OBSERVADORES Fotógrafos da Cena Britânica desde 1930 até Hoje Cecil Beaton (1904-1980) Fotógrafo, designer de moda e de teatro, figura da alta sociedade e fotógrafo da família real, Beaton era bem relacionado e muito produtivo. Ele se estabeleceu como fotógrafo freelance no final da década de 1920, e durante os anos 1930 (até o início da Segunda Guerra Mundial) trabalhou exclusivamente para a revista Vogue, de Condé Nast. O meio social que captou no período entre guerras é o mundo dos privilégios, um universo à parte. Até a Segunda Guerra Mundial, a fotografia de Beaton – suas elegantes imagens da aristocracia e seus cenários de estúdio cuidadosamente construídos, com espelhos e adereços elaborados – resistiu com determinação às realidades mais sombrias do mundo real. Bill Brandt (1904-1983) Brandt (filho de uma inglesa e um alemão) dedicou-se à fotografia em Paris, a partir de 1929, onde passou um breve período no estúdio do fotógrafo surrealista Man Ray e onde viu o trabalho de Eugene Atget e Brassai. Estabeleceu-se em Londres em meados de 1930 e trabalhou como fotojornalista freelance para revistas como Picture Post, Illustrated Weekly e Harper’s Bazaar. Seu livro The English at Home foi publicado em 1936, e A Night in London saiu em 1938. Também fotografou os mineiros de carvão e as cidades industriais do norte da Inglaterra durante os anos mais difíceis da Grande Depressão, e fez algumas de suas imagens mais conhecidas no metrô de Londres, durante o bombardeio aéreo alemão de Londres (a ‘Blitz’) em 1940. Humphrey Spender (1910-2005) 1 Spender trabalhou como fotojornalista de diferentes jornais antes de se tornar fotógrafo do movimento Mass Observation, um grupo criado em 1937 que trabalhava com uma rede de ‘observadores’ voluntários atuando como espiões para reunir um acervo de informações sobre detalhes da vida britânica e o comportamento do povo em todo o país. Mass Observation começou um projeto chamado Worktown em 1937. Spender debruçou-se sobre a ‘representativa’ cidade industrial de Bolton, no norte da Inglaterra, e a vizinha cidade de Blackpool, no litoral. As fotografias documentais incluídas aqui foram feitas nessas duas cidades e focalizam as pessoas em casa, nas ruas, nos pubs e clubes, no trabalho e no lazer. George Rodger (1908-1995) Fotojornalista do final dos anos 1930 e membro-fundador (com Robert Capa, David Seymour e Henri Cartier-Bresson) da influente agência fotográfica Magnum em 1947, Rodger passou os primeiros meses da Segunda Guerra Mundial em Londres, antes de partir para a África como fotógrafo de guerra. Suas imagens próximas e sensíveis dos preparativos para a Blitz (o ataque aéreo alemão sobre a cidade) e da sequência dos ataques foram amplamente divulgadas na Picture Post e na Life, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Elas se tornaram propaganda eficaz, ajudaram a contribuir para a imagem do ‘espírito da Blitz’ dos londrinos, junto ao slogan do Ministério da Informação da época: “Mantenha a Calma e Siga em Frente”. Paul Nash (1889-1946) Nash, importante artista surrealista britânico a partir dos anos 1930, era, em primeiro lugar, pintor. Fez fotos sobretudo para usar em suas pinturas, nas quais os motivos das fotografias reaparecem constantemente. Nash viu no imediatismo e precisão da imagem fotográfica a possibilidade de oferecer ‘outro olhar’ ao artista. Suas fotografias, assim como suas pinturas, apresentam uma visão misteriosa e préhistórica da paisagem inglesa, marcada pela história e animada, como ele a via, por ‘objetos-personagens’, elementos antropomórficos da paisagem equivalentes às pessoas. 2 Mme. Yevonde (1893-1975) “Madame Yevonde – Fotógrafa Retratista” abriu seu primeiro estúdio em Londres em 1914 e continuou a trabalhar na cidade por quase 60 anos. Produziu imagens para publicidade, mas seu trabalho principal era criar retratos estilizados da alta sociedade londrina. Seu trabalho se caracteriza pela iluminação forte, pelo uso arrojado de adereços e pela ‘profusão de cores’ que criou utilizando o processo Vivex-tricolor na década de 1930. A série Goddesses [Deusas] é o seu trabalho mais célebre. Os retratos de senhoras aristocráticas vestidas como figuras da mitologia clássica foram inspirados por um baile de caridade, “A Festa Olímpica”, realizado no Hotel Claridge’s de Londres, em março de 1935, do qual várias de suas modelos participaram vestindo traje clássico. Nigel Henderson (1917-1985) Henderson formou-se como artista plástico e foi fotógrafo autodidata. Começou a fotografar logo após a Segunda Guerra Mundial no East End de Londres, onde vivia com a esposa Judith, que trabalhava em um estudo antropológico da comunidade operária. Henderson tornou-se membro do influente Independent Group em meados dos anos 1950, junto a Richard Hamilton e Eduardo Paolozzi (líderes do movimento Pop Art britânico) e trabalhou com fotocolagem e fotomontagem. Roger Mayne (nascido em 1929) O primeiro interesse de Mayne estava na pintura abstrata inglesa, mas ele se voltou para a fotografia e o realismo influenciado pelo fotógrafo Otto Steinert, na Alemanha, e por Henri Cartier-Bresson. Mayne encontrou seu verdadeiro tema na vitalidade das ruas, observando crianças e adultos nas ruas da Londres bombardeada do pósguerra, particularmente em Southam Street, no bairro operário de North Kensington, no oeste de Londres. A célebre e longa série de fotos que realizou ali por mais de 5 3 anos, entre 1956 e 1961, foi muito reproduzida em jornais e revistas, e Mayne foi considerado o primeiro fotógrafo dedicado a retratar os adolescentes. Norman Parkinson (1913-1990) Parkinson trabalhou como fotógrafo de moda e retratista para a Vogue por 37 anos, até 1978, uma parte do tempo ao lado de Cecil Beaton, para a Harper’s Bazaar, e nos anos 1960 para a revista Queen. Desde o início levou seu trabalho para fora do estúdio, para o ar livre, buscando um novo naturalismo. Seu estilo mudou com o tempo: no final dos anos 1940 e início da década de 1950, capturou uma visão elegante do ‘ser inglês’ na austeridade do pós-guerra britânico, colocando seus elegantes modelos em ambientes rurais e nas ruas cinzentas da cidade. Ida Kar (1908-1974) Nascida na Rússia e criada no Oriente Médio, Kar se casou com um marchand inglês e se mudou para Londres em 1945. Eles se estabeleceram no Soho, no centro de Londres, no centro do círculo boêmio de artistas e escritores, e Kar fez carreira como retratista especializada em artistas, atores e escritores, como os pintores que tipificam o ‘inglês excêntrico’, Stanley Spencer e Augustus John, e a atriz Maggie Smith. Kar fez muito para estabelecer a fotografia como forma artística respeitada nos anos 1950, e sua exposição de fotos em grandes dimensões em Whitechapel, no East End de Londres, foi a primeira mostra individual de um fotógrafo realizada em uma grande galeria de arte de Londres. Não foi a primeira nem a última vez em que se levantou na mídia a questão: “A fotografia é arte?”. Terence Donovan (1936-1996) Donovan fazia parte de um trio de fotógrafos – com David Bailey e Duffy –, a nova geração que ajudou a mudar a face da fotografia de moda e a dar à década de 1960 a sua cara. Seu trabalho inicial trouxe nova informalidade para a fotografia de moda e para os retratos: atuava principalmente fora do estúdio e nas ruas de Londres. 4 Donovan realizou trabalhos para revistas ilustradas de reportagem e de moda, produzindo ensaios fotográficos sobre temas sociais, tais como Strippers e The Lay About Life. Ian Berry (nascido em 1934) Berry iniciou sua carreira como fotógrafo de imprensa em Londres e na África do Sul, mas depois entrou para a agência Magnum em 1963 e retornou ao Reino Unido no final da década de 1960, quando trabalhou para o Observer e outras revistas. Tendo recebido a primeira bolsa de estudos atribuída pelo Arts Council a um fotógrafo, Berry viajou extensamente pela Inglaterra para fazer um amplo painel sobre a cena britânica, ou, como ele dizia, “uma exploração pessoal da vida inglesa”. Seu trabalho foi publicado como livro – The English – em 1978. Shirley Baker (nascida em 1932) Escritora e fotógrafa freelance, Baker fotografou muito sua cidade natal de Salford e a cidade vizinha de Manchester no final dos anos 1960 e início da década de 1970. As imagens que fez nesses anos mostram as rápidas mudanças nas comunidades locais, com casas geminadas dando lugar a edifícios residenciais, no que foi o maior programa de retirada de favelas da Europa na época. Baker voltou à mesma área em 2000, contratada para fazer um novo trabalho 40 anos depois do primeiro. Tony Ray-Jones (1941-1972) O objetivo de Ray-Jones era combinar as funções ‘poética’ e ‘documental’ da fotografia. Formou-se em design e fotografia nos Estados Unidos e, inspirado pelo livro de fotos do americano Robert Frank, The Americans, e pelo de Bill Brandt, The English at Home, retornou à Inglaterra em 1966 com planos para um livro que faria ‘uma importante afirmação’ sobre a sociedade inglesa. Viajou pelo país e produziu uma vasta obra na qual retomou seus temas tradicionais – as classes sociais, os costumes rurais e o lazer do povo inglês – com uma estética visual distinta, arguta e 5 em diversas camadas. A Day Off: An English Journal foi publicado em 1974, 2 anos após sua morte prematura, e influenciou toda uma geração de fotógrafos. Paul Trevor (nascido em 1947) Como parte do Exit Photography Group, que montou em 1973 (com Chris SteelePerkins e Nicholas Battye), Trevor trabalhou em um projeto para documentar a miséria nas favelas do East End de Londres e em outras cidades do Reino Unido e construiu um grande arquivo de fotografias e entrevistas gravadas. Algumas dessas fotos, feitas durante sua estada de 6 meses na cidade de Liverpool, focalizam os bairros de Toxteth e Everton, na zona sul da cidade – cenário das manifestações de 1981 e 1985. As casas geminadas foram demolidas alguns anos depois da realização das fotos. Tish Murtha (nascida em 1956) Em 1980, Murtha começou um extenso projeto fotográfico em sua comunidade, exposto na Side Gallery em Newcastle no ano seguinte com o título Youth Unemployment in the West End of Newcastle [Desemprego juvenil no West End de Newcastle]. A cidade estava entre as mais duramente atingidas no nordeste da Inglaterra durante esse período de declínio econômico e agitação urbana, quando as políticas sociais do governo conservador de Margaret Thatcher receberam severas críticas por tentarem reduzir o Estado de bem-estar social. Murtha adotou uma postura engajada, montando cenas e orquestrando grupos de jovens (alguns dos quais eram seus amigos e familiares) para os retratos e combinando as imagens com legendas retóricas. As fotos unem ternura e ameaça: suas visões pósapocalípticas têm sido descritas como ‘realismo romântico’. Daniel Meadows (nascido em 1952) Meadows, colega de Martin Parr em Manchester, passou um ano em turnê fotográfica por toda Inglaterra em 1973, no The Free Photographic Omnibus, um 6 ônibus de dois andares convertido em estúdio fotográfico. Meadows viu nisso uma empreitada utópica: fotografava as pessoas e gravava conversas com elas, antes de lhes oferecer gratuitamente os seus retratos. Chris Killip (nascido em 1946) Killip começou como fotógrafo de publicidade em 1964 e tornou-se freelance logo depois. Seu trabalho documental foi influenciado pelos fotógrafos americanos Paul Strand e Walker Evans. Produziu um registro fotográfico da ilha de Man (no mar da Irlanda), onde nasceu, publicado em 1980, e, ao longo dos anos 1970 e no início da década de 1980 realizou importantes e influentes obras nas áreas industriais em declínio do nordeste da Inglaterra, algumas das quais foram exibidas e publicadas sob o título In Flagrante, em 1988. Killip rejeita a ideia da objetividade fotográfica: “Estou interessado em fotografar crenças, as minhas e as de outras pessoas”. Raymond Moore (1920-1987) Moore formou-se como pintor na década de 1950, mas dedicou-se à fotografia a partir de 1956. Viajou para os Estados Unidos, trabalhou no estúdio do renomado fotógrafo Minor White e foi influenciado pela obra de Harry Callahan. Há forte influência americana em suas fotografias de paisagens intensamente observadas, que são também sutis e discretas. Permaneceu fotógrafo ‘independente’ ao longo de sua carreira. Moore procurava o extraordinário no lugar-comum. Sentiu-se atraído pela ‘fronteira da civilização’ e trabalhou grande parte do tempo na região de Cúmbria, no noroeste da Inglaterra. As ilhas e a costa da Inglaterra e do País de Gales – habitadas ou vazias – aparecem com destaque em suas imagens. Martin Parr (nascido em 1952) Um dos mais bem sucedidos e prolíficos analistas da cena social britânica (e, nas últimas décadas, da cena internacional), Parr conheceu o trabalho de Tony RayJones quando era estudante e passou a fazer trabalhos de mesmo teor, ao longo 7 dos anos 1970 e 1980, em Yorkshire, no oeste da Irlanda e em outros lugares: narrativas nuançadas da vida e da atividade urbana e rural em comunidades tradicionais que passavam por mudanças. O trabalho em cores de Parr da década de 1980 foi muito influente, assim como o de Paul Graham. The Last Resort, uma série colorida da fase inicial, usou como tema a cidade costeira de New Brighton, perto de Liverpool, com sua população operária. Recebeu críticas pela utilização do flash diurno e pelas fotos de turistas aparentemente inocentes, tiradas de perto em um ambiente pouco romântico, consideradas intrusivas e insensíveis, mas também recebeu muitos elogios. Essas fotos deram o tom ao seu trabalho posterior e ajudaram a estabelecer sua reputação internacional. Paul Graham (nascido em 1956) Graham utiliza a cor para explorar temas sociais e políticos geralmente abordados em sombrio preto e branco: explorou a tensão entre as qualidades emocionais das cores e as realidades austeras ou banais de seus sujeitos. Beyond Caring foi uma série fotografada clandestinamente nas salas de espera do departamento de saúde e previdência britânico, onde os desempregados, em número crescente nos anos 1980, buscavam trabalho e assinavam o contrato para receber os benefícios. A Troubled Land mostra o estilo reticente e discreto de Graham, aplicado aqui para as realidades políticas explosivas do longo conflito religioso – “The Troubles” – entre as comunidades católica e protestante, e a longa luta entre o governo britânico e as forças republicanas da Irlanda do Norte. Ao invés de representar qualquer ‘ação’, Graham examina cenas aparentemente calmas do interior e dos subúrbios e escolhe pequenos detalhes – as cores da bandeira republicana nas sarjetas ou um poster favorável à permanência do país no Reino Unido em um poste telegráfico –, o que trai os profundos e enraizados efeitos do conflito, no passado e no presente. Keith Arnatt (1930-2008) Arnatt ganhou reconhecimento como artista conceitual nos anos 1960, trabalhando em vários campos, mas se voltou para a fotografia no início da década de 1970. 8 Visitors foi a primeira série que concluiu como fotógrafo, focalizando visitantes nas ruínas da Abadia de Tintern, um marco histórico próximo à sua casa, no sul do País de Gales. Inspirado pelos grandes retratistas da tradição fotográfica, como August Sander e Diane Arbus, Arnatt era fascinado pelo ritual e pelas convenções de ser fotografado. Ele falava dessas obras como ‘pseudoinstantâneos’. Miss Grace’s Lane encontra estranha beleza numa paisagem despojada e apresenta uma versão contemporaneamente irônica da convenção inglesa da paisagem ‘pitoresca’. Anna Fox (nascida em 1961) A série à qual pertencem estas imagens, Work Stations – Office Life in London, foi encomendada pelo Museu de Londres e pela galeria Camerawork. Fox adotou uma abordagem e um estilo documental subjetivos, aprendidos com Martin Parr e Graham Paul – uso de flash, cores intensas e close-up –, e abordou um assunto que normalmente não se fotografa: o ambiente desagradável (em parte doméstico, em parte corporativo) do escritório. A série expõe as hierarquias sociais e de gênero e os estereótipos presentes nos anos do governo conservador de Margaret Thatcher. Karen Knorr (nascida em 1954) A partir do final dos anos 1970, Knorr – que, como vários artistas, estudou em Londres com o artista conceitual Victor Burgin – engajou-se na crítica política e na pesquisa fotográfica sobre as instituições, atitudes e modos do establishment inglês: em casa, nos clubes exclusivos, praticando esportes em suas terras no campo. Ela descreve seu trabalho como uma ‘criminologia das classes superiores’. Estas obras, pertencentes a uma das primeiras séries de seu grande projeto, Belgravia, estão situadas numa abastada zona residencial do oeste de Londres. Elas repetem aspectos da obra de Brandt que explorava a diferença de classes na Londres dos anos 1930, mas as imagens de Knorr são uma crítica à tradição do documentário social. São imagens cuidadosamente construídas, que não deixam nada ao acaso e empregam fragmentos de texto retórico não como legendas, mas como comentário 9 integrante da imagem, finalizando o trabalho e desviando o documento fotográfico para outra direção. Derek Ridgers (nascido em 1952) Ridgers, fotógrafo formado em publicidade, criou um extraordinário arquivo documental de estilo de rua a partir dos anos 1970. Ele combina os gêneros de retrato, documentário social e fotografia de moda. A fotografia de gangues de jovens e de subculturas é uma vertente recorrente da fotografia britânica desde a década de 1950. O trabalho de Ridgers, decorrente do interesse pessoal e não da intenção programática, assume uma postura neutra, sem julgamento, que a diferencia dos documentaristas sociais predominantes no período. Ele atua como observador de ‘tribos’ definidas por sua localização, música e figurino – punks, neorromânticos e (aqui) skinheads, uma subcultura amplamente associada ao desafeto e a atitudes nacionalistas e racistas – como espectador fascinado e não como insider ou simpatizante. Peter Fraser (nascido em 1953) Tanto em trabalhos contratados como em projetos independentes, as imagens de Fraser recusam leituras fáceis ou imediatas. Elas evitam qualquer compromisso social ou documental claro. Fraser foi fortemente influenciado, desde cedo, pelo trabalho do grande fotógrafo e colorista americano William Eggleston. Seu trabalho com a cor – que também se mostrou influente – adota um foco igualmente subjetivo, poético, às vezes rebelde diante de lugares e objetos comuns – ‘ícones cotidianos’. Nesses trabalhos, a cor em si oferece um ‘gatilho psicológico’ e um forte elo narrativo. Jem Southam (nascido em 1950) As paisagens de Southam retratam o sul e o sudoeste da Inglaterra, seus rios e o litoral. Como em Paul Nash, sua prática tem raízes no lugar e no tempo, na 10 caminhada, na exploração e na descoberta. Suas imagens são estruturadas em séries e constituem uma forma de narrativa, um desenrolar de histórias lentas, de referências ilusórias e relações fortes com o local. Elas trazem o espectador para o presente da paisagem, com seus traços do trabalho do homem, e também o levam até o seu passado mais antigo, às lentas correntes do tempo geológico. Estas imagens fazem parte de uma série maior, A Raft of Carrots, exibida pela primeira vez em 1992. Richard Billingham (nascido em 1970) O tema de Billingham – de pessoas ou paisagens – é intensamente autobiográfico. Ele é mais conhecido pela importante série de fotografias que fez a partir de 1990 sobre sua família – Ray, seu pai alcoólatra; Liz, sua mãe; seu irmão Jason e muitos animais de estimação – em sua casa em Birmingham. As imagens, próximas, granuladas e às vezes fora de foco, carregam um poderoso e íntimo relato estreitamente observado ao longo do tempo de uma forma de vida extrovertida e muitas vezes caótica, cheia de eventos inconsequentes e alimentada por álcool e cigarros. Os trabalhos foram publicados em forma de livro com o título Ray’s a Laugh, em 1996. Paul Seawright (nascido em 1965) As imagens de Seawright na série Sectarian Murders vão além da reportagem e das imagens de conflito granuladas e em preto e branco normalmente associadas com a Irlanda do Norte e sua história de comunidades divididas pela religião. Elas mostram lugares onde algo aconteceu tempos atrás. Seawright pesquisou, localizou e fotografou lugares onde pessoas foram mortas no longo e arrastado conflito, na época em que ele era menino em Belfast. Os textos simples e factuais criam uma carga emocional na qual um passado doloroso colide com um presente muitas vezes banal e inocente. 11 Wolfgang Tillmans (nascido em 1968) Tillmans é um fotógrafo alemão que estudou na Grã-Bretanha, onde estabeleceu uma de suas bases há mais de 20 anos. Seu trabalho teve enorme influência nesse período. Tillmans rejeita as categorizações convencionais: ele se move entre a moda, o documentário e a arte, e cruza e mistura gêneros (retratos, natureza-morta e documentário social) com facilidade. Seu uso da imagem é típico de uma nova abordagem do documento fotográfico, que se afasta do engajamento com as questões públicas para explorar uma política pessoal enraizada na sua própria vida e em suas experiências. Tillmans também adotou formas inovadoras de mostrar seu trabalho: muitas vezes não emoldura as obras, pregando-as na parede em arranjos complexos ou usando vitrines. Jason Evans (nascido em 1968) Esta série, parte do primeiro trabalho de moda do fotógrafo galês, foi publicada na revista de estilo i-D em 1991. Parece estar posicionada em algum lugar entre a moda e o documentário e é característica de um novo realismo, que mistura arte, moda e vida nas ruas, o qual veio à tona naqueles anos. Apresentando uma mistura intrigante que combina o excêntrico vestuário britânico, jovens modelos negras com atitude e respeitáveis ruelas suburbanas, Evans comentou: “Era uma nova visão da Grã-Bretanha. Estávamos tentando quebrar estereótipos”. Simon Roberts (nascido em 1974) Em 2007 – como Ray-Jones e Meadows antes dele – Roberts viajou pela GrãBretanha em um trailer para fazer um retrato documental do povo inglês, geralmente envolvido em atividades de lazer em paisagens campestres. Seu olhar fotográfico é informado pela tradição da pintura de paisagem e toma o posicionamento de um observador distante e desengajado: as pessoas que fotografa parecem pequenas, concentradas em seus próprios assuntos e inconscientes da sua presença. A série foi publicada como We English em 2009. Em seguida, Roberts realizou séries sobre campanhas políticas (como fotógrafo oficial das eleições) em 2010 e, mais 12 recentemente, sobre a crise econômica atual, a Grã-Bretanha em uma nova era de austeridade. Nigel Shafran (nascido em 1964) Shafran começou como fotógrafo de moda inovador, mas voltou-se, no início dos anos 1990, para uma prática de sereno realismo e para exposições e livros (muitos publicados por ele mesmo), como RuthBook (1995), uma série fotográfica centrada na sua parceira Ruth, da qual essas obras são extraídas. Os lugares de Shafran são a casa e a rua suburbanas, o supermercado e a loja de segunda mão. Suas fotografias são documentos pessoais simples e diretos do conhecido, do cotidiano, de lugares, situações e relações, dos rituais da vida doméstica ao longo de dias e anos e dos registros do acaso e da mudança que marcam a passagem do tempo. Rut Blees Luxemburg (nascida em 1967) Nascida na Alemanha, Luxemburg estudou e agora ensina fotografia em Londres. London – A Modern Project, publicado em 2001, é um retrato da cidade à noite, vazia e anônima, mas de alta carga psicológica. Os cenários – blocos de apartamentos, estacionamentos, ruas – são banais e enigmáticos, locais imaginativos a serem ocupados. O ponto de vista é geralmente no alto, e a longa exposição das imagens suspende o tempo e remove todos os vestígios de atividade humana: “Londres, com as luzes acesas, mas ninguém em casa”. Sarah Jones (nascida em 1959) Jones iniciou a série Francis Place em 1996. Ela coloca três adolescentes, Camilla, Rohan e Stephanie, em cenários em uma das casas de seus pais – seu próprio ambiente, um espaço real, mas que foi reorganizado e rearranjado. Cada pose e gesto, cada objeto na imagem carrega sentido; as obras ocupam uma posição na fronteira entre o real e o imaginário, o documento fotográfico e o quadro construído, com alusões à história da arte e da psicanálise. As modelos e o ambiente pertencem 13 à classe média alta. A atmosfera é carregada e desajeitada, as adolescentes vivem um ambiente pesado pela ‘bagagem’ cultural de uma geração anterior. John Duncan (nascido em 1968) O trabalho de Duncan reconhece a sua formação tanto em documentário quanto na fotografia artística. Estas obras fazem parte de uma série produzida ao longo de 3 anos, que documenta a longa tradição da construção de fogueiras todo dia 11 de julho nas comunidades protestantes de Belfast, Irlanda do Norte, em comemoração à vitória militar dos protestantes sobre o líder católico James Stuart em 1690. Como as tipologias de estruturas industriais feitas pelos influentes fotógrafos alemães Bernd e Hilla Becher a partir dos anos 1970, o projeto de Duncan, caracterizado pelo foco nítido, constrói um arquivo de igualdade e diferença, de referência social, histórica e simbólica, que fala da coesão e do conflito das comunidades no presente e no passado longínquo. Gareth McConnell (nascido em 1972) Muito do trabalho de McConnell, particularmente no início de carreira, envolveu sua própria comunidade e as questões de história, identidade e fidelidade. Ele nasceu em Carrickfergus, uma cidade na Irlanda do Norte mergulhada na história do conflito secular, e as pessoas que fotografa são de sua própria comunidade. Os personagens da série Albert Bar (aqui) pertencem à comunidade leal à Grã-Bretanha (protestante), alguns são paramilitares, e o ‘momento’ das fotografias é a primavera de 1999, quando o Acordo da Sexta-Feira Santa assinalou uma etapa importante do processo de paz e o início da libertação condicional e da anistia gradual dos prisioneiros políticos, alguns dos quais estão representados aqui. O peso do presente e do passado, de histórias individuais e coletivas, é capturado na atmosfera tranquila e na baixa luz natural do interior do pub. 14