FORMAÇÃO, TREINAMENTO, QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE PESSOAL EM END DE ESTANQUEIDADE – DETECÇÃO DE VAZAMENTOS NÃO-VISÍVEIS EM REDES PRESSURIZADAS. Paulo Sérgio Padilha SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo Rua Sumidouro, 448 – São Paulo – Brasil [email protected] Osvaldo Ioshio Niida SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo Rua Sumidouro, 448 – São Paulo – Brasil [email protected] Resumo Apresentação do processo de Certificação de Profissionais em Ensaios Não-Destrutivos de Detecção de Vazamentos Não-Visíveis em tubulações pressurizadas em redes de distribuição de água. Palavra-chave Certificação de Profissionais, Detecção de vazamentos não-visíveis, Centro de Exames de Qualificação. 1. Introdução No setor de saneamento básico, as características das tubulações de distribuição de água tratada à população apresentam peculiaridades que potencializam as dificuldades para garantir a sua estanqueidade e, quando o vazamento não aflora à superfície, para detectar e localizá-lo para o posterior reparo. São tubulações enterradas, pressurizadas, compostas de variados materiais, assentadas em distintas épocas e localizadas em vias pavimentadas, muitas vezes de tráfego intenso. O método mais utilizado para detecção dos vazamentos não-visíveis nas redes de distribuição de água baseia-se em princípios de propagação acústica dos ruídos de vazamentos no solo e na própria tubulação. A contínua evolução dos equipamentos, associada às citadas condições das redes, exige crescente capacitação dos profissionais desse setor. Por outro lado, a escassez de recursos hídricos frente às demandas requeridas, especialmente em grandes centros urbanos, obriga a que se tenha uma gestão parcimoniosa do uso da água. Vazamento é perda e afeta não só os indicadores de eficiência econômica ou operacional, mas também a imagem das companhias de saneamento junto à população. Neste contexto, a condução de programas de detecção de vazamentos não-visíveis na rede de distribuição de água deve ser atividade rotineira nas companhias, requerendo elevados níveis de competência nessa busca, de forma a não se gastar dinheiro desnecessariamente na abertura das valas onde erroneamente foi apontado um vazamento ou, o que é pior, perpetuar vazamentos ao não se detectá-los. Para as empresas contratantes desse tipo de serviço é importante buscar garantias de que os profissionais e as empresas contratadas efetivamente “saibam fazer” a partir de procedimentos definidos. A forma mais usual de se alcançar esses objetivos é através da implementação de programas de certificação profissional. Este trabalho relata os conceitos da certificação de profissionais de detecção de vazamentos não-visíveis em tubulações enterradas e pressurizadas, com direcionamentos mais específicos para os sistemas públicos de abastecimento de água. 2. ABENDE (Associação Brasileira de Ensaios Não-Destrutivos) e o Setor de Saneamento Básico A ABENDE – Associação Brasileira de Ensaios Não-Destrutivos é uma entidade sem fins lucrativos que atua na qualificação e certificação de profissionais de diversos setores industriais há mais de 20 anos. Dentro da estrutura organizacional do Sistema Nacional de Qualificação e Certificação (SNQC), a ABENDE desempenha a função de qualificação e certificação de profissionais envolvidos na execução, registro e avaliação dos seguintes ensaios não-destrutivos: ultra-som (US), partículas magnéticas (PM), líquido penetrante (LP), radiográfico (ER), visual (EV), estanqueidade (ES), correntes parasitas (CP), análise por pontos (AP), neutrongrafia (EN) e emissão acústica (EA). 02 a 06 de Junho de 2003 / June 2 to 6 2003 Rio de Janeiro - RJ - Brasil A caracterização da pesquisa para a detecção de vazamentos não-visíveis através de métodos acústicos como um “Ensaio Não-Destrutivo para a Verificação da Estanqueidade” baseia-se no fato de se buscar escavar as ruas e calçadas somente nos pontos onde for confirmada a existência de vazamento a ser reparado, diminuindo os custos com escavações e repavimentações e minimizando os transtornos aos moradores vizinhos e ao tráfego de veículos e pedestres. 3. Processo de Certificação de profissionais de detecção de vazamentos não-visíveis 3.1. Estrutura Organizacional (Comitê, Bureau e CEQ) A estrutura básica de um programa de certificação prevê a existência de um Conselho (que é o órgão máximo do sistema), um Bureau de Certificação - BC (seu órgão executivo) e Comitês ou Comissões Setoriais (órgãos consultivos que agregam tecnicamente os setores envolvidos na ocupação), além de um Banco de Especialistas (que emite pareceres sobre Normas e Procedimentos, bem como sugestões de questões para exames práticos e escritos que são analisadas pelos Comitês) e os Centros de Exames de Qualificação – CEQ (que aplicam os exames teóricos e práticos). 3.2. Treinamento Os treinamentos são ministrados por uma entidade autônoma que não participa do processo de aplicação dos exames de qualificação. Um grupo de examinadores nível 3 é responsável pela carga horária e assuntos principais necessários à preparação dos profissionais para qualificação e certificação de detecção de vazamentos não-visíveis. . 3.3. Certificação de Profissionais de detecção de vazamentos O processo de certificação consiste em formalizar a qualificação através da emissão de um certificado comprovando características e habilidades segundo procedimentos escritos e resultados documentados, que permitem a um profissional exercer determinada tarefa, que no caso da Sabesp é o ensaio não-destrutivo de estanqueidade relacionado diretamente com a pesquisa de detecção de vazamentos não-visíveis. 3.4. Profissionais de Detecção de Vazamentos Não-Visíveis 3.4.1. Suas atribuições e responsabilidades Os profissionais são certificados em três níveis (N1, N2 e N3) conforme suas atribuições: Nível 1: • Preparar, instalar e operar os equipamentos de ensaio / Realizar ensaios ou tarefas específicas com eles relacionadas / Registrar as condições e dados do ensaio sem, todavia, avaliar os resultados e emitir laudos / Observar as medidas de segurança do trabalho preconizadas para o método de ensaio em questão. Nível 2: Os profissionais qualificados no Nível 2 devem estar em condições de executar, sem orientações de terceiros, todas as atividades peculiares ao Nível 1,e mais as seguintes: • Avaliar e interpretar os resultados dos ensaios, em conformidade com instruções e/ou procedimentos escritos e emitir os laudos respectivos. • Preparar instruções escritas relacionadas com a execução dos ensaios, de acordo com procedimentos escritos, previamente aprovados pelo Nível 3. • Orientar tecnicamente as atividades dos profissionais do Nível 1 e participar do treinamento, sob supervisão do Nível 3, dos candidatos a certificação nos níveis 1 e 2. • Atuar como examinador assistente do Nível 3, quando solicitado pelo BC. Nível 3: Os profissionais qualificados no Nível 3 devem apresentar, sólidos conhecimentos específicos peculiares ao método de detecção de vazamentos,conhecimentos gerais de sistemas de adução e distribuição de água e controle de perdas físicas, além de outras técnicas de ensaio de Estanqueidade. Suas atribuições e responsabilidades são as seguintes: • Interpretar especificações contratuais, no que se refere à execução dos ensaios e aos critérios porventura omissos ou não claramente definidos em tais documentos. • Supervisionar as atividades de profissionais Nível 1 e Nível 2. • Ministrar ou supervisionar treinamento de candidatos a qualquer dos níveis. • Preparar e aprovar procedimentos/instruções escritas relacionadas com os ensaios de detecção de vazamentos. • Supervisionar as medidas de segurança do trabalho relacionadas com os ensaios de detecção de vazamentos. • Atuar como examinador nos exames dos profissionais Nível 1 e Nível 2. 3.5. Equipamentos e técnicas de detecção de vazamentos As técnicas de ensaio a serem empregadas para localização de vazamentos devem ser integradas às ações desenvolvidas pelas companhias de saneamento, com relação à operação dos sistemas de abastecimento de água, visando alcançar padrões de eficiência, confiabilidade, operacionalidade, segurança e economia, que possibilitem condições técnicas adequadas e satisfatórias para atender de forma cada vez melhor a população. A pesquisa acústica de vazamentos não-visíveis consiste em detectar o ruído provocado pela passagem da água através do furo na tubulação pressurizada. Dentro dos procedimentos estabelecidos para se atingir os objetivos anteriores, devem ser utilizados, nos serviços de Pesquisa e Detecção de Vazamentos Não-Visíveis, equipamentos atualizados tecnologicamente, juntamente com mão-de-obra treinada. As técnicas de ensaio, procedimentos e equipamentos adotados para o cumprimento do escopo dos serviços são apresentados a seguir, bem como uma breve descrição dos serviços compreendidos. 3.5.1. Equipamentos Principais 3.5.1.1. Haste de Escuta Este equipamento é do tipo acústico, que detecta as vibrações nas tubulações geradas pelos vazamentos. É constituída de uma barra de metal que transmite as vibrações captadas nas peças da rede de distribuição de água (cavaletes, registros) para um amplificador mecânico, localizado em uma das suas extremidades, que permite a verificação auditiva das vibrações (Figura 1). É utilizada para se obter um primeiro mapeamento indicativo de ocorrência de vazamentos, que serão apontados posteriormente através do uso de geofone, correlacionador de ruídos e barra de perfuração. Existe também a haste de escuta eletrônica, que possui amplificador eletrônico e fone de ouvido para escutar o nível de ruído, onde a intensidade do ruído é mostrada em uma tela. A haste de escuta mecânica compõe-se de: a) Amplificador Mecânico – com diâmetro 9,0 cm, onde são captadas as vibrações geradas pelos vazamentos, através de um disco de chapa metálica fina. A sua faixa de operação situa-se entre as freqüências de sons de 200 a 1.500 Hz. Em geral, detecta com mais facilidade vazamentos na faixa de 600 a 800Hz. Não deve apresentar trincas na sua estrutura. b) Barra – é a haste metálica, apresentando comprimentos de 1,0 e 1,5 m. Possui diâmetros aproximados de 0,7 e 1,0 cm. Não deve estar torta. Amplificador Mecânico Membrana Vibratória Barra Figura 1. Haste de escuta. O técnico deve segurar a haste com a mão na parte superior (amplificador) e apenas encostar o ouvido no amplificador. A haste de escuta é conhecida também como “stick”. 3.5.1.2. Geofone eletrônico ou mecânico Este instrumento é um detector eletrônico acústico de vazamentos, constituído de amplificador, sensores de ruídos e fones de ouvido. Tem a função de captar as vibrações provenientes do movimento da água fora do tubo, especialmente de seu impacto contra o solo e do ruído característico da circulação de água com as partículas do solo. O geofone eletrônico capta ruídos situados, em geral, entre as freqüências de 100 e 2.700 Hz. Existe também o geofone mecânico que utiliza o princípio da estetoscopia na detecção de vazamentos. É composto de duas sapatas (sensores mecânicos), guias de onda e auriculares. É menos sensível que o geofone eletrônico. O geofone eletrônico apresenta os componentes básicos a seguir: a) Amplificador - amplia os sinais captados pelos, sensores, permitindo escutar o ruído do vazamento.O amplificador deve possuir as seguintes características: • Medidor de Nível de Som: o nível de som é indicado em faixas e em cores diferentes para se encontrar rapidamente a indicação de maior som do vazamento. • Filtros: devem apresentar faixas de filtros de baixa e alta freqüência, onde é possível fazer combinações que eliminam os ruídos indesejáveis do meio ambiente e selecionam as faixas de freqüências típicas dos sons do vazamento. • Controle de Volume: o volume do som do vazamento é controlado para obter o ajuste fino do ruído do vazamento no indicador de nível e nos fones de ouvido. A energia é proveniente de uma bateria recarregável. b) Sensor ou Transdutor - deve possuir alta sensibilidade e botão manual de acionamento de fácil operação. c) Fones de Ouvido - são utilizados para ouvir o ruído de vazamento. Em alguns equipamentos existentes no mercado, os geofones possuem acessórios (hastes de contato) que possibilitam auscultar, quando acoplados ao próprio geofone, as vibrações diretamente em solos macios, cravando-se esta haste de contato diretamente nesse solo. Com a haste de contato, o geofone poderá também executar a mesma função da haste de escuta, quando existir um ponto de contato na rede de distribuição. Fones de Ouvido Amplificad Médio Ruído Máximo Médio Ruído Sensor Figura 2. Geofone e seus componentes. O geofone eletrônico pode permitir várias combinações de filtros. Faixas mais largas permitem a passagem de muitas freqüências; mais estreitas, permitem a passagem de poucas freqüências. Geralmente, em se tratando de tubo de material duro, tal como ferro fundido de aço, a tendência é ter o som em faixas mais altas de freqüência, e em um tubo de material mole, como PVC ou polietileno, em faixas mais baixas de freqüências. Ao se escolher as combinações de filtros para um vazamento, torna-se bastante fácil e precisa a detecção dos vazamentos. 3.5.1.3. Correlacionador de Ruídos Este instrumento é do tipo acústico, constituído por sensores de ruídos, com respectivos pré-amplificadores, que transmitem, através de ondas de rádio ou por cabos, informações para o equipamento correlacionador. A partir da posição dos sensores, instalados em dois pontos pré-determinados de um trecho de tubulação, o equipamento correlacionador pode determinar a posição de um vazamento, a partir da análise da diferença de tempo que o som característico do vazamento necessita para atingir um e outro sensor (Figura 3). A faixa de operação do correlacionador de ruídos situa-se, em geral, entre as freqüências de 300 a 5.000 Hz. Componentes: a) Unidade Principal ou Processador - são realizados os processamentos que permitem a determinação do ponto de vazamento, a partir de informações provindas dos sensores e de dados de entrada levantados no local (distância entre os sensores, diâmetro e material do tubo). São comparados os sinais recebidos dos sensores, filtradas as freqüências e analisada a parte do ruído que é comum aos dois sensores. A unidade principal incorpora as seguintes características: • Possibilidade de uso de 1 ou 2 pré-amplificadores / Transmissão: rádio ou cabo / Freqüência UHF; • Faixas de filtros variadas (alta e baixa) que permitem a eliminação de ruídos externos indesejáveis; • Faixa de tempo de retardo (em milisegundos: ms); • Materiais dos tubos (mais comuns) na memória; e • Variação de tubos na mesma correlação: diversos tipos de materiais e/ou tamanhos por teste. A energia é proveniente de baterias ou pilhas. b) Pré-Amplificador - a função do pré-amplificador é ampliar os sinais captados pelos sensores. O pré-amplificador Incorpora as seguintes características: • Transmissão: rádio ou cabo / Freqüência de rádio: UHF / Faixa de freqüência: depende do fabricante; e Modo monitor: Microfone ou fones. c) Fones de Ouvido - os fones são utilizados para ouvir o ruído do vazamento e efetuar as operações básicas de verificação dos contatos dos sensores com o trecho de tubo. Devem ser de alta resolução, permitindo ao operador selecionar e monitorar todos os sinais sonoros. d) Sensores-Padrão ou Transdutores - captam os ruídos do vazamento e os transformam em sinais eletrônicos. Os sensores devem ser leves, resistentes e à prova d’água. As bases de apoio dos sensores devem ser magnéticas. e) Hidrofones - em alguns correlacionadores é possível também utilizar o hidrofone como elemento sensor. Neste caso, requer imersão do elemento sensor na água. 3.5.1.3.1. Combinações de Filtros Normalmente, o correlacionador pode fazer combinações de filtros, selecionando as faixas de freqüências alta e baixa. Geralmente, em se tratando de tubo de material duro, tal como ferro fundido ou aço, a tendência é ter o som em faixas mais altas de freqüências e, em tubo de material mole, como PVC ou polietileno, em faixas mais baixas de freqüências. Ao se escolher as combinações de filtros para um vazamento, torna-se bastante fácil e precisa a detecção dos vazamentos. 3.5.1.3.2. Correlação de Ruídos Quando ocorre a situação mais simples, de um único tipo de material e um único diâmetro no trecho pesquisado, no tempo necessário para ser captada por um dos sensores, a vibração no tubo terá percorrido, a extensão “L” (ver Figura 3). A partir do momento em que o sinal atingiu o sensor mais próximo, o correlacionador determina o intervalo de tempo (Td) até o mesmo ruído atingir o sensor oposto (tempo de retardo). Para o cálculo da posição do vazamento, a distância “D” entre os dois sensores deve ser conhecida, assim como a velocidade (v) da propagação do som através do tubo. Esta velocidade é uma característica que varia, entre outras coisas, de acordo com os materiais e diâmetros das tubulações. A partir do esquema apresentado, tem-se: L = D – (v x Td) ______________________ 2 A fórmula acima resume o cálculo básico operado pelo correlacionador. Unidade Principal Pré-Amplificador Pré-Amplificador Sensor Sensor Vazamento Figura 3. Correlacionador de Ruídos e seus componentes. 4. Histórico de atuação da empresa no controle de perdas 4.1. Conceitos de Controle de Perdas Todos os sistemas de abastecimento de água apresentam perdas entre a Estação de Tratamento de Água e os consumidores finais. As perdas de um sistema de abastecimento de água são definidas, em geral, como: Volume Perdido = Volume Fornecido (ou Produzido) – Volume Faturado (ou Micromedido) – Usos Autorizados (Combate a incêndios, favelas etc.) O Índice de Perdas pode ser calculado de várias formas. A mais comum é a Porcentual apresentada abaixo: Índice de Perdas (%) = Volume Perdido Volume Fornecido x 100 A definição do Índice de Perdas representa, em linhas gerais, a quantidade de água produzida que não é faturada ou contabilizada pela empresa, estando associado ao grau de eficiência operacional de uma companhia de saneamento. Vale enfatizar que o desperdício feito por alguns consumidores nas residências, comércio, indústrias etc. não é computado como perda, sob o ponto de vista técnico, pois este consumo se dá após a medição no hidrômetro. A primeira noção das perdas que vem à mente é o vazamento de água nas tubulações. Mas o conceito incluído na expressão anteriores é mais amplo. Existem dois tipos de perdas: Perdas Físicas – são representadas pelas águas que efetivamente não chegam ao consumidor, em função de vazamentos nos ramais prediais, nas redes de distribuição e nos reservatórios setoriais (extravasões, principalmente). Os vazamentos podem ser visíveis (afloram à superfície) ou não-visíveis. As Figuras 4 e 5 mostram os vários tipos de vazamentos que ocorrem na rede de distribuição de água. A Figura 6 apresenta os resultados de um levantamento feito na RMSP (1988) sobre as manutenções de ramais prediais, com a indicação dos porcentuais de ocorrência de vazamentos nas diversas partes constituintes do ramal. adaptador folgado tubo perfurado rosca partida rosca quebrada conexão mal d tubo colar ou ferrule defeituoso válvul tubo tubo luva juntas hidrante colar de tomada folgado rosca defeituosa registro defeituoso adaptador partido Figura 4. Vazamentos nas conexões. Foto 5. Vazamentos nas redes de distribuição 3% 28% 32% 3% TOMADA DE ÁGUA 39% TUBO DO RAMAL 3% 3% PASSEIO LEITO CARROÇÁVEL 3% 13% 15% 21% ADAPTADORES 37% CAVALETE REDE Figura 6. Porcentagem de Ocorrência de Vazamentos em Ramais na Região Metropolitana de São Paulo Perdas Não-Físicas - são aquelas decorrentes de imprecisão da medição nos hidrômetros, fraudes, ligações clandestinas e falhas do sistema de cadastramento da Companhia. Nestes casos, de alguma forma a água é consumida, mas não é medida, acarretando perda de faturamento (Figura 7). Fonte: SABESP Figura 7. Perda Não-Física: Imprecisão na Medição. Estudos realizados pela SABESP em 1993, na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, indicaram que as perdas nos seus sistemas dividem-se eqüitativamente entre perdas físicas e não-físicas, podendo, entretanto, este rateio varia bastante em função das condições específicas de cada local. Para as condições da RMSP os vazamentos visíveis são responsáveis por 95% das ocorrências, ficando 5% com os não-visíveis. Outra conclusão importante foi que mais de 90% dos vazamentos estão localizados nos ramais prediais. Por sua vez, as falhas da medição nos hidrômetros e as deficiências na gestão comercial (cadastro de consumidores, fraudes etc.) representam a maior parte das perdas nãofísicas. Ao se classificar as perdas em redes de distribuição de água em físicas (vazamentos) e não-físicas (erros de medição, fraudes) e se definir claramente os seus conceitos, vislumbram-se de imediato os resultados das ações de controle. Para as perdas físicas, o seu controle impacta diretamente nas vazões de produção de água e de exploração de mananciais; para as não-físicas, o impacto se dá fundamentalmente no faturamento, pois a água é consumida, mas não é registrada ou faturada. As ações de controle de perdas nas empresas de saneamento brasileiras foram estruturadas ao final da década de 70. O rol de atividades essenciais e as técnicas de medição de parâmetros operacionais (pitometria), onde se incluíam as pesquisas de vazamentos não-visíveis, foram gradativamente incorporados ao cotidiano das companhias. Ao longo desses 20 anos, pouco se acrescentou “no quê” fazer, constatando-se, contudo, avanços tecnológicos que contribuíram para melhorar a eficiência e a eficácia das ações desenvolvidas. Essas considerações valem mais para as ações vinculadas à gestão de perdas físicas do que à de não-físicas, especialmente no que se refere à prevenção dos vazamentos. Os quatro pontos fundamentais que regem o controle de perdas físicas são: • a redução da pressão da rede de distribuição, atacando uma das causas mais significativas da ocorrência de vazamentos. Com a melhoria tecnológica das Válvulas Redutoras de Pressão, associadas a controladores eletrônicos, resultados expressivos de redução de vazões de fugas têm sido obtido; • o gerenciamento da infra-estrutura, que pressupõe materiais de boa qualidade , execução correta dos serviços e substituição de trechos da rede com alta incidência de falhas; • o controle ativo dos vazamentos, com o fortalecimento das ações de pesquisas de vazamentos não-visíveis, contrapondo-se ao controle passivo, onde somente são atacados os vazamentos visíveis (aflorantes); • a agilidade e a qualidade do conserto dos vazamentos, reduzindo os volumes perdidos e retrabalho. 4.2. Os vazamentos – tipos e conceitos Os vazamentos são classificados em dois tipos: visíveis e não-visíveis. Os vazamentos visíveis são facilmente notados pela população, que notifica a companhia de saneamento. Portanto, o reparo é normalmente feito em um curto espaço de tempo. Os vazamentos não-visíveis não afloram à superfície, infiltram-se na terra, formando fluxos internos no solo. Portanto, leva-se um longo tempo para localizá-los e consertálos, sendo necessárias inspeções especiais através de equipamentos de pesquisa acústica para a sua detecção. Nem todos os vazamentos não-visíveis são detectáveis através dos equipamentos de pesquisa atualmente disponíveis. Aquelas vazões muito baixas, que geralmente ocorrem nas juntas e nos estágios iniciais dos processos de corrosão, representam o que se denomina "vazamentos inerentes" do sistema de distribuição de água. O diagrama apresentado na Figura 8 resume a classificação anteriormente colocada. VAZAMENTOS não-visíveis visíveis Fonte: SABESP não-detectáveis detectáveis Figura 8. Classificação dos Vazamentos. 4.2.1. Duração dos Vazamentos A avaliação da duração média dos vazamentos pode ser feita a partir da consideração de três componentes seqüenciais: − conhecimento: tempo médio desde o início do vazamento até o instante em que a companhia de saneamento passa a saber da existência do problema, mas sem conhecer a sua localização; − localização: tempo médio que a companhia de saneamento gasta para localizar o vazamento, após tomar conhecimento do mesmo; e − reparo: tempo médio gasto pela companhia de saneamento para consertar o vazamento, a partir do instante em que tal vazamento foi devidamente localizado. Os tempos gastos em cada componente e as vazões estão associados à característica do vazamento (visível ou nãovisível) e, principalmente, definem a magnitude dos volumes perdidos. Assim: − vazamentos visíveis: são rapidamente conhecidos (evidentemente, localizados ao mesmo tempo), ficando o tempo de reparo dependente da eficiência da companhia de saneamento. Os casos em que os vazamentos não-visíveis afloram, tornando-se visíveis, o tempo de conhecimento geralmente pode ser bastante elevado. − vazamentos não-visíveis: são descobertos a partir do emprego de técnicas de pesquisa e detecção, que afetam o tempo de conhecimento ou de localização. Por exemplo, pesquisas de vazamento rotineiras diminuem o tempo para o conhecimento, que coincide com o tempo de localização (o apontamento do vazamento é feito no mesmo instante em que se toma conhecimento dele). Por sua vez, ao se realizar medições de vazão mínima noturna, toma-se consciência da existência de vazamentos, que serão posteriormente localizados e reparados. 5. Novas contratações com equipes certificadas para detecção de vazamentos No caso específico da Sabesp, os Editais para a contratação dos serviços de detecção de vazamentos são exigidos requisitos de certificação para, pelo menos, uma equipe de profissionais (Nível 1 e 2) das licitantes e para execução dos serviços todos os profissionais têm que ser certificados. 6. O que é o Centro de Exames de Qualificação – CEQ O CEQ SABESP conta com uma sala para a aplicação dos exames teóricos e com um Campo de Provas, para a aplicação dos exames práticos, que é constituído por uma rede pressurizada e compartilhada com uma área de estacionamento de 1.200m2, onde foram instaladas tubulações de ferro fundido e PVC, ambas com derivações em tubos de polietileno que simulam os vazamentos. Foi também executada uma edificação denominada “Centro de Controle dos Vazamentos”, contendo um subsolo de operação do CEQ e um pavimento térreo administrativo. O subsolo é composto por um tanque d’água, uma calha de recebimento do volume dos vazamentos simulados, uma bomba de recalque que pressuriza e recircula toda água do sistema, conjunto de torneiras que permite o acionamento de cada vazamento a ser aplicado ao candidato e demais acessórios de operação. Os vazamentos simulados são executados mediante ligação entre o Centro de Controle dos Vazamentos e a rede principal (PVC e FF), através de tubulação de Polietileno. Há um calendário mensal para a realização de exames para dois níveis de profissionais (N1 e N2). Submetem-se aos exames os profissionais das empresas prestadoras de serviço e das companhias de saneamento do Estado de São Paulo e de outros estados do Brasil. 7. Por que a Sabesp decidiu construir o Campo de Provas do CEQ Nessa estrutura de certificação, uma entidade, desvinculada da ABENDE, deve ser a responsável pela aplicação dos exames. A SABESP se prontificou a assumir esse papel, necessitando para isso ter instalações adequadas para a aplicação dos exames teóricos e práticos, constituindo, desta forma, o Centro de Exames de Qualificação – CEQ. A SABESP foi reconhecida como Centro de Exames de Qualificação pela ABENDE, através de auditoria realizada em Setembro de 2001, para a realização de exames (teórico e prático) com vistas à certificação de profissionais de detecção de vazamentos não-visíveis de líquidos sob pressão em redes de distribuição. O CEQ é o pioneiro da América Latina no setor de saneamento e situa-se à Rua Sumidouro, 448 – Pinheiros – SP. 8. Projeto e concepção do Campo de Provas do CEQ Compreende a execução de rede de água pressurizada, com aproximadamente 110 metros de comprimento, tubulação de PVC Ponta e Bolsa de Junta Elástica DN75 e FF DÚCTIL com revestimento interno de cimento com Ponta e Bolsa JE2GS DN80. Com 36 m2 de área construída, foi executado o “Centro de Controle dos Vazamentos”, contendo um subsolo de operação do Campo de Provas e um pavimento térreo administrativo. O subsolo de operação é composto por um tanque com capacidade de 1.000 litros d’água, uma calha de recebimento do volume dos vazamentos simulados, conjunto de torneiras dos vazamentos, bomba de recalque (modelo KSB C2000, pressão máxima de 42mca, vazão de 12 m3/h e potência do motor de 2,0 HP) e demais acessórios de operação. Os vazamentos simulados foram executados mediante ligação entre o Centro de Controle dos Vazamentos e a rede principal (PVC e FF), através de tubulação de Polietileno PE DE20. A rede principal do Campo de Provas é abastecida por uma Válvula de Gaveta FF Dúctil com cunha emborrachada DN80 proveniente da rede da rua DN100 . Esta válvula permanece fechada após a carga completa da rede principal e durante a execução dos exames práticos. As tubulações de FF, PVC e Polietileno PE foram executadas de forma a garantir a absoluta estanqueidade. 9. Execução da obra do Campo de Provas do CEQ, etapas, fases de montagem da rede de água com simulação de vazamentos e cuidados especiais durante a obra para evitar a ocorrência de vazamentos reais. 9.1. Serviços executados O Campo de Provas foi executado conforme as seguintes etapas: • Primeira Etapa - Remanejamento das árvores existentes e execução dos serviços de movimento de terra. • Segunda Etapa – abertura mecanizada das valas para instalação da rede principal (PVC DN75 e FF DN80), com profundidade e largura de 0,80m. • Terceira Etapa - abertura mecanizada das valas para instalação da tubulação de Polietileno PE, com profundidade e largura de 0,80m em todo o perímetro da rede principal. • Quarta Etapa - Regularização de fundo das valas (PVC DN75, FF DN80 e Polietileno PE DE20) com assentamento de berço de areia com aproximadamente 5cm de altura. O berço de areia foi compactado, respeitando-se o desnível de 0,10m e declividade de 1% da rede principal. • Quinta Etapa - Instalação de derivação da rede DN100 que abastece a rede principal do Campo de Provas (DN80). Este trecho foi executado com tubulação de FF Dúctil K-7 DN80 contemplando uma Luva Tripartida FF Dúctil com derivação em “Te” Flangeado DN100 x DN75, Válvula de Gaveta FF Dúctil com cunha emborrachada DN80. • Sexta Etapa - Montagem do trecho da rede principal com tubulação de FF e PVC. • Sétima Etapa – Teste Hidrostático na rede principal (FF DN80 e PVC DN75) com pressão de 36mca. Durante o Teste hidrostático foi constatado que a rede, conexões e válvulas permaneceram estanques em toda a sua extensão e a tubulação de PVC distanciou-se das conexões, aproximadamente 7mm, e a tubulação de FF DN80 permaneceu inalterada. O deslocamento do PVC foi considerado dentro da normalidade, levando em consideração o tipo de material (menor rigidez) e inexistência de terra sobre a tubulação durante o Teste hidrostático. • Oitava Etapa - Constatada a estanqueidade da rede principal, foi iniciada a execução dos vazamentos simulados. O primeiro furo (3mm de diâmetro) de vazamento foi executado no trecho mais distante da rede com furação lateral à parede do tubo, sempre perpendicular à tubulação principal (PVC DN75 e FF DN80) no sentido descendente do fluxo de saída d’água. Após a furação foram instalados os colares de tomada (Colar de Tomada FF Dúctil para tubos de FF com derivação roscada DN80 x DNR20 e Colar de Tomada de Polipropileno para tubos de PVC 6,3 com derivação roscada DN75 x DNR20), tubos de Polietileno PE DE20 e respectivos Pontos de Contato de tubo de aço galvanizado roscado DNR20. O trecho de tubulação respectivo ao primeiro vazamento foi aterrado com aproximadamente 1,00m de altura e foram executados os Testes de detecção de vazamentos não-visíveis, verificando-se que a haste de escuta, geofone eletrônico e o correlacionador de ruídos apresentaram bom desempenho. Aprovado o primeiro trecho de vazamento nos Testes de Detecção, os vazamentos seguintes foram executados um por vez, instalando-se os tubos de Polietileno PE até o Centro de Controle, executando os pontos de contato(1), medindo as respectivas distâncias do vazamento entre os pontos de contato (gabarito dos vazamentos), testando hidrostaticamente(2), compactando com camada de areia (15cm) e finalmente aterrando (mecanicamente e manualmente) com solo (sem entulho) no alinhamento da rede principal. Observações.: (1) Os pontos de contato de tubo de aço galvanizado roscado DNR20 foram executados sem perfurar a rede, ou seja, não estão pressurizados, apenas são pontos de contato físico com a rede principal. Todos os pontos de contato foram envelopados com Tubo de PVC 6,3 com Ponta e Bolsa de Junta Elástica DN100. (2) O Teste Hidrostático foi executado verificando a estanqueidade do conjunto compreendido entre a rede principal (PVC DN75 ou FF DN80) e a tubulação de Polietileno PE. A cada vazamento executado e aprovado no Teste hidrostático, o respectivo trecho de tubulação (FF ou PVC) era fechado (aterrado e compactado), de forma a garantir a segurança e sigilo da identificação do ponto correto de vazamento. O Centro de exames possui um vazamento denominado “Ponto Pesquisa”, que não faz parte do total de vazamentos simulados aplicados no exame prático. O vazamento Pesquisa é utilizado para controle/medição do diâmetro do furo do vazamento (3mm ). • Nona Etapa - Após todos os vazamentos executados, medidos e aterrados, iniciaram-se a compactação geral da área e a preparação do terreno, com aplicação de base e sub-base para camada de revestimento com asfalto de aproximadamente 1.200m2 de área . Pavimentação com asfalto em toda área do estacionamento. • Décima Etapa - Execução das sinalizações das vagas de estacionamento, com pintura emborrachada e pintura (interna e externa) do Centro de Controle de Vazamentos. • Décima Primeira Etapa - Testes gerais de detecção de vazamentos não-visíveis - Concluídas as obras do CEQ foi executada pela equipe da SABESP uma série de Testes de Detecção de Vazamentos, com a finalidade de mapear o grau de dificuldade do exame prático em todos os pontos de vazamentos simulados. Foram realizadas detecções com haste de escuta, geofone eletrônico, geofone mecânico e correlacionador de ruídos, apresentando um resultado final positivo quanto à aplicabilidade dos exames práticos, levando em consideração todos os pontos técnicos da Detecção de Vazamentos Não-Visíveis em tubulações enterradas sob pressão. 10. FOTOS DO CEQ Foto 1 e 2. Centro de Controle dos Vazamentos (pavimento térreo administrativo e subsolo de operação do Campo de Provas). Foto 3 e 4. Bomba de Recalque e Trecho de tubulação de rede demarcado no solo entre dois pontos de contato. 11. A Certificação como desenvolvimento da qualidade dos serviços prestados no mercado. O processo de certificação de profissionais de detecção de vazamentos não-visíveis tem como objetivo principal a geração de profissionais com qualidade no mercado de trabalho, mas necessita da consciência de que a certificação gera a qualidade na mão de obra aplicada e conseqüentemente a qualidade nos serviços prestados. No caso do saneamento básico a mão de obra é fundamental para a imagem da companhia, pois os serviços prestados com mão de obra desqualificada geram problemas em campo, incapacidade técnica, custo de manutenção elevado e outros fatores que danificam a qualidade dos serviços prestada pela empresa. Podemos citar o caso da Petrobrás que teve a sua primeira qualificação a mais de 20 anos em um total de 2.000 profissionais qualificados, em tipos de ensaios específicos, atuando em qualificação e inspeção. A empresa tem a visão que seus funcionários certificados tem a responsabilidade pelos serviços prestados com qualidade na empresa e no mercado internacional, pois exporta tecnologia agregada a certificação destes profissionais. A Sabesp foi a pioneira na América Latina no processo de certificação em detecção de vazaamentos não-visíveis, mas espera com isso que outras companhias se juntem ao processo para que juntas valorizem seus profissionais e aperfeiçoem os serviços prestados. 11.1. Dados estatísticos até 2002 (profissionais certificados, exames, aprovações e reprovações etc.). O CEQ já aplicou exames a 86 candidatos, num total de 350 exames, contemplando exames teóricos e práticos. Deste total de candidatos que fizeram exames 50% foram certificados no primeiro exame. 12. Referências 1. Associação Brasileira de Ensaios Não-Destrutivos – ABENDE – Documentos do Sistema Nacional de Qualificação e Certificação 2. Apostila de Treinamento – ABENDE, Detecção de Vazamentos Não-Visíveis Métodos Acústicos, Níveis 2 e 3, Janeiro de 2003. 3. Relatório de obras e atividades do CEQ – Sabesp, Maio de 2001.