UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ADRIANA MARIA DA SILVA PERFIL EXTRATIVO E COMERCIAL DAS JAZIDAS DE CALCÁRIO DA PORÇÃO OESTE DE MINAS GERAIS – ESTUDO DE CASO UBERABA E COROMANDEL Uberlândia-MG 2009 ADRIANA MARIA DA SILVA PERFIL EXTRATIVO E COMERCIAL DAS JAZIDAS DE CALCÁRIO DA PORÇÃO OESTE DE MINAS GERAIS – ESTUDO DE CASO UBERABA E COROMANDEL "Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Geografia” Orientador: Prof. Dr. Adriano Rodrigues dos Santos Uberlândia-MG 2009 Adriana Maria da Silva Perfil extrativo e comercial das jazidas de calcário da porção oeste de Minas Gerais – Estudo de caso Uberaba e Coromandel Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Geografia Uberlândia, 09 de Julho de 2009 Banca Examinadora _________________________________________ Prof. Dr. Adriano Rodrigues do Santos– Instituto de Geografia - UFU _________________________________________ Profa. Dra.Regina Clélia Haddad – Instituto de Geografia - UFU _________________________________________ Prof. Dr. Roberto Rosa– Instituto de Geografia - UFU À Nadir, minha mãe querida, por todo amor, luta e dedicação AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e por todas as oportunidades nela concedidas. À minha família, por tudo! Ao meu orientador, Adriano Rodrigues Santos, pelo apoio, paciência, compreensão e incentivo. A secretária da graduação Mizmar pela eterna atenção e gentileza. Agradeço a todos os meus amigos pela força e motivação durante este período de luta e estudo. À equipe Céleres Ambiental por todo apoio e horários cedidos. Aos meus amigos do curso de Geografia, que contribuíram de forma direta e indireta para a realização deste trabalho, em especial a Alécio Perini Martins, Fernando Campos Mesquita e Rosielle Araújo. Ao Sr. Nemésio Cortezi e ao Clube Amigos da Terra de Uberlândia pelas informações e espaço cedidos. Especialmente agradeço à Calcário Triângulo/Ercal, em nome do Sr. João Tonelli e equipe de funcionários, pela confiança e disposição dos dados, além da permissão para o levantamento de campo. RESUMO O perfil extrativo e comercial das jazidas de calcário da porção oeste de Minas Gerais ocorre a partir da presença de significativas jazidas de calcário em uma região tradicionalmente produtora de alimentos em solos pobres e ácidos. Nesse contexto, se dá a exploração de calcário calcítico da jazida de Uberaba-MG e calcário dolomítico da jazida de Coromandel-MG, controladas por Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda e Ercal – Empresas Reunidas de Calcário Ltda, respectivamente. Estas empresas, tradicionalmente familiares e pertencentes basicamente ao mesmo grupo comercial, vem alterando a forma de gerenciar seus negócios, hoje, focados na gestão empresarial, já que o mercado de calcário tem exigido ações pautadas na excelência. Com isso, a concorrência do calcário oriundo de outras regiões e a influência do frete no preço final vem estabelecer parte da dinâmica que irá influenciar na demanda do produto e consequentemente na exploração das jazidas e beneficiamento do calcário. Hoje, o setor se apresenta eficiente na oferta do produto e as jazidas correspondem às necessidades regionais, agregando valor na cadeia produtiva mineral e no agronegócio. Palavras chaves: calcário, região oeste de Minas Gerais, Ercal, Calcário Triângulo, Uberaba, Coromandel LISTA DE TABELAS TABELA 01. Principais Estatísticas- Brasil ......................................... 35 TABELA 02. Reservas Minerais de Calcário no município de Uberaba-MG ....................................................................................................... 41 TABELA 03. Características mínimas exigidas para comercialização corretivos agrícolas ........................................................................... 53 TABELA 04. Média de análises realizadas no produto calcítico de Uberaba-MG ..................................................................................... 54 TABELA 05. Média de análises realizadas no produto dolomítico de Coromandel-MG ................................................................................ 54 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 01. Mapa de localização da área de estudo ............................. 19 FIGURA 02. Unidades Litoestratigráficas da porção oeste de Minas Gerais ...................................................................................................... 22 QUADRO 01. Litocronoestratigrafia da porção oeste de Minas Gerais .... 23 QUADRO 02. Quadro dos maiores usos comerciais do calcário ............. 30 QUADRO 03. Estrutura da produção brasileira de calcário por região em 2006.. .............................................................................................. 34 QUADRO 04. Empresas de Calcário no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, minas e porte .................................................................... 39 FIGURA 03. Localização das jazidas de calcário de Uberaba-MG e Coromandel-MG e área de influência .................................................. 40 FIGURA 04. Vista geral da jazida de calcário localizada em Uberaba-MG ....................................................................................................... 42 FIGURA 05. Pedras extraídas da jazida de calcário em Uberaba-MG ...... 42 FIGURA 06. Calcrete, popularmente conhecido como “casco de burro”em Uberaba-MG ..................................................................................... 43 FIGURA 07. Perfuração de buracos profundos nas rochas para colocação de explosivos, em Uberaba-MG .......................................................... 44 FIGURA 08. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de beneficiamento de Uberaba-MG .......................................................... 44 FIGURA 09. Vista geral da jazida de calcário localizada em CoromandelMG .................................................................................................. 46 FIGURA 10. Pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG ... ...................................................................................................... .46 FIGURA 11. Detalhe para deposição de materiais distintos da jazida de calcário em Coromandel-MG .............................................................. 47 FIGURA 12. Local onde é depositado o material de decapeamento da jazida de Coromandel-MG .................................................................. 47 FIGURA 13. Separação das pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG ................................................................................ 48 FIGURA 14. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de beneficiamento de Coromandel-MG .................................................... 49 FIGURA 15. Fluxograma básico da fabricação do pó corretivo .............. 50 FIGURA 16. Local do transporte das pedras ao britador, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente ..... 51 FIGURA 17. Transporte de material através de correias para a britagem secundária, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG ....................... 51 FIGURA 18. Condução do material, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente ................................ 52 FIGURA 19. Disposição do calcário dolomítico (escuro) de Coromandel e do calcário calcítico de Uberaba-MG em pátio de usina de CoromandelMG .................................................................................................. 56 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABRACAL Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola BDMG Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais CAMPO Companhia de Promoção Agrícola DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FJP Fundação João Pinheiro IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento NPK Fósforo, potássio e magnésio PADAP Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba PAEG Plano de Ação Econômica do Governo PCI Programa de Crédito Integrado PDN Plano Nacional de Desenvolvimento PED Plano de Metas e Bases para Ação do Governo PIN Programa de Integração Nacional PLANACAL Plano Nacional de Calcário Agrícola PN Poder de Neutralização POLOCENTRO Programa de Desenvolvimento do Cerrado PRNT Poder Relativo de Neutralização Total PRODECER Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados RE Reatividade ROM Produção Bruta Anual saída da boca da mina (Run of Mine) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................... 11 2. OBJETIVO .............................................................................. 14 2.1. Objetivo Geral ....................................................................... 14 2.1. Objetivos Específicos ............................................................. 14 3. JUSTIFICATIVA ...................................................................... 15 4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................ 16 5. LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 18 5.1. Localização e vias de acesso .................................................. 18 5.1.1. Uberaba ............................................................................ 18 5.1.2. Coromandel ....................................................................... 20 5.2. Aspectos Fisiográficos .......................................................... 20 5.2.1. Clima - Oeste de Minas Gerais ............................................ 20 5.2.2. Geomorfologia e Vegetação - Oeste de Minas Gerais ............. 20 5.2.3. Geologia Regional ............................................................. 21 6. ESTADO DA ARTE ................................................................. 30 6.1. O Calcário ........................................................................... 30 6.2. O Calcário e a agricultura brasileira ....................................... 31 6.3. Capacidade de oferta da indústria ........................................... 33 6.4. Evolução do consumo ............................................................ 34 6.5. Preço - a questão do frete ...................................................... 35 6.6. A questão do calcário ............................................................ 35 6.7. O calcário da porção oeste de Minas Gerais ............................ 36 6.8. O comércio de calcário: Calcário Triângulo e Ercal – Empresas Reunidas de Calcários Ltda .......................................................... 37 7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................... 39 7.1. O calcário e a área de estudo ................................................. 39 7.2. Localização e caracterização das jazidas e unidades de processamento ............................................................................ 41 7.2.1. Calcário de Uberaba ........................................................... 41 7.2.1.1. Processo extrativo ........................................................... 41 7.2.2. Calcário de Coromandel ..................................................... 45 7.2.2.1. Processo extrativo ........................................................... 45 7.2.3. Beneficiamento .................................................................. 49 7.2.4. Qualidade do produto ......................................................... 52 7.3. Perfil Empresarial .................................................................. 56 7.3.1. Potencial extrativo ............................................................. 56 7.3.2. Arcos-MG, suas jazidas e a “concorrência x concorrência” ..... 57 7.3.3. Logística Calcário Triângulo / Ercal .................................... 59 7.3.4. Comercialização ................................................................ 59 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 61 REFERÊNCIAS ............................................................................ 63 11 1. INTRODUÇÃO A técnica de correção do solo já era conhecida antes mesmo da Era Cristã, quando depósitos não consolidados de cálcio misturados com argila, sílica e matéria orgânica, conhecidos como margas, eram aplicados ao solo por gregos e romanos com o intuito de aumentar a produtividade (CALPAR, 2007). Segundo Parahyba (2008, p.01) os solos brasileiros, assim como os demais solos tropicais, são, na sua maior parte, ácidos, característica que favorece o aparecimento de elementos tóxicos para as plantas, afetando negativamente a lavoura e dificultando o aproveitamento dos elementos nutritivos existentes por estas. O calcário é o principal produto utilizado para corrigir a acidez do solo. Em linhas gerais age reduzindo a quantidade dos elementos nocivos, aumentando o nível de cálcio e magnésio, tornando assim o solo mais aerado, permitindo maior circulação de água e melhor desenvolvimento das raízes e, em conseqüência, proporcionando o aumento da atividade dos microorganismos, fazendo com que a adubação renda mais. A qualidade do calcário agrícola depende, principalmente, do teor, do tipo de elementos que diminuem a acidez e do tempo que leva para fazer efeito no solo. Esta qualidade depende da quantidade, que é medida por um índice conhecido como Poder Relativo de Neutralização Total – PRNT, que é obtido através do PN (Poder de Neutralização) e da RE (Reatividade dada pela granulometria do calcário). Atualmente existem estudos em desenvolvimento e projetos sugeridos, mas nada comparado ao pioneirismo da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que permitiu, através de suas pesquisas, a exploração e o desenvolvimento de áreas agricultáveis anteriormente consideradas como improdutivas devido à acidez e pobreza nutricional de seus solos. O trabalho da EMBRAPA juntamente com outros incentivos do governo propiciou o avanço da fronteira agrícola no Brasil. (FRANCO, 2001) Segundo Ribeiro (2002, p.266) o Governo Federal, visando propiciar a ocupação racional e ordenada das áreas de cerrado criou programas de modernização, com área de atuação nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, onde se concentram parte considerável dos cerrados brasileiros. Foram implantados ao longo do Regime Militar e merecem destaque o PCI (Programa de Crédito Integrado e Incorporação dos Cerrados); o PADAP (Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba); o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos Cerrados); e o PRODECER I e II (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados). Buscou-se a integração 12 entre pesquisa, assistência técnica, crédito rural orientado e apoio à infraestrutura dessas regiões. A modernização da agricultura se fez cada vez mais intensa de mecanização, adubação, agrotóxicos, etc. A região oeste mineira desenvolveu seu potencial agrícola a partir da atuação do POLOCENTRO, sendo também influenciada pela construção de Brasília, quando novas estradas foram construídas, propiciando uma maior integração entre os estados e fortalecendo relações comerciais. Atualmente a região é destaque no cenário agrícola nacional, sendo a correção da acidez do solo e a incorporação de novas tecnologias fatores fundamentais para a busca de uma agricultura cada vez mais voltada para grandes mercados. (SILVA, 2000) As rochas calcárias são abundantes em todo o Brasil e segundo o Anuário Mineral Brasileiro de 2006 do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, as reservas no país situavam-se na ordem de 49 bilhões de toneladas, número propício de crescimento já que novas pesquisas geológicas são realizadas todos os anos por todo o país. Em Minas Gerais as reservas situavam-se na ordem de 9 bilhões de toneladas e a produção bruta em torno de 25 milhões de toneladas, com o consumo do estado representando 32,28% do consumo nacional e 92% da produção estadual. Sendo o calcário considerado um insumo agrícola, sua produção está vinculada ao desempenho do setor agrícola e ao perfil do produtor rural. Os principais destinos da calagem realizada na região em estudo são para pastagem, produção de grãos, citrus e atualmente destaque para a cana-de-açúcar, que em virtude da boa rentabilidade financeira do açúcar e principalmente do álcool, fez com que a produção crescesse consideravelmente na região nos últimos anos devido aos grandes investimentos na implantação de destilarias e consequentemente nos canaviais e novos plantios. Além da correção da acidez, o calcário melhora a atividade dos macronutrientes: nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), potencializando a ação da adubação e diminuindo a quantidade aplicada, fato ecologicamente positivo, porém, mesmo com tamanha relevância no processo produtivo, observa-se que o seu consumo não atinge a média ideal de demanda que a área plantada solicita. A falta de informação, apesar da presença de institutos de pesquisa, é considerada a maior causadora desse baixo índice de consumo. Destaca-se também, em tempos de crise, uma diminuição ainda maior do consumo ideal como reflexo da contenção de custos. No ano de 2006, segundo estudo realizado pela Céleres, empresa de consultoria em agronegócios sediada em Uberlândia, os estoques mundiais de alimento estavam em patamares muito abaixo da média. Em 2008 consolida-se a chamada crise dos alimentos, com 13 destaque para o crescimento da produção de combustível verde, agravando ainda mais o cenário. Sendo assim, atenta-se à grande necessidade de incorporação de tecnologias, dentre elas um perfeito manejo do solo para que se possa reverter parte desse problema. Diante desse quadro, destaca-se a capacidade de resposta do setor produtivo de calcário em atender esse crescimento, tanto pela disponibilidade de jazidas ainda não exploradas, quanto pela capacidade ociosa apresentada pelas mineradoras. Pretendendo entender sobre a dinâmica do calcário na região oeste de Minas Gerais e sua relação com o desenvolvimento da agricultura e economia regional, considerou-se as relações estabelecidas entre a cadeia produtiva e o mercado consumidor, a importância desse bem mineral para a agricultura e a falta de informações sobre o setor em nossa região, também verificada em todo o país. Outro fato relevante é o fluxo de capital externo gerado, já que a localização estratégica da região coloca o calcário como produto ofertado também fora do estado, contribuindo também com o desenvolvimento do setor de transportes, mesmo com a presença de calcário advindo de outras áreas em virtude de uma dinâmica que ocorre com o frete contratado, reflexo também da localização estratégica da região. No âmbito da prospecção mineral e avaliação do potencial econômico, as pesquisas já realizadas na área se devem exclusivamente às empresas instaladas, sendo que os dados disponíveis para consulta pública se restringem a poucas informações sobre teor de pureza e magnésio do produto. Sendo assim, não há pretensão de se apresentar informações revolucionárias, já que os dados obtidos não apresentam um grau de detalhamento expressivo. No entanto, a partir desses dados algumas análises são elaboradas a fim de se desenhar um perfil mais claro dessa dinâmica do calcário da região. A importância de Uberaba e Coromandel como distribuidoras de calcário para regiões agrícolas pólos de tecnologia, produção e processamento se faz destaque, e entender a dinâmica aplicada e suas características é fato relevante para a continuidade desse destaque nacional que a agricultura local possui. De nada vale altas tecnologias em sementes e maquinários se o solo não está propício a receber todo esse investimento. Logo, o calcário é sem dúvida um dos grandes responsáveis por todo desenvolvimento regional. 14 2. OBJETIVO 2.1. Objetivo Geral Este estudo tem como objetivo demonstrar o perfil extrativo e econômico das jazidas de calcário da região oeste de Minas Gerais – estudo de caso Uberaba e Coromandel, e possíveis potencialidades. Considerando-se o perfil econômico da região, analisar seu raio de abrangência e sua importância. Logo, ao analisar essa área de abrangência, levantar necessidades e a atuação dos intermediadores, considerando o valor do produto, vantagens locacionais, logística e também a opinião do consumidor final quanto a qualidade, acessibilidade, custos e conscientização. 2.2. Objetivos Específicos - Caracterizar a área de estudo por meio de estudos bibliográficos e levantamento de campo - Relacionar o consumo de calcário na região e suas fontes de distribuição - Diagnosticar o perfil regional da demanda pelo produto e a resposta do setor produtivo - Relacionar a questão frete “versus” custo benefício - Levantamento da geologia do calcário nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba - Diagnosticar se o uso do calcário na região é utilizado de forma racional ou se um plano de orientação seria necessário. - Adquirir dados que possam mostrar a viabilidade do produto regional para a economia local e seu papel dentro do agronegócio. 15 3. JUSTIFICATIVA A justificativa para execução do trabalho reside na importância dessa região enquanto produtora de alimento e grande beneficiadora. Entender e discorrer sobre o perfil extrativo e comercial de calcário na região é na verdade uma forma de agregar benefícios a ambas as cadeias produtivas, sendo que nesse caso, não se constatou nenhum estudo direcionado para a realidade regional do setor. Logo, informações que possam contribuir com o atual estágio de discussão dos mecanismos que viabilizam a correção da acidez dos solos do cerrado e o impulso a uma produção eficiente de alimentos em detrimento da abertura de novas áreas só vem beneficiar a região, que além da tradicional agricultura de grãos, incorpora agora nova dinâmica produtiva: a indústria sucroalcooleira. 16 4. MATERIAIS E MÉTODOS A fim de obter informações mais precisas a respeito do uso do perfil extrativo e comercial do calcário na porção oeste de Minas Gerais, determinou-se Uberaba e Coromandel como cidades referências por possuírem jazidas significativas em seus territórios. Os procedimentos utilizados no desenvolvimento da pesquisa fundamentaram-se em trabalho de escritório e de campo. O trabalho de escritório, baseado em pesquisa bibliográfica, foi pautado em levantar a disponibilidade de informações, destacando: periódicos, livros, monografias, dissertações, teses, artigos técnicos, base de dados remota, material cartográfico e fotografia, que possibilitou a caracterização a área de estudo e de parte do tema proposto (devido a falta de informações regionais sobre o tema), além do processamento das informações levantadas e elaboração do trabalho. O trabalho de campo consistiu primeiramente em visita à jazida e unidade de beneficiamento de calcário calcítico em Uberaba-MG, Calcário Triângulo, quando se percorreu a área da pedreira justamente com o professor orientador deste trabalho, realizando registro fotográfico e apurando informações. Também foi realizada visita à jazida e unidade de beneficiamento de calcário dolomítico em Coromandel-MG, Ercal, onde também se percorreu a área da pedreira e parte da unidade de beneficiamento em presença de funcionário da Ercal, realizando registro fotográfico. Nesse mesmo dia foi realizada reunião com o administrador do grupo na região, Sr. João Tonelli que disponibilizou informações e apoio de sua equipe. Logo, foram realizadas 2 visitas ao escritório em Uberlândia e inúmeros contatos telefônicos a fim de apurar informações. Também foram realizadas visitas a um representante comercial regional de calcário (terceirizado) a produtores rurais e associações – Clube Amigos da Terra de Uberlândia e Sindicato Rural de Uberlândia, a fim de aprofundar na dinâmica comercial e utilização do calcário. Finalmente realizou-se o processamento dos dados obtidos. O método utilizado foi descritivo-indutivo, pois o trabalho descreve aquilo que pode ser observado e analisado através de pesquisa e é indutivo porque, para GIL (1999) “ (...) o método descritivo-indutivo é aquele que parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados particulares. De acordo com o raciocínio indutivo, a 17 generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a partir de casos concretos suficientemente confirmadores dessa realidade. Nesse método parte-se da observação de fatos ou fenômenos cujas causas se deseja conhecer. A seguir, procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles. Por fim, procede-se à generalização, com base na relação verificada entre os fatos e fenômenos.” Na estruturação deste estudo optou-se pela divisão em sete capítulos. Os quatro primeiros falam sobre o desenvolvimento do trabalho, o quinto traz a localização e aspectos fisiográficos da área de estudo, o sexto o Estado da Arte, onde se encontra uma explanação sobre o calcário em geral, o calcário no Brasil e o domínio da exploração de calcário na região; no sétimo capítulo, Resultados e Discussões, onde são apresentados os dados obtidos e o perfil da região. 18 5. LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA DE ESTUDO 5.1. Localização e vias de acesso A área de estudo está localizada na porção oeste do Estado de Minas Gerais, inserida no domínio das regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. A região possui três importantes rodovias federais: BR-050, que liga o Estado de São Paulo ao Distrito Federal; a BR-262, que liga Uberlândia a Belo Horizonte e a BR-365 que estabelece interligação entre o nordeste de Minas Gerais e os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Figura 01). O Triângulo Mineiro é considerado uma das regiões mais promissoras e desenvolvidas de Minas Gerais e possui grande destaque nacional. Estrategicamente localizado, é logisticamente importante no cenário de transportes no país. Com cidades modernas e razoavelmente bem estruturadas, algumas com perfil industrial e comercial, como Uberlândia e Uberaba, a atividade agrícola destaca-se como base da economia e riqueza regional. Suas principais cidades são Uberlândia, Uberaba, Patos de Minas, Araguari e Ituiutaba. O Alto Paranaíba é uma das regiões mais proeminentes de Minas Gerais. Com paisagem predominantemente rural, vem sofrendo modificações em função da crescente industrialização e exploração de seus recursos minerais. Rica em recursos hídricos, vem propiciando o desenvolvimento das lavouras irrigadas e de uma pecuária modernizada. Possui boa infraestrutura em termos de rodovias asfaltadas, o que favorece o complexo mineroindustrial em Araxá e Patos de Minas, cidades destaques da região, e ainda o elevado padrão produtivo tecnológico nas áreas de laticínios, a indústria de carne e o café de alta qualidade, sendo uma das principais regiões produtoras do país. 5.1.1. Uberaba Localizada estrategicamente no Triângulo Mineiro, situa-se a 510 km de São PauloSP, 427 km de Belo Horizonte-MG, 535 km de Brasília-DF, 472 km de Goiânia-GO, 1005 km de Vitória-ES, 180 km de Ribeirão Preto-SP, 220 km de Coromandel e 100 km de Uberlândia. Tem como municípios limítrofes Água Comprida, Conceição das Alagoas, Conquista, Delta, Indianópolis, Nova Ponte, Sacramento, Uberlândia e Veríssimo e as rodovias que dão acesso ao município são a BR-050, BR-262, BR-464, MG-190, MG-798 e MG-427. 19 Fonte: SANTOS, 2002 adaptado pela autora. FIGURA 01. Mapa de localização da área de estudo. 20 5.1.2. Coromandel O Município de Coromandel está situado no Alto Paranaíba e tem como limites, ao norte, o Estado de Goiás e o município de Guarda-Mor; a leste, os municípios de Vazante, Lagamar, Patos de Minas e Guimarânia; a oeste, os municípios de Abadia dos Dourados e Monte Carmelo; ao sul, o município de Patrocínio. Está localizado a 477 km de Belo Horizonte-MG, 456 km de Brasília-DF, 915 km do Rio de Janeiro-RJ, 710 km de São PauloSP, 1.020 de Vitória-ES, 220 km de Uberaba e 170 km de Uberlândia. As principais rodovias que dão acesso a Coromandel são a BR-262, BR-365, BR 352, BR-381, MG-187, MG-188 e MG-230. 5.2. Aspectos Fisiográficos 5.2.1. Clima As características climáticas da região oeste de Minas Gerais são determinadas por fatores de ordem geográfica (continentalidade), pela latitude, pela longitude e pela ação de massas de ar como a massa Equatorial Atlântica e a massa Tropical Atlântica (período seco) e a massa Equatorial Continental (período chuvoso), que associada aos ventos alísios de nordeste, origina a Frente Intertropical (FIT), que provoca pancadas de chuva. (ALVES, 2003 apud MARTINS el al 2005, p.04). Martins et al. (2005, p.04) complementam o tema ao afirmar que o clima da região (...) se caracteriza por apresentar duas estações bem definidas com duração média de seis meses cada: verão quente e chuvoso de outubro a março, que concentra cerca de 85% do total das chuvas anuais e um inverno seco e com temperaturas mais amenas no restante do período. A região possui clima tropical apresentando como vegetação dominante o cerrado. De acordo com a classificação de Köppen, que baseia sua análise na distribuição pluviométrica anual e nas características adicionais de temperatura, o clima regional é do tipo Aw, um subtipo da classificação A, dada aos climas tropicais semi-úmidos, com verão chuvoso. As médias anuais das chuvas variam de 1000 a 2000 mm. Já o inverno é caracterizado por num grande déficit hídrico. 5.2.2. Geomorfologia e Vegetação Conforme Ab’Saber (1972) a área em estudo está inserida no domínio dos chapadões tropicais do Brasil Central, tendo como cobertura original o Cerrado, relevo este elaborado desde o Terciário e durante o Quarternário pelos processos morfoclimáticos. 21 Ao se estabelecer relação com o tipo de vegetação e unidades de relevo, sobre a unidade definida por Baccaro (1991) como chapadas representadas como área de cimeira, onde prevalecem altitudes entre 890 e 960 m, atribui-se a vegetação de Cerrado. Os vales fluviais amplos, espaçados e úmidos existentes são dominados por gramíneas e mata mesofítica. Nas áreas de relevo intensamente dissecado há a presença de vegetação primitiva, a floresta tropical subcaducifólia. Para as áreas de relevo medianamente dissecado, há o predomínio dos cerrados desenvolvidos sobre solos arenosos originados da decomposição de litologias das Formações Marília e Adamantina. Nas porções de fundo de vales fluviais, devido à exposição da zona saturada, quer seja sob a forma de olhos d’água (nascentes) ou de forma difusa, desenvolve-se a vegetação típica de ambiente de Veredas, que nas áreas de chapadas do Triângulo Mineiro tem os nascedouros de fontes hídricas associados à sua ocorrência. Estas formam um ecossistema típico do Cerrado, com solos hidromórficos, brejos estacionais e/ou permanentes, quase sempre com a presença de buritizais (Mauritia flexuosa) e floresta estacional de vegetação arbóreo-arbustiva e fauna variada. Esta comunidade vegetal é responsável pela perenidade e regularidade dos cursos d’água, multiplicação e manutenção da fauna terrestre e aquática, sendo muito sensível às alterações ambientais (MARANESI, 2002, p.56). Segundo Maranesi (2002) a partir do início da década de 1970, a paisagem vegetal natural começa a sofrer grandes modificações, com a forte ocupação das chapadas do Cerrado, com o plantio de reflorestamentos de Pinus e Eucalyptus, por causa dos incentivos fiscais e o baixo valor das terras. No início dos anos 80, a paisagem foi modificada, com a retirada do Cerrado e a instalação da grande agricultura comercial, principalmente com soja, milho, feijão e café. 5.2.3. Geologia Regional A porção Oeste de Minas Gerais é constituída por duas grandes unidades: a leste, no domínio da Bacia São Franciscana, ocorrem rochas sedimentares e vulcânicas que se assentam sobre rochas metassedimentares neoproterozóicas do Grupo Bambuí; e a oeste rochas magmáticas e sedimentares fanerozóicas do Grupo Bauru, Bacia do Paraná (Figura 02). 22 Fonte: BATEZELLI, 2003 FIGURA 02. Unidades Litoestratigráficas da porção oeste de Minas Gerais. 23 Estas unidades são separadas pelo Soerguimento do Alto Paranaíba (SAP), que afetou, principalmente a porção sul da Faixa de Dobramentos Brasília, que é constituída por rochas metamórfícas proterozóicas cortadas por intrusões alcalinas mesozóicas e orientadas grosseiramente na direção NW-SE (Barbosa et al.. 1970, Hasui & Haralyi 1991 apud Ferreira Júnior & Gomes, 1999, p.163). Através de vários eventos tectônicos, formaram-se na região as litologias do PréCambriano: Complexo Goiano, Grupo Araxá, do Grupo Canastra, Grupo Bambuí. Esses eventos também foram responsáveis pelas manifestações magmáticas que resultaram no extravasamento das lavas e intrusões da Formação Serra Geral e, posteriormente à sedimentação do Grupo Bauru. A coluna litocronoestratigráfica apresentada no Quadro 01 resume o empilhamento das rochas presentes na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Os entalhes mais profundos feitos pelos rios como o Araguari, o Grande e o Paranaíba atingem o embasamento do Pré-Cambriano e as formações rochosas, recobertas em grandes extensões pelos sedimentos inconsolidados de Idade Cenozóica, ocupam os diferentes níveis topográficos, desde os topos das chapadas das vertentes até os vales fluviais (BACCARO, 1991). Quadro 01. Litocronoestratigrafia da porção oeste de Minas Gerais Triângulo Mineiro Rochas Pré-Cambrianas Complexo Goiano Grupo Araxá Grupo Canastra Rochas Mesozóicas Grupo São Bento -Formação Botucatu -Formação Serra Geral Grupo Bauru -Formação Uberaba -Formação Adamantina Membro São José do Rio Preto - Formação Marília Membro Ponte Alta Membro Serra da Galga Rochas Cenozóicas Terciário Quaternário Fonte: SANTOS, 2002. Alto Paranaíba Rochas Pré-Cambrianas Complexo Goiano Grupo Araxá Grupo Canastra Grupo Bambuí Rochas Mesozóicas -Formação Aerado -Formação Mata da Corda Fácies Patos Fácies Capacete -Formação Urucuia Intrusivas Alcalinas Rochas Cenozóicas Terciário Quaternário 24 a) Rochas Pré-Cambrianas • Complexo Goiano O Complexo Goiano, formado predominantemente por migmatitos, gnaisses e granitos, possui os tipos litológicos mais antigos da região. • Grupo Araxá Segundo Barbosa et al. (1970), o Grupo Araxá (Pré-Cambriano), compõe-se de metamorfitos de facies epidoto-anfibolito, consistindo essencialmente de micaxistos e quartzitos, com intercalações de anfibolitos, constituídos de duas micas, comumente com predomínio de muscovita e como acessórios granada, que pode se constituir num mineral importante, rutilo, zircão, turmalina e estaurolita, além de cianita, sendo comum se encontrar faixas de xisto com grandes palhetas de muscovita ou concentrações pegmatóides. Já os quartzitos não têm grande expressão e consistem de lentes e leitos delgados. Sua área de ocorrência no Alto Paranaíba vai da cidade homônima até Douradoquara e Abadia dos Dourados, chegando até as regiões Sul e Sudeste de Goiás (SANTOS, 2002). No Triângulo Mineiro a unidade encontra-se recoberta por litologias sedimentares e magmatitos básicos da Bacia Sedimentar do Paraná. Seu afloramento está condicionado às áreas de profundo entalhe fluvial, produzidos pelos rios Paranaíba, Araguari e Quebra Anzol (MARANESI, 2003). • Grupo Canastra Este grupo de metamorfitos é composto de quartzitos e filitos. Os metamorfitos do Grupo Canastra apresentam raras camadas mais espessas de quartzitos puros, predominando em algumas áreas os xistos sobre o quartzito (BARBOSA et al. 1970). Tem sua área de ocorrência em toda a porção sudeste e nordeste da area, desde a Usina Hidrelétrica de Jaguara até o município de Catalão, em Goiás (SANTOS, 2002). • Grupo Bambuí De acordo com LOPES (1995) o Grupo Bambuí (Neoproterozóico) constitui uma cobertura sedimentar de idade neoproterozóica, depositada em um mar epicontinental. Inserese na Bacia do São Francisco, ocupando uma área superior a 200.000 Km2, e constitui uma 25 cobertura de plataforma sobre o Cráton do São Francisco, um extenso núcleo estabilizado ao final do Ciclo Transamazônico e margeado por faixas de dobramento de idade brasiliana Segundo Santos (2002), trata-se de um grupo de rochas neoproterozóicas, com metamorfismo incipiente, que ocorre em toda a porção Norte e Noroeste de Minas Gerais. No Alto Paranaíba elas constituem-se no embasamento sobre o qual assentam-se, discordantemente, as litologias da Bacia Sanfranciscana. Segundo JACOMINE et al. (1976) “No Grupo Bambuí notam-se dois fácies distintos: um preferencial de calcário e outro clástico. O calcário é pouco metamórfico, de coloração normalmente cinza-escura e preta, de granulação fina, algumas vezes média, estratificação em bancos. O fácies clástico consiste de arenitos de granulação variada por vezes conglomeráticos, com intercalações de siltitos, argilitos e ardósias. Estas rochas por vezes estão recobertas por material retrabalhado de natureza variada.” BARBOSA et al. (1970) afirma que Na região a leste de Coromandel, entre o médio e o baixo rio Santo Inácio e o rio Santo Antônio das Minas Vermelhas encontram-se calcários magnesianos e silicosos (...). Nos afloramentos foram vistos pequenos morros rochosos, nos quais as camadas mostram mergulho médio a fraco, ora para N.W., ora para S.W.. Entretanto, as fotografias aéreas mostram que as suas extensões são mais consideráveis. Dentre essas ocorrências, vale citar as seguintes: À margem esquerda do Santo Antônio, alguns quilômetros abaixo do Charneca, em volume à vistade cerca de 1.000.000m3. À direita da rodovia Coromandel-Paracatu, entre a ponte do rio Paranaíba e a entrada da estrada para Alegre, com volume estimado em 600.000m3. À margem direita do rio Santo Antônio, poucos quilômetros acima da barra no Paranaíba, dolomito com “Collenia, volume estimado de 200.000 m3. A análise de um dolomito de Coromandel revelou 28,7% CaO e 19,3% MgO. Esse tipo de calcário ocorre com frequência na base do Grupo Bambuí na bacia do rio São Francisco. De acordo com Santos (2002), no oeste de Minas Gerais, mais especificamente em Coromandel e Lagamar, são encontrados mármores dolomíticos, que são explorados comercialmente como corretivo de solo. O mesmo ocorre com os filitos, que contém colofanita de Lagamar. (Mineração Rocinha – Ultrafértil). Um outro aspecto importante se refere ao relevo cárstico, caracterizado localcmente por uma profusão de grutas e dolinas, sendo o Poço Verde a mais famosa, estudado por Barbosa et al. (1970). 26 b) Rochas Mesozóicas • Grupo São Bento O Grupo São Bento (Mesozóico), acha-se representado pela Formação Botucatu e Formação Serra Geral na região. • Formação Botucatu A Formação Botucatu é constituída de arenitos eólicos de granulação fina a média com grãos bem arredondados, superfície fosca, bem selecionados e com baixa percentagem de finos e composição essencialmente quartzosa. A presença de arenitos silicificados ocorre na borda das escarpas ou em contato direto com os basaltos da Formação Serra Geral (NISHIYAMA, 1991 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002). Sua maior expressão em área está no vale do rio Grande, entre os municípios de Sacramento e Desemboque (SANTOS, 2002). • Formação Serra Geral A Formação Serra Geral é constituída por um conjunto de derrames basálticos toleíticos, entre os quais se intercalam arenitos com as mesmas características dos pertencentes à Formação Botucatu. São formados por rochas de cor cinza escura a negra, afaníticas e mineralogicamente compostas por clinopiroxênio, ripas de plagioclásio e magnetita como acessório principal. A zona central de cada derrame é maciça, fraturada por juntas predominantemente subverticais, enquanto na sua base e topo ocorrem níveis vesículoamigdaloidais (MARANESI, 2003). A Formação Serra Geral possui extensa ocorrência no Triângulo Mineiro, porém encontra-se recoberta em grande extensão por litologias sedimentares mais recentes do Grupo Bauru e sedimentos cenozóicos. Os afloramentos mais expressivos da Formação Serra Geral ocorrem nos vales dos grandes cursos d’água que drenam a região como os rios Grande, Paranaíba e alguns de seus afluentes (NISHIYAMA, 1989 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002). A nordeste do Alto Paranaíba os derrames basálticos vão diminuindo em expressão até desaparecerem por completo na região de Estrela do Sul, Coromandel e Monte Carmelo. O desenvolvimento de patamares interderrames nos vales dos rios Araguari e Uberabinha evidenciam vários episódios de derrames basálticos ocorridos em diferentes eventos. • Grupo Bauru 27 Os sedimentos pós-basálticos do Grupo Bauru (Cretáceo) são representados pelas formações Adamantina, Uberaba e Marília (BARCELOS, 1984). O Grupo Bauru na região do Triângulo Mineiro é composto por sedimentos flúvio-lacustres, depositados sobre basaltos da Formação Serra Geral (Grupo São Bento, Bacia do Paraná) e sotopostos a sedimentos inconsolidados de idade terciária (OLIVEIRA et al. 2006). Formação Adamantina A Formação Adamantina é caracterizada pela sua ampla distribuição geográfica e sua ampla diversidade litológica, cujos fácies sedimentares podem ser relacionadas aos sistemas deposicionais fluviais meandrantes psamítico e pelítico. O sistema meandrante psamítico é composto de arenitos lenticulares formando estratificações cruzadas de pequeno e médio porte (BARCELOS, 1993 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002). No Triangulo Mineiro ocorre apenas o Membro São José do Rio Preto, que é composto por arenitos finos a muito finos, de cor vermelho tijolo e com marcas de ondas assimétricas. Os sedimentos desse membro afloram na margem esquerda do rio Tejuco, entre os municípios de Prata e Uberlândia, Ituiutaba e Monte Alegre de Minas, na parte mais central do Triângulo Mineiro, desaparecendo nas porções norte e nordeste da referida região, conforme Santos (2002 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002). Formação Marília Segundo Suguio (1980 apud BARCELOS, 1984) esta formação é constituída de arenitos finos a grossos, muito imaturos e maciços, apresentando freqüentes nódulos carbonáticos. No Triângulo Mineiro é representada por consideráveis espessuras de arenitos imaturos e conglomerados superpostos a níveis carbonáticos, constituídos de calcário tipo calcrete. Barcelos (1984) propôs a subdivisão da Formação Marília em três membros: Ponte Alta, Serra da Galga na região do do Triângulo Mineiro e Echaporã no estado de São Paulo. Membro Ponte Alta: ocorre no Triângulo Mineiro, em exposições descontínuas, numa faixa de direção NW, de pelo menos 50 km de extensão, que passa nos arredores de Ponte Nova e a nordeste de Uberaba, cruzando a rodovia BR 050. Formado por calcários impuros, designação genérica que agrupa três litotipos básicos, intensamente cimentados por carbonato de cálcio, que lhes confere aspecto geral maciço: 1) calcário arenoso de aspecto maciço, 2) calcário conglomerático de matriz arenosa (conhecidos como “casco-de-burro”), e 3) calcário fino fragmentado. Predominam os calcários arenosos (imaturos), que constituem corpos 28 lenticulares a tabulares, de espessura decimétrica, algumas vezes com estruturas sedimentares - estratificação plano-paralela, prováveis gradações e feições de escavação - mascaradas pela cimentação. Os membros Ponte Alta e Serra da Galga ocorrem intimamente associados (FERNANDES & COIMBRA, 2000). Membro Serra da Galga: ocorre apenas na borda nordeste da bacia (Triângulo Mineiro). Sua espessura máxima atual é da ordem de 110 m (BARBOSA et al. 1970). Formado por arenitos imaturos, grossos a finos, frequentemente conglomeráticos, de cores amarelo pálido a avermelhado; e por lamitos de cor marrom, às vezes com clastos esparsos, imersos na matriz. São constituídos de quartzo, quartzito, calcedônia, nódulos carbonáticos remobilizados, arenitos, pelitos, fragmentos de basalto e outras possíveis rochas ígneas alteradas, além de fragmentos de ossos. Localmente podem estar imbricados. São sustentados por matriz arenosa, em geral com pouca lama. Parte dos clastos são ventifactos (forma tetraédrica, faces planas e foscas). Os arenitos podem estar parcialmente cimentados por CaCO3 e eventualmente, conter crostas de sílex de espessura centimétrica (GRAVINA et al. 2002). Formação Uberaba Segundo Barcelos (1984) esta formação apresenta brecha sedimentar ou conglomerado basal onde se destacam fragmentos de basalto, de granulometria média, com proporções variáveis de granulos e pequenos seirxos. Ocorrem também siltitos e argilitos de cor vermelha em níveis de espessura centimétrica, predominando os termos mais arenosos para o topo. São rochas epiclásticas, segundo a classificação de FISHER (1961) apud (BARCELOS 1984), isto é, rochas vulcanoclásticas que mostram detritos oriundos da erosão de rochas vulcânicas préexistentes misturados com fragmentos de rochas de origem não-vulcânica. Foi observado por Hasui (1968) apud (BARCELOS, 1984) que afirma predominar cimento carbonático na parte basal da sequëncia e no topo, matriz argilosa de colocação verde e/ou vermelha. c) Rochas Cenozóicas • Sedimentos Cenozóicos A cobertura cenozóica é representada em sua maior parte pelos depósitos coluviais argiloarenosos de idade terciária e, secundariamente, pelos depósitos aluviais holocênicos, associados ou não a cones de dejeção. Tais depósitos acham-se assentados discordantemente sobre as unidades geológicas cretácicas (Formação Marília) e jurássicas (Formação Serra 29 Geral) ocupando todos os níveis topográficos, desde os topos das chapadas até o fundo dos vales dos rios e córregos (NISHIYAMA, 1989 apud ANDRADE, 2005). 30 6. ESTADO DA ARTE 6.1. O calcário De acordo com Nahass e Severino (2003, p.14) os calcários são rochas abundantes e ocupam um expressivo volume na crosta terrestre, constituindo cerca de 10 a 15% das rochas sedimentares encontradas, contribuindo com significativa parcela para depósitos metamórficos e ígneos, sendo rochas constituídas, basicamente, por carbonato de cálcio (CaCO3). A calcita e a aragonita são os principais minerais formadores dos calcários, que na maioria das vezes, são formados pelo acúmulo de organismos inferiores (invertebrados, conchas) ou precipitação de carbonato de cálcio na forma de bicarbonatos, principalmente em meio marinho. Também podem ser encontrados em rios, lagos e no subsolo (cavernas). As principais impurezas encontradas no calcário são a sílica, argilas, fosfatos, carbonato de magnésio, gipso, glauconita, fluorita, óxidos de ferro e magnésio, sulfetos, siderita, dolomita e matéria orgânica, entre outros. A coloração passa do branco ao preto, podendo ser cinza claro ou cinza escuro. Muitos calcários apresentam tons de vermelho, amarelo, azul ou verde, dependendo do tipo e quantidade de impurezas que apresentam. Os principais usos do calcário (Quadro 02) são para a produção de cimento, produção de cal (CaO), correção do pH do solo para a agricultura, produção de giz escolar, fundente em metalurgia, fabricação de vidro e como pedra ornamental. QUADRO 02. Quadro dos maiores usos comerciais do calcário Tipo Calcário Puro Composição CaCO3 Formação Deposição sedimentar, pela precipitação de CaCO3 em ambiente marinho. Produzida pela calcinação do calcário para expelir o CO2 e a água. Formado pela adição de água na cal virgem Uso Agregados, agricultura, construção, “filler”, fábrica de cimento Indústria do aço, papel, argamassa, agricultura, mineração de ouro e prata Cal Hidratada ou Ca(OH)2 Indústria do açúcar, Extinta tratamento de água e curtição do couro, agricultura pelo Cimento de concreto de Cal Hidráulica Calcário impuro Produzido subpara construções contendo sílica e aquecimento formar um cimento que aquáticas alumínia permanecerá endurecido em contato com a água Cal, Cal Virgem CaO ou Cal Calcinada Fonte: CHRISTIE, T. et al., 2000 apud NAHASS & SEVERINO (2003, p.16). 31 Franco et al. (2000) apud NAHASS & SEVERINO (2003, p.17) define calcário agrícola como a rocha calcária moída ou pó calcário e seus produtos derivados: calcário calcinado agrícola, cal virgem e hidratada agrícola, escória e outros. Segundo a Secretaria de Fiscalização Agropecuária do Paraná apud NAHASS & SEVERINO (2003, p.17), define-se calcário agrícola segundo sua a concentração de MgO: Calcário Calcítico, quando apresenta teor de MgO menor que 5% e Calcário Dolomítico, com teor de MgO acima de 5%. Recentemente o termo Magnesiano, que compreendia o calcário com teor de MgO entre 5% e 12% de MgO foi extinto. Então o Calcário Dolomítico, que só era assim considerado quando apresentava teor de MgO acima de 12% ficou estipulado como todo calcário que apresente teor de MgO acima de 5%. Este teor/qualidade depende da quantidade, que é medida por um índice conhecido como Poder Relativo de Neutralização Total – PRNT, que é obtido através do PN (Poder de Neutralização) e a RE (Reatividade dada pela granulometria do calcário). O Ministério da Agricultura estabelece quatro faixas de PRNT para efeito de classificação e comercialização de calcário: Faixa A: com PRNT entre 45,0 e 60,0%; Faixa B: com PRNT entre 60,1 e 75,0%; Faixa C: com PRNT entre 75,1 e 90,0%; Faixa D: com PRNT maior que 90,0%. Assim, para se corrigir a acidez do solo, deve-se usar menos calcário quanto maior for o seu PRNT. A extração do calcário se dá a princípio com o reconhecimento expedito das rochas, em especial as rochas carbonáticas, que permitirá definir a extensão de suas ocorrências, sua faciologia, sistemas e ambientes deposicionais e aspectos diagenéticos. A avaliação do tipo de carbonato (dolomítico ou calcítico) norteará seu futuro aproveitamento como corretivo de solo à agricultura, contribuindo para a otimização da oferta e suprimento de insumos minerais à agricultura, o que assegurará o aumento da produtividade e expansão das atividades do setor. 6.2. O calcário e a agricultura brasileira Os solos brasileiros majoritariamente são ácidos, seja pela sua própria natureza, seja em decorrência do uso de sistemas de irrigação e de uso contínuo. A maioria das culturas é tolerante à acidez predominante, que não impede o seu desenvolvimento, porém é um entrave à produção em larga escala, pois é em ambiente de neutralidade que as plantas adquirem máxima produtividade devido a maior fixação de fósforo no solo. Segundo o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento, a projeção do consumo de calcário é influenciada por tendências contraditórias, de um lado, a crescente adoção do plantio direto reduz a intensidade do uso de calcário e por outro lado, o aumento da integração 32 lavoura-pecuária e a expansão da fronteira agrícola apontam para a ampliação do consumo. A tendência resultante pende para um acréscimo na demanda. Em abertura de áreas e na recuperação de áreas degradadas, a calagem é um procedimento oneroso, pois demanda maquinário pesado para sua profunda incorporação. Por isso, enquanto o uso do calcário está associado ao fator solo, os outros insumos utilizados na agricultura estão diretamente ligados à produtividade. O que na verdade ocorre é que a utilização de ambos vem trazendo benefícios extras aos observados na aplicação isolada ou deficiente de calcário, pois este melhora a absorção de nutrientes. Vale ressaltar que a calagem não substitui nenhuma outra prática necessária e, portanto, não é capaz de isoladamente aumentar e manter altos rendimentos das culturas. Os resultados das pesquisas no Brasil mostram que os maiores benefícios da calagem são obtidos quando ela é utilizada em conjunto com outras práticas agrícolas, dentro de um plano racional de uso da terra. Segundo a ABRACAL – Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola, o incremento de volume de produção, que pode ser obtido, anualmente, na ordem de 18,89 milhões de toneladas de grãos e, no valor de US$ 2,7 bilhões, provocado pelo efeito do uso da calagem, demonstra de forma clara o beneficio econômico que pode a agricultura atingir, quando conduzida adequadamente dentro de padrões tecnológicos, de pleno domínio, na atualidade, pela extensão rural e pelos corpos técnicos do agribusiness. Nessa proporção não foram incluídos os ganhos de cultivos como os de citros, algodão, feijão, café, olerícolas e outros. Isso representaria, anualmente, baseando-se na mesma área produzida, um incremento de aproximadamente 30% de ganho de produtividade em grãos e, obviamente, ganhos nas outras lavouras, citadas anteriormente. Há possibilidade de se incrementar o volume da produção agrícola brasileira no médio prazo, desde que se admita que o uso de insumos como o calcário, a semente de boa qualidade e o fertilizante, estejam sendo usados em níveis muito inferiores do mínimo necessário para sustentar rendimentos apenas razoáveis. Segundo dados da ABRACAL, tomada toda a área agrícola brasileira, o calcário sequer atinge 500kg/ha, enquanto deveria estar situado entre 1.000-1.500kg/ha. Para um cenário de média utilização, dever-se-ia buscar o patamar de 1.500-2.500kg/ha e para um cenário de alto emprego de insumos face à carência de nossos solos, atingir níveis de 2.5004.000kg/ha/ano. Entidades do setor tem atuado junto ao Governo Federal com propostas, a exemplo o PLANACAL - Plano Nacional de Calcário Agrícola, fundado sob a ótica da produtividade 33 agrícola, da qualidade do melo ambiente e da competitividade, tendo como objetivos melhorar e conservar a capacidade de produção dos solos, preservando o meio ambiente e a qualidade de vida no meio rural; esclarecer aos agricultores sobre os benefícios da calagem à agricultura, e sobre os ganhos de rentabilidade que podem ser atingidos com seu uso racional; e estabelecer relações de parceria entre sindicatos da indústria de calcário, governos municipais, estaduais e federal, cooperativas e entidades de classe do setor primário, para promover a educação do produtor e definir rotinas sobre a prática da calagem e seus benefícios. Busca estimular o uso de corretivo e ainda reduzir a capacidade ociosa do setor. Pretender elevar volumes de produção sem o uso da calagem nos solos brasileiros, mesmo que adotando outras tecnologias, ter-se-ia como opção a incorporação de novas áreas de cultivo, cujo impacto ambiental pode assumir proporções que a vantagem econômica a ser conseguida não compense a agressão ao meio ambiente, sem contar os custos com fretes, investimentos em infraestrutura e armazenagem, beneficiamento e deslocamento dos produtos e matérias-primas para os principais centros consumidores. Segundo Nahass & Severino (2003, p.43-64) outros planos foram implementados, porém todos não tão eficazes: Operação Tatu, realizada no Rio Grande do Sul a fim de difundir as vantagens do uso do calcário agrícola na década de 60; PROCAL – Programa Nacional de Calcário Agrícola, na década de 70, que visava o aumento da oferta do insumo pela modernização e expansão do parque moageiro e pelo significativo incremento no uso do calcário pelos produtores rurais, infelizmente foi interrompido, entre outras causas, e igualmente à Operação Tatu, por denúncias de malversação do recurso público; PROSOLO – Programa de incentivo ao uso de corretivos de solos, fruto do PLANACAL, na década de 80 até 2002, financiamento de aquisição, transporte e aplicação de corretivos de solo e gastos com adubação verde; PROPASTO – Programa Nacional de Recuperação de Pastagens Degradadas, criado em 2001, para a recuperação de pastagens degradadas, como o próprio nome diz. 6.3. Capacidade de oferta da indústria Autoridades governamentais e empresários, na metade da década de 70, quando atuaram em parceria para promoverem mudanças, já apostavam que a demanda da agricultura brasileira atingiria volume próximo aos 26 milhões de toneladas de calcário agrícola no anosafra de 1984. Mas o que então teria ocorrido com tais convicções sobre essas necessidades, já que esse patamar só foi alcançado no ano de 2003, superado em 2004 e retrocedendo nos anos seguintes? 34 Segundo informações da ABRACAL, em 2006 foram produzidas 16.736 toneladas de calcário e em 2007 houve um crescimento da produção interna de 30,5%, quando comparada à de 2006, fechando em 21.844 toneladas, mas longe ainda da produção alcançada em 2003. Essa produção distribui-se no país, por região, conforme Quadro 03. Quadro 03. Estrutura da produção brasileira de calcário por região em 2006 Região Sudeste Centro-Oeste Sul Norte Nordeste Porcentagem da participação na produção nacional total 33,2% 31,8% 26% 5,3% 3,7 Fonte: ABRACAL, 2006 Entre os recursos minerais brasileiros, o calcário está entre aqueles para os quais não há muito motivo para se supor qualquer tipo de carência, mesmo a longo prazo. No momento, as reservas já conhecidas são enormes, localizadas estrategicamente para a agricultura de ponta no momento e tendem a se ampliar, à medida que a pesquisa de prospecção avance em todo o território. Capacidade instalada e conhecimento empresarial sobre esse ramo de negócios já existem, o que está faltando, segundo entidades do setor, é um impulso de estímulo para que haja o deslanche do setor. 6.4. Evolução do consumo Conclui-se que a partir das safras agrícolas de 1990, o crescimento do consumo de calcário se deve fundamentalmente ao surgimento de um novo hábito do consumidor rural, ainda tímido, pela busca da qualidade e que precisa ser estimulado, mas pouco tem sido feito pelas autoridades para instigar o avanço nessa direção. Dados do MAPA e da ABRACAL mostram que a estrutura do setor consumidor de calcário agrícola mantém a mesma ordem regional de importância do setor produtor, mas com alguma alteração nos percentuais; o Sudeste consumiu em 2007 cerca de 44%, o Centro-Oeste 24%, o Sul 19% e as regiões Norte e Nordeste o restante. Estudos realizados pelo setor produtor constataram que setor agrícola teria capacidade de absorver anualmente cerca de 70 milhões de toneladas, para uma capacidade instalada total de moagem no país na ordem de 50 milhões de toneladas/ano, entretanto, o setor consumidor se utilizou em 2007 de apenas 40% da capacidade instalada. (Tabela 01) 35 TABELA 01. Principais Estatísticas- Brasil Discriminação Produção Calcário agrícola Consumo Aparente Calcário agrícola Calcário agrícola (c ) Preço médio (c) Calcário agrícola (c ) (1.000t) (1.000t) (R$/t) (U$/t) 2005 (a) 17.120 16.987 23,34 9,76 2006 (a) 16.736 16.849 22,74 10,45 2007 (b) 21.844 21.187 25,43 13,02 Fontes: (a) ABRACAL/SINDICALC-RS; (b) CFIC/SDA/MAPA; (c) SINDICAL Adaptado de DNPM (2008) 6.5. Preço - a questão do frete Se comparado com os outros insumos usados na agricultura, o calcário é um produto barato em termos de preço por peso, porém diversos fatores influenciam para que se torne um item de oneroso nos custos de produção. Em primeiro lugar, para correção de solo em abertura ou recuperação de área, a quantidade usada é, em geral, três vezes maior que a usada normalmente para as culturas. Porém, se o uso se dá para fornecimento de Cálcio e Magnésio, a quantidade pode ser de 25% a 50% inferior (FAVERET et al.,1997). O fator que mais influencia no preço do calcário é o frete. Ele é determinado pela distância da região produtora do insumo e da possibilidade de uso de frete de retorno O mapeamento feito no Estudo Nacional do Calcário Agrícola (FEALQ, dez/83) apud (FAVERET et al.,1997) demonstra que a maior parte das moageiras encontram-se às margens das rodovias que servem de escoamento da produção de grãos na região Centro-Sul, facilitando, portanto, o uso do frete de retorno para baratear os custos finais do calcário. Mesmo assim, o valor do frete pode representar de 26% a 67% do preço final, dependendo da distância. O preço do frete costuma guardar uma relação tonelada/km invertida, ou seja, quanto menor a distância maior o custo por quilômetro. Além disso, nota-se que os preços, em regiões de maior produção de grãos e disponibilidade de calcário, são bastante inferiores. Diante disso é de extrema importância que em regiões que possuem jazidas de calcário seja desenvolvido um mecanismo de fornecimento local de tal mineral, desonerando seu uso, sua distribuição, oferecendo preço viável ao produtor rural. 6.6. A questão do calcário Seja para correção da acidez do solo ou para fornecimento de cálcio e magnésio, o uso do calcário tem influência importante sobre a produtividade agrícola. A recomendação técnica 36 e a constatação prática dos produtores levam a uma crescente, porém ainda insuficiente utilização do insumo. A falta de capacidade de financiamento por parte das moageiras sugere a dependência de linhas de crédito para colocação do produto. Nota-se, entretanto, que a agricultura busca cada vez mais ser menos dependente do crédito oficial. Um indicador é a recuperação do consumo de calcário em 1996 (de 12,2 para 15,6 milhões de toneladas - 28%), apesar da virtual indisponibilidade de crédito rural para investimento. Porém, a maioria dos agricultores utiliza o crédito de custeio para financiar, parcialmente, o calcário. Quando a aplicação é de manutenção, não há muito problema, pois o custo do calcário nos gastos chega no máximo a 15%. Em abertura de área, o alto volume de recursos demandado pelo calcário, que pode chegar a 35% do total, não se permite a utilização das linhas de custeio. Torna-se importante implementar um plano de financiamento para o setor e um acompanhamento dos ciclos de calagem e do desempenho financeiro da safra que, havendo queda da renda agrícola, evite-se instalar um ciclo vicioso, onde o produtor, por falta de recursos, aplique menos calcário, diminuindo a produtividade e, conseqüentemente, diminuindo mais ainda renda. 6.7. O calcário da porção oeste de Minas Gerais A porção oeste de Minas Gerais é conhecida por apresentar várias jazidas de calcário exploradas como matéria-prima na fabricação de cimento (Lafarge – Fábrica de Cimento Ponte Alta - MG), e principalmente para agricultura como corretivo de acidez de solo (Calcário Triângulo e Ercal). Estudos acadêmicos sobre a origem, evolução diagenética e conteúdo paleontológico dos calcários dessa região foram apresentados por diversos autores, entre eles SUGUIO (1973), SUGUIO et al .(1975) SUGUIO et al .(1980), SUGUIO & BARCELOS (1983), BARCELOS (1984), SILVA et al. (1994), GOLDBERG & GARCIA (1994), ALVES et al.(1993), ALVES (1995), ALVES & GOMES (1995), ETCHEBEHERE et al. (1999), apud BATEZELLI (2003). No âmbito da prospecção mineral e avaliação do potencial econômico, as pesquisas já realizadas na área se devem exclusivamente às empresas instaladas, sendo que os dados disponíveis para consulta pública se restringem a poucas informações sobre teor de pureza e magnésio do minério. 37 Não há pretensão de apresentar informações revolucionárias a respeito dessas jazidas, já que os dados obtidos não apresentam um grau de detalhamento expressivo. No entanto, a partir desses dados algumas análises são elaboradas a fim de se desenhar um perfil mais claro dessa dinâmica do calcário da região. A importância de Uberaba e Coromandel como distribuidores de calcário para regiões agrícolas pólos de tecnologia, produção e processamento se faz destaque. Entender a dinâmica aplicada e suas características é fato relevante para a continuidade desse destaque nacional que a agricultura local possui. De nada vale altas tecnologias em sementes e maquinários se o solo não está propício a receber todo esse investimento. O calcário é sem dúvida um dos grandes responsáveis por todo desenvolvimento regional. 6.8. O comércio de calcário: Calcário Triângulo e Ercal – Empresas Reunidas de Calcários Ltda. O Calcário Triângulo e a Ercal, presentes na região há cerca de 30 anos, faz parte do Grupo Montividiu, grupo econômico atuante no segmento de mineração, pecuária, agricultura, capacetes automobilísticos, e “shopping center”. Este grupo produz o calcário agrícola em 18 unidades, com jazidas próprias, espalhadas pelos estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Distrito Federal, além da Serra Branca, unidade produtora de calcário nutricional e cargas minerais para fins industriais. Algumas destas unidades também produzem brita para construção civil e pavimentação. As unidades do grupo, em (um) ano juntas chegaram a extrair de suas jazidas em torno de 2.500.000 toneladas de pedra calcária, as quais foram destinadas à produção do calcário agrícola, brita, calcário nutricional e industrial. As empresas mineradoras do grupo são: Britacal Indústria e Comércio de Brita e Calcário Brasília Ltda.(Brasília/DF) com cinco usinas em atividade, Enfol – Empresa de Mineração Formosa Ltda. (Formosa/GO), Americal – Mineradora Americal (Posse/GO) Calta – Calcário Taguatinga Ltda. (Taguatinga/TO), Calcário Triângulo Indústria e Comércio Ltda. (Uberaba/MG) com uma usina, Elba Calcário Ltda. (Montividiu/GO), Calcário Santa Tereza Ltda. (Formoso/GO), Calcário Cristalândia Ltda. (Lagoa da Confusão/TO), Ercal – Empresas Reunidas de Calcário Ltda. (Coromandel/MG) com duas usinas e Mineração de Calcário Montividiu Ltda. (Goiânia-GO) com quatro usinas em atividade. O Calcário Triângulo e a Ercal possuem histórico empresarial familiar, porém vem sofrendo mudanças na gerência dos negócios, buscando um perfil empresarial. Tiveram como estratégia na região a exploração de jazidas de calcário que possuem alta qualidade de 38 produto, além de calcários distintos, como o calcítio de Uberaba e o dolomítico de Coromandel, o que torna a empresa totalmente eficiente no que se refere às necessidades do produtor rural que, como descrito anteriormente, deve se orientar através da análise de solo para saber qual o tipo de calcário e seus percentuais de PRNT utilizar. Com isso, o Calcário Triângulo e a Ercal usam da estratégia chamada blendagem, que é a mistura dos calcários calcítico e dolomítico, dependendo da necessidade de cálcio e magnésio. Suas unidades são distribuídas da seguinte forma: a) Uberlândia - Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda e Ercal - Empresas Reunidas de Calcário Ltda. Escritório Matriz: Av. Com. Alexandrino Garcia, 1600/1604 b) Uberaba – Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda Unidade de Processamento: Rod. BR 050, Km 124 Jazida - Coordenadas Geográficas: Latitude 19°20'30”S e Longitude 48°05'39”W c) Coromandel – Ercal - Empresas Reunidas de Calcário Ltda. Filial 7 (Escritório): R. Domingos Lacerda, 706 Filial 8 (Transportadora): Rod. MG-188, Km 135 Filial 1 (Jazida): Fazenda Santa Cruz – Fundão Coordenadas Geográficas: Latitude 18°16'55”S e Longitude 47°05'17”W Filial 4 (Jazida): Fazenda Figueireda Coordenadas Geográficas: Latitude 18°23'39”S e Longitude 47°10'33”W Possui 1 jazida e 3 filiais desativadas Cada unidade possui CNPJ e Inscrição Estadual distintos, utilizam os dois nomes comerciais, porém todas as ações são determinadas em conjunto a fim de inclusive, otimizar custos. 39 7. RESULTADOS E DISCUSSÕES 7.1. O calcário e a área de estudo Tem-se na região oeste de Minas Gerais a presença de jazidas significativas de calcário agrícola nas cidades de Araguari, Lagamar, Vazante, Patos de Minas, Paracatu, Varjão, Uberaba e Coromandel, como se pode observar no Quadro 04. Elas atendem principalmente os mercados próximos, já que o frete interfere de forma decisiva na aquisição do calcário. QUADRO 04. Empresas de Calcário no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, minas e porte Portes das minas Grandes Médias Pequenas Classes G2 G1 M4 M3 M2 M1 P3 P2 P1 Produção Bruta (ROM* t/ano) Menor ou Maior que igual a 3.000.000 1.000.000 3.000.000 500.000 1.000.000 300.000 500.000 150.000 300.000 100.000 150.000 50.000 100.000 20.000 50.000 10.000 20.000 Empresa Cala-Calcário Lagamar Ind. Com. Ltda Ultracal Indústria e Comércio Ltda Britacal Ind. Com. Brita Calcário BSB Ltda Ercal - Empresas Reunidas de Calcário Ltda Indústria de Calcário Inaê Ltda Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda. Partecal Partezani Calcários Ltda Ercal - Empresas Reunidas de Calcário Ltda Mina UF Município Porte Mina da Matinha MG Lagamar Ribeirão Andrade MG Varjão de Minas M3 Mina F5 MG Unaí M4 Figueireda MG Coromandel M4 Fazenda Lagoa Rica Fazenda Bom Jardim MG Paracatu M4 MG Uberaba P1 Partezani -Vazante MG Vazante P1 Santa Cruz MG Coromandel P3 M3 * ROM – Produção Bruta Anual saída da boca da mina (Run of Mine) Fonte: Anuario Mineral Brasileiro, 2006. Destaque importante, e objeto deste estudo, são as jazidas de Uberaba e Coromandel, que além de pertencerem ao mesmo grupo comercial, desempenham o papel de fornecedoras local e para regiões vizinhas (Figura 03). 40 FIGURA 03. Localização das jazidas de calcário de Uberaba-MG e Coromandel-MG e área de influência . 41 O potencial mineral de calcário de Uberaba-MG foi disponibilizado pelo DNPM (Tabela 02) e mostra as reservas do município em 2006, o que inclui jazidas de calcário para os diversos usos, principalmente agrícola e cimento. TABELA 02. Reservas Minerais de Calcário no município de Uberaba-MG Município Uberaba Medida (t) 38.958.238 Reservas 2006 Indicada (t) Inferida (t) 8.237.655 17.400.099 Lavrável (t) 38.958.238 Fonte: Anuário Mineral Brasileiro, 2006. 7.2. Localização, caracterização das jazidas e unidades de processamento 7.2.1. Calcário de Uberaba Provenientes da Membro Ponte Alta, da Formação Marília, Grupo Bauru, são calcários tipo calcrete, conhecidos sob a designação popular “casco de burro”. Contém muitas vezes impurezas arenosas de quartzo e seixos bem arredondados de quartzo, quartzito e sílex. São comuns as feições nodulares e manchas parcialmente arenosas, conferindo-lhes coloração mosqueada. Comumente apresentam-se como corpos lenticulares de extensão restrita, mas onde o seu desenvolvimento é maior associam-se-lhes calcários muito puros de provável origem lacustre. (BARCELOS, 1984) Em Uberaba existe 01 (uma) jazida em atividade, indicada pelo DNPM como P1 pequeno porte, potencial entre 10.000 e 20.000 tn (ROM t/ano), explorada desde 1974 e uma unidade de beneficiamento, sob a razão social Calcário Triângulo Indústria e Comércio Ltda. A jazida de calcário está localizada a 5 km da margem da BR 050, que liga as cidades de Uberaba e Uberlândia, sentido Uberlândia-Uberaba, no Km 124, Latitude 19° 20”30’ S e Longitude 40° 05”39’ W. A unidade de beneficiamento está localizada na mesma direção da jazida, porém na margem contrária da rodovia. 7.2.1.1. Processo Extrativo Trata-se de uma jazida de exploração a céu aberto (Figura 04), de onde se extrai um calcário claro (Figura 05), com drusas de calcita hialina, considerado calcítico, por ter em sua composição teor de MgO inferior a 5%. 42 Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 FIGURA 04. Vista geral da jazida de calcário localizada em Uberaba-MG. Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 FIGURA 05. Pedras extraídas da jazida de calcário em Uberaba-MG. 43 Na massa geral dos bancos de calcário encontram-se lentes de conglomerado cheio de seixos predominantes de arenito fino a médio, rosado, além de outros de quartzo e quartzito. (Figura 06) Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 FIGURA 06. Calcrete, popularmente conhecido como “casco de burro”em Uberaba-MG. O nível carbonático se apresenta sobreposto por arenitos. Por isso, primeiramente fazse o decapeamento da camada de solo sobre a rocha, através de escavadeiras e/ou tratores de esteira. A extração da rocha se dá através da perfuração de buracos profundos nas rochas, através de perfuratriz pneumática e/ou compressores, onde são colocados explosivos a fim fragmentar a rocha em pedaços com dimensões menores do que a entrada do britador primário (Figura 07). Há então a fragmentação secundária, que consiste em diminuir o tamanho das pedras, através de um rompedor mecânico acoplado a uma escavadeira, para que se possa fazer uma melhor seleção das pedras a serem transportadas para a unidade de beneficiamento por caminhões (Figura 08). 44 Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 FIGURA 07. Perfuração de buracos profundos nas rochas para colocação de explosivos, em Uberaba-MG. Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 FIGURA 08. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de beneficiamento de Uberaba-MG. 45 7.2.2. Calcário de Coromandel Proveniente do Grupo Bambuí, o calcário é pouco metamórfico, de coloração normalmente cinza-escura e preta, de granulação fina, algumas vezes média, estratificação em bancos. Em Coromandel existem 02 (duas) jazidas em atividade e 01 (uma) desativada (que já alcançou seu limite de extração economicamente viável) e 2 (duas) unidades de beneficiamento, localizadas junto às jazidas. Exploradas desde a década de 80, estão sob a razão social Ercal – Empresas Reunidas de Calcário Ltda. Estão localizadas na zona rural de Coromandel-MG, uma na Fazenda Santa Cruz, Rod. MG 188, Latitude 18°16’55” S e Longitude 47°05’17” W, considerada pelo DNPM como P3- pequeno porte, potencial entre 50.000 a 100.00 (ROM t/ano) e a outra na Fazenda Figueireda, Rod. MG 188, Latitude 18°23’39” S e Longitude 47°10’33” W considerada pelo DNPM como M4 – médio porte, potencial entre 500.000 a 1.000.000 t (ROM t/ano). Ambas estão localizadas em complexos que abrigam jazida e unidade de beneficiamento. Por se tratar a Jazida da Fazenda Figueireda a maior jazida da Ercal, também é dela o detalhamento realizado abaixo. 7.2.2.1. Processo Extrativo Trata-se de uma jazida de exploração a céu aberto (Figura 09), de onde se extrai um calcário cinza a cinza-escuro (Figura 10), considerado dolomítico, por ter em sua composição teor de MgO superior a 5% Notam-se dois fácies distintos: um preferencial de calcário e outro clástico. O fácies clástico consiste de arenitos de granulação variada por vezes conglomeráticos, com intercalações de siltitos, argilitos e ardósias. Estas rochas por vezes estão recobertas por material retrabalhado de natureza variada (Figura 11). Por isso, para a exploração da rocha calcária primeiramente faz-se o decapeamento da camada de solo sobre a rocha, através de escavadeiras e/ou tratores de esteira. Em Coromandel devido a grande quantidade de material retirado, existe uma grande área de deposição do mesmo (Figura 12) 46 Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 09. Vista geral da jazida de calcário localizada em Coromandel-MG. Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 10. Pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG. 47 Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 11. Detalhe para deposição de materiais distintos da jazida de calcário em Coromandel-MG. Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 12. Local onde é depositado o material de decapeamento da jazida de CoromandelMG. 48 A extração do calcário se dá através de perfuração de buracos profundos nas rochas, através de perfuratriz pneumática e/ou compressores, onde são colocados explosivos a fim fragmentar a rocha em pedaços com dimensões menores do que a entrada do britador primário. Há então a fragmentação secundária, que consiste em diminuir o tamanho das pedras, através de um rompedor mecânico acoplado a uma escavadeira, para que se possa fazer uma melhor seleção de pedras (Figura 13) e transportadas para a unidade de beneficiamento por caminhões (Figura 14). Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 13. Separação das pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG. 49 Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 14. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de beneficiamento de Coromandel-MG. 7.2.3. Beneficiamento A utilização das jazidas se dá de acordo com a demanda do produto no mercado, e esta é influenciada pelo setor agrícola e toda a dinâmica política e econômica que o envolve. O processo produtivo se desenvolve em algumas fases (Figura 15), sendo estas semelhantes em todas as unidades de beneficiamento do grupo: 1ª Fase: As pedras são transportadas ao britador que alimenta a britagem primária, onde sofre mais uma diminuição de tamanho. (Figura 16) 2ª Fase:: O material, de tamanho reduzido, é transportado através de correias para a britagem secundária. (Figura 17) 3ª Fase:: O material, passa por um peneiramento para possível rebritagem. 4ª Fase: Posteriormente o material é conduzido para silos ou pilhas de homogeneização, através de correias ou teleférico. (Figura 18) 50 Fonte: SINTONI & VALVERDE, 1978 apud PEREIRA, 2002 FIGURA 15 – Fluxograma básico da fabricação do pó corretivo 51 Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 e 2009 FIGURA 16. Local do transporte das pedras ao britador, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente. Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 17. Transporte de material através de correias para a britagem secundária, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG. 52 Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 18. Condução do material, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente As fábricas funcionam em média, de 6 a 7 meses por ano, em geral de maio a novembro, podendo chegar a um regime de até 23 horas/dia, buscando conciliar seu ritmo com a prática agrícola regional, procurando atender durante o período de preparo do solo e nutrição da planta, já que não se opta pela estocagem do produto, que seria onerosa diante da dinâmica da demanda do mercado. Os funcionários são dispensados e recontratados no retorno das atividades, que na maioria dos casos utilizam o seguro-desemprego como fonte de renda nesse período sem atividade. 7.2.4. Qualidade do produto Segundo LOPES et al. (1991) dentre as diversas características dos corretivos de acidez dos solos relacionados com a qualidade, duas se mostram as mais importantes: a granulometria e o teor de neutralizantes, as quais determinam o Poder Relativo de Neutralização Total do corretivo, o PRNT, obtido através daa equação PRNT = (PN x RE) /100 (LOPES et al. 1991) A legislação atual ainda determina que os corretivos comercializados deverão possuir as características mínimas da Tabela 03. 53 TABELA 03. Características mínimas exigidas para comercialização corretivos agrícolas Materiais Corretivos da acidez Calcários Cal virgem agrícola Cal hidratada agrícola Escórias Calcário calcinado agrícola Outros PN % em CaCO3 67 125 94 60 80 67 Soma % Ca + % MgO 38 68 50 30 43 38 Fonte: LOPES et al. 1991 Quanto à concentração de MgO, os calcários podem ser classificados como: a) Comercialmente: calcítico – menos de 5% magnesiano – de 5% a 12% dolomítico – acima de 12% b) Oficialmente calcítrico – menos de 5% dolomítico – acima de 5% Muitos afirmam que extinguiram o termo magnesiano para favorecer as siderúrgicas que produzem anualmente no Brasil cerca de 3 milhões de toneladas de escória, que tem como uma das possibilidades de uso a correção de solos e é oferecida a valores relativamente baixos nesse mercado. Padronizar somente dois tipos de produtos facilitaria o enquadramento da escória no mercado, sem contar que o calcário magnesiano era tido, mistificadamente, como o melhor produto, independente de análise de solo. Mudando esse conceito poderia então facilitar a entrada no mercado para a concorrente escória, desconsiderando a presença de metais pesados como o chumbo que representa possíveis riscos para a saúde quando usado para produção de alimentos. Quanto ao PRNT do calcário, tem-se como parâmetro: a) PRNT entre 45,0% a 60,0% b) PRNT entre 60,1% a 75,0% c) PRNT entre 75,1% a 90,0% d) PRNT superior a 90,0% Mesmo que exista a recomendação do uso de calcários com PRNT 100%, pois quanto menor o PRNT do produto, maior a quantidade a ser aplicada, deve-se considerar o 54 custo/benefício e para isso, é extremamente importante que o produtor rural tenha o hábito de realizar análises de solo para conhecer as reais necessidades do mesmo. Para atender os produtores e suas reais necessidades, o Calcário Triângulo e a Ercal fazem análises periódicas de suas jazidas (Tabela 04 e Tabela 05) e utilizam da blendagem de seus produtos. Tal prática ocorre em Uberaba e Coromandel, que dispõem dos dois produtos em seus pátios (Figura 19) TABELA 04. Média de análises realizadas no produto calcítico de Uberaba-MG Data (mês/dia/ano) 06/20/2007 03/05/2008 07/03/2008 08/13/2008 09/18/2008 02/27/2009 Média MgO% 3.20 2.40 2.30 3.80 3.60 2.50 2.97 CaO% 35.30 35.80 36.70 36.20 36.50 36.60 36.18 Re% 88.07 89.71 86.59 87.44 87.46 91.00 88.38 PRNT% 62.40 62.70 52.90 70.80 62.45 70.50 63.63 Fonte: Laboratório de Análises Nitrosolo – Uberaba(MG). Org.: Ercal TABELA 05. Média de análises realizadas no produto dolomítico de Coromandel-MG Data (mês/dia/ano) 11/09/2000 02/14/2001 03/19/2001 03/31/2001 04/18/2001 07/18/2001 07/20/2001 09/03/2002 09/18/2002 04/02/2003 04/08/2003 06/21/2003 09/02/2003 11/02/2003 11/12/2003 11/17/2003 01/31/2004 05/24/2004 06/08/2004 06/30/2004 04/30/2004 08/24/2004 08/24/2004 09/16/2004 10/11/2004 MgO% 21.00 16.93 18.60 16.10 16.10 19.50 16.50 20.90 17.50 19.80 20.60 18.80 19.20 19.80 19.10 19.10 19.10 18.30 19.20 19.20 18.70 17.70 21.90 19.60 19.00 CaO% 30.08 30.00 27.70 30.00 32.00 25.80 32.00 27.70 28.00 28.80 31.80 26.60 35.90 28.80 26.70 26.70 28.60 35.30 31.20 34.70 34.70 31.00 33.30 27.60 33.60 Re% 88.45 83.84 91.20 92.77 88.19 92.10 88.35 92.45 89.21 89.30 89.97 98.70 89.40 99.97 85.30 89.30 96.50 87.15 89.22 90.20 89.51 99.97 88.50 97.80 100.00 PRNT% 85.00 80.26 76.30 87.00 85.70 76.50 86.80 80.70 75.20 84.10 94.90 74.60 106.20 84.10 75.10 75.10 81.70 94.50 92.30 104.30 97.20 99.30 100.80 91.00 107.40 55 Data (mês/dia/ano) 10/26/2004 03/03/2005 05/04/2005 06/10/2005 06/15/2005 06/27/2009 07/12/2005 07/14/2005 07/21/2005 08/18/2005 08/18/2005 08/31/2005 09/16/2005 10/27/2005 04/27/2006 06/26/2006 07/24/2006 08/28/2006 10/18/2006 03/28/2007 04/30/2007 05/30/2007 06/30/2004 07/11/2007 10/23/2007 04/05/2008 08/07/2008 08/13/2008 09/15/2008 Média MgO% 19.36 20.00 18.00 16.00 22.18 20.00 19.00 18.80 20.00 19.60 18.40 17.20 18.80 16.40 18.40 19.20 17.60 18.40 15.70 19.80 18.40 19.50 19.30 16.90 17.30 19.00 18.80 19.20 20.00 18.77 CaO% 29.48 36.50 36.50 39.30 30.00 28.00 32.30 28.90 30.60 30.20 32.50 31.90 30.80 29.10 28.60 30.80 28.70 29.70 26.90 33.60 29.70 29.40 28.00 33.60 32.50 33.00 26.60 27.40 29.60 30.61 Re% 86.40 84.22 84.02 100.00 88.28 95.20 89.67 89.43 91.65 100.00 88.46 89.92 88.76 87.92 89.19 88.76 88.00 88.44 100.00 90.99 88.44 85.60 91.39 88.70 88.95 87.18 91.99 91.52 91.89 90.78 PRNT% 83.70 96.80 92.30 109.90 83.85 91.60 94.10 88.00 95.70 102.80 91.80 89.80 90.40 81.60 86.40 90.40 86.00 87.40 87.20 90.80 87.40 84.00 89.70 90.60 90.00 96.80 92.20 90.20 93.70 89.47 Fonte: Laboratório de Análises Nitrosolo – Uberaba(MG). Org.: Ercal Pode-se observar que os dois produtos atendem as exigências legais de qualidade e quando misturados, também incorporam características para um PRNT elevado. Os produtos oferecidos pela Ercal atendem todas as exigências e há inclusive profissionais capacitados a orientar o produtor quanto à sua análise de solo, PRNT e RE de seus produtos e a adequação para suas necessidades. Calcário Triângulo e Ercal produzem em média 400.000 tn de calcário por ano, sendo este número flutuante frente às oscilações da economia. 56 Foto: Adriana Maria da Silva, 2009 FIGURA 19. Disposição do calcário dolomítico (escuro) de Coromandel e do calcário calcítico de Uberaba-MG em pátio de usina de Coromandel-MG. 7.3. Perfil Empresarial 7.3.1. Potencial extrativo Informações acerca do tempo de licenciamento das jazidas exploradas pela Ercal/Calcário Triângulo não foram fornecidas. O que se sabe e já foi citado é porte das jazidas lavradas e que de acordo com as resoluções do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), regidas pela Lei n° 6.567 de 24 de setembro de 1978, fica determinado que o aproveitamento das rochas calcárias na construção civil ou no emprego como corretivo de solos na agricultura, pode ser feito pelo Regime de Licenciamento ou Autorização/Concessão, adstrito à área máxima de cinqüenta (50) hectares, por área solicitada. No caso do Licenciamento, o proprietário do solo tem preferência praticamente exclusiva para o seu aproveitamento. Além dele, somente pessoas ou empresas por ele expressamente autorizadas podem efetuar esse aproveitamento, ou seja, existe mais este encargo a ser pago ao superficiário, quando a empresa não detém a propriedade da área. É fato comprovado a favorabilidade das áreas de mineração do calcário em Uberaba e Coromandel e seus potenciais metalogenético, e o que se pôde perceber foi que os investimentos realizados nas unidades visitadas sugerem um grande potencial. A busca por uma postura competitiva e pela referência no mercado regional é sem dúvida a resposta da 57 potencialidade de muitos anos de extração, além de licenças de pesquisa. A afirmação obtida é que enquanto houver demanda e capacidade de extração, estarão investindo no ramo. As unidades geológicas em questão, Grupo Bauru em Uberaba e Grupo Bambuí em Coromandel constituem um dos mais importantes pólos de mineração de rochas calcárias para a produção de calcário agrícola no Estado de Minas Gerais. Se por um lado a qualidade das rochas tem propiciado o desenvolvimento das atividades mineiras na região, por outro, o frete tem contribuído para a entrada de produtos extraídos fora da região, como foi verificado. 7.3.2. Arcos-MG, suas jazidas e a “concorrência x concorrência” A formação territorial brasileira, devido à sua configuração geográfica e às particularidades históricas, é fortemente marcada por enormes desafios em termos de conhecimento do meio, uso do território, ocupação de fundos territoriais (Moraes, 2002) Temos um país de proporções continentais e um sistema de transporte que prioriza o setor rodoviário em detrimento do ferroviário e hidroviário, muito mais baratos. Sem contar a precariedade das estradas e a falta de investimentos no setor. Por mais que se tenha grande disponibilidade de jazidas de calcário no território brasileiro, existem regiões onde não há disponibilidade suficiente e existe uma grande demanda do produto, sendo necessária a compra, muitas vezes, em outros estados. Caso assim ocorre com o Estado do Mato Grosso, que consome bastante calcário devido a típica acidez dos solos do cerrado e ao potencial agrícola. Nesse caso quem oferece o calcário, em sua maioria é o Estado do Paraná. Para que isso ocorra com o menor custo possível, utiliza-se de estratégias e coordenação entre os agentes (fornecedores, distribuidores, operadores) e o surgimento de novas redes, que utilizam a logística a seu favor de uma maneira peculiar. Os caminhões que carregam a safra vendida, na teoria voltariam vazios, já que foram entregar mercadoria. A estratégia funciona quando ao invés de retornar vazio volta lotado de calcário de alguma região que tenha a disponibilidade e esteja na rota do caminhão. O custo do frete, conhecido como frete de retorno, é bem mais barato que o contratado exclusivamente para o carregamento do calcário. Acontece que, como a região oeste de Minas Gerais é considerada região importante no fluxo de mercadorias e rota de caminhões com destino para portos e empresas e está bem próxima da região de Arcos e Pains, que produzem calcário de qualidade a preços razoavelmente mais baixos que os de Uberaba e Coromandel. 58 Arcos é uma das principais rotas de caminhoneiros do Estado de Minas Gerais, uma vez que a cidade é cortada pela rodovia BR 354, responsável pela circulação de mercadorias para diversas regiões do país. O calcário de Arcos geralmente segue para o Triângulo Mineiro, Sul de Minas, São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Dos estados como Mato Grosso, Paraná e Goiás destaca-se o carvão, material usado no funcionamento das siderúrgicas. Do Triângulo Mineiro e Sul de Minas produtos agrícolas como farelo de soja, milho e café. De acordo com Lopes (2007) o transporte do calcário da região de Arcos representa em média 80% dos fretes negociados. Segundo Jean Carlos Campideli, gerente da Central de Cargas e Serviços, Cecacel, os valores variam de acordo com cada região e que aumentam no período de julho até outubro em função do volume da produção de calcário. Os mais baratos são os 'frete retorno', cobrados em outras regiões com destino a Arcos. De acordo com o gerente da transportadora Expresso HM Transportes, Marcus Vinicius Teixeira, tem havido uma queda no valor do frete devido a quantidade de caminhões no mercado. O preço varia conforme o tipo do veículo. Em 2007 motoristas de carretas calculavam em média R$ 2,30 para cada quilômetro rodado. Os caminhões truques, R$ 1,25. Outro fator que interfere nos valores é a qualidade das estradas, em que alguns motoristas têm que percorrer até 80km a mais para desviarem de buracos na pista”. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Arcos, Ronaldo José de Andrade, afirma que cerca de 450 pessoas sobrevivem com a renda desse tipo de trabalho. Os motoristas empregados pelas transportadoras recebem salário fixo e mais comissão. Eles recebem em média 15% do frete negociado, já os terceirizados ganham conforme a distância percorrida. (LOPES, 2007) Outra questão relevante à região de Arcos é a situação da exploração do calcário – em sua maioria, realizada sem registro no DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral.. Logo, sem as adequações legais e o pagamento de impostos podem oferecer um produto com valor muito aquém do praticado no mercado regular. Umas das características que propicia que isso ocorra é o disposição da rocha calcária na região – os afloramentos são superficiais, não sendo necessário custos com desmonte e transporte de material. Com custos menores, menor o valor praticado do produto. O fator que não torna a concorrência totalmente desleal é a alta qualidade do produto de Coromandel e Uberaba e a disponibilidade do produto ser imediata, já que o produtor rural normalmente trabalha com prazos estourados, não obedecendo o prazo de 60 a 90 dias antes do plantio. Para trabalhar com frete de retorno é preciso que se tenha uma programação estipulada. Sendo assim, o mercado de calcário da região atende principalmente cidades vizinhas e cidades onde não existe frete de retorno e clientes que necessitam de agilidade na entrega do produto. 59 Por outro lado, a existência dessa concorrência representa um fator positivo para o produtor rural, que se vê diante de um cenário onde a maioria da disponibilidade regional do produto é controlada por um único grupo comercial. 7.3.3. Logística Calcário Triângulo / Ercal Atualmente as empresas são desafiadas a operar de forma eficiente e eficaz a fim garantir a continuidade de suas atividades, o que as obriga a constantemente desenvolver vantagens em novas frentes de atuação. Logo, diferenciar-se da concorrência para conquistar e manter clientes tem se tornado cada vez mais difícil. Para agregar valor e ao mesmo tempo reduzir custos, garantindo lucratividade tem-se utilizado a logística como uma maneira para se vencer tais desafios. No caso do calcário também não seria diferente, a logística é mais que fundamental no desenvolvimento de negócios e atuação, já que o frete é um fator significamente onerante no valor final do produto. Logística no mercado de calcário é sem dúvida a chave de muitos negócios, já que não se pode desconsiderar o alto custo de operação das cadeias de abastecimento. Porém, essa realidade, por mais significativa que seja não é o único fator determinante. É importante que se ofereça concorrência ao mercado, sendo necessário que se desenvolva um processo de planejamento de negócio da organização e alinhado com os demais esforços para atingir sucesso no seu segmento de atuação. Mesmo no caso do mercado de calcário, a logística não poderá contribuir com um negócio mal organizado e mal gerenciado. Acreditando que mesmo que não se consiga atingir todos os fatores a fim de concorrer com alguns mercados, outros enfoques são importantes para a sobrevivência da empresa e a busca de uma identidade voltada para a seriedade qualidade e excelência. Para isso, a Ercal buscou investir em duas vertentes: dinâmica de transporte e eficiência na entrega. A empresa conta hoje tanto com o transporte terceirizado (80%) quanto com a sua própria transportadora (20%). Tem canal direto com o produtor, com vendedores nas Unidades de Uberaba, Coromandel e nos escritórios de Coromandel e de Uberlândia. Oferece suporte ao produtor rural disponibilizando análises de solo e orientações agronômicas quanto ao uso do calcário. 7.3.4. Comercialização A Calcário Triângulo/Ercal, com vendedores dispostos em todas as suas unidades e representantes comerciais sempre em visita a clientes, atende hoje 3 estados, conforme Figura 60 03, onde se pode observar que a atuação se dá motivada pela proximidade das respectivas cidades das jazidas de Uberaba e Coromandel. a) Minas Gerais: 80% das vendas Abadia dos Dourados, Água Comprida, Araguari, Brejo Bonito, Campo Florido, Canápolis, Capinópolis, Conceição das Alagoas, Coromandel, Frutal, Guarda-Mor, Guimarânia, Indianópolis, Ipiaçú, Iraí de Minas, Ituiutaba, Monte Carmelo, Monte Alegre de Minas, Nova Ponte, Patrocínio, Perdizes, Pirajuba, Planura, Prata, Sacramento, Santa Juliana, Serra do Salitre, Tupaciguara, Uberaba, Uberlândia, Vazante. b) Goiás: 12% das vendas Caldas Novas, Campo Alegre de Goiás, Catalão, Centralina, Corumbaíba, Goiandira, Ipameri, Itumbiara, Nova Aurora. c) São Paulo: 8% das vendas Aramina, Colômbia, Franca, Guaíra, Guará, Igarapava, Ipuã, Ituverava, Miguelópolis. Mesmo sendo um produto razoavelmente barato quando comparado com insumos como o NPK, uma média de R$ 32,00 a tonelada, frete incluso (Junho/2009) e considerando que o valor não variou significativamente nos últimos anos, por se tratar da necessidade de grandes quantidades, o produtor rural considera um produto oneroso. Fazer uso de financiamento é para poucos, além do dinheiro ser liberado no final de agosto – mês em que as operações de calagem já deveriam estar começando a serem finalizadas. As vendas do grupo na região são estimadas em torno de 30% do montante total e mesmo sendo o calcário considerado um insumo de baixo custo, existe hoje uma inadimplência estimada em 3%. 61 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao se levantar o perfil extrativo e comercial das jazidas de calcário situadas em Uberaba-MG e Coromandel-MG, a fim de se estabelecer um cenário regional para o produto, constatou-se primeiramente que ambas as jazidas são controladas pelo mesmo grupo comercial. Logo, a análise realizada teve também como base a caracterização do trabalho realizado pelo mesmo. Sendo assim, mesmo que algumas informações não tenham sido possíveis de serem apuradas, considera-se a existência de um bom potencial de exploração, o que garantiria a oferta do produto por um período razoável. E todos os dados levantados indicaram a possibilidade de afirmar que hoje a região é bem atendida pela oferta de calcário. Quanto ao consumo, foi verificado que, assim como ocorre com o restante do país, a quantidade ideal de utilização está longe de ser realidade e o preço do insumo é considerado oneroso. Porém, desconsiderando a produção do restante das jazidas da região e de ArcosMG, a produção de calcário das jazidas de Uberaba-MG e Coromandel-MG, sozinhas e com a atual infraestrutura, não conseguiriam suprir toda a demanda existente, e não sendo esta a ideal. O que ocorre é que devido a livre concorrência existe uma capacidade ociosa na indústria, que hoje se pauta na lei de oferta e procura, já que não se pratica a estocagem calcário, o que consequentemente freia novos investimentos de expansão das unidades beneficiadoras. Linhas de crédito eficientes; maior difusão da tecnologia, principalmente pelos órgãos de pesquisa do governo, no caso regional o trabalho é realizado pela EMATER; melhoria na qualidade das estradas; incentivo para o desenvolvimento de pesquisas, apoio legal, são alguns fatores fundamentais para que o setor tenha um pouco mais de garantias de trabalho e desenvolvimento. Os resultados da pesquisa confirmam a existência de potencial para expansão tanto da produção quanto do consumo de calcário, desde que sejam direcionados esforços, por parte dos empresários e por parte do poder público, objetivando corrigir imperfeições consideradas entraves ao desenvolvimento do setor e a difusão da tecnologia no campo. As relações estabelecidas região oeste de Minas Gerais é sem dúvida nenhuma uma base concreta de que tanto a oferta quanto o consumo são extremamente favoráveis. Dessa forma, considerando a natureza específica do calcário como bem não renovável, espera-se que as ações sejam pautadas em princípios fundamentais de soberania sobre os 62 recursos minerais, de desenvolvimento sustentável, desenvolvimento regional. de competitividade econômica e 63 REFERÊNCIAS AB`SABER, A.N. Contribuição à geomorfologia da área dos cerrados. São Paulo: EDUSP, 1972. p.97-105. ANDRADE, R. F. Mapeamento geotécnico preliminar em escala de Semi-detalhe (1:25.000) da área de expansão urbana de Uberlândia-MG. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Engenharia Civil. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG. 2005. ANUÁRIO MINERAL BRASILEIRO. Brasília. Departamento Nacional de Produção Mineral. DNPM. 1996-2006. BACCARO, C. A, D. Unidades geomorfológicas do Triângulo Mineiro. Estudo preliminar. In: Sociedade e Natureza. Uberlândia: EDUFU Ano 3, 1991. p. 37-42. BARBOSA, O.; BRAUN, O.P.G.; DYER, R.C.; CUNHA, C.A.B.R. 1970. Geologia da região do Triângulo Mineiro. DNPM/DFPM. 140p. (Boletim 136). BARCELOS, J.H. Reconstituição Paleogeográfica da Sedimentação do Grupo Bauru baseada na sua redefinição estratigráfica parcial em território paulista e no estudo preliminar fora do estado de São Paulo. 1984. 191p. Tese (Livre Docência). Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1984. BATEZELLI, A. Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua correlação com áreas adjacentes. Tese de doutorado. Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro, 2003. BRASIL. DNPM. Departamento Nacional de Produção Mineral. Disponível em <http://www.dnpm.gov.br/> Acesso em 2008 e 2009. BRASIL. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em <http://www.embrapa.br/> Acesso em Out. 2008. BRASIL. MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em < http://www.agricultura.gov.br/> Acesso em Jan 2008. CALPAR. Calcário Agrícola. Um produto nobre por natureza. In: Boletim Técnico 1. Disponível em < http://www.calpar.com.br/artigoscalpar/artigos_boletim1.html>. Acesso em Mar. 2007. 64 CÉLERES. Dados internos. FAVERET, P.; DE PAULA, S.R.L.; CORTES, LL. TURANO, C. Agroindústria. In: Informe Setorial 12. Área de operações industriais 1. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Calcario_uma_visao_geralIDHx2EwZTJQE.pdf> Acesso em Nov. 2007 FERNANDES, L. A., COIMBRA; A.M. Revisão estratigráfica da parte oriental da Bacia Bauru (Neocretaceo). In: Revista Brasileira de Geociências 30(4):717-728, Dez. 2000. FERREIRA JÚNIOR, P. D., GOMES, N.S. Petrografia e diagênese da Formação Uberaba, Cretáceo Superior da Bacia do Paraná no Triângulo Mineiro. In: Revista Brasileira de Geociências v.29 (2) p.163-172, 1999. FRANCO. J.B.S. O papel da EMBRAPA nas transformações do cerrado. Caminhos de Geografia, v. 2, n.3, p.31-40, mar. 2001. Disponível em: <http://www.ig.ufu.br/revista/volume03/artigo04_vol03.pdf>. Acesso em: Fev. 2007. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 206p. 1999 LOPES, A. Rota de caminhoneiros inclui Arcos. Jornal Laboratório. Faculdade de Comunicação e Artes. PUC Minas Arcos. 2007. Disponível em <http://www.fca.pucminas.br/arcos/portal/arquivo/02-2007/008.htm> Acesso em Jun. 2008 LOPES. J.N. Faciologia e gênese dos carbonatos do Grupo Bambuí na região de Arcos, Estado de Minas Gerais. 15p. Dissertação (Mestrado em Geologia Sedimentar) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1995. MARTINS, A. P; PIZZI, K; ASSUNÇÃO, W. L. Determinação da duração das estações seca e chuvosa em oito municípios do Alto Paranaíba (MG) com vista ao planejamento da agricultura de sequeiro. In: XI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA. Setembro de 2005. Anais. São Paulo: Universidade de São Paulo (USP). 1 CDROOM. MARANESI, D. A. Avaliação geoambiental em áreas de cerrado no Triângulo Mineiro para implantação de pequenos reservatórios superficiais de água: aplicação na Folha de Tupaciguara, MG (1:100.000). 2002. Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro, SP : 2002. 141p. 65 NAHASS, S. SEVERINO, J. Calcário Agrícola no Brasil. CETEM. Centro de Tecnologia Mineral. Publicações. Disponível em: <http://www.cetem.gov.br>. Acesso em: 02 mar. 2007 NISHIYAMA. L., BACCARO, C.A.D. Aproveitamento dos recursos Minerais nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba - Uma agressão ao meio ambiente. Uberlândia, Sociedade & Natureza, v.1, n.1, p.49-52, 1989. ____________O cretácio do oeste mineiro. Boletim da Sociedade Brasileira de Geociências, São Paulo, V. 18, n. 1, p.39-55, 1969. OLIVEIRA, E. C., SANTOS, A. R., CANDEIRO, C. R. Localidades fossilíferas do cretáceo superior da região do Triângulo Mineiro (Estado de Minas Gerais, Brasil). In: Sociedade & Natureza, Uberlândia, 18 (35): 151-167, 2006. PACHECO, C. NISHIYAMA, L. Análise da altimetria dos topos de basaltos da formação Serra Geral na região do Triângulo Mineiro utilizando técnicas de geoprocessamento como subsídio para caracterização de atividades tectônicas recentes. Uberlândia, Revista Eletrônica do Programa de Pós Graduação, 2002. Disponível em: <http://www.propp.ufu.br/revistaeletronica/edicao2002/G/analise.pdf> Acesso em Jan. 2007 PARAHYBA, R. E. R. Calcário Agrícola. In: Sumário Mineral DNPM 2008. Disponível em <http://www.dnpm.gov.br/assets/galeriaDocumento/SumarioMineral2008/calcarioagricola.pd f> Acesso em Out. de 2008. PEREIRA, C.M. Caracterização da produção e consumo de calcário para uso agrícola no Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Instituto de Geociências. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2002.188p. RIBEIRO, R. F. O Eldorado do Brasil Central: história ambiental e convivência sustentável com o Cerrado. In: Héctor Alimonda. (Org.). Ecología Política. Naturaleza, Sociedad y Utopia. Buenos Aires: CLACSO - Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2002. Disponível em < http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/ecologia/ribeiro.pdf> Acesso em Mar de 2007. SANTOS. A. R. Remineração do Rejeito proveniente do beneficiamento do minério fluorapatítico de Araxá (MG) e Catalão (GO), empregando-o como aditivo em massas básicas para a obtenção de produtos cerâmicos estruturais. 2002. Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro, SP : 2002. 104p. 66 SILVA. L.L. O papel do Estado no processo de ocupação das áreas de cerrado entre as décadas de 60 e 80. In: In: Caminhos de Geografia – Revista on line. V.02, Ano 1, p.24-36. 2000. Disponível em: <http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html> Acesso em: 25 jun. 2007. SINDICAL. Sindicato das Indústrias de Calcário e Derivados para Uso Agrícola do Estado de São Paulo. Disponível em < http://www.sindical.com.br/fram_abracal.htm> Acesso em Out. 2008. SINDICALC. Sindicato da Indústria de Calcário no Rio Grande do Sul. ABRACAL. Disponível em < http://www.calcario-rs.com.br/> Acesso em Fev. 2008. CALCÁRIO AGRÍCOLA PARA CORRETIVO DE SOLO