XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 14 a 18 de outubro de 2013 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE SUCOS DE UVA PRODUZIDOS EM MINAS GERAIS PAÔLA DE CASTRO HENRIQUE1 , ANA CAROLINA VILAS BOAS2, RITA DE CÁSSIA MIRELA RESENDE NASSUR3, LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA LIMA4, ANTÔNIO DECARLOS NETO5 RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo avaliar as características físico-químicas de sucos de uvas americanas produzidas no sudoeste de Minas Gerais. As uvas foram colhidas, sanitizadas, sendo as grainhas e demais partes dos cachos descartadas. Então, os sucos de uva das cultivares Bordô, Isabel Precoce, Violeta e Rúbea foram produzidos em panela extratora, acondicionados em frascos de vidro e armazenados a 4ºC por 120 dias. As seguintes análises foram realizadas aos 0, 15 30, 60 e 120 dias de armazenamento: pH, sólidos solúveis totais e acidez titulável. Foi possível observar que as características físico-químicas dos sucos produzidos estão diretamente relacionadas com as características da cultivar de uva utilizada. Palavras-chave: Vitis labrusca, pH, Sólidos solúveis, Acidez titulável, Qualidade. INTRODUÇÃO O suco de uva é definido como uma bebida energética não fermentada, não alcoólica, de cor, aroma e sabor característicos. Segundo exigências legais, deve possuir coloração vinho, rosada ou translúcida, teor mínimo de sólidos solúveis de 14º Brix, acidez total mínima de 0,41% e no máximo 20% de açúcares totais naturais da uva. Se o suco for integral, deve estar em sua concentração natural, sem adição de açúcares (BRASIL, 2000; BRASIL, 2009). REFERENCIAL TEÓRICO A demanda crescente da sociedade atual por produtos saudáveis impulsiona o aumento do consumo e da comercialização de suco de frutas, uma vez que estes são considerados alimentos de boa qualidade nutricional. Assim, o suco de uva figura como um dos sabores mais consumidos em países da América e Ásia (CABRERA et al., 2009; GARDE-CERDÁN et al., 2007). A avaliação do consumo per capita de suco de uva no Brasil revela resultados animadores. No ano de 1995, o consumo per capita de suco de uva não ultrapassava 150 mL, sendo que em 2006 este valor já havia chegado a 560 mL. Em 2010, levantamentos sinalizaram para um consumo de suco de uva de 900 mL por pessoa, o que reafirma a consolidação desta bebida no mercado brasileiro e tendências de manutenção deste crescimento (IBRAVIN, 2011; MELLO, 2007). Conforme Ritschel e Camargo (2007), embora a produção brasileira de suco de uva esteja concentrada no estado do Rio Grande do Sul, é observada nos últimos anos uma expansão desta atividade para regiões de clima tropical, como Mato Grosso, Goiás e Vale do São Francisco e subtropical, como São Paulo (Jales) e Minas Gerais (Caldas, Andradas, etc). Pela descrição das características do sudoeste de Minas Gerais, observa-se que esta região apresenta condições edafoclimáticas bastante diferentes daquelas apresentadas pelas tradicionais regiões vinícolas localizadas no Sul e Nordeste do país, com clima tipicamente subtropical (LUCENA et al., 2010). Considerando a influência marcante do clima sobre as características físico-químicas da uva, é compreensível identificar que as bebidas produzidas em diferentes regiões possuam características físico-químicas, sensoriais e nutricionais bastante peculiares. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi realizar a caracterização físico-química de sucos de uvas americanas produzidas no sudoeste de Minas Gerais. 1 Doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Mestranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Pós-doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 4 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 5 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Agricultura, [email protected] 2 3 XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 14 a 18 de outubro de 2013 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores MATERIAL E MÉTODOS Os sucos de uva foram elaborados experimentalmente no Laboratório de Fisiologia PósColheita de Frutas e Hortaliças (UFLA – Lavras, MG), empregando uvas na safra de 2012/2013, cultivadas na mesma região do sudoeste de Minas Gerais provenientes do pomar institucional do Departamento de Agricultura (UFLA –Lavras, MG). Para a produção dos sucos foi empregado o protocolo tecnológico sugerido por Rizzon, Manfroi e Meneguzzo (1998), no qual a extração foi feita por meio de um equipamento denominado “panela extratora” ou “suqueira”, onde foram colocadas as uvas previamente higienizadas e já submetidas ao processo de degrana manual, sendo as grainhas e demais partes do cacho de uva descartadas. Os sucos foram produzidos com as seguintes cultivares: Bordô, Isabel Precoce, Violeta e Rúbea. Neste tipo de processamento, o vapor produzido pela panela foi o responsável pela extração do suco, não havendo, portanto, prensagem dos frutos. O vapor gerado no processo submeteu o suco a um processamento térmico de 75ºC a 80ºC por aproximadamente 60 minutos. Após esta etapa, os sucos foram imediatamente engarrafados em frascos de vidro de 100 mL, não sendo adicionado açúcar ou nenhum tipo de conservante químico. As amostras foram mantidas sob refrigeração (2ºC a 8ºC) até o momento das análises. As seguintes análises foram realizadas nos dias 0, 15, 30, 60 e 120 de armazenamento: pH. sólidos solúveis totais e acidez titulável. pH A mensuração do pH foi feita com os sucos, empregando um pHmetro Tecnal (Tec 3M) com eletrodo de vidro, conforme recomendações da Association of Official Analytical Chemists (AOAC, 2007). O aparelho foi calibrado com tampão pH 4,0 e tampão pH 7,0. Sólidos solúveis totais Os sólidos solúveis totais dos sucos foram determinados utilizando-se um refratômetro digital ATAGO PR-100, com compensação automática de temperatura a 25ºC, previamente calibrado com água destilada. Os resultados foram expressos em oBrix, de acordo com técnica da AOAC (2007). Acidez titulável A acidez titulável foi determinada por metodologia sugerida pela AOAC (2007), realizando-se titulação com solução de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 mol.L-1 , sendo os resultados expressos em porcentagem (%) de ácido tartárico.100mL-1 de suco, considerando-se o peso molecular do ácido tartárico como 150,09g/mol. RESULTADOS E DISCUSSÃO A figura 1 apresenta os valores de pH dos sucos de uva integral das cultivares Bordô, Isabel Precoce, Violeta e Rúbea produzidos em Minas Gerais. 1 Doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Mestranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Pós-doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 4 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 5 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Agricultura, [email protected] 2 3 XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 14 a 18 de outubro de 2013 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores Figura 1: Valores de pH de sucos de uva de diferentes cultivares produzidos em Minas Gerais Foi possível observar uma tendência à queda dos valores de pH para as cultivares Violeta e Isabel Precoce ao longo do armazenamento, atingindo valores de 3,21 e 3,10, respectivamente. Rizzon e Link (2006) em um estudo comparativo com diferentes cultivares de uva, perceberam que a cultivar Isabel apresenta características mais ácidas. Esta informação confirma o valor de pH encontrado para Isabel Precoce, já que Ritschel e Camargo (2007) afirmam que a cultivar Isabel Precoce apresenta características agronômicas e físico-químicas muito próximas a da cultivar Isabel. Os sólidos solúveis totais refletem entre outros fatores, os níveis de açúcares do alimento e sofrem influência direta da cultivar de uva utilizada. Sendo assim, os teores de sólidos solúveis totais são apresentados na Figura 2. Figura 2: Teor de sólidos solúveis totais de sucos de uva de diferentes cultivares produzidos em Minas Gerais Os sucos de uva da cultivar Violeta apresentaram uma tendência à queda ao longo do tempo, além de apresentarem maior teor de sólidos solúveis totais quando comparado ao suco das demais cultivares. Os valores de sólidos solúveis encontrados nos sucos de todas as cultivares (Bordô, Isabel Precoce, Violeta e Rúbea) apresentaram-se abaixo do nível estabelecido pela legislação brasileira, que é de 14ºBrix (BRASIL, 1998). 1 Doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Mestranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Pós-doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 4 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 5 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Agricultura, [email protected] 2 3 XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 14 a 18 de outubro de 2013 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores Figura 3: Acidez titulável de sucos de uva de diferentes cultivares produzidos em Minas Gerais Com relação aos níveis de acidez titulável de sucos de uva, a legislação brasileira estabelece um mínimo de 0,419g de ácido tartárico em 100mL de suco ou 0,49% (BRASIL, 1998). Sendo assim, todos os sucos se encontram adequados, sendo o suco da cultivar Isabel Precoce o que apresentou maior teor de acidez titulável durante todo o período, apresentando valores médios de 1,13%. Segundo Girard e Mazza (1998), a presença de níveis de acidez elevados em suco de uva é justificado pelo conteúdo de ácidos orgânicos das uvas, com predomínios dos ácidos tartárico, málico e cítrico, podendo a distribuição destes compostos variar de acordo com a cultivar de uva. CONCLUSÃO Através dos resultados obtidos, foi possível observar que as características físico-químicas dos sucos elaborados têm relação direta com as características físico-químicas das cultivares de uva. A cultivar Violeta apresentou maior teor sólidos solúveis em comparação com as demais cultivares e uma redução do pH ao longo do armazenamento. Já a cultivar Isabel Precoce apresentou maiores valores de acidez titulável durante todo o período. REFERÊNCIAS ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. 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Seção 1, p. 5-58. 1 Doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Mestranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] Pós-doutoranda, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 4 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência dos Alimentos, [email protected] 5 Docente, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Agricultura, [email protected] 2 3 XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 14 a 18 de outubro de 2013 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores BRASIL. Ministério da Agricultura. Portaria no. 544 de 16 de novembro de 1998. Aprova o Regulamento Técnico para Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Refresco. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 10 nov. 1998. Disponível em:< http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=1150>. Acesso em: 30 abr. 2010. CABRERA, S.G. et al. Effects of processing time and temperature on the quality components of campbell grape juice. Journal of Food Processing and Preservation, Westport, n. 8, v. 33. P. 347360, Jun. 2009. GARDE-CERDÁN, T. et al. Effects of thermal and non-thermal processing treatments on fatty acids and free amino acids of grape juice. Food Control, Oxford, v. 18, n. 5, p. 473-479, May 2007. GIRARD, B.; MAZZA, G. Produtos funcionales derivados de lã uvas y de lós cítricos. In: MAZZA, G.; ACRIBIA, S.A. Alimentos funcionales: aspectos bioquímicos e de procesado. Zaragoza: Acribia, 1998, cap. 5, p.141-182. INSTITUTO BRASILEIRO DO VINHO. Suco de sabor uva é o mais consumido no Brasil. Bento Gonçalves, 2011. Disponível em: http://www.grapejuiceofbrazil.com/interna_noticias.php?id=62. Acesso em: 24 jun. 2011. LUCENA, A.P.S. et al. 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