A Associação dos Moradores de Vila Dois Rios e o Instituto Penal Cândido Mendes: Histórias que se cruzam Autores: Bianca Delgadillo (UERJ – [email protected]), Carolina Brito (UERJ – [email protected]), Carolina Roza (UERJ – [email protected]), GabriellaBerçot (UERJ – [email protected]), Jéssica Corrêa (UERJ – [email protected]), Karine Fernandes (UERJ – [email protected]), LarissaShelly (UERJ – [email protected]), Paula Cunha (UERJ – [email protected]) e Welton Lino (UERJ – [email protected]) Tutor: Elaine Marlova Introdução Esta é uma atividade de pesquisa interdisciplinar e coletiva, encaminhada pelos três grupos PET da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a saber, Geografia, Serviço Social e Odontologia, através do “Projeto de Pesquisa Interdisciplinar Ação Integrada dos Grupos de Pesquisa PET-UERJ sobre a Comunidade de Dois Rios, na Ilha Grande-RJ”, em parceria com o Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS). A Vila Dois Rios está situada em Ilha Grande, no município de Angra dos Reis no estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma área de preservação ambiental, além de ser uma área de uso restrito do governo do Estado, onde só as viaturas oficiais do governo e da Prefeitura de Angra podem ter acesso. No entanto, os turistas que têm interesse em visitar a vila, podem percorrer a estrada a pé em duas horas. A vila é um local de difícil acesso, pois o único modo de se chegar até ela é através de uma estrada de terra em estado precário. Este trabalho busca uma análise histórica da Vila, caracterizada por ser uma comunidade penal, que durante o período de 1938 a 1994 abrigou o Instituto Penal Cândido Mendes. Devido às duas tentativas de desativação do presídio, os moradores da comunidade começaram um processo de manifestações contra a sua implosão, o que resultou na criação da Associação de Moradores. Atualmente, a Vila Dois Rios é habitada por ex-funcionários do presídio, trabalhadores do CEADS/UERJ e suas famílias, sendo 75 moradores, dentre estes 15 são crianças, compondo, ao todo, 27 famílias. Caracterizada como uma vila de casas, abriga o CEADS, um Ecomuseu construído onde se localizava a antiga Penitenciária Cândido Mendes. A comunidade carece com a falta de serviços e um dos principais problemas é a dificuldade de locomoção, prejudicando o acesso à educação, saúde e comércio. Objetivos O projeto interdisciplinar teve como objetivo principal fomentar atividades de ensino, pesquisa e extensão envolvendo os três grupos. A parceria com o CEADS foi solicitada tendo em vista a infra-estrutura para a pesquisa e a localização, onde se vislumbrava a possibilidade de desenvolvimento destas atividades junto à população local, além do fato de o CEADS se constituir em um centro de produção e divulgação de conhecimentos científicos e de preservação dos patrimônios natural e histórico. A pesquisa estuda a história da Associação dos Moradores da Comunidade. Parte da análise da formação da associação, contextualizando as manifestações contra a implosão do Instituto Penal, o processo de organização nos anos seguintes, assim como analisa a forma como a mesma está organizada, suas questões atuais e suas relações com a administração da vila pela UERJ, Prefeitura de Angra, INEA, entre outros. Metodologia A pesquisa foi iniciada em agosto de 2011, com um levantamento bibliográfico e documental. Foram realizadas cinco viagens a campo. A primeira visita ocorreu em dezembro de 2011, cujo objetivo foi conhecer a comunidade e introduzir os alunos na atividade de iniciação à pesquisa; a segunda visita em fevereiro de 2012 e teve como objetivo conhecer os serviços prestados para a população. Embasado na bibliografia sobre a trajetória dos movimentos sociais e sobre a história da Ilha, o grupo realizou mais três visitas. A terceira e a quarta visita (junho e agosto de 2012) tiveram como objetivo realizar entrevistas de modo a traçar um histórico da Associação de Moradores e de suas demandas antigas e atuais. Ao todo foram realizadas 15 entrevistas com moradores locais, de um total de 46 casas, totalizando uma amostra de 32,6% dos domicílios. Além disso, foram realizados contatos dentro da UERJ para coletas de dados. A quinta visita objetivou devolver para a população o resultado da pesquisa, com a organização de atividades para a comunidade, de modo que também pudéssemos conferir os dados levantados e acrescentar novas informações. Resultados Observa-se que as demandas existentes na época em que a associação foi criada ainda permanecem no cotidiano, porém algumas dessas questões foram parcialmente resolvidas, como por exemplo, o transporte, já que a população pode usufruir de um ônibus e um carro, conquistados pela associação, além do transporte fornecido pela UERJ. O que fomenta o embate atualmente é o termo de cessão das casas, pois alguns moradores reivindicam judicialmente a permanência no local. A partir do trabalho de campo e da análise do material empírico, pode-se destacar algumas hipóteses investigativas, entre elas a permanência das relações hierárquicas e autoritárias entre os moradores, o que formata, de algum modo, as disputas entre eles. Isso se expressa no perfil do movimento contra a implosão do presídio, que foi organizado e realizado por mulheres e crianças, contando com a desaprovação de muitos moradores homens, ex-policiais e ex-agentes penitenciários. Soma-se a isso, o fato de as duas primeiras gestões da associação, encabeçadas por mulheres, terem sido definidas como “problemáticas”, por alguns moradores. Outra hipótese é a preocupação, por parte dos membros das diversas diretorias, com a “legalidade”, com a institucionalização da política, o que se expressa pela preocupação com a regulamentação da associação, através da elaboração e revisão de seus estatutos. Outro elemento que pode expressar essa hipótese é a judicialização das questões que são objeto de dissenso, como na questão das casas. Conclusão A partir da pesquisa realizada podemos observar a articulação entre teoria e prática através das atividades de iniciação científica e da elaboração de relatórios. Através do trabalho de campo, obtivemos o aprendizado de abordagem e as técnicas de entrevista, sendo este importante para o Serviço Social, pois possibilitou um primeiro contato das bolsistas com a prática da entrevista. Pudemos conhecer uma comunidade, sua história e dinâmica atual. Não sabíamos como seríamos recebidos devido à relação da comunidade com a UERJ, mas, mesmo assim, realizamos as entrevistas necessárias para uma maior compreensão da história daquela população, articulando a questão da organização local com a teoria acerca dos movimentos sociais. Vale ressaltar que esta é mais uma atividade que pode caracterizar um aluno bolsista PET e colocar sua inserção na graduação como diferenciada. Esta experiência de pesquisa interdisciplinar, foi pioneira na história dos PET da UERJ e permitiu uma maior aproximação e articulação dos grupos de acordo com a proposta do programa. Bibliografia BASTOS, Marcos e CALLADO, Cátia Henriques. O Ambiente da Ilha Grande. Rio de Janeiro. CEADS/UERJ. 2009. GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais no ínicio do século XXI: Antigos e novos atores sociais. São Paulo: Vozes. 2003. . SCHERER-WARREN, Ilse. Redes de Movimentos Sociais. São Paulo: Loyola, 1993. SOUSA, Tatiana Caldeira de.Tão perto e tão distante. Uma abordagem antropológica da relação entre a população da Vila Dois Rios e a UERJ. Monografia de graduação em Ciência Sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2002. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas, 2010. WUNDER, Modelos de turismo, florestas e rendas locais. In: PRADO, Rosane M. (org.) Ilha Grande do Sambaqui ao turismo . Rio de Janeiro: Garamond/EDUERJ. 2006. P. 137 - 185