Onde pára o desemprego?
Nuno Serra
Conseguem as estatísticas oficiais reflectir adequadamente a realidade do desemprego em
Portugal? Um primeiro exercício de resposta a esta pergunta foi aqui feito, há mais de meio
ano, permitindo desmascarar os expedientes do governo para camuflar a verdadeira dimensão
do problema. Nos termos desse exercício associaram-se, ao número oficial de desempregados,
os desempregados ocupados, os inactivos desencorajados e os emigrantes em idade activa,
assumindo que estas situações configuram formas de desemprego não reconhecidas pelas
estatísticas oficiais. Posteriormente, essa análise seria revista e aprofundada, interpretando
adicionalmente o subemprego como uma outra forma, mitigada, de desemprego. Ao actualizar
as séries de dados para o primeiro trimestre de 2015 (a informação disponível mais recente),
obtém-se o resultado que o gráfico seguinte procura traduzir.
Nestes termos:
1. Ao contrário do que diz a despudorada propaganda governamental, o desemprego não está
a diminuir, sendo mais correcto falar na sua estabilização em patamares muito elevados. Com
efeito, enquanto os números oficiais apontam para uma redução da Taxa de Desemprego na
ordem dos 3,8 pontos percentuais, entre o primeiro trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de
2015, a estimativa da Taxa de Desemprego Real mostra que essa descida é de apenas 0,4
pontos percentuais no mesmo período e de 0,5 pontos percentuais, caso se considere
o Desemprego Real + o Subemprego.
2. Mesmo excluindo o subemprego (isto é, os activos empregados que trabalham a tempo
parcial e que gostariam de poder trabalhar mais tempo) enquanto forma oculta de desemprego,
uma estimativa realista da Taxa de Desemprego aponta para um valor que ronda os 25% no
final do primeiro trimestre de 2015 (muito superior, portanto, aos 14% que os números oficiais
apregoam). Para a divergência crescente entre estas duas taxas (Desemprego
Oficial e Desemprego Real), conta sobretudo o contingente de desempregados ocupados (que
passam de 23 mil em Março de 2011 para 161 mil em Março de 2015), bem como o volume
de migrantes em idade activa, que constituem, no fundo, desempregados não contabilizados
pelas estatísticas (apenas por terem saído do país) e que em termos acumulados passam de
12 mil para 322 mil, no período considerado.
3. Poderá argumentar-se que os números oficiais deixaram sempre de fora estas situações de
desemprego, não reconhecidas como tal pelas estatísticas. E sendo isso verdade, há contudo
aqui algo de substancialmente novo e que aponta para o peso crescente que essas formas
ocultas de desemprego assumem, nos últimos anos, face ao desemprego total. Com efeito, se
no primeiro trimestre de 2011 o Desemprego Oficial representava cerca de 61%
do Desemprego Real, no período homólogo de 2013 já só representava 56% e, em Março de
2015, apenas 41%. Ou seja, a maior parte do desemprego que hoje existe em Portugal, nas
suas diferentes formas, está estatisticamente oculto. Como se simplesmente não existisse.
Tem pois razão o Fundo Monetário Internacional quando afirma, como fez recentemente
(contrariando o Secretário de Estado Bruno Maçães), que «Portugal precisa de 20 anos para
regressar ao desemprego que tinha antes da crise». Da continuada estagnação do
desemprego, nos níveis elevados em que a «austeridade expansionista» o colocou - e sem
uma verdadeira alternativa às políticas de empobrecimento que a troika impôs e que o actual
governo entusiasticamente abraçou - outra coisa não seria de esperar.
Fonte: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/07/onde-para-o-desemprego.html
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