III SENSIBILIDADE DE PROPELENTES SÓLIDOS À DESCARGA ELETROSTÁTICA Silvio Manea Composição da Banca Examinadora: Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Dr José Atílio Fritz Fidel Rocco Dr. Koshun Iha Dra. Rita de Cássia Lazzarini Dutra Dra. Elizabete Yoshie Kawachi Dr. Marco Antonio Couto do Nascimento ITA Presidente - ITA Orientador - ITA IAE - CTA ITA Universidade Tuiuti do Paraná IV DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha amada esposa e filhos e, aos meus pais que acreditaram em mim. “Nada deve ser temido, apenas compreendido.” Anônimo V AGRADECIMENTOS A Deus por tudo. A minha esposa Arlete e aos meus filhos Gabriela, Rafael e Julia pela paciência, amor e incentivo. A meu estimado orientador Prof. Dr. Koshun Iha, pela orientação, paciência e amizade. Ao amigo e Prof. Dr José Atílio Fritz Fidel Rocco, por compartilhar seus conhecimentos e pelas fundamentais discussões que nortearam este trabalho. Aos amigos que colaboraram de diversas formas, Afonso Paulo Monteiro Pinheiro, Prof. Dr. Amílcar Porto Pimenta, Elymar Fonseca Junior, José Iram Mota Barbosa, Ronei Ramos Monteiro e Silvio de Alvarenga Souza. A meus amigos e colegas de curso, que contribuíram para esta conquista. A todos os professores e professoras que participaram da minha formação. Ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, professores e funcionários. VI RESUMO Com o desenvolvimento dos motores foguetes a propelentes sólidos, houve um consenso na comunidade propulsiva que as formulações de propelentes tipo compósito fossem imunes ao potencial elétrico gerado por carregamento eletrostático. A ocorrência de acidentes com motores foguetes a propelentes sólidos, durante fases de fabricação, manipulação e estocagem sem uma causa aparente levou a vários estudos por grupos independentes e a conclusões importantes para a segurança da formulação do propelente onde a hipótese de ignição acidental por descarga eletrostática foi a causa mais provável. Esta hipótese é atualmente um campo que está sendo desenvolvido e os estudos na área buscam como objetivo primordial minimizar os riscos de acidentes com motores de propelentes sólidos atribuídos ao fenômeno de descarga eletrostática. O propelente tipo compósito é heterogêneo, onde as partículas se dividem em partículas condutoras e não condutoras. Os diferentes tipos de “binder” influenciam diretamente nas características elétricas juntamente com as partículas condutoras. As partículas não condutoras têm efeito geométrico no espaçamento das partículas condutoras. De acordo com as características elétricas obtidas durante ensaios realizados, pode-se avaliar se a formulação é sensível à ignição acidental por descarga eletrostática. Devido aos métodos de fabricação (maceração circular por pás rotativas) e por não ser possível garantir exatamente o nível de carregamento, diâmetro médio e geometria (fator de forma) dos componentes sólidos, cada formulação necessita ser avaliada para saber qual o nível de sensibilidade à descarga eletrostática, e o risco de ocorrência de trincas ou ignição (sustentada ou não) no grão propelente sólido. O trabalho apresenta as principais metodologias que estão sendo pesquisadas e os resultados de ensaios elétricos e de descarga eletrostática realizados em amostras de estudo, visando tornar segura a formulação e conseqüentemente a fabricação, estocagem e manuseio de motores foguetes a propelente sólidos utilizados tanto em lançadores espaciais como em foguetes e mísseis balísticos. Palavras chave: Propelente, Descarga Eletrostática, Motor Foguete a Propelente Sólido, Ignição. VII ABSTRACT With the development of solid rocket motor propellant, a general consensus has emerged from the propulsion community that formulations of composite propellant were insensitive to electrical potential generated by electrostatic charges. Accidents and incidents with solid rocket motor propellant, during production, handling and storage, without apparent causes, had started studies by independent groups and they have obtained important conclusions for the safety of propellant formulations, where subsequent investigation suggests that motor's ignition could be attributed to electrostatic discharge. These findings prompted renewed interest in developing experimental techniques to evaluate Electrostatic Discharge hazards in solid rocket motors propellant and minimize them. The composite propellant was heterogeneous system where are conductive and nonconductive particle and different types of binder had direct influence in solid propellant electrical characteristics. Nonconductive particles have a geometrical effect to influence the spacing of the conductive particles. Manufacturing methods and limits to loading, particle mean size and form factor of the solid components have influence on electrostatic sensivity of the formulation. Each formulation need be tested to know sensibility level and crack or accidental ignition risk of the solid propellant. The present work presents the principal methodologies that have been research and results of electrical and electrostatic discharge tests that can increase the reliability of the solid propellant formulation, manufacturing, handling and storage. Key Words: Propellant, Electrostatic Discharge, Solid Rocket Motor, Ignition. VIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES ITEM DESCRIÇÃO PAG. FIGURA 1.1 FIGURA 1.2 FIGURA 2.1 FIGURA 2.2 FIGURA 2.3 FIGURA 2.4 FIGURA 2.5 FIGURA 2.6 FIGURA 2.7 FIGURA 2.8 FIGURA 2.9 FIGURA 2.10 FIGURA 2.11 FIGURA 2.12 FIGURA 2.13 FIGURA 2.14 FIGURA 3.1 FIGURA 3.2 FIGURA 3.3 FIGURA 3.4 FIGURA 3.5 FIGURA 3.6 FIGURA 3.7 FIGURA 3.8 FIGURA 3.9 FIGURA 3.10 FIGURA 3.11 FIGURA 3.12 FIGURA 3.13 FIGURA 3.14 FIGURA 3.15 FIGURA 3.16 FIGURA 4.1 FIGURA 5.1 FIGURA 5.2 FIGURA 5.3 FIGURA 5.4 FIGURA 5.5 FIGURA 5.6 FIGURA 5.7 FIGURA 5.8 FIGURA 5.9 FIGURA 5.10 FIGURA 5.11 FIGURA 5.12 FIGURA 5.13 Míssil Balístico Pershing II Acidente do dirigível Hindenburg Configurações do átomo Indução Campo Elétrico Efeito Triboelétrico Separação de cargas entre a sola do sapato e o piso Carregamento por Efeito Triboelétrico Curva de Paschen Descarga Corona Descarga Faísca Descarga Escova Modelo IEEE PESD Canal formado por arco em propelente heterogêneo Estrutura simplificada do canal para modelo de ignição Caminhos de absorção da energia da descarga eletrostática Diagrama do Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV Equipamento Microscópio Eletrônico de Varredura - MEV Diagrama do Microscópio Óptico e Aquisição de Dados Equipamento de Microscopia Óptica Diagrama do dispositivo de ensaio elétrico Medidor LCR Medidor de Alta Resistência Dispositivo para Testes de Descarga Eletrostática Esquema básico do Gerador de Descarga Eletrostática Bancada de Testes de Ensaio de Descarga Eletrostática Dispositivo de Testes para amostras 100 mm Área de testes de Ensaio de Descarga Eletrostática Amostra de propelente Preparação de amostras Amostra Propelente A001 Amostra Propelente C001 Protocolo de Ensaio de Sensibilidade Imagem óptica - Propelente A001 Imagem óptica - Propelente A001 Imagem óptica - Propelente A001 Imagem óptica - Propelente B001 Imagem óptica - Propelente B001 Imagem óptica - Propelente B001 Propelente C001 Propelente C001 Propelente D001 Propelente D001 Imagem óptica - Propelente D001 Imagem óptica - Propelente E001 Imagem MEV- 100μm – Propelente A001 14 15 17 18 18 19 26 27 29 31 32 32 32 44 44 47 49 49 50 50 51 51 51 52 52 53 53 53 56 56 56 57 62 73 73 73 74 74 74 75 75 76 76 77 77 78 IX FIGURA 5.14 FIGURA 5.15 FIGURA 5.16 FIGURA 5.17 FIGURA 5.18 FIGURA 5.19 FIGURA 5.20 FIGURA 5.21 FIGURA 5.22 FIGURA 5.23 FIGURA 5.24 FIGURA 5.25 FIGURA 5.26 FIGURA 5.27 FIGURA 5.28 FIGURA 5.29 FIGURA 5.30 FIGURA 5.31 Imagem MEV- 20μm – Propelente A001 Imagem MEV- 20μm – Propelente B001 Imagem MEV- 20μm – Propelente B001 Imagem MEV- 100μm – Propelente B001 Imagem MEV- 20μm – Propelente B001 Imagem MEV- 20μm – Propelente C001 Imagem MEV- 100μm – Propelente C001 Imagem MEV- 100μm – Propelente D001 Imagem MEV- 20μm – Propelente D001 Teste de Descarga Eletrostática Teste de Descarga Eletrostática Amostras Propelente E001 Dispositivo de Ensaio II Formação de arco voltaico lateral Curva de Fator de percolação vs. Diâmetro da partícula de Perclorato de Amônio Curva de Fator de percolação vs. Diâmetro da partícula de Alumínio Curva de Fator de percolação vs. percentual de carregamento da partícula mais fina de Perclorato de Amônio Curva de Fator de percolação vs. percentual de carregamento de Alumínio 78 79 79 80 80 81 81 82 82 84 84 85 85 91 93 94 95 96 X LISTA DE TABELAS ITEM DESCRIÇÃO PAG. TABELA 2.1 TABELA 2.2 TABELA 2.3 TABELA 2.4 Série Triboelétrica de Diversos Materiais Eletronegatividade de Alguns Materiais Valores dos Parâmetros do modelo PESD Sensibilidade x pressão de um propelente PBLH/68%PA/20%Al Resistividade Volumétrica típica a 20 oC dos principais ligantes de propelente sólido compósito. Equipamentos utilizados nos ensaios Dispositivos de Testes Propriedades do Perclorato de Amônio (NH4ClO4) Propriedades do Alumínio Amostras de Propelentes Formulações de Propelente testadas por Covino et al Constante dielétrica das formulações utilizadas por Covino et al Dados de Formulações dos Propelentes Valores de Coeficiente de Percolação (P) dos propelentes estudados por Covino et al Formulações dos Propelentes Ensaiados Valores de Resistividade Volumétrica Resultados do Teste de Descarga Eletrostática Características dos componentes da formulação Valores dos Coeficientes de Percolação (P) Condições para o gráfico da Figura 5.28 Condições para o gráfico da Figura 5.29 Condições para o gráfico da Figura 5.30 Condições para o gráfico da Figura 5.31 Valores de Resistividade Volumétrica e Fator de Percolação Valores de Resistividade Volumétrica e Fator de Percolação Rigidez Dielétrica de Materiais Constante Dielétrica de Materiais 20 28 33 36 TABELA 2.5 TABELA 3.1 TABELA 3.2 TABELA 3.3 TABELA 3.4 TABELA 3.5 TABELA 4.1 TABELA 4.2 TABELA 4.3 TABELA 4.4 TABELA 5.1 TABELA 5.2 TABELA 5.3 TABELA 5.4 TABELA 5.5 TABELA 5.6 TABELA 5.7 TABELA 5.8 TABELA 5.9 TABELA 5.10 TABELA 5.11 TABELA I.1 TABELA I.2 38 48 48 54 54 55 66 68 71 71 72 83 86 87 87 93 94 95 96 97 97 101 106 XI LISTA DE SIMBOLOS SÍMBOLO ΔV Δt Q C V R Ω id Vm Δq ε0 F σm Eb Φ e p atm PBLH PBLC PBAN Pa ρ P DESCRIÇÃO Variação da Voltagem Variação do tempo Quantidade de cargas elétricas Capacitância em Farad Volt Resistência em Ohms Ohms Corrente de decaimento Voltagem máxima Variação do valor de cargas elétricas Permissividade do vácuo (8,85 x 10-12 F/m) Farad Densidade máxima de carga Campo elétrico de ruptura de dielétrico Função trabalho Carga elétrica Pressão em atm Atmosfera Polibutadieno Liquido Hidroxilado Polibutadieno Liquido Carboxilado Polibutadieno Acido acrílico-acriloNitrila Pascal Resistividade Volumétrica Fator de percolação XII SUMÁRIO ITEM DESCRIÇÃO PÁG. 1. INTRODUÇÃO. 14 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 2.1 FUNDAMENTOS DE ELETROSTÁTICA 17 2.1.1 ELETRICIDADE ESTÁTICA 17 2.1.2 POLARIZAÇÃO E INDUÇÃO 18 2.1.3 CAMPO ELÉTRICO 18 2.1.4 EFEITO TRIBOELÉTRICO 19 2.1.5 PROPRIEDADE DOS MATERIAIS 21 2.2 AMBIENTE DE CARGA ELETROSTÁTICA 23 2.2.1 CARREGAMENTO CORPO HUMANO 23 2.2.2 CARREGAMENTO POR EFEITO TRIBOELÉTRICO 27 2.2.3 DESCARGA ELETROSTÁTICA 30 2.2.3.1 TIPOS DE DESCARGA 31 2.3 ELETROSTÁTICA EM PROPELENTES SÓLIDOS 34 2.4 TEORIAS DE IGNIÇÃO DOS PROPELENTES SÓLIDOS 37 2.4.1 OCORRÊNCIA DE FENÔMENOS ELETROSTÁTICOS 39 2.5 IGNIÇÃO DE PROPELENTE SÓLIDO POR DESCARGA. ELETROSTÁTICA 42 2.5.1 MÉTODOS DE ESTUDO DA IGNIÇÃO 43 2.5.2 MECANISMOS DE REAÇÕES ATIVOS 46 3. PARTE EXPERIMENTAL 48 3.1 EQUIPAMENTOS 48 3.1.1 MICROSCOPIA DE VARREDURA ELETRÔNICA 49 3.1.2 MICROSCOPIA ÓPTICA 50 3.1.3 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA 51 3.1.4 DESCARGA ELETROSTÁTICA 52 3.2 MATERIAIS UTILIZADOS 54 3.2.1 OXIDANTE 54 3.2.2 METAL 54 3.2.3 BINDER 55 3.2.4 CORPOS DE PROVA 55 3.3 ENSAIOS 58 XIII 3.3.1 ENSAIOS DE MICROSCOPIA ÓPTICA E VARREDURA ELETRÔNICA 58 3.3.2 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA 58 3.3.3 ENSAIOS DE DESCARGA ELETROSTÁTICA 58 4. SUSCEPTIBILIDADE DO PROPELENTE SÓLIDO 60 4.1 CLASSIFICAÇÃO DA SENSIBILIDADE DO PROPELENTE 61 4.2 TEORIA DE PERCOLAÇÃO 63 4.3 MEDIDAS DE GRANDEZAS ELÉTRICAS DO PROPELENTE 67 4.3.1 MEDIDAS DE RESISTIVIDADE 67 4.3.2 MEDIDAS DA CONSTANTE DIELÉTRICA 67 4.3.3 VOLTAGEM DE RUPTURA DO DIELÉTRICO 68 4.3.4 TESTE DE DESCARGA RESISTIVO-CAPACITIVA (RC) 70 4.4 DADOS DE FORMULAÇÕES ENSAIADAS EM TRABALHOS ANTERIORES 70 4.5 CRITÉRIO EXPERIMENTAL PARA CLASSIFICAÇÃO 71 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 72 5.1 RESULTADOS 72 5.1.1 RESULTADOS DE MICROSCOPIA ÓPTICA 73 5.1.2 RESULTADOS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA 78 5.1.3 RESULTADOS DE CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA 83 5.1.4 RESULTADOS DE ENSAIO DE DESCARGA ELETROSTÁTICA 83 5.1.5 FATOR DE PERCOLAÇÃO - (P) 87 5.2 DISCUSSÕES 88 5.2.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS 88 5.2.1.1 MICROSCOPIA ÓPTICA 88 5.2.1.2 MICROSCOPIA DE VARREDURA ELETRÔNICA 89 5.2.1.3 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA 90 5.2.1.4 DESCARGA ELETROSTÁTICA 90 5.2.1.5 INFLUÊNCIA DOS COMPONENTES DO PROPELENTE SÓLIDO NO FATOR DE PERCOLAÇÃO 91 5.2.2 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS 97 5.2.3 REDUÇÃO DA SENSIBILIDADE DE PROPELENTES -SUGESTÕES 98 6. CONCLUSÕES 100 7. TRABALHOS FUTUROS 101 8. BIBLIOGRAFIA 102 I ANEXO 109 14 1. INTRODUÇÃO Atualmente, é de suma importância o conhecimento dos riscos de acidentes associados a fenômenos de carregamento eletrostático, durante a fabricação e utilização de grãos propelentes sólidos e conseqüentemente identificar quais os fatores que poderiam gerar: a- Uma ignição acidental do motor foguete durante manuseio ou armazenamento; b - Trincas no grão propelente, as quais durante a queima do grão podem gerar novas frentes de chama causando uma explosão do motor foguete. Durante muito tempo acreditou-se que as formulações de propelentes tipo compósito fossem imunes ao potencial elétrico gerado por carregamento eletrostático. A ocorrência de acidentes com vários motores foguetes a propelentes sólidos, sem causa aparente, obrigou a comunidade propulsiva a estudar e ensaiar as diversas hipóteses para os acidentes e, com os resultados obtidos, concluiu-se que só restava a hipótese de ignição ou trinca por efeito do fenômeno de descarga eletrostática nestes motores [1-4]. FIGURA 1.1 – Míssil Balístico Pershing II [2] A eletricidade estática é conhecida há milhares de anos pelo homem. Inicialmente os gregos observaram a atração entre objetos após os mesmos terem sido atritados, sendo que o próprio nome é derivado de elektron que significa âmbar. Nos séculos XVII e XVIII, foram 15 realizados vários experimentos visando estudar e entender a eletricidade estática. Com a descoberta do eletro-magnetismo e seus efeitos, a eletricidade estática foi relegada ao porão da evolução cientifica [5]. Interessante notar que muitos acidentes ocorridos no passado, envolvendo explosões, hoje suspeita-se que a causa primária tenha sido uma descarga eletrostática. Um dos exemplos registrados foi a explosão do dirigível alemão Hindenburg quando chegava a Lakehurst, New Jersey, USA em 1937. Devido a tensões internacionais, os EUA embargaram a venda de gás hélio para a Alemanha e o dirigível foi então inflado com gás hidrogênio. O fogo resultante causou a morte de várias pessoas e criou uma péssima fama dos dirigíveis, impedindo o seu desenvolvimento [6, 7]. FIGURA 1.2 – Acidente do dirigível Hindenburg Têm sido registrados numerosos relatos de explosões em silos de grãos, tanques de armazenamento de óleo durante operações de limpeza, pacientes sendo mortos durante cirurgias pelo desligamento da válvula de pressão devido à ignição do gás anestésico, desastres em laboratórios e desastres em veículos espaciais. Outros casos relatados foram a explosão de foguetes a combustível liquido enquanto era realizado o abastecimento dos mesmos e a ocorrência de ignição de motores sólidos durante a retirada dos mesmos de seus “containeres” [8]. Propelentes e pirotécnicos são materiais sensíveis com um alto risco de fatalidades, quando ocorrem acidentes durante a fabricação e manipulação/armazenamento. As normas 16 utilizadas para a qualificação, fabricação e testes são rígidas, porque são tarefas com alto risco de acidentes devido à sensibilidade dos componentes energéticos utilizados. O principal resultado que as pesquisas relacionadas aos efeitos de descarga eletrostática em propelentes sólidos buscam, é tornar mais segura a fabricação e a operação dos grãos propelentes sólidos com a implementação de medidas para eliminar ou minimizar estes riscos. Esta tese de mestrado procura auxiliar essas pesquisas realizando um resumo do conhecimento disponível na literatura aberta, onde o entendimento do fenômeno de descarga eletrostática em propelentes sólidos é um assunto ainda não esclarecido; ensaios de amostras representativas de propelentes ativos e utilizando ferramentas de análise. Como finalização do trabalho é feita uma avaliação dos resultados obtidos e, sugestão de trabalhos futuros. 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 FUNDAMENTOS DE ELETROSTÁTICA Para estudarmos o efeito, é necessário entendermos os fundamentos que governam o carregamento e descarregamento de eletricidade estática nos objetos e/ou corpos [9]. Os fundamentos são: 1. Eletricidade Estática 2. Polarização e indução 3. Campo Elétrico 4. Efeito Triboelétrico 5. Propriedades dos Materiais 2.1.1 ELETRICIDADE ESTÁTICA Eletricidade estática é freqüentemente considerada o efeito de cargas elétricas em repouso nos isolantes ou em condutores isolados. Em uma descrição do fenômeno sabemos que os átomos têm prótons, elétrons e nêutrons onde prótons possuem carga positiva, elétrons tem carga negativa e nêutrons não possuem carga [10]. Quando um átomo tem o mesmo numero de elétrons e prótons, o átomo não possui diferencial de carga, isto é, as cargas estão balanceadas. Se um átomo ganhar um elétron ele ganha carga negativa e, da mesma forma, se perde um elétron fica com carga positiva (Figura 2.1). A presença de carga positiva ou negativa em um átomo é diretamente ligada à falta ou excesso de elétrons no átomo. Se o material permanecer com esta carga “sem movimento”, ele está com carga estática ou eletrostática. FIGURA 2.1 - Configurações do átomo 18 2.1.2 POLARIZAÇÃO E INDUÇÃO Existe uma diferença entre polarização e indução. z Polarização ocorre quando as cargas que estão misturadas de forma aleatória em um objeto são distribuídas de forma segregada, onde as cargas positivas estão em uma área e todas as cargas negativas em outra área diferente no mesmo objeto. O objeto precisa ser um condutor e não pode estar aterrado. z A indução é o processo pelo qual o campo de uma carga gera uma carga em um objeto condutivo que esteja próximo sem contato físico (Figura 2.2). Quando um condutor atravessa um campo, uma corrente é gerada no condutor. FIGURA 2.2 - Indução 2.1.3 CAMPO ELÉTRICO Todo objeto carregado com carga elétrica é envolvido em um campo elétrico. Cargas elétricas em objetos podem afetar outras cargas elétricas à distância. Esta força é chamada de campo elétrico. O campo elétrico atuando em um objeto através das linhas de fluxo magnético pode induzir cargas em um outro objeto que esteja dentro da área de autuação deste campo (Figura 2.3). FIGURA 2.3 – Campo Elétrico 19 2.1.4 EFEITO TRIBOELÉTRICO A palavra tribo é originária do grego e significa friccionar. Juntamente com a palavra elétrico designa o efeito de produzir uma carga elétrica pela fricção entre dois objetos. Quando dois materiais com superfícies neutras (cargas equilibradas) entram em contato, com rugosidade menor que 4 Å e são posteriormente separados, eles trocam cargas elétricas (Figura 2.4). Um material estará com carga elétrica positiva e o outro com carga elétrica negativa. O nível e a polaridade das cargas adquiridas nestas superfícies são dependentes de vários fatores, mas podem ser relativamente respondidos através da série triboelétrica de materiais. A série triboelétrica é um “ranking” não consolidado de polaridades de materiais quando triboelétricamente carregados. A posição de um material na tabela, pode mudar facilmente na série, dependendo de vários fatores como rugosidade da superfície, força de contato, função trabalho, fluxo inverso de cargas, cargas de ruptura do ar, etc. Estas variáveis somente adicionam dificuldade para entender o mecanismo de tribo carregamento e por isso a tabela de série triboelétrica (Tabela 2.1) para a comparação de materiais não é uma tabela consolidada. [11] FIGURA 2.4 – Efeito Triboelétrico 20 TABELA 2.1: Série Triboelétrica de Diversos Materiais [11] Série Triboelétrica Mão humana Asbestos Acetato Vidro Mica Cabelo Humano Nylon Lã Pele de animal Chumbo Seda Alumínio Papel Algodão Aço Madeira Âmbar Cera selante Poliuretano EU Mylar Níquel, cobre Prata Polímero p/ Proteção UV Latão Ouro, Platina Enxofre Acetato Rayon Poliéster Celulóide Estireno PMMA de celulose Saran Poliuretano Polietileno Polipropileno PVC (vinil) KEL F Silicone Teflon Borracha de silicone Polaridade Adquire mais carga positiva (menor função trabalho). Ponto referencial neutro Adquire mais carga negativa (maior função trabalho). Para entender o efeito triboelétrico é necessário observar os vários mecanismos que contribuem para a geração da carga resultante do processo. Os fatores mais importantes, e com grande influência no processo de carregamento triboelétrico, são os efeitos do contato da superfície e a eletronegatividade dos materiais. 21 O efeito da superfície de contato inclui rugosidade de superfície, força de contato, e aquecimento por fricção (causado por atrito), os quais influenciam a área total do material que está em contato com o outro material durante o tribocarregamento. Quando a rugosidade é mínima a superfície de contato aumenta. A carga resultante é diretamente proporcional ao tamanho da superfície de contato. O desequilíbrio de cargas na superfície é relacionado à fricção na qual ambos são dependentes da adesão entre as superfícies no nível molecular. Duas superfícies podem estar aderidas devido às ligações químicas formadas nas superfícies. Quando as superfícies em contato são então separadas, algumas ligações podem romper-se, e qualquer assimetria nestas ligações tenderá a deixar um desequilíbrio de cargas para trás. A ruptura das ligações na superfície é dependente da eletronegatividade dos materiais envolvidos. 2.1.5 PROPRIEDADE DOS MATERIAIS Os materiais para a eletrostática são classificados em três categorias: z Condutivos z Dissipativos z Isolantes Estas propriedades dos materiais governam o que acontece à carga elétrica, durante o carregamento do material. Materiais condutivos permitem à carga (elétrons) mover-se livremente em sua superfície ou através do seu volume. Cargas colocadas em um ponto em um objeto condutivo fluirão em torno do objeto de tal forma que toda superfície do objeto partilhe as cargas. Se o objeto for conectado a um potencial “aterrado”, as cargas irão recombinar movendo-se para o “terra” até o objeto não ter mais carga. Materiais condutivos têm uma baixa resistividade ôhmica para o fluxo de corrente. 22 Materiais dissipativos permitem que as cargas (elétrons) movam-se vagarosamente na sua superfície ou através do seu volume. As cargas colocadas em um ponto também fluirão em torno do objeto até que todas as partes do mesmo estejam com a mesma distribuição de carga. Se o objeto for “aterrado” as cargas irão recombinar lentamente até o objeto ficar descarregado. Os materiais dissipativos têm uma resistência ôhmica maior que os materiais condutores, porém menor que os materiais isolantes. Materiais Isolantes não permitem que as cargas (elétrons) movam-se ao longo da superfície ou através do seu volume. As cargas colocadas em um ponto de um objeto isolante permanecerão na posição. Se um objeto isolante carregado é “aterrado” as cargas não se moverão para o “terra”. O mesmo objeto isolante pode estar carregado positiva e negativamente em diferentes áreas. Como os isolantes não permitem o movimento de cargas (elétrons), eles podem acumular uma quantidade significativa de cargas. Materiais isolantes têm uma alta resistividade ôhmica ao fluxo de corrente. 23 2.2 AMBIENTE DE CARGA ELETROSTÁTICA A geração de cargas eletrostáticas pode ser realizada pelo corpo humano bem como por objetos. Dependendo dos materiais envolvidos, a pessoa pode apresentar carregamento positivo ou negativo. É importante salientar que o corpo humano nem sempre é o gerador eletrostático e sim o portador. Exemplificando, o corpo humano adquire a condição de portador quando uma pessoa desce de seu carro e ao colocar sua mão na maçaneta e tocar seu pé no chão sente um choque. Neste caso o gerador eletrostático é o carro. Outras fontes de geradores eletrostáticos não humanos são: z Móveis e cadeiras com rodas de material polimérico isolante. z Correias de borracha e tecido e esteiras e suas polias ou roletes z Ventiladores com lâminas do rotor de plástico z Movimento de papel em impressoras e copiadoras z Fluxo rápido e com atrito de gás, liquido ou grãos contra materiais isolantes ou condutores não aterrados. 2.2.1 CARREGAMENTO CORPO HUMANO Podemos descrever o carregamento de uma pessoa caminhando em um piso isolante como o contato e a fricção entre o solado do calçado da pessoa e o piso separado por uma carga Δq para cada passo [12]. Se ele caminha com uma taxa de n passos por unidade de tempo, isto corresponde a uma corrente de carregamento, Ic de: Ic = nΔQ (2.1) A corrente carregará a pessoa de forma que ela terá uma voltagem V, que aumentará com uma taxa média de: ΔV Δq =n C Δt (2.2) onde C é a capacitância da pessoa, n a taxa de passos. 24 O aumento na voltagem, ΔV, devido ao primeiro passo será: ΔV = Δq C (2.3) A voltagem causará uma corrente de decaimento, id, através da resistência, R, da pessoa para o “terra”: id = V R (2.4) E a voltagem atingirá seu valor máximo, Vm, quando ic = id ou Vm = Rn Δq (2.5) Se a voltagem mais alta aceitável pelo corpo é Vac, então a resistência para o “terra” precisa atender a condição R≤ Vac nΔqmax (2.6) Onde Δqmax é o valor máximo de carga separada por cada passo. O valor máximo de Δqmax para o exemplo relatado na figura 2.5 é de Δqmax = ε0EbA, (2.7) Onde: ε0 é a permissividade do ar igual a 8,85x10-12 Farad/m, Eb é a força do campo de ruptura no ar entre eletrodos planos, no caso Eb = 3 x 106 V/m A é a área da sola do sapato, no caso A = 150 cm2. Introduzindo estes valores na equação 2.7 temos um valor de Δqmax = 4 x 10-7 C, (2.8) Que para uma taxa n = 2 passos/seg., corresponde a uma corrente de carregamento de Ic,max = n Δqmax = 8 x 10-7 A (2.9) Se Vac = 100V, então R ≤ 100 MΩ (valores aceitáveis) e utilizando a equação 2.3 pode-se indicar o aumento esperado na voltagem no primeiro passo: 25 ΔV = 4x 10-7 / 100 x 10-12 = 4.000 V (2.10) assumindo uma capacitância de 100 pF por cada passo. Para obter valores mais reais para Δq e ΔV, foi realizada uma série de medidas de voltagem de um corpo humano caminhando em um piso altamente isolante (tipo Vinil) onde a resistência do corpo para o “terra” medida foi de 1011 Ω , com uma variação sobre o piso, de 0,5 x 1011 a 1,5 x 1011 Ω. A capacitância do corpo medida foi de 160 pF para ambos os passos e de 100pF para um único passo, em uma média de 10 medidas. Os valores experimentais obtidos são: Δqmax = 3 x 10-8 C (2.11) A voltagem não aumentará diretamente com uma taxa constante, mas diretamente em função dos passos. Isto é mais um complicador pelo fato que a capacitância diminui quando o pé é levantado e aumenta novamente quando o pé tem contato novamente com o piso. A voltagem, V, irá aumentar, mas não infinitamente, porque o efeito de carregamento da corrente ic será contrabalançado pelo decaimento da corrente id dado pela equação 2.4, onde R é a resistência da pessoa para o terra através da cobertura do piso. A voltagem atingirá seu máximo valor Vm quando as duas correntes ficarem balanceadas, que podemos apresentar como: nΔq = Vm R (2.12) Utilizando o valor obtido na equação 2.11 tem-se que o valor máximo de voltagem esperado é Vm = Rn Δq = 1011 x 2 x 3 x 10-8 = 6.000 V 26 FIGURA 2.5 – Separação de cargas entre a sola do sapato e o piso Embora a capacitância, C, da pessoa não influencie a máxima voltagem, ela em conjunto com a resistência de decaimento, determina a taxa com a qual a voltagem aumenta. Quando dois objetos com diferentes cargas (numero de elétrons) são colocados juntos, as cargas se movem entre os dois objetos até ambos estarem com o mesmo potencial ou mesma carga. Quando isto ocorre dizemos que houve uma descarga. A descarga eletrostática é algo que pode danificar componentes eletrônicos, equipamentos e produtos, grãos propelentes e pirotécnicos. Para sentirmos um choque quando abrimos uma porta ou tocamos em um objeto aterrado, após o carregamento pelo efeito de tribocarregamento é necessário mais de 3.500 volts, sendo que com algumas centenas de volts podemos danificar de forma latente ou até gerar uma falha catastrófica pela corrente induzida durante a descarga em componentes e equipamentos. [5] 27 2.2.2 CARREGAMENTO POR EFEITO TRIBOELÉTRICO A quantidade de carga (Q) (Figura 2.6) transferida de um material para outro durante contato (efeito triboelétrico) é diretamente relacionada à diferença entre a função trabalho dos dois materiais. FIGURA 2.6–Carregamento por Efeito Triboelétrico Podemos representar o carregamento Q por meio de: Q1 = k (φ1 − φ2 )e −1 (2.13) Q2 = C.V = C .(φ1 − φ2 )e −1 (2.14) Onde: Q1 e Q2 = carga ou ampère.segundo (A.s) k = constante Φ1= função trabalho do material 1 (eV) Φ2= função trabalho do material 2 (eV) C = capacitância entre superfícies V = voltagem e = carga elétrica (1,602003 x 10-19 C) 28 A transferência de carga ocorre durante contato em distâncias da ordem de nm e entre materiais diferentes, incluindo metal-metal, metal-dielétrico, dielétrico-dielétrico, durante eventos de contato/separação [11]. O nível teórico de triboeletrificação que é baseado nos níveis de Fermi aplica-se em um simples contato/separação [5]. Múltiplos contatos e separações aumentam o total de carga transferida. Um limite para o processo de carregamento tem sido demonstrado experimentalmente, permitindo obter empiricamente uma constante k = 6 X 10-8. Esta constante permite prever o nível de carregamento dos materiais envolvidos. TABELA 2.2 - Eletronegatividade de Alguns Materiais [5] Material Metais Alumínio (Al) Ouro (Au) Carbono (C) Cobre ( Cu) Níquel ( Ni) urânio ( U) Plásticos Politetrafluoroetileno (PTFE) Policarbonato (Lexcan) Pyrex Quartzo Nylon Acrílico Valor Experimental - Φ(eV) 4,28 5,1 5,0 4,65 5,15 3,63 6,71 3,85 4,84 4,87 4,71 4,3 Observando a Tabela 2.2 onde estão listados alguns materiais e suas respectivas eletronegatividades, podemos observar pela equação 2.15 que, quando a carga acumulada na capacitância representativa, por triboeletrificação aumenta, V = Q x C− 1 (2.15) a voltagem da descarga eletrostática atinge um nível corona ou um nível de começo de descarga parcial, que é o fator limitante da triboeletrificação. A atividade corona ocorre 29 quando o campo de força elétrico E, excede a resistência do meio dielétrico circundante ocasionando um caminho de baixa resistividade e assim descarregando o material [13]. Considerando o ar como meio circundante, usamos a lei de Paschen [14] para campos uniformes. A lei de Paschen, Vr = f(pd) é uma formula empírica para o ar, considerando o mesmo como um gás ideal. A figura 2.7 apresenta a Curva de Paschen onde, Vr = voltagem de ruptura em kV, d = distancia em cm, e p= pressão em escala absoluta. FIGURA 2.7 – Curva de Paschen [14] Quando o dielétrico é o ar e a distancia é de alguns milímetros a equação é simplificada para: Vruptura = ( 30 pd + 1,35 ) kV (2.16) onde: d em centímetros e p em atmosferas A equação 2.16 indica que a diminuição da distância influência fortemente na diminuição da voltagem de ruptura. No ar, aumentando a umidade aumenta a voltagem de 30 ruptura, pois a umidade diminui a resistividade do meio criando caminhos alternativos. O efeito é mais evidente em campos uniformes, e menos importante em espaços não uniformes. 2.2.3 DESCARGA ELETROSTÁTICA Dependendo da voltagem inicial, resistência, indutância, e capacitâncias parasíticas do objeto: 1- Pode ocorrer um arco voltaico entre uma superfície carregada e o objeto 2- Pode ocorrer um arco com uma faísca inicial - descarga rápida. 3- Podem ocorrer múltiplos arcos de mesma polaridade ou polaridade alternada: A descarga eletrostática pode achar caminhos em um equipamento através de cinco formas de caminhos de acoplamento [5]: 1- Um campo elétrico inicial pode capacitivamente acoplar como uma rede com uma área de grande superfície, gerando acima de 4000V/m. 2- Carga/corrente injetada por um arco pode: z Danificar as camadas isolantes de um circuito eletrônico integrado z Curto-circuitar junções reversamente polarizadas z Curto-circuitar junções diretamente polarizadas z Fundir fios ou trilhas 3- A corrente causa um pulso de voltagem nos condutores se eles são de potência, terra, ou de sinais. 4- Um campo magnético intenso de um arco tem uma faixa de freqüência de cerca de 1 a 500 MHz que pode acoplar indutivamente em todos os laços (“loops”) nas proximidades, com uma corrente de 15 Ampères /m, a uma distância de 100 mm do arco gerado pela descarga eletrostática. 5- Um campo magnético irradiado do arco torna-se um campo eletromagnético, que acopla em todos os cabos que atuam como se fossem antenas de recepção. 31 2.2.3.1 TIPOS DE DESCARGA As descargas podem ser classificadas em três grupos que algumas vezes se sobrepõem: descarga corona, descarga faísca e descarga escova. Descarga Corona: Se a intensidade do campo elétrico em um eletrodo tipo ponta de agulha excede a força de ruptura do campo do meio, a descarga corona acontece. A descarga Corona representada na figura 2.8 pode ocorrer quando moléculas do ar são ionizadas por um forte campo elétrico, usualmente criadas em um eletrodo tipo ponta de agulha energizado com alta voltagem e colocado próximo à superfície alvo. Isto também pode ocorrer com um eletrodo aterrado que seja colocado próximo a um objeto carregado, pois para ocorrer a descarga só é necessário um campo de força alto [15]. FIGURA 2.8 - Descarga Corona Na descarga corona, a ionização é limitada a uma pequena região em redor do eletrodo, onde a força de ruptura do campo é excedida. No resto do campo, nós temos uma corrente com baixa movimentação de íons. A descarga corona é também conhecida como descarga silenciosa. Descarga Faísca: No outro extremo da escala de descargas temos a descarga faísca representada na figura 2.9. Este tipo de descarga pode acontecer entre dois condutores com diferentes potenciais cada, sendo um deles normalmente aterrado. A descarga inicia em um ponto onde a força do campo de ruptura é excedida. Mas em contraste com a descarga corona, em uma faísca a ionização acontece em todo o percurso entre os dois eletrodos. Se os eletrodos são conectados a uma fonte de voltagem, a descarga pode tornar-se um arco 32 contínuo, mas normalmente no caso de um condutor isolado, a descarga é um processo muito rápido. FIGURA 2.9 - Descarga Faísca Descarga Escova: Entre a descarga corona e a descarga faísca está a descarga escova representada na figura 2.10, que pode acontecer, por exemplo, entre um material carregado e um eletrodo normalmente aterrado com raio de curvatura de alguns milímetros. Se uma descarga escova é mantida por longos períodos podem aparecer caminhos luminescentes irregulares. FIGURA 2.10 - Descarga Escova Geração de Descarga Eletrostática - Modelo Corpo Humano O modelo IEEE STD 62.47 1998 [5] representa o carregamento e a descarga do corpo humano conforme representado na figura 2.11. FIGURA 2.11 – Modelo IEEE PESD [5] 33 O circuito tanque inicial na figura 2.11 representa o corpo composto pela capacitância, indutância e resistência respectivamente Cc, Lc, Rc. O segundo circuito tanque representa a mão onde similarmente temos Cm, Lm, Rm. A norma define uma faixa de valores conforme Tabela 2.3. TABELA 2.3: Valores dos Parâmetros do modelo PESD [5] Componente ou Parâmetro IEEE 62.47 (PESD) Capacitância do corpo - Cc 60 a 300 pF – (típico 300 pF) Indutância do corpo - Lc 0,5 a 2 μH - (típico 0,5 μH) Resistência do corpo - Rc 150 a 1500 Ω (típico 150 Ω) Capacitância da mão - Cm 3 a 10 pF – (típico 10 pF) Indutância da mão - Lm 0,05 a 0,2 μH - (típico 0,05 μH) Resistência da mão - Rm 20 a 200 Ω (típico 20 Ω) Chaveamento indefinido Carga - RL Considerar um curto circuito Efeito severo total – 25 kV 6,2 x 10-04 A2.s (94 mJ) Efeito extremo total – 40 kV 1,6 x 10-03 A2.s (240 mJ) Efeito da umidade do ambiente em Descarga Eletrostática Um dos parâmetros mais importantes que influenciam a ocorrência de descarga eletrostática é a umidade relativa. A mistura contida no ar em condições normais tende a abaixar a resistência superficial de pisos, tapetes criando através de partículas molhadas um filme ligeiramente condutivo na superfície dos mesmos. Durante o período em que o ar tornase mais seco, notadamente no inverno, com a redução da umidade relativa este fenômeno favorável desaparece. O ar, mesmo estando seco, torna-se parte do mecanismo de geração de eletrostática, muitas vezes através do próprio fluxo de ar (vento, ar condicionado, ventiladores). 34 2.3 ELETROSTÁTICA EM PROPELENTES SÓLIDOS A maioria das propriedades elétricas dos propelentes tipo compósito são influenciadas pelo ligante (“binder”) e, de uma forma menos intensa, pela concentração e tamanho das partículas de alumínio. As partículas do oxidante (não condutivo) contribuem somente geometricamente para influenciar o espaçamento entre as partículas de alumínio. Dentre as inúmeras pesquisas já realizadas [16, 17] para entender o fenômeno de descarga eletrostática em propelentes e obter as propriedades elétricas dos propelentes, os pesquisadores franceses do SNPE obtiveram resultados significativos, sendo que o protocolo desenvolvido por Kent e Rat [16] foi utilizado nas pesquisas e experiências realizadas por Covino e Hudson [17]. O foco das pesquisas foi entender o papel das características elétricas na sensibilidade dos propelentes sólidos, a influência do ligante polibutadieno hidroxilado (PBLH) e da carga sólida, em relação à sensibilidade do propelente iniciar ignição sustentada ou não, ou trincar por efeito do fenômeno de descarga eletrostática. A teoria da percolação para propelentes sólidos foi desenvolvida em conjunto com o estudo de novos testes, e aplicada a estudar a sensibilidade do propelente tipo compósito. A teoria da percolação é o estudo da geometria de materiais aleatórios [18]. No contexto de propelentes sólidos, é a influência da geometria dos aglomerados metálicos em um meio isolante e como as partículas afetam o nível de voltagem de ruptura do dielétrico do propelente. No cálculo de percolação o “binder” influencia muito o valor de P, que é o índice de percolação utilizado como parâmetro final para realizar a avaliação da sensibilidade. Este efeito tem sido validado por medidas de descarga eletrostática efetuadas em propelentes com “binders” mais condutivos, no qual a sensibilidade à descarga eletrostática destes sistemas é drasticamente reduzida. Características dos propelentes estudados por Covino e Hudson [17]: z Resistividade volumétrica baixa (105- 1010 Ω . cm ; 103 – 108 Ω.m) 35 z Constante dielétrica alta (10-300 na freqüência de 1 kHz) z Potencial de ruptura do dielétrico, moderado para alto, (1 a 6 x 106 V/m) Dados obtidos de estudos [16, 17, 19] mostram que para propelentes a base de PBLH, o alumínio influencia fortemente as propriedades elétricas do propelente como um todo. Uma observação importante feita por Covino e Hudson [17] é que a constante dielétrica do propelente é proporcional à quantidade de alumínio no sistema. A diminuição do diâmetro médio da partícula de alumínio aumenta (a força) o potencial de ruptura do dielétrico. Estes resultados [16, 17] permitem a conclusão que em propelentes PBLH é possível torná-los mais seguros em relação à Descarga Eletrostática, se a concentração de alumínio é reduzida (abaixo de 20% em volume), ou se o diâmetro médio da partícula de alumínio é reduzido. As partículas de alumínio são envoltas por uma camada de Alumina (Al2O3) que possui uma resistividade volumétrica da ordem de 2.1014 ohm.cm. Esta camada isolante da partícula de alumínio faz com que a resistividade do propelente aumente de valor. Este aumento da resistividade faz com que haja maior acúmulo de cargas elétricas no propelente, se não houver medidas mitigadoras para descarregar de forma segura estas cargas. Nas pesquisas atuais, a ignição de materiais energéticos com níveis de energia relativamente baixos, da ordem de 10 mJ, tem sido associada com a indução de uma reação exotérmica sustentada em materiais energéticos [20]. Estas energias estão de acordo com os valores esperados que podem ser armazenados nas carcaças feitas de compósito e subseqüentemente transferidos para o material energético [19]. Um dos experimentos realizados permitiu obter baixa energia de ignição através da pressurização das amostras. Em uma câmara fechada foi introduzido nitrogênio e conforme a pressão aumentava foi observado que a energia elétrica necessária para a ignição diminuía (Tabela 2.4) 36 TABELA 2.4 – Sensibilidade x pressão de um propelente PBLH/68%PA/20%Al - [19] Pressão, MPa. 0,1 1 5 10 Energia necessária para a ignição. 5J 760 mJ - 340 mJ A tabela 2.4 foi obtida experimentalmente por meio de ensaios em amostras representativas de propelentes ativos. Pode-se observar que a ignição do propelente sólido pode ocorrer acidentalmente, devido às pressões mecânicas internas no grão propelente. 37 2.4 TEORIAS DE IGNIÇÃO DOS PROPELENTES SÓLIDOS Propelentes sólidos são sistemas complexos no aspecto de combustão. A ignição de propelentes sólidos é um processo que ocorre entre a aplicação de um estimulo energético em um bloco de propelente e a combustão total do mesmo [21, 22]. Intrinsecamente, a ignição é um estimulo energético que pode ser físico-químico, térmico, ou eventualmente fotoquímico. Para entender o processo físico-químico da ignição em propelente sólido foram propostas três principais teorias que estão sendo ainda pesquisadas: Teoria da Ignição térmica: Esta teoria, proposta por Hicks, sugere que a reação química exotérmica que ocorre no sólido aumenta a temperatura da superfície até o ponto de ignição. Devido a isto, a ignição é governada pelo aumento da temperatura no sólido embaixo da superfície exposta ao fluxo de calor [21]. Teoria da Fase-Gás: De acordo com esta teoria, as condições de aquecimento são devidas ao resultado da reação química exotérmica na fase gás entre os constituintes do propelente a uma pequena, mas finita, distância da superfície [21]. Teoria Heterogênea: Esta teoria estabelece que a reação primária ocorra na superfície ou abaixo dela entre os produtos gasosos da decomposição do oxidante e da matriz sólida do “binder” orgânico. Esta reação heterogênea controla o processo de ignição [21]. Estas teorias geraram pesquisas sobre influência da pressão, catalisadores, e outros componentes do “binder” na energia necessária para iniciar a ignição do propelente. Esta ignição pode ser sustentável ou não sustentável [19]. Com o desenvolvimento industrial de formulações com PBLH aluminizadas, ignições acidentais começaram a ser observadas em propelentes curados, sem qualquer choque significativo ou estímulo por fricção. Após estudos concluiu-se que a origem destas ignições era uma descarga de eletricidade estática. Os testes padrões da época utilizavam pequenas quantidades de propelentes e forneciam resultados que indicavam não ser a Descarga 38 Eletrostática a causa da ignição [23]. A principal razão do fenômeno não ter sido observado antes, é porque houve um sistemático aumento da resistividade dos propelentes quando as formulações de binder passaram de poliuretanos para Polibutadieno Carboxilado (PBLC) e então para Polibutadieno hidroxilado (PBLH) [19, 24, 25]. A tabela 2.5 mostra a variação da resistividade dos ligantes mais utilizados. TABELA 2.5 – Resistividade Volumétrica típica a 20 oC dos principais ligantes de propelente sólido compósito. Tipo de “Binder” Poliuretano Polieter Polibutadieno Carboxilado Polibutadieno hidroxilado Resistividade, Ω 6 x 108 7 x 109 2 x 1012 Ao mesmo tempo as carcaças e os materiais de isolação evoluíram em direção de materiais com alta resistividade resultando que a resistividade dos propelentes aumentava, e o efeito protetor da gaiola de Faraday desaparecia, ocasionando o surgimento de fenômenos de Descarga Eletrostática nos grãos propelentes sólidos. Até 1976 os únicos incidentes relacionados à Descarga Eletrostática eram as reações dos pós das composições pirotécnicas [23, 26]. Quando os propelentes sólidos tipo compósito foram desenvolvidos, os testes de Descarga Eletrostática foram adaptados dos testes utilizados em pirotécnicos. E quando aplicados nos propelentes nenhuma reação era observada. Porém, do fim de 1976 ao meio de 1978, dez incidentes ou acidentes [19] aconteceram durante a manipulação e produção de grãos propelentes na fábrica francesa SNPE, todos envolvendo propelentes aluminizados, que tinham sido aprovados anteriormente nos testes de descarga eletrostática utilizados até então. Alguns dos incidentes envolviam claramente manifestações eletrostáticas sem a ignição do propelente. Em um dos casos, o operador ao tocar o grão escutou uma explosão e um ruído de trinca. Após inspeção visual observou-se uma trinca no lugar onde havia tido a 39 explosão e ejeção de fragmento. Todas as formulações utilizavam o PBLH como pré-polímero do “binder”. Em 11 de janeiro de 1985, em Heilbronn, Alemanha, um míssil Pershing II com um motor foguete encapsulado em Kevlar e propelente PBLH aluminizado teve a queima iniciada acidentalmente, ocasionando a morte de três pessoas [2]. As investigações posteriores indicaram como causa da ignição do motor foguete a ocorrência de Descarga Eletrostática através do motor devido à separação de materiais com dielétricos diferentes em um clima frio e seco. Em 29 de Dezembro de 1987, o motor foguete do 1.o estágio do míssil Peacekeeper (PK-322) iniciou a queima com resultados catastróficos, levando a empresa Morton Thiokol, a desenvolver um extensivo programa de testes [27] para avaliação dos riscos, devido a grande quantidade de motores já entregues e espalhados nas bases militares em diversos países. 2.4.1 OCORRÊNCIA DE FENÔMENOS ELETROSTÁTICOS As manifestações eletrostáticas que podem ocorrer nos motores de propelente sólidos são oriundas de cargas geradas durante as diversas operações efetuadas nos mesmos. A carga pode ser gerada por diversos meios [5, 17]: 1- Efeito triboelétrico, que acontece quando uma superfície não condutiva entra em contato com outra superfície e então é separada. Este efeito pode ser observado nas interfaces entre o motor foguete a propelente sólido e apoios de empilhadeiras ou outro tipo de suporte para o motor. 2- Polarização, quando o material adquire carga eletrostática sob a influencia de um campo elétrico. 3- Emissões termiônicas, que é a emissão de elétrons causada pelo aumento da temperatura das partículas. 40 4- Carregamento Fotoelétrico, onde os fótons devidos à luz transmitem energia suficiente para ejetar elétrons da superfície. 5- Fratura Mecânica, onde o mecanismo proposto para a geração de elétrons é a ruptura, deformação, ou quebra das ligações em sólidos mecanicamente. 6- Carregamento por congelamento, onde as diferenças de potencial que são induzidas durante o congelamento (por exemplo, durante o congelamento da água). Por meio desses mecanismos, uma considerável carga eletrostática pode ser criada durante a manipulação e fabricação de um motor foguete de propelente sólido. De acordo com pesquisas, potenciais elétricos no núcleo de um propelente podem exceder milhares de volts durante a extração do “mandril” [19]. Os fabricantes utilizam grafite como medida preventiva ao acumulo de cargas eletrostáticas durante o processo, assim como a fabricação de carcaças utilizando a grafite na composição das mesmas diminui a resistividade das carcaças e com isso se obtém o efeito protetor da gaiola de Faraday. Antes do acidente com o míssil Pershing II, os níveis de sensibilidade à Descarga Eletrostática de motores foguete a propelente sólido eram determinados por descargas capacitivas. O método que foi utilizado por muitos anos nos EUA era baseado em dados experimentais do U.S. Bureau of Mines [27, 28]. O incidente com o Pershing II mostrou que um propelente que seria insensível a 21 oC, pode ser mais sensível em temperaturas baixas. Isto levou a necessidade de realizar novos testes, nos grãos propelentes sólidos que já tinham sido colocados em campo em outras temperaturas e os resultados definiram novas medidas de prevenção dos riscos. Por força de tratado internacional entre EUA e Rússia, todos os motores Pershing II foram destruídos. Covino et al [17] elaboraram no “Naval Weapon Center” (NWC), um protocolo baseado no trabalho preliminar em efeitos de Descarga Eletrostática em propelentes desenvolvido na Societé Nationale dês Poudres et Explosifs (SNPE) por Kent e Rat [16]. 41 O protocolo apresentado por Covino et al [17] indica várias etapas para testar a sensibilidade de um propelente. O protocolo sendo executado em todos os passos irá classificar o propelente em relação a sua sensibilidade à Descarga Eletrostática. As etapas são a obtenção dos dados referentes a características elétricas através de ensaios, cálculos do fator de percolação e testes de descarga eletrostática nas amostras do propelente estudado. 42 2.5 IGNIÇÃO DE PROPELENTE SÓLIDO POR DESCARGA ELETROSTÁTICA Cargas de eletricidade estática estão normalmente presentes nas interfaces das várias fases do motor foguete a propelente sólido: no compósito, isolação térmica, “liner” e em outras partes do motor foguete. O carregamento de superfícies dos vários constituintes do grão propelente sólido, pode ocorrer por contato entre as mesmas (contato triboelétrico) e por trincas ou separação da fase sólida como em fracto-eletrificação. Descargas imprevistas de energia eletrostática podem resultar em ignição, deflagração e, até mesmo, explosão do motor-foguete caso não sejam previstas contramedidas no processo de produção e carregamento do grão no tubo motor-foguete. Dentre as espécies químicas que compõem a formulação do compósito, o perclorato de amônio representa um risco potencial a este fenômeno eletrostático tendo em vista que, em função de sua alta higroscopicidade, necessita ter seu teor de umidade reduzido antes de ser incorporado à massa líquida que se transformará no grão após o processo de cura do propelente sólido [29]. Ocorre que seu processo de secagem é feito em leito fluidizado em contracorrente com ar seco que arrasta sua umidade. Daí pode resultar seu carregamento eletrostático. Tanto por atrito como por diminuição de sua umidade intrínseca. Pontos de aterramento devidamente posicionados na planta de produção da fábrica podem reduzir e, até mesmo, eliminar este fenômeno. Os mecanismos de ignição de propelentes sólidos propostos na literatura buscam estudar o fenômeno através da abordagem de “pontos quentes” que podem evoluir para uma reação sustentada ou para uma trinca. Na análise de ignição causada por eventos de descarga eletrostática em propelente sólidos, precisamos incluir o estudo de: a - Energia elétrica disponível para iniciar a ignição em uma típica geometria em nível de sistema. 43 b - Deposição de energia elétrica em arcos típicos como uma função do tamanho das amostras e características tais como a resistência. c - Energia elétrica, potência, e o tempo necessário para o arco causar ignição. d - Mecanismos de perda resistiva em arcos. e - Propriedades físicas do propelente sólido que são diretamente relacionadas à ignição. Ex. Capacidade de calor. 2.5.1 MÉTODOS DE ESTUDO DA IGNIÇÃO Para o estudo da ignição do propelente sólido há duas vertentes de pesquisa: z métodos ou modelos teóricos, z método ou modelo experimental. Dentre os métodos teóricos que têm sido desenvolvidos podemos destacar métodos computacionais [8], onde o foco do estudo é a correlação entre a taxa de queima do material e a sensibilidade à descarga eletrostática [30]. Método chamado Modelo de Tempo Característico [8] onde o critério de ignição é estabelecido quando a taxa de calor liberado resultante da reação química torna-se igual ou excede a taxa de calor perdido, de um volume aquecido local chamado de ponto quente [31]. Há ainda o modelo proposto por Lee que é um modelo analítico baseado em ignição por choque, onde os constituintes reativos presos no canal de plasma gerado pelo arco elétrico poderiam explodir térmicamente após um tempo de indução [8]. O modelo idealizado por Lee para explicar a formação de um canal de plasma, que gera a ignição através da energia transportada pelo canal, é uma coluna de plasma cilíndrica. O canal do arco voltaico é formado no propelente sólido (figura 2.12), entre as partículas de alumínio entrelaçando um percurso em torno dos cristais de perclorato de amônio [32]. O canal irá formar-se, preferencialmente, nas fronteiras intersticiais entre regiões de diferente constituição (ver figura 2.13), por exemplo, o “binder” e os cristais de Perclorato de 44 Amônio, porque a rigidez dielétrica destas regiões é mais fraca que os constituintes individuais. As pequenas partículas de alumínio servem para aumentar o campo elétrico externo através da amostra, pois a distância entre elas facilita a formação do arco aumentando a condutividade elétrica. O efeito é mais pronunciado na matriz “binder”/alumínio, porque é onde o alumínio está localizado. O aumento da concentração do campo elétrico nesta região, devido à presença do alumínio, induz falha em voltagens baixas. Assim a formação do canal do arco está fortemente associada com as partículas de alumínio. FIGURA 2.12 – Canal formado por arco em propelente heterogêneo [8] FIGURA 2.13 - Estrutura simplificada do canal para modelo de ignição. 45 Após a ruptura do dielétrico, é formado o canal pelo arco que é uma coluna de gás ionizado (plasma) localizado no ponto onde inicia a ruptura [32]. Confinado pelos sólidos, o plasma permanecerá altamente condensado permitindo um aumento de corrente, pois a condutância do canal gerado pelo arco voltaico aumenta. A energia elétrica da descarga é depositada no plasma e o estado físico do canal de plasma, (tamanho, temperatura, densidade, etc), é alterado, aumentando a condutância o que permite o aumento da corrente. O plasma oriundo da gaseificação e ionização de pequena quantidade do material do “binder” permanece preso no volume inicial ao longo do trajeto do canal formado. O alumínio contido no canal não vaporiza porque a energia necessária para evaporar o alumínio é muito maior que a energia elétrica fornecida para o canal de plasma. Logo após a formação da coluna de plasma, a continuação de deposição de energia elétrica faz com que a coluna expanda radialmente. A ablação dos sólidos constituintes pela deposição de energia irradiada é muito pequena. Durante a descarga eletrostática e logo após, perdas por radiação causam um rápido esfriamento do plasma e conseqüente aquecimento dos sólidos da vizinhança devido à absorção. O transporte térmico condutivo e radiativo do plasma é o aspecto importante porque a deposição desta energia para o meio vizinho é o estímulo para a ignição [33]. Porém esta perda de energia do ponto inicial para o meio reativo pode fazer com que a reação cesse e a temperatura pode cair a um nível onde a decomposição química não tenha tempo suficiente para tornar-se auto sustentada. A ignição ocorre em regiões localizadas adjacentes à coluna de plasma onde o aquecimento é mais intenso [8]. 46 2.5.2 MECANISMOS DE REAÇÕES ATIVOS Como as partículas de perclorato de amônio não são constituintes do plasma, não há oxigênio suficiente no canal de plasma. A coluna de plasma é considerada uma fonte de calor finita. A ignição pode ocorrer em regiões adjacentes à coluna de plasma onde o aquecimento é mais intenso. Os mecanismos de reação ativos são: 1- Decomposição unimolecular dos cristais adjacentes de Perclorato de Amônio. 2- Pirólise do “binder” PBLH resultando em uma reação exotérmica entre os gases gerados na pirólise, e que envolve as pequenas partículas de perclorato de amônio contidas no “binder”. 3- Reação dos gases de hidrocarbonetos superaquecidos complementando o plasma com o Perclorato de Amônio. Nas experiências efetuadas por Lee, foram realizadas inspeções nos corpos de prova e observou-se que o canal do arco é formado no material do “binder” entre as partículas de alumínio, e Lee assumiu que o plasma é formado por vários constituintes do “binder” [8]. Como a maior parte do “binder” é PBLH pode-se assumir que o plasma é composto de oligômeros vaporizados de PBLH. Isto conduz à conclusão que a região do canal pode ser modelada como um gás quente com propriedades térmicas similares ao PBLH pirolisado. O interesse nos mecanismos de ignição por pontos quentes levou a experiências que resultaram em dados e conclusões, nas quais foi observado que a energia requerida para iniciar a ignição de um propelente ou explosivo, pode ser significativamente menor que a necessária para obter o mesmo efeito em um espécime para testes (bloco) do material [8, 34]. Os resultados são independentes da forma original da energia não térmica e têm sido usados, para interpretar dados de estímulos por choque, impacto, fricção e descarga eletrostática. Os mecanismos de ignição por descarga eletrostática, propostos na literatura convergem para a decomposição química do “binder” através da ruptura do dielétrico do 47 propelente tipo compósito em formulações contendo partículas de alumínio. De acordo com Mellor et al [35], se o oxidante perclorato de amônio, está perto o suficiente da fonte dos produtos em decomposição, reações químicas podem então ocorrer entre o oxidante e o “binder”. Lee [8] e Larson et al [1] sugerem que micro arcos entre as partículas de alumínio são os precursores da reação química local e não o caminho de ruptura contínuo. O grau de confinamento também influencia no processo de ignição, isto é, quando aumenta o confinamento, a probabilidade de ignição aumenta [36]. FIGURA 2.14 – Caminhos de absorção da energia da descarga eletrostática A figura 2.14 apresenta um diagrama dos caminhos de condução para a absorção da energia no propelente sólido onde a energia liberada pela descarga eletrostática pode seguir dois possíveis caminhos dependendo das características do propelente sólido. Pode ocorrer micro arcos entre as partículas de alumínio gerando um inicio de ignição local (ruptura local), ou ruptura do dielétrico gerando um caminho contínuo que pode evoluir para um início de ignição ou uma trinca no grão propelente sólido. Nas duas situações de início de ignição, o nível de confinamento irá determinar se haverá ignição sustentada. 48 3. PARTE EXPERIMENTAL 3.1 EQUIPAMENTOS Para obter os dados referentes a características elétricas e físicas das amostras de propelentes foram utilizados os equipamentos identificados na tabela 3.1. A tabela 3.2 apresenta a identificação dos dispositivos construídos para a manipulação, preparo e conformação das amostras a serem testadas. TABELA 3.1 – Equipamentos utilizados nos ensaios. ITEM EQUIPAMENTO MODELO AFERIÇÃO 01 High Resistance Meter HP-4329 A OK 02 LCR Meter HP-3444 A OK 03 Electrostatic Discharge Simulator FTS-930 D OK 04 Microscópio Óptico LEICA MZ95 Não Aplicável 05 Microscópio Óptico METALOGRAFICO LEICA DM5000M Não Aplicável 06 Microscópio de Varredura Eletrônica - MEV OK LEO-15SS- TABELA 3.2 – Dispositivos de Testes ITEM DESCRIÇÃO MODELO 01 Dispositivo para ensaio de capacitância Não Aplicável 02 Dispositivo para ensaio de Descarga Eletrostática Não Aplicável 03 Dispositivo para ensaio de Microscopia - MEV Não Aplicável Os equipamentos foram utilizados em etapas de acordo com as características a serem medidas. z Etapa 1 – Microscopia de Varredura eletrônica z Etapa 2 – Microscopia Óptica z Etapa 3 – Características Elétricas z Etapa 4 - Descarga Eletrostática 49 3.1.1 MICROSCOPIA DE VARREDURA ELETRÔNICA Os ensaios foram realizados utilizando um Microscópio Eletrônico de Varredura. As amostras foram posicionadas dentro da unidade de varredura e identificadas posicionalmente. O equipamento é composto pelo microscópio de varredura eletrônica (Figura 3.1) e um sistema de aquisição de imagens (Figura 3.2). FIGURA 3.1 – Diagrama do Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV FIGURA 3.2 –Equipamento Microscópio Eletrônico de Varredura - MEV 50 3.1.2 MICROSCOPIA ÓPTICA Os ensaios realizados nas amostras de propelentes ativos utilizaram uma microscopia com luz polarizada para um melhor imageamento das amostras. As amostras em forma de fatias foram visualizadas em diferentes graus de ampliação, definidos conforme a necessidade de identificar a distribuição das partículas. O equipamento é composto por dois microscópios ópticos com diferentes graus de ampliação em conjunto com um sistema de aquisição de dados e controle em um microcomputador (Figura 3.3 e Figura 3.4). FIGURA 3.3 – Diagrama do Microscópio Óptico e Aquisição de Dados FIGURA 3.4 – Equipamento de Microscopia Óptica 51 3.1.3 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA Para a realização das medidas de caracterização elétrica foi utilizado um dispositivo para permitir o contato elétrico entre os equipamentos de teste e a amostra (Figura 3.5). Os equipamentos utilizados na realização das medidas (Figura 3.6 e Figura 3.7) estavam aferidos e operacionais: FIGURA 3.5 – Diagrama do dispositivo de ensaio elétrico FIGURA 3.6 - Medidor LCR FIGURA 3.7 - Medidor de Alta Resistência 52 3.1.4 DESCARGA ELETROSTÁTICA O ensaio de Descarga Eletrostática foi feito nos grupos de amostras dos propelentes sólidos, observando-se as limitações de nível de energia disponibilizado pelo equipamento. Foi desenvolvido um dispositivo (Figura 3.8) para abrigar a amostra e efetuar o contato elétrico entre o Simulador de Descarga Eletrostática e a amostra. O dispositivo foi construído para permitir a visualização de eventual ignição ou trinca durante a injeção de energia. FIGURA 3.8 – Dispositivo para Testes de Descarga Eletrostática O diagrama do equipamento de Simulação de Descarga Eletrostática permite entender a operação do mesmo (Figura 3.9). O sistema permite controlar a energia e a seqüência de disparos das descargas através do módulo de Controle e Descarga. FIGURA 3.9 - Esquema básico do Gerador de Descarga Eletrostática A bancada de testes (Figura 3.10) foi posicionada em um local para garantir a segurança dos operadores. (Figura 3.11 e Figura 3.12). 53 FIGURA 3.10 – Bancada de Testes de Ensaio de Descarga Eletrostática FIGURA 3.11 – Dispositivo de Testes para amostras 100 mm FIGURA 3.12 – Área de testes de Ensaio de Descarga Eletrostática 54 3.2 MATERIAIS UTILIZADOS As amostras de propelentes sólidos compósitos, utilizadas na parte experimental são oriundas de varias formulações fabricadas. Propelentes compósitos são misturas heterogêneas de grãos de oxidantes, alumínio em partículas esféricas que atua como combustível, e um ligante conhecido como binder, que também é combustível. 3.2.1 OXIDANTE O oxidante usado na fabricação das amostras é o Perclorato de Amônio NH4ClO4, uma substancia cristalina com boa estabilidade química e alto teor de oxigênio. As características do Perclorato de Amônio são apresentadas na tabela 3.3. TABELA 3.3: Propriedades do Perclorato de Amônio (NH4ClO4) [17] Propriedades Valor 3 Densidade (ρ) 1,95 g/cm Calor especifico (Cp) 0,31 cal/g.K Difusividade Térmica (dp) 2,5x10-3 a 4,55x10-6T(oC)cm2/seg Ponto de fusão (MP) 835K Massa molar (M) 116,5 g/mol com 55% de Oxigênio em massa 3.2.2 METAL O metal combustível utilizado é um pó de alumínio cujas partículas têm um diâmetro médio definido pela formulação a ser utilizada. A partícula deve ter preferencialmente o formato esférico. A combustão do alumínio é um processo muito complexo. O alumínio é um combustível muito exotérmico produzindo Al2O3 que é liquido na temperatura da chama (~3500K) [37]. As propriedades do alumínio estão descritas na tabela 3.4. TABELA 3.4: Propriedades do Alumínio [38] Propriedades Valor Densidade (ρ) 2,7 g/cm3 Calor especifico (Cp) 0,2241 cal/g.K Ponto de Fusão (MP) 660 0C 55 3.2.3 BINDER O binder é um polibutadieno com terminação hidroxila também chamado polibutadieno hidroxilado. O PBLH (em inglês HTPB) é uma resina sintética rica em carbono e hidrogênio. A melhor performance é obtida com um percentual de Perclorato de Amônio (PA) variando de um mínimo de 60% a um máximo de 89 % da massa total do propelente, porém as propriedades mecânicas requerem um mínimo de binder. A concentração normal de Perclorato de Amônio é cerca de 70% de massa, a do alumínio é em torno de 16% e o binder em torno de 14% [39]. 3.2.4 CORPOS DE PROVA Os corpos de prova consistem de cinco grupos de amostras de quatro formulações distintas, conforme Tabela 3.5 a seguir: TABELA 3.5: Amostras de Propelentes Grupo Quantidade Formulação Observações (% PA) Prop A001 06 AP/HTPB/Al - Bimodal Carga ~70% Prop B001 06 AP/HTPB/Al - Bimodal Carga~75% Prop C001 06 AP/HTPB/Al - Bimodal Carga~69% Prop D001 06 AP/HTPB/Al - Bimodal Carga~69% Prop E001 06 AP/HTPB/Al - Trimodal Carga~69% A distribuição granulométrica do perclorato de amônio pode conter dois ou três diâmetros de partícula na formulação. Quando há dois diâmetros distintos de perclorato de amônio, a distribuição é chamada de bimodal e quando há três diâmetros distintos de PA é chamada de trimodal. 56 As amostras foram preparadas com a aplicação em uma das superfícies de uma resina com prata coloidal para uniformizar o contato elétrico entre a amostra e o eletrodo negativo conforme as figuras 3.13 a 3.16. FIGURA 3.13 – Amostra de propelente As amostras foram identificadas em cinco grupos de seis unidades cada grupo e os testes foram realizados em todos os grupos nas mesmas condições ambientais. FIGURA 3.14 – Preparação de amostras FIGURA 3.15 – Amostra Propelente A001 57 FIGURA 3.16 - Amostra Propelente C001 58 3.3 ENSAIOS Os ensaios foram realizados utilizando as amostras de propelentes ativos, seguindo a linha de pesquisa utilizada por Covino e Hudson [17], os quais utilizando trabalhos prévios de Kent e Rat [16] obtiveram resultados que permitiram identificar a sensibilidade às descargas eletrostáticas dos propelentes estudados. No presente trabalho, foram estudadas cinco amostras de diferentes lotes dentro das condições indicadas a seguir. Os ensaios realizados nos corpos de prova foram divididos em três fases: 1- Ensaios de microscopia óptica e de varredura eletrônica 2- Ensaios de caracterização elétrica 3- Ensaios de Descarga Eletrostática. 3.3.1 ENSAIOS DE MICROSCOPIA ÓPTICA E DE VARREDURA ELETRÔNICA Na aquisição de imagens ópticas, cada amostra foi identificada e fotografada em ampliações entre 20x a 120x. Em casos particulares para visualizar algum detalhe utilizou-se também ampliação de 60x. Nas imagens feitas através de varredura eletrônica, definiu-se duas escalas prioritárias a saber, 20 μm e 100 μm. 3.3.2 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA Para as medidas de caracterização elétrica, as amostras foram inseridas em um dispositivo (Figura 3.5) e um valor de 100 Volts DC por 4 minutos, foi aplicado em cada amostra para o teste de medida de resistividade volumétrica. Para o ensaio de medidas capacitivas foram utilizados um valor máximo de 2 Volts e freqüência de 1 kHz, 100 kHz e 1MHz. 3.3.3 ENSAIOS DE DESCARGA ELETROSTÁTICA O ensaio de descarga eletrostática foi realizado baseado no procedimento gerado de acordo com as normas aplicáveis. O teste define uma faixa de voltagem de 0 a 26 kV, correntes acima de 2,0 mA e uma capacitância máxima de 500 pF para obter a energia de até 59 1,69 J. Não foi utilizado o resistor limitador de 5 kΩ para que o tempo de descarga fosse dependente somente da resistividade da amostra. Análises dos ensaios foram feitas através dos resultados obtidos, em conjunto com os resultados elétricos e de percolação. O ensaio foi realizado com dois níveis de energia: a 12kV e 26kV. A energia acumulada em um capacitor depende de dois valores: a capacidade do mesmo e o quadrado da tensão de carga onde: [E]=Joule; [C]=Farad; [V]=(Volt), ou seja: E = 0.5 C V 2 (3.1) O capacitor utilizado nos ensaios é de valor de 500 pF, gerando energias de 0,36 J e 1,69 J para cada nível de voltagem aplicado (12kV e 26kV). Este teste utiliza uma descarga Resistivo-capacitiva (RC) através de amostras de propelente de formato tubular e de diferentes dimensões (10 mm de diâmetro x 6 mm de comprimento e de 40 mm de diâmetro x 70 mm de comprimento). Os resultados são a ocorrência ou não, de ignição ou trinca na amostra de propelente, em função da temperatura e umidade [40]. As características básicas do teste de descarga RC são: 1- Uma energia conhecida é aplicada através de um eletrodo tipo ponteira, de latão, e permite a dissipação através do propelente para um eletrodo base de alumínio (Figura 3.8). 2- Uma série típica de testes contém 30 descargas consecutivas em cada espécime com 0,36J e 1,6 J (12kV/ 500pF e 26kV/ 500 pF). Se alguma das descargas resultar em trinca, detonação, fumaça ou fogo, então a formulação é considerada sensível a ESD. O contato do eletrodo com o propelente é garantido por um ligeiro esforço do eletrodo para aproximadamente 1 mm dentro do propelente e utilizando pintura condutiva prateada entre o eletrodo da base (placa) e o propelente. 60 4. SUSCEPTIBILIDADE DO PROPELENTE SÓLIDO Propelentes sólidos do tipo compósito têm uma micro-estrutura muito complexa consistindo de um empacotamento denso de partículas envoltas em uma matriz polimérica chamada “binder”. As partículas são tipicamente combustíveis, oxidantes, agentes de controle de combustão, e outras. Estas partículas têm uma larga variedade de tamanhos, forma, e propriedades elétricas. Cargas eletrostáticas surgem normalmente nas interfaces “binder”/sólidos, na superfície do grão propelente, bem como em outras interfaces entre outros componentes do propelente, isto é, na interface entre partículas condutivas como as partículas de alumínio e um “binder” não condutivo ou menos condutivo. Certas composições de propelente sólido têm uma condutividade maior que outras composições. Um propelente com um polímero polar, pode conter espécies iônicas dissociadas disponíveis para transportar cargas e poderia ter relativamente uma condutividade alta. Tais espécies iônicas podem estar presentes em um sistema como perclorato de amônio dissolvido em um “binder” polar. Cargas eletrostáticas serão rapidamente dissipadas e descargas catastróficas não serão normais em propelentes utilizando este tipo de “binder”. Exemplificando, em um propelente tipo Polibutadieno Acrilo-Nitrila (PBAN) os constituintes sólidos são envolvidos em um binder “PBAN” [41]. O polímero do binder contem grupos funcionais nitrílicos polares ao longo da cadeia. Neste sistema é adicionado um cloreto benzil-alquil-Amônia quaternário durante a fabricação. O polímero e o sal juntos produzem uma condutividade elétrica relativamente alta. Outra composição comumente utilizada como sistema binder em foguetes de propelente sólido é o Polibutadieno Hidroxilado (PBLH). Em contraste com o sistema “PBAN”, os ligantes PBLH são não polares e têm um valor intrínseco de isolação muito alto. Assim, propelentes com “binder” PBLH são mais susceptíveis, sob certas circunstâncias, a um carregamento eletrostático alto com potencial para descargas eletrostáticas catastróficas. 61 Estes fatos refletem a necessidade de pesquisas para obter composições que tenham suficiente condutividade para reduzir a susceptibilidade à descarga eletrostática, fácil de processar e mantendo o desempenho energético, propriedades balísticas, mecânicas e reológicas. Para obter uma classificação da susceptibilidade do propelente à ignição ou geração de trincas devido à energia liberada durante uma descarga eletrostática, é necessário dados que podem ser obtidos usando os critérios expostos neste trabalho. De acordo com a matriz polimérica utilizada, podemos obter os dados elétricos da mesma através de literatura e efetuando medições em amostras tanto do binder como do próprio propelente. No sistema compósito, o “binder” é o elemento que sofre inicialmente a decomposição devido à energia liberada durante a descarga eletrostática [42]. 4.1 CLASSIFICAÇÃO DA SENSIBILIDADE DO PROPELENTE Para classificar a sensibilidade da formulação a fenômenos de Descarga Eletrostática pode-se utilizar o método experimental que inclui a teoria de percolação e medidas de grandezas elétricas do propelente. Para obter os dados necessários para a avaliação da formulação pode-se utilizar o protocolo proposto nos trabalhos prévios [8, 10] composto de cinco etapas de ensaios para classificar o propelente em relação a sua sensibilidade a Descarga Eletrostática. As etapas são: z Cálculos de Percolação z Medidas de Resistividade z Medidas da Constante Dielétrica z Voltagem de Ruptura do dielétrico z Teste de descarga RC 62 A realização destas etapas permite classificar o propelente em relação à sensibilidade a efeitos de descarga eletrostática. A teoria da percolação é aplicada como uma ferramenta, onde o coeficiente de percolação obtido expõe as variações em cada formulação de propelente, permitindo uma avaliação prévia da nova formulação e guiando a decisões necessárias para reduzir ou até eliminar a sensibilidade à descarga eletrostática. FIGURA 4.1 – Protocolo de Ensaio de Sensibilidade 4.2 TEORIA DE PERCOLAÇÃO A teoria de percolação é o estudo da geometria de materiais aleatórios. No contexto de propelentes sólidos, é a geometria dos grãos metálicos em um ambiente isolante; ou como as partículas afetam a ruptura. Para estudar a condutividade elétrica, a camada de alumina altamente isolante precisa ser considerada na teoria de percolação. O termo percolação foi aplicado para esta área da física por causa das suas aplicações para tópicos como o fluxo de água através de material similar ao pó de café. Para entender porque certos propelentes são sensíveis a Descarga Eletrostática e outros não, Kent e Rat [16] usaram a teoria de percolação. A análise dos ingredientes ativos do propelente mostra que o diâmetro da partícula de alumínio e as propriedades elétricas do “binder” (binder = pré-polímero + aditivos) são os principais fatores na determinação das 63 propriedades elétricas do propelente. Com a concentração constante de alumínio, quando o diâmetro da partícula diminui (o numero de partículas aumenta) a sensibilidade do propelente para descargas capacitivas aumenta. Percolação como teoricamente definida é independente da voltagem aplicada e para um dado sistema de partículas, com condutividade Nc e isolação Ni, é possível determinar a razão critica entre partículas condutoras e não condutoras (Nc/Ni). No caso de um propelente tipo compósito, não é possível obter o dado com exatidão, pois uma fina camada de óxido cobre as partículas de alumínio e sendo o óxido isolante, a superfície da partícula é isolada e o núcleo condutivo. Apesar disso todo alumínio é considerado condutivo para o cálculo de percolação. O modelo para cálculo do coeficiente de percolação [16, 17], aplicado em propelentes identificados como sensíveis a descargas capacitivas e onde há ocorrência de trincas antes da ignição, sugere que o mecanismo de reação pode ser dividido em duas fases: 1- Surgimento de um fenômeno de trincamento relacionado ao potencial crítico, 2- Surgimento de um fenômeno de ignição relacionado a uma específica energia crítica. Todas as observações tendem a confirmar que a reação inicia dentro do propelente. A existência de potenciais críticos mostra que a trinca é causada por um ou vários fenômenos elétricos. Dentre estes fenômenos elétricos que foram identificados, descargas entre as partículas de alumínio podem ser consideradas como a mais provável em iniciar uma trinca ou a ignição. As observações permitem concluir que: 1- Composições somente com aluminio são insensíveis à descarga eletrostática. 2- A resistividade volumétrica do pó de alumínio puro apresenta que para um dado valor de potencial elétrico crítico, o valor da resistividade muda de 107 para 103 Ω.m. 64 Este potencial elétrico consegue romper a camada de oxido, que possui uma resistividade mais alta, nas partículas. Isto corresponde a um pequeno furo, para certo número de partículas, na camada de oxido que recobre o alumínio puro. Uma análise dos ingredientes ativos do propelente revela essencialmente a influência de: 1- Percentual em massa, diâmetro e a geometria das partículas de alumínio; 2- Percentual em massa, distribuição modal e diâmetro da partícula do perclorato de amônio; 3- Resistividade do binder. Quando o percentual de alumínio é constante, a diminuição no diâmetro das partículas de alumínio leva a um aumento no numero total de partículas e torna a composição mais sensível às descargas capacitivas [43]. A equação 4.1 é uma simplificação do cálculo do fator de percolação P, permitindo uma análise preliminar da importância dos principais agentes da formulação do propelente sólido. P= Nc N i CbVb (4.1) onde: Nc = numero de partículas condutivas (alumínio) Ni = numero de partículas isolantes (perclorato de amônio) Cb = condutividade do binder Vb = unidade de volume do binder O risco de ser mais sensível é maior quando o valor de P é mais alto. Para compostos não aluminizados P = 0 pois Nc. é igual a zero. Com perclorato de amônio (partículas isolantes, Ni) a influência do tamanho da partícula é inversa ao do alumínio. As medidas de resistividade volumétrica dos “binders” têm demonstrado que o “binder” de poliuretano com 65 um pré-polímero de base poliéter é menos resistivo. Os “binders” de polibutadieno, ao contrário, são mais resistivos. O fator de percolação P tem a dimensão de resistividade e é expresso em Ω.m. Composições com valores maiores que 1010 Ω.m são sempre sensíveis à descarga eletrostática. A validação do modelo foi realizada na França com 50 formulações diferentes [16]. Por ser um cálculo com fatores obtidos de forma empírica, não é possível obter exatidão absoluta na definição do nível de sensibilidade à descarga eletrostática do propelente estudado. Porém, de acordo com os dados obtidos por Davenas e Rat [19], acima de um valor de P igual a 1010 Ω.m, as formulações são sempre sensíveis e abaixo de 109 Ω.m são sempre insensíveis. 66 Cálculo do Fator de Percolação. [17] Covino e Hudson utilizaram uma equação melhorada para o cálculo do fator de percolação. A equação 4.2 é a utilizada para o calculo do Fator de Percolação das amostras aqui testadas [17]. ⎛ρ P=⎜ n ⎝ ρc 3 ⎞ ⎛ pC ⎞ ⎛ d nf ⎞ ⎡ ρb ⎛ pC pn ⎞ ⎤ + ⎟⎟ ⎢ ⎜ ⎟⎜ ⎟ + 1⎥ ρ vb ⎟ ⎜⎜ ⎠ ⎝ pnf ⎠ ⎝ d cf ⎠ ⎣ pb ⎝ ρ c ρ n ⎠ ⎦ (4.2) onde: dcf = dnf = diâmetro da fração mais fina de partículas condutivas diâmetro da fração mais fina das partículas não condutivas percentual em massa do binder percentual em massa das partículas condutivas percentual em massa de todas as partículas não condutivas percentual em massa das frações mais finas das partículas não condutivas densidade do binder densidade das partículas condutivas densidade das partículas não condutivas resistividade volumétrica do binder (Ω . m) pb = pC = pn = pnf = ρb = ρc = ρn = ρvb = As tabelas 4.1 e 4.3 apresentam os dados dos propelentes testados por Covino et al [17] e que serão utilizados para comparação dos resultados. TABELA 4.1 : Formulações de Propelente testadas por Covino et al [17]. Propelente Material Percentual em massa do total de sólidos não condutivos % em massa (AP) A Alumínio 18 a 20 65 a 70 10 a 15 B Alumínio 18 a 20 65 a 70 10 a 15 C ZrC 1a4 --------- 10 a 15 18 a 20 65 a 70 10 a 15 Material Condutivo Pershing II Alumínio Percentual em massa do Binder PBLH 67 4.3 MEDIDAS DE GRANDEZAS ELÉTRICAS DO PROPELENTE Para determinar as propriedades elétricas do propelente é necessária a obtenção de varias características elétricas do mesmo. Estas características e seus valores são obtidos através de vários testes aplicados em amostras representativas do propelente [44]. 4.3.1 MEDIDAS DE RESISTIVIDADE A capacidade do material para conduzir, armazenar, e dissipar cargas pode ser avaliada para condições específicas de processamento ou uso. Estes valores podem ser usados para modelar o processo ou condição bem como determinar os níveis de risco nos quais cargas eletrostáticas e/ou voltagens podem ser produzidas ou armazenadas no material [45]. Dados de experimentos realizados indicam que o comportamento da resistividade volumétrica do propelente em função da temperatura pode ser importante na característica de sensibilidade do propelente à descarga eletrostática [16]. Os experimentos mediram a resistividade volumétrica na faixa de temperatura de -40o C a +80o C em amostras em função da temperatura, tempo de aplicação da voltagem, nível da voltagem, umidade relativa e espessura da amostra. 4.3.2 MEDIDAS DA CONSTANTE DIELÉTRICA. A constante dielétrica do propelente e dos ingredientes do propelente é uma função da freqüência, temperatura, e umidade relativa e é uma importante propriedade do material que caracteriza a capacidade de armazenamento de energia e o potencial de descarga de energia do propelente. Covino e Hudson [17] realizaram medidas utilizando um capacitor de placa paralela. Concluíram que a constante dielétrica do binder e também do propelente C são independentes da temperatura. A tabela 4.2 apresenta os valores obtidos nas medições efetuadas por eles. 68 TABELA 4.2 - Constante dielétrica das formulações utilizadas por Covino et al [17]. Propelente Constante dielétrica (permissividade) A 8,0 a 8,7 B 7,0 a 8,0 C 5,5 PBLH (Binder) 2,8 a 3 Em geral, quanto mais alumínio presente na formulação do propelente, mais alta será a constante dielétrica do mesmo e também é esperado um aumento da sensibilidade à descarga eletrostática. Não considerando os efeitos do potencial de ruptura, quanto mais alto a constante dielétrica, mais energia poderá ser armazenada no material. Neste caso, a quantidade de energia que a amostra de propelente pode armazenar é diretamente proporcional à concentração de alumínio e inversamente proporcional a concentração do Perclorato de amônio. 4.3.3 VOLTAGEM DE RUPTURA DO DIELÉTRICO A voltagem de ruptura do dielétrico de um material é a voltagem que pode ser sustentada através da amostra quando ocorre a transição, onde a amostra de um material dielétrico (não condutivo) torna-se um condutor. A voltagem de ruptura é importante para entender o comportamento do material durante uma descarga eletrostática. A rigidez dielétrica de um material é a voltagem de ruptura do dielétrico dividida pela espessura e é medida de acordo com a norma ASTM D149 [46]. Medidas de ruptura de dielétrico são tipicamente utilizadas para estabelecer qual será a voltagem necessária na qual o material deixará de ser isolante. Muitos propelentes são também condutivos porem considerados dielétricos. Nestes casos, os testes quantificam a condição necessária para ocorrer a transição de um estado mais resistivo para um estado menos resistivo. A ruptura ou a decomposição do material é a evidência positiva da voltagem de ruptura do mesmo. Analisando o trabalho de Covino e Hudson [17], pode-se pressupor que 69 o alumínio permanece como o maior responsável pela rigidez dielétrica do material, onde os cristais de perclorato de amônio têm efeito mais geométrico que elétrico, pois afetam a distribuição e espaçamento das partículas de alumínio. Esta informação é consubstanciada por trabalhos [16, 17] indicando que a sensibilidade de propelentes energéticos é uma função da concentração da distribuição modal do perclorato de amônio e que propelentes contendo cristais maiores de Perclorato de amônio são mais sensíveis às descargas eletrostáticas. Há também uma relação linear através da geometria do alumínio e do oxidante, entre o campo de ruptura e a média de espaçamento na superfície entre as partículas de metal, e o "gap" para o dielétrico mínimo [18]. A média de distância entre as partículas na superfície é calculada utilizando um modelo onde a micro geometria da amostra é bem caracterizada por uma função de correlação g(r) que descreve a probabilidade relativa de encontrar o centro de duas partículas em uma distancia especificada dentro do compósito. O resultado desta função é utilizado em uma equação que permite prever teoricamente os valores do campo (voltagem) de ruptura Eb: A função de distribuição da distância entre as partículas é dada por: ( r p (r ) = 4π ng (r )r 2 exp −4π n ∫ g (r )r 2 dr 2 0 ) (4.3) Onde p(r) dr = probabilidade que a partícula vizinha mais próxima está entre r e r+dr n = numero de densidade das partículas dado por 4π ng (r )r 2 dr ⎛ d ⎞ Eb = Ebbinder ⎜ ⎟ ⎝ D+d ⎠ (4.4) onde d= espaçamento normalizado da partícula e D= diâmetro da partícula Ensaios realizados [10] apresentam uma voltagem de ruptura do dielétrico do binder PBLH puro da ordem de 23 MV/m. 70 4.3.4 TESTE DE DESCARGA RESISTIVO–CAPACITIVA (RC) O teste de descarga eletrostático RC é utilizado para simular o efeito de uma descarga eletrostática no corpo de prova. A metodologia usual definida pela norma MIL-1576 aplica o modelo do corpo humano (PESD). Para o ensaio de propelentes sólidos ocorre uma variação do teste tornando-o mais severo. Esta metodologia não está ainda definida como norma devido ao caráter de sigilo que existe em torno do assunto. Uma proposição já testada e relatada é: 1- Energia aplicada: Uma energia conhecida é aplicada através de um eletrodo pontual e que permita dissipar através do propelente até um outro eletrodo de placa. 2- Número de descargas e espécimes: Uma série típica de testes consiste de 30 descargas consecutivas em cada espécime com energia de até 15,6 J (Voltagem de 30 KV e Capacitância de 34,7 nF) utilizando três espécimes idênticos. 3-Critério de avaliação: Se alguma das 90 descargas resultarem em trinca, deflagração, fumaça ou fogo no espécime, então a formulação é considerada sensível à descarga eletrostática. 4.4 DADOS DE FORMULAÇÕES ENSAIADAS EM TRABALHOS ANTERIORES [17]. Os estudos realizados e os dados disponibilizados em trabalhos anteriores permitem avaliar os resultados obtidos nas formulações testadas neste trabalho. Os dados foram compilados da literatura disponível no assunto. Os dados de alguns componentes das formulações dos propelentes indicadas na tabela 4.3 foram utilizados para o cálculo do fator de percolação. Os valores obtidos estão apresentados na tabela 4.4 e permitiram classificar em termos de sensibilidade a descarga eletrostática todos os propelentes testados por Covino et al. 71 TABELA 4.3 – Dados de Formulações dos Propelentes [17] Formulação do Propelente Alumínio 12μm Binder HTPB Resistividade Volumétrica do binder Densidade: 2,702 g/cc 10 a 15 % em peso 3 x 1010 Ω.m 18 a 20% em peso Perclorato de Amônio 65 a 70% em peso TABELA 4.4: Valores de Fator de Percolação (P) dos propelentes estudados por Covino et al, [17] Amostras de Propelente Energético P (Ω.m) Propelente A Propelente B 129 x 10 Observações 10 20,6 x 10 8 Sensível à Descarga Eletrostática 10 Sensível à Descarga Eletrostática 8 Propelente C 5 x 10 a 8 x 10 Contém quantidades variáveis de ZrC Primeiro estágio do Pershing II 64 x 1010 Sensível à Descarga Eletrostática 4.5 CRITÉRIO EXPERIMENTAL PARA CLASSIFICAÇÃO [16, 17]: z Composições com valores de P maior que 1010 Ω.m são sempre sensíveis a Descarga Eletrostática. z Formulações com P menor que 109 Ω.m são sempre insensíveis a Descarga Eletrostática. 72 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 RESULTADOS Os resultados obtidos foram agrupados em cinco grupos de acordo com o ensaio realizado. 1- Resultados de Microscopia Óptica 2- Resultados de Microscopia de Varredura Eletrônica 3- Resultados de Caracterização Elétrica 4- Resultados de Descarga Eletrostática 5- Resultados do Fator de Percolação As amostras são procedentes de quatro formulações diferentes e a composição de cada amostra esta descrita na tabela 5.1. TABELA 5.1 – Formulações dos Propelentes Ensaiados. Amostra % em massa PA - 400μm PA - 200μm PA – 45μm Total de PA Al Binder PBLH Propelente A001 ~49 ~21 - ~70 ~15* ~15 Propelente B001 ~47 ~23 - ~70 ~15* ~15 Propelente C001 ~48 ~21 - ~69 ~18+ ~12 Propelente D001 ~48 ~21 - ~69 ~18+ ~12 Propelente E001 ~26 * diâmetro médio 15μm • + diâmetro médio 18μm ~25 18 ~69 ~16* ~15 73 5.1.1 RESULTADOS DE MICROSCOPIA ÓPTICA. Os ensaios de microscopia óptica foram realizados com três amostras de cada grupo. FIGURA 5.1 – Imagem óptica - Propelente A001 A figura 5.1 mostra a imagem óptica do propelente A001 com grade para identificar o diâmetro da amostra. FIGURA 5.2 – Imagem óptica 72x - Propelente A001 A Figura 5.2 do propelente A001 permite visualizar a distribuição na massa das partículas sólidas de diâmetros acima de 100 micrômetros. FIGURA 5.3 – Imagem óptica 50x - Propelente A001 74 Na Figura 5.3 do propelente A001 vemos a distribuição granulométrica onde o particulado com diâmetro abaixo de 80 micrômetros está presente na massa do propelente. FIGURA 5.4 – Imagem óptica - Propelente B001 Pode-se observar na imagem da amostra do propelente B001 (figura 5.4) o desprendimento de um cristal de Perclorato de Amônio no canto superior esquerdo. FIGURA 5.5-Imagem óptica 80x - Propelente B001 FIGURA 5.6 – Imagem óptica 120x - Propelente B001 75 A distribuição granulométrica apresentada nas Figuras 5.5 e 5.6 permitem identificar o fator de forma das partículas sólidas. FIGURA 5.7 - Imagem óptica 60x - Propelente C001 FIGURA 5.8 - Imagem óptica 100x – Propelente C001 O propelente C001, mostrado nas Figuras 5.7 e 5.8, apresenta a distribuição modal do Perclorato de Amônio. Podemos também observar a ocorrência de particulado não esférico na massa e a visualização do fator de forma das partículas de Perclorato de Amônio do propelente. 76 FIGURA 5.9 - Imagem óptica - Propelente D001 FIGURA 5.10 - Imagem óptica – Propelente D001 O propelente D001 (Figura 5.9) tem a mesma formulação do propelente C001 (Figura 5.10), porém proveniente de lote diferente. Pode-se observar na Figura 5.9 um grau maior de esfericidade das partículas de Perclorato de Amônio. A imagem avermelhada apresentada na figura 5.10 permite observar que o catalisador de queima utilizado foi óxido de ferro e a densidade de particulados com diâmetro abaixo de 200 μm é maior. 77 FIGURA 5.11 – Imagem óptica 80x - Propelente D001 Na Figura 5.11 detalhe da distribuição dos sólidos no propelente D001. Observa-se que o fator de forma predominante é de formato ovóide. FIGURA 5.12 – Imagem óptica - Propelente E001 O propelente E001 (Figura 5.12) é um propelente que usa o Polibutadieno Hidroxilado como ligante e Alumínio como combustível e a distribuição granulométrica do oxidante Perclorato de Amônio é tri-modal. A Figura 5.12 permite observar que o fator de forma esférico dos componentes sólidos não é o ideal. 78 5.1.2 ENSAIOS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA. Os ensaios utilizaram duas amostras de cada grupo, condicionadas em dispositivo próprio do microscópio de varredura eletrônica. FIGURA 5.13– Imagem MEV- 100μm – Propelente A001 A Figura 5.13 apresenta a amostra do propelente A001 onde há um numero elevado de partículas de pequeno diâmetro de Perclorato de Amônio derivadas do atrito entre as partículas maiores (diâmetros médios de 200 e 400 μm). Esta densidade de particulado fino menor que 20 μm de diâmetro, diminui a taxa de carregamento de sólidos no ligante do propelente. FIGURA 5.14 – Imagem MEV- 20μm – Propelente A001 79 A Figura 5.14 apresenta uma ampliação do propelente A001 onde é possível observar a densidade de partículas finas do Perclorato de Amônio e o formato não esférico das mesmas. FIGURA 5.15 – Imagem MEV- 20μm – Propelente B001 A figura 5.15 permite observar que no propelente B001 as partículas menores são de formato lasca e pode-se também observar o recobrimento deficiente das partículas maiores de Perclorato de Amônio. FIGURA 5.16 – Imagem MEV- 100μm – Propelente B001 A figura 5.16 do propelente B001 mostra a presença de “grumos de alumínio” distribuídos de forma não homogênea na massa do propelente. 80 FIGURA 5.17 – Imagem MEV- 100μm – Propelente B001 Na figura 5.17 do propelente B001 vê-se que fator de forma predominante é oval ou irregular. Esta irregularidade e não esfericidade também compromete o percentual de carga máxima a ser atingido na maceração. FIGURA 5.18 – Imagem MEV- 20μm – Propelente B001 Na figura 5.18 observa-se a presença de aglomerados de alumínio e partículas não esféricas no compósito. 81 FIGURA 5.19 – Imagem MEV- 20μm – Propelente C001 A figura 5.19, feita com detector SEI, (este tipo de detector utiliza os elétrons secundários ejetados da amostra com energia menor que 50 eV) do propelente C001 apresenta um fator de forma onde se observa também a molhagem deficiente indicando possível ausência de aditivo de ligação. FIGURA 5.20 – Imagem MEV- 100μm – Propelente C001 Na figura 5.20 do propelente C001 observa-se que a maioria das partículas de Perclorato de Amônio não apresenta fator de forma esférico. 82 FIGURA 5.21– Imagem MEV- 100μm – Propelente D001 A figura 5.21 do propelente D001 apresenta uma região de acúmulo de partículas não dispersas no ligante (“binder”) que pode ser atribuído a uma deficiência no processo de maceração. FIGURA 5.22 – Imagem MEV- 20μm – Propelente D001 A figura 5.22 apresenta detalhes das áreas grumosas, e que dificultam uma maior homogeneidade do propelente sólido. 83 5.1.3 RESULTADOS DE CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA Os ensaios de caracterização elétrica realizados permitem observar a variação na composição do percentual dos componentes das formulações por meio da variação dos valores medidos de resistividade das amostras. Estas variações são decorrentes da não homogeneidade da mistura, da granulometria usada e do fator de forma das partículas condutivas e não condutivas e da densidade do carregamento. A tabela 5.2 apresenta os valores de resistividade encontrados nos testes. TABELA 5.2. Valores de Resistividade Volumétrica. Amostras Formulação AP/HTPB/Al ρ (Ω.cm) Propelente A001 3,9 x 1011 Propelente B001 4,2 x 1010 Propelente C001 7,4 x 1011 Propelente D001 9,1 x 1011 Propelente E001 6,7 X 1011 5.1.4 RESULTADOS DE DESCARGA ELETROSTÁTICA O ensaio de descarga eletrostática foi realizado com descargas de dois níveis de energia nas amostras. Os dados em literatura aberta informam que a ignição pode ocorrer com energias de 1 J, e em condições de pressão interna no grão propelente, a energia necessária para iniciar a ignição é reduzida para valores em torno de 100 mJ [19]. Após o ensaio as amostras foram analisadas para verificar eventual trinca ou início de canal de descarga. As medidas foram adquiridas por meio do Simulador de Descarga Eletrostática ETS930D-FTS. O resultado do ensaio no espécime foi visualizado durante a descarga de forma segura, para observar se ocorre alguma atividade de ignição ou trinca durante a descarga eletrostática. 84 FIGURA 5.23 - Teste de Descarga Eletrostática FIGURA 5.24 - Teste de Descarga Eletrostática As figuras 5.23 e 5.24 apresentam uma mudança no caminho do arco voltaico, saindo do corpo da amostra e ionizando o ar circundante; indicando que há um aumento na resistividade volumétrica da amostra no ponto de fuga. Este aumento da resistividade ocasiona um aumento da rigidez dielétrica da área que fica maior que a do ar, e como foi observado nas análises das imagens das figuras 5.16 e 5.18, há pontes de alumínio que permitem a fuga de corrente elétrica para as laterais da amostra e isto permite a ruptura da rigidez dielétrica do ar aparecendo o arco voltaico na lateral da amostra. Os ensaios foram feitos em 4 grupos de amostras de pequeno volume de propelente e em 1 grupo de amostras com volume 90 vezes maior que o volume dos grupos anteriores (Figura 5.25) para verificar se o tamanho da amostra influencia os resultados. 85 FIGURA 5.25 - Amostras Propelente E001 Foi utilizado um dispositivo construído de forma a isolar resistivamente a amostra do ambiente de teste (Figura 5.26), estabelecer o contato elétrico entre o equipamento e amostras de maior volume e garantir a segurança do ensaio. FIGURA 5.26 – Dispositivo de Ensaio II 86 Na tabela 5.3 é indicado o resultado dos testes, onde foram feitas 30 descargas eletrostáticas utilizando o equipamento Simulador de Descargas Eletrostáticas, com intervalo entre as descargas variando entre 10 e 30 segundos. Após o ensaio as amostras foram inspecionadas visualmente para verificar possível trinca ou inicio de ignição. TABELA 5.3: Resultados do Teste de Descarga Eletrostática Identificação das Amostras (Teste em 3 espécimes de cada propelente) Formulação AP/HTPB/Al Energia 1 (0,36 J) Ocorrência Ocorrência de de Energia 2 (1,69 J) Ignição Trincamento Numero de Descargas Numero de Descargas Propelente A001 30 descargas 30 descargas Não Não Propelente B001 30 descargas 30 descargas Não Não Propelente C001 30 descargas 30 descargas Não Não Propelente D001 30 descargas 30 descargas Não Não Propelente E001 30 descargas 30 descargas Não Não 87 5.1.5 FATOR DE PERCOLAÇÃO - (P) O fator de percolação (P) utiliza os dados de resistividade volumétrica obtidos no ensaio de caracterização elétrica do propelente, a distribuição granulométrica e percentual em massa dos sólidos bem como o fator de forma dos mesmos. Para a obtenção do resultado do cálculo, foi utilizada a equação 4.2 e uma planilha. Estes resultados indicam a faixa de sensibilidade do propelente. As formulações das amostras de propelentes testadas são apresentadas na tabela 5.1 e os valores de P obtidos estão apresentados na tabela 5.5. Para o cálculo, é necessário os dados característicos dos componentes das formulações das amostras, dados obtidos de catálogos de fornecedores. Estes dados são apresentados na tabela 5.4. TABELA. 5.4 – Características dos componentes da formulação Componente Densidade ρ (g/cm3) Resistividade volumétrica - ρvb (Ω.m) Alumínio 2,702 Condutivo Perclorato de Amônio 2,165 Não condutivo Binder PBLH+ aditivos 0,903 3 x 1010 Ω.m TABELA 5.5 – Valores dos Coeficientes de Percolação (P) Amostra Coeficiente de Percolação (Ω.m) Propelente A001 1,09 x 1014 Propelente B001 9,99 x 1013 Propelente C001 1,08 x 1014 Propelente D001 1,08 x 1014 Propelente E001 6,08 x 1014 88 5.2 DISCUSSÕES 5.2.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise dos resultados segue a ordem dos ensaios realizados e a convergência dos mesmos na análise global. 1- Microscopia Óptica 2- Microscopia de Varredura Eletrônica 3- Caracterização Elétrica 4- Descarga Eletrostática 5- Fator de Percolação 6- Comparação de Resultados 5.2.1.1 MICROSCOPIA ÓPTICA As imagens ópticas exibem uma maceração não uniforme sendo observado no propelente resultante um desbalanceamento granulométrico. Esta condição pode comprometer a amostragem do CDP por região ou batelada de produção, gerando variações nas características do grão propelente tanto no âmbito elétrico como de desempenho. Esta não uniformidade da massa gera dificuldades adicionais na avaliação elétrica do grão propelente ocasionando flutuações nos valores característicos elétricos e conseqüentemente no nível de sensibilidade à eletrostática [47]. As análises das imagens indicam que a distribuição dos sólidos no binder não apresenta uma homogeneidade entre as granulometrias dos sólidos utilizadas na formulação do propelente. A “molhagem” dos sólidos também se mostra deficiente ocasionando pequenos bolsões no entorno das partículas de Perclorato de Amônio. Há também um aumento na quantidade de cristais com dimensões abaixo de 20 μm, provavelmente devido ao processo de maceração que provoca atrito entre as partículas de maior diâmetro de Perclorato de Amônio gerando uma quantidade significativa de micropartículas. Na análise visual observou-se que as amostras liberam uma grande quantidade de cristais de Perclorato de Amônio, indicando que há falta de aditivo agente de ligação que 89 aumente a adesão do ligante (“binder”) às partículas. Baker et al [48] observaram que em propelentes usando Polibutadieno Hidroxilado e Perclorato de Amônio, a adição de plastificantes e ausência de agente de ligação, aumenta a sensibilidade do propelente, reduzindo o nível de energia necessário para a ignição. Esta característica observada é um dos fatores de risco que podem gerar ignições acidentais. Devido a esta redução nos níveis de energia necessários, estes níveis podem ser fornecidos por uma descarga eletrostática iniciando uma reação no propelente. 5.2.1.2 MICROSCOPIA DE VARREDURA ELETRÔNICA Quando observamos as imagens realizadas via microscopia eletrônica de varredura – MEV, podemos visualizar o fator de forma dos componentes sólidos do propelente, principalmente das partículas do oxidante Perclorato de Amônio. Observa-se também um número muito grande de particulados de Perclorato de Amônio de tamanhos variados inferiores a 20 micrômetros. Pressupõe-se que estes particulados são originados durante o processo de maceração, do propelente onde as partículas de maior diâmetro do Perclorato de Amônio atritam entre si gerando as partículas menores na variedade de formas apresentada na imagem. Pode-se, também, observar que o alumínio incorporado no propelente concentra-se em determinados pontos com formação de aglomerados [49]. Esta ocorrência de coalescência das partículas de alumínio formando pontes de metal dentro do grão pode ser explicada como uma falta de recobrimento passivante nas partículas de alumínio e que durante o processo de maceração não é distribuída uniformemente no ligante (“binder”). As imagens mostram, também, que as partículas de Perclorato de Amônio não apresentam o fator de forma esférico ideal e um alto grau de partículas de várias formas e com diâmetro inferior a 20 micrômetros. Esta granulometria e formato são derivados do processo de maceração do propelente, onde o atrito entre as partículas de maior diâmetro do Perclorato de Amônio gera estas micro partículas através de quebra ou cisalhamento das mesmas. Esta variação no perfil 90 granulométrico influi diretamente nas propriedades elétricas e na taxa de queima do grão propelente sólido. Baker et al [48] sugerem esta sensibilidade e que é, também, função da energia de ativação [1, 50]. Esta dependência da energia de ativação está sendo estudada e os modelos são empíricos. No caso das amostras utilizadas neste trabalho a energia de ativação dos propelentes é da ordem de 120kJ/mol [20,51]. 5.2.1.3 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA Os dados obtidos das medidas de características elétricas apresentam uma variação de valores de resistividade, onde podemos relacionar a taxa de carregamento dos sólidos não condutivos, como o segundo maior responsável pela variação da resistividade volumétrica do propelente, logo após as características elétricas intrínsecas do polímero. A resistividade volumétrica medida está próxima dos valores esperados da ordem de 1011 Ω.cm, observando uma resistividade alta em todas as amostras, como era previsto devido à resistividade alta do polímero da ordem de 109 a 1014 Ω.cm. Observa-se que os valores de resistividade volumétrica das amostras A001 e E001 apresentam a mesma ordem de grandeza, e com um fator de 101 menor que as amostras B001. Esta ocorrência pode ser atribuída a dois fatores: o primeiro fator é o diâmetro das partículas de alumínio. Com um diâmetro de partícula menor para um mesmo percentual em massa de carregamento, teremos um numero maior de partículas de alumínio no propelente reduzindo as distâncias médias entre partículas. O segundo fator é a distribuição granulométrica no percentual em massa do perclorato de amônio. A distribuição granulométrica quando utilizando partículas de oxidante com diâmetro menor, com no caso da amostra E001, diminui a distância média entre as partículas condutivas, diminuindo a resistividade do propelente. 5.2.1.4 DESCARGA ELETROSTÁTICA Durante os ensaios de descarga eletrostática observou-se uma fuga do arco pela lateral de uma amostra. Esta fuga deu-se em decorrência de uma concentração de partículas de 91 alumínio em um dos pontos da amostra. Com este caminho elétrico formado, o arco pode saltar pelo ar (ionizando o mesmo) através da lateral da amostra conforme a figura 5.27. FIGURA 5.27 – Formação de arco voltaico lateral Observou-se também o efeito de acúmulo de cargas na amostra. Após as 30 descargas consecutivas, a amostra estava carregada com carga elétrica sendo necessário estabelecer um curto-circuito ao terra elétrico para descarregar a amostra antes da manipulação da mesma. O efeito foi mais evidente nas amostras de maior volume. Observou-se que as amostras de maior volume mantêm acumulada por um tempo maior a energia das descargas consecutivas após o término do ensaio, o efeito capacitivo é maior, sendo necessário efetuar procedimento para descarregar as amostras antes de retirá-las do dispositivo. Este resultado demonstra que um acumulo alto de cargas elétricas em grandes volumes de propelente é possível, sugerindo a necessidade de medidas mitigadoras para o fenômeno. 5.2.1.5 INFLUÊNCIA DOS COMPONENTES DO PROPELENTE SÓLIDO NO FATOR DE PERCOLAÇÃO. Para análise das formulações de propelentes sólidos, o fator de percolação pode indicar como a variação na formulação irá influenciar na característica de sensibilidade do propelente sólido formulado. No cálculo do fator de percolação, as variáveis que influenciam fortemente o resultado são: • Percentual total em massa de Perclorato de Amônio 92 • Percentual em massa da partícula de menor diâmetro do Perclorato de Amônio • Percentual em massa de PBLH • Percentual em massa de alumínio • Diâmetros das partículas de Perclorato de Amônio (bimodal e trimodal) • Diâmetro da partícula de Alumínio Modificando uma variável e mantendo as outras com valores determinados obtém-se um perfil da influência de cada componente da formulação no Fator de Percolação (P). Esta variação nos valores de P é diretamente relacionada com a sensibilidade da formulação aos efeitos de uma descarga eletrostática com risco de ignição acidental ou no grão propelente [52]. Para este estudo foram consideradas quatro variáveis na formulação, sendo que somente uma variável é independente em cada caso. As outras tem um valor médio atribuído para permitir o cálculo de P em cada caso. 93 No primeiro caso o objetivo foi analisar o comportamento de P quando ocorre variação no diâmetro médio das partículas com granulometria mais fina em composições bimodais e trimodais. A tabela 5.6 mostra as condições pré-determinadas para a obtenção do gráfico da Figura 5.28. TABELA 5.6 – Condições para o gráfico da Figura 5.28 Percentual de PA total Percentual de PBLH Percentual de alumínio Percentual de PA variando diâmetro Diâmetro da partícula de Alumínio 70% 12% 15% 21% 15μm FIGURA 5.28 – Curva de Fator de percolação vs. Diâmetro da partícula de Perclorato de Amônio A Figura 5.28 permite concluir que o aumento no diâmetro médio das partículas de Perclorato de Amônio na formulação induz a um aumento no valor do Fator de Percolação. Este aumento indica uma maior sensibilidade a um início de ignição ou trinca por uma Descarga Eletrostática. Esta característica foi comprovada experimentalmente por Backer [48] 94 Neste caso o objetivo foi analisar a variação do fator de percolação P quando há uma mudança no diâmetro médio das partículas de alumínio, mantendo o mesmo nível de carregamento implicando na variação do número de partículas de alumínio na formulação. A tabela 5.7 mostra as condições impostas para a análise da influência do diâmetro médio da partícula de alumínio no Fator de Percolação TABELA 5.7 – Condições para o gráfico da Figura 5.29 Percentual de PA total Percentual de PBLH Percentual de alumínio Diâmetro da partícula mais fina de PA Diâmetro da partícula de Alumínio 70% 12% 15% 200μm 15μm FIGURA 5.29 – Curva de Fator de percolação vs. Diâmetro da partícula de Alumínio A análise do gráfico da figura 5.29 indica que quando ocorre diminuição do diâmetro da partícula de alumínio, o fator de percolação P aumenta. O número de partículas de alumínio na formulação também aumenta (o percentual em massa permanece constante) e este fato permite concluir que partículas com diâmetros maiores são desejáveis, se as especificações de desempenho da formulação permitir para reduzir a sensibilidade à descarga eletrostática. 95 Neste caso o objetivo foi verificar qual a influência do percentual de carregamento da partícula mais fina de perclorato de amônio dentro da distribuição modal utilizada. A tabela 5.8 apresenta as condições impostas para o cálculo. TABELA 5.8 – Condições para o gráfico da Figura 5.30 Percentual de PA total Percentual de PBLH Percentual de alumínio Diâmetro da partícula mais fina de PA Diâmetro da partícula de Alumínio 70% 12% 15% 200μm 15μm FIGURA 5.30 – Curva de Fator de percolação vs. percentual de carregamento da partícula mais fina de Perclorato de Amônio O gráfico da figura 5.30 mostra a grande variação que ocorre no Fator de Percolação com a modificação no percentual de carregamento da partícula menor de perclorato de amônio em uma distribuição modal. O aumento no percentual de carregamento das partículas de menor diâmetro diminui o valor de P. Esta diminuição de P indica menor sensibilidade do propelente à descarga eletrostática. Este resultado é coerente com os dados obtidos por Baker et al [48]. 96 Neste caso o objetivo foi verificar qual a influência do percentual de carregamento da partícula de Alumínio dentro da distribuição modal utilizada. A tabela 5.9 apresenta as condições impostas para o cálculo. TABELA 5.9 – Condições para o gráfico da Figura 5.31 Percentual de PA total Percentual de PBLH Percentual de alumínio Diâmetro da partícula mais fina de PA Diâmetro da partícula de Alumínio 70% 12% 15% 200μm 15μm FIGURA 5.31 – Curva de Fator de percolação vs. percentual de carregamento de Alumínio A análise do gráfico da figura 5.31 indica que quando ocorre aumento de percentual de carregamento das partículas de alumínio, o fator de percolação P aumenta. O número de partículas de alumínio na formulação também aumenta e este fato permite concluir que o percentual de carregamento desejável das partículas de alumínio deve ser o mínimo possível sem comprometer as especificações de desempenho da formulação para permitir a redução da sensibilidade à descarga eletrostática. 97 5.2.2 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS As tabelas 5.10 e 5.11 permitem a comparação dos resultados de características elétricas e de percolação publicados por Covino e Hudson [17], com os resultados obtidos neste presente trabalho. TABELA 5.10 – Valores de Resistividade Volumétrica e Fator de Percolação [17] Amostra Resistividade Volumétrica - ρ (Ω.cm) Fator de Percolação – P (Ω.m) Características da formulação. (% em massa) Propelente A ~300 x 1011 129 x 1010 18 a 20% de Alumínio Propelente B ~150 x10 11 20,6 x 10 10 18 a 20% de Alumínio ~790 x10 11 10 Propelente C Pershing II - 5 x 10 64 x 10 10 1 a 4% de Zircônio 18 a 20% de Alumínio TABELA 5.11 – Valores de Resistividade Volumétrica e Fator de Percolação Amostra Resistividade Volumétrica - ρ (Ω.cm) Fator de Percolação - P (Ω.m) Características da formulação. (% em massa de Al) Propelente A001 3,9 x 1011 1,09 x 1014 ~15 Propelente B001 4,2 x 1010 9,99 x 1013 ~15 Propelente C001 7,4 x 1011 1,08 x 1014 ~18 Propelente D001 9,1 x 1011 1,08 x 1014 ~18 Propelente E001 6,7 x 1011 6,08 x 1014 ~16 Utilizando os resultados experimentais dos trabalhos publicados na literatura aberta [17, 19, 53, 54] para comparação com os dados obtidos neste trabalho, observou-se que a qualidade do alumínio e também o diâmetro das partículas dos sólidos influenciam significativamente o valor do fator de percolação que define a sensibilidade à descarga eletrostática do propelente estudado. Os ensaios foram feitos na pressão ambiente e o fator estatístico de ocorrência de ignição ou trinca por fenômeno de descarga eletrostático não permite assegurar o nível de 98 sensibilidade do propelente somente com estes resultados de injeção de energia pela descarga eletrostática. Quando, porém, se analisa o conjunto de resultados dos diferentes testes, observou-se que os resultados obtidos no cálculo do fator de percolação P estão acima do valor de P crítico (Pcrit ~ 1010 Ω.m), obtido por meio de estudos experimentais [17,19], limite mínimo desejado. Valores superiores a esse limite mínimo ou crítico prevê a possibilidade de ocorrer uma ignição acidental por Descarga Eletrostática. A resistividade das amostras tem um valor alto, o que indica uma maior capacidade de armazenamento de cargas eletrostáticas. Os fatores de percolação (P) das amostras estão acima do fator de percolação do propelente do míssil Pershing II, que iniciou uma ignição acidental por efeito de uma Descarga Eletrostática [17]. Algumas formulações estudadas são mais sensíveis a baixos níveis de energia devido a aparente ausência do agente de ligação na formulação, podendo iniciar ignição por impacto (balístico ou não) [48] ou pela energia de uma descarga eletrostática. Outro dado relevante a ser observado é a distribuição modal do perclorato de amônio. Se houver prevalência de partículas de diâmetros maiores (ex. 400 μm) a sensibilidade à descarga eletrostática aumenta. Os dados de resistividade volumétrica (ρ) e o fator de percolação (P) analisados simultaneamente indicam que todas as formulações estudadas são sensíveis a fenômenos de ignição ou aparecimento de trincas devido a uma Descarga Eletrostática no propelente. 5.2.3 REDUÇÃO DA SENSIBILIDADE - SUGESTÕES De trabalhos anteriores na área selecionamos sugestões para a obtenção de propelentes menos sensíveis ao fenômeno de descarga eletrostática [17, 55]. Para obter propelentes menos sensíveis a Descarga Eletrostática, o carregamento de sólidos compostos por partículas não condutivas poderia ser aumentado. Esta abordagem poderia minimizar a contribuição do binder para as propriedades elétricas do propelente. A rigidez dielétrica aumenta com o aumento da concentração de partículas menores não condutivas. Esta distribuição poderia ser uma grande concentração de partículas finas de 99 oxidante; entretanto a mudança nas formulações pode alterar significativamente o desempenho do propelente [56, 57, 58, 59]. Os resultados dos ensaios efetuados nas amostras de propelentes indicando que as formulações são sensíveis fazem com seja prioritária pesquisas para tornar o propelente da classe PBLH menos sensível a Descarga Eletrostática. Algumas mudanças são complexas e outras apesar de serem fáceis de implementar, podem não ser factíveis devido aos projetos dos motores atuais [60, 61, 62]. Selecionamos as sugestões que Covino e Hudson [17] apresentam em sua pesquisa onde propõem: 1- Mudar o “binder” PBLH para um tipo mais condutivo. 2- Reduzir a concentração de partículas condutivas para menos de 20% em volume. 3- Diminuir o tamanho das partículas condutivas e fabricá-las mais uniformes. 4- Aumentar o carregamento dos sólidos e um espalhamento melhor da distribuição modal das partículas não condutivas. 5- Adicionar traços de espécies condutivas. Projetar mudanças nas formulações que permitam modificações nas propriedades elétricas tais como: 1- Diminuição da resistividade dos propelentes 2- A constante dielétrica poderia ser reduzida e o fator de dissipação poderia ser aumentado. 3- A rigidez dielétrica deveria ser grande o suficiente de tal forma que a ruptura não possa ser atingida em condições normais. 4- A energia de ignição (a energia requerida para uma ignição sustentada existir) poderia ser relativamente alta em ordem para garantir que nenhuma ignição ocorra durante a manipulação normal dos motores foguetes. 100 6. CONCLUSÕES A contribuição deste trabalho foi demonstrar que o risco de acidentes por descarga eletrostática existe e está bem presente nas formulações de propelentes sólidos em uso. Os resultados e dados obtidos indicam que a metodologia aplicada pode ser utilizada para a avaliação das formulações. Para minimizar os riscos, os envolvidos nas atividades de pesquisa, fabricação e operação de materiais energéticos devem buscar desenvolver métodos e ferramentas de análise e novos materiais que aumentem a segurança mitigando o risco presente no uso de propelentes sólidos. As cargas elétricas sempre estiveram presentes, só se desconhecia o efeito. Conhecendo este fato pode-se concluir que há uma real necessidade de testar todas as formulações de propelentes sólidos usadas, em ensaios mais acurados para conhecer as características e os riscos associados a elas, em todos os propelentes utilizados no país. 101 7. TRABALHOS FUTUROS As direções para futuros trabalhos são delineadas pela premente necessidade de conhecer este processo complexo que é a ignição e combustão dos propelentes sólidos. Um ponto particularmente importante é o estudo da ignição confinada no grão propelente e a sua modelagem. Há a necessidade de estudar mais profundamente as características elétricas das formulações tais como o papel da rigidez dielétrica do compósito no acúmulo de cargas, desenvolver novos testes elétricos, e projeto de equipamentos que auxiliem esta tarefa. Outra área que necessita de maior pesquisa é o papel dos aditivos nas características de sensibilidade do propelente. Há inúmeros caminhos que necessitam ser percorridos para que se tenha conhecimento da área. Entre estes se vê a necessidade de estudar a distribuição granulométrica dos sólidos usados nas formulações e as influências dos mesmos nas características de sensibilidade às descargas eletrostáticas. A necessidade de aumentar a confiabilidade e a segurança dos motores foguetes a propelente sólido também abre uma área nobre de pesquisa em análise de riscos e confiabilidade para a garantia do produto. 102 8. 1 BIBLIOGRAFIA Larson, R. W et all, Microstructural Modeling of Electrical Breakdown in Solid fuel Propellants, Electro Magnetic Applications, Inc., U.S. Army Research Office, AD-A263 466 2 Knauer, J. A, Technical Investigation of 11 January 1985 Pershing II Motor Fire, U.S. Army Missile Command, AD-P005 343 pp.1005-1013 3 Kepsun S.., Gefei Y., Xuewen L., Simulation Test Research on Incenditive ESD in Tanker Cargo, Journal of Electrostatic Vol. 63 pp 469-473, 2005. 4 Davenas A., History of the Development of Solid Rocket Propellant in France, Journal of Propulsion and Power, Vol. 11, No. 2, March-April 1995, pp 285-291. 5 Mardiguian, M. Electrostatic Discharge: Understand, Simulate and fix problems Interference Control Technologies, Inc – Don White Consultants Inc. First Ed. 1986 6 Bain Addison, Colorless, Nonradiant, Blameless: A Hindenburg Disaster Study , Aerostation: March 1999 7 Dessler A. J., Atmospheric Electricity and Energy in a Spark –App. A, Lunar and Planetary Lab., University of Arizona – pp 15-21 ( pag 15) 8 Lee, R. J, Ignition in Solid Energetic Materials Due to Electrical Discharge, Indian Head Division NSWC, IHTR 1925, 25 October 1996 9 Chubb J., Electrostatic Measurements: Opportunities and Applications, VTT Automation, Electrostatics Measurements Lectures, Helsinki, May,2000. (pag 17) 10 Beamer B., SCC Technical Bulletin G1 Basics of Static Electricity -SCC 11 Niels Jonassen, How Is Static Electricity Generated? In Mr. Static, Compliance Engineering, (Jan/Feb. - 2001) 103 12 Niels Jonassen, Walking in chargeking in Mr. Static, Compliance Engineering, (Mar/April- 2001). 13 Gyure M. F., Beale P. D., Dielectric Breakdown of a Random Array of Conducting Cylinders, Physical Review B, Vol. 40, No. 14, pp 9533-9540, Nov 1989-I 14 F. Paschen, Wiedemanns Annalen, Annalen der Physik und Chemie Ser. 3, 37 (1), pp. 69-96 (1889). 15 Niels Jonassen, Explosions and ESD in Mr. Static, Compliance Engineering, (Nov/Dic- 1999). 16 Kent, R., and Rat, R. J., “Static Electricity Phenomena in the Manufacture and Handling of Solid Propellant”, Journal of Electrostatics, Vol. 17, No. 299, 1985, pp. 299-312 17 Covino, J. and Hudson F. E., “Current Assessment Methodology for Electrostatic Discharge Hazards of Energetic Materials”, Journal of Propulsion and Power, Vol. 7, No. 6 – Nov-Dec. 1991 pp. 894-903 18 Essam J. W., Percolation theory, Rep. Prog. Phys., Vol. 43, 1980, pp. 833-911 19 Davenas A., Rat R. “Sensitivity of Solid Rocket Motors to Electrostatic Discharge: History and Future” , Journal of Propulsion and Power, Vol. 18 No. 4, July-August 2002, pp. 805-809 20 Shannon L. J and Deverall L. I., A Model of Solid-Propellant Ignition in a Neutral Environment, AIAA Journal Vol , No 3, March 1969, pp. 497-502 (pag 35) 21 Kuo, K., Summerfield, M., Fundamentals of Solid-Propellant Combustion, Progress in Astronautics and Aeronautics, Vol 90. 1984, pp.53 22 Beckstead M. W., Solid Propellant Combustion Mechanisms and Flame Structure, Pure & Appl. Chem., Vol. 65, No. 2, pp. 297-307, 1993. (pag 37) 104 23 Brown, F. W., Kusler, D. J., and Gibson, F. C., Sensitivity of Explosives to Initiation by Electrostatic Discharge, Bureau of Mines Rept. Of Investigations 5002, Sept. 1953 24 Desai S., Thakore I. M., Sarawade B. D., Devi S., Effect of Polyols and Diisocyanates on Thermo-Mechanical and Morphological Properties of Polyurethanes, European Polymer Journal 36 (2000) 711-725. (pag 38) 25 Merran A. D., Polyurethane Binder System for Polymer Bonded Explosives, Weapon Systems Division, DSTO Defence Science and Technology Organization, Australian Government- DSTO-GD-0492, December 2006. (pag 38) 26 Raha K., Chhabra J. S., Static Charge Development and Impact Sensitivity of High Explosives, Journal of Hazardous Materials, 34 (1993) pp. 385-391 (pag 38) 27 Campbell L. A, Morton Thiokol, Inc., SRM Propellant, Friction /ESD TestingECS-SS-3059, NASA-CR-183706 28 Pidoll U. V., Brzostek E., Froechtenigt H. R., Determining the Incendivity of Electrostatic Discharges without Explosive Gas Mixtures, PhysikalischTechnische Bundesanstalt 38116 Braunschweig, Germany 29 Dedgaonkar V. G., Navle P. B., Shrotri P. G., Properties of Hydroxyl-Terminated Polybutadiene-Base Elastomers Under the Influence of γ-Radiation., J. Radioanal. Nucl. Chem., Letters 176 (2) pp. 153-160, 1993. (pag 42) 30 Zecevic B., Terzic J., Baskarad M., Influence of the Solid Propellant Grains Processing on Burning Rate of Double Base Rocket Propellants, Sixth Seminar “New Trends in Research of Energetic Materials”, Univ. of Pardubice, pp. 54755, ISBN 0-7194-543-9 April 23-25, 2003. (pag 43) 105 31 Bonnet D. L., Butler P. B., Hot-Spot Ignition of Condensed Phase Energetic Materials, Journal of Propulsion and Power, Vol. 12, No. 4, pp. 680-690, JulyAugust,1996. (pag 43] 32 Borisov M. F., Danilov M. F., Zobov E. A., Litvinova I. G., Sidorov A. N., Discharge Channel Structure in Breakdown in a Inhomogeneous Field, Zhurnal prikladnoi Mekhaniki i Tekhnicheskoi Fisiki, No. 6, pp. 29-32, Nov.-Dic., 1988 (pag 45) 33 Baker P. J., Mellor A. M., Critical Impact Initiation Energies for Three HTPB Propellants, Journal of Propulsion and Power, Vol. 8, No. 3, pp 578-585, MayJune 1992. 34 Shiang-Woei C., Dynamic Analysis of Solid Propellant Grains Subjected to Ignition Pressurization Loading, Journal of Sound and Vibration 268 – 2003 , pp. 465-483 (pag 46) 35 Mellor A. M., Wiegand D. A. and Isom B. K., Hot Spot Histories in Energetic Materials, Combustion and Flame 101: 26-35-1995 36 Raun R. L., Modeling of ESD-Induced Confined Ignition of Solid Rocket Propellants, Combustion and Flame 120:107-124(2000) 37 Meda L., Marra G.., Galfetti L., Severini F., De Lucca L., Nano-Aluminum as Energetic Material for Rocket Propellant, Materials Science and Engineering C (2006), doi: 10.1016/j.msec.2006.09.030. (pag 54) 38 Aluminum’s Properties – International Aluminum Institute, www.worldaluminium.org 39 Sciamareli, J.; Takahashi, M. F. K.; Teixeira, J. M.; Iha, K., Solid polyurethanebased composite propellant: I- influence of the bonding agent. Química Nova, 107-110 ,2002, vol.25, n. 1, ISSN 0100-4042. 106 40 Luke G. D., Eagar M. A., Dwyer H. A., Ignition Transient Model for Large Aspect Ratio Solid Rocket Motors, AIAA, ASME, SAE, and ASEE, Joint Propulsion Conference and Exhibit, 32nd, Lake Buena Vista, FL, July 1-3, 1996 (pag 59) 41 Hunley J. D. , The History of Solid-Propellant Rocketry: What We Do and Do Not Know, NASA Dryden Flight Research Center Edwards, CA 42 Minier L., Behrens R., Thermal Decomposition Characteristics of Orthorhombic Ammonium Perchlorate (alfa AP) and tau AP/HTPB-Based Propellant., 1999 36th JANNAF Combustion and Propulsion Systems Hazards Subcommitee Meeting, Kenedy Space Center FL. 43 Rodiè V., Bajlovski M., Influence of Trimodal Fraction Mixture of AmmoniumPerchlorate on Characteristics of Composite Rocket Propellants, ScientificTechnical Review, Vol. LVI, No. 2, pp 38-44, 2006. 44 Melick D. J., Browning D., Shelton K., Evaluation of Electrical Material Properties: Embedment Stress Testing on Electrical Encapsulation Resins, Elf Atochem North American, INC. (pag 67) Chemical Propulsion Information Agency 45 Dahn C. J., Reyes B. N., Kashani A., FinKelshtein J., Electrostatic Hazards of Explosive, Propellant and Pyrotechnic Powders, EOS/ESD Symposium 98- pp 139-150. 46 Voltage and Dielectric Strength of Solid Electrical Insulating Materials at Commercial Power Frequencies, ASTM Standard D149-81, 1981, pp. 1-13 47 Kalyon D. M., Birinci E., Yazici R., karuv B., Walsh S., Electrical Properties of Composite as Affected by the Degree of Mixedness of the Conductive Filler in the Polymer Matrix, Polymer Engineering and Science, Vol. 42, No. 7, July 2002, pp. 1609-1617 (pag 88) 107 48 Baker, P. J.; Mellor, A. M.; Coffey, C. S. ,Critical Impact Initiation Energies for Three HTPB Propellants, Journal of Propulsion and Power Vol. 8. No. 3,578-585 May-June 1992 49 Yagodnikov D. A., Andreev E. A., Vorob’ev V. S., Glotov O. G., Ignition, Combustion, and Agglomeration of Encapsulated Aluminum Particles in a Composite Solid Propellant. I. Theoretical Study of the Ignition and Combustion of Aluminum with Fluorine-Containing Coatings., Combustion, Explosion, and Shock Waves, Vol. 42, No. 5, pp. 534-542, 2006. (pag 89) 50 Yeh W. and Budenstein, Electrical Conduction at Low Fields of Composites Sparsely Filled with Aluminum Particles – IEEE Transactions on Dielectrics and Isolation Vol. 2 No.1 pp 84-96, February 1995 51 Rocco J. A. F. F. et al, TG Studies of a Composite Solid Rocket Propellant based on HTPB-binder, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, Vol. 77 (2004) 803–813 52 Akers D. W., Rideout C. A., Nondestructive In-Situ Examination of Solid Rocket Motor Propellant Using Induced Positron Technology, AIAA Space 2004 Conference and Exhibit 28-30 Sept. 2004, San Diego, CA. 53 Keenan A. G. and Siegmund R. F., Thermal Decomposition of Ammonium Perchlorate, Department of Chemistry, University of Miami, Coral Gables, Florida 33124 54 SunderRaj R.D. Vivek et al, Modeling of Electrostatic Fields in Solid Propellants using Finite Element Techniques, Session 3D-CH2736-7/89/0000-0113 – IEEE1989 55 Hearn G., Static Electricity- guidance for Plant Engineers., Wolfson Electrostatics, University of Southampton – 2002 (pag 98) 108 56 Yeh W., and Budenstein P. P., The Electrical Properties at Low Field of Aluminum Filled Hydroxyl Polybutadiene Composites, 1990. Department of Physics, Auburn University Auburn, Alabama. 57 Coats D. E., Dunn S. S., French J. C., Performance Modeling Requirements for Solid Propellant Rocket Motors, Software and Engineering Associates, 58 Ramakrishna P. A., Paul P. J., Mukunda H.S., Revisiting the Modeling of Ammonium-Perchlorate Combustion: Development of an Unsteady Model., Journal of Propulsion and Power, Vol. 22, No. 3, pp. 661-669, May-June 2006 59 Voelkl H. R., Thermal Decomposition and Explosion of Ammonium Perchlorate and Ammonium Perchlorate Propellant Up to 50 Kilobars, Lewis Research Center – NASA TN D-6013, September 1970. 60 Bourham M. A., Initiation of Chemical Reactions in Energetic Materials Using Plasmas and Arc Voltaic, U.S. Navy Office of Naval Research – Progress Report N00014-00-1-0901, May 2001. 61 Vyazokvkin S., Clawson J. S., Wight C. A., Thermal Dissociation Kinetics of Solid and Liquid Ammonium Nitrate, Chem. Mater. 2001, 13, 960-966 62 Lang V. I., Bohman K. R., Tooley J. T., Frolik S. A., Fournier E. W., Brady B.B., Nealy D. C., Assessment of Perchlorate Releases in Launch Operations II, Space and Missile System Center - Air Force Space Command , CA – TR-2003(1306)-1 109 ANEXO I DEFINIÇÕES: Rigidez dielétrica: Valor máximo de campo elétrico que o material pode suportar sem romper. Para cada dielétrico existe um valor de campo elétrico, que se aplicado ao material irá destruir algumas ligações moleculares internas, possibilitando o aparecimento de uma corrente [5]. Quando a ruptura ocorre, o dielétrico passa a ter características semelhantes às de um condutor. TABELA I.1- Rigidez Dielétrica de Materiais [5] Material Rigidez dielétrica (kV/mm) Ar (1 atm) 3 Poliestireno 24 Papel 16 Pirex 14 Titanato de Estrôncio 8 Dielétrico: O dielétrico determina o número de linhas de campo elétrico entre as duas placas, e também a densidade de fluxo, isto é, o número de linhas por unidade de área. Permissividade: A razão entre a densidade de fluxo e a intensidade de campo elétrico é a permissividade do dielétrico ε. A permissividade é uma medida da facilidade com que o dielétrico permite o estabelecimento de linhas de campo em seu interior. Quanto maior a permissividade, maior a quantidade de carga depositada nas placas. Constante dielétrica: A razão da capacitância com um dado material separando as placas de um capacitor, para capacitância com o vácuo entre elas. A tabela I.2 apresenta valores de constante dielétrica de alguns materiais. 110 TABELA I.2- Constante Dielétrica de Materiais [5] Energia da Descarga: A energia acumulada em um capacitor depende de 2 valores: a capacidade do mesmo e o quadrado da tensão de carga onde [E]=Joule; [C]=Farad; [V]=(Volt), ou seja: E = 0.5 C V 2 (I.1) Função Trabalho (Ф): A grandeza Ф é a função trabalho, ou energia mínima exigida para remover um elétron de sua ligação atômica, f é radiação eletromagnética de freqüência quantizada em fótons de energia E = h f, onde h é a constante de Planck, φ = hf 0 (I.2) Resistência de superfície: Resistência de superfície é a razão da voltagem DC pela corrente fluindo entre dois eletrodos de configuração específica que atem contato no mesmo lado do material é expresso em ohms. Método: Association Standard Test Methods ESD- STM 11.11“Surface Resistance Measurements of Static Dissipative Planar Materials”, (2001) 111 Resistência Volumétrica: Resistência Volumétrica é a resistência medida em ohms através do corpo do material e expressa em Ohms-cm (Ω-cm). Medidas de resistência volumétrica são feitas seguindo o ESD STM 11.12 “Volume Resistivity Measurements of Static Dissipative Planar Materials”, (2001).