EDUCAÇÃO ESPECIAL: UM PROJETO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO PIBID-UFRR Dayana Soares Araújo1; Maria Nilda A. Lima2; Josiney de Lima Laranjeira3 1. Professora da UFRR, Coordenadora, PIBID UFRR. 2. Professora da escola Francisca Élzika De Sousa Coelho, Supervisora, PIBID UFRR 3. Acadêmico do Curso de Licenciatura em Artes Visuais, Bolsista PIBID UFRR Agência de financiamento: PIBID/CAPES A arte contemporânea é um tema que vem crescendo, mas que pouco é tratado em sala de aula, inclusive na educação básica em Roraima. Pensando nesta problemática, de que a arte contemporânea tem em se comunicar e, unindo com outra que é a ``Educação Especial’’, o subprojeto Artes visuais do PIBID-UFRR, desenvolveu o projeto “Educação Especial: um projeto de arte contemporânea’’. A atividade foi realizada na Escola Francisca Élzika de Souza Coelho, visando levar mais conhecimento e melhoria de aprendizagem aos alunos com necessidades especiais, inserindo assim, a educação através das artes de uma maneira pedagógica criativa e contemporânea. Durante a primeira etapa, os bolsistas que acompanharam as turmas dos alunos com necessidades especiais, fizeram uma pesquisa sobre o tipo e grau de deficiência dos alunos envolvidos. Na segunda etapa foi realizada uma análise de dados. Na terceira, foi, uma pesquisa bibliográfica sobre arte contemporânea, cuja técnica escolhida foi a releitura através da linguagem fotográfica e a performance. As obras escolhidas pelos alunos da escola foram: Mulheres Peneirando Trigo de Gustave Courbet; O Desesperado de Gustave Courbet e; O Anjo Ferido de Hugo Simberg. Em seguida, os estudantes com necessidades especiais foram introduzidos em grupos formados pelos alunos em sala de aula e realizaram a releitura das obras escolhidas. O centro da questão foi realizar a releitura da obra criando um cenário com objetos inusitados e materiais do cotidiano, sendo que, o estudante também exercia a função de figurante, criando um cenário mais próximo possível ao que se observa nas pinturas, para assim, serem fotografados. Em todo o processo do projeto foi observado a participação ativa dos estudantes com necessidades especiais com os demais membros do grupo. Assim, podemos afirmar que obtivemos resultados positivos em toda comunidade escolar e satisfatória para os bolsistas ali presentes. Palavras chave: Arte Contemporânea; Criatividade; Educação Especial. 1 INTRODUÇÃO No presente artigo, descrevemos e discutimos sobre o aprendizado e criatividade dos educandos com necessidades especiais, da Escola Estadual Francisca Elzika, do Ensino Fundamental II, frente a uma determinada atividade prática, denominada de releitura fotográfica, desenvolvida pelos acadêmicos do curso de Artes Visuais, do programa PIBID, da Universidade Federal de Roraima, em conjunto com professores supervisores que atuam nessa escola. Entendemos que a valorização do ser humano é algo que deve abranger a todos, bem como o aos saberes, para uma educação de 2 qualidade, onde também se faz necessário o envolvimento da escola família e sociedade, para que o aluno com necessidade especial tenha acesso a essa vivência. Devido a isso, a educação especial é uma linha de métodos que trabalha em conjunto com a educação regular, sendo uma área de conhecimento que tem como objetivo principal, estratégias, diferenciadas para os alunos com necessidades educacionais especiais. Foi pensando nesses termos que buscamos adequar as aulas de artes para que todos pudessem ter a oportunidade de aprender, mesmo com suas limitações. Assim, o serviço educacional mais adequado segundo Mendes (apud SILVA, 2006, p.391), “seria aquele que melhor favorecesse o desenvolvimento de determinado aluno, em determinado momento e contexto”. Diante desta reflexão, buscamos métodos e alternativas que favorecessem a interação dos alunos nas atividades, nas aulas de artes de forma participativa e interativa com os demais alunos e tentando desinibi-los para uma vida social, participativa e ativa. No entanto, pretendemos mostrar de forma sucinta as possibilidades e as vivências desses alunos. O que é possível analisar não somente através da coleta de dados, mas também de informações sobre a deficiência de cada aluno. A atividade proposta foi escolhida com o intuito de despertar o gosto, a criatividade e a participação dos estudantes, sendo esse um dos meios se integrarem no processo de ensinoaprendizagem. 2 EDUCANDOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS Para que pudéssemos envolver os alunos com necessidades educativas especiais na atividade proposta, precisaríamos saber e entender melhor a deficiência de cada um. Assim, tratamos de observar o laudo médico de cada estudante, onde apresentaram as seguintes deficiências: O aluno C. P. F. (8º ano), apresenta baixa audição (40 à 50 decibéis), voz hipernasal, desvio fonético e desvio fonológico e necessita de acompanhamento fonodiológico, odontológico, psicopedagógico e reforço escolar; J. V. F. C. (9º ano), retardo mental leve, necessita de inclusão na orientação especial e; A. S. F. (9º ano), devido receber radioterapia no sistema nervoso central, necessita de apoio extra para a resolução de exercício e tempo para cópia. Logo, sabendo melhor a respeito das necessidades desses estudantes, pudemos ir de encontro com a declaração de Salamanca (Brasil, 1994), no artigo 2º afirma que: 3 Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem; Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidade; Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso a escola regular que deveria acomodá-los dentro de uma pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades; Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitude discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva a maioria das crianças e aprimora a eficiência e, em última estância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional (SILVA, 2010, p. 94-95). Apesar de não termos uma estrutura física adequada a essas crianças, desenvolvemos métodos pedagógicos em que pudemos acolher de forma satisfatória a tais necessidades e, para isso, afirmamos que é importante a capacitação para os profissionais ao trabalharem nessa área, pois seria um caminho que conduzisse o professor a ter um olhar diferenciado não para a deficiência, mas para o potencial que cada um possui. Todo cidadão tem o direito a educação, o que seria uma prática social que expande e democratiza a oportunidade para obter conhecimento. Com isso, a educação especial, também vem trazer suas particularidades com o intuito de, de fato e direito, garantir a inclusão escolar e social de pessoas com necessidades especiais, fazendo com que esses possam participar da sociedade civil. E para que a escola ofereça essa contribuição é preciso respeitar a história de vida dos alunos, seus conhecimentos, suas dificuldades, suas sensibilidades, seus valores produzidos na convivência cotidiana na sua comunidade. Construir uma educação emancipadora e inclusiva é estabelecer continuamente novas relações educativas com a sociedade no ambiente escolar. Diante disto, a Universidade Federal de Roraima com o projeto (PIBID), que inclui alunos universitários no ambiente escolar dando a oportunidade de vivenciar o cotidiano das salas de aula, tendo algumas escolas vinculadas, sendo a Escola Estadual Professora Francisca Élzika de Souza Côelho uma dessas, desenvolvemos um trabalho em que fosse possível incluir os alunos com deficiência nas atividades em grupo. Ao tomar ciência dos laudos dos alunos especiais, observamos que dentro da sala de aula apresentavam uma resistência ao relacionamento com os outros, e apáticos em realizarem as atividades em grupo. De acordo com as observações, fizemos 4 consultas e pesquisas junto a sala multifuncional, conversamos com as professoras sobre os métodos utilizados no atendimento desses alunos e elas nos relataram que são desenvolvidas atividades adaptadas ao conteúdo ministrado nas disciplinas em sala de aula. Dessa forma procuramos atividades que despertasse o interesse e a participação desses alunos nas aulas de artes. 3 A PRÁTICA NO ENSINO DAS ARTES A Escola Francisca Élzika de Souza Coelho, vem promovendo métodos pedagógicos onde o professor de sala, juntamente com o professor da sala multifuncional, em conjunto, favorecem a reflexão e a interação dos estudantes com as demais atividades, de natureza humana, cultural e artística. E, para que a escola possa garantir um tratamento igualitário a todos, é necessário considerar as diferenças, é importante possibilitar aos estudantes tempos diferentes para favorecer o processo de aprendizagem. Todas as diferentes linguagens artísticas sendo as artes visuais, música, dança e o teatro, tem uma razão importante no aprendizado do adolescente e devem ser muito bem trabalhadas. O ensino da arte é uma forma de socialização entre o sujeito e a realidade, logo, o professor através da arte, demonstra a realidade, permitindo que o aluno tenha uma nova leitura do mundo a sua volta culturalmente e socialmente. O aluno ao aprender, desenvolve uma nova visão do real, onde integra o pensar, fazer, ver, conhecer e sentir. No entanto, com este propósito de motivar os estudantes com necessidades especiais a interagir com os demais, contribuindo com sua autoestima, iniciamos a atividade com aulas expositivas para toda a turma, apresentando conteúdos que pudessem despertem o interesse e o gosto pela arte. Assim, mostramos obras do artista Courbet e Hugo Simberg(figuras 1 e 2), que retratavam o realismo da época, ensinando como fazer a releitura de imagens das obras dos artistas realistas. A arte tem grande potencialidade na vida do ser humano, possibilitando o pensamento artístico, crítico, a percepção, a sensibilidade, e a imaginação. Em relação a essa linguagem: [...] o aluno poderá desenvolver sua competência estética e artística nas diversas modalidades da área de Arte (Artes visuais, Dança, Teatro), tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais quanto para que possa, 5 progressivamente, apreciar, desfrutar, valorizar e julgar os bens artísticos de distintos povos e culturas produzidos ao longo da história e na contemporaneidade (BRASIL, 1997, p. 53). Vimos que todas as manifestações artísticas nos sugerem uma imagem ou uma ideia de como se entende ou é vista de maneiras diferentes para cada pessoa. A criatividade do homem se desenvolve através da cultura, ou de uma realidade social. Então, durante a discussão de como seria a releitura de cada grupo formado em sala de aula, os estudantes puderam refletir e criar um cenário a partir das obras que foram sugeridas conforme as figuras 1 e 2 a seguir: Figura 1: Moças peneirando trigo (1854-1855), Gustave Couber Óleo sobre tela, Museu de Belas – Artes, Nantes. Fonte: memoriasfuturass.blogspot.com.br/2009/02/quadro-de-gustav-courbetmulheres.html Figura 2- Anjo ferido (1873-1917), Hugo Simberg Óleo sobre tela, 127 x 154 cm 6 Fonte - romulonarducci.blogspot.com/2010/01/anjo-ferido.html Através das Obras de arte o artista recria a realidade imediata, elaborando outro mundo, muitas vezes a partir de experiências de vida, de convecções, e de ideias. Desta forma, perante uma obra de arte, não estamos apenas olhando o objeto representado ou suas técnicas, estamos na verdade diante da face interna do artista, a alma. Para que a atividade fosse realizada, cada grupo, onde além dos estudantes especiais, também eram composto pelos demais alunos do ensino fundamental, teria que buscar entender a essência da obra, incorporar, para assim externalizar e criar a releitura, fazendo uso de figurinos e cenário, tentando aproximar a fotografia final ao que estava presente na obra escolhida. Enquanto a releitura ia acontecendo, sentimentos emergiam, a experimentação criativa fluía e, no decorrer da preparação de cada grupo, os demais da turma assistiam, tornando toda aquela vivencia numa verdadeira performance. Conforme Labra (2009, p. 09): A ação performática estimula o contato direto entre público e artistaobra, criando tensões a partir da exploração do real, do confronto com o elemento inesperado contido em um ato ao vivo e sem ensaio, e inverte desse modo a lógica alienante e distanciada do espetáculo. A performance mostrase como coparticipante do real, ou, pelo menos, como um elemento capaz de produzir interferências que questionam as condutas socialmente consensuais na vida cotidiana. Assim, podemos dizer que também ocorreu ação performática durante a prática do trabalho, pois os alunos tiveram o contato direto com o público (no caso o público foram os demais alunos) através da releitura performática das obras citadas acima e, por não ter ocorrido ensaios para preparação das encenações, sendo que os 7 alunos se posicionaram conforme os elementos contidos nas obras apresentadas acima. Sendo a performance uma linguagem atual, podemos afirmar, desta forma, que os estudantes atuaram dentro de uma perspectiva contemporânea. 4 METODOLOGIA Em primeiro momento, explicamos aos estudantes da turma do 8º e 9º ano, da escola Estadual Francisca Elzika de Souza Coelho, a proposta de realizar releituras advindas de pinturas de grandes artistas, sendo que essas releituras seriam finalizadas com uma foto. Para que isso fosse possível trabalhamos com a criação de um cenário externo à sala de aula e figurinos diversos. Após as explicações das obras em que foram mostradas, dividimos a turma em grupo, onde inserimos os alunos especiais em cada grupo, e propomos a atividade em que os alunos organizassem todo o cenário e a caracterização dos personagens. A linguagem artística utilizada foi a arte cênica e a fotografia para registro dos momentos, bem com o auxílio da professora e dos acadêmicos pibidianos de Artes Visuais, da UFRR, para retratarem as obras dos artistas da época. Para desenvolver o trabalho todos os alunos da turma do 8º e 9º ano, participaram, sendo que a atenção estava mais voltada para os especiais e, assim, os alunos utilizaram vestimentas e elementos atuais e inusitados. Os alunos especiais também participaram das atividades, retratando as duas obras já citadas acima, e juntamente com os demais alunos da turma, interagindo e desenvolvendo habilidades, criação e percepção, dando-lhes oportunidade, para que realizassem as releituras das obras. A finalização do trabalho se deu quando foi tirada a foto final de cada grupo, com as características estruturais principais da pintura escolhida. E, para que as imagens pudessem ser divulgadas, foi solicitada autorização aos responsáreis pelos estudantes que participaram do projeto. 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao montarem o cenário e se caracterizarem conforme as figuras apresentadas nas obras, durante a realização do trabalho percebeu-se a importância desse trabalho, que teve a participação ativa dos alunos especiais. Eles expressaram bastante entusiasmo e envolvimento, mostrando a capacidade de interagir com o grupo e o meio social em que vivem. 8 Percebemos que quando entendemos melhor uma turma em que empregamos nossos ensinamentos, principalmente quando existem pessoas que precisam de uma atenção maior, podemos fazer uso de metodologias que alcance o envolvimento e atenção de todos, fazendo com que a aprendizagem ocorra de forma mais prazerosa. No campo das artes, por existir uma grande relação com a prática, muitas possibilidades surgem e podem ser feitas de forma interdisciplinar, facilitando o conhecimento em outras disciplinas e vice-versa. Logo, a partir desse projeto realizado na Escola Francisca Elzika, foi proporcionado não somente um trabalho na área das Artes Visuais, mais uma experiência acadêmica para o pibidianos de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima, para os professores e, principalmente para os estudantes com necessidades educativas especiais, que, conforme foi observado e relatado, puderam perceber que são capazes e que podem se re-significar para si mesmos, para a sociedade e para o mundo. Em atividades como esta, o estudante passa a ter mais segurança nas coisas que se propõe a fazer e ter mais interesse nas aulas. Abaixo, nas figuras 3 e 4, segue o resultado da releitura de dois grupos, sendo que em cada uma das imagens, os alunos com necessidades educacionais especiais estão presentes. Figura 3: releitura da obra Moças peneirando trigo, de Gustave Couber Fonte: Foto e edição do acadêmico bolsista Josiney Laranjeira 9 Figura 4: Releitura de Anjo ferido, Hugo Simberg Fonte: Foto e edição do acadêmico bolsista Josiney Laranjeira 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos que ao longo desse trabalho, a educação especial é um direito de todos com necessidades especiais, pois a educação inclusiva não é somente aceitar as diferenças, mas também valorizar e fortalecer a individualidade de cada aluno, propiciando meios para que os mesmos desenvolvam suas potencialidades. Observamos que houve avanço no comportamento e na participação do alunos nas aulas de artes, através da disinibição ao aceitarem participar das atividades propostas, interagindo com os colegas de sala, pois o ensino das artes visuais motivaram na realização das atividades proporcionando o desenvolvimento do conhecimento e despertando o gosto pela produção artística. REFERENCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Arte. Brasília: MEC-SEF/SEESP, 1997. Disponível em: <http://romulonarducci.blogspot.com/2010/01/anjo-ferido.html>. Acesso em: 15/07/2014. Disponível em: <http://memoriasfuturass.blogspot.com.br/2009/02/quadro-de-gustavcourbet-mulheres.html>. Acesso em: 15/07/2014. 10 FERREIRA, Naura (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998. LABRA, Daniela. Performance Presente Futuro. Vol. 2. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009. SILVA, Aline Maira da. Educação especial e inclusão escolar: história e fundamentos – Aline Maira da Silva. – Curitiba: Ibpex, 2010. (Série Inclusão Escolar).