popular catarinense > imbituba > Sexta-FEIRA - 20 - julho - 2012
Maria Aparecida
Pamato Santana
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Revivendo a história Imbitubense
TRABALHO ÁRDUO, COMUNGANDO RELIGIOSIDADE.
Muitos profissionais chegaram a Imbituba e, com muito trabalho, impulsionaram o desenvolvimento desta terra, com profissões, muitas vezes pesadas, perigosas. Porém esses homens
as realizavam com experiência e desprendimento, utilizando
técnicas rudimentares, sem a mínima segurança pessoal. Contavam com a proteção Divina.
Dentre tantos, são exemplos desta magnitude dois profissionais da mesma família:
1-Pedro Antônio Gonçalves, natural de Tubarão-SC, nascido
no KM 63, em 11 de junho de 1911. Aqui chegou com a esposa
Valquíria Franco Pereira Gonçalves (13/04/1912) e o primogênito Asteroide (falecido em Imbituba, aos 53 anos ).
O casal Pedro Antônio e Valquíria
Profissional experiente como “cortador de pedras”, foi admitido pela Cia. Docas, para esta função na construção do cais, ao
lado do amigo tubaronense, Roberto Bussolo, natural de Pedrinhas, pelos anos de 1933.
A família passou a residir numa casinha, tendo como vizinhos,
os senhores Tobias,João Rosa e Antônio Paes, próximos à Capelinha da Praia. Muito católica, dona Valquíria logo se integrou ao
“Apostolado da Oração”, com as Zeladoras Elisa Silva, Francisca
Costa, Adelina G. Pamato, Eugênia Catizano, Almerinda B. de
Bona, Virgínia P. Pamato, Claudina Dias Santana, Ângela Possenti Pereira e tantas mais.
Na casa da Praia, nasceu a menina Astride, em 01/08/1935.
Sua mãe profetizou: “Minha filha nasceu perto do mar e da Casa
de Deus. Quando crescer, vai rezar muito e gostar de banho de
mar”. “Dito e feito”, comentou, Astride. Nasceram outros filhos:
Maria Imar, Maria do Carmo, Maria Geralda (dedicada à igreja
matriz), Luiz Carlos, Maria das Graças e Vera Lúcia.
Seu pai resolveu sair da Cia. Docas e comprar um terreno aos
pés do Morro do Mirim, com grande jazida de barro, para montar
uma olaria. Na localidade, havia umas treze casas. Sua mãe não
queria se mudar para lá, porque era só mato, cobras e outros
bichos. Mas seu pai instalou a olaria onde se acha a Casa de
Repouso Imaculada Conceição. Mais tarde, foram montadas
outras duas; a do Jovino Daniel e a última, pela Companhia Docas, próxima à estrada geral. Logo no início, resolveu contratar
dois empregados, um deles, o Vidoca. Encilhavam os burros e
traziam o barro até a olaria. Disse Astride: “Todos nós, ainda
crianças, trabalhávamos, cavando buracos para tirar barro; um
tipo próprio para fazer tijolos, encontrado mais na superfície; outro, “taubatinga”, encontrado bem mais fundo, saía em lascas,
parecendo fatias de queijo; e servia para fazer telhas do tipo calha, muito usadas na época. Água para a massa tinha de sobra.
Nosso terreno ia até onde fica, hoje, a “Pastoral da Saúde”. Ajudávamos os empregados a preparar a massa e moldar os tijolos
e as telhas; tudo manualmente. Deixávamos para secar e, só
depois, eram colocados no forno a lenha, para queimar. Quando
a chapa ficava avermelhada, estavam prontos. Ficávamos todos
sujos de barro. Era um trabalho muito duro. Um dia, o Lires Senna foi comprar telhas e tijolos e disse para nosso pai: “Pedro vais
matar teus filhos nesse trabalho”. E ele respondeu: “não andam
por aí; sei onde estão”. Aquele trabalho nos dava alegria.Éramos
muito unidos e felizes”.
As fornadas eram vendidas para a Companhia, para mora-
dores, Imaruí, Garopaba e para a Cerâmica, quando um dia, Dr.
Rimsa me presenteou com uma bicicleta novinha”.
Contou-me, ainda, que um dia seu pai fez quatro fornadas
de tijolos e não aparecia comprador. Sua mãe lhe disse que estavam quase sem dinheiro, e mandou-a comprar carne para o
almoço e um maço de cigarros Liberty, para o pai, na venda do
Sr. Agenor, pai da Maria Alba Andrade. No caminho, encontrou
dois gringos de cabelos ruivos vendendo quadros de “Santos”.
Perguntaram se ela queria comprar um. Parou,pensou e perguntou: “é muito caro? Esse dinheiro dá prá comprar um?” E não fez
as compras para a mãe.Chegou em casa, foi direto pendurar o
quadro na sala, com a certeza de que Deus ajudaria seu pai, enviando um comprador. Ajoelhou-se e pediu: “Jesus, misericórdia!
Ajuda meu pai a vender os tijolos; ele está sem dinheiro”. Sua
mãe perguntou por que fez aquilo, e aconselhou-a a se esconder no morro. “O que faço agora de almoço”? Mesmo sabendo
que o pai não gostava de comer carne de frango, matou um, preparou-o e deu para a mãe, que fez outro prato para o marido.
Almoçavam quando ouviram a buzina de um carro. O pai foi
atender. “Qual não foi a minha surpresa ao voltar, dizendo que
era o amigo Presalino Santana que veio comprar duas fornadas
de tijolos, para construir a sua padaria. Pagaria a primeira parcela no ato e a outra em trinta dias. “Foi um milagre”!
“Meus pais sempre foram muito respeitados e religiosos,
sempre colaborando com a igreja e com os que precisavam
de ajuda. Ele era austero, andava sempre armado, mas nunca enfrentou ninguém. Só nos deixava sair sozinhos para ir à
escola ou à catequese. Namorar, só com mais idade. Quando
íamos visitar a família em Tubarão, Ademar Guisi queria namorar comigo, mas meu pai não deixou, porque éramos muito jovens”. Seu Pedro foi sócio-fundador do Vila Nova Atlético
Clube e sócio do IAC.
Astride disse que foi batizada na Capelinha, como seus irmãos. Seus padrinhos foram Roberto Bussolo e esposa. Fez a
Primeira Comunhão com o Padre Rossi, que costumava tomar
café, à tarde, com os bolinhos que sua mãe fazia. Recorda da
sua catequista, Dona Elisa Silva. Lembrou de que seu pai fazia
“pedras de molaça”, que as cortava, arredondadas, com furo no
meio, como rodas, usadas nas “tafonas” dos engenhos, para
moer milho. Quando encomendadas pelos donos de engenho,
do sul, despachava pelo trem de carga.
Na capelinha, Astride casou com Antônio Gonçalves, em
18 de julho de 1953, com cerimônia realizada pelo Padre
Paulo Hobold.
2- Antônio Gonçalves, natural de Tubarão, nasceu em
22/04/1928. Era filho de Manoel Antônio Gonçalves, irmão do
Sr. Pedro Antônio Gonçalves, pai da Astride.
Veio do KM36, a convite do Diretor- Gerente da Docas, Dr.
Octávio, para trabalhar na pedreira. Por quatro anos, trabalhou
na fazenda da família Catão, em Petrópolis-RJ. Segundo a esposa, Antônio noivou cinco vezes. “Numa das vezes, meu pai,
minha mãe e eu fomos acompanhá-lo para um noivado. Eu era
uma adolescente. Na viagem, ele me disse que queria era casar comigo e falou baixinho:“ Vou deixar tu crescer”. E assim foi
. Tínhamos sete anos de diferença de idade. No dia do nosso
casamento chovia muito; não tenho fotos. O bolo do meu casamento, muito lindo, com coluna, foi tua mãe que fez, a Dona
Adelina”, disse-me.
“Fomos morar em Laguna. Antônio era cortador de pedras
também, e foi trabalhar na construção do molhe de Laguna.
Era Prefeito, Dr. P aulo Carneiro. Acho que os responsáveis pela
obra, João Roslindro e Azevedo eram engenheiros. Eu, com dezoito anos, cozinhava para dezoito operários. As pedras eram
tiradas do lado leste do Morro que separa o centro da cidade do
Bairro Magalhães, chamado antes, de Lagoa Preta. Os responsáveis por colocar as espoletas de explosivos subiam o morro
por cordas. Pulavam para o outro lado do morro quando o estopim era aceso. É um trabalho muito perigoso”.
Ao voltarem para cá, o Sr. Antônio instalou uma Empresa de
Pavimentação
(paralelepípedos e lajotas), encerrando-a ao
se aposentar. Muitas ruas e avenidas foram pavimentadas com
esses produtos.
O casal teve nove filhos; um faleceu ainda pequeno. Os
oito são: Rita de Cássia, Rogério, Romilda, Rosimeri, Renato, Pedro Paulo, Maria Aparecida e Antônio Gonçalves Filho.
Todos bem encaminhados, pela refinada educação, fundamentada na fé cristã.
O casal Antônio e Astride, com os filhos, comemorando as
“Bodas de Ouro” no Santuário de Santa Ana, em Vila Nova
“No que hoje é o Bairro “Vila Santo Antônio”, junto com os
moradores, construimos uma capelinha. “Meu primo, Jairo Fontanella, que mora no Paraná e adora vir a Imbituba, me disse:
- Tide, eu vou doar os paramentos para o altar-mor (cálice, patena, etc.) e vou sugerir o nome do Padroeiro, “Santo Antônio”. Foi
aceito por todos; e hoje, também nomeia o bairro. No lugar onde
meu pai instalou a olaria, esse espaço público foi denominado
Rua Pedro Antônio Gonçalves”.
Dona Astride e toda a sua família são exemplos de respeito ao
próximo e religiosidade. Há trinta e cinco anos, dedica-se a serviços de cunho humanitário e religioso. Foi, com o esposo, por
muitas vezes, festeiros em Imbituba e Vila Nova. Colaboraram
com a construção do nosso Hospital. Foi Vice – Comarcal na Matriz; duas vezes Presidente Paroquial, Ministra da Eucaristia, por
onze anos, com as senhoras, Laura Barreto Medeiros e Dadá
Ruiz. As primeiras mulheres Ministras na Paróquia!
Criou, com as senhoras Dorotéia, Francisca, Lica, Lídia e Lenir,
sempre recebendo o apoio de outra amigas, do esposo e dos
filhos, “A Promoção Humana” ( atendimento às famílias carentes do Distrito de Vila Nova). Chegaram a distribuir num NATAL,
duzentas e quarenta cestas básicas completas, incluindo brinquedos para as crianças.
O senhor Antônio Gonçalves, homem de muitas e importantes
amizades, por problemas de saúde agravados, faleceu em 19
de janeiro de 2012.
A senhora Astride, sempre sorridente, recebe o amor incondicional dos filhos, noras, genros, netos, demais familiares e de
inúmeros amigos que a visitam.
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