Número 151
Dezembro 2015
O Senhor está próximo
SumáriO
Flashes de
Fátima
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Ano XVII  nº 151 - Dezembro 2015
Escrevem os leitores ����������������������������������������
4
Duas visualizações, duas eternidades...
uma só Alegria! (Editorial). . . . . . . . . . . . . . . .
5
A voz dos Papas –
Abraão intercede por
Sodoma
Um sonho feito realidade
......................
34
Você sabia que...
........................
6
......................
37
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
Conselho de redacção:
Ir. Guy Gabriel de Ridder, EP; Ir. Juliane
Vasconcelos A. Campos, EP; Diác. Luis
Alberto Blanco Cortés, EP; Ir. Mariana
Morazzani Arráiz, EP; Severiano
Antonio de Oliveira
Editor:
Associação dos Custódios de Maria
Av. António Augusto de Aguiar, 30 - 6º Dto.
1050-016 Lisboa
I.C.S./D.R. nº 120.975
Dep. Legal nº 112719/97
Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959
Comentário ao Evangelho –
“Alegrai-vos”, mas... como?
........................
8
A importância do exemplo
......................
Com a colaboração da
Associação Privada Internacional
de Fiéis de Direito Pontifício
Arautos do Evangelho
Apóstolo da bondade
de Jesus
www.arautos.pt / www.arautos.org
E-mail: [email protected]
......................
16
22
A palavra dos Pastores –
Um desequilíbrio que pode
levar a terríveis catástrofes
......................
38
Aconteceu na Igreja e
no mundo
......................
40
História para crianças...
Queres me entregar
teu coração?
......................
46
Assinatura anual: 24 euros
Impressão e acabamento:
Multiponto, S.A.
Rua de D. João IV 691/700
4000-299 - Porto
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
Membro da
Arautos no mundo
......................
Tiragem: 39.000 exemplares
26
Os Anjos, a estrela e a voz
interior
......................
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
Os Santos de
cada dia
32
......................
48
Como um toque de sino...
......................
50
E screvem
Do Arcebispo de Olinda e Recife
Regularmente, temos recebido a
revista mensal dos Arautos do Evangelho, que repassamos à Comissão
Arquidiocesana de Pastoral para a
Comunicação, a fim de enriquecer
a sala de leitura e imprensa da PASCOM e servir de subsídio para nossas postagens.
Agradeço a cordial atenção de
incluir-nos entre os destinatários da
referida publicação, pela qual mantemo-nos informados acerca dos
trabalhos dos Arautos do Evangelho e, em sinal de gratidão, invoco sobre seus membros e benfeitores o olhar misericordioso do Senhor, que os abençoe e guarde de
todo mal.
Dom Antônio Fernando
Saburido, OSB, Arcebispo
Metropolitano de Olinda
e Recife – Brasil
Apreço por um homem fiel
A minha saudação fraterna no
amor do Pai, que nos une na Igreja
de seu Filho Jesus.
Foi com imensa alegria e gratidão ao Senhor que recebi a notícia
de que mais alguns jovens foram ordenados para o anúncio do Reino
de Deus, tão carente de anunciadores de verdade! Se eles pedem para agradecer o que fiz e rezei por todos e cada um, eu agradeço do âmago do meu coração as suas orações,
em especial todas as pessoas que me
estão unidas, quer pelos laços da família natural, quer por todos os que
o Pai me foi confiando ao longo de
63 anos de vida consagrada… Comi-
os leitores
go, louvem e agradeçam ao Senhor
o dom do chamado, a fidelidade ao
mesmo, com inúmeras graças, mesmo em meio a grandes turbulências.
Ele é sempre fiel! Mistério insondável do seu amor pelos homens!
Não tenho palavras para exprimir o carinho e apreço que sinto
por um homem que foi fiel: o vosso Fundador. Nascestes para uma
missão… “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”, e vai mesmo
triunfar!…
Pedirei graças pelos novos sacerdotes, e não só… fareis o mesmo por mim! Fidelidade Àquele
que nos escolheu e predestinou!
Parabéns e muitas felicidades, que
só podem brotar de corações libertos e que se sentem amados por
Deus.
Ir. Palmira de Jesus Ribeiro, DPSF,
Congregação da Divina
Providência e Sagrada Família
Póvoa de Varzim – Portugal
Do Canadá: leitura do
princípio ao fim
Gosto realmente de ler a revista Arautos do Evangelho. Ela traz
muitas informações sobre grande variedade de assuntos, tais como os fundamentos de nossa Fé,
os Evangelhos, e belas fotos tiradas
de igrejas em todo o mundo. Tenho
encanto por ela e a leio do princípio ao fim.
Paz R. Ongsu
Regina – Canadá
Ajuda a sermos firmes
e ufanos de nossa Fé
Recebi, mais uma vez e com
muita alegria, a Revista mensal que
vocês têm a amabilidade de me enviar todos os meses. Que posso dizer ou acrescentar sobre a Revista
que já não tenha sido dito por leitores do mundo inteiro? Na verda-
4      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
de, é um documento profundo e variado que instrui e nos ajuda a nós,
os católicos destes tempos tão difíceis, sobretudo no que diz respeito à nossa constante necessidade
de sermos firmes e ufanos de nossa Fé.
Sabendo que a Santíssima Virgem tem cada um de vocês sempre
muito próximo d’Ela, peço humildemente a Nossa Senhora de Fátima que continue cobrindo-os com
seu manto, na excelente missão que
desenvolvem.
Guillermo Lazcano Bezanilla
Santiago – Chile
Cada capa é uma obra
de arte em papel
Quando eu era criança, meu pai
me dava uma caixa de chocolate e
eu saía correndo, transbordando
de alegrias mil. Hoje estou sentindo esta mesma sensação boa porque recebi a revista dos Arautos
do Evangelho! Cada capa é uma
obra de arte em papel especial,
trabalho primoroso e lindo. Leio
todas e as coleciono. Gosto muito
do trabalho de vocês e rezo diariamente para assistir, um dia, o canal da TV Arautos em sinal aberto
para todo o Brasil.
Mário Ângelo de Freitas
Pedra Branca – Brasil
Temas muito enriquecedores
Ao enviar-me a Revista vocês estão me evangelizando e isto me enche de felicidade. Todos os temas
são muito enriquecedores, mas em
especial os Evangelhos. Felicito todas as pessoas que tornam possível
a produção da Revista, por seu lado espiritual. Espero sempre com
emoção, a cada mês, a chegada da
nova edição.
Mercedes Cedeño Alarcón
Guayaquil – Equador
Editorial
Duas visualizações, duas
eternidades... uma só Alegria!
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151
Número 2015
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Sagrada Família Convento da
Sagrada Família,
Ciudad Rodrigo
(Espanha)
Foto: Francisco Lecaros
noite, noite fria, noite de inverno. Na cidade agora deserta, as poucas
réstias de luz provêm do aconchegado interior das casas, filtradas por
portas e janelas tão bem fechadas quanto possível à pobreza do lugar.
E pelas ruas vazias vagueia um casal cansado, à busca de hospedagem... Aparentemente, nada há de mais banal que esta cena.
Contudo, a jovem grávida está acompanhada de Anjos belíssimos e invisíveis, enquanto os Céus se debruçam embevecidos sobre Ela: é a Rainha do
universo, “vestida de sol” e “coroada de doze estrelas” (Ap 12, 1), carregando no seu seio puríssimo — por obra de um milagre, misterioso e altíssimo —
o Sol salvador que, instantes depois, inundaria a Terra e a História com sua
luz redentora.
Esta maravilha, entretanto, os olhos humanos não a alcançam, porquanto os materialistas daquele tempo recusaram hospedagem a esta luz: para ela
“não havia lugar” (Lc 2, 7) porque seus corações não eram dignos dela. E, nesta noite, Belém prenunciava Jerusalém, que não soube reconhecer o tempo
em que fora visitada (cf. Lc 19, 44), nem quem podia trazer-lhe a paz (cf. Lc
19, 42), e acabou por crucificar o Senhor da glória a ela enviado (cf. I Cor 2, 8).
Assim, há os que, olhando para o Rei dos reis feito Menino, ofuscados pela aparência humilde e despojada, veem n’Ele apenas o filho do carpinteiro de
Nazaré. Contudo, há também quem, olhando para o pobre, mas majestoso, filho de José, extasiado pela sua inocência e sabedoria, reconhece n’Ele o Senhor dos senhores. O mesmo Menino, vestindo as mesmas roupas, apresentando o mesmo porte, utilizando a mesma linguagem, suscita entretanto a seu respeito duas visualizações diversas, antagônicas e — quantas vezes! — em luta.
Na raiz mais profunda dessa adversidade está o embate entre dois campos
incompatíveis: a cidade do mundo e a cidade de Deus, como tão bem descreve
Santo Agostinho. E é em função dessa oposição que o divino Bebê de Belém,
Juiz do universo, colocará uns à sua direita e outros à esquerda (cf. Mt 25, 33).
Assim, duas visualizações, duas mentalidades, dois mundos, duas eternidades se confrontam continuamente, quase sempre de modo velado, e Deus
permite que as almas pertencentes a ambos os lados cresçam juntas (cf. Mt
13, 24-30), pois não há glória sem vitória, e não há vitória sem luta.
Pelos olhos da fé, vemos nas ruas de Belém caminhar uma Virgem, suave
e recolhida. N’Ela, esperando para nascer, o Criador e Redentor — que tudo
sabe e tudo pode — tem em suas mãos nossa felicidade e nossa paz. Sua chegada traz para nós a alegria do Natal, como mero prenúncio do gáudio da salvação eterna e definitiva. Ele nos convida constantemente a conquistar a glória celeste, antegozada ainda nesta Terra, pela alegria sincera da alma, por
quem caminha seguindo seus sagrados passos. Alegria que entrava no mundo, no rastro de dois humildes viajantes que, rejeitados, cruzavam uma pequenina cidade, em fria noite de inverno. ²
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      5
A voz dos Papas
Abraão intercede por Sodoma
Sermos salvos não quer dizer simplesmente não sermos punidos,
mas sermos libertados do mal que habita em nós. Não
é o castigo que deve ser eliminado, mas o pecado.
O
primeiro texto sobre o qual
queremos meditar encontra-se no capítulo 18 do Livro do Gênesis; narra-se
que a malvadez dos habitantes de Sodoma e Gomorra tinha chegado ao
ápice, a ponto de tornar necessária
uma intervenção de Deus para cumprir um gesto de justiça e para deter o
mal, destruindo aquelas cidades.
Se a cidade é culpada,
justo é infligir o castigo
É aqui que se insere Abraão, com
a sua prece de intercessão. Deus decide revelar-lhe aquilo que está para
acontecer, e faz-lhe conhecer a gravidade do mal e as suas terríveis consequências, porque Abraão é o seu
eleito, escolhido para se tornar um
grande povo e fazer chegar a bênção divina ao mundo inteiro. A sua
missão é de salvação, e deve responder ao pecado que invadiu a realidade do homem; através dele, o Senhor
quer reconduzir a humanidade à fé,
à obediência e à justiça. E agora, este amigo de Deus abre-se à realidade
e à necessidade do mundo, ora por
aqueles que estão para ser punidos e
pede que sejam salvos.
Abraão delineia imediatamente
o problema em toda a sua gravidade, e diz ao Senhor: “E vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o
culpado? Talvez haja cinquenta justos na cidade: matá-los-ás a todos?
Não perdoarás a cidade, por causa
dos cinquenta justos que nela podem
existir? Não, não serás capaz de proceder assim, e matar o justo com o
culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de Ti semelhante pensamento! O Juiz de toda a Terra não
fará justiça?” (18, 23-25). Com estas palavras, com grande coragem,
Abraão põe diante de Deus a necessidade de evitar uma justiça sumária:
se a cidade é culpada, é justo condenar o seu crime e infligir o castigo,
mas — afirma o grande patriarca —
seria injusto punir de modo indiscriminado todos os seus habitantes. Se
na cidade existem alguns inocentes,
eles não podem ser tratados como os
culpados. Deus, que é um Juiz justo,
não pode agir deste modo, diz justamente Abraão a Deus.
Abraão bate à porta do
coração de Deus
Mas, se lermos mais atentamente
o texto, dar-nos-emos conta de que
o pedido de Abraão é ainda mais sério e mais profundo, porque não se
limita a pedir a salvação para os inocentes. Abraão pede o perdão para
toda a cidade, e fá-lo apelando à justiça de Deus; com efeito, diz ao Senhor: “Não perdoarás a cidade, por
6      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
causa dos cinquenta justos que nela
podem existir?” (18, 24b).
Agindo deste modo, põe em jogo
uma nova ideia de justiça: não aquela
que se limita a punir os culpados, como fazem os homens, mas uma justiça diferente, divina, que busca o bem
e o cria através do perdão que transforma o pecador, o converte e o salva.
Portanto, com a sua oração, Abraão
não invoca uma justiça meramente
retributiva, mas uma intervenção de
salvação que, tendo em consideração
os inocentes, liberte da culpa inclusive os ímpios, perdoando-os.
O pensamento de Abraão, que parece quase paradoxal, poder-se-ia resumir assim: obviamente, não se pode
tratar os inocentes como os culpados,
pois isto seria injusto; ao contrário, é
necessário tratar os culpados como os
inocentes, pondo em ação uma justiça “superior”, oferecendo-lhes uma
possibilidade de salvação, porque se
os malfeitores aceitam o perdão de
Deus e confessam a própria culpa,
deixando-se salvar, já não continuarão a cometer o mal, mas tornar-se-ão
também eles justos, e já sem a necessidade de ser punidos.
Este é o pedido de justiça que
Abraão expressa na sua intercessão,
um pedido que se baseia na certeza de que o Senhor é misericordioso. Abraão não pede a Deus algo
poucos inocentes, a partir dos quais
começar para transformar o mal em
bem. Pois é precisamente este o caminho da salvação, que também
Abraão pedia: ser salvos não quer dizer simplesmente evitar a punição,
mas ser libertados do mal que habita em nós.
contrário à sua essência, bate à porta do coração de Deus, conhecendo
a sua verdadeira vontade. Sem dúvida, Sodoma é uma grande cidade,
e cinquenta justos parecem poucos,
mas não são porventura a justiça de
Deus e o seu perdão a manifestação
da força do bem, embora ele pareça
menor e mais frágil que o mal?
A destruição de Sodoma devia
impedir o mal presente na cidade,
mas Abraão sabe que Deus tem outros modos e outros meios para deter a propagação do mal. É o perdão
que interrompe a espiral do pecado
e, no seu diálogo com Deus, Abraão
faz apelo precisamente a isto. E
quando o Senhor aceita perdoar a
cidade, se nela encontrar cinquenta justos, a sua oração de intercessão
começa a descer rumo aos abismos
da misericórdia divina. [...]
Ora, é precisamente este desejo divino que, na oração, se torna desejo do
homem e se exprime através das palavras da intercessão. Com a sua súplica, Abraão empresta a própria voz,
mas também o seu coração, à vontade
divina: o desejo de Deus é misericórdia, amor e vontade de salvação, e este
desejo de Deus encontrou em Abraão
e na sua oração a possibilidade de se
manifestar de modo concreto no interior da história dos homens, para estar
presente onde há necessidade da graça. Com a voz da sua oração, Abraão
dá voz ao desejo de Deus, que não é o
de destruir, mas de salvar Sodoma, de
dar vida ao pecador convertido.
Mas não havia sequer dez justos...
É isto que o Senhor quer, e o seu
diálogo com Abraão é uma manifestação prolongada e inequívoca do
seu amor misericordioso. A necessi-
A rejeição de Deus traz
em si o castigo
L’Osservatore Romano
Deus é misericórdia, amor
e vontade de salvação
Em Sodoma e Gomorra não havia
sequer dez justos
Bento XVI durante a Audiência Geral de
18/5/2011
dade de encontrar homens justos no
interior da cidade torna-se cada vez
menos exigente e, no final, serão suficientes dez para salvar a totalidade
da população.
No texto não se diz por que motivo
Abraão se limita a dez. Talvez seja um
número que indica um núcleo comunitário mínimo (ainda hoje, dez pessoas
são o quorum necessário para a oração
pública judaica). De qualquer modo, trata-se de um número reduzido,
uma pequena parte de bem pela qual
começar para salvar um grande mal.
Mas em Sodoma e Gomorra, não havia sequer dez justos, e assim as cidades foram destruídas. Uma destruição
testemunhada de modo paradoxal como necessária, precisamente pela prece de intercessão de Abraão.
Pois foi exatamente aquela oração que revelou a vontade salvífica
de Deus: o Senhor estava disposto a
perdoar, desejava fazê-lo, mas as cidades estavam fechadas num mal totalizador e paralisador, sem sequer
Não é o castigo que deve ser eliminado, mas o pecado, aquela rejeição de Deus e do amor que já traz em
si o castigo. O profeta Jeremias dirá
ao povo rebelde: “Valeu-te este castigo a tua malícia, e as tuas infidelidades atraíram sobre ti a punição. Sabe, portanto, e vê como te foi funesto
e amargo abandonar o Senhor teu
Deus” (2, 19). É desta tristeza e amargura que o Senhor quer salvar o homem, libertando-o do pecado. Mas é
necessária, portanto, uma transformação a partir de dentro, uma grande
ocasião de bem, um início a partir do
qual começar para mudar o mal em
bem, o ódio em amor e a vingança em
perdão. Por isso, os justos devem estar dentro da cidade, e Abraão repete
continuamente: “Talvez ali se encontrem...”. “Ali”: é no interior da realidade doentia que deve existir aquele
germe de bem que pode purificar e
restituir a vida.
É uma palavra dirigida também
a nós: que nas nossas cidades se encontre o germe do bem; façamos de
tudo para que haja não só dez justos,
para fazer realmente viver e sobreviver as nossas cidades e para nos salvar desta amargura interior, que é a
ausência de Deus. E na realidade doentia de Sodoma e Gomorra não se
encontrava aquele germe de bem. ²
Bento XVI. Excertos da
Audiência geral de 18/5/2011
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A versão original dos documentos reproduzidos nesta seção pode ser consultada em www.vatican.va
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      7
Francisco Lecaros
São João Batista pregando - Biblioteca do Mosteiro de Yuso, San Millán de la Cogolla (Espanha)
a  Evangelho  A
Naquele tempo, 10 as multidões perguntavam a
João: “Que devemos fazer?” 11 João respondia:
“Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não
tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!”
12 Foram também para o batismo cobradores de
impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que
devemos fazer?” 13 João respondeu: “Não cobreis
mais do que foi estabelecido”. 14 Havia também
soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!”
8      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o
Messias. 16 Por isso, João declarou a todos:
“Eu vos batizo com água, mas virá Aquele
que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias.
Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.
17 Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua
eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha Ele a queimará no fogo que não se apaga”. 18 E ainda de muitos outros modos, João
anunciava ao povo a Boa-nova (Lc 3, 10-18).
15 Comentário ao Evangelho – III Domingo do Advento (Domingo Gaudete)
“Alegrai-vos”,
mas... como?
No dia em que a Liturgia católica oferece ao fiel uma pausa
jubilosa em meio à penitência do período de Advento, o
Precursor nos indica o “que devemos fazer” para encontrar
a verdadeira alegria, tão ansiada por toda criatura.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – Um remanso de alegria
em meio à penitência
A Liturgia da Igreja reúne sucessivamente, ao
longo do ano, os mais variados sentimentos: a tristeza na Semana Santa; o gáudio transbordante,
porém cheio de temperança, na Ressurreição; a
esperança durante o período do Tempo Comum;
o júbilo festivo nas grandes solenidades. Em certo
momento ainda, nos deparamos com uma manifestação — quiçá uma das mais acentuadas dentro da Liturgia — de conforto e felicidade em
meio à penitência. Essa é a nota característica
de dois domingos únicos no ano: o 4º Domingo
da Quaresma, que leva o título de Lætare, e o 3º
Domingo do Advento, designado pelo nome de
Gaudete. Neste último, sobre o qual refletiremos,
a Igreja abre um parêntese na ascese e na preocupação constante de uma conversão — atitudes
próprias à época do Advento e preparativas para
a vinda de Nosso Senhor — para tratar da alegria,
infundindo-nos novo ânimo.
“Alegrai-vos sempre no Senhor!”
Gaudete, primeira palavra da Antífona da
entrada da Missa do dia, significa alegrai-vos,
e é extraída da Epístola de São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito: alegrai-vos. [...] O Senhor está próximo!”
(4, 4-5). Com efeito, a esperança no nascimento de Jesus deve ser acompanhada de sinceros
desejos de mudança de vida. Estas moções interiores precisam, no entanto, de um estímulo,
e é justamente o que recebemos neste 3º Domingo do Advento: as flores voltam a ornar os
altares, os instrumentos tornam a tocar durante a Celebração Eucarística e os paramentos se
tingem de suave róseo para simbolizar a exultação e a ideia de um descanso. Toda a Liturgia,
inclusive as leituras e orações, está centrada no
gáudio, porque nossa Santa Religião não caminha para a tristeza nem nos conduz para uma vida de eternos sofrimentos, mas, pelo contrário,
nos abre a perspectiva de um futuro feito de júbilo e consolação.
Só em vista dessa felicidade tem sentido estarmos dispostos a sofrer, conforme nos explica o mesmo Apóstolo: se não fosse a Ressurreição de Nosso Senhor, vã seria nossa fé (cf. I Cor
15, 14). A Ressurreição de Cristo é a promessa da nossa própria ressurreição e, portanto, do
Dezembro 2015 · Flashes
Só em
vista dessa
felicidade
tem sentido
estarmos
dispostos
a sofrer
de Fátima      9
nosso gozo eterno. Qual seria o valor de todo
o esforço feito durante a vida, se não houvesse a garantia final de um prêmio, de uma eternidade feliz? Sem este incentivo nós desanimaríamos. Assim sendo, toda a nossa atenção deve-se
concentrar num só ponto: em determinado momento estaremos no convívio com Deus!
Tal é o empenho da Liturgia deste domingo:
encher-nos de gáudio em vista do futuro. Devemos, então, considerar o Evangelho partindo da
perspectiva desse júbilo sobrenatural, fundado
no fato de sermos filhos de Deus e de termos
a promessa de uma eternidade junto a Ele, se
perseverarmos nas vias do bem, até o fim.
Uma Liturgia pervadida pela alegria
Temos de
fun­damentar
esse conten­
tamento no
cumprimen­
to da Lei
de Deus, no
desejo contí­
nuo de uma
transforma­
ção interior
A primeira leitura proclama o fim da profecia de Sofonias: “Canta de alegria, cidade de
Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta
de todo o coração, cidade de Jerusalém! O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus
inimigos; o Rei de Israel é o Senhor, Ele está
no meio de ti, nunca mais temerás o mal. Naquele dia, se dirá a Jerusalém: ‘Não temas, Sião,
não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor,
teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro
que te salva; Ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa’” (3, 14-18a).
Embora seja este um profeta de tragédias e
denúncias, esta passagem é um prenúncio de
contentamento e consolo, pois quem seriamente considera as maravilhas do futuro, mesmo
enfrentando grandes sofrimentos, está sempre
cheio de alegria. Por isso, quando um bom católico é atingido por uma doença ou passa por
algum desastre, sabe mostrar uma resistência
e uma resignação fora do comum, pois conhece Alguém acima dele — Nosso Senhor Jesus
Cristo —, que sofreu incomparavelmente mais,
a fim de proporcionar-lhe a felicidade extraordinária de viver na eternidade junto d’Ele.
Também a segunda leitura — a mencionada carta de São Paulo — confirma esta exultação, ao dizer: “Alegrai-vos sempre no Senhor;
eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo!” (Fl 4, 4-5).
O Apóstolo das gentes escreveu esta epístola quando se encontrava na lúgubre prisão onde
fora encarcerado, em Roma (cf. Fl 1, 7.13.17).
A História nos mostra quão inumanos eram os
10      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
cárceres de então. Segundo Holzner, “a Antiguidade Cristã está cheia de protestos acerca
dos maus tratos e das péssimas condições de vida a que se submetiam os prisioneiros, bem como do terrível estado em que se encontravam
as prisões romanas. [...] Os próprios romanos
consideravam a pena de prisão como um terrível sofrimento, cruciatus immensus, e as queixas
relativas à elevada mortalidade dos prisioneiros
não tinham fim”.1 Entretanto, mesmo nessa situação Paulo exorta: “alegrai-vos”. Seu coração
está transbordante de júbilo e, em circunstâncias tão adversas, tal contentamento não pode
ser natural, de caráter mundano ou carnal, mas
divino, oriundo do alto, penetrando até o fundo
do coração e capaz de passar por cima de qualquer sofrimento. Absolutamente nada o fazia
estremecer: “Não vos inquieteis com coisa alguma” (Fl 4, 6).
Esse é o dever de todo batizado. Temos, como ninguém, a possibilidade de fazer o bem,
pois no Batismo recebemos a infusão de todas
as virtudes e dons do Espírito Santo, como um
maravilhoso organismo sobrenatural que, movido pela graça atual, nos permite realizar atos
meritórios. Por esse motivo devemos ter a compenetração de que quando praticamos uma
obra boa, não o fazemos por nossa própria natureza decaída, mas pela ação da graça, tesouro
depositado em nós pelo próprio Deus, razão do
gáudio sobrenatural que sentimos.
Diante da aproximação do Salvador:
alegria... e conversão!
Por tudo isso, ante a proximidade do nascimento de Nosso Senhor, a Igreja deseja para os fiéis a degustação — um tanto antecipada
— das consolações, fervores e toques da graça
própria às doçuras da festa do Natal. Neste 3º
Domingo, portanto, uma nova etapa se abre no
Advento: o 1º Domingo fez uma clara referência à vinda do Salvador; o 2º tornou ainda mais
expresso e aberto o mesmo anúncio; e agora se
afirma, pela pena de São Paulo, “O Senhor está próximo!”.
Ora, se a razão pela qual nós devemos nos
alegrar é o nascimento de Jesus, temos de fundamentar esse contentamento no cumprimento da Lei de Deus, no desejo contínuo de uma
transformação interior. O Evangelho desta Liturgia projeta, mais uma vez, a profética figura
do Precursor, chamando todos para isso.
sinal de se ter tirado fruto do auditório é que
venham ao pregador com a consciência inquieta
e agitada, para consultar sobre sua salvação!”.2
Por isso, a todos esses São João haveria de mostrar como deveriam viver.
Na generosidade está a verdadeira alegria
Francisco Lecaros
Naquele tempo, 10 as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?”
11 João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem
tiver comida, faça o mesmo!”
“Ecce Agnus Dei”, por Jaume Huguet - Museu
Episcopal de Vic (Espanha)
II – A conversão exige
gestos concretos
São João vinha preparando os caminhos do
Senhor mediante a pregação de uma mudança de vida. O impacto produzido por sua misteriosa figura e por suas palavras ardentes atraíra
multidões que lhe acorriam ao encontro. Centralizar a atenção de muitos, pondo em movimento paixões religiosas e políticas era fácil.
Sem embargo, o enviado de Deus possuía uma
ambição mais alta. Sua pregação devia atingir
o âmago das almas, movendo a vontade e despertando as consciências. Diante de sua proposta, apresentavam-se diversas situações que evidenciavam uma grande preocupação de querer
segui-lo, pois seus ouvintes estavam à procura
da felicidade. Para poder levar adiante essa boa
disposição, todavia, era preciso uma metanoia
— mudança de mentalidade —, uma renúncia
aos próprios preconceitos, vícios e paixões desregradas. Como afirma Maldonado: “Um bom
O austero reformador suavizava suas palavras quando pregava aos humildes sinceramente
sedentos de conversão, e seus conselhos respiravam bondade, conforme vemos neste trecho.
Contudo, terão aqueles judeus observado os ditames de São João Batista, limitando o seu sentido apenas a repartir vestes e comida aos que
se encontravam delas desprovidos? Se esta divisão de bens fosse o único objetivo do profeta asceta, até para os fariseus teria sido fácil seguir
o Precursor! Tais recomendações não devem,
pois, ser tomadas tão só ao pé da letra. Segundo observa o padre Maldonado, o Precursor indicava “uma espécie de caridade em todo o seu
gênero, ou seja, com todos os deveres desta virtude. […] Recomenda-se, em geral, a caridade
para com o próximo, propondo-a como sendo
uma síntese do caminho para a salvação”.3 Devia, então, ser subentendida por eles a necessidade de dotar suas vidas de uma nova perspectiva, saindo de si mesmos e sem nunca se apegar
aos bens materiais.
Todo o necessário para cada um, para nossa
família ou comunidade, pode ser usado segundo
o próprio beneplácito e de forma totalmente legítima, porém nunca para satisfazermos o egoísmo. Se Deus nos concedeu o instinto de sociabilidade, e acima deste a lei moral e a graça, é
preciso estar com uma preocupação primordial
de fazer o bem aos outros, sem acepção de pessoas. Essa disposição de alma, de contínuo e generoso desvelo com o próximo, torna nossas almas transbordantes de alegria.
A pregação
do Precursor
devia atingir
o âmago
das almas,
movendo a
vontade e
despertando as
consciências
Atrás de uma profissão, egoísmo camuflado
Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram
a João: “Mestre, que devemos fazer?”
12 Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      11
João respondeu: “Não cobreis mais do
que foi estabelecido”.
13 A opinião
pública se
inclina­
va, com
facilidade,
diante de um
homem devo­
rado pelo
amor ao bem
Alguns ouvintes de São João quiseram esclarecer o modo de proceder em seu caso particular: os cobradores de impostos. Naqueles tempos
remotos, não existia para esta classe de profissão a rigidez de uma legislação fiscal semelhante a nossos dias e, em consequência, uma avaliação exata sobre a quantidade devida ao Estado.
Em grande medida isso dependia da vontade do
cobrador, que podia definir a quantia a ser paga
pelo contribuinte. Na realidade, ele devia reger-se por critérios prévios, embora com certa frequência fossem acrescidos à cobrança justa do
imposto outros encargos, os quais acabavam por
ficar em seu próprio bolso e não no tesouro público... Com isso, os cobradores de impostos prejudicavam os outros em benefício próprio.4
Tal atitude significava um egoísmo dissimulado no exercício da profissão, pois, ao invés de
terem a Deus como o centro de suas vidas e de
seus atos, servindo ao bem comum com honestidade, preferiam impor uma pesada carga fiscal,
cobrando a mais em seu favor. O Precursor lhes
ensina o mesmo princípio geral dado às multidões, referente ao dever de caridade para com
os outros, aplicado ao caso concreto: não cobrar mais do que o estabelecido, pois isto constituirá uma injustiça. Como assevera o Cardeal
Gomá y Tomás, “o Batista não exigia deles mais
do que o cumprimento de seu ofício dentro da
mais estrita justiça; não lhes impunha, como faziam os fariseus com todo o mundo, cargas insuportáveis”.5
O vício de se aproveitar do exercício da
autoridade em benefício próprio
Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João
respondia: “Não tomeis à força dinheiro
de ninguém, nem façais falsas acusações;
ficai satisfeitos com o vosso salário!”
14 Os soldados eram “gente assalariada, recrutada ordinariamente entre os vagabundos, bandidos, fugitivos da casa paterna”,6 influenciados pelo rude e, com frequência, desmoralizado
ambiente no qual recebiam a formação militar,
e tantas vezes expostos a exercer, em inúmeras
ocasiões, o roubo e o abuso da autoridade, sem
12      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
nenhum tipo de coibição superior. Recomendava-lhes João a doçura e a calma, proibindo a
violência injusta e convidando-os a se contentar com o magro soldo que tanto desejavam engrossar por meio de censuráveis rapinas, aconselhando-os, também, ao estrito cumprimento
do dever em favor da ordem estabelecida e do
bem comum. A esse propósito, aponta com precisão Santo Agostinho: “A milícia não proíbe fazer o bem, mas a malícia. […] Se os soldados
fossem assim, [honestos], seria ditoso até o próprio Estado”.7
Pelo que vemos por esses exemplos recolhidos no Evangelho — sem dúvida, muitos mais
devem ter sido os casos de consciência resolvidos e as orientações dadas pelo Precursor —,
São João Batista tinha tato psicológico e discernimento dos espíritos, além de uma arte suprema que harmonizava a clarividência à justiça e
à caridade. Sabia dizer uma palavra oportuna
e exata a todos, para conduzi-los à conversão,
com a autoridade moral característica daqueles
que vivem na segurança da virtude e sabem nela encontrar a felicidade possível nesta terra de
exílio. Na verdade, João respondia com simplicidade “a todo tipo de pessoas que lhe perguntasse: fazei vosso trabalho com justiça. E essa é,
de fato, a única resposta verdadeira: continuai
vivendo com autenticidade, com justiça e preocupando-se com os demais. Por isso, o cristão
deve estar sempre alegre e sua serenidade deve
ser conhecida por todos os homens”.8 No exato
cumprimento da nossa obrigação consiste a prática da virtude.
O impacto produzido pelo Batista
O povo estava na expectativa e todos
perguntavam no seu íntimo se João não
seria o Messias.
15 A retidão de São João, considerado um verdadeiro luminar em meio à notória decadência
moral, religiosa e política do povo eleito, produzia no fundo da alma de seus seguidores o bem-estar decorrente da sincera paz de consciência,
e logo seu prestígio começou a aumentar. Afinal, uma voz desinteressada substituía, sem medo nem fraqueza, os erros dos poderosos. A opinião pública se inclinava, com facilidade, diante
de um homem devorado pelo amor ao bem, e
ele aparecia a seus olhos, cada vez mais, investido de uma autoridade vinda do próprio Deus.
Assim, não demorou muito para o povo israelita imaginar ser o Batista aquele Messias esperado pelas almas retas como a solução para
a situação na qual viviam. Contribuía também
para isso, entre outros fatores, o conhecimento geral de terem sido completadas as setenta
semanas de anos da profecia de Daniel (cf. Dn
9, 24), a crescente insatisfação comum pelo domínio estrangeiro, ao qual se acrescentava a
profecia sobre o cetro de Judá (cf. Gn 49, 10), e
a vaga lembrança dos misteriosos acontecimentos ocorridos em Belém e Jerusalém, trinta anos
antes.
Se João não fosse uma alma despretensiosa
e cheia de desejo de restituir tudo a Deus, esse era o momento propício de se autoprojetar
dentro das estruturas sociais judaicas da época, atribuindo a si uma aura de grandeza — a
qual já possuía naturalmente perante todos —
e atraindo as atenções para si mesmo, deixando de lado quem ele deveria anunciar. Se agisse desse modo não seria mais distinguido como
meio, precursor ou profeta, mas como fim único e exclusivo. Muito pelo contrário, compenetrado da elevada missão a ele confiada pela Providência, a situação punha em realce sua ilibada
humildade.
Sempre apontava para Aquele
a quem precedia
Por isso, João declarou a todos: “Eu
vos batizo com água, mas virá Aque-
Reprodução
16 Pregação de São João Batista, por Willem Reuter
National Gallery of Art, Washington
le que é mais forte do que eu. Eu não
sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”.
Aquela personalidade, tão impactante, conclamava todos para um batismo de conversão,
simbolizado pela imersão nas águas do Jordão.
Esse mesmo homem anunciava a vinda de alguém mais forte do que ele... Como seria isso
possível?! Haveria alguém capaz de ultrapassar
o próprio Batista, o inquietador das consciências, o ascético profeta?... É-nos fácil imaginar
a interrogação surgida na mente das pessoas, ao
pensar em alguém superior àquele que até consideravam como Messias.
Para frisar de forma mais acentuada esse
contraste, porém, o Precursor recorre a uma
figura de insuperável eloquência. Desamarrar a correia das sandálias era, naquele tempo, função dos menos qualificados entre os
servos. O habitual meio de transporte daquela época era o próprio pé, protegido apenas
pela exígua cobertura da sandália, exposto a
sofrer todas as durezas e sujeiras dos caminhos. Ao chegar a qualquer lugar, era comum
presenciar a cena de um escravo retirando
o calçado de alguém para limpá-lo, enquanto os pés eram lavados e até perfumados. Tal
imagem, presente no cotidiano de todos, é levantada por São João para ressaltar a infinita distância que o separava do verdadeiro
Messias, professando em seu
interior profundos sentimentos de total submissão e devoção, quase rezando: “‘Na realidade, eu não mereço contar-me
entre o número de seus escravos — nem sequer entre os seus
mais ínfimos escravos —, nem
desempenhar a parte mais humilde de seu serviço’. Por isso
ele não só falava simplesmente
de sua sandália, mas da correia
de sua sandália, o que parecia
o último extremo a que se podia chegar”.9
Esse adorável Redentor, a
quem o Batista precedia, deveria trazer, com toda propriedade, o verdadeiro Batismo,
já não simbólico nem penitenDezembro 2015 · Flashes
Se João
não fosse
uma alma
despretensiosa
e cheia de
desejo de
restituir
tudo a Deus,
esse era o
momento
propício de se
autoprojetar
de Fátima      13
Timothy Ring
cial, mas transformante, pela ação do Espírito Santo. Com efeito, enquanto a água lava
o corpo, a alma é purificada de seus pecados
pela ação do Espírito, da mesma forma como, em contato com o fogo, derrete-se o ouro para separá-lo da ganga que o macula. É
o que afirma Fillion: “Com isso, demonstrava João a máxima inferioridade de sua pessoa
e de seu batismo. A água apenas lava o exterior, a face ou a superfície; o fogo do Espírito
Santo penetra até o fundo dos corações para
limpá-los. Somente o Batismo conferido em
nome do Messias devia produzir a verdadeira
remissão dos pecados”.10
O Messias vem trazendo o prêmio e o castigo
“Ele virá com a pá na mão: vai limpar
sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas
a palha Ele a queimará no fogo que não
se apaga”. 18 E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa-nova.
17 “Se
permaneceis
trigo puro,
por mais que
vos assalte
a tentação,
nenhum mal
sofrereis por
sua ação”
O Evangelista procura destacar, nestes últimos versículos, a ideia de prêmio e de castigo, sempre presente nos anúncios feitos pelo
Batista a respeito do futuro Messias, bem como a necessidade de mudança de vida. Com
uma linguagem impactante para aquelas multidões, revelava João alguns dos divinos atributos do Salvador, com traços reconfortantes para
uns e terríveis para outros. Para os que se assemelhassem ao bom grão, tais palavras teriam
a suavidade de um bálsamo; mas, para os que
a consciência acusava implacavelmente de ter a
inutilidade da palha seca, a expectativa de sua
chegada apresentava-se ameaçadora. Como diz
São João Crisóstomo, “se permaneceis trigo puro, por mais que vos assalte a tentação, nenhum
mal sofrereis por sua ação. Tampouco as rodas
do trilho com seus dentes, na eira, cortam o trigo. Porém, se vierdes a cair na fraqueza da palha, não só sofrereis nesta vida males irremediáveis, ao serdes esmagados por todo o mundo,
mas logo vos esperará um castigo eterno”.11
Mais uma vez, o Precursor deixava patente
a necessidade da abertura das almas para uma
constante e eficiente conversão da vida concreta de cada um, único caminho para a verdadeira
felicidade. Alegria eterna ou tormento sem fim:
eis a inevitável escolha daquelas multidões que
acorriam ao encontro de São João, eis a terrí-
14      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Menino Jesus - Detalhe da Imagem de Maria Auxiliadora
da Casa Monte Carmelo, Caieiras (SP)
vel opção oferecida de modo tão evidente a nós,
dois mil anos depois...
III – A alegria está ao
nosso alcance
Ter sempre em vista a própria ressurreição,
apesar de conhecer perfeitamente a desintegração dos corpos, depois de enterrados e transformados em poeira; ter uma esperança de,
post mortem, entrar num convívio eterno com
Deus, depois de ter recuperado o mesmo corpo
em estado glorioso para no Céu gozar da felicidade eterna; aí está o que nos dá força e coragem. Então, por que correr atrás de alegrias onde elas não existem?
A insubstituível felicidade da boa consciência
Inúmeras vezes ignoramos ou nos esquecemos de que a perda da inocência batismal
constitui o maior prejuízo da vida. Significa
perder o maior tesouro a nós confiado pelas
dadivosas mãos da Providência, pois, perdida esta inocência, logo as más inclinações se
manifestam com mais veemência e é comum
as quedas se sucederem, podendo inclusive
chegar a alma à triste situação apontada por
Nosso Senhor no Evangelho: “Todo homem
que se entrega ao pecado, torna-se seu escravo” (Jo 8, 34).
De fato, quando cometemos a infelicidade de cair no pecado, estamos enganosamente
à procura de alguma felicidade decorrente de
um prazer, o qual julgamos ser infinito e eterno. Tal prazer, entretanto, é sempre fugaz e submerge nossa alma na frustração. Ó natureza débil! Corres atrás de um vazio pensando haver
encontrado o Absoluto, vais à procura da alegria onde ela não se encontra! Com propriedade afirma Santo Agostinho: “Alegrar-se na injustiça, alegrar-se na torpeza, alegrar-se nas
coisas vis e indecorosas... em tudo isso cifra o
mundo sua alegria; em tudo isso que não existiria se o homem não quisesse. […] A alegria do
século consiste na maldade impune. Entregar-se à dissolução dos homens, fornicar, divertir-se nos espetáculos, embriagar-se, manchar-se
de torpezas sem nenhum contratempo: eis aqui
a alegria do mundo. Mas Deus não pensa como
o homem, e uns são os desígnios divinos, outros
os humanos”.12
Na deliberação de abraçar o pecado nos
afastamos da verdadeira e insubstituível alegria da boa consciência, que nenhuma fortuna, nenhum prazer carnal, nenhum orgulho
satânico, nenhuma glória mundana pode oferecer. Se, algum dia, tivermos a desventura de
1
HOLZNER, Josef. Paulo de Tarso. São Paulo: Quadrante, 1994,
p.558.
2
MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y
San Lucas. Madrid: BAC, 1951,
v.II, p.451.
3
Idem, p.452.
4
Cf. TUYA, OP, Manuel de. Biblia
Comentada. Evangelios. Madrid:
BAC, 1964, v.V, p.786.
5
GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El
Evangelio explicado. Introduc-
manchar nossa inocência, procuremos logo readquirir um coração puro e um espírito firme
(cf. Sl 50, 12), lavando e purificando a alma no
Sacramento da Confissão. Quem nunca sentiu
a consolação pela certeza de haver sido perdoado, ao sair de um confessionário, não conhece uma das maiores felicidades que nesta vida
se pode experimentar. O gáudio de recuperarmos a inocência perdida vale mais do que tudo
na face da Terra.
Alegria: o verdadeiro dinamismo interior
Concluindo, é preciso compreender que,
mesmo nas piores situações, jamais podemos
nos deixar abater; ao contrário, devemos estar sempre cheios de confiança. Deus, segundo o ensinamento maravilhoso apresentado
no Evangelho da Liturgia de hoje, está continuamente à nossa disposição e ainda quis nos
dar sua própria Mãe para nos acompanhar
e atender. Sigamos, portanto, o conselho de
Santo Agostinho: “‘alegrai-vos sempre no Senhor’, isto é, alegrai-vos na verdade, não na
iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não com as flores da vaidade. Alegrai-vos desse modo e em qualquer lugar, e
em todo tempo lembrai-vos de que ‘o Senhor
está próximo! Não vos inquieteis com coisa
alguma’”.13
Sejamos alegres até em meio às piores
tragédias, pois a alegria manterá em nós o
dinamismo e a força necessária para praticar a virtude. Dessa forma, o Menino Jesus
encontrará nossas almas prontas para recebê-Lo no supremo momento em que nascerá
misticamente na Sagrada Liturgia e em nosso coração.²
ción, Infancia y vida oculta de
Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Rafael
Casulleras, 1930, v.I, p.409.
6
Idem, ibidem.
7
SANTO AGOSTINHO. Sermo
CCCII, n.15. In: Obras. Madrid:
BAC, 1984, v.XXV, p.413.
8
9
NOCENT, Adrien. El Año Litúrgico: celebrar a Jesucristo. Introducción y Adviento. Santander: Sal
Terræ, 1979, v.I, p.131.
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XI, n.4. In: Obras. Homilías
“‘Alegrai-vos
sempre no
Senhor’, isto
é, alegrai-vos
na verdade,
não na
iniquidade”
sobre el Evangelio de San Mateo
(1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007,
v.I, p.207.
10
FILLION, Louis-Claude. Nuestro
Señor Jesucristo según los Evangelios. Madrid: Edibesa, 2000,
p.100.
11
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, op.
cit., n.5, p.212.
12
SANTO AGOSTINHO. Sermo
CLXXI, n.4. In: Obras. Madrid:
BAC, 1958, v.VII, p.147.
13
Idem, n.5, p.148-149.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      15
A importância do exemplo
Todo homem, a cada momento, está influenciando seu
próximo ou recebendo influências dele. Está sendo para ele
ora pastor, ora ovelha; ora mestre, ora discípulo.
Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas, EP
N
Incomparavelmente superior a
todas as maravilhas da criação —
nas quais há sempre um reflexo visível das “perfeições invisíveis de
Deus” (Rm 1, 20) — é o “dom de
Deus”, isto é, a graça, criatura que
transcende todo o criado e nos
confere uma participação na vida
divina, incriada. A menor “gota”
de graça supera o bem natural do
universo inteiro.1
Portanto, acompanhar o desenvolvimento da graça nas almas dos
justos é um dos mais apaixonantes
meios de conhecer a História da
Francisco Lecaros
arram os Santos Evangelhos o ardente zelo de Nosso Senhor
Jesus Cristo ao reali­
zar, percorrendo todas as regiões de
Israel, inúmeros prodígios em favor
daqueles que vinham ao seu encontro: “Andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com Ele”
(At 10, 38). Os cegos viam, os surdos ouviam, os mortos ressuscitavam. Ninguém se aproximava d’Ele
sem ser beneficiado.
Numa das suas viagens da Judeia à Galileia, deteve-Se
Ele na cidade de Sicar, na
Samaria, e sentou-Se junto ao poço de Jacó, a fim
de descansar da caminhada. Em certo momento
aproximou-se uma mulher
para buscar água. “Dá-Me
de beber” (Jo 4, 7), pediu
Ele. Ela, porém, surpreendeu-se, pois os judeus não
se relacionavam com os
samaritanos. Replicou-lhe
então o Mestre: “Se conhecesses o dom de Deus
e quem é que te diz ‘Dá-Me de beber’, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água
viva” (Jo 4, 10).
16      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Igreja, além de uma excelente forma de amor a Deus.
Quis Ele tornar-nos
participantes dos seus méritos
Voltemos, agora, o olhar ao alto da
Cruz. Após Nosso Senhor Jesus Cristo ter proferido seu “consummatum
est” (Jo 19, 30), a lança do soldado
abriu-Lhe o costado, de onde jorraram sangue e água, símbolo do começo e do crescimento da Igreja.2 Foi,
com efeito, “do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja”.3
Incomparavelmente
superior a todas as
maravilhas do uni­
verso é a graça, cria­
tura que nos confere
uma participação na
vida divina, incriada
Jesus e a samaritana - Igreja de
Nossa Senhora da Encarnação,
Granada (Espanha)
Francisco Lecaros
Foi, com efeito,
“do lado de Cristo
adormecido na Cruz
que nasceu o sacra­
mento admirável
de toda a Igreja”
Loginus crava a lança no costado de
Jesus - Catedral de León (Espanha)
Ao gênero humano, até então nas
trevas do pecado, tornou-se acessível o caminho da virtude. Abriram-se as portas do Céu. Pela Redenção, a Lei Antiga é substituída pela
Lei da graça.
Em seu desígnio salvador, quis
Cristo constituir a Santa Igreja, sociedade visível, à maneira
de Corpo cuja Cabeça é Ele próprio (cf. Ef 5, 23.30; Col 1, 18), para que, de sua plenitude, todos os
membros recebêssemos graça sobre graça (cf. Jo 1, 16). Assim, tornou-nos também participantes dos
infinitos méritos de sua vida, Paixão e Morte.4 Pois, na medida em
que nós, enquanto membros, estamos unidos a Nosso Senhor, “não
apenas a Paixão de Cristo nos é
comunicada, mas também o mérito de sua vida”. 5
“Brilhe vossa luz diante
dos homens”
Conforme nos ensina a doutrina católica, todos os homens que
estão em estado de graça possuem
um misterioso vínculo entre si, procedente dessa união com a Cabeça.
“Uma admirável e discreta circulação de bens espirituais os une, como
estão unidas as diversas partes do
corpo humano para a circulação dos
líquidos e do sangue que repartem
para todos os membros os eflúvios
de vida” — explica o padre Monsabré. “Este mistério se chama Comunhão dos Santos”.6
A cada momento, esclarece
Mons. João Scognamiglio Clá Dias,
EP, todo homem está influenciando
seu próximo ou recebendo influências dele. “Está sendo para ele ora
pastor, ora ovelha; ora mestre, ora
discípulo; continuamente dando e
recebendo algo”.7
Segundo o padre Monsabré, o
“capital social” do qual participam
os diversos membros da Igreja na
Comunhão dos Santos compõe-se
de três categorias de bens: “as boas
obras, por via do exemplo e da imitação; as graças, por via de intercessão; os méritos, por via de substituição”.8 Embora as duas últimas sejam
de fundamental importância, limitar-nos-emos a tratar neste artigo da
primeira delas: as boas obras.
“Brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas
obras e glorifiquem vosso Pai que
está nos Céus” (Mt 5, 16) — recomendou o Divino Mestre aos seus
discípulos. São João Crisóstomo
interpreta estas palavras como um
convite: “haja em vós grande virtude, arda em vossos corações o
fogo da caridade e sua luz brilhe
diante dos homens. Porque, quando a virtude alcança esse grau de
perfeição, é impossível mantê-la
oculta, por mais que quem a pratica queira ocultá-la”.9 Assim, os
Apóstolos anunciavam o Reino de
Deus sobretudo pelo exemplo de
suas vidas.
As virtudes que ornam as almas santas se manifestam no exterior, de modo permanente, pelas
boas obras e pelo exemplo, o qual
se impõe à nossa imitação, convidando-nos a conformar nossa vida
com a delas, isto é, com Jesus Cristo, arquétipo de todas as virtudes,
exemplo universal da vida cristã,
supremo modelo de perfeição. Essas obras e exemplos constituem
um capital de bem que cresce a cada momento como um incessante
apelo aos demais membros do Corpo Místico a abraçarem também a
santidade.10
Doutrina transposta em vida
A mera doutrina não é suficiente para arrastar as vontades. Como
a verdade entra no intelecto pelos
sentidos, as coisas sensíveis têm sobre o espírito humano uma força
maior que a doutrina abstrata. “O
exemplo torna sensível a verdade, a
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      17
1
qual, de certo modo, se encarna na
pessoa e nos fatos”.11
Ensina-nos o Doutor Angélico: “Quando se trata de ações e
paixões humanas, em que a experiência vale mais que tudo, os
exemplos movem mais que as palavras”.12 Assim como o farol orienta
o navio, mas não o propulsiona, da
mesma forma a doutrina por si só
não move as almas; estas são movidas pelo exemplo, ou seja, pela
doutrina transposta em vida. “São
os exemplos que arrastam e motivam a trilhar o mesmo caminho”,13
e isto em todos os campos do agir
humano.
Narram as crônicas da Revolução Francesa um fato muito ilustrativo desta realidade. Quando
Henri de La Rochejaquelein, com
apenas 20 anos de idade, assumiu o
comando de uma parte do exército
vandeano, fez a seus homens esta
célebre conclamação: “Si j’avance,
suivez-moi; si je recule, tuez-moi;
si je meurs, vengez-moi! — Se eu
avançar, segui-me; se recuar, matai-me; se morrer, vingai-me!”.14
Justificando com o próprio heroísmo este fogoso apelo, arrastava
atrás de si à vitória, ou a uma glo-
“O exemplo torna
sensível a verdade,
a qual, de certo
modo, se encarna na
pessoa e nos fatos”
riosa morte na luta, os combatentes
sob seu comando.
O instinto de imitação faz parte da psicologia humana. “Da
mesma forma como alguém boceja vendo outro bocejar, assim, movidos como por um mecanismo interno invisível, executamos uma
ação, boa ou má, que vemos outros fazerem”.15
Obrigação de dar bom exemplo
Nesse sentido, nada é tão eficaz
na observância do mandamento divino de amar o próximo por amor a
Deus, quanto um comportamento
edificante e o exemplo de uma vida
íntegra, com vistas à salvação eterna
de nossos irmãos.
18      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
2
Quem assim age faz o papel de
um eloquente arauto da verdade.
Recordemos, a propósito, o fato
ocorrido com o grande São Francisco de Assis, cuja preocupação primordial era instruir os homens pelo exemplo, mais que pelas palavras.
Certo dia, convidou ele um monge a acompanhá-lo em uma pregação. Após dar algumas voltas pelas
ruas, retornavam ambos ao mosteiro
sem ter pronunciado palavra. Surpreso, o companheiro perguntou-lhe: “Mas, e a pregação?”. Respondeu-lhe o Santo que o simples fato
de dois religiosos se apresentarem
com modéstia diante da população
constituía já um sermão.16 São Francisco, com efeito, não se cansava de
ensinar a seus primeiros seguidores:
“Todos os irmãos devem pregar com
as suas obras!”.17
Ao longo da História, muitos
Santos deram às almas, pela simples
presença, a esmola do bom exemplo. “Vi Deus num homem!”, exclamou um advogado de Lyon, referindo-se a São João Maria Vianney, ao
ser interrogado sobre o que havia
conhecido em Ars.18 Segundo narram as crônicas, um irmão leigo da
Companhia de Jesus, saindo todos
os dias para fazer compras, ganhou
mais almas para Deus com suas conversações e bons exemplos do que
muitos missionários com suas pregações.19 Convidado certo dia pelo Arcebispo de Évora a fazer uma pregação na catedral, São Francisco de
Borja tentou esquivar-se, alegando
cansaço e enfermidade, mas recebeu
esta resposta: “Não quero que faça
sermão, mas que suba ao púlpito e
todos possam ver um homem que,
por amor a Deus, abandonou tudo
quanto tinha”.20
Ai do mundo por causa
dos escândalos!
A este respeito, Santo Antônio
Maria Claret nos oferece uma expressiva figura: “A doutrina é como
a pólvora; mas o exemplo é como a
bala, que fere ou mata. A pólvora
sozinha produz apenas barulho, assim também só a doutrina fará apenas ruído; é preciso acrescentar-lhe
algum exemplo, que sirva de bala”.21
Portanto, o exemplo pode ter
dois efeitos: ferir ou matar. A boa
ação realizada diante de algum pecador fere-o e o faz perceber o caminho errado pelo qual avançava, e ao mesmo tempo o estimula a
4
5
1. São Pedro Apóstolo, por Pedro
Serra - Museu de Belas Artes, Bilbao
(Espanha); 2. Santo Agostinho e Santa
Mônica assistem a um sermão de Santo
Ambrósio - Museu Nacional de Arte
da Catalunha, Barcelona (Espanha); 3.
São Francisco distribui os seus bens
aos pobres, por Antonio Viladomat Museu Nacional de Arte da Catalunha;
4. O Santo Cura d’Ars - Afresco da
Basílica Nova, Ars (França); 5. Santo
Antônio Maria Claret fundando a sua
congregação - Vitral da casa natal do
Santo em Sallent, Espanha
“A doutrina fará
apenas ruído; é pre­
ciso acrescentar-lhe
algum exemplo,
que sirva de bala”
praticar o bem. Uma ação má, pelo
contrário, expõe o próximo à ruína
espiritual, ou seja, à morte. E isto é
o pecado de escândalo.
São Tomás assim define o escândalo: “Uma palavra ou um ato
menos reto que oferece uma ocasião de queda”. 22 Severas são as palavras do Divino Mestre ao referir-Se a essa falta: “É impossível que
não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor
lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do
que levar para o mal um destes pequeninos” (Lc 17, 1-2). O gravíssimo pecado de escândalo prejudica
não só quem o recebe, mas tam-
bém quem o comete. “Ao primeiro,
porque a falta cometida em decorrência do escândalo furta-lhe a vida da graça de Deus na alma. Ao
segundo, por fazer o mesmo papel
do demônio — perder almas —,
acrescido do gosto em arruinar a
inocência alheia”. 23
Santo Ambrósio e Santo Agostinho
Não raras vezes, percorrendo as
páginas da hagiografia e da História
da Igreja, encontramos o bom exemplo na raiz das mais estupendas conversões. Nesses casos, o fulgor das
virtudes de algum grande Santo serve a Deus como instrumento para
ferir com seu dardo de amor a alma
daqueles que deseja atrair inteiramente para Si.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      19
Fotos: Francisco Lecaros / Sergio Hollmann
3
-lhe qual ponto da doutrina católica a tinha convencido a abraçar
o Catolicismo. Ela respondeu:
“Minha única resposta é que quero ter a mesma Religião de Francisco de Sales”.32 O contato com a
santidade desse varão de Deus a
movera a dar tal passo.
Podemos citar ainda a conversão do rei Clóvis, a qual teve sua origem, entre outros fatores, no exemplo das virtudes de
sua esposa, Santa Clotilde; ou as
conversões operadas pelo Santo
Cura d’Ars, pelo simples fato de
subir ao púlpito com o crucifixo
nas mãos, sem proferir palavra.
Francisco Lecaros
A vida de Santo Ambrósio está coalhada de fatos magníficos,
porém a “mais preciosa pedra de
sua coroa de glória é a conversão
de Santo Agostinho”.24 Repleto
da sabedoria do mundo, mas longe da de Deus, Agostinho errava
pelas vias do pecado e da heresia,
tendo aderido à doutrina dos maniqueus. Conhecia alguns pontos
da doutrina católica, mas não se
deixava comover.
Mudando de Roma para Milão, ali encontrou o Bispo Ambrósio. “Tu me conduzias a ele
sem eu o saber, para eu ser por
ele conduzido conscientemente
a Ti”,25 escreveu mais tarde em
suas Confissões. As palavras de
Ambrósio prendiam a atenção
de Agostinho, mas seu conteúdo
não o preocupava. Com o tempo, ele foi abrindo o coração aos
ensinamentos do Bispo, até decidir
procurar argumentos que demonstrassem a falsidade do maniqueísmo: “A fé católica não me parecia
vencida, mas para mim ainda não se
afigurava vencedora”.26
Entretanto, o que de fato o levou a aderir à verdadeira Religião
foi o exemplo do santo Bispo de Milão: “Gostava não só de ouvir seus
sermões, mas também de passar horas inteiras em seu gabinete, em silêncio, vendo esse homem de Deus
trabalhar ou estudar”.27 Finalmente, declara Santo Agostinho: “Desde
então comecei a preferir a doutrina católica”.28 Afirma o Papa Bento XVI: “Da vida e do exemplo do
Bispo Ambrósio, Agostinho aprendeu a crer e a pregar”.29
Algo semelhante ocorreu na conversão de São Justino. Depois de percorrer em vão as escolas filosóficas
mais em voga no seu tempo, em busca de conhecer a Deus, ele encontrou
a verdade ao contemplar a serenidade e destemor dos mártires avançando rumo ao suplício. Este espetáculo
fê-lo reconhecer a autenticidade e su-
A Igreja progride sempre
em santidade
Pentecostes - Catedral de Pamplona (Espanha)
Os membros do Corpo
Místico de Cristo
continuaram e con­
tinuarão recebendo
este mesmo Espírito
ao longo dos séculos
perioridade da Religião cristã.30 Eis o
testemunho do próprio Santo: “Pelas
obras e pela fortaleza que os acompanham, podem todos compreender
que este — Jesus Cristo — é a Nova
Lei e a Nova Aliança”.31
Na origem de outras
grandes conversões
Certa vez, São Francisco de Sales
foi pregar no Chablais e uma dama
protestante converteu-se após ouvir dois ou três dos seus sermões. De
volta a Genebra, sua cidade de origem, o pastor calvinista perguntou-
20      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Desde o momento de sua divina instituição, a Igreja não deixa de crescer em santidade e de
enriquecer-se com o heroísmo dos
Santos, os quais constituem Evangelhos vivos. Seria, portanto, um equívoco dizer que nunca haverá maiores Santos que os primitivos, e daí
concluir que a Igreja não progride
em santidade nem cresce misticamente. Tal afirmação equivaleria a
reduzir um grande edifício a seus solidíssimos fundamentos, ou uma árvore frondosa à sua pequena semente.
Se é verdade que no dia de Pentecostes Nosso Senhor derramou
sobre os Apóstolos e os primeiros
discípulos a plenitude do Espírito
Santificador, certo é também que os
membros do Corpo Místico de Cristo continuaram e continuarão recebendo este mesmo Espírito ao longo
dos séculos, e a Igreja não deixará de
se desenvolver, aperfeiçoar, purificar e santificar até o fim do mundo.33
Mais e melhores frutos espirituais
serão sempre por Ela produzidos ao
longo das gerações. Seu perfume se
espalhará por toda a Terra, aguilhoando a consciência dos maus e inebriando a alma dos bons. ²
O exemplo de um heroico ancião
“S
fingindo serem as obrigadas pee eu morrer agora corajosalo rei. Entretanto, o heroico anmente, mostrar-me-ei digno
cião preferiu ser conduzido à
de minha velhice, e terei deixamorte e respondeu-lhes: “Não é
do aos jovens um nobre exemplo
próprio da nossa idade usar de
de zelo generoso, segundo o qual
tal fingimento, para não aconteé preciso dar a vida pelas santas
cer que muitos jovens suspeitem
e veneráveis Leis” (II Mac 6, 27)
que Eleazar, aos noventa anos,
— disse o admirável Eleazar antenha passado aos costumes estes de dirigir-se ao suplício.
trangeiros. Eles mesmos, após
Antíoco Epífanes, qualificao meu gesto hipócrita, e por um
do pelo Espírito Santo de “raiz
pouco de vida, se deixariam arde pecado” (I Mac 1, 11), proirastar por causa de mim e isso
biu ao povo judeu a prática da
seria para a minha velhice a deverdadeira Religião. Os enviasonra e a vergonha” (II Mac 6,
dos desse iníquo rei prenderam
24-25).
Eleazar, “homem já de idade
Assim, Eleazar entregou sua
avançada” (II Mac 6, 18), e quiMartírio de Eleazar, por Gustave Doré
alma a Deus, “deixando com sua
seram forçá-lo a comer carne de
morte não somente aos jovens,
porco, proibida pela Lei. Como
ele se recusava, seus amigos, desejando salvar-lhe a vi- mas também a toda a sua gente, um exemplo de corada, ofereceram-lhe carnes permitidas para ele comer, gem e um memorial de virtude” (II Mac 6, 31).
1
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II,
q.113, a.9, ad 2.
2
Cf. CONCÍLIO VATICANO II.
Lumen gentium, n.3.
3
CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium, n.5.
4
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.7, a.9; q.8,
a.1; q.19, a.4; q.48, a.1.
5
6
7
8
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Exposição sobre o Credo, art. 10.
MONSABRÉ, OP, Jacques-Marie-Louis. La Communion des
Saints. In: Exposition du Dogme Catholique. Gouvernement
de Jésus-Christi. Carême 1882.
9.ed. Paris: P. Lethielleux,
1903, p.295.
CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Ai de quem escandalizar!
In: Arautos do Evangelho. São
Paulo. Ano XI. N.129 (Set.,
2012); p.17.
MONSABRÉ, op. cit., p.319.
9
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO.
Homilía XV, n.8. In: Obras.
Homilías sobre el Evangelio de
San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, p.293.
10
Cf. MONSABRÉ, op. cit.,
p.320-321.
11
CIVARDI, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Espiritualidad de los seglares. Madrid:
BAC, 1967, p.838.
12
SÃO TOMÁS DE AQUINO.
Suma Teológica. I-II, q.34, a.1.
13
CLÁ DIAS, op. cit., p.17.
14
GAUTHEROT, Gustave.
L’Épopée Vendéenne. Tours:
Alfred Mame et Fils, 1908,
p.64.
15
ROYO MARÍN, op. cit., p.838.
16
Cf. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. La dignidad y santidad sacerdotal. La
Selva. Sevilla: Apostolado Mariano, 2000, p.306.
17
JOERGENSEN, Johannes.
São Francisco de Assis. 3.ed.
Petrópolis: Vozes, 1932, p.355.
18
Cf. JOÃO PAULO I. Discurso
ao clero romano, 7/9/1978.
19
Cf. MUÑANA, SJ, Ramón de.
Verdad y vida. 2.ed. Bilbao:
El mensajero del Corazón de
Jesús, 1948, t.II, p.577.
20
Idem, p.576-577.
21
SANTO ANTÔNIO MARIA
CLARET, apud AGUILAR,
P. Mariano. Vida admirable del
Siervo de Dios P. Antonio María Claret. Madrid: San Francisco de Sales, 1894, t.I, p.133.
22
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II,
q.43, a.1.
23
CLÁ DIAS, op. cit., p.15.
24
BECCARI, Luiz Francisco.
Destemido defensor da Igreja.
In: Arautos do Evangelho. São
Paulo. Ano III. N.36 (Dez.,
2004); p.36.
25
SANTO AGOSTINHO. Confissões. L.V, c.13, n.23.
26
Idem, c.14, n.24.
27
BECCARI, op. cit., p.36.
28
SANTO AGOSTINHO, op.
cit., L.VI, c.5, n.7.
29
BENTO XVI. Audiência geral,
24/10/2007.
30
Cf. RUÍZ BUENO, Daniel
(Ed.). Actas de los mártires.
5.ed. Madrid: BAC, 2003,
p.303.
31
SÃO JUSTINO. Diálogo con
Trifón, XI, apud RUÍZ BUENO, op. cit., p.303.
32
KOCH, SJ, Anton; SANCHO,
Antonio. Docete. Formación
básica del predicador y del conferenciante. Barcelona: Herder, 1955, t.VI, p.528.
33
Cf. GONZÁLEZ ARINTERO, OP, Juan. La Evolución
Mística. Madrid: BAC, 1959,
p.793-796.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      21
Sóror Josefa Menéndez
Apóstolo da bondade de Jesus
Nossos dias não são melhores do que aqueles idos anos em que
viveu sóror Josefa Menéndez... Por isso enche-nos de consolo
escutar: “Venho a ti, para ensinar-te quem sou e qual é minha Lei.
Não te assustes: é de amor!”.
Ir. Mary Teresa MacIsaac, EP
S
ubia sóror Josefa ao terceiro andar do convento a fim
de fechar algumas janelas
antes de se recolher, quando encontrou Nosso Senhor Jesus
Cristo no corredor.
— De onde vens? — perguntou
Ele.
— Fechava as janelas, Senhor.
— E agora que estou aqui, para
onde vais?
— Vou terminar de fechá-las,
meu Jesus.
É a miséria que atrai
a misericórdia
Cenas como esta não eram raras
no dia a dia da irmã Josefa...
Na Páscoa de 1922, Jesus ressurrecto lhe aparece “formosíssimo e
cheio de luz”. Todavia, ela se mostra indiferente à sua presença, alegando não estar autorizada a quebrar o silêncio monástico. “Não
tens permissão para falar comigo,
Josefa! — respondeu com bondade — E para Me olhar? [...] Olha-Me... e deixa que Eu te olhe... isto
nos basta”. Ela fitou-O e Ele disse:
“Quando a madre te chamar, pede permissão para falar comigo”,1 e
desapareceu.
Que pensar de alguém que, deparando-se com o próprio Cristo, deixa-O só para fechar umas janelas
ou se recusa a falar com Ele alegando um simplório pretexto? Por que
Nosso Senhor insiste em aparecer a
esta alma, e não a alguma outra que
manifestasse maior amor?
A resposta nos vem dos lábios do
Divino Salvador: “Se na Terra tivesse encontrado uma criatura mais miserável que tu, teria pousado sobre
ela meu olhar amoroso, e lhe teria
manifestado os desejos de meu Coração. Mas não tendo encontrado,
escolhi a ti. [...] O único desejo de
meu Coração é aprisionar-te e inundar-te de meu amor, fazer de tua pequenez e tua fraqueza um canal de
misericórdia para muitas almas”.2
É a miséria das almas, pois, que
atrai a bondade e a misericórdia do
Divino Coração! E foi nosso tempo, tão ingrato para com Deus, que
recebeu, pela pena de sóror Josefa
Menéndez, o tesouro das revelações
que aqui vamos contemplar.
Escolhida desde muito cedo
Nascida em Madri, a 4 de fevereiro de 1890, teve Josefa Menéndez uma infância muito alegre e
22      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
t­ranquila. Possuía ela um temperamento vivo, jovial e um tanto altivo,
o que a tornava um polo de atração
para toda a família.
Desde muito pequena sentia-se
chamada a entregar-se a Jesus, mas
não sabia ainda como... Na festa de
São José de 1901 fez sua Primeira Comunhão e prometeu a Nosso
Senhor, formalmente e por escrito,
manter perpétua virgindade. Foi repreendida pelo confessor, pois para
ele “as meninas não devem prometer nada mais que ser muito boazinhas”,3 e ordenou-lhe destruir o papel do compromisso assinado. Ela,
entretanto, não o fez e repetia a Jesus sua promessa cada vez que comungava.
Começou a estudar no colégio
das Religiosas do Sagrado Coração
de Jesus — instituição fundada por
Santa Madalena Sofia Barat, à qual
viria a pertencer — e a capela era
seu lugar preferido, onde se recolhia
e fazia companhia, por largas horas,
ao Divino Prisioneiro do sacrário.
Com frequência visitava também o
Carmelo de Loeches, do qual uma
tia materna era a priora. Conheceu a regra carmelitana na biblioteca das freiras e a punha em prática
quando brincava “de convento” com
suas irmãs menores: Mercedes, Carmem e Ângela. Ela sabia, contudo,
no fundo de seu coração, que aquilo
era mais do que uma distração... Tomava força em sua alma o chamado
à vida religiosa.
Dotada de grande habilidade
com a linha e a agulha, foi aprender corte e costura no ateliê de uma
modista de confiança dos pais, onde reinava um ambiente frívolo e vazio, muito distinto do calor piedoso
de seu lar. Ali conheceu os primeiros embates espirituais e se manteve
firme graças à Comunhão diária que
não abandonava, à custa de verdadeiros sacrifícios. Aos domingos se
dedicava a visitas de caridade, atendendo pobres e enfermos, tanto com
o socorro material como nos mais
humildes serviços.
Desta época de sua vida, relata ela em seus escritos: “Atravessei
muitos perigos, mas Deus, Nosso Senhor, sempre me guardou no
meio deles e das más conversas
no ateliê. Quantas vezes chorei
ao ouvir aquelas coisas que me
perturbavam, porém, não deixei de encontrar força e consolo em Deus. Nada nem ninguém
me fizeram mudar ou duvidar
jamais de que Jesus me queria
para Si”.4
Nesta circunstância de grande
angústia, Santa Madalena Sofia apareceu à mãe de Josefa e lhe assegurou que não morreria, pois sua família ainda precisava dela. No dia
seguinte acordou curada. O pai também venceu a enfermidade; no entanto, jamais recobrou forças para
voltar ao trabalho e veio a falecer algum tempo depois.
Coube, então, a Josefa o encargo
de manter a família. Auxiliada pelas
religiosas de seu antigo colégio obteve uma máquina de costura e, com
a ajuda destas suas protetoras, conseguiu tanto trabalho que acabou
por montar o próprio ateliê, onde
trabalhava em duras jornadas, junto com sua irmã Mercedes e outras
funcionárias.
Tentou entrar nas sendas da vida
religiosa, sendo impedida pela mãe
que a tinha como o esteio da casa.
Chegou mesmo a fazer um pedido
de admissão na Sociedade do Sagrado Coração de Jesus o qual foi aco-
Longa e dolorida espera
Aos 17 anos a dor veio visitá-la: sua irmã Carmen morre com
apenas 12 anos, e pouco depois
falece também a avó materna; a
mãe adoece com febre tifoide e
o pai cai enfermo com pneumonia. A jovem não abandona o leito dos pais, servindo-lhes de enfermeira. Não obstante, com a
falta do trabalho paterno as economias domésticas terminaram e
a miséria não tardou em chegar.
Estava completamente só para
cuidar dos pais doentes e das outras duas irmãzinhas.
Graças à Comunhão diária, a jovem
Josefa se manteve firme diante dos
primeiros embates espirituais
Josefa Menéndez, aos 18 anos de idade
lhido de braços abertos pela superiora. Sem embargo, as lágrimas da
mãe a detiveram...
Depois de uma longa espera que
muito a fez sofrer, aos 29 anos soava a hora de Deus! Em fins de 1919
chegou da França um pedido de
candidatas para o noviciado de Poitiers. Desta vez a mãe não opôs resistência e ela se lançou ao empreendimento sem olhar para trás. Em
4 de fevereiro de 1920 deixou sua
pátria para sempre, sem dizer nada
a ninguém, para evitar a dor da despedida, nem levar nada consigo.
“Quero que tu também
sejas vítima”
Para fundar o primeiro noviciado
da Sociedade do Sagrado Coração,
Santa Madalena Sofia escolhera a
Abadia des Feuillants, em Poitiers,
onde dois séculos antes habitaram
os cistercienses. Fora destruída durante os anos tempestuosos da Revolução Francesa, mas, dissipada
a tormenta, tornou-se residência frequente desta alma de escol, que ali recebera singulares
graças. Por isso, os muros benditos da abadia eram considerados
por suas filhas espirituais uma relíquia da santa fundadora.
Durante os primeiros meses de noviciado neste abençoado mosteiro, irmã Josefa sofria
muitas tentações de abandonar
a vida religiosa. Ela mesma conta que, num só dia, chegou, por
cinco vezes, a tomar a resolução de tirar o hábito e ir embora. Um dia, porém, sentiu-se arrebatada por um “sono muito
doce”, do qual despertou no interior da chaga do Coração Divino. Desde então, tudo mudou
para ela: “Com a luz que a inunda vê os pecados do mundo e oferece sua vida para consolar o Coração ferido de Jesus. Um desejo
veemente de unir-se a Ele a consome e qualquer sacrifício lhe
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      23
­arece pequeno para permanecer
p
fiel à sua vocação”!5
Outros favores místicos concedeu-lhe Nosso Senhor, como preâmbulo
da missão que lhe destinara, até que
manifestou explicitamente seus desígnios: “Assim como Eu Me imolo
vítima de amor, quero que também
tu sejas vítima: o amor nada recusa”.6
A partir deste momento, o Sagrado
Coração de Jesus a assume como instrumento para transmitir ao mundo
os inefáveis segredos de seu amor.
Josefa sempre externava a J­ esus
os temores e fraquezas que a invadiam, pois sentia ser incomensurável a responsabilidade que lhe
pesava sobre os ombros, fardo demasiado grande para si. E Ele a consolava: “Não tenhas medo de nada!
Escolhi-te, tão miserável, para que
vejam, mais uma vez, que não busco
a grandeza nem a santidade... Busco
amor! Eu farei todo o resto”.7
A grande misericórdia
do Coração de Jesus
Fotos: www.oeuvre-du-sacre-coeur.be
Nosso Senhor foi-lhe revelando grande desejo de contar com ela
­ ara realizar seus planos: “O mundo
p
não conhece a misericórdia de meu
Coração. Quero valer-Me de ti para dá-la a conhecer. Quero que sejas apóstolo de minha bondade e de
minha misericórdia. Eu te ensinarei;
tu, abandona-te”.8
Em outra ocasião, expôs-lhe o
meio com que faria chegar ao mundo inteiro suas palavras: “Desejo
que escrevas e guardes tudo quanto Eu te diga. Tudo será lido quando
estejas no Céu. Quero servir-Me de
ti, não por teus méritos, senão para
que se veja como meu poder se serve de instrumentos débeis e miseráveis”.9
Por seu intermédio revela o Divino Redentor aos homens o infinito amor que nutre para com eles
e seu desejo de que este amor seja retribuído também com amor:
“Conheço o fundo das almas, suas paixões e a atração que sentem
pelo mundo, pelo prazer. Eu sabia,
desde toda a eternidade, quantas
almas amargariam meu Coração e
que, para muitas, meus sofrimentos e meu Sangue seriam inúteis...
“Escolhi-te tão miserável, para que vejam, mais uma vez, que não busco a
grandeza nem a santidade... Busco amor! Eu farei todo o resto”
Sóror Josefa realizando atividades domésticas no convento de Poitiers
24      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Mas como as amava antes, as amo
agora... Não é o pecado que mais
fere meu Coração... o que mais o
maltrata é que não venham refugiar-se nele depois de o cometerem. Sim, desejo perdoar e quero
que minhas almas escolhidas façam o mundo conhecer como espero os pecadores, cheio de amor
e de misericórdia”.10
Certa vez, estando irmã Josefa
em adoração diante do Santíssimo
Sacramento exposto, apareceu-lhe
Nosso Senhor carregando sua Cruz e
disse: “Josefa! Participa do fogo que
devora meu Coração: tenho s­ ede de
que as almas se salvem... Que as almas venham a Mim!... Que as almas
não tenham medo de Mim!... Que as
almas tenham confiança em Mim!”.11
O mundo não quer outra
lei senão seu gosto...
Josefa teve contínuas revelações,
nas quais Jesus deixou transparecer seu ardente desejo de perdoar os
pecados cometidos contra seu amável Coração, durante os três anos
passados no convento de Poitiers,
até que entregou sua alma a Deus,
em 29 de dezembro de 1923.
Naqueles primórdios do século XX, o mundo contemplara, horrorizado, as atrocidades
da Primeira Grande Guerra,
sem, contudo, caminhar para a
conversão. Crescia o número de
almas que abandonava a prática dos Mandamentos, e as gerações se iam sucedendo em progressiva ignorância das coisas
de Deus. Eis o gemido de Nosso Senhor: “Olha este Coração
de Pai que Se consome de amor
por todos os seus filhos. Ah!
Como desejo que Me conheçam!”.12
Neste sentido, é comovedor o lamento do Sagrado Coração de Jesus: “Às almas que não só não Me
amam, senão que Me desagradam
e Me perseguem, ­perguntarei: ‘Por
Revelações que hoje nos
enchem de esperança
É preciso reconhecer que nossos dias não são melhores do que
aqueles idos anos... Decorrido
quase um século, inúmeros conflitos armados sacodem o mundo,
enchendo o horizonte de terríveis
ameaças. Sobretudo, o abandono
da Lei de Deus é ainda mais terrível
1
2
Timothy Ring
que Me odiais assim? Que fiz Eu para que Me persigais deste modo?’...
Quantas são as almas que nunca
se fizeram esta pergunta! E hoje,
quando Eu a faço, terão de responder: ‘Não o sei’.
“Eu contestarei por elas: ‘Não
me conheceste quando criança,
porque ninguém te ensinou a conhecer-Me; e à medida que crescias em idade, cresciam em ti também as inclinações da natureza
viciada, o amor aos prazeres, o
desejo de gozos, de ­
l iberdade,
de riquezas. Um dia ouviste dizer que para viver sob minha
Lei é preciso suportar o próximo, amá-lo, respeitar
seus direitos, seus bens;
é necessário submeter as
próprias paixões... e como
vivias entregue a teus caprichos, a teus maus hábitos, ignorando de que Lei se tratava, protestaste dizendo: ‘Não
quero outra lei senão o meu gosto! Quero gozar! Quero ser livre!’.
“Assim foi como começaste a
perseguir-Me. Entretanto, Eu, que
sou teu Pai, te amo com amor infinito, e enquanto te rebelavas cegamente e persistias no afã de destruir-Me, meu Coração se enchia
mais e mais de ternura para contigo”.13
“Filho querido, Eu sou Jesus, e este
nome quer dizer Salvador”
Sagrado Coração de Jesus
Casa Monte Carmelo, Caieiras (SP)
do que naquele então. Mais do que
em qualquer outra época da História, os homens se afastaram do caminho do bem.
Em certa passagem do Evangelho, Nosso Senhor diz aos fariseus: “Não são os homens de boa
saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim
chamar à conversão os justos,
mas sim os pecadores” (Lc 5,
31-32). Deste modo, estas revelações do Sagrado Coração de Jesus devem encher-nos de esperança, pois o
dulcíssimo Coração de Jesus está sempre disposto a
curar nossos males, basta
sabermos ouvir o apelo ao
amor que, através de sóror
Josefa Menéndez, Ele nos
faz:
“Hoje não posso conter por
mais tempo o impulso de meu
amor e, ao ver que vives em
contínua guerra contra quem
tanto te ama, venho dizer-te Eu
mesmo quem sou.
“Filho querido, Eu sou Jesus,
e este nome quer dizer Salvador. Por isso minhas mãos estão
transpassadas pelos cravos que
Me sujeitaram à Cruz, na qual
morri por amor a ti. Meus pés trazem os mesmos sinais e meu Coração está aberto pela lança que introduziram nele depois de minha
morte.
“Assim venho a ti, para ensinar-te
quem sou e qual é minha Lei. Não
te assustes: é de amor! E quando
já Me conheças, encontrarás descanso e alegria. É tão triste viver
órfão! Vinde, pobres filhos... Vinde
com vosso Pai”.14 ²
MENÉNDEZ, RSCJ, Josefa. Un llamamiento al amor.
3.ed. Buenos Aires: Guadalupe, 1960, p.222.
3
Idem, p.43.
7
Idem, p.286.
11
Idem, p.283.
4
Idem, p.45.
8
Idem, p.13.
12
Idem, p.499.
5
Idem, p.63.
9
Idem, p.14.
13
Idem, p.500-501.
Idem, p.12-14.
6
Idem, p.67.
10
14
Idem, p.501-502.
Idem, p.266.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      25
Jorge Martínez
Basílica-Santuário de Santo Antônio, Messina
Maria abre os corações para a conversão
A
uma senhora foi curada de uma longa crise de insônia.
Agora, segundo ela mesma testemunha, goza do sono
de uma criança. Tudo aconteceu depois de ter-se confessado com o sacerdote Arauto e ter rezado diante da
Imagem do Imaculado Coração de Maria. Em Messina,
um casal jovem quis procurar a Imagem peregrina para
agradecer, depois de dez anos de casamento, o dom de
um filho, suplicado diante da imagem peregrina um ano
antes. Em síntese, a esteira de luz deixada pela missão
com Maria abre os corações para a conversão a Jesus, o
Salvador e Redentor.
Fotos: Gustavo Kralj
Missão Mariana dos Arautos na Itália tem sido
acompanhada por “grandes maravilhas” operadas pela Santíssima Virgem nos corações dos
fiéis que acorreram para recebê-la. Conversões sinceras,
corroboradas no sacramento do perdão, reconciliações
familiares e sociais, retorno à vida da Igreja, e tantos outros portentos de misericórdia operados com surpreendente eficácia pela intercessão d’Aquela que é Mãe
afetuosíssima e Medianeira universal da graça. Mas não
só, também a saúde tem sido restituída a quem suplicara
com fé. Numa das paróquias visitadas, por exemplo,
Alcamo – No dia 23 de outubro, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria chegou a Alcamo, província
de Trapani, onde foi recebida com entusiasmo pelos fiéis da Paróquia de Santa Maria de Jesus. Após uma bela
procissão que percorreu as ruas da cidade ela foi entronizada na igreja repleta de fiéis.
26      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
2
Jorge Martínez
1
4
5
Fotos: Gustavo Kralj
3
Momentos da Missão Mariana – Missa de encerramento do Encontro Mariano no Santuário de Santo Antônio,
Fotos: Gustavo Kralj
de Messina, com a participação dos cooperadores dos Arautos e coordenadores do Oratório (1); procissão em
comemoração ao aniversário da última aparição de Nossa Senhora de Fátima, 13 de Outubro, na Basílica-Santuário
de Santo Antônio, presidida pelo Reitor, Pe. Mário Magro (2); a Virgem Santíssima conforta os idosos da Casa das
Irmãzinhas dos Pobres (3); solene coroação de Nossa Senhora na Paróquia São Nicolau de Bari, em Gazzi, Sicília,
presidida pelo Pe. Pietro Scolaro (4); Pe. Maurício de Oliveira Sucena, EP, rezando a Nossa Senhora junto com as
crianças da Paróquia de São Miguel, de Gragnana-Carrara (5).
Visitas a colégios – Durante as missões são sempre percorridas residências, empresas, instituições e edifícios
públicos de todo o território paroquial. Mas nenhum desses encontros supera em alegria a acolhida dada pelas
crianças em escolas como o Instituto Antoniano Cristo Rei, de Messina, visitado no dia 12 de outubro.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      27
Fotos: Nuno Moura
Retiro Espiritual em Fátima – Nos dias 7 e 8 de novembro, vários cooperadores e simpatizantes dos Arautos do
Fotos: Nuno Moura
Evangelho do Evangelho congregaram-se em Fátima para um retiro espiritual promovido pela instituição. O retiro
foi dirigido pelo Pe. Jorge Filipe Teixeira Lopes, EP, e teve como tema “A graça divina e o amor de Deus”. Durante
estes dois dias os retirantes participaram de várias palestras, círculos de estudo, momentos de meditação e
adoração ao Santíssimo Sacramento, assistindo ainda diariamente à celebração da Santa Missa.
Setúbal – No dia 8 de novembro, a Diocese de Setúbal despediu-se da Imagem Peregrina do Santuário de
Fátima, que estava em visita a esta diocese desde o dia 25 de outubro. Ao longo desses dias, a imagem peregrina
percorreu as comunidades católicas sadinas acompanhada pelo Bispo Diocesano eleito, Dom José Ornelas, cuja
ordenação episcopal coincidiu com a chegada da imagem. Ao som do “Adeus de Fátima”, entoado pelo Coro dos
Arautos do Evangelho, a imagem partiu para a Arquidiocese de Évora.
28      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Paróquia do Paúl do Mar
Paróquia do Santo da Serra
Paróquia de São João Lomba (Ribeira Brava)
O
Casa de Saúde Câmara
Pestana - Funchal
Paróquia Nsa. Sra. da
Conceição - Porto Moniz
Paróquia Arco de S. Jorge
s Arautos do Evangelho promoveram em fins de
Outubro a visita da Imagem do Imaculado Coração
de Maria à Ilha da Madeira. Acolhida pelo povo madeirense com grande entusiasmo, a imagem esteve presente em várias paróquias da diocese do Funchal durante
os dez dias que durou a missão. Em algumas delas fize-
Paróquia do Caniço
Paróquia de Cristo Rei Ponta do Sol
Paróquia de São Sebastião Caniçal
ram visitas aos doentes e idosos, procurando deixar a todos uma mensagem de esperança e uma maior devoção
mariana. A missão teve como um dos pontos altos a solene Eucaristia na Igreja Matriz de São Jorge, incluída no
programa de comemorações realizadas por ocasião do
seu 500º aniversário.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      29
Fotos: Luís Fernandes e Nuno Moura
Imagem peregrina visita Madeira
Fotos: David Falla
Colômbia – Durante a semana de recesso escolar, em outubro, estudantes do Colégio Arautos do Evangelho,
de Bogotá, realizaram uma Missão Mariana em diversos municípios do Estado de Santander. Em Girón, povoado
próximo de Bucaramanga, foi celebrada uma solene Eucaristia na Basílica Menor, que ficou lotada de fiéis.
F
1
2
3
4
iéis do povoado mexicano de Ayojapa receberam a
Imagem Peregrina com uma procissão (foto 1) até a
Capela de São José da Montanha, onde o Pe. Álvaro Mejía, EP, presidiu a Santa Missa. Perto de 2 mil fiéis participaram na Celebração (foto 2). No dia seguinte, foi re-
30      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
alizado um “Dia com Maria” na Paróquia de São Pedro
Apóstolo, de Maltrata, também no Estado de Veracruz
(fotos 3 e 4). Ademais da recitação do Santo Rosário, Adoração ao Santíssimo Sacramento, Missa e palestras, houve
sacerdotes atendendo confissões durante todo o dia.
Fotos: Ronny Fischer
Missões Marianas na Diocese de Orizaba
Fotos: Pablo Pérez
Estados Unidos – No mês de outubro, três cerimônias de Primeiro Sábado foram organizadas pelos cooperadores
dos Arautos em Miami. Pela manhã, houve recitação e meditação do Rosário, seguida de Santa Missa, na Igreja do
Bom Pastor (esquerda). À tarde, as cerimônias tiveram lugar na Igreja de São João Bosco e na Casa Caná (direita).
3
2
4
6
5
7
Colômbia – Jovens do setor feminino viajaram para Barranquilla (fotos 1 e 2), Monte Líbano (foto 3) e Montería. As
visitas incluíram residências de doentes (foto 4) e instituições como a Universidade do Sinú, de Monteria (foto 5).
Houve também um agradável encontro com o Bispo Auxiliar de Barranquilla, Dom Víctor Tamayo (fotos 6 e 7).
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      31
Fotos: Nathaly Carías López
1
Os Anjos, a estrela
e a voz interior
Qual manifestação do Menino Deus terá sido mais perfeita: a
dos Anjos cantando “Glória no Céu” ou a da estrela que sulcou o
firmamento precedendo os Reis Magos?
Pe. Hugo Vicente Ochipinti González, EP
N
o mês de dezembro,
costumam as famílias
católicas erguer em algum lugar nobre da casa o presépio de Natal. Embora cada um tenha sua peculiaridade e
beleza, compõem-se todos de peças essenciais próprias a recordar o
excelso acontecimento da Gruta de
Belém. No centro, o Menino Jesus
ladeado pela Santíssima Virgem e
São José, e em redor dois grupos de
personagens muito característicos
e de importante valor simbólico: os
pastores e os Reis Magos.
A eles Se manifestou o Menino
Deus de modo diverso, embora com
a mesma mensagem. Qual terá sido
a manifestação mais perfeita?
Sinais familiares
aos seus destinatários
Uma pessoa com grande espírito religioso opinará que foi a feita aos pastores, pois o simples fato
de imaginar o céu repleto de Anjos
cantando uma música celestial basta para deixar deslumbrada qualquer alma capaz de entender o que
significa ouvir milhares de vozes angélicas rompendo com seu cântico o
silêncio noturno de uma campina,
naquela época em que não existiam
fábricas nem motores nem qualquer
outro ruído, a não ser o produzido
pelos animais notívagos.
Contudo, alguém mais afeito à
consideração dos fenômenos astronômicos dará maior importância à
peculiar estrela que guiou os Reis
Magos. Segundo São Tomás,1 Deus
a colocou não no espaço sideral, mas
na atmosfera terrestre, onde ela se
movia de acordo com os desígnios divinos. Um tão extraordinário astro
despertaria hoje, sem dúvida alguma, a atenção dos astrônomos. Mas
naquela época não existia luz elétrica, e os parcimoniosos movimentos
do céu estrelado eram um dos mais
grandiosos espetáculos que o homem
comum podia contemplar, sem precisar para isto se afastar para longe da
cidade, como ocorre nos nossos dias.
Ora, conforme explica o Doutor
Angélico,2 a manifestação por sinais
deve utilizar os que são familiares
aos seus destinatários. Portanto, como os pastores, sendo judeus, estavam habituados às revelações angélicas, quis Deus manifestar-Se a eles
por meio dos Anjos. E aos Reis Magos, peritos em astronomia, através
de uma estrela.
O impulso de uma voz interior
Qual manifestação será mais perfeita: a dos Anjos ou a da estrela?
32      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Compliquemos um pouco mais a
questão: houve só duas manifestações do Menino Deus?
Comenta São Tomás3 que existe uma terceira, mais perfeita que
as anteriores. Pode-se imaginar que,
para ser superior à aparição angélica e à estrela, deve ter sido uma cena arrebatadora; entretanto, não encontramos no presépio um terceiro
grupo que atenda a essa expectativa.
Qual será ele?
O Aquinate continua explicando
que é familiar aos justos serem instruídos pelo impulso interior do Espírito Santo, por meio do espírito de
profecia, sem a intervenção de sinais
sensíveis.
Houve dois personagens, dois
justos, dois profetas que, embora
não estando representados no presépio, receberam também a manifestação divina, não de modo material e visível, mas de forma mais
perfeita, a voz da graça em sua alma: Simeão e Ana, um ancião sacerdote e uma anciã profetisa. Creram
ambos ardentemente na voz interior
que lhes dizia que veriam o Salvador. Dois justos que, sem sinais exteriores nos quais é mais fácil crer,
aderiram com a virtude da confiança a esta moção que a graça colocou
em suas almas.
Gustavo Kralj
Deus está sempre à espera de Se comunicar conosco, mas, para ouvi-Lo, é preciso que as nossas almas
permaneçam em silêncio, longe da agitação e das preocupações do mundo moderno
Natividade - Igreja de Santa Maria, Waltham (Estados Unidos)
Esta manifestação requer uma fé
robusta que espera sem ver, crê sem
duvidar, confia contra toda dificuldade que a promessa se realizará. Poderíamos afirmar que eles foram mais
felizes que os pastores e os Reis Magos pois, tendo em seus braços o Verbo Encarnado, o Menino Deus, viram-No com maior profundidade,
maior mérito e maior alegria.
Sensibilidade à voz da graça
Deus está sempre à espera de Se
comunicar conosco, mas, para ouvi-Lo, é preciso que as nossas almas permaneçam em silêncio, longe da agitação e das preocupações
do mundo moderno. Recolhidos em
oração ou cumprindo com nossas
obrigações corriqueiras enquanto
o espírito permanece impostado no
sobrenatural, estaremos criando as
condições para que Ele fale em nosso interior.
À medida que avançamos nas
vias da virtude, adquirimos profundidade de espírito, nossa fé se robustece, e se fortalece nossa confiança em Deus. Alcançamos uma
sensibilidade maior à voz da graça
que ressoa constantemente em nosso interior, e que o padre Thomas
de Saint-Laurent descreve muito
bem no início de O livro da confiança: “Voz de Cristo, voz misteriosa da
graça que ressoais no silêncio dos
corações, vós murmurais no fundo
das nossas consciências palavras de
doçura e de paz”.4
Peçamos à Santíssima Virgem
Maria, a qual “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu
coração” (Lc 2, 19), que nos abra
os ouvidos da alma para essa suave
e penetrante manifestação de Deus
em nosso interior. ²
1
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma
Teológica. III, q.36, a.7.
2
Cf. Idem, a.5.
3
Cf. Idem, ibidem.
4
SAINT-LAURENT, Thomas de. O livro da
confiança. São Paulo: Artpress, [s.d.], p.9.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      33
O Santuário norte-americano de Nossa Senhora das Vitórias
Um sonho feito realidade
Nossa Senhora não é a padroeira das obras inacabadas.
Quando um zeloso sacerdote resolveu erguer uma magnífica
igreja para honrá-La, Ela não o desamparou...
Ir. Elizabeth Veronica MacDonald, EP
A
Basílica e Santuário Nacional de Nossa Senhora
das Vitórias, nos Estados
Unidos, é inegavelmente uma obra arquitetônica de grande categoria. Sua imponente fachada está revestida de mármore branco
americano e seu interior é embelezado com 46 tipos de mármores vindos
da Itália. A grande cúpula de 24 metros de diâmetro era, na época de sua
construção, a segunda maior do país,
superada apenas pela do Capitólio de
Washington.
Suntuoso templo à Rainha do Céu
Rico em predicados artísticos, esse santuário representa uma calorosa
expressão de amor à Santíssima Virgem e desperta a piedade em todos
quantos cruzam o seu limiar. O pórtico principal recebe o peregrino com
uma bela imagem de Nossa Senhora
das Vitórias, anúncio da que, sob um
baldaquino de colunas helicoidais de
mármore vermelho espanhol, preside o altar-mor. Esculpida numa peça de mármore de quase três metros
de altura, essa bela cópia da célebre
imagem francesa foi pessoalmente
abençoada pelo Papa Pio XI antes de
ser enviada para a América.
Uma série de harmônicos detalhes deixa entrever as nobres dispo-
sições de alma do idealizador desse
recinto sagrado: o Venerável Nelson H. Baker, conhecido e querido
naquele pequeno recanto do Estado
de Nova York como o pai dos pobres.
Foi do padre Baker a ideia de colocar imagens de Anjos — os fiéis executores da vontade da Rainha do Céu
— em todos os pontos da igreja. Calcula-se que haja entre 1.500 e 2.500, no
total. Devido ao seu empenho ­pessoal,
os 200 esplêndidos vitrais retratam
episódios da vida de Nossa Senhora.
Ademais, querendo uma matéria ainda não tocada por mãos humanas para montar no transepto sul uma réplica da gruta de Lourdes, conseguiu uma
rocha vulcânica do Monte Vesúvio.
Como foi possível, na terceira década do século passado, erguer numa pequena cidade industrial essa
imponente igreja designada como
um dos maiores santuários da América do Norte no decreto papal de
elevação a basílica menor? O que levou o abnegado sacerdote e paladino dos pobres a erguer tão suntuoso
templo à Rainha do Céu?
“Consagrarei minha vida
ao vosso serviço”
Corria o ano 1874, quando Baker,
então seminarista, encontrava-se em
peregrinação no Velho Continente.
34      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Ao entrar na Basílica de Notre-Dame-des-Victoires, em Paris, despertou-lhe a atenção a vivaz manifestação de piedade das pessoas ao
seu redor; arrebatado pela imponderável atmosfera sobrenatural que
ali reinava, caiu de joelhos diante
de uma imagem de Nossa Senhora
e tomou uma resolução: “Doravante, consagrarei minha vida inteira
ao vosso serviço; devotarei todos os
meus pensamentos e ações ao vosso nome; difundirei na América a
devoção a Nossa Senhora das Vitórias”.1
Senso empresarial e
filial confiança
Ao regressar à sua terra natal,
Nova York, os bons propósitos formulados na longínqua França foram
postos à prova. A primeira incumbência que recebeu após sua ordenação sacerdotal, em 1876, foi a de
assistente do pároco de Limestone
Hill, atual Lackawanna. A paróquia
contava com uma igreja e dois grandes institutos: um para meninos órfãos, outro para indigentes, ambos
atolados em dívidas.
Tendo sido nomeado, em 1882,
pároco e superintendente dessas
duas instituições, lançou-se decididamente à tarefa de dar-lhes uma
ourladyofvictory.org
Gustavo Kralj
ourladyofvictory.org
Gustavo Kralj
Nas fotos:
Vista interior
e exterior da
Basílica e da
imagem de
Nossa senhora
das Vitórias que
preside o altar.
Ao lado, em
primeiro plano,
um dos muitos
Anjos que
ornam o templo
construído pelo
Pe. Baker em
Lackawanna
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      35
Fotos: Gustavo Kralj
sólida situação finanDois meses após a consaceira, utilizando nesgração, o Papa Pio XI elevou
se empreendimena igreja à categoria de basílica
to seu aguçado senso
menor.
empresarial e sua fiPelo fruto conhecereis
lial confiança em Nossa
a árvore
Senhora. Conseguiu listas de
nomes e endereços de senhoOs últimos anos de seu miras católicas de todo o p
­ aís, às
nistério sacerdotal foram para
quais enviou milhares de caro padre Baker motivo de grantas, todas manuscritas, solicide consolo, pois ele pôde constando ajuda para o sustento
tatar a graça divina atuando
As atividades apostólicas do padre Baker
das crianças sob os seus cuinas almas através do abençoanão arrefeceram seu anseio de edificar uma
dados. Convidava-as a ingresdo ambiente do templo.
esplendorosa igreja em honra a Maria
sar na Associação de Nossa
A bela basílica exerceu, por
Retrato do Pe. Baker aos 70 anos e aspecto da
Senhora das Vitórias, por ele
exemplo, forte atração sobre
sua obra social
fundada, dando um pequeno
numerosos operários do sul do
contributo anual.
país que, durante a crise ecoProfundamente convencido de
de 1921, nas vésperas de seus 80 nômica de 1930, se dirigiram a Laque qualquer obra destinada a reanos de idade. Nesse dia, ele cele- ckawanna em busca de emprego na
mediar os males sociais deve ser anbrou a última Missa na pequena e grande indústria metalúrgica ali existes de tudo um trabalho espiritual,
desgastada igreja paroquial, que lo- tente. Tanto mais que, ao transpor o
ele não se cansava de pregar sobre a
go em seguida foi demolida para ce- umbral, eles se deparavam com um
eficácia da intercessão de Nossa Sebondoso sacerdote nonagenário que
der espaço ao novo edifício.
nhora. “Maria tem o maior poder e
Com a segurança de quem nada se interessava por suas necessidades
onipotência no Céu: não apenas os
pede para si próprio, dirigiu-se uma materiais e espirituais, e levava muiAnjos a obedecem, mas até o próvez mais aos seus fiéis colaborado- tos deles às águas do Batismo.
prio Deus. Pensa, então, o quanto
E até hoje, ao constante fluxo de
res, incentivando-os a dar cada qual
pode Ela fazer na Terra, sendo tão
o que podia para erguer um santuá- peregrinos que visitam o santuário
poderosa no Céu”2 — escreveu cerrio em honra de Nossa Senhora. Do- onde repousam seus restos mortais,
nativos pequenos e grandes afluíram o padre Baker oferece uma “esmola
ta vez aos seus colaboradores.
espiritual”: um convite para aproxide todo o país.
O padre Baker foi, portanto, um
O padre Baker trabalhou intensa- mar-se de Nossa Senhora.
pioneiro no uso da mala direta paA Basílica e Santuário Nacional
mente em estreita colaboração com
ra angariar fundos. E com exceo arquiteto franco-americano Emile de Nossa Senhora das Vitórias ilustra
lentes resultados, pois em poucos
Ulrich, que contava com bons con- bem o ensinamento do Divino Mesanos as instituições caritativas de
tatos na Europa, e em apenas cinco tre a propósito do grão de mostarda
Limestone Hill encontravam-se lianos seu sonho tornou-se realidade: (cf. Lc 17, 6; Mt 17, 20): desde que
vres das dívidas e em plena expanum magnífico edifício sacro a riva- haja almas com fé, Nossa Senhora
são. Formou-se no local uma verlizar em esplendor com muitos de age e agirá, produzindo maravilhas
dadeira “cidade da caridade” que
seus similares europeus, erguia-se de crescente beleza e ousadia, pois a
perdura até hoje.
vitória está sempre com Ela. ²
no local da antiga paróquia.
Seu sonho se torna realidade
Realizara-se também outro dos
seus anseios: o preço total da consAs intensas atividades apostólitrução foi pago na íntegra antes da 1 RUBERTO, René. Father Baker, Folk Hecas do padre Baker não arrefecero: Legendary Study of the Life of Nelson
consagração do santuário, que se
ram em seu coração o anseio de ediH. Baker, apud GRIBBLE, Richard.
deu em 25 de maio de 1926. E o paficar uma esplendorosa igreja em
Father Nelson Baker and the Blessed
dre Baker, como de costume, esquihomenagem a Nossa Senhora das
Virgin Mary: A Lifetime of Devotion.
In: Marian Studies. Dayton, OH. N.62
vava-se dos elogios por tão notável
Vitórias. Muito pelo contrário, es(2011); p.100.
feito, dizendo com toda simplicidase ardente desejo não fez senão au2
BAKER, Nelson H., apud GRIBBLE,
de que a diretora das obras tinha simentar ao longo das décadas, até
op. cit., p.112.
do Nossa Senhora...
começar a realizar-se em 7 de maio
36      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Você sabia...
Quando e como se tornaram famosos os presépios napolitanos?
m 1759, o rei Carlos de Nápoles
herdou a Coroa espanhola, passando a ser conhecido como Carlos III. E, da cidade do Vesúvio, ele
levou para Madri a tradição de confeccionar magníficos presépios ao
estilo napolitano, estimulando esse
belo costume o quanto pôde no seu
novo reino.
Assim prestigiadas pelo poderoso
Rei das Espanhas, tão curiosas representações do nascimento do Senhor entraram na sua idade de ouro.
Os cenários cresceram em tamanho e as personagens secundárias se
multiplicaram. Aspectos corriqueiros da Nápoles do século XVII passaram a disputar terreno com a tranquilidade da Belém evangélica. Os
mais variados tipos humanos, trajes, mercados, prédios, alimentos,
instrumentos musicais e armas, entre outros mil detalhes, encontraram guarida na cenografia natalina. Os presépios transformaram-se
em obras de arte de
grande valor e puseram em realce o contraste entre o sagrado e o profano.
A serena sobriedade da Sagrada Família ficou envolvida pelo pragmatismo
das personagens seculares: comerciantes absorvidos pelos
Cenas populares do presépio napolitano
seus afazeres, burda Basílica Santa Maria in Via, Roma
gueses ocupados em
lucrar, artesãos absortos nas suas causou na opinião pública o descomanufaturas. Cada um ao seu modo brimento das antigas cidades helêniafana-se no gozo da vida, alheio ao cas Herculano e Pompeia, recuperagrandioso acontecimento que emol- das do olvido em 1738 e 1748, graças
dura, evocando o clima de despreo- às escavações financiadas pelo mocupação com o qual o mundo aco- narca espanhol. Com isso, a Gruta
do nascimento do Senhor passou a
lheu o seu Salvador.
Foi também nessa época que as ser apresentada sob a forma de um
ruínas da Antiguidade começaram a templo pagão prestes a ruir, em cujo
servir de cadre para os presépios na- seio nascia Jesus, o Salvador do unipolitanos, refletindo o impacto que verso.
Gustavo Kralj
E
A
atmosfera do Natal é doce: as
músicas, os adornos, o sabor das
comidas... Até a letra de certos cânticos usa a expressão doce Jesus para referir-se ao Divino Infante.
No ano de 2012, um confeiteiro da cidade siciliana de Castelbuono, chamado Nicola Fiasconaro,
quis imprimir ao seu modo essa nota de doçura no costume natalino de
montar presépios, usando chocolate
para confeccioná-los. O modelo por
ele escolhido foi a Natività de Antonello Gagini, venerada na Paróquia
São João e São Paulo na cidade de
Pollina, da qual fez uma cópia em
pequena escala.
Os personagens da Sagrada Família — Jesus, Maria e José — foram moldados em chocolate branco,
e ornados com detalhes azuis e dourados, tudo em matéria comestível.
O fundo da cena é também de chocolate branco, imitando o nicho original da escultura.
Os irmãos Fiasconaro, proprietários de afamada confeitaria de mesmo nome, presentearam diversas
Angelis Ferreira
Uma curiosa forma de deixar o
Natal mais doce?
Presépio de chocolate de Fiasconaro
pertencente ao Cardeal Paolo Romeo
autoridades com sua criação, verdadeira obra de arte natalina, na qual
o nosso doce Jesus apresenta-Se realmente como um Jesus doce. ²
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      37
A palavra dos Pastores
Um desequilíbrio que pode
levar a terríveis catástrofes
Tentados a pensar que, com sua inteligência e suas capacidades,
poderão encontrar solução para todos os problemas, os homens
hodiernos se esquecem de que há leis inscritas por Deus na natureza.
Cardeal Giovanni Battista Re
Prefeito Emérito da Congregação para os Bispos
N
esta noite de vigília, que
nos prepara para o dia
em que se recorda a última das seis aparições
da Virgem Maria aqui na Cova da Iria,
celebramos a memória da dedicação
desta basílica. Os textos litúrgicos convidam-nos a levantar os corações para Deus, debruçando-nos sobre o tema mais alto e mais belo: o amor que
Deus tem por nós, até ao ponto de vir
habitar em cada homem e mulher. Somos o templo vivo de Deus!
Vivemos como se Deus
não existisse
O Evangelho, agora proclamado, levou-nos em pensamento até
ao Templo de Jerusalém, onde — há
cerca de dois mil anos — Cristo encontrou aquela casa de Deus transformada num “covil” de negócios e
de comércio, tendo Ele expulsado os
vendilhões com veemência inusual
e contrária ao seu estilo habitual de
comportamento. Jesus não gostou
do que lá viu e encontrou.
Será bom interrogarmo-nos —
cada um para si — sobre a conside-
ração que temos pela casa de Deus
e, principalmente, sobre o lugar
que Deus ocupa no nosso coração
e na nossa vida. Porque o fascínio
das coisas tornou-se hoje particularmente insinuante; e a corrida ao
bem-estar absorve tempo e energias,
deixando-nos sem tempo nem desejo de Deus. Deus passa a ser a última das nossas preocupações. E, aos
poucos, esquecemo-nos d’Ele.
Além disso, as grandes possibilidades da técnica geram a ilusão de conseguirmos, por nós, aquilo que antes
se esperava de Deus: a humanidade
ilude-se de poder, sozinha, construir
o seu destino. Resultado: hoje, muitos pensam que não precisam de Deus
para alcançar a felicidade. Elimina-se
Deus, concluindo que não existe ou,
se existe, não nos interessa. E vivemos
como se Ele não existisse.
A raiz de todas as crises atuais
Mas, excluindo Deus da sua vida,
o ser humano permanece um enigma indecifrável para si mesmo. O
homem e a mulher podem conhecer muitas coisas, mesmo sem Deus,
38      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
mas, sem Deus, não se podem conhecer a si mesmos, o sentido da vida e o próprio destino eterno.
Longe de Deus, o ser humano
perde-se, ficando à mercê de egoísmos pessoais e interesses de grupo.
Onde Deus desaparece, o homem
e a mulher não se tornam maiores,
porque o fundamento da dignidade
e da grandeza humana é Deus. Como dizia o Papa Bento XVI, o ser
humano é grande, apenas quando
Deus é grande. Só onde há Deus,
pode haver futuro.
Sinais preocupantes de futuro em
risco são as várias crises atuais: é muito sentida a crise econômica e financeira que desde há vários anos pesa
sobre as famílias, com consequências
muito graves; preocupante é também
a crise moral que todos notamos; grave é ainda a crise social que comporta
tantos problemas. Mas, na base destas crises, está uma que é a raiz de todas as outras: a carência de Deus. Este é o verdadeiro problema do nosso
tempo: a falta de fé em Deus. E o pior
é que esta carência de fé não é sentida como... uma carência.
Sem Deus, o homem e a mulher
deixam de ter princípios que iluminem o caminho da vida. Tentados a
pensar que, com a nossa inteligência e as nossas capacidades, podemos encontrar solução para todos
os problemas, esquecemo-nos de
que existem leis, inscritas por Deus
Criador na natureza das coisas, que
o homem e a mulher devem respeitar. E, quando se chega a esquecer
que as coisas criadas têm as suas leis
intrínsecas e ineludíveis, nasce um
desequilíbrio que pode levar a catástrofes terríveis.
Nossa Senhora indicou
o caminho que leva a Deus
Deus: uma luz que arde, mas não
queima. [...] Quantos acolhem esta
presença tornam-se morada e, consequentemente, ‘sarça ardente’ do
Altíssimo” (João Paulo II. Homilia
da beatificação de Francisco e Jacinta, 13/5/2000).
Nesta noite, a Virgem Mãe repete também a nós que Deus é um Pai
que nos ama, quer o nosso bem, perdoa-nos porque nos ama. Ele deixa-Se também repudiar, porque respeita a nossa liberdade, mas depois
fica à nossa espera e volta a procurar-nos. Nesta memória da dedicação desta basílica, peçamos a Nossa
Senhora que nos alcance a graça de
colocarmos Deus no centro da nossa
vida e de nos sentirmos responsáveis
diante d’Ele pelos nossos irmãos e
irmãs. ²
Homilia na véspera do
aniversário da última aparição,
Santuário de Fátima, 12/10/2015
Luís de Oliveira - Santuário de Fátima
Onde Deus perde o lugar central
que Lhe compete, também o homem
perde o seu lugar. De fato, a razão
mais alta da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com
Deus. Da desordem e dos problemas
que se criaram sob o céu, neste nos-
so tempo, apenas será possível sair
se a humanidade levantar de novo os
olhos para o Céu. Por isso, a primeira
necessidade do nosso tempo é devolver Deus às consciências dos homens
e reabrir-lhes o acesso a Deus.
Nossa Senhora, aparecendo aqui
em Fátima com o seu convite à oração, à conversão do coração e à penitência, indicou o caminho que leva
a Deus e, com Ela, é possível aprender e saborear quão amável e plenificante é a presença divina em nós.
Tal foi a experiência dos três pastorinhos: “Das suas mãos maternas saiu
uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos em Deus como quando uma pessoa — explicam
eles — se contempla num espelho.
“Mais tarde, Francisco, um dos
três privilegiados, exclamava: ‘Nós
estávamos a arder naquela luz que
é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer’.
No dia 12 de outubro, a procissão das velas precedeu à Missa na Capelinha das Aparições,
presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      39
Polônia conta com 3,5 mil
seminaristas
Lisieux e Alençon comemoram a
canonização do casal Martin
Sete mil pessoas participaram do
encontro realizado em honra dos
pais de Santa Teresa do ­
Menino
­Jesus, Santa Zélia Guérin e São ­Luís
Martin, nos dias 24 e 25 de outubro, em Lisieux e Alençon. Entre
as diversas atividades, cabe destacar a Missa Pontifical na Basílica
de Santa Teresinha, presidida por
Dom Jean-Claude Boulanger, Bispo de Bayeux e Lisieux; a palestra de Dom Jacques Habert, Bispo de Séez, que discorreu sobre as
bem-aventuranças na vida dos Martin; e a conferência do Cardeal Philippe Barbarin, Arcebispo de Lyon,
que discursou sobre a santidade na
família: “É preciso cuidar do que
há de mais precioso: a santidade de
Deus em vós. Pelo Batismo, somos
santos, pois somos incorporados no
Cristo santo. Nós cuidamos da carreira, dos estudos, da saúde física,
mas preocupamo-nos realmente da
nossa santidade?”.
É a primeira vez na História da
Igreja que um casal é canonizado
no mesmo dia. Além de ser modelo
de caridade, sobretudo, apoiaram e
encaminharam as vocações religiosas das filhas. Quatro dos filhos do
casal morreram ainda crianças. As
cinco filhas sobreviventes foram todas freiras. Um dos principais testemunhos da santidade de ambos
veio da própria filha, Santa Teresinha: “O Senhor me concedeu um
pai e uma mãe mais dignos do Céu
do que da Terra”.
No mês de agosto, 748 seminaristas começaram na Polônia os cursos
de formação que devem culminar
com a ordenação presbiteral. O número de candidatos neste ano chega aos 3.571 seminaristas em diversas fases dos estudos filosóficos e
teológicos. Segundo as estatísticas
da Conferência dos Reitores de Seminários Maiores, 31 candidatos começaram os estudos no seminário
maior de Tarnów, que tem um total
de 190 seminaristas; 31 no seminário maior de Katowice, que tem 102;
e 20 no seminário de Przemyśl, que
já conta com 100 estudantes. O seminário de Pelplin receberá 20 candidatos, e os de Gdańsk e Lublin,
18 candidatos entre os dois. Nas ordens religiosas estão estudando atualmente 202 candidatos. O seminário de Varsóvia, um dos maiores da
Polônia, conta com 114 alunos. Dos
3.571 seminaristas, 898 são religiosos e os outros 2.672 pertencem às
diversas dioceses.
Congresso mundial da
“Rádio Maria”
Sob o lema Com Maria pelos caminhos do mundo, foi realizado na
Itália o VI Congresso Mundial da
Rádio Maria. Além das 74 delegações de emissoras dos cinco continentes, estiveram presentes também representantes da Letônia,
Guiné, Libéria, Gana e Benim,
­países que em breve devem começar a transmitir. Rádio Maria conta com 26 emissoras na Europa, 23
nas Américas, 19 na África e 6 na
Ásia e Oceania.
40      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Os congressistas se reuniram no
Santuário do Amor Misericordioso de Collevalenza, onde está o túmulo da fundadora, a Beata Madre Esperanza. Os temas tratados
se centraram no aprofundamento
da identidade da emissora, enquanto mariana e voltada para a oração,
evangelização e promoção humana. A Rádio Maria funciona à base
de trabalho voluntário e de confiança na Divina Providência, segundo
organizadores do evento. As emissoras retransmitiram os momentos mais importantes do encontro,
como o Rosário, Vésperas e Santa
Missa na Basílica de São Pedro.
Colheita no Horto das Oliveiras
No sábado 17 de outubro começou a colheita de azeitonas no Horto do Getsêmani, local onde Nosso
Senhor orou na noite da Quinta-Feira Santa e foi preso. O sagrado jardim está, desde 1681, sob os cuidados dos frades franciscanos, os quais
convidaram pessoas de todo o mundo para participar dos trabalhos,
que demoram uma semana.
A Custódia Franciscana da Terra Santa e o Patriarcado Latino de
Jerusalém informaram que neste ano participaram voluntários de
15 nações. Estudos científicos revelam que as oliveiras centenárias estão todas de tal forma aparentadas
que, com muita probabilidade, descendem das mesmas árvores que
existiam no tempo de Nosso Senhor. Com a abundante colheita
deste ano, a Abadia de Latrun produzirá um azeite que será enviado a
santuários de todo o mundo, às paróquias do Patriarcado Latino de Jerusalém e às comunidades religiosas
da Terra Santa. O jardim tem 1,2 mil
­ etros quadrados e são oito as olim
veiras mais antigas, algumas delas
com troncos de mais de três metros
de diâmetro.
Um milhão de crianças
venezuelanas rezam o Rosário
Compostela abre novo centro de
acolhida para peregrinos
No dia 26 de outubro foi inaugurado em Santiago de Compostela o novo Centro Internacional de
Madri acolhe congresso
da Fundação Ratzinger
A
Universidade Francisco de
Vitória, de Madri, foi o local escolhido pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger-Bento
XVI, para seu V congresso, realizado entre os dias 28 e 30 de outubro, sob o lema A oração, força
que muda o mundo.
Na sessão de abertura, Mons.
Giuseppe A. Scotti, presidente
da fundação, após saudar os participantes no congresso e agradecer a presença do Arcebispo
de Madri, Dom Carlos Osoro
Sierra, e do Núncio Apostólico, Dom Renzo Fratini, aplicou
a figura da “terra árida e sequiosa, sem água”, da qual fala o Salmo 62, ao homem que vive sem
Deus. “Um homem que procura, certamente, mas que é incapaz de colocar seu coração e sua
mente em harmonia com a men-
te e a força criadora do Altíssimo” — acrescentou.
Participaram também do
evento, entre outras personalidades, o Arcebispo de Valladolid e Presidente da Conferência
Episcopal Espanhola, Cardeal
Ricardo Blázquez, o Reitor da
Universidade Francisco de Vitória, Daniel Sada, e o Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Luis Francisco
Ladaria, SJ. O Cardeal Blázquez
glosou em sua intervenção a figura de Santa Teresa de Jesus
e fez um preito de gratidão ao
Cardeal Ratzinger, com quem
conviveu desde os tempos em
que era professor na Alemanha.
Dom Fratini, por sua parte, lembrou que o crescimento da Igreja depende da oração, que é caridade e esperança em ato.
www.fondazioneratzinger.va
O Conselho Nacional de Leigos
da Venezuela organizou a X Jornada Um milhão de crianças rezando o
Rosário pela união e pela paz. A iniciativa, que surgiu com o apoio de
muitos voluntários, acabou por atingir todo o território nacional e se estendeu a outros países, segundo os
organizadores.
Para conseguir a participação de
maior número de crianças, acompanhadas por parentes e professores, o ato foi dividido em três dias
e três locais diferentes: 16 de outubro, nos colégios; sábado, 17 de outubro, nas paróquias; e domingo, dia
18, em família. A Missa principal foi
celebrada na Paróquia Santa Rita de
Cássia, na capital, Caracas. Os responsáveis aproveitaram a ocasião
para organizar atividades teatrais e
musicais que facilitassem às crianças
a compreensão da necessidade de
rezar diariamente.
Em Barinas, foram ademais visitadas as crianças e jovens do Hospital Luis Razetti e do Hospital Materno Infantil. O Vigário-geral da
diocese, Pe. Andrés Eloy Bastidas
Rangel, aproveitou a oportunidade para ministrar a Unção dos Enfermos.
Em San Fernando de Apure, estudantes do Centro de Formação
Familiar Cristo Rei, da Escola Avelina Duarte e da Universidad de la
Seguridad se uniram na Avenida
Miranda para recitarem o Santo Rosário.
Acima, Dom Luis Francisco Ladaria concedendo uma entrevista e
Dom Carlos Osoro presidindo a Eucaristia na Catedral. No alto da
página, a mesa presidencial da sessão de abertura
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      41
Acolhida aos Peregrinos. Além de
um espaço de atenção multilíngue,
o centro conta com capela, sala de
eventos e uma biblioteca especializada no santuário e diversas rotas de
peregrinação.
O traslado da atual Oficina do
Peregrino para o novo centro será feito de forma paulatina. As novas instalações, que devem estar em
pleno funcionamento em inícios de
2016, fizeram-se necessárias por
causa do incremento no número de
peregrinos, que, segundo o Presidente da Comunidade autônoma da
Galícia, Alberto Núñez Feijóo, bateu “todos os recordes”: no ano de
2015, até o momento desta publicação, tinham chegado a Compostela
250 mil peregrinos, cifra que supera até os anos jubilares do santuário.
Mais de 3 mil jovens participam
de congresso em Brasília
Nos dias 17 e 18 de outubro, teve lugar no colégio dos irmãos maristas em Brasília, um congresso
organizado pelo Setor Juventude
da arquidiocese, no qual participaram mais de 3 mil jovens. Houve palestras para aprofundamento
espiritual, workshops, momentos
de oração, peças teatrais, Celebrações Eucarísticas e Adoração
ao Santíssimo Sacramento. O congresso teve como tema Felizes os
misericordiosos porque alcançarão
misericórdia.
Em sua palestra sobre Fé e razão,
Dom José Aparecido Gonçalves de
Almeida, Bispo Auxiliar de Brasília, explicou como a razão, além de
nos levar a ter fé, ajuda a conhecer a Nosso Senhor e ter mais amor
por Ele, e incentivou os presentes a
dar e recolher caridade e a “aprender a doçura de perdoar”. Por sua
vez, Dom Marcony Ferreira, também Bispo Auxiliar, tratando sobre
a misericórdia, comentou: “A misericórdia não é só perdoar, é saber
como perdoar, como ter paciência
com o outro, como sempre dar uma
chance para o outro. Por isso mesmo, nós temos que aprender com
Produzido por mãos consagradas
A
ma Humanitate, da qual depende DeClausura, esta
instituição “contribui com a manutenção dos mosteiros, apoiando a comercialização dos produtos conventuais, mas respeitando os ritmos das religiosas”, porque um problema com o qual elas se deparavam
ocasionalmente era o pedido súbito de enormes quantidades de produtos, impossíveis de fornecer sem perturbar a vida conventual.
DeClausura visa também canalizar, através de
sua página web, doações de particulares para esses
mosteiros, além de sensibilizar sobre a vida de clausura e sua razão de ser, mostrando a riqueza e beleza da vida contemplativa.
O site recebe constantemente mensagens pedindo, além de produtos
monásticos, orações por
alguma intenção particular. Elas são encaminhados às religiosas, e depois
“tentamos enviar a quem
pediu orações a confirmação de que ele foi atendido”, comentou de Asís.
Produtos monásticos oferecidos na página www.declausura.org
www.declausura.org
organização DeClausura (www.declausura.org)
foi criada para dar a conhecer os conventos de
clausura espanhóis e colaborar com seu sustento por
meio da comercialização de produtos feitos pelas religiosas, que vão desde tecidos e bordados até sabonetes,
bolos, embutidos, porcelanas, cerâmicas e imagens. Para melhor divulgar este artesanato, realizou-se em Madri, nos dias 23 e 24 de outubro, uma amostra especial
de produtos monásticos, para a qual contribuíram 70
comunidades de toda a Espanha.
Nas palavras de Agustín de Asís,
secretário-geral da Fundação Sum-
42      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Deus ­porque Ele sempre tem paciência conosco. Olhe para trás e veja
quantas vezes você errou, mas quantas vezes Deus perdoou, e o faz sem
cobrar”.
Conferência Episcopal Espanhola
apresenta novos lecionários
V
er o deserto do Atacama no Chile, um dos mais áridos do mundo,
coberto por um manto de flores de cor lilás é um raro e belo espetáculo que, não sem motivo, tem chamado a atenção de grande número
de meios de imprensa internacional.
O jornal Le Figaro comentou: “Vales rochosos, planícies áridas rachadas pelo calor, extensões de sal habitadas por flamengos rosas, gêiseres endiabrados, cumes de vulcões cobertos de neve. Nada do clima reinante [...] faz prever um quadro tão surpreendente. [...] Quando
se chega até o local, de frente às encostas das montanhas enevoadas,
crê-se avistar rastros de neve. Na realidade, um imenso tapete de flores brancas se estende a perder de vista. Brancas: uma ilusão. Mais se
avança, mais a cor muda. De branco passa a amarelo; de amarelo, a
azul; e finalmente, a cor de malva com matizes rosa”.
Floradas como esta acontecem a cada seis ou sete anos e podem
durar de setembro até dezembro. A última vez que o fenômeno ocorreu com semelhantes proporções foi em 1997.
learnchile.cl
A Conferência Episcopal Espanhola anunciou no dia 21 de outubro a publicação de três novos lecionários para a celebração da Santa
Missa. Na apresentação dos livros litúrgicos feita por Dom Julián López
Martín, Bispo de León, responsável
pela edição na qualidade de Presidente da Comissão Episcopal de Liturgia, se explica que a obra “é um
ato de magistério colegial dos Bispos espanhóis em benefício de todos os fiéis cristãos, ao oferecer-lhes
o pão da Palavra de Deus de forma
mais próxima e compreensível, sem
detrimento da fidelidade da versão
ao conteúdo e à expressão literal
originais”.
Explosão de flores no
deserto do Atacama
Cem mil moedas com a efígie de
Santa Laura Montoya
Primeira colombiana canonizada, Santa Laura Montoya Upegui
foi homenageada pelo Governo da
Colômbia através do Banco da República, com a emissão de moedas
comemorativas que passaram a estar disponíveis no dia 23 de outubro, dois dias depois de sua festa litúrgica.
Longas fileiras se formaram para adquirir os primeiros exemplares das 100 mil moedas cunhadas. A
apresentação do modelo foi feita em
julho no município de Jericó, Estado
de Antioquia, cidade natal de Santa
Uma das impressionantes fotografias do deserto do Atacama
florido reproduzidas em diversas páginas da internet
Laura. Durante esse ato, José Darío
Uribe, gerente geral do banco, explicou: “Laura Montoya foi mestra, literata e etnógrafa. Hoje a honramos
como ilustre Santa colombiana. Madre Laura é um exemplo de fé, vida,
valores e inspiração. É uma honra
celebrar hoje sua memória”.
Encontro do Terço dos Homens
em Juiz de Fora
Na Catedral de Juiz de Fora realizou-se no dia 18 de outubro o
VII Encontro Arquidiocesano do
Terço dos Homens. Após a recitação
do Santo Rosário, Dom Gil Antônio
Moreira, Arcebispo Metropolitano,
presidiu uma Eucaristia, concelebrada pelo Pe. José Maria Novaes e
Pe. Danilo de Castro.
Na homilia, Dom Gil discorreu sobre a santidade do casal São ­Luís Martin e Santa Zélia Guérin M
­ artin, canonizados nesse mesmo dia. Destacou
também a importância de todo cristão
viver com humildade: “Jesus não está preocupado com pessoas que ocupam cargos i­mportantes na Igreja e sim
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      43
com aqueles que utilizam seu cargo para servir. A primeira caraterística de
quem tem fé em Deus é a humildade, e
esta é a marca de todo cristão”.
Argentinos rezam Rosário
em honra de Maria Auxiliadora
Sob o lema A pátria precisa de nós,
rezemos por ela, no dia 27 de outubro foi recitado, na Praça José Rafael Hernández da capital federal, o Rosário pela Argentina, que este ano
celebra sua 13ª edição. A oração foi
dirigida pelo Bispo Auxiliar da Arqui-
diocese de Buenos Aires e Vigário da
Zona Belgrano, Dom Alejandro Daniel Giorgi, que, ato contínuo, presidiu uma solene Celebração Eucarística na Paróquia Imaculada Conceição.
O Rosário pela Argentina começou na década de 2000 por iniciativa de diversos grupos e movimentos
eclesiais, coordenados pelas Ex-alunas das Filhas de Maria Auxiliadora. Ele está inspirado no decreto do
Poder Executivo Nacional 26.888 do
ano 1949, que no seu artículo 3 afirma: “Todos os dias 27 de outubro, o
povo argentino h
­ onrará a Maria Auxiliadora como Padroeira dos Campos Argentinos”. Segundo os organizadores, a “intenção é fazer memória
deste decreto presidencial, quase esquecido, e louvar nossa Mãe com a
recitação do Rosário e a Missa”.
No início do evento, a imagem
de Nossa Senhora foi recebida com
cantos e flores, precedida por uma
escolta de gaúchos a cavalo e alunos
de diversos colégios católicos da capital, e uma banda militar executou
o Hino Nacional.
Valência inaugura Ano Jubilar
dedicado ao Santo Cálice
P
admiração, assombro e alegria incontenível a Igreja
adora, contempla, participa do mistério da Fé, a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Sacramento do Altar, que evoca como poucas realidades
o Santo Cálice”.
De acordo com a tradição, o Santo Cálice foi enviado para a Espanha por São Lourenço durante a perseguição do imperador Valeriano, em meados do século III, para evitar que caísse em mãos dos pagãos.
Desde o ano 1437 esta relíquia é venerada na Catedral de Valência, a cujo cabido foi entregue pelo rei Afonso V de Aragão,
o Magnânimo. O Papa Bento XVI
celebrou com ele a Santa Missa durante o Encontro Mundial das Famílias, em 9 de julho de 2006.
Agência AVAN.
ara inaugurar o primeiro Ano Santo Jubilar dedicado ao Cálice da Santa Ceia, o Cardeal Antonio Cañizares Llovera presidiu uma solene Eucaristia
na Catedral de Valência, tendo junto ao altar a preciosíssima relíquia, que foi levada em procissão desde a
capela onde habitualmente se venera. No final da cerimônia, seis réplicas oficiais do Santo Cálice, com o selo
da arquidiocese, foram entregues a paróquias “que se
destacaram por ter restaurado seus templos, pelo seu
labor pastoral ou por algum motivo especial”.
Em carta pastoral anunciando a abertura do ano
jubilar, Dom Cañizares afirmou: “Não podemos silenciar nem ocultar o grande mistério da Fé: a Eucaristia, o mistério da Última Ceia na qual se antecipa
o mistério da Cruz, a entrega de Jesus até o extremo,
e agora se eterniza até o fim dos séculos. [...] Com
Fotogramas do vídeo da cerimônia difundido pelo Arcebispado: o Cardeal Cañizares incensa o Santo Cálice,
a nave principal da Catedral repleta de pessoas e, em destaque, o cardeal durante a homilia.
44      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Presépio com som, luz e movimento
À
semelhança de anos anteriores, os Arautos do Evangelho promovem em Guimarães um presépio com som,
luz e movimento. Em cada sessão os visitantes poderão contemplar a história da salvação através de uma exposição ani-
mada, que alia arte e tecnologia como forma de evangelização. O presépio estará aberto ao público de 5 de Dezembro a
15 de Janeiro, das 17h às 20h, no Colégio Arautos do Evangelho, na rua de Sezim em Santiago de Candoso-Guimarães.
Para mais informações ou marcação de outros horários, contacte: 938.864.953
Coleção
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O inédito sobre os Evangelhos
omposta de sete volumes, esta original obra
de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP,
tem o mérito de pôr a teologia ao alcance de
todos, por meio de comentários aos Evangelhos
dos domingos e solenidades do ano. Publicada
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publicados dos diversos volumes, a coleção tem
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Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      45
História para crianças... ou adultos cheios de fé?
Queres
me entregar teu
coração?
Os meninos se juntaram em volta do
misterioso objeto. Até Luís, curioso,
aproximou-se. O que conteria aquela
pequena arca?
Ir. Beatriz Alves dos Santos, EP
E
nquanto assistia à aula de
matemática, o pensamento
do pequeno Luís voava por
outras paragens:
— Hoje é o último dia de aula e
em breve será o Natal! No ano passado ganhei muitos presentes... deliciei-me com comidas estupendas...
visitei muitos lugares durante as férias... Como será neste ano?
O toque do sino encerrou as aulas e todos se despediram, desejando-se um Santo Natal.
Algumas crianças viviam na pequena aldeia que distava alguns quilômetros do colégio, os quais costumavam percorrer juntos.
— É melhor irmos para casa
já, pois está quase escurecendo —
aconselhou Roberto aos amigos.
— Que tal irmos pela trilha dos
ipês? — sugeriu Pedro.
— Ah, não! É muito longa, poeirenta e... perigosa!
— Deixe de ser medroso, Filipe.
É uma boa ideia e poderemos nos
divertir! — concordou Marcos.
Entre pedras e buracos iam eles
pela trilha, conversando:
— José, o que fará neste dezembro? Logo será o Natal e decerto
sua família viajará para descansar,
não é? — indagou Luís.
— Não, não! Minha família é
muito católica e desde bem pequeno
aprendi que devemos preparar a alma para receber o Menino Jesus. No
Natal, à meia-noite nos reuniremos
na Igreja de Santa Inês para a Missa do Galo.
— O quê? Você ainda vai à Missa
do Galo? Minha mãe sempre insiste que a acompanhe, mas não tenho
forças para levantar-me da cama...
— Luís, você não vai adorar o
Menino Jesus que se fez Homem
para nos salvar? — perguntou Pedro
surpreendido.
— Quem garante que Ele existe?
Eu nunca O vi!... Eu não acredito! A
única coisa boa do Natal são as comidas e os presentes!
— Você não tem vergonha de
dizer isto, Luís? Não foi o que sua
46      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
mãe lhe ensinou! Conhecemos dona Genoveva e ela é muito piedosa!
O que lhe aconteceu? — contestou
Marcos.
— Parem de me fazer estas perguntas!
Apressando o passo, Luís se
adiantou nervoso e pensativo. A
noite ia chegando e só se ouvia pela mata o cri-cri dos grilos e o chiar
das cigarras...
De repente... Pam, pam!
— Ai! Ai! Ajudem-me! — gritou
André.
— De novo, André? Você sempre
anda distraído e vive caindo pelos
caminhos... — replicou Filipe, mal-humorado.
— Desta vez não foi por distração: tropecei em alguma coisa.
Os meninos se juntaram em volta
de André. Até Luís, curioso, aproximou-se.
— Que será isto? — perguntou
Marcos.
— Acho que é só um galho de árvore — opinou Pedro.
— Não! Parece uma caixa... Será
um tesouro? Vamos, abra! — insistiu Luís.
Desenterraram o misterioso objeto: era uma pequena arca coberta
Ilustrações: Edith Petitclerc
— Ai, meu Deus! O que mamãe
quererá a esta hora?
Tudo estava quieto...
— Acho que foi um sonho... —
pensou Luís, entregando-se ao sono.
Alguns minutos depois, outra batida... Luís pôs-se de pé e aguçou o
ouvido. Eis que o ruído vinha de seu
armário!
— Que estranho! O toque sai de
dentro do armário. E lá está o Menino Jesus... Não pode ser!
Mais uma vez começava a adormecer, quando ouviu a mesma batida. Vencido pela insistência, Luís
não resistiu mais, abandonou a cama e aproximou-se do móvel com
certo receio... Novos toques dissiparam qualquer dúvida. Colou o ouvido à porta e escutou uma voz infantil que dizia:
pela poeira da estrada. Abriram-na
— Por que me rejeitas? Não querapidamente e... oh, maravilha!
res me entregar teu coração?
— Que bela imagem do Menino
O semblante de Luís mudou.
Jesus! Vejam os detalhes: são de ouCaindo de joelhos, começou a choro!! — surpreendeu-se Pedro.
rar... No entanto, não demorou mui— É a mais bonita que eu já vi! —
to para sua tristeza transformar-se
exclamou Marcos.
em alegria. Tomado de entusiasmo,
Estavam estupefatos com a perabriu o armário, tomou com venefeição do Menino: portava uma túração o Menino Jesus e correu para
nica azul e ouro, seus cabelos eram
junto da mãe. Dona Genoveva, que
castanho-claros e os olhos azuis, o
passara a noite desperta e triste, rerosto gracioso era iluminado por um
zando pelo filho, teve um
olhar penetrante. Fez-se
sobressalto ao vê-lo entrar
um instante de silêncio...
gritando em seu quarto:
— Com quem ela ficará?
— Mamãe, mamãe!
— perguntou Pedro.
Carregando a formosa
— Comigo, claro! Fui eu
imagem, Luís contou-lhe
quem tropeçou nela! — detudo e, com a voz entrecorcidiu André.
tada pela emoção, concluiu:
— Não, não! Todos nós
— Agora sei que Ele
passamos por aqui! Você
existe! Sim, porque O ouvi
só caiu por ser o mais disem meu interior!
traído... Vamos tirar a sorNaquele Natal, dona Gete para saber com quem o
noveva não foi sozinha à
Menino Jesus quer ficar
Missa do Galo e Luís relata— decretou Roberto e eles
va a quem encontrava como
concordaram.
tinha sido sua conversão,
Eis, porém, que tal dita
para que as divinas palavras
caiu sobre Luís...
do Menino Jesus tocassem
— Puxa! Justo quem não
todos os corações, como haacredita no Menino Jesus?!
Dona Genoveva, que passara a noite desperta e
triste, teve um sobressalto ao vê-lo entrar
viam tocado o seu! ²
— reclamou André — Se
não a quiser, eu a recebo... Será uma
grande graça ficar com ela!
De fato, Luís não acreditava no
Menino Jesus, mas aceitou-a com
um misterioso sorriso...
Caminharam mais um pouco e
alcançaram a aldeia. Dona Genoveva, apreensiva, aguardava o filho que demorava. Assim que a
viu, o pequeno Luís mostrou-lhe
a delicada imagem que trazia nas
mãos:
— Mamãe, hoje viemos pela trilha dos ipês. E veja o que encontramos no caminho: tem adornos em
ouro! Vou vendê-la por um bom
preço... No Natal, certamente haverá algum comprador!
— Não, meu filho. Isto é um sinal do Menino Deus para que sejas
mais fervoroso e regresses à Igreja.
Desde que teu pai faleceu abandonaste a vida de piedade e temo pelo teu futuro.
— Vou pensar e amanhã conversaremos...
Luís tomou a imagem e trancou-a em seu armário. Cansado pelo
dia cheio de atividades, jantou e foi
dormir.
No meio da madrugada, ele ouviu uma batida suave à porta.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      47
________
Os Santos de cada dia 1. Santa Florência, virgem (†séc.
IV). Convertida por Santo Hilário de Poitiers durante o seu desterro na Ásia, seguiu-o de regresso à França e viveu como eremita
em Comblé, França.
2. Beato João Slezyuk, Bispo e mártir (†1973). Exerceu infatigavelmente seu ministério de forma
clandestina na Eparquia de Stanislaviv, Ucrânia. Foi preso várias vezes e enviado a campos de
trabalho forçado.
3. São Francisco Xavier, presbítero
(†1552 Sanchoão - China).
Beato Eduardo Coleman, mártir (†1678). Falsamente acusado
de conspiração contra o rei Carlos II, foi enforcado e esquartejado em Tyburn, Inglaterra, por ter
abraçado a Fé Católica.
4. São João Damasceno, presbítero
e Doutor da Igreja (†c. 749 Mar
Saba - Israel).
Santo Anónio, Bispo (†1075).
Homem de valor e talento, gozou
de prestígio nos meios eclesiásticos e civis, no tempo do imperador Henrique IV. Fundou igrejas
e mosteiros na Diocese de Colônia, Alemanha.
5. Santos Frutuoso, Martinho de
Dume e Geraldo, Bispos.
Santa Crispina de Tagora,
mártir (†304). Mãe de família degolada em Tabessa, Argélia, por
recusar-se a sacrificar aos ídolos
no tempo de Diocleciano e Maximiano.
6. II Domingo do Advento.
São Nicolau, Bispo (†séc. IV
Mira - Turquia).
Beato João Scheffler, Bispo e
mártir (†1952). Húngaro de nascimento, foi nomeado Bispo de
Satu Mare, Romênia. Morreu
preso em Bucareste.
7. Santo Ambrósio, Bispo e Doutor
da Igreja (†397 Milão - Itália).
Santa Fara, abadessa (†657).
Durante quarenta anos, foi abadessa do mosteiro em Faremoutiers, França, fundado por ela
num terreno herdado do pai.
8. Imaculada Conceição da Virgem
Santa Maria.
Santo Eutiquiano, Papa
(†283). Governou a Igreja depois
de São Félix I. Foi o 27º sucessor
de São Pedro.
9. São João Diogo Cuauhtlatoatzin
(†1548 Cidade do México - México).
Beato Libório Wagner, presbítero e mártir (†1631). De origem
luterana, converteu-se ao Catolicismo e foi ordenado sacerdote. Foi torturado e morto em Marienberg, Alemanha, durante a
Guerra dos Trinta Anos.
10. São Gregório III, Papa (†741).
Incentivou a pregação do Evangelho aos germanos e lutou contra
os iconoclastas, socorreu os pobres e favoreceu a vida religiosa.
11. São Dâmaso I, Papa (†384 Roma).
Beato Franco Lippi, eremita
(†1292). Perdeu a vista sendo um
jovem militar de vida libertina e,
arrependido, viajou em peregrinação a Santiago de Compostela, onde ficou curado. Regressou à Itália, tornando-se eremita carmelita.
12. Nossa Senhora de Guadalupe,
Padroeira da América Latina.
São Finiano, abade (†549).
Fundou vários mosteiros na Irlanda, entre os quais o de Clonard, onde foi abade e faleceu.
13. III Domingo do Advento.
48      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Santa Luzia, virgem e mártir
(†c. 304/305 Siracusa - Itália).
Santa Otília, virgem (†séc.
VII). Primeira abadessa do mosteiro de Hohenbourg, França, fundado pelo duque Aldarico, seu pai.
14. São João da Cruz, presbítero e
Doutor da Igreja (†1591 Úbeda Espanha).
São Nimatulácio al-Hardini, presbítero (†1858). Sacerdote da Ordem Libanesa dos Maronitas, dedicou-se aos estudos teológicos, à formação dos jovens e
ao trabalho pastoral. Faleceu em
Klifane, Líbano.
15. Beato Marino, abade (†1170).
Promoveu o esplendor da Liturgia na abadia beneditina de Cava
de’ Tirreni, Itália, e foi admirável
na fidelidade ao Papa.
16. Beato Sebastião Magi, presbítero (†1496). Religioso dominicano,
pregou o Evangelho na região de
Gênova, Itália, e zelou pela observância regular nos conventos.
17. São João da Mata, presbítero
(†1213). Junto com São Félix de
Valois, fundou em Cefroid, França,
a Ordem da Santíssima Trindade
para a Redenção dos Cativos.
18. São Malaquias, profeta. Após o
desterro da Babilônia, anunciou
o grande dia do Senhor e a sua
vinda ao Templo.
19. Beato Guilherme de Fenolis, religioso (†c. 1200). Foi dos primeiros religiosos da Cartuxa de Casotto, Itália, onde viveu como irmão leigo.
20. IV Domingo do Advento.
Beato Vicente Romano, presbítero (†1831). Sendo pároco em
Torre del Greco, Itália, dedicou-se à educação das crianças e a
__________________ Dezembro
dora do Instituto das Filhas de Maria Imaculada, em Madri, Espanha.
27. Festa da Sagrada
Família de Jesus, Maria
e José.
São João, Apóstolo e
Evangelista.
Beata Sara Salkahazi, virgem e mártir
(†1944). Virgem da
Congregação das Religiosas da Assistência, fuzilada na Hungria
junto ao rio Danúbio.
Reprodução
28. Santos Inocentes,
mártires.
Matança dos Inocentes, por Giotto di Bondone - Cripta da Basílica Papal
de São Francisco, Assis (Itália)
atender as necessidades dos operários e pescadores.
em êxtase. Faleceu em Valência,
Espanha, aos 63 anos.
21. São Pedro Canísio, presbítero e
Doutor da Igreja (†1597 Friburgo - Suíça).
Beato Domingos Spadafora,
presbítero (†1521). Religioso dominicano e ativo pregador. Faleceu em Monte Cerignone, Itália.
24. Beato Bartolomeu Maria dal
Monte, presbítero (†1778). Pregou ao povo cristão e ao clero a
Palavra de Deus em muitas regiões da Itália. Fundou a Pia Obra
das Missões.
22. Santo Hungero, Bispo (†866).
Zeloso pastor da Diocese de
Utrecht, Holanda, transtornada
pela invasão dos normandos.
23. São João de Quenty, presbítero
(†1473 Cracóvia - Polônia).
Beato Nicolau Factor, presbítero (†1583). Sacerdote franciscano que, abrasado de amor a
Deus, foi várias vezes arrebatado
25. Natal de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Beata Antónia Maria Verna,
virgem (†1838). Fundadora da
Congregação das Irmãs da Caridade do Imaculado Coração de
Ivrea, em Turim, Itália.
26. Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir.
Santa Vicenta Maria López
Vicuña, virgem (†1890). Funda-
Santa Catarina Volpicelli, virgem (†1894).
Fundadora em Nápoles, Itália, do Instituto
das Escravas do Sagrado Coração.
29. São Tomás Becket,
Bispo e mártir (†1170
Cantuária - Inglaterra).
São Davi, rei e profeta. Filho
de Jessé de Belém. Trasladou a
Arca da Aliança do Senhor para a cidade de Jerusalém. De sua
estirpe nasceu o Salvador.
30. Beato João Maria Boccardo,
presbítero (†1913). Fundou a
Congregação das Irmãs Pobres
Filhas de São Caetano, em Pancalieri, Itália.
31. São Silvestre I, Papa (†335
Roma).
São João Francisco de Régis,
presbítero (†1640). Jesuíta que,
pela pregação e celebração do
Sacramento da Penitência, renovou a Fé Católica entre os fiéis
de La Louvesc, França.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      49
Como
um toque
de sino...
No Natal, o Menino Jesus nos convida ao
recolhimento e pede que deixemos de lado
as atividades que d’Ele nos afastam, para
renovarmos nossa vida espiritual.
Ir. Adriana María Sánchez García, EP
B
lém! Blém! Blém!
Toca o sino da capela do palácio. Acompanham-no outros maiores,
bem como os das igrejas dos arredores. Dali a pouco, os bordões das
basílicas também começam a soar.
Por toda a redondeza o som se espalha, como um belo carrilhão, proclamando a grande notícia: nascera
o primogênito real!
Se era assim que em muitos reinos do passado se anunciava a ricos
e pobres, a grandes e pequenos, a
chegada de um novo herdeiro, bem
poderíamos falar, por analogia, de
um sino magnífico que tocou na
História marcando o fim da Antiga
Lei e o começo da era da graça, ao
nascer o Salvador, o Filho Unigênito de Deus! E até hoje, ao comemorarmos tão magno acontecimento,
soam novas badaladas deste místico
sino convidando-nos a­­contemplar
um dos maiores mistérios da nossa Fé.
Através dos apelos da graça,
Deus fala conosco a todo instante.
Porém, só O ouvimos “no recolhimento, na paz e no silêncio. Sua voz
é tão suave que nosso interior deve estar completamente em silêncio; é uma doce melodia. A linguagem de satanás é barulhenta: ela é
agitada, impulsiva, perturbadora e
abrupta”.1
Se criarmos as condições para escutar sua voz, Deus nos convidará
a amá-Lo mais, seja infundindo em
nossos corações o desejo de praticar a virtude ao ver um bom exemplo, seja enriquecendo-nos com sentimentos de piedade ao entrarmos
num ambiente sagrado, seja fazendo ecoar em nosso interior palavras
de repreensão por alguma má atitude ou de advertência diante de ocasiões próximas de pecado.
50      Flashes de Fátima · Dezembro 2015
Quando nos sentimos angustiados, tomados pela agitação e sem
serenidade de alma, podemos ter
a certeza de que não é uma voz sobrenatural que está falando conosco. A dissipação, a velocidade das
máquinas e o espírito de frenesi e de competição, que dominam
o mundo moderno, impedem-nos
de entrar em contato com Deus.
Pior, fazem com que nos esqueçamos d’Ele.
É ao oposto deste estado de
espírito que o Menino Jesus nos
convida no Natal. Ele nos atrai
ao recolhimento, pede que deixemos de lado as atividades que
d’Ele nos afastam e renovemos
nossa vida espiritual. Que, como
um toque de sino, o término deste ano anuncie a chegada de uma
nova etapa de nossa existência,
na qual fiquem para trás os momentos em que, fechados às moções da graça, nos deixamos levar
por nossos impulsos e más inclinações.
Peçamos, não só ao Divino Infante, mas a todos os Anjos e Santos do Céu, que a partir deste Natal
eles nos façam ouvir sua voz e adoremos com especial afeto o Redentor posto no Presépio, lembrando-nos de que este terno Menino está
disposto a renascer em nosso íntimo para transformar-nos por inteiro. Ele que, enquanto Deus, nos
criou a cada um de nós, sem nada termos feito para merecê-lo, e
Se faz Homem na Noite Santa para
nos redimir.
Comuniquemo-nos com Ele
por meio da oração e estejamos
atentos às suas palavras. “Oxalá que ouças hoje a sua voz: não
endureçais os vossos corações”
(Sl 94, 7-8), nos recorda o Salmo.
Abramos nossa alma para que o
Menino Jesus aí nasça e permaneça para sempre. Assim, também
nós seremos como sinos, a ressoar o seu amor e a despertar, com
nosso exemplo, bons sentimentos
naqueles que nos cercam. ²
1
BÉLANGER, Dina. The Autobiography.
3.ed. Quebec: Religious of Jesus and
Mary, 1997, p.101.
Dezembro 2015 · Flashes
de Fátima      51
Francisco Lecaros
Adoração dos pastores
Catedral de Prato (Itália)
E
stava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era seu, mas
os seus não O receberam. Mas a todos
aqueles que O receberam, aos que creem
no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas
sim de Deus (Jo 1, 10-13).
Alejandro López
Menino Jesus revestido com o
hábito dos sacerdotes Arautos
Basílica de Nossa Senhora do
Rosário, Caieiras (SP)
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Revista Arautos do Evangelho