perspectiva Foto: Acervo PQU É imperativo que as empresas atuais passem a gerir seus negócios tendo em vista não só o desempenho financeiro, mas a sustentabilidade, o que inclui práticas economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. Crescer com sustentabilidade Este desafio pode ser definido pela expressão em inglês “triple bottom line”, ou tripé da sustentabilidade. No termo, o “bottom line” representa a saúde do planeta, sem a qual a atividade econômica e a própria vida se inviabilizam. O tripé se constitui em posturas, objetivos e processos que toda companhia deve adotar para criar valor econômico, social e ambiental e minimizar os danos de sua atuação, explica Fernando Almeida, presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Por meio de uma pequena enquete, a revista Classe Mundial buscou exemplos de empresas de variados setores que se pautam pelo equilíbrio da triple bottom line. Respondendo à questão básica de “como a empresa investe e mede seus resultados no tripé da sustentabilidade”, vieram à tona práticas inovadoras, criativas e eficazes, que podem servir como modelo para outras organizações empenhadas na busca da Excelência em Gestão, hoje diretamente ligada ao desenvolvimento sustentável. Classe Mundial 2005 | 17 perspectiva Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Nas palavras de seu diretor de Divisão Financeira, Ricardo Minotto, a Santa Casa cumpre com louvor a missão de “desenvolver e proporcionar ações de saúde para todos, com qualidade e responsabilidade social”. A estrutura atual oferece a maior parte de seus atendimentos ao Sistema Único de Saúde (SUS) - cerca de 60% - e preenche o restante com convênios, prefeituras, estado e particulares, que garantem a auto-sustentação. A abordagem do negócio, inicialmente voltado para “a doença”, evoluiu para a qualidade de vida, educação e prevenção em saúde, com ações para públicos interno e externo. Há campanhas de aleitamento, anti-tabagismo, de apoio a familiares e acompanhamento do egresso. Minotto comenta que a preocupação com o impacto ambiental, tanto em termos de resíduos hospitalares como na melhoria do ambiente de trabalho, é uma prática diária realizada pelo programa CRIAR (Conscientizar, Reeducar, Inovar, Agir, Racionalizar). As ações são monitoradas, no nível corporativo e nas várias unidades, com indicadores e freqüências diferenciados. E o reconhecimento é comprovado com um acúmulo de prêmios, inclusive o PNQ, em 2002. A bicentenária Santa Casa, fundada em 1803, constitui-se num complexo gigante com sete hospitais, faculdade, centro de pesquisa e diversas outras unidades. Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum Na área ambiental, a construtora adota o sistema de gerenciamento CONSERVE (Construção a Serviço da Ecologia), que busca técnicas de Produção Mais Limpa. Um exemplo é o sistema de estrutura de concreto armado que usa formas de polipropileno com escoras metálicas. Desde 1961, o “Com isso, mais de cinco mil árvores Escritório Joal e 30 mil metros quadrados de Teitelbaum já edificou madeira compensada deixaram de ser mais de 330 mil m2 retirados do meio ambiente”, explica de construções o diretor presidente, engenheiro Joal residenciais, comerciais Teitelbaum. e esportivas na cidade Um departamento exclusivo de ações de Porto Alegre/RS. sociais e institucionais se relaciona É a primeira com as comunidades nas quais a construtora brasileira empresa atua. Há ações como o com práticas de auxílio ao Lar da Criança Anne Frank, gestão de Classe alfabetização de empregados de Mundial. subempreiteiras, doação de material escolar, Dia da Qualidade e visitas técnicas de estudantes universitários. A empresa adota o Balanced Score Card, que gerencia proativamente o retorno sobre o investimento destas atividades, de forma qualitativa e quantitativa. Uma coleção de prêmios mostra que a empresa acerta em suas práticas, entre eles o reconhecimento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do PNQ 2003. 18 | Classe Mundial 2005 A operação dos 2.593 km de tubulação do Gasbol, o maior gasoduto da América Latina, que corta cinco estados e mais de 40 cidades brasileiras, é responsabilidade da TBG, desde 1978. perspectiva Siemens Administrar de forma a obter a excelência em uma organização tão extensa e complexa não é tarefa fácil. Wagner Giovanini, diretor de Gestão da Qualidade e Gestão Ambiental da Siemens Mercosur, explica que há um Conselho Consultivo de Cidadania Empresarial, que define as atuações referentes à identidade da companhia. Todas as unidades são independentes, mas alinhadas à macro-estratégia do Conselho, regida pela sustentabilidade. Isto se traduz, segundo Giovanini, no Projeto de Ecoeficiência, disseminado em toda a organização e controlado por um software exclusivo. A educação ambiental é outro ponto forte de atuação. Em Curitiba, por exemplo, a unidade tem bosque próprio onde são apresentadas peças teatrais com temática ambiental. Em São Paulo, trilhas ecológicas, com mata atlântica preservada, têm passeios monitorados para escolas e universidades. Padrões de referência nacionais e internacionais e normas ISO também moldam as políticas corporativas, além dos Critérios do PNQ, que reconheceu a unidade de telecomunicações em 1998. Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil TBG Um Programa de Gestão Ambiental de US$ 30 milhões, reconhecido pelo Banco Mundial como modelo a ser seguido por futuros empreendimentos, demonstra o alinhamento da TBG ao tripé da sustentabilidade, desde o início, diz José Zonis, diretor-superintendente. Entre as ações do Programa, figura o Plano de Compensação Socioeconômico (PCSE) que beneficia cerca de 240 mil pessoas com projetos de infra-estrutura básica, educativos e de geração de emprego e renda. As 22 comunidades indígenas, que vivem próximas à área do gasoduto, recebem atenção especial com a construção de moradias, postos de saúde e escolas. Os resultados do PCSE são monitorados pelos critérios do Instituto Ethos. Na área ambiental, foram criadas, com a participação do Ibama e órgãos estaduais, 12 unidades de conservação. Zonis salienta ainda que, neste campo, houve a realização do Programa de Salvamento Arqueológico, considerado o mais extenso levantamento do gênero no Brasil. Além disso, as estações de entrega (pontos de distribuição do gasoduto para as companhias de gás) utilizam energia solar, e as estações de compressão são abastecidas com o próprio gás natural, sem consumo de energia hidrelétrica. Fotos: Acervos das empresas entrevistadas Entre as líderes do mercado de eletroeletrônicos brasileiro, a Siemens conta com 8.372 colaboradores, doze fábricas, quatro centros de pesquisa e desenvolvimento, e outras unidades diferenciadas. Bradesco Sempre marcado pela inovação, o Bradesco foi um dos primeiros a estimular o uso de cheques, a receber pagamento de contas de luz, a ter internet banking e outros pioneirismos. Não foi diferente nas questões socioambientais. Há quase 50 anos, a Fundação Bradesco oferece ensino gratuito e de qualidade e formou mais de 580 mil pessoas. Recentemente, o banco aderiu a práticas de O Bradesco é o maior banco Governança Corporativa privado do e realizou um importante Brasil: 16,4 trabalho de inclusão social milhões de por meio do Banco Postal, clientes, 913 uma parceria com os agências, Correios. Entre as ações 22.247 na área ambiental, há o máquinas Programa de Ecoeficiência, de autoque racionaliza e reduz o atendimento uso dos recursos naturais. e 1,4 milhão Desde novembro de 2005, de acionistas. aderiu ao Global Compact – um compromisso junto às Nações Unidas para a busca de uma economia global mais sustentável e inclusiva. José Luis Acar Pedro, diretor vice-presidente do Bradesco, explica que todas essas ações são comandadas por um Comitê de Responsabilidade Socioambiental e anuncia que a empresa está adotando as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) em seus próximos Balanços Sociais. Classe Mundial 2005 | 19