Ágora
jornal
Ágora, ideias jornalísticas
Guarapuava-PR, 2012
Ed. 02, ano 02
Até que venha a liberdade
Foto: Helena Krüger
Desde pequeno, Adriano Torres já sabia que cuidar dos
animais era sua vocação. Hoje o veterinário trabalha para que
animais selvagens estejam protegidos e bem cuidados, enquanto
aguardam o retorno para a natureza. Seu vínculo com eles vai além
da relação profissional. Para ele, os animais precisam ser atendidos com
carinho e, com eles, diz ter aprendido o significado da gratidão. p. 13
As implicações
do alcoolismo na
juventude. p. 3
Choque cultural: da
Europa para aldeias
indígenas. p. 8
As experiências e
aprendizados do
Projeto Rondon. p. 11
Legislativo Online:
projeto promove
transparência. p. 14
charge
ao leitor
Destinado
aos lúcidos
Após conhecer a
surrealidade presente
no rock progressivo/
psicodélico, o desenhista
Juliano Santos passou
a focar em obras com
caráter abstrato.
Desde então, temas
relacionados a sonhos,
meditação e a própria
mente completam seu
portifólio. Na maioria
das vezes, cria sem se
preocupar, deixando a
imaginação ativa, buscando
um lado visionário.
“Grande parte destes
trabalhos são expressões
de um processo de
transformação espiritual
que tenho vivido nos
últimos anos. Boa parte
orientado pela busca
de entendimento da
psicologia analítica
de Carl Jung e a Yoga,
que é, basicamente,
uma procura do
entendimento
individual”.
Yorran Barone
Sob escaldante sol diário, inicio
minha maravilhosa rotina neste
igualitário município, a terra de
todos. Como não vangloriar, sendo
morador de sítio tão próspero,
comandado por indivíduos que se
preocupam com as pouquíssimas
deficiências locais.
Cabeças permanecem tranquilas, pois somos referencias no trato
de políticas públicas. Sistema de
saúde perfeito; educação, então, não
há o que falar, mas foco, principalmente, no que tange as minúsculas
diferenças sociais.
No rodeio sagrado, nos deparamos com bairros devidamente cuidados, que nada difere do centralismo presente. Todos com riquíssima
infra-estrutura, que vão de acordo
com as necessidades nativas.
Anualmente, somos presenteados com a belíssima Expogua,
evento com a faceta guarapuavana,
destinada aos munícipes e recheada
de atrações que encantam até nossos vizinhos do Centro-Oeste.
E o cavalo, prefeito. Obra
magnífica e repleta de histórias,
tanto que o Zé Maria enxerga seu
passado no busto, devidamente
vigiado pelas lentes precavidas
da autoridade.
Sinceramente, não há reduto
melhor para se viver. Homenagens
póstumas aos verdadeiros responsáveis, como César Roberto Franco,
Vitor Hugo Ribeiro Burko, além
do atual líder, Luis Fernando Ribas
Carli, um exemplo!
Enfim, limito as palavras ao
Executivo, sempre representado
dignamente, sem esquecer dos
grandes nomes que completam o
ciclo dos três poderes.
Bom, é hora da partida e como
falamos destes encantos, tenho que
seguir com constante medicação
imposta desde a adolescência. Remédio ótimo que me faz enxergar
claramente a benção de residir
neste chão sagrado.
Um abraço a todos e ótima
programação!
Ágora
jornal
Juliano Santos
Acadêmico de Arte e
Educação.
“O problema do mundo de hoje é
que as pessoas inteligentes estão
cheias de dúvidas, e as pessoas
idiotas estão cheias de certezas”.
Charles Bukowski
expediente
Departamento de Comunicação
Coord. Prof. Edgard Melech
Jornal Laboratório
Prof. Anderson Costa
Editor da Edição 02
Yorran Barone
02
Redação:
Ana Carolina Pereira, Bárbara
Brandão, Ellen Rebello,
Gabriela Titon, Giovani
Ciquelero, Helena Krüger,
Nathana D’Amico, Katrin
Korpasch, Luciana Grande,
Mario Raposo Junior, Poliana
Kovalyk, Vinícius Comoti,
Yorran Barone e Yarê Protzek
Contato: (42) 3621-1088
E-mail: jornalagora.unicentro@
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O Jornal Laboratório Ágora é
desenvolvido pelos acadêmicos
do 4º ano de Jornalismo. Todos os
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comportamento
Alcoolismo: um problema que pode
ser detectado ainda na juventude
Entre os jovens o consumo elevado de álcool é entendido como “normal”, mas é
preciso estar atento aos riscos de um futuro problema com alcoolismo
Matéria e diagramação:
Luciana Grande
Sair de uma festa, depois de
ter tomado dez latinhas de cerveja
e um shot de tequila, ligar o carro e dirigir até em casa. Acordar
com dor de cabeça no outro dia e
lembrar-se das coisas vergonhosas
que fez. Essa é uma situação corriqueira e “normal” no dia-a-dia de
muitos jovens. No entanto, é necessário estar atento à frequência e
quantidade do consumo de bebidas alcoólicas, porque tanto a curto quanto a longo prazo, situações
como esta podem estar associadas
ao alcoolismo.
O ponto de vista deles
Fernando*, de 21 anos, é estudante e consome bebidas alcoólicas em média quatro vezes por
semana. A quantidade varia conforme a disponibilidade no dia,
a companhia e os compromissos
posteriores. Segundo ele, muitas
aulas já foram perdidas por conta
de uma ressaca. Também já deixou
de ir para a casa dos pais no fim de
semana pelo mesmo motivo. Além
disso, já passou por situações embaraçosas pelo fato de ter bebido
demais. “Uma vez bebi muito e minha mãe precisou me buscar onde
eu estava, porque eu não conseguiria ir embora sozinho. Eu estava
passando mal e os seguranças do
local deram um jeito de contatá-la.
Não foi legal a decepção que meus
pais tiveram comigo, fora a vergonha que passei no lugar, é claro”.
Fernando* conta, também, que o
seu pai não gosta que ele beba na
presença de outros familiares. Isso
porque tem medo que o filho faça
alguma coisa errada.
Apesar de exagerar na quantidade de bebidas alcoolicas algumas
vezes, Fernando* não se orgulha
das situações que esse ato possa
ocasionar. “Rir da situação entre
amigos pode ser, mas chegar ao
ponto de comunicar o ocorrido
aos quatro ventos é desnecessário
e feio. Quando viro assunto por
alguma situação desagradável de
alguma vez que eu estava bêbado,
dou um jeito de desviar a conversa”.
O jovem, que recentemente
parou de fumar (após seis anos
viciado) comenta que não acredita
que a bebida possa vir a se tornar
um vício ou problema na sua vida.
Ele explica que vê isso como uma
fase, principalmente pelo fato de
ser jovem e estar na faculdade,
já que a maioria dos seus amigos
bebe tanto quanto ele, ou até mais.
“Não bebo mais como bebia com
18 anos. Não me preocupo com a
bebida se tornando um vício”.
Já Thiago*, 22 anos, consome
bebidas alcoólicas toda semana,
sendo que a frequência varia conforme o período, humor, entre
outras coisas. Ele conta que não
sabe como se sentiria caso ficasse
muito tempo sem beber, porque
nunca passou por isso desde que
começou a beber. “Há alguns dias
eu estava tomando um antibió-
* Os nomes foram modificados
para preservar a identidade dos
personagens desta reportagem.
tico e precisei ficar uma semana
sem álcool. Foi bem ruim, porque
quando eu saía não tinha a mesma
graça. Parecia que faltava alguma
coisa”. O jovem comenta, ainda,
que não sabe dizer com precisão a
quantidade que bebe em cada situação. “Eu tomo uma, duas, três,
dez cervejas e de repente já estou
bêbado, sem nem sequer ter me
dado conta disso”.
Thiago* explica que, algumas
vezes, o consumo excessivo de álcool traz consequências negativas
em sua vida. A ressaca física e moral é um grande problema. Ele já
passou vergonha muitas vezes por
conta disso. Dirigir alcoolizado
também é algo comum para o jo-
03
entrevista
a banda curitibana
mistura estilos
de música.
“I want to do
a tropical
splash you”
Foto: Luciana Grande
vem. “Uma vez, quando estava alcoolizado, bati o retrovisor do carro em um poste, mas nada grave.
Eu tenho um pouco de medo, mas
não acho que assuma algum risco.
É uma culpa consciente”.
O jovem acredita, também,
que o consumo de bebidas alcoólicas faz parte do processo
de amadurecimento das pessoas
e é uma espécie de desinibidor
social. “O excesso realmente faz
mal, mas eu não me vejo sendo
afetado pela bebida. Apesar de
ter histórico de alcoolismo na
família, não me vejo como eles e
espero não ter que lidar com esse
problema. Eu gosto de beber, isso
é uma verdade, só que não considero isso um vício”.
Parecer clínico
De acordo com o psicólogo
Anderson Neves, que coordena
um grupo de apoio para alcoolistas, o histórico familiar de alcoolismo é o primeiro fator que deve
ser considerado para determinar
se o jovem tende a sofrer dessa doença, já que isso aumenta a
probabilidade. Outro aspecto que
pode influenciar é o círculo social
ao qual ele pertence, que reflete na
frequência e quantidade do consumo. “Normalmente não se associa
o alcoolismo a juventude porque
04
Foto: Divulgação
a banda copacabana club
faz música com energia e é
uma das novas promessas
da música brasileira no
Muitos jovens tem seu
desempenho nos estudos e no
trabalho afetado pelo consumo
elevado de álcool, no entanto,
consideram isso normal
nessa fase é normal beber. A aceitação do álcool na nossa sociedade
é muito grande, mas, muitas vezes,
às pessoas esquecem que ele é uma
droga e causa dependência química”. Além disso, o psicólogo ressalta
que um dos principais indicativos
de alcoolismo em uma pessoa é o
fato de ela beber logo pela manhã.
“
“Quando uma
pessoa está viciada
em drogas, se
for analisado o
seu histórico,
geralmente ela
começou com o
álcool”
”
No grupo de apoio em que Anderson trabalha, o mais novo que
procurou ajuda por conta de problemas com álcool foi um rapaz de
18 anos, mas a questão dele estava
associada à outras drogas também.
De maneira geral, quem busca ajuda são pessoas mais velhas. “Normalmente eles já são alcoolistas
desde os 20 anos de idade, mas vão
convivendo com isso, até o momento em que o vício é tão forte que
chega a atrapalhar a própria vida ou
das pessoas que estão ao seu redor”.
Outro fator que se relaciona
com o consumo excessivo de álcool na juventude (e pode ocasionar
o alcoolismo) é a aceitação em determinados grupos sociais, o que
é o caso de muitos universitários.
Algumas vezes, para fazer amizades ou adquirir determinado status social, eles recorrem ao álcool.
Outros vícios também podem
gerar influência no consumo de
bebidas alcoolicas. O álcool, tal
como o cigarro, é um ansiolítico
(redutor de ansiedade), por isso
um vício pode se associar ao outro.
“Quando uma pessoa está viciada
em drogas, se for analisado o seu
histórico, geralmente ela começou
com o álcool. Eu li alguns estudos
que mostram que a porta de entrada para outras drogas não é a
maconha, como costumam dizer,
é o álcool. Isso porque ele te leva a
situações e ambientes que podem
ocasionar o contato com outras
drogas”, explica o psicólogo.
Anderson ressalta que é preciso buscar ajuda após identificar os fatores descritos, como o
histórico familiar, a frequência e
a quantidade. O apoio da família é fundamental, já que entre
os jovens há certa dificuldade
em aceitar o problema do alcoolismo, uma vez que o consumo
é visto como algo normal. “Os
jovens não acham que precisam
parar de beber. Até em pessoas
mais velhas a gente percebe isso.
Quem nota são as pessoas mais
próximas a eles. Mas entre os jovens a resistência é muito maior”.
mercado exterior
Matéria e diagramação:
Bárbara Brandão
Na estrada desde 2007,
a banda Copacabana Club é
formada atualmente por quatro
integrantes: Alec Ventura, Camila
Cornelsen, Claudinha Bukowski
e Tile Douglas. O som do grupo
curitibano é uma mistura de
música eletrônica com indie rock
e todas as canções são em inglês.
Just Do It teve mais de 100 mil visualizações no YouTube. Algumas
canções já foram trilha sonora de
vinhetas da MTV Brasil e de um
comercial da rede de TV internacional Fox. Em turnê em Londres,
a vocalista Camila Cornelsen concedeu uma entrevista por e-mail
ao Ágora Jornal.
Vocês foram convidados a
cantar em Londres recentemente.
Como foi isso? O que isso representa para a carreira de vocês?
A gente tinha o lançamento
do disco programado desde o
ano passado, num selo digital
chamado PIAS. Por causa desse
lançamento, surgiu esse convite. A
gente nunca tinha feito nenhuma
turnê na Europa. Acho bacana a
oportunidade de mostrar o nosso
trabalho em outros lugares.
Vocês pediram ajuda financeira aos fãs para a turnê em
Londres. Como surgiu essa ideia?
A banda entrou em férias no
fim do ano passado. Nesse período
dois integrantes saíram e dois entraram. Não tivemos muito tempo
para nos reestruturar. Fizemos
apenas duas apresentações antes
de vir fazer a turnê em Londres.
passo grande e importante para a
banda tocar aqui. Outras oportunidades poderiam surgir fazendo
essa turnê e não teríamos como
fazer sem ajuda. A campanha foi
um sucesso. Tivemos 57 doadores,
a maior parte da família, amigos
próximos e os fãs mais assíduos. É
legal ver que quem está perto aposta no grupo tanto quanto a gente.
“Quando estamos compondo uma
música pensamos se ela é legal de
ouvir e de dançar. Normalmente, se
todo mundo está batendo o pé e se
mexendo é porque ela está legal”.
Nossa turnê dos Estados Unidos
em 2010 foi paga com recursos da
banda. E nós realmente gostaríamos de poder repetir isso nessa
turnê, mas a realidade era outra.
Não tínhamos tempo para juntar
dinheiro. E as casas que nos convidaram pagam cachês simbólicos,
quando pagam. Na situação que
estávamos era ‘pegar ou largar’.
Queríamos muito fazer a turnê
porque, obviamente, seria um
Nós só temos a agradecer. Assim
que chegarmos ao Brasil, enviaremos as recompensas prometidas.
Como é a relação de vocês
com o público? O que acham da
aproximação entre fã e banda que
as redes sociais estão permitindo?
Nós atuamos intensamente
na internet. Pessoalmente, tento
responder tudo. Como fã, acho
legal quando o ídolo responde.
Dá a sensação de que ele é tão
humano quanto você. A barreira
‘palco-público’ é derrubada e isso
é incrível.
A música do Copacabana
Club é divertida e dançante. Qual
é o objetivo de vocês quando
estão produzindo uma música?
Quando estamos compondo
uma música pensamos se ela é
legal de ouvir e de dançar. Normalmente, se todo mundo está
batendo o pé e se mexendo, é porque a música está legal. Acredito
que esse seja o nosso sensor.
Antes de formar a banda,
vocês já eram amigos. Como é
o relacionamento entre todos os
integrantes agora, neste convívio
de viagens e apresentações?
Na verdade, no começo da
banda, todos eram conhecidos.
Eu conhecia mais a Claudinha e
o Luciano. O Tile e o Alessandro
eram amigos desde adolescentes. No fim do ano os garotos
decidiram fazer outras coisas, e
sairam do Copa. Agora estamos
começando do zero, é uma nova
jornada pra o grupo.
05
enquete
Ficha Limpa em Guarapuava
depois do debate nacional, o projeto foi
votado pelos vereadores do município
Matéria:
Yarê Protzek
No dia 25 de fevereiro, a Câmara de Guarapuava votou o
projeto de lei Ficha Limpa, de autoria do vereador Élcio Melhem.
A proposta proíbe pessoas condenadas pela Justiça de ocupar
cargos públicos no município. A
votação teve dez votos favoráveis.
Em nota, a Câmara Municipal informou que a lei proíbe a
nomeação para funções de se-
cretários municipais, coordenadores de despesas, diretores de
empresas municipais, sociedade
de economia mista, fundações e
autarquias municipais, e cargos
em comissão, no âmbito dos órgãos do Poder Executivo e Legislativo do município de Guarapuava, agentes políticos, prefeito,
vice e vereadores. A lei ainda não
entrou em vigor.
foi bem
foi mal
UM RESUMO DO
MELHOR E DO PIOR DAS
ÚLTIMAS SEMANAS
Movimento Passe Livre
Estudantes de Guarapuava participaram em março do Movimento Passe
Livre, que articulou uma paralisação
no Terminal Central. O objetivo foi
discutir sobre a questão do transporte
público na cidade. A mobilização deu
resultado, com o Ministério Público
determinando a redução da tarifa.
Vale do Jordão
Tal requisito é necessário
e indispensável, posto que
representantes do povo devem
ser pessoas idôneas, polidas e
pautadas em bons princípios.
Alexandre Slompo
A situação de abandono do Parque
Recreativo do Vale do Jordão é notória. Vários frequentadores do local
reclamam da falta de infraestrutura e
manutenção da área de lazer. Segundo
alguns visitantes, não há, por exemplo,
banheiros, nem lixeiras suficientes e os
que existem são precários.
Recapeamento Asfáltico
Demorou de mais para ser
aprovada. Agora queremos um
conselho de fiscalização dos gastos
e orçamentos do município.
A prefeitura municipal fez um recapeamento asfáltico nos bairros Primavera
e Vila Carli. No ano passado, houve
muitas reclamações da população
sobre a condição do asfalto em diversas
partes da cidade, desde então já foram
recapeados mais de 100 km de ruas.
Embora seja ano eleitoral, o trabalho
foi de grande valia para a população.
Tiago Moss
Acho de suma importância, um
primeiro passo para uma nova
época política. Principalmente aqui,
onde existe um numero absurdo
de casos, se for levar em conta o
tamanho da cidade.
João Daniel Turok
06
Guarapuava em rede nacional
No último mês, Guarapuava foi destaque em rede nacional, mas, infelizmente, por motivos ruins. A Operação
Hidra, executada em conjunto por forças
policiais estaduais e federais, identificou
uma quadrilha que movimentou mais de
R$ 500 milhões em sonegação fiscal. O
líder apontado é um guarapuavano.
há tempos
Na editoria “há tempos”, a equipe do Ágora irá trabalhar para encontrar pessoas que apareceram
nas linhas dos jornais guarapuanos há pelo menos cinco anos atrás. Nesse espaço, daremos voz
novamente a essas fontes e personagens do passado. e contaremos o que o estão fazendo hoje.
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a
l
o
ã
e
A história de
p
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DEZ ANOS DEPOIS DE CONQUISTAR O TÍTULO MUNDIAL DE KICKBOXING, CÉLIO RODRIGUES
CONTA UM POUCO DE SUA TRAJETÓRIA DESDE ENTÃO
Matéria e Diagramação:
Mário Raposo Jr.
Nesta segunda edição da revanche aqui em Guarapuava. Na
editoria Há Tempos, traze- Sérvia, Célio perdeu por pontos,
mos um dos principais atletas mas na revanche ganhou por noda cidade, o lutador Célio Ro- caute no 3º round. “Aqui eu ganhei
drigues, que conta sobre sua por nocaute para não ter dúvida,
primeira conquista mundial. para ninguém pensar que eu tinha
O título de campeão de kick- metido a mão, para ele não chegar
boxing, o primeiro mundial de no país dele e achar desculpa lá”.
Célio, em março de 2002, foi cena
Segundo o lutador, que já tradigna de filmes. Ele, um lutador balhou como engraxate e pipopouco conhecido do interior do queiro, sua maior satisfação com
Paraná, enfrentando um dos me- o esporte é a possibilidade de molhores do mundo, o italiano Mi- tivar outras pessoas, especialmenchelli Lizzi (e na casa do adver- te crianças, à pratica de esportes
sário). Célio teve que lidar não só e também a vencer na vida. Além
com a pressão do
disso, ele incentiva
campeonato, mas
aos que aspiram essa
também com a
profissão no futuro
“Tinha gente
falta de confiança
a estudar, ter bom
que falava:
comportamento e
dos compatriotas.
disciplina. “Muitos
“Tinha gente que
o que um
pais chegam e me
falava: o que um
guarapuavano dão os parabéns,
guarapuavano vai
fazer na Itália?
porque muda, eles
vai fazer na
Disputar
título
espelham em alItália? Disputar se
mundial não é pra
guém. Agora me
título mundial diz, tem dinheiro
qualquer um”. No
começo, Célio foi
que pague isso?”.
não é pra
vaiado por todos,
Célio
Rodriqualquer um” gues se aposentou
mas surpreendeu
e, no 5º round, noano passado e, agocauteou o italiano.
ra, segue o rumo
“Independente do lugar que você empresarial, com uma empresa
tenha vindo, com fé você prova de segurança e monitoramenao contrário. E foi o que aconte- to. Lá, ele dedica quase 100% do
ceu. Eu fui à casa do adversário, seu tempo, além de dar aulas de
entrei vaiado, mas saí aplaudido”. muay thay, mas não descarta a
Após o título mundial de ki- possibilidade de defender seu
ckboxing, Célio Rodrigues con- cinturão mais uma vez. “Os três
quistou mais dois mundiais: o de títulos ainda continuam no meu
muay thay e o K1. Ele chegou até nome. Não fui desafiado até o
a perder o título de kickboxing na momento, mas, se for o caso, eu
Sérvia, para Milos Anic, mas o re- já avisei à confederação que eu
cuperou três anos depois, em uma vou defender no final do ano”.
CÉLIO NA ÉPOCA DO PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL (ACIMA)
E, AGORA, TRI-CAMPEÃO MUNDIAL E APOSENTADO (ABAIXO).
07
Fotos: Gabriela Titon
roteiro
Novos olhares: o encontro entre
culturas europeias e indígenas
As impressões de duas garotas – uma da Itália e outra
da França – sobre as aldeias que conheceram no Brasil
Matéria e diagramação:
Gabriela Titon
Ao som do cantor cubano Silvio
Rodríguez, a italiana Camilla Brison e
a francesa Anaïs Klein conduziam uma
oficina de teatro para adolescentes indígenas em terras brasileiras, numa
manhã um tanto chuvosa de quinta-feira. Desde o início de fevereiro morando em Guarapuava, elas ajudaram
a organizar a 1ª Mostra de Cultura e
Arte Guarani, no Centro de Formação Juan Diego. Durante quatro dias,
o local serviu de espaço para mostrar
o trabalho desenvolvido pela Associação de cooperação técnica para o desenvolvimento humano – Outro Olhar
nas aldeias paranaenses Palmeirinha
do Iguaçu, Lebre e Tekoha Añetete
e na catarinense Limeira. O evento –
que contemplou peças teatrais, vídeos,
danças, fotografias, produtos artesanais e debates – foi planejado a partir
das atividades do projeto Oindio: Cultura e Oportunidade na Rede, apoiado
pelo Oi Futuro.
Ao conversar com Camilla e Anaïs,
que estão fazendo intercâmbio por
meio da Outro Olhar, percebe-se o forte impacto cultural vivenciado, mas,
ao mesmo tempo, o encantamento
com tradições e costumes tão diferentes dos seus. Depois de visitarem as
comunidades indígenas, elas contam
que conheceram uma maneira diferente de enxergar o mundo. “Eles vivem
naturalmente, com simplicidade. São
muito espirituais e concentrados”, diz
Anaïs. Ela explica que a cultura francesa é materialista. Já nas aldeias, eles
têm suas casas, mas a terra representa
algo ‘mais alto’, significando um lugar
para ficar junto ao invés de mera posse.
Na França, segundo ela, as pessoas se
esquecem de refletir. “Nas aldeias, eles
são muito simples e vivem melhor porque não se importam com coisas materiais e tecnologia”. Camilla observa que
existe uma preocupação maior com as
pessoas nas comunidades indígenas,
ao contrário de seu país. “Sobretudo
na minha cidade, Milão, que é o centro
da moda e da economia italiana, temos
um jeito de viver muito rápido. Milão
é uma cidade cheia de prédios e cinza”.
Apesar de não terem total domínio
sobre o português, as garotas expressam o sentimento de transformação
que a viagem pode proporcionar quando voltarem para a Europa. “Acho que
vou ser mais mente aberta”, comenta
Anaïs. Para Camilla, conhecer o povo
indígena é um privilégio. “Nem todo
mundo pode entrar nas aldeias. Dormimos lá também; e normalmente eles
não permitem isso. Conhecemos outro jeito de viver, que não é o brasileiro, está longe do brasileiro”. Ela, que
afirma ser muito exigente, considera
que a experiência pode ajudá-la a desenvolver virtudes como a receptividade e a compreensão.
Após experimentarem como é
a convivência com as comunidades, elas organizaram a exposição
de fotos da mostra e ministraram
as aulas de teatro, já que trabalham
na área em seus países. Anaïs, 19, é
animadora de crianças. Camilla, 24,
é formada em história de teatro e cinema. Nos exercícios da oficina teatral, era fácil notar que a interação
entre elas e os demais participantes
ocorria naturalmente. Com profissionalismo e sensibilidade, as garotas conseguiam fazer com que todos
perdessem o receio e se sentissem
confiantes para realizar as atividades que lhes eram propostas.
O artesanato indígena ‘lindo e
simples’, como define Anaïs, também
chamou atenção. “É a beleza que as
pessoas gostam quando são crianças.
Quando você é criança gosta de coisas que são boas verdadeiramente e
quando cresce gosta de coisas mais
complicadas. Essa arte é um pouco a arte da origem, mas da origem
também de uma pessoa, como voltar
a ser criança. E é super natural, eles
usam madeira, sementes e plumas”.
“Eles vivem
naturalmente,
com simplicidade.
São muito
espirituais e
concentrados”
Sobre Guarapuava, elas destacam
a hospitalidade. “Quando você entra em uma loja, as vendedoras vão
encontrar você e ajudar”, exemplifica Anaïs. “Na rua, as pessoas falam
‘bom-dia’. Na minha cidade, você
não fala bom dia para ninguém”, relata Camilla. “Também encontramos
pessoas que convidaram para ir nas
suas casas. Os brasileiros são bem
receptivos. Quando chegamos da
Europa, não conseguíamos entender
esse jeito de ser, porque parece que
as pessoas querem algo de você. Ficamos pensando ‘por que ser tão gentil’? Mas é só para ser gentil”.
Outra diferença observada em relação a seus países é a existência de
vários locais com florestas. “O Paraná tem muitos espaços de verde. Tem
uma cidade, aí um espaço de verde
para depois ter outra cidade. Lá, tem
uma cidade e logo já vem a próxima”,
diz Camilla. Interessadas em entender a geografia do território, elas até
compraram um mapa do Brasil. Mesmo sendo apreciadoras de qualquer
viagem, as meninas afirmam que esse
tipo de projeto possibilita conhecer
com mais calma os lugares e as pessoas. “Quando você viaja é só turista.
Aqui, não”, contou Camila.
Fotos: Gabriela Titon
08
09
versus
cidadania
x
HELENA KRÜGER
O novo álbum de Springsteen continua fiel ao seu bom e velho rock n’
roll, mas o que tem de genial em Wrecking Ball está ligado a mensagem que o veterano tem a dar. Em meio a ano eleitoral, crise econômica, surge Springsteen cantando a favor do proletariado, em
busca do sonho americano que parece estar perdido. Abrindo o disco com We take care of our own (‘Nós cuidamos
de nós mesmos’), Bruce já mostra o tom a que veio, com
fortes críticas ao governo. Em Easymoney e em Wreckling Ball, Springsteen apresenta o que tem de melhor, gritando como uma espécie de porta voz dos
americanos. Sem dúvidas, é um dos álbuns mais
pulsantes do cantor, que manifesta sua raiva e
indignação em um momento oportuno, por
isso promete ser um dos discos do ano.
Nessa época de artistas e hits passageiros, ver Bruce no topo das paradas
da Billboard surpreende, e é ótimo
ver que “The Boss” está de volta.
MÁRIO RAPOSO
Rondonistas em ação
Bruce Springsteen acaba de lançar seu 18º disco de estúdio, Wrecking
Ball. Nesse álbum, ele apresenta um ótimo trabalho ao lado de sua banda The E Street Band. Pra ser sincero, é a primeira vez que realmente
ouço um álbum inteiro do cantor, e me arrependi de ter demorado tanto pra conhecer mais do trabalho desse ícone da música
americana. Em Wrecking Ball, Bruce mistura um pouco do
rock moderno e do country, o que resulta em momentos
muito bons, como a faixa-título, Death to My Hometown
e a balada Jack of All Trades. Porém, como nem tudo
são flores, o músico comete alguns deslizes, como
na sonolenta This Depression e na insossa Rocky
Ground. No geral, Wrecking Ball é um álbum
muito bom, com mais pontos altos que baixos, vale a pena parar um pouco para escutar. Quem é fã vai gostar, e para quem,
assim como eu, não conhecia muito
do trabalho dele, é uma ótima maneira de conhecer.
Matéria e diagramação:
Yarê Protzek
O PROJETO ATUA EM DIVERSAS CIDADES DO BRASIL E JÁ
FORAM DISPONIBILIZADAS AS DATAS DAS PRÓXIMAS OPERAÇÕES
Bruce Springsteen é um ícone da música norte-americana.
Começou sua carreira em 1969 e de lá pra cá já ganhou
vários prêmios, entre eles, vinte Grammys e um Oscar. Bruce
é conhecido pelo patriotismo apresentado em suas canções,
o que faz com que ele seja muito querido pelo público
americano e, especialmente, pela classe trabalhadora, muitas
vezes citada em suas músicas.
MÁRIO
indicações
Livro:
A visita cruel do tempo
Autora: Jennifer Egan
Trata sobre passagem do tempo e
transformação das relações. Da São
Francisco dos anos 1970 até a Nova
York de um futuro próximo.
10
Livro: Delírio
Autor: Lauren Oliver
Muito tempo atrás, não se sabia
que o amor é a pior de todas as
doenças. Uma vez instalado na
corrente sanguínea, não há como
contê-lo. Agora a realidade é outra.
Filme: Inquietos
Diretor: Gus Van Sant
Annabel é uma paciente terminal
com muito amor pela vida. Já Enoch
Brae perdeu a fé após uma tragédia.
Ao se conhecerem, o casal descobre
muitas coisas em comum.
Filme: Raul,
o início, o fim e o meio
Diretor: Walter Carvalho
O documentário acompanha Raul
Seixas da infância até a morte, passando pela paixão por Elvis e a parceria com Paulo Coelho.
Fotos: Caroline Kozak
HELENA
Criado em 1967, o Projeto
Rondon oferece aos universitários e professores a oportunidade
de atuar em regiões diferentes das
quais estão habituados, além de
desenvolver a cidadania e levar
conhecimento para as comunidades. O Rondon é organizado
pelo Ministério da Defesa e desde 2005 já realizou operações em
mais de 800 municípios. Essas
ações geralmente ocorrem nos
meses de janeiro e julho no quais
os rondonistas passam duas semanas desenvolvendo atividades
na comunidade.
O Ministério da Defesa divulgou as duas operações que serão
realizadas em julho deste ano.
Uma delas será no estado do Pará
e recebeu o nome de operação
‘Açaí’. A outra será no Tocantins
e foi chamada de operação ‘Capim Dourado’. Dois grupos são
formados para trabalhar nessas
comunidades, o conjunto A e o
B. O grupo A trabalha temas voltados a educação, meio ambiente,
cultura e o B atua em assuntos
referentes ao meio ambiente, tecnologia e trabalho.
A professora Deonisia Martinichen, que participou do Rondon em 2010 e 2011, explica que
o processo de inscrição funciona
da seguinte maneira: “Primeiro
é necessário ver quais os professores vão enviar o projeto da
universidade. Depois que sair o
resultado, os professores começam a pesquisar a realidade do
município, as necessidades locais
para fazer a operação e então é
feito uma seletiva para escolher
os alunos participantes que já começam a pensar no que será desenvolvido nas oficinas”.
Acadêmicos de qualquer área
que já estão na metade do curso podem se inscrever, porém,
os alunos escolhidos só podem
participar apenas uma vez do
Rondon. Deonisia comenta que,
desde 2010, há uma restrição no
número de projetos que uma universidade pode enviar. “Agora,
as universidades podem mandar
somente duas propostas. As inscrições são feitas pela universidade no site da PROEC e lá tem
todas as informações e requisitos.
O número de inscrição tem aumentado todo ano, o Rondon está
sendo mais divulgado e as pessoas estão tendo mais interesse”.
As cidades que recebem os
rondonistas são escolhidas pelo
Ministério da Defesa. Esses municípios precisam cumprir com
alguns requisitos, como dar alimentação para os participantes
do Rondon, hospedagem e es-
trutura para que eles consigam
desenvolver os projetos. “Existem
municípios que não possuem
condições financeiras de cumprir essas metas, então, muitas
vezes, o Ministério da Defesa
acaba ajudando. Quando participei, nós procuramos tentar usar o
mínimo possível de estrutura, ou
coisas que o município precisasse
gastar”, relata a professora.
Os locais que os rondonistas
já atuaram podem receber outras equipes nos próximos anos,
porém, o espaço de tempo é longo entre uma operação e outra.
Deonisia contou que na de 2010,
realizada em Coeté, o Rondon já
tinha atuado em 1970. “O prefeito da cidade mostrou, muito contente aos rondonistas de 2010,
um certificado de participação de
uma oficina que ele fez em 1970,
quando era adolescente”.
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perfil
Nessa editoria, a equipe do Ágora trará reportagens do estilo perfil, ou seja, matérias focadas em um personagem do nosso
município. A ideia é conhecer melhor as pessoas que formam a cultura guarapuavana. Vamos saber mais sobre suas rotinas,
trabalhos, pensamentos... Afinal, para conhecer nossa cidade, é importante conhecer as pessoas que a constroem.
EXPERIÊNCIAS DO RONDON
a graduação e me fez crescer pessoalmente e profissionalmente”.
Já Caroline Kosak, acadêmica
de Engenharia Ambiental, participou da operação realizada em janeiro deste ano em Vila Nova dos
Martírios-Maranhão.
Caroline
acredita que o objetivo dos rondonistas é tentar plantar uma semen-
vida daquelas famílias. Um simples sorriso, um bom dia quando
passávamos na rua ou um abraço
para eles mudava o dia e o fato de
lembrar o nome deles e chamá-los
era motivo de euforia”.
A acadêmica de Engenharia
Ambiental contou que se surpreendeu com as histórias da comu-
“Ás vezes reclamamos de bobeiras,
enquanto eles, muitas vezes não
tem o que comer, não sabem ler e
nem escrever, mas vivem com um
sorriso no rosto”
te e deixar que elas brotem por si
só. “Depois que a gente chegou lá
eu percebi que o objetivo não era
ensinar Educação Ambiental, mas
sentar com as crianças e brincar.
Percebi que ensinar eles a jogar o
lixo no latão correto era supérfluo
demais perante as condições de
nidade e a diferença das regiões.
“Minha visão de mundo mudou
completamente. Voltei de lá muito
mais humana, com a minha sensibilidade a mil. Ás vezes reclamamos de bobeiras, enquanto eles,
muitas vezes não tem o que comer,
não sabem ler e nem escrever, mas
vivem com um sorriso no rosto”.
Caroline completa dizendo que
tem vontade de voltar depois de
uns dez anos para ver se as sementes plantadas germinaram.
Deonísia contou que todos
que participam do projeto voltam com outra visão de mundo.
“O Projeto Rondon meche muito
com os participantes. Estimula
a cidadania, o desenvolvimento
pessoal e profissional. As cidades
que vamos possuem uma realidade social diferente da nossa, embora eu acredite que nós também
temos situações bem parecidas em
nossa região, mas, às vezes, as pessoas não tem esse contato direto.
Então, essa experiência nos afeta
e passamos a nos preocupar não
apenas com a parte técnica, mas
também com o aspecto humana”.
Ela completa dizendo que nos 15
dias que os rondonistas passam
na cidade, o ritmo da comunidade
muda e acaba motivando as pessoas a correrem atrás de informações e novas oportunidades.
A humanidade da natureza selvagem
AMANTE DE ANIMAIS SELVAGENS, O PAULISTA ADRIANO
TORRES HÁ QUATRO ANOS ENCONTOU EM GUARAPUAVA O
SEU LAR. PARA ELE, SER VETERINÁRIO É MAIS DO QUE GOSTAR
DE ANIMAIS, O QUE VALE MESMO É O LADO HUMANO.
Perfil
Matéria e diagramação:
Helena Krüger
“A gente nunca vai crescer em
determinado lugar se não criarmos
vínculos”. Essa frase Adriano Torres Carrasco ouviu de um professor
ainda no primeiro ano da faculdade e diz nunca ter esquecido. O
conselho não ficou apenas na memória do veterinário, ele também o
carrega como lição de vida. Adriano tem um sotaque característico
do interior de São Paulo, com o
“R” bem marcado, tem três cachorrinhos adotados, gosta de futebol,
toca trombone e adora música nacional, mas confessa que anda sem
tempo para seus hobbies.
O veterinário e professor mora
há quatro anos em Guarapuava
atuando no SAAS (Setor de Atendimento a Animais Selvagens) e
na Clínica Veterinária da Unicentro. Adriano nasceu em Jacareí,
interior de São Paulo, mas viveu a
maior parte de sua infância e adolescência em Joinville, época em
que o gosto e desejo por cuidar
de animais já haviam despertado.
Fotos: Helena Krüger
Bruna Lenhani, formada
em enfermagem, participou do
Rondon em 2011 na cidade de
Gararu-Sergipe, Operação ‘Babaçu’, com o interesse de conhecer outra realidade social, além
da habitual. Antes de viajar, a
estudante acreditava que o contato com a população não seria
tão grande. “Fomos muito bem
recebidos pelos moradores da
cidade. Eles nos procuravam na
escola para tirar dúvidas. Em
todos os momentos você conseguia tirar um aprendizado”.
Lenhani comenta que na área
de enfermagem, as ações desenvolvidas foram de educação em
saúde juntamente com as acadêmicas dos cursos de fisioterapia
e serviço social. Os temas mais
tratados eram: hipertensão, diabetes, métodos contraceptivos,
planejamento familiar, saúde
bucal, cuidados com a gestação e com o recém-nascido. “O
Rondon foi uma das melhores
oportunidades que tive durante
“Desde que me conheço por gente
eu quis ser veterinário, nunca pensei em ter outra profissão”.
Aos dezoito anos, passou no
vestibular que queria e deixou definitivamente a casa dos pais. Sem esquecer-se de suas origens, carregou
a herança do pai e de sua mãe, e foi
em busca de algo maior, sem deixar
que algo o prendesse. Ambições,
anseio pelo conhecimento e, acima
de tudo, vontade de vencer na vida
moviam o futuro veterinário a não
perder de vista seu objetivo.
Descobrindo
novas paixões
Sua relação com animais selvagens começou com aves numa
iniciação científica na universidade. Um pouco mais tarde, Adriano
descobriu que além de ser veterinário também gostava muito de
ensinar. “A minha primeira experiência como docente foi muito
marcante, pois depois daquilo de-
cidi que não seria só veterinário,
mas ensinaria a ser um”.
A psicologia
da veterinária
Quando entramos no setor
onde ficam os animais selvagens, consegui perceber a ligação que Adriano tem com eles.
Conversando e brincando com os
macacos, ele mudava até mesmo
o seu jeito de falar. O professor já
teve contato com muitas espécies,
desde passarinhos até onças.
“As serpentes são as únicos que não lido, prefiro manter
uma distância que considero segura”, brinca Adriano. Na opinião dele, muitos se esquecem
de que, para ser veterinário, não
basta só gostar dos animais, é
preciso saber conviver com pessoas também. Para o professor,
o que é mais apaixonante na
profissão é ver a gratidão do animal. “É impressionante como
os animais são gratos, só quem
trabalha e faz isso entende”.
Adriano já passou por tantas situações, que já precisou
até desempenhar o papel de
um “psicólogo”. “Várias vezes,
aconteceu de levarem o animal,
a gente examinar e não encontrar nada de errado. Mas o dono
fica horas e horas no consultório
batendo um papo”.
“A interação é incrível, o
animal compreende que estamos cuidando dele, e deixa você
chegar perto”. A dedicação e a
maneira como Adriano encara a
profissão e a sua relação com os
animais pode se dizer que é no
mínimo incomum. “Já aconteceu
várias vezes de me ligarem de
madrugada e eu precisar atender
fora de expediente, mas vale a
pena. Uma das coisas mais bacanas que já presenciei foi realizar
a soltura de um animal selvagem. Eu o vi entrando no meio
do mato e pude dizer: agora é
por sua conta! Sinto-me feliz de
poder fazer parte disso tudo”.
“É impressionante
como os animais
gratos. Só
Perfilsão
quem trabalha e
faz isso entende
”
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política
Legislativo Guarapuavano
próximo de decretar projeto
de publicação online sobre
dados referentes à Câmara
PROPOSIÇÕES DISCUTIDAS, ALTERADAS E
FINALIZADAS ESTARÃO DISPONÍVEIS PARA
CONSULTA NO SITE DO LEGISLATIVO
ligado à política local ele elogia
a iniciativa, pois acredita que
o maior acesso da comunidade irá ao encontro aos seus anseios. “Isto será bom. Em nossa
cidade, o pessoal foca na região
central, nas elites. A população
periférica sofre, pelas poucas
políticas públicas destinadas”,
afirma o comerciante. Ele não
estava sabendo do projeto, mas,
após aprovado, pretende acessar
o conteúdo sempre que possível.
Celso Freitas de Garais, dirigente sindical, também elogiou
a proposta. Usuário da rede eletrônica há cerca de 15 anos e
ERONDI NASCIMENTO
COMERCIANTE
IDEAIS
PRESENTES
Matéria e diagramação:
Yorran Barone
Está em trâmite na Câmara Municipal o Projeto de Lei
02/2012, de criação do vereador
Antenor Gomes (PT/PR), que
obriga a publicação online de dados referentes a Projetos de Lei,
Requerimentos e demais Proposições no portal do órgão guarapuavano. Apesar da possibilidade
de acompanhar o que ocorre no
Poder Legislativo, é possível que
muitos não façam uso da ferramenta, tanto por desinteresse, quanto falta de informação.
Esse é o caso do comerciante
Erondi Nascimento, que acessa
a internet há oito anos. Pouco
“Em nossa cidade, o pessoal foca
na região central, nas elites. A
população periférica sofre, pelas
poucas políticas públicas destinadas”
ligado aos assuntos discutidos
no legislativo, ele destaca que a
proposta será em prol da clareza
política. “Chegou para mostrar
a transparência. Isto ajudará os
guarapuavanos ter conhecimento
do que ocorre no meio político.
Deveria ser projeto de nível estadual ou federal”, relata Celso, relembrando que nem todos terão
acesso, em tratando de contato
material. “Muitos não podem
usufruir ou se adequar aos computadores. Se o governo municipal tiver interesse e colocar
em prática algo dessa relevância,
será um bem para a população”.
Foi após notar algumas particularidades que o vereador
Antenor Gomes pensou no projeto. Em princípio, ele destaca
que algo o incomodou, sendo
necessária uma iniciativa para
eliminar o problema. “Recentemente houve manifestação sobre o aumento na tarifação das
passagens de ônibus e um rapaz
possuía cartaz com o seguinte
recado: “Cade os vereadores?”.
Aquilo me chateou, pois percebi
a distância entre o que fazemos e
o que a comunidade fica sabendo”, relata. “Quando há carniça
na Câmara, a imprensa vem em
“Chegou para mostrar a
transparência. Isto ajudará os
guarapuavanos ter conhecimento do
que ocorre no meio político”.
Foto: Yorran Barone
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Foto: Yorran Barone
peso e o local lota. Mas, se apresentamos boas propostas e que
vão ao encontro à comunidade,
ninguém fica sabendo”.
Sobre a importância do projeto, Antenor ressalta que, quando
posto em prática, será um ganho para a democracia. “Essa é a
questão, a conquista da possibilidade de acompanhar o que é de
interesse da comunidade. Muitas
vezes, há bons projetos que são
arquivados e a população não
fica sabendo”. O vereador aponta acesso em tempo real, assuntos de interesse e conquista do
conhecimento, como principais
objetivos. “Será possível à aproximação da política. O indivíduo
terá uma biblioteca do que já fora
feito. Saberá mais sobre questões
municipais, regimento interno e
tudo o que perpassa em seu município. Ou seja, estará a par de
temas relevantes”.
A página online será vinculada junto ao site da Câmara Municipal, sendo atualizada desde o
momento do protocolo dos projetos junto à Secretária, até mudança de status, votação, além
do acesso a integra das proposições e alterações realizadas no
texto original.
“Essa é a questão, a conquista da
possibilidade de acompanhar o que é de
interesse da comunidade. Muitas vezes,
há bons projetos que são arquivados e a
população não fica sabendo”.
VEREADOR ANTENOR GOMES
CRIADOR DO PROJETO
CELSO FREITAS DE GARAIS
DIRIGENTE SINDICAL
Foto: Arquivo Pessoal
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espaço aberto
Por Mauro Biazi
Juventude:
A esperança parece estar pedindo, implorando para ser enterrada. Escrevo isso baseado nos
últimos acontecimentos, para variar, de cunho político, que enojam
cada vez mais os brasileiros, que de
sol a sol calejam seus corpos para
sustentar-se e os seus. Cifras de milhões são tratadas como troco de
cafezinho nas conversas bandidas
de políticos trapaceiros. A eles já
não basta o poder, que os favorece com tantas e tantas vantagens,
em troca de pouca ou nenhuma
contrapartida para com quem os
elegeu. Agora, parece haver uma
competição para levar ao pódio
o mais corrupto, o mais safado, o
mais bandido, o mais sacana...tudo
na certeza de uma impunidade que
nos faz espumar de raiva. E assim,
dia após dia, nos deparamos com
escândalos que, sobrepondo aos
de ontem, parecem ser partes da
banalização da corrupção. Ser corrupto, além das riquezas materiais,
e do corpo de apaniguados que gravita em torno dele – cada um com
a cancerosa missão de contribuir
pro feitio de mais roubalheira do
nosso sacrificado dinheiro - abre
portas importantes para a cooptação de outras autoridades que farão
parte das engrenagens doentias da
ilicitude, da bandalheira institucionalizada. Escutas telefônicas, volta
meia, mostram o poder executivo
misturado com judiciário, o legislativo cortejando o executivo,
o judiciário abraçando interesses
escusos, e a esperança, coitada,
pedindo para ser enterrada, não a
sete palmos, mas no mais profundo
buraco que algum invento humano
de cavocar possa construir.
Mas aqui ressuscito a esperança
– essa que penso querer ser enterrada no mais fundo do profundo
buraco inimaginável. Acredito nos
valores que pais conscientes passam aos seus filhos e filhas. Acredito numa parcela da juventude que
não se embriaga, não se droga, nem
se ilude com BBB’s ou com o canto
16
Foto: Arquivo Pessoal
combater a corrupção é a sua missão
falso de lideranças necrosadas, pois
é dela, a juventude sadia de corpo e
alma, que a esperança se nutre para
desfraldar o amanhã tão sonhado
por pais cidadãos, pais conscientes,
pais participativos da vida dos seus,
e desejosos de um Brasil digno de
todos os que acreditam e lutam por
ele E quando o amanhã romper
com seus raios guerreiros, para o
enfrentamento diário contra as injustiças, por certo haverá de contar
com o caráter dessa juventude que
foi forjada em princípios indestrutíveis, incorrompíveis, numa educação baseada no respeito aos pais,
ao País, aos seus semelhantes e que
fará, com toda a mais cristalina
certeza, a diferença nesse amanhã
que todos sonhamos ser redentor
e equalizador de todos os nossos
sonhos. Pois se assim não for, e
nem quero deixar de acreditar o
contrário, podemos iniciar o projeto de desenvolver a máquina que
fará o buraco mais profundo onde
a senhora esperança repousará
para sempre...Um brinde a essa
juventude, que será o diferencial
na luta contra o câncer pestilento
e endêmico da corrupção! Tintin!
O jornalista e escritor
Mauro Biazi, mais
conhecido por Tin Tin,
busca, ao lançar seus
escritos, reflexões da
comunidade guarapuavana
quanto ao trato das
políticas públicas
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Até que venha a liberdade - Universidade Estadual do Centro