Parcerias para a Inovação Tecnológica no Programa Espacial Brasileiro Maria Zélia da Silva Landini Centro Técnico Aeroespacial/Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), 12228-470, São José dos campos, SP, Brasil. José Henrique de Souza Damiani Centro Técnico Aeroespacial/Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), 12228-901, São José dos campos, SP, Brasil Abstract In the last ones almost four decades, the Program Space Brazilian went by countless difficulties that almost put an end to their activities. However, inside of the context of the Technological Innovation found in the partnerships and cooperations, strategy for the development. Key word: Brazilian Space Programs; Technological Innovation; Technological Partnerships. 1 INTRODUÇÃO “O Brasil precisa e merece ter um programa nacional de atividades espaciais com dimensões compatíveis a sua grandeza”. (Brig. Ribeiro, 1999) Nos dias de hoje, é de fundamental importância a capacidade de inovar-se, quer seja na engenharia, na gestão, ou para qualquer atividade intelectual, o sucesso dependerá, cada vez mais, do desenvolvimento constante dessa capacidade. Assim, qualquer instituição seja governamental ou privada, precisará investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), no ensino, na inovação, na cooperação e, principalmente, em parcerias. Vejamos, em decorrência das mudanças observadas no cenário econômico mundial, os programas espaciais passaram a viver uma nova realidade, caracterizada por orçamentos governamentais cada vez mais escassos e a necessidade de justificarem os projetos em bases econômicas. Deste modo, o clima de distensão resultante, passou a facilitar associações entre os países e a possibilidade de um maior acesso dos programas civis às tecnologias desenvolvidas para os programas militares (Meira Filho; Fortes; Barcelos, 1999). Já no Brasil, ao longo destes últimos 40 anos, as organizações governamentais especializadas na área espacial como: o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), têm procurado justificar tanto a sociedade como ao governo federal, a grande importância dos investimentos nesta área. Neste sentido, apesar dos embargos tecnológicos e os esparsos recursos destinados às áreas de pesquisa e desenvolvimento no setor aeroespacial, tanto o CTA como o INPE, vem desenvolvendo-se, inovando-se e deste modo procurando, cada vez mais, alternativas para dar prosseguimento as suas atividades. Uma das alternativas encontrada foi a 1 cooperação e a parceria desenvolvida com o setor privado, outras instituições governamentais e acima de tudo uma aliança cooperacional com países que detêm este tipo de tecnologia. Para Monserrat Filho (1992) a cooperação é hoje necessidade objetiva para melhorar as condições de vida da espécie humana e do planeta. O subdesenvolvimento, a ignorância, o desemprego, a fome, a miséria, as epidemias, a explosão demográfica, todas já não respeitam fronteiras e exigem visão global para o encaminhamento de soluções. Tal realidade impõe novas formas de cooperação internacional nas áreas de ciência avançada inclusive e especialmente nas ciências espaciais. Assim, este artigo tem como objetivo, no campo da inovação tecnológica, apresentar à importância das parcerias intergovernamentais realizadas no Programa Espacial Brasileiro, e os inúmeros benefícios que este programa tem gerado à nação. 2 PARCERIAS PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA À medida que se alcança um maior grau de interdependência econômica, política e tecnológica, entre os distintos agentes econômicos e países do mundo, a inovação tecnológica passa a ser um elemento chave da competitividade nacional e internacional, a ponto de se afirmar que a competitividade de uma nação depende da capacidade de inovação de suas indústrias (Porter, 1990). Mas o que constitui precisamente a inovação? Segundo Jolley (1995) é difícil dar um significado real. Normalmente, pensamos na inovação como a criação de um produto ou de um processo. No entanto, ela pode ser simplesmente a substituição de um material por outro, ou uma maneira melhor de comercializar, distribuir ou mesmo executar um produto ou processo. No entanto, se analisarmos a visão sistêmica da inovação, veremos que ela se preocupa não apenas com o desempenho da firma isoladamente mas, principalmente, com a integração das firmas em complexas relações econômicas e sociais com o seu ambiente. Neste sentido, a política de inovação é complementar à política científica levando em consideração as complexidades do processo inovativo e focalizando às interações dentro do sistema. (Cassiolato e Lastres, 2000:252). Por tanto, a inovação, está fortemente vinculada aos processos de que permitem gerar, reproduzir, retroalimentar processos de aprendizagem e convertê-los em atividades inovadoras (Mota, 1999). Nesta mesma linha de pensamento Lemos (2000:157), acrescenta que enormes esforços vêm sendo realizados para tornar novos conhecimentos apropriáveis, bem como para estimular a interação entre os diferentes agentes econômicos e sociais para a sua difusão e conseqüente geração de inovações. Na França, com a aprovação da Lei 99.587 em 12 de julho de 1999, sobre inovação e pesquisa, estabeleceu-se a transferência de pesquisas financiadas pelo setor público para a indústria e a criação de empresas inovadoras. Nos Estados Unidos o apoio governamental para P&D, envolvendo parcerias entre empresas, universidade e laboratórios federais, teve início nos anos 60 mas expandiu-se fortemente com a aprovação do “Stevenson Wydler Technology Innovation Act”, em 1980. Que abriu os laboratórios federais para o setor industrial, disponibilizando não apenas a infra-estrutura, como também as parcerias no financiamento e uso destas instituições (Scholze e Chamas (1999:85). Já no Brasil, segundo Scholze e Chamas (1999:85), foram as alterações realizadas na legislação de propriedade intelectual que permitiram ao país colocar em vigor mecanismos que privilegiaram a intensificação do intercâmbio entre as instituições de pesquisa, onde tradicionalmente a invenção é gerada, e o setor industrial, mais qualificado para colocar as inovações no mercado. No entanto, segundo estes autores, ainda é necessário discutir e implementar os instrumentos adequados ao aparelhamento de nossas universidades e 2 institutos de pesquisa, para fazer face às novas demandas no campo da propriedade intelectual e da transferência tecnológica. Com isto, a FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) na direção de facilitar a disseminação do conhecimento gerado em universidades e institutos de pesquisas, foi a primeira entidade a criar o Programa de Parcerias para Inovação Tecnológica (PITE). Este programa tem como objetivo apoiar projetos de pesquisa para o desenvolvimento de novos produtos com alto conteúdo tecnológico (Cruz, op. cit., 24). A partir das instituições de pesquisa, foi criado no Brasil o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, cujo objetivo é articular as instituições de pesquisa e criar fomento à pesquisa e formação de recursos humanos de alto nível. Assim, o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia no Brasil foi formado por um conjunto institucional, que articula os processos de natureza política (regulação), estratégica (viabilização) e operacional (ação). As entidades públicas e privadas que operam nestes processos, participam de forma explícita da formulação e implementação das políticas do governo, além de administrarem recursos de diversas fontes: federais, estaduais, financiamentos privados, recursos de renúncia fiscal e internacionais. Contudo, a estrutura institucional que compõe o Sistema Nacional de Inovação Brasileiro, ao longo da década de 90, passou por diversas transformações marcadas basicamente pela redução da responsabilidade do governo sobre as instituições de pesquisa (Baumann, 1999:186). Deste modo, o governo federal vem promovendo a transformação das instituições públicas em organizações sociais, o que significa, na prática, entregar a administração a um conselho gestor, reduzindo a responsabilidade ou obrigatoriedade do governo diante das mesmas. Para Mota (op. cit. 33) no entanto, cabe ao Estado esta responsabilidade, criar condições para que ocorra a interação, entre os subsistemas científicos-tecnológicos e o subsistemas produtivos, de forma a colaborar para seu objetivo maior, ou seja, de capacitar tecnologicamente o sistema produtivo. Já Font (apud Mota, 1999) enfatiza, que os principais problemas enfrentados na América Latina são a falta de comunicação interinstitucional e a ausência de um sistema nacional de inovação. Pois, segundo este autor, parece existir um sistema científico e tecnológico e não um sistema de inovação, na medida em que se proporciona mais oferta de conhecimento do que se tem gerado inovação. Neste sentido, um sistema nacional de inovação se diferencia do conceito tradicional do sistema de ciência e tecnologia pela maior abertura e flexibilidade nos nexos entre as instituições, compreendidas aquelas dedicadas à pesquisa e ao desenvolvimento, bem como, os potenciais usuários, as entidades governamentais e privadas vinculadas à geração, difusão, adaptação e utilização das tecnologias nacionais e importadas. Ou seja, a cooperação e a parceria são instrumentos de interação e a parceria científica e tecnológica são uma das modalidades de cooperação, que contribuem de uma maneira decisiva, ainda que às vezes pouco visível, para a interação, por meio do conhecimento mútuo, do intercâmbio de experiência das atividades conjuntas, de alianças estratégicas, de coordenação de políticas, de difusão e transferência de conhecimento e tecnologias. Assim, enormes esforços governamentais vem sendo realizados para tornar novos conhecimentos apropriáveis, bem como, para estimular as parcerias, entre diferentes agentes econômicos e sociais para a sua difusão e conseqüente geração de inovações (Lemos, 1999:157). 3 O PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO A tecnologia espacial, segundo Teracine (1999:43), é um instrumento ímpar no monitoramento e controle do ambiente em escala global devido a sua capacidade de prover 3 levantamentos sinópticos e repetitivos de grandes áreas, muitas vezes inacessíveis. Por tanto, os satélites de observação da Terra, de comunicações, de navegações e posicionamento, desempenham um papel vital na coleta e disseminação de informações, provendo dados para o desenvolvimento de estratégias viáveis. Em decorrência, para sanar todas essas necessidades no campos das ciências espaciais, foram criados no Brasil grandes programas, abrangendo iniciativas de cunho científico, de aplicações espaciais, de capacitação tecnológica e também voltadas à implementação, manutenção e ampliação da infra-estrutura operacional e de apoio às atividades de pesquisa e de desenvolvimento. Neste aspecto, para exercer estas atividades e programas, como previsto na lei de criação da Agência Espacial Brasileira (AEB), aprovada em 1994, e atualizado para o decênio 1998 - 2007, foi criado o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Este programa, contem as ações destinadas a concretizar os objetivos da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE). Assim, a Política e o Programa são os balizadores para a participação dos órgãos componentes do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), onde o Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento (DEPED), do Comando da Aeronáutica, do Ministério da Defesa, é um órgão setorial. Vejamos, dentre os programas do PNAE, são de responsabilidade do DEPED os veículos lançadores de satélites, bem como, parte do programa de infra-estrutura espacial, a implantação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e a atualização e manutenção do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). No âmbito do DEPED também destacam-se o Programa de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos, o Subprograma de Foguetes de Sondagem e outras atividades na área espacial. Assim, a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), iniciada em 1979, logrou êxito em diversos aspectos, ao qual citaremos: - os lançamentos com sucesso dos dois primeiros satélites desenvolvidos no Brasil, o SCD-1 e o SCD-2; - a implantação da infraestrutura básica para as futuras missões espaciais brasileiras, incluindo o Laboratório de Integração e Testes (LIT); - e com o Centro de Rastreio e Controle de Satélites (CRC), ambos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Resultados ainda dignos de igual destaque foram a implantação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e o desenvolvimento do primeiro Veículo Lançador de Satélites, o VLS-1, ambos pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), subordinado ao DEPED, do Comando da Aeronáutica, do Ministério da Defesa. 4 BENEFÍCIOS GERADOS PELA TECNOLOGIA ESPACIAL A pesquisa e o desenvolvimento geram tecnologia e a sociedade através de transformações aplica e canaliza esta tecnologia para atender as suas necessidade e os seus objetivos. Neste sentido, nas últimas décadas, entre todas as áreas de pesquisa, a que incorporou maiores benefícios à sociedade foi, sem dúvida, a área espacial. Segundo Teracine (1999:46), os atuais benefícios da tecnologia espacial abrangem as comunicações, a meteorologia, a transmissão de TV, a educação, a agricultura, o crescimento industrial, o controle de recursos naturais, da poluição ambiental, o controle de enchentes e de secas, ou seja, abrange cada faceta do empreendimento humano. Neste sentido, muito embora os efeitos econômicos gerados pela ciência espacial apresentam particularidades decorrentes das diferenças entre programas e países, pode-se afirmar que o ponto de partida do processo de geração e difusão das inovações e seus efeitos são as exigências tecnológicas dos projetos espaciais e a organização industrial responsável pela sua execução. No entanto, é preciso lembrar que dada a grande intervenção dos governos neste campo, esse processo é bastante influenciado pelas 4 políticas governamentais de regulamentação industrial, de compra, de propriedade industrial e de concessão para exploração de patentes (Teracine (op. cit. 63). Desta arte, a vasta quantidade de benefícios resultantes da tecnologia espacial, tem transformado o estilo de vida, não somente das nações desenvolvidas, mas também daquelas em desenvolvimento. 5 BENEFÍCIOS GERADOS PELO PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO O objetivo principal do Programa Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE) é de capacitar o país para, segundo conveniência e critérios próprios, a utilização de recursos e técnicas espaciais em benefício da sociedade brasileira (Meira; Fortes; Barcelos, 1999:16). Segundo Sardenberg (1999:3), “as aplicações do programa espacial são de fundamental importância para o desenvolvimento do país, dentre todas as áreas, uma das mais importantes é, sem dúvida, a área de sensoriamento remoto que vem sendo utilizada cada dia mais em uma série de atividades, sobretudo, na área ambiental”. De fato, nos dias de hoje para o Brasil, os satélites desempenham três papéis fundamentais. O primeiro é a interconexão de vilas isoladas, principalmente, na região amazônica, com o resto da nação. O segundo é a distribuição de TV aberta, fechada e paga; a demanda por TV é tão alta, que já preenche a capacidade total dos cinco satélites dos quais o Brasil é proprietário. Além das aplicações comerciais, os satélites distribuem programas relacionados à teleducação, treinamento e telemedicina. O terceiro, tão importante quanto aos outros, é relativo a implantação de redes corporativas para servir grandes empresas e bancos, bem como, grandes companhias prestadoras de serviços de valor agregado (Teracine, 1999). Toda estas atividades de monitoração, tem sido muito bem realizada pelo INPE que há uma década monitora por satélite o avanço do desflorestamento da Amazônia. Vale lembrar que as aplicações espaciais demonstram que os investimentos neste campo têm retorno concreto para a sociedade, não só em benefícios diretos, mas também por meio da implantação e consolidação de indústrias e empresas prestadoras ou cooperadoras de serviços nesta área. Ou seja, em comparação com outros países, o programa de pesquisa e desenvolvimento de foguetes brasileiros, conduzidos pelo CTA/IAE, vem incorporando de forma crescente grandes benefícios ao patrimônio industrial nacional. Dentre os inúmeros setores já favorecidos, alguns podem ser destacados como exemplos mais significativos para a nossa economia e o desenvolvimento. Vejamos, o Sonda I, dos anos sessenta, forçava a necessidade de mobilização do parque industrial brasileiro para a produção de tubos sem costura de ligas de alumínio de alta resistência, até então não produzidos no Brasil. A firma paulista Termomecânica em parceria com o CTA, empenhou-se em resolver este problema o que gerou um domínio nesta tecnologia. O Sonda II e o Sonda III, necessitavam da utilização de laminados de aço de alta resistência (SAE 4130, 4140 e 4340) que não estavam disponíveis no Brasil. Assim, a Acesita em parceria com o CTA, desenvolveu este tipo de laminado que não só supriram as necessidades das atividades espaciais, mas também a de todo o parque nacional. Já na área de química, utilizando as tecnologias desenvolvidas no CTA/IAE, a Andrade Gutierrez produz hoje 50 toneladas por ano, em condições de uso espacial de produtos que até então não eram produzidos no Brasil. Ainda na área de química, foi desenvolvida a resina aglutinante, utilizada nos propelentes compósitos. Neste caso, a parceria foi realizada com o Centro de Pesquisas da Petrobrás (CENPES), e deste trabalho conjunto foram geradas tecnologias referentes à produção de resinas líquidas relativas a polibutadieno. Esta ação gerou inúmeros benefícios, pois estes produtos tem larga aplicação fora da área espacial, como tintas, adesivos, borrachas para solado de calçados, juntas de dilatação, espumas e outros. 5 Para a área de metalurgia, foram desenvolvidos em parcerias com as indústrias aços de ultra-alta resistência, como o aço 300M da mais alta pureza, cuja resistência chega a atingir 210 kgf/mm2. Dentre estas parcerias, destacaremos Eletrometal, Usiminas e a Acesita, sendo que a Eletrometal foi selecionada pela Boeing para fornecimento do aço (300M) destinado à fabricação dos trens de pouso do Boeing 747. Na área de tratamento térmico, foi fabricado e implantado um forno de atmosfera controlada que permite têmpera e revenido de qualquer tipo de aço. Este forno de propriedade do CTA/IAE foi fabricado pela Aichelin e implantados na Eletrometal, é atualmente dos maiores fornos do mundo, com capacidade de tratar peças de até 7,0 m de comprimento e de até 1,5 m de diâmetro. Acrescentemos ainda que as técnicas desenvolvidas para a produção de cascas finas estruturais, calculadas por elementos finitos, que permitiram a total nacionalização de diversos tipos de ventiladores industriais, equipamentos que até 1985 eram totalmente importados. Em resumo, os efeitos das inovações no campo da ciência espacial são identificados como mudanças na qualidade das forças de trabalho, na forma de novos produtos, nas novas condições de comercialização, ou ainda, na melhoria da qualidade de vida da população mundial. 6 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NA ÁREA ESPACIAL Dentre as cooperações e parcerias internacionais no Programa Espacial Brasileiro, destaca-se, inicialmente, a participação norte americana, em 1987, com experimentos realizados no Campo de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) em Natal-RN. Esta cooperação se intensificou, principalmente, na realização de experimentos conjuntos com a “Air Force Geophisics Laboratory” (Santos, 1999). Em julho de 1988, durante uma visita do então presidente José Sarney, os governos do Brasil e da República Popular da China assinaram um acordo para que os dois governos iniciassem um programa de parcerias no desenvolvimento de dois satélites avançados de sensoriamento remoto. O projeto denominado CBERS (Satélite Sinobrasileiro de Recursos Terrestres) agregou a capacidade técnica e os recursos financeiros dos dois países para estabelecer um sistema completo de sensoriamento remoto. A cooperação entre os dois países apresentou um esforço bilateral à transferência de tecnologias avançadas, no sentido de romper o bloqueio erigido na época pelo G7 (Santana & Coelho, 1999:205). Ou seja, existiam na época, inúmeras barreiras que dificultavam o desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, no que se refere à transferência de tecnologia com os países detentores deste tipo de tecnologia. Pois, em 1985 e 1986 os Estados Unidos e outros membros do G7 (Alemanha, Canada, França, Itália, Japão e Reino Unidos), trabalharam em conjunto no desenvolvimento de normas para o controle de exportação de mísseis e veículos lançadores. Com o resultado do trabalho desenvolvido pelo G7, nasceu em 1987 o “Missile Technology Control Regime (MTCR)”. Seus membros, liderados pelos Estados Unidos, decidiram por em pratica diretrizes restritivas aos processos de exportação de itens direta ou indiretamente relacionados a mísseis. A preocupação maior que motivou o G7 à criação de tais regras foi a de reduzir, ou mesmo eliminar, a proliferação de mísseis com capacidade para transportar cargas superiores a 500 Kg às distancias maiores que 300 Km. Mas em fevereiro de 1994, foram vencidas as dificuldades políticas internacionais com o compromisso do Brasil de obedecer as diretrizes do Regime. Assim, o Brasil em 1995 atualizou sua legislação interna e controle de exportação de bens sensíveis e de uso duplo e candidatou-se a membro pleno, com o apoio integral dos Estados Unidos, na reunião do MTCR realizada em Bonn, na Alemanha. Com isto, o Brasil voltou a ser elegível para a cooperação internacional com os países industrializados e uma série de 6 acordos passaram a ser negociados, em nível de governo, com os países que tinham interesse em cooperar com o Brasil na área espacial (Santos, 1999:120). 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A confluência revolucionária das mudanças tecnológicas dotou de mais poder o indivíduo, mas também fortaleceu as alianças e as parcerias estratégicas. Ou seja, o trabalho conjunto passou a ser um grande diferencial competitivo, fortalecendo cada vez mais os intercâmbios em P&D, as cooperativas e diversos tipos de parcerias. O mesmo vem ocorrendo nas pesquisas espaciais, no entanto, é necessário que os governos se conscientizem da grande importância desta área do conhecimento, quer seja no sentido da monitoração ambiental, quer seja para uma melhor qualidade de vida. Para tanto, as ciências aeroespaciais além de objetar avanço do conhecimento , tem se revertido e muito em benefícios para toda a humanidade, seja através de serviços e de subprodutos tecnológicos, seja através do desenvolvimento cultural, advindas dos programas espaciais. Consideremos também a necessidade de desenvolver cada vez mais tecnologias que possam não somente monitorar o Brasil, mas a todo o planeta que a cada dia vem sofrendo mais com as variações e os fenômenos atmosféricos. Assim, nunca foi tão importante desenvolver as pesquisas aeroespaciais, quiçá, seja questão da própria sobrevivência humana. Teracine (op. cit., 54) argumenta que, “os conhecimentos adquiridos nesta área tem sido fundamental tanto como suporte às ações concretas do governo, como também subsídio à caracterização da real contribuição do desflorestamento nas mudanças climáticas globais”. Ao que argumenta os autores Meira Filho, Fortes e Barcelos (op. cit., 18), cabe ao governo, através de ações coordenadas pela Agência Espacial Brasileira a necessária articulação das áreas técnico-científicas com a empresarial, e o estímulo, cada vez mais, à formação de parcerias e intercâmbios com as empresas estrangeiras para que se possa dar continuidade ao desenvolvimento dos projetos espaciais. Vale lembrar ainda, que a aplicação comercial das tecnologias geradas pelos programas espaciais cresce em todo o mundo em ritmo acelerado, e deste modo, consolidar o potencial tecnológico e industrial do país é uma das diretrizes a ser mantida em destaque nas políticas governamentais. À luz do exposto, depreende-se, também, que a tecnologia espacial agrega enormes possibilidades para melhoria global da qualidade de vida, bem como para assegurar alimentos, saúde, educação e segurança ambiental para todos, segundo os padrões de um desenvolvimento sustentável (Teracine, op.cit: 52). Entretanto, o desenvolvimento da capacitação tecnológica para o setor aeroespacial é lento e dispendioso, ficando, portanto, evidente, a necessidade da existência de uma política integrada, bem definida e ágil, que oriente as atividades espaciais no país. É necessário também que esta política tenha uma ação continuada e venha acompanhada do conhecimento e que os resultados esperados só serão obtidos e consolidados dentro de uma perspectiva a longo prazo. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CASSIOLATO, J. & LASTRES, H. Globalização e inovação localizada: experiências de sistemas locais no Mercosul. Brasília: IBICT/MCT, 1999 2. CHIARELLO, M.D. As plataformas tecnológicas e a promoção de parcerias para a inovação. Parcerias Estratégicas, n.8, Maio., p. 93-102, 2000. 3. CENTRO TÉCNICO AEROESPACIAL. Mais um sucesso na parceria entre IAE e o DLR: o VS30/Orion. Montenegro, CTA, Ano IV, n.42, p. 3, 2000. 7 4. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Caminhos para o espaço. 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