Faculdade 7 de Setembro Denise Gurgel do Amaral Sampaio ESTUDO DE CASO: TV ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ Considerações históricas, marcos regulatórios e impactos sobre o desempenho da atividade parlamentar Fortaleza-CE-Brasil 2008 2 DENISE GURGEL DO AMARAL SAMPAIO ESTUDO DE CASO: TV ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ Considerações históricas, marcos regulatórios e impactos sobre o desempenho da atividade parlamentar Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social da Faculdade 7 de Setembro, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Jornalismo. Orientador: Prof°. Dr. Thiago Seixas Themudo Fortaleza-CE-Brasil 2008 3 DENISE GURGEL DO AMARAL SAMPAIO ESTUDO DE CASO: TV ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ - Considerações históricas, marcos regulatórios e impactos sobre o desempenho da atividade parlamentar Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social da Faculdade 7 de Setembro, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Jornalismo. Data de Aprovação: Fortaleza, 13 de dezembro de 2008. BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Prof. Dr. Thiago Seixas Themudo Orientador _________________________________________ Prof. Ms. Elisângela Nogueira Teixeira Membro ________________________________________ Prof. Ms. Miguel Augusto Macedo de Araújo Lima Membro 4 RESUMO O presente trabalho tem como proposta de estudo a TV Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, emissora fundada em 2004, pioneira na transmissão em canal aberto das atividades do parlamento estadual cearense. No entanto, durante os trabalhos de pesquisa bibliográfica e coleta de dados, nos deparamos com a necessidade de sintetizar o processo de industrialização no Brasil. Para tanto, reservamos o Capítulo 1 para fazermos uma breve incursão na Revolução Industrial, cujas inovações tecnológicas experimentadas possibilitaram o surgimento do protótipo do aparelho receptor de sons e imagens por meio de radiodifusão, o televisor. Pareceu-nos imprescindível também que, a fim de melhor retratar a evolução dos meios de comunicação em escala global, expuséssemos datas e invenções que pontuaram esta história, inserindo paralelamente recortes da conjuntura econômica, social e política brasileira. Trouxemos, como aporte teórico referencial, as posições antagônicas de Karl Marx e Adam Smith, ambos filósofos e economistas, porém diametralmente opostos em seus conceitos de luta de classes versus mão invisível do mercado, a fim de melhor explicitar a função social dos mass media enquanto instância mantenedora ou destruidora do status quo. No Capítulo 2 nos detivemos na televisão propriamente dita, perseguindo a mesma linha comparativa entre a escala global e o Brasil, referindo-nos a onde, quando e como iniciaram-se as transmissões oficiais. Destacamos neste capítulo as figuras de Padre Landell - brasileiro a quem se atribui a invenção da TV – e de Assis Chateaubriand - pioneiro e visionário da televisão brasileira. Ao final, resgatamos alguns escritos de Karl Marx que anteviram os reflexos dos avanços tecnológicos sobre a imprensa e o apoderamento dos meios de comunicação. O Capítulo 3, intitulado Comunicações no Brasil – Marcos Regulatórios, faz uma incursão na legislação pertinente as telecomunicações brasileiras, com ênfase na radiodifusão e na concessão de outorgas e licenças obrigatórias para emissoras de televisão. No Capítulo 4 pesquisamos conceitos e exemplos dos tipos de televisão em funcionamento no Brasil, buscando distinguir TVs públicas e TVs estatais, e trazendo à luz o gênero das TVs governamentais, do qual a TV Assembléia é espécie. Isto feito, dedicamos exclusivamente os Capítulos 5 e 6 às especificidades da TV Assembléia, desde o projeto de lei que autoriza a sua criação até o modelo de funcionamento em curso. Anexamos os números do Balanço Geral do Estado do Ceará referentes ao custo total anual da TV Assembléia e partimos finalmente para a pesquisa de campo, aplicando um questionário exclusivo para os deputados estaduais cearenses na tentativa de mensurar, em termos qualitativos, o reflexo da TV Assembléia no desempenho da atividade parlamentar, este o objetivo precípuo deste trabalho. Reunimos e compilamos neste estudo de caso as dados apurados pelo Departamento Legislativo referentes à produção legislativa dos anos de 2006 e 2007, onde estão quantificados os projetos de lei, as audiências públicas e os pronunciamentos dos parlamentares, dados estes que ultimam a hipótese que atribui à TV Assembléia o considerável incremento da produção legislativa estadual. Palavras-chave: Televisão, Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, TV Assembléia, TV pública, TV estatal. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 06 1. UM BREVE HISTÓRICO DA INDUSTRIALIZAÇÃO ............................... 09 1.1 Da manufatura à maquinofatura .............................................................................................. 09 1.2 Trabalhador versus máquina: posições antagônicas de Adam Smith e Karl Marx ................. 10 1.3 A imprensa como sustentáculo da burguesia liberal e o surgimento dos aparatos de censura ..................................................................................................................................... 12 1.4 A industrialização chega ao Brasil .......................................................................................... 13 2 DE LANDELL A CHATÔ ................................................................................. 16 2.1 TELEVISÃO: de artigo de elite ao consumo popular ............................................................. 18 3 COMUNICAÇOES NO BRASIL - MARCOS REGULATÓRIOS ............... 22 4 TV PÚBLICA E TV ESTATAL – Critérios diferenciais ................................ 27 5 A TV ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ .............. 32 5.1 A opção pelo estudo de caso .................................................................................................... 32 5.2 Contexto e Cronologia .............................................................................................................. 33 5.3 Do montante das despesas executadas pela TV Assembléia ................................................... 36 6 PESQUISA E RESULTADOS ........................................................................... 39 6.1 Reflexos da TV Assembléia no parlamento estadual .............................................................. 39 6. 1.1 Pesquisa Qualitativa ............................................................................................................ 39 6.1.1.1 Análise de Resultados ........................................................................................................ 41 6.1.2 Pesquisa Quantitativa – Demonstração e Análise de Resultados ......................................... 42 6.1.2 Pesquisa Quantitativa – Demonstração e Análise de Resultados ......................................... 45 7 CONCLUSÕES E R ECOMENDAÇÕES ...................................................... 49 7.1 Conclusões ............................................................................................................................... 49 7.2 Recomendações ....................................................................................................................... 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 52 6 1 INTRODUÇÃO As políticas brasileiras de comunicação, infelizmente, se caracterizam historicamente por uma constrangedora omissão do poder público. A ação do Ministério das Comunicações sobre a radiodifusão, ao longo dos últimos cinqüenta anos, se concretiza pela via de uma óptica prioritariamente técnica e politicamente clientelista. Com a Constituição de 1988 aprimoram-se e democratizam-se os procedimentos de concessão de outorgas, até então amplamente usados como instrumento de barganha política. Dentro desse panorama, as emissoras tidas como públicas e especificamente direcionadas à Educação e à Cultura permanecem no limbo das baixíssimas audiência e competitividade. Assim, as comunicações de massa – leiam-se empresas comerciais - assumem a liderança da audiência e do mercado, livres de compromissos com valores democráticos de participação cidadã. Em resumo, a história recente das comunicações no Brasil mostra a pequenez da dimensão pública no uso dos meios de comunicação e, conseqüentemente, a timidez do alcance público. Apesar de as políticas voltadas ao tema presumirem a universalidade, no sentido de fazer chegar a televisão a todos os cidadãos do país; a diversidade, estabelecendo grades de programação variadas com percentuais claramente definidos reservados à veiculação de produções nacionais e à teores de Educação e Cultura; a concessão de outorgas de funcionamento pelo poder público, e a independência perante os governos, o que se registra é o monopólio da audiência concentrado em empresas comerciais, dentre as quais a Rede Globo é líder inconteste. A noção de democracia, tanto mais elástica quanto maior o uso coloquial pelo domínio público, permite, por esta razão, diferentes interpretações, tanto mais vagas se alinhadas com os conceitos de governo e povo. É de se deixar claro, no entanto, que o conceito de democracia não se restringe à pura e simples vontade da maioria. Mais que isso, a democracia pressupõe autonomia. A circulação livre da informação isenta – em que pese a isenção ser considerada utópica - e o poder de divulgar o ideário dos protagonistas dos debates na sociedade são os componentes maiores de uma democracia constitucional, especialmente nos dias de hoje, de sociedades mais ou menos complexas, onde proliferam distintos meios de comunicação. Neste contexto, é, portanto, concreta a íntima relação entre democracia e comunicação social, pelo fato de esta ser a utilíssima ferramenta de instrumentalização da democracia que se pretende construir, o que passa obrigatoriamente 7 pelo caminho da informação e da formação de opinião sobre as antagônicas propostas apresentadas nos debates que se travam na sociedade. Tão ou mais elástica que a noção de democracia é a delimitação conceitual e estrutural dos tipos de televisão. Entre interlocutores do assunto, há de se estabelecer previamente sobre o que se fala, sob pena de o ruído sobrepor-se à comunicação entre emissor e receptor. Sendo assim, e para efeito de compreensão do presente trabalho, estabelecemos que a concessão de outorgas de autorização de uso de radiofreqüências é um serviço exclusivamente público, seja para a instalação de emissoras comerciais, públicas ou estatais. Considerando estes três tipos, temos que nesta última tipificação se insere a TV Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. Sendo dever do poder público garantir que todos os membros da sociedade tenham acesso à informação, conforme disciplinado na Constituição Federal, batizada de Constituição Cidadã, em seu TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, Art. 5º, XIV – “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”, temos então a acepção de público distanciada de mercado e, portanto, atrelada a conjunto de cidadãos. Recrudescendo esta idéia, nos valemos novamente da Carta Magna, que em seu Artigo 1º, Parágrafo único, estabelece: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição; propomos um elo de raciocínio com as palavras do jornalista Eugênio Bucci, no programa Jornalismo Sitiado: “Desde o surgimento da imprensa, e sobretudo hoje, a opinião pública é um mito inabalável, é o que justifica a própria imprensa. É a melhor conselheira para os caminhos da sociedade, daí que a idéia de imprensa nasce vinculada à idéia de democracia. Jornalismo, por extensão, é o discurso que se destina ao atendimento do direito à informação, o jornalismo existe a partir do momento em que o cidadão - titular do poder que será delegado – tem direito a informação para exercer essa delegação. Sem isso, a roda da democracia não gira...” Considerando que, nos dias de hoje, “estar junto” passa obrigatoriamente pela mídia – e cada dia menos pela mídia impressa e mais pela mídia televisiva, pela mídia imagética - o “estar junto”, hoje, não vem se realizando pelas formas tradicionais promovidas pela igreja, pela escola, pela família. O “estar junto”vem se processando com muita ênfase 8 dentro do imaginário que circula na sociedade, que é, sobretudo, um imaginário sustentado pela informação. Isto posto, esclarecemos ao final que esta monografia teve início com as inquietações da pesquisadora que, em síntese genérica, reside em questionar se a televisão é potencialmente capaz de situar-se como instrumento a serviço da democracia, propiciando a consolidação de um legítimo foro para o debate democrático, repercutindo na construção de um novo cenário social e político. Em termos específicos, tomamos como foco o estudo de caso da TV Assembléia, limitando nossa pesquisa de campo qualitativa aos atuais detentores de mandato do parlamento estadual cearense, na tentativa de encontrar respostas para a hipótese de situação da mídia na construção do espaço público, se a mídia televisiva da TV Assembléia promove um espaço onde as pessoas se relacionam coletiva e publicamente para argumentar e discutir sobre os destinos da sociedade. E, mais ainda, se a imprensa participa da construção do espaço público, se a TV Assembléia se constitui em espaço público de argumentação e política. Em termos quantitativos, nos valemos da documentação fornecida pelo Departamento Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, onde constam os números que apontam o incremento da atividade parlamentar nos exercícios de 2006 e 2007. 9 1. UM BREVE HISTÓRICO DA INDUSTRIALIZAÇÃO 1.1 Da manufatura à maquinofatura Com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, encerra-se a prolongada transição entre feudalismo e capitalismo. O desenvolvimento tecnológico marca o início do século XIX, modificando sobremaneira os modos de produção praticados até então. No novo cenário, fortemente marcado pela invenção da força motriz a vapor, a produção doméstica artesanal paulatinamente cede lugar à fabricação mecanizada. Entram em cena a maquinofatura e a produção em série, em substituição aos bens unitários manufaturados e a força de trabalho dos homens. O impacto gerado pela adoção de novas técnicas e meios de produção se reflete em todos os campos da atividade humana, das relações de trabalho à organização sócio-política. De credo protestante e adepta de uma política econômica liberal, a Inglaterra da Era Vitoriana (1837-1901) detinha a supremacia geopolítica e econômica em escala mundial, pela via das transações comerciais. A classe dominante no Estado absoluto, até então formada pela aristocracia e pelo clero, perde lugar para a ascendente e abonada burguesia. Com investimentos pesados na instalação de indústrias e contratação de mão de obra - incluídos homens, mulheres e crianças - os burgueses representam a um só tempo o mérito individual, o antiestatismo e a força do mercado. Amparados estruturalmente pelas teorias do liberalismo econômico daquele que é considerado pai da Economia Moderna, o escocês Adam Smith (1723-1790), a Inglaterra finca os sólidos pilares da iniciativa privada e da auto-regulação dos mercados, sintetizados pela expressão que se tornou a síntese mais perfeita da teoria econômica smithiana – a mão invisível. “Ora, a renda anual de cada sociedade é sempre exatamente igual ao valor de troca da produção total anual de sua atividade, ou, mais precisamente, equivale ao citado valor de troca. Portanto, já que cada indivíduo procura, na medida do possível, empregar seu capital em fomentar a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa atividade que seu produto tenha o máximo valor possível, cada individuo necessariamente se esforça por aumentar o máximo possível a renda anual da sociedade. Geralmente, na realidade, ele não 10 tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países, ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas seu próprio ganho, e neste, como em muitos outros casos, é levado como que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções.” (Smith, 1776, p. 379). Smith concluiria ainda que “Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo. Nunca ouvi dizer que tenham realizado grandes coisas para o país aqueles que simulam exercer o comércio visando ao bem público. ... O estadista que tentasse orientar pessoas particulares sobre como devem empregar seu capital não somente se sobrecarregaria com uma preocupação altamente desnecessária, mas também assumiria uma autoridade que seguramente não pode ser confiada nem a uma pessoa individual nem mesmo a alguma assembléia ou conselho, e que em lugar algum seria tão perigosa como nas mãos de uma pessoa com insensatez e presunção suficientes para imaginar-se capaz de exercer tal autoridade.” (Smith, 1776:380). 1.2 Trabalhador versus máquina: posições antagônicas de Adam Smith e Karl Marx A noção de “mão invisível” de Adam Smith confronta-se diretamente com o conceito de luta de classes preconizado posteriormente no Manifesto do Partido Comunista, de autoria dos filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). "(...) A história de toda a sociedade até hoje é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, burguês da corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, uma luta que acabou sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes em luta .... A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado." (Marx, Engels, 1848) 11 Consta também d’O Manifesto a constatação dos efeitos da Revolução Industrial sobre todos os campos da atividade humana, além da saga expansionista da Europa sobre as Américas, a formação de mercados além mar e os fluxos migratórios para as cidades, estas em acelerado processo de urbanização e superpopulação. Crítico ferrenho dos burgueses modernos, Marx e Engels lançam um rápido olhar sobre a influência dos meios de comunicação no processo de dominação econômica em curso pelas potências ocidentais e assinalam que “Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama civilização, isto é, a se tomarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.” (Marx & Engels, 1848) A propósito de Karl Marx, vale salientar que a teoria marxista, elaborada no século XIX, tem como eixo central a Economia. Marx, que também era economista, se propôs a caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas também uma visão histórica da economia como subsídio para a compreensão do processo evolutivo das relações em sociedades. De acordo com as teorias marxistas, a história da humanidade é construída a partir do permanente conflito entre poderosos e fracos, entre opressores e oprimidos. Com a entrada em cena na Europa do século XIX das novas relações entre terra, trabalho e capital promovidas pelo avanço tecnológico, a multiplicação e concentração de proletários - a quem Marx denominava “massa” - e o recrudescimento da luta de classes, Marx reafirma, em O Capital: “A luta entre o capitalista e o trabalhador remonta à própria origem do capital. Ressoa durante todo o período manufatureiro. Mas, só a partir da introdução da máquina, passa o trabalhador a combater o próprio instrumental de trabalho, a configuração material do capital. Revolta-se contra essa forma determinada dos meios de produção, vendo nela o fundamento material do modo capitalista de produção.”(Marx, 1867, p.489) É importante frisar que a produção intelectual de Marx não se limitou ao trato da Filosofia, da Economia e das Ciências Políticas. Alcançou o campo das relações sociais, compreendendo assim os meios de comunicação. Ao tentar explicar a capacidade de mutação das relações sociais, Karl Marx mergulhou na comunicação e nos meios, entendendo estes 12 últimos como elementos vitais para uma sociedade livre. Na concepção marxista, os meios de comunicação, em uma sociedade capitalista, aliam-se à educação e à religião para difundir a ideologia dominante, tornando o Estado uma instituição de enorme poderio e potencial de assimilação. Já os meios de comunicação nas mãos de poderosos grupos econômicos têm como atributo maior a justificativa de um Estado servil aos burgueses e mantenedor, pela via da regulação, da paz e da harmonia na sociedade. Sobre os meios de comunicação anteriormente citados, leia-se exclusivamente jornais impressos. 1.3 A imprensa como sustentáculo da burguesia liberal e o surgimento dos aparatos de censura O telégrafo, concebido por Samuel Morse em 1844, veio a conectar, somente a partir de 1865, apenas Inglaterra e Estados Unidos. A invenção do telefone é atribuída a Graham Bell, nos Estados Unidos em 1876. Na Itália, em 1895, surge a radiotelegrafia, do inventor Guglielmo Marconi. Os Estados Unidos detêm a primazia das emissoras de rádio, com a inauguração da KDKA em 1920, com equipamentos da marca Westinghouse. As primeiras transmissões radiofônicas regulares na Europa só viriam a acontecer posteriormente, em 1922, inicialmente na França e Inglaterra. (Calabre, 2002:51). No Brasil, também em 1922, o discurso do presidente Epitácio Pessoa, dentro das comemorações do centenário da independência, é transmitido, constituindo-se na primeira transmissão oficial de rádio no país. (Calabre, 2002:51) De fato, os meios impressos de comunicação assumiram um papel preponderante na consolidação dos interesses da burguesia do mundo ocidental, vindo a experimentar, já desde a primeira metade do século XIX, um notável crescimento em tiragem e circulação. Paralelamente ao ingresso do maquinário nas antigas oficinas domésticas e posterior assalariamento da massa de trabalhadores da indústria gráfica, concorreram indiretamente para o barateamento e popularização dos jornais impressos a evolução dos transportes e das técnicas de informação, com o registro da primeira agência de notícias, a Agência Havas, fundada em 1832, na França. Em oposição aos avanços da imprensa, governantes se empenham em desenvolver aparatos jurídico-políticos de forma a coibir esta atividade e enfraquecer o poderio da insurgente classe burguesa. Criam-se os mecanismos de censura, quando se multiplicaram os processos judiciais contra os jornalistas, invariavelmente submetidos aos julgamentos de juízes prepostos da aristocracia. 13 “Em todos os países, os governos tentaram conter o desenvolvimento da imprensa porque ela dificultava o exercício do poder: a engenhosidade dos legisladores criou um arsenal de leis, regulamentos e dispositivos diversos destinados a limitar a liberdade de imprensa e entravar a difusão dos jornais, mas a eficácia do controle e da repressão foi sempre temporária, pois a evolução política geral (...) aumentava o interesse pela política em camadas sociais cada vez mais extensas.” (Albert & Terrou, 1990, p.44) O verdadeiro temor das autoridades, aqui compreendendo em princípio a aristocracia e, posteriormente, também a burguesia, era o desenvolvimento de uma imprensa abrangentemente popular e politicamente engajada. N’O Manifesto, seus autores sinalizavam para a função social da imprensa, como instrumento de mobilização dos trabalhadores e ferramenta de articulação da luta de classes, contra a opressão das classes dominantes e pela conquista dos direitos e garantias do proletariado. “Os operários triunfam às vezes; mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de localidades diferentes, Ora, basta esse contato para concentrar as numerosas lutas locais, que têm o mesmo caráter em toda parte, em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas toda luta de classes é uma luta política. E a união que os burgueses da Idade Média levavam séculos a realizar, com seus caminhos vicinais, os proletários modernos realizam em alguns anos por meio das vias férreas.” (Marx & Engels, 1848) 1.4 A industrialização chega ao Brasil O Brasil vem a experimentar a industrialização somente a partir dos anos 50 do século XIX. À época, o consumo interno era composto em maior proporção pelos produtos importados da Inglaterra. A indústria têxtil brasileira via-se esmagada até mesmo pela Corte Portuguesa que, afastando o Brasil da disputa por mercados, eliminava-nos a possibilidade de auto-suficiência econômica e independência política. Por aqui, os negros cuidavam da lavoura, fundiam o ferro e fabricavam tecidos de maneira artesanal. Com a edição da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, proibindo o tráfico de escravos, duas importantes conseqüências recaíram diretamente sobre o processo de industrialização no Brasil. A primeira delas é que o capital, até então despendido na compra de escravos, pôde ser 14 disponibilizado em investimentos industriais, conforme a tendência de mecanização em curso mundo afora. A segunda delas foi a necessidade de mão-de-obra para a cafeicultura, em momento de franca expansão. Acorreram ao país levas de imigrantes europeus, atraídos principalmente pela abundância de terras e pelo solo ideal para o plantio do café. Os imigrantes trabalhadores da indústria cafeeira, pelo grau de especialização no trabalho, constituíram-se no primeiro segmento de mão de obra agrícola assalariada do país. Mais que isso, contribuíram sobremaneira para o crescimento do mercado interno, trazendo ainda consigo as novas tecnologias de produção utilizadas em seus países de origem, advindas da Revolução Industrial. Reverdecem as produções cafeeira e algodoeira e, em 1889, o Brasil República atravessa a sua primeira fase de industrialização, sendo computadas cerca de 600 indústrias em funcionamento no país, favorecidas pela legislação protecionista de substituição das importações. Pós virada do século, em 1907, o primeiro censo industrial brasileiro aponta a existência de 3.000 indústrias. O segundo censo mostra o surgimento de mais 10.000, totalizando 13.000 indústrias em 1920.1 Naquela época, a cultura cafeeira dá os primeiros sinais de enfraquecimento, o que se percebe também a partir dos grandes movimentos migratórios verificados das cidades do interior para as capitais do sul e do sudeste, além dos imigrantes nordestinos em fuga da seca e por melhores oportunidades de emprego. Com a Revolução de 1930, assume a Presidência da República Getúlio Vargas (1930-45; 1951-54), inaugurando o período da industrialização brasileira. As diretrizes de política interna, levadas a cabo por Vargas, priorizaram o afastamento das oligarquias tradicionalmente ligadas ao comércio e à agricultura dos negócios do Estado. Levantando a bandeira da industrialização nacional, o Estado investe pesado na economia, tendo dentre seus objetivos substituir a força de trabalho dos imigrantes da decadente lavoura cafeeira pela massa assalariada de brasileiros. O presidente Vargas inaugura as empresas estatais Conselho Nacional do Petróleo, Companhia Siderúrgica Nacional, Companhia Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional de Motores e Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Datam também do período getulista – que inclui as fases de governo provisório (1930-1934); governo constitucional, pela via da nomeação pelo Congresso Nacional (1934-1937); Estado Novo, ditadura que prevaleceu de 1937 a 1945 e, 1 (http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos/censo_industrial.pdf) 15 finalmente de 1951 a 1954, quando eleito diretamente pelo povo - a criação da Ordem dos Advogados do Brasil, do Instituto do Açúcar e do Álcool, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do Correio Aéreo Militar, do Ministério da Aeronáutica e da Lei de Segurança Nacional. Em contrapartida ao severo controle imposto à entrada de estrangeiros no país, Getúlio criou a carteira de trabalho, o salário mínimo, a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho. É com o deflagrar da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) que o Brasil atenta para a necessidade de possuir uma indústria de bens de capital, haja vista a dificuldade na importação de máquinas e equipamentos, mesmo com a balança comercial apresentando números positivos. Assim sendo, a matéria-prima nacional foi gradativamente substituindo o similar importado, e ao final da guerra, a indústria nacional de produção de bens de capital dava seus primeiros sinais, iniciando com as fábricas de auto-peças, movidas com o capital e as tecnologias desenvolvidas no país. Com o final da guerra, é decretada a anistia para os presos condenados por crimes políticos cometidos a partir de 1934 até então, é liberada a formação de partidos políticos e termina a censura à imprensa levada a cabo pelo Estado Novo. Setores da sociedade se articulam em reivindicações pelo fim da ditadura, o que se concretiza com a renúncia formal de Getúlio Vargas, em outubro. Assume o presidente do Supremo Tribunal Federal, o cearense José Linhares, por um prazo de três meses, na interinidade do cargo. Convocadas eleições para o cargo de presidente e de uma assembléia nacional constituinte, vence o General Eurico Gaspar Dutra (31/01/1946 a 31/01/1951). Datam desse mesmo período de rápida industrialização a acelerada superpopulação das capitais, a conseqüente urbanização, a exemplo do que se registrara na Inglaterra há quase um século. No Brasil, tais processos se fizeram acompanhar da nefasta inflação. Tendo como pano de fundo estes elementos conjunturais e sendo o rádio o veículo de comunicação mais popular do país, vai ao ar a primeira transmissão de sons e imagens por radiodifusão em solo brasileiro, oficialmente no dia 18 de setembro de 1950. 16 2 DE LANDELL A CHATÔ A invenção dos aparelhos televisores, bem como o domínio das tecnologias de transmissão de sons e imagens à distância passa obrigatoriamente pelo nome de matemáticos e físicos que já no século XIX se dedicavam às experiências de radiodifusão. Às propriedades fotocondutoras do selênio descobertas pelo norte-americano Wiloughby Smith, em 1873, sucederam-se dois anos depois os protótipos de aparelhos transmissores de seu conterrâneo George Carey. Sete anos após a descoberta de Smith, o Frances Maurice Leblanc concebe o chamado “sistema de varredura”, baseado na persistência visual humana para captação de imagens transmitidas em linhas. No ano de 1840, o alemão Paul Nipkow patenteia o primeiro transmissor mecânico (disco de Nipkow), capaz de transformar impulsos elétricos em sinais luminosos. Utilizado nos aparelhos televisores até 1940, o disco de Nipkow recebe o reforço dos experimentos de Heinrich Hertz, também alemão, que, em 1884, põe à prova a existência de ondas eletromagnéticas, batizadas em sua homenagem como ondas hertzianas. A Alemanha de então coloca-se na dianteira do desenvolvimento de aparelhos televisores eletrônicos, posição que é reforçada pela fabricação do primeiro tubo de vidro a vácuo, concebida por K.F. Braun. Seguem-se o americano Campbell Swinton e suas fórmulas de funcionamento dos mecanismos de TV, datadas de 1911; e, finalmente, o escocês John Logie Baird, a quem se atribui a paternidade da televisão eletromecânica. O título é conferido a Baird pela pioneira e bem sucedida demonstração de recepção de imagens por intermédio da televisão, em 1923, na Inglaterra, aperfeiçoados os princípios da “varredura” anteriormente concebidos por LeBlanc. Os aperfeiçoamentos de Baird se sucedem, até que, em 1928, ele põe a teste a televisão em cores, com as primeiras transmissões registradas em 1929, entre Nova York e Washington, com definição de 50 linhas, precursores dos padrões de definição norte-americano (525 linhas, 30 quadros por segundo) e europeu (625 linhas, 25 quadros por segundo). Nasce a British Broadcasting Corporation – BBC, a primeira emissora de TV pública do mundo, na Inglaterra, 1936. No ano seguinte, a transmissão da coroação do Rei Jorge VI pela emissora conta com a audiência de 50.000 telespectadores. E assim a televisão se difunde na Europa: em 1937, na França, com antena fincada na Torre Eiffel, e, em 1938, na Rússia. Nos Estados Unidos, em 1939, têm início as transmissões em rede, com a criação das empresas Columbia Broadcasting System – CBS e National Broadcasting Company - NBC, esta última precursora das emissoras comerciais de televisão. 17 Dentro da breve cronologia acima exposta, restrita à Europa e aos Estados Unidos, dedicamo-nos neste parágrafo a um brasileiro a quem também se atribui elevadíssima parcela de contribuição no desenvolvimento da radiodifusão. Trata-se do padre católico gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928), detentor de registro de patente nacional, datada de 1901, pela fabricação de aparelho de transmissão de voz sem fio. Padre Landell também requereu junto ao governo americano o patenteamento de suas invenções, tendo conseguido em 1904, portanto três anos após a solicitação, o registro de propriedade intelectual primeiramente do transmissor de ondas, seguido, neste mesmo ano, dos registros pioneiros do telefone sem fio e do telégrafo sem fio. Mesmo considerando as inovações tecnológicas legalmente reconhecidas pelos Estados Unidos, padre Landell amargou no Brasil o descaso das autoridades brasileiras. Do Presidente Rodrigues Alves solicitou dois navios da esquadra brasileira para fins de demonstração pública de seus experimentos em alto-mar, tendo recebido o não como resposta. Por aventar a possibilidade de comunicação interplanetária, Landell foi acusado por seus fiéis de herege e de louco pelos que desacreditavam do potencial de seus inventos. A opinião hegemônica da comunidade científica mundial atribui a paternidade do rádio ao italiano Guglielmo Marconi, muito embora as controvérsias acerca do físico croata Nikolas Tesla, que em 1896 trabalhava como assistente do americano Thomas Alva Edson, um dos mais aclamados precursores da tecnologia do século XX. Já no que se refere ao Padre Landell, a sociedade brasileira premiou seu legado apadrinhando-o postumamente como pai do radioamadorismo. Assim como o rádio precede a TV, todas as precedências tecnológicas apresentadas neste trabalho ocorreram no eixo Europa-Estados Unidos. Aos pioneiros de todas as nacionalidades, uma pecha comum lhes caracteriza, que é serem tidos e havidos em primeiro momento como insanos, idealistas e visionários. E tal e qual foi considerado o padre Landell à sua época, a chegada da televisão ao Brasil se fez acontecer pelas mãos de um homem comprovadamente visionário, o jornalista paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello - ou simplesmente Assis Chateaubriand. Capitalista arrojado e de métodos heterodoxos na conduta de seus negócios, Chatô – como ficou conhecido - inaugura oficialmente a televisão brasileira no dia 18 de setembro de 1950, diretamente dos estúdios da PRF 3-TV Tupi Difusora, em São Paulo, quarta em operação no mundo e a primeira emissora de TV da América Latina. No final deste mesmo ano, México e Cuba inauguram suas emissoras, seguindo o modelo norte-americano, diretamente influenciado e adaptado da indústria cinematográfica. A TV brasileira, por sua vez, escapa do 18 modelo vigente e se alicerça na tradição e experiência do rádio, incorporando ao novo veículo a mão-de-obra até então ocupada nas redações e estúdios de rádio. A entrada no ar da Tupi foi ancorada diuturnamente pelos órgãos de imprensa dos Diários Associados, o conglomerado de empresas de comunicação presidido por Chatô. Em especial o Diário da Noite e o Diário de São Paulo, de circulação concentrada na região metropolitana da cidade de São Paulo, ocupavam seus espaços com uma avalanche de reportagens sobre a mais nova “peripécia” de Chatô, que à época via-se também às voltas com a campanha presidencial e com a consolidação do Museu de Arte de São Paulo – MASP. Com cinco milhões de dólares investidos – o equivalente a cerca de trinta toneladas em equipamentos e material permanente adquiridos junto a RCA Victor para a TV Tupi - a pouco mais de um mês da data da transmissão inaugural, não havia sequer um aparelho de televisão nas prateleiras dos estabelecimentos comerciais do país, muito menos em qualquer domicílio. Por determinação e garantias pessoais de Chatô a um importador, operou-se o contrabando inicial de 200 aparelhos, ação fraudulenta que se pretendeu justificar frente à burocracia e morosidade do Ministério da Fazenda na condução dos processos de importação. Feito isto, Assis Chateaubriand providenciou para que fossem instalados 17 aparelhos em vitrines de lojas de eletrodomésticos espalhadas pela cidade; mais quatro aparelhos foram instalados em bares e um outro no saguão dos Diários Associados, totalizando 22 unidades. Quando do discurso proferido nos estúdios do Sumaré, em momentos prévios a primeira transmissão oficial da Tupi, Chatô dirige-se à platéia de políticos, empresários e artistas e dá sua tônica pessoal ao evento, avisando que “... instalada a antena que ia levar pioneiramente aos lares paulistas o mais subversivo de todos os veículos de comunicação do século, a televisão.” (Fernando Morais, in Chatô, pág. 500). À época, Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo utilizado pelo jornalista carioca Sérgio Porto, vaticina que “a televisão é uma máquina de fazer doido”. Anos depois, em 1954, o mesmo Stanislaw, assoberbado de trabalho na redação de programas televisivos para as TVs Tupi, Excelsior e Rio, dispara seu humor sarcástico e inteligente sobre o veículo, afirmando que “o melhor da televisão é o botão de desligar”. 2.1 TELEVISÃO: de artigo de elite ao consumo popular Quando surge no Brasil a televisão, o rádio era o veículo de comunicação mais popular do país. A programação radiofônica atingia altíssimos níveis de audiência, levando ao 19 ar noticiários, musicais e os famosos folhetins, estes capazes de agrupar o público majoritariamente feminino de todas as classes sócioeconômicas nos horários de transmissão dos capítulos. A produção cultural e intelectual brasileira restringia-se à elite e concentrava-se no Rio de Janeiro. Diferente do modelo de televisão americano, que teve suas origens na indústria cinematográfica, foi no rádio que a TV brasileira foi buscar mão-de-obra e adaptação de técnicas, mais ao modo de improviso ao qual denominamos de “jeitinho brasileiro”. As atrações internacionais que chegavam ao Brasil faziam suas apresentações invariavelmente nos cassinos ou do Copacabana Palace ou da Urca, nessa época em que os jogos de azar eram permitidos. O período pós-Segunda Guerra Mundial coincide com a decisão do governo brasileiro de proibir a jogatina. A esse respeito, Mattos descreve (pág.50): “quando o jogo foi banido, nos anos cinqüenta, a elite foi encorajada a procurar por novos tipos de diversões, numa época em que tanto a classe alta como a média estavam conscientes de que lhes faltava o último e mais moderno símbolo de desenvolvimento tecnológico que seus semelhantes estavam desfrutando nos países industrializados. O estabelecimento da televisão no Brasil atendeu ao crescente desejo desses grupos por novos entretenimentos.” (Thomas, 1979:43, citado por Sérgio Mattos). Neste ano, os Estados Unidos contavam com 107 emissoras de televisão, transmitindo para cerca de quatro milhões de aparelhos. Ainda segundo Mattos, a história da televisão brasileira divide-se em seis fases: 1) “1) A fase elitista (1950-1964), quando o televisor era considerado um luxo ao qual apenas a elite econômica tinha acesso. 2) A fase populista (1964-1975), quando a televisão era considerada um exemplo de modernidade e programas de auditório e de baixo nível tomavam grande parte da programação. 3) A fase do desenvolvimento tecnológico (1975-1985), quando as redes de TV se aperfeiçoaram e começaram produzir, com maior intensidade e profissionalismo, os seus próprios programas com estimulo de órgãos, visando, inclusive, a exportação. 4) A fase de transição e da expansão internacional (1985-1990), durante a Nova República, quando se intensificam as exportações de programas. 5) A fase da globalização e da TV paga (1990-2000), quando o país busca a modernidade a qualquer custo e a televisão se adapta aos novos rumos da redemocratização; e 20 6) A fase da convergência e da qualidade digital, que começa no ano 2000, com a tecnologia apontando para uma interatividade cada vez maior dos veículos de comunicação, principalmente com a televisão, com a Internet e outras tecnologias da informação.”( Mattos, 2002, pp 78-79). De acordo com Mattos, temos que em 1950, o preço de um aparelho televisor era pelo menos três vezes maior que o mais sofisticado toca-discos de vinil. Mais que supérflua, a TV simbolizava o luxo e a ostentação das classes econômicas mais abastadas. Certamente que o custo do aparelho era o elemento determinante da elitização da audiência. Em 1965 um aparelho portátil de TV em preto e branco custava aproximadamente duzentos dólares, ou nove mil cruzeiros, valor inacessível para a grande maioria de brasileiros alojados nas classes média e baixa. Mas já em 1951 dois fatores contribuem de forma decisiva para o aumento da massa de telespectadores: a inauguração da TV Tupi Rio, no mês de janeiro; e a instalação da primeira fábrica nacional de televisores, a Invictus, de propriedade de Bernardo Kocuberg. Mattos revela ainda que a partir do golpe de 1964, a produção de aparelhos televisores aumenta rápida e consideravelmente, o que ocorre em função do crescimento da demanda interna. O sistema político em vigor opta pela adoção de um modelo econômico voltado à produção nacional, com base em acelerado processo de industrialização e na importação de capitais e tecnologias. A repercussão da nova configuração política, social e econômica sobre os meios de comunicação é instantânea, não somente por serem imediatamente utilizados como instrumentos de propagação da ideologia militar, como também através do recrudescimento dos aparatos de censura atuantes sobre os órgãos de imprensa, notadamente a ascendente televisão. A esse respeito, Sérgio Mattos relata: “No Brasil, durante os 21 anos de regime militar (1964-1985), o financiamento dos meios de comunicação de massa foi uma forma poderosa de controle estatal, uma vez que todos os bancos são dirigidos ou supervisionados diretamente pelo governo. a concessão de licenças para importação de materiais e equipamentos e o provisionamento, por parte do governo, de subsídios para cada importação, favorecem aos veículos que apóiam as políticas governamentais. Aqueles que conservam boas relações com o governo sempre foram e continuam sendo beneficiados com empréstimos, subsídios, isenção de impostos e publicidade oficial. Exemplos de como o governo controla, política e economicamente os meios de comunicação de massa podem ser encontrados tanto na mídia impressa como na eletrônica. No caso da mídia eletrônica, esse controle foi mais direto e evidente, durante toda esta segunda fase, por que as estações de rádio e de televisão operam canais concedidos pela administração federal, os quais podem ser cassados, enquanto os veículos da mídia impressa necessitam apenas de um simples registro.” ( Mattos, 2002, p. 121) 21 Conquistando paulatinamente a televisão sua posição como veículo líder de comunicação de massa, o governo autoriza, em 1968, a concessão de crédito para a compra de aparelhos televisores no varejo, possibilitando às classes média e baixa a aquisição do equipamento mediante parcelamento em até 36 prestações. Segundo dados registrados por Mattos, o volume inicial de 200 aparelhos em 1950 sobe para 11.000 em 1952; dez anos após já se registram 1.056.000 aparelhos. Em 1972, o número de televisores em funcionamento em domicílios e estabelecimentos comerciais brasileiros ultrapassa 6.000.000. No ano 2000, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos, o total de televisores em uso no país ultrapassa meio bilhão. 22 3 COMUNICAÇOES NO BRASIL - MARCOS REGULATÓRIOS No final de 1962, o Congresso Nacional aprova e o Presidente João Goulart promulga a Lei Federal No. 4.117, que institui o Código Brasileiro de Telecomunicações. A nova lei representa o marco regulatório inicial das atividades de telecomunicação no país, introduzindo a delimitação de conceitos referentes à exploração da radiodifusão, a criação do Fundo Nacional de Telecomunicações, a instituição de normas e garantias às concessionárias e a previsão de aplicação de multas e sanções pelo não cumprimento dos dispositivos legais expostos. Apesar da inovação dos mecanismos de disciplinamento e financiamento do setor de radiodifusão constantes no Código, o texto legal reserva à competência privativa da União a concessão de autorização para exploração ou renovação de todos os serviços de telecomunicações existentes à época, em demonstração de controle estatal unilateral e antidemocrático. De 1964 a 1988, “a concessão de licenças para exploração de freqüências reforçou o controle exercido pelo Estado, já que estas permissões somente foram concedidas a grupos que originalmente apoiaram as ações adotadas pelo regime.” (Mattos, 2002: 90, 91). Nos quatro anos que antecederam a promulgação da Constituição de 1988, operou-se no Brasil uma abertura nunca antes experimentada em termos de concessões de canais de rádio e de televisão. Foram 22 em 1985, 14 em 86, 12 em 87 e 42 em 88, totalizando 90 concessões em quatro anos, sob a batuta do presidente José Sarney. Com entrada em vigor, em 1989, da nova Constituição, tanto a concessão quanto a revogação de canais de televisão passa a depender da chancela do Congresso Nacional, e não mais apenas da vontade privativa do chefe do Poder Executivo. Apelidada de Constituição Cidadã, é a representante maior do processo de redemocratização do país. O texto constitucional dedica o Capítulo V exclusivamente à Comunicação Social, onde se proclama o fim da censura, exatamente no parágrafo 2º do Artigo 220: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.” Do referido Capítulo, extrai-se também que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, frisando ainda que nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social. No que concerne às emissoras de televisão, o Artigo 221 determina que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão darão 23 preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; terão como foco a promoção da cultura nacional e regional e o estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; a regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei. No Artigo 223 da Constituição de 1988, os legisladores trataram de substituir o entulho ditatorial que restringia unicamente ao Chefe do Poder Executivo a competência para outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, condicionando tais atos à aprovação, em votação nominal, por no mínimo dois quintos do Congresso Nacional, a quem cabe instituir, como órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social. O ano de 1995, precisamente no dia seis de janeiro, trouxe ao arcabouço de dispositivos legais existentes no país a Lei 8.977, que dispõe sobre o serviço de TV a cabo e dá outras providências. Ainda no ano de 1995, com a edição da Emenda Constitucional nº 8, objetivando permitir a privatização dos serviços de telefonia e dos de transmissão de dados, explorados pela ‘Telecomunicações Brasileiras S.A – TELEBRAS e pela Empresa Brasileira de Telecomunicações – EMBRATEL, promoveu-se a reorganização dos serviços, distinguindo-se os serviços de telecomunicações dos serviços de radiodifusão, estabelecendose também, no novo texto constitucional, que seria criado um órgão regulador dos serviços de telecomunicações comum a ambos, futuramente a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL. O Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei Federal No. 4.117) é então alterado em 1997 pela Lei Federal No. 9.472, promulgada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja ementa dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº 8, de 1995. Em seu Art. 1°, a Lei No. 9.472 mantém a determinação de que compete à União, por intermédio do órgão regulador e nos termos das políticas estabelecidas pelos Poderes Executivo e Legislativo, organizar a exploração dos serviços de telecomunicações. Em termos explícitos, o Artigo 18 da Lei 9.472 pontifica que cabe ao Poder Executivo, observadas as disposições desta Lei, por meio de decreto: I. instituir ou eliminar a prestação de modalidade de serviço no regime público, concomitantemente ou não com sua prestação no regime privado; II. III. aprovar o plano geral de outorgas de serviço prestado no regime público; aprovar o plano geral de metas para a progressiva universalização de serviço prestado no regime público; 24 IV. autorizar a participação de empresa brasileira em organizações ou consórcios intergovernamentais destinados ao provimento de meios ou à prestação de serviços de telecomunicações. Parágrafo único. O Poder Executivo, levando em conta os interesses do País no contexto de suas relações com os demais países, poderá estabelecer limites à participação estrangeira no capital de prestadora de serviços de telecomunicações. Nos termos desta lei, fica então criada oficialmente a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, concebida como autoridade administrativa independente, a quem cabe a função precípua de, conforme o Artigo 19, “adotar as medidas necessárias para o atendimento do interesse público e para o desenvolvimento das telecomunicações brasileiras, atuando com independência, imparcialidade, legalidade, impessoalidade e publicidade, e, especialmente: I - implementar, em sua esfera de atribuições, a política nacional de telecomunicações.” Enfim, passa a ser da competência da ANATEL organizar a exploração dos serviços de telecomunicações no País, além de elaborar, administrar e manter os Planos Básicos de Distribuição de Canais (radiofreqüências). A Lei No. 9.472 veio a regular não somente o funcionamento das operadoras de TV a cabo, mas também constitui-se na primeira norma legal a abrir a possibilidade da existência de canais legislativos no Brasil, conforme transcrição abaixo (grifos nossos): CAPÍTULO V - DA OPERAÇÃO DO SERVIÇO Art. 23. A operadora de TV a Cabo, na sua área de prestação do serviço, deverá tornar disponíveis canais para as seguintes destinações: I - CANAIS BÁSICOS DE UTILIZAÇÃO GRATUITA: a) canais destinados à distribuição obrigatória, integral e simultânea, sem inserção de qualquer informação, da programação das emissoras geradoras locais de radiodifusão de sons e imagens, em VHF ou UHF, abertos e não codificados, cujo sinal alcance a área do serviço de TV a Cabo e apresente nível técnico adequado, conforme padrões estabelecidos pelo Poder Executivo; b) um canal legislativo municipal/estadual, reservado para o uso compartilhado entre as Câmaras de Vereadores localizadas nos municípios da área de prestação do serviço e a Assembléia Legislativa do respectivo Estado, sendo o canal voltado para a documentação dos trabalhos parlamentares, especialmente a transmissão ao vivo das sessões; 25 c) um canal reservado para a Câmara dos Deputados, para a documentação dos seus trabalhos, especialmente a transmissão ao vivo das sessões; d) um canal reservado para o Senado Federal, para a documentação dos seus trabalhos, especialmente a transmissão ao vivo das sessões; e) um canal universitário, reservado para o uso compartilhado entre as universidades localizadas no município ou municípios da área de prestação do serviço; f) um canal educativo-cultural, reservado para utilização pelos órgãos que tratam de educação e cultura no governo federal e nos governos estadual e municipal com jurisdição sobre a área de prestação do serviço; g) um canal comunitário aberto para utilização livre por entidades não governamentais e sem fins lucrativos; h) um canal reservado ao Supremo Tribunal Federal, para a divulgação dos atos do Poder Judiciário e dos serviços essenciais à Justiça;(Alínea incluída pela Lei nº 10.461, de 17.5.2002). Bernardo Lins, na página 4 de Análise Comparativa de Políticas Públicas de Comunicação Social, comenta que “Já se disse que a melhor legislação de comunicação social é não existir legislação alguma. Um exemplo amplamente citado nesse aspecto é dos Estados Unidos, em que os conflitos de liberdade de expressão são decididos com fundamento na interpretação da Primeira Emenda da constituição norte-americana - “Congress shall make no law ... abridging the freedom of speech of the press; ...”. Traduzindo: O Congresso não fará lei ... que restrinja a liberdade de expressão da imprensa ...”. Infere-se daí que o aparato jurídico norte-americano no que tange à imprensa faz-se fundamentar na plenitude das liberdades, inclusas no escopo da Emenda 1, a saber a liberdade de expressão, liberdade de empreendimento e auto-organização do setor de comunicação social. De fato, as democracias ocidentais primam pela preservação da liberdade de expressão, entendido como o direito individual que visa garantir a cada cidadão a própria realização, a formação individual e a busca da verdade, também, além de ser, por extensão, o direito essencial à promoção de uma sociedade auto-governada e livre do controle de abusos dos donos do poder. E prossegue Lins, afirmando que “A exploração dos serviços de comunicação social tem sido cada vez mais assumida, nas últimas décadas, pelo setor privado. Mesmos os países ocidentais que mantinham um modelo de monopólio estatal de alguns veículos, em especial a televisão, vêm abrindo seus mercados e admitindo a entrada, cada vez mais acentuada, do capital privado. Nesse contexto, a 26 alternativa encontrada por muitas administrações para aproximar a mídia de um papel social mais adequado às necessidades do sistema democrático tem sido a de promover políticas públicas de comunicação social.”(Lins, 2002, p.3) À luz das afirmações do autor, vê-se que o ato de regular, em se tratando dos meandros da comunicação social, excede as prerrogativas das funções de legislação, fiscalização e controle, passando obrigatoriamente pelas atribuições de apresentar, exercer influência, fornecer garantias e possibilidades de escolha, demonstrando concretamente a existência de caminhos diversos e diferentes lógicas que, ao final, criam ou ampliam canais de participação popular, reafirmando para os cidadãos seus direitos de escolha de maneira autônoma e consciente. Considerando o aparato jurídico-político atualmente em vigor no país, a realidade que se impõe é da supremacia de oligopólios comerciais detentores do direito à comunicação mediante chancela governamental, para além de limites democráticos palatáveis, o que per si desconfigura a função social da comunicação. No contraponto, e em escala minoritária, os poderes públicos federal e estaduais assumem a parte que lhes cabe apropriar do espaço de radiodifusão, pondo no ar as TVs públicas e estatais, dentre as quais citamos as iniciativas do Poder Legislativo com a criação da TV Senado, da TV Câmara e da TV Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, esta última objeto deste estudo de caso e sobre a qual nos deteremos nos próximos capítulos. 27 4 TV PÚBLICA E TV ESTATAL – Critérios diferenciais Antes de entrarmos no estudo de caso da TV Assembléia, consideramos de extrema utilidade algumas colocações a fim de estabelecer diferenciações entre TV pública e TV estatal. Para identificar o que se conceitua como TV pública, trazemos o exemplo da British Broadcasting Corporation – BBC, criada em 1922 e descrita por Lúcio Mesquita, diretor para as Américas da rede BBC, no módulo “A BBC e a cobertura da guerra: o caminho do jornalismo público” do programa Jornalismo Sitiado. Segundo Lúcio Mesquita, o modelo de financiamento e de funcionamento da BBC determinam a sua natureza de TV Pública. Conforme Mesquita, a BBC mantém-se independente do governo, mesmo sendo comandada por um conselho curador cujo presidente é nomeado por este governo, isto porque tal nomeação ocorre mediante processo de seleção publicado jornais de circulação no Reino Unido. Compete ao conselho curador a nomeação do diretor da BBC, cujo emprego não o vincula ao quadro de servidores públicos, tampouco lhe são concedidas as garantias de vitaliciedade e estabilidade próprias dos servidores concursados. As fontes de financiamento da BBC provêm do pagamento obrigatório de cerca de cento e vinte libras esterlinas anuais (equivalente a R$ 450,00) por residência na Grã-Bretanha, independente do número de aparelhos de cada domicílio. O montante arrecadado, na casa dos dez bilhões de reais por ano, não passa pelos cofres do tesouro, sendo transferido diretamente ao caixa da BBC. Com seis canais de TV – dentre eles o BBC Parlament, equivalente temático das TVs legislativas brasileiras -, dez emissoras de rádio, cerca de quarenta emissoras locais de TV e rádio - que juntas produzem cerca de cem horas diárias de noticiários – a BBC conta ainda com três orquestras sinfônicas, uma orquestra de jazz e um coral, além de um grande número de páginas na internet.. Considerando o modo de financiamento, o modelo de gestão e de operacionalização da BBC, tomamo-la como empresa pública, e não como órgão estatal. Leal Filho (2007; 2) destaca que a história da radiodifusão pública no Brasil é pobre em acontecimentos, dentre os quais se pode destacar a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923 e a implantação da Fundação Padre Anchieta em São Paulo, em 1969. Fundada por Edgar Roquette Pinto, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro mantinha-se às custas das contribuições particulares dos membros de clubes de ouvintes, tendo a Rádio, por razão de ser, objetivos definidos ligados exclusivamente à informação, à cultura e à educação, funcionando em total independência do Estado. E complementa: 28 “Na mesma época, a BBC de Londres surgia com um tipo de financiamento e objetivos semelhantes aos defendidos por Roquette Pinto. Há frases do fundador do rádio brasileiro, que são muito semelhantes aos de John Reith, primeiro diretor geral da emissora britânica. Por exemplo: enquanto no Brasil, na inauguração da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Roquette Pinto dizia que “todos os lares espalhados pelo imenso território brasileiro receberão o conforto moral da ciência e da arte” (SAMPAIO, M.F., 1984, pág, 113); na Inglaterra, John Reith afirmava que o objetivo do rádio “era o de levar para dentro do maior número possível de lares tudo o que de melhor existe em cada parte do esforço e realização humana e que fazer dinheiro não era negócio do rádio” (Leal Filho, 2007; 3, 4) Prossegue o autor: “No dizer do sociólogo Renato Ortiz, o presidente Getúlio Vargas, apesar de sua tendência centralizadora, tinha que compor com as forças sociais existentes (neste caso com o capital privado, que possuía interesses concretos no setor de radiodifusão). Não deixa de ser sugestivo observar que a própria Radio Nacional, encampada pelo governo Vargas em 1940, praticamente funcionava nos moldes de uma empresa privada. Seus programas (música popular, rádio-teatro, programas de auditório) em nada diferem dos outros levados ao ar pelas emissoras privadas. Se é verdade que o Estado utiliza e controla a Nacional através de sua superintendência, quando se olha a porcentagem da programação dedicada aos chamados ‘programas culturais’ observa-se que eles não ultrapassam 4,5%. Por outro lado, entre 1940 e 1946, o faturamento da emissora, graças à publicidade é multiplicado por sete. Ao que tudo indica, a acomodação dos interesses privados e estatais se realiza no seio de uma mesma instituição sem que ocorra maiores problemas. (ORTIZ, R., 1988, pág.53). Está aí a gênese da absoluta falta de limites entre o público e o privado na radiodifusão brasileira. Hoje ela se dá com o financiamento do Estado às empresas concessionárias dos serviços de televisão sob as formas de publicidade, patrocínios, renúncias fiscais, isenções alfandegárias, entre outras. O segundo momento da história da radiodifusão pública brasileira ocorre com a criação da Fundação Padre Anchieta em São Paulo que, institucionalmente, reproduzia o modelo da BBC de Londres. Como na emissora britânica, ela seria gerida por um Conselho Curador representativo da sociedade, com uma autonomia de gestão garantida pela figura jurídica do direito privado. Fator determinante para evitar qualquer tipo de interferência estatal.” (Leal Filho, 2007, p. 5) Abrimos espaço para também citar a existência da TV Ceará - TVC, emissora pertencente à estrutura do Poder Executivo, inaugurada oficialmente no dia 7 de março de 1974, com o nome de TV Educativa - TVE, durante o mandato do Governador César Cals – pai do deputado estadual Marcos Cals, sobre quem falaremos no próximo título. À época de sua criação, a meta da TVE era exclusivamente educacional. Segundo consta no site da emissora, “através do ensino a distância, a emissora conseguiu formar mais de 400 mil alunos 29 em todo o Estado.” Com o passar dos anos, a TVE deixou de ser uma emissora puramente educativa, passando a direcionar sua programação para a “formação da cidadania, valorizando a cultura regional e a informação jornalística.” Em 1993, na gestão do Governador Ciro Gomes, a TVE passou a chamar-se TVC, permanecendo como emissora oficial do Governo do Estado, sob a tutela da Fundação de Teleducação do Ceará – FUNTELC, atualmente vinculada à Secretaria da Casa Civil. Conforme o Artigo 2º da Lei nº 12.125, de 06 de julho de 1993, que determinou a criação da FUNTELC, são finalidades desta fundação: “I - difundir, através de programas da TV Ceará, as políticas públicas do Governo do Estado, com ênfase para as áreas de Educação, Cultura e Desporto, com a exibição de aulas da teleducação e de programas de debates; II - executar serviço de radiodifusão de caráter educativo, cultural e informativo; III - executar, ampliar, conservar e manter os serviços de retransmissão e repetição dos sinais da TV Ceará e de emissoras de caráter educativo e cultural, com as quais tenha celebrado convênio e/ou contrato, para retransmitir a sua programação para o Estado do Ceará; IV - criar, produzir e difundir programação cultural e jornalística, com ênfase para as manifestações regionais; V - programar e executar ações de Educação Profissional, presenciais ou a distância nos níveis básicos, técnicos e tecnológicos, na área de arte e cultura; VI - custear, total ou parcialmente, programas e projetos educacionais para a formação e qualificação profissional na área de Cultura e Desporto, mediante a concessão de bolsa aos instrutores que ministrarão os treinamentos." Em vias de migração para o sistema digital de transmissão, a TVC participa com reportagens da grade de programação da Rede Brasil, com a produção semanal de cerca de vinte horas de programas jornalísticos e de entretenimento. Financiada integralmente pelo governo estadual cearense, a TVC possui estrutura organizacional e plano de cargos e carreiras de servidores públicos. Desde sua criação, os objetivos da emissora permanecem intimamente relacionados às políticas públicas educacionais de educação à distância, à serviço das diretrizes e metas estabelecidas pela Secretaria da Cultura e Desporto. Confrontados estes exemplos, reiteramos, in fini, que inexistem normas legais ou conceituais para diferenciação dos tipos de TV em operação no Brasil. Consultada a legislação federal e estadual pertinente ao tema, bem como vasta bibliografia em Comunicação Social, nos deparamos com a ausência de caracterização e de normatização 30 sobre o assunto. Apegando-nos, pois, ao modo de financiamento e de gestão, temos que atualmente inexistem TVs públicas nacionais, minimamente compatíveis com o esquema adotado pela pioneira BBC. As TVs legislativas brasileiras, gênero do qual a TV Assembléia é espécie, se insere, portanto, no rol das TVs estatais, estas financiadas diretamente com recursos provenientes das transferências constitucionais pertencentes a cada ente – Senado Federal, Câmara dos Deputados e Assembléia. Quanto ao modo de gestão e de ocupação de cargos, as TVs legislativas realizam suas despesas em obediência às normas da Administração Pública, a saber: licitação, empenho, liquidação e pagamento. Os recursos humanos destacados para preencherem os cargos e funções das referidas emissoras de TV são oriundos do quadro de servidores públicos destas Casas, via de regra concursados, complementados com ocupantes de funções comissionadas. Atribuímos, então, a persistência da confusão entre serviço público e empresa estatal como mais um fruto da incipiente emancipação dos cidadãos brasileiros perante o exercício do poder democrático. Ousamos também apontar a parva experiência brasileira em TV pública como potencialmente prejudicial à formação de um público mais crítico em relação às TVs em geral. Sendo assim, concluímos que é justamente na diferença dos objetivos das TVs que se sobressaem a essência e a necessidade de implantação de emissoras públicas e estatais em circuito aberto. Longe de demonizar a iniciativa privada, o fato é que as empresas particulares são eminentemente comerciais, perseguem portanto o lucro e ancoramse na audiência para captação de volumes crescentes de verbas publicitárias, veiculando grades de programação baseadas em entretenimento e espetacularização. As TVs públicas situam-se no meio termo, também orientadas por uma lógica comercial que se ampara nas verbas publicitárias e no pagamento que fazem os usuários, mas que encontra na determinação e satisfação do público que a financia a própria razão de ser, refletida diretamente na grade de programação voltada aos interesses deste público. Nas estatais, a audiência não se faz refletir nas receitas da empresa, inexistem lucros, o espaço publicitário se restringe à veiculação de mensagens institucionais e a programação que vai ao ar trata do binômio resultante de informação e formação. É é exatamente neste ponto em que convergem a função social da imprensa e o compromisso com a cidadania que surgem as TVs legislativas brasileiras. No Brasil conhecidas como “canais governamentais”, tomamos o exemplo da pioneira TV legislativa brasileira, a TV Senado, com data de criação em 5 de fevereiro de 1996, mediante decreto do Senador José Sarney, à época presidente do Senado. Extraído do 31 site www.senado.gov.br/tvsenado, é função social da TV Senado divulgar a instituição Senado Federal e ofertar ao cidadão uma programação educativa e cultural de qualidade e diferenciada das emissoras comerciais. Fazendo o acompanhamento da execução orçamentária do Senado Federal e da Câmara dos Deputados nos exercícios de 2006 e 2007, disponível no site da Controladoria Geral da União (http://www.cgu.gov.br/Publicacoes /PrestacaoContasPresidente/), constatamos que tanto a TV Senado quanto a TV Senado são coordenadorias vinculadas às respectivas secretarias de Comunicação Social de cada uma destas Casas legislativas, não constituindo-se em unidades orçamentárias autônomas e independentes. Os recursos para investimentos e despesas correntes das TVs Câmara e Senado provêm das transferências constitucionais obrigatórias feitas pela União a cada um destes órgãos, assim como os quadros de pessoal são preenchidos por servidores públicos efetivos, mais eventuais ocupantes de cargos comissionados. De maneira semelhante à estas funciona a TV Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, criada em 7 de abril de 2006, destinada a transmitir inicialmente as discussões e votações do Plenário e das comissões, dando maior transparência e aproximando os cidadãos de seus representantes parlamentares. Na TV Assembléia inexiste autonomia financeira e administrativa; em nível organizacional a TV Assembléia é ligada diretamente à Coordenadoria de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. As despesas totais da TV Assembléia são autorizadas pela direção superior da Casa, assim como a designação de funcionários para estes setores, em sua maioria ocupantes do quadro permanente, somados aos detentores temporários de funções gratificadas ou comissionadas. Expostos estes exemplos diferenciais entre veículos de comunicação públicos e estatais, permanecem algumas características comuns aos dois gêneros, em especial a prestação do serviço de acesso à informação como um bem público, voltado essencialmente ao interesse público. Some-se a isto o fato de que a outorga de concessão para funcionamento de emissoras de radiodifusão é permissão para exploração temporária da atividade, e não a posse desta concessão, porquanto trata-se de um bem que é comum a todos e não pertencente a ninguém, pessoa física ou jurídica. Mas, para fins de delimitação conceitual, ao analisarmos detidamente a questão do financiamento e o modus operandi destes gêneros televisivos, entendemos tratar-se a TV Assembléia de um veículo estatal de comunicação concebido e mantido pelo Poder Legislativo cearense, cujas transmissões são pautadas pela cobertura diária dos eventos do parlamento. 32 5 A TV ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ 5.1 A opção pelo estudo de caso Para Godoy (1995, p.25, apud Bruno), o estudo de caso se caracteriza com um tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Visa o exame detalhado de um ambiente, de um simples sujeito ou de uma situação em particular. O propósito fundamental do estudo de caso é analisar intensivamente uma dada unidade social. O Estudo de Caso consiste em “um estudo profundo exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 1991, p. 59, apud Bruno). Temos ainda a conceituação de Yin, para quem estudo de caso é “uma forma de se fazer pesquisa empírica que investiga fenômenos contemporâneos dentro do seu contexto de vida real, em situações em que o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidos, onde se utiliza múltiplas fontes de audiência (YIN, 2001, p.23, apud Bruno).” De fato, o estudo de caso tem se mostrado o instrumento preferencial para investigações delimitadas pelo “onde” e pelo “quando” para se chegar ao “como” e ao “porquê” de determinados eventos. No caso específico da TV Assembléia, quase nada consta de controle ou mensuração de seus efeitos sobre o parlamento cearenses; no meio onde e para o qual foi criada, nada há de concreto, em dados, sobre os reflexos da TV Assembléia no seio do parlamento, sobre as alterações conseqüentes de suas transmissões no desempenho da atividade parlamentar. Com base nestas circunstâncias de carência de dados acerca de um evento tão atual e relevante como a dinâmica do parlamento, decidimos, pois, pela exploração e descrição da TV Assembléia, desde os mecanismos legais que iniciaram sua implantação até à repercussão quantitativa e qualitativa sobre o universo do parlamento estadual cearense. No questionário aplicado aos parlamentares, procuramos ampliar ao máximo as opções de respostas objetivas, que variaram de níveis ótimos a péssimos; e subjetivas, por meio de entrevistas complementares, invariavelmente estimuladas com a ponderação “Explique melhor sua resposta, Excelência” ou simplesmente “Como?”, no intuito de captar a complexidade e multiplicidade de opiniões acerca do tema. 33 Isto posto, cremos ter sido o estudo de caso o método ideal para a realização desta monografia, principalmente por revelar concretamente o que até então era mera presunção, intuição e senso-comum. Em suma, a pesquisa descrita nesta monografia procura comparar o desempenho da atividade do parlamento estadual cearense, verificada nos anos de 2006 e 2007, portanto antes e depois de ir ao ar a TV Assembléia. 5.2 Contexto e Cronologia Segundo explanação do jornalista Eugênio Bucci, no programa Jornalismo Sitiado, temos que “da cultura de massa e da indústria cultural, com suas características altamente ideológicas, quando a imprensa fala de poucos para muitos, através do rádio de massa, da TV de massa, da imprensa de massa, vivemos atualmente a quarta fase da imprensa, a fase das relações públicas generalizadas, quando não é mais apenas o capital que sustenta os órgãos de imprensa, os oligopólios de imprensa. Todas as instituições da sociedade hoje em dia se preocupam em acessar formas de expressão para se colocarem generalizadamente dentro da sociedade. Aí é que o Estado cria seus órgãos, como jornais, rádios e TVs, assessorias de comunicação, superando a predominância do comercial.” Como que cumprindo a profética assertiva de Bucci, em 24 de março de 2004 tem início na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará a tramitação do Projeto de Lei N.º 37/04, que cria os núcleos de televisão e rádio da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará – TV Assembléia e Rádio Assembléia Legislativa, e dá outras providências. De autoria da Mesa Diretora, eleita para o biênio 2005/2006 - formada à época pelos deputados Marcos Cals – PSDB (Presidente), Idemar Citó – PSDB (Primeiro Vice Presidente), Domingos Filho – PMDB (Segundo Vice Presidente), e Gony Arruda – PSDB, Fernando Hugo – PSDB, José Albuquerque - PPS e Gilberto Rodrigues - PHS, respectivamente Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Secretário – o Projeto compõe-se de sete artigos, cujo teor remete-se à organização, funcionamento e competências dos órgãos recém criados, destacando-se o preenchimento dos novos cargos de provimento em comissão e a determinação de que as despesas decorrentes correrão à conta das dotações orçamentárias próprias da Assembléia. Em 1º de abril de 2004, após parecer favorável da Procuradoria Jurídica da Casa, o Projeto é aprovado por unanimidade pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação, e em seguida enviado à 34 sanção do Governador Lúcio Alcântara – PSDB, titular do mandato para o período 20032006, em consonância com o mandato do Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Em 14 de abril de 2004, com a Lei n.º 13.451, ficam oficialmente criados a TV e a Rádio Assembléia. Isto posto, coube à Assessoria de Comunicação da Casa, na pessoa da titular do cargo, jornalista Christiane Sales, por determinação do Presidente Marcos Cals, proceder a ausculta técnica e pesquisa de mercado a fim de colher subsídios norteadores do esquema de instalação e projeto técnico de funcionamento da TV. Considerada a menina dos olhos de Marcos Cals - cuja família era proprietária da Rádio Dragão do Mar desde os anos 70 do século passado – a TV Assembléia demandou inúmeras reuniões com técnicos e montadores do setor de radiodifusão, além de diversas viagens à Brasília, com o intuito de acercar-se de informações e ao mesmo tempo agilizar a outorga da concessão da TV pelo Ministério das Comunicações, à época comandado pelo cearense Eunício Oliveira. Em 29 de setembro de 2005, é celebrado convênio entre a União, via Ministério das Comunicações, e o Governo do Estado do Ceará, por intermédio da Assembléia Legislativa, para execução de serviço de sons e imagens com fins exclusivamente educativos, em Fortaleza. No ano seguinte, precisamente em 22 de fevereiro, o Ministério da Comunicações faz publicar, no Diário Oficial da União, a Portaria n.º 66, aprovando o local de instalação e a utilização dos equipamentos da TV Assembléia. E assim, a partir de 7 de março de 2006, a TV Assembléia dá inicio, em caráter experimental, às suas transmissões, solicitando de imediato ao Ministério das Comunicações que proceda a vistoria técnica das instalações, ficando a critério deste, em qualquer época, cumprir a solicitação. Em 13 de março de 2006, a ANATEL, por meio do Ato n.º 56.729, outorga a autorização do uso de radiofreqüências à TV Assembléia, referente ao Processo n.º 53500.005799/2006, com publicação no Diário Oficial da União datado de 14 de março de 2006. O passo seguinte deste minucioso rito burocrático é o encaminhamento, em 26 de abril de 2006, de solicitação à ANATEL, através do Processo n.º 53000.049738/2006, do licenciamento da emissora TV Assembléia. No dia 14 de setembro de 2006, através do Ato n.º 67.133, o Plano Básico de Distribuição de Canais em VHF E UHF - PBTV, é alterado, ficando corrigidas as coordenadas geográficas da TV Assembléia, assim estabelecidas: Latitude : 03.º 45' 00" S, Longitude: 38.º 30' 08" W, com torre de altitude de 40 metros. Finalmente, em 06 de fevereiro de 2007, o Ministério das Comunicações emite a licença para funcionamento da estação N.º 000001/20007-CE para o serviço de radiodifusão 35 de sons e imagens da entidade 50402276981, Estação n.º 688248039. No dia 1º de março de 2007, o Ministério das Comunicações, através da Secretaria de Serviços de Comunicação Eletrônica e por meio do Ofício n.º 263/2007, encaminha à TV Assembléia Certificado de Licenciamento da Estação n.º 688248036, Executora do Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens – TV, Canal 30, em Fortaleza – Ceará. No dia 7 de março, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano – SEMAM concede a licença N.º 22/2006, para instalação da torre da TV Assembléia, na sede da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, sita à Avenida Desembargador Moreira, 2807 – Bairro Dionísio Torres, em Fortaleza. Inaugurada oficialmente aos 7 dias do mês de abril, desde então a TV Assembléia funciona em circuito aberto, com cobertura integral sobre os municípios componentes da Região Metropolitana de Fortaleza (Aquiraz, Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Guaiúba, Fortaleza, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Pacajus e São Gonçalo do Amarante) por vinte e quatro horas diárias, estendendo sua cobertura para todo Estado, via satélite, das 8:00h às 12:00h, de segunda à sexta-feira, mediante convênio firmado com a TVC. Pela internet, no site www.al.ce.gov.br/tvassembleia, a programação integral da TV Assembléia pode ser assistida por meio do Windows Media Player. Em cinco de julho de 2007, a Secretaria de Serviços de Comunicação Eletrônica, através da Portaria n.º 506, de 05 de julho de 2007, publicada no Diário Oficial da União de 20 de julho de 2007, tendo em vista o que consta no Processo n.º 53000.054305/2005, autoriza a denominação do nome de fantasia da emissora TV Assembléia. Em 24 de outubro deste ano, a TV Assembléia envia ao Ministério das Comunicações requerimento pela consignação de canal de radiofreqüência para transmissão digital, sob Processo n.º53000.061289/2007, em atendimento ao Art. 7.º do Decreto n.º 5.820, de 29 de junho de 2006 e à Portaria n.º 652, de 10 de outubro de 2006. A TV Assembléia - Canal 30, conforme definição extraída do site da emissora, “é mais um veículo de aproximação e interlocução entre o Poder Legislativo e a sociedade. Por meio da emissora, o Poder Legislativo oferece ao povo cearense um instrumento de acompanhamento do trabalho de seus representantes, de transparência de todos os atos emanados da Casa, de educação para a cidadania e de prestação de serviços comunitários.” Na grade de programação da TV Assembléia é prioridade a transmissão das sessões plenárias ordinárias e extraordinárias. Em não havendo tais sessões, ocupam a grade as reuniões das Comissões Técnicas ou as Audiências Públicas. Durante a noite, período em que geralmente cessam as atividades em plenário – exceção que se faz quando da realização de sessões solenes ou outros eventos – a TV 36 Assembléia leva ao ar freqüentemente a reprise de sessões e audiências, bem como programas produzidos pelas TVs Câmara e Senado, emissoras legislativas com as quais a TV Assembléia mantém convênio. Pelo site da TV Assembléia, apuramos que a estrutura organizacional da TV conta com os departamentos de jornalismo e de produção de documentários, que respondem pela complementação da grade, com a realização dos programas Jornal Assembléia, veiculado diariamente às 19h15min, com duração de 25 minutos, com as principais notícias do Poder Legislativo, abrindo espaço para a veiculação de matérias com viés educativo, social, econômico e cultural, com reprise às 8 horas do dia seguinte; o Questão de Ordem, programa de entrevistas, ao vivo, com deputados e personalidades, pautados pelos temas voltados para os interesses do Ceará, transmitido diariamente às 19h40min com reprise às 8h30min do dia seguinte; o Identidade Cultural, programa que aborda artes, espetáculos e manifestações culturais, com exibição duas terças-feiras ao mês; o Repórter Assembléia, programação quinzenal, com 45 minutos de duração, sobre temas relevantes para os cearenses; o Perfil, que é um programa sobre personagens de grande notoriedade (vivos ou falecidos) que fizeram e fazem história no Ceará, com 40 minutos de duração, exibido uma vez a cada 20 dias. Complementando a grade da TV Assembléia, shows musicais com artistas nacionais, e o Assembléia Notícias, que transmite flashes, nos intervalos da programação, sobre assuntos institucionais. 5.3 Do montante das despesas executadas pela TV Assembléia Por decisão da instância administrativa superior da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, a TV Assembléia não se constituiria em unidade orçamentária, sendo portanto as despesas executadas por meio de empenhos autorizados pela Diretoria Geral da Casa, comandada em no período 2003-2006 pelo ordenador de despesas Francisco Adail de Carvalho Fontenele, e sucedido a partir de 2007 por Sávia de Queiroz Magalhães. Assim, as despesas da TV Assembléia, extraídas do Balanço Geral do Estado do Ceará – Exercício Financeiro de 2006, foram vinculadas à unidade orçamentária “Administração Superior da Assembléia”, sendo executadas em nível de detalhe de projeto/atividade, a seguir codificadas: 01100001 – ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR DA ASSEMBLÉIA. 0103156020071 – INSTALACÃO E EQUIPAMENTO DA TV ASSEMBLEIA LEGISLATIVA E RADIO ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, totalizando R$221.066, 95 37 (duzentos e vinte e um mil, sessenta e seis reais e noventa e cinco centavos), a seguir demonstrado de acordo com a categoria econômica. DESPESAS CORRENTES R$71.431,95 DESPESAS DE CAPITAL *R$149.635,00 TOTAL DO PROJETO/ATIVIDADE R$221.066,95 *Total de Investimentos Referente ao exercício financeiro de 2007, temos ainda do Balanço Geral do Estado a seguinte apuração de resultado, com a alteração da denominação da atividade própria da TV Assembléia, ou seja, o que era instalação e equipamento passou a denominar-se, com a inauguração da TV, manutenção e funcionamento, como demonstramos a seguir 01100001 – ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR DA ASSEMBLÉIA 0103156020207 – MANUTENÇAO E FUNCIONAMENTO DA TV ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA E RADIO ASSEMBLÉIA, em montante de despesas realizadas da ordem de R$542.088, 31 (quinhentos e quarenta e dois mil, oitenta e oito reais e trinta e um centavos), conforme discriminação por categoria econômica: DESPESAS CORRENTES R$228.879,31 DESPESAS DE CAPITAL *R$313.209,00 TOTAL DO PROJETO/ATIVIDADE R$542.088,31 *Total de Investimentos Sobre os dados numéricos transpostos, salientamos a importância de se visualizar o crescimento da despesa total, na casa dos 145,2%, nestes dois exercícios sucessivos apurados, onde grupo dos Investimentos detém seguramente a maior parcela. Por oportuno, é importante frisar ainda que nos é dado visualizar apenas parte da despesa total da TV Assembléia, ou seja, somente demonstramos os dados financeiros referentes ao projeto/atividade que especificamente aludem à criação e à manutenção dos meios de comunicação do Poder Legislativo cearense, haja vista os grupos “Pessoal e Encargos Sociais” e “Outras Despesas Correntes” das despesas totais da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará abarcarem os dispêndios de todos os setores da Casa, inclusos nesses valores os gastos não especificados referentes ao custeio e à manutenção da TV Assembléia. Em 38 outras palavras: o custo total de implantação da TV Assembléia inclui do cafezinho à energia elétrica, da conta de telefone à passagem aérea, passando obrigatoriamente pelo pagamento de salários de servidores deslocados para o recém inaugurado setor, e tais despesas - ao contrário do rigor contábil da iniciativa privada - são computadas em todo, sendo impossível, portanto, mapear o volume de recursos despendidos exclusivamente com a TV Assembléia, o que reforça ainda mais a concepção desta emissora, em níveis de estruturação e de gestão, como veículo estatal de comunicação. 39 6 PESQUISA E RESULTADOS 6.1 Reflexos da TV Assembléia no parlamento estadual De acordo com Bourdieu, “o parlamento é uma espécie de arena no interior da qual se vai regular, pela linguagem e pelo voto, segundo certas regras, certo número de disputas entre pessoas que supostamente exprimem interesses divergentes ou mesmo antagônicos. A televisão vai produzir nesse campo efeitos análogos aos que produz nos outros campos.” (Bourdieu, 1997;91) Sobre esta ponderação, vale salientar que a “televisão” citada é generalizada, compreendendo toda e qualquer emissora, e não uma emissora temática do parlamento. Considerando que esta, a TV Assembléia, encontra-se plenamente inclusa na denominação “televisão” exposta por Bourdieu, nos preocupamos neste trabalho em verificar “in loco” os efeitos das transmissões da TV Assembléia sobre o parlamento estadual cearense, com base em resultados apurados em pesquisas quantitativa e qualitativa. Devemos salientar, portanto, que a TV Assembléia não realiza medições de audiência por meio de contrato com institutos de pesquisa, como é comum nas empresas comerciais. Por este motivo, não temos dados para afirmar com exatidão em que patamares se situa a TV Assembléia no rol de emissoras acessíveis aos telespectadores cearenses, razão pela qual não citamos a pontuação alcançada, o tipo de telespector e outras análises derivadas. Sendo assim, nossa pesquisa se restringe ao universo de parlamentares com assento na Assembléia Legislativa do Estado, em quem somente a pesquisadora aplicou o questionário anexo a este trabalho, o que se fez particular e isoladamente, de viva voz, durante os intervalos das sessões plenárias ou nos gabinetes; procedimento este que se fez acompanhar, em todos os casos, de entrevista, cujas respostas foram devidamente anotadas no espaço destinado a explicações e comentários. 6. 1.1 Pesquisa Qualitativa O modelo de questionário abaixo demonstrado foi aplicado durante a primeira quinzena de outubro de 2008 aos parlamentares em cumprimento de mandato efetivo na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. 40 Pesquisa Qualitativa Os resultados apurados neste questionário irão compor trabalho de conclusão de curso de Denise Gurgel do Amaral Sampaio, graduanda em Jornalismo pela Faculdade Sete de Setembro, que tem como objeto de estudo a TV Assembléia. Deputado _________________________________________________________ Mandatos (período de exercício) ______________________________________________ 1) Vossa Excelência assiste à TV Assembléia: ( ) Diariamente ( ) Freqüentemente ( ) Raramente ( ) Nunca 2) Vossa Excelência aponta mudanças no comportamento do eleitorado, após a implantação da TV? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, explique: _______________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3) Com a criação da TV Assembléia, a atuação parlamentar estadual mudou? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, explique: _______________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4) Vossa Excelência concorda que o incremento da atividade parlamentar apurado em 2006 e 2007 em relação aos exercícios anteriores é atribuído à implantação da TV Assembléia? ( ) Sim ( ) Não 5) Como Vossa Excelência classifica a programação da TV Assembléia? ( ) Ótima ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Péssima Comentário: ____________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 41 6.1.1.1 Análise de Resultados No desenvolvimento do questionário, a pesquisadora procurou manter-se isenta e aberta a todas as possibilidades de resposta. As perguntas objetivas 2 e 5 variam entre extremos positivo e negativo de freqüência e satisfação. As questões 1, 3 e 4, do tipo consulta plebiscitária, permitem ao entrevistado apontar se concorda ou não com a afirmação. Para melhor aquilatar as respostas, todas as questões abriram espaço destinado à argumentação, proporcionando ao parlamentar fazer os complementos necessários. Abaixo, tabulamos os dados obtidos: 42 DEPUTADOS EM CUMPRIMENTO DE MANDATO NA 27ª LEGISLATURA DA ASSEMBLÉIA DO CEARÁ NOME DO PARLAMENTAR RESPOSTA DA QUESTÃO 1 “Vossa Excelência assiste à TV Assembléia:” RESPOSTA DA QUESTÃO 3 “Com a criação da TV Assembléia, a atuação parlamentar estadual mudou?” Sim RESPOSTA DA QUESTÃO 4 “Vossa Excelência concorda que o incremento da atividade parlamentar apurado em 2006 e 2007 em relação aos exercícios anteriores é atribuído à implantação da TV Assembléia?” Freqüentemente RESPOSTA DA QUESTÃO 2 “Vossa Excelência aponta mudanças no comportamento do eleitorado, após a implantação da TV?” Sim Sim RESPOSTA DA QUESTÃO 5 “Como Vossa Excelência classifica a programação da TV Assembléia?” Boa 1. DOMINGOS FILHO – PMDB GONY ARRUDA – PSDB * FRANCISCO CAMINHA – Freqüentemente Freqüentemente Sim Sim Sim Sim Sim Sim Boa Boa JOSÉ ALBUQUERQUE-PSB* FERNANDO HUGO – PSDB * HERMINIO RESENDE – PSL Freqüentemente Diariamente Freqüentemente Sim Sim Sim Sim Sim Não sabe Sim Sim Não sabe Boa Boa Boa OSMAR BAQUIT – PSDB * SINEVAL ROQUE – PSB * ELY AGUIAR – PSDC * FERREIRA ARAGÃO – PDT * ADAHIL BARRETO – PR ANAPAULA CRUZ – PMDB ANTÔNIO GRANJA – PSB ARTUR BRUNO – PT AUGUSTINHO MOREIRA – Freqüentemente Freqüentemente Diariamente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Diariamente Freqüentemente Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Boa Boa Boa Boa Boa Ótima Boa Ótima Boa CARLOMANO MARQUES - Freqüentemente Não quis responder Sim Sim Boa CIRILO PIMENTA – PSDB DEDÉ TEIXEIRA – PT DELEGADO CAVALCANTE- Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Sim Não sabe Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Boa Boa Boa DR. SARTO – PSB DR. WASHINGTON - PRB EDÍSIO PACHECO – PV EDSON SILVA – DEM Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Sim Não sabe Não sabe Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não sabe Sim Sim Boa Boa Ótima Boa * 2. 3. PHS 4. 5. 6. * 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. PV 16. PMDB 17. 18. 19. PSDB 20. 21. 22. 23. 43 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. FRANCINI GUEDES – PSDB GOMES FARIAS – PSDC HEITOR FÉRRER – PDT IDEMAR CITÓ – PSDB JOÃO JAIME – PSDB LÍVIA ARRUDA - PMDB LUCÍLVIO GIRÃO – PMDB LUIZ PONTES – PSDB LULA MORAIS - PC do B MANOEL CASTRO – PMDB NELSON MARTINS – PT NETO NUNES – PMDB PAULO DUARTE – PSDB PERBOYRE DIÓGENES – Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não sabe Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não sabe Boa Boa Boa Boa Boa Ótima Boa Boa Boa Boa Ótima Boa Boa Boa PROFESSOR - Freqüentemente Sim Sim Sim Boa RACHEL MARQUES – PT ROBERTO CLÁUDIO – PHS RONALDO MARTINS - Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Boa Boa Boa SÉRGIO AGUIAR – PSB TÉO MENEZES – PSDB TOMÁS FIGUEIREDO - PSDB VASQUES LANDIM – PSDB WELINGTON LANDIM – PSB VALORES ENCONTRADOS Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Freqüentemente Diariamente - 4 Freqüentemente 42 Sim Sim Sim Sim Sim Não – 2 Não sabe – 4 Não quis responder – 1 Sim – 39 Sim Sim Sim Sim Sim Sim – 46 Sim Sim Sim Sim Sim Não sabe – 3 Sim – 43 Boa Boa Boa Boa Boa Ótima – 5 Boa – 41 PSL 38. TEODORO PSDB 39. 40. 41. PMDB 42. 43. 44. 45. 46. 47. * - MEMBROS DA MESA DIRETORA – 44 Os resultados apurados na Questão 1 apontam que 44 deputados, portanto mais de 90%, assistem freqüentemente às transmissões da TV Assembléia. O passo seguinte está direcionado para a possibilidade da TV Assembléia intermediar a relação entre o parlamentar e o eleitor/telespectador, o que se confirma com a apuração de também cerca de 90% respostas “Sim”, momento em que a grande maioria dos entrevistados declara-se surpresa com a audiência sentida - e não mensurada – da TV Assembléia. “Eu fico impressionado com a audiência da TV Assembléia. Onde eu chego as pessoas vêm comentar comigo alguma coisa aqui da Assembléia porque viram na televisão”, diz o deputado Luiz Pontes. O radialista e deputado Edson Silva, que também apresenta um programa de ocorrências policiais diariamente ao meio-dia, em uma emissora comercial (TV Cidade, afiliada à Rede Record), justifica assim a sua resposta “Não” à Questão 2: “Meu eleitorado é fiel ao meu programa na (TV) Cidade. O meu leitor não assiste à TV Assembléia; vez ou outra as pessoas comentam comigo sobre a TV Assembléia, mas é muito raro.” Na Questão 3, 100% dos parlamentares entrevistados responderam “Sim” à pergunta “Com a criação da TV Assembléia, a atuação parlamentar estadual mudou?”. Em suas explicações, os deputados sinalizam que eles próprios mudaram seus comportamentos em Plenário, mais cuidadosos em seus discursos e na apresentação pessoal. “Hoje em dia a gente tem que enfrentar fila para se inscrever como orador. Daqui a pouco o pessoal do (Departamento) Legislativo vai ter que distribuir senha para os deputados”, diz o deputado Fernando Hugo. Na opinião do deputado Sérgio Aguiar, estreando seu primeiro mandato, “a TV Assembléia é um divisor de águas na vida política cearense. É a mais eficaz ferramenta a favor da transparência e da participação popular”. E conclui: “Minha caixa de mensagens eletrônicas vive abarrotada de espectadores da TV Assembléia”, o que também afirmam os deputados Tomás Figueiredo, Roberto Cláudio e Professor Teodoro. “Com a TV Assembléia nós trabalhamos mais e melhor, cumprimos melhor nosso papel, ficamos mais próximos da sociedade”, ressalta o deputado Lula Morais. Ao serem perguntados se concordam que o incremento da atividade parlamentar deve-se à implantação da TV Assembléia, 43 deputados respondem que sim, enquanto três – deputados Perboyre Diógenes, Dr. Washington e Hermínio Resende – dizem não saber, o que justificam pelo fato de estarem no desempenho do primeiro mandato. A última Questão é o esboço de uma pesquisa de satisfação entre os protagonistas da TV Assembléia, cujo resultado permanece variando entre 10% e 90%, neste 45 caso em que a minoria (5 deputados) qualifica como “Ótima” o que a maioria (41) atribui como “Boa”. 6.1.2 Pesquisa Quantitativa – Demonstração e Análise de Resultados A pesquisa quantitativa deste trabalho tem como objetivo de examinar o desempenho da atividade dos parlamentares estaduais cearenses durante os anos de 2006 e 2007. Para tanto, tivemos que considerar o universo de deputados estaduais destes anos, comparando com a atividade parlamentar atestada pela instância competente dentro da estrutura da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, o Departamento Legislativo. Diretoria responsável pela condução dos trabalhos legislativos, o Departamento Legislativo realiza anualmente os balanços da produção legislativa discriminada por parlamentar, o que inclui desde a freqüência às sessões aos pronunciamentos na tribuna do Plenário 13 de Maio, passando obrigatoriamente pela natureza e quantidade de proposições apresentadas. Dessa maneira, transcrevemos parcialmente os dados oficiais fornecidos pelo Departamento Legislativo, os quais passamos a listar, iniciando pela quantidade de pronunciamentos: DEPUTADO 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. ADAHIL BARRETO ANAPAULA CRUZ ANTÔNIO GRANJA ARTUR BRUNO AUGUSTINHO MOREIRA CAETANO GUEDES CÂNDIDA FIGUEIREDO CARLOMANO MARQUES CHICO LOPES CIRILO PIMENTA DEDÉ TEIXEIRA DEL.CAVALCANTE DOMINGOS FILHO DR. WASHINGTON EDÍSIO PACHECO EDSON SILVA ELY AGUIAR FERNANDO HUGO FERREIRA ARAGÃO FRANCINI GUEDES FRANCISCO AGUIAR FRANCISCO CAMINHA PRONUNCIAMENTOS 2006 30 01 01 73 0 05 02 24 61 0 0 44 02 0 0 0 0 66 0 05 03 40 PRONUNCIAMENTOS 2007 45 08 03 25 84 0 0 34 0 37 34 03 44 04 06 17 36 71 26 0 0 55 46 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. FROTA CAVALCANTE GERARDO SOARES GILBERTO RODRIGUES GISLAINE LANDIM GOMES FARIAS GONY ARRUDA GUARACY AGUIAR HEITOR FERRER HERMINIO RESENDE IDEMAR CITÓ IRIS TAVARES IVO GOMES JAZIEL PEREIRA JOÃO JAIME JOSÉ ALBUQUERQUE JOSÉ GUIMARÃES JOSÉ SARTO JULIO CESAR LEDA MOREIRA LEONARDO PINHEIRO LÍVIA ARRUDA LUCILVIO GIRÃO LUIZ PONTES LULA MORAIS MANOEL DE CASTRO MARCELO SOBREIRA MARCOS CALS MARCOS TAVARES MAURO FILHO MEIRE COSTALIMA MOÉSIO LOIOLA NELSON MARTINS NENEN COELHO NETO NUNES OSMAR BAQUIT PAULO DUARTE PEDRO TIMBÓ PERBOYRE DIÓGENES PROFESSOR TEODORO PEDRO UCHOA RACHEL MARQUES ROBERTO CLÁUDIO ROGÉRIO AGUIAR RONALDO MARTINS SAVIO PONTES SÉRGIO AGUIAR SILVIO FROTA SINEVAL ROQUE 0 06 04 05 10 10 03 64 0 03 41 04 14 41 06 25 02 0 01 01 0 05 0 0 01 10 45 03 08 03 03 110 0 0 31 05 01 0 0 15 40 0 0 05 03 0 44 0 0 0 0 0 10 23 0 109 30 0 0 0 0 35 03 0 01 08 0 0 0 12 22 63 03 0 02 0 0 0 07 166 10 13 37 0 0 02 86 0 31 35 03 14 08 35 0 05 47 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. STANLEY LEÃO TÂNIA GURGEL TÉO MENEZES TOMÁS FIGUEIREDO VASQUES LANDIM VIRGINIA CARVALHO WELINGTON LANDIM ZÉMARIA PIMENTA ZEWILSON CHAVES TOTAL 10 26 06 0 0 0 0 46 07 1023 15 0 24 35 03 0 56 0 0 1441 Fonte: Departamento Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará Nota: Em outubro de 2006 aconteceram no Brasil as eleições para presidente da república, governadores estaduais e para deputados federais e estaduais. No Ceará, o percentual de renovação da Assembléia Legislativa ocorreu em torno de 43,47%, com a posse de 20 novos parlamentares para cumprimento do mandato 2007-2010. Considerando ainda a dinâmica própria dos parlamentos, caracterizada pelo afastamento dos recém eleitos para assumirem funções públicas nos poderes executivos estadual e municipal, para concorrerem às eleições municipais ou ainda pelo licenciamento do mandato por motivos de saúde ou razões pessoais, nos deparamos com periodicidades distintas dentro de um mesmo universo, sendo portanto inconseqüente sob o ponto de vista metodológico tentar promover a equiparação da razão parlamentar/número de pronunciamentos. Nos atemos, pois, ao crescimento agregado do total de pronunciamentos em tribuna, que de 2006 para 2007 recebeu um incremento da ordem de 40,8%. Isto posto, cremos ter explicitado o porquê de 79 parlamentares listados, portanto 33 parlamentares além da capacidade constitucional determinada para o parlamento cearense, que são 46 cadeiras. Para melhor visualização, colocamos em destaque – sombreamento cinza – as 26 linhas dos deputados eleitos para o mandato 2003-2006 e reeleitos para 2007-2010. Passamos agora à demonstração de números referentes à rotina do parlamento e também aqui percebemos um acréscimo. Vale salientar que o número de sessões é de difícil elasticidade, haja vista o período semanal de funcionamento do parlamento estadual cearense, fixado de terça à sexta-feira, programado para iniciar-se a partir de 08h30min, com duração até o final da fala do último orador inscrito para a tribuna. SESSÕES REALIZADAS 2006 2007 VAR. % SESSÃO PREPARATÓRIA 1 02 100% SESSÕES ORDINÁRIAS 136 163 19,8% SESSÕES EXTRAORDINÁRIAS 95 89 -6,3% SESSÕES EXTR. ESPECIAIS 18 03 -83,3% SESSÕES SOLENES 19 27 42,1% SESSÃO ITINERANTE 0 02 200% TOTAL 269 286 6,3% Fonte: Departamento Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará 48 No quadro acima, mais uma vez chamamos atenção para o baixo potencial de elasticidade do número de sessões, sejam elas de qualquer natureza, dadas as limitações impostas pelo calendário legislativo, cuja demarcação anual estabelece os seguintes períodos ordinários: de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. Apesar deste fator limitante, o número de sessões realizadas em 2007 supera em 19,8% o total de 2006. EVENTOS EM PLENÁRIO 2006 PRIMEIROS E SEGUNDOS EXPEDIENTES (discussões, homenagens e 20 comemorações) Seminários, Fóruns, Audiências Públicas e Solenidades 46 TOTAL 66 2007 VAR. % 23 15% 105 128 128,3% 93,9% Fonte: Departamento Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará Percebemos, pois, pelo quadro Eventos em Plenário, um substancial crescimento na quantidade de Seminários, Fóruns, Audiências Públicas e Solenidades, que subiu de 46 em 2006 para 105 em 2007, representando um incremento real da ordem de 128,3%. A este respeito, lembramos que todos os eventos acima listados são transmitidos ao vivo e reprisados pela TV Assembléia. Passemos então à materialização da produção legislativa: PROPOSIÇÕES 2006 2007 PROPOSTAS APRESENTADAS (inclui projetos de lei ordinária, de lei complementar, de resolução, de indicação, de emenda constitucional e de decreto legislativo) 258 852 REQUERIMENTOS 2076 5331 Fonte: Departamento Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará VAR.% 230.2% 156.8% Este último conjunto de dados agrega os instrumentos materiais da produção parlamentar, fazendo valer a própria razão de ser dos parlamentos, tendo em mente que são funções precípuas dos legisladores, de todas as esferas de poder, legislar e fiscalizar o Poder Executivo correspondente. Com crescimento na casa dos 156,8% em relação à apresentação de requerimentos e de 230,2% de aumento apurado na quantidade de proposições apresentadas, é incontestável o aumento da produção parlamentar de 2007 em relação ao exercício de 2006. 49 7 CONCLUSÕES E R ECOMENDAÇÕES 7.1 Conclusões Este estudo de caso surgiu com a inquietação da pesquisadora acerca dos reflexos da TV Assembléia sobre a dinâmica do parlamento estadual cearense, especificamente sobre o incremento da produção legislativa. A fim de validar a hipótese de que as transmissões da TV Assembléia extrapolam as ações de formar opinião, informar e entreter; que promovem maior aproximação e efetiva interação entre os deputados estaduais e a sociedade - e portanto das demandas desta – e conseqüentemente geram um acréscimo na apresentação de proposituras, aplicamos questionários qualitativos individuais, com o objetivo de auscultar os deputados sobre como se dá a intermediação da TV Assembléia com a sociedade. Para fortalecer a hipótese, ancoramo-nos nos indicadores oficiais da atividade legislativa no período 20062007, listando os pronunciamentos, os eventos promovidos e a quantidade de propostas apresentadas, acompanhados de respectivos cálculos de variação percentual. Ao final deste estudo, concluímos que a TV Assembléia responde diretamente por alterações positivas qualitativas e quantitativas no pulsar da Assembléia Legislativa no período em análise, o que se verifica no fomento à produção legislativa, nos subsídios fornecidos pela sociedade aos legisladores para a elaboração de leis e, por extensão, fortalece a democracia representativa em nível local. Durante a realização deste estudo, a conclusão não menos relevante de que a TV Assembléia é uma emissora financiada e gerida pelo poder público, destinada à prestação de serviço público, mas nem por isso classificada como emissora pública de televisão. A TV Assembléia é, pois, uma TV estatal, cuja outorga foi concedida ao Governo do Estado do Ceará com operacionalização a cargo da Assembléia Legislativa. Situada no rol das televisões governamentais, lembramos que a TV Assembléia não se caracteriza como empresa estatal, haja vista não possuir autonomia administrativa indispensável à constituição de empresas, sejam públicas ou privadas. 50 7.2 Recomendações Nada mais apropriado para a construção de uma TV ideal do que capacitá-la a carregar suas transmissões com as informações necessárias para que o cidadão forme opinião livre sobre o que se apresente para opinar, discernir, eleger.Tendo em mente o quanto importa saber se a TV Assembléia abastece o cidadão dos dados necessários para tirar suas conclusões e para que ele forme autonomamente a sua opinião e a sua vontade, recomendamos que a TV Assembléia firme contrato com instituto de pesquisa de opinião a fim de, sistematicamente, medir e ouvir a audiência, realimentando-se de dados e aperfeiçoando-se continuamente. A este respeito, é imprescindível dizer que, para este trabalho, nos teria sido de grande valia podermos dispor dos números e do perfil da audiência, de modo a confrontá-los com as afirmações de surpreendentes níveis sentidos pela maioria dos parlamentares entrevistados. Sobre este assunto, nos Valemos de Bourdieu, em Sobre a Televisão (1997, página 115): “Salvo quando se utiliza das liberdades e dos poderes críticos que lhe são assegurados por sua autonomia, a imprensa, sobretudo televisiva (e comercial) , age no mesmo sentido que a pesquisa de opinião, com a qual ela própria deve contar; embora possa servir também de instrumento de demagogia racional tendente a reforçar o fechamento sobre si do campo político, a pesquisa de opinião instaura com os eleitores uma relação direta, sem mediação, que descarta todos os agentes individuais ou coletivos (tais como os partidos ou os sindicatos) socialmente delegados para elaborar e propor opiniões constituídas; ela despoja todos os mandatários e todos os porta-vozes de suas pretensões (partilhada pelos grandes editorialistas do passado) ao monopólio da expressão legitima da “opinião pública” e, ao mesmo tempo, de sua capacidade de trabalhar em uma elaboração crítica (e por vezes coletiva, como nas assembléias legislativas) das opiniões reais ou supostas de seus mandantes.” Recomendamos, por oportuno, que a TV Assembléia se esforce por ampliar, a curto prazo, o alcance de suas transmissões. Isto posto, repetimos pela urgência de garantir que a TV Assembléia – assim como todos os serviços públicos - chegue efetivamente para todos os cidadãos e não apenas para habitantes privilegiados da Região Metropolitana de Fortaleza. Nesse sentido, volvemos novamente a Bourdieu (1997, p. 96): “Os fundadores da República, no século XIX, diziam, ..., que o fim da instrução não é unicamente saber ler, escrever, contar, para poder ser um bom trabalhador, mas também dispor dos meios indispensáveis para ser um 51 bom cidadão, para estar em condição de compreender as leis, de compreender e defender seus direitos, de criar associações sindicais... É preciso trabalhar pela universalização das condições de acesso ao universal.” Para fins de dimensionamento econômico-financeiro, ressentimo-nos da impossibilidade de visualizar o total de recursos e a especificidade dos gastos da TV Assembléia. Nas demonstrações contábeis da Assembléia Legislativa, a TV Assembléia recebe o trato de mero projeto (Instalação e equipamento da TV Assembléia Legislativa e Rádio Assembléia Legislativa e Manutenção e Funcionamento da TV Assembléia Legislativa e Rádio Assembléia), no qual não se especificam os elementos de despesas, a exemplo de pagamento de pessoal e encargos sociais decorrentes. As despesas da TV Assembléia são, portanto, diluídas nas demonstrações contábeis da unidade orçamentária Assembléia Legislativa; agrupadas em TV e Rádio Assembléia. Recomendamos, portanto, maior transparência nas contas da TV Assembléia e, para tanto, sugerimos que a emissora deixe de ser gerida como projeto ou atividade da Casa e passe a ser uma entidade orçamentária em separado, com receitas e despesas devida e claramente especificadas. Feitas estas recomendações, resta citar a necessidade de que novos trabalhos se somem a este, enriquecidos com dados da audiência (inclusive internautas) e com números exatos acerca dos recursos despendidos pela TV Assembléia. O tema TV Assembléia até o momento permanece inédito em formato acadêmico, e tantos quantos estudos se façam sobre a TV Assembléia certamente agregarão valor para a compreensão global do assunto. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERT, P. & TERROU, F. (1970). História da Imprensa. São Paulo, Martins Fontes, 1990. BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor ,1997. BUCCI, Eugênio, KEHL, Maria Rita. Videologias: Ensaios sobre a televisão. São Paulo, Boitempo, 2004. CARVALHO, Gilmar de. A televisão no Ceará: Indústria Cultural, Consumo e Lazer. Fortaleza, Omni Editora Associados, 2004 MARX, Karl (1867). O Capital – Crítica da Economia Política. Volume I – O Processo de produção do capital. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1988. 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Reproduzido do boletim e-Fórum nº 146, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicaçãohttp://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=427IPB004 DVD Jornalismo Sitiado – Imprensa, Mercado e Democracia – Dos meios de comunicação de massa às gerações públicas generalizadas / A BBC e a cobertura do governo / O caminho do jornalismo público. Programa gravado no Espaço Cultural CPFL, em outubro e novembro de 2005, com curadoria dos jornalistas Eugênio Bucci e de Sidney Basil. Patrocinado pela Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL Paulista. Produzido pela Log On Editora Multimídia para a Fundação Padre Anchieta. DVD disponível para locação na Distrivídeo. SITES RECOMENDADOS http://www.al.ce.gov.br http://www.al.ce.gov.br/tvassembleia/ http://www.anatel.gov.br http://www.bbc.co.uk/portuguese/ http://www.camara.gov.br/internet/tvcamara http://www.ceara.gov.br http://www.ebc.tv.br/ http://www.ibge.gov.br/home/ http://www.mc.gov.br/ http://www.observatoriodaimprensa.com.br http://www.radiobras.gov.br http://www.senado.gov.br/TV/ http://www.tvceara.ce.gov.br