Número 151 Dezembro 2015 O Senhor está próximo SumáriO Flashes de Fátima Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XVII nº 151 - Dezembro 2015 Escrevem os leitores ���������������������������������������� 4 Duas visualizações, duas eternidades... uma só Alegria! (Editorial). . . . . . . . . . . . . . . . 5 A voz dos Papas – Abraão intercede por Sodoma Um sonho feito realidade ...................... 34 Você sabia que... ........................ 6 ...................... 37 Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Ir. Guy Gabriel de Ridder, EP; Ir. Juliane Vasconcelos A. Campos, EP; Diác. Luis Alberto Blanco Cortés, EP; Ir. Mariana Morazzani Arráiz, EP; Severiano Antonio de Oliveira Editor: Associação dos Custódios de Maria Av. António Augusto de Aguiar, 30 - 6º Dto. 1050-016 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 Comentário ao Evangelho – “Alegrai-vos”, mas... como? ........................ 8 A importância do exemplo ...................... Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho Apóstolo da bondade de Jesus www.arautos.pt / www.arautos.org E-mail: [email protected] ...................... 16 22 A palavra dos Pastores – Um desequilíbrio que pode levar a terríveis catástrofes ...................... 38 Aconteceu na Igreja e no mundo ...................... 40 História para crianças... Queres me entregar teu coração? ...................... 46 Assinatura anual: 24 euros Impressão e acabamento: Multiponto, S.A. Rua de D. João IV 691/700 4000-299 - Porto Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. Membro da Arautos no mundo ...................... Tiragem: 39.000 exemplares 26 Os Anjos, a estrela e a voz interior ...................... Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Os Santos de cada dia 32 ...................... 48 Como um toque de sino... ...................... 50 E screvem Do Arcebispo de Olinda e Recife Regularmente, temos recebido a revista mensal dos Arautos do Evangelho, que repassamos à Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Comunicação, a fim de enriquecer a sala de leitura e imprensa da PASCOM e servir de subsídio para nossas postagens. Agradeço a cordial atenção de incluir-nos entre os destinatários da referida publicação, pela qual mantemo-nos informados acerca dos trabalhos dos Arautos do Evangelho e, em sinal de gratidão, invoco sobre seus membros e benfeitores o olhar misericordioso do Senhor, que os abençoe e guarde de todo mal. Dom Antônio Fernando Saburido, OSB, Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife – Brasil Apreço por um homem fiel A minha saudação fraterna no amor do Pai, que nos une na Igreja de seu Filho Jesus. Foi com imensa alegria e gratidão ao Senhor que recebi a notícia de que mais alguns jovens foram ordenados para o anúncio do Reino de Deus, tão carente de anunciadores de verdade! Se eles pedem para agradecer o que fiz e rezei por todos e cada um, eu agradeço do âmago do meu coração as suas orações, em especial todas as pessoas que me estão unidas, quer pelos laços da família natural, quer por todos os que o Pai me foi confiando ao longo de 63 anos de vida consagrada… Comi- os leitores go, louvem e agradeçam ao Senhor o dom do chamado, a fidelidade ao mesmo, com inúmeras graças, mesmo em meio a grandes turbulências. Ele é sempre fiel! Mistério insondável do seu amor pelos homens! Não tenho palavras para exprimir o carinho e apreço que sinto por um homem que foi fiel: o vosso Fundador. Nascestes para uma missão… “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”, e vai mesmo triunfar!… Pedirei graças pelos novos sacerdotes, e não só… fareis o mesmo por mim! Fidelidade Àquele que nos escolheu e predestinou! Parabéns e muitas felicidades, que só podem brotar de corações libertos e que se sentem amados por Deus. Ir. Palmira de Jesus Ribeiro, DPSF, Congregação da Divina Providência e Sagrada Família Póvoa de Varzim – Portugal Do Canadá: leitura do princípio ao fim Gosto realmente de ler a revista Arautos do Evangelho. Ela traz muitas informações sobre grande variedade de assuntos, tais como os fundamentos de nossa Fé, os Evangelhos, e belas fotos tiradas de igrejas em todo o mundo. Tenho encanto por ela e a leio do princípio ao fim. Paz R. Ongsu Regina – Canadá Ajuda a sermos firmes e ufanos de nossa Fé Recebi, mais uma vez e com muita alegria, a Revista mensal que vocês têm a amabilidade de me enviar todos os meses. Que posso dizer ou acrescentar sobre a Revista que já não tenha sido dito por leitores do mundo inteiro? Na verda- 4 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 de, é um documento profundo e variado que instrui e nos ajuda a nós, os católicos destes tempos tão difíceis, sobretudo no que diz respeito à nossa constante necessidade de sermos firmes e ufanos de nossa Fé. Sabendo que a Santíssima Virgem tem cada um de vocês sempre muito próximo d’Ela, peço humildemente a Nossa Senhora de Fátima que continue cobrindo-os com seu manto, na excelente missão que desenvolvem. Guillermo Lazcano Bezanilla Santiago – Chile Cada capa é uma obra de arte em papel Quando eu era criança, meu pai me dava uma caixa de chocolate e eu saía correndo, transbordando de alegrias mil. Hoje estou sentindo esta mesma sensação boa porque recebi a revista dos Arautos do Evangelho! Cada capa é uma obra de arte em papel especial, trabalho primoroso e lindo. Leio todas e as coleciono. Gosto muito do trabalho de vocês e rezo diariamente para assistir, um dia, o canal da TV Arautos em sinal aberto para todo o Brasil. Mário Ângelo de Freitas Pedra Branca – Brasil Temas muito enriquecedores Ao enviar-me a Revista vocês estão me evangelizando e isto me enche de felicidade. Todos os temas são muito enriquecedores, mas em especial os Evangelhos. Felicito todas as pessoas que tornam possível a produção da Revista, por seu lado espiritual. Espero sempre com emoção, a cada mês, a chegada da nova edição. Mercedes Cedeño Alarcón Guayaquil – Equador Editorial Duas visualizações, duas eternidades... uma só Alegria! É 151 Número 2015 ro Dezemb or está O Senh o próxim Sagrada Família Convento da Sagrada Família, Ciudad Rodrigo (Espanha) Foto: Francisco Lecaros noite, noite fria, noite de inverno. Na cidade agora deserta, as poucas réstias de luz provêm do aconchegado interior das casas, filtradas por portas e janelas tão bem fechadas quanto possível à pobreza do lugar. E pelas ruas vazias vagueia um casal cansado, à busca de hospedagem... Aparentemente, nada há de mais banal que esta cena. Contudo, a jovem grávida está acompanhada de Anjos belíssimos e invisíveis, enquanto os Céus se debruçam embevecidos sobre Ela: é a Rainha do universo, “vestida de sol” e “coroada de doze estrelas” (Ap 12, 1), carregando no seu seio puríssimo — por obra de um milagre, misterioso e altíssimo — o Sol salvador que, instantes depois, inundaria a Terra e a História com sua luz redentora. Esta maravilha, entretanto, os olhos humanos não a alcançam, porquanto os materialistas daquele tempo recusaram hospedagem a esta luz: para ela “não havia lugar” (Lc 2, 7) porque seus corações não eram dignos dela. E, nesta noite, Belém prenunciava Jerusalém, que não soube reconhecer o tempo em que fora visitada (cf. Lc 19, 44), nem quem podia trazer-lhe a paz (cf. Lc 19, 42), e acabou por crucificar o Senhor da glória a ela enviado (cf. I Cor 2, 8). Assim, há os que, olhando para o Rei dos reis feito Menino, ofuscados pela aparência humilde e despojada, veem n’Ele apenas o filho do carpinteiro de Nazaré. Contudo, há também quem, olhando para o pobre, mas majestoso, filho de José, extasiado pela sua inocência e sabedoria, reconhece n’Ele o Senhor dos senhores. O mesmo Menino, vestindo as mesmas roupas, apresentando o mesmo porte, utilizando a mesma linguagem, suscita entretanto a seu respeito duas visualizações diversas, antagônicas e — quantas vezes! — em luta. Na raiz mais profunda dessa adversidade está o embate entre dois campos incompatíveis: a cidade do mundo e a cidade de Deus, como tão bem descreve Santo Agostinho. E é em função dessa oposição que o divino Bebê de Belém, Juiz do universo, colocará uns à sua direita e outros à esquerda (cf. Mt 25, 33). Assim, duas visualizações, duas mentalidades, dois mundos, duas eternidades se confrontam continuamente, quase sempre de modo velado, e Deus permite que as almas pertencentes a ambos os lados cresçam juntas (cf. Mt 13, 24-30), pois não há glória sem vitória, e não há vitória sem luta. Pelos olhos da fé, vemos nas ruas de Belém caminhar uma Virgem, suave e recolhida. N’Ela, esperando para nascer, o Criador e Redentor — que tudo sabe e tudo pode — tem em suas mãos nossa felicidade e nossa paz. Sua chegada traz para nós a alegria do Natal, como mero prenúncio do gáudio da salvação eterna e definitiva. Ele nos convida constantemente a conquistar a glória celeste, antegozada ainda nesta Terra, pela alegria sincera da alma, por quem caminha seguindo seus sagrados passos. Alegria que entrava no mundo, no rastro de dois humildes viajantes que, rejeitados, cruzavam uma pequenina cidade, em fria noite de inverno. ² Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 5 A voz dos Papas Abraão intercede por Sodoma Sermos salvos não quer dizer simplesmente não sermos punidos, mas sermos libertados do mal que habita em nós. Não é o castigo que deve ser eliminado, mas o pecado. O primeiro texto sobre o qual queremos meditar encontra-se no capítulo 18 do Livro do Gênesis; narra-se que a malvadez dos habitantes de Sodoma e Gomorra tinha chegado ao ápice, a ponto de tornar necessária uma intervenção de Deus para cumprir um gesto de justiça e para deter o mal, destruindo aquelas cidades. Se a cidade é culpada, justo é infligir o castigo É aqui que se insere Abraão, com a sua prece de intercessão. Deus decide revelar-lhe aquilo que está para acontecer, e faz-lhe conhecer a gravidade do mal e as suas terríveis consequências, porque Abraão é o seu eleito, escolhido para se tornar um grande povo e fazer chegar a bênção divina ao mundo inteiro. A sua missão é de salvação, e deve responder ao pecado que invadiu a realidade do homem; através dele, o Senhor quer reconduzir a humanidade à fé, à obediência e à justiça. E agora, este amigo de Deus abre-se à realidade e à necessidade do mundo, ora por aqueles que estão para ser punidos e pede que sejam salvos. Abraão delineia imediatamente o problema em toda a sua gravidade, e diz ao Senhor: “E vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? Talvez haja cinquenta justos na cidade: matá-los-ás a todos? Não perdoarás a cidade, por causa dos cinquenta justos que nela podem existir? Não, não serás capaz de proceder assim, e matar o justo com o culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de Ti semelhante pensamento! O Juiz de toda a Terra não fará justiça?” (18, 23-25). Com estas palavras, com grande coragem, Abraão põe diante de Deus a necessidade de evitar uma justiça sumária: se a cidade é culpada, é justo condenar o seu crime e infligir o castigo, mas — afirma o grande patriarca — seria injusto punir de modo indiscriminado todos os seus habitantes. Se na cidade existem alguns inocentes, eles não podem ser tratados como os culpados. Deus, que é um Juiz justo, não pode agir deste modo, diz justamente Abraão a Deus. Abraão bate à porta do coração de Deus Mas, se lermos mais atentamente o texto, dar-nos-emos conta de que o pedido de Abraão é ainda mais sério e mais profundo, porque não se limita a pedir a salvação para os inocentes. Abraão pede o perdão para toda a cidade, e fá-lo apelando à justiça de Deus; com efeito, diz ao Senhor: “Não perdoarás a cidade, por 6 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 causa dos cinquenta justos que nela podem existir?” (18, 24b). Agindo deste modo, põe em jogo uma nova ideia de justiça: não aquela que se limita a punir os culpados, como fazem os homens, mas uma justiça diferente, divina, que busca o bem e o cria através do perdão que transforma o pecador, o converte e o salva. Portanto, com a sua oração, Abraão não invoca uma justiça meramente retributiva, mas uma intervenção de salvação que, tendo em consideração os inocentes, liberte da culpa inclusive os ímpios, perdoando-os. O pensamento de Abraão, que parece quase paradoxal, poder-se-ia resumir assim: obviamente, não se pode tratar os inocentes como os culpados, pois isto seria injusto; ao contrário, é necessário tratar os culpados como os inocentes, pondo em ação uma justiça “superior”, oferecendo-lhes uma possibilidade de salvação, porque se os malfeitores aceitam o perdão de Deus e confessam a própria culpa, deixando-se salvar, já não continuarão a cometer o mal, mas tornar-se-ão também eles justos, e já sem a necessidade de ser punidos. Este é o pedido de justiça que Abraão expressa na sua intercessão, um pedido que se baseia na certeza de que o Senhor é misericordioso. Abraão não pede a Deus algo poucos inocentes, a partir dos quais começar para transformar o mal em bem. Pois é precisamente este o caminho da salvação, que também Abraão pedia: ser salvos não quer dizer simplesmente evitar a punição, mas ser libertados do mal que habita em nós. contrário à sua essência, bate à porta do coração de Deus, conhecendo a sua verdadeira vontade. Sem dúvida, Sodoma é uma grande cidade, e cinquenta justos parecem poucos, mas não são porventura a justiça de Deus e o seu perdão a manifestação da força do bem, embora ele pareça menor e mais frágil que o mal? A destruição de Sodoma devia impedir o mal presente na cidade, mas Abraão sabe que Deus tem outros modos e outros meios para deter a propagação do mal. É o perdão que interrompe a espiral do pecado e, no seu diálogo com Deus, Abraão faz apelo precisamente a isto. E quando o Senhor aceita perdoar a cidade, se nela encontrar cinquenta justos, a sua oração de intercessão começa a descer rumo aos abismos da misericórdia divina. [...] Ora, é precisamente este desejo divino que, na oração, se torna desejo do homem e se exprime através das palavras da intercessão. Com a sua súplica, Abraão empresta a própria voz, mas também o seu coração, à vontade divina: o desejo de Deus é misericórdia, amor e vontade de salvação, e este desejo de Deus encontrou em Abraão e na sua oração a possibilidade de se manifestar de modo concreto no interior da história dos homens, para estar presente onde há necessidade da graça. Com a voz da sua oração, Abraão dá voz ao desejo de Deus, que não é o de destruir, mas de salvar Sodoma, de dar vida ao pecador convertido. Mas não havia sequer dez justos... É isto que o Senhor quer, e o seu diálogo com Abraão é uma manifestação prolongada e inequívoca do seu amor misericordioso. A necessi- A rejeição de Deus traz em si o castigo L’Osservatore Romano Deus é misericórdia, amor e vontade de salvação Em Sodoma e Gomorra não havia sequer dez justos Bento XVI durante a Audiência Geral de 18/5/2011 dade de encontrar homens justos no interior da cidade torna-se cada vez menos exigente e, no final, serão suficientes dez para salvar a totalidade da população. No texto não se diz por que motivo Abraão se limita a dez. Talvez seja um número que indica um núcleo comunitário mínimo (ainda hoje, dez pessoas são o quorum necessário para a oração pública judaica). De qualquer modo, trata-se de um número reduzido, uma pequena parte de bem pela qual começar para salvar um grande mal. Mas em Sodoma e Gomorra, não havia sequer dez justos, e assim as cidades foram destruídas. Uma destruição testemunhada de modo paradoxal como necessária, precisamente pela prece de intercessão de Abraão. Pois foi exatamente aquela oração que revelou a vontade salvífica de Deus: o Senhor estava disposto a perdoar, desejava fazê-lo, mas as cidades estavam fechadas num mal totalizador e paralisador, sem sequer Não é o castigo que deve ser eliminado, mas o pecado, aquela rejeição de Deus e do amor que já traz em si o castigo. O profeta Jeremias dirá ao povo rebelde: “Valeu-te este castigo a tua malícia, e as tuas infidelidades atraíram sobre ti a punição. Sabe, portanto, e vê como te foi funesto e amargo abandonar o Senhor teu Deus” (2, 19). É desta tristeza e amargura que o Senhor quer salvar o homem, libertando-o do pecado. Mas é necessária, portanto, uma transformação a partir de dentro, uma grande ocasião de bem, um início a partir do qual começar para mudar o mal em bem, o ódio em amor e a vingança em perdão. Por isso, os justos devem estar dentro da cidade, e Abraão repete continuamente: “Talvez ali se encontrem...”. “Ali”: é no interior da realidade doentia que deve existir aquele germe de bem que pode purificar e restituir a vida. É uma palavra dirigida também a nós: que nas nossas cidades se encontre o germe do bem; façamos de tudo para que haja não só dez justos, para fazer realmente viver e sobreviver as nossas cidades e para nos salvar desta amargura interior, que é a ausência de Deus. E na realidade doentia de Sodoma e Gomorra não se encontrava aquele germe de bem. ² Bento XVI. Excertos da Audiência geral de 18/5/2011 Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A versão original dos documentos reproduzidos nesta seção pode ser consultada em www.vatican.va Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 7 Francisco Lecaros São João Batista pregando - Biblioteca do Mosteiro de Yuso, San Millán de la Cogolla (Espanha) a Evangelho A Naquele tempo, 10 as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” 11 João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” 12 Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?” 13 João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. 14 Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” 8 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. 16 Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá Aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17 Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha Ele a queimará no fogo que não se apaga”. 18 E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa-nova (Lc 3, 10-18). 15 Comentário ao Evangelho – III Domingo do Advento (Domingo Gaudete) “Alegrai-vos”, mas... como? No dia em que a Liturgia católica oferece ao fiel uma pausa jubilosa em meio à penitência do período de Advento, o Precursor nos indica o “que devemos fazer” para encontrar a verdadeira alegria, tão ansiada por toda criatura. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – Um remanso de alegria em meio à penitência A Liturgia da Igreja reúne sucessivamente, ao longo do ano, os mais variados sentimentos: a tristeza na Semana Santa; o gáudio transbordante, porém cheio de temperança, na Ressurreição; a esperança durante o período do Tempo Comum; o júbilo festivo nas grandes solenidades. Em certo momento ainda, nos deparamos com uma manifestação — quiçá uma das mais acentuadas dentro da Liturgia — de conforto e felicidade em meio à penitência. Essa é a nota característica de dois domingos únicos no ano: o 4º Domingo da Quaresma, que leva o título de Lætare, e o 3º Domingo do Advento, designado pelo nome de Gaudete. Neste último, sobre o qual refletiremos, a Igreja abre um parêntese na ascese e na preocupação constante de uma conversão — atitudes próprias à época do Advento e preparativas para a vinda de Nosso Senhor — para tratar da alegria, infundindo-nos novo ânimo. “Alegrai-vos sempre no Senhor!” Gaudete, primeira palavra da Antífona da entrada da Missa do dia, significa alegrai-vos, e é extraída da Epístola de São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito: alegrai-vos. [...] O Senhor está próximo!” (4, 4-5). Com efeito, a esperança no nascimento de Jesus deve ser acompanhada de sinceros desejos de mudança de vida. Estas moções interiores precisam, no entanto, de um estímulo, e é justamente o que recebemos neste 3º Domingo do Advento: as flores voltam a ornar os altares, os instrumentos tornam a tocar durante a Celebração Eucarística e os paramentos se tingem de suave róseo para simbolizar a exultação e a ideia de um descanso. Toda a Liturgia, inclusive as leituras e orações, está centrada no gáudio, porque nossa Santa Religião não caminha para a tristeza nem nos conduz para uma vida de eternos sofrimentos, mas, pelo contrário, nos abre a perspectiva de um futuro feito de júbilo e consolação. Só em vista dessa felicidade tem sentido estarmos dispostos a sofrer, conforme nos explica o mesmo Apóstolo: se não fosse a Ressurreição de Nosso Senhor, vã seria nossa fé (cf. I Cor 15, 14). A Ressurreição de Cristo é a promessa da nossa própria ressurreição e, portanto, do Dezembro 2015 · Flashes Só em vista dessa felicidade tem sentido estarmos dispostos a sofrer de Fátima 9 nosso gozo eterno. Qual seria o valor de todo o esforço feito durante a vida, se não houvesse a garantia final de um prêmio, de uma eternidade feliz? Sem este incentivo nós desanimaríamos. Assim sendo, toda a nossa atenção deve-se concentrar num só ponto: em determinado momento estaremos no convívio com Deus! Tal é o empenho da Liturgia deste domingo: encher-nos de gáudio em vista do futuro. Devemos, então, considerar o Evangelho partindo da perspectiva desse júbilo sobrenatural, fundado no fato de sermos filhos de Deus e de termos a promessa de uma eternidade junto a Ele, se perseverarmos nas vias do bem, até o fim. Uma Liturgia pervadida pela alegria Temos de fundamentar esse conten tamento no cumprimen to da Lei de Deus, no desejo contí nuo de uma transforma ção interior A primeira leitura proclama o fim da profecia de Sofonias: “Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o Rei de Israel é o Senhor, Ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal. Naquele dia, se dirá a Jerusalém: ‘Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; Ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa’” (3, 14-18a). Embora seja este um profeta de tragédias e denúncias, esta passagem é um prenúncio de contentamento e consolo, pois quem seriamente considera as maravilhas do futuro, mesmo enfrentando grandes sofrimentos, está sempre cheio de alegria. Por isso, quando um bom católico é atingido por uma doença ou passa por algum desastre, sabe mostrar uma resistência e uma resignação fora do comum, pois conhece Alguém acima dele — Nosso Senhor Jesus Cristo —, que sofreu incomparavelmente mais, a fim de proporcionar-lhe a felicidade extraordinária de viver na eternidade junto d’Ele. Também a segunda leitura — a mencionada carta de São Paulo — confirma esta exultação, ao dizer: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo!” (Fl 4, 4-5). O Apóstolo das gentes escreveu esta epístola quando se encontrava na lúgubre prisão onde fora encarcerado, em Roma (cf. Fl 1, 7.13.17). A História nos mostra quão inumanos eram os 10 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 cárceres de então. Segundo Holzner, “a Antiguidade Cristã está cheia de protestos acerca dos maus tratos e das péssimas condições de vida a que se submetiam os prisioneiros, bem como do terrível estado em que se encontravam as prisões romanas. [...] Os próprios romanos consideravam a pena de prisão como um terrível sofrimento, cruciatus immensus, e as queixas relativas à elevada mortalidade dos prisioneiros não tinham fim”.1 Entretanto, mesmo nessa situação Paulo exorta: “alegrai-vos”. Seu coração está transbordante de júbilo e, em circunstâncias tão adversas, tal contentamento não pode ser natural, de caráter mundano ou carnal, mas divino, oriundo do alto, penetrando até o fundo do coração e capaz de passar por cima de qualquer sofrimento. Absolutamente nada o fazia estremecer: “Não vos inquieteis com coisa alguma” (Fl 4, 6). Esse é o dever de todo batizado. Temos, como ninguém, a possibilidade de fazer o bem, pois no Batismo recebemos a infusão de todas as virtudes e dons do Espírito Santo, como um maravilhoso organismo sobrenatural que, movido pela graça atual, nos permite realizar atos meritórios. Por esse motivo devemos ter a compenetração de que quando praticamos uma obra boa, não o fazemos por nossa própria natureza decaída, mas pela ação da graça, tesouro depositado em nós pelo próprio Deus, razão do gáudio sobrenatural que sentimos. Diante da aproximação do Salvador: alegria... e conversão! Por tudo isso, ante a proximidade do nascimento de Nosso Senhor, a Igreja deseja para os fiéis a degustação — um tanto antecipada — das consolações, fervores e toques da graça própria às doçuras da festa do Natal. Neste 3º Domingo, portanto, uma nova etapa se abre no Advento: o 1º Domingo fez uma clara referência à vinda do Salvador; o 2º tornou ainda mais expresso e aberto o mesmo anúncio; e agora se afirma, pela pena de São Paulo, “O Senhor está próximo!”. Ora, se a razão pela qual nós devemos nos alegrar é o nascimento de Jesus, temos de fundamentar esse contentamento no cumprimento da Lei de Deus, no desejo contínuo de uma transformação interior. O Evangelho desta Liturgia projeta, mais uma vez, a profética figura do Precursor, chamando todos para isso. sinal de se ter tirado fruto do auditório é que venham ao pregador com a consciência inquieta e agitada, para consultar sobre sua salvação!”.2 Por isso, a todos esses São João haveria de mostrar como deveriam viver. Na generosidade está a verdadeira alegria Francisco Lecaros Naquele tempo, 10 as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” 11 João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” “Ecce Agnus Dei”, por Jaume Huguet - Museu Episcopal de Vic (Espanha) II – A conversão exige gestos concretos São João vinha preparando os caminhos do Senhor mediante a pregação de uma mudança de vida. O impacto produzido por sua misteriosa figura e por suas palavras ardentes atraíra multidões que lhe acorriam ao encontro. Centralizar a atenção de muitos, pondo em movimento paixões religiosas e políticas era fácil. Sem embargo, o enviado de Deus possuía uma ambição mais alta. Sua pregação devia atingir o âmago das almas, movendo a vontade e despertando as consciências. Diante de sua proposta, apresentavam-se diversas situações que evidenciavam uma grande preocupação de querer segui-lo, pois seus ouvintes estavam à procura da felicidade. Para poder levar adiante essa boa disposição, todavia, era preciso uma metanoia — mudança de mentalidade —, uma renúncia aos próprios preconceitos, vícios e paixões desregradas. Como afirma Maldonado: “Um bom O austero reformador suavizava suas palavras quando pregava aos humildes sinceramente sedentos de conversão, e seus conselhos respiravam bondade, conforme vemos neste trecho. Contudo, terão aqueles judeus observado os ditames de São João Batista, limitando o seu sentido apenas a repartir vestes e comida aos que se encontravam delas desprovidos? Se esta divisão de bens fosse o único objetivo do profeta asceta, até para os fariseus teria sido fácil seguir o Precursor! Tais recomendações não devem, pois, ser tomadas tão só ao pé da letra. Segundo observa o padre Maldonado, o Precursor indicava “uma espécie de caridade em todo o seu gênero, ou seja, com todos os deveres desta virtude. […] Recomenda-se, em geral, a caridade para com o próximo, propondo-a como sendo uma síntese do caminho para a salvação”.3 Devia, então, ser subentendida por eles a necessidade de dotar suas vidas de uma nova perspectiva, saindo de si mesmos e sem nunca se apegar aos bens materiais. Todo o necessário para cada um, para nossa família ou comunidade, pode ser usado segundo o próprio beneplácito e de forma totalmente legítima, porém nunca para satisfazermos o egoísmo. Se Deus nos concedeu o instinto de sociabilidade, e acima deste a lei moral e a graça, é preciso estar com uma preocupação primordial de fazer o bem aos outros, sem acepção de pessoas. Essa disposição de alma, de contínuo e generoso desvelo com o próximo, torna nossas almas transbordantes de alegria. A pregação do Precursor devia atingir o âmago das almas, movendo a vontade e despertando as consciências Atrás de uma profissão, egoísmo camuflado Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?” 12 Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 11 João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. 13 A opinião pública se inclina va, com facilidade, diante de um homem devo rado pelo amor ao bem Alguns ouvintes de São João quiseram esclarecer o modo de proceder em seu caso particular: os cobradores de impostos. Naqueles tempos remotos, não existia para esta classe de profissão a rigidez de uma legislação fiscal semelhante a nossos dias e, em consequência, uma avaliação exata sobre a quantidade devida ao Estado. Em grande medida isso dependia da vontade do cobrador, que podia definir a quantia a ser paga pelo contribuinte. Na realidade, ele devia reger-se por critérios prévios, embora com certa frequência fossem acrescidos à cobrança justa do imposto outros encargos, os quais acabavam por ficar em seu próprio bolso e não no tesouro público... Com isso, os cobradores de impostos prejudicavam os outros em benefício próprio.4 Tal atitude significava um egoísmo dissimulado no exercício da profissão, pois, ao invés de terem a Deus como o centro de suas vidas e de seus atos, servindo ao bem comum com honestidade, preferiam impor uma pesada carga fiscal, cobrando a mais em seu favor. O Precursor lhes ensina o mesmo princípio geral dado às multidões, referente ao dever de caridade para com os outros, aplicado ao caso concreto: não cobrar mais do que o estabelecido, pois isto constituirá uma injustiça. Como assevera o Cardeal Gomá y Tomás, “o Batista não exigia deles mais do que o cumprimento de seu ofício dentro da mais estrita justiça; não lhes impunha, como faziam os fariseus com todo o mundo, cargas insuportáveis”.5 O vício de se aproveitar do exercício da autoridade em benefício próprio Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” 14 Os soldados eram “gente assalariada, recrutada ordinariamente entre os vagabundos, bandidos, fugitivos da casa paterna”,6 influenciados pelo rude e, com frequência, desmoralizado ambiente no qual recebiam a formação militar, e tantas vezes expostos a exercer, em inúmeras ocasiões, o roubo e o abuso da autoridade, sem 12 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 nenhum tipo de coibição superior. Recomendava-lhes João a doçura e a calma, proibindo a violência injusta e convidando-os a se contentar com o magro soldo que tanto desejavam engrossar por meio de censuráveis rapinas, aconselhando-os, também, ao estrito cumprimento do dever em favor da ordem estabelecida e do bem comum. A esse propósito, aponta com precisão Santo Agostinho: “A milícia não proíbe fazer o bem, mas a malícia. […] Se os soldados fossem assim, [honestos], seria ditoso até o próprio Estado”.7 Pelo que vemos por esses exemplos recolhidos no Evangelho — sem dúvida, muitos mais devem ter sido os casos de consciência resolvidos e as orientações dadas pelo Precursor —, São João Batista tinha tato psicológico e discernimento dos espíritos, além de uma arte suprema que harmonizava a clarividência à justiça e à caridade. Sabia dizer uma palavra oportuna e exata a todos, para conduzi-los à conversão, com a autoridade moral característica daqueles que vivem na segurança da virtude e sabem nela encontrar a felicidade possível nesta terra de exílio. Na verdade, João respondia com simplicidade “a todo tipo de pessoas que lhe perguntasse: fazei vosso trabalho com justiça. E essa é, de fato, a única resposta verdadeira: continuai vivendo com autenticidade, com justiça e preocupando-se com os demais. Por isso, o cristão deve estar sempre alegre e sua serenidade deve ser conhecida por todos os homens”.8 No exato cumprimento da nossa obrigação consiste a prática da virtude. O impacto produzido pelo Batista O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. 15 A retidão de São João, considerado um verdadeiro luminar em meio à notória decadência moral, religiosa e política do povo eleito, produzia no fundo da alma de seus seguidores o bem-estar decorrente da sincera paz de consciência, e logo seu prestígio começou a aumentar. Afinal, uma voz desinteressada substituía, sem medo nem fraqueza, os erros dos poderosos. A opinião pública se inclinava, com facilidade, diante de um homem devorado pelo amor ao bem, e ele aparecia a seus olhos, cada vez mais, investido de uma autoridade vinda do próprio Deus. Assim, não demorou muito para o povo israelita imaginar ser o Batista aquele Messias esperado pelas almas retas como a solução para a situação na qual viviam. Contribuía também para isso, entre outros fatores, o conhecimento geral de terem sido completadas as setenta semanas de anos da profecia de Daniel (cf. Dn 9, 24), a crescente insatisfação comum pelo domínio estrangeiro, ao qual se acrescentava a profecia sobre o cetro de Judá (cf. Gn 49, 10), e a vaga lembrança dos misteriosos acontecimentos ocorridos em Belém e Jerusalém, trinta anos antes. Se João não fosse uma alma despretensiosa e cheia de desejo de restituir tudo a Deus, esse era o momento propício de se autoprojetar dentro das estruturas sociais judaicas da época, atribuindo a si uma aura de grandeza — a qual já possuía naturalmente perante todos — e atraindo as atenções para si mesmo, deixando de lado quem ele deveria anunciar. Se agisse desse modo não seria mais distinguido como meio, precursor ou profeta, mas como fim único e exclusivo. Muito pelo contrário, compenetrado da elevada missão a ele confiada pela Providência, a situação punha em realce sua ilibada humildade. Sempre apontava para Aquele a quem precedia Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá Aque- Reprodução 16 Pregação de São João Batista, por Willem Reuter National Gallery of Art, Washington le que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. Aquela personalidade, tão impactante, conclamava todos para um batismo de conversão, simbolizado pela imersão nas águas do Jordão. Esse mesmo homem anunciava a vinda de alguém mais forte do que ele... Como seria isso possível?! Haveria alguém capaz de ultrapassar o próprio Batista, o inquietador das consciências, o ascético profeta?... É-nos fácil imaginar a interrogação surgida na mente das pessoas, ao pensar em alguém superior àquele que até consideravam como Messias. Para frisar de forma mais acentuada esse contraste, porém, o Precursor recorre a uma figura de insuperável eloquência. Desamarrar a correia das sandálias era, naquele tempo, função dos menos qualificados entre os servos. O habitual meio de transporte daquela época era o próprio pé, protegido apenas pela exígua cobertura da sandália, exposto a sofrer todas as durezas e sujeiras dos caminhos. Ao chegar a qualquer lugar, era comum presenciar a cena de um escravo retirando o calçado de alguém para limpá-lo, enquanto os pés eram lavados e até perfumados. Tal imagem, presente no cotidiano de todos, é levantada por São João para ressaltar a infinita distância que o separava do verdadeiro Messias, professando em seu interior profundos sentimentos de total submissão e devoção, quase rezando: “‘Na realidade, eu não mereço contar-me entre o número de seus escravos — nem sequer entre os seus mais ínfimos escravos —, nem desempenhar a parte mais humilde de seu serviço’. Por isso ele não só falava simplesmente de sua sandália, mas da correia de sua sandália, o que parecia o último extremo a que se podia chegar”.9 Esse adorável Redentor, a quem o Batista precedia, deveria trazer, com toda propriedade, o verdadeiro Batismo, já não simbólico nem penitenDezembro 2015 · Flashes Se João não fosse uma alma despretensiosa e cheia de desejo de restituir tudo a Deus, esse era o momento propício de se autoprojetar de Fátima 13 Timothy Ring cial, mas transformante, pela ação do Espírito Santo. Com efeito, enquanto a água lava o corpo, a alma é purificada de seus pecados pela ação do Espírito, da mesma forma como, em contato com o fogo, derrete-se o ouro para separá-lo da ganga que o macula. É o que afirma Fillion: “Com isso, demonstrava João a máxima inferioridade de sua pessoa e de seu batismo. A água apenas lava o exterior, a face ou a superfície; o fogo do Espírito Santo penetra até o fundo dos corações para limpá-los. Somente o Batismo conferido em nome do Messias devia produzir a verdadeira remissão dos pecados”.10 O Messias vem trazendo o prêmio e o castigo “Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha Ele a queimará no fogo que não se apaga”. 18 E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa-nova. 17 “Se permaneceis trigo puro, por mais que vos assalte a tentação, nenhum mal sofrereis por sua ação” O Evangelista procura destacar, nestes últimos versículos, a ideia de prêmio e de castigo, sempre presente nos anúncios feitos pelo Batista a respeito do futuro Messias, bem como a necessidade de mudança de vida. Com uma linguagem impactante para aquelas multidões, revelava João alguns dos divinos atributos do Salvador, com traços reconfortantes para uns e terríveis para outros. Para os que se assemelhassem ao bom grão, tais palavras teriam a suavidade de um bálsamo; mas, para os que a consciência acusava implacavelmente de ter a inutilidade da palha seca, a expectativa de sua chegada apresentava-se ameaçadora. Como diz São João Crisóstomo, “se permaneceis trigo puro, por mais que vos assalte a tentação, nenhum mal sofrereis por sua ação. Tampouco as rodas do trilho com seus dentes, na eira, cortam o trigo. Porém, se vierdes a cair na fraqueza da palha, não só sofrereis nesta vida males irremediáveis, ao serdes esmagados por todo o mundo, mas logo vos esperará um castigo eterno”.11 Mais uma vez, o Precursor deixava patente a necessidade da abertura das almas para uma constante e eficiente conversão da vida concreta de cada um, único caminho para a verdadeira felicidade. Alegria eterna ou tormento sem fim: eis a inevitável escolha daquelas multidões que acorriam ao encontro de São João, eis a terrí- 14 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Menino Jesus - Detalhe da Imagem de Maria Auxiliadora da Casa Monte Carmelo, Caieiras (SP) vel opção oferecida de modo tão evidente a nós, dois mil anos depois... III – A alegria está ao nosso alcance Ter sempre em vista a própria ressurreição, apesar de conhecer perfeitamente a desintegração dos corpos, depois de enterrados e transformados em poeira; ter uma esperança de, post mortem, entrar num convívio eterno com Deus, depois de ter recuperado o mesmo corpo em estado glorioso para no Céu gozar da felicidade eterna; aí está o que nos dá força e coragem. Então, por que correr atrás de alegrias onde elas não existem? A insubstituível felicidade da boa consciência Inúmeras vezes ignoramos ou nos esquecemos de que a perda da inocência batismal constitui o maior prejuízo da vida. Significa perder o maior tesouro a nós confiado pelas dadivosas mãos da Providência, pois, perdida esta inocência, logo as más inclinações se manifestam com mais veemência e é comum as quedas se sucederem, podendo inclusive chegar a alma à triste situação apontada por Nosso Senhor no Evangelho: “Todo homem que se entrega ao pecado, torna-se seu escravo” (Jo 8, 34). De fato, quando cometemos a infelicidade de cair no pecado, estamos enganosamente à procura de alguma felicidade decorrente de um prazer, o qual julgamos ser infinito e eterno. Tal prazer, entretanto, é sempre fugaz e submerge nossa alma na frustração. Ó natureza débil! Corres atrás de um vazio pensando haver encontrado o Absoluto, vais à procura da alegria onde ela não se encontra! Com propriedade afirma Santo Agostinho: “Alegrar-se na injustiça, alegrar-se na torpeza, alegrar-se nas coisas vis e indecorosas... em tudo isso cifra o mundo sua alegria; em tudo isso que não existiria se o homem não quisesse. […] A alegria do século consiste na maldade impune. Entregar-se à dissolução dos homens, fornicar, divertir-se nos espetáculos, embriagar-se, manchar-se de torpezas sem nenhum contratempo: eis aqui a alegria do mundo. Mas Deus não pensa como o homem, e uns são os desígnios divinos, outros os humanos”.12 Na deliberação de abraçar o pecado nos afastamos da verdadeira e insubstituível alegria da boa consciência, que nenhuma fortuna, nenhum prazer carnal, nenhum orgulho satânico, nenhuma glória mundana pode oferecer. Se, algum dia, tivermos a desventura de 1 HOLZNER, Josef. Paulo de Tarso. São Paulo: Quadrante, 1994, p.558. 2 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.451. 3 Idem, p.452. 4 Cf. TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.V, p.786. 5 GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Introduc- manchar nossa inocência, procuremos logo readquirir um coração puro e um espírito firme (cf. Sl 50, 12), lavando e purificando a alma no Sacramento da Confissão. Quem nunca sentiu a consolação pela certeza de haver sido perdoado, ao sair de um confessionário, não conhece uma das maiores felicidades que nesta vida se pode experimentar. O gáudio de recuperarmos a inocência perdida vale mais do que tudo na face da Terra. Alegria: o verdadeiro dinamismo interior Concluindo, é preciso compreender que, mesmo nas piores situações, jamais podemos nos deixar abater; ao contrário, devemos estar sempre cheios de confiança. Deus, segundo o ensinamento maravilhoso apresentado no Evangelho da Liturgia de hoje, está continuamente à nossa disposição e ainda quis nos dar sua própria Mãe para nos acompanhar e atender. Sigamos, portanto, o conselho de Santo Agostinho: “‘alegrai-vos sempre no Senhor’, isto é, alegrai-vos na verdade, não na iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não com as flores da vaidade. Alegrai-vos desse modo e em qualquer lugar, e em todo tempo lembrai-vos de que ‘o Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma’”.13 Sejamos alegres até em meio às piores tragédias, pois a alegria manterá em nós o dinamismo e a força necessária para praticar a virtude. Dessa forma, o Menino Jesus encontrará nossas almas prontas para recebê-Lo no supremo momento em que nascerá misticamente na Sagrada Liturgia e em nosso coração.² ción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v.I, p.409. 6 Idem, ibidem. 7 SANTO AGOSTINHO. Sermo CCCII, n.15. In: Obras. Madrid: BAC, 1984, v.XXV, p.413. 8 9 NOCENT, Adrien. El Año Litúrgico: celebrar a Jesucristo. Introducción y Adviento. Santander: Sal Terræ, 1979, v.I, p.131. SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XI, n.4. In: Obras. Homilías “‘Alegrai-vos sempre no Senhor’, isto é, alegrai-vos na verdade, não na iniquidade” sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, p.207. 10 FILLION, Louis-Claude. Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios. Madrid: Edibesa, 2000, p.100. 11 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, op. cit., n.5, p.212. 12 SANTO AGOSTINHO. Sermo CLXXI, n.4. In: Obras. Madrid: BAC, 1958, v.VII, p.147. 13 Idem, n.5, p.148-149. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 15 A importância do exemplo Todo homem, a cada momento, está influenciando seu próximo ou recebendo influências dele. Está sendo para ele ora pastor, ora ovelha; ora mestre, ora discípulo. Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas, EP N Incomparavelmente superior a todas as maravilhas da criação — nas quais há sempre um reflexo visível das “perfeições invisíveis de Deus” (Rm 1, 20) — é o “dom de Deus”, isto é, a graça, criatura que transcende todo o criado e nos confere uma participação na vida divina, incriada. A menor “gota” de graça supera o bem natural do universo inteiro.1 Portanto, acompanhar o desenvolvimento da graça nas almas dos justos é um dos mais apaixonantes meios de conhecer a História da Francisco Lecaros arram os Santos Evangelhos o ardente zelo de Nosso Senhor Jesus Cristo ao reali zar, percorrendo todas as regiões de Israel, inúmeros prodígios em favor daqueles que vinham ao seu encontro: “Andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com Ele” (At 10, 38). Os cegos viam, os surdos ouviam, os mortos ressuscitavam. Ninguém se aproximava d’Ele sem ser beneficiado. Numa das suas viagens da Judeia à Galileia, deteve-Se Ele na cidade de Sicar, na Samaria, e sentou-Se junto ao poço de Jacó, a fim de descansar da caminhada. Em certo momento aproximou-se uma mulher para buscar água. “Dá-Me de beber” (Jo 4, 7), pediu Ele. Ela, porém, surpreendeu-se, pois os judeus não se relacionavam com os samaritanos. Replicou-lhe então o Mestre: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz ‘Dá-Me de beber’, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (Jo 4, 10). 16 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Igreja, além de uma excelente forma de amor a Deus. Quis Ele tornar-nos participantes dos seus méritos Voltemos, agora, o olhar ao alto da Cruz. Após Nosso Senhor Jesus Cristo ter proferido seu “consummatum est” (Jo 19, 30), a lança do soldado abriu-Lhe o costado, de onde jorraram sangue e água, símbolo do começo e do crescimento da Igreja.2 Foi, com efeito, “do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja”.3 Incomparavelmente superior a todas as maravilhas do uni verso é a graça, cria tura que nos confere uma participação na vida divina, incriada Jesus e a samaritana - Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, Granada (Espanha) Francisco Lecaros Foi, com efeito, “do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o sacra mento admirável de toda a Igreja” Loginus crava a lança no costado de Jesus - Catedral de León (Espanha) Ao gênero humano, até então nas trevas do pecado, tornou-se acessível o caminho da virtude. Abriram-se as portas do Céu. Pela Redenção, a Lei Antiga é substituída pela Lei da graça. Em seu desígnio salvador, quis Cristo constituir a Santa Igreja, sociedade visível, à maneira de Corpo cuja Cabeça é Ele próprio (cf. Ef 5, 23.30; Col 1, 18), para que, de sua plenitude, todos os membros recebêssemos graça sobre graça (cf. Jo 1, 16). Assim, tornou-nos também participantes dos infinitos méritos de sua vida, Paixão e Morte.4 Pois, na medida em que nós, enquanto membros, estamos unidos a Nosso Senhor, “não apenas a Paixão de Cristo nos é comunicada, mas também o mérito de sua vida”. 5 “Brilhe vossa luz diante dos homens” Conforme nos ensina a doutrina católica, todos os homens que estão em estado de graça possuem um misterioso vínculo entre si, procedente dessa união com a Cabeça. “Uma admirável e discreta circulação de bens espirituais os une, como estão unidas as diversas partes do corpo humano para a circulação dos líquidos e do sangue que repartem para todos os membros os eflúvios de vida” — explica o padre Monsabré. “Este mistério se chama Comunhão dos Santos”.6 A cada momento, esclarece Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, todo homem está influenciando seu próximo ou recebendo influências dele. “Está sendo para ele ora pastor, ora ovelha; ora mestre, ora discípulo; continuamente dando e recebendo algo”.7 Segundo o padre Monsabré, o “capital social” do qual participam os diversos membros da Igreja na Comunhão dos Santos compõe-se de três categorias de bens: “as boas obras, por via do exemplo e da imitação; as graças, por via de intercessão; os méritos, por via de substituição”.8 Embora as duas últimas sejam de fundamental importância, limitar-nos-emos a tratar neste artigo da primeira delas: as boas obras. “Brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5, 16) — recomendou o Divino Mestre aos seus discípulos. São João Crisóstomo interpreta estas palavras como um convite: “haja em vós grande virtude, arda em vossos corações o fogo da caridade e sua luz brilhe diante dos homens. Porque, quando a virtude alcança esse grau de perfeição, é impossível mantê-la oculta, por mais que quem a pratica queira ocultá-la”.9 Assim, os Apóstolos anunciavam o Reino de Deus sobretudo pelo exemplo de suas vidas. As virtudes que ornam as almas santas se manifestam no exterior, de modo permanente, pelas boas obras e pelo exemplo, o qual se impõe à nossa imitação, convidando-nos a conformar nossa vida com a delas, isto é, com Jesus Cristo, arquétipo de todas as virtudes, exemplo universal da vida cristã, supremo modelo de perfeição. Essas obras e exemplos constituem um capital de bem que cresce a cada momento como um incessante apelo aos demais membros do Corpo Místico a abraçarem também a santidade.10 Doutrina transposta em vida A mera doutrina não é suficiente para arrastar as vontades. Como a verdade entra no intelecto pelos sentidos, as coisas sensíveis têm sobre o espírito humano uma força maior que a doutrina abstrata. “O exemplo torna sensível a verdade, a Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 17 1 qual, de certo modo, se encarna na pessoa e nos fatos”.11 Ensina-nos o Doutor Angélico: “Quando se trata de ações e paixões humanas, em que a experiência vale mais que tudo, os exemplos movem mais que as palavras”.12 Assim como o farol orienta o navio, mas não o propulsiona, da mesma forma a doutrina por si só não move as almas; estas são movidas pelo exemplo, ou seja, pela doutrina transposta em vida. “São os exemplos que arrastam e motivam a trilhar o mesmo caminho”,13 e isto em todos os campos do agir humano. Narram as crônicas da Revolução Francesa um fato muito ilustrativo desta realidade. Quando Henri de La Rochejaquelein, com apenas 20 anos de idade, assumiu o comando de uma parte do exército vandeano, fez a seus homens esta célebre conclamação: “Si j’avance, suivez-moi; si je recule, tuez-moi; si je meurs, vengez-moi! — Se eu avançar, segui-me; se recuar, matai-me; se morrer, vingai-me!”.14 Justificando com o próprio heroísmo este fogoso apelo, arrastava atrás de si à vitória, ou a uma glo- “O exemplo torna sensível a verdade, a qual, de certo modo, se encarna na pessoa e nos fatos” riosa morte na luta, os combatentes sob seu comando. O instinto de imitação faz parte da psicologia humana. “Da mesma forma como alguém boceja vendo outro bocejar, assim, movidos como por um mecanismo interno invisível, executamos uma ação, boa ou má, que vemos outros fazerem”.15 Obrigação de dar bom exemplo Nesse sentido, nada é tão eficaz na observância do mandamento divino de amar o próximo por amor a Deus, quanto um comportamento edificante e o exemplo de uma vida íntegra, com vistas à salvação eterna de nossos irmãos. 18 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 2 Quem assim age faz o papel de um eloquente arauto da verdade. Recordemos, a propósito, o fato ocorrido com o grande São Francisco de Assis, cuja preocupação primordial era instruir os homens pelo exemplo, mais que pelas palavras. Certo dia, convidou ele um monge a acompanhá-lo em uma pregação. Após dar algumas voltas pelas ruas, retornavam ambos ao mosteiro sem ter pronunciado palavra. Surpreso, o companheiro perguntou-lhe: “Mas, e a pregação?”. Respondeu-lhe o Santo que o simples fato de dois religiosos se apresentarem com modéstia diante da população constituía já um sermão.16 São Francisco, com efeito, não se cansava de ensinar a seus primeiros seguidores: “Todos os irmãos devem pregar com as suas obras!”.17 Ao longo da História, muitos Santos deram às almas, pela simples presença, a esmola do bom exemplo. “Vi Deus num homem!”, exclamou um advogado de Lyon, referindo-se a São João Maria Vianney, ao ser interrogado sobre o que havia conhecido em Ars.18 Segundo narram as crônicas, um irmão leigo da Companhia de Jesus, saindo todos os dias para fazer compras, ganhou mais almas para Deus com suas conversações e bons exemplos do que muitos missionários com suas pregações.19 Convidado certo dia pelo Arcebispo de Évora a fazer uma pregação na catedral, São Francisco de Borja tentou esquivar-se, alegando cansaço e enfermidade, mas recebeu esta resposta: “Não quero que faça sermão, mas que suba ao púlpito e todos possam ver um homem que, por amor a Deus, abandonou tudo quanto tinha”.20 Ai do mundo por causa dos escândalos! A este respeito, Santo Antônio Maria Claret nos oferece uma expressiva figura: “A doutrina é como a pólvora; mas o exemplo é como a bala, que fere ou mata. A pólvora sozinha produz apenas barulho, assim também só a doutrina fará apenas ruído; é preciso acrescentar-lhe algum exemplo, que sirva de bala”.21 Portanto, o exemplo pode ter dois efeitos: ferir ou matar. A boa ação realizada diante de algum pecador fere-o e o faz perceber o caminho errado pelo qual avançava, e ao mesmo tempo o estimula a 4 5 1. São Pedro Apóstolo, por Pedro Serra - Museu de Belas Artes, Bilbao (Espanha); 2. Santo Agostinho e Santa Mônica assistem a um sermão de Santo Ambrósio - Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona (Espanha); 3. São Francisco distribui os seus bens aos pobres, por Antonio Viladomat Museu Nacional de Arte da Catalunha; 4. O Santo Cura d’Ars - Afresco da Basílica Nova, Ars (França); 5. Santo Antônio Maria Claret fundando a sua congregação - Vitral da casa natal do Santo em Sallent, Espanha “A doutrina fará apenas ruído; é pre ciso acrescentar-lhe algum exemplo, que sirva de bala” praticar o bem. Uma ação má, pelo contrário, expõe o próximo à ruína espiritual, ou seja, à morte. E isto é o pecado de escândalo. São Tomás assim define o escândalo: “Uma palavra ou um ato menos reto que oferece uma ocasião de queda”. 22 Severas são as palavras do Divino Mestre ao referir-Se a essa falta: “É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal um destes pequeninos” (Lc 17, 1-2). O gravíssimo pecado de escândalo prejudica não só quem o recebe, mas tam- bém quem o comete. “Ao primeiro, porque a falta cometida em decorrência do escândalo furta-lhe a vida da graça de Deus na alma. Ao segundo, por fazer o mesmo papel do demônio — perder almas —, acrescido do gosto em arruinar a inocência alheia”. 23 Santo Ambrósio e Santo Agostinho Não raras vezes, percorrendo as páginas da hagiografia e da História da Igreja, encontramos o bom exemplo na raiz das mais estupendas conversões. Nesses casos, o fulgor das virtudes de algum grande Santo serve a Deus como instrumento para ferir com seu dardo de amor a alma daqueles que deseja atrair inteiramente para Si. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 19 Fotos: Francisco Lecaros / Sergio Hollmann 3 -lhe qual ponto da doutrina católica a tinha convencido a abraçar o Catolicismo. Ela respondeu: “Minha única resposta é que quero ter a mesma Religião de Francisco de Sales”.32 O contato com a santidade desse varão de Deus a movera a dar tal passo. Podemos citar ainda a conversão do rei Clóvis, a qual teve sua origem, entre outros fatores, no exemplo das virtudes de sua esposa, Santa Clotilde; ou as conversões operadas pelo Santo Cura d’Ars, pelo simples fato de subir ao púlpito com o crucifixo nas mãos, sem proferir palavra. Francisco Lecaros A vida de Santo Ambrósio está coalhada de fatos magníficos, porém a “mais preciosa pedra de sua coroa de glória é a conversão de Santo Agostinho”.24 Repleto da sabedoria do mundo, mas longe da de Deus, Agostinho errava pelas vias do pecado e da heresia, tendo aderido à doutrina dos maniqueus. Conhecia alguns pontos da doutrina católica, mas não se deixava comover. Mudando de Roma para Milão, ali encontrou o Bispo Ambrósio. “Tu me conduzias a ele sem eu o saber, para eu ser por ele conduzido conscientemente a Ti”,25 escreveu mais tarde em suas Confissões. As palavras de Ambrósio prendiam a atenção de Agostinho, mas seu conteúdo não o preocupava. Com o tempo, ele foi abrindo o coração aos ensinamentos do Bispo, até decidir procurar argumentos que demonstrassem a falsidade do maniqueísmo: “A fé católica não me parecia vencida, mas para mim ainda não se afigurava vencedora”.26 Entretanto, o que de fato o levou a aderir à verdadeira Religião foi o exemplo do santo Bispo de Milão: “Gostava não só de ouvir seus sermões, mas também de passar horas inteiras em seu gabinete, em silêncio, vendo esse homem de Deus trabalhar ou estudar”.27 Finalmente, declara Santo Agostinho: “Desde então comecei a preferir a doutrina católica”.28 Afirma o Papa Bento XVI: “Da vida e do exemplo do Bispo Ambrósio, Agostinho aprendeu a crer e a pregar”.29 Algo semelhante ocorreu na conversão de São Justino. Depois de percorrer em vão as escolas filosóficas mais em voga no seu tempo, em busca de conhecer a Deus, ele encontrou a verdade ao contemplar a serenidade e destemor dos mártires avançando rumo ao suplício. Este espetáculo fê-lo reconhecer a autenticidade e su- A Igreja progride sempre em santidade Pentecostes - Catedral de Pamplona (Espanha) Os membros do Corpo Místico de Cristo continuaram e con tinuarão recebendo este mesmo Espírito ao longo dos séculos perioridade da Religião cristã.30 Eis o testemunho do próprio Santo: “Pelas obras e pela fortaleza que os acompanham, podem todos compreender que este — Jesus Cristo — é a Nova Lei e a Nova Aliança”.31 Na origem de outras grandes conversões Certa vez, São Francisco de Sales foi pregar no Chablais e uma dama protestante converteu-se após ouvir dois ou três dos seus sermões. De volta a Genebra, sua cidade de origem, o pastor calvinista perguntou- 20 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Desde o momento de sua divina instituição, a Igreja não deixa de crescer em santidade e de enriquecer-se com o heroísmo dos Santos, os quais constituem Evangelhos vivos. Seria, portanto, um equívoco dizer que nunca haverá maiores Santos que os primitivos, e daí concluir que a Igreja não progride em santidade nem cresce misticamente. Tal afirmação equivaleria a reduzir um grande edifício a seus solidíssimos fundamentos, ou uma árvore frondosa à sua pequena semente. Se é verdade que no dia de Pentecostes Nosso Senhor derramou sobre os Apóstolos e os primeiros discípulos a plenitude do Espírito Santificador, certo é também que os membros do Corpo Místico de Cristo continuaram e continuarão recebendo este mesmo Espírito ao longo dos séculos, e a Igreja não deixará de se desenvolver, aperfeiçoar, purificar e santificar até o fim do mundo.33 Mais e melhores frutos espirituais serão sempre por Ela produzidos ao longo das gerações. Seu perfume se espalhará por toda a Terra, aguilhoando a consciência dos maus e inebriando a alma dos bons. ² O exemplo de um heroico ancião “S fingindo serem as obrigadas pee eu morrer agora corajosalo rei. Entretanto, o heroico anmente, mostrar-me-ei digno cião preferiu ser conduzido à de minha velhice, e terei deixamorte e respondeu-lhes: “Não é do aos jovens um nobre exemplo próprio da nossa idade usar de de zelo generoso, segundo o qual tal fingimento, para não aconteé preciso dar a vida pelas santas cer que muitos jovens suspeitem e veneráveis Leis” (II Mac 6, 27) que Eleazar, aos noventa anos, — disse o admirável Eleazar antenha passado aos costumes estes de dirigir-se ao suplício. trangeiros. Eles mesmos, após Antíoco Epífanes, qualificao meu gesto hipócrita, e por um do pelo Espírito Santo de “raiz pouco de vida, se deixariam arde pecado” (I Mac 1, 11), proirastar por causa de mim e isso biu ao povo judeu a prática da seria para a minha velhice a deverdadeira Religião. Os enviasonra e a vergonha” (II Mac 6, dos desse iníquo rei prenderam 24-25). Eleazar, “homem já de idade Assim, Eleazar entregou sua avançada” (II Mac 6, 18), e quiMartírio de Eleazar, por Gustave Doré alma a Deus, “deixando com sua seram forçá-lo a comer carne de morte não somente aos jovens, porco, proibida pela Lei. Como ele se recusava, seus amigos, desejando salvar-lhe a vi- mas também a toda a sua gente, um exemplo de corada, ofereceram-lhe carnes permitidas para ele comer, gem e um memorial de virtude” (II Mac 6, 31). 1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.113, a.9, ad 2. 2 Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.3. 3 CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium, n.5. 4 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.7, a.9; q.8, a.1; q.19, a.4; q.48, a.1. 5 6 7 8 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Exposição sobre o Credo, art. 10. MONSABRÉ, OP, Jacques-Marie-Louis. La Communion des Saints. In: Exposition du Dogme Catholique. Gouvernement de Jésus-Christi. Carême 1882. 9.ed. Paris: P. Lethielleux, 1903, p.295. CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Ai de quem escandalizar! In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano XI. N.129 (Set., 2012); p.17. MONSABRÉ, op. cit., p.319. 9 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XV, n.8. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, p.293. 10 Cf. MONSABRÉ, op. cit., p.320-321. 11 CIVARDI, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Espiritualidad de los seglares. Madrid: BAC, 1967, p.838. 12 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.34, a.1. 13 CLÁ DIAS, op. cit., p.17. 14 GAUTHEROT, Gustave. L’Épopée Vendéenne. Tours: Alfred Mame et Fils, 1908, p.64. 15 ROYO MARÍN, op. cit., p.838. 16 Cf. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. La dignidad y santidad sacerdotal. La Selva. Sevilla: Apostolado Mariano, 2000, p.306. 17 JOERGENSEN, Johannes. São Francisco de Assis. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1932, p.355. 18 Cf. JOÃO PAULO I. Discurso ao clero romano, 7/9/1978. 19 Cf. MUÑANA, SJ, Ramón de. Verdad y vida. 2.ed. Bilbao: El mensajero del Corazón de Jesús, 1948, t.II, p.577. 20 Idem, p.576-577. 21 SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET, apud AGUILAR, P. Mariano. Vida admirable del Siervo de Dios P. Antonio María Claret. Madrid: San Francisco de Sales, 1894, t.I, p.133. 22 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q.43, a.1. 23 CLÁ DIAS, op. cit., p.15. 24 BECCARI, Luiz Francisco. Destemido defensor da Igreja. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano III. N.36 (Dez., 2004); p.36. 25 SANTO AGOSTINHO. Confissões. L.V, c.13, n.23. 26 Idem, c.14, n.24. 27 BECCARI, op. cit., p.36. 28 SANTO AGOSTINHO, op. cit., L.VI, c.5, n.7. 29 BENTO XVI. Audiência geral, 24/10/2007. 30 Cf. RUÍZ BUENO, Daniel (Ed.). Actas de los mártires. 5.ed. Madrid: BAC, 2003, p.303. 31 SÃO JUSTINO. Diálogo con Trifón, XI, apud RUÍZ BUENO, op. cit., p.303. 32 KOCH, SJ, Anton; SANCHO, Antonio. Docete. Formación básica del predicador y del conferenciante. Barcelona: Herder, 1955, t.VI, p.528. 33 Cf. GONZÁLEZ ARINTERO, OP, Juan. La Evolución Mística. Madrid: BAC, 1959, p.793-796. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 21 Sóror Josefa Menéndez Apóstolo da bondade de Jesus Nossos dias não são melhores do que aqueles idos anos em que viveu sóror Josefa Menéndez... Por isso enche-nos de consolo escutar: “Venho a ti, para ensinar-te quem sou e qual é minha Lei. Não te assustes: é de amor!”. Ir. Mary Teresa MacIsaac, EP S ubia sóror Josefa ao terceiro andar do convento a fim de fechar algumas janelas antes de se recolher, quando encontrou Nosso Senhor Jesus Cristo no corredor. — De onde vens? — perguntou Ele. — Fechava as janelas, Senhor. — E agora que estou aqui, para onde vais? — Vou terminar de fechá-las, meu Jesus. É a miséria que atrai a misericórdia Cenas como esta não eram raras no dia a dia da irmã Josefa... Na Páscoa de 1922, Jesus ressurrecto lhe aparece “formosíssimo e cheio de luz”. Todavia, ela se mostra indiferente à sua presença, alegando não estar autorizada a quebrar o silêncio monástico. “Não tens permissão para falar comigo, Josefa! — respondeu com bondade — E para Me olhar? [...] Olha-Me... e deixa que Eu te olhe... isto nos basta”. Ela fitou-O e Ele disse: “Quando a madre te chamar, pede permissão para falar comigo”,1 e desapareceu. Que pensar de alguém que, deparando-se com o próprio Cristo, deixa-O só para fechar umas janelas ou se recusa a falar com Ele alegando um simplório pretexto? Por que Nosso Senhor insiste em aparecer a esta alma, e não a alguma outra que manifestasse maior amor? A resposta nos vem dos lábios do Divino Salvador: “Se na Terra tivesse encontrado uma criatura mais miserável que tu, teria pousado sobre ela meu olhar amoroso, e lhe teria manifestado os desejos de meu Coração. Mas não tendo encontrado, escolhi a ti. [...] O único desejo de meu Coração é aprisionar-te e inundar-te de meu amor, fazer de tua pequenez e tua fraqueza um canal de misericórdia para muitas almas”.2 É a miséria das almas, pois, que atrai a bondade e a misericórdia do Divino Coração! E foi nosso tempo, tão ingrato para com Deus, que recebeu, pela pena de sóror Josefa Menéndez, o tesouro das revelações que aqui vamos contemplar. Escolhida desde muito cedo Nascida em Madri, a 4 de fevereiro de 1890, teve Josefa Menéndez uma infância muito alegre e 22 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 tranquila. Possuía ela um temperamento vivo, jovial e um tanto altivo, o que a tornava um polo de atração para toda a família. Desde muito pequena sentia-se chamada a entregar-se a Jesus, mas não sabia ainda como... Na festa de São José de 1901 fez sua Primeira Comunhão e prometeu a Nosso Senhor, formalmente e por escrito, manter perpétua virgindade. Foi repreendida pelo confessor, pois para ele “as meninas não devem prometer nada mais que ser muito boazinhas”,3 e ordenou-lhe destruir o papel do compromisso assinado. Ela, entretanto, não o fez e repetia a Jesus sua promessa cada vez que comungava. Começou a estudar no colégio das Religiosas do Sagrado Coração de Jesus — instituição fundada por Santa Madalena Sofia Barat, à qual viria a pertencer — e a capela era seu lugar preferido, onde se recolhia e fazia companhia, por largas horas, ao Divino Prisioneiro do sacrário. Com frequência visitava também o Carmelo de Loeches, do qual uma tia materna era a priora. Conheceu a regra carmelitana na biblioteca das freiras e a punha em prática quando brincava “de convento” com suas irmãs menores: Mercedes, Carmem e Ângela. Ela sabia, contudo, no fundo de seu coração, que aquilo era mais do que uma distração... Tomava força em sua alma o chamado à vida religiosa. Dotada de grande habilidade com a linha e a agulha, foi aprender corte e costura no ateliê de uma modista de confiança dos pais, onde reinava um ambiente frívolo e vazio, muito distinto do calor piedoso de seu lar. Ali conheceu os primeiros embates espirituais e se manteve firme graças à Comunhão diária que não abandonava, à custa de verdadeiros sacrifícios. Aos domingos se dedicava a visitas de caridade, atendendo pobres e enfermos, tanto com o socorro material como nos mais humildes serviços. Desta época de sua vida, relata ela em seus escritos: “Atravessei muitos perigos, mas Deus, Nosso Senhor, sempre me guardou no meio deles e das más conversas no ateliê. Quantas vezes chorei ao ouvir aquelas coisas que me perturbavam, porém, não deixei de encontrar força e consolo em Deus. Nada nem ninguém me fizeram mudar ou duvidar jamais de que Jesus me queria para Si”.4 Nesta circunstância de grande angústia, Santa Madalena Sofia apareceu à mãe de Josefa e lhe assegurou que não morreria, pois sua família ainda precisava dela. No dia seguinte acordou curada. O pai também venceu a enfermidade; no entanto, jamais recobrou forças para voltar ao trabalho e veio a falecer algum tempo depois. Coube, então, a Josefa o encargo de manter a família. Auxiliada pelas religiosas de seu antigo colégio obteve uma máquina de costura e, com a ajuda destas suas protetoras, conseguiu tanto trabalho que acabou por montar o próprio ateliê, onde trabalhava em duras jornadas, junto com sua irmã Mercedes e outras funcionárias. Tentou entrar nas sendas da vida religiosa, sendo impedida pela mãe que a tinha como o esteio da casa. Chegou mesmo a fazer um pedido de admissão na Sociedade do Sagrado Coração de Jesus o qual foi aco- Longa e dolorida espera Aos 17 anos a dor veio visitá-la: sua irmã Carmen morre com apenas 12 anos, e pouco depois falece também a avó materna; a mãe adoece com febre tifoide e o pai cai enfermo com pneumonia. A jovem não abandona o leito dos pais, servindo-lhes de enfermeira. Não obstante, com a falta do trabalho paterno as economias domésticas terminaram e a miséria não tardou em chegar. Estava completamente só para cuidar dos pais doentes e das outras duas irmãzinhas. Graças à Comunhão diária, a jovem Josefa se manteve firme diante dos primeiros embates espirituais Josefa Menéndez, aos 18 anos de idade lhido de braços abertos pela superiora. Sem embargo, as lágrimas da mãe a detiveram... Depois de uma longa espera que muito a fez sofrer, aos 29 anos soava a hora de Deus! Em fins de 1919 chegou da França um pedido de candidatas para o noviciado de Poitiers. Desta vez a mãe não opôs resistência e ela se lançou ao empreendimento sem olhar para trás. Em 4 de fevereiro de 1920 deixou sua pátria para sempre, sem dizer nada a ninguém, para evitar a dor da despedida, nem levar nada consigo. “Quero que tu também sejas vítima” Para fundar o primeiro noviciado da Sociedade do Sagrado Coração, Santa Madalena Sofia escolhera a Abadia des Feuillants, em Poitiers, onde dois séculos antes habitaram os cistercienses. Fora destruída durante os anos tempestuosos da Revolução Francesa, mas, dissipada a tormenta, tornou-se residência frequente desta alma de escol, que ali recebera singulares graças. Por isso, os muros benditos da abadia eram considerados por suas filhas espirituais uma relíquia da santa fundadora. Durante os primeiros meses de noviciado neste abençoado mosteiro, irmã Josefa sofria muitas tentações de abandonar a vida religiosa. Ela mesma conta que, num só dia, chegou, por cinco vezes, a tomar a resolução de tirar o hábito e ir embora. Um dia, porém, sentiu-se arrebatada por um “sono muito doce”, do qual despertou no interior da chaga do Coração Divino. Desde então, tudo mudou para ela: “Com a luz que a inunda vê os pecados do mundo e oferece sua vida para consolar o Coração ferido de Jesus. Um desejo veemente de unir-se a Ele a consome e qualquer sacrifício lhe Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 23 arece pequeno para permanecer p fiel à sua vocação”!5 Outros favores místicos concedeu-lhe Nosso Senhor, como preâmbulo da missão que lhe destinara, até que manifestou explicitamente seus desígnios: “Assim como Eu Me imolo vítima de amor, quero que também tu sejas vítima: o amor nada recusa”.6 A partir deste momento, o Sagrado Coração de Jesus a assume como instrumento para transmitir ao mundo os inefáveis segredos de seu amor. Josefa sempre externava a J esus os temores e fraquezas que a invadiam, pois sentia ser incomensurável a responsabilidade que lhe pesava sobre os ombros, fardo demasiado grande para si. E Ele a consolava: “Não tenhas medo de nada! Escolhi-te, tão miserável, para que vejam, mais uma vez, que não busco a grandeza nem a santidade... Busco amor! Eu farei todo o resto”.7 A grande misericórdia do Coração de Jesus Fotos: www.oeuvre-du-sacre-coeur.be Nosso Senhor foi-lhe revelando grande desejo de contar com ela ara realizar seus planos: “O mundo p não conhece a misericórdia de meu Coração. Quero valer-Me de ti para dá-la a conhecer. Quero que sejas apóstolo de minha bondade e de minha misericórdia. Eu te ensinarei; tu, abandona-te”.8 Em outra ocasião, expôs-lhe o meio com que faria chegar ao mundo inteiro suas palavras: “Desejo que escrevas e guardes tudo quanto Eu te diga. Tudo será lido quando estejas no Céu. Quero servir-Me de ti, não por teus méritos, senão para que se veja como meu poder se serve de instrumentos débeis e miseráveis”.9 Por seu intermédio revela o Divino Redentor aos homens o infinito amor que nutre para com eles e seu desejo de que este amor seja retribuído também com amor: “Conheço o fundo das almas, suas paixões e a atração que sentem pelo mundo, pelo prazer. Eu sabia, desde toda a eternidade, quantas almas amargariam meu Coração e que, para muitas, meus sofrimentos e meu Sangue seriam inúteis... “Escolhi-te tão miserável, para que vejam, mais uma vez, que não busco a grandeza nem a santidade... Busco amor! Eu farei todo o resto” Sóror Josefa realizando atividades domésticas no convento de Poitiers 24 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Mas como as amava antes, as amo agora... Não é o pecado que mais fere meu Coração... o que mais o maltrata é que não venham refugiar-se nele depois de o cometerem. Sim, desejo perdoar e quero que minhas almas escolhidas façam o mundo conhecer como espero os pecadores, cheio de amor e de misericórdia”.10 Certa vez, estando irmã Josefa em adoração diante do Santíssimo Sacramento exposto, apareceu-lhe Nosso Senhor carregando sua Cruz e disse: “Josefa! Participa do fogo que devora meu Coração: tenho s ede de que as almas se salvem... Que as almas venham a Mim!... Que as almas não tenham medo de Mim!... Que as almas tenham confiança em Mim!”.11 O mundo não quer outra lei senão seu gosto... Josefa teve contínuas revelações, nas quais Jesus deixou transparecer seu ardente desejo de perdoar os pecados cometidos contra seu amável Coração, durante os três anos passados no convento de Poitiers, até que entregou sua alma a Deus, em 29 de dezembro de 1923. Naqueles primórdios do século XX, o mundo contemplara, horrorizado, as atrocidades da Primeira Grande Guerra, sem, contudo, caminhar para a conversão. Crescia o número de almas que abandonava a prática dos Mandamentos, e as gerações se iam sucedendo em progressiva ignorância das coisas de Deus. Eis o gemido de Nosso Senhor: “Olha este Coração de Pai que Se consome de amor por todos os seus filhos. Ah! Como desejo que Me conheçam!”.12 Neste sentido, é comovedor o lamento do Sagrado Coração de Jesus: “Às almas que não só não Me amam, senão que Me desagradam e Me perseguem, perguntarei: ‘Por Revelações que hoje nos enchem de esperança É preciso reconhecer que nossos dias não são melhores do que aqueles idos anos... Decorrido quase um século, inúmeros conflitos armados sacodem o mundo, enchendo o horizonte de terríveis ameaças. Sobretudo, o abandono da Lei de Deus é ainda mais terrível 1 2 Timothy Ring que Me odiais assim? Que fiz Eu para que Me persigais deste modo?’... Quantas são as almas que nunca se fizeram esta pergunta! E hoje, quando Eu a faço, terão de responder: ‘Não o sei’. “Eu contestarei por elas: ‘Não me conheceste quando criança, porque ninguém te ensinou a conhecer-Me; e à medida que crescias em idade, cresciam em ti também as inclinações da natureza viciada, o amor aos prazeres, o desejo de gozos, de l iberdade, de riquezas. Um dia ouviste dizer que para viver sob minha Lei é preciso suportar o próximo, amá-lo, respeitar seus direitos, seus bens; é necessário submeter as próprias paixões... e como vivias entregue a teus caprichos, a teus maus hábitos, ignorando de que Lei se tratava, protestaste dizendo: ‘Não quero outra lei senão o meu gosto! Quero gozar! Quero ser livre!’. “Assim foi como começaste a perseguir-Me. Entretanto, Eu, que sou teu Pai, te amo com amor infinito, e enquanto te rebelavas cegamente e persistias no afã de destruir-Me, meu Coração se enchia mais e mais de ternura para contigo”.13 “Filho querido, Eu sou Jesus, e este nome quer dizer Salvador” Sagrado Coração de Jesus Casa Monte Carmelo, Caieiras (SP) do que naquele então. Mais do que em qualquer outra época da História, os homens se afastaram do caminho do bem. Em certa passagem do Evangelho, Nosso Senhor diz aos fariseus: “Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 31-32). Deste modo, estas revelações do Sagrado Coração de Jesus devem encher-nos de esperança, pois o dulcíssimo Coração de Jesus está sempre disposto a curar nossos males, basta sabermos ouvir o apelo ao amor que, através de sóror Josefa Menéndez, Ele nos faz: “Hoje não posso conter por mais tempo o impulso de meu amor e, ao ver que vives em contínua guerra contra quem tanto te ama, venho dizer-te Eu mesmo quem sou. “Filho querido, Eu sou Jesus, e este nome quer dizer Salvador. Por isso minhas mãos estão transpassadas pelos cravos que Me sujeitaram à Cruz, na qual morri por amor a ti. Meus pés trazem os mesmos sinais e meu Coração está aberto pela lança que introduziram nele depois de minha morte. “Assim venho a ti, para ensinar-te quem sou e qual é minha Lei. Não te assustes: é de amor! E quando já Me conheças, encontrarás descanso e alegria. É tão triste viver órfão! Vinde, pobres filhos... Vinde com vosso Pai”.14 ² MENÉNDEZ, RSCJ, Josefa. Un llamamiento al amor. 3.ed. Buenos Aires: Guadalupe, 1960, p.222. 3 Idem, p.43. 7 Idem, p.286. 11 Idem, p.283. 4 Idem, p.45. 8 Idem, p.13. 12 Idem, p.499. 5 Idem, p.63. 9 Idem, p.14. 13 Idem, p.500-501. Idem, p.12-14. 6 Idem, p.67. 10 14 Idem, p.501-502. Idem, p.266. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 25 Jorge Martínez Basílica-Santuário de Santo Antônio, Messina Maria abre os corações para a conversão A uma senhora foi curada de uma longa crise de insônia. Agora, segundo ela mesma testemunha, goza do sono de uma criança. Tudo aconteceu depois de ter-se confessado com o sacerdote Arauto e ter rezado diante da Imagem do Imaculado Coração de Maria. Em Messina, um casal jovem quis procurar a Imagem peregrina para agradecer, depois de dez anos de casamento, o dom de um filho, suplicado diante da imagem peregrina um ano antes. Em síntese, a esteira de luz deixada pela missão com Maria abre os corações para a conversão a Jesus, o Salvador e Redentor. Fotos: Gustavo Kralj Missão Mariana dos Arautos na Itália tem sido acompanhada por “grandes maravilhas” operadas pela Santíssima Virgem nos corações dos fiéis que acorreram para recebê-la. Conversões sinceras, corroboradas no sacramento do perdão, reconciliações familiares e sociais, retorno à vida da Igreja, e tantos outros portentos de misericórdia operados com surpreendente eficácia pela intercessão d’Aquela que é Mãe afetuosíssima e Medianeira universal da graça. Mas não só, também a saúde tem sido restituída a quem suplicara com fé. Numa das paróquias visitadas, por exemplo, Alcamo – No dia 23 de outubro, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria chegou a Alcamo, província de Trapani, onde foi recebida com entusiasmo pelos fiéis da Paróquia de Santa Maria de Jesus. Após uma bela procissão que percorreu as ruas da cidade ela foi entronizada na igreja repleta de fiéis. 26 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 2 Jorge Martínez 1 4 5 Fotos: Gustavo Kralj 3 Momentos da Missão Mariana – Missa de encerramento do Encontro Mariano no Santuário de Santo Antônio, Fotos: Gustavo Kralj de Messina, com a participação dos cooperadores dos Arautos e coordenadores do Oratório (1); procissão em comemoração ao aniversário da última aparição de Nossa Senhora de Fátima, 13 de Outubro, na Basílica-Santuário de Santo Antônio, presidida pelo Reitor, Pe. Mário Magro (2); a Virgem Santíssima conforta os idosos da Casa das Irmãzinhas dos Pobres (3); solene coroação de Nossa Senhora na Paróquia São Nicolau de Bari, em Gazzi, Sicília, presidida pelo Pe. Pietro Scolaro (4); Pe. Maurício de Oliveira Sucena, EP, rezando a Nossa Senhora junto com as crianças da Paróquia de São Miguel, de Gragnana-Carrara (5). Visitas a colégios – Durante as missões são sempre percorridas residências, empresas, instituições e edifícios públicos de todo o território paroquial. Mas nenhum desses encontros supera em alegria a acolhida dada pelas crianças em escolas como o Instituto Antoniano Cristo Rei, de Messina, visitado no dia 12 de outubro. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 27 Fotos: Nuno Moura Retiro Espiritual em Fátima – Nos dias 7 e 8 de novembro, vários cooperadores e simpatizantes dos Arautos do Fotos: Nuno Moura Evangelho do Evangelho congregaram-se em Fátima para um retiro espiritual promovido pela instituição. O retiro foi dirigido pelo Pe. Jorge Filipe Teixeira Lopes, EP, e teve como tema “A graça divina e o amor de Deus”. Durante estes dois dias os retirantes participaram de várias palestras, círculos de estudo, momentos de meditação e adoração ao Santíssimo Sacramento, assistindo ainda diariamente à celebração da Santa Missa. Setúbal – No dia 8 de novembro, a Diocese de Setúbal despediu-se da Imagem Peregrina do Santuário de Fátima, que estava em visita a esta diocese desde o dia 25 de outubro. Ao longo desses dias, a imagem peregrina percorreu as comunidades católicas sadinas acompanhada pelo Bispo Diocesano eleito, Dom José Ornelas, cuja ordenação episcopal coincidiu com a chegada da imagem. Ao som do “Adeus de Fátima”, entoado pelo Coro dos Arautos do Evangelho, a imagem partiu para a Arquidiocese de Évora. 28 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Paróquia do Paúl do Mar Paróquia do Santo da Serra Paróquia de São João Lomba (Ribeira Brava) O Casa de Saúde Câmara Pestana - Funchal Paróquia Nsa. Sra. da Conceição - Porto Moniz Paróquia Arco de S. Jorge s Arautos do Evangelho promoveram em fins de Outubro a visita da Imagem do Imaculado Coração de Maria à Ilha da Madeira. Acolhida pelo povo madeirense com grande entusiasmo, a imagem esteve presente em várias paróquias da diocese do Funchal durante os dez dias que durou a missão. Em algumas delas fize- Paróquia do Caniço Paróquia de Cristo Rei Ponta do Sol Paróquia de São Sebastião Caniçal ram visitas aos doentes e idosos, procurando deixar a todos uma mensagem de esperança e uma maior devoção mariana. A missão teve como um dos pontos altos a solene Eucaristia na Igreja Matriz de São Jorge, incluída no programa de comemorações realizadas por ocasião do seu 500º aniversário. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 29 Fotos: Luís Fernandes e Nuno Moura Imagem peregrina visita Madeira Fotos: David Falla Colômbia – Durante a semana de recesso escolar, em outubro, estudantes do Colégio Arautos do Evangelho, de Bogotá, realizaram uma Missão Mariana em diversos municípios do Estado de Santander. Em Girón, povoado próximo de Bucaramanga, foi celebrada uma solene Eucaristia na Basílica Menor, que ficou lotada de fiéis. F 1 2 3 4 iéis do povoado mexicano de Ayojapa receberam a Imagem Peregrina com uma procissão (foto 1) até a Capela de São José da Montanha, onde o Pe. Álvaro Mejía, EP, presidiu a Santa Missa. Perto de 2 mil fiéis participaram na Celebração (foto 2). No dia seguinte, foi re- 30 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 alizado um “Dia com Maria” na Paróquia de São Pedro Apóstolo, de Maltrata, também no Estado de Veracruz (fotos 3 e 4). Ademais da recitação do Santo Rosário, Adoração ao Santíssimo Sacramento, Missa e palestras, houve sacerdotes atendendo confissões durante todo o dia. Fotos: Ronny Fischer Missões Marianas na Diocese de Orizaba Fotos: Pablo Pérez Estados Unidos – No mês de outubro, três cerimônias de Primeiro Sábado foram organizadas pelos cooperadores dos Arautos em Miami. Pela manhã, houve recitação e meditação do Rosário, seguida de Santa Missa, na Igreja do Bom Pastor (esquerda). À tarde, as cerimônias tiveram lugar na Igreja de São João Bosco e na Casa Caná (direita). 3 2 4 6 5 7 Colômbia – Jovens do setor feminino viajaram para Barranquilla (fotos 1 e 2), Monte Líbano (foto 3) e Montería. As visitas incluíram residências de doentes (foto 4) e instituições como a Universidade do Sinú, de Monteria (foto 5). Houve também um agradável encontro com o Bispo Auxiliar de Barranquilla, Dom Víctor Tamayo (fotos 6 e 7). Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 31 Fotos: Nathaly Carías López 1 Os Anjos, a estrela e a voz interior Qual manifestação do Menino Deus terá sido mais perfeita: a dos Anjos cantando “Glória no Céu” ou a da estrela que sulcou o firmamento precedendo os Reis Magos? Pe. Hugo Vicente Ochipinti González, EP N o mês de dezembro, costumam as famílias católicas erguer em algum lugar nobre da casa o presépio de Natal. Embora cada um tenha sua peculiaridade e beleza, compõem-se todos de peças essenciais próprias a recordar o excelso acontecimento da Gruta de Belém. No centro, o Menino Jesus ladeado pela Santíssima Virgem e São José, e em redor dois grupos de personagens muito característicos e de importante valor simbólico: os pastores e os Reis Magos. A eles Se manifestou o Menino Deus de modo diverso, embora com a mesma mensagem. Qual terá sido a manifestação mais perfeita? Sinais familiares aos seus destinatários Uma pessoa com grande espírito religioso opinará que foi a feita aos pastores, pois o simples fato de imaginar o céu repleto de Anjos cantando uma música celestial basta para deixar deslumbrada qualquer alma capaz de entender o que significa ouvir milhares de vozes angélicas rompendo com seu cântico o silêncio noturno de uma campina, naquela época em que não existiam fábricas nem motores nem qualquer outro ruído, a não ser o produzido pelos animais notívagos. Contudo, alguém mais afeito à consideração dos fenômenos astronômicos dará maior importância à peculiar estrela que guiou os Reis Magos. Segundo São Tomás,1 Deus a colocou não no espaço sideral, mas na atmosfera terrestre, onde ela se movia de acordo com os desígnios divinos. Um tão extraordinário astro despertaria hoje, sem dúvida alguma, a atenção dos astrônomos. Mas naquela época não existia luz elétrica, e os parcimoniosos movimentos do céu estrelado eram um dos mais grandiosos espetáculos que o homem comum podia contemplar, sem precisar para isto se afastar para longe da cidade, como ocorre nos nossos dias. Ora, conforme explica o Doutor Angélico,2 a manifestação por sinais deve utilizar os que são familiares aos seus destinatários. Portanto, como os pastores, sendo judeus, estavam habituados às revelações angélicas, quis Deus manifestar-Se a eles por meio dos Anjos. E aos Reis Magos, peritos em astronomia, através de uma estrela. O impulso de uma voz interior Qual manifestação será mais perfeita: a dos Anjos ou a da estrela? 32 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Compliquemos um pouco mais a questão: houve só duas manifestações do Menino Deus? Comenta São Tomás3 que existe uma terceira, mais perfeita que as anteriores. Pode-se imaginar que, para ser superior à aparição angélica e à estrela, deve ter sido uma cena arrebatadora; entretanto, não encontramos no presépio um terceiro grupo que atenda a essa expectativa. Qual será ele? O Aquinate continua explicando que é familiar aos justos serem instruídos pelo impulso interior do Espírito Santo, por meio do espírito de profecia, sem a intervenção de sinais sensíveis. Houve dois personagens, dois justos, dois profetas que, embora não estando representados no presépio, receberam também a manifestação divina, não de modo material e visível, mas de forma mais perfeita, a voz da graça em sua alma: Simeão e Ana, um ancião sacerdote e uma anciã profetisa. Creram ambos ardentemente na voz interior que lhes dizia que veriam o Salvador. Dois justos que, sem sinais exteriores nos quais é mais fácil crer, aderiram com a virtude da confiança a esta moção que a graça colocou em suas almas. Gustavo Kralj Deus está sempre à espera de Se comunicar conosco, mas, para ouvi-Lo, é preciso que as nossas almas permaneçam em silêncio, longe da agitação e das preocupações do mundo moderno Natividade - Igreja de Santa Maria, Waltham (Estados Unidos) Esta manifestação requer uma fé robusta que espera sem ver, crê sem duvidar, confia contra toda dificuldade que a promessa se realizará. Poderíamos afirmar que eles foram mais felizes que os pastores e os Reis Magos pois, tendo em seus braços o Verbo Encarnado, o Menino Deus, viram-No com maior profundidade, maior mérito e maior alegria. Sensibilidade à voz da graça Deus está sempre à espera de Se comunicar conosco, mas, para ouvi-Lo, é preciso que as nossas almas permaneçam em silêncio, longe da agitação e das preocupações do mundo moderno. Recolhidos em oração ou cumprindo com nossas obrigações corriqueiras enquanto o espírito permanece impostado no sobrenatural, estaremos criando as condições para que Ele fale em nosso interior. À medida que avançamos nas vias da virtude, adquirimos profundidade de espírito, nossa fé se robustece, e se fortalece nossa confiança em Deus. Alcançamos uma sensibilidade maior à voz da graça que ressoa constantemente em nosso interior, e que o padre Thomas de Saint-Laurent descreve muito bem no início de O livro da confiança: “Voz de Cristo, voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio dos corações, vós murmurais no fundo das nossas consciências palavras de doçura e de paz”.4 Peçamos à Santíssima Virgem Maria, a qual “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19), que nos abra os ouvidos da alma para essa suave e penetrante manifestação de Deus em nosso interior. ² 1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.36, a.7. 2 Cf. Idem, a.5. 3 Cf. Idem, ibidem. 4 SAINT-LAURENT, Thomas de. O livro da confiança. São Paulo: Artpress, [s.d.], p.9. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 33 O Santuário norte-americano de Nossa Senhora das Vitórias Um sonho feito realidade Nossa Senhora não é a padroeira das obras inacabadas. Quando um zeloso sacerdote resolveu erguer uma magnífica igreja para honrá-La, Ela não o desamparou... Ir. Elizabeth Veronica MacDonald, EP A Basílica e Santuário Nacional de Nossa Senhora das Vitórias, nos Estados Unidos, é inegavelmente uma obra arquitetônica de grande categoria. Sua imponente fachada está revestida de mármore branco americano e seu interior é embelezado com 46 tipos de mármores vindos da Itália. A grande cúpula de 24 metros de diâmetro era, na época de sua construção, a segunda maior do país, superada apenas pela do Capitólio de Washington. Suntuoso templo à Rainha do Céu Rico em predicados artísticos, esse santuário representa uma calorosa expressão de amor à Santíssima Virgem e desperta a piedade em todos quantos cruzam o seu limiar. O pórtico principal recebe o peregrino com uma bela imagem de Nossa Senhora das Vitórias, anúncio da que, sob um baldaquino de colunas helicoidais de mármore vermelho espanhol, preside o altar-mor. Esculpida numa peça de mármore de quase três metros de altura, essa bela cópia da célebre imagem francesa foi pessoalmente abençoada pelo Papa Pio XI antes de ser enviada para a América. Uma série de harmônicos detalhes deixa entrever as nobres dispo- sições de alma do idealizador desse recinto sagrado: o Venerável Nelson H. Baker, conhecido e querido naquele pequeno recanto do Estado de Nova York como o pai dos pobres. Foi do padre Baker a ideia de colocar imagens de Anjos — os fiéis executores da vontade da Rainha do Céu — em todos os pontos da igreja. Calcula-se que haja entre 1.500 e 2.500, no total. Devido ao seu empenho pessoal, os 200 esplêndidos vitrais retratam episódios da vida de Nossa Senhora. Ademais, querendo uma matéria ainda não tocada por mãos humanas para montar no transepto sul uma réplica da gruta de Lourdes, conseguiu uma rocha vulcânica do Monte Vesúvio. Como foi possível, na terceira década do século passado, erguer numa pequena cidade industrial essa imponente igreja designada como um dos maiores santuários da América do Norte no decreto papal de elevação a basílica menor? O que levou o abnegado sacerdote e paladino dos pobres a erguer tão suntuoso templo à Rainha do Céu? “Consagrarei minha vida ao vosso serviço” Corria o ano 1874, quando Baker, então seminarista, encontrava-se em peregrinação no Velho Continente. 34 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Ao entrar na Basílica de Notre-Dame-des-Victoires, em Paris, despertou-lhe a atenção a vivaz manifestação de piedade das pessoas ao seu redor; arrebatado pela imponderável atmosfera sobrenatural que ali reinava, caiu de joelhos diante de uma imagem de Nossa Senhora e tomou uma resolução: “Doravante, consagrarei minha vida inteira ao vosso serviço; devotarei todos os meus pensamentos e ações ao vosso nome; difundirei na América a devoção a Nossa Senhora das Vitórias”.1 Senso empresarial e filial confiança Ao regressar à sua terra natal, Nova York, os bons propósitos formulados na longínqua França foram postos à prova. A primeira incumbência que recebeu após sua ordenação sacerdotal, em 1876, foi a de assistente do pároco de Limestone Hill, atual Lackawanna. A paróquia contava com uma igreja e dois grandes institutos: um para meninos órfãos, outro para indigentes, ambos atolados em dívidas. Tendo sido nomeado, em 1882, pároco e superintendente dessas duas instituições, lançou-se decididamente à tarefa de dar-lhes uma ourladyofvictory.org Gustavo Kralj ourladyofvictory.org Gustavo Kralj Nas fotos: Vista interior e exterior da Basílica e da imagem de Nossa senhora das Vitórias que preside o altar. Ao lado, em primeiro plano, um dos muitos Anjos que ornam o templo construído pelo Pe. Baker em Lackawanna Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 35 Fotos: Gustavo Kralj sólida situação finanDois meses após a consaceira, utilizando nesgração, o Papa Pio XI elevou se empreendimena igreja à categoria de basílica to seu aguçado senso menor. empresarial e sua fiPelo fruto conhecereis lial confiança em Nossa a árvore Senhora. Conseguiu listas de nomes e endereços de senhoOs últimos anos de seu miras católicas de todo o p aís, às nistério sacerdotal foram para quais enviou milhares de caro padre Baker motivo de grantas, todas manuscritas, solicide consolo, pois ele pôde constando ajuda para o sustento tatar a graça divina atuando As atividades apostólicas do padre Baker das crianças sob os seus cuinas almas através do abençoanão arrefeceram seu anseio de edificar uma dados. Convidava-as a ingresdo ambiente do templo. esplendorosa igreja em honra a Maria sar na Associação de Nossa A bela basílica exerceu, por Retrato do Pe. Baker aos 70 anos e aspecto da Senhora das Vitórias, por ele exemplo, forte atração sobre sua obra social fundada, dando um pequeno numerosos operários do sul do contributo anual. país que, durante a crise ecoProfundamente convencido de de 1921, nas vésperas de seus 80 nômica de 1930, se dirigiram a Laque qualquer obra destinada a reanos de idade. Nesse dia, ele cele- ckawanna em busca de emprego na mediar os males sociais deve ser anbrou a última Missa na pequena e grande indústria metalúrgica ali existes de tudo um trabalho espiritual, desgastada igreja paroquial, que lo- tente. Tanto mais que, ao transpor o ele não se cansava de pregar sobre a go em seguida foi demolida para ce- umbral, eles se deparavam com um eficácia da intercessão de Nossa Sebondoso sacerdote nonagenário que der espaço ao novo edifício. nhora. “Maria tem o maior poder e Com a segurança de quem nada se interessava por suas necessidades onipotência no Céu: não apenas os pede para si próprio, dirigiu-se uma materiais e espirituais, e levava muiAnjos a obedecem, mas até o próvez mais aos seus fiéis colaborado- tos deles às águas do Batismo. prio Deus. Pensa, então, o quanto E até hoje, ao constante fluxo de res, incentivando-os a dar cada qual pode Ela fazer na Terra, sendo tão o que podia para erguer um santuá- peregrinos que visitam o santuário poderosa no Céu”2 — escreveu cerrio em honra de Nossa Senhora. Do- onde repousam seus restos mortais, nativos pequenos e grandes afluíram o padre Baker oferece uma “esmola ta vez aos seus colaboradores. espiritual”: um convite para aproxide todo o país. O padre Baker foi, portanto, um O padre Baker trabalhou intensa- mar-se de Nossa Senhora. pioneiro no uso da mala direta paA Basílica e Santuário Nacional mente em estreita colaboração com ra angariar fundos. E com exceo arquiteto franco-americano Emile de Nossa Senhora das Vitórias ilustra lentes resultados, pois em poucos Ulrich, que contava com bons con- bem o ensinamento do Divino Mesanos as instituições caritativas de tatos na Europa, e em apenas cinco tre a propósito do grão de mostarda Limestone Hill encontravam-se lianos seu sonho tornou-se realidade: (cf. Lc 17, 6; Mt 17, 20): desde que vres das dívidas e em plena expanum magnífico edifício sacro a riva- haja almas com fé, Nossa Senhora são. Formou-se no local uma verlizar em esplendor com muitos de age e agirá, produzindo maravilhas dadeira “cidade da caridade” que seus similares europeus, erguia-se de crescente beleza e ousadia, pois a perdura até hoje. vitória está sempre com Ela. ² no local da antiga paróquia. Seu sonho se torna realidade Realizara-se também outro dos seus anseios: o preço total da consAs intensas atividades apostólitrução foi pago na íntegra antes da 1 RUBERTO, René. Father Baker, Folk Hecas do padre Baker não arrefecero: Legendary Study of the Life of Nelson consagração do santuário, que se ram em seu coração o anseio de ediH. Baker, apud GRIBBLE, Richard. deu em 25 de maio de 1926. E o paficar uma esplendorosa igreja em Father Nelson Baker and the Blessed dre Baker, como de costume, esquihomenagem a Nossa Senhora das Virgin Mary: A Lifetime of Devotion. In: Marian Studies. Dayton, OH. N.62 vava-se dos elogios por tão notável Vitórias. Muito pelo contrário, es(2011); p.100. feito, dizendo com toda simplicidase ardente desejo não fez senão au2 BAKER, Nelson H., apud GRIBBLE, de que a diretora das obras tinha simentar ao longo das décadas, até op. cit., p.112. do Nossa Senhora... começar a realizar-se em 7 de maio 36 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Você sabia... Quando e como se tornaram famosos os presépios napolitanos? m 1759, o rei Carlos de Nápoles herdou a Coroa espanhola, passando a ser conhecido como Carlos III. E, da cidade do Vesúvio, ele levou para Madri a tradição de confeccionar magníficos presépios ao estilo napolitano, estimulando esse belo costume o quanto pôde no seu novo reino. Assim prestigiadas pelo poderoso Rei das Espanhas, tão curiosas representações do nascimento do Senhor entraram na sua idade de ouro. Os cenários cresceram em tamanho e as personagens secundárias se multiplicaram. Aspectos corriqueiros da Nápoles do século XVII passaram a disputar terreno com a tranquilidade da Belém evangélica. Os mais variados tipos humanos, trajes, mercados, prédios, alimentos, instrumentos musicais e armas, entre outros mil detalhes, encontraram guarida na cenografia natalina. Os presépios transformaram-se em obras de arte de grande valor e puseram em realce o contraste entre o sagrado e o profano. A serena sobriedade da Sagrada Família ficou envolvida pelo pragmatismo das personagens seculares: comerciantes absorvidos pelos Cenas populares do presépio napolitano seus afazeres, burda Basílica Santa Maria in Via, Roma gueses ocupados em lucrar, artesãos absortos nas suas causou na opinião pública o descomanufaturas. Cada um ao seu modo brimento das antigas cidades helêniafana-se no gozo da vida, alheio ao cas Herculano e Pompeia, recuperagrandioso acontecimento que emol- das do olvido em 1738 e 1748, graças dura, evocando o clima de despreo- às escavações financiadas pelo mocupação com o qual o mundo aco- narca espanhol. Com isso, a Gruta do nascimento do Senhor passou a lheu o seu Salvador. Foi também nessa época que as ser apresentada sob a forma de um ruínas da Antiguidade começaram a templo pagão prestes a ruir, em cujo servir de cadre para os presépios na- seio nascia Jesus, o Salvador do unipolitanos, refletindo o impacto que verso. Gustavo Kralj E A atmosfera do Natal é doce: as músicas, os adornos, o sabor das comidas... Até a letra de certos cânticos usa a expressão doce Jesus para referir-se ao Divino Infante. No ano de 2012, um confeiteiro da cidade siciliana de Castelbuono, chamado Nicola Fiasconaro, quis imprimir ao seu modo essa nota de doçura no costume natalino de montar presépios, usando chocolate para confeccioná-los. O modelo por ele escolhido foi a Natività de Antonello Gagini, venerada na Paróquia São João e São Paulo na cidade de Pollina, da qual fez uma cópia em pequena escala. Os personagens da Sagrada Família — Jesus, Maria e José — foram moldados em chocolate branco, e ornados com detalhes azuis e dourados, tudo em matéria comestível. O fundo da cena é também de chocolate branco, imitando o nicho original da escultura. Os irmãos Fiasconaro, proprietários de afamada confeitaria de mesmo nome, presentearam diversas Angelis Ferreira Uma curiosa forma de deixar o Natal mais doce? Presépio de chocolate de Fiasconaro pertencente ao Cardeal Paolo Romeo autoridades com sua criação, verdadeira obra de arte natalina, na qual o nosso doce Jesus apresenta-Se realmente como um Jesus doce. ² Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 37 A palavra dos Pastores Um desequilíbrio que pode levar a terríveis catástrofes Tentados a pensar que, com sua inteligência e suas capacidades, poderão encontrar solução para todos os problemas, os homens hodiernos se esquecem de que há leis inscritas por Deus na natureza. Cardeal Giovanni Battista Re Prefeito Emérito da Congregação para os Bispos N esta noite de vigília, que nos prepara para o dia em que se recorda a última das seis aparições da Virgem Maria aqui na Cova da Iria, celebramos a memória da dedicação desta basílica. Os textos litúrgicos convidam-nos a levantar os corações para Deus, debruçando-nos sobre o tema mais alto e mais belo: o amor que Deus tem por nós, até ao ponto de vir habitar em cada homem e mulher. Somos o templo vivo de Deus! Vivemos como se Deus não existisse O Evangelho, agora proclamado, levou-nos em pensamento até ao Templo de Jerusalém, onde — há cerca de dois mil anos — Cristo encontrou aquela casa de Deus transformada num “covil” de negócios e de comércio, tendo Ele expulsado os vendilhões com veemência inusual e contrária ao seu estilo habitual de comportamento. Jesus não gostou do que lá viu e encontrou. Será bom interrogarmo-nos — cada um para si — sobre a conside- ração que temos pela casa de Deus e, principalmente, sobre o lugar que Deus ocupa no nosso coração e na nossa vida. Porque o fascínio das coisas tornou-se hoje particularmente insinuante; e a corrida ao bem-estar absorve tempo e energias, deixando-nos sem tempo nem desejo de Deus. Deus passa a ser a última das nossas preocupações. E, aos poucos, esquecemo-nos d’Ele. Além disso, as grandes possibilidades da técnica geram a ilusão de conseguirmos, por nós, aquilo que antes se esperava de Deus: a humanidade ilude-se de poder, sozinha, construir o seu destino. Resultado: hoje, muitos pensam que não precisam de Deus para alcançar a felicidade. Elimina-se Deus, concluindo que não existe ou, se existe, não nos interessa. E vivemos como se Ele não existisse. A raiz de todas as crises atuais Mas, excluindo Deus da sua vida, o ser humano permanece um enigma indecifrável para si mesmo. O homem e a mulher podem conhecer muitas coisas, mesmo sem Deus, 38 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 mas, sem Deus, não se podem conhecer a si mesmos, o sentido da vida e o próprio destino eterno. Longe de Deus, o ser humano perde-se, ficando à mercê de egoísmos pessoais e interesses de grupo. Onde Deus desaparece, o homem e a mulher não se tornam maiores, porque o fundamento da dignidade e da grandeza humana é Deus. Como dizia o Papa Bento XVI, o ser humano é grande, apenas quando Deus é grande. Só onde há Deus, pode haver futuro. Sinais preocupantes de futuro em risco são as várias crises atuais: é muito sentida a crise econômica e financeira que desde há vários anos pesa sobre as famílias, com consequências muito graves; preocupante é também a crise moral que todos notamos; grave é ainda a crise social que comporta tantos problemas. Mas, na base destas crises, está uma que é a raiz de todas as outras: a carência de Deus. Este é o verdadeiro problema do nosso tempo: a falta de fé em Deus. E o pior é que esta carência de fé não é sentida como... uma carência. Sem Deus, o homem e a mulher deixam de ter princípios que iluminem o caminho da vida. Tentados a pensar que, com a nossa inteligência e as nossas capacidades, podemos encontrar solução para todos os problemas, esquecemo-nos de que existem leis, inscritas por Deus Criador na natureza das coisas, que o homem e a mulher devem respeitar. E, quando se chega a esquecer que as coisas criadas têm as suas leis intrínsecas e ineludíveis, nasce um desequilíbrio que pode levar a catástrofes terríveis. Nossa Senhora indicou o caminho que leva a Deus Deus: uma luz que arde, mas não queima. [...] Quantos acolhem esta presença tornam-se morada e, consequentemente, ‘sarça ardente’ do Altíssimo” (João Paulo II. Homilia da beatificação de Francisco e Jacinta, 13/5/2000). Nesta noite, a Virgem Mãe repete também a nós que Deus é um Pai que nos ama, quer o nosso bem, perdoa-nos porque nos ama. Ele deixa-Se também repudiar, porque respeita a nossa liberdade, mas depois fica à nossa espera e volta a procurar-nos. Nesta memória da dedicação desta basílica, peçamos a Nossa Senhora que nos alcance a graça de colocarmos Deus no centro da nossa vida e de nos sentirmos responsáveis diante d’Ele pelos nossos irmãos e irmãs. ² Homilia na véspera do aniversário da última aparição, Santuário de Fátima, 12/10/2015 Luís de Oliveira - Santuário de Fátima Onde Deus perde o lugar central que Lhe compete, também o homem perde o seu lugar. De fato, a razão mais alta da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Da desordem e dos problemas que se criaram sob o céu, neste nos- so tempo, apenas será possível sair se a humanidade levantar de novo os olhos para o Céu. Por isso, a primeira necessidade do nosso tempo é devolver Deus às consciências dos homens e reabrir-lhes o acesso a Deus. Nossa Senhora, aparecendo aqui em Fátima com o seu convite à oração, à conversão do coração e à penitência, indicou o caminho que leva a Deus e, com Ela, é possível aprender e saborear quão amável e plenificante é a presença divina em nós. Tal foi a experiência dos três pastorinhos: “Das suas mãos maternas saiu uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos em Deus como quando uma pessoa — explicam eles — se contempla num espelho. “Mais tarde, Francisco, um dos três privilegiados, exclamava: ‘Nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer’. No dia 12 de outubro, a procissão das velas precedeu à Missa na Capelinha das Aparições, presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 39 Polônia conta com 3,5 mil seminaristas Lisieux e Alençon comemoram a canonização do casal Martin Sete mil pessoas participaram do encontro realizado em honra dos pais de Santa Teresa do Menino Jesus, Santa Zélia Guérin e São Luís Martin, nos dias 24 e 25 de outubro, em Lisieux e Alençon. Entre as diversas atividades, cabe destacar a Missa Pontifical na Basílica de Santa Teresinha, presidida por Dom Jean-Claude Boulanger, Bispo de Bayeux e Lisieux; a palestra de Dom Jacques Habert, Bispo de Séez, que discorreu sobre as bem-aventuranças na vida dos Martin; e a conferência do Cardeal Philippe Barbarin, Arcebispo de Lyon, que discursou sobre a santidade na família: “É preciso cuidar do que há de mais precioso: a santidade de Deus em vós. Pelo Batismo, somos santos, pois somos incorporados no Cristo santo. Nós cuidamos da carreira, dos estudos, da saúde física, mas preocupamo-nos realmente da nossa santidade?”. É a primeira vez na História da Igreja que um casal é canonizado no mesmo dia. Além de ser modelo de caridade, sobretudo, apoiaram e encaminharam as vocações religiosas das filhas. Quatro dos filhos do casal morreram ainda crianças. As cinco filhas sobreviventes foram todas freiras. Um dos principais testemunhos da santidade de ambos veio da própria filha, Santa Teresinha: “O Senhor me concedeu um pai e uma mãe mais dignos do Céu do que da Terra”. No mês de agosto, 748 seminaristas começaram na Polônia os cursos de formação que devem culminar com a ordenação presbiteral. O número de candidatos neste ano chega aos 3.571 seminaristas em diversas fases dos estudos filosóficos e teológicos. Segundo as estatísticas da Conferência dos Reitores de Seminários Maiores, 31 candidatos começaram os estudos no seminário maior de Tarnów, que tem um total de 190 seminaristas; 31 no seminário maior de Katowice, que tem 102; e 20 no seminário de Przemyśl, que já conta com 100 estudantes. O seminário de Pelplin receberá 20 candidatos, e os de Gdańsk e Lublin, 18 candidatos entre os dois. Nas ordens religiosas estão estudando atualmente 202 candidatos. O seminário de Varsóvia, um dos maiores da Polônia, conta com 114 alunos. Dos 3.571 seminaristas, 898 são religiosos e os outros 2.672 pertencem às diversas dioceses. Congresso mundial da “Rádio Maria” Sob o lema Com Maria pelos caminhos do mundo, foi realizado na Itália o VI Congresso Mundial da Rádio Maria. Além das 74 delegações de emissoras dos cinco continentes, estiveram presentes também representantes da Letônia, Guiné, Libéria, Gana e Benim, países que em breve devem começar a transmitir. Rádio Maria conta com 26 emissoras na Europa, 23 nas Américas, 19 na África e 6 na Ásia e Oceania. 40 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Os congressistas se reuniram no Santuário do Amor Misericordioso de Collevalenza, onde está o túmulo da fundadora, a Beata Madre Esperanza. Os temas tratados se centraram no aprofundamento da identidade da emissora, enquanto mariana e voltada para a oração, evangelização e promoção humana. A Rádio Maria funciona à base de trabalho voluntário e de confiança na Divina Providência, segundo organizadores do evento. As emissoras retransmitiram os momentos mais importantes do encontro, como o Rosário, Vésperas e Santa Missa na Basílica de São Pedro. Colheita no Horto das Oliveiras No sábado 17 de outubro começou a colheita de azeitonas no Horto do Getsêmani, local onde Nosso Senhor orou na noite da Quinta-Feira Santa e foi preso. O sagrado jardim está, desde 1681, sob os cuidados dos frades franciscanos, os quais convidaram pessoas de todo o mundo para participar dos trabalhos, que demoram uma semana. A Custódia Franciscana da Terra Santa e o Patriarcado Latino de Jerusalém informaram que neste ano participaram voluntários de 15 nações. Estudos científicos revelam que as oliveiras centenárias estão todas de tal forma aparentadas que, com muita probabilidade, descendem das mesmas árvores que existiam no tempo de Nosso Senhor. Com a abundante colheita deste ano, a Abadia de Latrun produzirá um azeite que será enviado a santuários de todo o mundo, às paróquias do Patriarcado Latino de Jerusalém e às comunidades religiosas da Terra Santa. O jardim tem 1,2 mil etros quadrados e são oito as olim veiras mais antigas, algumas delas com troncos de mais de três metros de diâmetro. Um milhão de crianças venezuelanas rezam o Rosário Compostela abre novo centro de acolhida para peregrinos No dia 26 de outubro foi inaugurado em Santiago de Compostela o novo Centro Internacional de Madri acolhe congresso da Fundação Ratzinger A Universidade Francisco de Vitória, de Madri, foi o local escolhido pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger-Bento XVI, para seu V congresso, realizado entre os dias 28 e 30 de outubro, sob o lema A oração, força que muda o mundo. Na sessão de abertura, Mons. Giuseppe A. Scotti, presidente da fundação, após saudar os participantes no congresso e agradecer a presença do Arcebispo de Madri, Dom Carlos Osoro Sierra, e do Núncio Apostólico, Dom Renzo Fratini, aplicou a figura da “terra árida e sequiosa, sem água”, da qual fala o Salmo 62, ao homem que vive sem Deus. “Um homem que procura, certamente, mas que é incapaz de colocar seu coração e sua mente em harmonia com a men- te e a força criadora do Altíssimo” — acrescentou. Participaram também do evento, entre outras personalidades, o Arcebispo de Valladolid e Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Cardeal Ricardo Blázquez, o Reitor da Universidade Francisco de Vitória, Daniel Sada, e o Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Luis Francisco Ladaria, SJ. O Cardeal Blázquez glosou em sua intervenção a figura de Santa Teresa de Jesus e fez um preito de gratidão ao Cardeal Ratzinger, com quem conviveu desde os tempos em que era professor na Alemanha. Dom Fratini, por sua parte, lembrou que o crescimento da Igreja depende da oração, que é caridade e esperança em ato. www.fondazioneratzinger.va O Conselho Nacional de Leigos da Venezuela organizou a X Jornada Um milhão de crianças rezando o Rosário pela união e pela paz. A iniciativa, que surgiu com o apoio de muitos voluntários, acabou por atingir todo o território nacional e se estendeu a outros países, segundo os organizadores. Para conseguir a participação de maior número de crianças, acompanhadas por parentes e professores, o ato foi dividido em três dias e três locais diferentes: 16 de outubro, nos colégios; sábado, 17 de outubro, nas paróquias; e domingo, dia 18, em família. A Missa principal foi celebrada na Paróquia Santa Rita de Cássia, na capital, Caracas. Os responsáveis aproveitaram a ocasião para organizar atividades teatrais e musicais que facilitassem às crianças a compreensão da necessidade de rezar diariamente. Em Barinas, foram ademais visitadas as crianças e jovens do Hospital Luis Razetti e do Hospital Materno Infantil. O Vigário-geral da diocese, Pe. Andrés Eloy Bastidas Rangel, aproveitou a oportunidade para ministrar a Unção dos Enfermos. Em San Fernando de Apure, estudantes do Centro de Formação Familiar Cristo Rei, da Escola Avelina Duarte e da Universidad de la Seguridad se uniram na Avenida Miranda para recitarem o Santo Rosário. Acima, Dom Luis Francisco Ladaria concedendo uma entrevista e Dom Carlos Osoro presidindo a Eucaristia na Catedral. No alto da página, a mesa presidencial da sessão de abertura Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 41 Acolhida aos Peregrinos. Além de um espaço de atenção multilíngue, o centro conta com capela, sala de eventos e uma biblioteca especializada no santuário e diversas rotas de peregrinação. O traslado da atual Oficina do Peregrino para o novo centro será feito de forma paulatina. As novas instalações, que devem estar em pleno funcionamento em inícios de 2016, fizeram-se necessárias por causa do incremento no número de peregrinos, que, segundo o Presidente da Comunidade autônoma da Galícia, Alberto Núñez Feijóo, bateu “todos os recordes”: no ano de 2015, até o momento desta publicação, tinham chegado a Compostela 250 mil peregrinos, cifra que supera até os anos jubilares do santuário. Mais de 3 mil jovens participam de congresso em Brasília Nos dias 17 e 18 de outubro, teve lugar no colégio dos irmãos maristas em Brasília, um congresso organizado pelo Setor Juventude da arquidiocese, no qual participaram mais de 3 mil jovens. Houve palestras para aprofundamento espiritual, workshops, momentos de oração, peças teatrais, Celebrações Eucarísticas e Adoração ao Santíssimo Sacramento. O congresso teve como tema Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. Em sua palestra sobre Fé e razão, Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida, Bispo Auxiliar de Brasília, explicou como a razão, além de nos levar a ter fé, ajuda a conhecer a Nosso Senhor e ter mais amor por Ele, e incentivou os presentes a dar e recolher caridade e a “aprender a doçura de perdoar”. Por sua vez, Dom Marcony Ferreira, também Bispo Auxiliar, tratando sobre a misericórdia, comentou: “A misericórdia não é só perdoar, é saber como perdoar, como ter paciência com o outro, como sempre dar uma chance para o outro. Por isso mesmo, nós temos que aprender com Produzido por mãos consagradas A ma Humanitate, da qual depende DeClausura, esta instituição “contribui com a manutenção dos mosteiros, apoiando a comercialização dos produtos conventuais, mas respeitando os ritmos das religiosas”, porque um problema com o qual elas se deparavam ocasionalmente era o pedido súbito de enormes quantidades de produtos, impossíveis de fornecer sem perturbar a vida conventual. DeClausura visa também canalizar, através de sua página web, doações de particulares para esses mosteiros, além de sensibilizar sobre a vida de clausura e sua razão de ser, mostrando a riqueza e beleza da vida contemplativa. O site recebe constantemente mensagens pedindo, além de produtos monásticos, orações por alguma intenção particular. Elas são encaminhados às religiosas, e depois “tentamos enviar a quem pediu orações a confirmação de que ele foi atendido”, comentou de Asís. Produtos monásticos oferecidos na página www.declausura.org www.declausura.org organização DeClausura (www.declausura.org) foi criada para dar a conhecer os conventos de clausura espanhóis e colaborar com seu sustento por meio da comercialização de produtos feitos pelas religiosas, que vão desde tecidos e bordados até sabonetes, bolos, embutidos, porcelanas, cerâmicas e imagens. Para melhor divulgar este artesanato, realizou-se em Madri, nos dias 23 e 24 de outubro, uma amostra especial de produtos monásticos, para a qual contribuíram 70 comunidades de toda a Espanha. Nas palavras de Agustín de Asís, secretário-geral da Fundação Sum- 42 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Deus porque Ele sempre tem paciência conosco. Olhe para trás e veja quantas vezes você errou, mas quantas vezes Deus perdoou, e o faz sem cobrar”. Conferência Episcopal Espanhola apresenta novos lecionários V er o deserto do Atacama no Chile, um dos mais áridos do mundo, coberto por um manto de flores de cor lilás é um raro e belo espetáculo que, não sem motivo, tem chamado a atenção de grande número de meios de imprensa internacional. O jornal Le Figaro comentou: “Vales rochosos, planícies áridas rachadas pelo calor, extensões de sal habitadas por flamengos rosas, gêiseres endiabrados, cumes de vulcões cobertos de neve. Nada do clima reinante [...] faz prever um quadro tão surpreendente. [...] Quando se chega até o local, de frente às encostas das montanhas enevoadas, crê-se avistar rastros de neve. Na realidade, um imenso tapete de flores brancas se estende a perder de vista. Brancas: uma ilusão. Mais se avança, mais a cor muda. De branco passa a amarelo; de amarelo, a azul; e finalmente, a cor de malva com matizes rosa”. Floradas como esta acontecem a cada seis ou sete anos e podem durar de setembro até dezembro. A última vez que o fenômeno ocorreu com semelhantes proporções foi em 1997. learnchile.cl A Conferência Episcopal Espanhola anunciou no dia 21 de outubro a publicação de três novos lecionários para a celebração da Santa Missa. Na apresentação dos livros litúrgicos feita por Dom Julián López Martín, Bispo de León, responsável pela edição na qualidade de Presidente da Comissão Episcopal de Liturgia, se explica que a obra “é um ato de magistério colegial dos Bispos espanhóis em benefício de todos os fiéis cristãos, ao oferecer-lhes o pão da Palavra de Deus de forma mais próxima e compreensível, sem detrimento da fidelidade da versão ao conteúdo e à expressão literal originais”. Explosão de flores no deserto do Atacama Cem mil moedas com a efígie de Santa Laura Montoya Primeira colombiana canonizada, Santa Laura Montoya Upegui foi homenageada pelo Governo da Colômbia através do Banco da República, com a emissão de moedas comemorativas que passaram a estar disponíveis no dia 23 de outubro, dois dias depois de sua festa litúrgica. Longas fileiras se formaram para adquirir os primeiros exemplares das 100 mil moedas cunhadas. A apresentação do modelo foi feita em julho no município de Jericó, Estado de Antioquia, cidade natal de Santa Uma das impressionantes fotografias do deserto do Atacama florido reproduzidas em diversas páginas da internet Laura. Durante esse ato, José Darío Uribe, gerente geral do banco, explicou: “Laura Montoya foi mestra, literata e etnógrafa. Hoje a honramos como ilustre Santa colombiana. Madre Laura é um exemplo de fé, vida, valores e inspiração. É uma honra celebrar hoje sua memória”. Encontro do Terço dos Homens em Juiz de Fora Na Catedral de Juiz de Fora realizou-se no dia 18 de outubro o VII Encontro Arquidiocesano do Terço dos Homens. Após a recitação do Santo Rosário, Dom Gil Antônio Moreira, Arcebispo Metropolitano, presidiu uma Eucaristia, concelebrada pelo Pe. José Maria Novaes e Pe. Danilo de Castro. Na homilia, Dom Gil discorreu sobre a santidade do casal São Luís Martin e Santa Zélia Guérin M artin, canonizados nesse mesmo dia. Destacou também a importância de todo cristão viver com humildade: “Jesus não está preocupado com pessoas que ocupam cargos importantes na Igreja e sim Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 43 com aqueles que utilizam seu cargo para servir. A primeira caraterística de quem tem fé em Deus é a humildade, e esta é a marca de todo cristão”. Argentinos rezam Rosário em honra de Maria Auxiliadora Sob o lema A pátria precisa de nós, rezemos por ela, no dia 27 de outubro foi recitado, na Praça José Rafael Hernández da capital federal, o Rosário pela Argentina, que este ano celebra sua 13ª edição. A oração foi dirigida pelo Bispo Auxiliar da Arqui- diocese de Buenos Aires e Vigário da Zona Belgrano, Dom Alejandro Daniel Giorgi, que, ato contínuo, presidiu uma solene Celebração Eucarística na Paróquia Imaculada Conceição. O Rosário pela Argentina começou na década de 2000 por iniciativa de diversos grupos e movimentos eclesiais, coordenados pelas Ex-alunas das Filhas de Maria Auxiliadora. Ele está inspirado no decreto do Poder Executivo Nacional 26.888 do ano 1949, que no seu artículo 3 afirma: “Todos os dias 27 de outubro, o povo argentino h onrará a Maria Auxiliadora como Padroeira dos Campos Argentinos”. Segundo os organizadores, a “intenção é fazer memória deste decreto presidencial, quase esquecido, e louvar nossa Mãe com a recitação do Rosário e a Missa”. No início do evento, a imagem de Nossa Senhora foi recebida com cantos e flores, precedida por uma escolta de gaúchos a cavalo e alunos de diversos colégios católicos da capital, e uma banda militar executou o Hino Nacional. Valência inaugura Ano Jubilar dedicado ao Santo Cálice P admiração, assombro e alegria incontenível a Igreja adora, contempla, participa do mistério da Fé, a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Sacramento do Altar, que evoca como poucas realidades o Santo Cálice”. De acordo com a tradição, o Santo Cálice foi enviado para a Espanha por São Lourenço durante a perseguição do imperador Valeriano, em meados do século III, para evitar que caísse em mãos dos pagãos. Desde o ano 1437 esta relíquia é venerada na Catedral de Valência, a cujo cabido foi entregue pelo rei Afonso V de Aragão, o Magnânimo. O Papa Bento XVI celebrou com ele a Santa Missa durante o Encontro Mundial das Famílias, em 9 de julho de 2006. Agência AVAN. ara inaugurar o primeiro Ano Santo Jubilar dedicado ao Cálice da Santa Ceia, o Cardeal Antonio Cañizares Llovera presidiu uma solene Eucaristia na Catedral de Valência, tendo junto ao altar a preciosíssima relíquia, que foi levada em procissão desde a capela onde habitualmente se venera. No final da cerimônia, seis réplicas oficiais do Santo Cálice, com o selo da arquidiocese, foram entregues a paróquias “que se destacaram por ter restaurado seus templos, pelo seu labor pastoral ou por algum motivo especial”. Em carta pastoral anunciando a abertura do ano jubilar, Dom Cañizares afirmou: “Não podemos silenciar nem ocultar o grande mistério da Fé: a Eucaristia, o mistério da Última Ceia na qual se antecipa o mistério da Cruz, a entrega de Jesus até o extremo, e agora se eterniza até o fim dos séculos. [...] Com Fotogramas do vídeo da cerimônia difundido pelo Arcebispado: o Cardeal Cañizares incensa o Santo Cálice, a nave principal da Catedral repleta de pessoas e, em destaque, o cardeal durante a homilia. 44 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Presépio com som, luz e movimento À semelhança de anos anteriores, os Arautos do Evangelho promovem em Guimarães um presépio com som, luz e movimento. Em cada sessão os visitantes poderão contemplar a história da salvação através de uma exposição ani- mada, que alia arte e tecnologia como forma de evangelização. O presépio estará aberto ao público de 5 de Dezembro a 15 de Janeiro, das 17h às 20h, no Colégio Arautos do Evangelho, na rua de Sezim em Santiago de Candoso-Guimarães. Para mais informações ou marcação de outros horários, contacte: 938.864.953 Coleção C O inédito sobre os Evangelhos omposta de sete volumes, esta original obra de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, tem o mérito de pôr a teologia ao alcance de todos, por meio de comentários aos Evangelhos dos domingos e solenidades do ano. Publicada em quatro línguas – português, italiano, espanhol e inglês – com mais de 250 mil exemplares publicados dos diversos volumes, a coleção tem encontrado calorosa aceitação pela sua notável utilidade exegética e pastoral. Domingos do Advento, Natal, Quaresma e Páscoa – Solenidades do Senhor no Tempo Comum Vol. I (Ano A) – 462 págs. – 20€ Vol. III (Ano B) – 464 págs. – 20€ Vol. V (Ano C) – 448 págs. – 20€ Domingos do Tempo Comum Vol. II (Ano A) – 496 págs. – 20€ Vol. IV (Ano B) – 544 págs. – 20€ Vol. VI (Ano C) – 496 págs. – 20€ Solenidades e festas – Tríduo Pascal Vol. VII (Anos A, B e C) – 432 págs. – 20€ A coleção O inédito sobre os Evangelhos é uma publicação da Libreria Editrice Vaticana Pedidos pela internet ([email protected]) ou pelo telefone 937 940 809 Volumes em formato brochura (157x230mm) com impressão colorida em papel couchê Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 45 História para crianças... ou adultos cheios de fé? Queres me entregar teu coração? Os meninos se juntaram em volta do misterioso objeto. Até Luís, curioso, aproximou-se. O que conteria aquela pequena arca? Ir. Beatriz Alves dos Santos, EP E nquanto assistia à aula de matemática, o pensamento do pequeno Luís voava por outras paragens: — Hoje é o último dia de aula e em breve será o Natal! No ano passado ganhei muitos presentes... deliciei-me com comidas estupendas... visitei muitos lugares durante as férias... Como será neste ano? O toque do sino encerrou as aulas e todos se despediram, desejando-se um Santo Natal. Algumas crianças viviam na pequena aldeia que distava alguns quilômetros do colégio, os quais costumavam percorrer juntos. — É melhor irmos para casa já, pois está quase escurecendo — aconselhou Roberto aos amigos. — Que tal irmos pela trilha dos ipês? — sugeriu Pedro. — Ah, não! É muito longa, poeirenta e... perigosa! — Deixe de ser medroso, Filipe. É uma boa ideia e poderemos nos divertir! — concordou Marcos. Entre pedras e buracos iam eles pela trilha, conversando: — José, o que fará neste dezembro? Logo será o Natal e decerto sua família viajará para descansar, não é? — indagou Luís. — Não, não! Minha família é muito católica e desde bem pequeno aprendi que devemos preparar a alma para receber o Menino Jesus. No Natal, à meia-noite nos reuniremos na Igreja de Santa Inês para a Missa do Galo. — O quê? Você ainda vai à Missa do Galo? Minha mãe sempre insiste que a acompanhe, mas não tenho forças para levantar-me da cama... — Luís, você não vai adorar o Menino Jesus que se fez Homem para nos salvar? — perguntou Pedro surpreendido. — Quem garante que Ele existe? Eu nunca O vi!... Eu não acredito! A única coisa boa do Natal são as comidas e os presentes! — Você não tem vergonha de dizer isto, Luís? Não foi o que sua 46 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 mãe lhe ensinou! Conhecemos dona Genoveva e ela é muito piedosa! O que lhe aconteceu? — contestou Marcos. — Parem de me fazer estas perguntas! Apressando o passo, Luís se adiantou nervoso e pensativo. A noite ia chegando e só se ouvia pela mata o cri-cri dos grilos e o chiar das cigarras... De repente... Pam, pam! — Ai! Ai! Ajudem-me! — gritou André. — De novo, André? Você sempre anda distraído e vive caindo pelos caminhos... — replicou Filipe, mal-humorado. — Desta vez não foi por distração: tropecei em alguma coisa. Os meninos se juntaram em volta de André. Até Luís, curioso, aproximou-se. — Que será isto? — perguntou Marcos. — Acho que é só um galho de árvore — opinou Pedro. — Não! Parece uma caixa... Será um tesouro? Vamos, abra! — insistiu Luís. Desenterraram o misterioso objeto: era uma pequena arca coberta Ilustrações: Edith Petitclerc — Ai, meu Deus! O que mamãe quererá a esta hora? Tudo estava quieto... — Acho que foi um sonho... — pensou Luís, entregando-se ao sono. Alguns minutos depois, outra batida... Luís pôs-se de pé e aguçou o ouvido. Eis que o ruído vinha de seu armário! — Que estranho! O toque sai de dentro do armário. E lá está o Menino Jesus... Não pode ser! Mais uma vez começava a adormecer, quando ouviu a mesma batida. Vencido pela insistência, Luís não resistiu mais, abandonou a cama e aproximou-se do móvel com certo receio... Novos toques dissiparam qualquer dúvida. Colou o ouvido à porta e escutou uma voz infantil que dizia: pela poeira da estrada. Abriram-na — Por que me rejeitas? Não querapidamente e... oh, maravilha! res me entregar teu coração? — Que bela imagem do Menino O semblante de Luís mudou. Jesus! Vejam os detalhes: são de ouCaindo de joelhos, começou a choro!! — surpreendeu-se Pedro. rar... No entanto, não demorou mui— É a mais bonita que eu já vi! — to para sua tristeza transformar-se exclamou Marcos. em alegria. Tomado de entusiasmo, Estavam estupefatos com a perabriu o armário, tomou com venefeição do Menino: portava uma túração o Menino Jesus e correu para nica azul e ouro, seus cabelos eram junto da mãe. Dona Genoveva, que castanho-claros e os olhos azuis, o passara a noite desperta e triste, rerosto gracioso era iluminado por um zando pelo filho, teve um olhar penetrante. Fez-se sobressalto ao vê-lo entrar um instante de silêncio... gritando em seu quarto: — Com quem ela ficará? — Mamãe, mamãe! — perguntou Pedro. Carregando a formosa — Comigo, claro! Fui eu imagem, Luís contou-lhe quem tropeçou nela! — detudo e, com a voz entrecorcidiu André. tada pela emoção, concluiu: — Não, não! Todos nós — Agora sei que Ele passamos por aqui! Você existe! Sim, porque O ouvi só caiu por ser o mais disem meu interior! traído... Vamos tirar a sorNaquele Natal, dona Gete para saber com quem o noveva não foi sozinha à Menino Jesus quer ficar Missa do Galo e Luís relata— decretou Roberto e eles va a quem encontrava como concordaram. tinha sido sua conversão, Eis, porém, que tal dita para que as divinas palavras caiu sobre Luís... do Menino Jesus tocassem — Puxa! Justo quem não todos os corações, como haacredita no Menino Jesus?! Dona Genoveva, que passara a noite desperta e triste, teve um sobressalto ao vê-lo entrar viam tocado o seu! ² — reclamou André — Se não a quiser, eu a recebo... Será uma grande graça ficar com ela! De fato, Luís não acreditava no Menino Jesus, mas aceitou-a com um misterioso sorriso... Caminharam mais um pouco e alcançaram a aldeia. Dona Genoveva, apreensiva, aguardava o filho que demorava. Assim que a viu, o pequeno Luís mostrou-lhe a delicada imagem que trazia nas mãos: — Mamãe, hoje viemos pela trilha dos ipês. E veja o que encontramos no caminho: tem adornos em ouro! Vou vendê-la por um bom preço... No Natal, certamente haverá algum comprador! — Não, meu filho. Isto é um sinal do Menino Deus para que sejas mais fervoroso e regresses à Igreja. Desde que teu pai faleceu abandonaste a vida de piedade e temo pelo teu futuro. — Vou pensar e amanhã conversaremos... Luís tomou a imagem e trancou-a em seu armário. Cansado pelo dia cheio de atividades, jantou e foi dormir. No meio da madrugada, ele ouviu uma batida suave à porta. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia 1. Santa Florência, virgem (†séc. IV). Convertida por Santo Hilário de Poitiers durante o seu desterro na Ásia, seguiu-o de regresso à França e viveu como eremita em Comblé, França. 2. Beato João Slezyuk, Bispo e mártir (†1973). Exerceu infatigavelmente seu ministério de forma clandestina na Eparquia de Stanislaviv, Ucrânia. Foi preso várias vezes e enviado a campos de trabalho forçado. 3. São Francisco Xavier, presbítero (†1552 Sanchoão - China). Beato Eduardo Coleman, mártir (†1678). Falsamente acusado de conspiração contra o rei Carlos II, foi enforcado e esquartejado em Tyburn, Inglaterra, por ter abraçado a Fé Católica. 4. São João Damasceno, presbítero e Doutor da Igreja (†c. 749 Mar Saba - Israel). Santo Anónio, Bispo (†1075). Homem de valor e talento, gozou de prestígio nos meios eclesiásticos e civis, no tempo do imperador Henrique IV. Fundou igrejas e mosteiros na Diocese de Colônia, Alemanha. 5. Santos Frutuoso, Martinho de Dume e Geraldo, Bispos. Santa Crispina de Tagora, mártir (†304). Mãe de família degolada em Tabessa, Argélia, por recusar-se a sacrificar aos ídolos no tempo de Diocleciano e Maximiano. 6. II Domingo do Advento. São Nicolau, Bispo (†séc. IV Mira - Turquia). Beato João Scheffler, Bispo e mártir (†1952). Húngaro de nascimento, foi nomeado Bispo de Satu Mare, Romênia. Morreu preso em Bucareste. 7. Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja (†397 Milão - Itália). Santa Fara, abadessa (†657). Durante quarenta anos, foi abadessa do mosteiro em Faremoutiers, França, fundado por ela num terreno herdado do pai. 8. Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria. Santo Eutiquiano, Papa (†283). Governou a Igreja depois de São Félix I. Foi o 27º sucessor de São Pedro. 9. São João Diogo Cuauhtlatoatzin (†1548 Cidade do México - México). Beato Libório Wagner, presbítero e mártir (†1631). De origem luterana, converteu-se ao Catolicismo e foi ordenado sacerdote. Foi torturado e morto em Marienberg, Alemanha, durante a Guerra dos Trinta Anos. 10. São Gregório III, Papa (†741). Incentivou a pregação do Evangelho aos germanos e lutou contra os iconoclastas, socorreu os pobres e favoreceu a vida religiosa. 11. São Dâmaso I, Papa (†384 Roma). Beato Franco Lippi, eremita (†1292). Perdeu a vista sendo um jovem militar de vida libertina e, arrependido, viajou em peregrinação a Santiago de Compostela, onde ficou curado. Regressou à Itália, tornando-se eremita carmelita. 12. Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina. São Finiano, abade (†549). Fundou vários mosteiros na Irlanda, entre os quais o de Clonard, onde foi abade e faleceu. 13. III Domingo do Advento. 48 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Santa Luzia, virgem e mártir (†c. 304/305 Siracusa - Itália). Santa Otília, virgem (†séc. VII). Primeira abadessa do mosteiro de Hohenbourg, França, fundado pelo duque Aldarico, seu pai. 14. São João da Cruz, presbítero e Doutor da Igreja (†1591 Úbeda Espanha). São Nimatulácio al-Hardini, presbítero (†1858). Sacerdote da Ordem Libanesa dos Maronitas, dedicou-se aos estudos teológicos, à formação dos jovens e ao trabalho pastoral. Faleceu em Klifane, Líbano. 15. Beato Marino, abade (†1170). Promoveu o esplendor da Liturgia na abadia beneditina de Cava de’ Tirreni, Itália, e foi admirável na fidelidade ao Papa. 16. Beato Sebastião Magi, presbítero (†1496). Religioso dominicano, pregou o Evangelho na região de Gênova, Itália, e zelou pela observância regular nos conventos. 17. São João da Mata, presbítero (†1213). Junto com São Félix de Valois, fundou em Cefroid, França, a Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos. 18. São Malaquias, profeta. Após o desterro da Babilônia, anunciou o grande dia do Senhor e a sua vinda ao Templo. 19. Beato Guilherme de Fenolis, religioso (†c. 1200). Foi dos primeiros religiosos da Cartuxa de Casotto, Itália, onde viveu como irmão leigo. 20. IV Domingo do Advento. Beato Vicente Romano, presbítero (†1831). Sendo pároco em Torre del Greco, Itália, dedicou-se à educação das crianças e a __________________ Dezembro dora do Instituto das Filhas de Maria Imaculada, em Madri, Espanha. 27. Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. São João, Apóstolo e Evangelista. Beata Sara Salkahazi, virgem e mártir (†1944). Virgem da Congregação das Religiosas da Assistência, fuzilada na Hungria junto ao rio Danúbio. Reprodução 28. Santos Inocentes, mártires. Matança dos Inocentes, por Giotto di Bondone - Cripta da Basílica Papal de São Francisco, Assis (Itália) atender as necessidades dos operários e pescadores. em êxtase. Faleceu em Valência, Espanha, aos 63 anos. 21. São Pedro Canísio, presbítero e Doutor da Igreja (†1597 Friburgo - Suíça). Beato Domingos Spadafora, presbítero (†1521). Religioso dominicano e ativo pregador. Faleceu em Monte Cerignone, Itália. 24. Beato Bartolomeu Maria dal Monte, presbítero (†1778). Pregou ao povo cristão e ao clero a Palavra de Deus em muitas regiões da Itália. Fundou a Pia Obra das Missões. 22. Santo Hungero, Bispo (†866). Zeloso pastor da Diocese de Utrecht, Holanda, transtornada pela invasão dos normandos. 23. São João de Quenty, presbítero (†1473 Cracóvia - Polônia). Beato Nicolau Factor, presbítero (†1583). Sacerdote franciscano que, abrasado de amor a Deus, foi várias vezes arrebatado 25. Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Beata Antónia Maria Verna, virgem (†1838). Fundadora da Congregação das Irmãs da Caridade do Imaculado Coração de Ivrea, em Turim, Itália. 26. Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir. Santa Vicenta Maria López Vicuña, virgem (†1890). Funda- Santa Catarina Volpicelli, virgem (†1894). Fundadora em Nápoles, Itália, do Instituto das Escravas do Sagrado Coração. 29. São Tomás Becket, Bispo e mártir (†1170 Cantuária - Inglaterra). São Davi, rei e profeta. Filho de Jessé de Belém. Trasladou a Arca da Aliança do Senhor para a cidade de Jerusalém. De sua estirpe nasceu o Salvador. 30. Beato João Maria Boccardo, presbítero (†1913). Fundou a Congregação das Irmãs Pobres Filhas de São Caetano, em Pancalieri, Itália. 31. São Silvestre I, Papa (†335 Roma). São João Francisco de Régis, presbítero (†1640). Jesuíta que, pela pregação e celebração do Sacramento da Penitência, renovou a Fé Católica entre os fiéis de La Louvesc, França. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 49 Como um toque de sino... No Natal, o Menino Jesus nos convida ao recolhimento e pede que deixemos de lado as atividades que d’Ele nos afastam, para renovarmos nossa vida espiritual. Ir. Adriana María Sánchez García, EP B lém! Blém! Blém! Toca o sino da capela do palácio. Acompanham-no outros maiores, bem como os das igrejas dos arredores. Dali a pouco, os bordões das basílicas também começam a soar. Por toda a redondeza o som se espalha, como um belo carrilhão, proclamando a grande notícia: nascera o primogênito real! Se era assim que em muitos reinos do passado se anunciava a ricos e pobres, a grandes e pequenos, a chegada de um novo herdeiro, bem poderíamos falar, por analogia, de um sino magnífico que tocou na História marcando o fim da Antiga Lei e o começo da era da graça, ao nascer o Salvador, o Filho Unigênito de Deus! E até hoje, ao comemorarmos tão magno acontecimento, soam novas badaladas deste místico sino convidando-nos acontemplar um dos maiores mistérios da nossa Fé. Através dos apelos da graça, Deus fala conosco a todo instante. Porém, só O ouvimos “no recolhimento, na paz e no silêncio. Sua voz é tão suave que nosso interior deve estar completamente em silêncio; é uma doce melodia. A linguagem de satanás é barulhenta: ela é agitada, impulsiva, perturbadora e abrupta”.1 Se criarmos as condições para escutar sua voz, Deus nos convidará a amá-Lo mais, seja infundindo em nossos corações o desejo de praticar a virtude ao ver um bom exemplo, seja enriquecendo-nos com sentimentos de piedade ao entrarmos num ambiente sagrado, seja fazendo ecoar em nosso interior palavras de repreensão por alguma má atitude ou de advertência diante de ocasiões próximas de pecado. 50 Flashes de Fátima · Dezembro 2015 Quando nos sentimos angustiados, tomados pela agitação e sem serenidade de alma, podemos ter a certeza de que não é uma voz sobrenatural que está falando conosco. A dissipação, a velocidade das máquinas e o espírito de frenesi e de competição, que dominam o mundo moderno, impedem-nos de entrar em contato com Deus. Pior, fazem com que nos esqueçamos d’Ele. É ao oposto deste estado de espírito que o Menino Jesus nos convida no Natal. Ele nos atrai ao recolhimento, pede que deixemos de lado as atividades que d’Ele nos afastam e renovemos nossa vida espiritual. Que, como um toque de sino, o término deste ano anuncie a chegada de uma nova etapa de nossa existência, na qual fiquem para trás os momentos em que, fechados às moções da graça, nos deixamos levar por nossos impulsos e más inclinações. Peçamos, não só ao Divino Infante, mas a todos os Anjos e Santos do Céu, que a partir deste Natal eles nos façam ouvir sua voz e adoremos com especial afeto o Redentor posto no Presépio, lembrando-nos de que este terno Menino está disposto a renascer em nosso íntimo para transformar-nos por inteiro. Ele que, enquanto Deus, nos criou a cada um de nós, sem nada termos feito para merecê-lo, e Se faz Homem na Noite Santa para nos redimir. Comuniquemo-nos com Ele por meio da oração e estejamos atentos às suas palavras. “Oxalá que ouças hoje a sua voz: não endureçais os vossos corações” (Sl 94, 7-8), nos recorda o Salmo. Abramos nossa alma para que o Menino Jesus aí nasça e permaneça para sempre. Assim, também nós seremos como sinos, a ressoar o seu amor e a despertar, com nosso exemplo, bons sentimentos naqueles que nos cercam. ² 1 BÉLANGER, Dina. The Autobiography. 3.ed. Quebec: Religious of Jesus and Mary, 1997, p.101. Dezembro 2015 · Flashes de Fátima 51 Francisco Lecaros Adoração dos pastores Catedral de Prato (Itália) E stava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam. Mas a todos aqueles que O receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus (Jo 1, 10-13). Alejandro López Menino Jesus revestido com o hábito dos sacerdotes Arautos Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Caieiras (SP)