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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
ESPECIALIZAÇÃO latu sensu
HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL - HIPOA
OCORRÊNCIA DE ENDOPARASITOS EM PEIXES CONSUMIDOS NO
MUNICÍPIO DE CURRALINHO, ILHA DO MARAJÓ, ESTADO DO PARÁ, E
SUA IMPORTANCIA NA INSPEÇÃO DO PESCADO.
Ana Amélia Borba Gonçalves Barros
Gabriela Rocha Magalhães
Vânia de Fátima do Nascimento Cavalcante
Belém, abr. 2009
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Ana Amélia Borba Gonçalves Barros
Gabriela Rocha Magalhães
Vânia de Fátima do Nascimento Cavalcante
Alunas do Curso de Especialização latu sensu em HIPOA
OCORRÊNCIA DE ENDOPARASITOS EM PEIXES CONSUMIDOS NO
MUNICÍPIO DE CURRALINHO, ILHA DO MARAJÓ, ESTADO DO PARÁ, E
SUA IMPORTANCIA NA INSPEÇÃO DO PESCADO.
Trabalho monográfico de conclusão do curso de
Especialização latu sensu em Higiene e Inspeção de
Produtos de Origem Animal (TCC), apresentado à
UCB como requisito para a obtenção do título de
Especialização em HIPOA, sob a orientação do Prof.
Dr. Washington Luiz Assunção Pereira.
Belém, abr. 2009
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OCORRÊNCIA DE ENDOPARASITOS EM PEIXES CONSUMIDOS NO MUNICÍPIO
DE CURRALINHO, ILHA DO MARAJÓ, ESTADO DO PARÁ, E SUA
IMPORTANCIA NA INSPEÇÃO DO PESCADO.
Elaborado por Ana Amélia Borba Gonçalves Barros, Gabriela Rocha Magalhães e Vânia
de Fátima do Nascimento Cavalcante
Alunas do Curso de Especialização latu sensu em HIPOA
Foi analisado e aprovado com
grau: .................................
Rio de Janeiro, _____ de ____________ de _______
________________________________
Membro
________________________________
Membro
________________________________
Professor Orientador
Presidente
Belém, abr. 2009
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Dedicamos este trabalho a Deus e aos nossos
familiares, pelo apoio recebido.
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Agradecimentos
Ao nosso orientador, Profº. Washington Luiz Assunção
Pereira, que além de orientador é um grande amigo;
A Profª. Ágar Perez que nos forneceu material para o
nosso trabalho;
Aos professores da Qualittas que fizeram parte dessa
historia, sempre nos incentivando em manter vivo o
amor pela profissão da Medicina Veterinária.
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RESUMO
Este trabalho teve como objetivo investigar, por meio de inspeção sanitária municipal, a
presença de parasitos nos principais peixes provenientes da baía do Marajó e que são
consumidos no Município de Curralinho, Estado do Pará. Analisaram-se oitenta espécimes
de peixes de importante valor comercial e muito apreciado na culinária marajoara, sendo
trinta (30) Hoplias malabaricus (Characiforme) (traira), dez (10) Hoplerythrinus
unitaeniatus (Characiforme) (jeju), dez (10) Mylossoma sp. (pacu), dez (10) Leporinus sp.
(aracu), dez (10) Cianoscio sp. (pescada branca), cinco (5) Prochilodus sp (Characiforme)
(Curimatãs) e cinco (5) Brycon sp (Matrinchã) no período compreendido entre julho a
outubro de 2008. A análise das amostras de peixes oriundos do mercado municipal de
Curralinho demonstrou uma alta prevalência de parasitismo por endo-helmintos, em H.
malabaricus, H. unitaeniatus e Cianoscio sp., sendo que os parasitos da família Anisakidae
foram os que apresentaram a maior intensidade media de parasitismo e com localização em
cavidade abdominal. Também foram identificados em H. unitaeniatus larvas de parasitos
do gênero Eustrongylides, helminto com potencial zoonótico, encistados em musculatura,
serosa do estômago e bexiga natatória. Nas espécies de peixes Mylossoma spp, Leporinus
sp., Brycon sp., Prochilodus sp., não foram encontrados endo-helmintos. Embora não tenha
sido possível a identificação dos parasitos em nível de gênero e espécie, este trabalho deve
ser levado em consideração diante da elevada aceitação dessas espécies de peixes no
mercado consumidor.
Palavras chaves: peixes, endo-helmintos, inspeção, potencial zonótico.
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ABSTRACT
This work had as objetive investigate, by means of inspection municipal district, the
presence of parasite at the principal fish comes from the bay of Marajó and that they are
consumer at the County of Curralinho. Analyse in case that eighty specimens of fish of
important value and a lot fancied at the region food, being thirty Hoplias malabaricus, ten
Hoplerythrinus unitaeniatus, ten Mylossoma sp., ten Leporinus sp., ten Cianoscio sp., five
Prochilodus sp and five Brycon sp. at the period it comprises between July/October, 2008.
The analysis of the samples of fish goin of the market in he place he has shown a upswing
prevalence as of parasitism by endohelminth, into H. malabaricus, H. unitaeniatus and
Cianoscio sp. being the parasite family Anisakidae have been the than presented greatest
intensity mediator of parasitism and localization into abdominal cavity. The were also
identified into H. unitaeniatus grubs as of parasite from the species Eustrongylides
helminthes along potential zoonotical encysted into musculature, stomach serose and
bladder. At the breeds of fish Mylossoma spp, Leporinus sp., Brycon sp and Prochilodus
sp., did not have been encountered endohelminth. In spite of did not have been feasible the
detection of the parasite into specie, this work to be taken into consideration acceptance of
fish in the market consumer.
Key Words: fishs, endohelminth, inspection, potencial zoonotical.
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... Plante seu jardim e decore sua alma, em vez de
esperar que alguém lhe traga flores...
... Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o
bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de
tentar.
William Shakespeare (O Menestrel).
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. (A e B) - Detalhes de necropsia em Hoplias malabaricus coletados no
Município de Curralinho em 2008 ..................................................................... 22
FIGURA 2. Hoplias malabaricus – cisto em musculatura (círculo) .................................. 26
FIGURA 3. Hoplias malabaricus – nematódeo em musculatura. Cisto cortado para expor o
parasito (seta) ..................................................................................................... 26
FIGURA 4. Hoplias unitaeniatus – larva de Eustrongylides medindo em torno de 6 cm ..26
FIGURA 5. Hoplias malabaricus – nematódeo parasito em degeneração completa na
musculatura (círculo) ......................................................................................... 27
FIGURA 6. Nematóides dispersos na cavidade abdominal medindo em torno de 3-4 cm de
comprimento e apresentavam coloração esbranquiçada .................................... 27
FIGURA 7. (A) Microscopia óptica de larva de Eustrongylides. (B) Parasito encistado na
parede do estômago de Hoplias unitaeniatus .................................................... 28
FIGURA 8. Localização das larvas de nematódeos coletados de peixes comercializados no
Município de Curralinho, 2008 .......................................................................... 30
FIGURA 9. Microscopia óptica de larva de nematóide da família Anisakidae encontrados
dispersos na cavidade abdominal de Cianoscio sp., 2008 ................................. 31
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Variação do comprimento e comprimento médio de peixes comercializados
no Município de Curralinho, PA, 2008 .............................................................. 21
TABELA 2. Prevalência de infecção e intensidade média de parasitismo por endohelmintos em peixes consumidos no Município de Curralinho, Marajó – Pará,
2008 ................................................................................................................... 24
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SUMÁRIO
Página
Resumo ................................................................................................................................ vi
Lista de Figuras ................................................................................................................... ix
Lista de Tabelas ................................................................................................................... x
1. Introdução ....................................................................................................................... 12
2. Revisão de literatura ....................................................................................................... 14
2.1. Considerações sobre a ictioparasitologia ......................................................... 14
2.2. Importância da inspeção de pescado ............................................................... 16
2.3. Parasitos encontrados em inspeção ................................................................. 18
3. Material e Métodos ......................................................................................................... 20
3.1. Área de Estudo ................................................................................................ 20
3.2. Material de estudo e procedência .................................................................... 21
3.3. Processamento ................................................................................................. 22
3.4. Análise dos dados ............................................................................................ 23
4. Resultados e Discussão .................................................................................................. 23
5. Comentário Final ............................................................................................................ 33
6. Conclusões ...................................................................................................................... 34
Referências Bibliográficas ................................................................................................. 34
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1. INTRODUÇÃO
Os peixes representam mais da metade de todos os vertebrados. Existem
cerca de 25.000 espécies que exibem grande variedade de formas e habitam praticamente
todos os tipos de ambientes aquáticos. Biologicamente, eles apresentam uma grande
diversidade de comportamentos, hábitos alimentares e de reprodução (GIBAILE, 2009).
O Brasil é um dos países que apresenta o maior potencial do mundo para a
produção de peixes, tendo em vista, o seu imenso território com mais de dois terço,
ocupando a região tropical privilegiada e ricas bacias hidrográficas, onde se destaca a
Bacia Amazônica responsável por aproximadamente 20% de água doce do mundo
(SILVA, 2007).
A Ilha do Marajó, localizada entre os rios Amazonas e Tocantins e entre o
Oceano Atlântico, a poucos quilômetros de Belém, apresenta como área total cerca de
50.000 km2, constituindo-se desta forma o maior arquipélago flúvio-marítimo, juntamente
com as Ilhas de Caviana, Mexiana e Ilha Grande de Gurupá (AMBIENTE BRASIL, 2008).
Possui uma grande variedade de espécies de peixes sendo que os mais consumidos são: a
pescada (Cynoscion sp.), tucunaré (Cichla sp.), traíra (Hoplias malabaricus), mandi
(Pimelodus cf blochi), tainha (Mugil sp.), tambaqui (Colossoma brachypomu) e a piranha
(Serrasalmus sp.) (AQUAPRESS BLEHER -MARAJÓ, 2008).
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Em nutrição humana, o peixe constitui fonte de proteína de alto valor
biológico, tão importante quanto à carne bovina. Entretanto, os peixes, assim como os
outros animais, podem ser acometidos por uma gama enorme de agentes causadores de
enfermidades de origem bacteriana, virótica, fúngica e/ou parasitaria, colocando em risco,
muitas vezes, a saúde do consumidor (GERMANO et al., 2001).
Sendo assim, Syme (1969) afirma que praticamente todos os peixes de
interesse comercial são infectados por diversas espécies de parasitas, e completa dizendo
que os parasitos de peixes mais importantes são os nematóides e os cestóides, sendo que
também podem ser encontrados trematódeos no intestino, porém sua importância em saúde
publica é mínima já que são eliminados na evisceração.
Os estudos sobre a importância dos parasitos de peixes de interesse
comercial no Brasil, visando à inspeção sanitária do pescado, ainda são bastante reduzidos.
Simões e Lopes (2005) já afirmavam que desde tempos remotos, a sanidade dos produtos
pesqueiros, e alimentícios de um modo geral, preocupava o homem, que já nos primórdios
de sua existência procurava conservá-los utilizando o frio natural ou secando-os ao ar livre.
Com base no que foi relatado o presente trabalho objetivou investigar a
ocorrência de parasitos nas principais espécies de peixes consumidas no Município de
Curralinho, Estado do Pará. Assim como, informar a comunidade cientifica e aos serviços
de inspeção de pescado quais as espécies de peixes são mais parasitados, seus sitio de
infecção e respectivas prevalências e intensidade de infecção, tendo em vista a importância
higiênico-sanitária ao nível de mercado interno a fim de fornecer subsídios aos serviços de
inspeções e servir como base para futuras pesquisas na área de higiene do pescado.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 - Considerações sobre a ictioparasitologia
De acordo com o conceito de Machado et al. (1996) a ictioparasitologia é
uma ciência que tem, entre seus objetivos, auxiliar o entendimento das interações entre os
peixes e seus parasitos, uma vez que essa relação influencia e são influenciadas de maneira
direta e indireta pelos demais elementos constituintes da biosfera.
Os estudos referentes à patologia e parasitologia de peixes são temas de
crescente importância no contexto da piscicultura mundial (SÃO CLEMENTE et al.,
2001), todavia, a patologia piscícola não tem evoluído no mesmo nível de
desenvolvimento, conforme tem ocorrido com outras espécies de animais e a bibliografia
especializada tem revelado ainda escassez de informações (BARROS et al., 2002).
Segundo Ranzani-Paiva et al. (1997) a epidemiologia das doenças em
populações naturais de peixes é assunto recente em Ictiologia e esforços têm sido feitos
para usar a ocorrência das doenças de peixes como indicador dos efeitos de fatores
ambientais impactantes. Obiekezie et al. (1988) completa afirmando que esses efeitos
podem ser de ordem natural ou antropogênicas, isoladamente ou em associação, tendo
como conseqüência a perturbação fisiológica dos animais.
Eiras (1994) referiu que existem cerca de 10.000 espécies de parasitos de
peixes, distribuídos da seguinte maneira nos grupos zoológicos: protozoas (1750),
monogenea (1500), digenea (1700), cestoda (1000), nematoda (700), acantocéfala (400),
crustácea (2590), sendo que, os principais helmintos parasitos de peixes de água doce, são
representados por monogênios, trematódeos digenéticos, cestódeos, acantocéfalos e
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nematódeos (MOREIRA, 2000). Segundo Pavanelli et al. (2002) os nematódeos são os
mais encontrados nos peixes de água doce.
Os prejuízos causados nos peixes pelos nematódeos variam intensamente,
dependendo da espécie considerada, do órgão atacado e da intensidade da parasitose
(THATCHER, 1991). Já Dick e Choudhury (1996) consideram as formas larvárias mais
prejudiciais aos hospedeiros do que os adultos, uma vez que podem migrar em direção a
determinados órgãos provocando lesões significativas.
Dentro da gastronomia, existem algumas preparações que utilizam pescados
crus, como o sushi e o sashimi da cozinha japonesa, e mal cozidos como o ceviche (peixe
marinado em suco de limão e especiarias), lomi lomi (salmão marinado em suco de limão
com cebola e tomate), poisson cru (peixe marinado em suco de limão, cebola, tomate e
leite de coco), ovas de arenque, siri bêbado (siri marinado em vinho e pimenta) e peixes
mal passados. O consumo de peixe utilizado nessas preparações pode acarretar uma
contaminação acidental por parasitas (SAKATSUME, 2005).
De acordo com Smith e Wootten (1978) as infecções parasitárias adquiridas
através dos alimentos têm sido descritas há muito tempo, e continuam sendo de grande
importância em muitas regiões do mundo. Muitos parasitas têm complexos ciclos de vida,
os quais têm como fator característico à troca de hospedeiros em determinada evolução.
O ciclo de vida do parasito ocorre em regiões mais frias dos oceanos
(JENSEN et al., 1994); envolve dois hospedeiros intermediários e a possibilidade de
grande número de hospedeiros paratênicos (peixes marinhos) (SMITH; WOOTTEN, 1978;
GERMANO; GERMANO, 1998). O verme adulto parasita o estômago e intestino delgado
de mamíferos marinhos como baleia, golfinho, leão marinho, foca e morsa. Os ovos
eliminados nas fezes sofrem, na água, o desenvolvimento larvário, onde as larvas são
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ingeridas pelo primeiro hospedeiro intermediário, crustáceos, como camarão (krill). Os
hospedeiros secundários são peixes que se alimentam de crustáceos, adquirindo as larvas
do terceiro estágio que migram para as cavidades ou musculaturas. Os peixes mais
conhecidos por albergarem a larva do terceiro estágio são: bacalhau, arenque, hadoque e
salmão (FABRESSE, 1984).
Os Helmintos são parasitos freqüentes da cavidade abdominal, vísceras e
musculatura de peixes, encontrando-se em sua grande maioria no estágio larval, atuando o
peixe como hospedeiro intermediário no ciclo evolutivo, como por exemplo, as larvas dos
nematódeos ascarídeos do gênero Contracaecum, Thynnasrcaris e Anisakis (PÉREZ,
1999). Sakatsume (2005) alerta que os parasitos em estágio larval, presentes em frutos do
mar quando consumidos crus, mal cozidos e sem o congelamento necessário, consistem um
risco à saúde humana.
Thatcher (1981) assegura que quase todos os peixes amazônicos estão
infectados por parasitos, geralmente com mais de uma espécie, entretanto, isto não deve ser
considerado como um estado “normal” no sentido de ser insignificante para a piscicultura.
E continua dizendo que é necessário considerar que o ambiente aquático é um meio no
qual o acesso e a penetração de agentes patogênicos tornam-se facilitados e o
confinamento dos peixes favorece ainda mais o parasitismo.
2.2 - Importância da inspeção de pescado
A sanidade animal constitui um dos aspectos mais relevantes na produção
comercial de animais aquáticos (LIMA, 2007). A Inspeção de pescado sofreu mudanças
radicais durante os últimos 10-15 anos. Os principais fatos que influenciaram estas
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mudanças são revistos e seu impacto sobre a inspeção brasileira analisado, tecendo-se
considerações sobre os desafios e tendências futuras de suas atividades (SANTOS, 2007).
O setor pesqueiro, com exceção do cultivo, quando comparado a outras
atividades ligadas a produção de alimentos, apresenta algumas características bem
peculiares como, por exemplo, a própria forma de obtenção da matéria-prima que, na
totalidade dos casos, é efetuada por meio de uma operação de caça, sendo o manuseio da
captura ainda realizado sob condições difíceis e primitivas (SILVA e FAULHABER,
2002).
Estudos sobre a patologia de peixes adquirem importância devido ao
crescente interesse em piscicultura no Brasil, onde até o momento poucos trabalhos têm
sido publicados sobre o tema (SÃO CLEMENTE et al., 1998). Em contrapartida, Luque
(2004) refere que nas últimas décadas tem aumentado consideravelmente as pesquisas
relacionadas com parasitos e outros patógenos de organismos aquáticos, principalmente
daqueles hospedeiros com potencial para o cultivo e para a comercialização, juntamente
com o aumento significativo destas atividades no Brasil e no mundo.
Pavanelli et al. (2002), relatam que uma forma de minimizar ou até de evitar
todos esses problemas de transmissão de doenças parasitárias pode ser a adoção por parte
dos órgãos públicos, de medidas preventivas com o objetivo de disciplinar o transporte de
peixes de um local para outro. Seria a exigência do chamado “Certificado Ictiossanitário”.
Este documento comprovaria através de exames efetuados pelos especialistas, que os
peixes de determinadas pisciculturas não apresentam problemas de doenças e, portanto
podem ser transportados sem perigo para outras pisciculturas. Este procedimento, sem
dúvida, diminuiria drasticamente as possibilidades de disseminação das doenças
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parasitárias em peixes no Brasil, como já foi feito na América do Norte e em vários países
da Europa.
Como algumas enfermidades de peixes têm caráter zoonótico, essas devem
ser alvo de maior preocupação por parte dos serviços de fiscalização sanitária, quando o
pescado é destinado ao consumo humano (THATCHER; BRIES NETO, 1994). Pois, de
acordo com Leitão (1983), animais parasitados não são boas fontes alimentares para as
pessoas, pois, apesar dos peixes constituírem uma excelente fonte de proteínas, lipídios,
vitaminas e sais minerais, quando tais nutrientes são provenientes de um animal parasitado,
enfraquecido e com seu metabolismo alterado pela presença de parasitas, tornam-se pobres
e insuficientes como fonte alimentar.
2.3 - Parasitos encontrados em inspeção
Existe uma ampla variedade de parasitos que podem infectar o pescado,
porém só um número relativamente reduzido pode causar enfermidade ao ser humano.
Todos estes parasitos estão associados a fatores sócio-culturais e comportamentais que
possibilitam a infecção, especialmente o hábito de comer pescado cru (QUIJADA et al.,
2005), insuficientemente cozido, congelado, salgado ou defumado, contendo larvas
infectantes vivas do nematóide (FABRESSE, 1984).
Fabresse (1984), afirma que geralmente, a infecção humana ocorre com a
presença de uma única larva no trato digestivo, mucosa gástrica ou intestinal, podendo
raramente ocorrer casos com algumas dezenas de larvas. As mais freqüentemente
encontradas pertencem ao terceiro estágio de desenvolvimento, porém, já foram relatados
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encontros de L4 parasitando o homem (LITTLE; MOST, 1973; LICHTENFELS;
BRANCATO, 1976).
A primeira descrição de infecção humana provocada por parasitas de
peixes, em especial da família Anisakidae, ocorreu na Holanda em 1960 (THIEL et al.,
1960) e em seguida foram relatados casos no Japão (YOKOGAWA; YOSHIMURA, 1965;
YOKOGAWA; YOSHIMURA, 1967; SUGIMACHI, 1985; MATSUOKA, 1994), onde a
população tem o hábito difundido e amplamente aceito de consumir carne de peixe cru,
como sushi e sashimi, e onde a anisaquíase é considerada problema de Saúde Pública
(YOKOGAWA; YOSHIMURA, 1967).
Atualmente são muitos os relatos sobre o encontro de larvas do terceiro e
quarto estágios do nematóide no homem, nos EUA (LITTLE; MACPHAIL, 1972;
LITTLE; MOST, 1973; CHITWOOD, 1975; KLIKS, 1983), França (FABRESSE, 1984;
HUBERT et al., 1989; PINEL, 1996), Itália (MAGGI, 2000), Espanha (VERA, 1991),
Noruega (JENSEN et al., 1994) e Chile (MERCADO et al., 1997).
Embora ainda não haja registro de casos humanos no Brasil por larvas de
nematódeos transmitidos por pescado, é comprovada na literatura a possibilidade de
infecção natural e experimental de aves e mamíferos, revelando importantes conseqüências
clinicas com potencial zoonótico para o organismo hospedeiro (BARROS et al, 2007).
Syme (1969) afirma que os nematódeos são provavelmente os parasitos
mais importantes do ponto de vista da inspeção de pescado e são também os que se
apresentam com maior freqüência. Porém, Luque (2004) relata que apesar de ser o maior
grupo de parasitos de peixes, os nematóides são considerados, de maneira geral, espécies
pouco patogênicas, são fáceis de serem reconhecidos devido ao formato alongado com
extremidades afiladas, são dióicos e exibem dimorfismo sexual.
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De acordo com Myers (1975) há dificuldade em diferenciar gêneros e
espécies da família Anisakidae, pois as larvas desses gêneros podem ser encontradas em
vísceras e músculos dos peixes. Os detalhes morfológicos de esôfago e intestino, como a
verificação da ausência e presença do cecum, são difíceis de visualizar e interpretar nos
estágios larvários, não permitindo, desta forma, a identificação de gênero ou espécie a que
pertencem.
3. MATERIAL E METODOS
3.1 - Área de estudo
A Ilha de Marajó é o acidente geográfico de maior expressão de um Golfão
ao qual se insere a Baía de Marajó, onde deságua o Rio Tocantins e para o qual verte
também o Rio Pará, considerado o acidente que separa a Ilha de Marajó do Continente,
tendo comunicação com a região conhecida por Furo de Breves. O setor Insular abrange:
Soure, Salvaterra, Santa Cruz do Arari, Cachoeira do Arari, Ponta de Pedras, Muaná,
Chaves, Anajás, São sebastião da Boa Vista, Curralinho, Afuá, Breves, Gurupá, Portel e
Melgaço (MELLO, 2008).
O clima é tropical quente e úmido variável de norte a sul com 1 até 3 meses
de seca, onde as temperaturas médias mensais são sempre superiores a 22ºC. A
temperatura média do ano pode chegar a mais de 26ºC na foz do Rio Amazonas, mas, em
geral, varia de 24 a 26ºC. Os valores máximos absolutos variam de 36 a 38ºC, ocorrendo,
sobretudo nos meses de setembro/outubro. Os totais pluviométricos podem exceder a 2.250
mm anuais (MELLO, 2008).
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3.2 - Material de estudo e procedência
Foram analisados 80 espécimes de peixes de importante valor comercial e
muito apreciado na culinária marajoara, sendo trinta (30) Hoplias malabaricus
(Characiforme) (traira), dez (10) Hoplerythrinus unitaeniatus (Characiforme) (jeju), dez
(10) Mylossoma sp. (pacu), dez (10) Leporinus sp. (aracu), dez (10) Cianoscio sp. (pescada
branca), cinco (5) Prochilodus sp (Characiforme) (Curimatãs) e cinco (5) Brycon sp
(Matrinchã), com comprimento médio de 23cm, 21cm, 16cm, 25cm, 25cm, 30cm e 28cm,
respectivamente (Tabela 1).
TABELA 1: VARIAÇÃO DO COMPRIMENTO E COMPRIMENTO MÉDIO DE PEIXES
COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE CURRALINHO, PA, 2008.
Nome científico peixe
Nº
Media de tamanho
30
Variação
(menor e maior)
18-29cm
H. malabaricus
H. unitaeniatus
10
19-24cm
21,3
Mylossoma sp.
10
15-16cm
15,6
Leporinus sp
10
24-27cm
25,3
Cianoscio sp.
10
23-27cm
24,7
Prochilodus sp.
5
29-31 cm
30,4
Brycon sp.
5
27-29 cm
27,6
22,9
Os peixes foram adquiridos ainda com vísceras das geleiras (barcos de
pesca). No momento do desembarque no trapiche municipal, onde é feito à inspeção do
pescado, os espécimes foram pesados e mensurados em seu comprimento padrão. As
coletas foram realizadas nos meses de julho a outubro de 2008.
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3.3 - Processamento
Os peixes foram armazenados em saco plásticos e levados ao laboratório
improvisado para pesquisa de parasitas em uma sala na secretaria da agricultura. A
necropsia foi precedida da inspeção da superfície do corpo, e seguiu com a abertura através
de uma incisão longitudinal sobre a linha mediano-ventral, da cloaca até o nível das
nadadeiras peitorais, com exposição da cavidade celomática (Fig. 1A). Foi realizado o
exame macroscópico da cavidade celomatica, dos órgãos internos, e musculatura (Fig. 1B).
Os parasitas encontrados foram fixados em A.F.A (álcool, formol, ácido acético) e
processados no laboratório de parasitologia da Universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA) em Belém seguindo as orientações de Amato et al. (1991).
A
B
FIGURA 1: A E B. DETALHES DE NECROPSIA EM HOPLIAS MALABARICUS
COLETADOS NO MUNICIPIO DE CURRALINHO, ESTADO DO PARÁ,
2008.
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3.4 - Análise dos dados
Os resultados da pesquisa foram analisados estatisticamente conforme a
orientação de Freire (1992) para calcular o coeficiente de prevalência de infecção e
intensidade media parasitária, utilizando as seguintes fórmulas: P=HI/HE e IMP=∑xi/HI
onde:
P = prevalência
HI = nº de hospedeiros infectados
HE = nº de hospedeiros examinados, e
IPM = Intensidade média de parasitismo
∑xi = soma de todos os parasitos em cada hospedeiro
HI = Hospedeiros infectados
4. RESULTADOS E DISCUSSAO
A pesquisa mostrou que dos 80 espécimes de peixes estudados, 32
encontravam-se parasitados por endo-helmintos, obtendo uma prevalência de infecção de
40%, ocorrendo em doze H. malabaricus (traira), dez H. unitaeniatus (jeju) e dez
Cianoscio sp (pescada). Os demais peixes estudados: Mylossoma spp (pacu), Leporinus sp.
(aracu) Brycon sp (matrichã) e Prochilodus sp (curimatã), tiveram resultados negativos ao
parasitismo por endohelmintos na inspeção (Tabela 2). Quanto aos resultados negativos,
segundo a técnica utilizada não foi possível diagnósticar a ocorrência de outros parasitos.
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TABELA 2: PREVALÊNCIA DE INFECÇÃO E INTENSIDADE MÉDIA DE PARASITISMO POR
ENDO-HELMINTOS EM PEIXES CONSUMIDOS NO MUNICÍPIO DE CURRALINHO, ESTADO
DO PARÁ, 2008.
ESPÉCIE DE
PEIXE
H. malabaricus
Nº
HE
30
Nº
HI
12
%
PM
IM
CA
IM
ESTOMAGO
IM
15
6
0,5
78
6,5
0
0
H. unitaeniatus
10
10
12,5
1
0,1
45
4,5
2
0,2
Cianoscio sp.
10
10
12,5
0
0
1339
133,9
0
0
Leporinus sp.
10
0
0
0
0
0
0
0
0
Mylossoma spp
10
0
0
0
0
0
0
0
0
Prochilodus sp.
5
0
0
0
0
0
0
0
0
Brycon sp.
5
0
0
0
0
0
0
0
0
TOTAL
80
32
40
7
0,2
1462
45,7
2
0,06
HE: Hospedeiros examinados; HI: Hospedeiros infectados; IM: Intensidade Média; %: Prevalência de
infecção; PM: parasito em musculatura; CA: parasito em cavidade abdominal (mesentério);
Nos peixes de estudo, com destaque para H. unitaeniatus (jeju), Cianoscio
sp. (pescada) e H. malabaricus (traira) a maior prevalência e intensidade média de
parasitismo foram de helmintos da família Anisakidae encontrados em cavidade abdominal
(Tabela 2).
A presença de parasitos da classe nematódea em H. malabaricus já foi
descrito por diversos autores como Madi e Silva (2005), Carvalho et al. (2006) e Barros et
al. (2007). Estes últimos autores afirmam que H. malabaricus atua como importante
hospedeiro definitivo, intermediário e paratênico de helmintos, com destaque para larvas
de nematódeos que ocorre devido ao seu habito alimentar.
Carvalho et al. (2006) e Weiblen & Brandão (1992) demonstraram que os
parasitos com maior prevalência e mais abundantes em H. malabaricus foram o
Contracaecum, da família Anisakidae. Bush et al. (1997) completam afirmando que o
gênero Contracaecum tem alta capacidade em se dispersar e pelo fato de utilizarem vários
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peixes como hospedeiros intermediários, a alta prevalência e abundância observadas
podem ser resultado do efeito cumulativo via cadeia alimentar.
No Brasil, Rego (1983) encontrou anchovas parasitadas por larvas de
Anisakis sp. e São Clemente (1995) analisou 70 amostras de peixe espada do litoral do Rio
de Janeiro, observando que 20 % das amostras estavam parasitadas por larvas de Anisakis
sp.,70 % por Phocanema sp. e 100,0 % Contracaecum sp.
Barros e Cavalcanti (1998) examinaram 113 espécimes de peixes
provenientes do litoral nordeste do Brasil e encontraram larvas de Anisaquídeos em 47
(41,59 %). Entre os 82 pargos examinados, 46,34 % estavam parasitados e entre os 18
dourados, 9 (50,00 %) estavam parasitados com larvas de anisaquídeos.
Na musculatura de H. malabaricus (traíra) e H. unitaeniatus (jiju),
encontrou-se nematódeos dentro de cistos, espalhados por toda superfície interna do corpo
do peixe, facilmente visível a olho nu. Os cistos tinham aspecto avermelhado (Figura 2),
brilhante, e os parasitos retirados de dentro tinham coloração avermelhada (Figura 3),
medindo aproximadamente 5-7 cm de comprimento (Figura 4). Algumas vezes foram
encontrados nematódeos ainda vivos e outros já em estado de degeneração completa
apresentando apenas os cistos sem parasitos e com material amorfo de coloração
amarronzada (Figura 5). Cada cisto continha um parasito por peixe, e cada peixe dois a três
cistos. Já os nematóides dispersos na cavidade abdominal mediam em media 3-4 cm de
comprimento e tinha coloração esbranquiçada (Figura 6).
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FIGURA 2: H. MALABARICUS: CISTO EM MUSCULATURA (CIRCULO).
FIGURA 3: H. MALABARICUS: LARVA DE NEMATÓDEO EM MUSCULATURA.
CISTO CORTADO PARA EXPOR O PARASITO (SETA)
FIGURA 4: H. UNITAENIATUS: LARVA DE EUSTRONGYLIDES MEDINDO EM
TORNO DE 6 CM.
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FIGURA 5: H. MALABARICUS: NEMATÓDEO PARASITO EM DEGENERAÇÃO
COMPLETA NA MUSCULATURA (CÍRCULO).
FIGURA 6: NEMATÓIDES DISPERSOS NA CAVIDADE ABDOMINAL MEDINDO
EM TORNO DE 3-4 CM DE COMPRIMENTO E APRESENTAVAM
COLORAÇÃO ESBRANQUIÇADA.
Em H. unitaeniatus foram encontrados nematódeos com potencial zoonótico
identificado como sendo do gênero Eustrongylides, um exemplar em musculatura (Figura
7A) e dois em estômago (Figura 7B), e outros pertencentes à família Anisakidae, 45
exemplares em cavidade abdominal. Não foi possível a identificação em nível de gênero e
espécie dos parasitos de musculatura de seis exemplares de H. malabaricus, devido a má
conservação dos mesmos, sendo identificados apenas aqueles encontrados dispersos em
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cavidade abdominal, pertencentes à família Anisakidae, como discutido anteriormente (78
exemplares).
A
B
FIGURA 7: A: MICROSCOPIA ÓPTICA DE LARVA DE EUSTRONGYLIDES; B:
PARASITO ENCISTADO NA PAREDE DO ESTÔMAGO DE H.
UNITAENIATUS
A presença de larvas de Eustrongylides é comum em diversas espécies de
peixes, segundo Nunes (2007), elas podem ser encontradas encistadas no interior da
cavidade abdominal de muitas espécies de peixes de água doce, distribuídos por todo o
mundo. Seu aspecto é repugnante em função do tamanho da larva, cerca de 10 cm de
comprimento e da coloração vermelha. No presente trabalho na espécie H. unitaeniatus,
esse parasita mostrou uma baixa prevalência e intensidade media, entretanto deve ser
levada em consideração que esse parasito possui potencial zoonótico. Da mesma forma
Martins et al. (2005) relataram no Estado do Maranhão a presença de parasitos do gênero
Eustrongylides e Contracaecum em H. unitaeniatus.
Em H. malabaricus são comumente relatados casos de larvas de nematódeos
do gênero Eustrongylides e Contracaecum, considerados de importância zoonótica (MADI
e SILVA, 2005; CARVALHO et al., 2006; BARROS et al., 2007). Porém, no presente
estudo não foi possível a identificação do grupo de parasito infectante ao nível de
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musculatura nesta espécie de peixe estudada, observando-se esses dois grupos de parasitos
em H. unitaeniatus.
De acordo com Syme (1969) a maior parte das enfermidades, as mais
conhecidas do pescado, se apresenta em peixes de água doce e os nematóides são os
parasitos de maior freqüência e de maior importância na inspeção do pescado. Em
contrapartida Luque (2004) afirma que apesar de ser o maior grupo de parasitos de peixes,
os nematóides são considerados de maneira geral, espécies pouco patogênicas. Estudos
como os de Martins et al. (2005), Madi e Silva (2005) e CVE (2005), mostraram a
existência de peixes infectados por parasitos com potencial zoonótico na costa brasileira,
como o dourado, anchova, peixe-espada, jundaí e corvina, onde não há notificação de
casos humanos.
Segundo Luque (2004), quando o homem ingere o peixe cru ou mal-cozido
as larvas migram para o esôfago ou para a região do cárdias provocando granulomas
eosinofílicos. A população Curralinhense não tem o hábito de comer peixe cru. De acordo
com Alonso et al. (1997) a ingestão de carne de peixes bem cozidos, mas contendo larvas
mortas, podem ser danosos à população, causando processos alérgicos. Porém tal fato não
pode ser discutido neste trabalho por não haver uma investigação minuciosa a e esse
respeito no município.
Estudos recentes realizados por Audicana et al. (1997) mostraram a
possibilidade de intoxicação em humanos devido à ingestão de larvas de anisakídeos
mortas na musculatura do peixe. O quadro de sintomas é composto por náuseas, vômito,
distúrbios gastrointestinais, dor epigástrica e abdominal, febre baixa, leucocitose e
eosinofilia, ocorre entre duas horas após a ingestão do pescado contaminado até as duas
primeiras semanas da infecção (YOKOGAWA; YOSHIMURA, 1965; MCKERROW et
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al., 1988; PINEL, 1996; ALONSO et al., 1997; MERCADO et al., 1997). Com a evolução
do quadro pode haver hemorragia gástrica, perda de peso ou obstrução intestinal, sugerindo
tumor (YOKOGAWA; YOSHIMURA, 1965; YOKOGAWA; YOSHIMURA, 1967),
porém a maioria dos casos relatados são agudos, confundindo com quadros de apendicite
(VALDISERRI, 1981; RUSHOVICH, 1983; VERA, 1991).
Além de terem sido encontrados larvas de parasitos encistados em
musculatura e dispersos na cavidade abdominal em H. malabaricus e H. unitaeniatus,
também foram encontradas larvas de parasitos encistados na serosa do estomago, fígado e
bexiga natatória, o que conferem certa repugnância por parte dos consumidores destes
peixes (Figura 8).
FIGURA 8: LOCALIZAÇÃO DAS LARVAS DE NEMATÓDEOS COLETADOS DE
PEIXES COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE CURRALINHO,
ESTADO DO PARÁ, 2008.
Segundo Nunes (2007) larvas se desenvolvem no hospedeiro intermediário e
o ciclo pode completar quando um peixe se alimenta desse hospedeiro infestado, onde o
nematóide passa a fase adulta. Se o peixe atua como hospedeiro paratênico, a larva penetra
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através da parede intestinal para invadir as vísceras e a musculatura local, onde consegue
se encistar.
Neste estudo, no local de parasitismo, normalmente estava presente um
processo inflamatório, visto principalmente em estômago, musculatura e fígado. Porém,
ressaltamos que mesmo com a presença de parasitos em órgãos vitais a condição dos
hospedeiros não demonstrou aparentemente alterações graves, o que também foi
constatado por Eiras e Rego (1989). Veiga (2005) afirma que é comum em estudos sobre
infecções por endoparasitos a observação de várias alterações nos órgãos e tecidos dos
hospedeiros, pois geralmente, os tecidos reagem encapsulando os parasitos por hiperplasia
celular, resultando em nódulos, que podem ser macroscópicos. Weiblen e Brandão (1992)
completam dizendo que na natureza os processos patológicos são menos evidenciados do
que em animais criados em condições intensivas.
Os nematóides encontrados dispersos na cavidade abdominal de Cianoscio
sp. foram identificados como sendo da família Anisakidae, parasitos zoonóticos, que
apresentavam-se encistados em sua fase larval, distribuídos por todo o mesentério dos
peixes formando colônias no interior de cistos (Figura 9).
FIGURA 9: MICROSCOPIA ÓPTICA DE LARVA DE NEMATÓIDE DA FAMÍLIA
ANISAKIDAE ENCONTRADOS DISPERSOS NA CAVIDADE ABDOMINAL DE
CIANOSCIO SP, 2008.
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De acordo com Konoff et al. (2007), nematóides Anisakidae com destaque
para as espécies Anisakis simplex e Pseudoterranova decipiens, são de grande importância
em saúde pública por causarem a anisaquíase ou anisaquiose em humanos, após ingestão
acidental de pescado contendo a larva L3 infectante.
De acordo com os autores, Mckerrow et al. (1988); Sakanari (1988), a
doença provocada por nematóides do gênero Anisakis ocorre com menor freqüência em
relação à provocada pelo gênero Pseudoterranova, e é mais grave, invasiva e geralmente a
larva se localiza na mucosa intestinal do homem. As larvas do gênero Pseudoterranova,
antigo Phocanema (LITTLE; MACPHAIL, 1972; KATES et al., 1973), podem invadir a
mucosa gástrica (PINEL, 1996; ALONSO et al., 1997), porém, com maior freqüência, não
conseguem se fixar e são eliminadas junto ao vômito, através da tosse, pelas fezes ou são
colhidos da garganta (LITTLE; MOST, 1973; LICHTENFELS; BRANCATO, 1976). É
significativa a observação de que a infecção humana por larvas de Anisakis sp. são
detectadas por biópsia enquanto as larvas do gênero Pseudoterranova são visualizadas
quando eliminadas oralmente ou pelas fezes.
Germano e Germano (1998) consideram estes casos assintomáticos, uma
das razões da ausência de relatos em países onde o hábito de consumir pescado cru ou semi
– cru é adotado por alguns segmentos da população. A localização também pode ser extragastrointestinal, cavidade abdominal (LITTLE; MACPHAIL, 1972), mesentério (SMITH;
WOOTTEN, 1978), pulmão (KOBAYASHI et al., 1985; MATSUOKA, 1994) e músculo
lingual (GERMANO; GERMANO, 1998).
Para Syme (1969) todos os peixes de interesse comercial podem ser
parasitados por espécies diversas e que os parasitos mais importantes são aqueles que se
localizam no músculo do hospedeiro, sendo que do ponto de vista da inspeção do pescado,
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os nematóides são os que se destacam por se apresentarem com maior freqüência. Porém,
na maioria dos casos essa classe se localiza no intestino, fígado e outros órgãos que são
eliminados na evisceração minimizando o risco da contaminação por este grupo de
parasito. O mesmo autor afirma que a possibilidade do pescado doente chegar à mesa do
consumidor ocorra numa porcentagem baixa. Porém, em mercados municipais e feiras
livres a realidade é outra, pois alguns helmintos acabam passando despercebidos ao olho
do inspetor e entrando na casa do consumidor, como foi comprovado no presente estudo.
É também importante ressaltar que em mercados e feiras não existe um
controle da temperatura de conservação deste pescado, o que possibilita a sobrevivência de
diversos parasitos presentes nos peixes. De acordo com Germano & Germano (1998) o
melhor tratamento é a profilaxia, afirmando que as larvas não sobrevivem a temperaturas
maiores que 60° C por 10 minutos e abaixo de – 20° C por 24 horas.
5. COMENTÁRIO FINAL
Embora não tenha sido possível a identificação dos parasitos em nível de
gênero e espécie, este trabalho deve ser levado em consideração diante da elevada
aceitação dessas espécies de peixes no mercado consumidor e do potencial zoonótico dos
parasitos pertencentes a esta família. Sendo de extrema importância em termos de Saúde
Pública o conhecimento dos mesmos, para que as populações sejam orientadas de forma
correta e conseqüentemente diminuir o risco de transmissão ao homem.
Na inspeção do pescado comercializado na região não existe um
procedimento completamente satisfatório para detecção de parasitos de peixes. Portanto, há
um alerta as autoridades responsáveis pela fiscalização dos peixes, principalmente o fresco
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eviscerado em razão da alta incidência de larvas de nematóides da família Anisakidae
encontradas na maioria das amostras frescas analisadas e relatadas neste trabalho.
6. CONCLUSÕES
A análise das amostras de peixes oriundos do mercado municipal de
Curralinho demonstrou uma alta prevalência de parasitismo por endo-helmintos, em H.
malabaricus, H. unitaeniatus e Cianoscio sp. sendo que os parasitos da família Anisakidae
foram os que apresentaram a maior intensidade media de parasitismo e com localização em
cavidade abdominal.
Em H. unitaeniatus foram encontrados larvas de parasitos do gênero
Eustrongylides, helminto com potencial zoonótico, encistados em musculatura, serosa do
estômago e bexiga natatória.
Nas espécies de peixes Mylossoma spp, Leporinus sp., Brycon sp.,
Prochilodus sp., não foram encontrados endo-helmintos.
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