Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 Estudo de morfologia e infraestrutura de recortes espaciais com instrumentos analíticos do urbanismo ecológico Karoline Botelho Reck Laura Machado de Mello Bueno Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC [email protected] Programa de Pós Graduação em Urbanismo CEATEC [email protected] Resumo: O estudo da morfologia e da qualidade ambiental urbanas é fundamental para as adaptações que o espaço urbano requer no futuro. Através da análise da bacia hidrográfica Anhumas (Campinas, SP) na sub-bacia do córrego Buracão, em aspectos morfológicos, sistemas de água, esgoto e a rede hidrográfica, foram elaborados transectos (perfis) a partir dos mapas desenvolvidos. Transecto é uma ferramenta com aplicação no urbanismo contemporâneo sobre a forma de analisar e projetar a cidade além do ponto de vista tradicional, os mapas. Nesta pesquisa foram geradas perspectivas e dessa forma se obtém uma análise da infraestrutura de subsolo, aérea, qualidade espacial e ambiental, trabalhando com um complemento ao transecto para aprofundamento da análise, o que permite maior embasamento para futuras discussões sobre possíveis melhorias e necessidades que a cidade possui, pois dessa forma o olhar pode estar voltado em diferentes escalas (cidade, região, bairro, rua, morfologia). A valorização da função das bacias hidrográficas nas suas hierarquias, e de sua profunda relação com a paisagem urbana, pode transformá-la em uma importante ferramenta para o projeto urbanístico e da infraestrutura urbana, contribuindo com os desafios relacionados ao manejo e à qualidade das águas no meio urbano. Palavras-chave: Gestão urbana, bacias hidrográficas, urbanismo contemporâneo, infraestrutura Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas / Área: Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo 1. METODOLOGIA Para desenvolver esta pesquisa primeiramente foram visitados vários locais para a seleção da área de estudo, em paralelo à ampliação da revisão bibliográfica. Foram selecionadas as sub-bacias hidrográficas dos córregos Buracão e Cafezinho, afluentes do ribeirão das Anhumas, em área urbanizada consolidada de Campinas. Em atividade colaborativa com ou- tros alunos, foram levantadas bases cartográficas já existentes da área em questão. Com este embasamento foram realizadas visitas de campo e acesso ao Google Street View analisando a coerência das bases existentes com o cenário atual e corrigidas as divergências através dos programas AutoCad e Arcgis. Ao mesmo passo eram levantados dados da rede de água, esgoto (na Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A-SANASA Campinas), topográficos e morfológicos. Após o cruzamento de todos os dados obtidos foram gerados transectos, ou cortes como chamados na linguagem arquitetônica. Os dados levantados que geraram os mapas também foram aplicados nos transectos como a passagem de tubulações, a presença de arborização registrada pelas visitas de campo e Google Street View, iluminação e abastecimento energético, entre outros. Buscando exemplificar e aprofundar o conhecimento sobre a área como uma questão socioespacial, de qualidade urbanística ambiental e visual, a alunas trabalharam em sub-bacias, sendo objeto desta pesquisa a do córrego Buracão. Foram realizadas novas visitas de campos em pontos específicos de interesse e destes locais foram geradas perspectivas utilizando o programa Sketch Up e Photoshop. Com base nesse novo quadro de imagens foram geradas novas análises críticas sobre as discussões que a área levanta. 2. OBJETO DA PESQUISA A região escolhida está inserida da bacia do ribeirão Anhumas em Campinas denominada como subbacia Buracão e agrega os bairros: Núcleo Residencial Genesis, Jardim Nilópolis e Parque Anhumas (Fig. 5). Nesta região são constatados morfologias e padrões arquitetônicos referentes a padrões de rendimentos médio-baixo e baixo e aglomerados subnormais (IBGE, 2000) e ocupações ou favelas recentes, como a denominada Ocupação Novo Cafezinho, que é de 2013 e já ocupa uma grande área necessitando urgentemente de um olhar urbanístico para qualificar o espaço antes que ele se consolide. Já os Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 bairros em questão apresentam caráter residencial e mesmo em avenidas de importante fluxo são constatadas residências e atividade comercial de caráter local, a exceção do trecho de montante, marginal à rodovia Mogi-Campinas no Jardim Nilópolis. Esse é um bairro predominantemente residencial salvo o destaque de uma área com muitos barracões de oficinas mecânicas e pequenas indústrias próximas à denominada Cidade Judiciária (principal fórum de Campinas), que é um importante marco da região e foco de movimento interbairros. O núcleo residencial Genesis, a jusante, é uma ocupação que passa por intenso processo de urbanização e qualificação, principalmente com a requalificação das margens do Ribeirão Anhumas tornando-se hoje um parque linear (Projeto Vila Parque Anhumas). Fig. 2 - Av. Lafaiete Arruda Camargo, importante via da área Fig. 3 - Ocupação Novo Cafezinho iniciada em 2013 Fig. 1 - Uso do solo sub-bacias Buracão e Cafezinho, bacia Anhumas RMC 3. RESULTADOS A partir da análise do uso de solo e registros das visitas técnicas (figuras 1,2 e 3) foi gerado um novo mapa cujo destaque são as redes hidrográfica e de saneamento (fig. 4). Nele também estão contidas áreas de interesse que geraram as perspectivas (círculos numerados na fig. 4) e as linhas de transecto. Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 Fig. 4 - Mapa Rede Hidrográfica, de Saneamento e Transectos Com as informações contidas nos dois mapas foram elaborados transectos com análises críticas (fig. 4). Fig. 5 Transecto AA’ 3.1 Análise Crítica Transecto AA’: Área 1: Sua morfologia apresenta recorrentemente a presença de barracões para oficinas e pequenas indústrias e também está próxima ao principal marco do bairro. Em meio as oficinas e indústrias são constatadas residências de classe média com lotes de tamanho regular comparado a situação do município de Campinas, cerca de 35x15m, já que o lote mínimo 2 na legislação municipal é de 300 m . A arborização é escassa e as calçadas são irregulares. Algumas apresentam o posteamento em sua área central ocupando todo o espaço para a passagem de pedestre, que já é reduzido, obrigando-o a transitar pelo leito carroçável que se apresenta em estado regular. A fiação não é excessiva e se caracteriza como um bairro médio em desenvolvimento com iluminação convencional que prioriza o leito carroçável e não a calçada. As redes de água e esgoto atendem todo o bairro. Não apresenta problemas de condução e escoamento das águas da chuva, pois a topografia possui declive facilitando o escoamento. Área 2: Com topografia acentuada, sua morfologia é principalmente residencial com alguns pequenos comércios como mercearias e bares. As residências são de classe média baixa e devido a topografia não se encontram no nível da rua (estando sempre acima ou abaixo em até 1 metro). A arborização é escassa prejudicando a qualidade ambiental e sensorial do local, assim como a iluminação em poucos pontos ressalta a periculosidade da área por ruas de pouco movimento e escuras a noite para o pedestre que transita também pelo leito carroçável já que as calçadas são irregulares ou possuem obstáculos como postes, lixeiras, entulhos ou vegetação. A drenagem pluvial não apresenta problemas pela topografia em declive e o saneamento também é existente e regu- Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 lar. Mas quando encontramos a nascente do córrego Buracão, apresenta-se uma pequena favela com as edificações bem consolidadas, mas sem infraestrutura, o que compromete a qualidade das águas do córrego. Área 3: Neste trecho foi realizado também o perfil transversal (denominado E-F, conforme fig. 4) ao córrego possibilitando aprofundamentos analíticos posteriores. Próximo à nascente do córrego Buracão, uma área protegida por lei, abaixo da favela Nilópolis, uma grota com grande desnível, a vegetação encontra-se sem problemas de desmatamento. Nesse trecho o córrego foi aterrado após pequenas ocupações que hoje passam por processo de regularização e o Núcleo Residencial Genesis do outro lado da nascente. Por ser área de nascente não existe infraestrutura urbana ou edificações. Segunda a SANASA há tubulações que atravessam o local atendendo ao Núcleo Residencial Genesis. A qualidade urbana desse local é inexistente. Há no ponto de jusante um terreno vazio, onde percebe-se a insegurança aos pedestres sob os aspectos ambiental e social, por atrair a presença de atividades ilícitas e práticas violentas Área 4: Ocupação recentemente urbanizada, o Núcleo Residencial Gênesis apresenta residências autoconstruídas consolidadas e em fase de desenvolvimento de classe média baixa. São lotes pequenos (média de 20x6m), mas com malha regular em topografia suave. As ruas apresentam posteamento, sendo constatados alguns “gatos” e, portanto fiação indevida e má qualidade visual, mas a iluminação é bem distribuída. As calçadas também são estreitas e apresentam obstáculos em sua grande maioria, mas o pavimento do leito carroçável recente se apresenta em bom estado. O saneamento da área é existente e satisfatório, porem o córrego recebe esgoto na favela Nilópolis a montante, sem saneamento, e se encontra em crítico estado ambiental sendo um local de despejo de entulho gerando odores, doenças e por consequência uma área de qualidade espacial e social duvidosa. Nas ruas da Ocupação urbanizada há pouca arborização, sendo quase inexistente e quando existente se apresenta de forma irregular na calçada não favorecendo ao pedestre. A maior área com arborização é próxima ao córrego onde o acesso é restrito por construções irregulares que ainda cercam o local. A partir da análise crítica do transecto foram selecionadas áreas de interesse para aprofundamento da qualidade local e exemplificação mais pertinente dos fatos citados, realizando-se perspectivas (maquetes eletrônicas) com o programa sketchUp. Fig. 6 - Perspectiva 6 3.2 Análise Crítica Perspectiva 6: A perspectiva 6 (conforme numeração da Fig. 4) representa a área 4 do transecto. Como citado, as calçadas são pequenas e com obstrução do posteamento. A grande área com vegetação rasteira é o local onde encontra-se o córrego ,aterrado e degradado, cmo foco de doenças pelo lançamento de esgotos , lixo e acumulo de entulho, além de ser um espaço perigoso para a população por sinais de utilização de drogas no local. A volumetria das residências é baixa (um a dois pavimentos) em lotes pequenos e qualidade arquitetonica ainda está em desenvolvimento com reformas residênciais. O posteamento, que obstrui as calçadas encontra-se em estado bom pela recente implantação e a fiação não faz efeito visual degradado como em outros locais. A iluminação é regular por todo o bairro. De topografia plana, o leito carroçavel está em bom estado de conservação e a sinalização é boa. A infraestrutura, como tampas de bueiros está em bom estado e o subsolo não apresenta vazamentos. O problema desta área se encontra no grande terreno ocioso em cujo subsolo está o córrego aterrado, com a presença de poço de visita da rede de esgoto do bairro, mas que não coleta de todos os domicílios, acarrecantado na contaminação curso d´água que desagua no ribeirão Anhumas. 3.3 Análise Crítica Perspectiva 5: Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 Tabela 1. Qualidade Urbanística e ambiental Área Fig. 7 - Perspectiva 4 Corresponde a área 2 do transecto AA’ (figura 5). A perspectiva apresenta um cenário que se repete pelo bairro que são edificações de volumetria baixa (1 a 2 pavimentos) com construções no fundo do lote ou o lote plenamente ocupado sendo de morfologia predominante residencial e alguns comércios de caráter local. As calçadas estreitas com alguns obstáculos e posteamento regular de fiação pouco conturbada. Esta área não apresenta problemas de qualidade urbana ambiental pois como observado não existem problemas de degradação ambiental, inclusive o escoamento da água pluvial acontece naturalmente e sem possíveis problemas críticos pois a topografia desta área possui caídas naturais. É um cenário comum do município de Campinas. 4. CONCLUSÕES A questão da urbanização gera muita polêmica principalmente por envolver aspectos que estão vinculados a escalas diferentes, de regional a local e, portanto, diferentes agentes da produção do espaço urbano e da gestão pública. O transecto revela pontos positivos e negativos da área de estudo, esclarecendo a interligação entre escalas e agentes. Isso é importante para futuros planos e projetos de desenvolvimento da área nos quais, a partir das análises e propostas geradas pelo método, podem ser agregados mais qualidade, sustentabilidade, equidade e eficiência, refletindo principalmente em quais locais novas ações se fazem necessárias. Para realçar a real situação da área a tabela 1 a seguir classifica a situação qualitativa. Ela foi desenvolvida segundo análise da qualidade urbanística, de infraestrutura e ambiental, descartando aspectos arquitetônicos das edificações, apenas sua volumetria: Qualidade Qualidade urbanística urbana ambiental 1 Boa Fiação em excesso 2 Boa Leito carroçável em ruim estado de conservação 3 Regular Pouca arborização e iluminação 4 Ruim Necessária regularização urbanística das moradias 5 Boa Córrego em degradação 6 Regular Moradias irregulares nas margens do rio que encontra-se em degradação AGRADECIMENTOS Agradeço à orientadora Prof.ªDr.ª Laura Bueno pela oportunidade de desenvolver este trabalho, à PUCCampinas e ao CNPQ por apoiar a pesquisa do Grupo Políticas Territoriais e A Água no Meio Urbano. Aos colegas do Grupo pelo trabalho cooperativo na pesquisa, bem como à geógrafa Simone Bandeira Souza (apoio técnico do projeto) por sua dedicação. À SANASA Campinas e à Prefeitura Municipal de Campinas-setor de Cadastro, pelo fornecimento dos dados. REFERÊNCIAS [1] BIANCHI, P.; BUENO, L. .Estudos sobre morfologia urbana e população região norte do RMC Bacia do Ribeirão Anhumas. In: Anais. XVIII Encontro de Iniciação Cientifica; Pontifícia Universidade Católica, Campinas, 2013. [2] GARCIA, GS. The transect planning (El transecto como instrument para la produccion de la forma urbana em los entornos naturales. Dissertação – Universidade Nacional da Colombia, Bogota, 2011. [3] PERA, C.; ARRUDA, L.; BUENO, L.; Avanços e desafios no tratamento de áreas ambientalmente sensíveis urbanizadas: o caso do parque e vila Anhumas, Campinas, SP.Anais. Seminário APPUrbana 2012. Natal. [4] SILVA, Cyntia; BUENO, Laura. Morfologia Urbana e Água: cenário desejável através do desenho urbano. In: XVIII Encontro de Iniciação Cientifica; Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 III Encontro de Iniciação e Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. Resumo expandido. Pontifícia Universidade Católica, Campinas, 2013. 5f [5] MASCARÓ, Juan L. e YOSHINAGA, Mário, “Infra-estrutura urbana”, Editora Masquatro, 2005 [6] MIANA, A., Adensamento e forma urbana: inserção de parâmetros ambientais no processo de projeto. 2010. 394f. Tese (Doutorado em Tecno- logia da Arquitetura) – FAUUSP. São Paulo, 2010. [7] BUENO, Laura.; et al. A morfologia resultante 1dos negócios de desenvolvimento urbano e o futuro das cidades. ANAIS ENANPPAS. Belém 2012 .