8 http://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br Gráfico 3: Retorno acumulado anual das principais ações ligadas ao petróleo na Bovespa Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitoria de Extensão Principais ações do setor petrolífero na Bovespa Carta Econômica Informativo do Curso de Ciências Econômicas SEÇÕES Inflação Mercado de trabalho 4 Finanças públicas 6 Ano XVII, no 1 - março de 2011 Comércio exterior 7 Mercado financeiro Custos de Transação na Agricultura de Base Econômica Familiar Fonte: Economática (elaboração própria) natural que se abateu sobre o Japão, justamente quando o país não prometia maiores surpresas do que a China? Com tantos eventos de caráter imprevisível pressionando a situação fiscal do mundo, em níveis cada vez mais críticos, em que mesmo o Brasil demonstra não ser exceção, torna-se cada vez mais relevante a questão: poderiam os governos do mundo socorrer mais uma vez o sistema financeiro na iminência de outra crise? Referências Valor Econômico – Disponível em: <http://www.valoronline.com. br>. Acesso em: 30 mar. 2011. The Economist – Disponível em: <http://www.economist.com>. Acesso em: 30 mar. 2011. BMF&Bovespa – Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com. br>. Acesso em: 30 mar. 2011) Infomoney – Disponível em: <http://www.infomoney.com.br>. Acesso em: 30 mar. 2011 ADVFN – Disponível em: <http://br.advfn.com>. Acesso em: 30 mar. 2011. IG Economia – Disponível em: <http://economia.ig.com.br/ noticias>. Acesso em: 30 mar. 2011. UOL Economia – Disponível em: <http://economia.uol.com.br>. Acesso em: 30 mar. 2011. Folha de São Paulo – Disponível em: <http://www.folha.com.br/ mercado>. Acesso em: 30 mar. 2011. InvestMax – http://www.investmax.com.br>. Acesso em: 30 mar. 2011. Economática – Acesso em: 30 mar. 2011 (Sem maiores fontes). A Carta Econômica é um boletim trimestral com tiragem de quinhentos exemplares, produzido pelo Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília (graduação, mestrado e doutorado em Economia de Empresas). Ano XVII, no 1 – março de 2011 Prof. MSc. Amairte Benevenuto ([email protected]) Editor da Carta econômica do DF Coordenador da Seção de Finanças Públicas Prof. Dr. José Angelo Divino ([email protected]) Coordenador da Seção de Inflação Prof. Dr. Gilson Geraldino Silva Jr. ([email protected]) Coordenador da Seção de Mercado de Trabalho Prof. Dr. Tito Belchior S. Moreira ([email protected]) Coordenador da Seção de Comércio Exterior DF Prof. Dr. Rogério Boueri Miranda ([email protected]) Prof. Dr. Benjamin Miranda Tabak ([email protected]) Coordenadores da Seção de Mercado Financeiro Diagramação: Francisco Claudimar Bezerra Sousa/Editora Universa – UCB Revisão: Margarida Drumond de Assis/Editora Universa – UCB Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB Para mais informações, acesse a home page do curso: www.economia.ucb.br Endereço: Campus I – QS 7 lote 1 EPCT CEP 91.966-700 – Águas Claras – Taguatinga – DF Fone: (61) 3356-9185 Fax: (61) 3356-3010 Mestrado e doutorado em Economia de Empresas da Universidade Católica de Brasília Para mais informações, acesse a home page do curso www.ucb.br/economia. Endereço: Campus II – SGAN 916, Módulo B, Asa Norte CEP 70.790-160 – Brasília – DF Fone: (61) 3448-7127 Fax: (61) 3347-4797 EXPEDIENTE CARTA ECONÔMICA – Ano XVII, nº 1 – março de 2011 No cenário internacional, o mercado observou atento aos movimentos populares que tomaram o mundo islâmico, culminando na queda dos governos da Tunísia e do Egito, bem como na guerra das potências ocidentais contra a Líbia. Os desdobramentos de tal crise recaíram diretamente sobre os preços do petróleo, cujo barril vem sendo novamente cotado acima dos 100 dólares. Tais incidentes significaram uma recompensa para quem apostou no setor de petróleo, com destaque para as ações da HRT Petróleo, que já se valorizaram mais de 20%, desde o início do ano. No entanto, seu efeito geral sobre as bolsas de valores no mundo – inclusive Bovespa – foi adverso, pois reacende os temores de uma nova recessão global. A crise no Japão, deflagrada pelo maior terremoto já sofrido em sua história, deixa perdas gigantescas em termos humanos e materiais, com custos estimados chegando a centenas de bilhões de dólares para um país cuja dívida pública já ultrapassa os 200% do PIB. Tratando-se da terceira maior potência econômica mundial, a crise japonesa desencadeia uma série de problemas de desabastecimento em diversas partes do mundo e também se faz sentir sobre as bolsas de valores. Como afirma, em discurso, o novo presidente do Banco Central – Alexandre Tombini, o desastre no Japão amplia as incertezas sobre a recuperação da economia global e a evolução das commodities e das taxas de câmbio no mundo. Incidentes adversos como esses, além de dificultar a vida dos investidores, desafiam a capacidade de antecipação dos analistas. Afinal, como prever que um pequeno país como a Grécia abalaria os alicerces da União Europeia no ano passado? E quem diria que um pequeno país, como a Tunísia, desencadearia uma onda revolucionária pelo mundo islâmico? Que dirá a catástrofe Os estudos e publicações em torno da agricultura familiar na última década vêm atraindo cada vez mais pesquisadores e leitores. A publicação do senso agropecuário 2006, realizado pelo IBGE, trouxe novas abordagens e novas discussões acerca do tema. Sua importância está caracterizada incontestavelmente, pois, perto de 30% do PIB brasileiro é representado pelo agronegócio, sendo também responsável por pouco mais de um terço das exportações e dos empregos nacionais. Do total do agronegócio nacional, um terço provém da agricultura familiar (FAO, 2009). De acordo com Guanziroli e Cardim (2002), a agricultura familiar é a principal fornecedora de alimentos básicos para a população brasileira, além de fazer parte também de produtos exportados e produzidos em grande escala. Temos, como exemplo, o complexo agrícola do fumo, mandioca e feijão, esses representados em média por 80% da produção pela agricultura de base econômica familiar. E outras produções importantes, como pecuária leiteira, suínos e aves, têm a participação da agricultura familiar com média de 50% da produção nacional (MDA, 2010). Conforme Batalha & Souza Filho (2005) a agricultura familiar brasileira é extremamente diversificada. Inclui tanto famílias que vivem e exploram minifúndios, em condições de extrema pobreza, como produtores inseridos no moderno agronegócio e que logram gerar renda. A diferenciação dos agricultores familiares está associada à própria formação de grupos ao longo da história, a heranças culturais variadas, à experiência profissional e de vida particulares, ao acesso e à disponibilidade diferenciada de um conjunto de fatores, entre os quais os recursos naturais, o capital humano, o capital social e assim por diante. Wilkinson (2008) chama atenção sobre a necessidade de a agricultura familiar alcançar novos níveis de qualidade e novas escalas de produção. Para o autor, isso passa por inovações organizacionais de ação coletiva. A FAO (2009b) enfatiza aspecto similar e afirma que os altos custos de transação da agricultura familiar podem ser reduzidos por meio do estabelecimento de ações coletivas, como a implantação de cooperativas e formas diversas de contratos. Os produtores que se caracterizam por agricultores familiares em geral necessitam de formação de redes, cooperativas e/ ou associações para garantir melhores condições de acesso à tecnologia, mercados e informações. Conforme a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2009a), a maioria das organizações de pequenos produtores no mundo não funciona satisfatoriamente. A FAO alerta para o fato dos contratos serem mais comuns com grandes que com pequenos produtores, esses últimos preferindo Os autores participam do grupo de pesquisa Rede Centro-Oeste para o Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiar - RECAF. 1 Professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB 2 Doutorando do Programa de Stricto Sensu em Economia – UCB 3 Doutorando do Programa de Stricto Sensu em Economia – UCB 4 Graduanda do Curso de Administração da UCB Adelaide dos Santos Figueiredo1 Michel Angelo Constantino de Oliveira2 Carlos Vinícius Santos Reis3 Mayara Ferreira de Barros Santos4 arranjos informais, em que a existência prévia de capital social possui papel relevante. Os pequenos produtores dificilmente participam de relações contratuais, preferindo o mercado spot, ou seja, um mercado pontual, sem compromissos entre vendedores e compradores (FAO, 2009b). Para análise das transações envolvendo atores da agricultura familiar, utiliza-se, nas mais recentes pesquisas, a abordagem da Nova Economia Institucional (NEI), que tem como braço direito a Economia dos Custos de Transação (ECT). Liderados por Coase, Williamson e Douglas North, a NEI é um arcabouço teórico que permite a ampliação de sua abordagem, proporcionando a junção de outras teorias. A NEI dedica-se ao estudo das instituições, ou regras do jogo formais e informais, que estruturam a interação social, econômica e política e seu papel na coordenação das ações humanas (NORTH, 1990). O exercício desse papel pode reduzir o custo das interações entre os seres humanos, constituindo um elemento relevante à eficiência econômica e ao desenvolvimento. Ao abordar o papel das instituições informais, North permitiu fazer uma ligação entre a análise dos arranjos institucionais mercantis formais, abordados pela ECT, e os arranjos informais, mais comuns na agricultura familiar e nas Micro e Pequenas empresas nacionais. Essa junção oferece um mecanismo importante de análise global das interações entre atores. Para a ECT, entre o mercado spot e a integração vertical se localizam as formas híbridas, em que a cooperação é construída pelo interesse mútuo dos agentes envolvidos nas trocas econômicas, constituindo-se relações de médio ou longo prazo que beneficiam ambas as partes. E, à medida que há movimento do mercado spot para a integração vertical, a mão invisível de Adam Smith cede espaço para os esforços de coordenação, que assumem sua condição máxima na integração vertical, na busca da redução dos custos de transação. No SAG (Sistema Agroindustrial) temos atores mercadológicos que se interagem, e dessas transações são elaborados contratos que proporcionam custos de transação. Nas transações dos agricultores de base econômica familiar com micro e pequenas empresas agroalimentares – e destas empresas com pequenas empresas atacadistas ou varejistas – as relações informais, ou seja, os contratos informais, são bastante frequentes. Essas relações diferenciam-se do mercado spot pela frequência das interações entre os atores e pelo estabelecimento de relações de confiança entre eles. Oliveira, Sproesser e Vilpoux (2009) elaboraram um novo modelo de análise dos sistemas de governança, ampliando e evoluindo as abordagens iniciais de Williamson e Zylberzstajn. Com a colocação das instituições informais como fatores de influência da incerteza, uma das características das transações da ECT, 2 h�p://www.ucb.br/economia h�p://www.ucb.br/economia –– www.economia.ucb.br www.economia.ucb.br h�p://www.ucb.br/economia h�p://www.ucb.br/economia –– www.economia.ucb.br www.economia.ucb.br é possível formular uma nova abordagem do neoinstitucionalismo econômico em que se baseia a análise: Figura 1:Dinâmica e convergência das características das transações e sistemas de governança A Figura 1 é inspirada no modelo de Williamson (1985; 1996) e Zilbersztajn (1995), de análise dos contratos a partir da minimização dos custos de transação. A diferença é a ampliação das noções de contratos por coordenações formais (contrato) e informais. Na ausência de contratos formais, as transações informais se diferenciam dos sistemas de governança pelo mercado spot, por meio de acordos informais entre os atores, acordos que, em função da força das instituições informais existentes, podem propiciar graus de segurança similares ou superiores a contratos formais. De fato, os grupos de agricultura de base econômica familiar vêm evoluindo e buscam resultados coletivos. Esses resultados representam a maneira como tais atores se manifestam em seus territórios, influenciados pela cultura, pelos costumes locais, pela confiança entre si e pela construção do capital social que permita garantir inovações, redes produtivas, novos mercados e a minimização dos custos de transação. Referências BATALHA, M. O.; SOUZA FILHO et al. Gestão integrada para a agricultura familiar. São Carlos: Edufscar, 2005. FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT. Disponível em: <http://faostat.fao.org/site/339/default. aspx >. Acesso em: abr. 2010. GUANZIROLI, C.E; CARDIM, S.E. De C.S. Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil redescoberto. Brasília: INCRA: FAO, 2002. MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Agronegócio brasileiro: propulsor do desenvolvimento. Apresentação à EMBRAPA Monitoramento Ambiental, Campinas, 24 ago. 2005. NORTH, D. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. OLIVEIRA, M. A. C.; SPROESSER, R. L. ; VILPOUX, O. F. Capital social e instituições informais como fatores de redução dos custos de transação: o caso da uva de mesa na região de Jales, Noroeste do estado de São Paulo. In: XLVII Congresso da Sober, 2009, Porto Alegre. Anais do XLVII Congresso da Sober. Brasília: SOBER, 2009. WILKINSON, J. Mercados, redes e valores. Porto Alegre: UFRGS, 2008. WILLIAMSON, O. The economic institutions of capitalism. New York: The Free Press, 1985. ZYLBERSZTAJN, D. Estruturas de governança e coordenação do agribusiness: uma aplicação da nova economia das instituições. 237 p. 1995 Tese (Livre Docente em Economia) – Universidade de São Paulo, Departamento de Economia, Administração e Contabilidade. São Paulo, 1995. INFLAÇÃO Rômulo Oliveira Bittencourt*1 MERCADO FINANCEIRO Diego Cezar Gomes Magalhães* Clarissa Medeiros Borges* 7 Rogério Boueri Miranda** Reflexos externos voltam a surpreender a Bovespa Se 2010 foi o ano da euforia em torno de um crescimento formidável para a economia brasileira, 2011 vem a ser o ano de acordar, pois as eleições já acabaram e torna-se imperativo retomar o princípio da austeridade, como já antecipado por economistas desde o ano passado. Não bastassem os problemas domésticos, o fator exógeno novamente pesa contra a Bovespa, com a bola da vez na conjuntura internacional sendo a crise política no mundo islâmico e até mesmo a catástrofe natural que abate o Japão. Assim, o Índice Bovespa vem registrando uma rentabilidade negativa no mercado de ações brasileiro, do início do ano até meados do mês de março. O mercado observou apreensivo a ascensão de Dilma Rousseff à presidência do país. Temia-se que um novo governo petista retrocedesse ao populismo e autoritarismo econômico característico dos discursos do partido, situação em que o mercado financeiro seria o primeiro a sentir as consequências. No entanto, o governo federal demonstrou um começo prudente e conciliador com os interesses do mercado, tal como fizera o governo Lula no início, e a bolsa de valores respondeu com otimismo nos primeiros pregões do ano. É inevitável comparar o presente episódio com o ocorrido durante a posse de Lula em 2003, quando o risco-país disparava e os investidores deixavam a Bovespa. Gráfico 1: Evolução do Índice Bovespa (Candlestick), nos últimos 3 meses Amairte Benevenuto** 1 Inflação, embora alta, arrefece em fevereiro O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA – encerrou o mês de fevereiro com a variação de 0,80%, em nível nacional. Após a aceleração da inflação desde setembro de 2010, o índice recuou em fevereiro em relação a janeiro (0,83%), mas ainda é ligeiramente maior que o verificado em fevereiro do ano anterior (0,78%). Das onze regiões que o IPCA abrange, todas fecharam o mês de fevereiro com variações positivas. São Paulo ficou em primeiro lugar no ranking das regiões que apresentaram a maior variação (1,00%), seguida por Recife (0,92%), Porto Alegre (0,83%) e Brasília (0,82%). Assim, os preços seguiram crescentes em todas as regiões (Tabela 1). Goiânia/GO 0,74 Brasília/DF 0,82 Belém/PA 0,46 Fortaleza/CE 0,22 Recife/PE 0,92 Salvador/BA 0,69 Belo Horizonte/MG 0,71 Rio de Janeiro/RJ 0,69 São Paulo/SP 1,00 Curitiba/PR 0,78 Porto Alegre/RS 0,83 Fonte: IBGE (elaboração própria) Em nível de Brasil, dos nove grupos que compõem o índice, apenas Vestuário encerrou o mês com deflação (-0,25%). As maiores altas ficaram com os grupos Educação (5,81%), Despesas pessoais (1,43%), Comunicação (0,49%) e Transportes (0,46%) (Tabela 2). A forte alta verificada no grupo Educação foi decorrente de alta nos preços das mensalidades de início de ano, como a registrada em cursos de Informática (9,86%), Técnico (9,08%), além de aumento nas mensalidades em educação infantil (8,09%), ensino fundamental (7,73%) e ensino superior (4,87%). No grupo Despesas pessoais, a alta registrada ficou por conta do aumento dos preços em lazer – o subgrupo Recreação, Fumo e Filme fechou em 2,04%. No grupo * Graduando do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB ** Professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB 1 Os autores agradecem ao prof. José Ângelo C. A. Divino pela leitura crítica do texto e sugestões. Tabela 2: Variação (%) do IPCA por grupos de itens – fevereiro/2011 Grupos 1. Alimentação e bebidas 2. Habitação 3. Artigos de residência 4. Vestuário 5. Transportes 6. Saúde e cuidados pessoais 7. Despesas pessoais 8. Educação 9. Comunicação Brasil 0,23 0,32 0,44 -0,25 0,46 0,31 1,43 5,81 0,49 Distrito Federal 0,43 0,77 -0,64 -0,46 -0,28 0,50 1,89 5,51 0,43 Fonte: IBGE (elaboração própria) Fonte: ADVFN Para ocupar o cargo deixado por Henrique Meirelles após oito anos, a presidente Rousseff confia a direção do Banco Central ao economista Alexandre Tombini, considerado uma escolha equilibrada por analistas, investidores e grupos de interesse diversos. Duas reuniões do COPOM já ocorreram desde a mudança de direção e, dessa vez, a taxa SELIC foi elevada para 11,75% ao ano. A alta da taxa básica de juros, embora seja uma medida que pese contra a bolsa de valores e a atividade econômica em geral, sinaliza que o Banco Central ainda possui autonomia para assumir sua responsabilidade para com o perigo da inflação. As novidades de 2011 também são amargas no âmbito da política fiscal. A julgar pela deterioração acentuada das contas públicas no último ano do governo Lula, somada à volta da aceleração inflacionária, não é surpresa que tenha chegado o momento de fazer ajustes fiscais e monetários. Nesse contexto, o governo federal anuncia o maior corte orçamentário na história do Brasil, na ordem de 50 bilhões de reais. Os investidores devem estar atentos para o que esse corte significa para os setores econômicos representados no mercado de ações, mas seus efeitos já se fizeram sentir, sobretudo no setor imobiliário, cujo índice referente (IMOB) apresenta uma queda de 13,6% no primeiro bimestre, graças ao corte no programa “Minha Casa, Minha Vida”. Gráfico 2: Cotações do barril de petróleo (tipo Brent), desde o início do ano Fonte: FOREXPROS Referência INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) – Disponível em:<HTTP://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 2011. * ** Graduandos do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB Professor do curso de Ciências Econômicas da UCB Carta Econômica Econômica –– Ano Ano XVII, XVII, nº nº 1 1 –– março março de de 2011 2011 Carta Carta Carta Econômica Econômica –– Ano Ano XVII, XVII, nº nº 1 1 –– março março de de 2011 2011 Tabela 1: Variação do IPCA por regiões metropolitanas – fevereiro/2011 Comunicação, a alta registrada foi responsabilizada pelo aumento no preço de telefone celular (1,69%) e acesso à internet (1,57%). O grupo Transportes apresentou variação positiva por conta do aumento nos preços do álcool (2,55%) e do transporte público (0,50%). Em Brasília, o grupo Educação (5,51%) experimentou a maior elevação, assim como o registrado nacionalmente, motivada principalmente pelo aumento dos preços das mensalidades no início de ano: no ensino fundamental, o aumento foi de 8,55%, no ensino médio, de 7,78%, e no ensino superior, de 3,52% (Tabela 2). O segundo grupo a contribuir para a expansão de preços no DF foi o de Despesas pessoais (1,89%), decorrente do aumento de 1,91%, em Serviços pessoais, e de 1,87% em Recreação, Fumo e Filmes. Três grupos apresentaram variação negativa no DF: Artigos de residência (-0,64%), Vestuário (-0,46%) e Transportes (-0,28%). Para o primeiro destes grupos, contribuíram, de forma mais acentuada para a queda no índice, os subgrupos Móveis e Utensílios (-0,79%) e Aparelhos eletrônicos (-0,59%). Para o segundo (Vestuário), Roupas foi o único subgrupo a apresentar recuo nos preços (-0,99%), pois Calçados e Assessórios cresceram 0,34%, enquanto Jóias e Bijuterias ficaram 1,09% mais caras. Já o grupo Transportes, no DF, apresentou uma variação negativa, ocasionada pela queda nos preços do transporte público (-2,41%). O aumento do preço dos combustíveis, como o álcool, não foi suficiente para elevar o índice. 6 h�p://www.ucb.br/economia h�p://www.ucb.br/economia –– www.economia.ucb.br www.economia.ucb.br h�p://www.ucb.br/economia h�p://www.ucb.br/economia –– www.economia.ucb.br www.economia.ucb.br COMÉRCIO EXTERIOR Bruno de Paula Moraes* Tito Belchior S. Moreira** Argentina adota nova medida protecionista A Argentina aplicou novas medidas para dificultar as importações no país, visando a aumentar o saldo da balança comercial. No dia 9 de março a medida foi oficializada e o governo ampliou a lista de produtos sujeitos a licenças não automáticas. Trata-se de um mecanismo em que a aduana argentina leva até 60 dias para liberar a entrada de um produto no país, retardando e às vezes até impedindo a entrada de bens importados. Essa lista, que era composta por 400 produtos, passou a ter 600. Os principais setores afetados são os de eletrodomésticos, automóveis de luxo, autopeças, têxteis, bicicletas, motos, tratores, celulares e químicos. O principal objetivo da nova medida é reduzir as importações e aumentar o saldo da balança comercial que só no último ano caiu cerca de 34%. A Argentina possui uma grande relevância para o comércio brasileiro. Somente em 2010, o valor da corrente de comércio bilateral chegou a US$ 32,9 bilhões, cerca de 8,6 % do total comercializado pelo Brasil com o Mundo. A Argentina é também um dos principais destinos das exportações brasileiras. No ano passado, o país ocupou o terceiro lugar no ranking, chegando muito próximo dos Estados Unidos. Mercado de Trabalho 3 Viviam Catarina de Oliveira*1 Desemprego em 2010 é o menor desde 1992 Em 2010, a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada mensalmente pelo Dieese, verificou pelo sétimo ano consecutivo uma redução na taxa de desemprego total do Distrito Federal. Em vista da taxa registrada em 2009, o nível de desemprego total reduziu 2,2% e a taxa verificada em 2010 (13,6%) passou a ser a menor da série histórica da pesquisa (Gráfico 1). As taxas de desemprego aberto e oculto tiveram redução de 1,3% e 0,9%, respectivamente, e encerraram o ano em 9,3% e 4,4%. Gráfico 1: Taxa de desemprego, segundo Tipo – Distrito Federal – 1999/2010 10 principais destinos das exportações brasileiras em 2010 (US$ Milhões FOB) Fonte: PED-DF – Convênio SETRAB-GDF, SEADE-SP e DIEESE Fonte: MDIC/ SECEX (elaboração própria) Fonte: World Trade Atlas (elaboração própria) 2002 Balança comercial Brasil - Argentina (Valores em US$ Milhões) Exportação Importação Corrente de Saldo US$ FOB Var.% Part.% US$ FOB Var.% Part.% Comércio 2.347 -53,16 3,88 4.744 -23,57 10,04 -2.397 2003 4.570 94,75 6,24 4.673 -1,5 9,67 -103 7.090 9.242 2004 7.391 61,74 7,64 5.570 19,2 8,86 1.821 12.961 2005 9.930 34,36 8,38 6.241 12,05 8,48 3.689 16.171 2006 11.740 18,22 8,52 8.053 29,04 8,82 3.686 19.793 2007 14.417 22,81 8,97 10.404 29,19 8,63 4.013 24.821 2008 17.606 22,12 8,89 13.258 27,43 7,66 4.347 30.864 2009 12.785 -27,38 8,36 11.282 -14,91 8,83 1.503 24.067 2010 18.523 44,88 9,17 14.426 27,87 7,94 4.096 32.949 Fonte: MDIC/ SECEX (elaboração própria) * ** Graduando do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB Professor do Curso de Ciências Econômicas da UCB uma queda de 8,6% no número de empregados que trabalham para empresas. O contingente de empregados domésticos apresentou comportamento semelhante: diminuiu 4,0%. A taxa de desemprego no Distrito Federal, em janeiro e fevereiro de 2011, manteve-se relativamente estável, em 12,6% e 12,7%, respectivamente, o que pode indicar uma interrupção na tendência de queda, tal como observada no Gráfico 1. Entretanto, o fenômeno pode ser pelo menos parcialmente explicado pelo fim do período de campanhas eleitorais, que retraiu a criação de postos de trabalho no setor público do DF, setor que impulsiona a economia local. A retomada da tendência de queda do desemprego pode-se dar com novos investimentos públicos, de forma a impulsionar a atividade econômica nesta unidade federativa. Em 2010, o rendimento médio real dos ocupados cresceu 2,0%, enquanto o dos assalariados teve redução de 1,5%. Em termos monetários, passaram a ter os seus valores estimados em R$ 1.990,00 e R$ 2.208,00, respectivamente. Gráfico 2: Índice do Emprego, do Rendimento Médio Real¹ e da Massa de Rendimento Real¹ dos Ocupados² – Distrito Federal – 1999/2010 Referências Valor econômico – Disponível em: <www.valoronline.com.br>. Acesso em: 1º mar. 2011. O Estado de São Paulo – Disponível em: <www.estadao.com.br>. Acesso em: 20 fev. 2011. Fonte: PED-DF – Convênio SETRAB-GDF, SEADE-SP e DIEESE Notas: ¹ Inflator utilizado: INPC-DF (IBGE) Diário Comércio, Indústria e Serviços (DCI) – Disponível em: <www.dci.com.br>. Acesso em: 21 fev. 2011. O Globo – Disponível em: <oglobo.globo.com>. Acesso em: 10 mar. 2011. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior – Disponível em: <www.mdic.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 2011. World Trade Atlas – Disponível em: <www.gtis.com/gta>. Acesso em: 16 mar. 2011. Assim como nas demais regiões metropolitanas, o Distrito Federal continua com a estrutura de rendimentos bastante desigual. No ano passado, os 10% mais pobres da população ocupada auferiram, no máximo, R$ 514,00. Esse valor, que apesar de ser 13,5% maior do que o de 2009, ainda não consegue suprir todas as necessidades básicas de um indivíduo. Na outra ponta, os 10% mais ricos, com rendimentos superiores a R$ 5.051,00, experimentaram um aumento de 3,4% no rendimento médio em * 1 Graduanda do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB A autora agradece ao Prof. Gilson Geraldino Silva Jr. pela leitura crítica do texto. ² Incluem os ocupados que não tiveram remuneração no mês e excluem os trabalhadores familiares sem remuneração e os trabalhadores que ganham exclusivamente em espécie ou benefício. relação ao ano anterior. No caso dos assalariados, o rendimento real dos 10% mais pobres cresceu 5% e o dos 10% mais ricos experimentou queda de 2,6%, em 2010. Referência Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) – Disponível em: <http://www.dieese. org.br>. Acesso em: 31 mar. 2011. Carta Econômica Econômica –– Ano Ano XVII, XVII, nº nº 1 1 –– março março de de 2011 2011 Carta Carta Carta Econômica Econômica –– Ano Ano XVII, XVII, nº nº 1 1 –– março março de de 2011 2011 Os países integrantes do Mercosul reagiram com reclamações e críticas às medidas adotadas pelo governo argentino, afirmando que elas ferem o acordo dos países-membros do bloco. O Ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior, Fernando Pimentel, se encontrou com a Ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, em Buenos Aires, no mês de fevereiro. A Ministra argentina afirmou que as novas medidas não afetarão os países membros do Mercosul e que os prazos de liberação das licenças para os vizinhos serão mais curtos. Também concordaram em criar uma comissão especial para fiscalizar e monitorar a tramitação das licenças. O governo argentino afirma que as exportações brasileiras não serão afetadas, porém, segundo um estudo do Banco Ciudad da Argentina, o Brasil foi o país mais afetado pelas licenças não automáticas em 2010. O total de importações atingidas pela barreira somou US$ 11 milhões, dos quais 37% vieram do Brasil, 22% da China e 5% dos Estados Unidos. A aplicação dessas medidas protecionistas pode afetar fortemente o comércio bilateral entre os países. Mesmo com o governo argentino afirmando que o comércio com o Brasil não será afetado, há uma grande preocupação, principalmente porque a argentina possui um déficit comercial com o Brasil de mais de US$ 4 bilhões. O setor de maquinários agrícolas já está sendo afetado. A argentina, que importa grande parte desses maquinários do Brasil, suspendeu as licenças automáticas, causando acúmulo de mercadorias nas fronteiras. O setor privado brasileiro espera que o governo argentino cumpra suas promessas, porém há certa desconfiança, pois, como já aconteceu em épocas passadas, os prazos das licenças não foram respeitados e produtos brasileiros chegaram a ficar quatro meses esperando liberação O nível de ocupação encerrou o ano com uma variação de 4,2%, relativamente ao verificado em 2009, como pode ser deduzido do Gráfico 2. Esta variação positiva reflete a expansão da economia local, em consonância com a expansão da economia nacional, em 2010. A População Economicamente Ativa teve aumento de 22 mil pessoas, número inferior aos 49 mil postos de trabalho criados. Isso implicou a saída de 27 mil pessoas do contingente de desempregados. De acordo com o Dieese, a forma de inserção ocupacional que registrou o maior crescimento foi a questão salário (7,4%), decorrente principalmente do aumento de 9% da absorção pelo setor privado. O aumento do nível de ocupação no setor público foi de 4,2%. No âmbito privado, houve aumento de 10,4% dos empregos com carteira assinada, enquanto os sem carteira tiveram um acréscimo menos expressivo (3,1%). O decréscimo de 5,7% do número de trabalhadores autônomos foi decorrente da redução de 5,0% no número de empregados, que trabalham para o público, e de 4 h�p://www.ucb.br/economia h�p://www.ucb.br/economia –– www.economia.ucb.br www.economia.ucb.br Finanças Públicas h�p://www.ucb.br/economia h�p://www.ucb.br/economia –– www.economia.ucb.br www.economia.ucb.br José Kleber Duarte Macambira Filho*1 Sandro Soares de Souza*1 Evolução dos gastos públicos: uma análise empírica Após a crise da dívida externa ocorrida nos anos 1980, tendo por consequência a necessidade de se promover sucessivos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil tem convivido com a imposição de metas fiscais, visando a manter a sustentabilidade da sua dívida interna e externa. Não obstante os descumprimentos sucessivos dos acordos com o FMI ao longo da década de 1980, o país acabou aprendendo quão importante é o cumprimento de metas fiscais. Após o fim do acordo standy by e a quitação da dívida com o FMI, metas fiscais deixaram de ser impostas por esse organismo internacional e passaram a ser voluntárias, sendo fixadas anualmente na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Na última década, o Brasil vem perseguindo metas de superavit primário que permitirão, a longo prazo, a possibilidade de inversão da trajetória de crescimento da relação dívida/PIB, que atingiu o pico de 54% do PIB em 2003. Atualmente, a dívida líquida do setor público consolidado, que abrange União, Estados e Municípios, situa-se na casa dos 40% do PIB. Entretanto, esses resultados vêm sendo obtidos em grande parte pela elevação das receitas do governo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a carga tributária do Brasil que, em 1990, era de 29,60% do PIB fechou o ano de 2008 em 34,96%. Considerando que o PIB nesse período elevou-se em 63,9%, percebe-se que houve um aumento das receitas do governo via impostos, taxas e contribuições, o que corrobora a reclamação dos empresários e da população em geral contra a chamada “sanha arrecadatória” do governo. Entretanto, o outro lado da contabilidade nacional, que abrange os gastos públicos, não sofre o mesmo debate, o que torna essa discussão incompleta. 10% Descrição dos Dados Literatura Nos últimos anos, os gastos públicos têm começado a receber mais atenção nos estudos das finanças do setor público. Muitos economistas evitavam esse tema devido à sua grande complexidade, principalmente no que se refere às decisões sobre os dispêndios em suas várias funções e atividades. Isso porque muitas dessas decisões são tomadas não de acordo com uma racionalidade econômica ou social, mas de acordo com as conveniências e interesses políticos (RIANI, 2009, p. 58). As estatísticas tradicionais têm mostrado que os gastos do setor governamental apresentam trajetória crescente, principalmente nas últimas três décadas (Figura 1). Embora seja possível apurar esse crescimento, por meio da evolução dos valores reais dos gastos e de seus valores per capita, a forma mais tradicional para tal mensuração é a comparação do valor das despesas governamentais com o Produto Interno Bruto (PIB). Gráfico 1: Evolução das despesas da União em relação ao PIB 60% 50% 40% 30% 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 20 08 0% 19 Carta Carta Econômica Econômica –– Ano Ano XVII, XVII, nº nº 1 1 –– março março de de 2011 2011 Despesas União/ PIB 70% Anos Fonte: Cálculo e tabulação dos autores com dados do STN 2011 e IPEA 2011 O impacto da crise externa, a falta de empenho das autoridades em combater o déficit, a fragilidade política do governo e os efeitos da nova constituição geraram uma * 1 Graduandos do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB Os autores agradecem ao Prof. Tito Belchior S. Moreira pela leitura crítica do texto. Para testarmos a hipótese de Wagner na economia brasileira durante o período de 1980 a 2009, foi realizado o seguinte levantamento de dados: (1)Como proxy para os gastos governamentais utilizamos a variável despesas da União, G , com periodicidade anual, fornecidos pela Secretária do Tesouro Nacional (STN). Os valores utilizados são constituídos por despesas liquidadas, sendo que esses valores foram atualizados para preços de 2010, para isso utilizando-se o IGP-DI. (2)Para representar o produto, Y, utilizamos os valores do Produto Interno Bruto (PIB), fornecidos pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Os valores anuais do PIB foram atualizados para preços de 2010 e o índice utilizado foi também o IGP-DI. Tabela 2: Estimativa do Modelo 3, método Cochrane-Orcutt, observações 1982-2009 Gt 1t1 2 e ut , Modelo 1 Em que b1 e b2 são parâmetros; Gt representa os gastos da União no ano t ; Yt–1 representa o PIB no ano t–1 ; ut é o termo de erro estocástico em t ; e e é o logaritmo na base natural. Pelo modelo 1, a relação entre os gastos da União e o PIB não é linear. Contudo, se transformarmos logaritmicamente este modelo, obteremos: ln G t ln 1 2 lnt 1 u t , lnG t 0 2 lnt 1 u t Modelo 2 sendo ln(b1) = b0 . Assim, os parâmetros a serem estimados são b0 e b2 . Vale lembra que após a aplicação da transformação logarítmica, a estimativa do coeficiente b2 será interpretada como a elasticidade da variável Gt em relação a Yt–1 , de modo que uma variação de 1% em Yt–1 cause uma variação de b2% em Gt . O resultado da estimativa do Modelo 2, obtida pelo método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), é apresentado na Tabela 1. O modelo apresenta um R2 ajustado de 0,75, ou seja, 75% das variações nos gastos são explicadas pela variável produto, PIB. A estatística F mostra que, conjuntamente, tanto a constate como o coeficiente angular são diferentes de zero. Isto fica mais evidente ao analisarmos a estatística t de ambos os parâmetros. Ela mostra que o coeficiente angular e o intercepto são, separadamente, estatisticamente diferentes de zero. Pelo valor do coeficiente angular do Modelo 2, podemos dizer que uma mudança de 1% no PIB gera uma elevação das despesas do ano subsequente em 3,32%. Tabela 1: Estimativa do Modelo 2, método MQO, observações 1981-2009 Estimativa Erro Padrão Teste-t p-valor b0 -67,2035 10,1666 -6,6103 <0,00001 b2 3,32401 0,357705 9,2926 <0,00001 R R2 ajustado F(1, 27) Teste de White Durbin-Watson 0,761805 0,752983 86,35231 2,54243 0,451889 (p-valor 6,69E-10) Coeficiente 2 Fonte: Gretl e tabulação dos autores O valor do Teste de White segue uma distribuição do quiquadrado. Como o valor para este teste apresentado na Tabela 1 não é superior ao valor crítico qui-quadrado de 3,84146 (qui-quadrado tabelado para 1 grau de liberdade, excluindo o termo constante, em um nível de significância de 5%), conclui-se que não há heterocedasticidade. Por outro lado, a estatística de Durbin-Watson (0,452) indica sinal de autocorrelação positiva no Modelo 2. Conhecendo as consequências da autocorrelação, especialmente a falta de eficiência dos estimadores de MQO, pode ser necessário corrigir o problema. A correção depende do conhecimento que temos sobre a natureza da interdependência dos termos de erro, isto é, o conhecimento da estrutura da autocorrelação. Supondo que o termo de erro segue o esquema AR (1), ou seja, ut ut 1 t 1 1 . (1.1) Se o Modelo 2 for verdadeiro para t , também será verdadeiro para t–1 . Portanto, podemos reescrever o Modelo 2 em primeira diferença, obtendo: ln Gt lnGt1 0 1 2 ln t 1 ln t 2 t , Modelo 3 sendo t u t u t 1 . Como os termos dos erros do Modelo 3 satisfazem às premissas dos MQO, obtemos os melhores estimadores lineares não tendenciosos (BLUE). Para corrigirmos o problema de autocorrelação, estimando o parâmetro r, aplicamos o método interativo de Cochrane-Orcutt2. 2 Para mais detalhes Gujarati (2006) Estimativa Erro Padrão Teste-t p-valor b0(1–r) -39,5255 22,4226 -1,7628 0,08969 b2 2,35327 0,786417 2,9924 0,00600 Coeficiente Como sugerido por Wagner, testaremos a hipótese de que os gastos do Estado crescem mais rápido do que o produto. Deste modo, modelamos a ideia de Wagner da seguinte forma: Estatísticas baseadas nos dados rô-diferenciados R 2 0,896544 R2 ajustado 0,892565 F(1, 26) 8,954453 Durbin-Watson 1,889176 (p-valor 0,005995) Fonte: Gretl e tabulação dos autores O coeficiente de autocorrelação serial, r, calculado foi de 0,76636. Este valor indica a presença de uma forte autocorrelação, uma vez que 0 1 . Note-se que após a aplicação da medida corretiva, o coeficiente angular do modelo transformado permanece significante. Além disso, o Modelo 3 mostra-se bem ajustado, apresentando um R2 ajustado de 0,89. Estes fatos comprovam a influência do crescimento do PIB no aumento das despesas da União. Gujarati (2006) alerta para o fato de que o R2 do modelo transformado (Modelo 3) e do modelo original (Modelo 2) não podem ser comparados diretamente, já que as variáveis dependentes dos dois modelos são diferentes. Com um valor do Teste de Durbin-Watson próximo de 2, podemos dizer que o modelo transformado não apresenta problema de autocorrelação, o que valida a eficiência dos estimadores de MQO. Portanto, esses resultados confirmam, em parte, a existência da lei de Wagner nas finanças públicas na esfera federal brasileira. Todavia, não obstante a forte correlação entre crescimento do PIB e os gastos públicos, talvez o grande debate que decorra dessa questão não seja o necessário e inevitável crescimento dos gastos, mas sim a qualidade dos serviços públicos prestados pelo estado brasileiro. A contrapartida do estado para os impostos, taxas e contribuições recolhidos da população são os serviços de segurança, educação, saúde e justiça de boa qualidade. Não podemos conceber um aumento da carga tributária e dos gastos públicos sem que o estado devolva para a população melhorias nesses serviços essenciais, sob pena de manter o país em patamares distantes em termos de distribuição de renda e tecnologia em relação às economias mais desenvolvidas, tornando o país refém do atraso por que vem passando há décadas. Relativamente a essa melhoria da qualidade dos gastos públicos, Armando Castelar Pinheiro e Fábio Giambiagi (2006) nos mostram alguns caminhos a serem seguidos: • no campo fiscal, uma forte redução do coeficiente dívida pública/PIB, mediante a manutenção do superavit primário em níveis elevados, ainda durante alguns anos; acompanhada de uma agenda de melhoria da qualidade do ajustamento, com tetos declinantes para o gasto corrente expresso como proporção do PIB; significativa redução do percentual de vinculações; aumento do investimento público; e diminuição gradual da carga tributária, distribuída ao longo do tempo; • no campo microeconômico, um conjunto amplo de reformas, envolvendo mudanças na legislação trabalhista; melhora do ambiente regulatório; fortalecimento da segurança jurídica; e significativa melhora na escolaridade média da população brasileira. Com o cumprimento dessas tarefas, certamente teremos um país mais justo, permitindo assim uma igualdade de oportunidades para todos, tendo por consequência o ingresso do país em um patamar de nações de desenvolvimento superior, que é o patamar almejado por todos os brasileiros. Referências GIAMBIAGI, Fábio; ALEM, Ana. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2008. GUJARATI, Domar. Econometria básica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. PINHEIRO, Armando Castelar; GIABIAGI, Fábio. Rompendo o marasmo: a retomada do desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2006. REZENDE, Fernando. Finanças públicas. São Paulo: Atlas, 2001. RIANI, Flávio. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: LTC, 2009. MINISTÉRIO DA FAZENDA – Disponível em: <http://www.tesouro. fazenda.gov.br>. Acesso em: 20 mar. 2011. IPEA – Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 20 mar. 2011. Carta Econômica Econômica –– Ano Ano XVII, XVII, nº nº 1 1 –– março março de de 2011 2011 Carta 20% significativa deterioração da situação fiscal entre 1984 e 1989. Os gastos da União durante 1980/1983 passaram de 10% do PIB, em média, para um patamar de 60% em 1990. A redução dessa relação a partir de 1990 é consequência do aumento da inflação, uma vez que esta, de certa forma, ajuda o governo a reduzir o valor real dos gastos, em relação aos valores comprometidos no orçamento. Com a despesa estabelecida em termos nominais e não indexada, a técnica de administrar os gastos públicos, retendo as liberações de verbas por algum tempo, quando chegavam os pedidos, revelou-se extremamente eficaz para controlar a evolução das despesas reais. A Figura 1 mostra claramente a trajetória de crescimento dos gastos públicos no Brasil. Esse fato é verificado inclusive no período mais recente, no qual tem havido muitas discussões sobre qual deveria ser o grau de envolvimento do governo na economia, com posições bastante favoráveis à diminuição do governo na economia. O primeiro a dedicar-se com mais vigor ao estudo do crescimento dos gastos públicos foi Adolph Wagner (1835-1917). Baseado em observações empíricas, ele tentou desenvolver uma teoria que explicasse o crescimento dos gastos públicos. Wagner estabeleceu como lei da expansão das atividades do Estado uma situação em que os gastos cresceriam inevitavelmente mais rápido que a renda nacional em qualquer Estado progressista (RIANI, 2009, p. 58). Uma das primeiras constatações de Wagner foi que o crescimento das atividades do governo era uma consequência natural do progresso social. Baseado em observações empíricas, mostrou que, quando a produção aumentava, as atividades do Estado e seus gastos também aumentavam em proporções maiores do que o produto. Para explicar a existência da lei da expansão das atividades do Estado, Wagner utilizou três argumentos principais. Inicialmente, ele se referia à necessidade de expansão das funções do Estado relacionadas com a administração, segurança e legislação, devido à substituição das atividades privadas pelas públicas, ao crescimento da complexidade das relações legais, à inevitável divisão do trabalho oriundo do processo de industrialização, ao crescimento da população e à urbanização. Outro argumento usado por Wagner referia-se ao fato de que o crescimento dos gastos públicos sofreria também impactos com a expansão cultural e o bem-estar, principalmente com referência à educação, recreação, cultura, saúde e distribuição de renda. Para Wagner, esses serviços representavam bens superiores ou elásticos em relação à renda. Assim, com o aumento da renda real da economia, os gastos públicos nos serviços mencionados anteriormente cresceriam mais que proporcionalmente à renda, fazendo com que aumentasse a relação entre os gastos públicos e o PIB. A última hipótese levantada por Wagner relacionava-se com as mudanças tecnológicas e a escala crescente dos investimentos. Esses fatores contribuiriam para que surgisse grande número de monopólios privados que poderiam ser evitados ou controlados pelo estado no interesse da eficiência econômica. Nesses casos, a participação do Estado aumentaria como uma fonte de estabilidade, influenciando as atividades das grandes empresas, cujo domínio na economia pudesse causar alguma instabilidade (Op. cit., 2009, p. 59). O Modelo 5