tem a palavra...
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“Há muito mais tecnologia do que
aquela que estamos a explorar”
Os modelos de utilização tecnológicos estão a mudar e a Intel está no centro desta transformação.
Alexandre Santos, business manager da Intel em Portugal, apela a uma mudança das próprias
empresas do Canal de TI, para que passem de um modelo transacional para um modelo de valor.
Vânia Penedo
Só assim, diz, será possível extrair da tecnologia tudo o que ela tem para nos oferecer
IT Channel – Durante a apresentação à imprensa da 5ª geração de processadores Intel
Core vPro, no início deste ano, disse que
“existe mais tecnologia do que capacidade
para a entender”. Era um apelo às empresas
de TI?
Alexandre Santos – Estamos num processo ainda
de mudança, do modelo transacional para o modelo
de adicionar valor. Quando nos projetamos a médio
e longo prazo, temos que pensar em valor. Temos
que perceber o que estamos a adicionar, na nossa
própria cadeia de serviço, para que nos reconheçam
como um diferenciador. Acho que essa é a grande
diferença em relação ao que existe hoje. Muito do
que ainda assistimos atualmente está relacionado
com o processo transacional, que é a implementação
de tecnologia, “pura e dura”. Sim, integra-se, implementa-se e fazem-se desenvolvimentos, mas não se
está a adicionar esse valor. O cliente quer renovar,
porque já existem outras tecnologias, mas isso não
está a ser feito com a mesma velocidade com que
é solicitado. A 5ª geração de tecnologia Intel Core
tem, efetivamente, mais tecnologia do que aquela
que está a ser utilizada.
As empresas não estão preparadas?
Diria que não. Estou a pedir atualmente um conjunto
de ações ao mercado, que estão relacionadas com
o workplace transformation, que está relacionado
com as futuras gerações que vão chegar ao mercado de trabalho. São mais informadas, formadas
tecnologicamente, mais maduras em termos de conhecimento. São os millenials ou Z, que vão ocupar
uma franja importante dos postos de trabalho do
futuro. Essas pessoas têm fatores de mobilidade
muito maiores do que os atuais empregados, porque
não vivem sem o seu próprio dispositivo móvel. A
tecnologia está a assessorar tudo isto e diria que as
empresas não estão a este nível. Essa é a minha crítica. Porque hoje falamos muito de acessos remotos
aos equipamentos, mas depois não existe o ecossistema, a infraestrutura que dê apoio a tudo isto. A
tecnologia existe, a intenção e a boa vontade dos
utilizadores também, mas depois falta toda a parte
de integração. Os system integrators são necessários
para a adaptação destas tecnologias.
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Alexandre Santos, business manager da Intel em Portugal
E estão a receber a mensagem?
Nós, fabricantes, temos uma quota de responsabilidade em tudo isto. Temos que trabalhar o mundo
corporativo, o mundo das PMEs, e fazemo-lo através
de ações de Canal, mas só falamos de volume,
porque não sabemos qual é o nosso público alvo,
que é para nós indiferenciado. Sabemos que há uma
consequência das nossas ações, em termos de volume, mas se estivermos a falar de valor não estamos
a falar do mesmo.
E o Canal é forte por isso, porque consegue essa cobertura ampla. O que é curioso é que o mercado se
está a transversalizar e ao mesmo tempo a especializar. Os nossos integradores estão a especializar-se
em sectores onde são fortes. Isso é benéfico porque
é aí que existe a diferenciação e o valor. Não tem
sido fácil, porque é um trabalho que na realidade
pode ser definido como uma maratona.
Nós projetamos uma estratégia que tem um conjunto de táticas para chegar aos mercados, mas algumas não são fáceis de implementar. Por exemplo,
a gestão remota. Ela existe em quase todos os equipamentos vPro, desde os upgrades aos antivírus,
mas não é ativado desde a venda. Porque existe um
custo, mas também devido a um compromisso do
próprio integrador, que passa por estar presente no
local. Se este ativa a função remota, está a colocar
em causa a sua própria presença...
Crê que as empresas do Canal de TI se sentem
de algum modo ameaçadas pela própria tecnologia?
Sim, pelo desenvolvimento da tecnologia, que está
bastante mais avançado. Isso é uma verdade. Porque
nós observamos que estas tecnologias têm todo este
potencial, mas muitas vezes acabamos por subestimá-las. O que acontece é que estamos a explorar
apenas submodelos de uso. Quando existem vários.
Em termos tecnológicos estamos a comercializar a
última tecnologia, que é escalável, só que acabamos
por ficar-nos por modelos de uso mais elementares.
Que alterações vai produzir a chegada do
Windows 10? Terá, por exemplo, autenticação
biométrica, e poderá impulsionar a exploração de outras funcionalidades...
Essa autenticação deve-se ao desenvolvimento da
nossa câmara 3D Real Sense, que permitirá identi-
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tende a obsolescência das suas tecnologias e, por
isso, se renovam. Será possível a Lei continuar a vigorar nos próximos 10 ou 50 anos? Diria que sim,
mas em perspetivas diferentes, porque estamos a
chegar aos 14 nanómetros. Quando fizemos um
transístor tridimensional acabámos por ganhar muita
flexibilidade em termos de Lei de Moore, porque
ainda estamos só no início do tridimensional, o que
significa que posso colocar camadas de transístores,
umas em cima das outras, a três dimensões. A Lei de
Moore está para ficar e isso significa que podemos
fazer outro tipo de coisas, nomeadamente outro tipo
de tecnologias, como por exemplo as biológicas.
ficar as pessoas pelas dimensões do próprio rosto.
O computador acaba por conseguir identificá-los de
um modo tridimensional. Na prática, a Intel está a
explorar um modelo de uso, o tal workplace transformacional. Porque a câmara, em si, para o cliente
final não significa nada. Mas se explicarmos aos utilizadores o efeito que tem em termos de segurança...
O Windows 10 vai despoletar, sim, um conjunto de
mudanças em relação a outros modelos de uso, nomeadamente o aplicacional.
E o que implicará em termos da renovação dos
vossos próprios processadores?
Em outubro teremos um tok, ou seja, vamos manter
os 14 nanómetros, mas proceder à alteração da arquitetura do chip. Neste tok vamos ter um novo
produto, o Skylake, abandonando o Broadwell. Num
ano teremos, assim, três transições: o Broadwell sem
Windows 10, Broadwell com Windows 10 e Skylake
com Windows 10. Não é habitual, mas tentaremos
passar uma mensagem positiva. Acreditamos que no
mercado SMB possa trazer algum delay de decisão,
mas apelamos a que isso não os limite, porque o
update será um processo simples.
Como é atualmente o relacionamento da Intel
com a indústria OEM em Portugal?
Trabalhamos com todos os local OEMs que temos
em Portugal e que têm uma dinâmica completamente diferente das multinacionais. Há até um facto
curioso. O ano passado foi o ano da renovação do
desktop e, curiosamente, havia um par de players no
mercado a funcionar bem: uma multinacional e um
local. Quando não ganhava um, ganhava o outro. O
local tinha a capacidade de poder ser uma alternativa, o que demonstra uma dinâmica muito apelativa,
que se justifica pela proximidade ao mercado e aos
verticais. Essa é a questão mais importante e leva-nos à anterior, do valor.
E os OEMs locais não se ficam pelo PC, abrangem
digital signage e, no futuro, a IoT. Hoje o OEM local
não tem uma dinâmica cingida ao PC, é muito mais
lata, porque a multinacional está limitada pela casa
mãe, o que dá aos locais uma maior capacidade de
adaptação. Aliás, nos PCs observo uma oferta muito
próspera no mainstream, por parte dos OEMs. As
entradas de gama são dominadas por dois players, a
Asus e a Acer. Nos high end e híbridos, a Microsoft
tem vindo a afirmar-se com os Surface. Acho que,
no meio, esse espaço será ocupado pelos OEMs locais, que têm a capacidade de apetrechar os equipamentos com outras dinâmicas financeiras. Um local
consegue abdicar de um conjunto de tecnologias
para colocar o produto naquele ponto-preço. Atualmente temos um processo de adaptação a um novo
modelo de utilização, os dois-e-um ou híbridos, que
não são um produto de compra por impulso, nem
affordable, mas são os que apelam ao refresh. O
clamshell continua a ser uma oferta mais legítima em
termos de ponto-preço.
Como vê a Intel o futuro do PC?
Está a existir uma transferência de modelos de
uso. Quando falamos de PC, o modelo de uso diversificou-se porque o refresh estagnou. Estamos
a faturar menos nesta área porque o preço médio
de venda baixou substancialmente. A nossa Lei
de Moore prevê ainda dez anos de continuidade
sobre isto.
NA Lei de Moore, celebrou, aliás, os seus 50
anos recentemente, havendo quem lhe sentencie um fim...
Não tem um fim à vista, pelo contrário. É uma regra
que a indústria de semicondutores adotou para fazer
uma renovação tecnológica, que impele também
um determinado tipo de consumo. Os fabricantes
obrigam-se a produzir para um mercado que en-
Para onde caminha a tecnologia?
A Intel projeta-se no futuro, mas há muita tecnologia presente que tem que ser maturada. Temos
que explorar melhor os modelos de uso atuais e
tentar implementar muita da tecnologia que hoje
é disponibilizada pelos meios que estão ao nosso
alcance e que nós desconhecemos. Há muito mais
tecnologia do que aquela que estamos a explorar.
Claro que a tendência é a miniaturização, mas a Intel
prevê o futuro sob uma perspetiva de ecossistema,
sobretudo no que diz respeito à IoT. Falamos desta
tendência numa perspetiva de ecossistema e transformacional, ou seja, em que medida afeta o futuro
de uma empresa. Aportar inteligência ao sistema é
inovação. Isto é o futuro, mas um futuro que já está
a acontecer.
Há aqui um aspeto relevante, que é o tipo de informação que estamos a gerar, muito diferente da
do passado. Os dados outrora eram estruturados
e agora não o são, com origem em fontes totalmente diversificadas. Tal como os modelos de uso
tecnológico tiveram que se adaptar a nós, e não ao
contrário, o mesmo está a acontecer com o tipo de
informação.
Extrair informação em tempo real é o maior
desafio, neste contexto?
Sim. Quando falamos de futuro, falamos de prepararmo-nos para conseguir recolher a mais-valia
da informação e monetizá-la. O valor em tempo
real chama-se Big Data, porque não o for chama-se
só data analytics. A Intel está a participar em todo
o back end de tudo isto, potenciando a previsibilidade do Big Data, que transforma tudo num modelo
económico diferente – passamos de um modelo de
transação para o modelo de serviços com valor, o tal
diferenciador de negócio. É aqui que o Canal tem de
estar, na cadeia de valor e no valor acrescentado. E
voltamos ao modelo de uso do PC – vender o PC,
instalá-lo e assegurar a sua manutenção ou acrescentar serviços? Esta última parte é que faz a grande
diferença.
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