CAPÍTULO 2 – ANDAMENTO DO PROJETO BÁSICO AMBIENTAL Anexo 13.3.4 - 15 – Resultados do ictioplâncton do rio Xingu e tributários no âmbito do Projeto de Monitoramento da Ictiofauna da UHE Belo Monte (2012 a 2014) 1. DENSIDADE DE OVOS E LARVAS As amostragens de ictioplâncton foram realizadas durante o ciclo hidrológico entre abril de 2012 e outubro de 2014, totalizando 16 campanhas, entretanto, para o presente relatório foram analisados os dados coletados somente até julho de 2014. As amostragens abrangeram dois períodos de enchente, sendo o primeiro realizado mensalmente nos meses novembro e dezembro de 2012 e janeiro e fevereiro de 2013 e o segundo período de enchente realizado mensalmente nos meses de dezembro de 2013 e janeiro e fevereiro de 2014 em toda a área de estudo de acordo com as recomendações técnicas e ofício número 439/2012/CGENE/DILIC/IBAMA. No segundo período de enchente não foi realizada amostragens durante o mês de novembro de 2013 em função da grande semelhança de composição com o período de seca verificada durante as amostragens de enchente de 2012/2013, dessa forma, o mês de novembro/2013 foi considerado como seca nas análises do presente relatório. Até o momento foram capturados um total de 14.141 ovos, 54.733 larvas e 4.098 indivíduos jovens e em alguns casos, indivíduos adultos, sendo denominados como juvenis nas análises. Para a região monitorada (Figura 1 - 1) é possível verificar um padrão de atividade reprodutiva semelhante com o que é encontrado na literatura, apresentando um aumento na densidade de ovos e larvas durante o período de enchente do rio, indicando uma maior atividade reprodutiva das espécies de peixes para a região e uma diminuição na densidade nos meses de cheia, vazante e seca. È possível verificar uma maior ocorrência de ictioplâncton durante o primeiro ciclo de amostragem, compreendido entre abril de 2012 a fevereiro de 2013, em relação ao segundo ciclo de amostragem, abril de 2013 a fevereiro de 2014, entretanto as amostragens de vazante/2014 apresentaram densidades semelhantes ao ocorrido na vazante de 2012 (Figura 1 - 2). Para os ovos, as densidades registradas para Sítios IC02 – ilha de Urubuquara – em dezembro/2012 com densidade de 118,72 ovos/10m3 (250 ovos) em ambiente de remanso e no IC07 – Belo Monte – em janeiro/2013 com densidade de 184,22 ovos/10m3 (1.617 ovos) no canal do rio, ambas durante a noite, continuam sendo as maiores registradas até o momento. Para as larvas, as maiores densidades de captura ocorreram no IC08 – Tabuleiro – durante a noite no canal do rio com densidade de 507,56 larvas/10m3 (5.693 larvas) e em ambiente de praia com densidade de 566,61 larvas/10m3 (4.459 larvas). O padrão sazonal caracterizado pelo aumento da densidade de ovos e larvas durante a enchente e redução durante a cheia, foi replicado, mesmo com menor magnitude, no segundo ciclo hidrológico. Pag - 1 Figura 1 - 1 – Localização dos sítios de coleta no médio Rio Xingu do Projeto de Monitoramento da Ictiofauna (PBA-UHE Belo Monte). Figura 1 - 2 – Média da densidade de ovos (barra azul), larvas (barra vermelha) e juvenis (barra verde) capturados nos meses de amostragens referentes aos períodos de cheia (abril de 2012/2013/2014), vazante (julho de 2012/2013/2014), seca (setembro de 2012 e outubro de 2013) e enchente (novembro e dezembro de 2012/2013 e janeiro e fevereiro de 2013/2014/2014) na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. A linha amarela representa os dados de vazão média mensal do rio Xingu proveniente da NORTE ENERGIA. Pag - 2 Ao longo de todo o trecho monitorado do rio Xingu, foi observada uma variação na densidade de ovos e larvas entre os setores e entre as campanhas de coleta. Os ovos foram capturados em maiores densidades durante os dois períodos de enchente do rio, com as maiores densidades no Setor I (Figura 1 - 3), a montante do Reservatório do Xingu, na região conhecida como Ilha de Urubuquara (Sítio IC02) e no Setor IV durante o mês de janeiro/2013, principalmente no Sítio IC07, região de Belo Monte a jusante das cachoeiras (Figura 1 - 4). Os ovos ocorreram ao longo de todo o período de amostragem apresentando variações, com um aumento em sua densidade durante o período de enchente (Figura 1 - 3). Os Sítios IC02 e IC07 podem ser considerados áreas importantes para a desova de peixes no rio Xingu. Figura 1 - 3 – Média da densidade de ovos capturada em cada setor do rio durante os meses de amostragens referentes aos períodos de cheia (abril/2012 e abril2/2013), vazante (julho/2012 e julho2/2013), seca (setembro/2012 e outubro2/2013) e enchente (novembro e dezembro de 2012 e janeiro e fevereiro de 2013 e dezembro2 de 2013 e janeiro2 e fevereiro2 de 2014) na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. Pag - 3 Figura 1 - 4 – Média da densidade de ovos capturada em cada sítio de amostragem referente aos períodos de cheia (abril/2012/2013/2014), vazante (julho/2012/2013/2014), seca (setembro e novembro/2012 e outubro/2013) e enchente (dezembro/2012/2013 e janeiro e fevereiro de 2013/2014) na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. Em relação à captura de larvas, estas foram encontradas em todos os períodos de amostragens, sendo registrados picos de altas densidades, principalmente durante a enchente do rio nos Setores IV (Sítio IC08) e VI (Sítio IC12) (Figura 1 - 5). Durante o segundo ciclo hidrológico de amostragem, houve uma redução na densidade de captura, com as maiores densidades médias registradas no Setor IV (Sítio IC08) em dezembro, já no Setor VI (Sítio IC11), as densidades foram semelhantes ao período de enchente anterior. Essa diminuição na densidade foi registrada principalmente no Sítio IC04 em áreas de corredeira e praia, com densidade média de 24,66 e 13,16 larvas/10m3, respectivamente durante julho/2012 e reduzindo para 3,38 e 0,66 larvas/10m3 durante julho/2013 para os mesmos ambientes. Essas variações nas densidades podem ser naturais, indicando uma oscilação ao longo dos anos em função das variações no regime hidrológico. Pag - 4 Figura 1 - 5 – Média da densidade de larvas capturadas em cada setor do rio durante os meses de amostragens referentes aos períodos de cheia (abril/2012 e abril2/2013), vazante (julho/2012 e julho2/2013), seca (setembro/2012 e outubro2/2013) e enchente (novembro e dezembro de 2012, dezembro2/2013, janeiro e fevereiro de 2013 e janeiro2 e fevereiro2/2014) na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. No rio Xingu, a atividade reprodutiva das espécies de peixes acontece ao longo de todo o ano com um aumento durante a enchente e, semelhante ao que ocorre em rios de águas claras, as maiores densidades de ovos e larvas estão sendo registradas durante o período da noite. Cabe ressaltar que a captura de larvas apresenta uma grande variação da densidade dentro de um mesmo período, determinando uma grande variabilidade em torno da média amostral. Analisando de forma conjunta a variação entre as densidades de ovos e larvas entre os turnos (dia vs. noite) e nas campanhas realizadas, foi possível verificar uma grande preferência pelas espécies da região em desovarem no período noturno (GLM: ovos, F(1, 1598)=68,76, p<0,0001 e larvas, F(1, 1600)=29,07, p<0,0001) (Figura 1 - 6 e Figura 1 7, respectivamente). Em relação as coletas de superfície e fundo, foi possível verificar uma maior densidade, tanto de ovos quanto de larvas em amostragens realizadas no fundo do rio (Figura 1 - 6 e Figura 1 - 7, respectivamente). Segundo Vazzoler (1996)1 muitas espécies de peixes desovam de acordo com as condições ambientais ideais para o sucesso da prole, dessa forma, a maior ocorrência de ovos e larvas no período noturno pode ser uma estratégia para evitar a predação 1 Op. Cit. Pag - 5 por predadores visuais (BAUMGARTNER et. al., 20042). No Sítio IC08, Setor IV, região conhecida como ria, os ovos foram capturados principalmente à noite, entretanto, as larvas foram registradas em altas densidades nas amostragens diurnas e noturnas. Figura 1 - 6 – Média e desvio padrão da amostra da densidade de ovos capturada durante o dia e durante a noite nas redes de superfície e fundo durante os períodos de cheia (abril/2012 e abril2/2013), vazante (julho/2012 e julho2/2013), seca (setembro/2012 e outubro2/2013) e enchente (novembro e dezembro de 2012 e janeiro e fevereiro de 2013 e dezembro2 de 2013 e janeiro2 e fevereiro2 de 2013) na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. 2 BAUMGARTNER, G.; NAKATANI, K.; GOMES, L. C.; BIALETZKI, A..; SANCHES, P. V.; MAKRAKIS, M. C. Identification of spawning sites and natural nurseries of fishes in the Upper Paraná River, Brazil. Environ.Biol. Fish., 71, 115-125, 2004. Pag - 6 Figura 1 - 7 – Média e desvio padrão da amostra da densidade de larvas capturadas durante o dia a noite nas redes de superfície e fundo nos períodos de cheia (abril/2012, abril2/2013 e abril3/2014), vazante (julho/2012, julho2/2013 e julho3/2014), seca (setembro/2012, novembro/2012 e outubro2/2013) e enchente (novembro e dezembro de 2012 e janeiro e fevereiro de 2013 e dezembro2 de 2013 e janeiro2 e fevereiro2 de 2013) na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. Para verificar a distribuição do ictioplâncton nos ambientes estudados, os dados foram agrupados por ciclo hidrológico para melhor compreensão dos dados. De forma geral, tanto os ovos e larvas foram capturados com mais frequência em áreas de remansos, praias e no canal do rio, principalmente durante o período de enchente (Figura 1 - 8 e Figura 1 - 9). Em função de flutuações do nível do rio devido o ciclo hidrológico, alguns ambientes tornam-se indisponíveis. Para os juvenis que foram capturados com rede de ictioplâncton, as maiores densidades foram registradas em áreas de lago (Figura 1 - 10) em todos os períodos hidrológicos com predomínio da espécie Anchoviella sp. (Anexo 13.3.4 - 16), com exceção do período de cheia. Provavelmente, nesse período, as espécies de peixes comumente encontradas nos lagos devem estar nas áreas de igapó. É possível verificar que está ocorrendo reprodução de peixes ao longo de todo o trecho estudado. A constatação da presença de ovos e larvas dos peixes no canal do rio é um método eficiente para a detecção da atividade reprodutiva. Um aumento na atividade reprodutiva pode ser verificado com o aumento da captura de ovos e larvas, identificando possíveis áreas de desova e berçários para o desenvolvimento larval (ALVES; REYNALTE-TATAJE, 20123; OLIVEIRA; FERREIRA, 20084) 3 ALVES, P.; REYNALTE-TATAJE, D.A. (2012). Identification of fish nursery areas in a free tributary of an impoundment region upper Uruguay River, Brazil, 10(2), 425–438. 4 OLIVEIRA, E. C.; FERREIRA, E. J. G. Spawning areas, dispersion and microhabitats of fish larvae in the Anavilhanas Ecological Station, rio Negro, Amazonas State, Brazil. Neotropical Ichthyology. v. 6, n. 4, p. 559-566, 2008. Pag - 7 Figura 1 - 8 – Densidade média e desvio padrão de ovos capturados nos ambientes Igapó, Canal, Lagoa, Remanso, Corredeira e Praia durante os períodos de Cheia, Vazante, Seca e Enchente na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. Figura 1 - 9 – Densidade média e desvio padrão de larvas capturadas nos ambientes Igapó, Canal, Lagoa, Remanso, Corredeira e Praia durante os períodos de Cheia, Vazante, Seca e Enchente na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. Pag - 8 Figura 1 - 10 – Densidade média e desvio padrão de juvenis capturados nos ambientes Igapó, Canal, Lagoa, Remanso, Corredeira e Praia durante os períodos de Cheia, Vazante, Seca e Enchente na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. 2. CARACTERIZAÇÃO TAXONÔMICA A identificação de larvas ao nível de espécie é um grande desafio para a taxonomia de peixes. Em função de seus estágios de desenvolvimento, larval vitelínico, pré flexão, flexão e pós flexão, as larvas apresentam diversas modificações estruturais, o que dificulta enormemente o processo de identificação. Nesse momento, não foi possível a identificação de todas as larvas provenientes das amostragens em função da grande quantidade de larvas em estágios iniciais de desenvolvimento. Para esse relatório é apresentada a identificação das campanhas realizadas até abril de 2014 (cheia). A identificação de larvas conta com uma literatura, em geral, voltada para rios de águas claras da região sul e sudeste e estudos concentrados principalmente na região da Amazônia Central (ARAÚJO-LIMA; DONALD, 19885; ARAÚJO-LIMA et al., 19936; NASCIMENTO; ARAÚJO-LIMA, 19937; NAKATANI et al., 20018; LEITE et al., 20079), desta forma, a identificação de exemplares coletados no rio Xingu, estão sendo um 5 Araújo-Lima, C. A. R. M.; E. Donald. 1988. Número de vértebras de Characiformes e seu uso na identificação de larvas do grupo. Acta Amazonica, 18:351–358. 6 Araújo-Lima, C. A. R. M., A. L. Kirovsky, and A. G. Marca. 1993. As larvas dos pacus, Mylossoma spp. (Teleostei; Characidae), da Amazônia Central. Revista Brasileira de Biologia, 53:591–600. 7 Nascimento, F. L.; C. A. R. M. Araújo-Lima. 1993. Descrição de larvas de Psectrogaster amazônica e Potamorhina altamazonica (Curimatidae, Pisces) da Amazonia Central. Acta Amazonica, 23:457–472. 8 Nakatani, K., A. A. Agostinho, G. Baumgartner, A. Bialetzki, P. V. Sanches, M. C. Makrakis, and C. S. Pavanelli. 2001. Ovos e larvas de peixes de água doce: desenvolvimento e manual de identificação. Page 349. EDUEM, Maringá. 9 Leite, R. G.; C. Cañas; B. R. Forsberg; R. Barthem; M. Goulding. 2007. Larvas dos Grandes Bagres Migradores. Page 127 Asociación. Gráfica Biblos, Lima. Pag - 9 verdadeiro desafio em função da sua ictiofauna local. Para auxiliar as identificações, de acordo com Nota Técnica Adequação Metodológica do Programa de Monitoramento da Ictiofauna (NOT. TEC 00879/2014 COHID/IBAMA), amostras de larvas morfotipadas foram destinadas ao estudo genético e resultados serão apresentados no 8RC. Foram identificados e classificados até o momento um total de 49.261 larvas e 4.160 juvenis do total de 54.733 larvas e 4.098 juvenis capturadas em campanhas realizadas até julho/2014. Entre as larvas capturadas foram identificados indivíduos pertencentes a 11 Ordens, 36 Famílias e 141 espécies/morfotipos (Anexo 13.3.4 - 16). Desenhos de larvas das principais Ordens e Famílias capturadas até o momento são apresentados no Anexo 13.3.4 - 16. Com a identificação e determinação dos estágios iniciais de desenvolvimento larval foi possível verificar que, proporcionalmente, a grande maioria dos exemplares capturados com a rede de ictioplâncton encontrou-se nos estágios iniciais desenvolvimento, principalmente em larval vitelínico e em pré-flexão, estando distribuídas em todos os setores de amostragens, entretanto, ocorre uma variação em relação ao período hidrológico, apresentando as maiores densidades durante a enchente do rio e no período noturno (Figura 2 - 1). Durante a enchente, houve uma alta densidade de captura de larvas de Curimata sp. (Curimatidae, Anexo 13.3.4 - 16) em janeiro no Sítio IC08 sendo responsável pelas altas densidades de larvas em estágio de pré-flexão (PRE), com predomínio de captura no período noturno. Os exemplares com maiores capturas nos estágios de larval vitelínico e pré-flexão, pertenceram das famílias Curimatidae, Engraulidae, Characidae e Anostomidae. Além disso, é possível verificar uma separação em relação aos turnos de coleta ao longo do ano. Nas coletas noturnas, a presença de larvas em estágio inicial de desenvolvimento ocorreu no período de enchente com predomínio de larvas de Characiformes e Siluriformes. Nas coletas diurnas, ocorreu um predomínio de larvas em estágios iniciais de desenvolvimento nos meses de vazante e seca, com predomínio de larvas de Clupeiformes (Engraulidae) (Figura 2 - 1). Pag - 10 Figura 2 - 1 – Densidade total de larvas em diferentes estágios de desenvolvimento larval nos meses e turnos noturnos (A) e diurnos (B) de amostragem na área de influência da UHE Belo Monte, rio Xingu. LVI – Larval vitelínico; PRE – Pré Flexão; FLE – Flexão; POS – Pós – flexão e JUV – indivíduos jovens e ou adultos. Baseando-se no estágio de desenvolvimento larval ou na presença de ovos no ambiente, poderemos inferir áreas de desovas tanto espacial quanto temporalmente. Dessa forma, é possível verificar duas áreas importantes para a reprodução das espécies de peixes para a região em função da densidade de ovos capturados e larvas em estágio inicial de desenvolvimento. O Setor II (Reservatório do Xingu) com predomínio de espécies de Characiformes, principalmente Characidae e Anostomidae e o Setor IV (Jusante) com predomínio de espécies de Curimatidae e Engraulidae. Apesar de predomínio de alguns grupos, espécies de Auchenipteridae, Hemiodontidae, Pimelodidae e Sciaenidae são encontradas ao longo de todo o ano. A grande proporção de larvas capturadas nos estágios iniciais foi encontrada principalmente em áreas do canal do rio, remansos e praias, sendo representantes das Famílias Curimatidae, Characidae e Anostomidae enquanto que Engraulidae apresentou alta densidade de captura nas lagoas (Figura 2 - 2 e Anexo 13.3.4 - 16). Pag - 11 Figura 2 - 2 – Densidade total de captura das Famílias de larvas nos diversos ambientes amostrados na área de influência da UHE Belo Monte. Apesar da maioria das espécies desovarem durante a enchente, período onde se verifica as maiores capturas de ovos e larvas de peixes (ARAÚJO-LIMA, 199410; ARAÚJO-LIMA; OLIVEIRA, 199811; OLIVEIRA; FERREIRA, 200212; LEITE et al., 200613), o período reprodutivo de algumas espécies na região amazônica pode ocorrer em diferentes fases do ciclo hidrológico, sendo possível encontrar larvas de peixes ao longo de todo o ano (ARAÚJO-LIMA; OLIVEIRA, 1998). A espécie de Tetraodontiformes Colomesus asellus se reproduz durante o período de águas altas após o período de reprodução da maioria das espécies (ARAÚJO-LIMA et al., 1994), entretanto larvas dessa espécie tem sido capturadas em todos os períodos de amostragem no rio Xingu, enquanto que os Clupeiformes (Engraulidae) são comumente encontrados durante o final da vazante (ARAÚJO-LIMA; OLIVEIRA, 1998) sendo as mais abundantes nos meses de setembro e novembro no rio Xingu. Essa capacidade de desovar em diferentes períodos está associada às condições favoráveis ao desenvolvimento inicial dos ovos e larvas, destacando-se locais e épocas com maior disponibilidade de abrigo e alimento (NAKATANI et al., 200114). 10 Araújo-Lima, C. A. R. M. 1994. Egg size and larval development in Central Amazon fish. Journal of Fish Biology, 44:371–389 11 Araújo-Lima, C. A. R. M.; E. C. Oliveira. 1998. Transport of larval fish in the Amazon. Journal of Fish Biology, 53:297–306. 12 Oliveira, E. C. de; E. J. G. Ferreira. 2002. Ocorrência de ovos e larvas de Characiformes migradores no rio Negro, Amazonas, Brasil. Acta Amazonica, 32:163–168 13 Leite, R. G., J. V. V. da Silva; C. E. Freitas. 2006. Abundância e distribuição das larvas de peixes no Lago Catalão e no encontro dos rios Solimões e Negro, Amazonas, Brasil. Acta Amazonica, 36:557 – 562. 14 Op. Cit. Pag - 12 A ordenação da composição das larvas das amostras coletadas entre abril/2012 a abril/2014 com base no índice de similaridade de Jaccard de acordo com os períodos hidrológicos (enchente, cheia, vazante e seca) e os setores do rio apresentou uma clara separação, principalmente do período de cheia/2012. É possível verificar uma clara separação entre as espécies coletas nos diferentes períodos hidrológicos, mostrando uma forte influência do mesmo, sobre a reprodução das espécies (Figura 2 - 3). Isso denota quanto a variação da vazão do rio Xingu regula o comportamento reprodutivo da ictiofauna. Neste sentido, o aumento da atividade reprodutiva e consequente mudanças na composição de espécies foi verificado a partir de dezembro de 2012 com vazão média do rio Xingu de 4.257,5 m3/s. Figura 2 - 3 – Ordenação NMDS com base na presença-ausência (Jaccard) de larvas de peixes no período da cheia (abril/2012/2013/2014; círculo preto), vazante (julho/2012/2013; círculo verde), seca (setembro e novembro/2012, outubro/2013), enchente (novembro e dezembro/2012, janeiro, fevereiro e dezembro/2013 e janeiro e fevereiro/2013) nos setores do rio Xingu na área de influência da UHE Belo Monte. As siglas alfanuméricas indicam os setores. A grande separação em relação à composição de espécies capturadas durante o mês de abril de 2012 pode ser atribuída a variabilidade natural do próprio ambiente e/ou as Pag - 13 adequações metodológicas realizadas durante a primeira campanha que podem ter contribuído em gerar uma grande diferenciação na composição das capturas. O rio Xingu apresenta atividade reprodutiva durante todo o ano com mudanças na composição ao longo do ciclo hidrológico. Após as últimas identificações e a padronização em relação aos morfotipos devido ao grande volume de larvas capturadas, é possível verificar que a enchente apresentou a maior riqueza de espécies, sendo encontradas principalmente nos meses de janeiro/2013 e janeiro/2014 com 69 e 66 espécies/morfotipos (Figura 2 - 4). Esse aumento no número de espécies para o mês de janeiro foi devido a separação de larvas da Família Anostomidae que até o último relatório estavam sendo analisadas em conjunto e o mesmo ocorreu para larvas da família Auchenipteridae, Serrasalmidae e Pimelodidae. Figura 2 - 4 – Riqueza de espécies registradas nos meses de amostragem na área de influência da UHE Belo Monte. Com base na ordenação entre os ambientes amostrados e os períodos hidrológicos, os ambientes que se encontram no rio Xingu como praias, remanso, canal e corredeiras, tendem a apresentar uma maior similaridade, apresentando uma maior separação em relação às lagoas amostradas (Figura 2 - 5). Nos pontos amostrados no rio Xingu ocorre uma sobreposição de espécies em reprodução em função do período hidrológico. Já nas lagoas, a composição de espécies tende a apresentar uma menor variação em relação ao ciclo hidrológico, provavelmente devido a baixa conectividade das lagoas com o rio. Pag - 14 Figura 2 - 5 – Ordenação NMDS com base na presença-ausência (Jaccard) de larvas de peixes no período de cheia cheia (abril/2012/2013/2014; círculo preto), vazante (julho/2012/2013; círculo verde), seca (setembro e novembro/2012, outubro/2013), enchente (novembro e dezembro/2012, janeiro, fevereiro e dezembro/2013 e janeiro e fevereiro/2013) na área de influência da UHE Belo Monte. IP: igapó; CA: canal; LA: lagoa; PR: praia; RE: remanso e CR: corredeira. Destacado no texto o ambiente Lagoa. Em relação aos setores amostrados, os ambientes de canal e remanso foram os que apresentaram os maiores valores de riqueza, principalmente no Setor VI (rio Bacajá), sendo este o de maior riqueza entre os setores amostrados (Quadro 2 - 1). O rio Xingu vem apresentando duas importantes áreas para reprodução de peixes baseado em dados de densidade de ovos e larvas, entretanto, o rio Bacajá apresentou os maiores valores de riqueza para espécies de larvas capturadas, sendo uma importante área para reprodução de espécies de Pimelodidae. Desta forma, é importante não só a avaliação de áreas com alta densidade de ovos e larvas, mas considerar também áreas reprodutivas que apresentaram importante contribuição para a diversidade local. Pag - 15 Quadro 2 - 1 – Riqueza de espécies/morfotipos capturadas com rede de ictioplâncton nos setores (ST) de amostragens em diferentes ambientes na área de influência da UHE Belo Monte AMBIENTES CANAL CORREDEIRA IGAPÓ LAGOA PRAIA REMANSO Riqueza Total ST I 64 45 2 11 25 64 88 ST II 63 46 3 15 29 64 87 ST III 60 31 1 6 60 80 ST IV 61 21 5 18 36 55 84 ST VI 77 39 4 30 5 68 99 SETORES Pag - 16