PROTOCOLO GERAL DE ANESTESIA PARA CIRURGIA VÍDEO-LAPAROSCÓPICA Dr. Luis Josino Brasil I-OBJETIVO: Estabelecer rotinas homogêneas para a anestesia, que, no entanto, permitam a atuação flexível e a individualização de cada caso. II-INTRODUÇÃO: A videolaparoscopia é o "padrão áureo" para tratar colelitíase sintomática. Como os benefícios pós-operatórios são superiores em relação à cirurgia aberta é também usada hoje em pacientes com doenças subjacentes. Para tratar uma população de pacientes mais idosos, utilizando muitas medicações e com patologias cardiopulmonares associadas, nós devemos estar atentos às alterações fisiológicas causadas pela insuflação de gás carbônico (CO2) e pela pressão intra-abdominal elevada. É aceito atualmente que o pneumoperitônio provoca efeitos cardiovasculares, respiratórios e renais adversos. Alguns destes efeitos são relacionados ao CO2 e outros à pressão intra-abdominal elevada. A orientação geral da técnica anestésica é a de superpor a uma técnica cirúrgica que oferece uma recuperação rápida, uma técnica anestésica que não seja responsável por uma internação prolongada devido à lenta recuperação ou à presença de uma complicação inesperada, sendo na maioria dos casos realizada em regime ambulatorial, evitando-se o uso de medicação pré-anestésica e utilizando-se técnicas de informação e esclarecimento. III-MONITORIZAÇÃO E ACESSOS VENOSOS SEGUNDO: RESOLUÇÃO CFM N° 1.802/2006(Publicado no D.O.U. de 01 novembro 2006, Seção I, pg. 102) (Retificação publicada no D.O.U. de 20 de dezembro de 2006, Seção I, pg. 160) e Monitorização Padrão (ASA House of Delegates on October 21, 1996, and last amended October 25, 2005.) Monitorização Não-invasiva: indicada em todos os casos (exceção BIS e junção neuro-muscularnem sempre disponíveis) Eletrocardiograma em anestesia (ECG) Pressão arterial não invasiva em anestesia (PNI) Oxímetro de Pulso (SaO2) Capnografia (EtCO2) Monitorização da junção neuro-muscular-quando disponível Ìndice Bispectral (BIS)-quando disponível Monitores de temperatura Monitorização Invasiva Pressão arterial invasiva É medida através de um cateter acoplado a um transdutor de pressão que a converte em um sinal elétrico mostrado no monitor. Indicações: 1. Necessidade de manipular os níveis pressóricos (induzir hipo ou hipertensão) 2. Paciente hemodinamicamente instável 3. Necessidade freqüente de amostras de sangue arterial 4. Incapacidade de medida por método não invasivo Pressão venosa Central (PVC) e rendimento cardíaco O mecanismo é semelhante à pressão arterial. A PVC reflete a pressão ao nível da veia cava e átrio direito. O aparato transdutor é colocado ao nível do seio coronário. Indicações: 1. Necessidade de avaliar o volume intravascular e a função cardíaca direita 2. Administração de droga na circulação central 3. Acesso venoso para paciente sem possibilidade de acesso periférico 4. Injeção de corante para avaliar o rendimento cardíaco 5. Acesso para inserção de cateter de artéria pulmonar Cateterização da artéria pulmonar e pressão de oclusão da artéria pulmonar (CAP) Fornece informação sobre a função ventricular e o volume corrente pela aferiçao da PVC, Pressão da artéria pulmonar (PAP), pressão de oclusão da artéria pulmonar(PAOP), amostras do sangue venoso misto e débito cardíaco. Mecanismo O cateter é colcocado através de um introdutor venoso central. Ele passa através da veia cava, átrio direito e ventrículo direito até a a artéria pulmonar. Através do acoplamento a uma tela, ele fornece a pressão a cada localização por onde passa. Ao inflarmos o balão obtemos a PAOP, normalmente localizado na zona III de West onde a pressão venosa pulmonar é maior que a alveolar. Felizmente ele costuma estar bem localizado. Indicações: 1. Hipotensão inexplicada 2. Passagem de marcapasso 1 3. Procedimentos cirúrgicos com grandes alterações fisiológicas (TX pulmonar, correção de aneurisma aórtico) 4. IAM com choque O acesso venoso normalmente deve ser de médio calibre, representado por cateter número 18 ou 20. Preferencialmente a punção deverá ser feita em MSE. Além da monitorização de rotina, o capnógrafo deve ser de uso obrigatório. O valor registrado na capnometria não se correlaciona bem com a PaCO2. O gradiente alvéolo-arterial fisiológico, na vigência de pneumoperitônio tende a estar aumentado por vários fatores, como cardiopatias, pneumopatias e a duração da insuflação. A monitorização da pressão arterial média, o analisador de gases e a ecocardiografia transesofágica também podem ser utilizados, principalmente em pacientes graves e em procedimentos prolongados. IV-TÉCNICA ANESTÉSICA: A anestesia geral deve ser empregada, pois diminui o desconforto e assegura uma via aérea protegida pela intubação oro-traqueal. Além disso nós devemos manter o paciente com um relaxamento neuro-muscular intenso que evite dificuldades para a realização da técnica cirúrgica. IV.1-Drogas Hipnóticas: Não há qualquer contraindicação a qualquer droga, porém por ordem de preferência temos: propofol – devido principalmente ao perfil farmacocinético de curta duração e potencial anti-emético, quando não houver contra-indicações, constitui-se na droga de escolha, seguido do Etomidato(emético ) e do Midazolan. IV.2-Opióides: Devem ser usados com parcimônia, devido ao potencial emético e ao eventual prolongamento da recuperação, sugere-se o uso de fentanil 3 Mcg\Kg na indução, não devendo ultrapassar 5Mcg\Kg na dose total. _Poderá ser usado lidocaína 1 a 1,5mg\Kg na indução para proteção cardiovascular; o uso de Droperidol deverá ser feito, se necessário, após a instalação do pneumoperitônio não ultrapassando a dose de 75Mcg\Kg, para não prolongar a recuperação. IV.3-Bloqueador Neuromusculares- Não há contra-indicação a qualquer bloqueador, podendo ser usado o que melhor se adapta à situação, porém o atracúrio (injetado lentamente), será a droga de escolha, devido curto tempo cirúrgico na maioria das vezes e à fácil disponibilidade da droga em nosso meio. IV.4-Manutenção- A opção objetiva a manutenção do ritmo e débito cardíaco, e dos objetivos gerais da anestesia. O halotano não deve ser utilizado devido ao seu perfil farmacológico(toxicidade, potencial arritmogênico e alto coeficiente sangue:gás), podendo-se utilizar qualquer dos outros halogenados disponíveis atualmente: Sevoflurano, Isoflurano e Enflurano; havendo forte preferência pelo uso do Sevoflurano devido ao seu perfil de baixa solubilidade no sangue e rápida metabolização, que proporcionam uma recuperação rápida e de qualidade. Para cirurgias mais prolongadas, (acima de 03Hs.) poderá ser usado outro halogenado, sendo substituído na última meia-hora de cirurgia por Sevoflurano, com o objetivo de diminuir custos e manter a rapidez da recuperação proporcionada pelo Sevoflurano. O uso de N2O é controverso, sendo seu uso opcional. A maioria dos trabalhos examinados aponta uma tendência para seu uso rotineiro em videocirurgia, questionando a importância clínica de seu potencial emético. A anestesia intravenosa total é ainda hoje uma anestesia de alta relação custo\benefício e poderá ser usada utilizando-se preferencialmente infusões contínuas de Propofol, Remifentanil e Atracúrio por exemplo. V-Manobras complementares: Além da monitorização padrão, serão utilizadas as seguintes manobras: V.1-Colocação de SNG em nos pacientes que serão submetidos à videocolecistectomias e outras cirurgias de abdome superior antes da punção abdominal com agulha de Verres, a colocação da SNG deve ser realizada antes da punção para afastar o estômago e minimizar o risco de lesão acidental. V.2-Pré-Oxigenação com O2 a 100% por 03 min antes da indução da anestesia geral. V.3-Utilização de céfalo-aclive antes da punção com agulha de Verres sempre que as condições cardiopulmonares permitirem. Esse decúbito será substituído por céfalo-declive nas cirurgias de abdome inferior (pelve) ou mantido nas cirurgias de abdome superior (nas colecistectomias, será acrescentado decúbito lateral esquerdo. V.4- Será utilizado enfaixamento de MMII em todos os procedimentos com a utilização de perneiras, e enfaixamento mais medidas farmacológicas nos pacientes com risco para TVP, nos casos de cirurgias pélvicas ( Heparina SC\ Heparina de baixo peso). V.5 – Será procedida a intubação orotraqueal em todos os casos de cirurgia pela abordagem vídeolaparoscópica. VI-Contra-indicações e\ou limitações das vídeo-laparoscopias: Muitas das situações clínicas consideradas contra-indicações (ex.Trauma, gravidez) hoje em alguns casos se constituem em indicações para a abordagem videolaparoscópica. A experiência nos permite afirmar hoje que se um procedimento não deve ser realizado pela via videolaparoscópica, provavelmente não deverá ser feito por qualquer outra técnica. No entanto existem limites que a técnica ainda apresenta, caracterizados por situações questionáveis como: -Estados hipercinéticos -Hipertensão intracraniana -Sepsis -Febre -Insuficiência cardíaca ou respiratória descompensada VII- Cuidados com analgesia e profilaxia de náuseas e vômitos: VII.1- Analgesia: Baseado nos conceitos de analgesia preemptiva, na ausência de contraindicações o paciente deverá receber antiinflamatório não esteróide injetável na indução anestésica, (ex. Cetoprofeno 100mg iv.); e deverá ser infiltrada bupivacaína 0,5% ou ropivacaína 2 0,75% nos locais (portais) de inserção do instrumental- As duas medidas visam bloquear a hipersensibilidade central e periférica provocadas pelo estímulo agressor. A analgesia pós-operatória será realizada com paracetamol/dipirona ou AINE a intervalos regulares. Se necessário opióide por via sistêmica (tramadol, nalbufina. VII.2- Profilaxia de Náuseas e vômitos: Consideradas uma das principais causas de internações não programadas, será usado ondasetron 4 mg iv na indução em pacientes de risco : - Juventude - Sexo feminino (principalmente se a menstruação ocorre no dia da cirurgia ou está no primeiro trimestre de gravidez) - Antecedente de vômito pós operatório prévio - Retardo de esvaziamento gástrico ( obesidade, gravidez) - Enjôo de transporte Além disso deverão ser evitadas situações como: - transporte abrupto do paciente entre os leitos - variações na profundidade da anestesia - uso de grandes doses de opióides No pós-operatório será usado ondasetron iv se necessário no intervalo de 8/8hs. VIII- EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS: Relação de exames laboratoriais mínimos recomendados segundo a Sociedade Canadense de Anestesiologistas e as recomendações para solicitação exames de laboratório para cirurgias eletivas do Hospital de Ottawa, a Força Tarefa da ASA e a Health Technology 5 Assessment . Assintomático e sem patologias Nenhum associadas Hemograma Bioquímica* Doença Cardiovascular ECG Radiografia de tórax Hemograma Doença Respiratória ECG Radiografia de tórax Hemograma Doença renal Bioquímica* Doença Metabólica (Diabetes melito, Bioquímica* pituitária, adrenal) ECG** Hemograma Doença Hepática e coagulopatia Coagulograma*** Doença Neurológica (hemorragia subaracnóidea ou intraparênquimatosa, ECG TCE) Hemograma Neoplasia ou quimioterapia Radiografia de tórax 3 + + - • *Na , K , Cl , Creatinina e glicemia • **Nos pacientes portadores de diabetes melito • ***TTPa e RNI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONGARD, F.S.; PIANIM, N.A; LEIGHTON, T.ª; DUBECZ,S.; DAVIS,I.P.; LIPPMANN,M.-Helium insuflation for laparoscopic operation. Surg. Gynecol.&Obst., 177:140-6, 1993. GOODALE, R.L.; BEEBE, D.S.; McNEVIN, M.P.; BOYLE, M.; LETOURNEAU, J.G.; ABRANS, J.H.; CERRA, F.B. –Hemodynamic, respiratory, and metabolic effects of laparoscopic cholecystectomy. The Am.J. Surg., 166:533-7,1993. 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Pré-oxigenação (oxigênio a 100% p/3 minutos) Indução : - Não Encaminhado para melhora clínica Hipnóticos; Opióides; BNM; Proteção cardiovascular. Sim Manobras complementares: - Cirurgias de abdomen superior; - Cirurgias de abdomen inferior; - IOT; - VCmecânica Medidas de analgesia Preemptiva: - Infiltração; - AINE. Profilaxia para Náuseas e Vômitos: - Metoclopramida; - Ondasetron. Manutenção: - Enflorano; - Sevoflorano; - Isoflorano; - N2O. Recuperação na Sala de Cirurgia: - Reflexos protetores; - Sustentar cabeça; - Comandos simples; - SV estáveis. Sala de Recuperação Pós-anestésica - SRPA 5 Exame clínico minucioso