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Ana Lúcia Sarmento Henrique e Leonor de Araujo Bezerra Oliveira
Ações metodológicas e material didático em língua portuguesa
com vistas à integração entre os conhecimentos materializados
em disciplinas no Curso Técnico de Nível Médio Integrado em
Controle Ambiental na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos
Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação Lato
Sensu em Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Integrada ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos, da Diretoria de Ensino, vinculada ao
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do
Norte.
Orientadora: Prof. Ms. Sandra Maria Borba Pereira
Natal-RN
2007
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Ana Lúcia Sarmento Henrique e Leonor de Araujo Bezerra Oliveira
AÇÕES METODOLÓGICAS E MATERIAL DIDÁTICO EM LÍNGUA
PORTUGUESA COM VISTAS À INTEGRAÇÃO ENTRE OS
CONHECIMENTOS MATERIALIZADOS EM DISCIPLINAS NO
CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO INTEGRADO EM CONTROLE
AMBIENTAL NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Monografia aprovada como requisito para obtenção do grau
de especialista no curso de Curso de Pós-graduação Lato
Sensu em Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Integrada ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos, pela seguinte banca examinadora:
_________________________________________
Orientadora: Prof. Ms. Sandra Maria Borba Pereira
_________________________________________
Primeiro Vocal: Prof. Dr. Francisco de Assis Pereira
______________________________________
Segundo Vocal: Ms. Maria das Graças Baracho
Natal (RN), 26 de abril de 2007.
ii
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Dedicamos este trabalho a todos os envolvidos no Curso de Pós-graduação
Lato Sensu em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao
Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, colegas,
professores e coordenação, assim como aos alunos do Curso Técnico de Nível
Médio Integrado em Controle Ambiental na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos por propiciarem a oportunidade de pensar cientificamente sobre nosso
fazer pedagógico, o que nos deu amparo para rever caminhos e criar
possibilidades de mudanças.
iii
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos à coordenação do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio na
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, nas pessoas de Maria das Graças
Baracho e Amélia Cristina Reis e Silva, pela organização e desenvolvimento deste
curso.
Agradecemos também aos colegas e professores pelos momentos de
discussão que tanto nos ajudaram a redimensionar nosso trabalho pedagógico.
Agradecemos ainda aos alunos do Curso Técnico de Nível Médio Integrado
em Controle Ambiental na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos pela
convivência e também por nos ensinar a ensinar.
iv
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“O importante e bonito no mundo é isso: que as pessoas não
sempre estão iguais, ainda não foram terminadas, mas elas
vão sempre mudando. Afinam e desafinam”.
(Guimarães Rosa)
v
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RESUMO
O trabalho tem como foco as estratégias metodológicas utilizadas e o material
didático produzido em Língua Portuguesa de forma a permitir a integração entre
os conhecimentos materializados em disciplinas no Curso Técnico de Nível Médio
Integrado em Controle Ambiental na Modalidade EJA, visando possibilitar a
autonomia, o diálogo e a inter-relação entre os conhecimentos integrantes dos
módulos, a contextualização e a problematização a partir de situações
significativas do cotidiano dos jovens e adultos. Visa também refletir sobre as
funções equalizadora, reparadora e qualificadora da Educação de Jovens e
Adultos. Considerando que os alunos apresentam perfis muito diversificados, tanto
no que se refere a conhecimentos específicos dos conteúdos, quanto ao domínio
da própria língua, fez-se necessária uma caracterização objetiva e sistemática dos
alunos do curso. O método de abordagem do objeto foi o hipotético-dedutivo,
através de um estudo etnográfico, sob o enfoque da pesquisa-ação educativa.
Entrevistas, questionários e observação participante foram as técnicas utilizadas
na coleta de dados. A análise, portanto, insere-se no paradigma qualitativo pela
relação indissociável entre a realidade analisada e os sujeitos envolvidos no
processo, cuja relação dinâmica exige interpretação e atribuição de significados.
Como objetivo final do trabalho, pretende-se propor estratégias metodológicas e
material didático de língua portuguesa que permitam a integração entre os
conhecimentos materializados em disciplinas propedêuticas do ensino médio e as
específicas da educação profissional no Curso Técnico de Nível Médio Integrado
em Controle Ambiental na Modalidade de Educação para Jovens e Adultos.
Palavras-chave: educação de jovens e adultos, educação profissional, curso
técnico de nível médio integrado, ensino de língua portuguesa, estratégias
metodológicas.
vi
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RESUMEN
El trabajo tiene como foco las estrategias metodológicas y lo material didáctico
utilizados en Lengua Portuguesa de forma a permitir la integración entre los
conocimientos materializados en asignaturas en el Curso Técnico de Nivel
Mediano Integrado en Control Ambiental en la Modalidad EJA, visando posibilitar
la autonomía, el diálogo y la interrelación entre los conocimientos integrantes de
los módulos, la contextualización y la problematización a partir de situaciones
significativas del cotidiano de los jóvenes y adultos. Visa también reflexionar sobre
las funciones ecualizadora, reparadora y cualificadora de la Educación de Jóvenes
y Adultos. Considerando que los alumnos presentan perfiles mucho diversificados,
tanto en lo referente a conocimientos específicos de los contenidos, cuanto al
dominio de la propia lengua, se hizo necesaria una caracterización objetiva y
sistemática de los alumnos del curso. El método de investigación del objeto fue el
hipotético-deductivo, a través de un estudio etnográfico, bajo el enfoque de la
investigación-acción
educativa.
Entrevistas,
cuestionarios
y
observación
participante fueron las técnicas utilizadas en la colecta de dados. El análisis, por lo
tanto, se inserta en el paradigma cualitativo por la relación indisociable entre la
realidad analizada y los sujetos involucrados en el proceso, cuya relación dinámica
exige interpretación y atribución de significados. Como objetivo final de la
investigación, se intentará proponer estrategias metodológicas y material didáctico
de lengua portuguesa que permitan la integración entre los conocimientos
materializados en asignaturas propedéuticas de la enseñanza secundaria y las
específicas de la educación profesional en el Curso Técnico de Nivel Medio
Integrado en Control Ambiental en la Modalidad de Educación para Jóvenes y
Adultos.
Palabras Clave: educación de jóvenes y adultos, educación profesional, curso
técnico de nivel medio integrado, enseñanza de lengua portuguesa, estrategias
metodológicas.
vii
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SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO
13
2
SITUANDO O PROBLEMA
15
2.1
O CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO INTEGRADO EM
CONTROLE AMBIENTAL NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE
18
JOVENS E ADULTOS
2.2 DESCRIÇÃO DO GRUPO DE ALUNOS.
21
2.3 SEXO
21
2.4 IDADE
22
2.5 ESTADO CIVIL
23
2.6 ESCOLARIZAÇÃO
23
2.7 INSERÇÃO LABORAL
24
2.8 TECENDO ALGUNS COMENTÁRIOS ADICIONAIS
25
3 EXPLICITANDO TERMOS
27
3.1 EDUCAÇÃO
28
3.2 ENSINO MÉDIO
34
3.3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
36
3.4 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
39
3.5 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO
INTEGRADA AO ENSINO MÉDIO NA MODALIDADE EJA
41
3.6 CURRÍCULO
42
3.7 CURRÍCULO INTEGRADO
43
3.8 CONCEPÇÃO DE LÍNGUA
44
3.9 ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
45
4 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS
48
viii
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5 OBJETIVOS
51
5.1 OBJETIVO GERAL
51
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
51
6 SITUANDO A EXPERIÊNCIA
53
6.1 O TEMPO COMUNIDADE
53
6.2 IDENTIFICANDO DIFICULDADES ... REDEFININDO
ESTRATÉGIAS
55
6.3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
55
6.3.1 Atividades relativas à escuta de textos
56
6.3.1.1 Ditado com música
56
6.3.1.2 Leitura individual e coletiva de textos
56
6.3.1.3 Debates orientados
57
6.3.2 Atividades relativa à escuta/produção de textos
58
6.3.2.1 Pé-de-orelha
58
6.3.2.2 Leitura em pequenos grupos
63
6.3.2.3 Leitura de textos não-verbais
64
6.3.2.4 Leitura comparativa
65
6.3.2.5 Apresentação e discussão de filmes
65
6.3.2.6 Passa-giz
66
6.3.2.7 Ciranda de livros
66
6.3.2.8 Escrevendo e aprendendo palavras novas a partir da visita ao
Aquário da Redinha
67
6.3.2.9 Produção de relatórios
67
6.3.2.10 Simulação de situação real
68
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
73
REFERÊNCIAS
75
ix
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APÊNDICES
x
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1- Faixa etária dos alunos do curso de Controle Ambiental
22
Gráfico 2- Escolarização dos alunos de Controle Ambiental
23
Gráfico 3 - Inserção laboral dos alunos de Controle Ambiental
24
Ilustração 1 - Leitura de texto
57
Ilustração 2 - Debate orientado
57
Ilustração 3 - Atividade de pé-de-orelha
58
Ilustração 4 - Comentário 1 sobre as atividades desenvolvidas
59
Ilustração 5 - Comentário 2 sobre as atividades desenvolvidas
Ilustração 6 - Comentário 3 sobre as atividades desenvolvidas
60
Ilustração 7- Comentário 4 sobre as atividades desenvolvidas
61
Ilustração 8- Texto argumentativo corrigido para reescritura
62
Ilustração 9 - Texto reescrito pelo aluno
63
Ilustração 10 - Charge discutida em sala
64
Ilustração 11 - Visita ao Aquário de Natal
67
Ilustração 12 - Atribuições dos jornalistas
68
Ilustração 13 - Trabalho dos partidos políticos
69
Ilustração 14 - Texto escrito produzido
69
Ilustração 15 - Tribunal Eleitoral em atividade
69
Ilustração 16 - Apuração do resultado
70
Ilustração 17 - Grupo de eleitores em discussão sobre argumentação
70
Ilustração 18 - Debate político
70
Ilustração 19 - Partidos políticos
71
xi
60
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LISTA DE ABREVIATURAS
EJA
CEFET- RN
- Educação de Jovens e Adultos
- Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do
Norte
INCRA
- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MST
- Movimento dos Trabalhadores sem Terra
PRONERA
- Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
PROEJA
- Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino
Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
CNE
- Conselho Nacional de Educação
CEB
- Câmara de Educação Básica
MDA
- Ministério do Desenvolvimento Agrário
TC
- Tempo Comunidade
TP
- Tempo Presencial
xii
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13
1
INTRODUÇÃO
A educação de jovens e adultos vem defendendo a reinserção no sistema
educativo daqueles excluídos da escola regular, de modo a permitir a
igualdade de oportunidades para todos os que tiveram sua trajetória
pedagógica
interrompida.
Além disso,
busca
também
a
qualificação
profissional (que não deve ser confundida com a pura instrumentalização para
assunção de postos de trabalho), a fim de possibilitar uma educação em
consonância com a concepção de formação integral do cidadão. Formação
essa que deve combinar trabalho, ciência e cultura, na sua prática e nos seus
fundamentos científico-tecnológicos e sociohistórico. Essas funções da EJA
(reparadora, equalizadora e qualificadora) devem balizar todo o trabalho
educativo dirigido a esse público específico. Trata-se, portanto, de pensar a
educação geral como parte inseparável da educação profissional e da
educação para o mundo do trabalho, buscando garantir ao adolescente, ao
jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura
do mundo e para sua atuação como cidadão integrado dignamente à
sociedade. Trata-se também de assumir a condição humanizadora da
educação, propiciando uma formação humana em seu sentido lato, com
acesso aos saberes científicos e tecnológicos construídos sociohistoricamente
pela humanidade aliada a uma formação profissional que permita ao jovem e
adulto compreender o contexto social mais amplo, ao mesmo tempo em que
lhe permita compreender-se no mundo, para nele atuar em prol da construção
de uma sociedade justa.
Uma educação nesses moldes necessita da integração dos conteúdos
das disciplinas da educação propedêutica e da educação profissional, de modo
a que se possa perceber a interrelação entre elas.
Nessa perspectiva, este trabalho de monografia pretende contribuir para
a reflexão sobre o tema e, conforme está expresso em seu título, propusemos
ações metodológicas e material didático em língua portuguesa que permitiram
a integração entre os conhecimentos materializados em disciplinas no curso
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14
técnico de nível médio integrado em controle ambiental na modalidade de
educação de jovens e adultos.
Trata-se de uma pesquisa-ação, portanto de cunho etnográfico, em que
nós elaboramos todo o material didático aqui apresentado, bem como criamos
estratégias metodológicas que, mais acordes à idade dos alunos, pudessem
ao mesmo tempo, revisar os conteúdos de língua portuguesa, fazê-los pensar
sobre o contexto social e aplicar esses conhecimentos em seus trabalhos da
área técnica.
Para apresentar o trabalho de pesquisa, dividimos essa monografia em 7
capítulos. Além desta introdução, em que apresentamos sucintamente os
motivos e a estrutura do trabalho, no capítulo 2, situamos o Curso Técnico de
Nível Médio Integrado em Controle Ambiental como parte da política nacional
para a educação em áreas de reforma agrária. Além disso, explicitamos quais
são os objetivos do Curso e descrevemos o grupo de alunos participantes.
No capítulo 3, explicitamos a fundamentação teórica que embasa a
construção do material e a proposição das metodologias.
Em seguida, apresentamos o percurso da pesquisa com a descrição da
metodologia e dos procedimentos utilizados para, no capítulo 5, detalhar os
objetivos que nortearam todo nosso trabalho.
No capítulo 6, explicitamos o funcionamento do curso e, após mostrar as
dificuldades
que encontramos
para o processo ensino-aprendizagem,
detalhamos as atividades que desenvolvemos com os alunos ao longo dos
dois módulos desenvolvidos no ano de 2006.
Finalmente, nas considerações finais, mostramos a necessidade de se
trabalhar com a maior variedade possível de gêneros textuais, centrando a
atenção nos gêneros que serão mais utilizados pelo aluno quando estiver no
mundo do trabalho atuando como técnico. Mostramos também que a produção
textual é mais efetiva quando está vinculada a situações mais próximas da
realidade.
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15
2
SITUANDO O PROBLEMA
O Projeto de Formação Profissional de Nível Técnico para Jovens e
Adultos de Áreas de Reforma Agrária no Estado do Rio Grande do Norte
constitui-se numa parceria entre o Centro Federal de Educação Tecnológica
do Rio Grande do Norte (CEFET-RN), a Superintendência Regional do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária do Rio Grande do Norte (INCRA)
e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST/RN). Conta com o
apoio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e tem
como objetivo a formação de jovens e adultos numa proposta de educação
que valorize os saberes dos sujeitos do campo, articulando-os com os saberes
sistematizados historicamente pela humanidade. Para consecução desse
objetivo, foi instituído, entre os parceiros, o Curso Técnico de Nível Médio
Integrado em Controle Ambiental na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos.
A
integralização
da
turma
foi
feita
através
de
indicação
dos
coordenadores dos assentamentos em parceria com o INCRA.
Em que pese a larga experiência do CEFET-RN e seu reconhecimento
como referência no Estado por sua oferta de educação pública, gratuita e de
qualidade, para a Instituição, esse curso, iniciado no primeiro semestre deste
ano, está sendo uma experiência inédita, uma vez que o Centro ainda não
havia atuado na modalidade de educação de jovens e adultos (EJA).
Dessa forma, os professores do Centro convidados a trabalhar no Curso
também fariam sua estréia nessa modalidade de educação, com todas as
incertezas e percalços que a incipiência traz.
Especificamente em Língua Portuguesa, a nossa atuação em sala de
aula, já nos primeiros dias do Curso, mostrou que o material didático utilizado
nos cursos regulares do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio
Grande do Norte (CEFET-RN) não atendia às necessidades dos alunos
inscritos no Projeto.
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16
Em primeiro lugar, porque o material atendia apenas ao nível médio da
educação, não considerando a necessidade de integração entre esse nível da
educação básica e o técnico de nível médio da esfera da educação
profissional.
Além disso, o material também não levava em consideração as
diversidades existentes no grupo. Ao lado da diferença de idade, tão comum
em alunos da modalidade EJA, encontraram-se também diversos níveis de
maturidade intelectual, de experiência de vida e de domínio no uso dos
recursos lingüísticos.
Pode-se acrescentar ainda que o material didático disponível no mercado
e utilizado nos cursos técnicos de nível médio, em geral, tem talante
instrumentalista, porque esses cursos se preocupam em formar para o
mercado de trabalho, na visão mais estreita que se pode ter desse termo. Por
isso, é comum encontrarem-se disciplinas e materiais intitulados Redação
Oficial, em que se focalizam os formatos dos documentos para troca de
correspondência
internamente
ou
entre
instituições,
ou
Português
Instrumental, cujo cerne é quase sempre a leitura de textos técnicos.
É conveniente esclarecer que um material didático que, em princípio,
deveria ser utilizado em sala de aula com o grupo de alunos em questão foi
produzido antecipadamente, tendo como base os conteúdos discriminados no
projeto do curso, a representação social que tínhamos de alunos que terminam
o Ensino Fundamental, nível exigido para a inscrição no Curso, o nível de
conhecimento dos alunos que fazem esse mesmo curso na Instituição na
modalidade presencial e a função social do CEFET-RN, expressa no seu
Projeto Político Pedagógico:
1
[...] promover a educação científico-tecnológico-humanística ,
visando à formação integral do profissional-cidadão crítico-reflexivo,
competente técnica e eticamente e comprometido efetivamente com
as transformações sociais, políticas e culturais e em condições de
atuar no mundo do trabalho na perspectiva da edificação de uma
1
Com o termo científico-tecnológico-humanística queremos destacar que a concepção
de educação assumida pela Instituição incorpora, de forma indissociável e em igualdade de
condições e importância a nível de conteúdo, tanto a formação que incorpora as ciências
denominadas duras como as ciências sociais e humanas.
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17
sociedade mais justa e igualitária, [...] (CEFET-RN. Disponível em:
<http://www.cefetrn.br/institucional/funcao_social>. Acesso em: 04
ago. 2006).
Diante do fracasso na utilização da apostila preparada para o Curso,
resolvemos descartar o que havia sido produzido e preparar material ad doc
que pudesse atender tanto às necessidades do grupo de alunos como as
necessidades individuais visualizadas a cada encontro.
Uma pergunta, embora não de forma explícita, sempre guiava essa
atividade de preparação de material e seleção de estratégias de atuação: que
estratégias metodológicas e que material didático de língua portuguesa podem
permitir a integração entre os conhecimentos materializados em disciplinas no
Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental na Modalidade
EJA?
Ao mesmo tempo, havia a preocupação de atender às necessidades dos
alunos, fazendo as adaptações curriculares necessárias, sem perder de vista o
perfil profissional de conclusão, presente no Projeto do Curso. Ademais,
guiava essa atividade a concepção de educação profissional expressa por
Manfredi (2003), para quem a educação profissional tem uma dimensão social
intrínseca que “extrapola a simples preparação para uma ocupação específica
no mundo do trabalho e postula a vinculação entre a formação técnica e uma
sólida base científica, numa perspectiva social e histórico-crítica, integrando a
preparação para o trabalho à formação de nível médio” (MANFREDI, 2003,
p.57 apud BRASIL, 2006, p.35).
Antes de explicitar os objetivos deste projeto de trabalho, convém
conhecer o o Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos e seus alunos. Esses temas
serão objeto de discussão dos dois subitens seguintes.
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18
2.1
O Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
Como forma de ampliar a atuação dos CEFET’s, em 14 de junho de
2005 é assinada pelo Ministro da Educação a Portaria nº 2.080, que, 10 dias
depois, transforma-se no Decreto de nº 5.478, de 24 de junho de 20052. Esse
instrumento legal institui no âmbito dos Centros Federais de Educação
Tecnológica, Escolas Técnicas Federais, Escolas Agrotécnicas Federais e
Escolas Técnicas vinculadas as Universidades Federais, o Programa de
Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos – PROEJA.
Com base nessa legislação, o INCRA e o CEFET-RN propõem a
criação de um curso técnico de nível médio nessa modalidade de ensino, cujos
objetivos, são, segundo o Projeto do Curso,
Promover a formação de jovens e adultos de assentamentos de
Reforma Agrária do Rio Grande do Norte em Nível Técnico
Integrado, ao ensino médio na modalidade EJA, visando contribuir
para a consolidação de políticas públicas para a educação no
campo;
Oportunizar aos agricultores (as) das áreas de Reforma Agrária e
comunidade de pequenos agricultores, com acesso à educação, que
proporcione uma formação integral, conjugando desenvolvimento
humano,
inserção
na
sua
realidade,
escolarização
e
profissionalização qualificada (CEFET-RN, 2005, p 10).
Além desses objetivos, outros, que guiam o perfil de formação dos
técnicos de nível médio em Controle Ambiental na modalidade EJA, podem ser
citados
Atuar ética e politicamente na busca de alternativas de prevenção e
soluções de problemas ambientais, visando à melhoria e o equilíbrio
2
Revogado pelo Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006, que institui o Programa
Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) com uma filosofia distinta do anterior.
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19
do meio ambiente e das condições objetivas de trabalhadores e
trabalhadoras do campo;
Adotar procedimentos para a implementação, gerenciamento e
avaliação de projetos ambientais nas esferas pública, privada e
terceiro setor;
Dar assistência técnica no campo;
Ser agente multiplicador de ações voltadas para a educação
ambiental em consonância com a filosofia da gestão, da melhoria da
qualidade de vida da população e preservação do meio ambiente
(CEFET-RN, 2005, p 10-11).
Esses objetivos citados anteriomente embasam o perfil de formação do
profissional concluinte do Curso Técnico de nível Médio em Controle
Ambiental, que deve estar habilitado a desempenhar atividades nos mais
diferentes locais de trabalho, visando sempre ao controle da qualidade do meio
ambiente. Espera-se, portanto, desse profissional a capacidade de
Conhecer e utilizar as formas contemporâneas de linguagem, com
vistas ao exercício da cidadania e à preparação para o trabalho,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico;
Compreender a sociedade, sua gênese e transformação e os
múltiplos fatores que nela intervêm como produtos da ação humana
e do seu papel como agente social;
Ler, articular e interpretar símbolos e códigos em diferentes
linguagens e representações, estabelecendo estratégias de solução
e articulando os conhecimentos das várias ciências e outros campos
do saber;
Utilizar métodos de análises para identificação dos processos de
degradação natural e dos parâmetros de qualidade ambiental do
solo, da água e do ar;
Analisar os aspectos sociais, econômicos, culturais e éticos
envolvidos nas questões de exploração dos recursos naturais;
Conhecer e aplicar a legislação ambiental;
Aplicar as tecnologias de tratamento e controle de emissões para o
solo, água e ar;
Manusear com técnica os instrumentos e equipamentos específicos
de laboratórios da área de meio ambiente;
Desenvolver atividades voltadas para o uso racional da água,
tratamentos simplificados de sistemas de tratamento de águas e
efluentes e de limpeza urbana;
Desenvolver campanhas educativas para conservação
preservação do meio ambiente e qualidade de vida;
e
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20
Planejar ações preventivas e corretivas em vigilância ambiental e
atuar em projetos de saúde ambiental;
Demonstrar capacidade de trabalhar em equipe multidisciplinar de
estudos ambientais, agindo com responsabilidade e criatividade;
Cumprir normas de segurança do trabalho;
Utilizar adequadamente a linguagem como instrumento de
comunicação e interação social necessária ao desempenho da
profissão.
Ainda sobre o Projeto, é interessante destacar alguns dos princípios que
regem o trabalho. A educação é entendida como um processo de formação
humana que articula referências culturais e políticas, a fim de possibilitar a
intervenção dos jovens e adultos na realidade em função de novas políticas
para o campo. O trabalho é percebido como princípio educativo, pois permite a
compreensão do significado econômico, social, histórico, político e cultural das
ciências e das artes. Da mesma maneira, a pesquisa também é percebida
como parte do processo educativo por desenvolver a autonomia do educando.
A relação entre educação, cultura, trabalho, economia, ciência e tecnologia é
base para o trabalho pedagógico, a fim de propiciar o desenvolvimento social e
econômico igualitário. Para isso, outro princípio fundamental emerge: a
necessidade de utilizarem-se metodologias que possibilitem autonomia, o
diálogo, a inter-relação entre os conhecimentos integrantes dos módulos, a
contextualização dos conhecimentos, a problematização a partir de situações
significativas do cotidiano dos jovens e adultos. Outro príncipio fundante do
processo ensino-aprendizagem é propiciar a busca da identidade de uma
escola do campo em que haja a ruptura entre rural-urbano, considerando a
identidade cultural dos jovens e adultos situados historicamente. Existe, no
entanto, um princípio que transpassa todos os demais, e sem o qual o
profissional é mero instrumento na sociedade: o desenvolvimento de valores
humanos voltados para a solidariedade, o respeito mútuo, o compromisso com
a democracia ampliada, o desenvolvimento e a sustentabilidade do país.
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21
2.2
Descrição do grupo de alunos.
O público de EJA é reconhecidamente diferenciado, devido a sua
condição histórica de exclusão econômica e social e pelo tratamento político
dado ao tema da educação desse grupo ao longo da história. Para pensar a
educação para todos, é preciso comprometer-se com a redução das
desigualdades sociais existentes no país, as quais “manifestam-se claramente
na distribuição de renda, de bens e serviços, na discriminação de gênero, de
cor, de etnia, de acesso à justiça e aos direitos humanos” (BRASIL, 2004,
p.19).
Nesse sentido, não se pode pensar a EJA nas suas funções
equalizadora, reparadora e qualificadora sem levar em consideração as
condições objetivas constituintes desse público. Para responder positivamente
às funções supracitadas da EJA, permitindo, portanto, que a educação
funcione como fator de transformação social, é imprescindível que seja feita
uma caracterização sistemática desse público.
Para conhecer os alunos do Curso, foi realizada uma coleta de dados
em sala de aula através do preenchimento de uma ficha cadastral (Apêndice 1)
atendendo simultaneamente a dois objetivos: a informação sobre cada um dos
alunos e a avaliação da capacidade individual para preencher adequadamente
o gênero textual citado. A ficha era um texto de baixa complexidade e constava
dos seguintes itens: sexo, idade, estado civil, escolarização e inserção laboral.
Analisemos cada um deles.
2.3
Sexo
Dos 50 alunos que responderam à ficha, 39 são do sexo masculino e 11,
do sexo feminino, o que, em termos percentuais, significa 78% de homens e
22% de mulheres. Considerando a necessidade de afastamento do núcleo
familiar para participar do Curso, essa distorção de gênero reflete claramente
que as mulheres, por sua condição de mulher, que muitas vezes assumem
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22
encargos familiares ligados a trabalhos domésticos, a cuidados com a saúde
de parentes e educação de irmãos menores, ficam impossibilitadas de
aproveitar oportunidades de crescimento intelectual e profissional. Dois
exemplos de abandono do Curso ratificam essa afirmativa. Uma das
educandas interrompeu o curso para cuidar da avó doente e outra, porque
engravidou.
2.4
Idade
Idade
Em relação à faixa
2%
4%
2%
4%
16
10%
17
6%
etária, o gráfico a seguir é
bastante
diversidade
ilustrativo
existente
18
8%
10%
da
20
21
no
22
6%
23
grupo.
18%
10%
Percebe-se
primeira
logo
hoje
27
20%
análise
no
Brasil:
a
24
25
na
uma Gráfico 1 - Faixa etária dos alunos do curso de Controle
Ambiental
característica marcante da
EJA
19
29
Fonte: CEFET-RN/Pronera, 2006
presença considerável de jovens. Segundo o Documento Base do Proeja, isso
seria explicado “em grande parte devido a problemas de não-permanência e
insucesso no ensino fundamental ‘regular’” (BRASIL, 2005, p. 6).
O gráfico mostra que 50% dos alunos situam-se na faixa etária entre 17
e 20 anos, dado que, se fosse analisado por si só, tornaria esse público muito
pouco diferente do público normal de ensino médio. Esses jovens buscam na
EJA uma tábua de salvação para suprirem deficiências acumuladas ao longo
de sua trajetória escolar, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio,
conforme veremos quando fizermos uma análise comparativa entre a faixa
etária e o nível de escolarização.
É curioso, também, o fato de haver 2% de alunos com a idade de 16
anos, o que, segundo a Resolução CNE/CEB nº 1, de 05 de julho de 2000, que
em seu parágrafo segundo do artigo 8º, estabelece que os cursos de
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23
educação de jovens e adultos de nível médio devem ser dirigidos
especificamente para alunos de faixa etária superior à própria para a
conclusão desse nível de ensino, ou seja, deve voltar-se para jovens a partir
de 17 anos completos.
2.5
Estado Civil
No grupo de alunos, vimos que apenas um deles (do sexo masculino) é
casado, o que corresponde, em termos percentuais, a 98% de alunos solteiros.
O dado referente ao sexo do aluno casado é interessante, pois confirma, de
certa forma, a facilidade própria do gênero masculino em ter acesso a
oportunidades de crescimento intelectual, que possam demandar regime de
internato por vários meses em um ambiente coletivo. A ausência de mulheres
casadas pode significar um impedimento causado por uma situação
socialmente inerente ao gênero feminino, cuja liberdade é ainda bastante
tolhida em nossa sociedade.
2.6
Escolarização
Os dados obtidos nesse
2%
tópico são bastante curiosos,
Escolarização
como bem demonstra o gráfico
16%
Ensino Fudamental
Incompleto
2.
Ensino Fudamental
Completo
48%
Ensino Médio
Incompleto
Se considerarmos que o
propósito de um curso dessa
Ensino Médio Completo
34%
natureza
deveria,
conforme
recomenda o Documento Base,
Gráfico 2 - Escolarização dos alunos de Controle
Ambiental
Fonte: CEFET-RN/Pronera, 2006
ter como meta a elevação da
escolaridade,
que
82%
das
constataremos
vagas,
cujo
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24
preenchimento ficou a cargo da coordenação do MST, foram ocupadas por
pessoas que já têm o ensino médio completo ou ainda estão cursando esse
nível de escolaridade. Esse dado pode ser visto como uma distorção em
relação à recomendação do Proeja. Percebe-se, portanto, que apenas 16%
dos alunos possuem somente ensino fundamental completo e seriam, a nosso
ver, o público correto para ser atendido pelo curso; 34% possuem o ensino
médio incompleto e, por isso, também poderiam estar fazendo o curso, apesar
de
alguns
terem
declarado
informalmente
estarem
cursando
concomitantemente o ensino médio normal em sua comunidade e o curso
técnico de nível médio integrado oferecido pelo CEFET-RN. Essa situação,
além de ferir o caráter ético-financeiro, pelo fato de o aluno estar ocupando,
simultaneamente, duas vagas na rede pública de ensino, mereceria um olhar
mais cuidadoso, a fim de se buscarem as causas e as possíveis alternativas,
para que não continue havendo duplo investimento de recursos em apenas um
sujeito.
Continuando nossa análise, percebemos que 48% dos alunos possuem o
ensino médio completo e, nesse caso, não deveriam estar inscritos no curso
de nível médio técnico integrado, mas, oportunamente, em um outro curso
técnico subseqüente (BRASIL, 2006), o qual teria menor duração e ofereceria
apenas disciplinas técnicas; os demais 2% não possuem o ensino fundamental
completo e, portanto, legalmente não poderiam estar inscritos no curso.
2.7
Inserção laboral
Trabalha
4%
16%
O gráfico 3 mostra
que 80% dos alunos não
Sim
Não
trabalham; 16%, trabalham;
Branco
e 4% não responderam à
questão.
Essa
80%
informação
diferencia claramente esse
Gráfico 3 - Inserção laboral dos alunos de Controle
Ambiental
Fonte: CEFET-RN/Pronera, 2006
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25
grupo do público normal de EJA. Isso poderia ser explicado, tanto pela pouca
idade dos alunos, como também pelo fato de o curso ser realizado em regime
de internato, em módulos, com duração de cerca de 2 meses cada um.
2.8
Tecendo alguns comentários adicionais
Se passarmos agora a pensar qualitativamente sobre os dados,
confrontando as informações referentes à idade, à escolaridade e à inserção
dos alunos no mundo do trabalho, percebemos que o nível de escolaridade
desse grupo está acima do previsto legalmente para o público de EJA, embora
essa certificação não corresponda de fato ao nível de conhecimento
demonstrado no percurso pedagógico; a idade, que também difere do
historicamente encontrado nessa modalidade de ensino no Brasil, é um dado
confirmador do processo de juvenilização da EJA. Além disso, o fato de a
grande maioria dos alunos não estar ainda inserida no mundo do trabalho
torna esse público atípico dentro do contexto da EJA.
Vale a pena registrar ainda algumas observações resultantes da nossa
prática pedagógica. Levando em conta o fato de já termos tido oportunidade de
interagir com o grupo durante dois módulos consecutivos, verificamos que o
grau de escolaridade declarado não corresponde necessariamente ao
equivalente grau de conhecimento. Essa disparidade gera uma enorme
dificuldade
durante
o
desenrolar
de
todo
o
processo
pedagógico,
especialmente no nosso caso, como professoras de Língua Portuguesa. Os
alunos apresentam perfis muito diversificados, tanto no que se refere a
conhecimentos específicos dos conteúdos, quanto ao domínio da própria
língua. Assim, alguns encontram-se ainda na fase pré-silábica, confundindo a
pronúncia de letras e de sílabas e soletrando cada sílaba para só então
pronunciar as palavras; outros já conseguem ler frases inteiras, mas não
parecem compreender o que estão lendo; outros ainda lêem e compreendem
pequenos trechos, mas apenas num nível muito superficial; outros, porém,
conseguem ler, compreender e interpretar textos curtos de vocabulário
simples; outros, finalmente, lêem, compreendem, interpretam, fazem analogia
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26
e discutem com segurança idéias e textos de um maior grau de complexidade.
No que se refere à escrita, esse quadro se repete e os níveis variam dos que
ainda desenham as palavras até os que já têm uma autonomia relativa para
produzir textos, a partir das situações propostas.
Essa descrição
detalhada é apenas
para demonstrar
o
total
descompasso entre o grau de escolaridade exigido para o ingresso no curso e
o domínio do conhecimento que os alunos têm de fato.
Esse público possui, portanto, um perfil que difere do normalmente
encontrado nessa modalidade. Isso ocorre, possivelmente, por se tratar de um
curso resultante de um convênio específico entre MDA/INCRA/MST e o
CEFET-RN. Esse dado deve ser considerado na construção de todo o
processo de ensino-aprendizagem.
Feita a descrição do grupo de alunos, necessário se faz definir alguns
termos utilizados ou alguns conceitos que estão implícitos na proposta deste
trabalho. Esse é o foco do item a seguir.
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27
3
EXPLICITANDO TERMOS
Quando se escuta falar em curso técnico de nível médio
integrado,
algumas perguntas emergem: O que significa integrar? O que é educação? E
educação média? Que concepção de educação profissional deve embasar um
currículo integrado? O que significa currículo integrado? O que é integrar?
Nesse item, tentaremos responder a essas questões, começando com a
definição do vocábulo integração, da explicitação de nossa concepção de
educação, de ensino médio, de educação profissional, de currículo e de
currículo integrado. Em seguida, exporemos nossa concepção de língua, de
ensino de língua portuguesa e de educação profissional técnica de nível
médio.
A palavra integrar, etmologicamente, significa completar, tornar inteiro.
Pensar, então, a integração entre a educação básica de nível médio com o
ensino profissional na modalidade EJA, significa muito mais que unir os
conteúdos do ensino médio com os conhecimentos necessários ao
desempenho de uma determinada profissão, destinando a ação pedagógica a
um público específico historicamente excluído dos processos formais de
educação. É preciso pensar que concepção de educação, de educação
profissional e que concepção de educação de jovens e adultos deve guiar todo
o trabalho de escolha de conteúdos e métodos. Só dessa forma, poderemos
realmente pensar em um trabalho de integração.
Com base nisso, este item pretende trazer à discussão as concepções de
educação em seu sentido amplo, de ensino médio, de educação profissional,
de educação na modalidade de jovens e adultos para se pensar a educação
profissional técnica de nível médio integrada ao Ensino Médio na modalidade
EJA que possibilite uma educação científico-tecnológico-humanística, em que
estejam incorporados, de forma equânime, em nível de importância e de
conteúdo, os conhecimentos das ciências denominadas duras como as
ciências sociais e humanas, visando a uma formação integral do profissionalcidadão crítico-reflexivo. Essa denominação implica competência técnica e
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28
ética, que se revela em comprometimento com as transformações sociais,
políticas e culturais e numa atuação profissional pautada na edificação de uma
sociedade mais justa e igualitária.
Para isso, discutimos, em primeiro lugar, uma concepção de educação
que permita uma formação humanística em que o educando possa chegar a
ser um sujeito crítico e reflexivo. Em segundo lugar, tratamos a questão do
ensino médio propedêutico para, em seguida, discutirmos uma concepção de
educação profissional que possibilite a formação de um profissional que seja
ao mesmo tempo um cidadão consciente de sua responsabilidade social. Em
um quarto bloco, tratamos da concepção de educação para jovens e adultos
que possa tanto reparar a exclusão de foi vítima esse grupo como reintegrá-lo
social e profissionalmente. Finalmente, no último subitem, defendemos a
integração entre o ensino médio e ensino profissional como forma de promover
uma formação para o exercício pleno da cidadania, por meio do
desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo, da participação social, da
consciência dos direitos e deveres, da compreensão de sua inserção no
mundo da vida e no mundo do trabalho.
3.1
Educação
Segundo Meirieu (2001), a educação é uma
operação que consiste em adaptar indivíduos a um certo ambiente,
em prepará-los para o exercício de papéis sociais cujos conteúdos
estão sempre mais ou menos determinados. Mas, além disso, educar
também é emancipar: é fazer possível o surgimento do outro, já que
a finalidade última é, na realidade, a emergência de um sujeito livre,
de uma vontade capaz de escolher seus próprios fins, de efetuar
suas escolhas da forma mais lúcida possível, de decidir com
independência seus própios valores (MEIRIEU, 2001, p. 66-67).
O autor acrescenta que a educação é homogeneizadora na sua dimensão
instrumental e que, na sua função de emancipação, é diferenciadora e afirma
que a articulação entre diferenciação e homogeneização evidentemente é uma
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29
tarefa difícil e arriscada. Arriscada para o autor significa dizer que a educação
é empresa cujo resultado individual para o educando foge ao controle do
educador.
Pulpillo Ruiz (1984) aponta como fins para a educação
a) desenvolvimento de atitudes e capacidades; b) aquisição de
conhecimentos, habilidades e destrezas; e c) adoção de critérios ou
atitudes para orientar a conduta de forma moral, ante as diversas
situações em que a vida se apresenta (PULPILLO RUIZ, 1984, p.
233).
Para Freire, educar é ajudar o educando a ser cada vez mais sujeito, é
ajudar a ad-mirar e desvelar a realidade. É fazer com que o sujeito chegue à
conscientização e, em conseqüência, à desmitificação.
Por conscientização, entende o educador brasileiro que
é o olhar mais crítico possível da realidade, que a des-vela para
conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a
manter a realidade da estrutura dominante (FREIRE, 2001, p.29).
A conscientização é a percepção objetivada crítica da realidade.
Utilizando os termos do próprio Freire (2000), estar imerso na realidade é
percebê-la ingenuamente, enquanto insertar-se na realidade é percebê-la
criticamente, é situar-se para atuar, porque, quando o sujeito se situa, a
realidade se lhe desvela.
Tracemos um paralelo entre a inserção na realidade e o ato de nadar
embaixo d’água. A água nos envolve, como nos envolve a própria realidade.
Assim, estar imerso na realidade é submergir e nadar em águas escuras,
através das quais não podemos ver mais que a nós mesmos, enquanto que a
inserção na realidade permite que nademos em águas claras e, por isso,
podemos ver o que nos rodeia. Assim, “a inserção é um estado mais sagaz
que a imersão e resulta da conscientização da situação. É a própria
consciência histórica” (FREIRE, 2000, p. 135).
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30
A conscientização vai muito além do reconhecimento da situação, ela
prepara os homens para atuarem efetivamente na luta contra os obstáculos a
sua humanização.
Para se chegar à conscientização, é necessário perceber a relação que
se estabelece entre opressor e oprimido e reconhecer-se nela. Esta categoria
freireana tem uma amplitude que vai muito além da simples referência à luta
de classes entre pobres e ricos, entre colonizador e colonizado. Pode ser
pensada para toda situação em que alguém ou algo sobrepõe sua voz à de
outro, fazendo-o calar-se. Assim, por exemplo, o domínio da razão tecnológica
é opressor, a educação de talante utilitarista e instrumentalista é opressora, a
homogeneização é opressora, o totalitarismo é opressor.
Aprofundando um pouco mais, o conceito de oprimido é sinônimo de
desumanização, da negação ao homem de sua condição ontológica natural de
ser inconcluso: de ser sempre mais. É sinônimo da tentativa de transformar o
sujeito em um objeto, negando-lhe o direito a ter e a emitir sua própria palavra.
Nesse sentido, pensar, por exemplo, a tecnologia como senhora, sua
mitificação como a panacéia que vai resolver todos os problemas econômicos,
de
saúde
ou
de
educação
em
todo
o
mundo,
globalizando-nos,
homogeneizando-nos, é pensar em opressores e oprimidos. São oprimidos os
analfabetos informáticos (e existem em todas as classes sociais e em todas as
idades em todo o mundo); são oprimidos os que querem falar, discutir, ter voz
crítica nesta sociedade tecnologizada que nos transforma em objetos e cujos
ideais estão entranhados e guiam todo o tecido social (e existem em todas as
classes sociais e em todas as idades em todo o mundo), são oprimidos os que
querem refletir e levantar reflexões sobre este processo de desumanização no
qual estamos imersos (e existem em todas as classes sociais e em todas as
idades
em todo
o
mundo).
Muitos
outros
exemplos
poderiam ser
acrescentados, mas esses elencados já são suficientes para mostrar como a
nossa sociedade é estruturalmente opressora em si mesma, é excludente e
geradora da cultura do silêncio.
Prosseguindo com a categoria opressor/oprimido, podemos perguntar:
que características encontramos no oprimido dentro da obra de Freire?
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31
Em primeiro lugar, é a subordinação à consciência do amo. Na maioria
das vezes, é uma subordinação inconsciente, ou seja, o oprimido sequer
percebe-se como oprimido e, sobretudo, desconhece seus opressores. Sem a
conscientização de sua situação, o indivíduo sente-se livre e, assim, ajuda a
manter a realidade.
Pensemos, para colocar um exemplo, na tecnologia, seu poder e sua
capacidade de gerar novas necessidades que nos põem numa espiral
crescente de compra, uso, descarte, compra, uso, descarte. Um exemplo
muito elucidativo e próximo de todos é o telefone celular, que de simples
telefone, portátil e sem fios agora já é receptor/reprodutor de MP3, secretária
eletrônica, despertador, agenda, câmara digital, filmadora, se conecta à
Internet e muito mais . A cada novo modelo, mais leve, mais compacto,
jogamos fora o modelo velho e antiquado e compramos outro, fabricado em
conformidade com as últimas novidades das novas tecnologias e não
conforme as nossas necessidades e o fazemos orgulhosos de poder
movermo-nos neste novo espaço social de terceiro entorno. Por isso,
Echeverría (1999) alerta que somos os vassalos dos “senhores do ar”.
Outra característica da categoria dos oprimidos é o desprezo em relação
a si mesmo, conseqüência da internalização da opinião do opressor sobre ele3.
Essa adesão ou assimilação leva à aceitação dos valores do dominador e à
paralela e conseqüente negação dos próprios valores, o que faz com que o
oprimido maximize sua ignorância, minimizando seu poder, ao mesmo tempo
em que maximiza o saber e o poder do outro. Essa postura coloca-os em pólos
opostos. Assim, o dominado, na sua busca para ser mais, aspira a ascender
ao pólo superior do dominador, e, não só aprende a cultura do outro, como
também internaliza a opinião do outro sobre si mesmo. Freire resume essa
discussão, ao afirmar que
3
O escritor João Ubaldo Ribeiro, em seu livro Viva o Povo Brasileiro, narra a saga de
brasileiros desde o ponto de vista dos que aqui viviam: índios, negros escravos, brancos
europeus - portugueses, holandeses e espanhóis - ou mestiços. Cada momento histórico
narrado está marcado pelo desajuste entre a embobada dependência das classes altas com
respeito à Europa e aos Estados Unidos e a diversidade religiosa, étnica e lingüística das
classes baixas. Com a ironia fina que lhe é peculiar, em muitas ocasiões, o autor dá
testemunho dessa internalização, expressada pelo colonizado, da opinião do colonizador
sobre o próprio colonizado.
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32
Compreender que a aparente imitação dos modelos dos
dominadores é o resultado da interiorização desses modelos;
sobretudo dos mitos de superioridade das classes dominantes, que
fazem com que os dominados se sintam inferiores (FREIRE, 2001, p.
88).
Sobre essa assimilação e inculcação de responsabilidades, é exemplar a
resposta que uma senhora californiana deu a Freire quando ele lhe perguntou
se ela era norte-americana. A senhora respondeu que não era norteamericana, que era pobre. Como se pobreza fosse nacionalidade. Tal postura
é a assunção ingênua da responsabilidade por seu próprio fracasso. Era sua
incompetência que a mantinha pobre e não lhe permitia compartilhar, com os
norte-americanos, o sonho americano. Com isso,
ela exime a estrutura
econômica e política da sociedade da responsabilidade pelo seu estado de
pobreza. Sem a percepção crítica, a senhora era uma mais a reforçar o poder
do sistema.
Com essa pequena discussão, buscamos argumentar, repitamos, que
não se pode relacionar os conceitos de oprimido e opressor tão somente ao de
luta de classes. Sua concepção é muito mais ampla. A questão é perceber o
silenciamento que uns impõem aos outros e de atuar para que se faça possível
resgatar a voz dos silenciados. Dessa forma, pode-se instaurar o diálogo,
elemento fundamental para a pedagogia freireana.
Para Freire, o diálogo é estruturante da educação, que é mediação, é o
(re)conhecimento da realidade que se dá pelo diálogo de duas consciências,
que saem transformadas desse encontro.
Muitas outros autores se poderiam acrescentar, mas cremos que Meirieu,
Pulpillo Ruiz
educação.
De
e Freire, tratam os pontos fundamentais sobre o tema da
um lado,
a
função instrumental
de
transmissão de
conhecimentos e habilidades e, de outro, a função constitutiva mesma da
tarefa de educar, a formação do sujeito mediante a assunção de valores e de
tecnologias de reflexão sobre si mesmo e sobre a realidade que o rodeia.
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33
Podemos, pois, afirmar que da relação educativa se espera uma melhora, um
aperfeiçoamento. Isto é, só são consideradas ações educativas aquelas que
supõem uma mudança de estado, uma melhoria dos agentes envolvidos. A
educação tem, portanto, um carácter perfectivo que não se lhe pode negar, é
ação intencionada, é ação sobre o outro, é também reflexão e ação do homem
sobre o mundo para transformá-lo e sobre si para transformar-se.
Ao mesmo tempo, essas definições trazem, em seu centro, a relação
entre educando e educador. Essa ação se consegue mediante uma relação
pedagógica, mediante a experiência de um encontro singular, que conjuga os
esforços de seus agentes em uma tarefa comum.
Portanto, podemos afirmar que qualquer projeto educativo baseia-se na
intencionalidade e na educabilidade. A intencionalidade da educação, afirma
Jover (1991), implica o teleológico, aponta para o futuro, para um fim que se
pretende alcançar; e a educabilidade baseia-se no fato de que somos
possibilidade. Possibilidade de ser o que somos, de ser de outro modo e de
sermos melhores do que somos. Além disso, somos seres criadores de novas
possibilidades e, porque somos seres sociohistóricos, construímos nosso
futuro.
De qualquer instância que se olhe a educação (governo, instituição,
professor ou pais), ela é uma ação intencionada: alguém quer atuar sobre um
sujeito e crê na viabilidade dessa ação, aposta, portanto, na possibilidade que
tem o outro de ser sempre mais.
Por isso, a educação não tem um carácter meramente mediador, mas
principalmente tem, em sua essência, um caráter constitutivo. Não se pode
perceber a relação pedagógica como simples doação de conhecimento,
porque ela é, ao mesmo tempo – e talvez fundamentalmente –, uma relação
de constitução de sujeitos. Nesse sentido, os sujeitos da educação, mediados
pelo diálogo, se constituem como sujeitos com uns conhecimentos e umas
tecnologias de reflexão sobre a realidade e sobre si mesmos.
Também presente nas definições está o fato de que a educação deve
levar o educando à autonomia, ou seja, o processo educativo aponta para uma
questão ética fundamental: o direito que têm os educandos a ter (e emitir!) sua
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34
própria palavra. Essa constatação leva-nos a recordar o que Savater (2001)
denomina a condição suicida do educador. Essa condição expressa que
somos imprescindíveis no começo e, no entanto, nosso objetivo é formar
indivíduos capazes de prescindir de nosso auxílio e de caminhar por si e
pensar por si. Jover (1991) concorda com esse posicionamento e alega que o
educador deve animar o educando a que exercite a autonomia de que já é
capaz, para que ela vá paulatinamente substituindo a necessária dependência
inicial, até que chegue a desaparecer por completo e o educando tenha
condições de seguir sozinho. Em outras palavras, os docentes sabemos que
nosso destino é sermos esquecidos, porque iniciamos os alunos em uns
conhecimentos técnicos e formativos que julgamos valiosos, e paulatinamente
eles se liberam de nossa tutela para caminhar com seus próprios pés.
Meirieu (2001) parece concordar com Savater (2001) quando afirma que
o trabalho pedagógico, enquanto tem como objeto a emancipação de
um sujeito através da apropriação de objetos culturais, é
constitutivamente trabalho de elucidação de problemas, de busca
daquilo que os especifica, daquilo que permite resolvê-los em outro
contexto e sem ajuda. O trabalho pedagógico é de maneira
indissolúvel aprendizagem e metacognição (MEIRIEU, 2001, p.151).
Feitas essas observações sobre o termo educação, tentemos pensar
sobre o significado do Ensino Médio no Brasil.
3.2
Ensino Médio
O processo de construção da autonomia do sujeito-aluno através da
prática educativa é uma questão bastante pertinente quando se pensa sobre o
que tem sido considerado como educação básica no Brasil. Sabemos que
antes da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, a educação básica
restringia-se ao ensino fundamental e que a referida lei veio atender à inegável
“necessidade de expansão da oferta de Ensino Médio até que se atinja a sua
universalização, uma vez que não é possível a participação social, política e
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35
produtiva sem pelo menos 11 anos de escolaridade” (KUENZER, 2000, p. 4).
Assim, o Ensino Médio, apesar de passar a ser considerado a última etapa da
educação básica, não deixou de ser uma mera transição entre o ensino
fundamental e o superior.
A questão histórica da dualidade entre ensino médio e ensino profissional
tem sido a pedra do sapato da educação brasileira. Enquanto o ensino
profissionalizante historicamente sempre teve o objetivo de atender às
demandas do mercado de trabalho, com a qualificação dos excluídos para se
transformassem em mão-de-obra para aumentar a produção das empresas, o
Ensino Médio terminava por “referendar a inclusão dos incluídos, justificada
pelos resultados escolares” (KUENZER, 2000, p.15).
Essa concepção tem mudado: cada vez mais se exige da escola uma
formação básica de nível médio com uma educação geral sólida, que dê aos
alunos condições de utilizarem-se dos conhecimentos teóricos socialmente
acumulados para pensar a realidade para transformar informações científicas
em conhecimentos aplicáveis no seu cotidiano; que estabeleçam relações
entre os conhecimentos adquiridos (interdisciplinaridade); e compreendam o
sentido de cada novo conhecimento para sua própria vida e a dos demais
seres humanos. Uma escola que pense o passado para construir o presente e
o futuro e que tenha o ser humano como agente de sua própria história,
consciente de seu papel na sua escola, no seu bairro, na sua cidade, no seu
país e no seu planeta. Nesse sentido, concordamos com Kuenzer (2000)
quando afirma que o Ensino Médio deveria elaborar a nova síntese entre o
geral e o particular, entre o lógico e o histórico, entre a teoria e a prática, entre
o conhecimento e o trabalho, entre estes e a cultura e teria como finalidades
precípuas
o compromisso de educar o jovem para participar política e
produtivamente do mundo das relações sociais concretas, pelo
desenvolvimento da autonomia intelectual e da autonomia éticopolítica (KUENZER, 2000, p. 22).
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36
Em resumo, o Ensino Médio no Brasil, que enfrenta a tensão entre a
educação geral e a educação específica, não tem terminalidade; é passagem
para o ensino superior, quando, na verdade deveria estabelecer a relação
entre o conhecimento e a prática do trabalho ou nas palavras de Kuenzer, o
Ensino Médio deveria “ser geral sem ser genérico, incorporando o trabalho
sem ser profissionalizante, no sentido estreito” (KUENZER, 2000, p. 16).
Pensemos agora no sentido da educação profissional no Brasil.
3.3
Educação Profissional
A educação profissional no Brasil teve historicamente um talante
instrumentalista, voltada para a empregabilidade do sujeito trabalhador.
Centrada em uma mentalidade reducionista, era pensada como treinamento ou
adestramento: a formação de um sujeito-objeto conhecedor de uma técnica
necessária a uma atividade específica, trata-se, portanto, como afirma Bastos
(1997), de preparar adequadamente recursos humanos para preencher
quadros e aplicar técnicas.
Esse tipo de educação era destinado às classes menos favorecidas,
aqueles que desempenhariam funções intermediárias no processo produtivo e
que necessitavam de alguma formação escolar. Como lembra Kuenzer (1997),
para estes e para os órfãos e desvalidos da sorte havia, desde 1909, as
escolas de artes e artífices.
Nesse cenário, os planos de ensino tendem a reforçar os conhecimentos
científicos ou técnicos para os quais se supõe uma utilidade prática imediata,
isto é, uma direta aplicação no mercado de trabalho, relegando as
Humanidades a um nível inferior para mentes inferiores.
Essa dualidade histórica marcou profundamente o ensino profissional no
Brasil bem como “a trajetória educacional dos que iriam desempenhar funções
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37
intelectuais ou instrumentais, em uma sociedade cujo desenvolvimento das
forças produtivas delimitava claramente a divisão social e técnica do trabalho”
(KUENZER, 1997, p.13). Isso se revela na existência de dois projetos
pedagógicos distintos para cidadãos de primeira ou de segunda categoria. Em
outras palavras, o dualismo se expressa na educação propedêutica para as
elites dirigentes e a preparação para
trabalho para os filhos das classes
trabalhadoras.
No entanto, as constantes transformações por que passa a sociedade
moderna criam novas exigências de formação, principalmente, no que se
refere à educação profissional e tecnológica. A sociedade contemporânea
funda-se no uso da tecnologia e o ensino profissional deve propiciar uma
formação para mundo do trabalho, “com o domínio dos fundamentos científicos
das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho moderno”
(SAVIANI, 2003, p. 40). É necessário, então, romper a dicotomia entre a
educação básica e o ensino técnico historicamente presente na educação e
pensar um ensino profissional que resgate a formação humana em sua
totalidade, integrando ciência e cultura humanística, tecnologia e arte. Afinal,
como afirma Morin
o homem da racionalidade é ao mesmo tempo o da afetividade, do
mito e do delírio (demens). O homem do trabalho é também o do jogo
(ludens). O homem do empírico é ao mesmo tempo o homem do
imaginário (imaginarius). O homem da economia é também o do
consumismo (consumans). O homem prosaico é ao mesmo tempo o
da poesia, isto é, do fervor, da participação, do amor, do êxtase
(MORIN, 2000, p.58).
Esse homem, pensado em sua complexidade, precisa de uma educação
que atenda às suas necessidades de sujeito inserto em um determinado
momento histórico, que atua social e profissionalmente e, nesse atuar, constrói
a sociedade em que vive ao mesmo tempo em que é construído por ela. A
transformação social só será viável na medida em que seja desfeita a
esquizofrenia educativa que, ao longo da história, pautou o processo
pedagógico brasileiro.
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38
Dessa forma, deve-se pensar em uma educação profissional que integre
a formação propedêutica propiciada pelo ensino médio e a formação técnica
propiciada pelo ensino técnico, visando à formação integral do profissionalcidadão, conjugando a inter-relação entre os conhecimentos científicos,
técnicos e tecnológicos. Deve-se, pois, pensar a educação profissional com
um caráter científico-tecnológico-humanística em que o conhecimento das
ciências denominadas duras como as sociais assumam o mesmo grau de
importância na formação do sujeito-trabalhador. Uma educação assim permite
a formação integral
do profissional-cidadão, crítico-reflexivo, competente, técnica e
eticamente e comprometido efetivamente com as transformações
sociais, políticas e culturais e em condições de atuar no mundo do
trabalho na perspectiva da edificação de uma sociedade mais justa e
igualitária, [...] (CEFET-RN, 2005, p.85).
Em resumo, deve-se pautar a educação profissional em uma concepção
como a que expressa Manfredi (2003), para quem a educação profissional tem
uma dimensão social intrínseca que
extrapola a simples preparação para uma ocupação específica no
mundo do trabalho e postula a vinculação entre a formação técnica e
uma sólida base científica, numa perspectiva social e histórico-crítica,
integrando a preparação para o trabalho à formação de nível médio
(MANFREDI, 2003, p.57 apud BRASIL, 2006, p.35).
Passemos agora a discutir sobre a educação de jovens e adultos no
Brasil.
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39
3.4
Educação de Jovens e Adultos
Os estudiosos da educação de jovens e adultos são unânimes em afirmar
que, nos níveis fundamental e médio, no Brasil, a EJA é marcada pela
descontinuidade e por efêmeras políticas públicas (BRASIL, 2000; BRASIL,
2006; PAIVA, 2006: MOURA, 2006). A atenção do Estado a esse contingente,
em geral, circunscreve-se ao nível de alfabetização. No entanto, é necessário
pensar em políticas permanentes para esse contingente de excluídos da
escola regular, de forma que se possa reparar a negação ao direito de estudar
de que foi vítima esse público quando se encontrava na correlação adequada
entre idade e ano em seu itinerário educacional, bem como propiciar a
reinserção no sistema educativo, de modo a permitir a igualdade de
oportunidades para todos os que tiveram sua trajetória pedagógica
interrompida. Além disso, trata-se também de permitir a qualificação
profissional (que não deve ser confundida com a pura instrumentalização para
assunção de postos de trabalho), a fim de possibilitar uma educação em
consonância com a concepção de formação integral do cidadão. Formação
essa que combine trabalho, ciência e cultura, na sua prática e nos seus
fundamentos científico-tecnológicos e sociohistórico. Estamos falando das
funções reparadora, equalizadora e qualificadora da EJA (BRASIL, 2000).
Trata-se, em definitivo, de pensar a educação geral como parte inseparável da
educação profissional e da educação para o mundo do trabalho, buscando
garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma
formação completa para a leitura do mundo e para sua atuação como cidadão
integrado dignamente à sociedade. Trata-se também de assumir a condição
humanizadora da educação, propiciando uma formação
humana, no seu sentido lato, com acesso ao universo de saberes e
conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos historicamente
pela humanidade, integrada a uma formação profissional que
permita compreender o mundo, compreender-se no mundo e nele
atuar na busca de melhoria das próprias condições de vida e da
construção de uma sociedade socialmente justa. A perspectiva
precisa ser, portanto, de formação na vida e para a vida e não
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40
apenas de qualificação do mercado ou para ele (BRASIL, 2006,
p.7).
Embora o acesso à educação fundamental seja uma realidade no país, a
permanência na escola está longe de acontecer para todos. Segundo Moura
(2006),
a sociedade brasileira não conseguiu reduzir as desigualdades
socioeconômicas e as famílias são obrigadas a buscar no trabalho
das crianças uma alternativa para a composição de renda mínima,
roubando o tempo da infância e o tempo da escola (MOURA, 2006.
p.6).
Aliado ao fator econômico, a trajetória pedagógica desse contingente é
muitas vezes interrompida pela falta de preparo da escola para tratar com
grupos
marginais
camponeses,
ao sistema, como
ribeirinhos,
negros, quilombolas, indígenas,
pescadores,
idosos,
subempregados,
desempregados ou trabalhadores informais. Esses fatores geram um
contingente de excluídos, alijados do sistema educacional regular, gerando
uma defasagem entre idade e série.
No entanto, a ação educativa para esse grupo não se deve restringir ao
nível básico. É necessária a elevação do nível de escolaridade integrada à
profissionalização, a fim de contribuir para a integração sociolaboral desses
jovens e adultos historicamente discriminados e com trajetória educativa
descontínua. Portanto, cabe discutir a necessidade da oferta da educação
profissional técnica de nível médio integrada ao Ensino Médio na modalidade
EJA, o que seráfeito no subitem seguinte.
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41
3.5
Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino
Médio na Modalidade EJA
Os itens anteriores já delinearam, de certa forma, o que aqui será
discutido. Partindo da concepção de educação como humanizadora, de
educação profissional como formação integral do sujeito para atuação
consciente, crítica e ética no mundo do trabalho e da necessidade de reparar o
erro histórico, que gera contingentes de alijados do processo educativo formal,
a educação profissional técnica de nível médio integrada ao Ensino Médio na
modalidade EJA deve proporcionar educação humanística e científica, em
vínculo estreito com a formação profissional, ou seja, deve propiciar a
formação integral do educando, de modo a contribuir para a integração social
desse coletivo. Além disso, essa oferta compreende o mundo do trabalho sem
resumir-se a ele, assim como compreende a continuidade de estudos. Em
síntese, ela
se faz orientada a proporcionar a formação de cidadãos-profissionais
capazes de compreender a realidade social, econômica, política,
cultural e do mundo do trabalho, para nela inserir-se e atuar de forma
ética e competente, técnica e politicamente, visando à transformação
da sociedade em função dos interesses sociais e coletivos,
especialmente os da classe trabalhadora (MOURA, 2006, p.12).
Nesse sentido, estar-se-ia assumindo uma política de inserção aliada a
uma política de integração. Por política de inserção, Frigotto (2005) denomina
aquelas ações que devem ser imediatas, como forma de reparar uma dívida
histórica do Estado brasileiro com parte da sociedade. Já a política de
integração refere-se às ações que se projetam para médio e longo prazo,
instituindo a incorporação do direito para as gerações futuras.
É necessário romper a dualidade estrutural entre cultura geral e cultura
técnica e, ao mesmo tempo, romper o pensamento instrumentalista que regeu
historicamente a educação profissional no país.
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42
Uma formação assim pensada não garante emprego aos sujeitos e
tampouco garante a melhoria das condições objetivas de vida. No entanto,
abre possibilidades de se alcançar esses objetivos, além de permitir o
crescimento pessoal a partir de outras referências culturais e sociais. Não se
pode deixar de acrescentar que ela também permitiria ao sujeito a leitura de
mundo, no sentido freireano, “estando no mundo e o compreendendo de forma
diferente da anterior ao processo formativo” (BRASIL, 2006, p.26).
Ademais,
só
pensando
a
educação
nesses
moldes
estar-se-ia
promovendo as funções reparadora e equalizadora da educação na
modalidade EJA, que, conforme o Parecer 11/2000, é fazer cumprir o dever do
Estado para assegurar o direito à educação para todos, reduzindo a
desigualdade entre os que tiveram acesso a ela em idade regular e os que
tiveram seu acesso interdito pelas mais variadas razões. Da mesma forma,
essa concepção de educação profissional técnica de nível médio integrada ao
Ensino Médio na modalidade EJA permite que a terceira função dessa
modalidade – a função qualificadora – emerja, concretizando seu sentido
fundamental de formação para o exercício pleno da cidadania, por meio do
desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo, da participação social, da
consciência dos direitos e deveres, da compreensão de sua inserção no
mundo da vida e no mundo do trabalho.
Para que uma educação assim seja implementada, é necessário que
esteja amparada por uma concepção de currículo que permita a integração.
Tentaremos discutir esse tema nos dois itens subseqüentes.
3.6
Currículo
O Currículo deve ser entendido como um desenho pedagógico e sua
correspondente organização institucional, a qual articula dinamicamente
experiências,
trabalho,
valores,
ensino,
prática,
teoria,
comunidade,
concepções e saberes, observando as características históricas, econômicas e
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43
socioculturais do meio em que o processo de desenvolve (BRASIL, 2006,
p.36.)
Além disso, deve-se ter em mente que um currículo deve orientar-se pelo
diálogo constante com a realidade, numa busca de adequar-se e/ou adaptarse.
3.7
Currículo Integrado
Na perspectiva do que propõe o Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos, currículo integrado pressupõe uma ruptura paradigmática,
significa inovar pedagogicamente na concepção de ensino médio que
considera o mundo do trabalho e que leva em conta os mais diversos saberes
produzidos em diversos espaços sociais, assumindo a formação integral do
sujeito, preparando-o para compreender e compreender-se no mundo, como
sujeito-trabalhador.
Portanto, o currículo integrado visa a uma integração epistemológica, de
conteúdos, de metodologias e de práticas educativas. Conforme Brasil (2006),
“refere-se a uma integração teoria-prática entre o saber e o saber-fazer”
(BRASIL, 2006, p.30).
Ciavatta (2005) recorda que o currículo integrado deve perceber o
trabalho como princípio educativo, a fim de possibilitar a superação da
dicotomia trabalho manual/trabalho intelectual, incorporando a dimensão
intelectual ao trabalho produtivo e de formar trabalhadores capazes de atuar
como dirigentes e cidadãos.
Finalmente, o currículo integrado deve estar orientado para a
formação humana, no seu sentido lato, com acesso ao universo de
saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos pela
humanidade, integrada a uma formação profissional que permita
compreender o mundo, compreender-se no mundo e nele atuar na
busca de melhoria das próprias condições de vida e da construção
de uma sociedade socialmente justa (BRASIL, 2006, p.07).
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44
Trata-se de pensar a educação geral como parte inseparável da
educação profissional e da educação para o trabalho, buscando garantir ao
adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação
completa para a leitura do mundo e para sua atuação como cidadão integrado
dignamente à sociedade. Formação que pressupõe, segundo Ciavatta (2005)
compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos.
Especificamente, em língua portuguesa, significa pensar um currículo em
que o ato de ler não seja mera decodicação da palavra escrita, mas no qual a
linguagem seja percebida em sua estreita relação com a sociedade e com o
sujeito que produz linguagem e que por ela é produzido. Deve desenvolver a
leitura como uma forma de percepção das relações entre texto e contexto, das
relações de poder expressas na concretude do discurso. Trata-se de pensar a
leitura em sua estreita relação com o mundo, no que Paulo Freire (1987)
denomina de leitura do mundo em sua intersecção com a leitura da palavra,
que se re-significa, escreve e re-escreve a realidade no ato significativo da
leitura. Aprofundemos um pouco mais essa concepção de língua que pode
permitir o trabalho integrado.
3.8
Concepção de língua
Para se tentar trabalhar a língua portuguesa em um currículo integrado, a
concepção de língua que se assume é fundamental. Por isso, é importante
esclarecer que concepção de língua deve orientar as nossas propostas de
ação.
Assumimos com a Análise do Discurso de linha francesa que a língua é
produto do trabalho social e histórico de uma comunidade (GERALDI, 2003) e
está sendo sempre retomada pelos falantes, que ao fazê-lo, retomam o
estabilizado e podem desestabilizá-lo na concretude do discurso, nos
processos interativos de uso. É um movimento dinâmico de ação com a
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45
linguagem, pela linguagem e sobre a linguagem. Dessa maneira, a língua é
uma sistematização sempre em aberto.
Dizer que se trata de uma sistematização sempre em aberto, não significa
esquecer que a língua também é um sistema formal e, como tal, apresenta
regularidades, formas estabilizadas, porém não imutáveis. Por isso, pode-se
falar de uma gramática de uma língua.
Não se pode deixar de colocar aqui, ainda que de maneira breve, a
relação entre língua e sociedade. O uso da língua é um processo que
demanda alteridade, um sujeito sapiens/demens em interação com outro
sujeito
sapiens/demens
(MORIN,
2000),
e
essas
alteridades
são
“individualidades ou subjetividades que se constroem no processo mesmo de
uso da linguagem, no contexto de uma organização social e seus modos de
reações, também elas historicamente mutáveis” (GERALDI, 2003, p. 78).
Portanto, pode-se afirmar que, sem o uso da língua e de um sujeito que use
essa língua na sua relação com o outro não existe sociedade. Esse uso,
concretizado no discurso, estabelece relações de poder que devem ser tema
de reflexão no ensino de língua portuguesa.
3.9
Ensino de língua portuguesa
Outra concepção que merece ser explicitada, decorrente da concepção
de língua tratada no item anterior, é a concepção de ensino da língua
portuguesa.
Em virtude de sua relação estreita com a sociedade, o ensino de língua
portuguesa deve orientar a seleção de seus conteúdos às necessidade reais
da comunicação, deve levar em consideração não só as formas estabilizadas,
mas a sistematização aberta, que é um processo criativo de criação, de ação
do sujeito sobre a língua. Como a língua se realiza no discurso, este deve ser
o objeto primeiro de reflexão.
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46
O ensino de língua, nessa perspectiva, deve ser produtivo (TRAVAGLIA,
1996), ou seja, deve ensinar novas habilidades lingüísticas, aumentar os
recursos lingüísticos que o aluno possui, de modo que ele tenha a seu dispor,
para uso adequado, a maior escala possível de potencialidades para uso nas
diversas situações com as quais se depara ao longo de sua existência.
Esse tipo de ensino permite desenvolver a competência comunicativa,
isto é, desenvolve os conhecimentos que permitem ao sujeito atuar conforme
os diversos contextos de uso. A competência comunicativa é composta de
subcompetências:
a) competência lingüística ou gramatical, diz respeito à capacidade
para falar uma língua e ao conhecimento de sua gramática4;
b) competência sociolingüística, que se refere ao conhecimento das
normas
socioculturais
comportamento
que
lingüístico
regulamentam
e
nos
âmbitos
diversos
condicionam o
do
uso
comunicativo da língua;
c) competência discursiva ou textual, relativa aos conhecimentos e
habilidades necessários para compreender e produzir gêneros
textuais adequados às diversas práticas sociais; e
d) competência estratégica ou pragmática, que se refere ao
conjunto de recursos que podemos utilizar para evitar ou reparar os
possíveis problemas que, em geral, ocorrem no intercâmbio
lingüístico.
Lomas (1999) acrescenta mais duas competências:
e) competência
literária,
que
inclui
os
conhecimentos,
as
habilidades e os hábitos que tornam possível o uso e gozo dos
textos literarios5; e
4
O Termo gramática aqui refere-se não só ao conhecimento da metalinguagem, mas
sobretudo ao conhecimento das regras de uso da linguagem, o que muitas vezes não inclue a
metalinguagem que se aprende na escola.
5
Ainda que essa competência possa ser incluída na competencia textual, devido às
especificidades do texto literário e sua relação simbólica com a realidade, é melhor tratá-la de
forma separada.
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47
f) competência semiológica, que se refere aos conhecimentos e
habilidades que favorecem uma interpretação crítica dos usos e
formas dos meios de comunicação e de propaganda.
Todas essas concepções e sua relação com o trabalho que nos estamos
propondo a realizar devem subsidiar a seleção de quais são as competências
lingüísticas necessárias ao desempenho da profissão do Técnico de Nível
Médio em Controle Ambiental, para definir que conteúdos lingüísticogramaticais são pertinentes e quais gêneros textuais lhe serão mais exigidos.
Antes porém, devemos explicitar a metodologia utilizada neste trabalho.
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48
4
METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS
O método de abordagem do objeto será o hipotético-dedutivo, através de
um estudo etnográfico, sob o enfoque da pesquisa-ação educativa.
Entrevistas, questionários e observação participante serão as técnicas
utilizadas para a coleta de dados.
A análise dos dados insere-se no paradigma qualitativo (BISQUERRA,
1989;
COHEN
e
MANION,
1990;
COOK
e
REICHARDT,
1986;
GIBBONS,1995; GOETZ e LECOMPTE, 1988; SERRANO, 1994;) pela relação
indissociável entre a realidade analisada e os sujeitos envolvidos no processo,
cuja relação dinâmica exige interpretação e atribuição de significados.
O paradigma qualitativo requer um método qualitativo de pesquisa. Entre
eles, escolhemos, devido ao próprio objeto de análise, fazer uma pesquisa de
desenho etnográfico. No entanto, não se pode deixar de explicitar aqui que,
além da descrição, característica da investigação de cunho etnográfico, este
estudo pretende propor estratégias de intervenção, conforme está explicitado
no item que trata dos objetivos. Portanto, o desenho etnográfico será um meio
de compreender a realidade para tentar intervir, o que de certa forma, limita
esse estudo também com o paradigma crítico (YUNI e URBANO, 2005) ou
enfoque sociocrítico (SERRANO, 1994), para quem esse enfoque busca
propiciar uma mudança. O investigador está, pois, comprometido com a
transformação da realidade.
A etnografia educativa pode ser definida como o estudo e análise das
instituiçoes escolares e dos processos educativos que utilizam o método
etnográfico ou, nas palavras de Yuni e Urbano, é “a descrição e interpretação
da cultura de uma instituição educativa” (YUNI e URBANO, 2005, p.112).
Segundo Yuni e Urbano, “o enfoque da pesquisa-ação se sustenta no
paradigma crítico” (YUNI e URBANO, 2005, p. 133), por isso, tem como uma
de suas principais características o compromisso com as mudanças sociais,
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49
com a melhoria da realidade concreta. É, portanto, um processo político, uma
vez que implica mudanças que afetam todos os envolvidos.
A investigação-ação possibilita a produção de conhecimento científico a
partir da reflexão dos próprios sujeitos da pesquisa, os quais são, ao mesmo
tempo, sujeito e objeto no processo da pesquisa. Portanto, cria comunidades
de pessoas críticas as quais participam de todas as fases do processo.
Além disso, considera a contribuição do grupo investigado em um
processo de construção coletiva de um saber acerca de sua própria realidade.
Promove a teorização sobre a prática, na medida em que todos os
envolvidos buscam respostas para compreender as relações entre as
circunstâncias, as ações e as conseqüências dessas ações em suas próprias
vidas. Dessa forma, a produção dos conhecimentos científicos vem atender
aos interesses e demandas considerados relevantes pelos próprios sujeitos da
investigação.
Finalmente, ela integra a produção de conhecimentos, a participação e a
educação dos membros do grupo em um mesmo processo, beneficiando tanto
os atores da pesquisa quanto as instituições envolvidas.
Nas palavras de Yuni e Urbano,
a pesquisa-ação é um processo dinâmico no qual as quatro fases
não devem ser entendidas como estáticas ou completas por si
mesmas, mas flexíveis e adaptáveis. Se integram em uma espiral
auto-reflexiva, de caráter retro-alimentador, que consiste em refletir,
planejar, agir, observar e voltar a refletir. Cada um dos ciclos em
espiral abre novas dimensões, novas perspectivas de mudança e de
melhora, à medida que as pessoas envolvidas aprendem com sua
própria experiência (YUNI e URBANO, 2005, p. 146. Tradução das
autoras).
Existe, nesse método, uma contribuição simultânea às mudanças sociais
e à ciência, na medida em que teoria e prática são questionadas de forma
dialética e formam um contínuo teoria-prática, que se transforma também em
um contínuo prática-teoria, em um movimento dinâmico de ação reflexiva ou
de reflexão atuante.
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50
Essa dinamicidade exige que o sujeito investigador assuma a postura da
complexidade, na qual podem conjugar-se harmonicamente a investigação e a
ação, o pensar e o fazer.
Como instrumentos de coleta de dados foram utilizadas entrevistas com
os alunos do Curso.
Também elaboramos questionários que foram
respondidos pelos alunos. Além disso, também foram integrantes do corpus
todas as produções e exercícios respondidos pelos alunos. Como forma de
manter uma observação continuada ao longo do período de pesquisa,
lançamos mão da observação participante tanto por nossa parte como por
parte das monitoras.
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51
5
OBJETIVOS
5.1
Objetivo Geral
Diante do exposto nos capítulos precedentes, pretendemos, como
objetivo final do trabalho de conclusão de curso:
• propor estratégias metodológicas e material didático de língua
portuguesa que permitam a integração entre os conhecimentos
materializados em disciplinas propedêuticas do ensino médio e as
específicas da educação profissional no Curso Técnico de Nível
Médio Integrado em Controle Ambiental na Modalidade de
Educação para Jovens e Adultos.
5.2
Objetivos específicos
Para atingir esse objetivo proposto, faz-se necessário:
• analisar o Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Controle
Ambiental na Modalidade de Educação para Jovens e Adultos, a
partir de seu Projeto Pedagógico, considerando tanto os atores
(alunos, professores, monitores e pedagogos) envolvidos como as
condições didático-pedagógicas oferecidas;
• analisar os conteúdos das diversas disciplinas ministradas no
Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental na
Modalidade de Educação para Jovens e Adultos, a fim de definir os
conhecimentos pertinentes de língua portuguesa que contribuam
para a construção do perfil profissional definido no Projeto
Pedagógico para o futuro egresso;
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52
• sugerir e/ou elaborar estratégias metodológicas para o trabalho
com língua portuguesa que permitam a integração entre duas ou
mais disciplinas do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em
Controle Ambiental na Modalidade de Educação para Jovens e
Adultos;
• sugerir e/ou elaborar estratégias metodológicas específicas para o
ensino-aprendizagem
de
língua
portuguesa,
a
partir
das
necessidades individuais identificadas durante a interação na sala
de aula; e
• criar material didático de língua portuguesa que permita a
integração entre duas ou mais disciplinas do Curso Técnico de Nível
Médio Integrado em Controle Ambiental na Modalidade de
Educação para Jovens e Adultos.
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53
6
SITUANDO A EXPERIÊNCIA
É importante lembrar que o Curso Técnico de Nível Médio Integrado em
Controle Ambiental na Modalidade de Educação para Jovens e Adultos
começou no primeiro semestre de 2006, com previsão para finalizar em 2008.
Até o momento deste trabalho ministramos dois módulos, o que corresponde a
200 horas-aula, sendo 180 de aulas presenciais e 20 destinadas ao Tempo
Comunidade (TC), que será explicitadono item 6.1. Um terceiro módulo foi
iniciado em março de 2007 e constará de 80 h/a presenciais e mais 10h/a
relativas ao TC, porém as atividades desenvolvidas ou pensadas para essa
terceira etapa não foram consideradas neste trabalho.
É necessário lembrar também que os alunos estudam em regime de
internato durante cada módulo, que é ministrado no Centro de Formação
Patativa do Assaré, em Ceará-Mirim. Como os professores são do CEFET-RN,
todos morando em Natal, a coordenação do curso optou por ocupar um dia
inteiro com uma mesma disciplina, totalizando 10 horas-aula de atividades
diárias.
Ainda uma informação mecere ser apresentada. Dois fatores guiaram a
escolha dos temas para discusão: o fato de os
alunos serem ligados ao
Movimento dos Sem-Terra, cuja prática cotidiana no próprio Centro de
Formação inclui a discussão política; e o fato de se tratar de uma turma de
Controle Ambiental.
6.1
O Tempo Comunidade
É interessante descrever o que se está chamando de Tempo
Comunidade. O TC é desenvolvido após cada módulo, com acompanhamento
dos professores e monitores e avaliados através de um encontro presencial de
dois dias correspondentes a 20 horas relógio, totalizando 100 horas de
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54
encontros ao final dos cinco módulos. Essas atividades são intermediárias
entre as etapas presenciais e constam de estudos e atividades em que se
pode desenvolver a transdisciplinaridade. É um momento também em que o
conteúdo teórico discutido em sala ganha corpo na prática da pesquisa em
cada comunidade de origem. Portanto, o curso é modular com o regime de
internato no Tempo Presencial (TP), em que os alunos assistem às aulas da
base nacional comum e da base de formação profissional. Após esse período,
eles voltam a suas comunidades para vivenciarem o Tempo Comunidade (TC).
Após o TC, eles voltam à escola para apresentarem o que realizaram ou
elaboraram. Além da apresentação oral, os alunos entregam um relatório
dessas atividades.
Para sua consecução, os professores envolvidos entregam roteiros de
pesquisa que orientam as tarefas e a escritura do relatório. No primeiro
módulo, as disciplinas de Geografia, Biologia, Geologia e Língua Portuguesa
se uniram para propor o trabalho do TC. Seguindo o roteiro distribuído por
cada professor, os alunos fizeram um reconhecimento histórico, geográfico,
geológico e biológico de suas comunidades e tiveram que apresentar os
resultados em forma de relatório, no que foram orientados pelas professoras
de português. No segundo módulo, os alunos observaram questões relativas à
saúde e segurança no trabalho, legislação ambiental e, para a escritura do
relatório foram orientados por nós, professoras de Língua Portuguesa.
As atividades do TC estão em consonância com a assunção da pesquisa
como princípio educativo, que permite a construção da autonomia do
educando ao mesmo tempo em que permite a construção de conhecimento e
não a mera reprodução ou aplicação de conteúdos adquiridos em sala de aula.
É ainda o principal momento em que a transdisciplinaridade pode se
concretizar.
Além disso, é uma forma de olhar a sua localidade desde uma pespectiva
científica, o que permitirá uma intervenção consciente.
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55
6.2
Identificando dificuldades ... redefinindo estratégias
Como foi explicitado no item que trata da descrição dos alunos do curso,
há uma heterogeneidade flagrante entre eles no que se refere à competência e
ao
conhecimento
lingüísticos.
Essa
heterogeneidade
trouxe
como
conseqüência uma série de dificuldades para o desenvolvimento do conteúdo
selecionado. Conforme solicitação da coordenação do curso, elaboramos
previamente uma apostila em que estavam definidos conteúdos e estratégias
de trabalho. No entanto, logo no primeiro encontro com os alunos, ficou
evidente a ineficiência do material didático elaborado, uma vez que partia do
pressuposto de uma turma mais homogênea em relação aos conhecimentos
adquiridos com a escolarização formal. Optou-se, então, por descartar a
apostila já impressa e elaborar materiais e estratégias de ensino específicos
para cada dificuldade encontrada no percurso.
Na prática, houve a necessidade de revisar conteúdos basilares da
educação fundamental no que se refere ao desenvolvimento ds quatro
habilidades: ouvir, falar, ler e escrever.
Além disso, tornou-se patente a necessidade de se contar com o apoio e
a participação de outras disciplinas, já que as deficiências encontradas
dificultariam também a apreensão dos conteúdos das demais disciplinas.
6.3
Atividades desenvolvidas
Em conformidade com a concepção de língua e, mais especificamente, a
de ensino de língua portuguesa anteriormente explicitados, e diante da
realidade singular (já descrita e explicitada ao longo desta monografia) em
que
nos
insertamos,
buscamos
intervir
nas
diversas
situações
de
aprendizagem através de estratégias metodológicas que pudessem atender às
diferentes necessidades dos alunos à medida que as íamos identificando.
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Para facilitar a compreensão, optamos por descrever algumas das
metodologias aplicadas, enfocando-as a partir das quatro habilidades com as
quais buscamos trabalhar ao longo dos dois primeiros módulos: ouvir, falar, ler
e escrever.
6.3.1 Atividades relativas à escuta de textos
Houve a necessidade
de se trabalhar essa habilidade porque
percebemos que grande parte dos alunos tinham problemas de concentração
e, como conseqüência, tinham dificuldades em escutar o outro e compreender
o que ouviam.
6.3.1.1 Ditado com música
Essa atividade teve como objetivo trabalhar a atenção e a concentração
individuais do aluno, visando à compreensão global do texto, de forma lúdica,
ao mesmo tempo em que requeria atenção específica para a apreensão de
algumas
palavras
propositalmente
omitidas,
as
quais
deveriam
ser
corretamente escritas no espaço destinado a isso. Dessa forma, trabalhava-se,
além da concentração e atenção, a ortografia, possibilitando a que o aluno
passasse naturalmente à reflexão sobre a não-correspondência entre fonema
e grafema (Apêndice 2).
6.3.1.2 Leitura individual e coletiva de textos
Essa atividade era realizada em etapas. Primeiro, uma de nós fazia a
leitura expressiva de um texto narrativo (Ilustração 1). Em seguida, alguns
alunos liam oralmente trechos do texto e eram observados e (re)orientados
quanto à entonação, pronúncia, ritmo etc. A atividade teve também como
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objetivo despertar os alunos
para a importância da leitura
expressiva adequada para a
compreensão do texto.
Como se tratava de um
texto narrativo, mostrou-se
ainda a importância de se
marcar na oralidade as falas
do
narrador
personagens,
e
dos
imprimindo-
lhes a necessária coerência
com o fato narrado.
Ilustração 1 – Leitura de textos
6.3.1.3 Debates orientados
A partir de temas sugeridos pelas leituras realizadas em sala, por
solicitação dos alunos em conversas informais ou ainda por notícias veiculadas
pela mídia, foram feitas leituras para reflexão individual e posterior discussão
em grupo.
O
objetivo
dos
debates
extrapolava a motivação para a
troca
salutar
de
idéias
ou
a
expressão de diferentes pontos de
vista. Era também um espaço vivo
de escuta e produção de um gênero
da oralidade tão comum em nossa
Ilustração 2 - Debate orientado
vida cotidiana (Ilustração 2).
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6.3.2 Atividades relativa à escuta/produção de textos
6.3.2.1 Pé-de-orelha
O momento pedagógico assim
denominado
foi
um
importantes
para
o
dos
mais
crescimento
individual de cada um dos alunos,
segundo afirmação deles. Começou a
partir
da
constatação
da
heterogeneidade da turma, ou seja,
havia dificuldades muito específicas
individuais difíceis de serem tratadas
no grande grupo. Nós já vínhamos
Ilustração 3 - Atividade de pé-de-orelha
coletando as produções escritas de
cada aluno em pastas individuais, as quais nos ajudariam a observar o
desenvolvimento de cada aluno ao longo dos módulo e ao longo do curso. No
entanto, esse instrumento revelou-se muito útil para diagnosticar as
dificuldades/facilidades particulares. Essa pasta passou a ser o principal
instrumento utilizado no momento do pé-de-orelha, aliada a uma ficha de
avaliação individual da expressão e leitura orais.
A cada encontro em sala de aula, separávamos dez pastas que
orientariam a atividade, ou seja, dez alunos deveriam passar pelo pé-deorelha. Enquanto a turma realizava uma atividade individual ou em grupo
orientados pelo monitor ou monitora e por uma de nós, a outra isolava-se do
grande
grupo
e
chamava
individualmente
cada
um
dos
alunos
escolhidos(Ilustração 3). Sentados, lado a lado, líamos juntos o texto escolhido
para análise e íamos explicando cada um dos problemas identificados no
material,
esclarecendo
e
orientando
cada
dúvida.
Nesse
momento,
aproveitava-se também para mostrar os pontos fortes e características
marcantes da produção, que deveriam ser cultuadas e, para tal, sugeriamos
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fontes de consulta, bibliografia complementar. Se necessário, orientávamos
sobre uma metodologia adequada de estudo.
Após essa orientação, o aluno deveria isolar-se para reescrever o texto,
seguindo as recomendações. Concluída a reescritura, o aluno deveria entregar
o novo texto junto como anterior para que fossem novamente arquivados na
pasta e retomados, se necessário, em um próximo pé-de-orelha. Algumas
vezes, era possível a leitura do texto refeito ainda no mesmo dia, mas isso
dependia da dinâmica da turma em cada encontro.
É interessante assinalar que inicialmente
os
alunos
sentiam-se
constrangidos com essa atividade. No entanto, à medida que passavam por
ela, percebiam sua importância para seu aprendizado e passaram a exigir que
os chamássemos novamente. Em ficha de avaliação das atividades e do
material, foi considerado por eles como um dos momentos mais proveitosos e
interessantes do curso, conforme pode ser comprovado pelos comentários
expressos nas ilustrações 4, 5, 6 e 7.
Ilustração 4 - Comentário 1 sobre as atividades desenvolvidas
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Ilustração 5 – Comentário 2 sobre as atividades desenvolvidas.
Ilustração 6 - Comentário 3 sobre as atividades desenvolvidas
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Ilustração 7 - Comentário 4 sobre as atividades desenvolvidas
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Ilustração 8 -Texto argumentativo corrigido para reescritura.
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Ilustração 9 - Texto reescrito pelo aluno
As ilustrações 8 e 9 mostram um atividade de reescritura de texto após a
orientação no pé-de-orelha
6.3.2.2 Leitura em pequenos grupos
Para incentivar a troca de idéias e a integração entre os alunos, fizemos
também leituras de textos mais longos em pequenos grupos, sempre visando a
uma socialização posterior no grande grupo.
Para facilitar a atividade, aproveitávamos a divisão existente no próprio
texto e cada pequeno grupo se responsabilizava por apresentar ao grande
grupo um ou mais dos tópicos desse texto. Orientávamos para que,
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inicialmente, o texto fosse lido integralmente e, a partir dessa visão global,
cada grupo passasse a tratar e discutir seu item específico.
Essa atividade, além de pressupor e exercitar a capacidade
de
compreender as idéias expostas nas modalidades oral e escrita, permitia o
trabalho oral com a paráfrase e o resumo.
6.3.2.3 Leitura de textos não-verbais
Partindo da concepção de
que
existem
textos
orais
e
escritos, sejam verbais ou nãoverbais,
levamos
para
discussão, em transparência ou
em papel, textos em que o nãoverbal era fator determinante na
compreensão.
Nesses
discutia-se
importância
fatores
a
semióticos
textos,
como
de
cor
predominante, tamanho de letra,
seleção vocabular, seleção e
Ilustração 10 - Charge discutida em sala
disposição
ainda
a
das
imagens
importância
ou
de
conhecimentos enciclopédicos e do contexto situacional gerador do texto para
uma compreensão leitora adequada. Para essa atividade, discutimos
principalmente o gênero charge.
Como era época de eleições, esse foi um tema recorrente em nossas
discussões e várias charges foram apresentadas.
Nesse exemplo que
apresentamos na ilustração 10, mostramos que a presença da urna aliada ao
enunciado O eleito é... indicam o tema tratado, discutimos a importância da
cor para identificar o partido que enuncia a frase eu também. O fato de o
“partido vermelho” responder eu também, mostra sua subordinação ao “partido
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amarelo”. Discutimos também o significado de haver um ringue em cima da
urna e, dentro dele, um dossiê e uma televisão que sangra. Ainda discutimos o
significado da existência de rachaduras na urna.
6.3.2.4 Leitura comparativa
As atividades de leitura comparativa tinham como objetivo levar a grupo a
identificar idéias principais em um dado texto e compará-las com idéias
(semelhantes ou divergentes) presentes em outro texto. Essa foi uma atividade
que ocorreu durante mais de um encontro em que foram discutidos textos de
vários gêneros ao longo do módulo. O tema escolhido para o segundo módulo,
por exemplo, foi liberdade e os textos trabalhados foram Os Dois Amigos e A
Cotovia e os Sapos (Apêndices 3 e 4).
Merece destacar que a leitura de contos considerados infantis parte do
pressuposto de que um bom texto, seja ele escrito em princípio para um
público de menos idade, tem diferentes níveis de leitura. Pode-se ficar no nível
superficial, e aí estar-se-ía, fazendo uma leitura infantil(izada), ou pode-se
fazer uma leitura mais profunda.
6.3.2.5 Apresentação e discussão de filmes
Sempre a partir de um tema discutido/sugerido em sala de aula,
propúnhamos a leitura coletiva de um filme, através de um debate orientado no
grande grupo.
Antes de levar os alunos a verem o filme, alguns tópicos eram
destacados, para observação e análise. O filme era passado, discutíamos as
impressões gerais e a compreensão global do filme, para, em seguida,
passarmos algumas partes específicas, sendo cada uma delas discutida e
comentada, a partir da nossa orientação inicial ou de pontos que fossem
abordados pelos alunos e que não haviam sido contemplados nas orientações
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primeiras. Finalmente, cada aluno poderia inscrever-se para questionar,
sugerir ou avaliar a atividade, a partir das discussões anteriores.
6.3.2.6 Passa-giz
A partir da escolha de alguns trechos de produções escritas dos alunos,
que iam sendo expostos (sem a identificação do autor) no retroprojetor, um
aluno era chamado ao quadro para reescrever o trecho, corrigindo-o. Nós
observávamos e comentávamos cada erro específico (no que também éramos
ajudadas pelos alunos), comentando-o para o grande grupo. O aluno era,
então, convidado a passar o giz para que outro colega pudesse ter a
oportunidade dar sua contribuição e de esclarecer suas dúvidas.
6.3.2.7 Ciranda de livros
Com o objetivo de incentivar a leitura de textos mais longos, com o devido
cuidado de escolher obras literárias tanto da literatura universal quanto da
literatura brasileira, com linguagem acessível, trouxemos e doamos à turma
30 volumes, os quais foram listados e distribuídos entre os alunos. Cada aluno
que ia recebendo um exemplar ficava responsável por ele e deveria, no prazo
de cerca de 10 dias, repassá-lo a um colega, tendo o cuidado de anotar o
nome do novo responsável na ficha de controle que estava colada na contracapa de cada livro. Durante cada encontro, os alunos eram convidados a
falarem espontanemante sobre suas leituras, de forma a despertar o interesse
dos demais colegas.
O objetivo dessa atividade seria fazer com que o repertório de leitura
dos alunos pudesse ser ampliado em um curto espaço de tempo, através do
acesso, da socialização das leituras e da fruição do texto literário.
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6.3.2.8 Escrevendo e aprendendo palavras novas a partir da visita ao Aquário
da Redinha
Essa atividade funcionou como uma espécie de ditado da vida real. Para
isso, aproveitávamos as atividades desenvolvidas em outras disciplinas, como,
por exemplo, a visita realizada ao Aquário da Redinha, sob a orientação da
disciplina de Biologia.
Nessa visita (Ilustração 11), os alunos foram orientados a anotar cada
novo animal observado em uma caderneta de campo e, à medida que iam
anotando, surgiam dúvidas sobre a grafia, o que obrigava, posteriormente a
uma consulta ao dicionário, e
causava
polêmicas
entre
eles
sobre as normas ortográficas e
sobre
a
divergência
entre
a
oralidade e a escrita.
Na
sala
esclarecemos
de
as
aula,
dúvidas
restantes ao mesmo tempo em
que
Ilustração 11 - Visita ao Aquário de Natal
orientamos
a
consulta
sistemática ao dicionário.
6.3.2.9 Produção de relatórios
O processo de produção de relatórios iniciava-se em sala de aula e
prosseguia, como vimos no tópico anterior, no decorrer da atividade que o
ensejaria, no caso, a visita técnica ou o Tempo Comunidade. Cada aluno teria
que anotar os dados em sua caderneta de campo de forma clara e objetiva, de
maneira que pudesse aproveitar esses dados no relatório.
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A interdisciplinaridade, concretizada na visita citada, permitiu uma
visão mais ampla da realidade estudada e concretizava-se claramente através
do gênero textual utilizado: o relatório. Os alunos teriam que sistematizar o
conteúdo aprendido através de um texto escrito, com linguagem adequada, em
estrutura pré-determinada e tinham consciência de que seriam avaliados tanto
no aspecto conteudístico específico da disciplina de Biologia, quanto no uso
adequado da linguagem e da estruturação do gênero relatório em Língua
Portuguesa.
Como já dissemos, havia também, ao final de cada módulo, a
produção de um relatório mais complexo, porque envolvia o resultado do
trabalho desenvolvido em três ou mais disciplinas técnicas, além de Língua
Portuguesa. Trata-se do relatório do Tempo Comunidade, que, conforme já
expusemos, é um momento em que os alunos podem e devem colocar em
prática, em suas comunidades de origem, os conhecimentos das mais diversas
disciplinas adquiridos ao longo do módulo. A sistematização/avaliação desse
aprendizado é feita através da redação do relatório.
Após lidos e comentados, simultaneamente, pelos professores da
área técnica e de Língua Portuguesa, os alunos foram chamados a refazer o
relatório, adequando-o às solicitações/orientações dos professores. Após essa
reescritura, os relatórios foram novamente corrigidos, a fim de se verificar a
qualidade mínima esperada.
6.3.2.10 Simulação de situação real
Outra atividade desenvolvida
foi a simulação de uma situação
real.
Para
essa
estratégia
pedagógica seguimos a sugestão de
um grupo de alunos e decidimo-nos
pelo tema eleição. Essa atividade
tinha como objetivos: a) a produção
Ilustração 12 - Atribuições dos jornalistas
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de vários gêneros presentes em uma eleição; b) a reflexão sobre a adequação
lingüística ao gênero produzido; e c) a reflexão sobre o processo mesmo de
eleição.
Começamos por dividir a turma em
grupos, cada um representando um
segmento da sociedade envolvido em
uma eleição. Dessa forma, tivemos três
partidos que disputavam as eleições, um
grupo que atuou como Tribunal Eleitoral,
outro que representaria o segmento dos
eleitores
Ilustração 13 - Trabalho dos partidos
políticos
e
ainda
um
grupo
que
trabalharia como jornalista.
Solicitamos a cada partido político
que escolhesse um nome e um símbolo
que
o
representasse,
escolhesse
também quem seriam o presidente e o
vice, quais seriam seus fiscais (Ilustração
14), para, então, elaborar um programa
de trabalho em que constassem suas
idéias sobre educação, saúde, meio
ambiente,
desenvolvimento
desemprego
sustentável.
e Ilustração 14 - Texto escrito produzido
Além
disso, teriam que produzir material de
propaganda política.
Os alunos do Tribunal Eleitoral
teriam que organizar as eleições:
produzir títulos de eleitor, registrar os
partidos, confeccionar as cédulas
eleitorais, elaborar as regras para os
comícios políticos e garantir que eles
Ilustração 15 -Tribunal Eleitoral em atividade
acontecessem na hora e no tempo
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previstos (ilustração 15). Também
eles conduziriam as
escolhendo
os
eleições,
locais
para
votação e identificando-os, assim
como seriam responsáveis pela
apuração
Ilustração
16),
divulgação do resultado final e
posse do presidente eleito.
Os
Ilustração 16 - Apuração do resultado
alunos
que
atuariam
como jornalistas teriam que cobrir
as atividades dos políticos e do
Tribunal, gravar um jornal com essa
cobertura e montar a estratégia do
debate político que ocorreria. Para
essa tarefa contamos com a ajuda de
um servidor do CEFET-RN, Edson
Lima, câmera do setor de multimídia
(Ilustração 12).
Os alunos que representariam
os eleitores participaram de uma
discussão
sobre
argumentação
Ilustração 17 - Grupo de eleitores em discussão
e sobre a argumentação.
teriam que apontar falhas na
argumentação dos candidatos
(Ilustração 17).
Elencadas as atribuições
de cada segmento, os grupos se
dispersaram para planejar suas
atividades
e
estratégias.
Tiveram cerca de três horas
pela
Ilustração 18 - Debate político
manhã
planejamento.
para
esse
Durante
essa
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etapa, os jornalistas começaram a gravar as atividades de cada partido e as do
Tribunal Eleitoral, fazendo e gravando entrevistas.
No período da tarde, foram
marcados
os
“comícios-
relâmpago” (Ilustração 19). Cada
partido faria, em um local diferente
do
Centro
comício
de Formação,
de
10
minutos,
horários
um
em
sucessivos,
cronometrados pelo presidente do
Tribunal Eleitoral. Essa atividade
também
foi
gravada
e
acompanhada pelos jornalistas e
o grupo de eleitores.
É interessante assinalar que,
como essa atividade ocorreu no
pátio interno da escola, onde
vários outros grupos estavam em
atividade, houve uma participação
intensa dos alunos de outros
cursos,
que
assistiram
aos
comícios, escolheram partido e
foram votar, inclusive, levando sua
carteira de identidade.
Imediatamente
após
os
comícios, todos foram reunidos
numa sala de aula para assistir ao
jornal televisivo, apresentado pelo
grupo
de
jornalistas
e
que
mostrava as atividades da manhã.
Ilustração 19 - Partidos políticos
Em
seguida,
procedeu-se
ao
debate político (Ilustração 18 e
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finalmente à votação, que contou com a participação de todos os que estavam
em atividade no Centro de Formação Patativa do Assaré, fossem ou não
alunos do Curso de Controle Ambiental. Essa participação fez com que
tivéssemos 161 votantes.
Essa atividade obrigou a que os alunos produzissem vários gêneros
textuais orais (debate, entrevista, discurso, jornal televisivo) e escritos (faixas,
cartazes, cédulas de votação, súmulas de apuração, programa político) além
de outros que indiretamente estavam ligadas ao processo de sua organização.
No entanto, houve um ponto negativo no processo eleitoral, que foi
discutido no encontro seguinte: os partidos políticos reproduziram o
comportamento pouco ético de alguns políticos brasileiros. Esperávamos que,
por se tratar de um grupo que tem discussões políticas como parte das
atividades cotidianas e que luta por mudanças sociais, tivessem um
comportamento distinto.
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73
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A descrição do grupo de alunos feita no capítulo 2 revelou a diversidade
existente entre eles. Além disso, a convivência com os discentes revelou
diversos níveis de maturidade intelectual, de experiência de vida e de domínio
no uso dos recursos lingüísticos. Essa realidade aliada às concepções de
educação, de educação profissional, de língua portuguesa e de ensino de
língua materna, discutidas no capítulo 3, levaram-nos a repensar nossa prática
pedagógica, a buscar novas metodologias e a elaborar materiais didáticos
mais acordes à situação, porque, como foi explicitado no início deste trabalho,
o material didático disponível no mercado e utilizado, em geral, nos cursos
técnicos de nível médio têm talante instrumentalista, já que esses cursos se
preocupam em formar para o mercado de trabalho, na visão mais estreita que
se pode ter desse termo.
O caminho percorrido até aqui indica algumas certezas e leva-nos, ao
mesmo tempo, a alguns questionamentos. A primeira e talvez a maior certeza
é a de que propor estratégias metodológicas e material didático de língua
portuguesa, buscando a integração entre os conhecimentos materializados em
disciplinas propedêuticas do ensino médio e as específicas da educação
profissional no Curso Técnico de Nível Médio integrado em Controle Ambiental
na Modalidade Eja é como embrenhar-se em mata virgem, sem mapa e sem
bússola. Não obstante, esse é um desafio deveras instigante a qualquer
pesquisador que tenha consciência de que a linguagem é um mediador do
conhecimento e de que o domínio da língua materna, no caso, a língua
portuguesa, é um obstáculo que precisa ser vencido pelos alunos em foco para
que possam integrar-se na vida e na profissão.
Como fruto da experiência vivida, confirmamos a importância de
trabalharmos em sala de aula com a maior variedade possível de gêneros
textuais, principalmente os relativos à atuação profissional e os de uso
cotidiano. Dessa forma, os alunos percebem a funcionalidade dos diferentes
gêneros e aprendem a utilizá-los adequadamente em cada situação
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comunicativa. Vale também referendar o trabalho com a simulação de
situações (como fizemos com a eleição para presidente), de forma que haja
real identificação entre os educandos e as situações propostas, de tal maneira
que a simulação pareça até real, fazendo com que os diferentes gêneros
“surjam” da própria dinâmica da “realidade”.
Da mesma forma, o trabalho sistemático com a oralidade (pronúncia,
entonação, escuta de textos etc.) torna-se imprescindível para que o educando
sinta-se sujeito no processo de interação e consiga utilizar adequadamente
tanto a modalidade oral quanto a escrita, nas mais diversas situações do
cotidiano ou da sua futura profissão.
Nesse sentido, também se mostraram bastante produtivas as atividades
de escritura-reescritura de textos, sob a orientação das professoras, assim
como o chamado “pé-de-orelha”, em que os alunos tiveram oportunidade de
constatar e, o melhor, de superar as suas dificuldades individuais,
sistematicamente acompanhadas através da pasta, ou da ficha de leitura
individual.
Além disso, a produção de relatórios, de caráter inter ou transdisciplinar,
como forma de relatar a visita técnica ou trabalho desenvolvido por cada grupo
no chamado Tempo Comunidade, constituiu-se oportunidades singulares de
rever, fundamentar e sistematizar os conhecimentos até então apreendidos.
Durante o processo de reescritura desse documento e, a partir de nossas
observações e das orientações dos professores das áreas técnica, cada
educando teve a oportunidade de refletir sobre as suas dificuldades e porcurar
superá-las, uns a contento, outros nem tanto.
Assim sendo, embora ainda haja muitos caminhos a trilhar nessa floresta
tão densa, concluímos esse trabalho com a sensação de estarmos já com a
bússola na mão e com um primeiro perfil do mapa pré-delineado.
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APÊNDICES
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APÊNDICE 1
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO NORTE
Gerência Educacional de Recursos Naturais
Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental na Modalidade de EJA
Pronera
Língua Portuguesa - Módulo 1
Professoras: Ana Lúcia Henrique e Leonor Araujo Bezerra Oliveira
IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO
NOME:
LOCAL DE NASCIMENTO:
DATA DE NASCIMENTO:
RESIDÊNCIA:
ESTADO
CIVIL:
solteiro
IDADE:
casado
ESCOLARIZAÇÃO
CONCLUIU: Ensino Fundamental
EM QUE ESCOLA(S) ESTUDOU:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
viúvo
separado
Ensino médio
EM QUE ANO
CURSOS QUE FEZ
1.
2.
3.
4.
5.
TRABALHA? SIM ( ) NÃO ( )
LUGARES EM QUE TRABALHOU
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
divorciado
EM QUE ANO
ONDE?
DOCUMENTOS QUE POSSUI
1. Registro Civil de Nascimento (Certidão de Nascimento)
2. Carteira de Identidade
3. Certidão de Casamento
4. Cadastro de Pessoa Física (CPF)
5. Carteira de Trabalho e Previdência Social
6. Inscrição nO Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS)
7.
8.
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Ana Lúcia Sarmento Henrique e Leonor de Araujo Bezerra Oliveira