Passeio
Algarve
Atrás da praia
há um pinhal
cheio de flores
O Monte da Vilarinha criou três
percursos pedestres para os
seus hóspedes em parceira com
a Walkin’Sagres. Para mostrar
que a vila da Carrapateira, em
Aljezur, não é só praia.
Ana Rute Silva (texto) e
Miguel Manso ( fotos)
12 | FUGAS | Público | Sábado 18 Maio 2013
O
cheiro
a esteva começa logo quando se vira
na direcção de Monte Ruivo, estrada
fora rodeada de vegetação e com as
hélices gigantes do parque eólico a
marcarem a paisagem. Este ano a
chuva ajudou e os campos estão
cheios de água, verdes e brilhantes.
No Verão, o cenário já será diferente, castanho e seco, com os carros
a rumarem à praia. A estrada segue
sinuosa, passamos a Bordeira e as
suas casas brancas e silenciosas, e
a Carrapateira, aldeia do concelho
de Aljezur, aproxima-se. Além da
esteva há rosmaninho no ar. São
cheiros fortes que compõem o cenário numa Primavera que tardou,
mas chegou.
No fundo do Vale do Paraíso e em
pleno Parque Natural do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina, uma
manada de vacas atravessa lentamente a estrada de terra batida,
gingando os badalos ao seu ritmo.
Escondido entre a vegetação, está
o Monte da Vilarinha, uma unidade
de turismo em espaço rural que João
Pedro Cunha, dono do Restaurante Azenhas do Mar, em Sintra, não
descansou enquanto não pôs de pé.
Foram dez anos de papéis e burocracias até obter o licenciamento
de que precisava para construir as
casas pintadas de branco, seguindo
o método tradicional da taipa, com
tecto em cana. Nos 34 hectares de
terreno que comprou, queria semear um alojamento de turismo em família, perto da Carrapateira.
“A escolha da localização teve a
ver com o surf e a caça submarina e
a minha adolescência passada aqui.
Era tudo selvagem, uma aventura,
e eu não descansei enquanto não
vendi uma casa na Praia Grande,
em Sintra, para comprar um terreno. Já cá estavam os estrangeiros
a valorizar a Carrapateira”, conta
João Pedro, enquanto faz uma visita guiada à Fugas. Os jardins, bem
cuidados, integram-se na vegetação
autóctone. Os javalis que, por vezes,
à noite se passeiam nas imediações
não foram afugentados. “Colocámos
câmaras com infra-vermelhos para
os filmar”, revela.
O monte está dividido em três
zonas: a Casa do Forno, a Casa da
Ribeira (composta por quatro casas
T0) e as Casas de Cima (3 casas T1).
A Fugas ficou num dos T0 da Casa
da Ribeira, próximos da piscina e
localizados na zona mais baixa da
unidade, perto da ribeira. Todos os
quartos têm um pequeno pátio com
vista para o vale.
Lá dentro, o espaço é amplo e
sem portas (a não ser a da casa de
banho). Há uma pequena zona de
refeições com uma cozinha equipada com tudo o que é necessário
para cozinhar. E uma zona de estar.
O mobiliário foi feito à medida. Há
mesas-de-cabeceira forradas com
cortiça, paredes de pedra à vista que
contrastam com outras pintadas de
branco, uma cama de casal coberta
de branco.
Na encosta, fica a Casa do Forno.
São três quartos com cama de casal e casa de banho privativa, sendo
que dois deles têm uma sala comum
com lareira. Nas Casas de Cima, há
uma cama no terraço para aproveitar a vista. A sala de estar também
tem lareira e zona de refeições e a
cozinha está equipada, incluindo
com máquina de lavar a roupa. A
decoração é simples. Uma mistura
de praia e campo que se reflecte nos
tons terra, brancos e cinzentos, e
nas telas com referências ao mar
que povoam as paredes.
Os estrangeiros ocupam grande
parte das casas e marcam dias de
férias quando o tempo está bom,
chegando de Faro nos voos lowcost. “Os nossos hóspedes são na
maioria ingleses, holandeses e alemães”, diz João Pedro. Na época
alta, o monte está quase sempre
esgotado e, por isso, o proprietário
quer mostrar que há mais do que
praia na Vilarinha. Na Primavera,
Outono e Inverno também há
FUGAS | Público | Sábado 18 Maio 2013 | 13
Passeio
Algarve
atracções que valem uma viagem
de três horas, a partir de Lisboa.
As caminhadas são uma delas.
“Agosto está reservado de ano
para ano. Os clientes mantêm-se. É
o Inverno que temos de trabalhar
[em termos de ocupação]”, conta.
Foi com isso em mente que nasceu
a Walkin’Carrapateira, uma parceria com a Walkin’Sagres, empresa
fundada pela guia de natureza Ana
Carla Cabrita e que quer levar os
hóspedes a descobrirem a paisagem
natural e rica que envolve a zona.
Mas já lá iremos.
A abertura oficial deste espaço de
turismo rural aconteceu em 2007.
“Não fiz publicidade nenhuma. Mas
convidámos os amigos e isso ajudou
a dinamizar. Foi o passa a palavra, a
melhor forma de fazer publicidade.
Hoje dá-se mais importância à opinião dos amigos e aos comentários
na Internet”, diz João Pedro.
Aqui, respira-se tranquilidade.
Os montes verdes que rodeiam as
casas parecem aconchegar-nos. E
à noite são os sons da natureza que
nos fazem companhia.
No dia em que a Fugas ficou no
Monte da Vilarinha, João Pedro
convidou dois amigos para o jantar. António Rosa e Rui Rodrigues
trouxeram grande parte dos ingredientes e vamos encontrá-los
na cozinha, atarefados, à volta dos
tachos. António produz batata-doce
em Aljezur e é dele a célebre Alcagoita, a manteiga de amendoim
portuguesa, de sabor forte, granulada e natural.
Os produtos da terra serão as estrelas. “Cheire lá estes morangos”,
diz, enquanto segura uma caixa
cheia de fruta. Coze-se o feijão carito, “tradicional de Aljezur”, que
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O Monte da
Vilarinha abriu
em 2007.
Agora criou,
em parceria
com a
Walkin’Sagres,
percursos
pedrestes ao
dispor dos
hóspedes
Guia prático
não precisa de ser demolhado na
véspera e “era a comida dos pobres” - como diz António – tiramse as folhas dos cardos, acabados
de colher, corta-se o alho verde em
rodelas finas. Rui, que deixou uma
carreira no mundo da publicidade
para se dedicar à agricultura biológica, prepara os cardos com ovos. Na
ementa há polvo à lagareiro, favas
com morcela e toucinho frito. Salada
com alface, acelga e flores comestíveis. E um bolo de chocolate, com
os morangos, para rematar. Lá fora,
só se ouve o coaxar das rãs.
Pela estrada fora
João Pedro quer mostrar o outro lado
da Carrapateira. Por isso, a manhã
começa cedo, com uma caminhada
guiada por Ana Carla Cabrita. Para
conhecer a vila a pé, Carla concebeu
três percursos para os hóspedes do
Monte da Vilarinha, com graus de
dificuldade distintos, entre os 3,5
quilómetros e os 18 quilómetros.
Com o pequeno-almoço tomado (pão fresco e caseiro, doces,
sumo de laranja “verdadeiro”),
rumamos de carro à aldeia da Bordeira, ainda adormecida pelo sol
e caiada de branco. A caminhada
começa aqui. Observamos a capela manuelina, e seguimos rumo ao
campo. Carla aponta para umas
flores roxas e vai descrevendo as
características da vegetação. Há
ranúnculos, a planta do linho, funcho, papoilas que regressam aos
campos. “Estes pássaros são abelharucos”, diz, apontando para o céu.
No Pinhal de Bordalete, o chão
é de areia e a caminhada fica mais
exigente. Mas o tempo não custa a
passar. Há árvores centenárias, com
troncos que se enrolam entre si, e
flores características que Carla nos
vai mostrando com entusiasmo.
Ficamos a conhecer a camarinha,
a planta mais comum nestes terrenos, e a vegetação transforma-se à
medida que nos aproximamos da
zona costeira. O Parque Natural do
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina é, aliás, o troço de litoral europeu
mais bem conservado, com espécies
de fauna e flora únicas. “Esta é a biscutella vicentina e há quem venha de
propósito aqui para ver esta planta”,
conta Carla, apontando para a flor
amarela e verde, de folhas achatadas. Também se avista a arméria,
símbolo do parque, acrescenta.
O mar aparece no horizonte e domina, de repente, a paisagem. Paramos para beber um chá frio e bolos
de alfarroba com amêndoa que Carla transportou, firmemente, na mochila ao longo de todo o percurso. “É
isto que quero mostrar. Há natureza,
há gastronomia”, repete João Pedro,
olhando para a paisagem.
Carla caminha sem pressas, respeitando o ritmo de cada um, dos
mais aos menos experientes. Criou
a Walking’Sagres para despertar os
sentidos aos que visitam a região e
dar a conhecer o potencial natural
que a envolve, com mais de 100
espécies florais identificadas como
endémicas (ou seja, específicas da
zona) e raras. Além de Sagres, agora
também caminha na Carrapateira,
respondendo ao desafio que João
Pedro lhe colocou.
Descemos a arriba em direcção à
praia da Bordeira e a manhã passou
a correr. Depois do pinhal, o areal
branco estende-se à nossa frente.
Caminhamos em direcção ao Sítio
do Rio, o restaurante onde vamos
recuperar as forças e provar o peixe
grelhado.
“E agora, continuamos a caminhar
até ao Monte ou pedimos transporte?”, questiona Carla, já depois de
almoço. A ideia de entrar num carro
não ganha adeptos. Afinal, quem já
caminhou até ali, consegue terminar
a etapa.
À chegada ao Monte da Vilarinha,
a piscina convida a um mergulho.
Não interessa quantos quilómetros
se percorreram. A caminhada foi
feita sem pressas e o sol já se está
a pôr no horizonte. A Carrapateira
não é só praia.
A Fugas esteve alojada a convite do
Monte da Vilarinha
ONDE FICAR
ONDE COMER
Monte da Vilarinha
Tel.: 916192119
[email protected]
www.montedavilarinha.com
GPS: 37º10’08.28”N 8º51’30.85”W
Preços: entre 100 euros (época
baixa) e 190 (época alta),
consoante a tipologia
Sítio do Rio
Praia da Carrapateira
Tel.: 282973119
A Fugas comeu um sargo com
salada (11 euros)
COMO IR
Seguir pela A2 em direcção ao
Algarve. Entrar na Via do Infante
(A22) na direcção de Lagos/
Portimão e sair na última saída
(Aljezur/Sines). Na rotunda de
Bensafrim seguir pela N120 em
direcção a Aljezur. Ao avistar o
parque eólico seguir à esquerda
na direcção de Monte Ruivo. No
cruzamento com a N268, virar
à esquerda para Sagres/Vila do
Bispo. Seguir até à Carrapateira,
depois da vila virar à esquerda
seguindo a indicação Vilarinha.
Sítio do Forno
Carrapateira
Tel.: 282973914
A Praia
Arrifana
Tel.: 282998527
A VISITAR
Museu do Mar e da Terra da
Carrapateira
Exposição permanente O oceano,
a nossa terra
Rua do Pescador
Carrapateira
Tel.:282970000
Horário: Terça a sábado, das 10h
às 17h (Inverno) e das 11h às 18h
(Verão)
CAMINHADAS
Contactar o Monte da Vilarinha
ou a Walkin’Sagres (925545515).
www.walkinsagres.com
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