LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro Gonçalves Crespo, Antônio Dados biográficos Antônio Gonçalves Crespo nasceu em 11 de março de 1846, no Rio de Janeiro, filho do negociante Antônio José Gonçalves Crespo, português radicado no Brasil, e da mestiça Francisca Rosa. O pai era dono de uma roça nas imediações do Rio. Seguiu para Portugal aos catorze anos, lá permanecendo durante toda a via. Depois de formado em Direito pela Universidade de Coimbra, teve acesso, graças à sua personalidade insinuante, ao meio cultural e social português (como poeta declamador e deputado). Casou-se com a escritora Maria Amália Vaz, fato que colaborou para o exercício de tais tarefas e para tal acesso. Exerceu o cargo de redator do Diário das Câmaras e do Jornal do Commercio, de Lisboa. Talvez o êxito alcançado por Gonçalves Crespo em vida advenha mais da força da sua personalidade do que do seu talento poético; por outro lado, a morte o apanhou em plena popularidade, no ano seguinte ao da publicação de sua segunda e última obra, Noturnos (Lisboa, 1882). Os historiadores disputam-lhe a nacionalidade. Na literatura brasileira, é focalizado sobretudo pelo fato de sua obra Miniaturas (Lisboa, 1870) incluir-se entre nossas primeiras e mais influentes manifestações parnasianas. Nela, certo tom narrativo ampara a emoção poética, objetivando-a através de variados pormenores descritivos, como em “A Bordo”. Enquadra-se, por isso, na “poesia realista”, pela sua preocupação em retratar os aspectos da vida doméstica e cotidiana. Sua poesia também se encontra marcada pela presença feminina, especialmente a enternecida pela maternidade como nos poemas “Alguém” e “Mater Dolorosa”. Em Noturnos, Gonçalves Crespo continua a mesma linha do livro de estreia, alcançando talvez um rebuscamento mais exótico com a mudança de espaço físico. Teve seu nome impugnado a Academia Brasileira de Letras pelo fato de, apesar de brasileiro, ter se naturalizado português. Tema recorrente na poética de Gonçalves Crespo é o “paraíso perdido”, representado pelo Brasil. As recordações de sua infância nos trópicos marcam sua poesia e, talvez por isso, ele seja, como destaca Damaceno, “um dos poucos a escrever considerável número de poemas com assuntos negros, nos quais se sente a efetiva fusão de sentimentos com a alma negra e não apenas o aproveitamento de um tema”. (DAMACENO: 1988, P.2) A respeito do livro Miniaturas, Afrânio Peixoto faz o elogio que se segue: “Ainda hoje não há na poética lusitana outro livro ‘parnasiano’ como esse: é preciso recorrer a Noturnos do mesmo Crespo e passar o Atlântico para encontrar em Luiz Guimarães, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Alberto Oliveira... parnasianos à altura de Gonçalves Crespo” (Apud Crespo: 1942) LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro R. Magalhães Júnior, em seu Ao Redor de Machado de Assis, reproduz na íntegra uma carta do autor dirigida ao escritor Machado de Assis, na qual revela a sua condição afro-descendente ao fazer um instigante questionamento: “Coimbra, 6 de junho de 1871, Couraça de Lisboa, nº 93. Exmo. Senhor Machado de Assis. Enviei há 15 dias a V. Excia. meu primeiro livro. Não lhe escrevi então, o que agora faço. O livro teve aqui bom acolhimento, e foi saudado espontaneamente, o que me admira em extremo, porque eu não sou português e não andava envolvido nestas tricas de compadrios, que por aqui dizem as más línguas – abundam. Foram quatro os escritores meus patrícios a quem tive a honra de enviar o meu livro: V. Excia., P. Guimarães, Alencar e Macedo. Fui aconselhado pelo autor do Colombo, que desde a minha publicação me distinguiu com a sua amizade que eu fiz os tais oferecimentos. A V. Excia, já eu conhecia de nome há bastante tempo. De nome e por uma secreta simpatia que para si me levou quando me disseram que era... de cor como eu. Será? Se o não é nem por isso me deixa de ser agradável travar conhecimento com V. Excia., e assinar-me aqui com toda a efusão de uma sincera simpatia e afetuoso respeito. De V. Excia. patrício e humilde respeitador. G. Crespo”. (JUNIOR,1958, 109-110) Machado de Assis arquivou zelosamente esta carta, o que, para Magalhães Junior, sugere que o questionamento feito por Gonçalves Crespo não envergonhava, nem ofendia a Machado. Gonçalves Crespo faleceu em decorrência de uma doença pulmonar, a 11 de agosto de 1883. Referências Bibliográficas CRESPO, Gonçalves. Obras Completas. Prefácio de Afrânio Peixoto. Lisboa: Edições Livros de Portugal Ltda, 1942. DAMACENO, Benedita Gouveia. Poesia negra no modernismo brasileiro. Campinas-SP: Fontes Editores, 1988.p.41-2 JUNIOR, R. Magalhães. Ao redor de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1958.