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A-8
A TRIBUNA
Sábado 25
www.atribuna.com.br
maio de 2013
Eles têm a cultura na palma da mão
Quem nasce cigano, sabe de cor suas tradições. Uma das maiores é a louvação à padroeira, Santa Sara, com festa marcada para hoje
CLAUDIO VITOR VAZ
A mesa da sala de Imar Lopes
está mais enfeitada nestes dias.
Sobre o manto colorido, cartas
de baralho, medalhas, vela e
uma imagem de Santa Sara Kali, perfumada por incenso. Desde criança, a anfitriã é devota
da moça negra, por ser a padroeira de sua etnia: “tenho
sangue cigano”.
Por isso, em todo sábado
mais próximo do dia 24 de
maio (o dia da padroeira), mais
de dois mil ciganos da Baixada
Santista festejam a memória
da santa. A tradição é preservada pela oralidade. “Sara estava
em um mar revolto em SainteMaries-de-la-Mer (França) e
pediu proteção a Deus. Se Ele a
salvasse, ela usaria para sempre um lenço como gratidão”,
narra Imar.
Na Cidade, dois altares foram
erguidos à mãe dos nômades.
Um na Igreja Nossa Senhora do
Rosário, outro na gruta do MorroNovaCintra,asegundamaior
gruta do País – a primeira está
no Rio de Janeiro. “Ela intercedeu por um grave problema de
saúde que eu tinha”, cita Imar.
Outros muitos milagres também são atribuídos à padroeira,
geralmentecasosdegravidez.
O fervor à santa é apenas
uma,dasériedetradiçõesherdadas e mantidas pelos ciganos.
Asoutrasincluemosdialetos,as
músicas, a atenção com as energiasdos elementos naturais e da
aura humana, que servem para
aleiturademãosecartas.
Opcha!
Ônibus
Celebrando Santa Sara, a Linha
Conheça Santos – Morros parte
hoje, às 15 horas, da Praça das
Bandeiras e faz parada na Lagoa
da Saudade, palco da festa
cigana, que inclui danças árabes
e do ventre, exposição de
artesanato e roupas, tarô,
oráculos e missa na Paróquia São
João Batista (Praça Guadalajara,
s/nº), seguida de procissão até a
gruta da padroeira. Reservas
para a viagem: 3284-4375
“É muito
importante que as
pessoas respeitem
as diferenças.
Opcha, Santa Sara
Kali! (no dialeto
cigano: Salve, Santa
Sara Kali!)”
Sahira Ma Ajniha, cigana
Ler a sorte nas mãos é apenas uma das manifestações culturais desse povo que ainda sofre com o preconceito
“Aindahá uma certa resistência entre a nossa e as outras
culturas”, diz a anfitriã. Portando, ela sonha com o respeito
entre as pessoas. Por exemplo,
ainda não é comum o casamento fora da etnia, e as ciganas
não podem ser tocadas por homens além de seus cônjuges.
“Se vou ao hospital, só posso
L A N Ç A M E N T O
ser atendida por médicas”.
A tradição das saias longas,
rodadas, é porque as mulheres
também não podem exibir as
pernas. “É um respeito próprio. Até mesmo quando faço
uma dança árabe, não mostro o
ventre”, explica Sahira Ma Ajniha, professora de dança há
dez anos.
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li! (no dialeto cigano: Salve,
Santa Sara Kali!)”.
DISCRIMINAÇÃO PELO BRASIL
Maria Sueli Lourenço bebe refrigerante, assiste tevê, ouve
funk e também tem alma livre
(cigana). Mas justamente por
trajar-se valorizando sua etnia,
revela experimentar discrimi-
FERNANDA LUZ/17/3/08
LINCOLN SPADA
DA REDAÇÃO
Referência para lideranças comunitárias e conselhos municipais, o Fórum da Cidadania
celebra seu11º aniversário amanhã, das 17 às 21 horas, em sua
sede, na Avenida Ana Costa,
340.
“O Fórum é o fruto desse
trabalho permanente de pessoas que se importam, que querem discutir e fiscalizar a gestão pública e política da Cidade”, anima-se o coordenador, o
sociólogo Célio Nori.
A entidade se envolve há
anos nas áreas sócio-política
(em conselhos e comissões), sócio-ambiental (nas conferências de meio ambiente) de comunicação (implantando um
futuro projeto de web-TV), sócio-cultural (oficinas artísticas) e sócio-educativa.
Neste último quesito, no segundo semestre, ocorre o curso
de capacitação para cidadania,
voltado a lideranças comunitárias, e sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente, para
educadores, pais e alunos das
redes municipal e estadual.
Para comemorar, estão previstas diversas apresentações artísticas
Vagas abertas
A Estação da Cidadania sedia os novos cursos trimestrais de
fotografia (com Miriam D’Almeida), vídeo (com Eduardo Ricci) e
teatro (com Maria Tornatore), com início em junho. E nos dias 8, 15 e
22 de junho, o historiador e jornalista Marcus Vinícius Batista
ministra Relações raciais no Mundo Contemporâneo. Informações:
3221-2034 ou em www.forumdacidadania.org.br.
Para realizar as iniciativas, o
Fórum da Cidadania, entidade
sem fins lucrativos, é mantido
por 50 associados. “Precisamos do auxílio das pessoas
para ampliar o debate sobre a
cidadania, a fiscalização do
interesse público e o controle
social”, afirma Nori.
PROGRAMAÇÃO DOMINICAL
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Por isso, elas preferem adornar suas roupas, com diferentes cores, joias e pedras. “Mas
as cores e os acessórios não têm
um significado específico. Nos
vestimos assim porque temos
orgulho de nossa etnia”, justifica Sahira. “É muito importante
que as pessoas respeitem as diferenças.Opcha, Santa Sara Ka-
nação. Mas ela leva com bom
humor.
“Além de alguns acharem
quesomos ladrões,já tevemãe
escondendo o filho da minha
frente, com medo de que fosse
raptá-lo, e pessoas estendendo a mão no meio da rua, para
queeulesseofuturo”.
No entanto, o preconceito
no Brasil com a comunidade
nômade ainda ganha contornos severos. Uns não têm certidão de nascimento, RG e
outros documentos que garantem a cidadania; há crianças sem direito de ir à escola;
e há, ainda, alguns que acabam na prisão, apenas por
exercerem sua cultura.
Contra tal marginalização,
desde 2007, o Governo Federal decretou a data de 24 de
maio como Dia Nacional dos
Ciganos.
Fórum da Cidadania faz 11 anos
P E N A
EGO
LINCOLN SPADA
DA REDAÇÃO
As artes se misturam na festa,
com o aniversário do Fórum
integrando a Virada Cultural
Santista. Das 17 às 19 horas,
as alunas da oficina teatral
participam da intervenção cênica As Rodriguianas, dirigida por Maria Tornatore e Miriam Vieira.
Também haverá exposição de fotos e vídeos dos
alunos do Fórum, dança circular, capoeira, atrações musicais e noite de autógrafos
de Alessandro Atanes (Esquinas do Mundo), Helle
Alves (Eu Vi), Manoel Herzog (Os Bichos), Márcia Costa (De Pagu a Patrícia – O
último ato) e Milton Lacerda (vários títulos). Será na
Avenida Ana Costa, 340,
com entrada franca.
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