XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
ANÁLISE DA TILAPICULTURA BRASILEIRA COM ÊNFASE NO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
EDUARDO PROFETA PEREIRA; AUGUSTO HAUBER GAMEIRO.
ESALQ, PIRACICABA, SP, BRASIL.
[email protected]
APRESENTAÇÃO ORAL
SISTEMAS AGROALIMENTARES E CADEIAS AGROINDUSTRIAIS
ANÁLISE DA TILAPICULTURA BRASILEIRA COM ÊNFASE NO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
Grupo de Pesquisa: Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais
Resumo
O presente estudo tem a finalidade de analisar o mercado internacional e o potencial da
Tilapicultura no Brasil. Em primeiro lugar, analisa-se a cadeia produtiva de tilápias e o
desenvolvimento do setor dentro do agronegócio brasileiro. Em segundo lugar,
apresentam-se dados comerciais e mercadológicos da atividade, esperando desta forma,
que os resultados obtidos possam contribuir para o entendimento do funcionamento do
setor e para definição de estratégias públicas e privadas para o seu desenvolvimento.
Apesar das diversas características positivas em favor da tilapicultura e do potencial
observado, ainda há fatores que limitam e restringem tal mercado, como falta de iniciativa
e incentivos governamentais e informalidade no setor, além dos altos custos de produção e
distribuição, devido principalmente ao sistema logístico deficitário no Brasil.
Palavras-chave: sistema agroindustrial, tilapicultura, tilápia, piscicultura, comércio
internacional.
Abstract
The following research has as objective the analysis of the international market and the
potential future of the Tilapia Aquaculture in Brazil. In first place it was made a productive
chain analysis and a research over the development of the sector inside the Brazilian
agribusiness. In second place are shown commercial and market data, that way the acquire
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results can contribute to the sector functioning understanding and to public and private
strategies decisions. Despite the many favorable characteristics to the tilapia production
and the potential for this market there are a lot of key points that restrict this market in
Brazil, for example its deficiency of the government and the sector informality, not
mention the high production costs caused by the deficient logistic system in Brazil.
Keywords: Agribusiness, tilapiculture, tilapia, fish, international market.
1. INTRODUÇÃO
Tradicionalmente o Brasil é um país de destaque na produção agrícola e
agroindustrial, apresentando crescimento expressivo anualmente, com destaque para o
intervalo entre os anos de 2003 e 2005. Apesar desse crescimento, os produtos negociados
não possuem muita diversidade, sendo basicamente restritos ao setor sucroalcooleiro, gado
de corte, café, soja, milho, e, mais atualmente, o frango.
Partindo deste ponto, nota-se a necessidade de uma nova concepção para o país
continuar ganhando o mercado internacional na comercialização de produtos agrícolas e
agroindustriais. Observa-se expressivo potencial na piscicultura brasileira que, até o
presente momento, não apresenta muito destaque em âmbito internacional.
Segundo Madrid (1998), a aqüicultura brasileira apresentou, entre os anos de 1995
e 1996, por exemplo, o significativo crescimento de 30% em sua produção, sendo este
desempenho consideravelmente superior ao desempenho da produção mundial, notando-se
que as produções asiáticas (China e Tailândia, como maiores produtores) já estão em seu
limite máximo de produção e já demonstrando sinais de deficiência em água e solo.
Dentro do setor da piscicultura encontra-se o cultivo da tilápia do Nilo
(Oreochromis niloticus) e da tilápia vermelha (Oreochromis ssp), peixe com ótimo
aproveitamento produtivo e de grande aceitação no mercado internacional. O maior
produtor mundial de tilápia é, indiscutivelmente, a China. Atualmente o país é responsável
por aproximadamente 60% de toda a produção mundial do peixe, porém praticamente toda
a produção é consumida pelo mercado interno, sendo uma pequena porção exportada para
outros países. Outro aspecto negativo da tilápia chinesa é a baixa qualidade dos filés
produzidos. Dentre os maiores compradores internacionais estão os Estados Unidos
(EUA).
Observa-se, desta forma, que o Brasil possui potencial para se tornar um dos
maiores, senão o maior produtor e fornecedor mundial de peixes provenientes da
aqüicultura e também, no setor específico de tilapicultura. Diversos fatores contribuem
para tal fato como: i) condições climáticas, sendo cerca de 70% do território nacional é de
clima tropical, totalmente favorável à criação das tilápias, pois permite o crescimento e
desenvolvimento do peixe durante todo ano; ii) autonomia na produção de grãos, sendo
grande exportador de milho e soja, neste caso utilizados como ração; iii) o país possui a
maior quantidade de água doce do planeta, aproximadamente 12% do total, e a um baixo
custo; iv) possui tecnologia e parque industrial trabalhando com alta ociosidade, o que
permite um significativo crescimento a partir de uma maior utilização desses
investimentos; v) um mercado consumidor doméstico com potencial crescimento,
dependendo de fatores como o aumento de disponibilidade e redução de preço, para que
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haja um crescimento na demanda; vi) além de profissionais, como zootecnistas e
engenheiros, cada dia mais especializados e focados no desenvolvimento do animal para
melhor aproveitamento da carne e maior produtividade (LOVSHIN, 1998).
Apesar dos pontos positivos apresentados, ainda há muito para se fazer no que
tange à estruturação logística e maior escala na industrialização da carne da tilápia para
ganho de competitividade no mercado internacional.
Deve-se considerar, também, que os piscicultores gostariam de dispor de canais de
comercialização bem estabelecidos com os frigoríficos, pois, desta forma, poderiam
entregar sua produção com baixa incerteza, reduzindo assim custos com mão-de-obra,
transporte, alimentação, além de facilitar o manejo e ter um mercado garantido para seu
produto (RISSATO, 1993).
2. METODOLOGIA
A metodologia utilizada na análise foi estruturada de acordo com o método
utilizado por Batalha & Silva (1999), o qual analisou a cadeia agroindustrial da carne
bovina no Brasil, considerando o impacto de um conjunto de fatores críticos em relação a
uma condição de desempenho competitivo da cadeia. Também se observa que o
conhecimento de tais fatores, classificação quanto ao grau de “controlabilidade” e medição
do impacto desses fatores sobre o desempenho de uma cadeia produtiva agroindustrial, é
de suma importância para a definição de estratégias empresariais e políticas públicas com o
objetivo de melhoria na competitividade (BATALHA & SILVA, 1999).
Além dessa referência, serão considerados os enfoques de “Sistemas
Agroindustriais” (SAGs), bem como a análise SWOT da atividade, como descritos a
seguir.
2.1. Conceito e caracterização de Sistemas Agroindustriais (SAG)
A partir de pesquisas realizadas por Davis e Goldberg (1957) e Zylbersztajn (1995)
os estudos de coordenação dos SAGs passaram a ter caráter referencial para toda cadeia
produtiva agrícola, conceituados por dois trabalhos, sendo o Commodity System Approach
(de Davis e Goldberg) e os estudos desenvolvidos pela escola francesa, chamado de
Filière, que significa “cadeias”. Tais conceitos passaram a considerar o “agronegócio” de
forma sistêmica.
Um SAG corresponde ao conjunto de atividades necessárias para se estruturar e
produzir produtos agroindustriais. Todas essas atividades estão inter-relacionadas. Além
disso, segundo Zylbersztajn (1995), as inter-relações entre as atividades do processo
agroindustrial não pode ser entendida como um SAG de produção linear, apresentado por
Galbraith (2001) e sim como uma rede, onde cada atividade possui contato direto com uma
ou mais partes e, a partir do desenvolvimento e aperfeiçoamento de tais inter-relações,
farão com que a estrutura do SAG tenha maior ou menor eficiência.
2.2. Análise SWOT
Para se avaliar os desafios existentes a serem ultrapassados para que possa haver
um desenvolvimento real da tilapicultura no Brasil, um dos métodos sugeridos, e que foi
utilizado neste trabalho, é a elaboração da matriz de SWOT desenvolvida na década de 60,
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pela Universidade de Harvard. SWOT significa Strenght (pontos fortes), Weakness (pontos
fracos), Opportunities (oportunidades) and Threats (ameaças). (WRIGHT et al., 2000).
Segundo WRIGHT et al. (2000), a matriz de SWOT analisa o ambiente externo
comparativamente à posição competitiva de cada unidade do negócio. Desta forma,
podem-se avaliar os pontos fortes e fracos do setor, consequentemente identificando as
oportunidades e ameaças como forma de auxiliar na diretriz estratégica de um projeto.
2.3. Obtenção de Dados e Informações
O procedimento empregado para obtenção dos dados e informações contidos nesta
disse respeito ao levantamento de informações disponíveis em centros de pesquisas e
entidades relacionadas ao setor de aqüicultura e à cadeia agroindustrial da tilápia no Brasil.
Juntamente aos dados obtidos nos centros de pesquisa e entidades do setor,
buscaram-se dados por meio de contatos com agentes do setor, sejam eles públicos,
privados, produtores industriais e da pesquisa do setor. Artigos e publicações em revistas
técnicas e sites informativos também foram pesquisados.
3. RESULTADOS: Caracterização do SAG da Tilápia no Brasil
Diversas espécies de peixes vêm sendo cultivadas ao longo do mundo, dentre tais
culturas uma das mais utilizadas e de melhor produtividade é a tilápia1. Originária da
África, a tilápia passou a ser utilizada como uma cultura para produção com destino a
industrialização e comercialização há apenas 50 anos passando a conquistar cada vez mais
os principais mercados mundiais: EUA e Europa (VANNUCCINI, 1998).
Segundo dados obtidos junto ao Ministério da Agricultura (2001) a produção da
tilápia no Brasil em 1998 alcançava o patamar de aproximadamente 35 mil toneladas/ano,
sendo apenas 1,27 toneladas exportadas para os EUA, principal consumidor.
De acordo com informações disponibilizadas pela Secretaria Executiva do
Departamento de Pesca e Aqüicultura (1996), entidade subordinada ao Ministério da
Agricultura e Abastecimento, o SAG (Sistema Agroindustrial de Produção) para a tilápia
apresenta a seguinte estruturação de seus elos de produção: segmento de insumos,
produção/criação, indústria de transformação ou industrialização do produto,
distribuição/comercialização e consumo final.
Na Figura 1 é apresentado um esboço do Sistema Agroindustrial da Tilápia no
Brasil.
1
A tilápia é oriunda da África Continental (excluindo Madagascar) e da Palestina (Vale do
Rio Jordão e rios costeiros). Existem cerca de 70 espécies, sendo que as de importância
comercial pertencem a três gêneros: Oreochromis niloticus, Oreochromis spp e
Sarotherodon spp. Tilápias são peixes termofílicos e sua distribuição nos continentes está
condicionada às baixas temperaturas. Apesar de serem peixes de água doce, são
extremamente tolerantes a água salobra (TILÁPIAS, 1995).
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Figura 1. Representação esquemática do Sistema Agroindustrial (SAG) da Tilápia
(adaptado de SONODA, 2002).
3.1. Insumos
São produtos e recursos necessários para que seja desenvolvida a atividade
produtiva. Dentre eles encontra-se máquinas e equipamentos, infra-estrutura, transporte,
mão-de-obra, ração, medicamento, tanques-rede e diversos outros recursos.
Os principais insumos utilizados na tilapicultura são os tanques-rede, infra-estrutura
e ração. A criação de peixes em tanques-rede é uma alternativa que vem crescendo
constantemente e apresenta vantagens técnicas (fácil manuseio), ecológica (não há
necessidade de construção de diques ou açudes ou tanques de terra visto que o cultivo pode
ser feito em rios), econômico (custos bem inferiores ao sistema extrativista) e possui fácil
adaptação regional (SCHIMITTOU, 1993; KUBITZA, 2000). Segundo Rotta & Queiroz
(2003), o cultivo em tanques-redes apresenta um custo técnico relativamente menor do que
a cultura tradicional de criação em viveiros de terra ou açudes, devido aos elevados custos
para construção dos viveiros.
A ração é o insumo fundamental na produção e, segundo estudos de Jolly & Clonts
(1993) e Kubitza & Ono (2003), representa o principal custo na produção, variando entre
50% e 70% do total da produção. A nutrição animal adequada exerce fundamental
influencia no crescimento e qualidade da carne do animal e é o pré-requisito básico para o
sucesso da criação (HAYASHI et al., 2001).
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3.2. Produção
Este representado pela aqüicultura propriamente dita, definida como “o cultivo de
organismos aquáticos, incluindo peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios e plantas aquáticas”
(BARDACH et al., 1972). Corresponde ao processo de criação dos organismos aquáticos,
neste caso a tilápia, em ambientes naturais (rios, lagos, etc.) e em ambientes artificiais
(como açudes, tanques-rede, viveiros e represas).
O sistema tradicional brasileiro utilizado tanques escavados em terra, na forma de
açudes, também conhecidos como viveiros tradicionais, onde o produtor é responsável pela
aquisição de alevinos e de ração (SONODA, 2006b). Sendo a ração responsável pela maior
parte do custo de produção, variando entre 50% e 60% do custo total (SCORVO et al.,
1998). Segundo Sonoda (2000), o custo com a ração no sistema tradicional tende a ser
menor, devido à tilápia ser um peixe filtrador, aproveitando o plâncton do tanque na
alimentação, dessa forma pode-se aplicar uma ração de qualidade inferior, pois o
suplemento vitamínico será retirado dos plânctons pela tilápia. Porém tal sistema impede o
controle de mortandade, homogeneidade, sabor (off flavor) e dificuldade na despesca. Tais
fatores impedem uma aceitação e aprovação do peixe em mercados mais rígidos e
exigentes como Estados Unidos, Europa e Japão.
Outro sistema que vêm sendo implantado no Brasil é o sistema intensivo, onde os
peixes são criados em tanques-rede, porém devido a alta concentração de indivíduos dentro
do tanque rede expõem a necessidade de uma constante circulação de água (COLT &
MONTGOMERY, 1991), neste caso podendo ser criados em rios. Outro aspecto negativo
neste sistema é a necessidade de utilização de uma ração com melhor qualidade do que
aplicada no sistema tradicional e como conseqüência, sendo essa mais cara (CARNEIRO
et al., 1999). Tais características permitem um resultado oposto ao obtido no sistema
tradicional, sendo os peixes provenientes dessa cultura os destinados ao exterior.
Segundo CAMARGO & POUEY (2005), a aqüicultura brasileira possui um
desenvolvimento muito modesto comparado aos demais produtores mundiais, isso se deve,
principalmente, à falta de política setorial em favor de uma dinamização do apoio
governamental à produção e da falta de definição de alternativas que gerem maior impacto
econômico visando o aproveitamento das potencialidades naturais de cada região.
De acordo com últimos dados da FAO (2007), a produção brasileira de tilápias
estava em torno de 69.078 toneladas em 2004, apresentando um crescimento de 10,4%
comparado com a produção de 62.558, em 2003. O valor acumulado, nos últimos 10 anos
(de 1995 a 2004), atinge um crescimento de 474,9% (Tabela 1). Sendo os anos de 2002,
2003 e 2004 os mais expressivos, com a ressalva da pequena queda apresentada em 2005
(redução em 2% na produção), que foi reflexo da crise da agricultura devido,
principalmente a seca. Tal fato mostra o potencial de crescimento que o Brasil apresenta,
apesar das dificuldades políticas internas, como a falta de apoio governamental; e
comerciais como barreiras técnicas e dificuldades na redução dos custos de produção.
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Tabela 1. Evolução da produção brasileira de tilápias
Ano
Quantidade (em t)
Valor (em U$ 1.000)
1995
12.014
42.049,0
1996
15.700
54.950,0
57.273,0
1997
16.845
1998
24.062
79.404,6
1999
27.104
89.443,2
2000
32.459
107.114,7
114.656,0
2001
35.830
2002
42.003
134.409,6
2003
62.558
200.185,6
2004
69.078
221.049,6
217.123,2
2005
67.851
Fonte: FAO (2007)
Crescimento
31%
4%
39%
13%
20%
7%
17%
49%
10%
-2%
3.3. Indústria de Transformação ou Industrialização
A industrialização ou transformação da criação dá-se através do processamento do
animal, primeiramente sendo abatido, posteriormente eviscerado, descamado, retirada a
espinha, filetada a carne, e empacotamento e/ou congelamento do produto, ou
simplesmente resfriamento para comercialização do filé fresco, destinando-se para o
próximo segmento da SAG, a distribuição.
Ressalva-se ainda a possibilidade de não-abate, ou seja, venda do animal vivo, que
será tratada no próximo segmento.
Segundo Oetterer (1999), como forma de gerar subsídios para agilização da
transferência de tecnologia da universidade ao setor produtivo, foram apresentadas
possibilidades para processamento do pescado cultivado, nas formas de congelado,
resfriado e defumado/refrigerado, mencionando também seus respectivos custos fixos e
variáveis, e a estrutura de produção para implementação de frigoríficos (SOCCOL, 2003).
3.4. Distribuição / Comercialização
Pode-se dividir a distribuição e comercialização da tilápia em dois sub-segmentos:
comercialização de peixes vivos e comercialização da carne do peixe.
Primeiramente, o mercado de peixes vivos é dominado pelos pesque-pagues, sendo
fornecidos por intermediadores e transportadores. Desta maneira os pesque-pagues,
direcionam o peixe diretamente ao consumidor final.
Em segundo lugar, existe o mercado de carnes, onde a indústria realiza todos os
procedimentos produtivos de transformação, conforme descrito no segmento anterior, para
venda ao consumo humano. Sendo essa forma similar a utilizada no setor extrativo.
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3.5. Consumo
O consumidor final é o responsável pelo encerramento da SAG da tilápia.
Conforme descrito pela Lei 8.078/90, prevaleceu o critério objetivo, asseverando no seu
art. 2º, caput: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final”.
3.6. Mercado internacional
Segundo JORY et al. (2000), a tilápia é, atualmente, a segunda espécie de peixe
mais cultivada mundialmente, tornando-se um dos principais produtos do mercado da
aqüicultura nos EUA, tanto em volume de produtos como de variedade, sendo
comercializada fresca e eviscerada; congelada; inteira e em filé.
Os EUA, em 2000, importaram aproximadamente 40 mil toneladas de carne de
tilápia (em forma de peixe inteiro congelado, filé congelado e filé fresco, considerando que
o maior volume foi o de peixe inteiro congelado) (CASTILHO CAMPO, 2001). Este autor
também menciona que o consumo interno norte-americano da tilápia está em torno de 90
mil toneladas em 2000, resultando num crescimento de aproximadamente 78%, em se
comparando com o ano de 1998.
Dentro do comércio internacional de produtos relacionados à tilápia, encontra-se a
Tailândia, Taiwan e Indonésia, como sendo os três principais exportadores mundiais de
filés congelados e peixe inteiro. Por outro lado, no mercado de filés frescos os países
dominantes são provenientes da América Latina, como Costa Rica, Equador e Honduras
(JORY et al., 2000), sendo o Equador um dos principais em crescimento no volume de
importação, com um aumento na produção de aproximadamente 10% ao ano
(REDMAYNE, 2000).
Analisando a participação brasileira na produção mundial de carne de tilápia, notase uma humilde presença em 1995, quando aparece apenas na trigésima terceira posição
(HILSDORF & PEREIRA, 1999).
Nota-se que, de uma forma geral, os volumes das exportações diminuíram quando
se analisa em volume e em valor, porém pode-se observar que houve um notável
crescimento na industrialização, como observado no campo de Filé
fresco/resfriado/congelado, chegando esse crescimento a 527% em um ano. Tal fato é
explicado devido a uma mudança na estratégia dos principais produtores brasileiros de
tilápia, segundo o Ministério da Agricultura (2006).
Na Tabela 2 são apresentadas as estatísticas de exportação de tilápia pelo Brasil.
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Tabela 2. Estatísticas de exportação de tilápia pelo Brasil
Período
US$ FOB
Filés de tilápia congelada
2006
259.891
2005
41.469
2004
54.990
Tilápias inteiras frescas
2006
11.645
2005
9.469
2004
22.308
Tilápias inteiras congeladas
2006
223.412
2005
482.101
2004
382.807
Fonte: Aliceweb (2007).
Peso Líquido (kg)
53.757
25.173
9.892
3.331
4.644
17.932
108.282
284.994
242.286
3.7. Análise SWOT do SAG da tilápia
3.7.1. Vantagens comparativas do Brasil
Destacam-se como vantagens comparativas da produção de tilápias no Brasil, as
técnicas de reversão sexual2, as tecnologias de alto nível para SAGs com estruturas
frigoríficas com ociosidade, o clima altamente favorável, o tamanho do mercado
consumidor, dentre outros.
Assim, nota-se que o Brasil possui um sistema de transformação industrial com alta
tecnologia, sendo utilizado de forma direta pela indústria pesqueira (SCORVO, 1998). Ao
mesmo tempo tal infra-estrutura apresenta alto grau de ociosidade (LOVSHIN, 1998),
desta forma, os produtores de tilápia, proveniente da aqüicultura poderiam usufruir dessa
estrutura desde que tenham volume, qualidade e preço compatível às necessidades das
empresas processadoras (SHIROTA, 2000).
Utilizando-se a matriz SWOT proposta por WRIGHT et al. (2000), identificam-se
os seguintes pontos fortes da tilapicultura no Brasil (FNP, 2006):
- Possui pacotes tecnológicos definidos, como a técnica de reversão
sexual e tecnologia no processamento da carne;
- Apresenta alta produtividade na relação quilogramas de carne por
hectare por ano;
- Adequada eficiência alimentar;
- Curto ciclo produtivo; e
- Disponibilidade de recursos naturais.
Com estes aspectos consegue-se uma identificação das oportunidades que
favorecem ao produtor brasileiro. A abundância de recursos hídricos e represamento, assim
como o clima favorável são alguns dos recursos relativos à capacidade natural do Brasil.
Os centros de pesquisa básica e aplicada, especialmente os desenvolvidos em
2
A reversão sexual da tilápia consiste em aplicação de hormônios, dentre eles o 17α-metiltestosterona, para
aumento da produtividade, sobrevivência e controle da produção (LOVSHIN et al., 1990).
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universidades permitem uma disposição maior de informações que auxiliam ao produtor
brasileiro nas escolhas estratégicas, assim como o fortalecimento nos últimos anos em
pesquisa na piscicultura, realizado pela Embrapa.
Quanto aos insumos pode-se destacar que o Brasil possui capacidade para o
suprimento de alevinos com qualidade genética comprovada da Tilápia (ZIMMERMANN,
2000). Vale lembrar da grande capacidade do Brasil na produção de grãos o que permite o
suprimento e distribuição de rações, considerando as inúmeras indústrias de ração já
instaladas no país.
No aspecto comercial, as oportunidades são: a ociosidade da infra-estrutura já
instalada para resfriamento, processamento e transporte aplicados na pesca extrativa; a
estabilidade do segmento de pesca extrativa; e, não menos importante, o desenvolvimento
tecnológico para o abate, corte, aproveitamento de resídos e subprodutos (CONTRERASGUZMÁN, 1994).
Segundo dados da CEAGESP (2006), o Brasil apresentou um considerável
aumento na oferta de pescados cultivados em hipermercados e centros de distribuição, o
que reflete um aumento do consumo per capita de peixe no Brasil, com a tendência ao
consumo de carnes brancas. Outro aspecto importante a se observar, são as últimas crises
decorrentes no setor de avícola (Gripe aviária em 2005 e 2006 na Ásia) e no setor de
criação bovina (surtos de aftosa no Paraná e Mato Grosso do Sul em 2006).
3.7.2. Desafios existentes para o desenvolvimento da tilapicultura no Brasil
Apesar de todas as vantagens apresentadas por diversos estudiosos do setor, a
Tilapicultura ainda está muito aquém do que pode produzir, observadas as vantagens do
Brasil. Desta forma, quanto aos pontos fracos deste setor vê-se:
- Dificuldade no monitoramento e no controle dos peixes devido a
problemas com furtos e por ação de predadores;
- Falta de corporativismo e cooperação mútua, pois há uma elevada
concorrência entre os produtores;
- Problemas com o controle na aquisição e investimento em alevinos;
- Alta informalidade do setor aqüícola brasileiro;
- Falta de apoio governamental e políticas de incentivo para o
desenvolvimento do setor.
Tais pontos fracos resultam em ameaças e tornam a produção de tilápias um
desafio. Apesar da fundação do SEAP (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca) em
2003 por meio da Medida Provisória n° 103, no artigo 1°, § 3, inciso IV, com o objetivo de
auxiliar e conceder parâmetros e subsídios para os tilapicultores, os produtores ainda
encontram dificuldades em incrementar sua produção e seus lucros. Os custos relativos a
produção ainda são muito altos frente ao mercado internacional, principalmente pelos
problemas logísticos no transporte do produto até os portos e aeroportos de exportação,
visto que a produção, de uma forma geral, está concentrada mais no interior do Brasil,
ficando longe das estruturas desenvolvidas para exportação. Os diversos problemas como
estradas defeituosas, longe dos grandes centros, e as altas taxas de pedágio, este já próximo
aos centros exportadores, acabam por encarecer o transporte e, conseqüentemente, o valor
do produto na venda.
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Relativo às técnicas aplicadas ao monitoramento e controle dos peixes, ainda há
muito que se desenvolver. Tais técnicas estão sendo implantadas no Brasil apenas nos
últimos anos, graças a estudos acadêmicos e pesquisas em centros tecnológicos.
Outro fato que desafia o crescimento do setor é a falta de profissionalismo, sendo
ainda este muito informal, apesar do surgimento de empresas com foco no corporativismo
como a Tilápia do Brasil. Tal informalidade acaba por gerar problemas também na
produção, como a falta de critério e melhor seleção dos alevinos o que pode acarretar com
inferior qualidade e menor taxa de crescimento, gerando despesas desnecessárias.
4. CONCLUSÕES
Apesar do notável potencial do Brasil no que tange a oportunidades e recursos
naturais, o setor de tilapicultura no Brasil ainda está muito aquém do mercado mundial e de
suas exigências.
O futuro do Brasil é muito promissor no setor de aqüicultura, mais precisamente na
tilapicultura e há condições, mesmo que ainda ocultas aos produtores brasileiros, para que
haja um crescimento da participação de sua produção no mercado mundial. Infra-estrutura,
frigoríficos, recursos naturais (rios, lagos, etc.), condições climáticas, suprimento de
insumos básicos (rações) não faltam no Brasil, basta apenas uma estruturação
administrativa, vontade política e mobilização dos produtores para conseguir incentivos e
melhorias na infra-estrutura pública, que atualmente são os principais problemas na hora
da comercialização do produto final.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
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21 de março de 2007.
BARDACH, J.E. et al. Aquaculture - the farming and husbandry of freshwater and marine
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BATALHA, M. O. & SILVA, C. A. B. da. Competitividade em Sistemas Agroindustriais:
Metodologia e Estudo de Caso. II Workshop Brasileiro de Gestão de Sistemas
Agroalimentares – PENSA/FEA/USP. Ribeirão Preto. 1999. 12 p.
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análise da tilapicultura brasileira com ênfase no comércio