# 158 ano XXXIX JANEIRO/FEVEREIRO 2012 Valdemir Matos, participante do Programa Qualifica Bahia, desenvolvido na obra da Arena Fonte Nova, em Salvador SUSTENTABILIDADE As realizações que apontam para uma nova forma de pensar a vida no planeta II informa Foto: Edilson Silva informa 1 w w w. o d e b re c h to n l i n e . co m . b r Você também pode ler Odebrecht Informa na internet, no endereço acima; no seu iPad, acessando o aplicativo Revista Odebrecht na App Store; e no seu smartphone, no endereço www.odebrechtinforma.com.br. Nesses meios, você terá acesso ao conteúdo da revista impressa e também a vídeos, novas fotografias e outros recursos Edição online Acervo online Novidades >Você pode acessar o conteúdo completo desta edição em HTML ou em PDF Videorreportagem Blog > Projeto Reciclando minimiza impactos ambientais gerados pela construção de oito unidades da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco > Projeto Vida, da Supervia, desenvolve programa educativo sobre cidadania e meio ambiente com crianças que vivem perto das ferrovias onde a empresa atua > Na Usina Hidrelétrica Teles Pires, Projeto Acreditar integra trabalhadores locais e oferece oportunidade de crescimento a moradores de Mato Grosso >Acesse as edições anteriores de Odebrecht Informa desde a nº 1 e faça o download do PDF completo da revista >Relatórios Anuais da Odebrecht desde 2002 >Publicações especiais (Edição Especial sobre Ações Sociais, 60 anos da Organização Odebrecht, 40 anos da Fundação Odebrecht e 10 anos da Odeprev >Em Angola, Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável chega à segunda edição incentivando projetos entre estudantes de engenharia >Estudo inédito da Braskem propõe, através da Análise de Ciclo de Vida (ACV), discussão sobre o uso de sacolas plásticas >Rota das Bandeiras, em São Paulo, investe na preservação e recuperação ambiental da região por onde passam rodovias >Parceria entre Consórcio Etanol e Projeto Acreditar qualifica trabalhadores para a construção do Terminal Terrestre de Ribeirão Preto, em São Paulo FEZ-SE A LUZ Com o programa Luz Para Todos, iniciado em 2005, energia chega pela primeira vez a comunidades do interior do Brasil >Siga Odebrecht Informa pelo twitter e saiba das novidades imediatamente @odbinforma >Comente os textos do blog e participe enviando sugestões para a redação > Leia no blog de Odebrecht Informa os posts escritos pelos repórteres e pelos editores da revista. Textos de Cláudio Lovato Filho, Emanuella Sombra, Fabiana Cabral, José Enrique Barreiro, Karolina Gutiez, Renata Meyer, Rodrigo Vilar, Thereza Martins, Zaccaria Júnior e colaboradores. Foto: Edu Simões #158 sustentabilidade Foto de capa: Márcio Lima 6 Teles Pires: no Brasil profundo, as ideias e as ações para integrar pessoas e qualificar equipes 12 O aproveitamento do babaçu é destaque em iniciativas que beneficiam a comunidade em Alcântara 16 Médanos, na Argentina, torna-se um modelo de comunidade comprometida com a reciclagem 20 Braskem consolida seu conjunto de iniciativas voltadas ao controle e combate da emissão de gases de efeito estufa 24 Escolas de diversos pontos do país recebem informação sobre o ciclo do plástico e o consumo consciente 28 Felipe Cruz fala dos novos conceitos que alicerçam as ações de sustentabilidade na Organização 32 Nas obras da Refinaria Abreu e Lima, está em curso uma cruzada coletiva contra o desperdício 36 Qualificação profissional, inclusão social e promoção da saúde são o foco de projetos em Moçambique 42 Comunidades no entorno das linhas da SuperVia começam a mudar sua relação com o meio ambiente 46 Projeto da Arena Fonte Nova dá oportunidades de trabalho a moradores e ex-moradores de rua 52 A Cidade do Panamá investe em um amplo programa de saneamento e despoluição 58 Em vários pontos do Brasil, concessionárias desenvolvem programas de educação para o trânsito 62 Equipe do Escola em Ação capacita integrantes da comunidade para que eles sejam os gestores do programa 66 Edifícios verdes aliam tecnologia e criatividade para usar a energia com mais eficiência 70 No Colégio Dom Bosco, em Luanda, uma comprovação do poder da união de forças e princípios 74 Paragem do Brilho: uma chance para os engraxates de Luanda entenderem o trabalho de um novo jeito 78 Em Nova Alvorada do Sul, a história de uma comunidade que está fazendo valer uma oportunidade ímpar 82 Casas familiares contribuem para o desenvolvimento dos jovens do campo e de suas comunidades 86 Lançado em Salvador o livro O Mosteiro de São Bento da Bahia, que conta a história da vida monástica no Ocidente 88 Publicação patrocinada pelo Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares conquista de novo o Jabuti 90 Sérgio Leão aborda, em artigo, os novos patamares que a Odebrecht pretende atingir em sustentabilidade 92 Com apoio da Foz, jovens aprendem que o meio ambiente agradece se óleo e água não se misturarem 96 Em Limeira, o grafite recebe estímulo e valorização, e passa a ser motivo de alegria até para os idosos 98 Hebe Meyer escreve sobre os movimentos que levaram à implantação da Biblioteca Hertha Odebrecht informa informa 3 4 informa EDITORIAL Notícias de uma caminhada coletiva “A presença da Odebrecht, por meio do trabalho de suas equipes, tem possibilitado contribuições na forma de ações ambientais, educacionais, de saúde, de geração de trabalho e renda. Ações concebidas e executadas por pessoas para pessoas, que estão juntas, na mesma direção, a bordo do mesmo barco chamado Planeta Terra” M édanos, Tete, Beira, Nova Alvorada do Sul, Alcântara, Macaé, Mairinque, Limeira, Igrapiúna. Comunidades do Brasil e de outros países que vêm ambientando projetos de desenvolvimento sustentável. Lugares onde a presença da Odebrecht, por meio do trabalho de suas equipes, tem possibilitado contribuições na forma de ações ambientais, educacionais, de saúde, de geração de trabalho e renda. Ações concebidas e executadas por pessoas para pessoas, que estão juntas, na mesma direção, a bordo do mesmo barco chamado Planeta Terra. Nesta edição de Odebrecht Informa dedicada à sustentabilidade, você conhecerá histórias como a da revolução que está em curso no povoado de Médanos, na Argentina, deflagrada com a implantação de uma ecoplanta para separação de resíduos sólidos que são enviados à reciclagem. Lerá sobre as transformações em andamento nas cidades moçambicanas de Tete e Beira, com iniciativas desenvolvidas em escolas e orfanatos. Verá de que forma um movimento cada vez mais amplo de capacitação e qualificação profissional está ocorrendo nas comunidades em que a Odebrecht está presente, resultando em dinamização da economia e, com isso, evolução nos indicadores sociais. Saberá como ideias simples, como o uso do babaçu na construção de pontes e estruturas de contenção, podem se transformar em referência e modelo a ser seguido. Perceberá o quão produtiva e emocionante pode ser a experiência vivida por jovens nas casas familiares do Baixo Sul da Bahia, as quais fazem a sala de aula e a propriedade rural da família do educando transformarem-se em um mesmo ambiente. Você receberá informações sobre tudo isso e muito mais nas páginas a seguir. Notícias sobre pessoas, seus sonhos e suas realizações. Reportagens sobre as lutas e conquistas de homens e mulheres em diversos pontos do Brasil e do mundo. Pessoas e lugares cuja vida cotidiana as equipes da Odebrecht têm o privilégio de compartilhar. Boa leitura. E um muito feliz 2012! 6 texto Luiz Carlos Ramos reais HISTÓRIAS Médico oftalmologista do grupo Expedicionários da Saúde examina um indígena na aldeia Sai Cinza, em Jacareacanga: trabalho voluntário com apoio de empresas Andre François/Imagemágica s Em Teles Pires, na Amazônia, programas como o Expedicionários da Saúde permitem integração e troca de experiências U m grande projeto hidrelétrico em plena pela Odebrecht Energia para a Sociedade de Propósito Amazônia. Um canteiro de obras em área Específico (SPE) Companhia Hidrelétrica Teles Pires S/A, isolada do Brasil profundo. O desafio de for- o desenvolvimento ocorre em fina sintonia com a susten- mar trabalhadores locais, assegurar con- tabilidade. dições para que eles se sintam realizados, Projetada para chegar à capacidade instalada de 1.820 felizes em seu dia a dia, integrados à realidade da região MW (megawatts), essa usina, que teve sua construção onde vivem e conscicentes da riqueza e da delicadeza do iniciada em agosto de 2011, é a maior entre as quatro hi- ecossistema no qual atuam. Sustentabilidade. Nenhum drelétricas previstas para o complexo do Rio Teles Pires, conceito é mais forte que esse na construção da Hidrelé- também conhecido como Rio São Manuel, afluente do Ta- trica Teles Pires, na divisa do Mato Grosso com o Pará. pajós. O consórcio que venceu o leilão na Agência Nacional Parte fundamental do projeto, uma nova ponte ligará, de Energia Elétrica (Aneel) para operar essa unidade tem a partir de janeiro de 2012, o norte de Mato Grosso ao sul participação da Neoenergia (50,1%), Eletrobras Furnas do Pará. As chuvas de verão não abalam as equipes de (24,5%), Eletrobras Eletrosul (24,5%) e Odebrecht Energia trabalho nas duas margens do Rio Teles Pires, onde vai (0,9%). A obra está incluída no Programa de Aceleração do surgir, até o fim de 2014, uma das maiores e mais mo- Crescimento (PAC) do Governo Federal. Por meio de uma dernas usinas hidrelétricas do Brasil. Com a conclusão linha de transmissão conectada ao sistema brasileiro, a da ponte, será possível transportar máquinas e material energia gerada será útil não só para a Amazônia e o Norte, para o lado paraense e acelerar as obras da barragem. mas também para as demais regiões do país. No meio da floresta, já está quase pronto o alojamento do canteiro de obras definitivo, verdadeira cidade que aco- Programa Acreditar lherá até 6 mil pessoas. Inovações tecnológicas e de se- Como é possível levar adiante uma obra dessas di- gurança na busca de energia convivem com a meta de se mensões no chamado Brasil profundo, longe das cidades preservar a cultura local e a mata. Nas obras conduzidas grandes e médias? Como atrair trabalhadores e estimulá-los a erguer um gigante de concreto na floresta? O Diretor de Contrato Antonio Augusto de Castro Santos, 40 anos, explica: “Inicialmente, fizemos uma base em Paranaíta, cidade de 7 mil habitantes, em Mato Grosso, unida ao local da barragem por uma estrada de terra de 95 km. Mas logo instalamos um canteiro provisório e estamos concluindo um definitivo, perto do rio”. Ele acrescenta: “O pessoal técnico veio de várias regiões, assim como uma parte dos integrantes das equipes. Mas nossa prioridade é integrar trabalhadores locais, treinados no Programa Acreditar”. O Programa de Qualificação Profissional Continuada - Acreditar, lançado pela Odebrecht em 2008 nas obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, e levado a vários outros empreendimentos da Organização, foi desenvolvido, de fevereiro a outubro, em Paranaíta, com o apoio do Senai (Serviço Nacional e Aprendizagem Industrial) do município de Sinop. “Convocamos os moradores de Alta Floresta, Paranaíta e outros municípios de Mato Grosso interessados em participar da obra”, conta Juliana Lima, Responsável por Pessoas e Organização em Teles Pires. Nesse período, 2.092 pessoas cursaram o módulo básico e 667 terminaram o módulo técnico, em que Fotos: Geraldo Pestalozzi O paranaense Jorge Ricardo Dias, há 21 anos em Mato Grosso: “A obra está dando uma sacudida positiva neste canto do país” aprenderam as funções de armador, soldador, carpinteiro, pedreiro e operador de máquinas. morrer de fome. Hoje, sou um homem realizado.” Feliz também está José Alves Sales, 45 anos, que che- Em 10 de junho, o Governador de Mato Grosso, Silval gou a Paranaíta há mais de 20 anos, levado pelo ciclo do Barbosa, esteve na festa de entrega dos primeiros certifi- garimpo. “Não consegui ouro, mas fiquei por aqui e virei cados: 823 para os que concluíram o módulo básico e 118 pescador. Agora, meu ouro e meu peixe são esse trabalho, para os que terminaram o módulo técnico. Até novembro, que consegui porque levei a sério o Acreditar.” José traba- 278 membros do Acreditar já haviam sido contratados lha em armação na construção da ponte e da barragem. e integrados à obra, destaca Juliana: “A comunidade se Enormes vigas foram preparadas para serem levadas de animou com esse programa, pois muita gente da região balsa e por gruas e assentadas nas bases e nos pilares conquistou oportunidade de trabalho e garantiu condi- da ponte. ções para evoluir”. Edmar Soares, 29 anos, encarregado de produção de “Do medo à alegria” armação de ferragem nas obras da ponte sobre o Rio Te- Os canteiros da obra ficam no lado de Mato Grosso. Na les Pires, passou da condição de instrutor do Acreditar à outra margem do rio, a do Pará, o território é do municí- de contratado da Odebrecht. “Estou feliz aqui. Nasci em pio de Jacareacanga, cujo núcleo urbano fica a mais de Paranaíta, mas morava em Sinop e trabalhava no Senai. E 400 km. Márcio André Romani, instrutor do módulo bási- o Senai me mandou para minha cidade, sem saber que eu co, deu aulas de qualidade, psicologia do trabalho e meio era de lá! No Acreditar, ajudei a formar profissionais que ambiente, e foi ao Pará em busca de interessados em in- estão na obra”, diz Edmar. “No fim das aulas, fui chamado gressar no Acreditar e trabalhar na obra. “Foi emocionan- para fazer parte da equipe do Ceará.” te”, relata. “A gratidão dos alunos, que foram do medo à Ceará é o apelido de José Wilmar Cid. Ele é o encar- alegria, é a satisfação de nosso trabalho.” regado das obras civis na construção da ponte e acom- As condições de vida dos trabalhadores em um local panha a montagem e a concretagem das duas bases. tão isolado recebem atenção constante da equipe dirigen- “Edmar foi útil no Acreditar e agora está com a gente”, te da obra. O Diretor de Contrato Antonio Augusto infor- comenta Ceará, que, em setembro, no Dia da Árvore, ma: “No canteiro definitivo, que ficará pronto no início de plantou uma muda de jatobá perto do canteiro de arma- 2012, haverá casas metálicas, mais duráveis que as de ção de ferragens. “Quando eu tinha 16 anos e era pobre, madeira, com janelas mais amplas, um quarto para cada uma árvore de jatobá, com seus frutos, me salvou de quatro pessoas e camas normais, em vez de beliches. informa 9 Vai ser uma autêntica cidade, com cozinha, restaurante, mas já está dando certo”, diz. “Servimos carne bovina ou ambulatório médico, lavanderia, tratamento de lixo, posto frango, além de arroz, feijão e salada. Evitamos o peixe, policial, campo de futebol, cinema, salão de TV, recanto que corre maior risco de estragar, e a carne suína. Para a de violeiros, serviço de ônibus, locais para cultos católicos salada, a Odebrecht Energia está incentivando pequenos e evangélicos. Vamos ter até um refeitório móvel, em um agricultores da região a produzirem hortaliças.” ônibus. Isso tudo vai eliminar a necessidade de se fazer seguidas viagens de Paranaíta até o canteiro de obras.” 10 Oportunidades para jovens e veteranos Antonio Augusto conta que, em novembro de 2011, Os engenheiros civis André Queiroz, 32 anos, e Ma- apenas quatro meses depois de iniciadas a obras de Teles teus Iannota Gontijo, 30 anos, ambos com sete anos de Pires, já havia quase mil integrantes na equipe de traba- Odebrecht, são mineiros e amigos há bastante tempo. lho: “Esse número deverá aumentar progressivamente Divergência mesmo, só quando o assunto é futebol: An- nos próximos meses, até chegarmos a um pico de 6 mil dré torce para o Atlético, e Mateus, para o Cruzeiro. André pessoas. Levamos em conta não só a funcionalidade para é o Gerente de Produção da margem direita do Rio Te- o trabalho, mas, sobretudo, as circunstâncias para uma les Pires (lado do Pará) e Mateus, o da margem esquer- boa convivência entre as pessoas que estão na obra, para da (Mato Grosso). A construção da barragem começará sua felicidade e para o bem-estar da comunidade”. simultaneamente nos dois lados, após a conclusão da Sentir-se bem inclui alimentar-se bem. A nutricionista ponte. Na margem direita, também será erguido o circui- Jerusa Campos, 30 anos, aproveita a experiência obtida to de geração, que inclui a casa de força. “Nós, barragei- em Santo Antônio, em Porto Velho. “Aqui, não temos ne- ros, buscamos sinergia entre as equipes. Aqui, além de nhuma cidade grande por perto. É um enorme desafio, tudo, defendemos o meio ambiente, em harmonia com informa Silva, conhecido como Zé Bodinho, 66 anos, que se prepara para festejar, em 1º de fevereiro, 50 anos de Odebrecht. “Já rodei o mundo, participei de obras de usinas no Brasil e trabalhei em Portugal, Angola e Moçambique. Minha esposa e meus cinco filhos moram em Minas Gerais. Eu vou mudando, mas sempre os visito”, conta ele, encarregado geral de terraplenagem em Teles Pires. Quando a usina começar a produzir energia, no fim de 2014, e estiver concluída, em 2015, o Rio Teles Pires continuará normal: o projeto prevê reservatório do tipo “fio d’água”, pelo qual o leito do rio, atualmente de 90 km², será ampliado para apenas 135 km². Apoio aos indígenas A Odebrecht tem uma diretriz específica para sua relação com os povos indígenas. “Em Teles Pires, desenvol- Participantes do Programa Acreditar em Teles Pires: capacitação e integração de trabalhadores locais vemos um código de conduta referente ao tema e produzimos uma cartilha”, relata o Diretor de Sustentabilidade da Odebrecht Energia, Luiz Gabriel Todt de Azevedo. Juntamente com o cliente, a Companhia Hidrelétrica Teles Geraldo Pestalozzi Pires, a empresa apoiou, em novembro, uma missão do grupo de médicos Expedicionários da Saúde na aldeia Sai Cinza, no município de Jacareacanga, para atendimento de integrantes das tribos Kayabi, Apiaká e Munduruku. Na ocasião, médicos oftalmologistas, ginecologistas, ortopedistas, cirurgiões, clínicos, pediatras, anestesistas e dentistas – na maioria, procedentes de São Paulo e Campio desenvolvimento sustentável”, explica André. Mateus nas –, durante uma semana atenderam índios que foram elogia os egressos do Acreditar: “São profissionais que previamente identificados com problemas de saúde, por amadurecem com o tempo.” Marcus Bandeira, 31 anos, meio de triagem feita pelos Dseis (Distritos Sanitários Es- Responsável Administrativo e Financeiro, há seis anos na peciais Indígenas). Houve consultas e cirurgias de catarata Odebrecht, detalha: “Em nossa obra, hoje, 45% de tra- e hérnia, em blocos cirúrgicos montados em tendas, com balhadores são locais, e 55%, de fora. O objetivo é cons- equipamentos de ponta, e isso restabeleceu a qualidade de truirmos um canteiro modelo, para que os trabalhadores vida dos pacientes. desfrutem de um ambiente com qualidade de vida, no de- “A iniciativa é recebida com alegria pelos indígenas, safiador cenário de confinamento, o que mitiga eventuais que, antes das cirurgias, ficavam isolados e com trata- insatisfações”. mento restrito”, diz Luiz Gabriel. A ONG Expedicionários O paranaense Jorge Ricardo Dias, 39 anos, mora em da Saúde, criada em 2003, concluiu sua 20ª missão. É Mato Grosso há 21 anos, cursou o Acreditar e é líder de integrada por médicos em trabalho voluntário e com aju- transporte. “Antes de ser contratado pela Odebrecht, fui da logística de empresas parceiras. A responsável pela motorista de caminhão-basculante. Aqui, administro os logística da ONG, Marcia Abdala, destaca a importância ônibus para que não falte transporte aos trabalhadores do apoio da Odebrecht Energia: “Com essa ajuda, conse- do canteiro para a obra e para Paranaíta. A obra está dan- guimos trazer os índios das aldeias distantes para serem do uma sacudida positiva neste canto do país”, observa tratados aqui. Sem esse apoio, o tratamento nas aldeias Jorge, ao manobrar um ônibus. distantes ficaria inviável, por causa do alto custo do trans- Se Jorge é novo na empresa, o mesmo não ocorre com o sempre animado paraibano José Osimar Rodrigues da porte aéreo, e, se viessem por via fluvial, levariam dias para chegar.” informa 11 12 Nas obras da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão, uma ideia criativa ajuda a solucionar desafios e a recompor a paisagem natural da região texto João Marcondes fotos Holanda Cavalcanti bab 12 informa Passagem sobre igarapé feita com babaçu: valorização e aproveitamento de recursos naturais da região baçu CARO AMIGO informa 13 O planeta Terra realiza dois tipos de movimento: a translação, elíptico em volta do Sol, e a rotação, em torno de seu próprio eixo. A lição é muito conhecida, ensinada na escola, nos primeiros anos da educação Luiz Cantanhêde: “Agora posso continuar minha pesca” formal brasileira. Pois é justamente o movimento de rotação e a proximidade com a linha do Equador que fazem de Alcântara, pequena cidade à beira da Baía de São Marcos, no Maranhão, um dos principais pontos do mundo para o lançamento de foguetes e satélites. O município está localizado muito próximo à linha do Equador, e isso permite ao veículo lançador utilizar de forma mais eficiente o movimento de rotação da Terra para executar seu trabalho. Simplificando, pode-se dizer que estrutura necessária ao preparo e lançamento: áreas de ele “aproveita” esse movimento, em razão da localização estoque de combustíveis e de montagem e acoplagem de privilegiada da base. Isso possibilita uma economia de até foguetes e satélites. Um trilho de ferro de aproximadamen- 30% do caríssimo combustível utilizado. Por esse motivo, te 800 m que levará o foguete para a área de lançamento os foguetes têm maior capacidade de carga útil em com- propriamente dita. paração àqueles lançados nos centros mais afastados da linha do Equador. “É uma grande vantagem que pode colo- Babaçu e sustentabilidade car o Brasil em destaque no aquecido mercado mundial de A vegetação predominante na área é o babaçu, uma es- lançamento de satélites”, comenta Clóvis Costa, Gerente pécie de palmeira, da qual são retirados o óleo e a palha. de Produção da Odebrecht. Será realizado um replantio ostensivo da mata em outra re- Em Alcântara, está sendo construída uma das bases de gião. Mas o que fazer com a madeira retirada (que não é de lançamento mais avançadas do mundo. Com ela, o Brasil alto valor comercial) e que normalmente seria descartada? entrará para um seleto grupo de oito países com esse tipo A partir de uma ideia criativa do Gerente de Produção de tecnologia e instalações, colocando-se entre os 15 cen- Clóvis Costa e sua equipe, o Consórcio Cyclone 4 conseguiu tros de lançamento em operação no mundo. A Odebrecht criar um ciclo sustentável para o babaçu, que foi reintegra- Infraestrutura está realizando as obras civis e a montagem, do à paisagem natural, tornando possível a preservação da participando do Consórcio Cyclone 4, ao lado da Camargo identidade visual maranhense em um município de impor- Corrêa e das empresas ucranianas Elkor Corporation e tância histórica como Alcântara, ocupado pela primeira vez Concord Group. O cliente da obra é binacional, a Alcântara no século XVII, pelos franceses. Cyclone Space, uma parceria entre os governos do Brasil e da Ucrânia. 14 Uma das mais belas praias da região é a da Baronesa. Por causa do avanço da maré, a única passagem para esse O nome Cyclone vem do foguete que será utilizado santuário ecológico começou a ruir, praticamente fechan- nos lançamentos, o Cyclone 4 – quarta série da família do qualquer travessia terrestre. A estrada ficava cada vez de foguetes que atualmente está sendo desenvolvida na mais estreita. O Consórcio Cyclone 4 construiu um talude Ucrânia. Considerada uma das mais seguras e eficazes (plano inclinado que limita um aterro), utilizando o babaçu do mundo (lança satélites até a órbita geoestacionária), para a contenção, e alargou a estrada. Além da palmeira, a série Cyclone tem o impressionante recorde de apenas foi usada também uma manta porosa geotêxtil. Essa tec- seis falhas de posicionamento na órbita desejada em 226 nologia permite que a água do mar bata e volte sem dani- lançamentos até hoje. Apenas outras sete nações detêm ficar a encosta. a tecnologia de propulsão similar e seus centros de lança- A obra foi essencial para a sustentabilidade da comuni- mento: Estados Unidos, Rússia, Índia, China, França, Japão dade local. O pescador Luiz Santana Cantanhêde, 51 anos, e Cazaquistão. corria o risco de ter sua atividade encerrada por causa do Para a construção da base, iniciada em 2011, foi neces- fim iminente da passagem. “Agora posso continuar minha sária a supressão de uma área de vegetação de cerca de pesca, além de outras atividades, como levar turistas para 100 hectares. Nesse espaço, estará localizada toda a infra- o outro lado da margem, onde há uma praia muito bonita”, informa diz. “O mais interessante é que respeitamos a identidade vi- babaçu também foi utilizado na paliçada que protege a cen- sual da região. A contenção com babaçu é confortável para tral de concreto, novamente valorizando a linguagem visual os olhos, pois não destoa da paisagem”, acrescenta Corio- da região. “Em uma obra de alta tecnologia como esta, vale lano Bahia, Gerente Administrativo da Odebrecht. destacar essa solução simples e inteligente”, elogia Fábio Da forma como foi colocado o talude, até mesmo veí- Toscano, Diretor de Contrato da Odebrecht. culos maiores, como micro-ônibus, podem passar por ali. Quem também se beneficiou com a solução foi Lincoln Sal- Vocação histórica les, 33 anos, dono da Pousada dos Guarás, uma pequena A utilização do babaçu não representa apenas uma pérola próxima ao mar e ao mangue, onde o hóspede des- ação de sustentabilidade para o meio ambiente. Ela tam- fruta do melhor suco de bacuri da região. A pousada sim- bém contribui para a preservação da cultura local. “Os plesmente ficaria isolada do mundo. A passagem estreita missionários franceses, no século XVII, já documentavam a já não possibilitava sequer o trânsito dos fornecedores de utilização do babaçu pelos índios que habitavam a região”, alimentos. Mas a situação mudou. “Foi uma solução am- ensina o historiador Daniel Rincón Caires, do Museu Casa biental, que respeita a vegetação daqui. Um exemplo que Histórica de Alcântara. Os franceses foram expulsos pelos poderia ser seguido pelas autoridades”, destaca Lincoln. portugueses, que construíram um dos mais belos conjuntos de igrejas, pátios e casario colonial adornado de azule- Ponte de babaçu jos do país. O lugar serviu de pouso para imperadores (o Comunidade e turistas de Alcântara não foram os úni- nome da cidade vem do sobrenome da família real brasi- cos a saírem ganhando com as soluções sustentáveis do leira) e nobres. Além disso, a cidade sempre teve vocação babaçu. Clóvis Costa usou a mesma técnica dentro da para estratégias militares. Foi base dos aliados na Segunda própria obra. Ele criou uma ponte (uma passagem rente Grande Guerra e já possui uma base de lançamento de fo- ao chão) em cima de um Igarapé com a palmeira local. A guetes da Aeronáutica. ponte liga os lados leste e oeste da obra. Antes da ponte, os Uma família, Guimarães, tornou-se símbolo da cidade caminhões e veículos eram obrigados a percorrer uma dis- ao longo dos séculos, construindo riqueza com o comércio. tância de 12 km para chegar de um lado a outro do projeto. O último Guimarães vivo que morou no casarão onde hoje A passagem de babaçu é uma solução inédita e ecológi- fica a Casa Histórica de Alcântara é Hedimar Guimarães ca. Ela não atrapalha o fluxo da água, que atravessa a ma- Marques, 84 anos. Ele não gostava dos hábitos rebuscados deira e mantém as características daquele ecossistema. E de nobreza de sua família e fugiu de casa para ser intér- mais: com a diminuição do percurso, reduz drasticamente prete de soldados norte-americanos. A experiência fez com a emissão de gases do maquinário da obra. que se lançasse a uma aventura pela Europa nos anos 1940 Clóvis fez as contas. Cada caminhão-basculante gas- e 1950, onde trabalhou até mesmo de modelo fotográfico. tava 3,8 litros de combustível para percorrer a distância “Hoje vemos um mundo globalizado até mesmo aqui em entre o canteiro administrativo e o canteiro industrial. Hoje, Alcântara, mas eu antecipei essa tendência”, ele garante, o consumo é de apenas 0,63 litro. A natureza agradece. O orgulhoso. Talude de babaçu: solução ambiental na Praia da Baronesa informa M édanos é um povoado de 10 mil habitantes no Partido (Departamento) de Villarino, no sudoeste da Província de Buenos Aires. É conhecido como “capital nacional do alho” e está localizado a 45 km da cidade de Bahía Blanca, importante polo industrial do país. Imagine um lugar pacato, onde ninguém tranca a porta das casas, as crianças brincam na rua sem que seus pais fiquem apreensivos, todo mundo se conhece, e a vida passa em ritmo lento. Médanos é assim. Ou quase. Essa afirmativa sobre o ritmo da vida revela uma meia-verdade. O pueblo acelerou sua pulsação nos últimos tempos. Um fato novo está mobilizando a comunidade, das crianças aos idosos, e fazendo do lugar uma referência no partido e na província, transformando-o em modelo de coletividade que tem conseguido tornar sua relação com o meio ambiente mais harmônica, produtiva e inteligente. Estamos falando da implantação da Ecoplanta de Médanos, um equipamento no qual é realizada a separação de resíduos orgânicos (restos de alimentos, plantas, medicamentos) e orgânicos (papel, papelão, vidro, alumínio, plásticos), para venda a indústrias que fazem reciclagem. O dinheiro obtido com a comercialização dos resíduos é destinado à municipalidade. Dotada de uma esteira para separação do material coletado, a Ecoplanta é operada por 10 pessoas da comunidade, capacitadas especialmente para esse trabalho. Elas recebem, diariamente, 13 t de resíduos provenientes das localidades de Argerich, La Mascota e Alagarrobo, além de Médanos, que hoje remete para a reciclagem 70% de tudo o que é descartado por seus moradores. A instalação da Ecoplanta, em março de 2011, ocorreu no âmbito do Programa de Responsabilidade Social Empresarial Médanos en Origen (Médanos na Origem), desenvolvido, em parceria, pela Odebrecht - que constrói, na região, a Planta Compressora de Gás Rio Colorado - e a Municipalidade de Villarino. A planta compressora faz parte do Projeto de Ampliação de Gasodutos, em execução pela Odebrecht em diversos pontos do território argentino. Também participam da iniciativa em Médanos os parceiros da Odebre- 16 informa pueb O BOM EXEMPLO DO blo Trabalhador na Ecoplanta de Médanos: integrante da comunidade capacitado para operar o equipamento texto Cláudio Lovato Filho fotos Marcelo Pizzato Projeto torna o povoado de Médanos, na Argentina, uma referência em reciclagem e educação ambiental informa 17 O ex-comerciário Juan Belén com o papelão prensado, pronto para ser enviado à reciclagem: um futuro digno para as crianças 18 cht Cisa Construcciones Industriales, Politec, “É um processo de mudança cultural, e isso Figueras-Blanes y Asociados e JAS S.R.L., que leva tempo. Estamos dando o pontapé inicial. É contribuíram, cada uma em sua especialidade, fundamental levar informação às pessoas. Villari- para a construção da estrutura onde se localiza no já é um modelo em reciclagem, mas não se faz a Ecoplanta. Entidades como a Cooperativa Obre- mágica. É preciso trabalho e continuidade, cons- ra também tiveram atuação destacada no proje- cientizando a comunidade e fazendo-a sentir-se to, cuja concepção ficou a cargo da organização responsável. Nesse sentido, nada é mais impor- não governamental Piedra Libre. “A Odebrecht foi tante que envolver os jovens”, afirma o Prefeito de a coordenadora e a integradora da implantação Villarino, Raul Mujica. da Ecoplanta”, descreve Mauricio Barbosa Peres, Esse processo de conscientização e respon- Gerente de Administração e Finanças no Projeto sabilização é o coração do trabalho realizado por de Ampliação de Gasodutos. Sandra Vissani e sua equipe da ONG Piedra Libre. Das crianças nos bancos escolares aos idosos “As pessoas precisam saber por que estão sepa- nas praças, passando pelas donas de casa, pelos rando os resíduos”, diz ela. A Piedra Libre atua agricultores, comerciantes e funcionários públi- no âmbito “do lar”, explicando como separar os cos, todos têm recebido a mensagem de que o resíduos, “das compras”, indicando o que priori- que está em questão é muito mais que a operação zar e o que evitar, e “da rua”, informando sobre e o bom funcionamento da Ecoplanta: é, sobretu- como dispor o material na calçada. Sandra e sua do, o processo de conscientização da comunidade equipe tiveram participação crucial na busca de sobre como deve ser seu relacionamento com o convergência entre o objetivo da Odebrecht, de meio ambiente. deixar um legado na região, e a necessidade do informa poder público, de aprimorar seu sistema de ges- as informações que receberam. Zoraida desta- tão e tratamento de resíduos. ca o papel dos professores: “Temos conseguido Sandra é Técnica de Recreação por formação. bons resultados com os nossos docentes”. Os No trabalho que lidera hoje, utiliza essa experi- professores de Médanos passaram por oficinas ência. É o que ocorre quando ela e sua equipe de de capacitação, como parte do Programa Méda- coordenadoras visitam a Escola Especial 501, em nos en Origen. O nome do programa merece uma Médanos, para levar às crianças que ali estudam explicação de Diego Casarin: “Chama-se assim informações sobre reciclagem e outros temas porque tudo está começando em Médanos. A ex- relacionados ao meio ambiente, como parte do pectativa é que a semente dê frutos em outras co- Programa Médanos em Origen. Na escola, fre- munidades, com a replicação do que se faz aqui”. quentada por 35 alunos com necessidades espe- A Ecoplanta, localizada no km 73 da Rota Na- ciais, são desenvolvidas atividades de educação cional 22, está muito próxima da comunidade – ambiental, como a produção de brinquedos, me- em todos os sentidos. Visitas de estudantes ao diante a reutilização de materiais como plástico, local são organizadas com regularidade. Eles madeira e papel. são recebidos pela equipe liderada por Rubén “Temos que pensar no futuro”, defende Diego Macedo, da qual faz parte Juan Belén, 36 anos, Casarin, da Odebrecht, Responsável pela obra um ex-comerciário capacitado pela Piedra Li- da Planta Compressora Rio Colorado, natural de bre para atuar na Ecoplanta. “As crianças é que Córdoba e pai de Santiago, 7 anos, e Chiara, 5 estarão aqui no futuro. Precisamos deixar para anos. Zoraida Chcair, Secretária de Governo da elas uma situação melhor que a que deixaram Municipalidade de Villarino, concorda com Diego. para nós.” Para ela, a mudança cultural começa nas esco- Arlindo Facadio, Diretor de Contrato da Ode- las, com as crianças, que levam para suas casas brecht no Projeto de Ampliação de Gasodutos, salienta: “O tratamento de resíduos e a reciclagem são temas que abrangem toda a sociedade e que requer mudanças de hábitos e costumes, por meio da conscientização das pessoas. Como hóspede temporária da comunidade, pela natureza da obra que executamos, a Odebrecht concentrou-se em deixar um legado que estivesse em alinhamento com a sua Política de Sustentabilidade.” Nascido em Médanos e integrado à Odebrecht em junho de 2010, Andrés Chcair atua na equipe de Serviços Gerais. Ele assegura que a Ecoplanta é motivo de orgulho para as pessoas de seu pueblo natal. E explica o porquê: “A ecoplanta é um aporte material e um aporte de ideias”. Perto de onde Andrés e a equipe de Odebrecht Perla, aluna da Escola Especial 501, e o violão que ela produziu com material descartado: diversão, descoberta e conscientização Informa conversaram fica a Ecoplaza, que também faz parte do Programa Médanos en Origen. É um espaço dentro de uma praça, com brinquedos produzidos com material da obra da Planta Compressora Rio Colorado: bobinas de madeira, barras metálicas, peças de ferro, pneus. Um símbolo e um lembrete importantes. Não nos esqueçamos, afinal, de que crianças devem brincar, mesmo quando o assunto é sério. informa 19 OPERAÇÕES CADA VEZ MAIS 20 20 informa ver Conheça as ações da Braskem para combater suas emissões de gases de efeito estufa erdes texto Christina Queiroz C ada vez mais, as empresas percebem a importância de desenvolver estratégias de sustentabilidade como forma de tornar suas operações mais ecológicas e, assim, reduzir os impactos negativos da emissão de gases de efeito estufa na natureza. A tendência é comprovada em pesquisa da consultoria Eccaplan, que estima que até 2020 os investimentos globais em estratégias verdes devem somar US$ 1 trilhão. Em linha com esse movimento mundial, a Braskem desenvolve, desde 2004, ações para combater suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre as iniciativas estão, de um lado, a elaboração de inventários detalhados sobre toda a operação e a publicação de relatórios de sustentabilidade e, de outro, projetos para aperfeiçoar o uso de energia e para adotar biomassa em substituição à matéria-prima fóssil. Com 35 plantas industriais localizadas no Brasil, nos Estados Unidos e na Alemanha, a Braskem produz anualmente mais de 16 milhões de t de resinas termoplásticas e outros produtos petroquímicos. “As emissões resultantes dessa produção são relevantes, e decidimos encarar o problema assumindo a sustentabilidade como uma meta”, diz Jorge Soto, Diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem. Ao assumir esse compromisso, a empresa se propôs a, até 2020, alcançar a mesma intensidade de emissão de GEE que as indústrias químicas mais bem Polo Petroquímico de Camaçari (BA): Braskem desenvolve, desde 2004, ações para combater as emissões de gases de efeito estufa em suas unidades Acervo Odebrecht colocadas no mundo nesse aspecto, passando a emitir 0,60 t de dióxido de carbono equivalente por tonelada de produto fabricado. “Será uma redução significativa, se compararmos com o patamar atual de 0,65 t, principalmente, com o número de 2005, que foi de 0,80 t”, destaca Soto. informa 21 Arthur Ikishima Luiz Carlos Xavier: perfil e intensidade das emissões Ações pioneiras 22 Já no primeiro inventário, em 2007, a Braskem O primeiro passo da Braskem rumo à adoção de comprovou que, entre seus ativos industriais, as estratégias para combater a emissão dos GEE foi in- plantas de petroquímicos básicos são as que mais vestir em inventários anuais, para identificar e contro- emitem GEE, por causa, sobretudo, do alto consumo lar os pontos da operação onde eles são produzidos de energia que sua operação demanda. Conforme o e saber qual sua intensidade. Esses relatórios levam relatório, essas fábricas são responsáveis por 92% em conta toda a operação, incluindo as unidades de das emissões totais da empresa. “Por isso, nossas Petroquímicos Básicos e Polímeros e os Negócios iniciativas verdes priorizam a área de petroquímicos Internacionais. A empresa, que realizou seu primei- básicos”, explica José Kelso Moraes, Diretor Indus- ro inventário em 2007, relativo às operações de 2006, trial de Petroquímicos Básicos da Braskem na Bahia. considera tanto as emissões diretas – que ocorrem, Os dados, obtidos por meio dos inventários peri- por exemplo, com a queima de combustíveis fósseis ódicos, levaram a Braskem a adotar iniciativas para para geração de vapor em caldeiras e para aqueci- reduzir o consumo de energia nas suas plantas de mento de fornos – quanto as indiretas, relacionadas petroquímicos básicos, localizadas no Rio Grande às matérias-primas fósseis, ao seu transporte e de do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. outros insumos e às viagens de avião, ônibus e carro Com isso, já em 2010, substituiu grande parte do uso realizadas por seus integrantes. de óleo combustível por gás natural nas caldeiras, Além disso, também analisa as emissões de ga- o que reduziu as emissões de dióxido de carbono. ses oriundas de fornecedores de matérias-primas Também realizou investimentos para atualização dos e outros insumos. “Os inventários nos permitem ativos industriais, entre eles a substituição do iso- conhecer o perfil e a intensidade das emissões em lamento térmico da rede de distribuição de vapor e todas as operações. Funcionam como base para nor- melhorias nos fornos de processo, para aumento de tear nossas ações estratégicas visando à evolução sua eficiência. Kelso lembra que, com as medidas, a no tema mudanças climáticas”, explica Luiz Carlos empresa diminuirá em 11% a intensidade das suas Xavier, Responsável por Meio Ambiente na Braskem. emissões, em 2012, comparadas com as de 2010. informa Além de iniciativas para reduzir o consumo de Futuro sustentável energia nas plantas de petroquímicos básicos, outra A meta de atingir o patamar de emissão de diretriz da estratégia de sustentabilidade da Braskem 0,60 t de gás carbônico equivalente por tonelada de envolve a produção do polietileno verde, no Rio Grande produto em 2020 significa que a empresa pretende do Sul. Resultado de um investimento de US$ 300 mil, reduzir 25% de suas emissões, em comparação com o projeto, que começou a ser desenvolvido em 2007, os números de 2006. Para alcançar objetivo tão ambi- possibilita a produção de eteno a partir da cana-de- cioso, além de aperfeiçoar as estratégias que já estão -açúcar, que, posteriormente, é adotado na elabo- em prática, investirá em novas frentes de atuação. ração do polietileno verde. O produto é denominado Uma delas, prevista para começar em janeiro do pró- “verde” porque, diferentemente do modelo tradicional, ximo ano, envolve o desenvolvimento de inventários que adota matéria-prima fóssil, tem sua produção com indicadores mensais, que permitirão um controle baseada na cana, que, no processo de crescimento, mais detalhado, contínuo e eficaz das emissões. Ainda em fase de planejamento e baseado no su- de polietileno verde produzido captura e fixa até 2,5 cesso do plástico verde, a Braskem estuda trocar toneladas de CO2 da atmosfera”, explica Fábio Maga- combustível fóssil por biomassa em outros processos. lhães Carneiro, Diretor Comercial de Químicos Reno- “Queremos aproveitar melhor materiais como bagaço váveis da Braskem. O produto é fornecido a clientes de cana ou eucaliptos que, no ciclo do cultivo à com- que produzem desde frascos para xampus e iogurtes bustão, resultam em emissões quase desprezíveis de até caixas de água e recipientes de lixo, passando por gás carbônico em comparação ao combustível fóssil”, tanques de combustível e sacolas de supermercado. salienta José Kelso. Yann Vadaru absorve gás carbônico da atmosfera. “Cada tonelada Fábio Carneiro: destaque para os produtos feitos com polietileno verde informa 23 Amanda Colombari, aluna da Semef, de São Caetano do Sul (SP), transforma material plástico descartado em enfeite: formação de uma nova mentalidade Estudantes de todo o Brasil aprendem como o plástico nasce, é transformado em produtos e depois reciclado 24 informa 24 olhar O PLÁSTICO SOB UM NOVO D texto Júlio César Soares fotos Dario de Freitas a nafta produzida nos polos petroquímicos de Camaçari e de Triunfo à embalagem plástica que vai para centros de reciclagem em diversos pontos do Brasil, acontece um ciclo desconhecido para a maioria das pessoas. Uma contribuição para que esse processo seja compreendido por mais gente será dada pelo Projeto Um Novo Olhar sobre o Plástico, que mostrará a alunos de escolas de todo o país como o plástico nasce e, depois de transformado em uma infinidade de produtos que traz vantagens à vida moderna, torna-se reutilizável após a reciclagem. “A ideia é mostrar todo o ciclo de vida do plástico, de onde ele vem, seus benefícios e qual deve ser o destino final”, explica André Leonel Leal, Responsável por Desenvolvimento Sustentável da Braskem. Para dar vida a esse projeto, a Braskem buscou dois parceiros que atuam com o tema sustentabilidade em escolas. Criado em 2001, o Instituto Akatu trabalha com o consumo consciente, Kátia (acima) e Viviane: foco no consumo consciente e no protagonismo juvenil buscando incentivar os jovens a pensar em valores coletivos na hora de consumir determinado produto. Desde 2008, o Akatu investe na temática de uma maneira ampla. Essa é a primeira vez que um tema único, o plástico, é levado aos alunos e aos educadores. “Quando começamos o projeto, a ideia era, mais à frente, tratar de assuntos específicos, de acordo com a área de atuação de cada patrocinador, como forma de usar a experiência deles”, conta Viviane Lopes, Coordenadora de Projetos do Instituto Akatu. O segundo parceiro é o Instituto Faça Parte, que, desde 2001, trabalha com o protagonismo juvenil, estimulando os jovens a atuarem de forma prática na vida social das comunidades. “A criação do Faça Parte buscou colocar a experiência de colaborar com a comunidade na escola, de modo que o jovem veja os resultados de suas ações”, explica Katia Gonçalves Mori, Coordenadora de Projetos do instituto. O trabalho dessas escolas é premiado com o Selo Escola Solidária, uma forma de reconhecer e mapear as melhores ações. A partir desse banco de dados a Braskem, o Akatu e o Faça Parte começaram a atuar. O projeto foi lançado em 15 de outubro, informa 25 A professora Renata Hioni e alunos que participam da Oficina de Reciclagem: gincana para recolhimento de produtos de plástico data em que foram comemorados o Dia do Professor e podemos dar para o que é chamado de lixo”, diz. o Dia do Consumo Consciente. No próximo dia 15 de de- Amanda está entre os 20 alunos que montaram as zembro, as melhores ações serão selecionadas em duas árvores de Natal e um Papai Noel de quase 3 m, ao reu- categorias: melhores projetos em execução e melhores tilizar materiais plásticos. A jovem ensinou a família a dar planejamentos para 2012. O primeiro fará da escola ven- o destino correto aos plásticos da casa. “Neste ano não cedora a protagonista de um documentário sobre o pro- deu tempo, mas no ano que vem a árvore de Natal da mi- jeto. Já o segundo levará cinco alunos da escola vencedo- nha família será de material reciclado”, planeja. Segundo ra a uma visita à fábrica de “plástico verde” da Braskem, Katia Gonçalves, do Faça Parte, esse é um dos legados no Polo de Triunfo (RS). do trabalho com reciclagem nas escolas. “Os alunos levam isso para fora da sala de aula, atuam como agentes 26 Uma jovem ensinando a família disseminadores do trabalho com reciclagem e envolvem Uma das instituições que têm projeto em andamento a comunidade”, diz. é a Segunda Escola Municipal de Ensino Fundamental O trabalho da Semef começou antes do lançamento (Semef), localizada em São Caetano do Sul (SP). Aman- do projeto. Em 2008, a escola iniciou a Oficina de Reci- da Colombari Bodo é aluna da Semef desde 2004. Em clagem, coordenada pela professora de Ciências Rena- 2005, à época no segundo ano do Ensino Fundamental 1, ta Hioni. Até 2010, a oficina abrangia o tema reciclagem ela começou a participar dos programas de reciclagem como um todo. No começo de 2011, a professora decidiu realizados na escola. “A professora mostrou o trabalho colocar o plástico em pauta. “Montamos uma gincana para a classe e me interessei pelas diversas formas que para que os alunos recolhessem os materiais plásticos informa e trouxessem para a escola”, conta. Após essa primeira Lucia de Oliveira. O projeto foi retomado em 2011, após a etapa, os 160 alunos da 9º ano do Ensino Fundamental II, reforma, e, a partir do ano que vem, terá como tema prin- que vai do 5º a 9º ano, trabalharam no recorte do material cipal o plástico. Atualmente, a escola é ponto de coleta recolhido para começar a dar forma aos enfeites. “O es- para os catadores de lixo dos condomínios do City Jara- paço que temos só comporta 20 alunos, que montaram guá, bairro formado por mais de 100 prédios residenciais os enfeites, mas pretendemos aumentar as instalações destinados à população carente. “Continuaremos traba- no ano que vem e envolver mais estudantes”, diz Renata. lhando com reciclagem, agora com o material enviado O trabalho dos alunos é realizado após o horário das pela equipe do projeto”, informa Soraia Souza Cardoso, aulas. Mas, dentro da sala de aula, os professores de professora coordenadora do Von Voith. diversas disciplinas abordam o tema. “Explico a eles os O material ao qual Soraia se refere é um folder que resíduos existentes no plástico e como a destinação er- conta de onde vem o plástico, como ele é produzido, rada desse material pode afetar a natureza e o corpo hu- como seu descarte correto traz qualidade de vida e mano”, explica Renata. “Tentamos colocar isso em todas oportunidade de renda para a comunidade, entre as aulas. Para desenhar os enfeites de Natal, os alunos outros temas, além do desenvolvimento do plásti- trabalharam com projetos matemáticos, para calcular a co a partir do etanol da cana de açúcar, criado pela proporção dos enfeites. Os professores de Matemática Braskem. “Buscamos produzir esse material da ma- foram de grande valia nessa questão”, conta Silvana de neira mais didática possível, para ser usado em sala Santis, professora responsável por projetos no Semef. de aula”, explica Viviane Lopes, do Akatu. Além das A 30 km dali, no bairro do Jaraguá, Zona Norte de São cartilhas impressas, os três parceiros do projeto dis- Paulo, a Escola Estadual Friederich Von Voith trabalha ponibilizam o material para download em seus sites com reciclagem. Localizada próximo à fábrica da Voi- e informações em suas páginas nas redes sociais, já th Siemens, a escola desenvolve trabalhos em parceria que o concurso é aberto a todas as escolas do Brasil. com a empresa, entre eles um ponto de coleta de lixo Jorge Soto, Diretor de Desenvolvimento Sustentá- reciclável (implantado na instituição de ensino) e visitas vel da Braskem, salienta: “Por meio do projeto, os jo- à fábrica para que os estudantes conheçam projetos de vens são orientados a consumir de modo a aumentar reciclagem. os impactos positivos e reduzir os negativos, sabendo “A escola passou por uma reforma, há dois anos, e tivemos de interromper o programa”, diz a Diretora Ana que cada atitude tomada reflete em sua vida e em sua comunidade”. Jorge Soto: atitudes com reflexo na vida da comunidade informa 27 ENTREVISTA Felipe Cruz: “Voltei para a Odebrecht com um sonho novo: contribuir para transformar cada um dos nossos empreendimentos em um indutor de desenvolvimento sustentável na microrregião de sua implantação, um legítimo vetor gerador de prosperidade. Não podemos e nem devemos substituir o papel do Estado, mas ainda temos muito a fazer para criar ações estruturantes, coerentes com nossos valores filosóficos, capazes de fortalecer nossa diferenciação como Organização”. 28 28 informa ha harmonia DIRETRIZES DA O texto Renata Meyer foto Kamene Traça arquiteto Felipe Cruz, hoje responsável ODEBRECHT INFORMA – Como o paradigma da susten- pela implantação do Polo Agroindustrial tabilidade evoluiu nas organizações e na sociedade? de Capanda, em Angola, em execução FELIPE CRUZ – O tema da sustentabilidade surgiu em pela Odebrecht, inspirou-se nas ações decorrência da preocupação com o meio ambiente e, aos da Fundação Odebrecht no Baixo Sul poucos, incorporou novas dimensões. A dimensão social da Bahia para alicerçar sua atuação na chegou com força nos anos 1990, quando surgiu uma vi- área de Desenvolvimento Sustentável. Durante cinco são mais geral sobre como fazer para vivermos hoje sem anos, dedicou-se ao Instituto de Hospitalidade, criando prejudicar a vida dos que virão amanhã. No passado, exis- projetos em articulação com entidades ambientalistas, tiam dois opostos: haviam aqueles que pretendiam usar sociais, empresariais e governamentais. Na Odebrecht, os recursos naturais como se fossem inesgotáveis e os vem contribuindo para a elaboração de políticas e dire- que defendiam que não deveria haver mais desenvol- trizes de sustentabilidade. Nessa frente, ajudou a cons- vimento, entendendo que a situação ambiental tinha se tituir uma comunidade do conhecimento e, em parceria tornado insustentável. A evolução começou com conces- com a Fundação Dom Cabral, um programa de formação sões, na base de compensações: para construir uma hi- de líderes. Ele também apoiou diversos contratos que drelétrica em um determinado local, era exigida em troca buscavam a convergência entre interesses específicos a criação de uma reserva legal de “x” hectares. Depois, os dos seus negócios e as práticas sustentáveis, idealizan- países começaram a perceber a necessidade de gerir os do projetos estruturantes no entorno das obras. Nesta recursos naturais, porque são finitos. entrevista, Felipe Cruz fala sobre os desafios da sustentabilidade para as organizações empresariais e para a OI – E depois disso? criação de novos modelos de desenvolvimento. FELIPE – Vieram, então, a evolução legislativa e as entidades legais de monitoração. Essa realidade impôs certos cuidados às empresas e obrigou-as a buscar conhecimentos sobre como lidar com o tema. Hoje, entendo que já entramos na fase do desenvolvimento sustentado. Já está estabelecida uma macroestrutura mental nos governos, na sociedade e nas empresas, em que o único caminho é o desenvolvimento sustentável. O conhecimento existe, mas estamos muito distantes da aplicação em larga escala. OI – Como a Odebrecht consegue conciliar sustentabilidade e crescimento em negócios que, por natureza, têm informa 29 o potencial de gerar impactos socioambientais? FELIPE – O foco principal é o ser humano. Entendemos FELIPE – O desenvolvimento sustentável é parte do ne- que o maior agente da degradação do meio ambiente tem gócio da Odebrecht e fator de competitividade. Espera-se sido as pessoas, já que ele não se deteriora por si só. Por que nossos empreendimentos realizem todo o potencial isso, é preciso criar alternativas de desenvolvimento sus- de resultados de que sejam capazes, para clientes, acio- tentável. O meio ambiente tem de ser cuidado, nas nos- nistas, comunidades, integrantes e parceiros. A nossa sas atividades, de forma natural. A questão social é mais cultura fala de sobreviver, crescer e perpetuar. Perpetui- complexa. Tempos atrás, os ambientalistas diziam que o dade só é possível em um ambiente de desenvolvimento mundo estava prestes a acabar por causa da destruição sustentável. Na Odebrecht, a preocupação com a sus- da camada de ozônio. Eu acho que o mundo pode acabar tentabilidade está presente desde o momento em que se muito mais em consequência de um colapso social que começa a pensar em um projeto, na sua viabilidade. De pelo ambiental, até porque há tanta pesquisa que, em outro lado existe o processo: às vezes, mudar o traçado algum momento, será inventada uma planta capaz de de uma estrada entre dois pontos pode significar menos ajudar a limpar o ambiente. Se fosse possível isolar as área desmatada, menos pessoas afetadas, menos im- questões, consideraria a parte ambiental mais tecnológi- pacto ambiental. Depois, temos a fase da execução, que ca e legal, em termos de soluções. O social é mobilização, envolve diversos cuidados, como tratar adequadamente articulação, educação, é trabalho de longo prazo. Trata- os resíduos que geramos. -se de um processo humano, mais lento. Tudo é prioritário, mas pouco adiantará termos um arcabouço legal OI – Em 2010, a Organização produziu um inventário de adequado e soluções técnicas possíveis se as necessida- emissões de gases de efeito estufa. Qual a importância des básicas humanas não estiverem resolvidas. Portanto, disso? o grande desafio dos empresários não é criar iniciativas FELIPE – O inventário é a base para compreender como é voltadas à sustentabiliade, mas, sim, incorporar práticas composta a nossa “pegada ecológica”. A partir disso, po- sustentáveis nas organizações, fazer com que a susten- demos estabelecer mudanças em processos executivos e tabilidade esteja no quadro mental referencial de criação hábitos para minimizar nossos impactos. dos negócios. Hoje está claro que sustentabilidade e desenvolvimento fazem parte do mesmo lado da equação. OI – Quando é necessário lidar com as exigências e a pressão por prazos vindas dos clientes, como assegurar OI - Muitos países atingiram altos patamares de desen- a prevalência de uma atuação sustentável? volvimento degradando o ambiente. Como viabilizar o FELIPE – Apesar da pressão do prazo, o cliente lida com crescimento dos países menos desenvolvidos diante as mesmas preocupações, pois também é monitorado. dos protocolos que restringem as emissões de gases e A maioria das entidades financeiras, atualmente, aderiu uma série de outras condições limitadoras? aos Princípios do Equador, que têm regras muito rígidas FELIPE – Os países em crescimento têm a oportunidade e definições claras sobre questões ambientais e sociais. de criar modelos de desenvolvimento adequados à re- Há também a vigilância da sociedade. Portanto, servir alidade de cada um e utilizar o conhecimento existente adequadamente aos clientes neste século exige integrar em bases sustentáveis. Um aeroporto novo é, em geral, a sustentabilidade na equação da produtividade. Veja o muito melhor que um antigo, independentemente de caso do aproveitamento hidrelétrico do Rio Madeira, em onde esteja, só pelo fato de incorporar o conhecimento Rondônia. Seria mais econômico fazer apenas um bar- mais atual. Com o desenvolvimento acontece o mes- ramento. Entretanto, propusemos a construção de dois, mo, ou seja, pode-se partir de modelos mais modernos para reduzir a área alagada e, consequentemente, a área e melhores. A Amazônia, por exemplo, é vista como desmatada e o deslocamento de populações. A outra so- o pulmão do mundo, o que não significa que deva ficar lução não passaria nos critérios de avaliação da maioria intocada. A medicina tradicional pode ser um grande das entidades de financiamento ou não resistiria à per- polo de desenvolvimento da região. Além de ser a base cepção da sociedade. da medicina moderna, favoreceria, ao mesmo tempo, a geração de renda, o desenvolvimento científico e a con- 30 OI – Na Odebrecht, qual é o principal foco das iniciativas servação da área. O segredo está em encontrar caminhos voltadas para a sustentabilidade? de desenvolvimento coerentes com as caracerísticas de informa informa cada território. Mas existem outros aspectos a considerar, tabilidade à sua eficácia e à eficiência empresarial. Sair da como a cultura consumista em que estamos inseridos e o lógica de que sustentabilidade é elemento de custo. Nes- ineficaz modelo de transporte público, entre outros fato- se aspecto, cada negócio terá um caminho, e o segundo res que pressionam o sistema socioambiental urbano. O grande desafio é a formação de profissionais de conhe- conhecimento mostra que o caminho do desenvolvimento cimento que adquiram a perspectiva empresarial, já que sustentável é o único viável a longo prazo, mas exige uma até bem pouco tempo se tratava de um tema conflituoso, enorme capacidade de mobilização e articulação da so- como se de um lado estivessem os guardiães da socie- ciedade. dade e do meio ambiente e, do outro, as empresas destruidoras. Atualmente, a convergência de interesses é a OI – Que projetos socioambientais você destacaria como pauta, e quem encontrar mais cedo seu caminho ganhará exemplos da atuação da Odebrecht na área de susten- espaços. Quando voltei para a Odebrecht, em 2006, após tabilidade? cinco anos de trabalho no Instituto de Hospitalidade, tinha FELIPE – No Brasil, destaco a obra da Hidrelétrica San- um novo sonho: contribuir para transformar cada um dos to Antônio, em Rondônia, desde a sua concepção, com nossos empreendimentos em um indutor de desenvolvi- dois aproveitamentos e a redução do desmatamento, até mento sustentável na microrregião de sua implantação, o trabalho de reassentamento de populações, o resgate um legítimo vetor gerador de prosperidade. Não podemos de fauna, o tratamento de resíduos e o Programa Acredi- nem devemos substituir o papel do Estado, mas ainda te- tar, que, juntos, revelam o conhecimento, a maturidade e mos muito a fazer para criar ações estruturantes, coeren- a habilidade das equipes envolvidas nesse projeto para a tes com nossos valores filosóficos, capazes de fortalecer articulação com os diversos públicos da região. No Peru, nossa diferenciação como Organização. em ações absolutamente convergentes e fundamentais para o êxito da obra da Rodovia IIRSA Sul, os trabalhos OI - Como a Odebrecht transmite sua mensagem na re- com as comunidades de entorno envolvem, de maneira lação com as pessoas, com os Estados e com as entida- muito eficaz, a combinação de ações de conservação com des financiadoras? a geração de oportunidades de trabalho e renda, sendo FELIPE – A imagem de uma empresa é consequência do ainda destaque no fortalecimento da governança local e que ela é verdadeiramente. Isso não se mostra em teoria, na articulação com outros atores, como o Banco Intera- só na prática. É algo que surge com a atuação e, em nos- mericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina so caso, isso significa na prática nos canteiros. Em cada de Fomento (CAF), entidades ambientalistas como Con- nova obra, criamos instrumentos com esse objetivo, como servation International (CI) e Pronaturaleza, associações centros de formação, campanhas e jornais informativos. empresariais e Governos. Em Angola, em preparação Também percebemos que a oportunidade de trabalho é o para a implantação do Polo Agroindustrial de Capanda, o grande aferidor do que se pode oferecer em um determi- Programa Kulonga Pala Kukula é destaque em uma re- nado local. Nossa política passa por contratar profissio- gião de baixo nível de qualidade de vida, com sua ação trí- nais nos locais em que trabalhamos, e não carregar pes- plice em melhoria da dieta alimentar, saúde e geração de soas de um lado para o outro. No fim do dia, o integrante renda, mediante a ativação de um programa de produção volta para casa e para o convívio da família. Aí temos um e comercialização de hortícolas. Na Braskem, destaco a trabalhador mais feliz, o que significa menor turnover. criação do “plástico verde” e os caminhos que se abrem Não é uma questão de bondade ou assistencialismo, mas nessa perspectiva. De maneira similar, a ETH Bioenergia de eficiência. Isso só se vê na prática, não se explica. Com tem iniciativas muito intrínsecas ao negócio, como a con- os Estados, temos participações institucionais em fóruns servação de corredores de biodiversidade, propiciada pelo de discussões e em movimentos da sociedade na busca manejo adequado das áreas de cultivo da cana. do estabelecimento de políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento em bases sustentáveis. Com os bancos OI – Que desafios empresas como a Odebrecht enfren- e agências multilaterais, há uma permanente interação tam nessa área? pelas necessidades das nossas agendas de negócio. Esse FELIPE –O primeiro grande desafio é a percepção da con- conjunto de interações define a comunicação com os vergência abrangente de interesses entre seus negócios, nossos diversos públicos e, consequentemente, a nossa a sociedade e o meio ambiente, e como integrar susten- imagem. informa 31 32 pensar DESPERDIÇAR, NEM texto Válber Carvalho fotos Élvio Luiz Da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, vêm exemplos de iniciativas criativas de reciclagem 32 informa Ciclo completo: os restos de alimento viram adubo usado na horta que ajuda a abastecer o refeitório O desafio foi lançado pelo Diretor de em Suape, a 40 km de Recife: UDA (Destilação At- Contrato Antenor de Castro à sua mosférica) HDT/UGH (Hidrotratamento/Geração de equipe, em alinhamento com a mis- Hidrogênio), totalizando oito unidades. O cliente é a são do Conest: promover ações de Petrobras. No atual estágio da construção, o Conest sustentabilidade com foco no meio tem 5 mil trabalhadores no canteiro de obras, mas ambiente, por meio do uso racional dos recursos e a previsão é de que seja superada a marca de 7 mil da aplicação de práticas eficientes para tratamento integrantes no pico dos serviços. e reciclagem de resíduos. Buscou-se, então, identi- Os frutos não demorariam a surgir. O projeto ficar oportunidades para o desenvolvimento de pro- que viria a se chamar Reciclando deu seu primeiro gramas de Responsabilidade Socioambiental, em passo através de uma extensa pesquisa interna que sintonia com as vocações das comunidades do en- identificou a necessidade de descarte de resíduos torno da obra que ele lidera, de maneira a fomentar em três locais de operação do consórcio: o próprio a geração de trabalho e renda. Antenor sabia que site da obra da refinaria, o pipe shop, onde são fa- esse era o caminho a seguir. bricadas as tubulações utilizadas na construção, e Formado pela Odebrecht Engenharia Industrial e a Vila Residencial, na qual estarão alojados cerca a OAS, o Consórcio Rnest Conest é responsável pela de 3.500 integrantes, entre encarregados e oficiais implantação de dois dos maiores contratos em exe- de produção que estão vindo de cidades distantes cução na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizada ou de outros estados. informa 33 Esse diagnóstico detectou a necessidade de ações imediatas para destinação dos resíduos. Nos de Jaboatão dos Guararapes, cidade da região metropolitana de Recife. refeitórios, onde atualmente mais de 10 mil refei- “Partimos então para o segundo passo: identifi- ções são preparadas e fornecidas todos os dias, são car programas que pudessem propiciar destinação geradas 40 t de resíduos que, inicialmente, eram e tratamento para esses resíduos. O terceiro mo- descartadas em aterros sanitários. vimento foi envolver as comunidades do entorno, de tal forma que pudéssemos levar conhecimen- Transformando resíduos em oportunidades to e capacitação, gerar trabalho e renda, além de Além dos resíduos alimentares, o levantamento consciência ambiental que se tornasse um legado também revelou um número expressivo de sobras despertar, nos integrantes e na comunidade, uma do Conest”, explica Antenor de Castro. de papelão e um volume significativo de uniformes Surgia assim o Projeto Reciclando, abrangendo danificados. Esses resíduos eram transportados e os programas Dupla Face, que utiliza resíduos de descartados no Centro de Tratamento de Resíduos papelão, Costurando Vidas, que reaproveita os uniformes descartados, e Verde Vida, que transforma resíduos alimentares em adubo orgânico a ser utilizado em hortas e jardins do próprio Conest e de comunidades agrícolas. Para estimular os integrantes a participarem da coleta seletiva dos resíduos orgânicos desde a sua geração, a equipe de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente do Conest criou recipientes de descarte com várias “bocas”, uma para cada tipo de material, e eles foram instalados nos restaurantes. Com isso, o lixo orgânico passou a ser descartado em um único destino, os plásticos em outro, e os guardanapos de papel em um terceiro. Um técnico de segurança fiscaliza a execução dessa tarefa em cada refeitório. Depois de separado, o lixo orgânico é conduzido em bombonas até a Vila Residencial, onde funciona o Galpão de Compostagem do programa. “Após 60 dias, o composto é transformado, por meio de técnicas de compostagem e vermecompostagem, em adubo orgânico, que já está garantindo a produção de uma horta, cultivada no local e cujos produtos serão utilizados nos refeitório do Conest”, explica Waldir Martins, Coordenador Técnico do Reciclando. O Verde Vida também já está mudando o cotidiano de algumas comunidades agrícolas. Formado por cinturões de agricultores familiares sem acesso à assistência técnica, o entorno da região de Suape registra o uso indiscriminado de pesticidas e a dificuldade de escoamento da produção. Agricultores dessas comunidades estão sendo convidados a conhecer o Galpão de Compostagem, onde receberão capacitação para aprender a utilizar seus restos 34 informa Participantes dos programas Dupla Face e (na página ao lado) Costurando Vidas: disseminação da cultura de sustentabilidade de alimentos como adubo orgânico. Dessa forma, do saí da cadeia, estava desempregado, e aí uma poderão vender o que produzem para a empresa porta se abriu aqui no Dupla Face. Com o dinheiro terceirizada responsável pelas refeições no can- que ganhei já construí minha casinha e comprei o teiro de obras. A agricultora familiar Neide Rodri- enxoval de minha filha.” gues afirma que perde a maior parte do muito que Na mesma cidade, a costureira Marluce dos produz, e apela: “Estamos tentando nos livrar dos Santos, 60 anos, só pensava em se aposentar, até produtos químicos porque queremos ter a saúde ser convidada para o Programa Costurando Vidas: dentro das nossas casas. O uso do orgânico vai dar “Quando vi o início da obra dessa refinaria, nunca certo!”, garante. pensei que viesse chegar até mim. Hoje eu reforço a renda da minha casa e acredito que mais e mais Descobrindo talentos pessoas vão vir para cá”, comenta, em meio aos Em Cabo de Santo Agostinho, município vizinho chapéus de lona e pochetes reciclados a partir de à Refinaria Abreu e Lima, toda semana um cami- velhos uniformes higienizados e de bolsas confec- nhão do Conest entrega o papelão na sede da fu- cionadas com lonas reaproveitadas de banners. tura Cooperativa de Arte Reciclável, onde trabalha Toda essa matéria-prima volta para o consórcio um grupo de artesãos que participam do Projeto transformada em produtos valorizados pelos inte- Dupla Face. grantes da obra, como peças de decoração e brin- Depois de passar por nove meses de detenção, des, que são sorteados durantes as campanhas após uma condenação por tráfico de drogas, Ildel- realizadas no canteiro. Dessa forma, o Programa vândio Duarte encontrou a chance de reabilitação e Reciclando contribui para disseminar em todo o hoje ganha a vida como artesão de papelão. “Quan- Conest uma cultura de sustentabilidade. informa 35 36 Alione Alberto Sailene, participante do programa Caia na Rede: inclusão digital no interior de Moçambique 36 informa Em Moçambique, moradores das regiões onde são realizadas as obras do Projeto Carvão Moatize recebem oportunidades de inclusão no mercado profissional texto Eliana Simonetti fotos Edu Simões futuro VISLUMBRE DO informa 37 A postura é impecável, ereta. O olhar, próxima à obra que a empresa realiza, em aliança com a firme e seguro. Abusado Arroz tem 23 Vale, há um garoto de nome Dança Dickson Dança. anos. Vive no bairro Samora Machel, nas cercanias do município de Tete, Cuidado com os hipopótamos em Moçambique. Desde criança, tra- O Contrato de Aliança para a execução do Projeto Car- balhou na roça e na pesca para ajudar vão Moatize (PCM) foi assinado pela Vale e o Consórcio a manter a mãe e quatro irmãs. Em 2008, quando soube Moatize (em que Odebrecht detém 75% de participação, que a Odebrecht oferecia cursos profissionalizantes em e Camargo Correa, 25%) em junho de 2008. A proposta: convênio com a Escola Dom Bosco, no centro da cidade, construir a maior mina de carvão a céu aberto do hemis- sua vida começou a mudar. Abusado tomou um machim- fério sul, para ser explorada por 35 anos. São 11,5 milhões bombo (como são chamados os ônibus em Moçambique), t/ano de carvão. No canteiro de obras, caminhões-pipa viajou uma hora e se inscreveu. Por três meses, frequen- molham as estradas a todo o momento, para reduzir a tou aulas de serralheria. Ingressou na Odebrecht como poeira. “A obra, por si só, tem sua parcela de contribuição ajudante. Foi promovido diversas vezes e, em 2011, chegou para o desenvolvimento sustentável. Segurança, capa- a encarregado de serviços, responsável por uma equipe de citação, organização e limpeza são premissas de nosso 300 pessoas. Nesses três anos, levantou para a mãe e as trabalho e têm mudado o comportamento de moçambi- irmãs uma casa de tijolos vizinha à sua, uma construção canos, filipinos, sul-africanos e pessoas de outros países tradicional. “Passo a passo estou a progredir”, diz ele. que trabalham aqui conosco”, informa Paulo Brito, da Abusado Arroz é um exemplo entre muitos. Primeira- Odebrecht, Diretor de Contrato do PCM. mente, de um moçambicano sem habilitação profissional Segurança, nessa área do planeta, inclui cuidados com que se formou e teve melhoria de qualidade de vida. Ele um personagem inusitado: os hipopótamos. Eles moram também possui uma característica da cultura dos mo- no Rio Zambeze, permanecem na água durante o dia, e çambicanos, que com frequência adotam como nome para ao entardecer sobem às margens para comer folhas. Não seus filhos palavras sonoras, independentemente de seu gostam de ver gente por perto e atacam mesmo que não significado. Apenas entre os trabalhadores da Odebre- haja provocação. No canteiro há cartazes que avisam não cht, em Tete, passaram dois de nome Alface e um outro só sobre a necessidade do uso de EPIs (equipamentos de chamado Sabonete. Há também o senhor Fastudo, que proteção individuais) e da atenção à sinalização de trânsito, ingressou como ajudante de limpeza e chegou a Monitor mas também em relação ao cuidado que se deve ter nos de Segurança do Trabalho. Na lista de chamada da escola dias de lazer com a família, em passeios no rio. Dança Dickson Dança, morador do reassentamento de Cateme: comunidade vive novas expectativas 38 informa Quando a Odebrecht construiu linhas de transmissão em uma das ilhas do rio, na comunidade de Changara, contratou um caçador profissional, o sul-africano Graham Cawood, que treina os guardas da Fauna Bravia de Moçambique (organização similar ao Ibama brasileiro). “Meu trabalho foi espantar animais como hienas e cobras, para que não houvesse riscos”, lembra Cawood. O horário de trabalho era determinado pelos hipopótamos e não se registrou nenhum acidente. Abusado Arroz: “Passo a passo estou a progredir” Aliança no projeto e nas ações sociais A abertura da mina e a construção da usina de carvão só puderam deslanchar após a transferência das famílias que habitavam as áreas de concessão para dois reassentamentos com mais de mil casas de características rurais e urbanas. É em um desses reassentamentos, de Cateme, na Escola Primária Maguiguane, em que estuda Dança Dickson Dança, 10 anos – que é tímido e não gosta de dançar. A Odebrecht e a Vale mantêm alguns de seus projetos sociais nas escolas primária e secundária de Cateme. O projeto Ler+ foi implementado a partir da constatação de que os moçambicanos cultivam a oralidade, são apegados aos idiomas tradicionais de seus ancestrais, e pouco leem. A Fundação Vale doou livros para a organização de uma biblioteca na Escola Primária de Maguinguane. Professores e outros trabalhadores foram preparados para usar o material. Segundo o Diretor da Escola Primária, Antonio Guerra Jequesseme, com 30 anos de serviço na área da educação, a biblioteca representa um grande avanço. A Diretora Pedagógica da Escola Secundária, Isabel Sixpence, garante: “Os alunos estão mais interessados em estudar”. Outro projeto é o Caia na Rede, de inclusão digital. A Escola Secundária de Cateme tem uma sala com 25 computadores, energia elétrica estável e acesso à internet. Nem um dos alunos havia visto um computador antes que o Caia na Rede chegasse a Cateme. Poucos meses depois, até Rufina Caetano João, 53 anos, responsável pelo orfanato anexo às escolas, onde vivem 170 crianças e jovens, já se aventurava no teclado. “Todo conhecimento que adquirimos é útil”, ensina. Quanto aos alunos, desde que se acostumaram com o mouse, tudo se tornou fácil: fazem pesquisas para trabalhos escolares e batem papo com amigos, inclusive com colegas que estudam em escolas Dom Bosco no Brasil. Tete é uma província localizada a leste de Moçambique, próxima a uma área desértica do Zimbábue. O clima é quente e seco, muitas vezes chega a superar os 50ºC. A informa 39 Teresa de Jesus Alves, a vó Teresa, e três de seus internos: cuidando dos “miúdos” terra, vermelha, é coberta de carvão. Embora haja rios cau- Além da pintura das paredes, reforma dos banheiros, dalosos, como o Zambeze, há pouca água para a agricultu- aulas de higiene e organização baseada no conceito “5S” ra. As famílias têm o hábito de cortar árvores para usar a (Cinco Sensos: limpeza, utilização, coordenação, bem- lenha na cozinha. Uma campanha movida pela Odebrecht e -estar e auto-disciplina), os participantes têm na agenda pela Vale busca conscientizar os moçambicanos acerca da a construção de um galinheiro e de uma horta no quintal, importância da preservação do verde e da água. Nas esco- para garantir a alimentação dos 96 internos, e estudam a las de Cateme, os alunos plantaram mais de 200 mudas de possibilidade de montar ali uma cozinha industrial, para árvores que, crescidas, sombrearão o pátio onde brincam. que os mais velhos possam produzir refeições e quitutes a No canteiro de obras, foram plantadas mais de mil mudas. serem vendidos no comércio local. Teresa de Jesus Alves, “Projetos sociais sustentáveis compõem a estratégia 66 anos, a vó Teresa, fica feliz em ver a casa movimentada. da Vale em todas as partes do mundo. Em Moçambique, “Meu mais velho já completou 21 anos e está a trabalhar na começaram logo que a empresa obteve a concessão. As Odebrecht”, conta, orgulhosa. mudanças que ocorreram desde então, seja pela renda Orfanatos são instituições importantes em Moçam- gerada pelo projeto, seja pelos programas que mantemos bique. Há muitas crianças abandonadas por motivos de em paralelo à obra, são notáveis. Tete, que não tinha sequer crenças ou tradições culturais e por causa da morte dos um bazar, hoje é uma cidade com comércio, hotéis e po- pais em decorrência de doenças ou má nutrição. A expec- pulação crescente”, observa Galib Chaim, Diretor Executivo tativa de vida no país é de 50 anos, segundo o Human De- de Implantação de Projetos de Capital da Vale. velopment Report 2011 da Organização das Nações Unidas (ONU). Moçambique ocupa a 184ª posição no ranking do 40 Sou do Bem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede o de- Voluntários da Odebrecht, da Vale e de empresas par- sempenho médio de 187 países em três dimensões do de- ceiras estão empenhados, ainda, na restauração do Or- senvolvimento humano: saúde, educação e padrão de vida. fanato Mundo dos Mais Pequenos, mais conhecido como Nesse grupo, Moçambique só está em melhores condições Orfanato da Vó Teresa. O movimento começou por iniciativa do que Burundi, Níger e República Democrática do Congo. de algumas pessoas, passou a ser parte do Programa de A Odebrecht atua também em duas cidades costei- Voluntariado Sou do Bem, dos integrantes do PCM, e está ras do país. Uma delas é Beira, segundo maior município ganhando porte. “Buscamos meios de transformar nossas moçambicano, cujo porto, construído nos anos 1970, está ações em estruturas que possam caminhar por suas pró- sendo reformado. A empresa recupera fundações, termi- prias pernas”, explica Adriana Clemente Brito, Responsá- nal de armazenamento e descarga do Cais 8 – necessário vel por Projetos Sociais da Odebrecht em Moçambique. à exportação do carvão proveniente de Tete. O Diretor de informa O grupo de teatro que percorre escolas, presídios e feiras: ensinando com alegria Contrato, Nuno Teixeira, é português e tem 31 anos. É um cipativas. “Nós, moçambicanos, aprendemos melhor com do DCs mais jovens da Organização Odebrecht. Com ele alegria”, argumenta Aníbal Rafael Chiteve, 33 anos, coorde- trabalha o Gerente Administrativo e Financeiro José Silveira nador do grupo teatral. Isso se evidenciou, mais uma vez, Lages de Magalhães. Ambos concordam que o bom fun- em 15 de novembro, quando 570 detentos do Centro Prisio- cionamento do porto provoca movimentação econômica, nal de Savane, na Beira, assistiram à apresentação que tra- o que cria oportunidades de trabalho e riqueza e contribui tou do tema HIV/Aids. Chiteve também auxilia estudantes para o desenvolvimento do país. “Enquanto houver carvão a formarem seus próprios grupos de teatro e dança, para em Tete, todo o projeto que realizamos no porto de Beira é que multipliquem o conhecimento adquirido. “Isso é muito sustentável”, diz Lages. bom para o esclarecimento de todos”, confirma o Diretor Como em Tete, pessoas do Programa de Voluntariado Substituto do Centro Prisional de Savane, Manuel João. Sou do Bem em Beira atendem a dois orfanatos públicos A outra cidade litorânea de Moçambique em que a Ode- e promovem atividades recreativas. De forma semelhante, brecht está presente é Nacala, na Província de Nampula, ao organizou-se o Projeto Caia na Rede, para os familiares dos norte de Beira. A empresa constrói ali o Aeroporto Interna- trabalhadores. cional de Nacala. Antes do início dos trabalhos, a Odebrecht A maior atividade social da empresa em Beira, entre- procedeu a uma investigação sobre as comunidades locais tanto, desenvolve-se na área da saúde: campanhas de e suas necessidades – e a melhor forma de implantar o Pro- conscientização para crianças, jovens, adultos e médicos grama de Qualificação Profissional Continuada - Acreditar. tradicionais sobre a importância da vacinação, sobre o HIV/ Com material pedagógico adequado à realidade moçambi- Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis e so- cana, sede própria localizada no canteiro de obras e profes- bre a tuberculose, cólera e malária. Amanda Mambulisse, sores formados, em janeiro de 2012 o Programa Acreditar 52 anos, tem nove filhos e trabalha como médica tradicio- Moçambique iniciará seus cursos teóricos e práticos de pe- nal desde 1994. “Sei que, quando a pessoa carrega uma dreiro, carpinteiro, canalizador, ferreiro e eletricista predial. doença, devo tirar-lhe o espírito mau e encaminhá-la ao “Esta é a primeira atividade social sustentável prevista hospital”, diz, no idioma chitzwa. A tradutora é a médica para Nacala: o estudo realizado nas comunidades em seu Catarina César Mabuie, que trabalha na Odebrecht e está entorno”, explica Fernanda Rodrigues Reis, Gerente Ad- engajada em todas as campanhas de saúde. ministrativa do projeto. “Por meio dele, poderemos buscar convergência de interesses e harmonia na relação comu- Aprendizado com alegria nidade-empreendimento, em programas que beneficiem Um grupo de teatro e integrantes da Odebrecht percor- também o meio ambiente, a segurança no trabalho e a rem escolas, presídios e feiras, com apresentações parti- saúde.” informa 41 42 Júlio Barreto dos Santos e o trem da SuperVia: “Enquanto eu tiver vida estarei ajudando a comunidade” 42 informa trem PEGANDO O DA RECICLAGEM Programa Vida ajuda a reduzir a quantidade de lixões nas comunidades atendidas pela SuperVia D a sede da empresa ferroviária SuperVia, no centro do Rio de Janeiro, é possível observar, a uns 300 m, o prédio da Central do Brasil. Da estação ali localizada, partem os trens rumo a diversos destinos, em uma malha ferroviária composta de 98 estações. Por dia, os trens da SuperVia transportam 540 mil passageiros. “Em 2015, queremos chegar a 1 milhão de pessoas diariamente”, diz Carlos José Vieira Machado Cunha, Presidente da empresa. A história da SuperVia é recente. Começou em 1998, com a conquista da concessão para operação comercial e manutenção dos trens urbanos da região metropolitana do Rio de Janeiro. Mas a empresa herdou a história de uma ferrovia de mais de 100 anos. A Estação Central do Brasil foi construída no século XIX, no reinado de D. Pedro II. De lá até os dias de hoje, foram surgindo e crescendo, paralelamente, texto Edilson Lima fotos Marcos Michel diversas comunidades e cidades. “Escuto muitos dizerem que os trens cortam as cidades. Mas é o contrário. Muitas delas surgiram próximas às linhas férreas pela facilidade do transporte”, salienta Débora Raffaeli, Gerente de Marketing da empresa. Ela conhece muito bem as histórias por trás dos trilhos dos oito ramais sob a responsabilidade da SuperVia, que tem a Odebrecht TransPort como acionista majoritária desde novembro de 2010. A multiplicação dos bons hábitos De 1998 para cá, as equipes da SuperVia identificaram a existência de muitos lixões ao longo das linhas férreas. Houve casos em que os trens tiveram que parar por causa de tanto lixo. “Foi aí que informa 43 percebemos que tínhamos que dialogar com as co- passar o muro [de mais de 2 m] que separa a linha munidades sobre esse tema. Fomos até os morado- férrea e a comunidade. Hoje, no lugar dos resíduos, res e começamos a promover diversas ações sociais, temos um canteiro de plantas ao longo do muro, com principalmente aquelas relacionadas à reciclagem coqueiros, maracujá, mamão e até boldo para aqueles do lixo”, explica Débora. O objetivo é que as 12 cida- que gostam de fazer um chazinho. Sozinhos não con- des e 26 comunidades do entorno das linhas férreas seguíamos mobilizar as pessoas”, ele explica. Agora, o sejam beneficiadas com os projetos sociais, todos lixo é colocado em caçambas, que são recolhidas pela reunidos no Programa Vida. Comlurb – Companhia Municipal de Limpeza Urbana, No âmbito desse programa, um dos projetos que da Prefeitura do Rio de Janeiro. tem alcançado resultados significativos é o Multipli- Júlio Barreto dos Santos, 72 anos, é um dos vo- cadores Ambientais, iniciado em 2007, na comunidade luntários mais engajados na limpeza. Todos os dias, Vila São Miguel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A ele percorre o canteiro de plantas, para ver se há lixo equipe da SuperVia procurou as lideranças comunitá- jogado. “Sempre tem alguma coisa, nem todos os mo- rias e identificou voluntários interessados em partici- radores ainda colaboram, mas, em relação ao que era par da iniciativa ambiental. Essas pessoas receberam antes, isso está muito melhor.” Ele acrescenta: “En- treinamentos e orientações sobre a importância da quanto eu tiver vida, estarei ajudando a limpar a co- coleta seletiva para a qualidade de vida da comunida- munidade”. de. Depois, os voluntários começaram a bater de porta Ações semelhantes a essas também vêm ocor- em porta, para orientar os moradores sobre o descarte rendo no bairro de Parada de Lucas, também na correto do lixo. zona norte. O número de lixões na comunidade tem Um dos maiores entusiastas desse processo é o diminuído a cada dia. Isso graças à ação dos mul- Presidente da Associação de Moradores, José Américo tiplicadores ambientais locais. Já são três canteiros da Silva Souza, o Zinho, 52 anos. Natural de Alagoas, de plantas feitos em locais onde existiam lixões e um ele chegou à comunidade com 13 anos. Bem-humo- deles bem no centro da comunidade, local conhecido rado, Zinho não parava de receber ligações no celular como pracinha. enquanto era entrevistado pela equipe de Odebrecht “Aqui era só lixo, um mau-cheiro horrível, ninguém Informa. “Está vendo? Aqui é assim, tem sempre algu- ficava por perto. Agora não. Tiramos o lixo, fizemos ma coisa para resolver.” mesas, assentos e os canteiros de plantas”, conta Ta- Zinho afirma que a parceria com a SuperVia foi fun- tiane da Silva França, Secretária da Associação de Mo- damental, pois a quantidade de lixo nas ruas e vielas radores e moradora da comunidade desde que nas- da comunidade era enorme. “O lixo chegava a ultra- ceu, há 30 anos. Tatiane da Silva França: novos tempos em Parada de Lucas 44 informa Helena Fonseca do Anjos com alunos da Escola Municipal José Veríssimo: “Ensinamos a dar vida àquilo que tinha sido jogado fora” Defensores da Terra cimentos de ensino e mais de 5 mil pessoas (alunos, Além do Projeto Multiplicadores Ambientais, a Su- pais e professores) já foram beneficiados pelo Projeto perVia realiza o projeto Defensores da Terra, por meio Defensores da Terra. de uma parceria que se iniciou em 2001 com uma or- “Os projetos desenvolvidos pela SuperVia nas co- ganização não governamental de mesmo nome e a munidades têm ajudado a trazer resultados significati- Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. vos por meio da mudança de hábitos”, avalia Cristiane Em 2011, cinco escolas públicas de comunidades Duarte, Coordenadora de Meio Ambiente da empresa. próximas à linha férrea foram selecionadas para re- Ela se refere, sobretudo, à redução do número de li- ceber os educadores ambientais da ONG. No primei- xões. De um total de 156 identificados em 2006, restam ro semestre, foram realizadas palestras e aulas, com hoje 40. a utilização de vídeos para sensibilizar as crianças e O carioca Carlos José Cunha, que assumiu a pre- os jovens das escolas em relação a diversos temas sidência da SuperVia depois de 30 anos como enge- ambientais, como o aquecimento global e o descarte nheiro da Odebrecht, encara o novo desafio como correto dos resíduos urbanos. No segundo semestre, uma oportunidade para contribuir ainda mais para o trabalho prosseguiu com oficinas e gincanas. “En- o desenvolvimento do Rio de Janeiro. “A SuperVia sinamos aos alunos que é possível fazer muitas coi- já executava várias iniciativas para o bem-estar das sas, como bonecas, brinquedos, caixas para presente comunidades vizinhas aos trilhos. Agora, com a ad- e peças para enfeitar a casa, usando materiais des- ministração da Odebrecht TransPort, vamos intensi- cartados. Ensinamos a dar vida àquilo que tinha sido ficar essas ações”, afirma. jogado fora”, diz Helena Fonseca Anjos, artesã e uma das voluntárias da ONG Defensores da Terra. Além das ações sociais, a SuperVia está investindo na reforma e modernização da atual frota de 160 Na gincana realizada em setembro, das cinco es- trens e na compra de mais 120, totalmente novos, até colas participantes, a Escola Municipal José Veríssimo 2015, como preparação para a Copa do Mundo (2014) e foi a que mais recolheu lixo reciclável na comunida- as Olimpíadas (2016). Serão investidos R$ 2,4 bilhões. de: 3.128 kg, que depois foram levados para uma co- “Investir no trem é investir na melhor solução susten- operativa. Carmen Mittoso Guerra, Diretora da escola, tável para a mobilidade urbana, pois além de consumir ressalta: “A educação ambiental é fundamental para energia limpa, a eletricidade, ele também diminui a todos. Espero que a SuperVia amplie ainda mais a sua necessidade de ônibus e vans circulando pela cidade”, colaboração com as escolas”. Ao todo, 95 estabele- ressalta Débora Raffaeli. informa 45 gente! SAI DA RUA, MINHA texto Carine Aprile fotos Márcio Lima 46 46 informa Moradores e ex-moradores de rua de Salvador participam de programa de capacitação profissional e inclusão social Bárbara Jane Almeida dos Santos e Marcos Antonio Santana do Carmo: com o Programa Qualifica Bahia, a esperança de um lar informa 47 T odos os dias, Marcos Antonio Santana apenas um dos 20 programas de cunho social e de do Carmo, 35 anos, fica sentado em formação profissional desenvolvidos pela obra. um banco na Praça da Piedade, em “Pensar em sustentabilidade social é trabalhar Salvador, esperando a noite chegar. no desenvolvimento das pessoas. É oferecer a opor- Quando as lojas do bairro fecham as tunidade de aquisição de conhecimento, trabalho e portas, ele começa a se preparar para renda”, salienta Alexandre Chiavegatto, Diretor de dormir, na calçada, em frente às Casas Bahia do Contrato. “É isso o que fazemos aqui. Oferecemos Relógio de São Pedro. Nas duas últimas semanas, os instrumentos necessários para que a população porém, a rotina desse homem, que mora nas ruas do entorno e nossos integrantes busquem a própria há oito anos, se transformou. “Agora a esperança evolução pessoal e profissional”, destaca Thiago tem sido a minha companhia. Me matriculei no cur- Cunha, Reponsável pelos Programas Sociais da so de carpinteiro, e o meu sonho é ter uma casa, um Arena Fonte Nova. lar, e constituir uma família”, diz ele, que saiu da Ministrar aulas de alfabetização digital para 200 casa da mãe aos 27 anos, depois que se desenten- pessoas com renda inferior a dois salários mínimos, deu com os irmãos. Há duas semanas, Marcos An- fomentar o espírito empreendedor em mais de mil tonio vem tendo aulas de carpinteiro, que começam crianças e jovens com idades entre 12 e 18 anos, das às 7 horas da manhã e se estendem até as 13 horas, de segunda a sexta-feira. O curso faz parte do Programa Qualifica Bahia, realizado pelo Governo do Estado em parceria com o consórcio responsável pela obra da Arena Fonte Nova, que está sendo erguida às margens do Dique do Tororó. O programa de qualificação profissional é voltado para moradores e ex-moradores de rua que habitam o entorno da obra, e oferece aulas de cabeleireiro, além de diversos cursos na área de construção civil, como pedreiro, carpinteiro e armador. Neste momento, 88 alunos participam das aulas em busca de um emprego formal. Os mais bem avaliados poderão ser contratados para trabalhar na obra da arena. Outra aluna do curso de carpintaria é Bárbara Jane Almeida dos Santos, 30 anos. O olhar doce esconde um passado comovente. Bárbara morou nas ruas de Salvador dos 13 aos 25 anos, por pura rebeldia de adolescente, como ela mesma conta. Depois de ver muitos amigos morrerem por causa das drogas ou por serem assassinados, Bárbara resolveu voltar para a casa da mãe, no bairro de Nova Brasília. “Hoje o meu objetivo é conseguir um emprego fixo, de carteira assinada, para dar uma vida melhor para os meus dois filhos, Taís, de 11 anos, e Iago, de 5 anos”, ela afirma, emocionada. É a segunda etapa do Programa de Inserção de Moradores de Rua da Arena Fonte Nova. Na primeira, 23 ex-moradores de rua, integrantes da Comunidade Igreja da Trindade, foram contratados e já estão trabalhando como ajudantes de produção. E esse é 48 informa escolas do entorno, e oferecer educação básica aos trabalhadores são outras ações realizadas. Uma parte desse concreto também foi destinada a outra causa nobre: 2 mil pedaços do estádio, que era a paixão dos torcedores baianos, viraram souve- Dois mil pedaços do estádio nirs e foram doados para as Obras Sociais Irmã Dulce A sustentabilidade ambiental é outra prioridade (Osid). As peças estão sendo vendidas por R$ 35 cada na construção desse equipamento que será palco da uma, na própria Osid, na Cidade Baixa, e pela inter- Copa do Mundo de 2014. Um dos destaques nesse net. Todo o recurso obtido será direcionado à cons- sentido é o reaproveitamento de 100% do material do trução da unidade de hemodiálise e banco de sangue antigo estádio, implodido em agosto de 2010. “Com a da instituição. demolição da antiga Fonte Nova, foram gerados aproximadamente 77,5 mil toneladas de concreto, sendo Calçada ecológica que 90% desse total foram utilizados como base e Quem visita o canteiro de obras da Arena Fonte sub-base na própria obra da arena, e os 10% restan- Nova percebe que o cuidado com o meio ambiente faz tes em outros projetos de infraestrutura de Salvador parte da rotina de todos os integrantes. “Temos um e região metropolitana”, explica Renata Ribeiro, Ges- plano complexo de gestão de resíduos. Todo o mate- tora de Meio Ambiente na Arena Fonte Nova. rial gerado aqui tem uma destinação final estudada e A partir da esquerda, Antônio Marques, Thiago Cunha e Valdemir Matos: sintonia em torno de um instrumento de evolução pessoal e profissional informa 49 planejada, para que o impacto seja o menor possível”, ressalta Renata Ribeiro. Um exemplo disso é a reutilização dos corpos de prova de concreto – estrutura cilíndrica utilizada para monitorar a resistência do concreto. Esse material está sendo aplicado na pavimentação de algumas áreas do canteiro de obras e também para o preenchimento dos alvéolos das lajes. Luciana Galeão: peças transformadas em produtos sustentáveis O óleo de cozinha utilizado pelos refeitórios da obra, que servem mais de 5 mil refeições por dia, é enviado a uma empresa que o transforma em biodiesel, vela e sabão. Já os papéis descartados pelo setor administrativo viram blocos de anotações, que depois também são reciclados por duas cooperativas locais. Madeiras e canos de PVC que seriam jogados no lixo ganham forma de fumódromos e porta-copos usados. A coleta seletiva é feita não apenas dentro da obra, mas também no entorno. Os vendedores ambulantes que trabalham no ponto de ônibus em frente ao canteiro receberam treinamento específico e hoje são multiplicadores. Maria de Jesus Santos, 53 anos, é autônoma, trabalha vendendo salgados na frente da obra e recebeu instruções para a coleta seletiva. “Achei importante o treinamento. Aprendemos a separar o lixo nas lixeiras coloridas. Já fazia isso antes, mas agora faço com consciência”, ela afirma. Reciclagem e moda Os uniformes dos trabalhadores da obra que são descartados deixam de ir para os aterros sanitários e ganham vida na oficina de corte e costura do Projeto Axé. Cada peça é transformada em itens de moda, como ecobags (bolsas ecológicas personalizadas) e outros utensílios, como aventais e jogos americanos. “Nossos produtos trazem cores vibrantes, estampas com símbolos locais e ainda são forrados com tecidos nobres, possibilitando o uso dos dois lados. Transformamos cada peça em produtos sustentáveis que ressaltam nossa cultura com uma leitura moderna”, explica a estilista baiana Luciana Galeão, responsável pelo projeto. 50 informa Maria de Jesus Santos: “Achei importante o treinamento” A comercialização dessa produção é feita em loja própria, no Pelourinho, e todo o dinheiro da venda Institucionais da Arena Fonte Nova, Lino Cardoso, traduz o caráter multiuso do novo equipamento. é destinado ao Projeto Axé, ONG que atende 1.547 Para manter a sustentabilidade econômica, a crianças e jovens, de 5 a 21 anos, em situação de ris- Arena Fonte Nova oferecerá espaço para eventos de co social. diversos portes. “Teremos 50 mil assentos cobertos, distribuídos em três níveis de arquibancadas, além Projeto sustentável de 70 camarotes, restaurantes panorâmicos com vis- Em consonância com o Programa Green Goal, da ta para o campo e para o Dique do Tororó, e cerca de Fifa, a Arena Fonte Nova foi projetada para operar 2 mil vagas de estacionamento, que estarão disponí- com soluções sustentáveis. O tipo de estrutura utili- veis para os soteropolitanos e visitantes 365 dias por zada na cobertura, por exemplo, reduz o consumo de ano”, revela Cardoso. aço entre 30% e 40%. Além disso, o projeto arquitetô- Com uma estrutura de sala de imprensa, quios- nico da nova arena permite o aproveitamento da ilu- ques, elevadores, sanitários e espaço cultural (mu- minação e ventilação natural, sem contar com o uso seu do esporte e da música), a Arena Fonte Nova já de energia solar para o aquecimento de água. fechou acordo com o Esporte Clube Bahia, que terá O projeto de consumo de energia elétrica prevê o mando de campo da arena, e com o grupo respon- uma redução em torno de 32,5%, com a utilização de sável pelo maior evento junino da capital baiana, o lâmpadas com maior eficiência e durabilidade, o uso Arraiá da Capitá, que passará a ser realizado no novo de reatores eletrônicos, em vez de reatores eletro- estádio, a partir do início da operação. magnéticos, e a instalação de elevadores verdes, que permitem uma economia de até 50% no consumo. “Vamos trabalhar para que a Arena Fonte Nova seja um caldeirão de entretenimento e negócios. Já estamos estudando a realização de eventos de espor- Arena multiuso tes radicais, festivais de música, shows internacio- “Nosso objetivo é inserir Salvador no roteiro dos nais, além de outros eventos de menor porte, como principais eventos do Brasil e proporcionar à Bahia um congressos, palestras, casamentos e formaturas. Te- complexo integrado de entretenimento, cultura e negó- remos espaço para todos os públicos”, ressalta Lino cios.” A declaração do Diretor de Marketing e Relações Cardoso. informa 51 52 A planta de tratamento de águas residuais, em execução, e (na página ao lado) um integrante da Odebrecht com amostra de água de manguezal: ecossistema com papel estratégico no equilíbrio da zona costeira 52 informa Cidade do Panamá prepara uma revolução de saneamento e despoluição esti imado A M B I E N T E A texto Zaccaria Junior fotos Guilherme Afonso Cidade do Panamá impressiona pelo balneabilidade do mar, perdida há mais de 50 anos. conjunto de suas obras de engenha- Atualmente, as praias são impróprias para o banho e ria, desde o histórico Canal, que, com castigadas pela forte contaminação. 81 km, corta o istmo do Panamá, li- “O objetivo do projeto é levar saúde à população, gando os oceanos Atlântico e Pacífico, pois hoje os dejetos são descartados in natura direta- até os vários projetos de infraestrutura que lastreiam mente nos rios, nos riachos e, por consequência, no o acelerado crescimento do país, passando pelos mar”, explica Sérgio Bezerra, Diretor de Contrato da numerosos arranha-céus que brotam pela orla. É obra. “A médio prazo, vamos descontaminar a Baía e nesse cenário que surge uma das realizações mais a Cidade do Panamá”, acrescenta. O comentário tem emblemáticas da história recente do país: o Projeto como base a prioridade estabelecida pelo Governo de Saneamento da Cidade e da Baía do Panamá. panamenho ao projeto, considerado uma medida de Os principais componentes do sistema de sanea- preservação da saúde da população. Tanto que não mento da capital panamenha estão sendo executa- foi destacada uma pasta ligada à Infraestrutura para dos pela Odebrecht: o túnel interceptor e a planta de ser o cliente direto do projeto, mas o próprio Ministé- tratamento de águas residuais. Esse sistema evitará rio da Saúde. Sem o tratamento das águas, poderia que todo o esgoto doméstico continue chegando di- ocorrer, em algum momento, um estágio de satura- retamente aos rios e à Baía do Panamá e permiti- ção e a consequente contaminação do lençol freático rá que, no futuro, a população possa ter de volta a e das cisternas. informa 53 A importância do saneamento da baía é uma dade e da Baía do Panamá deverá estar concluído no unanimidade e vem ao encontro de uma expec- fim do primeiro trimestre de 2013. O projeto inclui a tativa de quatro décadas da população da capital. construção, pela Odebrecht, entre outros componen- Os primeiros estudos sobre as soluções de enge- tes, de um túnel interceptor de 8 km de extensão e 3 nharia para o saneamento foram realizados nos m de diâmetro interno, e de uma planta de tratamen- anos 1970. Francisco Martins, Responsável por to de águas residuais executada, em consórcio, pela Sustentabilidade na Odebrecht Panamá, comenta Odebrecht e a Degrémont S.A., que também serão que o projeto poderá resgatar a baía como princi- responsáveis por sua operação durante quatro anos, pal elemento paisagístico da Cidade do Panamá. sob regime de concessão. “Estima-se que, com a obra concluída, dentro de A planta de tratamento integra, em seu projeto, seis anos a baía comece a readquirir suas carac- soluções sustentáveis, como o uso do gás metano terísticas de balneabilidade. Na década de 1950, a gerado a partir do tratamento das águas residuais. população costumava frequentar a praia aqui na Essa fonte será utilizada para a produção de 18% capital”, relata Martins. da energia elétrica necessária à operação da planta. Já o túnel interceptor é peça-chave do sistema 54 Um túnel de 8 km de saneamento e está sendo construído a 25 m de Com mais de 70% do avanço físico acumulado em profundidade por uma máquina tuneladora TBM, dezembro de 2011, o Projeto de Saneamento da Ci- mais conhecida como “tatuzão”, que proporciona, ao informa Trabalhadores na perfuração do túnel interceptor: proteção contra ácidos e outras substâncias agressivas O Ministério da Saúde do Panamá planeja, a médio prazo, uma ampliação da planta, com o objetivo de atender à demanda até 2035. Para isso, antecipou a escolha da área de Juan Díaz, reservando 35 hectares, suficientes para a ampliação de forma modular. A planta, em sua fase atual, exigirá 11 hectares para sua construção. O mais rico manguezal da América Central A planta de tratamento está localizada em uma área costeira de terras úmidas reconhecida internacionalmente e designada desde 2003 como “Sítio Ramsar”. O título, conferido pela Agência Ramsar, teve sua origem em uma convenção realizada em 1971 na cidade iraniana homônima, quando representantes governamentais assinaram um tratado de cooperação para a conservação e o uso racional das terras úmidas, reconhecendo sua importância ecológica, econômica, cultural, científica e turística. O Panamá possui o mais rico manguezal da América Central. São 1.813 km2 de costas ocupadas somente por esse ecossistema. O manguezal de Juan Díaz, região da instalação da planta de tratamento, constitui um ecossistema bastante dinâmico, no qual exerce um papel estratégico no equilíbrio ecológico da zona costeira. Como absorve sedimentos e nutrientes das bacias hidrográficas, das marés e das correntes fluviais, possui elevada presença de mesmo tempo em que realiza a escavação, a cons- elementos nutritivos, funciona como verdadeiro ce- trução simultânea da estrutura do túnel com peças leiro de larvas, crustáceos e peixes, inclusive de valor de concreto pré-moldado e revestidas com PVC. A comercial, e é responsável por cumprir funções eco- tecnologia utilizada nesse revestimento garante a lógicas fundamentais para a regulação dos regimes vida útil do túnel por mais de 30 anos, ao proteger a hidrológicos e, consequentemente, climáticos. estrutura dos ácidos e de outras substâncias agres- Francisco Martins observa que, entre as medidas sivas encontradas no fluxo da água a ser tratada e de compensação apontadas pelo Estudo de Impacto que percorrerão seu interior. Já empregado em pro- Ambiental (EIA) da obra - documento técnico no qual jetos nos Estados Unidos e na Europa, é a primeira são avaliadas as consequências para o meio ambiente vez que esse recurso tecnológico é utilizado na Amé- decorrentes de um determinado projeto -, estava pre- rica Latina. vista a construção, perto da planta, de uma passarela Quando pronto, o túnel será a principal artéria para observação de aves, já que a área faz parte da rota responsável por conduzir as águas residuais prove- internacional de aves migratórias. No entanto, a ideia nientes do sistema coletor implantado na cidade até foi além e trabalha-se agora na criação do primeiro uma estação de bombeio, de onde o material seguirá Parque Urbano de Manguezais da Cidade do Panamá. através de uma linha de impulsão de 4,8 km até a “Há potencial para transformar esse manguezal planta de tratamento situada na área de manguezais em parque, pois já é uma área protegida desde 2009 de Juan Díaz, na Cidade do Panamá. e definida como um sítio Ramsar”, explica Martins, informa 55 Rosabel Miró e, na página ao lado, a Cidade do Panamá: sonho realizado ao acrescentar que o EIA também determina que 22 anos 1960 como um clube de observadores de pás- hectares de mangue sejam replantados, em respos- saros e de pessoas que gostavam da natureza), ex- ta à necessidade de desmate de 11 hectares para a plica que a localização do futuro parque também é obra. O parque, por sua vez, deve abranger uma área considerada “Sítio Hemisférico”, pela Rede Hemis- de cerca de 50 hectares. Francisco Martins ressalta férica de Aves Migratórias Praieiras (WHRAP, sigla que o projeto do parque foi concebido agregando três em inglês), uma vez que a região recebe anualmente linhas de ação: educação ambiental, pesquisa cien- cerca de 2 milhões de aves praieiras que fazem mi- tífica e uma linha de participação comunitária, e as gração do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul e três devem ser interligadas. elegem o local para descansarem, se alimentarem, “A criação do parque estará integrada a um am- 56 se reproduzirem e se desenvolverem. plo programa de educação ambiental, que não terá “A construção da planta e a consequente criação somente a capital panamenha como foco, mas tam- do parque tornará a área acessível ao público, pois bém as partes mais altas da bacia hidrográfica do antes ninguém conseguia chegar à área”, comemora Rio Juan Díaz, pois a contaminação do manguezal Rosabel Miró. Ela diz que será possível uma maior ocorre tanto horizontalmente, com os resíduos pro- sensibilização e educação ambiental sobre a impor- venientes da Baía do Panamá, quanto verticalmente, tância da região para os panamenhos. “Para mim pela poluição do rio”, explica Martins. será um sonho realizado ver que as crianças terão A pesquisa científica envolve a participação de acesso a uma área à qual eu, quando criança, não instituições como o Instituto Smithsonian e univer- tive. Que eles possam olhar, que possam aprender. É sidades norte-americanas, como a Universidade da uma oportunidade que eu não tive, mas na qual ago- Virgínia, que têm estudado a eficiência dos mangue- ra, felizmente, estou envolvida”, ela comenta, sem zais na captura de carbono. conseguir ocultar a euforia. As comunidades locais beneficiam-se diretamen- Com a criação do parque, é aguardada a presença te por meio das novas oportunidades geradas com de visitantes à região e a criação de oportunidades atividades como o ecoturismo de observação de aves. para que a comunidade local se desenvolva economi- Rosabel Miró, Diretora Executiva da Sociedade camente e tenha mais conhecimento sobre questões Audubon do Panamá (uma ONG que começou nos ambientais. A área de Juan Díaz compreende uma informa população de cerca de 80 mil pessoas. Em 27 de ju- curso piloto de Organização em Bases Comunitárias. lho de 2011, a Odebrecht Panamá lançou uma cam- Temos de aproveitar a experiência e a metodologia panha de voluntariado entre seus integrantes, para que já existe para, simultaneamente às atividades do a limpeza do manguezal. Em pouco mais de três ho- futuro parque, capacitar a comunidade interessada ras, foram retiradas de um trecho do local cerca de em se desenvolver”, destaca Betzuké Camargo, da 7 t de resíduos domésticos urbanos, como garrafas, equipe técnica do CREHO. potes, aparelhos de TV e até uma geladeira. Juan Gonzalez, 62 anos, 50 dos quais vividos na Para facilitar o acesso da comunidade aos compo- comunidade de Panamá Viejo, onde as ruínas da nentes educativos, a Odebrecht fechou convênio com antiga cidade convivem em harmonia com mangue- o Centro Regional Ramsar para a Capacitação e Pes- zais, já viveu da pesca de mariscos e caranguejos quisa sobre Terras Úmidas para o Hemisfério Ocidental na Baía do Panamá, atividade extinta com a con- (CREHO, sigla em espanhol). A entidade é especializa- taminação das águas. ”Espero que os turistas e a da em promover e coordenar a disseminação do co- população da cidade que vierem visitar o parque nhecimento por meio de cursos de capacitação. possam ser atendidos por pessoas da comunidade, como guias do mangue, ou comprar artesanato e acesso ao conhecimento para que seus integrantes comidas típicas.” O bem-humorado Gonzalez diz, possam se tornar agentes disseminadores e assim em meio a um sorriso: “Temos que aprender mais contribuir para o desenvolvimento de uma consciên- sobre o manguezal para poder ensinar e, quem cia sustentável. Estimamos que de 20 a 25 pessoas sabe, até poder explicar em inglês, ou em ‘brasi- sejam capacitadas em um ano em nosso primeiro leño’ aos visitantes”. Acervo Odebrecht “Pretendemos fazer com que a comunidade tenha informa 57 58 Sérgio, Thaynize e Ericka: atuando como multiplicadores 58 informa edu Em São Paulo, em Pernambuco e na Bahia, concessionárias de rodovias contribuem para a formação de motoristas e pedestres mais conscientes texto Thereza Martins fotos Tiago Lubambo O LIVRE TRÂNSITO DA ducação informa 59 K átia Lima da Silva, Diretora da Escola Municipal Maria Madalena Tabosa Lopes, não acreditava que o projeto apresentado pela equipe da Concessionária Rota dos Coqueiros pudesse dar certo. Era uma pro- posta educacional associada a um plano de melhorias e manutenção, e a aplicação deveria ser imediata. “Ouvimos muitas promessas no passado, sem resultado prático”, diz Kátia. Por isso o descrédito. Localizada a curta distância entre a praia e o asfalto, a escola atende às crianças da comunidade de Itapuama, no litoral sul de Pernambuco, há mais de 30 anos, e, desde sempre, todos os caminhos eram de terra. O cenário mudou recentemente, com a chegada do Sistema Viário do Paiva, formado pela Via Parque, de 6,2 km, ligando os municípios de Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes, e pela ponte Arquiteto Wilson Campos Júnior, de 320 m de extensão sobre o Rio Jaboatão. A rodovia e a ponte foram inauguradas em junho de 2010. Desde então, os habitantes de Itapuama convivem dos requisitos contratuais e adotar a escola. “O pri- com o fluxo diário de 9 mil veículos à sua porta, com pers- meiro passo foi recuperar as instalações hidráulicas, pectiva de se tornar cada vez mais intenso por conta das a começar pelos banheiros usados pelas crianças”, atividades econômicas em torno do porto de Suape, al- relata Ivan Moraes, à época Diretor Operacional da guns quilômetros ao sul, e também de empreendimentos Rota dos Coqueiros e hoje atuando em outro projeto imobiliários planejados para a região. viário da região, a Rota do Atlântico. julho de 2011, com o envolvimento de toda a equipe da O trânsito impõe regras de convivência e elas pres- concessionária e o apoio das empresas prestadoras de supõem um aprendizado. “O contrato da Concessionária serviços de manutenção na Via Parque. “O resultado su- Rota dos Coqueiros [formada pelos acionistas Odebrecht perou muito as nossas expectativas”, afirma Jerusa Lo- TransPort e Grupo Cornélio Brennand], assinado com o pes, professora da Maria Madalena Tabosa Lopes há mais Governo de Pernambuco, por meio do Comitê Gestor das de 10 anos. Parcerias Público-Privadas (PPP), prevê a aplicação de Hoje, há ventiladores nas salas, em algumas até ar- um projeto de educação para o trânsito desenvolvido para -condicionado, dois computadores com internet sem fio as escolas localizadas ao longo do sistema viário do Pai- e cerca de 500 livros na biblioteca, jardim sempre bem- va”, informa a engenheira Rafaela Elaine Araújo, Gerente -cuidado e a garantia de apoio total à manutenção do imó- Operacional da concessionária. vel por mais de 30 anos, período de concessão do sistema A primeira escola a ser beneficiada, a Maria Madale- viário. “À medida que os trabalhos avançavam, nós, pro- na Tabosa Lopes, funcionava em um pequeno e precário fessores, voltamos a sonhar”, diz Jerusa. “Até a partici- imóvel. “Precisávamos de quase tudo: novas instalações pação dos pais nas reuniões da escola melhorou. Temos hidráulicas e elétricas, pintura, equipamentos, biblioteca um espaço agradável a oferecer para a comunidade de para os alunos e espaço de vivência e recreação”, enume- Itapuama.” ra a Diretora Kátia. 60 As obras foram realizadas entre dezembro de 2010 e Educação para o trânsito Com a escola reformada, a área de convivência, um Em tais condições, como pensar em um projeto pátio coberto, passou a ser utilizado também para reu- educacional e de formação cidadã? Em resposta a niões de associações locais, em período noturno e finais essa pergunta, a Rota dos Coqueiros decidiu ir além de semana. informa informa minhada dos alunos até a praça de pedágio do município, levando cartazes e folhetos para distribuir aos motoristas. “Em 2012, novos módulos educacionais serão iniciados e os professores de outra escola municipal, dessa vez em Jaboatão dos Guararapes, com cerca de 600 alunos, começarão a ser capacitados”, informa Flávia Queiroz, da equipe de Sustentabilidade. O projeto Educação para o Trânsito faz parte de um programa socioambiental mais amplo, em fase de implementação na faixa de praias que emoldura os municípios de Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes. O programa contempla atividades de educação ambiental, reciclagem, esporte e, futuramente, de geração de renda. Rota das Bandeiras e Bahia Norte Jerusa Lopes (à esquerda) e Kátia Lima da Silva: expectativas superadas As concessionárias Rota das Bandeiras, em São Paulo, e Bahia Norte, na região metropolitana de Salvador, também desenvolvem atividades de educação para o trânsito. A Rota das Bandeiras, concessão que abrange o Cor- Capacitação de professores redor Dom Pedro I, onde se concentram 17 municípios, já O projeto Educação para o Trânsito evoluiu em eta- realiza campanhas de sensibilização de motoristas e pe- pas, com o acompanhamento da Secretaria de Edu- destres. “Em 2012, iniciaremos um programa educacio- cação do Cabo de Santo Agostinho. Inicialmente, os nal nas escolas municipais da região”, informa Adherbal professores foram capacitados por uma empresa es- Vieira da Silva, Gerente de Responsabilidade Social. pecializada, com a proposta de aplicar a questão do Os professores serão treinados como multiplicado- trânsito como tema transversal às disciplinas regula- res, e haverá distribuição de material didático aos alunos, res do Ensino Fundamental. incluindo manuais, jogos e vídeos. “O objetivo é oferecer Ao mesmo tempo em que aprendem português, mate- uma oportunidade de reflexão e reeducação para a con- mática, história e geografia, os 87 alunos da escola rece- vivência no trânsito, por meio da mudança de condutas e bem informações sobre sinalização, limite de velocidade, comportamentos”, enfatiza Adherbal. Inicialmente, o pro- a importância do uso do cinto de segurança, direitos e de- grama começará em escolas de três municípios: Atibaia, veres dos motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Igaratá e Itatiba. Aos poucos, o raio de atuação será am- “Aprendi que, se beber bebida alcoólica, o motorista colo- pliado até chegar, em 2020, aos 17 municípios da região. ca em risco a própria vida e a de quem estiver por perto”, diz Thaynize da Silva, 11 anos, aluna da 5º ano. As campanhas desenvolvidas pela Concessionária Bahia Norte, em 2011, mantiveram o foco em saúde e ci- O objetivo do projeto é, também, que as crianças le- dadania, a partir da segurança no trânsito e travessia de vem os novos conhecimentos para casa e atuem como pedestres. Em setembro, cerca de 300 crianças de esco- multiplicadoras com seus familiares. “Com o movimento las municipais de Candeias, Salvador e Lauro de Freitas de carros, devemos estar atentos ao atravessar as ruas e participaram de palestras realizadas pela equipe de res- andar de bicicleta”, salienta Ericka Marques, 8 anos. “E gate da concessionária. também ao jogar bola na rua”, comenta Sérgio dos Santos, 10 anos. Para 2012, a Bahia Norte está desenvolvendo um projeto de educação para o trânsito que terá a par- Como parte das atividades propostas, as crianças ticipação de escolas situadas ao longo do sistema de utilizam os conhecimentos adquiridos em redação, de- rodovias BA-093. A ideia é capacitar professores e en- senhos, jogos e passeios. Em setembro, por ocasião da volver alunos em atividades lúdicas, o que torna a te- Semana Nacional do Trânsito, a escola organizou uma ca- mática mais leve e atraente. informa informa 61 jogo NO CONTROLE DO texto Rubeny Goulart fotos Bruno Veiga 62 62 informa Programa Escola em Ação começa a capacitar gestores na própria comunidade A o ser implantado, em agosto de 2007, o Programa Escola em Ação, fruto de parceria entre a Odebrecht Óleo e Gás (OOG), a Unesco e a Secretaria de Educação de Macaé (RJ), tinha como meta estimular e apoiar, entre os participantes, de forma autossustentável, o exercício da cidadania e a inclusão social. Valendo-se do espaço livre das escolas durante os fins de semana, o programa integrou alunos, pais, professores e a comunidade local por meio de atividades profissionalizantes, esportivas e culturais. Agora o Escola em Ação entra em nova etapa. Em 2012, investirá na capacitação de novos gestores, para, então, ser inteiramente dirigido por integrantes da própria comunidade. Hoje, os três projetos que compõem o Escola em Ação – Abrindo Espaços, voltado a atividades esportivas e culturais, Caia na Rede, de inclusão digital, e Qualificação Profissional, que fomenta o ingresso de jovens no mercado de trabalho – são realizados em oito escolas de Macaé e atendem a 6.412 alunos, o que representa um crescimento de 250% em comparação ao realizado em 2009. “O programa evoluiu bastante e agora seus projetos serão executados por seus participantes diretos, que, na verdade, são os que promovem as grandes transformações sociais”, explica Emile Machado, Coordenadora de Responsabilidade Social da OOG. “Continuaremos oferecendo suporte na gestão, mas o programa vai andar com as próprias pernas.” Trata-se, segundo ela, de repassar aos futuros responsáveis as ferramentas de gestão que lhes permitirão sistematizar, mensurar e aperfeiçoar o programa. O projeto Abrindo Espaços é um bom exemplo da autonomia que já tomou corpo entre os participantes. Desde que foi implantado, em agosto de 2007, no Colégio Municipal Engenho da Praia, no bairro de mesmo nome, esse projeto impactou, de uma forma ou de outra, os 2.559 alunos, seus professores e pais, e vem mudando substancialmente a vida dos 80 integrantes envolvidos na prática de futsal e hóquei indoor. “Com a prática esportiva, as crianças descobriram seus direitos e deveres de cidadãs”, diz, entusiasmada, a Diretora da escola, Ivone de Jesus Rodrigues. “Uma Bruno da Silva Souza: com a prática do hóquei, seu desempenho escolar melhorou grande transformação está acontecendo aqui”. A prática de hóquei, uma antiga tradição em Macaé, está sendo resgatada com méritos por alunos informa 63 Alunos praticam capoeira: instrumento a serviço da formação de cidadãos do Engenho da Praia. Em agosto último, ao dispu- percebida também nas mudanças de comportamen- tarem o 29º Campeonato Intercolegial, na primeira to dos alunos. Bruno da Silva Souza, de 13 anos, era competição fora da escola, conseguiram um honroso desinteressado por esporte e tinha baixo rendimento quarto lugar. O resultado surpreendeu até o treinador escolar. Desde que passou a jogar hóquei, como go- da equipe, Alessandro Alves, 25 anos, voluntário do leiro, melhorou as notas e, pelo que se comenta na Abrindo Espaços, que trabalha como assistente admi- escola, anda bem mais comportado. Recebeu muitos nistrativo de uma empresa de eventos esportivos em elogios pelo seu desempenho no 29º Intercolegial e Macaé. “No ano que vem, vamos brigar pelo título!”, chegou a ser sondado para treinar no time de hóquei diz ele. do Colégio Pedro II em troca de uma bolsa de estudo. Está pensando no assunto. Mudanças de comportamento 64 Ganhar títulos, medalhas ou outras honrarias é o Transformações nos hábitos pessoais dos alunos, sonho desses pequenos atletas, embora, para a maio- na sua convivência dentro e fora da escola, sinalizam ria de seus pais, a mera participação em atividades que o Abrindo Espaços amadureceu. “A autoestima socioesportivas e educativas já seja compensador. dos alunos aumentou, eles estão mais educados e Adriana Silva, 37 anos, vê no programa a oportunida- calmos e pensam no futuro”, salienta Ivone Rodri- de para a filha, Maria Vitória, 9 anos, reforçar valores gues. É o caso de Andressa Hespanhol, 13 anos, jo- como compromisso, disciplina e responsabilidade. gadora de hóquei e praticante de arremesso de dardo, “Felizmente, minha filha gosta de aprender”, diz. “No martelo e disco. No momento, está divida entre fazer futsal, jogo na defesa, e, na escola, minha matéria a prova para guarda-mirim ou aceitar o convite para preferida é a Matemática”, informa a pequena Maria treinar no atletismo do Santos, em São Paulo. Vitória. A certeza de que os efeitos do Escola em Ação No Programa Escola em Ação, bom rendimento vão muito além dos seus projetos pontuais pode ser escolar, sociabilidade, respeito ao outro e demais re- informa gras de cidadania são tão estimulados quanto as ati- chove”, observa Maria. “Mas nosso maior esforço é vidades extra-classes, sejam esportivas ou culturais. integrar os pais nas atividades dos filhos”, acrescenta. Esse padrão de educação, que dá a verdadeira dimen- As dificuldades da Diretora do Colégio Municipal são do programa, impõe aos voluntários papéis que Eraldo Mussi, Adelina de Jesus Ribeiro, são pareci- vão muito além de apenas operadores. das. Residente no Rio de Janeiro, ela passa os cinco “Aqui, muitas vezes, sou como um pai”, diz Jefferson dias úteis da semana em Macaé, dirigindo uma esco- Warlem Coutinho Gomes, o Mestre Dino, que dá aulas la com 353 alunos no bairro das Malvinas, uma das de capoeira na Escola Municipal Balneário Lagomar. Fi- áreas mais pobres do município, ainda dominada pelo lho de militar, ele exige muito de seus alunos e revela tráfico de drogas. “Nosso desafio é desconstruir o co- sua técnica: “Muito amor, carinho, respeito mútuo e, cla- tidiano de violência com ações participativas e solidá- ro, trabalho duro. Aqui nós formamos cidadãos”. rias, com o exercício livre da cidadania”, ela ressalta. Não é uma tarefa fácil disseminar noções de ci- No Eraldo Mussi, esse exercício acontece nas aulas dadania entre crianças e adolescentes que, muitas de capoeira, das quais participam 30 alunos, e tam- vezes, vivem em ambiente marcado pela violência e bém em outras ações do Abrindo Espaços que envol- pela ruptura com as regras sociais. A voluntária Ma- vem o restante da comunidade. Na festa do Dia das ria das Neves Fernandes, que atua como mobilizado- Crianças, realizada pelo programa, muitas mães aju- ra do Abrindo Espaços na comunidade do Lagomar, daram na organização e na decoração, enquanto ou- coleciona histórias dramáticas, como o caso de duas tras se ocupavam do preparo de bolos e quitutes. “So- crianças que têm mãe alcoólatra e irmãos mais velhos mos semeadores de uma nova forma dessas crianças que cumprem pena por tráfico de drogas. “A capoeira encararem a vida, não só na escola, mas dentro e fora é um refúgio para eles, que vêm às aulas até quando de casa”, diz a Diretora Adelina. À frente, Luana (com a medalha), Franciele e Yasmin; atrás, Maria Vitória, Kemilyn e Andressa: comemorando os resultados do 29º Campeonato Intercolegial informa 65 66 vertic SUSTENTABILIDADE 66 informa OR é hoje uma das empresas com maior número de edifícios verdes do país texto Renata Meyer Q fotos Arthur Ikishima uando o projeto do Residencial Park One Ibirapuera começou a ser elaborado, no início de 2011, as equipes de Engenharia e de Incorporação da Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR) não tiveram dúvi- das: era preciso investir em diferenciais para criar um produto capaz de superar as expectativas do exigente público adepto do bairro Paraíso, em São Paulo, onde o empreendimento de alto padrão será construído. A ideia de investir em soluções construtivas sustentáveis, que promovam o uso racional dos recursos ambientais, com foco na redução dos impactos à natureza, logo ganhou espaço. “Os projetos verdes têm tudo a ver com a nossa cultura empresarial, com a forma como atuamos nas nossas obras e no entorno delas. Aliado a esse fator, fizemos estudos e pesquisas que nos mos- ical Hangar: primeiro empreendimento comercial do Brasil a receber a etiqueta de eficiência energética do Procel/Inmetro tram uma crescente receptividade do público a esse tipo de empreendimento”, afirma Ricardo Toscani, Diretor de Construção do Park One. O relato de Toscani reflete uma tendência que tem se tornado cada vez mais frequente na OR. Com seis empreendimentos em fase de certificação de sustentabilidade e um pré-certificado, todos no Estado de São Paulo, a OR é hoje uma das empresas com o maior número de edifícios verdes do país. A gestão da energia, um dos aspectos com maior peso nos processos de avaliação dos órgãos certificadores, está entre os destaques desses projetos, que aliam tecnologia e criatividade na busca de soluções capazes de garantir um alto grau de eficiência no uso desse recurso. informa 67 Iluminação solar e ventilação natural Primeiro empreendimento residencial verde da OR, composto por uma torre única, com 25 pavimentos e 50 unidades, o Park One Ibirapuera teve toda sua concepção arquitetônica baseada em estratégias para a redução do consumo de energia, uso racional dos recursos naturais e conforto do usuário final. Medidas que favorecem o aproveitamento máximo da iluminação solar e da ventilação natural foram implantadas, como o emprego de janelas com dimensões superiores ao mínimo exigido por legislação. Também está prevista no projeto do Park One a implantação de sistemas inteligentes de iluminação acionados por sensores de presença, sistema regenerativo de energia nos elevadores para reaproveitamento da energia cinética gerada na parada do equipamento e sistema de aquecimento solar de água, suficiente para suprir 40% da necessidade de consumo de água quente do edifício. Entre as premissas adotadas no projeto está a escolha de equipamentos elétricos de alto desempenho e baixo consumo energético. O conjunto de soluções sustentáveis adotadas pelo empreendimento representará um acréscimo de 3% no custo direto de produção da obra. “A longo prazo, essas medidas vão permitir uma economia significativa no custo operacional e de manutenção do condomínio, beneficiando o usuário final”, afirma Toscani. Referencial de sustentabilidade O Park One Ibirapuera começará a ser construído em março de 2012, mas já é considerado um referencial de sustentabilidade dentro da empresa. O empreendimento está em processo de certificação pelo sistema Aqua, que avalia os edifícios residenciais com base em 14 categorias, desde a relação com o entorno na execução das obras, passando pelo gerenciamento de resíduos, até a gestão de água e energia. Em setembro de 2011, conquistou a certificação na fase Programa, a primeira das três fases que constituem o sistema de avaliação. Baseada em normas francesas, a certificação Aqua analisa ainda a Concepção e a Realização do projeto, e é concedida pela Fundação Vanzolini, da Universidade de São Paulo (USP). Na área comercial, um dos destaques da OR é o já concluído iTower, edifício com 26 pavimentos, integrado ao Shopping Iguatemi, em Alphaville, São Paulo. Reconhecido pelo alto nível de tecnologia, segurança e conforto das suas instalações, o empreendimento é o primeiro da empresa a receber a pré-certificação LEED (Leadership in Energy and Enviromental Design), concedida pela US Green Building Council. “O selo verde tem sido cada vez mais valorizado pelas grandes corporações, que já perceberam os benefícios de imagem e a economia operacional proporcionados pelas construções sustentáveis”, afirma Marcelo Valadão, Diretor de Construção da Regional Centro-Sul da OR. 68 informa Com 26 andares, o iTower é reconhecido pelo alto nível de tecnologia, segurança e conforto de suas instalações Para garantir uma performance de operação eficiente e adequar os investimentos à realidade do iTower, a empresa desenvolveu protótipos e realizou simulações durante a execução das obras, com o objetivo de testar as soluções construtivas a serem implantadas no empreendimento. “O sucesso das construções sustentáveis está fortemente relacionada ao nível de comprometimento das equipes com as diretrizes estabelecidas nos programas de ação. Assegurar que todos os envolvidos tenham uma atuação convergente ao longo do processo é um dos grandes desafios à gestão dos projetos” ressalta Valadão. Etiqueta de Eficiência Energética Em Salvador, a OR está construindo o Hangar, primeiro empreendimento comercial do Brasil que irá receber a etiqueta de eficiência energética do Procel/Inmetro, resultado de um convênio entre a empresa e o Grupo Neoenergia, que controla a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba). O sistema, tradicionalmente aplicado para a avaliação de desempenho dos eletrodomésticos, ganhou a sua versão no setor imobiliário – Procel-Edifica -, em uma iniciativa que visa incentivar a elaboração de projetos que promovam o uso racional da energia elétrica. Entre os principais itens avaliados pelo programa estão os sistemas de iluminação e de condicionamento de ar das edificações, além das características construtivas das fachadas e coberturas. A certificação é feita em duas fases: uma avalia as premissas do projeto; a outra, após a construção do empreendimento, analisa se todos os itens previstos foram executados na prática. Após a avaliação final, os edifícios são classificados em uma escala de eficiência energética que varia de “A” (mais eficiente) a “E” (menos eficiente). Serão contabilizadas como bonificações extras no processo de certificação Procel Nível A, os sistemas e equipamentos que racionalizam o uso da água pluvial e o aquecimento solar de água. Já certificado na primeira fase, o Hangar, complexo formado por sete torres comerciais e duas torres hoteleiras, será dotado de vidros laminados eficientes que diminuem a incidência de radiação solar direta e paredes com baixo índice de transmissão térmica, favorecendo a redução no uso de condicionadores de ar. Para consumir menos energia, os edifícios do complexo também terão sistemas de iluminação artificial de alta eficiência, equipados com dispositivos de controle para desligamento automático. Nos sistemas de condicionamento de ar, a prioridade será dada aos equipamentos com classificação “A” na avaliação do Procel/Inmetro. A meta da OR é que, ao final da construção, o Hangar alcance o nível “A” quanto à eficiência energética e represente um estímulo para novas construções sustentáveis. informa 69 70 possí UM SONHO 70 informa texto Emanuella Sombra fotos Edilson Silva sível Parceira com os Salesianos Dom Bosco permite a realização de projetos em uma das áreas mais carentes de Luanda informa 71 “T ínhamos um sonho maravilhoso, que as empresas incentivassem seus líderes a participarem de atividades nas quais cada um, de acordo com a sua qualificação, se enquadrasse em um projeto social. Seria de uma riqueza imensa para as grandes organizações e para as pessoas que trabalham nelas. Elas seriam guiadas por uma motivação simples, a motivação de ajudar”, diz, reflexivo, o padre italiano Stefano Francesco Tollu, em uma das salas paroquiais da Igreja de São Paulo, em Luanda. Para entender a fala do padre Stefano é preciso voltar 10 anos no tempo. Mais precisamente a 2001, um ano an- ponibilizar, sem custos, todo o apoio técnico de engenharia tes do término dos conflitos armados em Angola, cujo sal- e agregar outros parceiros, como a Prado Valladares, que do fez despertar, nas instituições nacionais e estrangeiras, refez o projeto e ampliou de forma significativa a área cons- uma palavra de ordem e uma atitude urgentes: reconstru- truída, o que possibilitou o aumento do número de vagas, ção. Nascia, naquela época, a parceria da Odebrecht Ango- de 1.390 para 5.580 alunos. Em contrapartida, os Salesia- la com os Salesianos Dom Bosco, congregação da Igreja nos firmariam parceria em um programa de alfabetização Católica que já realizava trabalhos humanitários no país no canteiro da Odebrecht de Luanda Sul. desde a década de 1980. cursos financeiros adicionais. “Nossos recursos vêm basi- brecht imaginava”, relembra padre Stefano, enquanto meni- camente da Igreja, de embaixadas ou instituições estrangei- nos jogam bola em uma quadra de esportes construída ao ras”, explica o padre argentino Marcelo Ciavatti, que também lado da Igreja. O sentimento de dever cumprido do missio- coordena as atividades filantrópicas do Dom Bosco. Segundo nário, atual coordenador das obras sociais dos Salesianos, ele, a visão da Odebrecht resultou em um avanço significa- só não é maior que a sensação de que há muito a fazer. “Em tivo nas ações que os Salesianos desenvolvem em Angola. nosso país, as empresas que têm uma visão social são, em “A Europa, por exemplo, que sempre nos ajudou financei- grande maioria, da área da construção civil. E, mesmo as- ramente, agora vive uma crise econômica. As doações vêm sim, é uma visão nova.” diminuindo ano a ano, e nesse sentido, a parceria foi funda- Apoio financeiro 72 Parceria fechada, obra pronta sem necessidade de re- “O apoio ao Dom Bosco teve resultados que nem a Ode- mental para o nosso trabalho.” Em um país onde estima-se que apenas 67,4% da po- A fala do padre Stefano sintetiza uma parceria que re- pulação foi alfabetizada, a conclusão das obras do Colégio sultou em projetos como a reforma e ampliação do Colégio Dom Bosco, em 2004, surtiu um efeito imediato: após a Dom Bosco, no bairro do Sambizanga, um dos mais po- inauguração, 3.900 novas vagas foram abertas para crian- bres e populosos da capital. Os Salesianos tinham, para o ças dos 1º e 2º graus. Em outra frente, a construção de projeto de ampliação, recursos da ordem de 2 milhões de nove quadras poliesportivas nas comunidades luandenses euros, doados pela União Europeia, mas os orçamentos de Mota, Trilho e Mabubas contribuíram para a inserção apresentados por outras construtoras chegavam a quase o de 18.300 jovens carentes em atividades extracurriculares, dobro desse valor. Diante disso, a Organização propôs dis- como aulas de futebol, basquete e capoeira. A construção informa No mosaico de fotos, alunos do Dom Bosco em atividades variadas e o padre Marcelo Ciavatti: apelo por investimentos em educação e capacitação profissional la, que, aos 35 anos, se emociona ao lembrar que, no canteiro de Luanda Sul, sentou-se pela primeira vez em uma carteira escolar. A maioria dos estudantes tem a mesma história de vida: fugiu do interior para a capital durante a guerra e, diante da necessidade de sobrevivência, teve de trocar o estudo pelo trabalho informal. João Martins Fernando, 34 anos, é um deles. Natural da Província de Malange, teve o primeiro trabalho formal na Odebrecht. Atualmente na 4ª série, lembra que abandonou a escola, ainda adolescente, para fugir da “rusga”, como os angolanos chamavam o recrutamento militar obrigatório durante a Guerra Civil. “Não me importo com o cansaço depois de um dia inteiro de trabalho. Meu objetivo é continuar estudando depois, em alguma escola do Governo.” Responsável pelos programas de combate ao HIV/Aids e Jorge Palma à Malária da Odebrecht Angola, Jorge Preto viu a parceria com a instituição católica nascer, em 2001, e acompanha diariamente o programa de educação para os operários. Preto se emociona com as histórias que ouve. “Esse programa mexe na autoestima das pessoas, e é um benefício para a vida toda”, diz. “Os angolanos podem até lembrar que nós das quadras – sete delas entregues em 2011, no Centro So- fizemos shopping, estradas, condomínios... Mas o que ficará cial São Domingos Savio, em Mabubas - foi possível graças na memória deles é o que nós fizemos além. A parceria com ao apoio financeiro da Odebrecht. os Salesianos é esse além”. Além das atividades recreativas que ocorrem no centro Preto trabalha no desenvolvimento de ações de comba- social, são realizados cursos de capacitação profissional, te a doenças infectocontagiosas, atuação possível graças à como de carpintaria, serralheria, informática e corte e parceria que completa 10 anos em 2011. A partir do trabalho costura. “Outras empresas precisam perceber que, sem conjunto entre Salesianos e Odebrecht, foram confecciona- investimento em educação e capacitação profissional, elas das e distribuídas 50 mil cartilhas que vêm servindo como próprias não evoluem”, avalia o padre Ciavatti. “Com a paz base para os agentes multiplicadores em programas de e a chegada do desenvolvimento em Angola, percebemos conscientização sobre o HIV. Esses programas são realiza- que a maioria dos profissionais locais realiza suas tarefas dos nos 22 centros comunitários de Luanda, onde os Sale- sem uma formação adequada.” sianos Dom Bosco desenvolvem atividades comunitárias, além de unidades em outros seis municípios do interior. Alfabetização no canteiro de obras “As ações desenvolvidas nessa parceria vão muito além Parte das atividades resultantes da parceria começa das realizações físicas. Os Salesianos nos inspiraram, ao dentro da própria Odebrecht. No canteiro de Luanda Sul, longo desses anos, com sua capacidade de realizar tanto 120 operários angolanos já foram ou vêm sendo alfabetiza- com tão pouco”, diz André Vital, Diretor-Superintendente dos pelo método Dom Bosco de ensino, reconhecido pelo nos Mercados Bahia e Sergipe da Odebrecht Infraestrutura. Ministério da Educação de Angola. As aulas englobam da Ele foi, ao lado de padre Luiz Piccoli – que hoje vive em Mo- alfabetização ao que corresponde à 6ª série do primeiro çambique, onde desenvolve outras obras sociais – um dos grau, e têm duas horas de duração. Os integrantes que responsáveis pela ampliação da parceria, a partir de 2002, aceitam participar “doam” uma hora da sua folga diária e, época em que era Diretor de Contrato das obras de Sanea- em contrapartida, a empresa diminui sua jornada diária de mento Básico de Luanda. Sobre a reflexão do padre Stefano, trabalho em uma hora. registrada no início desta reportagem, André afirma: “Essa São pessoas como o carpinteiro Figueira Albino, que aos motivação faz parte da nossa responsabilidade empresarial: 47 anos está na 4ª série e pretende continuar os estudos promover o desenvolvimento sustentável das regiões em após deixar a obra, ou como o pedreiro Filipe Jorge Quinque- que atuamos. Isso faz parte do nosso negócio”. informa 73 74 recom O BRILHO DO texto Emanuella Sombra fotos Jacinto Figueiredo Engraxates de Luanda recebem oportunidades de estudo e melhores condições de trabalho 74 informa meço Antônio Francisco Suane: “Agora é mais seguro” informa 75 A ntônio Francisco Suane viveu, aos 9 reconstrução de praças, calçadas e paradas de ônibus, anos, uma experiência conhecida por meninos e adolescentes engraxates permaneciam nas milhares de crianças angolanas que, calçadas enfrentando as mesmas condições de trabalho após os conflitos armados no país, mi- de antes – sentados sobre papelões, caixotes ou móveis graram sozinhas do interior para a ca- quebrados – e acabavam sujando as calçadas e os mu- pital em busca de melhores condições de vida. Sem um ros depois de um dia inteiro de trabalho. endereço certo, partiu da Província de Kwanza-Sul em “Percebemos que a atividade deles não estava 2002, mesmo ano em que o país iniciou seu processo de acompanhando o desenvolvimento da cidade e aca- paz. Hoje, em uma rua movimentada de Luanda, Antônio bava em desarmonia com a estética atual das vias”, segue os passos da informalidade engraxando sapatos, explica Virgínia Machado, Responsável pela Área atividade que resiste ao tempo na metrópole de quase 6 Social e por Relações Comunitárias do Projeto Vias milhões de habitantes. de Luanda, da Odebrecht. A partir de um pedido do Desde junho de 2010, a rotina de lustrar calçados Governo Provincial, que reconhecia a necessidade de de couro e escovar sandálias de camurça ganhou iniciar um programa social voltado ao trabalho in- uma dignidade que ele ainda não havia experimenta- formal, chegou-se ao denominador comum de aliar do. “Agora é mais seguro, trabalho tranquilamente, um pedido do cliente à visão da própria empresa. não preciso fugir da polícia”, diz, sorrindo, o garoto Virgínia, que é baiana, buscou outra inspiração que de 18 anos e de pouca conversa. fosse positiva para o jovens angolanos: o Projeto Axé, A mudança na rotina de Antônio veio de uma iniciativa simples: adaptar o modelo dos pontos de ônibus dedicado à inclusão social de crianças e jovens de Salvador. (em Angola, conhecidos como paragens) e transformá- “Nosso objetivo é contribuir para que eles se engajem -los em locais de trabalho onde os engraxates pudes- no mercado formal, de maneira que outros jovens pos- sem contar com melhores condições para exercer sua sam ser incluídos no Paragem do Brilho”, diz Virgínia, atividade, e os clientes, mais conforto. Assim nasceu o enquanto observa a rotina dos engraxates em uma ma- projeto Paragem do Brilho, uma parceria da Odebrecht nhã de segunda-feira. Angola com o Governo Provincial de Luanda concebida Um deles é Jorge Pedro, um rapaz franzino que apa- para ser um instrumento de inclusão social ao propor- renta mais idade do que tem. Aos 19 anos, diz que a van- cionar melhores condições de vida a jovens angolanos tagem de trocar a calçada pela paragem é poder usar que vivem de lustrar sapatos. um uniforme. “Sinto que as pessoas me olham de uma “A finalidade do projeto não é torná-los engraxates para toda a vida, mas inseri-los em um contexto em que forma diferente, com mais respeito, mais confiança”, afirma. aprendam a ser organizados, a ter compromisso com Embora a valorização da aparência signifique pouco um ofício e a valorizar uma profissão”, explica Edson para um ofício que é, basicamente, escovar sapatos, Cristóvão Duarte, um dos educadores do projeto. Atual- esses cuidados se refletem na estima que eles próprios mente, o Paragem do Brilho acompanha o trabalho de têm por seus instrumentos de trabalho. Além de usufru- 30 jovens em três paragens, uma construída na Avenida írem das instalações, os participantes do programa re- Revolução de Outubro e outras duas na Avenida Ho Chi cebem, periodicamente, uniformes personalizados, cra- Min. Cada uma delas é coberta de uma estrutura de vi- chás de identificação e material de trabalho, que inclui dro e metal, e possui cinco bancos de madeira com su- caixote de madeira, graxas, flanelas, escovas e pincéis. porte para os pés. Os clientes já deram sua contrapartida: de acordo com os coordenadores da iniciativa, a renda dos engraxates Nova cara para a cidade 76 vem aumentando de 30% a 50%. O projeto Paragem do Brilho foi idealizado no decor- A perspectiva é de que novas paragens sejam cons- rer das obras do Projeto Vias de Luanda, no qual a Ode- truídas em 2012, para que um maior número de angola- brecht trabalha revitalizando grandes avenidas da capi- nos seja atendido. Iniciado em abril de 2010, o Paragem tal. As equipes da empresa observaram que, enquanto do Brilho pretende encaixar cada um dos selecionados a paisagem urbana ganhava um aspecto novo após a em várias etapas, que incluem regularização de docu- informa Uma “paragem” transformada em local de trabalho para os engraxates: jovens desenvolvendo compromisso com um ofício mentação pessoal, alfabetização, ingresso no Ensino em Luanda, o adolescente passou um período morando Fundamental e reaproximação familiar. Virgínia cita ou- nas ruas, sem contato com a família. Graças ao projeto, tro exemplo: “Estamos promovendo aulas de artesanato Ricardo se reaproximou de alguns parentes que vivem para que os meninos aprendam a reaproveitar sapatos na capital e voltou a morar com um deles. estragados e confeccionar novos”. “Ao acompanhar esses meninos, percebemos que a maioria deles está há cinco, seis anos nas ruas. Eles fi- Reconstruindo um sonho cam expostos ao álcool, às drogas”, lamenta o educador Ricardo Manuel Baiano, 20 anos, é um dos que en- Felix Barros Pinheiro. “Este projeto, além de procurar a xergam a possibilidade de entrar para o mercado formal. reinserção desses jovens no seio familiar, contribui para Quer ser pintor. Diariamente, viaja quilômetros da peri- que eles permaneçam na escola.” feria de Luanda até a paragem da Avenida Revolução de Uma das exigências para participar do Paragem do Outubro, no centro. O caminho de casa, onde vive com a Brilho é que os jovens frequentem periodicamente as irmã mais velha, até o trabalho é percorrido em uma das aulas. Por isso, os grupos são divididos em turnos. Em milhares de candongas, as vans que são o tipo de trans- cada uma das três paragens, enquanto um grupo de porte mais popular de Luanda. Ele enfrenta engarrafa- cinco engraxates trabalha pela manhã, outro vem à tar- mentos gigantescos. Ricardo é pura perseverança. “Às de. Os que já são alfabetizados são inseridos no ensino vezes, é cansativo, mas venho trabalhar todos os dias. regular pela Escola 2027, instituição ligada ao Governo Depois aqui, ainda assisto à aula”, diz. Provincial, que avalia o grau de conhecimento escolar de Ricardo participa do curso de alfabetização ofereci- cada um dos engraxates, de forma que eles possam rei- do pelo Paragem do Brilho em parceria com o Colégio niciar os estudos de uma série compatível com seu grau Dom Bosco, administrado por padres missionários que de aprendizado. Para todos eles, o brilho estampado no chegaram a Angola no final da década de 1970. Como a olhar é o de quem mal começou a vida. É o brilho do maioria dos jovens que vivem em profissões informais recomeço. informa informa 77 A ALEGRIA DE UMA NOVA alvora A texto Milton Gerson fotos Carlos Júnior driana Pereira dos Santos nasceu em gia. Na empresa desde março de 2011, Adriana já realizou Sertãozinho (SP). Da mesma forma como o sonho da casa própria, onde vive com o marido e duas fizeram muitos de seus amigos e conhe- filhas. Segundo a equipe do Programa Energia Social, 80% cidos, ela decidiu, em certo momento dos alunos certificados nos cursos de Nova Alvorada do Sul da vida, deixar a terra natal em busca foram absorvidos pelo mercado de trabalho local. “Dos 279 de oportunidades de trabalho. Encontrou o que procura- formados, 127 ingressaram na ETH”, informa Isabel Verô- va em Nova Alvorada do Sul (MS). Aos 34 anos, Adriana é nica Rodrigues dos Santos Silva, Coordenadora de Desen- hoje tratorista na Unidade Santa Luzia da ETH Bioenergia. volvimento de Pessoas da empresa no Polo Mato Grosso Com uma motivação que se manifesta na fala e no brilho do Sul e integrante da Comissão Temática de Educação do do olhar, ela conta que chegou à vitória mais importante Programa Energia Social no município. de sua vida profissional graças aos cursos oferecidos pela Desde 2009, com a chegada da ETH a Nova Alvorada empresa por meio do Programa Energia Social para a Sus- do Sul e a consequente dinamização da economia local, tentabilidade – uma iniciativa da ETH que centraliza todas inverteu-se a lógica do desemprego para a de oferecimento as ações de Responsabilidade Social concebidas para as de oportunidades no município de quase 17 mil habitantes comunidades onde a empresa atua. “Agora eu posso dizer localizado no entroncamento das BRs 267 e 163. Em dois que tenho uma profissão”, afirma Adriana, operando seu anos, a sustentabilidade econômica e social na cidade tor- equipamento pesado em um dos canaviais que abastecem nou-se referência regional. De acordo com o Índice Firjan a Unidade Santa Luzia. de Desenvolvimento Municipal (IFDM), instrumento criado Ela participa do plantio da safra 2012/2013, que, segun- pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro para medir do o Gerente Industrial Eliandro de Jesus Romani, será o crescimento de cidades em todo o Brasil, Nova Alvorada suficiente para permitir à unidade atingir a capacidade má- do Sul é a cidade do Mato Grosso do Sul com maior desen- xima de produção em 2013: a moagem de 6 milhões de t de volvimento em geração de emprego e renda. O crescimen- cana-de-açúcar e a consequente produção de 540 milhões to, em apenas um ano (2008/2009) foi de 50,5%. 78 de litros de etanol e de 450 milhões de Gw/hora de ener- 78 informa O Programa Energia Social, entretanto, não se resume à qualificação para o mercado profissional. Aplicado nas nove cidades em que a ETH mantém operações – Cachoeira Alta, Caçu, Mineiros e Perolândia, em Goiás; Alto Taquari, no Mato Grosso; Costa Rica e Nova Alvorada do Sul, no Mato Grosso do Sul; e Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio, em São Paulo –, ele é um instrumento para o desenvolvimento da comunidade nas áreas de cultura, saúde e geração de trabalho e renda em diversos setores de atividade, em apoio ao relacionamento das equipes das unidades industriais da ETH. ada Adriana Pereira dos Santos: “Agora eu posso dizer que tenho uma profissão” Energia Social: um programa que transforma a vida de integrantes da ETH e das comunidades onde eles atuam informa 79 Nova Alvorada do Sul, grupo de jovens no Ponto de Cultura para a Sustentabilidade e a assistente social e comerciante Maria Auxiliadora Coimbra: município em franco crescimento econômico, social e cultural O trabalho é estruturado em quatro comissões temáticas – Atividades Produtivas; Educação e Cultura; Saúde e Segurança; e Preservação Ambiental – e em um Conselho Comunitário, formado por representantes da ETH e da Prefeitura e líderes da sociedade civil. Da ação integrada desses agentes, vem o resultado inovador e indutor do crescimento econômico e sociocultural em cidades como Nova Alvorada do Sul, a primeira a receber o programa. Nas reuniões abertas à comunidade, integrantes das comissões e conselheiros debatem prioridades, identificam oportunidades e elaboram os projetos e as ações para a coletividade. “O grande diferencial desse programa é a gestão participativa, por meio da qual as ações são pensadas de maneira sinérgica. Conseguimos ótimos resultados, e 2011 foi muito importante para o programa. Estamos implantando 20 projetos”, salienta Carla Pires, Responsável por Sustentabilidade na ETH e pela gestão do Energia Social. Participação feminina Em Nova Alvorada do Sul, as mulheres têm desempenhado papel importante na execução do programa. Maria Auxiliadora Coimbra é uma delas. Aos 43 anos, a assistente social participa ativamente do programa, o que a incentivou a abrir um pequeno estabelecimento comercial, há seis meses. Integrante da Comissão de Educação, ela afirma 80 informa que o Energia Social e as oportunidades de trabalho que Municipal da Saúde, Fabiana Martins Amaral. ele propicia têm sido responsáveis por mudanças na men- É na área cultural, porém, que está, de acordo com o Pre- talidade dos moradores, especialmente entre mulheres e feito de Nova Alvorada do Sul, Arlei Barbosa, a menina dos jovens, que passaram a ter uma nova perspectiva de vida. olhos do Energia Social. “A construção do Ponto de Cultura “Ao tratar de temas como meio ambiente, relações huma- para a Sustentabilidade, no parque Nelson Tereré, será um nas, segurança e legislação, os cursos formam cidadãos.” marco para a cidade”, ele diz. Diferentemente do atual, que Entre as atividades complementares do programa está funciona em uma pequena casa alugada, o novo prédio, com o Cine Energia Social, iniciativa que oferece palestras a co- 6 mil m2, terá espaço de sobra, com concha acústica, quadra munidades carentes e exibe filmes educativos. “Um dos de ensaios, salas multiusos para teatro, música e artes plás- objetivos do programa é criar uma consciência de susten- ticas, estúdio de rádio e vídeo. Tudo em um projeto arquite- tabilidade”, diz Rosemeri Brendle, facilitadora do Energia tônico e de engenharia sustentáveis, com aproveitamento da Social em Nova Alvorada do Sul, após uma sessão na Es- água, fossas biossépticas e energia solar. cola Estadual Antônio Coelho. Nova Alvorada do Sul integra uma região marcada pelo Sustentabilidade é o conceito presente em cada uma conflito da luta pela terra e que foi palco de experiências das ações do programa, cujas iniciativas também avançam da reforma agrária, ainda em curso no Brasil. São nove os no campo da saúde. O debate entre os setores sociais da ci- assentamentos na área, e a participação, no Energia So- dade priorizou a construção do prédio do novo Laboratório cial, das famílias que os compõem, determinou a criação de Análises Clínicas Municipal, em funcionamento desde do projeto de hortas orgânicas circulares. Voltado à geração maio de 2011. O espaço de 147 m , construído com investi- de renda e ao aumento da oferta de hortaliças orgânicas, o mento da ETH, apresenta uma realidade bem diferente da projeto beneficiará inicialmente a 27 famílias, que poderão que havia na área antiga, com 30 m2 e apenas uma divi- abastecer escolas e empresas, além de comercializar par- sória interna. Atualmente, a capacidade de realização de te da produção na Feira do Produtor. O Presidente do Sin- exames, inclusive mais complexos, como o de hanseníase dicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Nova e tuberculose, praticamente dobrou. “Em janeiro de 2011, Alvorada do Sul e Região, José Caetano Santana (Dedé), quando iniciou-se a obra, processamos 1.154 exames. Em enfatiza: “Projetos como este, de geração de oportunida- setembro de 2011, chegamos a 1.980”, relata a Secretária des de trabalho, são fundamentais para a nossa região”. 2 informa 81 82 Na Baixo Sul da Bahia, um modelo pedagógico que faz a sala de aula e a propriedade rural da família do educando tornarem-se um só ambiente 82 informa casa SEMPRE EM texto Gabriela Vasconcellos L fotos Fernando Vivas ogo cedo, Maria do Amparo dos Santos, 20 anos, inicia a seleção de fibras de pia- çava. Ela lidera seu primeiro negócio: um catadouro de piaçava, que possibilita o beneficiamento da fibra e, com isso, a agregação de valor à matéria-prima. O trabalho, realizado próximo à sua casa na comunidade quilombola de Lagoa Santa, em Ituberá (BA), é interrompido somente quando Paulinha, como é mais conhecida, está na Casa Familiar Agroflorestal (Cfaf) para mais uma semana de aprendizados. A jovem ingressou nessa instituição de ensino no início de 2011 e, desde então, tem acesso a uma formação voltada para a realidade do campo. O modelo pedagógico é originário da França e tem como base as alternâncias: uma semana em regime de internato, com aulas na sala e no campo, e duas semanas na propriedade do educando, quando são aplicados os novos conhecimentos, sob o acompanhamento e a orientação de monitores especializados. “Quando surgiu a possibilidade de entrar na Cfaf, Maria do Amparo dos Santos: compartilhando conhecimentos eu estava trabalhando na roça e já havia abandonado os estudos. Fui selecionada e não tinha ideia se daria certo, mas acreditei. Além de estar aprendendo muito, compartilho os novos conhecimentos com a minha comunidade”, conta Paulinha, que faz parte da primeira turma do Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio em Florestas, integrado ao Ensino Médio. O curso reúne 31 jovens e começou a ser oferecido pela Cfaf em 2011, após ser reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação da Bahia. Foi também na Casa Familiar que a nova empresária rural conheceu o projeto do catadouro. O espaço implantado em sua comunidade foi o primeiro informa 83 Elinaldo de Jesus: oportunidade de estudos e de novas experiências do tipo no Baixo Sul da Bahia. “Tivemos dificuldades mento Integrado e Sustentável do Mosaico de Áreas e, em alguns momentos, pensamos em desistir. Mas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDIS), com acesso a capacitações, aprendemos a desen- apoiado pela Fundação Odebrecht. volver o trabalho. Hoje estamos tocando um catador modelo”, destaca, orgulhosa. Mesmo com a rotina apertada, em que concilia as atividades no catadouro e os estudos, Paulinha não A iniciativa é fruto da ação conjunta entre a Cfaf, deixa de sonhar. “Quando concluir os três anos de a Cooperativa das Produtoras e Produtores Rurais formação na Casa Familiar, irei atrás de mais conhe- da Área de Proteção Ambiental do Pratigi (Cooprap) cimento. Quero entrar na faculdade e me tornar uma e o Programa Tributo ao Futuro, que fomenta ações engenheira agrônoma. Estou buscando melhoria de certificadas pela Fundação Odebrecht, por meio de renda para cuidar da minha família no futuro.” destinações de imposto de renda de integrantes da Organização Odebrecht. Sua mãe comemora. “Meus filhos estão longe. Queria que eles estivessem perto, que não precisas- Todos os dias, com apoio das primas Maria Apa- sem sair daqui para procurar oportunidades de tra- recida dos Santos e Cristiane dos Santos, Paulinha balho. Hoje estou muito satisfeita por ver minha fi- corta e penteia, em média, 45 kg de piaçava. A fibra lha se desenvolvendo com esse projeto”, diz Tercília, beneficiada é entregue para a Cooprap, que a utiliza mãe de 12 filhos, dos quais apenas três continuam para a confecção de vassouras. O trabalho das jovens na comunidade. Se depender de Paulinha, sua mãe é remunerado de acordo com a produtividade. Em continuará feliz. “Meu maior desejo é trabalhar em um mês, recebem, aproximadamente, R$ 1.200,00. sociedade e não sair da minha região”, afirma. “Nosso lucro é reinvestido para desenvolver o negócio. Isso é o que faz um bom empresário. Ini- 84 O Caminho para a Sustentabilidade cialmente, estamos buscando a sustentabilidade do Elinaldo de Jesus, 19 anos, compartilha da rea- catadouro”, assegura Paulinha, que, assim como sua lidade de Paulinha. O agricultor assistiu a três dos mãe Tercília da Conceição, é associada à Cooprap, seus quatro irmãos saírem da comunidade em que instituição que integra, em conjunto com a Cfaf, a nasceram em busca de trabalho. Educando da Casa Aliança Cooperativa Estratégica da Piaçava, uma das Familiar Rural de Igrapiúna (CFR-I), Elinaldo asse- ações fomentadas pelo Programa de Desenvolvi- gura ter encontrado uma chance de crescimento. informa início e já beneficia 32 educandos. Elinaldo é um deles. “Sempre ajudei meu pai com o trabalho na roça. Este ano vou implantar um projeto produtivo de palmito de pupunha”, afirma. Ele pretende associar-se à Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia (Coopalm). “Ao entregar a produção à Coopalm, sei que o palmito já tem comprador garantido”, diz Elinaldo. Pioneirismo A Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo Neves (CFR-PTN) foi a primeira a ser implantada no Baixo Sul e a conquistar, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, a certificação do Conselho Estadual de Educação da Bahia. Os jovens que concluem os Casas Familiares no Baixo Sul: • 252 jovens em formação • 275 jovens já formados três anos de formação recebem o diploma de Ensino Médio integrado ao curso técnico profissional em agropecuária. Atualmente, Fernanda Silva, que se formou na primeira turma da CFR-PTN, é a Diretora de Produção e Inovação Tecnológica da Casa Familiar. Filha de “A CFR-I é uma oportunidade de estudos e novas agricultores do município de Teolândia (BA), a jovem experiências. Logo vi como o trabalho em equipe ingressou nessa unidade de ensino em 2003, aos 15 poderia ser interessante”, ressalta ele, morador de anos. Em 2010, assumiu um dos cargos de direção Igrapiúna (BA). da Casa. “É muito gratificante estar na liderança de Assim como a Cfaf, a CFR-I também foi reconhe- um projeto que ajudei a construir. Estou ciente de cida em 2011 pelo Conselho Estadual de Educação que isso torna minha responsabilidade ainda maior. e está autorizada a ministrar o Curso de Educação Mas sei que vamos alcançar um futuro com foco na Profissional Técnica de Nível Médio em Agronegócio educação para a vida, pelo trabalho e para valores”, integrado ao Ensino Médio. A primeira turma teve garante Fernanda. Fernanda Silva: de educanda a diretora informa 85 86 mosteiro FESTA NO texto José Enrique Barreiro Lançamento de livro no Mosteiro de São Bento da Bahia tem a participação de 1.800 pessoas F undado em 1582, em Salvador, o Mosteiro de São Bento da Bahia foi o primeiro mosteiro construído fora da Europa, o primeiro de todo o “Novo Mundo”. Localizado no Centro Histórico de Salvador, é guardião de um precioso acervo artístico e histórico, formado a partir da chegada dos primeiros monges beneditinos ao Brasil, em 1580, e que inclui documentos históricos e um rico conjunto de pinturas, esculturas, mobiliário e ourivesaria, além da segunda mais importante biblioteca de livros raros do Brasil (atrás apenas da Biblioteca Nacional). Na noite de 30 de novembro, o mosteiro abriu suas portas e recebeu 1.800 convidados para o lançamento do livro O Mosteiro de São Bento da Bahia, organizado por Dom Gregório Paixão. “Uma noite memorável para nossa casa”, declarou o Arquiabade Dom Emanuel D’Able do Amaral, que, com 30 monges, participou do evento. A festa teve início na Basílica de São Sebastião (a igreja do mosteiro), onde os convidados assistiram a apresentações de música sacra e aos discursos de Dom Emanuel, Dom Gregório e de Márcio Polidoro, Responsável por Comunicação na Odebrecht. Em seguida, todos se dirigiram ao pátio do mosteiro, 86 informa primeira vez na história da instituição que mulheres visitaram a clausura durante a noite. Ao longo do evento, houve a distribuição do livro, com cerca de 400 páginas, que retrata a história da vida monástica no Ocidente, a chegada e instalação dos beneditinos na Bahia, sua participação na vida da cidade por mais de 430 anos e as diversas etapas construtivas dos edifícios do mosteiro e mostra parte considerável dos tesouros ali guardados. O livro é resultado do projeto vencedor do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica – Clarival do Prado Valladares em 2010. O texto de apresentação foi escrito por Norberto Odebrecht, Fundador da Organização Odebrecht. Intitulado Uma Antiga Parceria, revela sua relação de mais de 80 anos com o Mosteiro de São Bento da Artur Ikishima Bahia. “Mais que o apoio mútuo em situações específicas, trata-se de uma relação em que compartilhamos Espírito, Cultura, Ideias e Atitudes diante da vida. Uma delas é a centralidade do trabalho, o instrumento de desenvolvimento pessoal e coletivo por excelência”, diz Norberto Odebrecht. Convidados assistem à apresentação de música sacra na Basílica de São Sebastião. Na foto menor, o monge beneditino e Bispo Auxiliar de Salvador, Dom Gregório Paixão, organizador do livro sobre o mosteiro Edição 2011 do prêmio tem vencedor anunciado Em 17 de novembro, foi escolhido o projeto vencedor da oitava edição do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica – Clarival do Prado Valladares, cujo livro resultante será publicado em 2013. Trata-se do projeto Oráculos da Geografia Iluminista: Dom Luis da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville na construção da cartografia do Brasil, da professora Júnia Ferreira Furtado, da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela pesquisará a colaboração entre o diplomata português e o cartógrafo francês para a elaboração do Mapa das Cortes, apresen- Márcio Lima tado pelos portugueses no Tratado de Madri, em 1750, para substituição dos limites territoriais estabelecidos no Tratado de Tordesilhas no século XV. O Mapa das Cortes reconfigurou o território brasileiro, com a anexação de vastas áreas ao oeste, ao norte e ao sul do país, e onde ocorreu a sessão de autógrafos dos autores do desenhou aquele que é, com poucas alterações nos sé- livro: o fotógrafo Almir Bindilatti, a doutora em Le- culos seguintes, o atual território do Brasil. tras Alicia Duhá Losé, o monge beneditino e Bispo Cerca de 100 projetos, de vários estados brasileiros, fo- Auxiliar de Salvador Dom Gregório Paixão, o poeta ram inscritos na oitava edição do prêmio. Os cinco autores Fernando da Rocha Peres, o historiador Francisco finalistas fizeram suas apresentações para o júri formado Senna, o restaurador de obras de arte José Dirson pelo jornalista Rinaldo Gama, os historiadores Eduardo e a arquiteta Maria Herminia Hernández. Os con- Silva e Francisco Senna, o editor José Enrique Barreiro e vidados puderam também visitar, em pequenos Márcio Polidoro, que escolheram, ao final, por unanimi- grupos e em silêncio, a clausura do mosteiro. Foi a dade, o projeto da professora Júnia Ferreira Furtado. informa 87 tri especial texto Karolina Gutiez foto Holanda Cavalcanti Karyn Mathuiy e Ademir Pereira dos Santos: vencedores da mais importante premiação do livro no Brasil Pelo terceiro ano consecutivo, livro patrocinado pela Odebrecht conquista o Prêmio Jabuti 88 informa 88 A ssim foi em 2009, 2010 e 2011. Há imagens, os elementos gráficos que os valorizem e três anos, publicações patrocina- que os façam brilhar”, reflete Karyn Mathuiy. “Toda das pelo Prêmio Odebrecht de Pes- a minha trajetória como designer de livros foi feita quisa Histórica – Clarival do Prado dentro das edições culturais da Odebrecht, onde Valladares são reconhecidas pela tive todo o apoio e a confiança para me desenvolver principal premiação do livro no Brasil: o tradicio- e poder chegar a essa premiação”, ela acrescenta. nal Jabuti. Este ano, a obra Theodoro Sampaio nos Na categoria Arquitetura e Urbanismo, são Sertões e nas Cidades foi agraciada em primeiro avaliados relevância do tema; rigor científico (es- lugar na categoria Projeto Gráfico e em terceiro trutura teórica); adequação metodológica (como lugar na categoria Arquitetura e Urbanismo. De instrumento de pesquisa); precisão de conceitos, autoria de Ademir Pereira dos Santos, com projeto terminologia e informações; clareza e objetivida- gráfico de Karyn Mathuiy e editado pela Versal Edi- de do conteúdo; correção e fluência de linguagem; tores, o livro, lançado em 2010, trata da vida e obra cunho didático; bibliografia; relação entre texto e de Theodoro Sampaio (1855-1937). O engenheiro imagem, quando houver; utilidade e harmonia es- atuou nos principais projetos de modernização do tética. país no fim do século XIX e início do século XX, em “Estou muito feliz, pois este é um momento es- expedições e estudos fluviais dedicados à carto- pecial para a minha vida profissional. Se ganhar grafia brasileira. o Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica foi um Concorrendo com os projetos gráficos de 146 grande desafio, estar entre os premiados pelo Ja- publicações e com 32 livros sobre Arquitetura e buti é um tipo de reconhecimento que nos enche Urbanismo, Theodoro Sampaio nos Sertões e nas de orgulho. Afinal, é o prêmio mais importante Cidades confirma, com o reconhecimento, a quali- para uma publicação no Brasil. Ter uma obra entre dade das mais de 200 obras que compõem o acer- os melhores livros e estar junto com os mestres e vo de edições culturais da Odebrecht, mais recen- autores que tanto admiro é um privilégio e tanto. temente enriquecido com os livros apoiados pelo O Prêmio Jabuti representa o reconhecimento do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica. Em 2009, nosso esforço, das noites que passamos em claro, A Historia do Brazil de Frei Vicente do Salvador – das angústias e alegrias que dividimos com a equi- História e Política no Império Português do Século pe de trabalho, familiares e amigos nos últimos XVII, de Maria Lêda Oliveira Alves da Silva, ficou três anos”, comemora Ademir Pereira dos Santos. em segundo lugar na categoria Projeto Gráfico. No O Prêmio Jabuti foi criado em 1958 pela Câma- ano seguinte, A Igreja e o Convento de São Fran- ra Brasileira do Livro. Seu curador, desde 1991, é cisco da Bahia, de Maria Helena Ochi Flexor e Frei José Luiz Goldfarb. A explicação para o nome da Hugo Fragoso, ficou com o primeiro lugar. premiação está no ambiente cultural e político da Os critérios de avaliação nessa categoria são a década de sua criação, muito influenciado pelo adequação do projeto gráfico ao conteúdo da obra; modernismo e pelo nacionalismo, pela valorização originalidade e criatividade; qualidade estética; da cultura popular brasileira, suas raízes indíge- legibilidade do texto; funcionalidade e logicidade; nas e africanas e suas figuras míticas. O jabuti é e adequação de aspectos gráficos como encader- um personagem da literatura infantil de Montei- nação, papel, formato, composição e qualidade de ro Lobato que ganhou vida na fábula Reinações impressão à manuseabilidade e à duração do livro. de Narizinho, como uma tartaruga vagarosa, mas “Para mim, esse prêmio é o coroamento de qua- obstinada e esperta. A premiação tem 29 catego- se 20 anos de muito trabalho, dedicação e paixão rias, cujos vencedores recebem R$ 3 mil, e ainda por fazer livros. Acredito que a razão dessa con- elege o Livro do Ano Ficção e Não Ficção. São 87 quista foi, principalmente, a minha crença de que o jurados envolvidos e R$ 147 mil em prêmios. Em design deve sempre estar a serviço do conteúdo, e 2011, foram 2.619 projetos inscritos. A cerimônia nunca o contrário. Meu maior prazer nos projetos de premiação ocorreu no dia 30 de novembro, na editoriais é buscar e descobrir, nos textos e nas Sala São Paulo, na capital paulista. informa 89 ARGUMENTO 90 informa 90 O CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE “O exercício da tarefa empresarial balizada pela sustentabilidade nos permitirá alcançar mais rapidamente os resultados com a abrangência das demandas que enfrentamos” T er sustentabilidade nos nossos negó- tre eles: ter indicadores que demonstrem os resulta- cios é um princípio balizador que usa- dos finais das transformações que provocamos nas mos para nos orientar nas decisões de comunidades e sejam norteadores de nossa atuação investimento e para avaliar os resulta- empresarial; inovar no modelo de governança dos dos de cada uma das empresas da Or- programas que desenvolvemos, tendo como princí- ganização. A métrica da sustentabilidade muda com pio atingir a independência, associada à maturidade o tempo, pois geralmente se amplia com a evolução desses programas; capturar as sinergias e promover do conhecimento e com o nível de conscientização de a continuidade dos programas sobre a mesma base nossa sociedade. Tornam-se referência nessa métrica de sustentabilidade, na medida em que passamos da e se destacam os resultados das empresas que são concepção de um projeto à obra e, posteriormente, capazes de inovar e demonstrar, na prática, o signi- à operação. Devemos demonstrar ainda mais forte- ficado de sustentabilidade no ambiente de negócios. mente nossa atuação como promotores do desenvol- O ano de 2011 foi importante quanto ao papel desse vimento sustentável: temos os ativos nos projetos e tema em nossos negócios na Odebrecht. Revimos a negócios de águas, energia, recuperação de áreas, Política da Organização, identificamos os fundamen- novos materiais, serviços e infraestrutura para me- tos dos indicadores que desejamos acompanhar, am- lhorar a qualidade de vida das pessoas e das regiões pliamos o alcance dos resultados em cada um deles onde atuamos. e priorizamos a sustentabilidade dentre as macroes- Para concluir, a questão da escala e do tempo: tratégias para a Visão 2020, que resume onde e como necessitamos de velocidade e de maior escala de queremos estar ao fim desta década. atuação no caminho da sustentabilidade. E é o exer- Nosso foco nas pessoas, como agentes do desen- cício da tarefa empresarial balizada pela sustentabi- volvimento sustentável, levou ao fortalecimento dos lidade que nos permitirá alcançar mais rapidamente programas de formação e à busca de melhor compre- os resultados com a abrangência das demandas que ensão sobre como atuar nas comunidades por meio das enfrentamos. A Visão 2020 e a preparação para al- diferentes vertentes da sustentabilidade. São exemplos cançá-la demonstram nosso compromisso com este a experiência do Programa de Qualificação Profissional caminho. Continuada – Acreditar em vários países e o Programa Energia Social para a Sustentabilidade na ETH. Fortalecemos ainda nossos compromissos com os clientes e as ações com um grande número de organizações parceiras. O inventário dos gases de efeito estufa na Engenharia e a ampliação das aplicações do plástico verde na Braskem demonstram esses compromissos. Queremos e podemos alcançar novos patamares de atuação e de resultados em sustentabilidade. En- Sérgio Leão é Responsável por Sustentabilidade na Odebrecht Engenharia e Construção e Coordenador do tema no âmbito da Organização informa 91 92 separ APRENDENDO A A professora Marisol Zocca ensina um de seus alunos a descartar o óleo: educação ambiental arar texto fotos Luciana Lana Ed Viggiani Crianças de Mairinque e Limeira, em São Paulo, aprendem a descartar corretamente o óleo usado na cozinha informa 93 P astel, croquete, batata frita. Projetadas em uma sala de aula da Escola Municipal Professor Horácio Ribeiro, em Mairinque (SP), as imagens desses quitutes fazem salivar as boquinhas dos alunos do se- gundo e terceiro ano do Ensino Fundamental. “Mas para onde vai o óleo usado nessas frituras?”, pergunta Ana Cristina Baião de Andrade, analista de comunicação da Saneaqua, à frente da turma. “Minha mãe guarda no forno para usar depois”, adianta-se Ana Luiza, 8 anos. “A minha também guarda no forno, mas depois põe numa garrafa para eu trazer para a escola”, acrescenta Lediane, 7 anos. “A minha mãe jogava no quintal para matar as formigas que ficavam comendo as plantas dela.” A revelação sincera de Amanda, 7 anos, provoca gargalhada geral na turma. “Coitadas das plantas, se salvam das formigas e morrem com o óleo”, ironiza Gabriel, com toda a sabedoria dos seus 8 anos. Ana Luiza, Lediane, Amanda, Gabriel e seus cole- Ana Cristina Baião de Andrade, da Saneaqua: atuação dentro das salas de aula gas aprenderam que 1 litro de óleo polui 1 milhão de litros de água e que isso equivale ao consumo de água de uma pessoa durante 14 anos. Essas e outras informações sobre os prejuízos ao meio ambiente causados pelo despejo incorreto do óleo – nas tubulações hi- 94 dráulicas ou diretamente na natureza – chegaram aos ças trazem suas garrafas com óleo. Já aconteceu de alunos porque a Escola Municipal Professor Horácio enchermos dois galões de 20 litros em uma semana”, Ribeiro é uma das que participam do Projeto Olho Vivo conta a Diretora Rita Maria Sarti Benatti. – Água e Óleo não se Misturam, destaque no programa Em Limeira, também no interior de São Paulo, ci- de sustentabilidade da Foz, empresa da Organização dade com mais de 290 mil habitantes, onde a coleta de Odebrecht responsável por fornecimento e tratamento óleo começou a ser feita em escolas municipais por da água, coleta e tratamento de esgotos. Em Mairinque iniciativa do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem (SP), onde a população é de 45 mil habitantes, a Foz de- Industrial), os números são ainda mais impactantes: tém 70% da Saneaqua, empresa constituída em 2010, 24 mil litros de óleo foram coletados de janeiro a outu- em sociedade com a Sabesp, detentora de concessão bro de 2011. “O crescimento vai se dando aos poucos: pública para operar os serviços de água e esgoto na no primeiro ano, 2003, foram coletados 1,2 mil litros; cidade pelos próximos 30 anos. em 2007, 8,5 mil litros; em 2010, 13,5 mil litros”, relata Ana Cristina de Andrade é responsável pela implan- Sandra Alves, Responsável pela Comunicação Social tação do Projeto Olho Vivo em Mairinque e já conseguiu da Foz em Limeira. Lá, o nome dado ao projeto pelo a adesão de quase 40 escolas municipais que, além de Senai – Rio Limpo Começa em Casa – foi mantido após instruir os alunos, transformaram-se em pontos de a parceria com a Foz. coleta de óleo. Ela visita as escolas, distribui material Segundo o Secretário de Meio Ambiente de Limei- didático, faz sua palestra conscientizando diretamen- ra, Domingos Furgione Filho, não se deve mensurar te os alunos e também capacita os professores para os resultados apenas pelo que é coletado: “São 24 mil que deem continuidade ao projeto. Em menos de qua- litros que deixam de poluir nossos rios, e isso já é sig- tro meses, foram coletados 800 litros de óleo. A Escola nificativo. Mas o projeto vai muito além: essas crian- Professor Horácio Ribeiro, com 570 alunos, tem sido ças adquirem consciência em relação a toda a questão campeã na coleta. “Diariamente, de seis a 10 crian- ambiental. Elas não apenas coletam óleo como repro- informa duzem as informações que recebem e, assim, perpe- tintas, massas para vidros, sabão e detergentes, entre tuam a preocupação com a natureza. Esse resultado outros), o Projeto Olho Vivo – Água e Óleo não se Mistu- é imensurável. Uma criança consciente significa um ram também tem como resultado a geração de renda, futuro melhor”. revertida em benefício da comunidade. “A sustentabili- A educação ambiental é um aspecto também des- dade do projeto está justamente nesse ciclo que integra tacado por Mônica Queiroz, Responsável por Susten- educação ambiental, preservação e geração de renda”, tabilidade na Foz. “Além de promover a preservação do completa Mônica. meio ambiente, por meio da redução do volume de óleo “Além das prefeituras, por meio de suas secretarias despejado nos rios, no solo e nas redes de esgoto, esse de Educação e de Meio Ambiente, o projeto conta com projeto transfere conhecimentos sobre descarte de re- diferentes parceiros em cada cidade. São empresas síduos”, diz. Mais de 56 mil pessoas, entre alunos, edu- que fazem a coleta, beneficiam ou vendem o óleo para cadores, autoridades e representantes de organizações as indústrias. O retorno, para a comunidade, da renda comunitárias, já foram sensibilizadas pelo projeto, nas obtida com a reciclagem do óleo ocorre de forma di- quatro cidades em que foi implantado – além de Mai- ferente em cada local”, explica Juliana Calsa, da Foz, rinque e Limeira, também Rio Claro e Santa Gertrudes, uma das idealizadoras do Olho Vivo. todas no Estado de São Paulo. Em Limeira, a cada 2 mil litros coletados, a escola faz o sorteio de um prêmio entre os alunos, e, a cada 6 Geração de renda mil litros, é a escola que ganha um computador ou um Como as sobras do óleo de cozinha podem ser apro- bem material em valor equivalente. Em Santa Gertru- veitadas na fabricação de diversos produtos (biodiesel, des é semelhante, apenas variando as quantidades de óleo coletado. Em Rio Claro, a renda obtida é administrada pelas associações de pais e mestres. Em Mairinque, os recursos são doados a comunidades carentes e também há sorteio de prêmios nas escolas. Juliana Calsa, que trabalhava na área de comunicação da Foz em Rio Claro, identificou a carência de projetos estruturados de educação ambiental que agregassem valor e conhecimento às comunidades na região. “Comprovado que o óleo de cozinha é um dos principais poluidores dos rios e lagos, resolvemos lançar esse projeto, inicialmente em Rio Claro, para promover tanto a coleta quanto a conscientização em relação ao descarte”, ela informa. De acordo com Juliana, a criança é um dos mais eficientes vetores para qualquer projeto de difusão de conhecimento. “É muito difícil conscientizar o adulto. Já as crianças assimilam com facilidade as mensagens sobre preservação ambiental e as repercutem. A criança induz seus pais à mudança de comportamento.” Mais que isso, as crianças até mesmo fiscalizam os adultos. Alunas do 4º ano do Ensino Fundamental, da Escola Municipal Major José Levy Sobrinho, em Limeira, Caroline e Jacqueline, ambas de 9 anos, comentam que já flagraram uma vendedora de pastéis levando a O Secretário Domingos Furgione Filho: “Uma criança consciente significa um futuro melhor” frigideira cheia de óleo até um bueiro. A reação imediata – “A gente gritou bem alto: Paaaara!” – mostra que, de fato, elas estão de olho vivo. informa 95 arte texto Luciana Lana fotos Ed Viggiani 96 Quando o grafite enfeita a cidade e alegra vidas E m 2003, aos 16 anos, Paulo Ricardo da Silva escrevia com grafite, nos prédios e muros da cidade de Limeira (SP), a sua marca e o seu nome de guerra: Medo. Ele explica que medo era o que sentia quando pichava. “Porque eu subia em lugares bem altos, à noite e escondido”. Isso durou poucos meses. Apesar de manter a alcunha, Medo passou da pichação à arte do grafite. Hoje o que faz não só é permitido como é estimulado e valorizado. Ele é um dos principais líderes do GraFoz, projeto de responsabilidade social lançado, em 2011, pela unidade de Limeira da Foz, empresa que atua no fornecimento e tratamento de água e esgoto da cidade. 96 informa SEM IDADE Medo ministra o curso de grafite a adolescentes, que, sob sua orientação, partem para as ruas da cidade a colorir espaços públicos e privados, sempre com a autorização do proprietário ou do responsável. Foi assim que ocorreu, recentemente, a pintura do muro que protege a Casa dos Velhinhos de Santa Gertrudes. Durante uma visita técnica de integrantes da Foz ao local, foi constatada a necessidade de reparos em boa parte das instalações. “Não só a rede hidráulica precisa de melhorias como também a rede elétrica, o mobiliário, a jardinagem, a pintura. Resolvemos ajudar e, em parceria com os fornecedores da empresa, promover uma reforma geral. O primeiro passo será a pintura externa. O asilo vai ganhar um extenso painel, obra dos artistas do GraFoz”, revelou Rogério Lima, Coordenador-Geral da Foz em Santa Gertrudes, no dia em que Adolescentes pintam o muro da Praça da Alegria, área de convivência do Asilo João Kühl Filho, e, na foto abaixo, Aparecida de Lourdes Antônio: “A gente se sente melhor” o muro recebia as primeiras pinceladas. Em experiências anteriores, o GraFoz enfeitou cerca de 10 muros em Limeira. Três deles são de reservatórios da Foz, os quais, antes da pintura colorida, eram alvos constantes dos pichadores. Outro é o muro da Praça da Alegria, uma área de convivência interna do Asilo João Kühl Filho, toda reformada pela empresa. “Com este painel, os bancos e as plantas, a praça passou a ser o nosso recanto preferido”, conta Aparecida de Lourdes Antônio, 80 anos, moradora do asilo. “A gente se sente melhor.” informa 97 98 A história da realização de um sonho inspirado no amor pelos livros E TUDO COMEÇOU COM UM 98 dicionár informa Q uando, na minha infância e adolescência, encontrava uma palavra da qual não sabia o significado, “gritava”: “Mamãe, o que significa?” A resposta, invariavelmente, era a mesma: “Vá olhar no dicionário!”. É evidente que eu ficava furiosa. Mas não tinha jeito. Ou ia verificar no “pai dos burros” ou ficava sem saber. Ela, uma mulher muito culta, sabia todos aqueles significados despertados por minha curiosidade. Porém, com seu zelo, fez com que eu criasse o hábito de procurar cada palavra, conhecer seu significado, raiz, gênero etc. Dessa forma, eu fixava o vocábulo e ia me aculturando. Lógico que fiquei um ás em procurar no dicionário e rapidinho encontrava a palavra-alvo de minha curiosidade estudantil. Em 1972, quando iniciei minha vida profissional na Odebrecht, encontrei, perdidos na Sede do Km 0 (Bairro do Retiro, em Salvador), quatro volumes do Dicionário Michaelis (inglês-português e português-inglês). Como não dispúnhamos de uma biblioteca, algum desavisado quis jogá-los fora. Não deixei e os adotei... Ao longo dos anos, como uma mãe zelosa, fui tomando conta deles! A Sede mudava (Pituba...Caminho das Árvores... Avenida Paralela...) e lá iam eles comigo! E eu inconformada porque a Odebrecht não tinha uma biblioteca... Com o passar de tantos e tantos anos, vi muitos livros serem jogados fora – ou porque quem os tinha não se interessava em guardá-los ou porque não havia espaço nas novas salas. Mas àqueles quatro volumes foram se juntando livros comprados ou ganhos por Dr. Norberto. Sempre que ele ganhava um ou se interessava em comprar algum, após conhecê-lo, perguntava: “Dona Hebe, o que vai fazer com esse exemplar?” E eu o guardava nos armários da sala dele. Em 2008 e 2010, faleceram o Sr. Carlos Conde e Dona Julinha Conde, dois baianos amantes dos livros. Possuíam uma vasta biblioteca, com livros raros e todos cuidadosamente encadernados. Ilka Odebrecht Queiroz, filha de Dr. Norberto, ficou encarregada de doar a coleção. Hebe Meyer: “A cada dia que conseguíamos concluir uma etapa, vibrávamos” ário Por essa época, foram feitas algumas mudanças nas instalações da Fundação Odebrecht. Aí, pensei: “Por que não trazer esses livros para uma biblioteca nossa?” A esses se juntariam muitos livros doados pela própria Fundação, por Dr. Norberto, por Bruno Malaguti (meu filho), por Augusto Cruz e por mim. Pedi apoio a Júnior, Responsável pela Administração da Sede em Salvador, e consegui duas salinhas na Fundação. Começamos os trabalhos de higienização. Depois, chegou o momento da catalogação. Só que, para isso, teríamos custos... O nosso orçamento não comportava... Com minha “cara de pau”, pedi apoio a Márcio Polidoro. E fiz o pedido na presença de Dr. Norberto! Coitado de Márcio. Coloquei-o em uma saia justa. Se pensou em negar, não conseguiu. Ele deve ter informa 99 Lima, não mediam esforços para realizar o belo sonho. Além da biblioteca, foi criado um espaço para apresentações, palestras e pequenas exposições. Tudo acessível aos integrantes da Organização e também aos visitantes, clientes e amigos, ratificando o desejo de Dr. Norberto de que o prédio da Avenida Paralela seja o prédio da comunicação da Odebrecht com a comunidade baiana. Estudantes em visita ao Edifício-sede: “prédio da comunicação da Odebrecht com a comunidade baiana” No dia 18 de agosto de 2011, com muita emoção, na presença de membros do Conselho de Administração e de alguns líderes de líderes, a biblioteca foi inaugurada, intuído que dali sairia algo diferenciado para enriquecer o também como uma homenagem a Dr. Norberto pelos nosso Núcleo da Cultura Odebrecht. Dessa forma, “minha” seus 90 anos. O nome escolhido não poderia ter sido outro: pretensão ganhou um aliado. Foi contratada a Empresa BIBLIOTECA HERTHA ODEBRECHT DocExpõe para o serviço. Tudo estava caminhando para um simplório espaço, “Minha Mãe foi educada na Prússia para ser que ficaria sob minha responsabilidade e que serviria de Mulher e Mãe, saber criar, educar e alimentar lazer cultural para os integrantes que trabalham na Sede. os Filhos. De repente, o crescimento da Organização impôs a ne- Em casa, sob sua Liderança, vivíamos um cessidade de mais espaço para pessoas que estavam che- ambiente familiar Educativo, Religioso e de gando. Perdi minhas salas, mas, em contrapartida, recebi Confiança. Desde cedo, com Disciplina e Orga- um pedaço do auditório do andar térreo, que estava sendo nização, minhas irmãs e eu fomos preparados pouco usado em razão da construção do novo auditório, no para a Vida e para o Trabalho. Os Ensinamentos prédio ao lado, muito mais amplo. sempre visavam à busca da Verdade e do que era A arquiteta Doriane Meyer aceitou o convite para fazer o o Certo e melhor para Todos. projeto. Ocorreram novas reuniões e, com a aprovação de Credito, pois, à minha Mãe tudo o que sou hoje Marcelo Odebrecht, a ideia ganhou outra dimensão. O es- como Homem. Ela foi responsável pela minha paço restante do auditório nos foi cedido. Tínhamos, então, Educação Filosófica para a Vida. uma bela área. Com a Base Educacional que tive na Infância e Começamos a correr contra o tempo para que a inau- Adolescência, pude enfrentar os Desafios que a guração se desse ainda em agosto, mês no qual a Odebre- Vida me impôs e, especialmente, reconhecer a cht comemora seu aniversário de fundação. sua importância. Investir na Formação das novas Foi um desafio e tanto, pois já estávamos em meados de Gerações, educando para a Vida, pelo Trabalho, junho e dependíamos de fornecedores diversos. A cada dia para Valores e Limites é a nossa grande Missão.” que conseguíamos concluir uma etapa, vibrávamos. Norberto Odebrecht As equipes da Administração do Edifício e de Comunicação em Salvador, esta sob a liderança de José Raimundo Assim, a primeira exposição, sob responsabilidade de Ângela Petitinga, foi em homenagem a Dona Hertha 100 100 Visitas ao Edifício-sede da Organização Odebrecht, em Salvador Odebrecht e, nela, foram mostrados aspectos de sua vida. Ano: 2011 (até 20 de novembro) • Universidades/Escolas: 117 visitas – 3.815 alunos • Programa de Educação Ambiental: 104 visitas – 4.521 alunos • Eventos na Biblioteca Hertha Odebrecht: 4 visitas – 301 visitantes Total: 225 visitas – 8.637 visitantes tudo, uma Mãe Educadora de três filhos, conduzindo-os informa Uma mulher que, com disciplina e respeito, foi, acima de no caminho de uma vida pautada por valores morais e que, marcadamente, fez toda a diferença para Dr. Norberto Odebrecht, que nos legou a Tecnologia Empresarial Odebrecht, a qual, mais que uma Tecnologia Empresarial é uma Filosofia de Vida aplicada ao trabalho e ao ato de servir. Hebe Meyer é Assessora da Presidência do Conselho de Curadores da Fundação Odebrecht Próxima edição: Transportes e Logística RESPONSÁVEL POR COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL NA CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A. Márcio Polidoro Fundada em 1944, a ODEBRECHT é uma organização brasileira composta de negócios diversificados, com atuação e padrão de qualidade globais. Seus 150 mil integrantes estão presentes nas três Américas, na África, na Ásia e na Europa. RESPONSÁVEL POR PROGRAMAS EDITORIAIS NA CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A. Karolina Gutiez COORDENADORES NAS ÁREAS DE NEGÓCIOS Nelson Letaif Química e Petroquímica | Andressa Saurin Etanol e Açúcar | Bárbara Nitto Óleo e Gás | Daelcio Freitas Engenharia Ambiental | Sergio Kertész Realizações Imobiliárias | Coordenadora na Fundação Odebrecht Vivian Barbosa COORDENAÇÃO EDITORIAL Versal Editores Editor José Enrique Barreiro Editor Executivo Cláudio Lovato Filho Arte e Produção Gráfica Rogério Nunes Projeto Gráfico e Ilustrações Rico Lins Editora de Fotografia Holanda Cavalcanti Tiragem 8.050 exemplares • Pré-impressão e Impressão Pancrom REDAÇÃO: Rio de Janeiro (55) 21 2239-4023 / São Paulo (55) 11 3641-4743 email: [email protected] Foto: Andre François/Imagemágica “Aos líderes da Organização compete criar as condições para a integração harmônica dos interesses dos clientes, das comunidades e dos indivíduos que a integram com os interesses dos acionistas, embasados no propósito de permanente promoção da saúde e da qualidade de vida, da prevenção de riscos e danos e da conservação do meio ambiente” TEO [Tecnologia Empresarial Odebrecht] 102 informa