“Pode-se dizer que hoje não há uma arte, não há a poesia, mas há artes, há poesia. Cada arte se fragmentou em tantas artes quantos foram os artistas capazes de fundar um tipo de expressão original”. Introdução • Momento Histórico pós-45:Fim da segunda guerra mundial, começo da era atômica após as bombas de Hiroshima e Nagasáqui, criação da ONU e a publicação da Declaração dos Direitos Humanos. • Brasil de 45: Fim do Estado Novo e redemocratização, mas depois iniciase novamente um período de perseguições políticas, ilegalidades e exílio. • A literatura manifesta uma geração nova, na prosa narrativa, na poesia, na crítica. Esta começa a mostrar os efeitos do ensino superior das letras. A dramaturgia passa também por uma revolução devido as mudanças ocorridas no teatro. Nelson Rodrigues é o grande destaque desse gênero. • Na prosa, os autores retomam alguns escritores da década de 30 e buscam uma literatura mais intimista, introspectiva e de profundidade psicológica. • Na poesia, há uma negação às conquistas e inovação modernas. Os poetas dedicam-se a uma poesia “equilibrada e séria”, mas não deixam de lado o verso livre e o tema cotidiano. I. Guimarães Rosa • Escritor mineiro passa a infância no centro-oeste de Minas e fez faculdade de medicina. Seguiu a carreira de diplomata e serviu na Alemanhã durante a guerra. Foi reconhecido como escritor em vida e entrou para a ABL em 1967. • Em sua obra, o suposto regional toma um veículo de divulgação da universalidade. Inicia a sua vida literária com Sagarana (1946), livro de contos de linguagem elaborada que faz com que o leitor reflita mais sobre o “ser” do que sobre as situações narrativas. • Dez anos depois de Sagarana, publica as novelas de Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas, sua obra mais importante em que narra as aventuras de um velho bandido e seu estranho amor por seu velho companheiro de armas. • O valor da linguagem de Guimarães não está no rebuscamento, mas nos neologismo, recriação e invenção de palavras. A sua escrita funde a perspectiva local do regionalismo com os meios técnicos das vanguardas, para chegar a uma escrita original e integrada, a cujo respeito pode-se falar de super-regionalismo (por analogia com “surrealismo”). “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde um criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.” “Eu atravesso as coisas — e no meio da travessia não vejo! — só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou (...) o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...” (João Guimarães Rosa, 1986: 26-52) II. Clarice Lispector • Nasceu na Ucrânia, mas cresceu veio para o Brasil com dois meses. “Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior...”. • É o principal nome da tendência intimista moderna. A temática recorrente de sua obra é o questionamento do ser, o estar no mundo e a pesquisa do ser humano. Daí resulta o seu famoso romance introspectivo. • A sua obra apresenta uma eterna ambiguidade entre o “eu” e o “nãoeu”, o “ser” e o “não ser, já notado na obra de Guimarães. • No campo da linguagem, Clarice preocupa-se com as palavras e a revalorização delas dando-lhe novas roupagens e ampliando o limite de sua significação. Preocupa-se também com o que está nas entrelinhas. • Manifesta a capacidade de manipular os detalhes, que vão se juntando para formar a narrativa e sugerir o mundo, sem que haja necessidade de uma estruturação rigorosa. O conto, mais do que o romance, parece conter a sua narrativa ideal. • As suas principais obras são Laços de Família, Perto do Coração Selvagem, A hora da estrela e A paixão segundo GH. “ O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção é que obtenho o que ela conseguiu.”. “Uma vida completa pode acabar numa identificação tão absoluta como o não-eu que não haverá mais um eu para morrer.” (epígrafe de “A paixão segundo GH) III. João Cabral de Melo Neto: A poesia do menos • Poeta criador de linguagem original, capaz de seduzir pela pura qualidade verbal e pela capacidade de exprimir de maneira poderosa uma realidade que parece todavia nascer da experiência com a palavra. • A sua poesia é caracterizada pela objetividade ao constatar a realidade. Seu primeiro livro Pedra do sono (1942) possui fortes tendências surrealista que posteriormente será abandonada por ele. • Sua poética possui três grandes temáticas: a) Nordeste - Os retirantes, a tradição e o Recife. Analisa os mocambos, o cemitério e o Rio Capibaribe. b) A Espanha - As paisagens que tem em comum com o Nordeste brasileiro. “me considero também um sevilhano. Não há que civilizar o mundo, mas sevilhizar o mundo”. c) A arte: Preocupa-se com arte em suas diversas manifestações, pintura, literatura, futebol e a própria arte poética. • O poeta manifesta a preocupação com a arquitetura da poesia. É o poeta engenheiro, constrói o poema palavra por palavra. Combate fortemente o lirismo choroso, sua linguagem é enxuta e concisa. • A partir de 1950, apresenta uma poesia cada vez mais engajada e de temática social. O rio capebaribe é um dos temas fundamentais de sua obra. • O poema dramático “Morte e vida severina” (Auto de Natal pernambucano) é considerado a sua obra prima. “Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira).” (trecho de “Morte e Vida Severina) Tecendo a Manhã 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. (A Educação pela Pedra)