MARGENS SILENCIOSAS: A ESCRITURA DA MULHER
NA LITERATURA INDIANA CONTEMPORÂNEA
por
ANNA BEATRIZ DA SILVEIRA PAULA
Departamento de Ciência da Literatura
Tese de Doutorado em Ciência da
Literatura - Semiologia apresentada ao
Conselho dos Cursos de PósGraduação da Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Orientadora: Professora
Doutora Helena Parente Cunha
UFRJ
1º semestre de 2006
DEFESA DE TESE
PAULA, Anna Beatriz da Silveira. Margens silenciosas: a
escritura da mulher na literatura indiana contemporânea.
Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras, 2006. 185 fls.
mimeo. Tese de Doutorado em Ciência da Literatura Semiologia.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Professora Doutora Helena Parente Cunha
Orientadora
________________________________________________________
Professora Doutora Angela Maria Fabiana Mendes
________________________________________________________
Professora Doutora Beatriz Resende
________________________________________________________
Professor Doutor Eduardo de Mattos Portella
________________________________________________________
Professora Doutora Rosa Gens
________________________________________________________
Professora Doutora Angélica Soares
________________________________________________________
Professora Doutora Elódia Xavier
Defendida a Tese:
Conceito:
Em
/
/2006
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 8
2. PÓS-MODERNIDADE E PÓS-COLONIALISMO:
CHOQUE DE IMPÉRIOS .................................................................. 29
2.1- Modernidade: identidade e crises ................................................ 29
2.1.1- Modernidades e soberania ..................................................... 29
2.1.2- Soberania, nação, povo, identidade ..................................... 34
2.1.3- Colonialismo e soberania ..................................................... 38
2.2- Pós-modernidade e pós-colonialismo:
anti-cânone, outras crises ............................................................... 41
2.3- A Índia pós-colonial ........................................................................ 48
3. O CORPO BIOPOLÍTICO DA SOCIEDADE INDIANA ................... 55
3.1- Corpo público ................................................................................... 59
3.1.1- Línguas e dialetos ................................................................. 62
3.1.2- Corpo religioso ....................................................................... 75
3.2- As Escrituras dos corpos: produtividade e valor dos afetos .......... 92
4. ARUNDATHI ROY – CÂNONES E RUPTURAS ................................ 109
4.1- Problematizações do cânone .......................................................... 111
4.2- O deus das pequenas coisas – ícone da transgressão ................... 121
5. O DEUS QUE CORRE PELAS ÁGUAS ............................................... 131
5.1- Limites e margens ......................................................................... 136
5.1.1- Cronologia e memória .......................................................... 139
5.1.2- Disciplina e controle ............................................................. 143
5.2- As leis do amor e a desordem amorosa ......................................... 147
5.3- Silêncio e silenciamento .................................................................. 154
6. CONCLUSÃO ......................................................................................... 165
7. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 178
S INO PS E
Reflexões sobre a condição da escritura e
inscritura da mulher na literatura indiana
contemporânea. Caracterização da historiografia
literária da Índia. Identificação dos resultados da
descolonização nos discursos pós-modernistas e
pós-coloniais da literatura indiana de língua
inglesa.
1. INTRODUÇÃO
Certamente que, em termos puramente práticos, tudo pode começar com a
chegada de uma criança estrangeira. Outra maneira possível seria começar pela
chegada de uma cultura estrangeira. Ou de uma religião, quem sabe, de uma
ideologia...
Acontecimentos suscitam relatos, comentários, interpretações discursos.
Alguns, cercados de solenidade, como letra de lei. Outros, de atenção e silêncio,
traduzindo inquietações, lutas, feridas, dominações
transgressões. Todos,
tratando de identidades e seus jogos de diferenças, suas dobras e marcas.
Eis um lugar
Kerala, Índia apresentando-se por meio de dupla
referência: em primeiro lugar, a história, a realidade, a teia social; depois, a
ficção que, ao se apropriar delas, conduz a uma experiência interpretativa de
diferenças.
Agosto de 2004. Um grupo de mulheres indianas resolve, por conta
própria, dar fim a sucessivos casos de estupros aos quais a polícia da região não
dava atenção. Mataram os suspeitos. Cinco foram identificadas e presas pela
polícia local. Ao invés de se aquietarem e aceitarem o ocorrido, cerca de 400
mulheres cercaram a delegacia e obrigaram os policiais a liberarem as cinco
detidas o que foi feito imediatamente (Veja em anexo). Aquilo que seria um
caso de absurda barbárie assume um caráter bastante específico diante do
contexto sócio-cultural no qual ocorreu, a ponto de receber apoio de diversas
autoridades e até de intelectuais da Índia. Outro absurdo? Nem tanto. Pode-se
9
pensar que, na Índia, o estupro seria causado pela mulher, não encarada como
vítima, mas como provocadora da violência, especialmente se estivesse
desacompanhada de um homem da família ou marido e em espaço público no
momento do crime. Assim sendo, a força policial pouco interfere nesse tipo de
acontecimento, marginalizando a própria queixosa caso esta se apresente a uma
delegacia solicitando providências. Até mesmo a família dessas jovens, crianças
ou senhoras, age com preconceito nesses casos.
O que moveu, então, tais mulheres? É evidente que algo mudou tanto que
elas não tiveram receio suficiente que as fizesse aceitar aquela situação
insustentável como mais uma forma de carma. Transgrediram as leis, a religião
e os costumes de forma a garantirem respeito e justiça até então destinados quase
que exclusivamente aos homens.
Enfim, assiste-se às transformações culturais mais profundas já ocorridas
na Índia desde a sua Idade Média, período em que o hinduísmo tornou-se a
religião dominante no país. Trata-se de um questionamento das tradições que
compõem até mesmo a estrutura econômica da Índia já que atinge a própria
concepção das castas, visto que esse movimento feminista tem açambarcado a
luta por igualdade social, principalmente no que se refere à casta dos intocáveis.
Portanto, a mulher indiana não se insurge sozinha; ela acompanha uma série de
insurreições em todo o território indiano, desde os grandes centros como Mumbai
(Bombaim) e Nova Déli até as distantes planícies desérticas do Rajastão.
No entanto, tal movimento não é isolado já que se insere num conjunto de
transformações relativas às sociedades modernas no final do século XX, e ao
10
processo de fragmentação das concepções culturais de classe, gênero,
sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, as quais, no passado, forneceram a base
para que os indivíduos se localizassem socialmente.
Até mesmo a idéia, que temos de nós próprios enquanto sujeitos
integrados, está sendo atingida por essas transformações. É aquilo para o qual
Stuart Hall aponta como “crise de identidade”, resultante de uma sensação de
deslocamento ou de descentração que o indivíduo tem em relação ao social, mas
também em relação a si próprio. O crítico cultural Kobena Mercer acrescenta
que, “a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando
algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da
dúvida e da incerteza” (1)
Analisados em conjunto, esses processos de mudança significam uma
transformação bastante ampla e intensa daquilo que se tinha como uma
concepção essencialista ou fixa de identidade. Resvala, inclusive, naquilo que,
desde o Iluminismo, é tido como essencial do ser humano e fundamental a nossa
existência.
Stuart Hall (Hall, 1987), ao discutir essa questão, distingue três
concepções de identidade, a saber: a) sujeito do Iluminismo; b) sujeito
sociológico, e c) sujeito pós-moderno.
O sujeito do Iluminismo estava baseado na visão do homem como um
indivíduo totalmente centrado, unificado, racional, consciente e capaz de agir.
Esse núcleo interior do ser era a sua identidade, pois surgia quando indivíduo
nascia, mas acompanhava seu desenvolvimento, mantendo-se o mesmo em
11
essência: o eu exterior correspondia, então, ao eu interior.
Como a denominação de sujeito sociológico sugere, a concepção de que
havia um eu autônomo e auto-suficiente não atendia mais ao que o mundo
moderno e complexo demandava. A identidade passou a ser compreendida como
um processo resultante da interação do sujeito com outras pessoas, importantes
para ele já que lhe serviam de mediadoras entre ele e a cultura da sociedade em
que estavam inseridos. G. H. Mead, C. H. Cooley e os interacionistas simbólicos
foram os expoentes da sociologia que elaboraram tal concepção “interativa” da
identidade e do eu. Para eles, o indivíduo teria sim um eu interior, chamado de
“real”, só que em permanente diálogo com os ambientes culturais e as
identidades por eles fornecidas.
A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre
o “interior” e o “exterior” entre o mundo pessoal e o mundo público.
O fato de projetar a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao
mesmo tempo que são internalizados seus significados e valores,
tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar os sentimentos
subjetivos com os lugares objetivos que são ocupados no mundo social
e cultural. A identidade, então, costura (ou, para usar uma metáfora
médica, “sutura”) o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos
quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos
reciprocamente mais unificados e predizíveis. (2)
Porém, o que se observa agora é que o sujeito, os mundos culturais e o
processo de identidade em si não são mais os mesmos. O sujeito tornou-se
fragmentado, e composto de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou
não-resolvidas. Proporcionalmente, as identidades fornecidas pelos mundos
culturais entraram em crise por conta das mudanças estruturais e institucionais.
E o próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas
identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático. Disso
12
resulta o sujeito pós-moderno, desprovido de uma identidade fixa, essencial ou
permanente.
2. PÓS-MODERNIDADE E PÓS-COLONIALISMO:
A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e
transformada
continuamente
em relação às formas pelas quais somos
CHOQUE DE
IMPÉRIOS
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam
(Hall, 1987). É definida historicamente, e não biologicamente. O
sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente.
2.1-Dentro
Modernidade:
identidade e crises
dos indivíduos há identidades contraditórias, empurrando em
diferentes direções, de tal modo que suas identificações estão sendo
2.1.1Modernidades
e soberania
continuamente
deslocadas.
Se existe a idéia de uma identidade
unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque se constrói
uma cômoda estória sobre o indivíduo ou uma confortadora “narrativa
do eu”. (veja Hall, 1990) (3)
Estudar a Pós-Modernidade, seus caminhos e impasses, suas produções
conseguinte,
época emRoy,
que feminino,
uma ampla
gama de
culturaisVive-se,
– entrepor
elas,
o trabalho numa
de Arundathi
ex-cêntrico,
representações culturais
dispostas
aos indivíduos,
os quais,
multimidiático
requer asignificativas
recuperação são
de alguns
aspectos
fundamentais
da
ainda que temporariamente,
com
alguma identificação.
O
modernidade,
notadamente a estabelecem,
maneira como
elaelas,
se configura
nas sociedades
resultado édestacando
um angustiante
de múltiplas
identidades
possíveispor
que
tomae
européias,
que, processo
se o horizonte
pós-moderno
se constrói
crises
o lugar deessas
uma também
identidade
plenamente
identificada,
segura e coerente.
rupturas,
já estão
presentes
no períodocompleta,
que o antecedeu.
Não se pode
descartar,
também,temporais
o papel que
a globalização
como umao
Existem
diferentes
concepções
quanto
ao que se consideraria
fase dado
Pós-Modernidade
exerce naoquestão
da identidade.
Como Marx
disse
início
moderno. O Humanismo,
Renascimento
e o Iluminismo,
enquanto
sobre a Modernidade:
marcações
historiográficas da do percurso da Razão desde o início até seu
apogeu, constituem ciclos evolutivos da modernidade e contribuíram, cada um a
[...] é o permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de
todasaasformação
condiçõesdo
sociais,
a incerteza e o movimento eternos... Todas
seu modo, para
Estado-Nação.
as relações fixas e congeladas, com seu cortejo de vetustas
e concepções,
são o
dissolvidas,
todas as da
relações
recémFoi representações
o Estado-Nação
que traduziu
projeto político
Modernidade,
ao
formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido
se desmancha no ar... (4)
instituir a igualdade como um dos seus principios básicos. Igualdade esta
Fica,
diferença
as sociedades
explicada
pelaentão,
razão,estabelecida
pela lógica adaprincipal
superioridade
racialentre
e pelo
poder de que a
“tradicionais”
as “modernas:
estas têm
como
característica
a mudançaa
tecnologia
e aeciência
como um todo
dotou
o homem.
Definitivamente,
30
humanidade encontrava-se liberta da ignorância e da submissão ao transcendente
vividos na Idade Média.
Porém, o que interessa ao estudo que começo a desenvolver, é que essa
Modernidade não se restringiu ao território europeu. Lá ela exerce uma
revolução coerente com o que se viveu, na quase totalidade do continente, no
período histórico anterior. Mas o que ocorreu quando através do Colonialismo a
concepção do moderno chegou a outras partes do mundo?
Tal conflito, inicialmente interno, atinge escala global após a descoberta
da América e o início do domínio europeu sobre o resto do mundo: ao descobrir
seu “lado de fora”, a Europa constrói sua imagem de centro da civilização – o
eurocentrismo nascente. Se, por um lado, o humanismo do primeiro momento
configura uma noção revolucionária de igualdade humana, singularidade,
cooperação e abundância que, com a descoberta de outras populações e territórios
deveria se alastrar, por outro, o europeu percebe a possibilidade e a necessidade
de sujeitar outros povos à sua dominação. Assim, o eurocentrismo surge como
reação à noção de uma natural igualdade entre os homens – visão essa que
deveria/poderia ser ampliada pela descoberta de outras terras.
No século XVII, a modernidade em crise se instalara: fogueiras da
Inquisição, guerras civis na França, na Inglaterra, na Alemanha, massacre e
escravização das populações nativas das Américas. Na segunda metade do
século, o absolutismo monárquico parece ter conseguido impedir o curso da
liberdade, ao mesmo tempo que o colonialismo, depois da fase de pilhagem da
31
riqueza das colônias, toma a forma de exclusividades comerciais, modos estáveis
de produção e tráfico de escravos africanos.
Mas a solução parcial da crise vai aparecer no terceiro momento da
modernidade, através da formação do Estado moderno e da construção do
conceito de soberania. Hegel fornece as bases filosófico-políticas para esse novo
momento: ao transformar a imanência humana em imanência e poder do Estado
e o ser analógico da tradição medieval no ser dialético; ao justificar,
filosoficamente, a idéia da existência de povos menores – numa negação do
desejo não-europeu – e, finalmente, ao relacionar o Estado com o todo ético, por
ser essencial para a marcha de Deus pelo mundo.
Para que a caminhada divina tome forma através do Estado, é necessário
um aparelho político transcendente. A proposta de Thomas Hobbes quanto à
existência de um governante soberano definitivo, um Deus na terra, fornece o
aparato teórico de que se carecia.
A lógica hobbesiana propõe, inicialmente, a hipótese da guerra civil como
estado original da sociedade humana. Então, para sobreviver aos perigos da
guerra, e ultrapassá-los, os homens precisam fazer um acordo, um pacto,
atribuindo a um líder o direito absoluto de agir, o poder absoluto para fazer tudo:
eis a justificativa para que a autonomia humana seja transferida a um soberano
acima de todos, que os governa, e para o qual convergem todos os desejos
isolados.
Dessa forma, a soberania é definida por transcendência e representação:
de um lado, o soberano recebe todo o poder, não por um vínculo teológico
32
externo, mas pelo pacto resultante das relações humanas; de outro, o pacto em si,
transformando o soberano em representante de todos, legitima seu poder, a ponto
de sustentá-lo como absoluto. O soberano institui a lei sem o consentimento dos
súditos – e pode fazê-lo porque deles recebeu autorização, através do acordo
anterior. Aí está a noção de soberania em seu estado puro: o subjugar é
conseqüência natural do que foi consentido em troca de proteção, da
sobrevivência, da paz. Esta, a primeira solução política da modernidade: o
Estado reflete a imagem de seu “tutor” designado por escolha e adoção pactual.
A teoria hobbesiana da soberania serviu ao absolutismo monárquico, mas
pôde ser aplicada a diversas formas de governo: monarquia, oligarquia,
democracia. No “Contrato Social” de Rousseau, por exemplo, tem-se que as
vontades individuais precisam ser sublimadas para dar lugar a uma vontade geral,
comunitária.
Outro elemento essencial sustenta a autoridade soberana: o
desenvolvimento capitalista e a noção de mercado como fundamento da
estratificação e da reprodução social. De um modo geral, os pesquisadores póscolonialistas apontam que a grande diferença do eurocentrismo – em relação a
outros etnocentrismos
residiu no fato de sua evolução caminhar ao lado do
Capitalismo. O transcendental político do Estado Moderno é calcado no
transcendental econômico, na proporção em que, ao promover o bem-estar dos
indivíduos e torná-lo coincidente com o interesse público, o Estado reduz as
funções sociais a uma medida de valor.
33
Um Estado, mais forte economicamente, é, também, superior aos outros e
pode se impor/sobrepor a eles – a soberania é um poder de polícia: subordina
singularidades,
vontades
individuais à vontade
geral pelo estatuto
da burocracia.
3. O CORPO
BIOPOLÍTICO
DA SOCIEDADE
INDIANA
Mais ainda: na longa transição da sociedade medieval para a moderna, o
esquema
de grausOriente
de podermarcou
é substituído
pelo
da disciplina
e
O hierárquico
grande e fascinante
a história
doaparato
imaginário
humano de
da especialização
funções,
próprio
da dinâmica
burocrática.resultantes da
diferentes
formas,detodas,
porém,
sedutoras
e enigmáticas,
Mas reafirmo
que essaculturais,
longa transição
nãoesefilosóficas
deu de maneira
uniforme.
compreensão
das diferenças
religiosas
em relação
aos
Em
sedotratando
do Enquanto
Oriente, ao Oriente
chegadaMédio
desse enovo
pensamento
rumos
povos
Ocidente.
a tradição
islâmicatomou
marcaram
a
diferentes
– correspondentes
aos diferentes
modelos
colonizatórios
e aosuma
Europa com
o sangue das Cruzadas,
fixando
no discurso
eurocêntrico
diferentes
colonizados.
por aEdward
Said,
o Oriente,
concepçãopaíses
violenta
e agressivaDenunciado
dessa cultura,
Índia foi
construída
de através
maneira
do
orientalismo,
uma de
construção
elaborada
colonizador
e importada
ao
bastante
diversa: foi
a idéia
receptividade,
os pelo
sabores
das especiarias,
os trajes
mundo
colonizado
sob o estigma
Na verdade,
o projetodo
colonial
femininos
que tantojáocultam
e que da
porexclusão.
isso seduzem
e a passividade
povo
se
baseou,
justamente,
na premissa
taisdá
povos
seriam
inferiores
peloefato
diante
de uma
Lei que tudo
justificade
e aque
tudo
sentido
(as Leis
do carma
do
de
não se
equipararemuma
aos europeus
do que
estes
consideravam padrão de
darma)
determinaram
concepçãodentro
receptiva
dessa
nação.
civilização.
Desde a chegada à Calicute, em Kerala
quando da descoberta do
Retomando
questão
da Modernidade,
destaco
umaXX,
questão
fundamental,
Caminho
Marítimo apara
as Índias
até meados
do século
quando
da luta
também
apontada por
em relação
Américapelos
Latina,
mas
quepelos
se adequa,
pela
Independência
doCanclini
país, a Índia
não foià descrita
seus,
mas
outros.
perfeitamente,
às discussões
à Índia:
a diferença
modernidade
Foi, notadamente,
a partir concernentes
de Gandhi, que
a “outra”
Índia entre
começou
a ser
econhecida
modernização.
A modernização
ocorrendo,
passosda
lentos
mundialmente:
a terra dorealmente
abandono,vem
das doenças,
da amiséria,
seca,é
bem
verdade,
naquele
Porém,
a Modernidade
se gentil,
instaurou
numa parte
da fome.
A Índia
tribal epaís.
nômade
A Índia
da vilas de povo
absolutamente
muito
pequena
do território,
já que de
o país
tamanha
fragmentação
religioso,
analfabeto
e sem dentes,
uma apresenta
ingenuidade
assustadoramente
cultural, política
que alguns
espaços ainda
imersosadotou,
numa
manipulável.
Foieaeconômica
Índia excluída
da Modernidade
que oestão
Mahatma
56
denunciou e pela qual lutou, utilizando suas características como uma alternativa
política para toda a Nação.
Enquanto isso, a Índia de Nehru também existia: moderna, letrada,
presente nas grandes capitais e negociando com o Ocidente de igual para igual,
até mesmo no idioma falado e na incorporação de costumes e tradições do
colonizador britânico.
Tal ambigüidade é o legado do Colonialismo. Essas duas esferas,
somadas às intensas variantes culturais forjadas através de uma História que
começou com as invasões arianas ao vale do rio Hindo, séculos antes de Cristo,
formam a Índia contemporânea. É esta Índia que se pode encontrar nas atuais
produções artísticas indianas. Assim, para entender as narrativas, e em especial o
romance de Roy, é imprescindível que se desconstrua a Índia imaginária –
imaginária enquanto correspondente a uma criação (Imaginary homelands,
Salman Rushdie)
e se conheça um subcontinente plural e polifônico, para o
qual autores e autoras têm projetado alternativas em seus textos. É o que Vinay
Dharvadker aponta em suas reflexões acerca da Índia contemporânea presentes
em Cosmopolitan Geographies new locations in literature and culture, (sem
tradução para o português) de onde extraio o seguinte:
Embora a vila rural seja o último alvo de expropriação, tanto do
colonialismo quanto do neocolonialismo, a cidade continua a ser o local
onde o poder está concentrado e o capital é acumulado e desenvolvido.
(...) O “trabalho sujo”da globalização, de fato, é feito não tanto em
largas escalas nacionais como nos pequenos sítios de cidades
selecionadas e nos interiores, os setores urbanos e rurais onde a matéria
bruta, o trabalho, a produção econômica, a distribuição em redes, a
infra-estrutura e os consumidores podem ser quantificados, localizados
e explorados. Não foi, portanto, por acidente que tanto da literatura
indiana do século vinte, especialmente a ficção, projetou-se em dois
eixos de transformação: o eixo temporal, da subserviência da
57
colonização até a libertação, que conduz para a mortandade da Divisão
e para as falhas da independência; e o eixo espacial, da vila para a
cidade, dentro do qual tantas narrativas do antes, do durante e do depois
da descolonização estão atualmente desenvolvidas. (1)
A questão posta nesse caso é a convivência entre a modernidade, em
evolução nos grandes centros urbanos, e o que se vive na maior parte da Índia,
uma economia próxima da implementada na época medieval. Para que essa
situação fique mais evidente, cito a jornalista indiana Gita Mehta, quando esta
descreve com precisão a realidade daquele país, tanto que é válida a extensão do
excerto:
É um escândalo! exclamou a intelectual francesa com uma
paixão disponível somente para ocidentais dinâmicos. (...)
Você sabe o que essa gente do vídeo está fazendo? insistiu ela,
irada, e senti que algo de ruim estava para acontecer. Fizeram filmes
com rituais religiosos! Imagine ligar um aparelho para ver seu sacerdote
entoar as preces enquanto você se prosterna diante da televisão!
Fiquei olhando para ela, incrédula mas aliviada. Ela agitou a manga
de musselina bordada na minha direção, ofendida com minha estupidez
obstinada. Pense só! As pessoas estão adorando os vídeos!
Qual é o problema?, pensei comigo. Adorando vídeos? Faça o
favor. Estamos na Índia. Aqui adoramos aparelhos de ar-condicionado,
computadores, caixas registradoras e carros de boi, num ritual anual
denominado Adoração das Armas.
Há milênios os indianos acreditam que o homem se distingue dos
outros animais devido a sua capacidade de fabricar ferramentas.
Honrando nossos implementos, estamos honrando o engenho humano, e
a Adoração das Armas se iniciou com os guerreiros que homenageavam
suas armas, os instrumentos de seu ofício. Na Índia moderna as pessoas
ainda penduram guirlandas nas máquinas de suas diferentes atividades,
esperando uma reação auspiciosa. Na verdade, qualquer reação serve;
por isso, no dia de Adoração as Armas, oferecem-se às máquinas cocos
pintados com corante vermelho, acompanhados de tantos bastões de
incenso que os cocos desaparecem em meio a nuvens de fumaça
perfumada. (2)
Pode-se imaginar essa cena num país com a seguinte estatística: em cinco
anos, de 5 mil indianos trabalhando com computação passou-se a 250 mil,
58
exportando 1 bilhão de dólares em material eletrônico por ano. Não é à toa que a
autora afirma que o verdadeiro escândalo era que 400 milhões de indianos ainda
não tivessem máquinas para adorar. (3)
São, por conseguinte, as diferenças, econômicas, sociais, culturais e
lingüísticas os obstáculos com que qualquer estudioso de literatura indiana se
defronta; obstáculos esses que têm se tornado cada vez mais transponíveis em
função de grandes centros acadêmicos pelo mundo se abrirem a pesquisas de
literaturas ex-cêntricas (Linda Hutcheon).
É evidente que, pela dimensão continental de sua geografia e pela
dimensão milenar de sua história, tratar da cultura indiana exige uma atitude
humilde de reconhecimento de limitações. Afinal, aprofundar o estudo em tais
direções comporia, por si, uma extensa pesquisa. Contudo, para compreender a
importância de O deus das pequenas coisas é preciso contextualizar a obra no
corpus literário em que ela se encontra, ou seja: um romance de literatura
indiana de língua inglesa contemporânea. Portanto, é preciso ser breve, não
omisso, diante do que é fundamental para entender as problematizações
propostas por Arundhati Roy em seu texto, que são, verdadeiramente, dilemas do
cotidiano dos indianos e indianas, cujos corpos são definidos pelas diferenças
relativas ao corpo físico da Índia Histórias, religiões, línguas e fronteiras.
59
3.1- Corpo público
A Índia
é uma enorme
de Equase
dois milhões de milhas
4.
ARUNDATHI
ROY península
CÂNONES
RUPTURAS
quadradas, vinte vezes maior que a Grã-Bretanha; com mais habitantes que as
Américas
do Norte
e 80,
Sulum
juntas.
seu início
definidoindianas
por historiadores,
A partir
dos anos
númeroTem
significativo
de mulheres
começou a
receber
reconhecimento
nacional
internacional
quando
sua poética
começou a
dentre eles
Will Durant,
comoe algo
em torno
de 2900
a.C. (Mohenjo-daro).
envolver
temática
e a invadiram
prática de ação
social, do
dentre
elas Arundathi
Roy, Anita
Desai e
Quando aos
arianos
a região
Hindo,
já encontraram
a civilização
Chitra
Divakaruni.
comum entre
está na na
opção
pela sul,
revisão
históriaaodenorte.
seu
dravídica,
bastanteOavançada
paraelas
a época,
região
e osdanagas,
país e de seus movimentos, através da literatura. Assim, a autoria feminina indiana de
Desse contato, surgiu o protótipo da divisão das castas, criado pelos arianos com
língua inglesa nos permite vislumbrar como a mulher indiana constrói – ou tenta
o objetivo de manter suas características raciais, separar esses três grupos
construir – uma nova representação de si mesma. Gayatri Spivak reitera o fato de o
conforme a cor da pele (a primitiva palavra indiana para casta era varna, cor),
discurso do feminino ter relativizado as representações cêntricas, porém ela aponta, em
assegurando a manutenção dos traços raciais: de um lado, os de nariz aquilinos,
seu texto Quem reivindica alteridade?, para o seguinte:
e, de outro, os de nariz chato. Então, o sistema de castas não existia nos tempos
A diaspórica pós-colonial pode levar vantagem (o mais das vezes
sem saber, devo acrescentar) da tendência em combinar as duas
narrativas na metrópole. Assim, essa informante freqüentemente
inocente,
identificada
e bem-vinda
como agente
de especializadas
uma história e
Somente
quando
as ocupações
se tornam
bastante
alternativa, pode ser o lugar de um quiasma, ou seja, do cruzamento de
em casa,
sistema
de
hereditárias,uma
algodupla
entrecontradição:
1000 e 500 a.C.,
é quea serepresentação
acentuam asdo
castas
enquanto
um
produção da burguesia nacional; fora dela, a tendência a representar o
neocolonialismo
pela semiótica
“colonização
interna”.
(1)
sistema de estratificação
social.
No alto da
ficaram
os xátiras
(correspondentes
aos
védicos.
militares que, como os césares, ministravam até mesmo os rituais religiosos),
Fawzia Afzal-Khan, em Cultural imperialism and the indo-english novel,
pois se tratava de um período de intensas disputas e guerras, a ponto de ser
aponta para uma situação bastante interessante em que se encontram os escritores
chamado de Idade “Heróica”.
e escritoras indianos: a opção pela abordagem mítica ou realista. Isso remete à
Conforme a paz começa a predominar, o poder dos xátiras é contestado.
experiência do Colonialismo, que trouxe um conflito para o ato de representar a
Will Durant descreve bem o período no trecho de Nossa herança oriental:
Índia, o qual se estende até o momento presente. Contudo, não fosse a presença
Mas a guerra cedeu lugar à paz, e como a religião crescesse em
importância e complexidade de ritual, e requeresse hábeis
110
britânica, o país não teria dado seu salto na modernidade, ainda que
relutantemente, já em pleno século XIX.
Em 1853, Marx, numa série de artigos para o New York Daily Tribune,
embora reconheça a brutalidade da introdução da civilização britânica na Índia,
afirma:
Por mais repulsivo que seja para o sentimento humano testemunhar
a destruição e o sofrimento causados pelos ingleses, não devemos
esquecer que essas idílicas comunidades aldeãs, por inofensivas que
pareçam, tinham sólidos alicerces no despotismo oriental, e restringiam
a mente humana, norteando-a da forma mais estreita, fazendo dela um
instrumento dócil de superstição, escravizando-a debaixo da autoridade
tradicional e privando-a de toda grandeza e das energias históricas. (...)
A sociedade indiana não tem História, pelo menos nenhuma história
conhecida. O que chamamos de sua História é apenas a narração de
sucessivos intrusos que fundaram seus impérios na base passiva dessa
sociedade dócil e imutável. (...) A Inglaterra tem de cumprir dupla
missão na Índia, uma destrutiva, a outra regenerativa – a eliminação da
antiga sociedade asiática e o lançamento dos alicerces materiais da
sociedade ocidental na Ásia. (2)
Pode-se, realmente, comprovar a existência de duas estratégias distintas:
uma, baseada no resgate de uma era de “bem-aventurança” pré-colonial através
da valorização do mítico – como o que é feito por Divakaruni – ; e outra, na
exploração daquilo que o país oferece em seu cotidiano mais real e, por isso,
mais doloroso. Esta é a opção adotada por Arundhati Roy, especialmente em sua
obra O deus das pequenas coisas (de agora em diante citado como DPC).
111
4.1- Problematizações do cânone
Eu, daqui em diante, me declaro uma república móvel e independente.
Sou uma cidadã da Terra. Não possuo qualquer território. Não tenho
qualquer bandeira. Sou do sexo feminino, mas não tenho nada contra
eunucos. Minhas políticas são simples. Eu quero assinar qualquer
tratado de não proliferação nuclear, ou aliança de boicote a testes
nucleares, que esteja por aí. Imigrantes são bem vindos. Você pode me
ajudar a desenhar nossa bandeira. Meu mundo morreu. E eu escrevo
para chorar seu passamento. (3)
Essa é Arundhati Roy. Não há como dissociar a pessoa, a escritora e a
ativista política. Uma mulher apaixonada pela transgressão, por romper
quaisquer barreiras. A começar por aquilo que a identificaria enquanto um
rótulo. Na fala citada acima, a autora se define por instâncias enunciativas, quais
sejam: a desterritorialização que conduz à planetarização; a marca de gênero,
que é eliminada pela neutralização do falocentrismo contida na palavra “eunuco”;
a prática política, que convoca o poder contra-revolucionário da multidão; e uma
escrita, que presume uma memória discursiva e uma história de transgressão.
Como fazer a Índia ter sentido? Como viver na Índia pode ter sentido? A
noção de memória discursiva pode ser definida como um “interdiscurso”, ou seja,
algo que fala antes, que tem relação com o já passado ou dito, mas que continua
afetando o presente em sua qualidade de “esquecimento”. Não há como esquecer
os invasores muçulmanos, ou a colonização britânica. Mas também não há como
não ver a Índia que surge, altamente tecnológica. Bhabha chama esse conflito de
“esquecer para lembrar”. Trata-se de uma outra relação com o passado, que,
embora guarde experiências trágicas, é traduzido como válido diante da
superação, graças à sustentação numa essência de ser: a resiliência se dá a partir
112
da lembrança do que efetivamente somos enquanto pessoas, povos e culturas. Se
os escritos de Roy apontam, inicialmente, para uma ambigüidade relativa à Índia,
ao mesmo tempo independente e com fortes traços colonialistas, num nível mais
profundo de análise, expandem a questão, situando a Índia como um microcosmo
planetário. É significativo o fato de Roy, depois de seu primeiro e único
romance, ter-se dedicado à escrita de artigos sobre problemáticas mundiais.
Assim é que tudo o que acontece em seu país é analisado sob a ótica da
exploração, do mau uso do poder e da necessidade de luta contra o Império.
Basta observar os títulos de suas obras: The Greater Common Good, An
Ordinary Person’s guide to empire, The cost of living, The Chequebook:
Conversations with Arundhati Roy, Public Power in the Age of Empire, Power
Politics, Algebra of Infinite Justice e War Talk.
Em todos esses textos, vê-se, claramente, o uso de um discurso contrahegemônico, explorado de forma mais ou menos agressiva, conforme o quadro
sócio-histórico analisado. Esses marcadores de linguagem que apontei como
traços de agressividade são acentos apreciativos (Bakhtin) indicadores da
urgência em fazer sentido e em atribuir sentido, não só à Índia, mas também ao
mundo e às subjetividades que nele se inserem. É como a própria autora afirma
Eu penso que ficção, para mim, tem sido sempre uma forma de dar sentido ao
mundo como o conheço. (4)
E a principal forma de fazer sentido adotada por Roy é a prática política.
Esta transcorre em três níveis de ruptura: com o passado colonial; com as
representações centristas relativas ao Imperialismo (baseado na já superada
113
divisão econômica do globo em três mundos), e com as diferentes estratégias de
controle do neo-colonialismo. Cito, mais uma vez, o artigo “The end of
imagination”,
em que
essaCORRE
atitude dePELAS
ruptura ÁGUAS
está clara:
5. O DEUS
QUE
Índia e Paquistão têm bombas nucleares agora e se sentem totalmente
no direito de tê-las. Logo outros terão também. Israel, Irã, Iraque,
Arábia
Noruega,
Nepal
(Eu estounos
tentando
ser Rahel
ecléticae aqui),
Apesar
deSaudita,
o enredo
de DPC
centrar-se
gêmeos
Estaphen, a
Dinamarca, Alemanha, Butão, México, Líbano, Sri Lanka, Burma,
Bósnia,
Cingapura,
Coréa
do Norte,O Suécia,
Coréa do
Sul,osVietnã,
história é, na
verdade,
a história
de Ammu.
foco narrativo
toma
olhos de
Cuba, Afeganistão, Urzbequistão… e porque não? Todo país no mundo
tem um motivo especial. Todos têm fronteiras e crenças.
Rahel e, a partir dela, narra a tragédia que destrói a família e os separa. Mas, o
E quando todos os nossos cilos forem estilhaçados por bombas
brilhantes
e nossas
barrigas estiverem
vazias
nós poderemos
negociar
processo narrativo se
dá igualmente
de forma
cindida,
conquanto
recortes
bombas por comida. E quando a tecnologia nuclear chegar ao mercado,
quando mesclados:
ficar verdadeiramente
os Ammu;
preços caírem,
temporais sejam
a históriacompetitiva
da famíliae de
Ammunãoainda
apenas governos, mas qualquer um que puder pagar por ela poderá ter
seu próprio arsenal particular homens de negócios, terroristas, talvez
solteira em Ayemenem; Ammu divorciada, tendo retornado a Ayemenem,
até uma rica escritora de ocasião (como eu). Nosso planeta se cobrirá
de lindos mísseis. Haverá uma nova ordem mundial. A ditadura da
quando ocorre
a tragédia; Ammu morta e os gêmeos separados; o retorno de
elite “pró-nuc”.
Mas vamos
parar para Estaphen
dar créditodes-devolvido.
a quem o merece. A quem temos
Rahel a Ayemenem
para encontrar
que agradecer por tudo isso? Ao homem que fez isso acontecer? O
Mestre do Universo. Senhoras e senhores, os Estados Unidos da
Eis o começo que a obra fornece: “Que tudo começou quando as Leis do
América! Subam aqui, amigos, fiquem de pé e recebam os aplausos.
Obrigada por estarem fazendo isso com o mundo. Obrigada por
Amor foram
promulgadas.
As Obrigada
leis que por
determinam
quem odeve
ser amado, e
fazerem
a diferença.
nos mostrarem
caminho.
Obrigada por mudarem o real sentido da vida. Tudo o que posso dizer
como. E quanto”
(DPC,
p. 43)
Umecasamento
parana
fugir
daefamília
e do
tédio de
para todo
homem,
mulher
criança sensível
Índia,
além, um
pouco
adiante no Paquistão, é: tomem como pessoal. (5)
uma cidade pequena levou Ammu a uma vida conjugal marcada pelo alcoolismo
Essas Tentando
manifestações
políticas
implicame oo agir
multidão,
conforme
do marido.
garantir
as aparências
statusdaque
o casamento
lhe
proporcionava,
concebem
HardtAmmu
e Negri,sustentou a relação e suportou até mesmo a sugestão do
marido paraAsque
ela se
tornasse
amante (…)
do gerente
da plantação
chá em que
forças
criadoras
da multidão
são capazes
também dedeconstruir,
independentemente, um Contra-império, uma organização política
alternativa
fluxos e intercâmbios
globais.o emprego ameaçado pelo
ele trabalhava
issodesomente
para lhe garantir
(…) Mediante tais esforços (…) a multidão terá de inventar novas
alcoolismo.formas
A separação
aconteceu
as agressões(6)
físicas chegaram aos
democráticas
e novos quando
poderes constituintes.
gêmeos. O retorno à casa paterna só trouxe a Ammu mais consciência do quão
Um outro aspecto do investimento político da autora é a forma como a
questão do gênero é tratada. Os Estudos Culturais têm trazido grandes
132
sozinha estava no mundo, e mais, o quanto ela e os dois filhos estavam à mercê
de uma estrutura social e familiar que reforçava a exclusão pelo desamor.
Baby Koshama é a personificação desse desamor que se reveste de inveja,
dissimulação, vingança e maldade. Ela é a personagem que mais se aproxima de
um antagonismo clássico já que, segundo suas próprias palavras, teria cabido a
ela o papel de mostrar a Ammu, Rahel e Estha os “seus devidos lugares” na
família. Dessa forma, Baby Koshama desmerece as crianças, enquanto frutos de
um casamento desfeito, e agride Ammu através dos gêmeos ou incitando o
personagem Chako (irmão de Ammu) contra ela.
A vinda de Sophie Mol e de sua mãe Margareth a Ayemenem é mais uma
oportunidade para achacar Ammu e seus filhos diante da “perfeição”
representada pela ex-mulher e filha ocidentais de Chako. Destaco a sutileza e a
perspicácia com que a autora explora esse conflito ocorrido no terreno feminino.
Chako não é discriminado pelo divórcio – e muito menos Sophie e Margareth –
por se tratar de um ramo masculino que, embora mal sucedido como seu pai e
outros homens de sua família, tem a primazia legitimada pelo social.
É neste momento tão delicado para toda família que o romance entre
Ammu e Velutha vem à tona. A reação é explosiva: trancam Ammu em seu
quarto para averiguarem a situação e tomarem providências em relação a
Velutha. É neste ponto que a personagem Baby Koshama assume um papel
fundamental na trama, como podemos verificar no trecho a seguir:
Por cima do alarido, Kochu Maria gritou a história de Vellya Paapen
para Baby Koshamma. Baby Koshamma percebeu de imediato o
imenso potencial da situação, mas imediatamente ungiu seus
pensamentos com óleos untuosos. Ela desabrochou. Percebeu que era
o Caminho de Deus para punir Ammu por seus pecados e ao mesmo
133
tempo vingar-se da humilhação que ela (Baby Koshamma) tinha sofrido
nas mãos de Velutha e dos homens da manifestação, os insultos de
Modalali Mariakutty, o sacudir da bandeira à força. Ela desfraldou as
velas imediatamente. Um navio de bondade singrando um mar de
pecado. (...)
“Deve ser verdade”, disse baixo. “Ela é bem capaz disso. E ele
também. Vellya Paapen não ia mentir sobre uma coisa dessas.”
Depois de uma repreensão de Ammu, os gêmeos resolvem fugir da casa –
uma atitude comum à infância – para uma ilha onde, numa casa abandonada,
Estaphen e Rahel construíram uma espécie de refúgio. Sophie Mol resolve
acompanhá-los. O que ninguém sabia é que esta não era capaz de nadar e,
quando o barco em que
estão
as três crianças vira, por conta da turbulência
gerada por uma tempestade, os gêmeos chegam até a outra margem, mas Sophie
desaparece. Tendo uma relativa consciência do que aconteceu, os sobreviventes
buscam abrigo na casa abandonada – “Coração das trevas” – enquanto a família
entra em desespero, acreditando estarem os três primos desaparecidos. Baby
Koshama vai até a polícia e insinua que Velutha havia tentado estuprar Ammu e,
por não conseguir, ele, talvez, tivesse raptado as crianças. A polícia, então,
amplia o incidente e, quando Velutha é encontrado com os gêmeos, dormindo no
“Coração das Trevas”, é espancado diante das crianças e já segue, praticamente
morto, para a delegacia. As crianças são levadas também, mas em vez de Ammu,
são recebidos por Baby Koshama
Baby Koshamma terá todo o processo na mão, uma vez que, trancada no
quarto, Ammu nada pode fazer para proteger seus filhos e defender a si e
Velutha. A relação dos dois é explorada por Baby Koshamma, que consegue,
assim, separar de uma vez Ammu de toda a sua família. Manipulando as
134
crianças, especialmente Estaphen – que é o escolhido por ela para reconhecer
Velutha, totalmente desfigurado e jogado ao chão da delegacia , ela se vinga da
beleza de Ammu, do fato de ela ter tido os homens que quis, fazendo o menino
mentir para a polícia, garantindo a definitiva condenação de Velutha, que morre
na mesma noite em que Estha prestara o depoimento.
A morte de Velutha é impactante, sobretudo se analisarmos a busca das
crianças por uma figura paterna que os amasse. Senão, revejamos a reflexão
diante do Capitão Von Trapp quando os gêmeos assistiam ao filme A noviça
rebelde no cinema de Cochim:
E então, nas cabeças de certos gêmeos bivitelinos presentes na platéia
do Cine Abhilash, surgiram algumas perguntas, que exigiam respostas,
i.e.:
(a) Será que o Capitão Von Papo de Trapo sacudia a perna?
Não sacudia.
(b)Será que o Capitão Von Papo de Trapo soprava bolhas de saliva?
Será?
Com toda a certeza não soprava.
Será que ele gorgolejava?
Não.
Oh, capitão Von Trapp, capitão Von Trapp, será que poderia amar
aquele menino com a laranja na platéia cheia de cheiros?
Ele tinha acabado de segurar na mão o sôo-soo do Homem do
Refrescodelaranja Refrescodelimão, mas será que você ainda podia
amá-lo?
E a irmã gêmea dele? Dobrada para cima com o chafariz preso por um
Amor-em-Tóquio? Podia amá-la também?
O capitão Von Trapp também tinha algumas perguntas.
(a)São crianças brancas e limpas?
Não. (Mas Sophie Mol é.)
(b) Fazem bolhas de saliva?
Fazem. (Mas Sophie Mol não faz.)
135
(c)Sacodem as pernas? Como funcionários?
Sim. (Mas Sophie Mol não.)
Algum deles, ou ambos, já seguraram o sôo-soo de estranhos?
6. CONCLUSÃO
N... Nsim. (Mas Sophie Mol não.)
“Então desculpe”, disse o capitão Von Papo de Trapo. “Está fora de
cogitação. Não posso amar esses dois. Não posso ser o Baba deles.
Ah,finalizar
não.” a análise de uma obra como O deus das pequenas coisas?
Como
O capitão Papo de Trapo não podia. (DPC, p. 114)
Definitivamente, essa parece ser uma tarefa quase impossível. Cada página, cada
parágrafo
linha guarda
emgêmeos
si umae todos
inesgotável
fonte da
de família:
significados,
Sãoou
cindidos,
então, os
os membros
Esthaonde
é
emoções epara
informações
se intercambiam
numa multiplicidade
surpreendente.
mandado
o pai e visto
por todos – principalmente
por Margareth
– como oNo
entanto, é da
preciso
os objetivos
o próprio
livroe forneceu
como
“culpado”
morteretomar
de Sophie.
Ammu que
é expulsa
de casa
jamais consegue
guiançaospara
as investigações
a que me
propus realizar
quanto
à literatura
indiana
reaver
filhos,
pois mal conseguia
sobreviver.
E Rahel,
sustentada
por Chako,
contemporânea.
cresce
sem carinho e atenção. Depois da morte da mãe (aos 31 anos), Rahel
A começar pelo
títulomais
destefortemente
estudo, o silenciamento
margens foi
ainda adolescente,
assume
uma postura das
transgressora
quee éa
resultado
de um conjunto
de fatores
de relevância
levará a expulsões
dos colégios
em que
estudou. histórica. Margens silenciosas,
porque Os
silenciadas.
relações
de poder
gêmeos se Silenciamento
transformam emeste,
serescaracterístico
esvaziados nodassentido
do vazio
que
estipuladas
civilização
em si:
domínio
do maisaponta
forte, predomínio
do social,
um faz empela
relação
ao outro.
Como
o narrador
no início da
obra, eles
poder
macho.com
O uma
princípio
civilizador
(Marcuse),
subjulgou
haviamdonascido
únicaapolíneo
alma siamesa;
e o vazio
da almaque
estava
no olharos
primeiros
matriarcal,
foi o pela
mal necessário
à configuração
de um e nomodelos
silênciode
dosociedade
outro. Ambos
arrastaram
vida as marcas
da trágica
do
mundo como
nos é hoje.
A mesma
que elibertou
homem
separação.
Suas trajetórias
são narradas
de virilidade,
maneira breve
sucinta,ocomo
que da
ignorância,
tornou-o
escravo das
sexo, raça,
altura,
largura,
para justificar
uma não-vida;
umaparências:
hiato entre cor,
a infância
e o que
estavam
por
diâmetro,
comprimento...
Critérios de exclusão, definidores de fronteiras
viver, 23 anos
depois.
interpessoais e territoriais.
Foi a crença nesses critérios que fortaleceu e sustentou os cânones
enquanto estruturas ideológicas de poder, além de reduzir a identidade, fosse ela
166
individual ou nacional, a modelos e convenções. Coube às diferentes fases da
Modernidade, aqui interpretada como um projeto burguês, a tarefa de disseminar
pelo globo esses ideais canônicos. Mas a Modernidade entrou em crise.
Deus está morto, Nietzche também, e eu não estou me sentindo muito
bem.(1) Essa fala de Jair Ferreira dos Santos traduz ironicamente o sentimento
atual de grande parte da humanidade: o mal-estar. Percepção de muitos
pensadores de nosso tempo – de Freud a Zygmunt Bauman – tal sensação parece
ser crônica na medida em que se trata do sintoma dos reais distúrbios que nos
vêm afligindo desde o momento em que a Modernidade entrou em crise. Estes
chamados “tempos de metamorfose” (Manuel Antonio de Castro), marcados
pela fragmentação e a relativização de paradigmas em todos os sistemas da
sociedade ocidental e de parte da oriental, denunciam a grave crise de
representação que se manifesta na esfera social, assim como no campo das artes.
Literariamente, podemos verificar tal processo nas contundentes vozes
que buscam reconhecimento. Mulheres, homossexuais, comunidades diaspóricas
e pensadores periféricos, entre outros, reivindicam identidade e reconhecimento
através da autoria. Acontece, assim, um movimento de revisão de posições
sociais através das obras literárias, especialmente no que diz respeito àqueles
contextos pós-coloniais.
A construção do eixo centro-periferia, é sabido, foi enfatizada nas
movimentações colonialistas, empreendidas por diferentes países a partir do
século XVII e ganhou força no século XIX, sendo ainda sustentada no período de
descolonização. Como sustenta Edward Said, entre outros, a relação entre centro
167
e periferia, dominador e dominado, nunca foi pacífica; houve constantes
movimentos de resistência, desde a Irlanda até a Índia. Isso, não impediu,
porém, que toda uma rede de signos fosse construída ao longo do período
colonial, garantindo um sistema de exclusão pela diferenciação que marcou tanto
Ocidente quanto Oriente. Nesse sentido, Edward Said afirma que durante o
Imperialismo – mais especificamente o britânico –
[...] todo o contato entre os europeus e seus “outros”, iniciado,
sistematicamente, quinhentos anos atrás, a única idéia que quase não
variou foi a de que existe um “nós” e um “eles”, cada qual muito bem
definido, claro, intocavelmente auto-evidente. Como discuto em
Orientalism, a divisão remonta à concepção grega sobre os bárbaros,
mas, independentemente de quem tenha criado esse tipo de pensamento
“identitário”, no século XIX ele havia se tornado a marca registrada das
culturas imperialistas, e também daquelas que tentavam resistir à
penetração européia. (2)
E foi justamente com o intuito de questionar tal pensamento identitário
que Said revisou o termo “orientalismo”. Para o autor, o orientalismo seria uma
representação baseada no olhar eurocêntrico que, por sua vez, estaria calcado na
compreensão monolítica do oriental e de sua cultura, além de criar toda uma
caracterização exótica. No entanto, as idéias de Said não se caracterizaram
apenas por uma correção terminológica; mais que isso, sua escrita representou a
transformação dos conceitos norteadores das pesquisas do Oriente Médio, da
Índia e do Paquistão, por exemplo. Como ele mesmo reitera em outra obra,
Cultura e Imperialismo, tal mudança não provocou, infelizmente, o fim das
representações imperialistas. Neste livro, aliás, ele mostrará como essas
representações continuam povoando o imaginário ocidental já que ainda
168
seríamos seres divididos em nações. E na medida em que há nações centrais e
periféricas, o eixo se sustenta, as representações são mantidas.
Compartilhando dessa visão, Linda Hutcheon, ao analisar a PósModernidade, aponta exatamente para o fato de este movimento não trazer a
periferia para o centro. O que existe é uma constante relativização do centro em
termos de cultura, economia, etc. O centro,como afirma a autora,
[...] pode não permanecer, mas ainda é uma atraente ficção de ordem e
unidade que a arte e as teorias pós-modernas continuam a explorar e
subverter. (...) O ex-cêntrico. O off-centro: inevitavelmente
identificado com o centro ao qual aspira, mas que lhe é negado. Esse é
o paradoxo do pós-moderno, e muitas vezes suas imagens são tão
divergentes quanto o pode sugerir essa linguagem de
descentralização.(3)
O que fica claro, portanto, é que a Pós-Modernidade propõe uma
oscilação de posições que reflete o grau em que a subjetividade deverá ser
considerada em relação à representação. Afinal, como nos apontam diversos
teóricos, o que se vive é uma grande crise de representação.
As discussões pós-coloniais enriqueceram ainda mais o questionamento
da relação centro e periferia. E um dos autores que propõe interessantes análises
da semiose do discurso colonial e pós-colonial é Homi Bhabha. Em Nation and
narration, ele, assim como Said, revê a questão da grandes narrativas que
serviram como discursos imperialistas. O ponto central abordado por Bhabha
nesta obra diz respeito à ambivalência presente no próprio conceito de nação,
algo que interferirá sobremaneira no momento de representar essa nação
historicamente e narrativamente. Aliás, Bhaba compreende nação e narrativa
como a mesma coisa já que as nações se manteriam como tal a partir de sua
169
representação narrativa. Nessa perspectiva, a nação teria como característica
representacional básica o fator tempo, dividido em duas esferas: o tempo da
tradição7.e BIBLIOGRAFIA
o tempo presente. Assim, há uma grande problemática quando se
pensa numa literatura nacional, pois existiria uma dificuldade natural em
representar
ambos
tempos.
o que onations,
autor literatures.
chama de “esquecendo
para
1. AHMAD,
Aijaz.osIn:
Theory:É classes,
Londres, Nova
1992.
lembrar”,Iorque:
conceitoVerso,
que ele
assim explica:
2. AFZAL-KHAN, Fawzia. Cultural imperialism and the indo-english novel.
As pessoasThe
não Pennsylvania
são simplesmente
eventos
históricos
ou partes
Pennsylvania:
State
University
Press,
1993. de um
corpo político patriótico. Elas são também uma complexa estratégia
referencialidade
social
em Moore.
que a reivindicação
3. AMIN, retórica
Samir. de
Eurocentrism.
Trad.
Russel
Nova Iorque:porMonthly
representação provoca uma crise no processo de significação e
Review
Press, 1989.
endereçamento
discursivo. Nós, então, temos um território cultural
contestado onde as pessoas devem ser pensadas num duplo tempo; as
pessoas são
os “objetos”
de uma
pedagogia
nacionalista, da
4. BACHELARD,
Gaston.
A água históricos
e os sonhos:
ensaio
sobre a imaginação
dando ao discurso uma autoridade que é baseada no pré-dito ou na
matéria.
Antonio
de constituída.
Pádua Danesi.
Paulo:
história Trad.
(ou fato)
original
As São
pessoas
são Martins
também Fontes,
os
“sujeitos”
1989.
202 p.de um processo de significação que deve apagar qualquer
original ou primeira presença de nação-pessoa para demonstrar os
prodígios,
princípios
das pessoas
como
aquelesânscrito.
processo contínuo
5. BHAGAVAD.
Gita:
Cançãovivos
do divino
mestre.
Trad.do
Introdução
pelo qual a vida nacional é redimida e significativa como um processo
e notas:
repetitivo
Rogério
e reprodutivo.
Duarte; (4)
nota introdutória: Caetano Veloso. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.
Vemos, assim, que Homi Bhabha não nutre sentimentos especificamente
6. BALSAMO, Anne. Technologies of the gendered body: reading cyborg
nacionalistas.
ao contrário,
sua Duke
visãoUniversity
é a de que
se 1996.
deve ter uma
women.Muito
Durham
and London:
Press,
compreensão
7. BARDHAN,
sociológica
Kalpana [Ed.
de tudo
andaquilo
Transl.].
que envolve
Of women,
a representação
outcastes, peasants
da nação,
and
rebels – a selection of Bengali short stories.
da cultura local e dos indivíduos, tudo calcado na ambivalência do conceito de
8. BASSNET, Susan. Comparative literature: a critical introduction. Oxford:
nação. É esta ambivalência central em sua postura que servirá para a
Blackwell, 1993.
denominação de “dissemiNation”, título do principal texto do livro em questão,
9. BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. T rad. Mauro
vista por Gama,
BhabhaCláudia
como uma
leitura das
margens
da técnica
nação moderna.
Martiinelli
Gama;
revisão
Luíz Carlos Fridman.
Rio de
Janeiro:a este
Jorge
Zahar, 1998.
Muito
próximo
pensamento
é o de Gayatri C. Spivak. Ela também
10.aBAUMAN,
Zygmunt.
Identidade.
Trad.
Carlos Alberto
Medeiros.
Rio de
tem
percepção de
que há inúmeros
fatores
sociológicos
a serem
considerados
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. 110 p.
quando analisamos a autoria da representação e a representação em si. Por este
179
11. BAUDRILLARD, Jean.
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proposta deste
trabalho
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Tempoconsiderando
Brasileiro ed.a Trimestral.
luta que essas mulheres desempenham contra
cânones milenares na busca pelo reconhecimento de sua
56. Revista Tempo
Brasileiro,
jan.-mar.
nº 160
– 2005
– Rio
Janeiro:
cidadania.
Um recorte
foi –feito
a partir
da autoria
de de
Arundhati
na obraed.O deus
das pequenas coisas que a evidencia como
TempoRoy,
Brasileiro
Trimestral.
uma autêntica autora híbrida. O pós-colonialismo indiano é
tratado
por ela numa
dimensão
para
uma
57. Revista Tempo
Brasileiro,
abr.-jun.
– nº 161humana,
– 2005 o– que
Rio contribui
de Janeiro:
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paraed.
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