XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. ANESTESIA INTRAVENOSA EM EQUINOS A CAMPO Mychelle Bruna da Silva Barros1, Ana Emília Rodrigues da Mota2, Paulo Fernandes de Lima3, Ana Paula Monteiro Tenório³, Lidiane Guabiraba e Silva4, Patrícia Marinho Müller5. Introdução A anestesia na espécie equina apresentou marcantes avanços nos últimos 20 anos, sobretudo devido a um melhor conhecimento das ações dos fármacos empregados, além do desenvolvimento de novas técnicas anestésicas. Apesar disto, ainda não se obteve a “anestesia ideal”, que produza os efeitos desejados sem nenhum efeito colateral (Nóbrega Neto, 2002). A anestesia intravenosa total (AIVT) é amplamente empregada em medicina para a realização de procedimentos cirúrgicos mais complexos. Possui suas raízes na tríade anestésica (narcose-analgesia-relaxamento) proposta para a anestesia de pacientes humanos na década de 1950. Esses efeitos são alcançados utilizando-se uma técnica de anestesia equilibrada, na qual dois ou mais agentes são combinados para produzir efeitos desejados (Doherty & Valverde, 2008; Taylor & Clarke, 2009). De maneira geral, a depressão cardiovascular, caracterizada por hipotensão arterial, é menos significativa com o emprego de anestesia intravenosa. O maior problema com a anestesia intravenosa total é que muitos dos fármacos empregados são cumulativos, de maneira que após anestesias prolongadas a recuperação anestésica pode ser demorada e de qualidade ruim (Doherty & Valverde, 2008; Taylor & Clarke, 2009). Fármacos anestésicos injetáveis frequentemente são mais convenientes e baratos que anestésicos inalatórios, sua principal desvantagem é que, uma vez administrados, não podem ser controlados, e não são imediatamente eliminados (Muir, 2001). Os fatores que determinam a velocidade de estabelecimento e a profundidade da depressão são: a dose, o tipo de anestésico utilizado, a velocidade de administração, a via de administração, o nível de consciência do animal, o equilíbrio ácido-básico, o débito cardíaco do animal, a tolerância ao fármaco e a interação com outros fármacos (Muir, 2001). Estes agentes podem ser administrados através da técnica do gotejamento, onde os fármacos são adicionados aos frascos comerciais de soluções isotônicas e a câmara de gotejamento é ajustada para fornecer a velocidade do fluxo desejada; bomba de infusão, que pode ser programada para administrar um volume específico de solução em certo período de tempo, e os fármacos são adicionados aos frascos comerciais de soluções de reposição; seringa de infusão, que é indicado para administração de volumes menores; administração intermitente, que é o método mais simples de administração dos agentes e satisfatório para manutenção de anestesias de curta duração, contudo não é possível manter a concentração plasmática constante por meio desse método (Doherty & Valverde, 2008). Os agentes anestésicos intravenosos utilizados em equinos são representados pelo Cloridrato de Cetamina, Tiletamina, Tiopental, Propofol, agonistas α2 (Xilazina e Detomidina), Benzodiazepinas (Diazepan, Zolazepan e Midazolam), Éter Gliceril Guaiacol (EGG), Acepromazina. Associações entre estes agentes compõem protocolos que conferem bons planos anestésicos para realização de procedimentos cirúrgicos, inclusive a campo. O local adequado para cirurgia a campo deve ser escolhido. Sob condições climáticas favoráveis, uma área plana com boa cobertura de grama é o ideal. A maioria dos cavalos pode também ser anestesiada com segurança em uma baia de tamanho grande, com paredes regulares e piso revestido com uma “cama” espessa (Taylor & Clarke, 2009). A anestesia dissociativa é bastante empregada em equinos, principalmente a campo. Porém nesta modalidade o tempo hábil de anestesia é curto, o miorrelaxamento é insatisfatório e administrações repetidas oneram o procedimento anestésico e podem levar ao acúmulo do fármaco, causando recuperação demorada e com excitação (Wan et al., 1992; Marntell & Nyman, 1996; Robertson, 1997). Quando procedimentos cirúrgicos de longa duração são realizados sob anestesia geral intravenosa, o método de infusão contínua é o mais indicado, pois resulta em menores doses totais dos fármacos administrados, com menor variação na profundidade anestésica e nas variáveis cardiorrespiratórias (Robertson, 1997). Material e métodos A. Animal Um equino, fêmea, dois anos de idade, pelagem Castanha, Quarto de Milha, 130 Kg. O animal foi submetido a uma neurectomia e desmotomia do Ligamento Acessório (Check), devido a uma contratura do Tendão Flexor Digital Profundo, de ambos os membros anteriores. 1 Primeiro Autor é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Bolsista do CNPq. Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife –PE, CEP: 52171-900 e-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é Médica Veterinária Especialista em Equinos. Estrada de Aldeia, Km 5,5 Camaragibe-PE. 3 Terceiro Autor é Professor Doutor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois Irmãos CEP: 52171-900. 4 Quarto Autor é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 5 Quinto Autor é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. B. Procedimento Anestésico No exame clínico, a paciente apresentava mucosas ocular e oral normocoradas, frequência cardíaca de 40 bpm, frequência respiratória de oito mpm, e o jejum prévio de 12h havia sido estabelecido. A paciente foi previamente sedado com Xilazina 10% na dose de 0,8 mg/kg, administrando ao animal o volume de 1mL pela via intravenosa, permitindo-se um intervalo para observação de seu efeito, havendo abaixamento da cabeça e ptose labial e palpebral. A anestesia geral foi feita com uma “infusão tripla” de Éter Gliceril Guaiacol (EGG) a 5% diluído em 500mL de Solução Glicosada, acrescido de 500 mg de Xilazina 10% (5mL) e 1g de Cetamina (1mL). A velocidade da infusão se situou em torno de 1ml/Kg/h, variando de acordo com a avaliação dos reflexos palpebrais e corneanos, além da monitoração do parâmetro cardíaco e respiratório Resultados e Discussão Taylor e Clarke (2009) consideram que todos os equinos devem ser submetidos ao exame clínico completo, antes da anestesia geral, onde os sistemas cardiovascular e respiratório são os mais importantes, para assegurar que o animal é saudável. Após a administração da Xilazina, o animal apresentou sinais de sedação com abaixamento da cabeça e ptose labial e palpebral, como cita Nóbrega Neto (2002). A técnica de “infusão tripla” foi utilizada, pois segundo Taylor & Clarke (2009) é a mais frequentemente empregada para prolongar de maneira controlada a anestesia realizada em condições de campo. A indução anestésica foi excelente, devido à ausência de excitação e tremores musculares, decorrentes provavelmente da sedação e miorrelaxamento promovidos pela Xilazina, acrescidos dos efeitos miorrelaxantes do Éter Gliceril Guaicol, conforme relatam Clarke & Hall (1969), Davis & Wolff (1970) e Hubbell et al. (1980). Apesar de Taylor e Clarke (2009) afirmarem que a velocidade da infusão deve ser de 1mL/Kg/h, e Doherty e Valverde (2008) de 2 a 3mL/Kg/h, neste trabalho considerou-se a importância da avaliação dos reflexos palpebrais e corneanos do animal durante o trans-operatório, já que a profundidade anestésica é melhor avaliada a partir dos movimentos do animal em resposta à estimulação cirúrgica (Robertson, 1997), sendo assim, apesar da taxa infusão utilizada ter sido de 1mL/Kg/h, pudemos reduzir a velocidade de infusão evitando desta forma o aprofundamento do plano anestésico, com consequente ocorrência de ataxia na recuperação de acordo com Doherty & Valverde (2008). A frequência cardíaca durante o ato anestésico variou dos iniciais 40 bpm para 33 bpm, esta redução se deve ao efeito da infusão de Xilazina, que causa bradicardia por estimular os receptores α2-adrenérgicos no sistema nervoso central, diminuindo o fluxo simpático, por promover um estimulo vagal (Savola, 1989; Wagner et al., 1991). Já a frequência respiratória inicial foi de oito mpm, e durante o trans-operatório se situou em sete mpm, considerandose que não houve alteração fisiológica significativa. No trans-operatório a paciente apresentou o reflexo da micção, devido à ação da xilazina que reduz a secreção de hormônio antidiurético, aumentando a produção de urina (Trim & Hanson, 1986; Muir, 1991b). O procedimento cirúrgico durou cerca de 40 minutos. Após o término da cirurgia, o animal adotou o decúbito esternal em cerca de 20 minutos, sendo um intervalo mais curto do que o observado por Greene et al. (1986); Lin et al. (1993); Young et al. (1993); Mama et al. (1998), que afirmam que normalmente os animais assumem o decúbito esternal e a posição quadrupedal cerca de 30 a 40 minutos, respectivamente, após o término da infusão. Agradecimentos A equipe do Equicenter Hospital 24h e Reprodução Equina (Tatuí-SP) e ao setor de Anestesiologia Veterinária do HOVET-UFCG Campus Patos-PB. Referências Davis, L.E., Wolff, W.A. Pharmacokinetics and metabolism of gliceril guaiacolate in ponies. Am. J. Vet. Res., v.31, p.469-73, 1970. Doherty, T., Valverde, A. Manejo de Sedação e Anestesia. In: Manual de anestesia & analgesia em equinos. São Paulo : Roca., 2008. p.198-202. Doherty, T., Valverde, A. Farmacologia dos agentes usados em anestesia de equinos. In: Manual de anestesia & analgesia em equinos. São Paulo : Roca., 2008. p.121-138. Greene, L.E.; Thurmon, J.C., Tranquilli, W.J., Benson, G.J. Cardiopulmonary effects of continuous intravenous infusion of guaifenesin, ketamine and xylazine in ponies. Am. J. Vet. Res., v.47, p.2364-7, 1986. 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