OBSERVADORES
Fotógrafos da Cena Britânica desde 1930 até Hoje
Cecil Beaton (1904-1980)
Fotógrafo, designer de moda e de teatro, figura da alta sociedade e fotógrafo da
família real, Beaton era bem relacionado e muito produtivo. Ele se estabeleceu como
fotógrafo freelance no final da década de 1920, e durante os anos 1930 (até o início
da Segunda Guerra Mundial) trabalhou exclusivamente para a revista Vogue, de
Condé Nast. O meio social que captou no período entre guerras é o mundo dos
privilégios, um universo à parte. Até a Segunda Guerra Mundial, a fotografia de
Beaton – suas elegantes imagens da aristocracia e seus cenários de estúdio
cuidadosamente construídos, com espelhos e adereços elaborados – resistiu com
determinação às realidades mais sombrias do mundo real.
Bill Brandt (1904-1983)
Brandt (filho de uma inglesa e um alemão) dedicou-se à fotografia em Paris, a partir
de 1929, onde passou um breve período no estúdio do fotógrafo surrealista Man Ray
e onde viu o trabalho de Eugene Atget e Brassai. Estabeleceu-se em Londres em
meados de 1930 e trabalhou como fotojornalista freelance para revistas como
Picture Post, Illustrated Weekly e Harper’s Bazaar. Seu livro The English at Home foi
publicado em 1936, e A Night in London saiu em 1938. Também fotografou os
mineiros de carvão e as cidades industriais do norte da Inglaterra durante os anos
mais difíceis da Grande Depressão, e fez algumas de suas imagens mais
conhecidas no metrô de Londres, durante o bombardeio aéreo alemão de Londres (a
‘Blitz’) em 1940.
Humphrey Spender (1910-2005)
1 Spender trabalhou como fotojornalista de diferentes jornais antes de se tornar
fotógrafo do movimento Mass Observation, um grupo criado em 1937 que trabalhava
com uma rede de ‘observadores’ voluntários atuando como espiões para reunir um
acervo de informações sobre detalhes da vida britânica e o comportamento do povo
em todo o país. Mass Observation começou um projeto chamado Worktown em
1937. Spender debruçou-se sobre a ‘representativa’ cidade industrial de Bolton, no
norte da Inglaterra, e a vizinha cidade de Blackpool, no litoral. As fotografias
documentais incluídas aqui foram feitas nessas duas cidades e focalizam as
pessoas em casa, nas ruas, nos pubs e clubes, no trabalho e no lazer.
George Rodger (1908-1995)
Fotojornalista do final dos anos 1930 e membro-fundador (com Robert Capa, David
Seymour e Henri Cartier-Bresson) da influente agência fotográfica Magnum em
1947, Rodger passou os primeiros meses da Segunda Guerra Mundial em Londres,
antes de partir para a África como fotógrafo de guerra. Suas imagens próximas e
sensíveis dos preparativos para a Blitz (o ataque aéreo alemão sobre a cidade) e da
sequência dos ataques foram amplamente divulgadas na Picture Post e na Life, no
Reino Unido e nos Estados Unidos. Elas se tornaram propaganda eficaz, ajudaram a
contribuir para a imagem do ‘espírito da Blitz’ dos londrinos, junto ao slogan do
Ministério da Informação da época: “Mantenha a Calma e Siga em Frente”.
Paul Nash (1889-1946)
Nash, importante artista surrealista britânico a partir dos anos 1930, era, em primeiro
lugar, pintor. Fez fotos sobretudo para usar em suas pinturas, nas quais os motivos
das fotografias reaparecem constantemente. Nash viu no imediatismo e precisão da
imagem fotográfica a possibilidade de oferecer ‘outro olhar’ ao artista. Suas
fotografias, assim como suas pinturas, apresentam uma visão misteriosa e préhistórica da paisagem inglesa, marcada pela história e animada, como ele a via, por
‘objetos-personagens’, elementos antropomórficos da paisagem equivalentes às
pessoas.
2 Mme. Yevonde (1893-1975)
“Madame Yevonde – Fotógrafa Retratista” abriu seu primeiro estúdio em Londres em
1914 e continuou a trabalhar na cidade por quase 60 anos. Produziu imagens para
publicidade, mas seu trabalho principal era criar retratos estilizados da alta
sociedade londrina. Seu trabalho se caracteriza pela iluminação forte, pelo uso
arrojado de adereços e pela ‘profusão de cores’ que criou utilizando o processo
Vivex-tricolor na década de 1930. A série Goddesses [Deusas] é o seu trabalho mais
célebre. Os retratos de senhoras aristocráticas vestidas como figuras da mitologia
clássica foram inspirados por um baile de caridade, “A Festa Olímpica”, realizado no
Hotel Claridge’s de Londres, em março de 1935, do qual várias de suas modelos
participaram vestindo traje clássico.
Nigel Henderson (1917-1985)
Henderson formou-se como artista plástico e foi fotógrafo autodidata. Começou a
fotografar logo após a Segunda Guerra Mundial no East End de Londres, onde vivia
com a esposa Judith, que trabalhava em um estudo antropológico da comunidade
operária. Henderson tornou-se membro do influente Independent Group em meados
dos anos 1950, junto a Richard Hamilton e Eduardo Paolozzi (líderes do movimento
Pop Art britânico) e trabalhou com fotocolagem e fotomontagem.
Roger Mayne (nascido em 1929)
O primeiro interesse de Mayne estava na pintura abstrata inglesa, mas ele se voltou
para a fotografia e o realismo influenciado pelo fotógrafo Otto Steinert, na Alemanha,
e por Henri Cartier-Bresson. Mayne encontrou seu verdadeiro tema na vitalidade das
ruas, observando crianças e adultos nas ruas da Londres bombardeada do pósguerra, particularmente em Southam Street, no bairro operário de North Kensington,
no oeste de Londres. A célebre e longa série de fotos que realizou ali por mais de 5
3 anos, entre 1956 e 1961, foi muito reproduzida em jornais e revistas, e Mayne foi
considerado o primeiro fotógrafo dedicado a retratar os adolescentes.
Norman Parkinson (1913-1990)
Parkinson trabalhou como fotógrafo de moda e retratista para a Vogue por 37 anos,
até 1978, uma parte do tempo ao lado de Cecil Beaton, para a Harper’s Bazaar, e
nos anos 1960 para a revista Queen. Desde o início levou seu trabalho para fora do
estúdio, para o ar livre, buscando um novo naturalismo. Seu estilo mudou com o
tempo: no final dos anos 1940 e início da década de 1950, capturou uma visão
elegante do ‘ser inglês’ na austeridade do pós-guerra britânico, colocando seus
elegantes modelos em ambientes rurais e nas ruas cinzentas da cidade.
Ida Kar (1908-1974)
Nascida na Rússia e criada no Oriente Médio, Kar se casou com um marchand
inglês e se mudou para Londres em 1945. Eles se estabeleceram no Soho, no
centro de Londres, no centro do círculo boêmio de artistas e escritores, e Kar fez
carreira como retratista especializada em artistas, atores e escritores, como os
pintores que tipificam o ‘inglês excêntrico’, Stanley Spencer e Augustus John, e a
atriz Maggie Smith. Kar fez muito para estabelecer a fotografia como forma artística
respeitada nos anos 1950, e sua exposição de fotos em grandes dimensões em
Whitechapel, no East End de Londres, foi a primeira mostra individual de um
fotógrafo realizada em uma grande galeria de arte de Londres. Não foi a primeira
nem a última vez em que se levantou na mídia a questão: “A fotografia é arte?”.
Terence Donovan (1936-1996)
Donovan fazia parte de um trio de fotógrafos – com David Bailey e Duffy –, a nova
geração que ajudou a mudar a face da fotografia de moda e a dar à década de 1960
a sua cara. Seu trabalho inicial trouxe nova informalidade para a fotografia de moda
e para os retratos: atuava principalmente fora do estúdio e nas ruas de Londres.
4 Donovan realizou trabalhos para revistas ilustradas de reportagem e de moda,
produzindo ensaios fotográficos sobre temas sociais, tais como Strippers e The Lay
About Life.
Ian Berry (nascido em 1934)
Berry iniciou sua carreira como fotógrafo de imprensa em Londres e na África do
Sul, mas depois entrou para a agência Magnum em 1963 e retornou ao Reino Unido
no final da década de 1960, quando trabalhou para o Observer e outras revistas.
Tendo recebido a primeira bolsa de estudos atribuída pelo Arts Council a um
fotógrafo, Berry viajou extensamente pela Inglaterra para fazer um amplo painel
sobre a cena britânica, ou, como ele dizia, “uma exploração pessoal da vida inglesa”.
Seu trabalho foi publicado como livro – The English – em 1978.
Shirley Baker (nascida em 1932)
Escritora e fotógrafa freelance, Baker fotografou muito sua cidade natal de Salford e
a cidade vizinha de Manchester no final dos anos 1960 e início da década de 1970.
As imagens que fez nesses anos mostram as rápidas mudanças nas comunidades
locais, com casas geminadas dando lugar a edifícios residenciais, no que foi o maior
programa de retirada de favelas da Europa na época. Baker voltou à mesma área
em 2000, contratada para fazer um novo trabalho 40 anos depois do primeiro.
Tony Ray-Jones (1941-1972)
O objetivo de Ray-Jones era combinar as funções ‘poética’ e ‘documental’ da
fotografia. Formou-se em design e fotografia nos Estados Unidos e, inspirado pelo
livro de fotos do americano Robert Frank, The Americans, e pelo de Bill Brandt, The
English at Home, retornou à Inglaterra em 1966 com planos para um livro que faria
‘uma importante afirmação’ sobre a sociedade inglesa. Viajou pelo país e produziu
uma vasta obra na qual retomou seus temas tradicionais – as classes sociais, os
costumes rurais e o lazer do povo inglês – com uma estética visual distinta, arguta e
5 em diversas camadas. A Day Off: An English Journal foi publicado em 1974, 2 anos
após sua morte prematura, e influenciou toda uma geração de fotógrafos.
Paul Trevor (nascido em 1947)
Como parte do Exit Photography Group, que montou em 1973 (com Chris SteelePerkins e Nicholas Battye), Trevor trabalhou em um projeto para documentar a
miséria nas favelas do East End de Londres e em outras cidades do Reino Unido e
construiu um grande arquivo de fotografias e entrevistas gravadas. Algumas dessas
fotos, feitas durante sua estada de 6 meses na cidade de Liverpool, focalizam os
bairros de Toxteth e Everton, na zona sul da cidade – cenário das manifestações de
1981 e 1985. As casas geminadas foram demolidas alguns anos depois da
realização das fotos.
Tish Murtha (nascida em 1956)
Em 1980, Murtha começou um extenso projeto fotográfico em sua comunidade,
exposto na Side Gallery em Newcastle no ano seguinte com o título Youth
Unemployment in the West End of Newcastle [Desemprego juvenil no West End de
Newcastle]. A cidade estava entre as mais duramente atingidas no nordeste da
Inglaterra durante esse período de declínio econômico e agitação urbana, quando as
políticas sociais do governo conservador de Margaret Thatcher receberam severas
críticas por tentarem reduzir o Estado de bem-estar social. Murtha adotou uma
postura engajada, montando cenas e orquestrando grupos de jovens (alguns dos
quais eram seus amigos e familiares) para os retratos e combinando as imagens
com legendas retóricas. As fotos unem ternura e ameaça: suas visões pósapocalípticas têm sido descritas como ‘realismo romântico’.
Daniel Meadows (nascido em 1952)
Meadows, colega de Martin Parr em Manchester, passou um ano em turnê
fotográfica por toda Inglaterra em 1973, no The Free Photographic Omnibus, um
6 ônibus de dois andares convertido em estúdio fotográfico. Meadows viu nisso uma
empreitada utópica: fotografava as pessoas e gravava conversas com elas, antes de
lhes oferecer gratuitamente os seus retratos.
Chris Killip (nascido em 1946)
Killip começou como fotógrafo de publicidade em 1964 e tornou-se freelance logo
depois. Seu trabalho documental foi influenciado pelos fotógrafos americanos Paul
Strand e Walker Evans. Produziu um registro fotográfico da ilha de Man (no mar da
Irlanda), onde nasceu, publicado em 1980, e, ao longo dos anos 1970 e no início da
década de 1980 realizou importantes e influentes obras nas áreas industriais em
declínio do nordeste da Inglaterra, algumas das quais foram exibidas e publicadas
sob o título In Flagrante, em 1988. Killip rejeita a ideia da objetividade fotográfica:
“Estou interessado em fotografar crenças, as minhas e as de outras pessoas”.
Raymond Moore (1920-1987)
Moore formou-se como pintor na década de 1950, mas dedicou-se à fotografia a
partir de 1956. Viajou para os Estados Unidos, trabalhou no estúdio do renomado
fotógrafo Minor White e foi influenciado pela obra de Harry Callahan. Há forte
influência americana em suas fotografias de paisagens intensamente observadas,
que são também sutis e discretas. Permaneceu fotógrafo ‘independente’ ao longo de
sua carreira. Moore procurava o extraordinário no lugar-comum. Sentiu-se atraído
pela ‘fronteira da civilização’ e trabalhou grande parte do tempo na região de
Cúmbria, no noroeste da Inglaterra. As ilhas e a costa da Inglaterra e do País de
Gales – habitadas ou vazias – aparecem com destaque em suas imagens.
Martin Parr (nascido em 1952)
Um dos mais bem sucedidos e prolíficos analistas da cena social britânica (e, nas
últimas décadas, da cena internacional), Parr conheceu o trabalho de Tony RayJones quando era estudante e passou a fazer trabalhos de mesmo teor, ao longo
7 dos anos 1970 e 1980, em Yorkshire, no oeste da Irlanda e em outros lugares:
narrativas nuançadas da vida e da atividade urbana e rural em comunidades
tradicionais que passavam por mudanças. O trabalho em cores de Parr da década
de 1980 foi muito influente, assim como o de Paul Graham. The Last Resort, uma
série colorida da fase inicial, usou como tema a cidade costeira de New Brighton,
perto de Liverpool, com sua população operária. Recebeu críticas pela utilização do
flash diurno e pelas fotos de turistas aparentemente inocentes, tiradas de perto em
um ambiente pouco romântico, consideradas intrusivas e insensíveis, mas também
recebeu muitos elogios. Essas fotos deram o tom ao seu trabalho posterior e
ajudaram a estabelecer sua reputação internacional.
Paul Graham (nascido em 1956)
Graham utiliza a cor para explorar temas sociais e políticos geralmente abordados
em sombrio preto e branco: explorou a tensão entre as qualidades emocionais das
cores e as realidades austeras ou banais de seus sujeitos. Beyond Caring foi uma
série fotografada clandestinamente nas salas de espera do departamento de saúde
e previdência britânico, onde os desempregados, em número crescente nos anos
1980, buscavam trabalho e assinavam o contrato para receber os benefícios. A
Troubled Land mostra o estilo reticente e discreto de Graham, aplicado aqui para as
realidades políticas explosivas do longo conflito religioso – “The Troubles” – entre as
comunidades católica e protestante, e a longa luta entre o governo britânico e as
forças republicanas da Irlanda do Norte. Ao invés de representar qualquer ‘ação’,
Graham examina cenas aparentemente calmas do interior e dos subúrbios e escolhe
pequenos detalhes – as cores da bandeira republicana nas sarjetas ou um poster
favorável à permanência do país no Reino Unido em um poste telegráfico –, o que
trai os profundos e enraizados efeitos do conflito, no passado e no presente.
Keith Arnatt (1930-2008)
Arnatt ganhou reconhecimento como artista conceitual nos anos 1960, trabalhando
em vários campos, mas se voltou para a fotografia no início da década de 1970.
8 Visitors foi a primeira série que concluiu como fotógrafo, focalizando visitantes nas
ruínas da Abadia de Tintern, um marco histórico próximo à sua casa, no sul do País
de Gales. Inspirado pelos grandes retratistas da tradição fotográfica, como August
Sander e Diane Arbus, Arnatt era fascinado pelo ritual e pelas convenções de ser
fotografado. Ele falava dessas obras como ‘pseudoinstantâneos’. Miss Grace’s Lane
encontra estranha beleza numa paisagem despojada e apresenta uma versão
contemporaneamente irônica da convenção inglesa da paisagem ‘pitoresca’.
Anna Fox (nascida em 1961)
A série à qual pertencem estas imagens, Work Stations – Office Life in London, foi
encomendada pelo Museu de Londres e pela galeria Camerawork. Fox adotou uma
abordagem e um estilo documental subjetivos, aprendidos com Martin Parr e
Graham Paul – uso de flash, cores intensas e close-up –, e abordou um assunto que
normalmente não se fotografa: o ambiente desagradável (em parte doméstico, em
parte corporativo) do escritório. A série expõe as hierarquias sociais e de gênero e
os estereótipos presentes nos anos do governo conservador de Margaret Thatcher.
Karen Knorr (nascida em 1954)
A partir do final dos anos 1970, Knorr – que, como vários artistas, estudou em
Londres com o artista conceitual Victor Burgin – engajou-se na crítica política e na
pesquisa fotográfica sobre as instituições, atitudes e modos do establishment inglês:
em casa, nos clubes exclusivos, praticando esportes em suas terras no campo. Ela
descreve seu trabalho como uma ‘criminologia das classes superiores’. Estas obras,
pertencentes a uma das primeiras séries de seu grande projeto, Belgravia, estão
situadas numa abastada zona residencial do oeste de Londres. Elas repetem
aspectos da obra de Brandt que explorava a diferença de classes na Londres dos
anos 1930, mas as imagens de Knorr são uma crítica à tradição do documentário
social. São imagens cuidadosamente construídas, que não deixam nada ao acaso e
empregam fragmentos de texto retórico não como legendas, mas como comentário
9 integrante da imagem, finalizando o trabalho e desviando o documento fotográfico
para outra direção.
Derek Ridgers (nascido em 1952)
Ridgers, fotógrafo formado em publicidade, criou um extraordinário arquivo
documental de estilo de rua a partir dos anos 1970. Ele combina os gêneros de
retrato, documentário social e fotografia de moda. A fotografia de gangues de jovens
e de subculturas é uma vertente recorrente da fotografia britânica desde a década
de 1950. O trabalho de Ridgers, decorrente do interesse pessoal e não da intenção
programática, assume uma postura neutra, sem julgamento, que a diferencia dos
documentaristas sociais predominantes no período. Ele atua como observador de
‘tribos’ definidas por sua localização, música e figurino – punks, neorromânticos e
(aqui) skinheads, uma subcultura amplamente associada ao desafeto e a atitudes
nacionalistas e racistas – como espectador fascinado e não como insider ou
simpatizante.
Peter Fraser (nascido em 1953)
Tanto em trabalhos contratados como em projetos independentes, as imagens de
Fraser recusam leituras fáceis ou imediatas. Elas evitam qualquer compromisso
social ou documental claro. Fraser foi fortemente influenciado, desde cedo, pelo
trabalho do grande fotógrafo e colorista americano William Eggleston. Seu trabalho
com a cor – que também se mostrou influente – adota um foco igualmente subjetivo,
poético, às vezes rebelde diante de lugares e objetos comuns – ‘ícones cotidianos’.
Nesses trabalhos, a cor em si oferece um ‘gatilho psicológico’ e um forte elo
narrativo.
Jem Southam (nascido em 1950)
As paisagens de Southam retratam o sul e o sudoeste da Inglaterra, seus rios e o
litoral. Como em Paul Nash, sua prática tem raízes no lugar e no tempo, na
10 caminhada, na exploração e na descoberta. Suas imagens são estruturadas em
séries e constituem uma forma de narrativa, um desenrolar de histórias lentas, de
referências ilusórias e relações fortes com o local. Elas trazem o espectador para o
presente da paisagem, com seus traços do trabalho do homem, e também o levam
até o seu passado mais antigo, às lentas correntes do tempo geológico. Estas
imagens fazem parte de uma série maior, A Raft of Carrots, exibida pela primeira
vez em 1992.
Richard Billingham (nascido em 1970)
O tema de Billingham – de pessoas ou paisagens – é intensamente autobiográfico.
Ele é mais conhecido pela importante série de fotografias que fez a partir de 1990
sobre sua família – Ray, seu pai alcoólatra; Liz, sua mãe; seu irmão Jason e muitos
animais de estimação – em sua casa em Birmingham. As imagens, próximas,
granuladas e às vezes fora de foco, carregam um poderoso e íntimo relato
estreitamente observado ao longo do tempo de uma forma de vida extrovertida e
muitas vezes caótica, cheia de eventos inconsequentes e alimentada por álcool e
cigarros. Os trabalhos foram publicados em forma de livro com o título Ray’s a
Laugh, em 1996.
Paul Seawright (nascido em 1965)
As imagens de Seawright na série Sectarian Murders vão além da reportagem e das
imagens de conflito granuladas e em preto e branco normalmente associadas com a
Irlanda do Norte e sua história de comunidades divididas pela religião. Elas mostram
lugares onde algo aconteceu tempos atrás. Seawright pesquisou, localizou e
fotografou lugares onde pessoas foram mortas no longo e arrastado conflito, na
época em que ele era menino em Belfast. Os textos simples e factuais criam uma
carga emocional na qual um passado doloroso colide com um presente muitas vezes
banal e inocente.
11 Wolfgang Tillmans (nascido em 1968)
Tillmans é um fotógrafo alemão que estudou na Grã-Bretanha, onde estabeleceu
uma de suas bases há mais de 20 anos. Seu trabalho teve enorme influência nesse
período. Tillmans rejeita as categorizações convencionais: ele se move entre a
moda, o documentário e a arte, e cruza e mistura gêneros (retratos, natureza-morta
e documentário social) com facilidade. Seu uso da imagem é típico de uma nova
abordagem do documento fotográfico, que se afasta do engajamento com as
questões públicas para explorar uma política pessoal enraizada na sua própria vida
e em suas experiências. Tillmans também adotou formas inovadoras de mostrar seu
trabalho: muitas vezes não emoldura as obras, pregando-as na parede em arranjos
complexos ou usando vitrines.
Jason Evans (nascido em 1968)
Esta série, parte do primeiro trabalho de moda do fotógrafo galês, foi publicada na
revista de estilo i-D em 1991. Parece estar posicionada em algum lugar entre a
moda e o documentário e é característica de um novo realismo, que mistura arte,
moda e vida nas ruas, o qual veio à tona naqueles anos. Apresentando uma mistura
intrigante que combina o excêntrico vestuário britânico, jovens modelos negras com
atitude e respeitáveis ruelas suburbanas, Evans comentou: “Era uma nova visão da
Grã-Bretanha. Estávamos tentando quebrar estereótipos”.
Simon Roberts (nascido em 1974)
Em 2007 – como Ray-Jones e Meadows antes dele – Roberts viajou pela GrãBretanha em um trailer para fazer um retrato documental do povo inglês, geralmente
envolvido em atividades de lazer em paisagens campestres. Seu olhar fotográfico é
informado pela tradição da pintura de paisagem e toma o posicionamento de um
observador distante e desengajado: as pessoas que fotografa parecem pequenas,
concentradas em seus próprios assuntos e inconscientes da sua presença. A série
foi publicada como We English em 2009. Em seguida, Roberts realizou séries sobre
campanhas políticas (como fotógrafo oficial das eleições) em 2010 e, mais
12 recentemente, sobre a crise econômica atual, a Grã-Bretanha em uma nova era de
austeridade.
Nigel Shafran (nascido em 1964)
Shafran começou como fotógrafo de moda inovador, mas voltou-se, no início dos
anos 1990, para uma prática de sereno realismo e para exposições e livros (muitos
publicados por ele mesmo), como RuthBook (1995), uma série fotográfica centrada
na sua parceira Ruth, da qual essas obras são extraídas. Os lugares de Shafran são
a casa e a rua suburbanas, o supermercado e a loja de segunda mão. Suas
fotografias são documentos pessoais simples e diretos do conhecido, do cotidiano,
de lugares, situações e relações, dos rituais da vida doméstica ao longo de dias e
anos e dos registros do acaso e da mudança que marcam a passagem do tempo.
Rut Blees Luxemburg (nascida em 1967)
Nascida na Alemanha, Luxemburg estudou e agora ensina fotografia em Londres.
London – A Modern Project, publicado em 2001, é um retrato da cidade à noite,
vazia e anônima, mas de alta carga psicológica. Os cenários – blocos de
apartamentos, estacionamentos, ruas – são banais e enigmáticos, locais
imaginativos a serem ocupados. O ponto de vista é geralmente no alto, e a longa
exposição das imagens suspende o tempo e remove todos os vestígios de atividade
humana: “Londres, com as luzes acesas, mas ninguém em casa”.
Sarah Jones (nascida em 1959)
Jones iniciou a série Francis Place em 1996. Ela coloca três adolescentes, Camilla,
Rohan e Stephanie, em cenários em uma das casas de seus pais – seu próprio
ambiente, um espaço real, mas que foi reorganizado e rearranjado. Cada pose e
gesto, cada objeto na imagem carrega sentido; as obras ocupam uma posição na
fronteira entre o real e o imaginário, o documento fotográfico e o quadro construído,
com alusões à história da arte e da psicanálise. As modelos e o ambiente pertencem
13 à classe média alta. A atmosfera é carregada e desajeitada, as adolescentes vivem
um ambiente pesado pela ‘bagagem’ cultural de uma geração anterior.
John Duncan (nascido em 1968)
O trabalho de Duncan reconhece a sua formação tanto em documentário quanto na
fotografia artística. Estas obras fazem parte de uma série produzida ao longo de 3
anos, que documenta a longa tradição da construção de fogueiras todo dia 11 de
julho nas comunidades protestantes de Belfast, Irlanda do Norte, em comemoração
à vitória militar dos protestantes sobre o líder católico James Stuart em 1690. Como
as tipologias de estruturas industriais feitas pelos influentes fotógrafos alemães
Bernd e Hilla Becher a partir dos anos 1970, o projeto de Duncan, caracterizado pelo
foco nítido, constrói um arquivo de igualdade e diferença, de referência social,
histórica e simbólica, que fala da coesão e do conflito das comunidades no presente
e no passado longínquo.
Gareth McConnell (nascido em 1972)
Muito do trabalho de McConnell, particularmente no início de carreira, envolveu sua
própria comunidade e as questões de história, identidade e fidelidade. Ele nasceu
em Carrickfergus, uma cidade na Irlanda do Norte mergulhada na história do conflito
secular, e as pessoas que fotografa são de sua própria comunidade. Os
personagens da série Albert Bar (aqui) pertencem à comunidade leal à Grã-Bretanha
(protestante), alguns são paramilitares, e o ‘momento’ das fotografias é a primavera
de 1999, quando o Acordo da Sexta-Feira Santa assinalou uma etapa importante do
processo de paz e o início da libertação condicional e da anistia gradual dos
prisioneiros políticos, alguns dos quais estão representados aqui. O peso do
presente e do passado, de histórias individuais e coletivas, é capturado na atmosfera
tranquila e na baixa luz natural do interior do pub.
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