7. Cavitação, Tubo de Sucção e Altura de Sucção 7.1 Cavitação Cavitação é um fenômeno que ocorre quando a pressão estática absoluta local cai abaixo da pressão de vapor do líquido e portanto causa a formação de bolhas de vapor no corpo do líquido, isto é, o líquido entra em ebulição. Quando líquido escoa através de uma bomba centrífuga ou axial, a pressão estática (pressão de sucção) no olho do rotor é reduzida e a velocidade aumenta. Existe, desta forma, um perigo de que bolhas de cavitação possam se formar na entrada do rotor. Quando o fluido move para uma região de mais alta pressão, as bolhas entram em colapso com uma força enorme, dando origem a pressões da ordem de 3500 atm. Desprendimento local de material do rotor pode resultar quando as bolhas entram em colapso sobre uma superfície metálica, e sérios danos podem ocorrer desta prolongada erosão cavitacional. Ruído é também gerado na forma do "crepitar" de lenha sendo queimada quando a cavitação ocorre. 7.1.1 Altura de sucção de bombas hidráulicas Referindo-se à Figura 7.1, cavitação é mais provável de ocorrer no lado de sucção da bomba entre a superfície mais baixa do reservatório e a entrada da bomba visto que é nesta região que as pressão mais baixa poderá ocorrer. Um parâmetro de cavitação σ é definido como σ= Altura total de entrada acima da pressão de vapor Altura desenvolvida pela bomba e no flange de entrada σ = p e / ρg + Ve2 / 2 g − p vap / ρg H (7.1) onde todas as pressões são absolutas. O numerador da equação (7.1) é uma altura de sucção é chamada de altura líquida positiva de sucção (NPSH - net positive suction head) da bomba. Ela é uma medida da energia disponível no lado de sucção da bomba. ` Cada bomba tem um número crítico σ c , que pode ser determinado apenas por teste para encontrar o valor mínimo do NPSH antes da cavitação ocorrer. Vários métodos existem para determinar o ponto de cavitação, σ c e portanto o mínimo NPSH requerido pela bomba, que dependerão do critério escolhido para definir σ c bem como das condições sob as quais o teste é realizado. Um método é determinar a altura normal característica da bomba e então repetir o teste com a entrada da bomba progressivamente bloqueada por uma válvula de modo a aumentar a resistência ao escoamento na entrada. Desta forma será encontrado que para diferentes aberturas da válvula a curva de performance cairá bruscamente da curva normal de operação em vários pontos e uma definição da ocorrência de mínimo NPSH é o ponto em que a altura H cai abaixo da curva característica de operação normal por alguma porcentagem arbitrariamente selecionada, usualmente abaixo de 3%. Nesta condição, a pressão estática p e e a velocidade de entrada Ve são medidas, e σ c é então calculado da equação (7.1). O NPSH mínimo requerido ou σ c pode então ser representado graficamente para diferentes graus de abertura da válvula, para dar a curva σ c em função da vazão, Figura 7.2. D hfr E hfsaida F Vs Linha de energia Ps/ρg H Pe/ρg he Ve Zs Ze hfe A B hfs C HA Ref. Figura 7.1 - Instalação de bombeamento. Na Figura 7.1, a energia perdida entre a superfície livre (A) e o lado de entrada da bomba (e) é dado para escoamento em regime permanente como Energia em A - Energia em e = Energia perdida entre A e e. Escrevendo em termos de alturas ( p A / ρg + V A2 / 2 g + Z A ) = ( p e / ρg + Ve2 / 2 g + Z e ) + (h fs + h fe ) (7.2) onde (h fs + h fe ) representam as perdas. Agora se V A é zero, e se a superfície do reservatório é tomada como referência, Z A é também zero e a equação (7.2) se torna p A / ρg = p e / ρg + Ve2 / 2 g + H s onde H s = Z e + h fe + h fs . Substituindo para p i / ρg na equação (7.1) obtém-se σ = ( p A / ρg − p v / ρg − H s ) / H (7.3) Desde que σ esteja acima de σ c , cavitação não ocorrerá, mas, afim de se conseguir isto, pode ser necessário diminuir H s diminuindo Z e e em alguns casos a bomba pode ter que ficar abaixo do reservatório, isto é, Z e negativo, especialmente se h fs é particularmente alta devido a tubulações longas. Rescrevendo a equação (7.3) para a altura de sucção obtém-se Z e = p A / ρg − p v / ρg − h fs − h fe − σH (7.4) H Q1 Q2 Q3 Q NPSH NPSH medido Q1 Q2 Q3 Q Figura 7.2 - NPSH crítico sobre a característica da bomba 7.1.2 Velocidade específica de sucção É razoável esperar que a eficiência será dependente não somente dos coeficientes do escoamento mas também de uma outra função da cavitação. A outra função é a velocidade específica de sucção que na forma adimensional pode ser definida como n suc = nQ 1 / 2 /[gNPSH ] 3 / 4 (7.5) deste modo η = η (φ , n suc ) (7.6) É encontrado de experimentos que o início da cavitação ocorre a valores constantes de n s e resultados empíricos mostram que n suc ≅ 3 para n em rad/s, Q em m3/s e gNPSH em m2/s2. O parâmetro de cavitação pode também ser determinado por dividir a velocidade específica pela velocidade específica de sucção: n s / n suc = [nQ 1 / 2 /( gH ) 3 / 4 ] /{nQ 1 / 2 /[ g ( NPSH )] 3 / 4 } = (NPSH) 3/4 / H 3 / 4 = σ c3/4 Também de leis de semelhança NPSH 1 / NPSH 2 = ( n1 / n 2 ) 2 ( D1 / D2 ) 2 . (7.7) Figura 7.3 - Visualização do uso de tubo de sucção. 7.2 Tubo de sucção em turbinas hidráulicas Nas turbinas hidráulicas, após o rotor, existe o tubo de sucção que tem a finalidade adicional de converter a velocidade de saída do fluxo em pressão para reduzir as perdas de saída. Dependendo do tipo de rotor este tubo de sucção é colocado na vertical ou deve ser curvado terminando horizontalmente. Referindo-se à Figura 7.3, considere os três casos: 1) Não há tubo de sucção O escoamento é livre e o movimento da água ao cair é acelerado. A água encontra-se a pressão atmosférica a uma altura h acima do nível do poço. Esta altura não é aproveitada no balanceamento energético que nos fornece a energia cedida pela água à turbina. 2) Existe um tubo de sucção reto-cilíndrico A água escoa do ponto 3 (entrada do tubo) ao ponto 4 (saída do tubo) mantendo a mesma velocidade V3 = V4 porque o tubo é cilíndrico. Ganha-se uma quantidade de energia representada pelo desnível h menos as perdas no interior do tubo e à saída do mesmo. A pressão atmosférica é encontrada a uma altura h abaixo da entrada do tubo, o que explica o ganho de energia com a existência do tubo. 3) Existe um tubo de sucção reto-troncônico A velocidade da água diminui do valor V3 a V4 na passagem da mesma pelo tubo. A Figura 7.4 mostra que a pressão p 3 / γ é inferior à pressão atmosférica p atm e que no ponto 4 a pressão reinante é representada pela pressão atmosférica acrescida da altura d'água entre superfície livre no poço e a saída do tubo. Referindo-se à Figura 7.5, o valor de H é dado por H = he + pe γ + Ve2 V2 − ( h a + H atm + a ) 2g 2g Figura 7.4 - Variação das velocidades e pressões no tubo de sucção. A altura motriz para o tubo reto-cilíndrico é H m = H − Lh e para o tubo de sucção reto-trocônico H m' = H − L'h ; O acréscimo da altura motriz será ∆H m = H m' − H m . Sendo Lh , perdas hidráulicas totais no interior da turbina até a saída do tubo de sucção retocilíndrico; L'h , perdas hidráulicas totais no interior da turbina até a saída do tubo de sucção retotroncônico; L*h , perdas hidráulicas totais no interior da turbina até a saída do tubo de sucção retocilíndrico excluída as perdas de saída V42 / 2 g L*'h , perdas hidráulicas totais no interior da turbina até a saída do tubo de sucção retotroncônico excluídas as perdas V4' 2 / 2 g . Assim pode-se reescrever H m = H − ( L*h + V42 / 2 g ) H m' = H − ( L'*h + V 4' 2 / 2 g ) e V42 − V4' 2 ∆H m = − ( L'*h − L*h ) . 2g Uma vez que L'*h − L*h é inferior a V42 − V4' 2 fica comprovada a vantagem do tubo de sucção 2g troncônico. Devido a sua importância em turbinas o tubo de sucção e considerado parte integrante da máquina. Figura 7.5 - Turbina fechada com tubo de sucção reto troncônico. 7.3 Altura de sucção em turbinas hidráulicas No caso do tubo de sucção retilíneo troncônico, Figura 7.6, aplicando a equação de energia entre a entrada e a saída do tubo de sucção resulta: p V2 V2 h3 + 3 + 3 = h4 + Z 4 + H b + Lhs + 4 γ 2g 2g Mas h3 − ( h 4 + Z 4 ) = H s Então p 3 V32 − V 42 Hs = Hb − − + Lhs . (7.8) 2g γ Para que não ocorra cavitação na turbina é necessário que o valor de H s não ultrapasse determinado limite. Usando o fator de Dieter Thoma a altura de sucção também pode ser estimada na forma: p (7.9) H s = H b − σH − v γ No caso do tubo de sucção curvo, Figura 7.7, de maneira similar ao tubo retilíneo obtém-se: p V2 V2 h3 + 3 + 3 = h 4 + Z 4 + H b + Lhs + 4 γ 2g 2g Hs = Hb − p3 γ − V32 − V 42 + Lhs 2g ou H s = H b − σH − pv γ . Neste caso a altura de sucção poderia ser negativa, caso em que se diz que a turbina trabalha com contrapressão. Figura 7.6 - Tubo de sucção retilíneo troncônico. Figura 7.7 - Tubo de sucção curvo. Definindo o rendimento do tubo de sucção como Energia cinética recuperada (V32 − V42 ) / 2 g − Lhs ηs = ; = Energia cinética recuperável (V32 − V42 ) / 2 g pode-se mostrar que V 2 − V42 p H s = H b − 3 − 3 − Lhs γ 2g ou V 2 − V42 p . H s = H b − 3 − η s 3 γ 2g (7.10)