy 47 48 Daniella Penna Daniella Maria Penna Soares (Belo Horizonte MG 1960) formou-se em artes plásticas com habilitação em desenho e escultura pela Escola Guignard/UEMG, Belo Horizonte, em 2000, onde atualmente cursa o mestrado em artes plásticas e contemporaneidade. Constrói diários utilizando a fotografia. A imagem é apropriada em seu trabalho como flagrantes, seriados ou não, que ocultam evidências. A despreocupação com a composição e a trivialidade da cena induzem o olhar do espectador a procurar algo que deveria estar ali e que, no entanto, falta. Realizou interferência espacial na Galeria da Assembléia Legislativa (Belo Horizonte, 2000). Participou, entre outras exposições, de Apontando o Alvo (Pace Arte Galeria, Belo Horizonte, 1999), Condutibilidade (Cemig Espaço Cultural Galeria de Arte, Belo Horizonte, 2000), Seqüência (Galeria da Escola Guignard, Belo Horizonte, 2000) e Randevu (Galeria Casa dos Contos, Ouro Preto, 2000). Vive e trabalha em Belo Horizonte. Não Adianta Faltar ao Enterro [detalhe], 2000 fotografia – plotter 52 x 220 cm [políptico] Coleção da artista Fotos: Divulgação/Arquivo do artista Divino Sobral Divino Sobral de Sousa (Goiânia GO 1966), artista autodidata, é pesquisador e curador independente. Escreve textos críticos, publicados no Brasil e no exterior. Sua obra reúne elementos de memória pessoal entrelaçados com a mitologia e com a história. Em instalações, incorpora cordões fiados a partir de cabelos (com os quais tece redes), livros (que imobiliza pela imersão em cera) e roupas (que são ora oxidadas, ora bordadas, formando estampas que parecem reproduzir textos sobre o tecido). Realizou mostra individual no MAC (Goiânia, 2002). Participou, entre outras exposições, da 2ª Bienal do Mercosul (Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre, 1999) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Foi curador da coletiva Olhar Multiplicado (Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, Brasília, 2002). Vive e trabalha em Goiânia. Palavras no Meio da Noite, 2000 aquarela, lápis grafite e lápis de cor sobre papel 32 x 44 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 49 50 Domitília Coelho Maria Domitília Costa Coelho da Silva (São Paulo SP 1971) formou-se em ciências sociais pela Unicamp, Campinas, em 1993; em São Paulo, estudou fotografia com Eduardo Castanho, em 1994, e com Eduardo Brandão, entre 1997 e 2000. Suas fotografias caracterizam-se pelo tratamento dado às massas de luz retratadas. Os trabalhos voltados para cenas urbanas são focados em luzes e luminosos da cidade (com pessoas em segundo plano), e as fotografias de vitrines de lojas de móveis confundem a luz interna com a luz externa. A simbologia das vitrines remete a um questionamento do lugar que a arte ocupa nos dias de hoje, como decoração. Realizou mostra individual na Temporada de Projetos (Paço das Artes, São Paulo, 2001) e no MAM (São Paulo, 2002). Participou, entre outras exposições, do Projeto Abra/Coca-Cola de Arte Atual (Centro Cultural São Paulo, 1998), Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 1999) e Fotografias do Acervo do MAM (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Sem Título [série], 2001 transparência fotográfica em caixa de acrílico com luz dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Ducha Ducha (Rio de Janeiro RJ 1977) formou-se em pintura pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, em 2000. Freqüentou cursos da EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, entre 1994 e 1995. Produziu ações em espaços expositivos ou urbanos, como a interferência nos refletores do Cristo Redentor, Rio de Janeiro, sem a autorização das instituições responsáveis pelo monumento. Realizou mostra individual no Agora/Capacete (Rio de Janeiro, 2001). Participou, entre outras exposições, do Prêmio Interferências Urbanas (primeiro prêmio, com a intervenção no Cristo Redentor, Rio de Janeiro, 2000), Orlândia (ocupação coletiva de uma casa no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, 2001), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002), 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Laranja, 2000/2002 instalação 50 x 50 cm Coleção do artista Fotos: Divulgação/Arquivo do artista 51 52 Elisa Queiroz Enrico Rocha Maria Elisa Moreira Queiroz (Macaé RJ 1970) formou-se em artes plásticas pela Ufes, Vitória. Suas obras são registros do próprio corpo, em que expõe afetos e denota sexualidade. Por utilizar vários recursos, como a fotografia, a apropriação de objetos ou mesmo o design na confecção de móveis ergonômicos, o trabalho remonta alegoricamente a seus dados biográficos e referenciais. Realizou mostras individuais no Espaço de Arte da Codesa (Vitória, 1996) e na Galeria de Arte Espaço Universitário (Ufes, Vitória, 1998). Participou, entre outras exposições, de Releitura de Matisse (Biblioteca Central, Ufes, Vitória, 1993), Instalação (Capela Santa Luzia, Vitória, 1995, e Palácio do Café, Vitória, 1998), Confortável (Ufes/Defa, Vitória, 1999), Projeto Balaio Brasil (Sesc Belenzinho, São Paulo, 2000) e 2º e 3º Salão Capixaba do Mar (Casa Porto das Artes, Vitória, 2000 e 2001 - prêmio). Vive e trabalha em Vitória. Enrico Rocha Barbosa Costa (Fortaleza CE 1976) formou-se em comunicação social na UFCE, Fortaleza, em 2001. Seus primeiros trabalhos em fotografia foram direcionados para o jornalismo e exibidos em pequenas mostras organizadas pelos alunos da universidade. Como conseqüência da pesquisa realizada para o projeto experimental de conclusão do curso, desenvolve atualmente um trabalho com fotografias no qual utiliza a câmara em baixa velocidade e atrai imagens construídas ao acaso. Essa imprevisibilidade, que compreende o cotidiano, sugere discussões sobre os modos de percepção da imagem, a apropriação e a construção do real. Vive e trabalha em Fortaleza. Namoradeira, 2000/2002 instalação – madeira, transfer, tecido, bala, papel e vidro 250 x 250 x 150 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Cláudia Pedrinha Insônia, 2001 fotografia 120 x 80 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 53 54 Fabiana Wielewicki Fabiana Feronha Wielewicki (Londrina PR 1977) formou-se em artes plásticas pela Udesc, Florianópolis, 2001. Bolsista de iniciação científica nessa instituição, realizou a pesquisa O Campo Expandido da Gravura Contemporânea, em 2000 e 2001, e integrou o Projeto Arte no Ônibus, que promove intervenções urbanas em Florianópolis, em 2000. Freqüentou cursos de xilogravura, serigrafia e desenho. Participa do grupo de artistas Vaca Amarela. Sua poética utiliza-se da fotografia para focar a paisagem urbana. Seu olhar constrói outras temporalidades para uma paisagem vista da janela de seu quarto. Realizou a mostra individual Paralaxe (MIS, Florianópolis, 2001). Participou, entre outras exposições, da Coletiva de Miniaturas (1999), 7º Salão Nacional Victor Meirelles (2000), Implumes (2001) e Pretexto Poético (2001), todas no Masc, Florianópolis. Vive e trabalha em Florianópolis. Monólogo [detalhe], 2000 imagem digitalizada s/acetato 27 x 16 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Danísio Silva Fabiano Gonper Fabiano Gonçalves Pereira (João Pessoa PB 1970) cursou oficinas de escultura, na Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego, João Pessoa, em 1989. Partindo do cotidiano e de experiências de ordem pessoal, seu trabalho oscila entre o imaginário de cunho surrealizante e o real, introduzindo o mistério, sem excluir, porém, a possibilidade da comunicação com o receptor. Realizou, em 1996, Universo em Queda Livre, uma “retroperspectiva”, no Centro Cultural São Francisco, João Pessoa, onde mostrou duas séries de esculturas, resultado de um processo de anulação de valores/visões estéticas e início de sua nova figuração e novos processos. Apresentou a mostra individual Dimensionáveis (Galeria Sesc Paulista, São Paulo, 2001). Participou, entre outras exposições, do 26º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 1999, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza, e MAC, Niterói, 2000). Vive e trabalha em João Objeto de Exilar/Sítio/Sem Título, 2000 objeto 30 x 90 cm [tríptico] Coleção do artista Foto: Divulgação/Rodolfo Athayde 55 56 Fabiano Marques Fabiano Neves Marques Pereira (Santos SP 1970) formou-se em comunicação social pela Faap, São Paulo, em 1992. Fez cursos livres com os artistas Waldo Bravo, Regina Carmona, Dudi Maia Rosa, Albano Afonso e Sandra Cinto, em São Paulo, entre 1999 e 2001. Suas instalações e esculturas têm como base a história da arte e elementos simbólicos referentes à formação do povo brasileiro ou a tradições nacionais. Apresentou, entre outras, as mostras individuais Escultura de Garagem (Plano Anual de Exposições, Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, Santos, 2002) e Cascata - III Mostra do Programa de Exposição do CCSP (São Paulo, 2002). Participou, entre outras exposições, do 29º Salão de Arte Contemporânea de Santo André (Santo André, 2001), Edital 2001 (MAC, Campinas, 2001) e Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas (CCSP, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Fabio Faria Fabio Thadeu de Faria (São Paulo SP 1974) formouse em educação artística pela Faap, São Paulo, em 1997. Realiza pinturas quase realistas, que retratam interiores de locais sempre vazios, para evidenciar o desolamento da vida contemporânea. O vazio existencial está também presente na produção do artista, seja em fotografia, seja em vídeo. Em todos os trabalhos, a imagem é sempre criada de modo a enfraquecer ou perder o referencial, com influência do olhar cinematográfico sobre as coisas. Realizou mostra individual na Galeria Thomas Cohn (São Paulo, 2000). Participou, entre outras exposições, do 6º e 8º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 1999 e 2001), Portas Abertas (Galeria Thomas Cohn, São Paulo, 1999), Prêmio Estímulo 2000 (primeiro prêmio, Fundación ArteBA, Buenos Aires, Argentina, 2000) e 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001). Vive e trabalha em São Paulo. The Siestawatch, 2001/2002 instalação – madeira, espuma, tecido e vídeo 120 x 120 cm [área aprox.] Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Sem Título – Interior # 100, 1999 óleo s/tela 100 x 200 cm Cortesia Galeria Thomas Cohn [São Paulo SP] Foto: Divulgação/Arquivo do artista 57 58 Felipe Barbosa Felipe do Nascimento Barbosa (Niterói RJ 1978) formou-se em pintura pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, em 2001. Freqüentou cursos na EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, e no Ateliê de Gravura do Ingá, no Museu do Ingá, Niterói, entre 1996 e 1998. Participou do Programa Taller Exposición de Pintura Iberoamericana, Madri, em 2001. Apropria-se de objetos e elementos encontrados no cotidiano urbano, como palitos de fósforo e tampas de garrafas de refrigerante, para extrair de sua materialidade e do processo de realização da obra possibilidades artísticas. Em parceria com a artista Rosana Ricalde, participou do Prêmio Interferências Urbanas, Rio de Janeiro, em 2000 e 2001. Participou, entre outras exposições, do 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002). 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002) e 1ª Bienal Ceará América - De ponta-cabeça (Fortaleza, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Frederico Câmara Frederico Ozanam Agostino Câmara (Governador Valadares MG 1971) formou-se em gravura pela EBA/UFMG, Belo Horizonte, em 1993. Fez residência no Vermont Studio Center, Johnston, Vermont, Estados Unidos, 2000; no The Banff Centre for the Arts, Banff, Canadá, 2001; e na Fundación Valparaiso, Mojacar Playa, Espanha, 2001. Sua produção de videoarte se baseia na utilização econômica de recursos, atingindo resultados documentais e realistas. Os trabalhos refletem sobre as indagações do artista e seu papel em relação às instituições culturais e sociais. Participou, entre outras exposições, 19º Festival de Vídeo e Filme Documentário de Kassel (Alemanha), Trap (Vermont Studio Center, Johnston, Estados Unidos, 2000), e Trip (The Banff Centre for the Arts, Banff, Canadá, 2001). Vive e trabalha em Belo Horizonte e Amsterdã. Corpos que Se Inflamam Quando Atritados, 2000/2001 tela, madeira e palitos de fósforo 45 x 100 x 100 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista Fear No Art [Não Tenha Medo da Arte] Sangatuck, Michigan, Estados Unidos, 1999 mini-DV, cor, som, 7min Agradecimento: Geraldo Valério Coleção do artista Foto [still video]: Divulgação/Arquivo do artista 59 60 Gabriela Ficher Gabriela Machado Gabriela Ficher (São Paulo SP 1973) formou-se em educação artística pela Faap, São Paulo, em 1997. Realizou cursos de arte contemporânea com Felipe Chaimovich e Agnaldo Farias, em São Paulo. Constrói esculturas em forma de cubos, que sintetizam os cômodos de uma casa. Em cada face dos cubos figura um recorte da casa, a face superior correspondendo ao teto, a inferior ao chão. A série de trabalhos vai da Cozinha e Sala de Jantar ao Banheiro e Quarto da Paula, ora revelando uma padronização dos ambientes familiares, ora evidenciando particularidades de seus habitantes. Participou, entre outras exposições, da 26ª e 27ª Anual de Artes Plásticas da Faap (Faap, São Paulo, 1994/1995), Projeto OO (MAB/Faap, São Paulo, 1995) e Coletiva de Alunos (Escola 3º Andar, São Paulo, 1998). Vive e trabalha em São Paulo. Maria Gabriela de Mello Machado da Silva (Joinville SC 1960) formou-se em arquitetura pela Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro, em 1984, e freqüentou os cursos de pintura, desenho, ateliê livre, gravura em metal e litografia da EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, entre 1985 e 1993. Cria obras bidimensionais e instalações usando o desenho. Realizou a mostra individual Gabriela Machado (Galeria H.A.P., Rio de Janeiro, e Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo, 2002). Participou, entre outras exposições, do 13º e 16º Salão Nacional de Artes Plásticas (prêmio aquisição, Funarte, Rio de Janeiro, 1993, e MAM, Rio de Janeiro, 1998), 6º Salão Nacional Victor Meirelles (prêmio, Masc, Florianópolis, 1998) e Os Gêneros da Arte: a Natureza-Morta na Arte Contemporânea (MAM Higienópolis, São Paulo, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Quarto da Paula [Vista 1], 1999/2000 madeira, nylon, papel impresso, algodão, fórmica e esmalte sintético 30 x 30 x 30 cm Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Sala dos Fios [detalhe], 2001/2002 instalação – papel higiênico e pintura da série Red Serie 400 x 400 cm [área] Coleção da artista Foto: Divulgação/Vicente de Mello 61 62 Gabriele Gomes Gabriele Gomes (Curitiba PR 1971) formou-se em desenho e pintura pelo Istittuto per l’Arte ed il Restauro, Florença, Itália, em 1990, e em desenho e pintura pela Embap, Curitiba, em 1992. Traços, registros e ações da artista na natureza, documentados em vídeo e fotografia, constituem seu trabalho. Realizou mostras individuais no Ybakatu Espaço de Arte (Curitiba, 1996 e 1998) e no Projeto Abra/Coca-Cola de Arte Atual (Espaço Cultural Abra, São Paulo, 1997). Participou, entre outras exposições, do Projeto Brasil Reflexão 97 – A Arte Contemporânea da Gravura (Museu Metropolitano de Curitiba, 1997), Entre o Eu e o Mundo (MAC, Goiânia, 1999), 12ª Mostra da Gravura de Curitiba - Marcas do Corpo, Dobras da Alma (Museu da Gravura, Curitiba, 2000), 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001), EMCONTRA (Museu da Gravura, Curitiba, 2001) e Arte Brasileño de Hoy (Sala de Armas-Ciudadela, Pamplona, Espanha, 2002). Vive e trabalha em Curitiba. Travesseiro no Mar, 2001 VHS, cor, mudo, 2min53 Foto: Divulgação/Leonardo R. Gomes Genesco Alves Genesco Alves de Sousa (Jordânia MG 1972) formou-se em artes plásticas pela Escola Guignard/ UEMG, Belo Horizonte, em 2000. Atualmente, faz mestrado em filosofia pela Fafich/UFMG, Belo Horizonte. Utiliza blocos de gelo e pigmento para desenvolver trabalhos híbridos da escultura e da pintura, que aludem à noção de permanência das coisas. O início da obra determina o princípio do fim de sua existência. Restam vestígios, a memória e a incontestável idéia de transitoriedade. Participou, entre outras exposições, de Daqui a Um Século (Centro Cultural UFMG, Belo Horizonte, 1997), Nove Segundos da Eternidade – 300 Anos de Ouro Preto (Museu Casa Guignard, Ouro Preto, 1998), Processos Tridimensionais (Escola Guignard/UEMG, Belo Horizonte, 1998), O Peso da Luz (Centro de Cultura de Belo Horizonte, 1999) e A Casa dos Loucos (Galeria de Arte Minas Tênis Clube, Belo Horizonte, 2001). Vive e trabalha em Belo Horizonte. Sem Título, 2001/2002 instalação – água, pigmentos congelados e fotografias 220 x 200 x 200 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 63 64 Glaucis de Morais Graziela Kunsch Glaucis de Morais Almeida (Lajeado RS 1972) formou-se em desenho pela UFRGS, Porto Alegre, em 1997, onde concluiu mestrado em poéticas visuais, em 2002. Freqüentou cursos de intervenção em espaços urbanos e desenho e teve orientação em artes plásticas no Torreão, Porto Alegre. Sua pesquisa faz uma imbricação entre os jogos da arte e a fragilidade das relações. O elo entre pessoas, seja pela ponte da linguagem, seja pela construção da vontade, está precariamente inscrito na superfície da parede ou na estrutura frágil de uma escultura. Realizou, entre outras, mostra individual na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Porto Alegre, 2002). Participou, entre outras exposições, de 25 x 25 (Centro Cultural Recoleta, Buenos Aires, Argentina, 1997), Monteiro Lobato (Casa de Cultura Mario Quintana, Porto Alegre, 1998), In Corpore (Galeria Obra Aberta, Porto Alegre, 2000) e Casa (Porto Alegre, 2001). Vive e trabalha em Porto Alegre. Graziela Krohling Kunsch (São Paulo SP 1979) formou-se em artes plásticas pela Faap, São Paulo, em 2001. Na série de vídeos Nightshot, a artista desenvolve práticas situacionistas de mudanças sutis no cotidiano das pessoas. A videoinstalação Nightshot 3 mostra simultaneamente cinco vídeos da artista perambulando à noite por São Paulo, latindo para as pessoas e sendo por vezes acolhida, por vezes enxotada. Edita a revista Urbânia (do núcleo de performance Subterrânea) e coordena a Casa da Grazi, centro de contracultura de São Paulo. Co-organizou as exposições independentes Fumaça e Fumaça 00 (Faap, São Paulo, 2000). Participou, entre outras exposições, da 31ª e 32ª Anual de Artes Plásticas da Faap (prêmios - Faap, São Paulo, 1999/2000), Projeto Sony’s Heart Awards (segundo prêmio, Berlim, 2000) e Genius Loci: o Espírito do Lugar (São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Concreto, 2000/2002 instalação – 6.000 cartas de baralho e 70 fotografias 160 x 100 x 100 cm [cartas] 220 x 200 cm [fotos] Coleção da artista Foto: Divulgação/Miguel Aun Nightshot 3, São Paulo, 2000 digital, cor, som – excerto de A.N.T.I. cinema Agradecimento: Fernando Nitsch Coleção pública Fotos: Divulgação/Arquivo da artista 65 66 Gustavo Magalhães Janaina Barros Gustavo de Oliveira Magalhães (Brasília DF 1977) concluiu curso de artes plásticas pela Universidade de Brasília e de economia no Ceub, Brasília, em 2001. Interessa-se pela abordagem psicanalítica da perda, da morte e da repetição como condição do humano. Seus mais recentes trabalhos abordam a idéia de portais, que toma de textos bíblicos, reproduzidos como almofadas moles. Realizou as mostras individuais Desejo de Morte (Galeria de Bolso da CAL, Brasília, 2000), Portais (Projeto Prima Obra, Funarte, Brasília, 2001) e Jovem Arte Contemporânea de Brasília (Galeria Arte Futura, Brasília, 2001). Vive e trabalha em Brasília. Janaina Barros de Albuquerque (Recife PE 1976) licenciou-se em educação artística pela UFPE, Recife. Segundo a artista, sua audioinstalação Conversa entre Galinhas é a lembrança e a reafirmação de que o homem tenta comunicar-se com outro animal, utilizando-se de sua fala e de gestos, com a intenção de ser compreendido. Participou, entre outras exposições, de Abril pro Rock (Centro de Convenções, Recife, 1997), Novos Talentos da Philips (Recife, 1999) e Formas (Centro de Artes e Comunicação da UFPE, Recife, 2000). Vive e trabalha no Recife. Portal 2, 2000/2002 instalação – acrilon, plástico, pluma sintética e fécula dimensões variáveis Coleção do artista Foto: Divulgação/Marcelo Feijó Conversa entre Galinhas, 2000/2002 audioinstalação – registro realizado em Pirunga SE 220 x 110 x 120 cm [área] Coleção da artista Foto: Divulgação/Alírio de Castro 67 68 Járed Domício Planos Instáveis, 2001/2002 intervenção em espaço expositivo dimenssões variáveis Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Járed José Barbosa Domício (Fortaleza CE 1973) formou-se em ciências sociais pela Uece, Fortaleza, em 2001. Iniciou sua trajetória artística em 1993, em salões de arte de Fortaleza. Em sua pesquisa, desenvolve marcações sobre paredes. As linhas cavadas nas bordas desestruturam o plano e o tornam instável para o ambiente que ocupa. Realizou as mostras individuais Orgânica (Centro Cultural do Abolição, Fortaleza, 2000) e Manual Prático de Reconstrução Vital (Galeria do Geo Dunas, Fortaleza, 2001). Participou, entre outras exposições, do 4º Salão Universitário (primeiro prêmio, Mauc, Fortaleza, 1996), 20º Salão dos Novos (menção honrosa, Fundação Cultural de Fortaleza, Fortaleza, 1996), 9º Salão Paulista de Arte Contemporânea (Complexo Cultural Júlio Prestes, São Paulo, 2000), Salão Nacional de Arte Contemporânea (Belo Horizonte, 2000) e 5º Salão Sobral de Arte Contemporânea (Sobral, Ceará, 2002). Vive e trabalha em Fortaleza. Jeanine Toledo Jeanine Lima Toledo (Maceió AL 1962) formou-se em comunicação visual pela UFPE, Recife, em 1983. Seu trabalho volta-se para a pintura e a escultura, com destaque para a representação de partes do corpo. Sem desprezar a produção artesanal, também contempla questões conceituais em suas obras. Apropria-se de uma citação de Waltercio Caldas, “Isto é arte? Arte é isto”, e dá novo direcionamento a sua pesquisa artística, ainda se remetendo ao corpo, porém refletindo sobre a natureza da arte atual. Entre várias mostras individuais que realizou, a mais recente é Impermanência (Instituto de Arte Contemporânea, Centro Cultural Benfica, Recife, 2002). Participou, entre outras exposições, de Painting – An Imaginative Journey (Slade School of Fine Art, University of London, Londres, 1996), Ceará e Pernambuco: Dragões e Leões (Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza, 1998) e 44º Salão Pernambucano de Artes Plásticas (Observatório Cultural Malakoff, Recife, 2000). Vive e trabalha no Recife. Isto É Arte? Arte É Isto, 2000 letras e cabelos humanos colados em lona 70 x 300 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Fritz Simons 69 70 Jeims Duarte João Loureiro João Eduardo Loureiro (São Paulo SP 1972) formou-se em educação artística pela Faap, São Paulo, em 1995. Realizou cursos de história da arte com Rodrigo Naves e Felipe Chaimovich e workshop com Tony Cragg, em Santiago de Compostela, Espanha, em 1998. Constrói objetos escultóricos como mobiliário e mesas de jogos, de modo a inutilizar sua função, gerando desconforto no espectador. Essa subversão pode ser vista na obra Porta com Respiros, cuja intenção é simular o comportamento parasitário, que levaria a porta a mofar, ou em Sinuca, cuja superfície polida impossibilita o jogo. Realizou mostra individual no Centro Cultural UFMG (Belo Horizonte, 2002). Participou, entre outras exposições, da mostra Heranças Contemporâneas (MAC/USP, São Paulo, 1997), 8º Salão MAMBahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 2001), 20 Artistas/20 Anos (Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2002) e Quase Desenho (Adriana Penteado Arte Contemporânea, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Jeims Duarte dos Santos (João Pessoa PB 1975) formou-se em educação artística com habilitação em artes plásticas pela UFPE, Recife, em 2000. Parte do desenho de tradição expressionista – próximo ao universo inquietante de Egon Schiele, pintor e desenhista austríaco – e se serve desse e de outros meios para abordar questões ligadas ao tempo, às ruínas, ao coletivo e ao individual. Sua proposta se integra a uma tradição presente na Documenta, Kassel, 1972, em que os artistas que haviam desintegrado a obra de arte sentiram a necessidade de juntar os pedaços em todos os tipos de museu mental, com o intuito de conservar ou apresentar os vestígios. Realizou mostra individual na Galeria Vicente do Rego Monteiro (Recife, 2000). Participou, entre outras exposições, do Prêmio Pernambuco de Artes Plásticas – Novos Talentos 1999 (MAC, Olinda, 1999). Vive e trabalha em Maceió. Galleria, 2002 instalação 220 x 200 x 280 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Tadeu Giuliani Sinuca, 2000 fórmica e feltro 70 x 200 x 120 cm [aberta] Coleção do artista Foto: Divulgação/Romulo Fialdini 71 72 Jorge Fonseca Jorge Menna Barreto Jorge Mascarenhas Menna Barreto (Araçatuba SP 1970) formou-se em desenho pela UFRGS, Porto Alegre, em 1997. Freqüentou cursos de escultura contemporânea e pintura. A trama do desejo e da amizade é tecida em alguns de seus trabalhos, ao trazer o espectador para muito perto e tornálo o motor da obra. Realizou mostra individual no Torreão (Porto Alegre, 2000). Participou, entre outras exposições, do 17º Salão do Jovem Artista (Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre, 1997), Jornal Aberto (Museu do Telephone, Rio de Janeiro, 2000), 7ª Bienal de Havana (Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam, Havana, Cuba, 2000), 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001), 4ª Bienal Barro de América (Museo Alejandro Otero, Caracas, Venezuela, e Memorial da América Latina, São Paulo, 2001) e Brasileños Contemporáneos (Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam, Havana, Cuba, 2002). Vive e trabalha em Porto Alegre. Jorge Luiz Fonseca (Conselheiro Lafaiete MG 1966) é autodidata. Sua obra se forma pelo cruzamento de gêneros, próprio da arte contemporânea. O artista conjuga procedimentos de caráter conceitual, artesania – aplicada a materiais diversos – e uma iconografia baseada na cultura popular, constituindo um trabalho singular. Realizou mostras individuais no Projeto Macunaíma (Funarte, Rio de Janeiro, 1999), na Celma Albuquerque Galeria de Arte (Belo Horizonte, 2000) e na Anna Maria Niemeyer Galeria de Arte (Rio de Janeiro, 2001). Participou, entre outras exposições, do 53º Salão Paranaense (prêmio aquisição, MAC, Curitiba, 1996), 22º Salão de Arte de Ribeirão Preto (Ribeirão Preto, 1997), Cotidiano/Arte: A Técnica – Máquinas de Arte (Itaú Cultural, São Paulo, 1999), Bravas Gentes Brasileiras (Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2000), Arte e Erotismo (Galeria Nara Roesler, São Paulo, 2000) e A Recente Coleção do MAC (MAC, Niterói, 2002). Vive e trabalha em Conselheiro Lafaiete. Agradeço a Graça Alcançada, 2001 entalhes em madeira 80 x 80 x 12 cm Coleção Irapoan Cavalcanti Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Massa, 2000/2002 instalação/performance 220 x 200 x 200 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 73 74 Juliana Stein Laércio Redondo Juliana Scotá Stein (Passo Fundo RS 1970) é formada em psicologia pela UFPR, Curitiba. Freqüentou cursos de história da arte e técnica da aquarela em Florença, Itália. Sua proposta estética apresenta a figura humana em edições e montagens de imagens que trazem um sentido ético em sua delicadeza. Atualmente, fotografa para a Colors Magazine, da Itália. Participou da 3ª Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba (Curitiba, 2000). Vive e trabalha em Curitiba. Laércio Redondo (Paranavaí PR 1967), formado em artes plásticas pela Faap, São Paulo, em 1998, fez pós-graduação em pintura na Konstfack, Estocolmo, em 2001. Realiza instalações com imagens em movimento, envolvendo o espectador em suas tessituras de lembranças e suspensão de memórias. Realizou as mostras individuais Arenas (Divisão de Artes da UEL, Londrina, 1995) e Listen to Me, Work in Progress (Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro, 2002). Participou, entre outras exposições, do 15º Salão Nacional de Artes Plásticas (MAM, Rio de Janeiro, 1998), Trienal Internacional de Gravura (Cracóvia, Polônia, 1997), After Venice, colaboração de Dorota Lukianska (Stockholm Art Fair, Estocolmo, Suécia, 2001), 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002), Prêmio Sérgio Motta (Paço das Artes, São Paulo, 2002), Matéria Prima da Arte Brasileira (NovoMuseu, Curitiba, 2002) e Faith, Hope & Love (Edsvik Konst & Kultur, Stockholm Art Fair, Estocolmo, 2002/2003). Vive e trabalha em Estocolmo. Éden [série], 1999 fotografia dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural After Venice, 2001 videoinstalação em DVD dimensões variáveis Colaboração: Dorota Lukianska Agradecimentos: BMG e Jobim Music Coleção do artista Foto: Divulgação/Dorota Lukianska 75 76 Letícia Cardoso Letícia de Brito Cardoso (Criciúma SC 1978) cursou escultura e cerâmica na Udesc, em Florianópolis. Freqüentou cursos de gravura eletrônica, fotolinguagem, forno de papel e desenho e expressão, entre outros. Atualmente, integra o grupo de artistas Vaca Amarela. Seu trabalho é acionado pelos movimentos do homem e seu espaço, numa tentativa de rastrear percepções de si e dos movimentos da natureza. Realizou mostra individual na Galeria do Shopping Criciúma (Criciúma, 2000). Participou, entre outras exposições, do 9º Salão Universitário de Artes Plásticas (UFSC, Florianópolis, 1999), Cumplicidade da Matéria (Galeria Aníbal Nunes da UFSC, Florianópolis, 2000), Implumes (Masc, Florianópolis, 2001), 5º Salão Novos Valores nas Artes Plásticas (prêmio, Fundação Franklin Cascaes, Florianópolis, 2001) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha em Florianópolis. Como Capturar o Vento?, Praia do Rincão, SC, 2001 VHS, cor, som, 5min12 Edição: Casa do Cinema e Vídeo - Edison Puente Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Leya Mira Brander Leya Mira Brander (São Paulo SP 1976) formou-se em educação artística pela Faap, São Paulo, em 1997. Suas gravuras em metal são baseadas na recombinação infinita de pequenas matrizes. Imagens e textos remetem a seu cotidiano, e constituem um diário de sensações e idéias em que um sentimento reaparece combinado com outros e formam uma obra. A poesia inspirada e o traço delicado combinam com o formato miniaturizado da obra. Realizou mostras individuais na Nova Galeria de Arte (São Paulo, 1999) e no Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas (CCSP, São Paulo, 1999). Participou, entre outras exposições, da Mostra Rio Gravura - São Paulo: Gravura Hoje (Funarte, Rio de Janeiro, 1999), Gravura Contemporânea – Módulo 2 (Espaço MAM – Nestlé, São Paulo, 2001), 8º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 2001), Brasileños Contemporáneos (Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam, Havana, Cuba, 2002) e Quase Desenho (Adriana Penteado Arte Contemporânea, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Sem Título [série], 1999/2001 metal – água-forte e ponta-seca dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Karina Bacci 77 78 Lucas Levitan Luciano Mariussi Lucas Serrano Levitan (Porto Alegre RS 1977) formou-se em publicidade e propaganda pela PUC, Porto Alegre, em 2000. Cursou artes plásticas na UFRGS, Porto Alegre, e freqüentou cursos de arte no Torreão, Porto Alegre. Trabalha como designer gráfico e ilustrador. Em sua obra, há uma busca de outra dimensão dos objetos e espaços, e o espectador é mergulhado em jogos em que o humor e um certo lirismo propõem novas percepções. Entre as exposições coletivas de que participou destacam-se 21º Salão do Humor de Piracicaba (Secretaria de Ação Cultural, Piracicaba, 1994) e Casa (Porto Alegre, 2001). Vive e trabalha em Porto Alegre. Escada, 2000 madeira e vidro 310 x 45 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Luciano Augusto Mariussi (Tupãssi PR 1974) formou-se em educação artística pela FAP, em 1996, e em gravura pela Embap, em 1997, ambas em Curitiba. Freqüentou cursos de direção de cinema, desenho publicitário, litografia, livro de artista e xilografia. Sua pesquisa une arte e informática, apontando para um certo estranhamento do homem diante das novas tecnologias. Realizou, entre outras, a mostra individual Vídeo-foto-grafias (MAC, Curitiba, 2000). Participou, entre outras exposições, de Contemporary Brazilian Prints (Universidade de Dallas, Dallas, Estados Unidos, 1997, e Louisiana State University, Baton Rouge, Estados Unidos, 1998), Mostra Rio Gravura (Rio de Janeiro, 1999), 12ª Mostra da Gravura de Curitiba – Marcas do Corpo, Dobras da Alma (Museu da Gravura, Curitiba, 2000), Imagem Experimental (MAM Higienópolis, São Paulo, 2000) e Fim do Milênio (MAM Higienópolis, São Paulo, 2001). Vive e trabalha em Curitiba. Não Entendo, Curitiba, 1999 vídeo digital, cor, som, 4min30 Câmera: Jonathan Chotguif Entrevistador: Renato Antônio Bertão Tradução: Harald Stricker e Luciano Lima Assistência geral: Denise Shibata Edição: Cristiano Vicente Acervo Museu de Arte Moderna [São Paulo SP] Fotos: Divulgação/Arquivo do artista 79 80 Luiz Carlos Brugnera Luiz Carlos Brugnera (Espumoso RS 1966) é artista autodidata. Seu projeto artístico caminha no sentido da construção de uma casa conceitual, sempre mostrada em fragmentos, como uma grande instalação. Realizou a mostra individual Imagens Conscientes (Espaço Arte e Cultura Telepar Brasil Telecom, Curitiba, 2001). Integrou coletivas no Masp (São Paulo, 1995), na Funarte (Rio de Janeiro, 1995), no Masc (Florianópolis, 1995), no Centro Cultural Recoleta (Buenos Aires, Argentina, 1998), 2ª Arte em Selo (prêmio) - Bienal Internacional de São Paulo (Fundação Bienal, São Paulo, 1998), Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (prêmio, MAM, Salvador, 1998/1999), 26º Salão Nacional de Artes de Belo Horizonte (prêmio, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 2000), Salão Paranaense (prêmio, MAC, Curitiba, 1998, 2000 e 2001), Galeria Arte Singullar (Curitiba, 2001) e Obras (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha em Cascavel. Assoalho Empoeirado, 2001 grafite s/madeira e pó de canela 500 x 200 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Claiton Biaggi Marcelo Cidade Marcelo Cidade Teixeira Nunes (São Paulo SP 1979) cursa artes plásticas na Faap, São Paulo, desde 1998. Trabalha no meio-termo entre intervenções públicas e registros fotográficos. Na performance Eu–Horizonte, realizada nas ruas de São Paulo, o artista se pendurava nu em postes, utilizando uma técnica de ginástica olímpica que permitia que ficasse na horizontal. Em Eu-C. D. Friedrich, opunha a verticalidade de seu corpo ao horizonte da praia e aparecia vestido, reiterando a oposição entre natureza e cultura da ação anterior. Realizou trabalhos de inversão de sentido, como substituir as calçadas das ruas de São Paulo por lajotinhas de cerâmica e instalar o calçamento em uma casa ou confeccionar um capacho de cimento que fica dentro de casa. Participou, entre outras exposições, da 32ª Anual de Artes Plásticas da Faap (Faap, São Paulo, 2000), 1ª Mostra de Cultura Independente (Funarte, São Paulo, 2000) e Genius Loci: o Espírito do Lugar (nas ruas de Vila Buarque, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Eu Sou Ele Assim como Você É Ele Assim como Você Sou Eu e Nós Somos Todos Juntos, 2002 fotografia 60 x 350 cm Coleção do artista Foto de pré-projeto: Divulgação/Arquivo do artista 81 82 Marcelo Feijó Mário Luís Simões Filho (Promissão SP 1964) cursou teologia cristã no Instituto Bíblico Betel Brasileiro, em João Pessoa, entre 1983 e 1985, e ordenou-se pastor evangélico. Especializou-se em lingüística e missiologia, na Alem-Sil, Brasília, em 1990. Em 1994, renunciou à vida eclesiástica e ministerial. Participou de workshops ministrados por Davi Wirz, Krassimira Drenska e Erica Sturner-Alex, em João Pessoa, entre 1996 e 1998. Estuda letras na UFPB. Sua produção, de forte impacto visual e conceitual, situa-se entre a arte aplicada e as artes plásticas. Aborda questões da sexualidade e do corpo que levam a refletir sobre a nossa condição de seres individuais e simultaneamente partes de uma coletividade. Lugar de mentiras e de verdades, produto de nossos fantasmas ou de pensamentos íntimos, apto a se metamorfosear, o corpo é visto como décor e máscara. Participou, entre outras exposições, do 7º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 2000). Vive e trabalha em Cabedelo, Paraíba. Mário Simões Marcelo Feijó Rocha Lima (Goiânia GO 1964) formou-se em jornalismo pela Faculdade de Comunicação da UnB, Brasília, em 1986. Fez mestrado em arte e tecnologia da imagem no Instituto de Artes, entre 1995 e 1997. Cursa doutorado em história da fotografia, na UnB, onde é professor da Faculdade de Comunicação. Experimenta a possibilidade de associar os meios digitais aos mecanismos pioneiros da fotografia e às possíveis poéticas surgidas desse cruzamento. Desenvolve pesquisa em suportes como papéis, placas de louça e vidro, em que as paisagens se constituem por meio da junção de fragmentos que formam uma narrativa distorcida, meio colagem, meio quebra-cabeça. Realizou, com o grupo Ladrões de Alma, a mostra Cozinha das Almas (Galeria Athos Bulcão, Brasília, 1998, MIS, São Paulo, 1999, e Brasília, 2000). Participou, entre outras exposições, do Prêmio Brasília de Artes Plásticas (prêmio aquisição, Museu de Arte de Brasília, 1998), Salão de Arte do Paraná (MAC, Curitiba, 1999/2000). Vive e trabalha em Brasília. Paisagem Urbana – São Paulo [detalhe], 2000/2001 fotografia impressa s/chapas de vidro e porcelana [70 imagens] 16,5 x 410 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista Habeas Corpus, 2001 painéis fotográficos e caixas de madeira com luvas de lycra 20 x 25 cm [painéis] e 18 x 14 cm [caixas] Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 83 84 Marta Neves Marta Cristina Pereira Neves (Belo Horizonte MG 1964) formou-se em cinema de animação, em 1992, e tornou-se mestre em artes plásticas, em 1999, pela EBA/UFMG, Belo Horizonte. Seu trabalho é um exercício de sarcasmo sobre a arte e o sistema que a envolve. A crítica, o mercado, a mídia especializada e o próprio artista são afrontados por suas obras com humor corrosivo. Realizou mostra individual na Galeria Circo Bonfim (Belo Horizonte, 2001). Participou, entre outras exposições, do 56º Salão Paranaense (MAC, Curitiba, 1999), 26º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte (MAP, Belo Horizonte, 2001), 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002), 8º Salão MAMBahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 2001), Brasileños Contemporáneos (Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam, Havana, Cuba, 2002) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha em Belo Horizonte. Sem Título [detalhe da série], 2000/2001 impressão em vinil-adesivo s/placa de alumínio [11 obras] 18 x 23 cm a 34 x 55 cm Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Marta Penner Marta Penner da Cunha (Porto Alegre RS 1965) formou-se em pintura e fez mestrado em arte e tecnologia da imagem na UnB, Brasília. Orienta o ateliê de pintura da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, Brasília. Iniciou a trajetória artística como gravadora. A fotografia surgiu com enquadramentos em superclose, em ampliações sobre as quais inscreve pequenas frases. Depois adotou a técnica do pinhole para captar paisagens/ruínas, que reproduz em backlight. Criou site em que o usuário descobre e recobre as “paisagens” que instala em espaços impessoais. Realizou as mostras individuais Aventuras do Conhecimento (Espaço Cultural do Distrito Federal, Brasília, 1999) e Um Quarto para o Presidente (Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, Brasília, 2002). Participou, entre outras exposições, do 7º Salão Nacional Victor Meirelles (Masc, Florianópolis, 2000), Jovem Arte Contemporânea de Brasília (Galeria Arte Futura, Brasília, 2001) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha em Brasília. Lugares Prediletos/Paisagem do Não-Evento, 2000/2001 instalação c/plotagem/website 120 x 386 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Antonio Saggese 85 86 Martinho Patrício Maxim Malhado Maxim Pereira Malhado (Ibicaraí BA 1967) formou-se em educação física pela PUC, Salvador, em 1988. Iniciou o curso de belas-artes na UFBA, Salvador, mas o abandonou três anos depois. Seu trabalho reporta-se ao interior da Bahia, na curiosidade exploratória da infância. A redescoberta de espaços e a reinvenção de formas e modos de abordá-las são o resultado de sua pesquisa, com foco na madeira, repleta de memórias do Recôncavo Baiano. Seu trato com a espacialidade é um convite à redefinição de significados, que traz a revelação do incomum da rotina urbana, do fluxo dentro/fora, processo/acabado. Apresentou, entre outras, a mostra individual Intermédio (Instituto Cultural Brasil Alemanha, Salvador, 2001). Participou, entre outras exposições, da 5ª Bienal do Recôncavo (Centro Cultural Dannemann, São Félix, Bahia, 2000), Salão Nacional de Arte de Goiás (1º prêmio, Flamboyant Shopping Center, Goiânia, 2001) e 8º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 2001). Vive e trabalha em Salvador. Martinho Patrício Leite (João Pessoa PB 1964) formou-se em educação artística pela Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Com uma obra peculiar, desenvolve conceitos ligados ao cotidiano e à religiosidade. Realizou, entre outras, mostras individuais no MAM-Bahia (Salvador, 1997), no Espaço Cultural Sérgio Porto (Rio de Janeiro, 2000) e no MAM Aloísio Magalhães (Recife, 2002). Participou, entre outras exposições, de 2ª Bienal Internacional de Buenos Aires (Buenos Aires, Argentina, 2002) e Caminhos do Contemporâneo – 1952/2002 (Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2002). Tem obras nos acervos do MAM-Bahia, Salvador, e do MAM Aloísio Magalhães, Recife. Vive e trabalha em João Pessoa. Máscara 1, 2001 cetim 150 x 144 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Valquíria Farias Sobressalto, 2001 madeira e pregos 220 x 200 x 200 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 87 88 Odires Mlászho Paula Krause Corrêa (Canela RS 1977) formou-se em pintura pela UFRGS, Porto Alegre, em 1999. Sua pintura tem um peso e uma densidade advindos da espessa matéria e da relação vigorosa com o espaço arquitetônico. Realizou mostras individuais na Galeria João Fahrion do Instituto Estadual de Artes Plásticas (Porto Alegre, 1998), no Instituto Goethe (Porto Alegre, 1999) e no Torreão (Porto Alegre, 2002). Participou, entre outras exposições, do 1º Prêmio Jovem Revelação de Artes Plásticas (MAC, Americana, 1998), Arte à Vista II (Usina do Gasômetro, Porto Alegre, 1999), Faces da Nova Geração dos Artistas do IA (Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Porto Alegre, 2000) e Divergências (Galeria Iberê Camargo da Usina do Gasômetro, Porto Alegre, 2001). Vive e trabalha em Porto Alegre. Paula Krause José Odires Micoski (Mandirituba PR 1960), artista autodidata, parte da apropriação e da intervenção sobre imagens de diferentes procedências. Livros e documentos antigos, cartazes, mapas, fotos e biografias anônimas geram um elenco de procedimentos próprios. Sua obra produz novos e raros limites entre uma cosmogonia readaptada à interioridade da imagem e a exterioridade secular, nascida, fundada e perpetuada em patrimônios intocados e permanentes. Na série Antecâmara da Máscara, retratos retirados de uma revista de beleza dos anos 70 são transfigurados com descolagem e velaturas de papel. Realizou as mostras individuais Caleidoscopia Mínima (Funarte, Rio de Janeiro, 1999) e Antecâmara da Máscara (Espaço Paul Mitchell, São Paulo, 2001). Participou, entre outras exposições, de Sob Medida (Espaço Porto Seguro de Fotografia, São Paulo, 1999), 3ª Bienal Internacional de Fotografia (Curitiba, 2000) e 10ª Mostra da Coleção Pirelli/ Masp (Masp, São Paulo, 2001). Vive e trabalha em São Paulo. Antecâmara da Máscara VIII, 2001 fotografia p&b 140 x 100 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista Sem Título [detalhe], 1999/2002 instalação – piche, óleo de soja e tecido dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista 89 90 Raquel Garbelotti Raquel de Oliveira Pedro Garbelotti (Dracena SP 1973) concluiu curso de artes plásticas na Faculdade Santa Marcelina, São Paulo, em 1994, e mestrado em artes visuais pela Unesp, São Paulo, em 2001. Suas dobraduras, em forma de telhado, lareira, fachada, carro, são feitas de madeira, em duas dimensões, para serem montadas mentalmente. Realizou as mostras individuais no Projeto Macunaíma (Funarte, Rio de Janeiro, 1999) e CasasCaixas (Galeria Thomas Cohn, São Paulo, 1999). Participou, entre outras exposições, do 52º Salão Paranaense (prêmio, MAC, Curitiba, 1995), 4º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 1997), 26ª Bienal de Pontevedra (Pontevedra, Espanha, 2000), Coleção Liba e Rubem Knijnik: Arte Brasileira Contemporânea (Margs, Porto Alegre, 2001), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002) e 25ª Bienal Internacional de São Paulo (São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Rodrigo Borges Rodrigo Borges Coelho (Governador Valadares MG 1974) formou-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, em 1997. Bolsista no Programa de Aprimoramento Discente, EBA/UFMG, Belo Horizonte, em 1999 e 2000, atualmente cursa desenho na mesma instituição. Participou da oficina Realidades Inventadas, no 32º Festival de Inverno da UFMG, Diamantina, 2000. Seus trabalhos usufruem o espaço arquitetônico. O desenho redimensiona a dinâmica e restabelece perspectivas do ambiente doméstico. Participou, entre outras exposições, da 12ª (prêmio) e 13ª Integrarte (EBA/UFMG e Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte, 1999/2000), Ponto, Linha e Plano (Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte, 2000), Condutibilidade (Galeria de Arte Cemig, Belo Horizonte, 2000) e Resposta (Galeria de Arte Cemig, Belo Horizonte, 2001). Vive e trabalha em Belo Horizonte. Sistema Reverso, 2001/2002 instalação dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Rubens Mano Banheiro, 2001 pastel-seco e grafite s/papel e parede 220 x 220 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 91 92 Rodrigo Godá Sem Título [série], 1999/2000 grafite e acrílica s/tela dimensões variáveis Coleção do artista Foto: Divulgação/François Calil Rodrigo Alves Borges (Goiânia GO 1980) iniciou a formação artística em cursos do Festival de Inverno de Ouro Preto e no Ateliê da Escola Técnica Federal de Goiás, em Goiânia. Trabalha com pintura e desenho, em que insere a escrita. Explora a relação entre palavra e imagem e cria uma interpretação pessoal dos produtos manufaturados. Compõe esquemas/croquis de máquinas (com detalhamento de cada parte, que lembra desenhos das invenções de Leonardo da Vinci). Seus pequenos desenhos e explicações científicas parecem flutuar no espaço, o que potencializa o caráter enigmático. Realizou mostra individual na Galeria de Arte Frei Confaloni (Goiânia, 1999). Participou, entre outras exposições, do Salão de Piracicaba (prêmio, Piracicaba, 1999), Projeto Prima Obra (Funarte, Brasília, 1999), Fundação Jaime Câmara (menção honrosa, Goiânia, 2000), 26º Salão Nacional de Arte (prêmio aquisição, Belo Horizonte, 2000) e Olhar Multiplicado (Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, Brasília, 2002). Vive e trabalha em Goiânia. Roosivelt Pinheiro Roosivelt Max Sampaio Pinheiro(Corocoró-Nhamundá AM 1964) formou-se, em 1997, em pintura pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, onde concluiu mestrado em artes visuais, em 2002. A instalação Solitários na/da Rede assume uma alegorização e informa o distanciamento da compreensão e o sentido de ausência proporcionados na rede. Editor participante da revista de arte O Ralador, ano 1, nº 1. Realizou o cenário para o espetáculo de dança Pedra, de Célia Golveia Grupo de Dança, CCBB e CCSP, São Paulo, 2002. Coordenou, com outros artistas, o projeto Zona Franca, na Fundição Progresso, Rio de Janeiro, 2001/2002. Realizou, entre outras, exposição individual no Projeto Vitrine Efêmera (Atelier DZ9, Rio de Janeiro, 2001). Participou, entre outras exposições, das coletivas 1º e 2º Prêmio Interferências Urbanas (Rio de Janeiro), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM Salvador, 2002) e integrou o grupo Atrocidades Maravilhosas no Caminhos do Contemporâneo – 1952/2002 (Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2002). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Solitários na/da Rede, 2001/2002 instalação dimensões variáveis Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 93 94 Rosana Ricalde Rosana Ricalde da Silva (Niterói RJ 1971) formou-se em gravura pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro. Faz mestrado em ciência da arte na UFF, em Niterói. Combina suportes obsoletos com ditados esquecidos do latim ou transmitidos pela tradição oral; com verbos da língua portuguesa agrupados por uma ação comum; ou poemas de autores brasileiros de séculos passados. Integra a equipe de produção e pesquisa do Paço Imperial, Rio de Janeiro, desde 2000. Participou, com Felipe Barbosa, do Prêmio Interferências Urbanas, Rio de Janeiro, em 2000 e 2001. Participou, entre outras exposições, do 7º Salão Nacional Victor Meirelles (Masc, Florianópolis, 2000), 27º Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002), Niterói Arte Hoje (MAC, Niterói, 2002) e Livro: Objeto da Arte (CCCM, Rio de Janeiro, 2002), 1ª Bienal Ceará América - De ponta-cabeça (Fortaleza, 2002) e 9º Salão da Bahia (Salvador, 2002) . Vive e trabalha no Rio de Janeiro. “Feliz É o Sândalo que Perfuma o Machado que o Fere”, 2001/2002 instalação – pó de serra, essência de sândalo e placa de metal c/gravação dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Felipe Barbosa Silvia Feliciano Silvia Maria Feliciano da Silva (Bauru SP 1964) formou-se em escultura, em 1996, e em pintura, pela UFMG, Belo Horizonte, em 1998. Seu trabalho tem como fundamento as questões ecológicas de preservação e reciclagem, bem como temas ligados à arqueologia ou a materiais minerais e orgânicos. Ela os usa em seus estudos em Rondônia, onde encontrou um universo que converge para o seu trabalho, nos conceitos e nas formas. Participou, entre outras exposições, de O que Acontece Quando Se Muda de Lugar (Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 1997), Casa de Guardar Votos (Centro Cultural de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 1999) e Prêmio Salão de Arte de Rondônia (Porto Velho, 2000). Vive e trabalha em Porto Velho. Cidade, 2001 madeira e óleo de copaíba [cinco peças] 150 x 200 cm [cada peça] Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 95 96 Téti Waldraff Estratégias para Mudança, 2000/2002 mista – cinco peças dimensões variáveis Coleção da artista/Paula Ramos Foto: Divulgação/Fabio Del Re Teresa Dorotea Waldraff (Sinimbu RS 1959) formou-se em educação artística pela Feevale, Novo Hamburgo, em 1979, e em artes plásticas e desenho pela UFRGS, Porto Alegre, em 1986. É professora de artes no ensino fundamental, em Porto Alegre. Sua poética está ligada à idéia de memórias sempre em transformação. Lembranças e guardados, num moto dinâmico, reinventam-se em novas estruturas e arranjos de objetos. Realizou as mostras individuais Itinerantes... ou as Imagens que Habitam (Centro Histórico Cultural Klinger Filho, Porto Alegre, 1998) e Estratégias para Mudança (Instituto Goethe, Porto Alegre, 2000). Participou, entre outras exposições, de Projeto Presença do Artista (Margs, Porto Alegre, 1994), Paisagem de Verão (MAC, Porto Alegre, 1995), 2º e 3º Salão de Arte Postal (Ball State University, Muncie, Estados Unidos, e Casa 26, Porto Alegre, 1998/1999) e Projeto Balaio Brasil (Sesc Belenzinho, São Paulo, 2000). Vive e trabalha em Porto Alegre. Thiago Bortolozzo Thiago Bortolozzo da Silva (São Paulo SP 1976) formou-se em artes plásticas pela ECA/USP, São Paulo, em 2001. Fotografias de fachadas e paredes com “desenhos espontâneos” e intervenções na arquitetura com escoras, ou outros elementos, para simular o processo de construção são seus dois campos de trabalho, além da gravura e do desenho. No Projeto Utopia 1 2 3 4 enumera os tapumes de uma reforma e, terminada a obra, levaos para cercar uma montanha ou parte da mata, na mesma seqüência em que estavam no prédio reformado. Realizou mostras individuais no CCSP (São Paulo, 2002) e no Paço das Artes (São Paulo, 2002). Participou, entre outras exposições, da Mostra dos Alunos de Graduação de Artes Plásticas da ECA/USP (Casa das Rosas, São Paulo, 2001), Figura Impressa (Adriana Penteado Arte Contemporânea, São Paulo, 2001), Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas (CCSP, São Paulo, 2002) e Ópera Aberta: Celebração (Casa das Rosas, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em São Paulo. Vital Brasil, 2001 site specific – madeira e pregos Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural 97 98 Tonico Lemos Auad Antonio Carlos Lemos Auad (Belém PA 1968) formou-se em arquitetura e urbanismo pela FAU/USP, São Paulo, em 1997, e concluiu mestrado em artes visuais na Goldsmiths College, Londres, em 2000. Sua trajetória artística é marcada pela discussão do desenho, mas destaca-se com a instalação em que cria formas humanas com carpete desfiado, expostas sobre esses mesmos carpetes, tornando-se quase invisíveis devido às pequenas dimensões. A posição das minúsculas figuras sem cabeça é inspirada em fotografias que o artista fez de pessoas em parques londrinos. Participou, entre outras exposições, de Antarctica Artes com a Folha (Pavilhão Manoel da Nóbrega, São Paulo, 1996), Heranças Contemporâneas (MAC/USP, São Paulo, 1997), Além do ArcoÍris (Faap, São Paulo, 1998), Artfutures 2000 (Barbican Centre, Londres, 2000), Zigzag (Galeria Thomas Cohn, São Paulo, 2001) e Paralela (galpão na avenida Matarazzo, São Paulo, 2002). Vive e trabalha em Londres. Sem Título [Flores em Chama], 2000 fotografia 45,5 x 45,5 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Wagner Morales Wagner Perez Morales Júnior (São Paulo SP 1971) formou-se em ciências sociais pela FFLCH/USP, São Paulo, em 1992. Entre seus trabalhos destacam-se os documentários Bali, Olhos Opacos e Na Lona; os vídeos Não Há Ninguém Aqui #1, #2 e #3, premiados em festivais e no Salão de Arte de Ribeirão Preto (Ribeirão Preto, 2001); a performance 3 Montes: Suíte para Voz e Máquina de Lavar, parceria com Rafael Campos e Wagner Malta (3ª Semana Fernando Furlanetto, São João da Boa Vista, 2000); e as videoinstalações Bloombaalde, parceria com Rafael Campos (MIS, São Paulo, 1998), e Eliot (Ateliê Daora Brandão, São Paulo, 1999). Realizou a mostra individual Rossi 22 (Galeria 10,20x3,60, São Paulo, 2002). Participou, entre outros eventos, da Mostra do Audiovisual Paulista (MIS, São Paulo, 1998, 1999, 2001 e 2002), Iniciativas (Centro Cultural São Paulo, 2000), Festival do Rio (Rio de Janeiro, 1998 e 2000) e 13º Vídeo Brasil (São Paulo, 2001). Vive e trabalha em São Paulo. Não Há Ninguém Aqui # 1, São Paulo, 2000 mini-DV, cor, som, 4min10 Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 99 100 CURADORES Fernando Cocchiarale Fernando França Cocchiarale (Rio de Janeiro RJ 1951) é crítico de arte; professor de estética do Departamento de Filosofia e do curso de especialização em história da arte e arquitetura do Brasil, na PUC-Rio, Rio de Janeiro; e professor da EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro. Curador do MAM, Rio de Janeiro, desde 2000, é autor, com Anna Bella Geiger, do livro Abstracionismo Geométrico e Informal. Publica regularmente textos em catálogos e revistas de arte. Foi coordenador de artes visuais da Funarte, entre 1991 e 1999. Atua como membro de júris e comissões de seleção de eventos como 10º e 15º Salão Nacional de Artes Plásticas (Rio de Janeiro, 1987 e 1995). Foi curador-coordenador do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 1999/2000. Fez a curadoria, entre outras exposições, de Rio de Janeiro 1959/1960, Experiência Neoconcreta (MAM, Rio de Janeiro, 1991). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Cristina Freire Maria Cristina Machado Freire (Rio de Janeiro RJ 1961) formou-se em psicologia pela USP, São Paulo, em 1985. Concluiu doutorado em psicologia social pela USP, São Paulo, em 1995, e mestrado em administração de museus e galerias de arte pela City University de Londres, em 1996. É professora convidada do programa de pósgraduação em psicologia social e artes plásticas do Instituto de Psicologia da USP, São Paulo. Como pesquisadora e curadora do MAC/USP, São Paulo, fez a curadoria, entre outras exposições, de A Cidade dos Artistas (1997) e Arte Conceitual e Conceitualismos - Anos 70 no Acervo do MAC/USP (2000). Escreve regularmente artigos para revistas especializadas nacionais e estrangeiras. Publicou os livros Além dos Mapas – Os Monumentos no Imaginário Urbano Contemporâneo (Annablume, 1997) e Poéticas do Processo – Arte Conceitual no Museu (Iluminuras, 1999). Vive e trabalha em São Paulo. coordenação equipe curatorial Fernando Cocchiarale curadores-coordenadores Cristina Freire Jailton Moreira Moacir dos Anjos curadores adjuntos Cleomar Rocha Cristóvão Coutinho Eduardo Frota Juliana Monachesi Maria do Carmo de Siqueira Nino Marília Panitz Marisa Flórido Cesar Paulo Reis Paulo Schmidt Jailton Moreira Jailton Marenco Moreira (São Leopoldo RS 1960) formou-se em artes plásticas pela UFRGS, Porto Alegre, em 1994. Criou, com a artista Elida Tessler, o Torreão, em Porto Alegre, onde oferece orientação em artes visuais, desde 1993. Foi curador adjunto do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 1999/2000. Fez a curadoria da 31ª Coletiva de Artistas de Joinville (Joinville, 2001). Participou da comissão de seleção da 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002). Realizou, entre outras, as mostras individuais Vê Quem Vê Quem (Galeria de Bolso da UnB, Brasília, 1999) e Trabalhos Insistentes (Galeria Chaves, Porto Alegre, 2002). Participou, entre outras exposições, de Território Expandido III (Sesc Pompéia, São Paulo, 2001), 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha em Porto Alegre. Moacir dos Anjos Moacir Tavares Rodrigues dos Anjos Júnior (Recife PE 1963) formou-se em economia pela UFPE, Recife, em 1984. Fez mestrado nessa área na Unicamp, em 1990, e doutorado na University of London, Londres, em 1994. É diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife. Foi coordenador cultural da Fundação Joaquim Nabuco, Recife, entre 1998 e 2000, e curador adjunto do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 1999/2000. Participou, entre outras, da curadoria de Origem (Observatório Cultural Malakoff, Recife, 2000) e Adoração (Mamam, Recife, e Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, Brasília, 2002). Integrou a Comissão de Seleção da 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea (MAM, Rio de Janeiro, 2002). Publicou, entre outros, os ensaios Arte em Trânsito, no catálogo do projeto Nordestes, 1999; Desmanche de Bordas, no livro Artelatina, 2000; Modernidade, Valor e Arte, na Revista da USP, 2000; e Construção de um Lugar que Não Acaba, no catálogo da exposição Antonio Dias (Mamam, Recife, 2002). Vive e trabalha no Recife. 101 102 Cleomar Rocha Cleomar de Sousa Rocha (Aurilândia GO 1969) formou-se em letras pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iporá, Goiás, em 1991. Estudou artes plásticas na UnB, Brasília, de 1992 a 1995. Em 1997, concluiu, pela mesma instituição, mestrado em artes, com área de concentração em arte e tecnologia da imagem. Nesse ano, transferiu-se para Salvador, onde atuou como coordenador dos cursos de graduação em educação artística e de graduação e pós-graduação em design na Universidade Salvador. Atualmente, faz doutorado em comunicação e cultura contemporâneas na UFBA, Salvador. Participou de salões e exposições coletivas apresentando trabalhos em vídeo e arte computacional, entre eles Ordens e Desordens, Arte e Visualidade (Sebrae, Maceió, 1996), Virtus, Coletiva de Arte Computacional (Centro Cultural Adelmar Cardoso Linhares, Salvador, 1998) e Digital Arte Bahia 99 (ICBA, Salvador, 1999). Vive e trabalha em Salvador. Cristóvão Coutinho Cristóvão Coutinho Batista (Manaus AM 1963) formou-se em direito pela Universidade Federal do Amazonas, Manaus, em 1983. Concluiu especialização em direito ambiental, no Centro de Ciências do Ambiente dessa instituição, em 1996, e o curso de introdução à museologia e museografia, na Fundação Getúlio Vargas, Manaus, em 1997. Participou dos cursos experiência neoconcreta, no MAM, Rio de Janeiro, 1991, e aplicação de minerais, terras, óxidos em artes plásticas, pintura e objeto, na EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, 1991. Foi assistente da Coordenadoria do Centro de Artes Chaminé, Manaus, de 1997 a 1998; e gerente de exposições do Centro Cultural Palácio Rio Negro, Manaus, de 1999 a 2000. Realizou mostra individual na Galeria Afrânio de Castro (Manaus, 1986). Recebeu menção especial do júri do Salão Plástica Amazônia, e prêmio aquisição, pelo trabalho experimental em vídeo intitulado Infantiu, em 1998. Vive e trabalha em Manaus. Eduardo Frota Eduardo Elísio Frota (Fortaleza CE 1959) obteve licenciatura plena em educação artística pelas Faculdades Integradas Bennet, Rio de Janeiro, em 1986. Freqüentou a EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, e o Departamento de Cursos do MAM, Rio de Janeiro, de 1984 a 1986. Atualmente, coordena o Núcleo de Artes Plásticas do Alpendre, Casa de Arte, Pesquisa e Produção, em Fortaleza. Recebeu bolsa do Projeto Uniarte 96, da Faperj/ UFRJ, Rio de Janeiro, 1996. Realizou, entre outras, mostras individuais na Galeria Cândido Mendes (Rio de Janeiro, 1993) e no Torreão (Porto Alegre, 2000). Participou, entre outras exposições, do 6º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas (MAM, Salvador, 1997), 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Santander Cultural, Porto Alegre, 2001), 25ª Bienal Internacional de São Paulo (Fundação Bienal, São Paulo, 2002) e Obras do Faxinal das Artes (MAC, Curitiba, 2002). Vive e trabalha em Fortaleza. Juliana Monachesi Juliana Monachesi Ribeiro (São Paulo SP 1976) formou-se em jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, São Paulo, em 2001. Freqüentou durante três anos o curso de filosofia da USP, em São Paulo. Trabalhou, de 1999 a 2000, como jornalista no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, no setor de artes visuais. Fez em 2000 o curso de história da arte, do crítico Rodrigo Naves, e o curso Estudos Dirigidos em Crítica Contemporânea, da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, na Escola de Crítica de Arte e Literatura, em São Paulo. Como trabalho de conclusão do curso de jornalismo, escreveu o livro-reportagem Sem Título – Arte Contemporânea Brasileira da Década de 80 ao Ano 2000, mapeamento da atual produção nacional em artes visuais. Vive e trabalha em São Paulo. Maria do Carmo de Siqueira Nino Maria do Carmo de Siqueira Nino (Triunfo PE 1955) formou-se em arquitetura pela UFPE, Recife, em 1980. Especializou-se em artes plásticas, recebendo o Diplôme d’Etudes Approfondies, DEA, pela Universidade de Paris 1 – Panthéon Sorbonne, Paris, em 1990. Concluiu doutorado em artes plásticas e ciências da arte nessa instituição, em 1995. Atualmente, é professora de graduação e pós-graduação em história da arte, fundamentos da linguagem visual e textualidade literária e artística, na UFPE. Coordenou o Instituto de Arte Contemporânea dessa universidade entre 1998 e 1999. Participou como artista plástica, entre outras exposições, das realizadas na Maison des Associations de Paris (1995), no Forum Les Halles (Paris, 1995), no Itaú Cultural Campinas (Campinas, 1996/1997) e na Galeria Massangana (Recife, 1998). Vive e trabalha no Recife. Marília Panitz Marília Panitz Silveira (São Leopoldo RS 1958), mestre em teoria e história da arte pela UnB, Brasília, tornou-se professora da instituição a partir de 1999. Lecionou na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, Brasília, de 1985 a 1989. Dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga, Brasília, entre 1990 e 1996. Em 1998, dirigiu o MAB, Brasília, onde coordenou o Prêmio Brasília de Artes Visuais 98 e o Programa de Bolsas de Pesquisa MAB/MinC, para jovens artistas. Atua como pesquisadora e coordenadora dos programas educativos de eventos como Mostra do Redescobrimento (Salão Negro do Congresso Nacional e Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília, 2000). A partir de 1999, passa a escrever sobre artistas de Brasília em jornais e catálogos. Fez a curadoria, entre outras exposições, de Felizes para Sempre (CCBB, Brasília e São Paulo, 2001) e Gentil Reversão (CCBB, Brasília, 2001). Vive e trabalha em Brasília. Marisa Flórido Cesar Marisa Flórido Cesar (Rio de Janeiro RJ 1962) formou-se em arquitetura e urbanismo pela FAU/UFRJ, Rio de Janeiro, em 1984. Concluiu o curso de especialização em história da arte e da arquitetura no Brasil, pela PUCRio, Rio de Janeiro, em 1993. É mestre em artes visuais na área de concentração de história e crítica de arte pela EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, onde faz doutorado. Trabalha em planos e projetos de urbanismo na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a partir de 1989. Publica textos em revistas de arte, como O Transtorno da Matéria no Maneirismo, em Gávea, PUC-Rio, 1994; e A Dobra e a Diferença: Colagens de Picasso, em Arte & Ensaio, UFRJ, 1999. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Paulo Reis Paulo Roberto de Oliveira Reis (Curitiba PR 1962) concluiu curso de artes plásticas na Faculdade de Artes do Paraná, Curitiba, em 1985, e mestrado em história social da cultura, na PUC-Rio, Rio de Janeiro, em 1998. É professor do Departamento de Artes da UFPR, Curitiba, onde faz doutorado em história. Em Curitiba, trabalhou na Divisão de Pesquisa e Documentação do MAC, entre 1989 e 1991; na Coordenação de Artes Plásticas da Fundação Cultural de Curitiba, entre 1991 e 1992; e no Centro de Pesquisas do Museu Guido Viaro, de 1992 a 1998. Participou de júris e comissões de seleção de artistas em eventos como Salão dos Novos (Araucária, 1997) e Mostra Brasil (Fundação Cultural de Curitiba, 1999). Como curador independente, realizou as exposições Olhos Blindados (Ybakatu Espaço de Arte, Curitiba, 1999), Uma História da Pele (Museu da Fotografia, Curitiba, 2000) e a co-curadoria do Panorama de Arte Brasileira (MAM Ibirapuera, São Paulo, 2001, MAM, Rio de Janeiro, e MAM, Salvador, 2002). Vive e trabalha em Curitiba. 103 104 Paulo Schmidt Paulo Schmidt (São Paulo SP 1963) cursou desenho e gravura na EBA/UFMG, de 1977 a 1979, e artes plásticas na Escola Guignard, de 1981 a 1983, em Belo Horizonte. Dirigiu o Departamento de Artes Plásticas da Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes, Belo Horizonte, de 1988 a 1993. Realizou, entre outras, a curadoria de A Identidade Virtual (Fundação de Arte de Ouro Preto, Casa dos Contos e Sala Athaide do Museu da Inconfidência, Ouro Preto, 1994), Imagens da Modernidade (Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 1996), Cenas do Brasil – Fotografias de Genevieve Naylor (Centro Cultural Yves Alves, Tiradentes, UFMG, Belo Horizonte, e Faop, Ouro Preto, 1998/1999), Escritos do Grande Sertão de Arlindo Daibert (Fundação Clóvis Salgado - Palácio das Artes, Belo Horizonte, 1999) e Ars Brasilis (Minas Tênis Clube, Belo Horizonte, 2000). Fez diversos projetos gráficos editoriais e organizou, ao lado de Eneida Maria de Souza, o livro Mário de Andrade – Carta aos Mineiros (Editora UFMG, 1997). Vive e trabalha em Belo Horizonte. MOSTRAS 105 106 RUMOS DA NOVA ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Esta é a mais abrangente das 13 mostras (além desta, mais três de médio porte, com 18 artistas cada uma, e nove menores, com média de cinco artistas por exposição) que resultaram do mapeamento, da seleção e da definição das curadorias do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003. Dela participam os 69 contemplados, selecionados em todas as regiões brasileiras, já integrados às mostras médias e menores, que vão itinerar pelo país até 2003. A exposição Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira sintetiza as conclusões curatoriais dos quatro curadores-coordenadores desta edição do programa. Elas foram amadurecidas e elaboradas no decorrer de um processo coletivo. Primeiramente os coordenadores procuraram reconhecer quais as questões mais recorrentes no universo dos trabalhos propostos pelos 69 artistas contemplados. Em seguida, investigou-se em que medida seria possível estabelecer os liames dessas questões com traços essenciais da vida contemporânea. Por fim, chegou-se à conclusão de que esses liames podiam ser efetivamente estabelecidos a partir dos seguintes traços: a crise do Sujeito (individual e teórico), a crise do Objeto (conhecimento, consumo, obsolescência e efemeridade) e a revolução tecnológica (rede, sistemas e percepção). Daí resultaram as três exposições de porte médio – Entre o Mundo e o Sujeito; Poéticas da Atitude: o Transitório e o Precário; e Arte: Sistema e Redes –, assumidas, respectivamente, pelos curadores-coordenadores Moacir dos Anjos, Jailton Moreira e Cristina Freire. coordenador da equipe curatorial Fernando Cocchiarale artistas Exposição geral com os 69 artistas selecionados pelo programa exposição Belo Horizonte MG Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes Esses mesmos temas também norteiam a exposição geral que ora apresentamos. Eles foram capazes de acolher, sem problemas, os trabalhos de todos os selecionados num só evento, inclusive aqueles que, não tendo sido incluídos nas três exposições de porte médio, vieram a integrar as outras nove mostras concebidas pelos curadores adjuntos: Abertura e Ecos (Cleomar Rocha), Manifesto das Indiferenças (Cristóvão Coutinho), O Desconforto da Forma (Eduardo Frota), O Discurso do Choque (Juliana Monachesi), Risíveis Humores (Maria do Carmo de Siqueira Nino), Grafias do Lugar (Marília Panitz), Sobre(A)ssaltos (Marisa Flórido Cesar), Estranhamento (Paulo Reis) e Pupilas Dilatadas (Paulo Schmidt). Não podíamos tê-lo feito de outra maneira. Na contramão da clareza formal conquistada pelo artista moderno, o artista de nosso tempo baralha referências, dilui as fronteiras entre pintura, desenho e escultura, utilizase de repertórios plástico-formais tradicionalmente contraditórios, de materiais de todo tipo. Explora a distância entre significante e significado até o limite de uma simbolização aparentemente tão subjetiva que pode sugerir uma resistência a qualquer mediação por conceitos produzidos ao redor de características supostamente permanentes e comuns às obras 107 108 de arte. O artista típico dessa passagem de milênio busca, afinal, em fragmentos da história, entre o passado e o presente, nas várias regiões do saber e no cotidiano, a condição singular de sua obra, que se quer única. A arte contemporânea é, pois, refratária à classificação pelo discurso (seja do artista, seja da crítica, seja do público). Ao contrário da produção tipicamente moderna, cuja ênfase na forma, nas linguagens e nos ismos inseria poéticas singulares no campo objetivo da história, a nova arte parece desprezar essa inserção, tornando difícil avaliá-la por meio do repertório teórico-crítico desenvolvido para captar e produzir o sentido das produções modernas, eminentemente formalizadas e, portanto, estranhas a esses segmentos da contemporaneidade. Não podendo contar com a objetividade formal, cromática e espacial característica dos ismos, em face da fragmentação que se manifesta em pontos vitais do esgarçado campo das artes, a palavra e a lógica do circuito de arte vêm exigindo, de maneira crescente, novas modalidades de articulação entre obra e fruidor (o curador), novas leituras e interpretações, novos espaços expositivos e institucionais e um novo público. Essas transformações vertiginosas, de desdobramentos ainda imprevisíveis, não têm permitido que a arte contemporânea se torne familiar ao homem contemporâneo. Para a maioria, ela permanece estranha e incompreensível. Um dos sintomas mais claros de sua incomunicabilidade se manifesta na contraditória expectativa do público em reconhecer e designar com precisão produções que não mais se centram no campo objetivo da forma e na estrita materialidade de sua linguagem. Entretanto, longe de se restringir à esfera do espectador, essa incompreensão permeia também as idéias de alguns críticos e teóricos da arte. Qual o público, eles encaram esse estranhamento como uma negação ou um desvio da natureza da arte (ainda quando reduzida apenas à modernidade). Relutam em aceitar que os princípios teóricos, metodológicos e conceituais, que os legitimam intelectualmente, nasceram de condições técnicas, sociais e culturais que já não existem e, por isso, não mais correspondem aos discursos que antes as faziam transparentes. Não querem, enfim, reconhecer que seus discursos são, como quaisquer outros, antes históricos que verdadeiros. Por outro lado, alguns convictos defensores da produção contemporânea baseiam sua defesa apenas na valorização ingênua e pontual da ruptura e da novidade. Talvez não se tenham interrogado sobre a origem modernista desses valores, paradoxalmente usados como índices de contemporaneidade. A dificuldade em tornar compreensível essa produção não reside, portanto, na recusa nem no estranhamento perante as novidades supostamente inéditas e radicais próprias da arte contemporânea, mas na persistente permanência, tanto para criticá-la quanto para valorizá-la, de princípios interpretativos, valores e crenças forjados para a compreensão da arte moderna. Ambos os discursos, um pela recusa, o outro pela rendição acrítica, não conseguem emprestar sentido ao caráter transitivo da contemporaneidade. Se não mais contamos com o aparato teórico-crítico produzido a partir da clareza autodefinida da arte moderna, podemos, até segunda ordem, articular a manifesta subjetividade da produção contemporânea à chamada crise do Sujeito. Podemos também remeter a generalização do uso, na arte, de materiais não-artísticos, extraídos do mundo natural e industrial, à crise do Objeto, e, finalmente, articular essas crises com as transformações tecnológicas que permeiam a complexa transitividade do mundo em que vivemos. É esse pano de fundo que justifica e empresta sentido aos recortes que orientam a curadoria e a montagem da mostra Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira. Retomemos, então, as questões definidas pelos curadores-coordenadores. Entre o Mundo e o Sujeito Todas as esferas do Sujeito, individual, artística e cognitiva, foram definidas em função da crença filosófica na identidade e unidade que as especificavam. Sem esses dois pressupostos teóricos não teria sido possível designar com clareza as noções de indivíduo, de autoria (a valorização do estilo pessoal que separou, desde a Renascença, a arte do artesanato e a autoria individual da coletiva) e de Sujeito (introduzida por Descartes e reexaminada, século e meio mais tarde, pela crítica kantiana, que delineou uma noção de Sujeito cognitivo adequada à modernidade nascente: transubjetivo, impessoal e voltado para as questões gerais e universais da filosofia e da ciência). A propalada crise do Sujeito, típica do estágio atual da vida contemporânea, coincide, essencialmente, com a crise das noções de identidade e de unidade. Indispensável para o sucesso epistemológico, tecnológico e econômico da civilização ocidental, o pensamento dualista, fundado na oposição de identidades claras e distintas, começou a ser desmontado, ainda na segunda metade do século XIX. Inicialmente teórico, esse desmonte, promovido pela antropologia, história, sociologia, psicanálise e filosofia, levou à eclosão da tão discutida crise do 109 110 Sujeito, que hoje se faz sentir em todos os níveis da vida social e psíquica. Nesse quadro, não está contida apenas a crise do indivíduo e do Sujeito de conhecimento, mas a dos próprios saberes baseados na polarização. Fragmentadas até às entranhas, as noções de indivíduo, Sujeito e conhecimento jazem desarticuladas à espera de novos modelos que atendam à nova realidade. Num mundo no qual os processos de totalização não mais espelham aquelas concepções de unidade extraídas da profundidade (ontológica ou epistemológica) em que se supunha morar a verdade; numa realidade na qual somente acessamos as totalidades editadas a partir da complexa superficialidade que caracteriza a vida pós-moderna, mas que já se anunciava no passado moderno (de Frankenstein, do divã psicanalítico, da linha de montagem fordista, da montagem de Eisenstein e Griffith, até as edições de vídeo e de textos), talvez tenha cabido ao artista a tarefa social da construção de um novo Sujeito. O segmento curatorial Entre o Mundo e o Sujeito reúne trabalhos que tratam, de modos diversos, dessa crise e das tentativas contemporâneas de constituição de Identidades que assimilem a confusão dos limites, antes polarizados, entre Sujeito e Objeto. A interferência no corpo humano, real ou imaginário (corpo desnudo, corpo do artista, corpo da arte), a tematização do desejo e da sexualidade, a apropriação dos objetos e a reificação de seus ícones mais banais, e mesmo a investigação formal e gestual, são tomadas pela produção contemporânea como rastros da solidão ou do engenho humanos. Longe dos grandes sistemas filosóficos, que no passado inventaram o sujeito moderno, o campo estético parece ser atualmente o único capaz de integrar o ilógico, o acaso e o contraditório. Suas características o situaram na dianteira da investigação de uma outra noção de identidade (um Sujeito não mais epistemológico, mas estético?), menos unitária e ordenada, mas certamente mais próxima das novas condições tecnológicas e históricas. Deste segmento da mostra participam obras dos seguintes artistas: Adriana Boff, Ana Laet, Arthur Leandro, Beatriz Pimenta, Bruno de Carvalho, Caetano Dias, Clarissa Campello, Cláudia Leão, Daniella Penna, Divino Sobral, Domitília Coelho, Elisa Queiroz, Enrico Rocha, Fabiana Wielewicki, Fabiano Gonper, Fabio Faria, Gabriela Ficher, Gabriela Machado, Gabriele Gomes, Gustavo Magalhães, João Loureiro, Juliana Stein, Laércio Redondo, Leya Mira Brander, Luiz Carlos Brugnera, Marcelo Cidade, Marcelo Feijó, Mário Simões, Marta Penner, Odires Mlászho, Raquel Garbelotti, Rodrigo Borges e Rodrigo Godá. Poéticas da Atitude: o Transitório e o Precário A crise do Sujeito e a crise do Objeto são indissociáveis do impacto causado pela implantação inexorável de processos de produção industriais. Esse impacto, no entanto, não se restringiu à revogação dos processos artesanais de produção dos objetos, diretamente dependentes da habilidade manual do trabalhador. Inicialmente imperceptíveis, os efeitos da demissão da mão (Walter Benjamin) se tornaram, ao longo dos séculos XIX e XX, evidentes, até o ponto crítico a que chegamos. A divisão do trabalho, que determinou a perda do controle do processo total de produção de um objeto pelo trabalhador industrial, introduziu no produto (objeto) a obsolescência, indispensável à lógica do consumo. Essas transformações tiveram conseqüências ainda mais drásticas no campo da arte. Na contramão das tecnologias (primeiramente industriais e, atualmente, da informação), as obras de arte continuaram predominantemente artesanais, contradizendo a lógica e a generalização do produto industrializado. A busca de novas possibilidades de expressão artística e a experimentação de novos suportes e novos espaços generalizaram o uso de materiais de trabalho não convencionais que vinham sendo pontualmente experimentados desde o cubismo. Meios de produção visual alternativos à habilidade manual exigida pela pintura e pela escultura, como a fotografia, o cinema e, posteriormente, o vídeo, ampliaram, enfim, os meios técnicos e expressivos à disposição das artes plásticas, até então de predominância artesanal. A criação dessas alternativas não se limitou, porém, à incorporação dos territórios visuais contíguos. Ela se expandiu para a apropriação de objetos utilitários, novos ou sucateados, de procedência industrial (ready-made), para os espaços naturais (land art), urbanos (arte pública), institucionais e simbólicos (instalações), para o âmbito da idéia (arte conceitual) e para o próprio corpo (body art e performance). Abrangência que rompeu, em definitivo, o estrito campo de uma plástica voltada para seus próprios materiais, meios e elementos exclusivos, típica dos momentos mais radicais da arte moderna. Muitos artistas brasileiros vêm trabalhando a partir de materiais e objetos encontrados nas ruas e até no lixo ou, na esteira de Duchamp, qualificando situações estéticas por meio de sua atitude. Intervêm nos espaços urbanos ou usam as sobras de seu consumo que, por obsolescência ou desgaste mínimos, são jogadas fora pelo consumidor típico do mundo globalizado. 111 112 Esses últimos trabalhos, entretanto, não nascem do interesse estrito dos artistas pelas propriedades materiais, gráficas, plásticas e cromáticas dos objetos. Eles não são somente matérias-primas renovadas pela reciclagem, mas objetos que, mesmo deslocados para o campo das artes, ainda possuem parte da carga semântica que possuíam no contexto em que foram produzidos e onde antes circulavam. Os métodos, meios e técnicas dessas poéticas extraem da efemeridade, da precariedade e da degeneração o sentido crítico das próprias obras. Seus resultados não devem ser confundidos com experiências cênicas ou com produtos reciclados, restritos ao fluxo do tempo ou a uma simples transformação material que nega sua frágil e precária origem. Manifestas no Brasil desde os Parangolés e Bólides, criados por Hélio Oiticica na primeira metade da década de 1960, essas poéticas da atitude e do precário encontraram na situação social brasileira um lastro de realidade que lhes conferiu uma força estética e uma atualidade extraordinárias. Por outro lado configuram um pólo poético diverso do rigor geométrico da tradição construtiva, de fortes raízes no país. O segmento Poéticas da Atitude: o Transitório e o Precário foi pensado para agrupar as obras desta exposição que interrogam o valor de perenidade da obra e o uso de materiais e técnicas convencionais. Seja na valorização das possibilidades poéticas de ações e experiências, seja na utilização de materiais efêmeros ou de métodos não cartesianos de ocupação espacial. Deste conjunto participam obras dos seguintes artistas: Amilcar Packer, Caio Machado, Ducha, Fabiano Marques, Felipe Barbosa, Genesco Alves, Glaucis de Morais, Graziela Kunsch, Janaina Barros, Járed Domício, Letícia Cardoso, Lucas Levitan, Maxim Malhado, Paula Krause, Silvia Feliciano, Téti Waldraff, Thiago Bortolozzo e Tonico Lemos Auad. Arte: Sistema e Redes Outra possibilidade de superar a crise do objeto, investigada pelos artistas contemporâneos, é a da substituição das técnicas manuais e dos suportes tradicionais pelas novas tecnologias da imagem e da informação em rede. A essa dimensão material e tecnológica podemos acrescentar uma outra, menos evidente e literal, mas certamente não menos contemporânea, que se revela no uso, pelos artistas, de métodos de compreensão e de ação informados pelas idéias de sistema e redes. Se no passado os modernistas usaram a arte para falar de seus meios, os novos artistas vêm usando-a para falar de seu sistema ou circuito, da rede de relações existente entre museus e instituições, galerias, críticos, curadores, mercado, artistas e público. Walter Benjamin aponta-nos que a invenção das tecnologias da imagem fotossensível (século XIX) foi determinante para as transformações ocorridas no âmbito da percepção e no da valoração das obras de arte. Mas isso não significa que as linguagens da fotografia e do cinema tenham, automaticamente, nascido com suas técnicas. O mesmo podemos dizer do vídeo, da computação gráfica e da imagem digital. Há hoje no Brasil alguns grupos (de artistas, designers, videomakers e outros) cujo interesse estético restringe-se ao uso explícito da tecnologia. Parecem desconsiderar, em nome do apreço deslumbrado pela high tech e do desprezo pela low tech, que o registro de uma performance, por exemplo, é feito, quase sempre, em vídeo, pela capacidade que essa tecnologia tem de registrar, como nenhuma outra, uma ação em tempo real, imediatamente. Defendem seu ponto de vista a partir de um repertório de idéias de perfil modernista (o chavão do esperado compromisso da obra com os meios utilizados para produzi-la). Noção frágil e demasiado abrangente, a chamada Arte e Tecnologia vem permitindo muitos equívocos. O principal deles talvez seja a confusão entre possibilidades técnicas e invenção poética: alguns pesquisadores, curadores e críticos consideram a simples utilização de meios tecnológicos suficiente para configurar questões estéticas. Com isso atropelam diferenças e lançam numa vala comum produções bastante diferenciadas. Muito antes da difusão universal da internet artistas como Cildo Meireles trabalharam a noção de rede (um canal de irradiação e conexões em movimento não-linear). Suas Inserções em Circuitos Ideológicos, das quais a mais conhecida é o Projeto Coca-Cola, poderiam, num sentido lato, ser pensadas do ponto de vista da lógica da rede (web). As Inserções nos revelam que a demanda e a lógica da rede já existiram antes mesmo de sua efetiva implantação. Feitas as ressalvas, entretanto, é importante reconhecer o sucesso, a positividade e a contribuição da experimentação diretamente tecnológica, ou por ela informada, para a percepção contemporânea. Essas questões estão na origem do último conjunto apresentado, Arte: Sistema e Redes, embora muitas obras realizadas com meios tecnológicos tenham sido alocadas nos outros dois segmentos da exposição, uma vez que tratavam de questões essenciais do mundo contemporâneo neles destacadas. 113 114 Este último núcleo da mostra Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira é integrado por trabalhos dos seguintes artistas: Alexandre Vogler, André Santangelo, Carla Linhares, Carla Zaccagnini, Carlos Mélo, Cinthia Marcelle e Marilá Dardot, Frederico Câmara, Jeanine Toledo, Jeims Duarte, Jorge Fonseca, Jorge Menna Barreto, Luciano Mariussi, Marta Neves, Martinho Patrício, Roosivelt Pinheiro, Rosana Ricalde e Wagner Morales. Suas obras discutem os sistemas de legitimação e institucionalização da arte e expandem a noção de rede do âmbito tecnológico estrito para o campo de múltiplas significações da arte de nossos dias. Fernando Cocchiarale janeiro 2002 ENTRE O MUNDO E O SUJEITO curador-coordenador Moacir dos Anjos artistas Adriana Boff Ana Laet Beatriz Pimenta Bruno de Carvalho Caetano Dias Clarissa Campello Cláudia Leão Domitília Coelho Fabiano Gonper Fabio Faria Gabriela Ficher Gabriele Gomes Gustavo Magalhães Juliana Stein Laércio Redondo Marcelo Cidade Marcelo Feijó Mário Simões exposições Recife PE Fundação Joaquim Nabuco São Paulo SP Itaú Cultural São Paulo 115 116 A diversidade de estilos, técnicas, operações e temas, que caracteriza a produção contemporânea em artes visuais, faz da organização de mostras coletivas um exercício de articulação de fragmentos simbólicos. É nelas que o que é usualmente disperso acolhe sentidos comuns, embora irremediavelmente provisórios. A despeito de sua coesão aparente nas salas expositivas, esses sentidos estão sempre prontos a se desfazer quando as exposições são concluídas e os trabalhos devolvidos a sua irredutível singularidade. Diante do universo amplo e variado formado pelos trabalhos dos 69 artistas contemplados pelo programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003, é papel do curador, que o recorta em mostras menores, identificar que traços – evidentes ou sugeridos somente – de cada um desses trabalhos estabelecem aproximações ou atritos com aquilo que particulariza os demais, de modo a agrupá-los temporariamente sem imposições externas de tema ou idéia. como vozes íntimas que se tornam públicas, acentuam uma crise conceitual na qual estão também envolvidos. O desmanche progressivo da noção de Sujeito íntegro, estável e autônomo é, em parte, resultado de uma série de rupturas nos discursos do conhecimento moderno. Da descoberta do inconsciente por Sigmund Freud à concepção estruturalista do mundo apoiada nos escritos de Karl Marx, da revolução lingüística de Ferdinand de Saussure à descrição do poder disciplinar feita por Michel Foucault, o último século e meio tem colocado em evidência a inexistência de uma identidade fixa, de uma essência humana, de uma fala estável, de um corpo liberto. Os movimentos que, desde a década de 1960, reivindicam, com veemência, os direitos civis das mulheres, dos negros e dos homossexuais têm igualmente contribuído para o descentramento conceitual do Sujeito moderno, tornando-o permeável ao campo da política das diferenças demarcado por diversos e ativos grupos sociais. Por fim, a intensificação do fluxo internacional de bens simbólicos a que se chama globalização tem comprimido o tempo e o espaço em que se desenrolam ação e pensamento, permitindo a permuta incessante de posições diferentes de mundo e provocando a desterritorialização permanente das identidades culturais em que se fundam e se afirmam os sistemas de representação de indivíduos e povos.1 Deve-se atentar, contudo, para o fato de essa identificação só poder ser feita de uma forma relacional, na qual cada trabalho é posto diante de outros e com eles avaliado seu poder de atração simbólica. Como são todos possuidores de um feixe largo de significados possíveis, a ativação específica de cada um desses sentidos depende da presença próxima e contingente de mais trabalhos que partilhem com o outro humores e modos de se expressar. É a partir do entendimento de que uma exposição coletiva implica respeitar os sentidos comuns provisoriamente criados pela aproximação entre trabalhos diversos que se organiza a presente mostra, bem como as demais pertencentes a esse programa de mapeamento, fomento e difusão da nova arte contemporânea brasileira. Os trabalhos dos 18 artistas que compõem a exposição Entre o Mundo e o Sujeito não ilustram, portanto, um tema definido de modo arbitrário. Agrupados e postos em contato, são eles que ativam, ao contrário, uma questão que perpassa as várias instâncias da vida contemporânea, problematizando-a de maneiras diversas e sem propor síntese alguma. Enunciam, de pontos de vista que convergem em alguns momentos e em outros apenas se tocam, o estado presente da crise já longa em que submergiu a idéia de Sujeito moderno, ancorada numa concepção de seres humanos unificados e dotados de identidade fixa e autonomia plena. Em vez da afirmação da integridade do Sujeito, é o seu caráter fragmentado e difuso que os trabalhos aqui reunidos apontam; em vez de identidades estáveis, é a identificação com o que é efêmero e múltiplo que assinalam. Não há em quaisquer desses trabalhos, entretanto, a pretensão do comentário discursivo e culto; tampouco se pretendem engajados numa atitude crítica ou celebratória do estado de confusão de limites entre as coisas do mundo e o Sujeito do conhecimento, aquele que supostamente as pesa e pensa. Apenas espelham, mimetizam e, Por sugerirem, de diferentes maneiras, a condição transitória e circunstancial do Sujeito na contemporaneidade – não mais estável, mas se refazendo a cada instante; não mais uno, mas dividido de modo irreparável –, os trabalhos que integram esta exposição terminam também por comentar a própria transitividade simbólica que os define e o esgarçamento das fronteiras que os faziam pertencer ao âmbito somente do estético. É esta, portanto, uma mostra reflexiva em que os trabalhos desenham, ainda quando não possuam tal pretensão, um mapa conciso das incertezas sobre o próprio espaço que a arte ocupa hoje no mundo. Cláudia Leão O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam, 2000 O lugar simbólico no qual se constroem muitos dos trabalhos reunidos nesta mostra é o corpo humano ou o de sua ausência explícita e ruidosa. É a partir dele que se articulam várias das formas encontradas para o enfrentamento – às vezes claro, às vezes só insinuado – de uma situação de perda ou de mistura de referências que eram separadas antes. Em alguns desses trabalhos, tal perplexidade se volta para a própria maneira com que a materialidade do corpo é representada, fazendo-o menos espesso e denso e tornando-o só superfície opaca. Nas fotografias de Cláudia Leão, por exemplo, imagens diáfanas de partes do corpo humano e de seus espaços supostos de vida são suspensas em conjuntos desde o teto, constituindo fragmentos visuais de uma narrativa que se forma somente no olho de quem as percorre e que se desmancha logo após. 117 118 É nessa perene abertura à reformulação do sentido específico, que porventura tenha, que o trabalho aspira, contraditoriamente, à permanência como obra. Ancorado numa temporalidade distinta, o trabalho de Ana Laet não propõe, por sua vez, narrativa alguma: busca seduzir o olhar, de modo rápido, por meio da estranheza causada pela aproximação que faz de lugares simbólicos distantes. Penduradas em cabides de roupas, fotografias de corpos humanos desnudos são impressas em plástico liso e formam, juntas de peles de animais, estruturas que ativam a supressão de diferenças entre natureza e cultura. Calcados em visão diversa, três outros trabalhos da mostra tratam dos variados modos em que um mesmo corpo pode afirmar-se no mundo. Partindo da fotografia frontal de uma mulher ou um homem, Beatriz Pimenta a divide em partes iguais e cria duas outras imagens: cada uma delas formada por uma das metades da fotografia original e seu duplo rebatido para o lado ausente. Cria, por meio desse procedimento simples, seres bizarros que evidenciam o quão distinto pode ser o que parece simétrico ao olhar distraído. Já Clarissa Campello faz do seu próprio rosto suporte para a investigação de quantas pessoas pode vir a ser um dia. Utilizando-se apenas de cosméticos e perucas, modifica sua aparência física até próximo ao limite de desaparição dos traços comuns que revelam, nas fotografias que registram seu ato, tratar-se do mesmo indivíduo. Baralha assim identidades por ela construídas e reivindica, para si e para qualquer um, várias outras formas possíveis de existência. Marcelo Cidade, por fim, apresenta o registro fotográfico de intervenções que fez em centros urbanos: despido, abraça-se a postes de sinalização e, num impulso corporal, põe-se na posição de um horizonte quase oculto. Desprende-se, assim, não só das roupas que o tornam homem civil, mas também da verticalidade que o define como humano: coloca-se num espaço de suspensão simbólica e física que o libera de ser coisa alguma. Ainda nesse contexto de significados moventes, vários outros trabalhos põem em tensão a própria polaridade entre a idéia de Sujeito moderno e as coisas do mundo, fazendo destas índices da primeira ou de seu gradual desaparecimento. Os três espelhos que Fabiano Gonper apresenta em linha possuem, cada um deles, capacidades distintas de apreensão dos corpos que se postam na sua frente. No primeiro, o reflexo corresponde ao que usualmente se espera da experiência do espelhamento; no segundo, uma retícula metalizada produz o desconforto do aprisionamento virtual da carne; no terceiro, o vidro esfumado quase não mais reflete o corpo, exilando-o do auto-reconhecimento. Valendose de estratégia aparentemente oposta, Mário Simões busca exibir o corpo o mais que pode, adornando todas as suas extremidades com malha azul e fotografando-o quase como objeto decorativo apenas. Ana Laet Você É o que Você Come, 2001/2002 Fabio Faria Sem Título - Interior # 100, 1999 Beatriz Pimenta Moises e Simone, 2000 plotter s/lona vinílica 180 x 335 cm Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Domitília Coelho Sem Título [série], 2001 Clarissa Campello Pintura [série], 2000 Gabriela Ficher Quarto da Paula [Vista 1], 1999/2000 Marcelo Cidade Eu-Horizonte, 2000 fotografia 70 x 100 cm Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Fabiano Gonper Objeto de Exilar/Sítio/ Sem Título, 2000 Mário Simões Habeas Corpus, 2001 Adriana Boff Obscuras Refrigeradas, 2000/2002 geladeira, câmaras obscuras, fotografias pinhole s/borracha imantada 150 x 65 x 20 cm Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Gustavo Magalhães Desejo de Morte, 1999/2000 instalação - concreto armado, parafina e lâmpadas 220 x 400 x 400 cm [área] Coleção do artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Também aqui, contudo, restam poucos traços da delineação precisa de uma subjetividade; são somente os vestígios de uma identidade difusa ou o que se apresenta como possibilidade construtiva de outras que o artista apresenta. Já nas pinturas de Fabio Faria não há espaço para a representação de corpos. Embora descrevam, em superfícies delineadas com calma, ambientes destinados à sua presença – quartos, cinemas, salas –, grita nelas o silêncio constrangedor da falta. São trabalhos que afirmam, na ausência por demais evidente de quem eles mais falam, a melancolia que a perda das coordenadas simbólicas de afeto causa. Ainda que também registrem espaços vazios, as fotografias que Domitília Coelho faz de vitrines de lojas de móveis não parecem remeter a ausências, mas ao que há já inscrito, em potência, como formas de vida em ambientes onde tudo é simulado. Fotografadas da rua, essas vitrines são igualmente oferta e recusa de acesso, fronteiras tênues, mas claras, entre o espaço público (rua) e o espaço privado (loja/casa). Os pequenos cubos que Gabriela Ficher espalha nas salas de exposição condensam, por sua vez, espaços feitos para serem habitados. Um deles carrega, fixados em cada um de seus lados, os mesmos materiais que cobrem as superfícies da sala. Outro reproduz os do quarto; um terceiro, os do banheiro; e outro, os da cozinha. São ambientes sintéticos e móveis que, como as pinturas descritas acima, também marcam a presença humana por sua ausência, tornando-se índices da mobilidade simbólica e física que define o mundo contemporâneo. Tomando não os ambientes da casa, mas um dos seus objetos como plataforma de onde enuncia sua fala, Adriana Boff afixa, na porta de uma geladeira trazida para o espaço da mostra, fotografias que inicialmente sugerem um ambiente estranho à memória. Observadas com atenção, revelam tratar-se, contudo, de imagens do próprio interior da geladeira, realizadas quando ele se encontrava vedado ao olho humano e só existia, portanto, como imagem lembrada. Abrindo-se sua porta, descobrem-se as várias câmaras obscuras que, feitas com embalagens de produtos alimentícios, captaram as imagens das demais ali postas, invertendo, por isso, noções de ausência e presença. É justo do fascínio invertido pela falta que trata a instalação de Gustavo Magalhães. No interior das quatro urnas de concreto que a compõem, lâmpadas acesas e quentes flutuam lentamente sobre uma base espessa de parafina, gradualmente derretida pelo calor intenso. Atraído pela incandescência vinda de dentro das urnas, o olhar paciente acompanha o arfar vagaroso de corpos ausentes, que não estão ali nem em lugar algum, mas em trânsito constante. O trabalho em vídeo de Gabriele 119 120 Gomes é talvez, contudo, dentre os que compõem a exposição, o que mais sinteticamente evoque, novamente pela falta explícita da figura humana, a diluição das construções identitárias fixas e a fluidez dos lugares simbólicos que se pode assumir hoje no mundo. Constando apenas da imagem de um travesseiro que bóia incerto no mar sem afundar tempo algum, ele torna o objeto de repouso da cabeça – lugar suposto como o da razão e do discernimento – emblema da efemeridade de qualquer posição que o indivíduo assuma. A linha extensa composta das pequenas fotografias de Marcelo Feijó propõe, em seu turno, uma narrativa truncada e híbrida do espaço urbano, na qual alturas, distâncias, volumes, pessoas e fatos são destituídos de uma ordem hierárquica ou de interesse singular, constituindo juntos uma paisagem quebrada e única. Impressas algumas sobre louça e outras sobre vidro, as fotografias alternam ainda as sensações de opacidade e transparência que a construção de identidades múltiplas engendra. A fragmentação da experiência urbana está também presente na videoinstalação de Bruno de Carvalho. Atraído pelo som de rua e pela luz cortada, que emanam de um pequeno monitor localizado no piso de uma sala coberta por colchões, o visitante se aproxima desse vórtice de apelos aos sentidos e provoca, com o seu deslocamento, a interrupção dos ruídos que ouvia. Restam apenas, nessa experienciação do corpo no espaço construído pelo artista, as imagens de pessoas correndo num labirinto formado por vários ônibus e a frase escrita na tela que afirma, com alguma ironia: “Você está seguro aqui”. As implicações da idéia frágil de segurança são também adequadas para o entendimento do conjunto de fotografias apresentado por Juliana Stein, nas quais imagens de pessoas, de objetos e de espaços são justapostas sem nenhuma hierarquia e por vezes só em pedaços. Sugerem ser registros de ambientes hospitalares fechados ou asilos, lugares de afastamento do convívio social amplo e de vigilância e controle sobre os corpos dos internos e pacientes. A edição partida das imagens dá, contudo, sentido comum e potência aos desejos reprimidos nas instituições disciplinares e que apenas se querem diferentes (desregulados) nos prazeres e infelicidades da vida. Os dois últimos trabalhos da mostra a ser comentados evocam o corpo humano inteiro apenas para anunciar com clareza sua natureza cindida na contemporaneidade. Nas fotografias apresentadas por Caetano Dias, imagens de homens despidos são tratadas digitalmente e desfocadas até virarem manchas coloridas de luz. Os ambientes que as entornam, contudo, são mantidos nítidos, tornando-se quase molduras para uma nudez interdita. Na tensão assim criada, o artista abre frestas entre o mundo íntimo e a esfera pública, entre o oferecimento de corpos e a sua recusa e, numa ampliação de seu foco de alcance, também entre a Gabriele Gomes Travesseiro no Mar, 2001 Marcelo Feijó Paisagem Urbana São Paulo [detalhe], 2000/2001 Laércio Redondo After Venice [detalhe], 2001 fotografia e a pintura. Já a videoinstalação de Laércio Redondo mostra, em duas projeções avizinhadas, um casal que dança (o próprio artista e Dorota Lukianska, sua colaboradora nesse projeto) numa sala espelhada e ao som de uma melodia conhecida e antiga. À medida que negociam seu encontro dançado, suas imagens atravessam os espaços de uma a outra projeção, se multiplicam em outras várias imagens que os espelhos refletem e se confundem aos olhos de quem as observa. Aproximam ainda o que é real do simulacro, o que uma e outra câmara filmaram e o que é presente e o que é só fato rememorado. Afastados de qualquer nostalgia de definições seguras e totalizantes, esses e os demais trabalhos da mostra esboçam, nos modos singulares em que se expressam, caminhos possíveis para a construção da idéia de um Sujeito fragmentado e em estado de recriação constante. Moacir dos Anjos Bruno de Carvalho V.E.S.A., 2001/2002 Juliana Stein Éden [série], 1999 Caetano Dias Nos Campos do Senhor, 2001 fotografia 125 x 189 cm Coleção MAM Bahia Foto: Divulgação/Arquivo do artista Nota 1. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997. 121 122 POÉTICAS DA ATITUDE: O TRANSITÓRIO E O PRECÁRIO curador-coordenador Jailton Moreira artistas Amilcar Packer Caio Machado Ducha Fabiano Marques Felipe Barbosa Genesco Alves Glaucis de Morais Graziela Kunsch Janaina Barros Járed Domício Letícia Cardoso Lucas Levitan Maxim Malhado Paula Krause Silvia Feliciano Téti Waldraff Thiago Bortolozzo Tonico Lemos Auad exposições Recife PE Fundação Joaquim Nabuco São Paulo SP Itaú Cultural São Paulo O alinhamento das palavras atitude, transitório e precário não significa um somatório que visa precisar e reduzir a área de abordagem desta exposição. Ao contrário, busca criar um campo de forças semântico onde os conceitos específicos que emanam de cada palavra dançam em órbitas próprias e ao mesmo tempo se magnetizam. Os artistas aqui reunidos refletem com suas obras esses pontos e acabam por dinamizálos, expandi-los e problematizá-los. O foco na atitude do artista tem origem nas vanguardas históricas, principalmente no dadaísmo, com seus postulados de antiarte. Em 1969, Harald Szeemann fez uma curadoria histórica e pontual, When Attitudes Become Form (Quando as atitudes se tornam forma), em Berna. Esta logo virou referência não só para as manifestações que se seguiram na década de 1970 privilegiando as ações dos artistas, mas também como exemplo de curadoria autoral. Segundo o próprio Szeemann, “nunca a atitude do artista tinha sido tão diretamente colocada nas obras”.1 De lá para cá, a palavra atitude se banalizou a ponto de virar um adjetivo vinculado desde às mais ingênuas e mercadológicas propostas do universo da música pop até ao discurso do mundo da moda. A modernidade, desde o início, estava associada a idéias de transitório e de velocidade. No decorrer do século XX viu-se na radicalização e aceleração desses conceitos um direcionamento que levaria à pulverização da matéria. O conceito de transitório evoca as idéias de efêmero, transitivo e fugidio. Esse viés aparece nos anos 60 vinculado a propostas como happenings, performances, environments, land art etc. Era o crescimento de uma arte que celebrava o instante e ao mesmo tempo se debruçava sobre os fenômenos naturais, suas transformações e perenidade. Pode-se perceber uma estética do precário atravessando os dois últimos séculos e passando por movimentos tão distintos como o impressionismo e a arte povera. Ela é notada desde em uma progressiva ausência de polimento da pintura, colocando em evidência o gesto criador, até nas ações que manifestavam a vulnerabilidade do corpo do próprio artista na body art. A partir dos fatos de 11 de setembro de 2001, há um redimensionamento dos parâmetros vigentes que ainda está para ser metabolizado. A compreensão de que o precário é condição constituinte de toda a estrutura torna-se fundamental para relativizar o que a pátina do sucesso político, social e tecnológico pode dissimular. É sintomático que boa parte da produção detectada neste mapeamento trabalhe com articulações possíveis desses conceitos. As últimas décadas foram marcadas por um totalitarismo do novo, quando este passa a ser o combustível de uma dinâmica institucional que aprimorou seus 123 124 sistemas de mediação entre a arte de ponta e o público, pasteurizando e amortecendo algumas potências. Os artistas cientes da dificuldade de escapar dessas equações buscam ao menos indagar a sua real flexibilidade e permeabilidade. Voltam a atacar justamente nos pontos geradores de alguns paradoxos que baralharam os elementos componentes do circuito artístico. A dificuldade de atribuir valor monetário a uma ação, o museu como aliado e carrasco, a museografia como matéria produtora de sentido, a fragilidade e dissolução do objeto artístico e a ênfase no pensamento são situações que não se apresentam como novidade, mas surgem como perguntas recorrentes que não foram devidamente exauridas. Carece então indagarmos que diferenças essas atitudes possuem em relação a uma genealogia tão próxima. Seria uma retomada de questões lançadas ou apenas uma reedição desinformada de velhos traquejos? Em um primeiro momento, notam-se proposições que ocorrem com base na ausência do antigo dogmatismo. Os artistas se colocam como agenciadores provisórios de uma circunstância em que, para resolvê-la, todo tipo de articulação é válido. Ao deflagrarem essas situações, não se escravizam a comprometimentos inegociáveis. São ações que evocam a singularidade e brevidade do momento e, ao mesmo tempo, se apresentam como eventuais nos seus processos artísticos. Nota-se aqui a importância do fortalecimento de circuitos institucionais e independentes, que, alheios às exigências do mercado de arte, se têm mostrado receptivos e com um especial apetite para esse tipo de produção. A atitude que essas obras evidenciam não é uma série de pantomimas exibicionistas e narcíseas, mas cutucões provocativos em um observador passivo que é instigado a pensar como o seu corpo e sentidos responderiam a esses embates. A existência do objeto, sua artesania, seu apuro formal, não deve ser necessariamente abolida. Nas obras de Felipe Barbosa, Glaucis de Morais e Lucas Levitan, este funciona como um indicativo do risco que o artista está correndo, até mesmo com a possível perda do próprio objeto. É um perigo partilhado com o observador, para quem é oferecida a idéia de pacto e cumplicidade. O momento de percepção se adensa à medida que se compartilha uma responsabilidade sobre a visualidade apresentada. O costumeiramente reduzido tempo de fruição se distende em eternidades particulares. É a convicção de que, por maior que seja a intermediação entre a obra e a sua percepção, este é o momento de potência revitalizadora e intraduzível do fazer e usufruir arte. A instabilidade pode também ser traduzida no equilíbrio precário revelado nas fotos de Amilcar Packer e nos móveis tortos de Caio Machado. Felipe Barbosa Corpos que Se Inflamam Quando Atritados, 2000/2001 Graziela Kunsch Nightshot 3, 2000 Fabiano Marques The Siestawatch, 2001/2002 Glaucis de Morais Concreto, 2000/2002 Ducha Laranja, 2000/2002 Lucas Levitan Escada, 2000 Paula Krause Sem Título, 1999 instalação - tecidos e óleo de soja 220 x 300 cm Coleção da artista Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Amilcar Packer Still de Vídeo Sem Título # 35, 1999 Genesco Alves Sem Título, 2001/2002 Caio Machado Sem Título, 2000 Tonico Lemos Auad Sem Título [Flores em Chama], 2000 Téti Waldraff Estratégias para Mudança, 2000/2002 Letícia Cardoso Como Capturar o Vento?, 2001 Amilcar Packer faz vídeos do próprio corpo, que se tensiona com objetos e com o espaço onde está inserido. Depois fotografa no monitor essas atuações, que mostram os confrontos com o cenário ou com uma indumentária. São imagens de ajustes provisórios e rimas dissonantes. Perante os móveis de Caio Machado estamos constantemente reorientando o olhar e executando um contorcionismo imaginário na busca de uma ergonomia possível. O transitório é o eixo que aproxima propostas formalmente tão distintas como as de Téti Waldraff, Graziela Kunsch e Fabiano Marques. Para Téti Waldraff, a viagem se coloca como metáfora e urgência. São carrinhos de viagem amalgamados com seus embrulhos que nos estendem um convite à partida ao mesmo tempo que se mostram desolados pela nossa inércia. Graziela Kunsch utiliza a estratégia do passeio para provocar de modo mais direto esta estagnação. Ao gravar cinco horas de vídeo de uma caminhada errante pela noite paulistana, latindo desesperadamente para toda pessoa que encontra, pretende colher do imprevisto a faísca geradora de algo que não poderia ser previamente determinado. Fabiano Marques rearticula continuamente elementos de um ateliê inventado. O espaço do artista é matéria que não exibe uma face estável, pois este está sempre atuando e propondo assim novas configurações. Para tanto, durante a exposição a obra é constantemente alterada, seguindo uma rígida partitura de possibilidades apresentada pelo artista. As fronteiras entre arte e vida são novamente bombardeadas pelas ações de Graziela Kunsch e Ducha. Os registros em foto ou vídeo são documentações de happenings e, ao mesmo tempo, uma confissão dos seus limites. As ações provocativas de Ducha são descargas energéticas que instauram processos entrópicos e fazem lembrar o que enunciou o artista Hans Haacke: “Fazer alguma coisa indeterminada, que pareça sempre diferente, que não possamos prever a forma”.2 Outro grupo de artistas trata a forma como resultante da experiência, como um deixar acontecer: uma espécie de fatalidade. Aqui o trabalho requer não só a coragem de desencadear uma proposição, sem as intromissões vaidosas e ordenadoras do ego, mas também a aceitação do acaso. Para tanto é bom apostar no que Germano Celant falava quando conceituava os limites da arte povera: “A arte tradicional bloqueia a respiração do material.”3 Fazer então com que este respire é conferir uma vida autônoma, ver a distância e se apropriar, ao final, de todo o processo. Os longos panos de Paula Krause, embebidos em água e óleo e constantemente se esvaindo, se avizinham sem dúvida dos gelos monocromáticos de Genesco Alves, de duração breve, mas que imprimem o rastro em planos de gesso. Os desenhos em bananas de Tonico Lemos 125 126 ARTE: SISTEMA E REDES Auad, com o preto do amadurecimento que revela lentamente um texto ou uma imagem, e o vídeo de Letícia Cardoso, tentando inutilmente reter o que está sempre a passar, são modelos do gesto artístico. Nessas obras, a imagem final é incerta, vive no tempo e faz deste seu parceiro. Os trabalhos de Maxim Malhado, Thiago Bortolozzo e Járed Domício podem ser vistos, sem medo do trocadilho, como a perguntar se estamos diante de obras na exposição ou de uma exposição em obras. Percebidos dentro da exposição, apontam para a sua cenografia. Thiago Bortolozzo e Maxim Malhado usam elementos de construção civil como andaimes, escoras, fôrmas de vigas e pilares, atualizando suas estruturas engenhosas e utilitárias como a criar novas arquiteturas ou a frisar a arquitetura existente. Járed descasca linhas de pintura e reboco para justamente potencializar o que antes era imperceptível: a parede branca. São escritas que reconfiguram o espaço expositivo e semeiam a dúvida por toda a exposição. Nos trabalhos de Silvia Feliciano e Janaina Barros há um cruzamento dos imaginários urbanos e suburbanos. Para tanto, usam elementos que, ao mobilizarem sentidos como audição e olfato, desestabilizam as certezas da visualidade. Silvia Feliciano monta uma espécie de maquete de cidade com poliedros de madeira aromatizados com óleo de copaíba. O cheiro penetrante evoca o contexto de onde essas peças foram extraídas, mostrando-se antagônico à imagem construída. O fato de o cheiro ir se dissipando progressivamente soma-se como uma metáfora realista e terrível. Janaina Barros constrói um espaço diminuto e o sonoriza com um discurso hilariante, por meio de um inglês paupérrimo, para um grupo de galinhas. É um comentário bem-humorado sobre a babel de linguagens e faz com que apareça o desejo ridículo de produzirmos sentido em tudo. Nas últimas frases do Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Riobaldo sentencia: “...Existe é homem humano. Travessia”.4 A exposição Poéticas da Atitude: o Transitório e o Precário revela, na tradução deste grupo de artistas, que arte é atitude, que o precário é suficiente e o transitório é destino. Jailton Moreira Notas 1 KLÜSER, Bernd e HEGEWISCH, Katharina. L’art de l’exposition. Paris: Editions du Regard, 1998. 2 GARRAUD, Colette. L’idée de nature dans l’art contemporain. Paris: Flammarion, 1993. 3 __________. Op. cit., 1993. 4 ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979. Maxim Malhado Sobressalto, 2001 curadora-coordenadora Cristina Freire artistas Thiago Bortolozzo Vital Brasil, 2001 Járed Domício Planos Instáveis, 2001/2002 Silvia Feliciano Cidade, 2001 Janaina Barros Conversa entre Galinhas, 2000/2002 Alexandre Vogler André Santangelo Carla Zaccagnini Carlos Mélo Cinthia Marcelle Divino Sobral Frederico Câmara Jeanine Toledo Jeims Duarte Jorge Fonseca Jorge Menna Barreto Luciano Mariussi Marilá Dardot Marta Neves Marta Penner Roosivelt Pinheiro Rosana Ricalde Wagner Morales exposições Fortaleza CE Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará São Paulo SP Itaú Cultural São Paulo 127 128 Algo se manifesta no campo da arte quando do belo passa-se ao interessante como critério de valor. Para o artista norte-americano Donald Judd, o interessante faz frente à qualidade intrínseca da obra de arte, apregoado pela estética moderna. Isto porque o interesse não é inerente à obra, mas advém da relação entre o observador, a obra e o contexto em suas múltiplas dimensões. Distante de um determinismo absoluto e normativo, trata-se de uma categoria constantemente criada e recriada. O interessante define-se, pois, pela indeterminação e pelo relativismo. Sabemos, desde pelo menos Marcel Duchamp, que a diferença entre objetos cotidianos e objetos de arte passa pelo enquadre institucional, que é complexo e organiza-se como um sistema. Envolve, portanto, um conjunto de variáveis não apenas artísticas, mas também políticas, sociais e históricas, que configuram o que se convencionou chamar obra de arte, ao longo dos tempos. O campo artístico organiza-se, assim, como um sistema composto de um conjunto de redes de sentidos e funções cambiantes. Esta é a moldura da obra contemporânea, dentro da qual artista, crítico, curador, galerista e público, invariavelmente, misturam seus papéis. O valor econômico e o valor simbólico são fundidos e todos os envolvidos nesse sistema são responsáveis por sua criação e circulação. Se, num primeiro momento, a tarefa do crítico foi arbitrar o gosto, louvável tarefa que muitos ainda não se dispuseram a abdicar, hoje opera-se muito mais como uma observação crítica e apurada dos mecanismos que fazem mover esta engrenagem. Assim, aproximar-se da obra não significa acercar dos olhos sua materialidade sensível à maneira do connaisseur, mas, sim, compreender criticamente os meandros desse sistema. Como um microcosmo, as redes também não existem autonomamente. Inserem-se, organicamente, na sociedade contemporânea, já definida como Era da Informação. Como observa Manuel Castells, sociólogo da contemporaneidade: “Redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica das redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda a estrutura social”.1 Essa inserção em redes, que privilegia o lugar da informação e seus fluxos, é o ponto de partida para a reunião dos trabalhos que, de uma forma ou de outra, indagam sobre o estatuto da obra de arte na nossa época. É certo, porém, que a consciência crítica sobre esse sistema levou muitos artistas, sobretudo a partir das décadas de 1960 e de 1970, a tomar os meandros da produção, circulação e distribuição da arte como tema de suas obras. Em suma, o que se questionava era o significado da criação e os seus limites numa sociedade regulamentada. Se, naquele momento, o questionamento do sistema da arte tinha ares de revolta, hoje caracteriza-se por uma distante ironia. Jeanine Toledo Isto É Arte? Arte É Isto [detalhe], 2000 Luciano Mariussi Não Entendo, 1999 Frederico Câmara Fear No Art [Não Tenha Medo da Arte], 1999 Marta Neves Sem Título [série][detalhe], 2000/2001 Jeims Duarte Galleria, 2002 O circuito de comunicação estabelecido entre artista, obra e público, antes resumido a estes três elementos, hoje expande-se em número e complexidade. A artista Jeanine Toledo resume a indagação básica desta rede de sentidos cambiantes. Sua obra completa-se com uma breve demonstração sustentada somente dentro de um sistema de significados e valores. Isto é arte? – indaga. Arte é isto, responde; numa tautologia emaranhada em fios de cabelo. Luciano Mariussi lança esse questionamento fora do circuito artístico. No vídeo Não Entendo, interroga, em diversas línguas, os passantes nas ruas. O que surge como resposta nos garante, mais uma vez, que esta definição, pelo menos em se tratando de arte contemporânea, elabora-se dentro de um conjunto de códigos muito distante de um idioma comum. Atento a esses códigos inerentes à definição de arte contemporânea, Frederico Câmara realiza vídeos como parte de um penoso testemunho dos passos exigidos do artista aspirante à legitimação dentro do sistema artístico. Os nomes dos mais conhecidos artistas, por exemplo, são repetidos como mantras, à exaustão e sem trégua, como figuras idealizadas de uma sorte inatingível. Marta Neves escolhe as publicações conceituadas no circuito artístico para indagar este mesmo sistema de legitimação. Opera dentro de uma irônica estratégia de guerrilha ao apropriar-se e subverter capas de revistas de arte, peças centrais na produção, circulação e distribuição de valores hegemônicos. Se as revistas são parte de um sistema relativamente recente de legitimação de valores, as galerias remontam à origem do conceito de valor de exposição. A Galeria, herdeira dos Gabinetes de Curiosidades e também presente nos palácios reais, remonta a muitos séculos. A própria galeria, em sua dimensão contemporânea e ideológica, é interrogada por Jeims Duarte em seus projetos de galerias virtuais. Os projetos de espaços expositivos sugerem um valor de exibição, leia-se poder de legitimação, que funde real e imaginário. Cada vez mais o papel do observador é central nas poéticas contemporâneas, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, quando a contemplação é abandonada, e do público exige-se um envolvimento 129 130 mais direto e ativo. Integrante da proposição artística, a ação, a reação ou até mesmo, como no trabalho de Jorge Menna Barreto, o peso, isto é, a massa corpórea deste observador/participador é parte da obra. O artista torna-se um propositor de situações e a obra resulta dessas interações sempre cambiantes. Nesse sentido, é também possível tomar os próprios meios de comunicação tradicionais como o correio ou a rede telefônica como pontos centrais de um trabalho, tal como propõem Cinthia Marcelle e Marilá Dardot. Trata-se de um projeto em que o circuito de comunicação toma o centro do interesse, e a mensagem importa menos que o estranhamento provocado pela descontextualização de seus meios. Muito diferente, por exemplo, da utilização do correio como estratégia de resistência à ditadura política vivida no país na década de 1970, quando os envios postais foram estratégia marginal para a troca de informações artísticas e sobrevivência à ordem repressora dominante. Se a participação do público é central nessas proposições, é certo também que o papel do artista tem, em outros projetos, contornos menos definidos e, não raro, a autoria é esvaecida. Na proposta de Carla Zaccagnini, a cooperação entre a artista e aqueles não selecionados para as exposições do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais, sutilmente, propõe uma mistura de papéis entre artista, crítico e curador, que se mesclam dentro da exposição, sugerindo o relativismo e a sempre inevitável arbitrariedade das escolhas. O papel da linguagem, entenda-se aqui a relação entre o tangível dos objetos e a fugacidade de suas representações, é central nas poéticas conceituais. A obra de Joseph Kosuth, sobretudo a partir de 1965, e a do coletivo inglês Art and Language são exemplares. Pode-se dizer, escreve Kosuth, que “a arte descreve a realidade, mas, diferente da linguagem, as obras de arte simultaneamente descrevem como elas a descrevem”.2 Jorge Menna Barreto Massa, 2000/2002 Cinthia Marcelle e Marilá Dardot Me Escreva!, 2001/2002 instalação - caixa de correio, cartões-postais e escaninho dimensões variáveis Coleção das artistas Fotos: Divulgação/Arquivo das artistas André Santangelo Reiniciar, 2001/2002 Roosivelt Pinheiro tece suas redes de pesca na contracorrente das interfaces eletrônicas. Elabora assim uma identidade de resistência e traz à tona o reverso desta teia de imaterialidades. As redes que tece em seu trabalho são parte de um saber sensível, que sobrevive nas tradições e nas experiências compartilhadas. O peso das pedras que pendem do teto em sua instalação é a sensível certeza que contrasta com as imagens imateriais que fluem nas redes de computadores e são solitariamente encontradas nesses espaços virtuais. Roosivelt Pinheiro Solitários na/da Rede, 2001/2002 Carla Zaccagnini [em colaboração com Keila Costa] Assentos, 2001 Marta Penner Lugares Prediletos/Paisagem do Não-Evento, 2000/2001 Carlos Mélo opera em sua obra de orientação conceitualista na fronteira onde os liames entre significante e significado se rompem. O esquema de conceitos que apresenta desaloja o sentido das palavras, fazendo-o transitar entre um vocabulário esquemático construído com a lógica incerta da imaginação e os registros de insólitas ações. A identidade constitui-se pelo olhar do outro, no espaço intervalar entre o ser e sua imagem especular; “O que me falta é esse eu que tu vês e a ti o que falta és tu que eu vejo”, sugere a fenomenologia de MerleauPonty. Ao investigar os limites tecnológicos do espelhamento, André Santangelo instala uma janela/olho/câmara que confunde o sensível. É a fusão/confusão entre a realidade e a imagem eletrônica que transtorna o comportamento de peixes-beta. Interessante metáfora da condição contemporânea, na qual a informação torna-se cada vez mais veloz e o signo avança sobre as coisas que perdem sua densidade. Não apenas a densidade das coisas se altera, mas também a noção de superfície. Da relação sensível do contato face a face, passamos à interface da tela, tempo/espaço de múltiplas conexões instantâneas. Mais uma vez a rede: sentido absoluto no qual não importa o centro mas o tempo/espaço das conexões. Este espaço/tempo sem materialidade ou densidade transforma os lugares em espaços de passagem. Desprovidos da densidade do lugar, a chegada suplanta a partida, tudo “chega” ou é descarregado na máquina sem que seja necessário partir. Os hotéis são emblemas dessas zonas de passagem, não-lugares na expressão de Marc Augé, como os aeroportos e estações são zonas de trânsito. Marta Penner, por meio de fotografias e na elaboração de um site, interroga o sentido dessas áreas de ninguém e de todos, onde o particular próprio às subjetividades e às singularidades dá lugar ao uniforme e ao padronizado, ao mesmo tempo que a memória, nosso mais valioso patrimônio, torna-se souvenir a ser adquirido como objeto barato levado para casa como remédio paliativo e ineficaz à progressiva perda da capacidade de compartilhar experiências significativas. Ao serem carregados na tela do computador, esses frágeis souvenirs também não permanecem e se esfacelam. Sugerem, mais uma vez, a progressiva perda da transmissibilidade da experiência, como já anunciava Walter Benjamin, ao comentar a substituição da narração pela informação na modernidade. Escreve Benjamin: “Cada manhã, recebemos notícias do mundo todo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes”.3 Da incapacidade de narrar decorre a incomunicabilidade das experiências. A tecnologia favorece uma relação na qual informação e experiência têm vetores inversos de sentido. Carlos Mélo Algo, 2001/2002 Wagner Morales Não Há Ninguém Aqui # 1, 2000 No vídeo Não Há Ninguém Aqui, de Wagner Morales, uma voz de mulher, gravada na secretária eletrônica, procura, desesperadamente, marcar um 131 132 SOBRE(A)SSALTOS encontro com um homem desconhecido. Ao responder ao anúncio, colocado anonimamente pelo artista no jornal, a voz explicita nas mensagens gravadas o isolamento de quem consome anúncios e, tal qual sujeito anônimo, encarna o destino de tornar-se objeto-mercadoria. Nesse sistema de comunicação básico que é a linguagem, os artistas também praticam a palavra, isto é, não simplesmente escrevem, mas procuram dotar a palavra de uma densidade originária perdida. Sua mínima unidade significativa, a letra, torna-se unidade plástica de sentido em vários trabalhos. Ao valer-se das letras livres de qualquer linearidade ou seqüência lógica, os artistas operam uma escrita sem sintaxe, superpondo e justapondo palavras, retornando à expressividade plástica das letras e à potencialidade expressiva do acaso, como exploraram os poetas concretos. Divino Sobral desenha histórias e narra palavras. De sua caligrafia surgem desenhos/escrituras que tornam impossível qualquer divórcio entre palavra e forma. Alexandre Vogler constrói suas frases com carimbos em tortuosas linhas que se repetem sem começo nem fim. A des(organização) do texto imputa sentido ao espaço em que se instala. Da página branca e asséptica, lugar privilegiado da escrita, seu gesto/palavra dirige-se ao universo denso de significados dos lugares onde inscreve/escreve sua ação. Divino Sobral Palavras no Meio da Noite, 2000 Alexandre Vogler Tudo Sempre Começa Bem [detalhe], 2000 Rosana Ricalde Corrente de Papel, 2001 papel dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Felipe Barbosa curadora adjunta Marisa Flórido Cesar Rosana Ricalde dá materialidade ao jogo de letras, como se as palavras fossem as peças e o acaso fosse a regra de um mesmo sistema combinatório. Jorge Fonseca também opera na busca de uma fusão sensível e intuitiva entre imagens e palavras, mas, por sua vez, orienta-se para o sagrado. A linearidade lógica e a racionalidade da linguagem dão lugar, em suas pinturas e objetos, à palavra carregada de um sentido transcendente. Enfim, ao interrogar os meandros do sistema artístico e suas redes, este conjunto de obras sugere uma reflexão crítica sobre a pluralidade das poéticas artísticas contemporâneas a partir do paradigma comum de serem, notadamente, interessantes. artistas Jorge Fonseca Os Classificados do Amor [detalhe], 2001 tecido, acrílica e bordados 220 x 150 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Cuia Guimarães Alexandre Vogler Carla Linhares Ducha Felipe Barbosa Graziela Kunsch Jorge Menna Barreto Marcelo Cidade Rosana Ricalde Cristina Freire Notas 1. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 497. 2. KOSUTH, Joseph. Art after philosophy and after. Collected writings, 1966-1990. Massachusets: MIT Press, 1993. p. 247. 3. BENJAMIN, Walter. O narrador. v. 1. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 203 (Obras escolhidas) exposição Belo Horizonte MG Itaú Cultural Belo Horizonte 133 134 Um Horizonte, quiçá Belo: a cidade tomada por Sobre(A)ssaltos tem, no nome, o apelo das distâncias, a prece das dispersões. Um dueto entre o aqui e o alhures, o instante e a eternidade, o centro e a margem. colher as flores desse mal; o viajante, quem sabe, encontraria, no labirinto rejeitado por Descartes, o amor de Ariadne. Anjos profanos, distraídos, a deambular pelas ruas indecisas. As cidades fundaram-se na interseção dos caminhos dos homens e dos deuses. Uma esquina. Um ponto fixo no solo movediço dos espaços, no fluxo fugidio dos tempos. Essa abertura, gerada na fantasmagoria que rondava os muros da cidade e a identidade das coisas e dos seres, permitiria a constituição de um homem e do mundo que ele habita. Uma fresta em sua voraz irrealidade para que se desse a aparição de uma distância, a irrupção de uma transcendência, o anúncio do Nome. Um oráculo no qual estaria a previsão de todos os destinos. Um porto inequívoco no qual ancorar as verdades e as significações. Um centro do qual o mundo se estenderia definindo seus horizontes. A exposição reúne oito artistas que realizam ações e intervenções no espaço urbano. Sua proposta inicial previa a passagem por várias cidades, incorporando as itinerâncias em suas reflexões, possibilitando um diálogo entre elas e a memória crítica de seu processo. O cancelamento das exposições, contudo, restringiu sua experiência às ruas de Belo Horizonte, que nem por isso deixaria de desvendar as infinitas cidades que uma cidade abriga. Mas as cidades traem os deuses, e os deuses delas desconfiam. Não se esgotam os exemplos de cidades fabulosas, cujos nomes guardam lá os seus mistérios. Babilônia, a prostituída famosa. Seu nome? Porta do deus. Mas de um deus que se corrompeu, seduzido pelos impuros desejos despertos entre seus muros e jardins suspensos. Babilônia, o duplo degradado e maldito da celestial Jerusalém. Babilônia, a mãe desvirtuada. E se Atlântida, cidade ideal dos deuses para a qual Platão sonhou uma organização política e social sem falhas, permanecesse na memória como a origem perdida de todas as civilizações, a ruína de Babel silenciaria esse horizonte unívoco. Afinal, uma torre que alcançasse o Verbo era a promessa de uma tradução absoluta do real, de uma articulação perfeita entre a experiência e sua decodificação, entre as coisas e os nomes. Babel tem no nome a raiz hebraica Bll: confundir. Deus castigaria o homem por sua pretensão e arrogância desmedidas, destruindo a torre e separando os povos em diversas línguas. Mas ao declarar ao homem sua incomunicabilidade e sua condição errante no mundo, Ele lhe devolveria a perplexidade inesgotável, o sobressalto em um mundo sempre a conhecer, sempre a situar, sempre a nomear. São poéticas que guardam entre si e as cidades a contaminação e a dispersão dos territórios: a flutuação de fronteiras e de significados entre o autor e o espectador, a arte e o mundo. Uma constituição relativa que implica e evidencia a trama de relações na qual esses trabalhos se inserem, engendram e criticam: uma trama de afetos, sistemas e fenômenos exteriores ao universo soberano e autônomo da arte moderna, às condições abstratas e ideais de espaço e de tempo que esta reivindicava. Invadindo-se pelas alteridades, deslocam-se para os espaços do mundo, realizam-se na circunstância e nos encontros fortuitos, submergem na entropia urbana. Reparar o colapso de Babel foi a intenção do saber metafísico; construir sua torre, o projeto histórico da modernidade, diz Derrida.1 Alcançar, enfim, o centro alhures de onde os oráculos anunciam suas verdades, o centro na origem dos mundos ou no fim dos tempos. Desprotegidas da moldura da galeria, que convenciona o objeto como artístico, essas ações colocam em tensão extrema o que pode ser considerado arte, para quem, em nome de quem. Interrogam se resta à arte alguma lucidez crítica ao mundo, mesmo nele se imiscuindo: algum poder de sensibilização na vida contemporânea capaz de concorrer à circulação e à manipulação vertiginosa de imagens e informações, à espetacularização banalizada e absoluta e à sua redução a mercadoria nesta comunidade universal e vazia chamada mercado. Por isso inquirem o sentimento crescente da perda da esfera pública e a afirmação de que sua representação social vem se reduzindo – nessa rede de fluxos cada vez mais desterritorializados pela economia globalizada e pelas novas tecnologias – à encenação, a uma perpétua simulação de si mesmas. Verificam, enfim, como possível, aquela que foi, por tradição, a arena da vida pública, tecido das sociabilidades, presença visível do convívio e do conflito de complexas diferenças: a cidade. Mas eis o mistério das cidades: mesmo antes de os deuses ou de a história desertarem das cidades e dos homens, muitos já haviam antecipado os desvios que as cidades abrigam. Uns as condenariam, outros as celebrariam. Baudelaire já o sabia, Benjamin também. O flâneur iria Sua inscrição na rua obriga o agenciamento recorrente de laços entre “alguns” espectadores/participantes, não apenas para um acordo sobre a nomeação de um objeto como arte, mas para a constituição de uma dimensão social e coletiva de encontros e trocas por meio da arte. 135 136 Assim, Jorge Menna Barreto e Marcelo Cidade deslocam terras e horizontes. Minha Terra/Sua Terra, MTST consiste na extração de 70 quilos (correspondentes ao peso de Jorge) de terra de uma cidade, e sua distribuição, em pequenas porções, aos visitantes de outra cidade. A dispersão das fronteiras e seu destino imprevisível denunciam que todo limite é um corte arbitrário em um todo infinitamente móvel. Pois como fixar territórios em um mundo sem centros, se todo vínculo ao solo se reduz à gravidade, à atração que a terra exerce sobre nossos corpos? A distribuição de terra exige essa espécie de despedaçamento do corpo/terra do artista e sua doação ao outro além da fronteira: uma desprivatização de si. A contingência material desse elo coloca o corpo entre a efemeridade de sua posição e a potência que esta mobilidade contém: incontáveis territórios surgirão e serão absorvidos em um universo fragmentado, que oferece tanto seu nomadismo errático quanto o múltiplo do horizonte. Jorge Menna Barreto Minha Terra, Sua Terra [Rumos], 2001/2002 instalação/performance textos: Agnaldo Farias e Daniella Samad dimensões variáveis Coleção do artista Foto: Daniel Mansur/Itaú Cultural Alexandre Vogler Macumbanonsite [Trabalho pra Maria Padilha, Rainha da Encruzilhada], 2001/2002 performance/instalação - pétalas de rosa vermelha, pemba branca e licor de anis Coleção do artista O horizonte era essa linha circular que limitava o plano da terra e o céu, e que colocava aquele que olha no centro do mundo que ela limitava. Marcelo Cidade compõe um horizonte constituído por centenas de habitantes alinhados na paisagem de cada uma das cidades da mostra, que o artista reúne pela fotografia. A paisagem foi a ficção de um mundo visto por um sujeito universal, que submeteu os horizontes do mundo a seu olho e sua medida. Que subjugou todos os desvios: os da carne, os do impensado, os do outro obscuro que erra à nossa volta, a um ponto de fuga referendado por seu olhar, na altura exata de sua contemplação. O olho que está na origem do quadro. A paisagem se ancora nesse olhar, ordena os espaços e reúne, no horizonte, as dispersões de todos os lugares. Horizonte infinito da visualidade é o pouso das distâncias impalpáveis que apenas a visão toca. A paisagem é domínio do quase in-corpóreo. O horizonte para onde todos os lugares se dirigem e de onde todos os lugares extravasam. Ao mesmo tempo que se somam, os horizontes de Marcelo se relativizam. Recusam a paisagem como o mundo submetido a um olhar centralizado, para apresentá-la como centenas de horizontes que nos olham e que nos dissipam como unidade. E se a paisagem é o horizonte do lugar, dele difere. O lugar talvez abrigue os corpos e a memória, a ancoragem cultural ao solo. As intervenções urbanas de Felipe Barbosa e Rosana Ricalde verificam os processos de constituição e desaparecimento da paisagem, do lugar e da memória na urbe contemporânea, sua dinâmica autofágica e mutante. Visibilidade intitula o muro de 8.000 pães, erguido em uma passagem no centro de Belo Horizonte. Se o olhar alcança a paisagem por sobre a barreira de pães, ao corpo é interditado o acesso. A alguns quarteirões, Leveza conecta-se implicitamente à Visibilidade: 10.000 garrafas de água mineral, cobrindo o chafariz do Palácio das Artes.2 A água foi retirada na madrugada de sua instalação e vendida nas esquinas. O pão, levado, dias depois, como comida. Como então conceber a arte como o domínio exclusivo de um olho desencarnado, do universo da Visibilidade? Como aceitar a fruição estética como um juízo autônomo, purificado e ascético em sua Leveza, dissociado das necessidades da existência, desvinculado de um corpo que tem fome e sede? Nossas perversidades em exposição. Apoio: PUC TV [Minas Gerais] Foto: Daniel Mansur/Itaú Cultural Marcelo Cidade Eu Sou Ele Assim como Você É Ele Assim como Você Sou Eu e Nós Somos Todos Juntos [detalhe], 2002 Carla Linhares Circuito Antivicioso de Regras Cotidianas, 2000/2002 intervenção urbana metal e adesivos 40 x 40 cm Coleção da artista Foto: Daniel Mansur/Itaú Cultural Ducha Laranja, 2000/2002 Felipe Barbosa e Rosana Ricalde Visibilidade, 2002 intervenção - 8.000 pães e engradado de madeira 150 x 1.000 cm Coleção dos artistas Foto: Daniel Mansur/Itaú Cultural Se como espaço público entendemos o mundo comum a todos, mas diferente do lugar que nos cabe dentro dele, onde é o lugar que nos é específico? Ao tecer correspondências entre o projeto moderno do urbanismo racionalista e da arte, Alexandre Vogler deflagra o que há de excludente e perverso em seu ideal de pureza, como renova os sentidos das práticas situacionistas da arte contemporânea. Acolhendo o acaso em seus planos e as incongruências da vida em seu cotidiano, aponta-nos que o lugar que nos é específico, se existe, é a escultura para abrigar a população de rua; a esquina onde a entidade da umbanda Maria Padilha, Rainha da Encruzilhada, encontra-se com Robert Smithson para uma Macumbanonsite. Vogler revela o que há de fecundo na aceitação do erro, no permeio da arte pelas diferentes construções culturais. Carla Linhares interroga as possibilidades de uma vida social e pública como ação comunicativa. Invade os códigos de informação urbana para interferir no circuito viciado das rotinas diárias. Suas placas são colocadas entre outros cartazes e sinalizações. Suas mensagens alteradas são lufadas de ar na asfixia de um mundo sobrecodificado, que regula os contatos pessoais no espaço urbano e os corpos em seus deslocamentos. Um mundo no qual a própria vida se torna texto, signo, código genético. A artista sabe que uma afasia nos assola: se vivemos mecanicamente as relações coletivas, reinventemos a flânerie, com suas sutis escrituras, com sua cartografia da errância. Ao relatar que recorrerá “a uma fuga ao sertão e à experiência de Guimarães Rosa para criar uma situação de desestabilização do senso de realidade”, e apresentar na galeria apenas um facão recolhido na viagem, Ducha questiona a esfera pública como o campo do discurso no qual o estatuto de um fato é determinado e legitimado, inclusive uma obra de arte. Assim como a narrativa de Grande Sertão: Veredas é tecida em torno desse vazio deixado pelo ouvinte de Riobaldo, presença invisível que o leitor deverá preencher, a obra (?) de Ducha é construída pelas vozes produzidas em torno de sua fuga e de sua reticente frase, como o discurso crítico e curatorial. Quem fala? Com que autoridade? Uma interrogação que parece já não ter resposta. 137 138 Graziela Kunsch, com uma câmara de vídeo, parte em direção à margem, coordenada geográfica e simbólica, acolhedora dos excluídos e malditos da sociedade. Graziela emigra para encontrar, nas Babilônias periféricas, aqueles acuados em guetos. E o gueto não é o território ou o lugar. É o fim do sonho de um espaço vital comum e de uma comunidade originária sem conflitos. Suas performances exigem uma reação do outro, um acolhimento ou uma rejeição: exibem o desespero da incomunicabilidade. Na madrugada de Belo Horizonte, a artista é Rita Durão, entre outras prostitutas-mulheres-nomes de ruas-esquinas-mercadoria com a avenida do Contorno. Na galeria, o espectador escolhe, para assistir em uma cabine individual, a uma das fitas de vídeo com nomes das mulheres-esquinas. Escolha Uma poderia se chamar “o julgamento de Páris”, pois retoma como tema a Beleza reificada da Vênus, da Virgem, da prostituta, e questiona o juízo do gosto em seu lastro histórico. Um juízo que, um dia, se vinculou ao prazer (nem tão) desinteressado. GRAFIAS DO LUGAR Graziela Kunsch Escolha Uma [Belo Horizonte], 2002 videoinstalação/ performance 200 x 200 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista Toda a arte é pública, se considerarmos que é apresentação a um outro do qual jamais prescinde. Hoje, é colocado o desafio de repensar as formas de seu endereçamento ao outro, com o qual estabelece laços ou afastamentos: experiência compartilhada e possível no mundo em que vivemos. Como disse Jean-Luc Nancy: “A arte é original e constitutivamente mostra, exposição, comunicação, envio, endereçamento, partilha (...). Não há nada menos solipsista do que a arte”.3 Marisa Flórido Cesar curadora adjunta Marília Panitz artistas Notas 1 DERRIDA, Jacques. Escrever é um modo de morar. Projeto, São Paulo, v. 118, n. 118, jan. /fev. 1989. 2 Leveza foi realizada por Felipe Barbosa e Rosana Ricalde para a exposição Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira, curadoria de Fernando Cocchiarale, inaugurada em fevereiro de 2002, simultaneamente a Sobre(A)ssaltos. A referência é pela correspondência com a obra Visibilidade. 3 NANCY, Jean-Luc. Jean-Luc Nancy / Chantal Pontbriand: uma conversa. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 8, p. 147-148, nov. 2001. Carla Linhares Fabiana Wielewicki Glaucis de Morais Marcelo Feijó Rodrigo Borges exposição Belo Horizonte MG Itaú Cultural Belo Horizonte 139 140 Como vai meu mundo? Ele está espalhado e ondulado na minha mesa, um grande círculo de terreno intratável. Zonas de puro espaço estendem-se, alcançam os mais longínquos pontos da minha imaginação. É um mundo feito com muito mais do que reinos e continentes. É um reino conhecido apenas por aqueles que têm olhos para ver o invisível... Meu mapa me absorve com o que não revela. Cada vez que olho para ele, sou cativado pelo que, até agora, não foi incluído dentro de suas margens. inscritas convidam os leitores – artistas e fruidores – a compor narrativas (im)possíveis. Assim, o objeto de arte, que transita entre imagem e escrita – tanto no que diz respeito às ações sobre o suporte quanto ao que denota uma estrutura sintática em algumas obras –, é construção que recobre o espaço vazio. É substituto do inexistente a ser reconhecido pelo olhar.4 Fra Mauro1 Encerrado num mosteiro, esse homem da Renascença produzia seu mapamúndi. Pela palavra e pelo desenho, compunha seu documento. No seu relato, porém, já se achava a chave do que só poderia ser articulado mais tarde: a inscrição dos lugares é a inscrição de uma falta... é dela que surgem as grafias do lugar. A descoberta do mundo se fez seguindo mapas criados pela imaginação dos cartógrafos, alimentada pela narrativa dos viajantes. A geografia, então, se instituiu como ciência que descreve a superfície da Terra (e o que se movimenta sobre ela), nascida de uma cartografia fantástica, onde as fronteiras entre fato e lenda não existiam. Segundo a genealogia do conceito de espaço no Ocidente, retraçada por Michel Foucault,2 na Idade Média ele existia por localização (idêntico a lugar). Galileu, ao demonstrar seu caráter infinito, dissolveu os lugares medievais: “extensão suplanta localização”. Hoje, a situação suplanta a extensão – “situação definida por relações de proximidade entre pontos ou elementos (...)”.3 O que implica circulação. Se perdemos a garantia da localização, o espaço contemporâneo é, por princípio, vazio de lugares concretos. É topológico. Como estrutura, recebe seus lugares circunstanciais por investimento, por nomeação. O mapa, que entrelaça o caráter efêmero dos deslocamentos e a estabilidade de um código que nos possibilita identificar lugares, permeia o imaginário contemporâneo. Embora o mundo não seja mais vasto como antes e possamos estar do outro lado do planeta em tempo real sem sairmos de casa, convém que levemos nossos registros ao fazermos nossas “viagens”. Talvez seja este o estatuto das grafias: o de marca que requisita um pertencimento. A arte contemporânea apropria-se desse método: incorpora as indicações dos itinerários de leitura ao seu corpo. Associadas à idéia de demarcação (de território), de lugar investido simbolicamente pelo artista, as marcas Carla Linhares Plexo Urbano, 2002 planta urbana, espelhos e luz artificial dimensões variáveis Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista Fabiana Wielewicki Monólogo, 2000 Glaucis de Morais Linhas de Pensamento, 2000 pregos s/madeira e texto impresso s/papel 30 x 193 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista Marcelo Feijó Paisagem Urbana São Paulo [detalhe], 2000/2001 Se a obra é marca em um espaço, ela estabelece o lugar físico para um lugar evocado. Grafias do Lugar, portanto, investiga a recorrência dessas inscrições substitutas, sob a perspectiva de cinco artistas que trabalham a idéia de não-pertencimento (cultural ou geográfico) a um lugar preexistente à demarcação. Estes são lugares construídos pelos que se sabem sem lugar garantido. São contingentes, construções em torno da ausência. As paisagens, aqui, resistem à paisagem. Em Plexo Urbano, de Carla Linhares, a luz revela o mapa da cidade. O reflexo obtido por sua incidência sobre espelhos ordenados lança uma cartografia imaterial sobre o chão e as paredes da galeria. Onde era esperada a imagem especular, o olhar encontra a trilha de luz que desenha ruas, quarteirões... Demarcação efêmera a ser guardada no fundo dos olhos. Em Monólogo, as janelas de Fabiana Wielewicki – sempre a mesma janela – reificam o lugar nomeado em diferentes lugares. Ao serem organizadas como frase composta da repetição de uma só palavra, atualizam (e cristalizam) a fugacidade do vislumbre, que terá de ser suposto (ou inventado) pelo observador. Pois elas subtraem a paisagem. Oferecem somente a moldura. Despertam nossa curiosidade e negam-se ao que nos convidam a fazer – ver além, ver através. Nos propõem um lugar-receptáculo. As Linhas de Pensamento, de Glaucis de Morais, vindas da estrutura de seu tear (seu fio de Penélope), configuram-se como uma sucessão de pregos em seqüência, lida como marcação do texto que a acompanha: palavras que ao serem escritas inscrevem um caminho. Resultantes do “desvio” de um outro projeto – o de tecer uma enorme rede (lugar de repouso) –, elas transformam o instrumento em parte da obra e a completam pela descrição do que poderia ter sido aquele outro: “...Primeiro prende bem, passa por aqui por cima, faz a volta (...) Começa outra vez. É preciso pegar o fio condutor...” Quase infinita descrição de itinerário... um lugar de passagem, um lugar de onde partir. A sentença de imagens de Marcelo Feijó, sua Paisagem Urbana, se constrói por fragmentos captados por sua câmara. Repartindo e reorganizando a paisagem das cidades que visita, ele compõe uma outra, mutável, porque feita por pequenos ladrilhos que aguardam diferentes combina- 141 142 RISÍVEIS HUMORES ções que ele determina ao fixá-los na parede. Organizadas à maneira do cartógrafo Malraux, em seu Museu Imaginário, elas conservam o nome das cidades originais. Mas se formam arbitrariamente. Como o museu, este é “um lugar mental, que nos habita”.5 Dos interiores de Rodrigo Borges, surge uma catalogação de objetos, uma reorganização do cotidiano que inventa uma nova arquitetura, sem funcionalidade. Desenhos que se fazem como colagem de fragmentos, eles se formam por acumulação. Desfeitos do espaço tridimensional que seus nomes requerem – são Banheiros, Cozinhas –, parecem notas à margem dos ambientes que citam. Não há registro dos equipamentos que se espera encontrar. Em seu lugar, alusões à passagem dos ocupantes eventuais, suas marcas. Rodrigo Borges Banheiro, 2001 Situadas umas em relação às outras, as obras traçam sua narrativa composta das narrativas de cada um... Uma nova geografia. Marília Panitz curadora adjunta Maria do Carmo de Siqueira Nino Notas 1 COWAN, James. O sonho do cartógrafo – meditações de Fra Mauro na corte de Veneza do século XVI. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 116-7. 2 FAUBION, J.D. (org.) Michel Foucault. Different spaces. In Aesthetics, method and epistemology – essential works of Foucault 1954-1984. v. 2. Londres: Penguin Books, 1998. p. 175-185. 3 Ibid., p. 176. 4 O que lembra a alegoria do vaso, que Lacan toma de Platão, para explicar o processo de sublimação pela arte: o objeto-receptáculo é encarado como significante da produção artística, “como organização em torno do vazio”. In: LACAN, Jacques. Seminário 7: a ética em psicanálise. São Paulo: Jorge Zahar, 1997. p. 163. 5 Como Jean-François Lyotard define o Museu Imaginário, de André Malraux. In LYOTARD, Jean-François. Assinado, Malraux. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 310. artistas Cinthia Marcelle Frederico Câmara Graziela Kunsch Janaina Barros Leya Mira Brander Marilá Dardot exposição Brasília DF Galeria Athos Bulcão 143 144 O humor é a arte das superfícies e das dobras, das singularidades nômades e do ponto aleatório sempre deslocado, a arte da gênese estática, o saber-fazer do acontecimento puro ou a “quarta pessoa do singular”. Transformado em co-autor voluntário ou não do processo criativo proposto, ao tentar se comunicar sem conhecimento prévio do interlocutor ou a que se destina a conversa, se insere uma possibilidade lúdica que flerta com o acaso, com a surpresa e o nonsense: encontros e desencontros que podem estimular situações fictícias, originais, inusitadas e cômicas. Gilles Deleuze O riso adquire aqui sua dimensão social mais plena e defendida por Bergson: fenômeno contagioso, comunicativo por excelência, que pressupõe a existência de grupos sociais e seus entrelaçamentos. Aquele que ri necessita da cumplicidade do outro para associar-se a ele no riso e juntos rirem de si mesmos. Sobre o humor, até que ponto podemos esperar que seus encantos permaneçam intatos, porquanto seus mecanismos e procedimentos sejam analisados? Ao rirmos, é a relação com o objeto de nosso riso que se acha determinada: aceitação ou recusa, há o pressuposto de que uma comunicação se estabeleça. A ótica social e subjetiva do riso e do humor, estando sempre presente, não elude a questão sobre o que dá o toque risível aos trabalhos, e nos conduz incansavelmente sobre a consistência dos efeitos de humor das propostas aqui evocadas. Graziela Kunsch, por meio do latido em Nightshot 3, se pergunta sobre a possibilidade de novos códigos universais de comunicação. A inclusão fortuita de pessoas, registrada durante seu percurso pelas ruas de São Paulo, aponta para uma tendência em favor da concepção de uma obra que seja coletiva, visceral, estruturada a partir do confronto direto com o cotidiano e em total disponibilidade para lidar com a improvisação da artista e com o risco da reação das pessoas diante da incongruidade e do burlesco da situação. Janaina Barros Conversa entre Galinhas, 2000/2002 Ao evocar simultaneamente o cotidiano banal e prosaico de pessoas comuns e aliá-lo a fatores que contradizem essa idéia, o idioma estrangeiro, ela se insere no princípio estético de composição do burlesco transformado em princípio lúdico e perceptivelmente barroco: inverter os signos do universo evocado – significante e significado –, tecer uma armadilha ao nosso pensamento lógico, inserir um efeito de estranhamento e desproporção, provocando a sensação do ridículo e do inesperado. Graziela Kunsch Nightshot 3, 2000 Há uma perda do caráter fetichista da obra como monumento, porém a apresentação dos vídeos em um espaço institucionalizado introduz uma separação que funciona como um aparato propício à nossa postura crítica. Isso impede que o público se identifique de maneira ilusionista, abrindo espaço para a inversão da perspectiva inicialmente dramática – busca desesperada de comunicação na solidão da metrópole –, em uma anestesia afetiva que funciona pela alternância e pelo contraste entre tensão e alívio, como um poderoso catalisador de efeito cômico. De maneira diferente, a obra Me Liga, concebida pela dupla Cinthia Marcelle e Marilá Dardot, se complementa e adquire totalmente o sentido por elas esperado quando um espectador, em dado momento, aceita interagir com o telefone público instalado no próprio espaço expositivo. O trabalho não se situa propriamente no espaço da galeria, mas utopicamente “entre” as polaridades daqueles que eventualmente instauram um diálogo. Leya Mira Brander Sem Título [série], 1999/2001 Cinthia Marcelle e Marilá Dardot Me Liga, 2000/2002 Quando a situação proposta por Janaina Barros na audioinstalação Conversa entre Galinhas se concretiza para o espectador, ele se vê diante de um tipo bastante freqüente de gag cômica, de irresistível efeito burlesco, presente nas comédias desde os primórdios das artes cênicas e do cinema. Comicidade, de certa forma, prenunciada pelo título – apesar da ambigüidade que ele sugere –, associada à simplicidade desafiadora do aparato e da idéia posta em prática, além da evocação da visualidade de uma cena que ocorre apenas em nossa imaginação, tudo contribui para manter seu poder de deflagrar o riso franco e de nos surpreender. As pequenas gravuras em metal agenciadas como histórias em quadrinhos de Leya Mira Brander se apresentam como um diário: escrito na primeira pessoa e em forma de diálogo direto com um hipotético leitor, evoca uma miríade de sentimentos como ternura, intimidade, receios, romance, humor, que são poetificados em um tipo de desenho e/ou escrita que remete à incerteza e ao inacabado do rabisco, como se não se destinassem a ser partilhados. O caráter lúdico da constante recombinação das matrizes formando novas seqüências de imagens contrasta com o seu conteúdo de cunho sentimental e folhetinesco, criando um sutil efeito de distanciamento; evoca sua faculdade de usar um juízo crítico em relação aos seus sentimentos, como um tipo de resistência à ilusão, além apontar para os procedimentos de representação inerentes à linguagem da gravura. Isso mostra como o narrador – a artista – se situa 145 146 MANIFESTO DAS INDIFERENÇAS em respeito a seus enunciados. Essa distância torna-se então uma atitude do ego em face do objeto estético, qualidade característica daquele que é capaz de rir de si mesmo. Da mesma forma, Frederico Câmara, em seu vídeo Fate, utiliza-se de um humor levemente irônico e ao mesmo tempo refinado, numa narrativa cujos mecanismos precisos desnudam suas apreensões em relação à sua própria condição de artista jovem, herdeiro de uma longa tradição e também imigrante. O personagem, assim como a situação e a intriga, é esboçado com muita clareza, poder de síntese e destreza quanto a suas ambições e receios, o que poderia fazer-nos evocar a comédia de caráter. Frederico Câmara Fate [Destino], Londres, 2001 mini-DV, cor, som, 5 min Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista O efeito de humor aqui presente está associado a essa capacidade de recuo e de análise demonstrada na estratégia de concepção da história e seu teor fictício. Estando ligada ao julgamento do observador, a percepção da dimensão cômica o coloca em posição de superioridade em relação ao que é percebido na verificação do mundo, disso tirando prazer intelectual e criativo. Assim entrevistos, o distanciamento e a conseqüente dissimulação assumem um caráter crítico, embora sejam noções aproximativas, subjetivas e portanto dificilmente mensuráveis: metáforas, enfim. A consciência de que podemos rir de tudo o que nos rodeia pode, em determinados momentos da vida, até nos surpreender. Mas o humor e o riso permanecem como poderosas possibilidades de confronto entre a civilização e o indivíduo. curador adjunto Cristóvão Coutinho Maria do Carmo de Siqueira Nino artistas Arthur Leandro Daniella Penna Gabriela Machado Gustavo Magalhães Paula Krause exposição Belo Horizonte MG Itaú Cultural Belo Horizonte 147 148 Tudo que circula carrega em si uma possibilidade de identificar verdadeiramente um autor com o seu ato. Os cinco artistas juntos são separáveis na apresentação de seus trabalhos, lidam com materiais diferentes um do outro e alcançam, em silêncio, o que há além do que estamos vendo; suas obras de construção aparentemente subjetiva são um ato de vontade em sua forma mais ousada. De conteúdos inversos, são obras de transfiguração da banalidade e de busca de formas perdidas, sem renegação ou resignação do sentido, para além da diferença. Com desenvoltura de pureza e imanência, que mantêm a qualidade da transcendência dos trabalhos. Jean Baudrillard, O Paroxista Indiferente Com a construção de um mundo paralelo e virtual em substituição à nossa realidade, não estamos mais no mundo. Estar no mundo se tornou uma eventualidade pouco provável. No início deste século XXI, estamos todos reunidos, mais do que nunca, em um só lugar, estamos um dentro do outro, e não conseguimos o respeito pela vida. Nela, as imagens de beleza e verdade são patrimônios de uma busca que ultrapassam e implodem o homem, as coisas e as diferenças. A cumplicidade na ausência do sujeito, sobre o domínio da representação e sua desaparição, faz do “objeto” um acontecimento único, o que torna esses artistas participantes de desdobramentos e de uma quebra de simetria visual. Combinando saturação estética e nostalgia do objeto perdido da pintura, são idéias de elementos simples e de abstração direta na linha da modernidade. Durante séculos, o sentimento do espírito foi o criador e a salvaguarda das atitudes imaginárias dos grandes artistas. Os conflitos individuais existenciais serviam de protagonistas e referenciais para o fazer das idéias. Hoje, porém, estamos em uma rede de informações e de reações compulsivas e despojadas de quaisquer valores elaborados e praticados em algum período do passado. Os artistas de agora são objetos do seu trabalho. E, como tal, o horizonte e a rede estão disponíveis como fonte de personalidade e suposta riqueza. Os acontecimentos e as atitudes – sejam elas artísticas, sejam de outro parâmetro – que servem de referencial para a construção de uma obra são, na realidade, apenas instrumentos de iniciação para uma possibilidade vindoura e pós-contemporânea (?). O intervalo presente recheado de releituras e camadas superpostas desse fazer mostra uma busca do desaparecer e de indiferenças do artista e do público. A curadoria dos trabalhos reunidos sob essa temática resulta “na dissolução dos signos e no jogo deliberado dos significantes”. O vazio das obras é resultado da própria necessidade extrema de cada artista em se ausentar e ao mesmo tempo multiplicar a expressão da produção atual. Tal é o desafio lançado pela imaginação livre, que, por sua vez, é a razão da “animação” em que consiste enfim o prazer do trabalho contemporâneo. Como todo ato criativo humano, o despejar de idéias visa à ordenação e comprovação de uma possibilidade de comunicação. As indiferenças e desconfianças existentes são uma contribuição em um tempo que chega à exaustão e proliferação do desejo do ter. Somos capazes da observação compreensiva, como também embalagens de conceitos vendidos em um mercado de produtos exageradamente recheados de supostos objetivos definidos. Paula Krause Sem Título, 1999/2002 Gabriela Machado Sala dos Fios [detalhe], 2001/2002 Daniella Penna Não Adianta Faltar ao Enterro [detalhe], 2000 Em seus trabalhos, as artistas Paula Krause e Gabriela Machado compartilham a semelhança da pintura, o diálogo existente e o que é interessante como imagem capaz de guardar seu segredo. O que vem de outro lugar procura um outro lugar, criando acesso a formas e resultados reinventados. Segundo o texto Derramamento de Formas, de André Severo, na obra Sem Título, de Paula Krause, escapam construções que se esforçam para alcançar uma estabilidade que não se firma. Seu trabalho difere pela necessidade de se apreender antes que tome a forma da determinação e do sentido na matéria existente e construída com peso e densidade de um ato pictórico, de desdobramentos no espaço e numa relação própria de invasão com o espectador. Na obra intitulada Sala dos Fios – trabalhos de formas constituídas em uma linha abstrata –, Gabriela Machado procura definição na relação pintura versus objeto versus instalação. Na elaboração da aparência, uma ilusão original da pintura, de ruptura, de um menor intervalo para sua existência. Como diz, seu trabalho é o registro do impulso corpóreo, de se envolver fisicamente em ato contínuo, em um desvio estético de autenticidade do autor com o seu ato, de cópias diferentes do mesmo fazer. Em sua liberação das formas surge a realização e o seu fim exposto. As fotografias de Daniella Penna sem peripécias, pelo seu recorte absoluto, sua imobilidade absoluta, e até por sua essência de silêncio, sem seres humanos, são, mesmo assim, carregadas de sentido, em intervalos de sedução com o mundo de cenas de realidades comuns a todos e cheio de ausência do eu. São imagens condensadas, verdadeiramente 149 150 PUPILAS DILATADAS fixas e sem diluição, comprometidas, com outra tradição, intemporal, de evidência e de reflexo do perecer humano, como permanência de uma raça excluída. A obra do artista Arthur Leandro é a não-existência de uma imagem real fotográfica, mas sua memória e sugestão, um meio de modificar a visão convencional que temos dela. Acontecimento negado, uma redução fenomenológica, através dela a pergunta passa a ser: será que nós pensamos o mundo ou é o mundo que nos pensa? No fato da possibilidade fotográfica, é o objeto que nos olha e determina a relação de existência de um mundo de escolhas e imagens negadas e se fixa no conceito da própria fotografia. O trabalho de instalação Portais, de Gustavo Magalhães, determina o simbolismo da passagem e o lugar da ausência e desaparição do sujeito – de surgir o objeto como evidência insolúvel, cheio de representações. Um lugar privilegiado para a desaparição. Assim como portal, um espelho, que faz refletir a imagem do vencedor. Entretanto, não se parece mais verdadeiramente com ele. Em sua banalização, uma imagem deformada, de uma falta de “iniciação” do sujeito em nossos dias, um acontecimento puro pela sua ausência. Em nosso momento, os artistas, em múltiplas ramificações, inclusive virtuais, talvez encontrem uma forma de se perder na imensidão das redes. No plano técnico, o verdadeiro autor é aquele que busca regra que provavelmente não é aquela que se pensa. Encontramo-nos diante de uma indeterminação definitiva. E é possível que os artistas contemporâneos, em sua maioria, não fiquem demasiadamente conscientes de seu lugar na história da arte e busquem o estado de “experiência” na relação homem e universo de possibilidades de despojamento ritualístico. Arthur Leandro Não-Negativo, 2002 Gustavo Magalhães Portal 2, 2000/2002 curador adjunto Paulo Schmidt artistas Cristóvão Coutinho Beatriz Pimenta Elisa Queiroz Enrico Rocha Martinho Patrício Rosana Ricalde exposição Recife PE Fundação Joaquim Nabuco 151 152 O último filme de um dos mais aclamados diretores do século passado, Stanley Kubrick, teve seu roteiro baseado na obra do austríaco Arthur Schnitzler, publicada em 1928 – Traumnovelle –, traduzida para o português com o título Pequeno Romance de Sonho. Schnitzler, que além de escritor e dramaturgo era médico, teria causado profundo espanto ao seu contemporâneo Freud, que após mais de 20 anos de relutância confessou ver no autor e em sua obra um duplo seu, tamanha a proximidade entre a ficção literária e a teoria psicanalítica que desenvolviam. Freud se estranha diante da familiaridade com que Schnitzler lida com o inconsciente, o desejo, o erotismo e a morte. O filme de Kubrick (De Olhos Bem Fechados – Eyes Wide Shut, no original) conserva em grande medida a atmosfera de sonho criada por Schnitzler na Viena do início do século XX. Mas, para além do caráter onírico, oscilando entre a imaginação e o inconsciente, Kubrick bolina no seio da sociedade cristã e capitalista do seu tempo, expondo as contradições de seus valores e de sua moral. Em um beco de estreitas saídas, sua história indica direções que jamais resultam em algo, esboçando continuamente o perfil da impotência humana ao manobrar entre os seus íntimos desejos e o establishment de uma sociedade hipócrita. Erotismo e amor não são necessariamente parceiros constantes e, em De Olhos Bem Fechados, Kubrick confirma esse fato. Anunciado pela imprensa (sic) como o novo último tango, o filme é um tratado sobre sexo onde não há sexo, apenas indícios, através dos movimentos dos personagens, ou pela exploração cenográfica. As obras que se encontram nesta mostra não apresentam, salvo exceções, nenhum traço de lascívia patente que as classifique como arte erótica, mas sim o fio que as enlaça. Se o lugar da ausência marca um vazio, é nesse pertencimento que a presença se faz. Não é a saudade a presença daquilo que não está? Os trabalhos destes cinco artistas ocupam antes lugares periféricos do amor e da sexualidade, como a angústia, a solidão, a ironia, a obsessão, que o centro do próprio amor ou do sexo. Espelham em conjunto o que Kubrick malfadou como sendo o amor-sexo nos tempos do HIV e da internet com o sexo virtual. Beatriz Pimenta Cabeça, Tronco e Membros [detalhe], 2000/2002 Enrico Rocha Insônia, 2001 Elisa Queiroz Namoradeira, 2000/2002 Com desconforto, vejo no filme de Kubrick uma obra-prima no que diz respeito à tradução que faz do amor e do sexo no mundo contemporâneo. Não gosto do que vejo, mas me rendo à lucidez com que as coisas ali se apresentam. Não posso dizer que a mostra Pupilas Dilatadas venha em decorrência do filme De Olhos Bem Fechados. Freud que aqui me socorra, ou mesmo Jung que me explique. Colocados assim, lado a lado, os títulos se sobrepõem e um se transforma em declinação do outro. Pouco importa. Esta exposição tem idéias que não me pertencem, nem mesmo ao Stanley. Elas fazem parte do nosso imaginário e, mais ainda, do nosso mundo real. Em ambos os casos – filme e exposição –, ficam claras as utopias do homem contemporâneo diante de valores frágeis e perspectivas obscuras para o futuro da sociedade. A instalação fotográfica de Beatriz Pimenta – Cabeça, Tronco e Membros – desvela a fragilidade de um corpo desconexo entre suas partes, numa ambiência em que as visões se multiplicam, tornando os corpos – da obra e do espectador – ainda mais dilacerados. As fotografias de Enrico Rocha, Insônia, apreendem aquilo que é quase inapreensível, em rastros e flashes de um olhar conturbado e disperso. Num movimento de translação fotográfica, usa da cor-luz registrando estroboscopicamente os alvos de seus disparos perdidos. Mais que os desenhos de luzes resultantes nas imagens, sobressaem na contracena a perturbação e a dislexia. Na sua sala Namoradeira, Elisa Queiroz apropria-se de elementos de uma movelaria ergonomicamente referenciada nos corpos da artista e de seu amante. O ambiente é repleto de códigos da libido, constituindo uma ode ao desejo e à volúpia; entretanto, neste carrossel, os lugares dos amantes estão rigidamente marcados e fisicamente separados. Os sujeitos enamorados sucumbem ao idílio dos momentos a dois para viver uma arrebatadora paixão pelo estado em que se encontram – o de amar o amor. Martinho Patrício Máscara 1, 2001 Com seus variados significados – compreendendo elemento manufaturado de tecido, intriga, cerzidura malfeita, namoro impudente –, a palavra fuxico nomeia o elemento-base para os trabalhos de Martinho Patrício. Nomeados como Máscaras pelo artista, esses mosaicos de cetim resultam em ícones de fetiche evocando irrefreável luxúria. É a máscara com a qual o sujeito oculta sua identidade e chancela sua fantasia. Rosana Ricalde "Feliz É o Sândalo que Perfuma o Machado que o Fere", 2001/2002 Em Verborun Torrens, Rosana Ricalde estabelece, mais que uma obra, um projeto cujo procedimento se desdobra em um trabalho contínuo, sob inúmeras configurações possíveis. Com caracteres irreversivelmente gravados, formando um caudal de ações na primeira pessoa do presente do indicativo, a artista se reconhece, se individualiza, se afirma e, em meio a tantas ações, se anula e se imobiliza. À primeira vista a obra se 153 154 apresenta infinita, uma vez que o encontro entre linguagem e leitor o é, mas a exploração desse manancial denuncia a obsessão da obra, que ordena alfabeticamente seus verbos. Como um autômato fica desprovido de vontade própria. O DESCONFORTO DA FORMA A leitura dos trabalhos nesta exposição não deve e nem pode ser tomada como conclusiva. Minha intenção é multiplicar os significados diante da complexidade dos significantes. A arte, como toda linguagem, depende de interpretações que a tornem sempre mais desejável. Seja entendida esta curadoria como a construção de um discurso que vem a partir da obra de arte e não antes dela. Paulo Schmidt curador adjunto Eduardo Frota artistas Felipe Barbosa João Loureiro Luiz Carlos Brugnera Raquel Garbelotti Rodrigo Godá exposição Campinas SP Itaú Cultural Campinas Espaço de Fotografia e Novas Mídias 155 156 O artista contemporâneo convive com uma produção de conceitos que, distendidos e rearticuláveis, se deslocam de um campo estrito ou seguramente estético da arte para outras várias categorias do conhecimento. É certo que, em um desses momentos de fluxo transitório, a obra perde a sua autonomia estética puramente formal e se contextualiza num mundo prenhe de contra-informações, operando outros sentidos expandidos dentro de uma dinâmica teia de significações. que está sob o feixe de luz. Mas no sexto verso abre espaços em branco entre as palavras dobrado, livros e chaveiro. Adiante, a cabeceira da cama abre-se numa grande fenda e suga do mundo um sujeito possível de reinvenção e seu itinerário, que se interrompe num outro espaço em branco, para esbarrar nas imagens, também já decodificadas, de um relógio (o demarcador do tempo ou da falta dele) e de um copo (que pode ser pensado aqui como a idéia de abandono, de alguém que esteve). Fora do feixe de luz há muito a ser pensado pela possibilidade de significações dos objetos reposicionados. Assim, pensar acerca da condição da forma, como critério e processo na arte contemporânea, parece ser um desafio que oscila entre dois pontos: o primeiro, seria lhe atribuir um lugar que não seja o de sua construção pura; o segundo seria lhe conceder uma outra condição que não seja a sua mera desconstrução. E a partir desse desafio, talvez possa interessar uma forma processual que, ao mesmo tempo, não abra mão da construção do objeto, e o recoloque com uma outra proposta de significação no mundo. É sobre essa reposição dos objetos que o poema se articula muito mais como passagem de percepções e informações diversificadas e menos como reduto de permanência formal, tão cara à tradição construtiva moderna. É nessa fragmentação de significados que o objeto se vê imerso num mundo de contradições e se potencializa a partir dos atritos que nele são evocados, e não em sua mera ordenação lógica. Sob esse aspecto, parece haver uma espécie de esvaziamento do sentido original da forma e uma possibilidade outra de apreendê-la como uma variante de descobertas, deixando ao artista a rígida tarefa de pesquisa para materializar um novo objeto, múltiplo de sentidos, que se projeta exaurido de suas funções formais preconcebidas, trazendo uma situação de desconforto aos estímulos antes facilmente decodificáveis. João Loureiro Sinuca, 2000 Com esse pensamento, em caráter ilustrativo e de comparação, podemos nos remeter a um poema de Francisco Alvim, intitulado Luz. Felipe Barbosa Terra Semeada, 2001/2002 cama de madeira e terra semeada 160 x 190 x 150 cm Coleção do artista Em cima da cômoda uma lata, dois jarros, alguns objetos entre eles três antigas estampas Na mesa duas toalhas dobradas uma verde, outra azul um lençol também dobrado livros chaveiro Sob o braço esquerdo um caderno de capa preta Em frente uma cama cuja cabeceira abriu-se numa grande fenda Na parede alguns quadros Foto: Divulgação/Arquivo do artista Luiz Carlos Brugnera Assoalho Empoeirado, 2001 O trabalho de João Loureiro, por exemplo, se desarticula como objeto funcional. É uma mesa de sinuca que tem a sua estrutura alterada: pernas que se desprendem da imagem primeira que se tem de mesa, e a disfunção do plano horizontal provocada pelas dobras do tecido, onde normalmente se movimentam as bolas, determinando uma impossibilidade à ação do jogo. A mesa está deslocada para uma nova apropriação simbólica. Este deslocamento – a alteração das estruturas primeiras do objeto – também acontece no trabalho de Felipe Barbosa, em que uma cama de casal, de madeira maciça, é posta num vazio espacial e de sentidos, porque desacompanhada de uma mobília que a identifique com a idéia de quarto (lugar íntimo de sono, amor ou silêncio, por exemplo), onde não cabe mais o corpo físico. A cama, coberta com capim, retira a presença do humano, impondo a perenidade da ausência. Em vez da ausência, mantendo uma tessitura com a passagem do tempo, o trabalho de Luiz Carlos Brugnera é um assoalho coberto com grafite e canela em pó. Aqui, há duas relações de sentidos: a do assoalho, de lugar de passagem a depositário de vestígios; e uma outra, a do pó de canela, que é uma sutileza, um gesto, uma bruma, para descontextualizar o assoalho. Um relógio, um copo Esse poema lista objetos da casa. Esta, por sua vez, já reposicionada, é tomada não mais como lugar de estar, mas como lugar de passagem. O inventário construído por Alvim é aparentemente objetivo, só existe o Raquel Garbelotti Sistema Reverso, 2001/2002 Por sua vez, o trabalho de Raquel Garbelotti são desenhos projetivos de objetos funcionais, como janelas, portas e assoalhos, diagramados em placas de madeira industrial. Uma espécie de baralhamento dos códigos de medidas, de lugar e de posição, resultando como peças soltas de um 157 158 O DISCURSO DO CHOQUE grande quebra-cabeças induzindo o espectador a assumir a operação de re-codificar os objetos no espaço. Por fim, os desenhos de Rodrigo Godá, em grafite e acrílico sobre tela, são verdadeiras inserções do lúdico, mas sem o caráter construtivo simplificado que o mundo infantil pede, assumindo, num grau de projeção criativa, verdadeiras máquinas imaginárias, sem nenhum compromisso formal de que esses desenhos – projetos inventados – sejam, de fato, construídos. Podem nos remeter, por exemplo, aos inventos pensados por Jules Verne ou, às avessas, aos desenhos renascentistas de Leonardo da Vinci. Os desenhos de Godá são o que podemos chamar de verdadeiras autonomias. Rodrigo Godá Sem Título [série], 1999/2000 Pensar o objeto em uma condição processual é dar a ele a possibilidade da autonomia, como sugere o poema de William Carlos Williams: O Carrinho de Mão Vermelho tanta coisa depende de um carrinho de mão vermelho esmaltado de água da chuva ao lado das galinhas brancas (tradução de José Paulo Paes) Eduardo Frota curadora adjunta Juliana Monachesi artistas Ana Laet André Santangelo Bruno de Carvalho Caetano Dias Odires Mlászho exposição Curitiba PR Museu de Arte da Universidade Federal do Paraná 159 160 “Feridas não vão cicatrizar”, sentencia Thom Yorke em Ok Computer, terceiro de cinco discos do Radiohead, cujas músicas perturbadas de letras sombrias arranham o real.1 A banda é um dos muitos porta-vozes de um discurso difuso na produção artística contemporânea, que está ligado à melancolia, à perversão, ao estranho, e pode ser reconhecido nos filmes de David Lynch e Michael Haneke ou nos livros de Paul Auster e Ian McEwan. Também nas artes visuais, certa produção está voltada para a evocação do real, entendido como traumático. Todas essas vozes entoam o discurso do choque. mortuárias de sinistra beleza. Nessa série, os rostos das mulheres ressurgem envelhecidos, submersos, sufocados e cegos. A beleza em estado terminal é destituída de olhar, ou tem seus olhos voltados para o interior. Segundo Freud, no texto Das Unheimliche,2 em que analisa o fenômeno do familiar reprimido que retorna, o medo de ferir ou perder os olhos é um dos mais recorrentes em crianças, conservado por muitos adultos, e funciona como um substituto do temor de ser castrado. O autocegamento do criminoso mítico Édipo, escreve Freud, era uma atenuação do castigo da castração. As figuras cegas de Mlászho fazem o terror do real brilhar. O termo “ferida” está na raiz etimológica da palavra “trauma”, que designa todo acontecimento na vida de um sujeito que, por uma incapacidade de assimilar e elaborar, não pode se inscrever no psiquismo. O real, definido por Lacan na década de 1960 em termos de trauma, se refere a essa sobra, àquilo que foge ao domínio das palavras e de qualquer outra forma de simbolização. O real não pode ser representado, ele pode apenas ser repetido, como nas obras de Andy Warhol, cujas repetições de marilyns e cadeiras elétricas, mais do que reproduzir efeitos traumáticos, os produzem. Trata-se da adoção preventiva da compulsão à repetição, ou seja, a utilização daquilo que choca como uma defesa contra esse choque, na análise de Hal Foster sobre o decano da arte pop. Caetano Dias, Ana Laet e Odires Mlászho trabalham sempre com séries em que procedimentos mecânicos se repetem gerando imagens pouco diferentes entre si. Nas obras de André Santangelo e Bruno de Carvalho, a repetição reside no eterno looping de seus vídeos. Ao eleger como assunto de suas obras elementos da ordem do perverso, do sinistro, do grotesco e até do abjeto, esses artistas não visam a uma catarse, de fato eles se inserem em um quadro de colapso da arte como sublimação. André Santangelo Sobre os Olhos e as Gotas, 2000/2002 instalação - aquários, peixes, cristal, sal grosso, TV e vídeo dimensões variáveis Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista Caetano Dias Todos os Santos de Todos os Dias, 2001 fotografia digital 125 x 201 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista Bruno de Carvalho Vis-ita, 2001/2002 videoinstalação dimensões variáveis Coleção do artista Caetano Dias é um perversor de imagens. Ele as contrabandeia de outra mídia, subverte sua função e corrompe sua forma com o borramento de contornos e contextos anteriormente nítidos. Dias é um desvirtuador da internet, transformando fantasias impalpáveis da rede em concretas plotagens ao alcance das mãos. Dias é um depravador de símbolos, fazendo de imagens pornográficas seus santinhos eletrônicos. Suas obras transtornam o olhar porque tentam flagrar a abjeção no ato, como faz o Piss Christ, de Andres Serrano. Claro que não conseguem, porque o real é impossível de representar. Na Antecâmara da Máscara, de Odires Mlászho, imagens de uma revista feminina da década de 1970 são transmutadas em máscaras Foto: Divulgação/Paula Canella Odires Mlászho Antecâmara da Máscara VIII, 2001 Ana Laet Você É o que Você Come, 2001/2002 O trabalho de André Santangelo presentifica o unheimlich freudiano, porque seus singelos peixinhos coloridos em aquários são o objeto da infância alienado do passado. Aqui, esses peixes têm sua morte cronometrada a conta-gotas. Mas a morte nunca se realiza, porque quando os aquários estão quase vazios, eles são abastecidos com água novamente. Em paralelo, imagens urbanas repetitivas e familiares promovem um segundo alheamento. O real é descortinado pelo elemento estranho. No caso dos trabalhos de Ana Laet e Bruno de Carvalho, a evocação do real transfere-se do choque à violação porque colocam em cena o corpo e seus limites. “A estranha ambição deste tipo de abordagem é gozar do trauma do sujeito, com o aparente cálculo de que se o objeto perdido não pode ser reclamado, ao menos a ferida que ele deixou para trás pode ser esquadrinhada”, escreve Foster a respeito da estratégia da abjeção. O termo refere-se aos limites do corpo, à distinção espacial entre dentro e fora e à passagem temporal do corpo materno à lei paternal, na definição de Júlia Kristeva. O abjeto é algo cuja proximidade excessiva provoca pânico. Na videoinstalação Vis-ita, de Bruno de Carvalho, o espectador é convidado a engatinhar por um túnel de tecido preto até desembocar na tela que mostra uma endoscopia. À estranha proximidade de entranhas humanas, dada principalmente pela vivência física do trabalho, soma-se a captação do rosto do visitante e a sobreposição dessa imagem à do vídeo. Uma proximidade excessiva que pode produzir pânico. Você É o que Você Come, de Ana Laet, põe em display invólucros de carne humana para consumo de massa. As imagens de fragmentos de corpo são impressas em couro rústico em formato de capas de tinturaria, dispostas em cabides. O canibalismo sugerido é a atualização de um real grotesco. Segundo Foster, muitos artistas são impulsionados por uma ambição de que suas obras provoquem efeito e, ao mesmo tempo, 161 162 sejam drenadas de efeito. “Essa oscilação sugere a dinâmica de choque psíquico desviado por um escudo protetor que Freud desenvolveu em sua discussão da pulsão de morte.” A instalação de Laet se equilibra nessa frágil dinâmica entre vitalidade e niilismo. ABERTURA E ECOS Juliana Monachesi curador adjunto Cleomar Rocha artistas Arthur Leandro Caetano Dias Enrico Rocha Luciano Mariussi Marta Penner Notas 1 O termo “real” utilizado neste texto fundamenta-se na teorização do crítico de arte Hal Foster em seu livro The Return of the Real. Cambridge: The MIT Press, 1996. 2 A versão utilizada neste texto de 1919 é da tradução do inglês The Uncanny na Edição Standard Brasileira, volume 17. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969. exposição Campinas SP Itaú Cultural Campinas Espaço de Fotografia e Novas Mídias 163 164 A mostra apresenta trabalhos de cinco artistas que discutem seus universos poéticos na dimensão da obra isolada, mas que em conjunto possibilitam observar a abertura da obra no nível estrutural – para contemplação, exploração e interação – e no plano semântico, mais caro ao produto artístico. Luciano Mariussi Unfriendly, 2000 software Execução: Sérgio Luiz dos Santos Coleção do artista Nesse sentido, a exposição apresenta dois trabalhos para serem vistos, um para ser explorado e dois para serem interagidos. Contudo, todos eles ecoam ao tangenciarem o sensível, provocando mesmo as tipologias de abertura estrutural da obra, reivindicando, no plano semântico, a abertura das significações. Ali, sim, as obras se abrem para o diálogo com o apreciador, construindo-se na execução delas mesmas, vivas no embate que faz, de determinados produtos, arte. Desse modo, as imagens desfocadas do baiano Caetano Dias se abrem para significações diversas a partir da desconstrução da imagem fotográfica, no desfocamento da figura central, em uma espécie de névoa que transforma a nitidez pressentida pela observação na magia da diversidade semântica, propondo um jogo de significados entre o que se vê e o que não se mostra. Os títulos deslocam de vez o trabalho, dando um tom crítico e de denúncia, desvelando o ser cultural, social, e despertando pensamentos nem sempre reservados às construções oníricas. O cearense Enrico Rocha trilha caminhos similares, apresentando, em sua série de fotografias Insônia, não mais o desfocamento, mas o deslocamento da imagem, fazendo a nitidez se perder, movimento ampliado com o título que sugere bem mais do que diz. Na noite perdida, em que o sono não se faz presente, um outro sono se constrói, alimentado de desejos, medos e sensações. Seus monitores deslocados são janelas que deslocam o observador, fazendo-o trilhar sua própria condição de insone. São mais que isso: tornam-se espelhos, multiplicando os sentidos trazidos pelo apreciador, construindo com este sua própria significação. O amapaense Arthur Leandro nos apresenta a instalação videográfica Aquém do Eu – Além do Outro, que já pelo título invoca a subjetividade. Suas imagens, vistas pelo espelho d´água, teimam em não se mostrar, duelando com a observação e a percepção. Nesse diálogo, as significações afloram e se multiplicam, ora encontradas aquém do próprio eu construído pelo outro, ora escondidas além do outro, construído pelo meu eu. E é na fuga da imagem que a abertura significativa explora a instalação, convocando não apenas o olhar do observador, mas também seu corpo, convidado para a exploração espacial do trabalho. Foto: Juninho Motta/Itaú Cultural Marta Penner Lugares Prediletos/Paisagem do Não-Evento, 2000/2001 Caetano Dias Sobre a Virgem, 2001 fotografia digital [díptico] 125 x 210 cm Coleção do artista Partindo para a arte computacional, interativa, o paranaense Luciano Mariussi mostra Unfriendly, um aplicativo de computador interativo que nada permite, provocando o usuário; e é esta provocação que dá significado ao processo de interação homem/máquina. Suas interfaces, sem problemas informacionais ou de usabilidade, trazem como ponto crucial sua utilidade, que faz pensar. O trabalho sensibiliza e questiona a própria interatividade maquínica, multiplicando a significação não pelo seu caráter interativo balizado pela hipertextualidade, mas pelo sensível, intangível, artístico. A brasiliense Marta Penner trabalha seu Paisagem do Não-Evento de forma instigante ao reverter a dinâmica temporal da rede de computadores, baseada no tempo real, para o tempo psicológico, apresentando detalhes de paisagens de Brasília, relacionando-as ao olhar atento, contemplativo. Aí inverte-se também a condição interação/contemplação, base para algumas tipologias de abertura da obra de arte. Mais uma vez, aqui não se tem como primordial a abertura pela interação computacional do website, mas pelo princípio artístico do olhar da artista, que explora tempos e espaços que extrapolam a objetividade de uma significação dada, fazendo-a ocorrer, de fato, no embate entre obra e apreciador, na dinâmica da fruição artística. Foto: Divulgação/Arquivo do artista No conjunto de obras, as aberturas semânticas, que solicitam do apreciador uma complementação de sentido, tornam-se as vozes que ecoam e permanecem, independentemente da abertura estrutural, técnica. Enrico Rocha Insônia, 2001 Todos os trabalhos apresentados, eletrônicos e computacionais, tangenciam ou centralizam a questão da arte e tecnologia; sugerem, no conjunto, uma leitura do desenvolvimento cronológico das técnicas de produção de imagem que inscrevem o desenvolvimento tecnológico da arte. Contudo, faz-se mister descartar tal possibilidade, e mesmo questioná-la, uma vez que a reunião das obras no eixo da expressão contemporânea elege o veio das significações – criadas na subjetividade do confronto obra/apreciador – pela recepção da obra. A abertura aqui é tida a partir do fenômeno perceptivo da obra. E é essa abertura que possibilita o seu ecoar nas muitas mentes que a encontram, e que com ela dialogam. Cleomar Rocha Arthur Leandro Aquém do Eu - Além do Outro, 2000/2002 videoinstalação 220 x 300 x 300 cm Coleção do artista Foto: Divulgação/Arquivo do artista 165 166 ESTRANHAMENTO Cobras cegas são notívagas. O orangotango é profundamente solitário. Macacos também preferem o isolamento. Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos. Andorinhas copulam no vôo. O mundo não é o que pensamos. Carlos Drummond de Andrade, História Natural Com base na proposta dos curadores, adjuntos e coordenadores, do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003, procurei pensar e reunir obras de arte visando propiciar ao espectador uma aproximação e compreensão específicas da arte na contemporaneidade. Esta exposição, tendo por ponto de partida a idéia de estranhamento, apresenta-se como um espaço para a discussão e reflexão artísticas, lugar da tensão do inusitado e da permanente ressignificação das coisas. Faz também uma aposta no papel da arte como entendimento de nossa época. curador adjunto Paulo Reis artistas Adriana Boff Fabiana Wielewicki Gabriele Gomes Letícia Cardoso Marcelo Cidade exposições Campinas SP Itaú Cultural Campinas Espaço de Fotografia e Novas Mídias Curitiba PR Museu de Arte Contemporânea do Paraná Podemos afirmar que um dos propósitos, ou constituintes, da linguagem artística é a possibilidade de fazer estranhar a nós mesmos e ao meio em que vivemos – micro e macrossociedades. Estranhar, numa acepção ampla, é experimentar o novo, o não-conhecido, e é também não reconhecer o que nos é familiar (O Estranho, Sigmund Freud), experimentando outros sentimentos quando se desconstrói nossa lógica cotidiana. É construir outras relações espaço-temporais e ter consciência da limitação de nossos parâmetros de entendimento e de nossa razão historicamente construída. Mudar a perspectiva de nosso olhar, experimentar outros pontos de vista na apreensão do mundo e, assim, compreender a densidade dos tecidos do real. E é poder olhar a nós mesmos com novos e distanciados olhos e, ao entender que o eu é um outro (Rimbaud), observar-nos criticamente em nossa fragmentada condição contemporânea. Uma idéia de estranhamento pode ser buscada no movimento artístico do surrealismo. Em suas inquirições e vivências de uma outra lógica, apontava-se para uma idéia do estranho. Sonhos, delírios, alucinações, vertigens e associações desvelavam, para seus artistas, uma realidade escondida, subterrânea mesmo, por dentro daquela outra em que se vivia. O surrealismo arquiteta estranhamentos pela troca de lugares – algo como um guarda-chuva e uma máquina de costura numa mesa de dissecação (Lautréamont) –, frottages, método paranóico-crítico, colagens, cadavre exquis, entre muitos outros. O crítico e poeta mexicano Octavio Paz, no livro O Arco e a Lira, afirma que o surrealismo é um movimento pioneiro ao se debruçar sobre o problema da inspiração. O fazer artístico 167 168 seria trazido para a região do inteligível, sensivelmente alargado, e não mais para o domínio do gênio. fronteiras entre natureza e sujeito; em Letícia Cardoso, realiza-se uma cartografia do corpo e seus movimentos, reverberações e humores; e, em Marcelo Cidade, o corpo é posicionado como medida instável da paisagem em meio ao imenso ruído da cidade. Ao se trazer, porém, a referência dos conceitos surrealistas, não se quer, como em sua prática, descobrir o outro, a outra realidade, o outro mundo, a outra racionalidade, mas a complexidade da trama de nossa realidade – não o “outro”, mas o “mesmo”. Marcelo Cidade Eu-Horizonte 6, 2000 fotografia 40 x 60 cm Coleção do artista Foto: Antonio Saggese/Itaú Cultural O artista Marcel Duchamp será também uma referência teórica e artística, por suas operações de deslocamento provocadas por seus readymades. O conceito de estranhamento está ligado a uma idéia de troca de posições num campo semântico, pois aquilo que troca de lugar ganha outro significado e perde seu sentido original. Um urinol (a obra Fonte, de Marcel Duchamp), deslocado de seu lugar de sentido e uso, ao entrar para um certame de arte, local do sistema e da validação artísticos, é por ele contaminado e “se transforma” em objeto de arte. O fazer artístico é substituído pelo pensar, e a arte torna-se uma operação de linguagem. Essa discussão, amplificada, será uma das grandes contribuições da arte conceitual. De um lado, pensa-se a atuação artística como atividade de produção de conhecimento e, de outro, deposita-se na múltipla equação do estranhamento um dos princípios de pensamento sobre o fazer artístico. A reunião dos artistas selecionados – Adriana Boff, Fabiana Wielewicki, Gabriele Gomes, Letícia Cardoso e Marcelo Cidade – faz convergir, entre questões muito próprias a cada corpo de obra, alguns pontos de leitura que evocam o debate trazido por esta exposição. As coordenadas com as quais percebemos a realidade e agenciamos seus sentidos serão manipuladas distintamente pelos artistas. A idéia do tempo estará ligada à brevidade do instantâneo (Marcelo Cidade e Gabriele Gomes), à duração estendida (Adriana Boff), à simultaneidade (Fabiana Wielewicki) e ao momento presente (Letícia Cardoso). O espaço engendrado estará circunscrito ao urbano (Marcelo Cidade e Fabiana Wielewicki), à interioridade do corpo (Letícia Cardoso), a uma natureza recriada (Gabriele Gomes) e ao território do privado (Adriana Boff). Longe de esgotarem as discussões dos artistas, distintas percepções serão assim propostas. No trabalho de Adriana Boff, um duplo do mundo aparece habitado fantasmaticamente por objetos que registram seus próprios olhares; em Fabiana Wielewicki, o absurdo rompe, por meio da justaposição de temporalidades diversas, a organização dos lugares; em Gabriele Gomes, a marca de sua passagem se dá no apagamento das Ambos os olhares, do surrealismo e de Duchamp, são dois dos fundamentos da exposição Estranhamento, que, se a princípio, apresenta o fazer artístico como uma inquietação e pesquisa de novos olhares, também afirma e reflete a relação, sempre renovada, entre arte e vida. Paulo Reis Adriana Boff Imagem Aurora [série Obscuras Refrigeradas], 2000/2001 Fabiana Wielewicki Sem Título [série Paralaxe], 2000 fotomontagem 91 x 206 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Arquivo da artista Gabriele Gomes Travesseiro no Mar, 2001 Letícia Cardoso Ouça-Te, 2000 espelho e estetoscópio 50 x 300 cm Coleção da artista Foto: Divulgação/Fabiana Wielewicki 169 170 BIBLIOGRAFIA 10 Curators: a conversation on the internet. In: CREAM. London: Phaidon Press, 1998. CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Edusp, 1998. _______. In: Fresh Cream. London: Phaidon Press, 2000. ADCOCK, Craig. Marcel Duchamp: notes from the large glass: na-dimensional analysis. Michigan: UMI Research Press, 1983. ADRIANI, Gotz et al. Joseph Beuys: life and works. New York: Barrons, 1979. ANTARCTICA artes com a Folha. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. ARTE e artistas plásticos no Brasil – 2000. São Paulo: Meta, 2000. ARTEPENSAMENTO. 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Huyssen, Memórias do modernismo, 1996. 173 174 ÍNDICE ONOMÁSTICO AFONSO, Albano (Albano Fernandes Afonso) 18, 56 ALBUES JÚNIOR, José Damasceno (ver DAMASCENO, José) ALBUQUERQUE, Janaina Barros de (ver BARROS, Janaina) ALMEIDA, Carla Piedade Linhares de (ver LINHARES, Carla) ALMEIDA, Glaucis de Morais (ver MORAIS, Glaucis de) ALVES, Genesco (Genesco Alves de Sousa) 30, 63, 112, 122, 125 ALVIM, Francisco (Francisco Soares Alvim Neto) 156 AMARAL, Tarsila do 15 ANDRADE, Carlos Drummond de 167 ANJOS, Moacir dos (Moacir Tavares Rodrigues dos Anjos Júnior) 7, 28, 100, 101, 107, 115, 121 AUAD, Tonico Lemos (Antonio Carlos Lemos Auad) 30, 98, 112, 122, 125 AUARIA, Waldo Alejandro Bravo (ver BRAVO, Waldo) AUGÉ, Marc 131 AUSTER, Paul 160 BARBOSA, Felipe (Felipe do Nascimento Barbosa) 30, 58, 94, 112, 122, 124, 133, 136, 155, 157 BARRETO, Jorge Menna (Jorge Mascarenhas Menna Barreto) 30, 73, 114, 127, 130, 133, 136 BARROS, Janaina (Janaina Barros de Albuquerque) 30, 67, 112, 122, 126, 143, 145 BATISTA, Cristóvão Coutinho (ver COUTINHO, Cristóvão) BAUDELAIRE, Charles (Charles Pierre Baudelaire) 134 BAUDRILLARD, Jean 148 BENJAMIN, Walter 111, 113, 131, 134 BERGSON, Henri 145 BERNARDES, Pedro Moraleida (ver MORALEIDA, Pedro) BINI, Fernando 22 BOFF, Adriana 30, 31, 110, 115, 119, 166, 168 BORGES, Rodrigo (Rodrigo Borges Coelho) 30, 91, 110, 139, 142 BORGES, Rodrigo Alves (ver GODÁ, Rodrigo) BORTOLOZZO, Thiago (Thiago Bortolozzo da Silva) 30, 97, 112, 122, 126 BRANDÃO, Eduardo 18, 33, 50 BRANDER, Leya Mira 30, 77, 110, 143, 145 BRAVO, Waldo (Waldo Alejandro Bravo Auaria) 56 BRUGNERA, Luiz Carlos 30, 80, 110, 155, 157 BRUSCKY, Paulo (Paulo Roberto Barbosa Bruscky) 43 CALDAS, Waltercio (Waltercio Caldas Júnior) 69 CÂMARA, Frederico (Frederico Ozanam Agostino Câmara) 30, 59, 114, 127, 129, 143, 146 CAMPELLO, Clarissa (Clarissa Campello Ramos) 30, 46, 110, 115, 118 CAMPOS, Rafael (Rafael Campos Rocha) 99 CARDOSO, Letícia (Letícia de Brito Cardoso) 30, 76, 112, 122, 126, 166, 168, 169 CARMONA, Regina 56 CARNEIRO, Marilá Dardot Magalhães (ver DARDOT, Marilá) CARVALHO, Bruno de (Bruno Pacheco de Carvalho) 30, 38, 110, 115, 120, 159, 160, 161 CASTANHO, Eduardo (Eduardo Amaral Castanho) 50 CASTELLS, Manuel 128 CASTRO, Júlio 15 CATUNDA, Leda (Leda Catunda Serra) 18 CELANT, Germano 125 CESAR, Marisa Flórido 7, 14, 100, 103, 107, 133, 138 CHAIMOVICH, Felipe 60, 71 CIDADE, Marcelo (Marcelo Cidade Teixeira Nunes) 30, 81, 110, 115, 118, 133, 136, 166, 168, 169 CINTO, Sandra (Sandra Regina Cinto) 18, 56 COCCHIARALE, Fernando (Fernando França Cocchiarale) 7, 15, 38, 100, 101, 106, 114 COELHO, Domitília (Maria Domitília Costa Coelho da Silva) 30, 50, 110, 115, 119 COELHO, Rodrigo Borges (ver BORGES, Rodrigo) CORALLI, Suzi (Suzi Coralli Moreira) 38 CORRÊA, Paula Krause (ver KRAUSE, Paula) COSTA, Enrico Rocha Barbosa (ver ROCHA, Enrico) COUTINHO, Cristóvão (Cristóvão Coutinho Batista) 7, 16, 100, 102, 107, 147, 150 CRAGG, Tony 71 CUNHA, Marta Penner da (ver PENNER, Marta) DA VINCI, Leonardo 92, 158 DAMASCENO, José (José Damasceno Albues Júnior) 20 DARDOT, Marilá (Marilá Dardot Magalhães Carneiro) 30, 44, 114, 127, 130, 143, 144 DELEUZE, Gilles 144 DERRIDA, Jacques 134 DESCARTES, Renée 109, 135 DIAS, Caetano (Alberto Caetano Dias Rodrigues) 30, 39, 110, 115, 120, 159, 160, 163, 164 DOMÍCIO, Járed (Járed José Barbosa Domício) 30, 68, 112, 122, 126 DRENSKA, Krassimira 83 DUARTE, Jeims (Jeims Duarte dos Santos) 30, 70, 114, 127, 129 DUCASSE, Isidore-Lucien (ver LAUTRÉAMONT, Conde de) DUCHA 30, 51, 112, 122, 125, 133, 137 DUCHAMP, Marcel 111, 128, 168, 169 DWEK, Zizette Lagnado (ver LAGNADO, Lisette) EISENSTEIN, Sergei 110 ELIAS, Antônio (Antônio Carlos Elias) 35 ESPÍNDOLA, Humberto (Humberto Augusto Miranda Espíndola) 24 FAJARDO, Carlos (Carlos Alberto Fajardo) 18 FARIA, Fabio (Fabio Thadeu de Faria) 30, 57, 110, 115, 119 FARIAS, Agnaldo (Agnaldo Aricê Caldas Farias) 22, 60 FEIJÓ, Marcelo (Marcelo Feijó Rocha Lima) 30, 82, 110, 115, 120, 139, 141 FELICIANO, Silvia (Silvia Maria Feliciano da Silva) 30, 95, 112, 122, 126 FICHER, Gabriela 30, 60, 110, 115, 119 FONSECA, Jorge (Jorge Luiz Fonseca) 30, 72, 114, 127, 132 175 176 FOSTER, Hal 160, 161 FOUCAULT, Michel 117, 140 FREIRE, Cristina (Maria Cristina Machado Freire) 7, 20, 100, 101, 107, 127, 132 FREUD, Sigmund 117, 152, 161, 162, 167 FROTA, Eduardo (Eduardo Elísio Frota) 7, 21, 22, 100, 102, 107, 155, 158 GALILEI, Galileu (ver GALILEU) GALILEU (Galileu Galilei) 140 GARBELOTTI, Raquel (Raquel de Oliveira Pedro Garbelotti) 30, 90, 110, 155, 157 GEIGER, Anna Bella 38, 101 GODÁ, Rodrigo (Rodrigo Alves Borges) 30, 92, 110, 155, 158 GOMES, Rosângela Rennó (ver RENNÓ, Rosângela) GOMES, Gabriele 30, 62, 110, 115, 120, 166, 168 GONPER, Fabiano (Fabiano Gonçalves Pereira) 30, 55, 110, 115, 118 GRIFFITH, David Wark 110 HAACKE, Hans 125 HANEKE, Michael 160 JUDD, Donald 128 JUNG, Carl (Carl Gustav Jung) 152 KOSUTH, Joseph 130 KRAUSE, Paula (Paula Krause Corrêa) 30, 89, 112, 122, 125, 147, 149 KRISTEVA, Júlia 161 KUBRICK, Stanley 152, 153 KUNSCH, Graziela (Graziela Krohling Kunsch) 30, 65, 112, 122, 125, 133, 138, 143, 144 LACAN, Jacques 160 LAET, Ana (Ana Maria Andrade de Laet) 30, 34, 110, 115, 118, 159, 160, 161, 162 LAGNADO, Lisette (Zizette Lagnado Dwek) 102 LAUTRÉAMONT, Conde de (Isidore-Lucien Ducasse) 167 LEAL, Paulo Roberto 15 LEANDRO, Arthur (Arthur Leandro de Moraes Maroja) 30, 36, 110, 147, 150, 163, 164 LEÃO, Cláudia (Ana Cláudia do Amaral Leão) 30, 47, 110, 115, 117 LEITE, Martinho Patrício (ver PATRÍCIO, Martinho) LEVITAN, Lucas (Lucas Serrano Levitan) 30, 78, 112, 122, 124 LIMA, Marcelo Feijó Rocha (ver FEIJÓ, Marcelo) LINHARES, Carla (Carla Piedade Linhares de Almeida) 30, 41, 114, 133, 137, 139, 141 LOUREIRO, João (João Eduardo Loureiro) 30, 71, 110, 155, 157 LUKIANSKA, Dorota 75, 121 LYNCH, David 160 MACHADO, Caio (Caio Cesar Machado) 30, 40, 112, 122, 124, 125 MACHADO, Gabriela (Maria Gabriela de Mello Machado da Silva) 30, 61, 110, 147, 149 MAGALHÃES, Gustavo (Gustavo de Oliveira Magalhães) 30, 66, 110, 115, 119, 147, 150 MALHADO, Maxim (Maxim Pereira Malhado) 30, 87, 112, 122, 126 MALRAUX, André 142 MALTA, Wagner (Wagner Malta Tavares) 99 MARCELLE, Cinthia (Cinthia Marcelle de Miranda Santos) 30, 44, 114, 127, 130, 143, 144 MARIUSSI, Luciano (Luciano Augusto Mariussi) 30, 79, 114, 127, 129, 163, 165 MAROJA, Arthur Leandro de Moraes (ver LEANDRO, Arthur) MARQUES, Fabiano (Fabiano Neves Marques Pereira) 30, 56, 112, 122, 125 MARX, Karl 117 MAURO, Fra 140 McEWAN, Ian 160 MEIRELES, Cildo (Cildo Campos Meirelles) 113 MÉLO, Carlos (José Carlos de Mélo) 30, 43, 114, 127, 130 MERLEAU-PONTY, Maurice 130 MICOSKI, José Odires (ver MLÁSZHO, Odires) MLÁSZHO, Odires (José Odires Micoski) 30, 88, 110, 159, 160, 161 MONACHESI, Juliana (Juliana Monachesi Ribeiro) 7, 16, 18, 100, 102, 107, 159, 162 MONTEIRO, Paulo (Paulo Bacellar Monteiro) 18 MORAES, Alexandre Vogler de (ver VOGLER, Alexandre) MORAIS, Glaucis de (Glaucis de Morais Almeida) 30, 64, 112, 122, 124, 139, 141 MORALEIDA, Pedro (Pedro Moraleida Bernardes) 44 MORALES, Wagner (Wagner Perez Morales Júnior) 30, 99, 114, 127, 131 MOREIRA, Jailton (Jailton Marenco Moreira) 7, 23, 100, 101, 107, 122, 126 MOREIRA, Suzi Coralli (ver CORALLI, Suzi) NANCY, Jean-Luc 138 NAVES, Rodrigo (Rodrigo Figueira Naves) 71, 102 NEVES, Marta (Marta Cristina Pereira Neves) 30, 84, 114, 127, 129 NINO, Maria do Carmo de Siqueira 7, 26, 100, 103, 107, 143, 146 NUNES, Marcelo Cidade Teixeira (ver CIDADE, Marcelo) OITICICA, Hélio 112 PACKER, Amilcar (Amilcar Lucien Packer Yessouroun) 30, 33, 112, 122, 124, 125 PAES, José Paulo (José Paulo Paes da Silva) 158 PANCETTI, José (Giuseppe Gianinni Pancetti) 15 PANITZ, Marília (Marília Panitz Silveira) 7, 24, 100, 103, 107, 139, 142 PATRÍCIO, Martinho (Martinho Patrício Leite) 30, 86, 114, 151, 153 PAZ, Octavio 167 PENNA, Daniella (Daniella Maria Penna Soares) 30, 48, 110, 147, 149 PENNER, Marta (Marta Penner da Cunha) 30, 85, 110, 127, 131, 163, 165 PEREIRA, Fabiano Gonçalves (ver GONPER, Fabiano) PEREIRA, Fabiano Neves Marques (ver MARQUES, Fabiano) PIMENTA, Beatriz (Beatriz Pimenta Velloso) 30, 37, 110, 115, 118, 151, 153 PINHEIRO, Roosivelt (Roosivelt Max Sampaio Pinheiro) 30, 93, 114, 127, 131 PINI, Ana Maria da Silva Araújo Tavares (ver TAVARES, Ana Maria) PLATÃO 134 QUEIROZ, Elisa (Maria Elisa Moreira Queiroz) 30, 52, 110, 151, 153 RAMO, Sara 44 RAMOS, Clarissa Campello (ver CAMPELLO, Clarissa) RAMOS, Nuno (Nuno Álvares Pessoa de Almeida Ramos) 18 REDONDO, Laércio 30, 75, 110, 115, 121 REIS, Paulo (Paulo Roberto de Oliveira Reis) 7, 21, 100, 103, 107, 166, 169 RENNÓ, Rosângela (Rosângela Rennó Gomes) 20 RIBEIRO, Juliana Monachesi (ver MONACHESI, Juliana) RICALDE, Rosana (Rosana Ricalde da Silva) 30, 58, 94, 114, 127, 132, 133, 136, 151, 153 RIMBAUD, Arthur (Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud) 167 ROCHA, Cleomar (Cleomar de Sousa Rocha) 7, 10, 100, 102, 107, 163, 165 ROCHA, Enrico (Enrico Rocha Barbosa Costa) 30, 53, 110, 151, 153, 163, 164 RODRIGUES, Alberto Caetano Dias (ver DIAS, Caetano) RODRIGUES, Júlio 38 ROMAGNOLO, Sérgio 18 ROSA, Dudi Maia (Rafael Maia Rosa) 56 ROSA, João Guimarães 126, 137 SANTANGELO, André (André Luiz Santangelo Vianna) 30, 35, 114, 127, 130, 159, 160, 161 SANTOS, Cinthia Marcelle de Miranda (ver MARCELLE, Cinthia) SANTOS, Jeims Duarte dos (ver DUARTE, Jeims) SAUSSURE, Ferdinand de 117 SCHIELE, Egon 70 SCHMIDT, Paulo 7, 12, 100, 104, 107, 151, 154 SCHNITZLER, Arthur 152 SERRA, Leda Catunda (ver CATUNDA, Leda) SERRANO, Andres 160 SEVERO, André (André Schulz Severo) 149 SILVA, José Antônio da 20 SILVA, José Paulo Paes da (ver PAES, José Paulo) SILVA, Maria Domitília Costa Coelho da (ver COELHO, Domitília) SILVA, Maria Gabriela de Mello Machado da (ver MACHADO, Gabriela) SILVA, Rosana Ricalde da (ver RICALDE, Rosana) SILVA, Silvia Maria Feliciano da (ver FELICIANO, Silvia) SILVA, Thiago Bortolozzo da (ver BORTOLOZZO, Thiago) SILVEIRA, Marília Panitz (ver PANITZ, Marília) SIMÕES, Mário (Mário Luís Simões Filho) 30, 83, 110, 115, 118 SIZA, Alvaro 22 SMITHSON, Robert 137 SOARES, Daniella Maria Penna (ver PENNA, Daniella) SOBRAL, Divino (Divino Sobral de Sousa) 30, 49, 110, 127, 132 SOUSA, Divino Sobral de (ver SOBRAL, Divino) SOUSA, Genesco Alves de (ver ALVES, Genesco) SOUZA, Eneida Maria de 104 STEIN, Juliana (Juliana Scotá Stein) 30, 74, 110, 115, 120 STURNER-ALEX, Erica 83 SZEEMANN, Harald 123 TAVARES, Ana Maria (Ana Maria da Silva Araújo Tavares Pini) 20 TAVARES, Wagner Malta (ver MALTA, Wagner) TESSLER, Elida 101 TOLEDO, Jeanine (Jeanine Lima Toledo) 30, 69, 114, 127, 129 VARELLA, Adriana (Adriana Canlizzi de Queiroz Varella) 38 VELLOSO, Beatriz Pimenta (ver PIMENTA, Beatriz) VERNE, Jules 158 VIANNA, André Luiz Santangelo (ver SANTANGELO, André) VOGLER, Alexandre (Alexandre Vogler de Moraes) 30, 32, 114, 127, 132, 133, 137 WALDRAFF, Téti (Teresa Dorotea Waldraff) 30, 96, 112, 122, 125 WARHOL, Andy (Andrew Warhol) 160 WHERLI, Penelope 43 WIELEWICKI, Fabiana (Fabiana Feronha Wielewicki) 30, 54, 110, 139, 141, 166, 168 WILLIAMS, William Carlos 158 WIRZ, Davi 83 YESSOUROUN, Amilcar Lucien Packer (ver PACKER, Amilcar) YORKE, Thom 160 ZACCAGNINI, Carla 30, 42, 114, 127, 130 177 179 179 178 Presidente de Honra Olavo Egydio Setubal Centro de Documentação e Referência Selma Cristina da Silva Presidente Milú Villela Itaulab Marcos Cuzziol Vice-Presidentes Seniores Joaquim Falcão Jorge da Cunha Lima Itaú Numismática – Museu Herculano Pires Heloísa Arrobas Martins Mapeamento Nacional da Produção Emergente 2001/2003 Vice-Presidentes Executivos Alfredo Egydio Setubal Ronaldo Bianchi Diretores Executivos Antonio Carlos Barbosa de Oliveira Antonio Jacinto Matias Cláudio Salvador Lembo Malú Pereira de Almeida Renato Roberto Cuoco Superintendente Administrativo Walter Feltran Superintendente de Atividades Culturais Eduardo Saron Superintendente de Pesquisas e Projetos José Roberto Sadek Núcleo Administrativo Christiano Neves Núcleo de Ação Educativa Renata Bittencourt Núcleo de Artes Cênicas Sonia Sobral Núcleo de Artes Visuais Marcelo Monzani Núcleo de Cinema e Vídeo Roberto Moreira S. Cruz Núcleo de Comunicação Eduardo Saron Núcleo de Literatura Luís Camargo Núcleo de Música Edson Natale Controle Interno e Compliance Antonio Osório Toledo Fernandes Núcleo de Produtos Culturais Ana Regina Carrara Núcleo de Artes Visuais Coordenação Marcelo Monzani Produção Carmen Fajardo Olga Mitiko Yamashiro Valéria Dias Barzaghi Toloi Karen Cristina de Freitas Garcia Equipe Curatorial Coordenação Fernando Cocchiarale Curadores-Coordenadores Cristina Freire Jailton Moreira Moacir dos Anjos Curadores Adjuntos Cleomar Rocha Cristóvão Coutinho Eduardo Frota Juliana Monachesi Maria do Carmo de Siqueira Nino Marília Panitz Marisa Flórido Cesar Paulo Reis Paulo Schmidt Edição e Preparação de Originais Letra-Guia Ltda. Rosalina Gouveia Alexandra Bertola Núcleo de Relações Institucionais Eduardo Saron Núcleo de Tecnologia Roberto Sanches Padula Núcleo do Site José Roberto Sadek Núcleo Operacional Vlamir Saturni Núcleo de Comunicação Coordenação Eduardo Saron Produção Executiva Janaina Chaves Edição e Revisão de Textos Celina Oshiro Marco Aurélio Fiochi Design e Produção Gráfica Roberto Carneiro Sheila Ferreira Yoshiharu Arakaki Assessoria de Imprensa Babi Borghese Assessoria de Imprensa Rumos Artes Visuais Texto Intermídia Estagiários Carlos Geraldo Temóteo Pereira Maurício Aoad Gimenez Centro de Documentação e Referência Coordenação Selma Cristina Silva Normalização Bibliográfica e Índice Onomástico Josiane Aparecida Mozer Banco de Imagens Humberto Pimentel Digitalização e Tratamento de Imagens Jonatas Almeida Núcleo Operacional Coordenação Vlamir Saturni Supervisão de Montagem de Exposições Henrique Idoeta Soares Produção de Montagem Edvaldo Inácio da Silva José Camilo da Silva Apoio ao recebimento de portfólios Casa de Cultura Ivan Morrocos - Secretaria de Estado de Esportes, Cultura e Lazer RO Centro Amapaense de Atividades Culturais - Secretaria de Educação do Estado do Amapá AP Centro Cultural São Francisco PB Centro de Artes Visuais Raimundo Cela - Palácio da Abolição CE Centro de Cultura e Arte - Universidade Federal de Sergipe SE Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho MA Fundação Cultural Capitania das Artes RN Fundação Cultural de Curitiba PR Fundação Cultural Monsenhor Chaves PI Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansur AC Fundação Jaime Câmara GO Fundação Joaquim Nabuco PE Galeria de Arte do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo ES Museu de Arte Contemporânea MS Museu de Arte de Belém PA Museu de Arte de Santa Catarina SC Museu de Arte do Rio Grande do Sul RS Museu de Arte e Cultura Popular MT Museu de Arte Moderna da Bahia BA Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro RJ Museu do Homem do Norte AM Secretaria de Cultura de Palmas TO Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Roraima RR Secretaria Municipal de Educação de Maceió AL Agradecimentos A equipe curatorial, artistas e instituições culturais que colaboraram com o programa. 181 181 180 Mapeamento nacional da produção emergente : Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2003 / Coordenação Fernando Cocchiarale, Cristina Freire, Jailton Moreira, Moacir dos Anjos -São Paulo : Itaú Cultural, 2002. 180 p. : fotos color. Índice Onomástico Biografias ISBN nº 85.85291-35-4 1. Artes visuais 2. Arte contemporânea 3. Brasil 4. Artistas Brasileiros 5. Biografia CDD 709.049