FACULDADE SETE DE SETEMBRO-FASETE CURSO: LICENCIATURA EM LETRAS HABILITAÇÃO: PORTUGUÊS/INGLÊS ROSÂNGELA BENJOINO FERREIRA AS DIVERSAS FACES DO AMOR NA OBRA DE VINÍCIUS DE MORAES PAULO AFONSO NOVEMBRO/2008 ROSÂNGELA BENJOINO FERREIRA AS DIVERSAS FACES DO AMOR NA OBRA DE VINÍCIUS DE MORAES Monografia apresentada ao Curso de Letras da Faculdade Sete de Setembro - FASETE como parte dos requisitos para a obtenção do título de Licenciatura em Letras com habilitação em Português e Inglês, sob a orientação da profª. Msc. Maria de Socorro Pereira de Almeida PAULO AFONSO NOVEMBRO/2008 ROSÂNGELA BENJOINO FERREIRA AS DIVERSAS FACES DO AMOR NA OBRA DE VINÍCIUS DE MORAES. Monografia submetida ao corpo docente da Faculdade Sete de Setembro – FASETE, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciatura em Letras com Habilitação em Português e Inglês. Aprovada por: Prof. Ms. _____________________________________ Orientadora Maria do Socorro Pereira de Almeida. Prof. Dr. _____________________________________ Sérgio Luiz Malta de Azevedo. Prof. Ms. _____________________________________ Luiz José da Silva PAULO AFONSO – BA NOVEMBRO – 2008 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho, com muito amor, aos meus pais Francisco Ferreira e Almerinda Benjoino, que além de me ensinarem tantas coisas, ensinaram-me a amar e respeitar meu semelhante. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo amor, pela força, por nunca ter me deixado desamparada. À minha doce Maria por me iluminar e me proteger nessa longa jornada. Aos meus pais, pelo exemplo de vida que me deram e pela razão de minha existência. Aos meus irmãos Ricardo, Roberto, Gonzaga, Roberval, Rômulo que apesar da distância sempre serão os meus mosqueteiros. À minha Tia Cleonice Benjoino por me apoiar e acreditar no meu potencial, jamais esquecerei suas palavras. A todos os meus familiares, ao Sr: Severino e família por me acolherem em seu lar com muito carinho e amor. À Alaide Miranda, à Roseany Martins e Gilvan por também fazerem parte desse mesmo acolhimento meu, muito obrigada! Aos meus grandes amigos, Rosemere, Marivania Lucas, Adriana Alves, Fabrício, Lucivânio, Jaciara, Maria Aparecida, Eduardo, Dorisvan, Magali e Érica, por terem compartilhado, lindos momentos que ficaram guardados para sempre em minha memória. Ao meu anjo da guarda, Marcos Alex por está sempre presente nos momentos em que mais preciso, por ser sempre companheiro e amigo. À minha querida professora, Socorro Almeida por ser sempre um exemplo de mulher e ser humano, pela sua dedicação, sua paciência e seu grande talento na literatura. A todos meus professores e colegas de faculdade por todos esses anos de amizade que fizemos e da grande família que nos tornamos. A todos que colaboraram diretamente ou indiretamente para a realização deste trabalho, que é uma grande conquista em minha vida. “O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. (Fernando Pessoa) RESUMO Este trabalho analisa os poemas e composições do poeta Vinícius de Moraes, com o objetivo principal de evidenciar as diversas faces do amor em sua obra, reconhecendo seu estilo e suas características mais marcantes no que diz respeito ao amor. Também faremos um belo passeio pela sua vida, passando pela década do rádio em que foi introduzida a música popular brasileira. Dentro desse movimento também participaremos indiretamente do nascimento da “Bossa Nova” e da importância que este movimento teve dentro da sociedade na década de 50 e sua influência até os dias de hoje, não esquecendo que Vinícius de Moraes através de sua sensibilidade e paixão pela música deu sua grande contribuição para o sucesso da Bossa Nova. O último capítulo traz a análise da obra do poeta, mostrando as faces do amor. Ao final da pesquisa observou-se que o autor, como ele próprio disse, cantou o “amor de todas as formas”, deixando esse sentimento como um dos maiores do ser humano. Palavras Chaves: Poesia – Música – Amor, Vinícius de Moraes ABSTRACT This work is going to show the analysis of the poems and compositions of the poet Vinícius de Moraes, with the main objective of show up the diverse faces of the love in his work, recognizing its style and its more outstanding characteristics in what concerns the love. Also we will do a beautiful walk by his life, passing for the decade of the radio in that was introduced the Brazilian popular song. Inside that movement also we will participate indirectly of the birth of the "Bossa Nova" and of the importance that this movement had inside the society in the decade of 50 and his influence to the days of today, not forgetting that Vinícius of Moraes through its sensibility and passion by the song gave its big contribution for the success of the Bossa Nova. The last chapter brings the analysis of the work of the poet, showing the faces of the love. To the end of the research observed itself that the author, as he own said, sung the "love of all the forms", leaving that feeling like one of the most greatest of the human. Keywords: Poetry – Music – Love, Vinícius de Moraes SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 09 2. VIDA E OBRA DE VINÍCIUS DE MORAES .......................................................... 11 3. O MOVIMENTO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA ...................................... 18 4. AS DIVERSAS FACES DA OBRA DE VINÍCIUS DE MORAES .......................... 24 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 40 6. REFÊNCIAS .......................................................................................................... 41 APÊNDICES ANEXO A .................................................................................................................. 43 ANEXO B .................................................................................................................. 45 9 1. INTRODUÇÃO Pretende-se mostrar nas páginas deste trabalho a vida e obra do poeta e compositor Vinícius de Moraes, que foi um dos grandes nomes da música popular brasileira até hoje. Iremos, no decorrer desta monografia, além de conhecer mais intimamente sua vida e seu cotidiano com os amigos, vamos ter o prazer de desfrutar suas magníficas parcerias e suas excelentes obras. Vamos dar um passeio por um dos movimentos da música popular brasileira que foi a “Bossa Nova” e descobrir a importância que esse movimento teve para a sociedade na década de 50, além de reconhecer a influência deste movimento para a música. Devido seu estilo e suas características literárias marcantes, a obra de Vinícius se divide em muitas faces, dentre elas a face amorosa, que se amplia no universo do autor. Neste trabalho analisaremos dentro dos poemas e composições, as diversas faces do amor na obra do poeta, tendo como objetivo maior, resgatar esse sentimento que anda perdido nos dias de hoje e mostrar que o amor possui muitas faces. Este ano a Bossa Nova completa cinqüenta anos de existência, em meio a tantos ritmos que nasce dentro da nossa cultura brasileira, esta é uma forma de homenagear este monstro da literatura e da música popular brasileira que foi Vinícius de Moraes. Para o cumprimento do objetivo proposto nos debruçamos em diversas fontes bibliográficas para um maior e melhor embasamento da idéias aferidas. Nesse contexto, divide-se este trabalho em três partes: em princípio adentramos a vida e a obra do autor no intuito de conhecer melhor suas facetas literárias e ao mesmo tempo apresentá-lo a quem possa interessar. Num segundo momento, buscamos um pouco da história da música brasileira para saber como se dão os movimentos musicais e o que significa Bossa Nova, movimento, no qual está inserido o poeta. Finaliza-se o trabalho com uma viagem pela poesia de Vinícius de Moraes, buscando interpretar as diversas faces do amor na poética do autor. 10 Dessa forma, esperamos que este trabalho possa contribuir para um melhor conhecimento e entendimento da obra desse autor, ao mesmo tempo em que se oferece um deleite literário através de sua poesia. 11 2. VIDA E OBRA DE VINÍCIUS DE MORAES Este trabalho pretende investigar a obra poética de Vinícius de Moraes no intuito de observar uma de suas faces, talvez a mais evidente, a sua face amorosa. No entanto, apesar de ser um poeta já bastante conhecido, há alguns fatos curiosos sobre sua vida que merecem ser vistos, por isso começaremos a pesquisa com fatos sobre sua biografia. No dia 19 de outubro, de 1913, em meio a um forte temporal, nasce Vinícius de Moraes, na cidade do Rio de Janeiro, filho de Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, também sobrinho do poeta cronista, Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes. Vinícius passa uma boa parte de sua infância em Botafogo onde também nasce seu irmão Helius e sua irmã, Lygia. Eles vão estudar na escola primária Afrânio Peixoto, localizada na Rua da Matriz. Vinícius muda-se com a família para Rua Real Grandeza nº 130, lá conhece várias garotas e começa a namorar, é batizado na maçonaria a pedido de seu avô. Também residiu com a família na Rua Voluntário da Pátria, onde aconteceu um acidente, uma bomba foi jogada nas proximidades de sua casa, sua família transferiu-se para Ilha do Governador, na praia de Cocotá, onde o poeta gozou suas férias. Sobre esse assunto José Castello afirma que: A família terá outros três endereços em Botafogo: sempre casas de um pavimento, as janelas debruçadas sobre a rua, a vida concentrada numa área interna cercada por clarabóias ou, extremo oposto, num porão obscuro. Residências típicas dessa sombra do Rio antigo que Botafogo soube conservar. (1997: p.34) Vinicius fez sua primeira comunhão em 1923 na Igreja Matriz, também iniciou o curso secundário no colégio Santo Inácio, participava do coral da igreja e fez grandes amizades com Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia este, sobrinho de Raul Pompéia, com os quais escreveu um livro chamado Épico inspirado nos acadêmicos. Daí por diante ele começou a participar de festivais escolares seja cantando ou atuando em peças. Em 1927 o poeta forma, com os amigos Paulo e Haroldo Tapajoz, um conjunto musical que atua em festas escolares e em casas de família. Em 1928 Compõe 12 Loura ou Morena e Canção da Noite que alcança grande sucesso popular. Sobre isso Castello diz: Vinícius se inspirará em Kierkegaard no momento de batizar seu livro O caminho para a distância, impressionado pela tese do pensador dinamarquês de que o desespero é apenas um reflexo da distância de Deus. (1997: p.67) Forma-se em Bacharelado em letras, no Colégio Santo Inácio e se muda novamente para Rua Lopes Quintas. Em 1930 entra na faculdade de Direito, sem nenhuma vocação especial, defende uma tese falando a respeito da vinda Dom João VI e faz, mais uma vez, grandes amizades no centro acadêmico. Entra para o centro de preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), forma-se em Direito em 1933 com ajuda do amigo Otávio de Faria e pública seu primeiro livro, O caminho para a distância, editora Schimidt. Em 1936 conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo, pública o poema “Ariana, a mulher” que é censurado. Vinícius ganha uma bolsa do conselho Britânico para estudar na Inglaterra, Literatura Inglesa, na Universidade de Oxford (Magdalen College), ele parte em agosto de 1938. Trabalha no programa brasileiro da BBC, conhece Augusto Frederico Schimidt e Jayme Ovalle. Vinícius é flechado pelo cúpido e casa-se com Beatriz Azevedo de Mello, sai da Inglaterra com a explosão da segunda guerra mundial, vai a Lisboa onde encontra seu amigo, Oswald de Andrade com quem viaja para o Brasil. De acordo com José Castello: Vinícius e Tati estão de volta ao Rio. Continuam mantendo contato com o casal Oswald de Andrade. O poeta se encanta com Tati (Beatriz) e a enche de gentilezas. Ao lhe dar, um dia, o exemplar de luxo número 247 da edição limitada em 299 exemplares de seu Primeiro caderno de poesia, de 1929, Oswald de Andrade, com seu gosto pelo chiste e pelos jogos de palavras, autografa: “Pra ti, Tati, ta!”. (1997: p.110) Em 1940, em São Paulo, nasce sua primeira filha Suzana, em São Paulo, passa uma boa temporada próximo ao amigo Mário de Andrade. Começa a fazer um jornalismo sério como crítico e cinematográfico, com ajuda dos seus colaboradores e amigos, 13 Rineiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob a orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo, como afirma Castello: O pequeno apartamento da Rua das Acácias vive cheio de amigos. Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Rubem Braga e Sérgio Porto estão entre os mais assíduos. Os artistas plásticos, de quem o poeta se aproximou por intermédio de Aníbal Machado, como Di Cavalcanti e Cícero Dias, entram e saem á vontade. É o tempo também em que Vinícius se junta aos quatro mosqueteiros mineiros que o seguirão pelo resto de seus dias: Hélio Pellegrino, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende. Pela ordem crescente, figuras decisivas na vida do poeta. (1997: p.114) Vinícius torna-se Diplomata do Itamarati a convite de Juscelino Kubitschek, chefia uma caravana de escritores brasileiros para Belo Horizonte. Seu leque de amizades se estendeu tanto que partia da roda literária, a artistas e arquitetos, com grandes nomes como Oscar Niemeyer. Vinícius faz muitas publicações entre os anos de 1943 e 1944, são as Cinco Elegias em edição mandada fazer por Manoel Bandeira, Anibal Machado e Otávio de Faria. Também lança vários livros de seus amigos Oscar Niemeyer e Pedro Nava, Pública desenhos artísticos de artistas pouco conhecidos, colabora como crítico de cinema em vários jornais e revistas. Em 1945 sofre um acidente de avião, Vinícius passa cinco anos em Los Angeles, como vice-cônsul, pública em edição luxo Poemas, Sonetos e Baladas. Em 1947 em Los Angeles, estuda cinema com Orson Welles e Greg Toland, também Produz com Alex Viany a revista Film, que logo em seguida João Cabral de Mello Neto pública em Barcelona, na edição de cinqüenta exemplares o Poema “Pátria Minha”.Viajando para o México para fazer uma visita a Pablo Neruda, gravemente enfermo, conhece o pintor David Siqueira e reencontra seu grande amigo Di Cavalcanti, depois retorna ao Brasil com a morte de seu pai Clodoaldo. Casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo e Bôscoli, visita, fotografa e filma com seus primos, Humberto e José Francheschi, as cidades mineiras que compõem o roteiro de Aleijadinho, falando da vida e obra do artista. É nomeado delegado no festival de Punta Del Leste e em seguida parte para Europa, começa a trabalhar na 14 organização dos festivais de Cannes, Berlim, Locarno e Veneza. No sentido de realizar um festival de cinema em São Paulo. Em Paris conhece seu tradutor francês Jean Georges Ruell, com quem trabalha na tradução de suas Cinco Elegias. Nasce sua filha Georgina, Vinicius faz mais uma edição de seu livro Cinco Elegias só que em francês com a ajuda de Pierre Seghers, torna-se amigo do cubano Nicolas Guillen. Em 1953 além do nascimento de Georgiana, Vinicius compõe seu primeiro samba, música e letra. “Quando tu passa por mim”. Faz diversas crônicas de vanguarda e parte para Paris como segundo secretário da Embaixada. Em 1954 sai seu novo livro Antologia Poética, a revista Anhembi pública sua peça Orfeu da Conceição premiada no concurso de teatro do IV centenário do estado de São Paulo. Compõe em Paris várias canções juntamente com o Maestro Cláudio Santoro, começa a trabalhar no roteiro do seu filme Orfeu Negro. Retorna ao Brasil junto com o produtor Sasha Gordine para pedir financiamento para a produção do filme, não conseguindo regressa a Paris. Já no ano de 1956 retorna ao Brasil em gozo de licença-prêmio, nasce sua terceira filha Luciana, nessa época recebe um convite de Jorge Amado para trabalhar no quinzenário e lança o poema “O operário em Construção”. Também deu ensejo nos trabalhos do filme Orfeu Negro e na produção de sua peça Orfeu da Conceição, no teatro municipal, que aparece também em edição comemorativa de luxo, ilustrada por Carlos Scliar. Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele uma grande parceira e uma bela amizade, logo depois convidaram o violonista João Gilberto que daria o inicio ao movimento de renovação da música popular brasileira denominado de Bossa Nova. É Transferido da embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. Também vai para Montevidéu, regressando, em trânsito ao Brasil. Pública a primeira edição de seu Livro de Sonetos, em edição de livros de Portugal. Sobre seu trabalho com Jobim Castello diz: A parceria com Antônio Carlos Jobim, iniciada sob a gerência espiritual de Orfeu, serve de marca definitiva para uma virada na carreira do poeta. O inspirado Tom desloca a atenção de Vinícius do silêncio e da atmosfera reservada própria à poesia e a dirige para o 15 cenário mais amplo e arejado da música popular. O poeta se torna um cantador. Um show-man esperto e insinuante, a capitanear a nova geração de grandes letristas que nasce com a Bossa Nova. (1997: p.186) Em 1958 sofre um grave acidente de automóvel, casa-se pela terceira vez com Maria Lúcia Proença. Sai o LP Canção do Amor Demais, com músicas suas e de Tom Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. Nesse disco escuta-se pela primeira vez a batida da Bossa Nova e do violão de João Gilberto, uma parceria inesquecível com a explosão do sucesso “Chega de Saudade” o marco inicial desse movimento. Em 1959 sai o LP “Por Toda Minha Vida”, com canções suas e do amigo Tom, cantadas por Lenita Bruno. O Filme ”Orfeu Negro” ganha a Palme d`Or do Festival de Cannes e o Oscar de Hollywood, como melhor filme estrangeiro do ano. Lança seu livro Novos Poemas II, casa sua filha Susana. Ainda segundo Castello: A ida de Vinícius para o cargo de vice-cônsul do Brasil em Montevidéu afasta bastante os dois parceiros. O amor enlouquecido por Lucinha, mais ainda. Em 61, Vinícius passa a dividir sua alma musical com um novo companheiro: Carlos Lyra. Logo surge em vida outro nome que o acompanhará numa guinada importante rumo às raízes africanas da música popular brasileira: o violonista Baden Powell. A fidelidade a Tom é rompida. (1997: p.221) Orfeu Negro é traduzido em Italiano pela Academia Editrice de Milão. Também começa a compor com Baden Powell, dando inicio ao Afro-Sambas entre os quais estão os sucessos “Berimbau e Canção de Ossanha”. Vinícius compõe com Carlos Lyra as canções “Podre menina rica, Garota de Ipanema, Samba da benção” que acabaram virando um belo espetáculo. O show foi na boate “Au Bom Gourmet”, onde também cantou com o grande compositor Ari Barroso. Sobre isso afirma Castello que: O musical conta a História de amor de uma menina rica com um mendigo poeta. Os dois vivem um amor fogoso até que, um dia, o mendigo poeta herda uma fortuna de seu amigo Num-Dou, um ricaço que vivia disfarçado de homem miserável. Diante da súbita riqueza de seu amado, a podre menina rica se desinteressa dele. O musical é uma espécie de West Side Story da Bossa Nova. (1997: p.226-227) 16 Em 1964 faz show de grande sucesso com o amigo Dorival Caymmi, lançando Quarteto em Cy, do show é feito um lindo LP. Lança a primeira edição de “Para viver um grande amor” livro de crônicas e poemas. Mas o mistério dos seus amores ainda causa comentário, no entanto Castello afirma que: Ex - ou futuras mulheres de Vinícius terminarão por reconhecer, mais tarde, que Lucinha Proença foi, de fato, seu grande amor. A prova talvez esteja-nos próprios escritos de Vinícius de Moraes. (1997: p. 233) Diante dessa afirmação é possível concordar com a opinião do autor por meio de tantos poemas e declarações feitos a Lucinha, Vinícius tem um amor eternizado pela sua musa inspiradora, que carrega até o último dia de sua vida. Vinícius ganha o primeiro e segundo prêmio do festival de música popular de São Paulo, da TV Record em canções de parceria com Edu Lobo e Baden Powell.Parte para Paris para escrever o roteiro de seu filme “Arrastão”, em seguida discute com o diretor e retira suas músicas do filme. De Paris voa para Los Angeles no intuito de encontrar seu amigo, Tom Jobim, depois de algum tempo muda-se de Copacabana para o Jardim Botânico, começa um novo trabalho com o diretor Lean Hirszman do cinema novo escrevendo o roteiro do filme Garota de Ipanema. Em 1966 são feitos documentários sobre a vida do poeta, para as redes de televisão Americanas, Alemã, Italiana e Francesa. Também foi realizado o lançamento do seu livro de crônicas “Para uma menina com uma flor, Samba da benção” foi incluída em versão do compositor e ator Pierre Barouh, no filme “Um homme...une femme”, que foi vencedor do Festival de Cannes do mesmo ano. Lançou pela editora Sabiá, a sexta edição de Antologia poética e a segunda de seu livro de sonetos em versão aumentada. Em 1968 falece sua mãe, no dia 25 de fevereiro. Também traduzida para Italiano sua Obra Poética, pela companhia José Aguilar Editora. É exonerado do Itamarati por volta de 1969 e casa-se com Cristina Gurjão. Passados dois anos, se encanta pela linda baiana Gesse Gessy e casa-se pela sétima vez, tem uma filha por nome de Maria e inicia uma parceria com seu amigo “paulistinha” Toquinho. 17 Em 1971 muda-se para Bahia e passa alguns dias na Itália, a trabalho, retorna da Itália com seu amigo Toquinho e gravam junto o LP “Per vivere um grande amoré”. Em 1973 Pública “A Pablo Neruda”, trabalha no roteiro do filme não concretizado “Polichinelo”. Em 1975 Vinícius dá uma de turista e faz uma bela excursão pela Europa e grava com Toquinho dois discos na Itália. Escreve letras de “Deus lhe pague” em 1976 com parceria de Edu Lobo e casa-se pela oitava vez com Marta Rodrigues Santamaría. Em 1977 grava um LP com Toquinho em Paris, faz um show com Miúcha, Toquinho e Tom, no Canecão. Em 1978 casa-se com Gilda de Queirós Mattoso, a qual conhece em uma dessas viagens a Paris. Em 1979 é homenageado em Leitura no Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo a convite do Líder Luis Inácio da Silva (Lula), no mesmo ano, voltando da Europa, sofre um derrame cerebral dentro do avião. Vinícius de Moraes nos deixou na manhã do dia 9 de junho, em que se encontrava na companhia do grande parceiro Toquinho e sua companheira Gilda, o Brasil perde o pai da Bossa Nova, um apaixonado, aquele que traduzia cada sentimento seu com intensidade e poesia. Um homem para quem o sofrimento era apenas um intervalo entre duas felicidades. 18 3. O MOVIMENTO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA Como já foi enfatizado no trabalho, a pretensão é observar a obra de Vinícius de Moraes, no entanto o poeta não se restringiu apenas a poesia, ele também foi compositor e cantor, sua relação com a música foi muito forte, através de suas composições se lançavam cantores vários cantores que fazem sucesso até hoje como é o caso de Toquinho. Vinícius, também, foi um dos responsáveis por um dos movimentos musicais muito importantes no Brasil e que também trazia fusão cultural rítmica. Daí a importância de conhecer melhor a música brasileira para entender melhor o trabalho do autor e de como se formaram os ritmos brasileiros. Os movimentos musicais brasileiros se iniciaram no século XVIII por volta de 1730, quando em Salvador e Rio de Janeiro começa o progresso colonial, só que é por volta do século XIX que a música entra como forma de expressão urbana dentro dos sons indígenas, negros e portugueses e veio à junção dos ritmos de grande significação na formação da cultura musical brasileira. A música representa para o povo a função social e política nos diferentes momentos históricos passados na sociedade. No Brasil, em todos esses momentos, a música marca uma época registrando fatos importantes, estilos e tendências musicais. Segundo Mário de Andrade (1987) o ritmo o cateretê, de origem tupi, tendo uma forte influência negra no aspecto dançante. Pelas pesquisas historiográficas pouco se registrou deste ritmo, pois os jesuítas chegaram para quebrar esse ritmo, devido à bagagem cultural que eles estavam trazendo, foi então que surgiu o canto gregoriano por volta de 1650, foi a partir daí que esses dois ritmos se fundiram e percebemos o quanto a música pode se tornar a união de povos tão distintos, também tendo nascido na época uma responsabilidade política e social. De acordo com Mário de Andrade (1987) Lundu foi outro ritmo negro que se misturou com o ritmo indígena e logo depois passou a sofrer preconceitos por alguns pesquisadores pela forma de dançar, era uma mistura de sapateado, batuques, 19 remelexos dos quadris e a umbigada. Chegou a um tempo em que a igreja foi sendo mais receptiva. Para Mário de Andrade mascarava sem dúvida um desejo implícito de desfrutar dessa sensualidade. Muitas influências vêm acrescentar a nossa raça misturada que faz de nós, brasileiros, fortes na musicalidade. Von Weech (1987) afirma que “A musicalidade é inata no povo do Brasil “e lamenta nossa ignorância e leviandade, que irão nos deixar completar estudos musicais sérios e nos levar a fazer música quase como canários. Podemos observar que essa musicalidade é real e que os frutos do povo inculto são maiores que na música erudita. Diante do que Mário de Andrade (1987) fala a música popular brasileira nasceu do acolhimento, moldando formas, desconstruindo antigos estilos e fecundando sempre uma nova criação. A partir daí, nasceram novas manifestações tão variadas que confundem, até mesmo, os estudiosos. Os ritmos mais conhecidos são a toada, o romance de caráter rural, a modinha, o maxixe, o cateretê, lundu, a valsa, o samba, o bumba-meu-boi (Nordeste) boi bumbá (Amazônia) reisados de natal, os caboclinhos e os maracatus de carnaval. Esses ritmos todos fazem sucesso, principalmente, pela diversidade de instrumentos que são: a viola, sanfona, o ganzá, o violão a flauta, o clarinete, o reco-reco e até mesmo o saxofone. Segundo Mário de Andrade (1987) a serenata é de caráter noturno e popular, geralmente, realizada ao relento. Já o choro no geral tem junção de uma pequena orquestra com instrumentos de solo. A feitiçaria é a mistura da canção e da dança que nasceu com a influência africana do candomblé, macumba, xangô e se consolidou no século XIX e continuaram até hoje.Podemos citar nomes importantes nas modinhas Xisto Baia, Mussurunga nos maxixes, Ernesto Nazaré de caráter carioca e Marcelo Tupinambá, Donga, Sinhô, Noel Rosa e muitos outros que viraram figuras contemporâneas. Na década de 1910, diante dos conflitos de guerra, nasceram tendências, que vão de encontro à estética Europa, o Brasil passava por muitas mudanças entre elas das artes, foi aí que surgiu o movimento modernista no Brasil, o movimento cujo 20 interesse era desestruturar o modelo de perfeição existente na época ditado pelos europeus. O movimento foi evidenciado por um grupo de jovens artistas que queriam chocar a sociedade paulistana de 1910, criticando a burguesia e os interesses de guerra, contra a ditadura nazi-fascista, criticando friamente o governo de Getúlio Vargas, fazendo pressão para sua renúncia, através das artes de um modo geral. Foram eles Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e Monteiro Lobato, que anunciaram as novas idéias artísticas. Em Fevereiro de 1917, em São Paulo, acontece a Semana da Arte Moderna no teatro municipal, sendo um marco na história do Brasil. Por terem sido criticados pelo público, que reagiu mal e a imprensa que criticou maciçamente, houve a necessidade de ser criado um espaço para manifestações artísticas contrárias, daí surgiram as revistas Terra Roxa e Antropofagia em 1928. A arte moderna abriu portas para estilos futuristas, expressionistas, românticos, naturalistas e nacionalistas, fazendo uma verdadeira salada mista chamada de “anos loucos”, esse movimento acabou ganhando o mundo inteiro, através dos poemas e pinturas dos grandes artistas da época que por sua vez se estenderam por várias gerações de novos artistas. Esses aspectos ficam mais evidentes na música quando, além das novas idéias e ideais musicais vai haver também um resgate, do passado em termos de gêneros, ou seja, com a virada do século, os artistas são influenciados também pela necessidade de alguns ritmos do passado como lundu, cateretê, maxixe e outros ritmos que estão chegando. Com a junção desses ritmos chegou o samba de Noel Rosa, Cartola, Carmem Miranda e o romantismo de Nelson Gonçalves. Tudo, praticamente, deu início com a chegada do rádio na década de 1922, trazido por Edgard Roquete Pinto, durante a comemoração do centenário da independência, realizado no Corcovado, Rio de Janeiro. Nasce a rádio sociedade que aos poucos foram sendo imbuídos vários tipos de tecnologia que, para época já era um ótimo avanço. Foi rompido o elitismo da 21 época e a inovação em não mostrar somente notícias de guerra mas sim da um entretenimento para a sociedade. Daí chegavam às canções no rádio e com elas, belas vozes como de Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Vicente Celestino, Emilinha Borba entre outros. Segundo Rocha (2006) na década de 1930, vem um furacão por nome de Carmem Miranda que junto com seus músicos que formavam a denominada “banda da lua” cantava “O que é que a baiana tem?”. Com seu remelexo e suas roupas extravagantes conquistou o Brasil, Carmem não era brasileira mais se considerava tal, fez tanto sucesso que foi parar nas telas de Hollywood e levou seu samba para o mundo inteiro ouvir. De acordo com Murgel (2003) na década de 1930 também nasce outro grande interprete, Cartola que, com seus amigos do morro da Mangueira, faz samba de malandro. Cartola como era conhecido por causa do chapéu que o protegia contra o cimento que caia em sua cabeça, quando era servente de obra. Cartola tem o samba nas veias, mas diante de discussões com seus camaradas, acaba sumindo de cenário, deixando o samba “Chega de Demanda” cantado na verde e rosa Estação primeira de Mangueira. Segundo Murgel (2003), outro grande nome do samba foi Noel Rosa que também fez sucesso na década de 1940, Noel era rapaz tímido e recatado, deixou a Medicina para ser sambista que, por sinal, foi uma ótima escolha, tinha inspiração para qualquer hora e criou vários sambas entre eles “Com que roupa eu vou”, que fez muito sucesso no carnaval da época. Também tinha uma rixa na época com Wilson Batista. Trocavam farpas através da música. O sucesso do rádio foi aumentando e com ele vieram as novelas. No dia 5 de junho de 1941 estreava a novela “Em Busca da Felicidade”, um vento de emoção varreu o país de Norte a Sul. Era a primeira história radiofônica da época, cheia de efeitos especiais e com muitas propagandas, entre elas os produtos Colgate. Murgel (2003) afirma que Juntamente com essa grande audiência, entra no rádio uma voz inigualável que por insistência acaba vencendo e entrando no mundo da 22 música. Nelson Gonçalves, o saudoso Boêmio que, apesar de ser gago como seus amigos o chamavam, tinha uma voz aveludada e cantava num ritmo romântico, bolero e tango. Nelson fez muito sucesso na época, mas houve um tempo que declinou devido a sua separação e só veio gravar novamente já na década de 1970, fez novas parcerias com artistas da MPB da nova geração até os anos 1990. Essa face da música popular brasileira foi muito rica, pois saiu do samba tradicional de batuque, para o samba de mesa. De repente, misturou o samba com a melodia mais lenta e romântica, que foi se ajustando nos lugares menos esperados e nascendo um novo ritmo que parecia ser mais lento do que o normal, que dava sono, nostalgia, era ela que vinha, a Bossa Nova, como uma onda que ganhava ritmo e leveza, traduzida na voz de grandes intérpretes entre eles o apaixonante Vinicius de Moraes. Em meados de 1940 a 1950 Vinícius estourou com o ritmo da Bossa Nova, ritmo esse que fala de amor, amizade que retrata bem os momentos do poeta em cada criação sua. Vinícius, o poeta da paixão encontra pelo caminho parceiros, que se tornaram verdadeiros amigos entre eles estão Antônio Carlos Jobim e Toquinho. Vinícius de Moraes já surgiu como um poeta moderno, pela estilística e estrutura de sua poesia, sem, contudo, jamais ter sido um modernista. Apareceu numa época em que o Modernismo tinha superado a sua primeira fase, mais destrutiva e negativa do que construtiva e, propriamente, criadora: A que já se denominou de descoberta ou ciclo da terra. Estava-se em plena fase da redescoberta da pessoa e do espírito, desde o aparecimento de Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura e da ruptura total com o período anterior, realizada, declarada e acintosamente, por Augusto Frederico Schmidt, com sua denúncia da poesia do pitoresco geográfico, social ou histórico. (Cruz, 1957). Suas características estéticas eram incríveis, pois ele fez um resgate na música popular brasileira jamais vista naquela época, buscou primeiramente o romantismo trovadoresco nos compassos mais lentos e ousou ir além, foi nas raízes africanas e enfeitou o samba criando um novo ritmo o afro-samba. Daí por diante tudo era motivo pra se inventar e inovar na música, com uma bagagem de conhecimento musical imensa em vários ritmos nacionais e internacionais, foi do Samba a Bossa Nova. Foi do Jazz ao Bolero e as melodias mais românticas, eis aqui o trabalho de 23 Vinícius de Moraes, o pai da Bossa Nova que esse ano faz cinqüenta anos de existência. De acordo com Barros: A palavra “Bossa” era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinqüenta, significava jeito maneiro modo. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que esse alguém tinha “bossa”. Se Ricardo desenhava bem, dizia-se que tinha bossa de arquiteto. Se Paulo escrevia, redigia bem, tinha bossa de jornalista. E ai a expressão “Bossa Nova” surgiu em oposição a tudo o que um grupo de jovens achava superado, velho, arcaico, antigo. Sem, mas o quê era julgado superado e velho, na música popular brasileira. Tudo dizia a mocidade bronzeada de Copacabana. A Bossa Nova veio, realmente, quebrar com todos os paradigmas já existentes na música popular brasileira, um jeito novo meio carioca, talvez ousado demais para a época mais que encantou a todos, fez com que nascessem grandes amigos, grandes encontros. 24 4. AS DIVERSAS FACES DO AMOR DE VINÍCIUS DE MORAES Vinícius de Moraes é um poeta extremamente intenso no que diz respeito ao amor. Seu estilo vai do romântico, sensual, patriota, naturalista, espiritualista e fraternal. É uma verdadeira explosão de emoções e sentimentos que torna sua obra ímpar e peculiar. Vinícius de Moraes viveu, praticamente, tudo que escreveu, em meio a seus amigos e suas paixões era um ser humano apaixonado pela arte de viver, como ele mesmo falava: “A vida é a arte dos encontros, embora haja tantos desencontros pela vida”. Talvez fossem esses encontros e desencontros que o tornaram um dos grandes nomes da música popular brasileira, ou melhor, o poetinha da Bossa Nova, como os amigos e a sociedade o chamavam carinhosamente. A primeira face do Poeta Vinícius é a face social, como diplomata não concordava com algumas questões políticas no congresso, mas mesmo assim procurava desabafar através da poesia. Uma delas foi ”Pátria Minha”. Em que o poeta fala: Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho. Pátria, eu semente que nasci do vento, Eu que não vou e não venho, eu que permaneço, Em contato com a dor do tempo, eu elemento, De ligação entre a ação e o pensamento, Eu fio invisível no espaço de todo adeus, Eu, o sem Deus! O poeta transmite a sua angústia e a angústia dos amigos, por não poder viver na sua própria pátria, devido ao exílio. Também retrata claramente o amor e a saudade que sente por sua terra e a sensação de ser humano perdido, abandonado, sem chão, sem Deus, sem pensamentos, como igual a um filho sem sua mãe. Ponho no vento o ouvido, e escuto a brisa, Que brinca em teus cabelos e te alisa, Pátria minha, e perfuma o teu chão... Que vontade me vem de adormecer-me Entre teus doces montes, pátria minha, Atento à fome em tuas entranhas, E ao batuque em teu coração. 25 Composição: Vinícius de Moraes (1947) O autor nesse fragmento fala de sua pátria como uma mulher que encanta com seus cabelos e seu perfume e que ele sente a necessidade de deitar no seu seio, adormecer e sentir o pulsar de seu coração. Vê que o poeta faz uma mistura de sentimentos envolvendo o amor patriota e o amor maternal. Tarde em Itapoã Um velho calção de banho O dia pra vadiar Um mar que não tem tamanho E um arco-íris no ar Depois na praça Caymmi Sentir preguiça no corpo E numa esteira de vime Beber uma água de coco É bom Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Enquanto o mar inaugura Um verde novinho em folha Argumentar com doçura Com uma cachaça de rolha E com o olhar esquecido No encontro de céu e mar Bem devagar ir sentindo A terra toda a rodar É bom Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Depois sentir o arrepio Do vento que a noite traz E o diz-que-diz-que macio Que brota dos coqueirais E nos espaços serenos Sem ontem nem amanhã Dormir nos braços morenos Da lua de Itapuã É bom Passar uma tarde em Itapuã 26 Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Composição: Vinícius de Moraes / Toquinho (1971) Na segunda face, o poeta mostra traços naturalistas no poema Tarde em Itapuã. O autor descreve, em versos, os dias que passou na praia em Salvador, o poema reflete também aspectos românticos ao descrever com sutileza detalhes da natureza como a imensidão mar, o arco-íris, o calor do sol que nos transporta para dentro desse poema, extremamente saudosista e romântico. Esse mesmo poema tornou-se uma bela composição cantada na voz de Toquinho. Garota de Ipanema Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça É ela a menina que vem e que passa Num doce balanço, caminho do mar Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema É a coisa mais linda que eu já vi passar Ah, por que estou tão sozinho? Ah, por que tudo é tão triste? Ah, a beleza que existe A beleza que não é só minha Que também passa sozinha Ah, se ela soubesse que quando ela passa O mundo inteirinho se enche de graça E fica mais lindo por causa do amor Composição: Vinícius de Moraes / Tom Jobim (1967) Numa outra face do amor o autor mostra seu lado sensual, a composição Garota de Ipanema foi feita por Vinícius de Moraes e Tom Jobim, que ao vê passar a linda Heloisa Pinheiro pela praia de Ipanema com seu rebolado, não hesitaram em transformar aquele momento em poesia. Garota de Ipanema retrata a beleza da mulher carioca, com seu corpo dourado e escultural, além de ser um poema naturalista, é romântico quando o poeta a trata como uma musa inspiradora, mostrando sua face mais sensual. Há quem diga que a verdadeira dona dessa composição não tenha sido Heloisa Pinheiro. 27 Eu Sei Que Vou te Amar Eu sei que vou te amar Por toda a minha vida eu vou te amar Em cada despedida eu vou te amar Desesperadamente, eu sei que vou te amar E cada verso meu será Prá te dizer que eu sei que vou te amar Por toda minha vida Eu sei que vou chorar A cada ausência tua eu vou chorar Mas cada volta tua há de apagar O que esta ausência tua me causou Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver A espera de viver ao lado teu Por toda a minha vida. Composição: Tom Jobim / Vinícius de Moraes (1959) Entre os amores existe também o amor total, existe uma entrega tanto da parceria quanto do sentimento, esse poema é um dos mais belos feitos pela dupla Tom e Vinícius. Eu sei que vou te amar é um hino de amor cantado por muitos casais apaixonados, além de refletir também a intenção maior do amor, seja ele maternal, seja ele em forma de amizade, ou de um amor perfeito, de um juramento de fidelidade por toda vida. Essa é a face mais transparente do poeta, pois ele em meio aos seus amores, sempre se entregava por inteiro. Eu Não Existo Sem Você Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim Que nada nesse mundo levará você de mim Eu sei e você sabe que a distância não existe Que todo grande amor Só é bem grande se for triste Por isso, meu amor Não tenha medo de sofrer Que todos os caminhos me encaminham pra você Assim como o oceano Só é belo com luar Assim como a canção Só tem razão se se cantar Assim como uma nuvem Só acontece se chover Assim como o poeta Só é grande se sofrer Assim como viver Sem ter amor não é viver Não há você sem mim E eu não existo sem você 28 Composição: Vinícius de Moraes / Toquinho (1959) Vinícius continua falando de amor, de um amor sofredor, que é viver sem seu ser amado. Retrata claramente que o amor é um sentimento que caminha junto com a tristeza, que ele não consegue viver sem amar, que o amor só é grande quando é triste, quando não é correspondido, ou quando se esta longe, que o amor em meio a suas tantas faces, se mistura com a dor, com o prazer, com a ausência, mas que nada pode apagar um verdadeiro amor. É um amor que se entrega sem medo de sofrer e deixa claro que para o sentimento a distância não existe. Na última estrofe percebe-se comparações do sentimento do eu poético com as causas da natureza. Mostra-se que um não vive sem o outro, que um precisa do outro para existir, assim como no universo algumas coisas só existem pela existência de outra como a nuvem e a chuva. Insensatez A insensatez que você fez Coração mais sem cuidado Fez chorar de dor O seu amor Um amor tão delicado Ah, porque você foi fraco assim Assim tão desalmado Ah, meu coração que nunca amou Não merece ser amado Vai meu coração ouve a razão Usa só sinceridade Quem semeia vento, diz a razão Colhe sempre tempestade Vai, meu coração pede perdão Perdão apaixonado Vai porque quem não Pede perdão Não é nunca perdoado Composição: Vinícius de Moraes / Toquinho (1975) Esse é o amor que perdoa, no poema Insensatez o autor descreve uma situação em que é sofrida uma desilusão amorosa, retrata minuciosamente a dor, o sofrimento, a falta de amor, a falta de perdão, sentimentos bem extintos em certos momentos de nossa vida. Observa-se no poema acima um diálogo em que o eu 29 poético fala ao seu coração, como se lhe recriminasse por ter feito sofrer um amor. Ao mesmo tempo ele mostra-se Meu Deus, eu quero a mulher que passa. seu dorso frio é campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos sete esperanças na boca fresca! Oh! como és linda, mulher que passas Que me sacias e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias! Teus sentimentos são poesia Teus sofrimentos, melancolia. Teus pêlos leves são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania. Composição: Vinícius de Moraes (1936) No poema Ariana, aparecem os primeiros sinais de sensualidade e erotismo. O desejo pela mulher que passa de querer tocá-la, acariciá-la deixam bem claro do desejo do autor e sua carência. De certa forma o eu poético deixa transparecer seu desejo por uma forma que a princípio parece inacessível, porém no decorrer do poema percebe-se a intimidade Teus pêlos leves são como relva boa. “Fresca e macia”. Porém mesmo assim há uma efemeridade na relação e por isso a o desejo e o anseio até certo ponto vassalo, trazendo um toque trovadoresco ao poema, especialmente na primeira estrofe. Soneto de fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): 30 Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Composição: Vinícius de Moraes (1959) No soneto de fidelidade o poeta retrata sua oitava face, a de que o amor é igual a uma chama, que não pode se apagar, que em tudo deve estar atento igualmente a um incêndio, pois o amor pode ser finito e infinito e eterno enquanto durar. Observase o sentimento de entrega, de fidelidade, de um amor que se vive intensamente. Na terceira estrofe, porém o eu poético é formado pelo fluxo da realidade e mostra o que é inexorável à vida e também a conseqüência do amor que pode ser a solidão. No entanto o eu poético mostra que o importante é viver o amor e viver intensamente, uma vez que é infinito “posto que é chama” e como chama uma hora vai acabar, porém enquanto existir deve ser intenso como se fosse infinito. Canção Do Amor Demais Quero chorar porque te amei demais Quero morrer porque me deste a vida Oh meu amor, será que nunca hei de ter paz Será que tudo que há em mim Só quer sentir saudade E já nem sei o que vai ser de mim Tudo me diz que amar será meu fim Que desespero traz o amor Eu nem sabia o que era o amor Agora sei porque não sou feliz Composição: Antonio Carlos Jobim / Vinícius de Moraes (1958) Aqui o poeta, mostra um ser desesperado,quer realmente deixar de viver por causa desse amor, o desespero toma conta de seu pensamento e o faz se sentir um ser infeliz. Há um romantismo presente na saudade e na infelicidade da solidão. Um eu poético que “chora” por se sentir impotente diante de um sentimento grande, inesplicável, confuso com o qual ele não sabe lidar e por isso sofre. Samba da Benção Cantado É melhor ser alegre que ser triste Alegria é a melhor coisa que existe É assim como a luz no coração 31 Mas pra fazer um samba com beleza É preciso um bocado de tristeza É preciso um bocado de tristeza Senão, não se faz um samba não Falado Senão é como amar uma mulher só linda E daí? Uma mulher tem que ter Qualquer coisa além de beleza Qualquer coisa de triste Qualquer coisa que chora Qualquer coisa que sente saudade Um molejo de amor machucado Uma beleza que vem da tristeza De se saber mulher Feita apenas para amar Para sofrer pelo seu amor E pra ser só perdão Cantado Fazer samba não é contar piada E quem faz samba assim não é de nada O bom samba é uma forma de oração Porque o samba é a tristeza que balança E a tristeza tem sempre uma esperança A tristeza tem sempre uma esperança De um dia não ser mais triste não Falado Feito essa gente que anda por aí Brincando com a vida Cuidado, companheiro! A vida é pra valer E não se engane não, tem uma só Duas mesmo que é bom Ninguém vai me dizer que tem Sem provar muito bem provado Com certidão passada em cartório do céu E assinado embaixo: Deus E com firma reconhecida! A vida não é brincadeira, amigo A vida é arte do encontro Embora haja tanto desencontro pela vida Há sempre uma mulher à sua espera Com os olhos cheios de carinho E as mãos cheias de perdão Ponha um pouco de amor na sua vida Como no seu samba Cantado 32 Ponha um pouco de amor numa cadência E vai ver que ninguém no mundo vence A beleza que tem um samba, não Porque o samba nasceu lá na Bahia E se hoje ele é branco na poesia Se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração Falado Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinicius de Moraes Poeta e diplomata O branco mais preto do Brasil Na linha direta de Xangô, saravá! A bênção, Senhora A maior ialorixá da Bahia Terra de Caymmi e João Gilberto A bênção, Pixinguinha Tu que choraste na flauta Todas as minhas mágoas de amor A bênção, Sinhô, a benção, Cartola A bênção, Ismael Silva Sua bênção, Heitor dos Prazeres A bênção, Nelson Cavaquinho A bênção, Geraldo Pereira A bênção, meu bom Cyro Monteiro Você, sobrinho de Nonô A bênção, Noel, sua bênção, Ary A bênção, todos os grandes Sambistas do Brasil Branco, preto, mulato Lindo como a pele macia de Oxum A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim Parceiro e amigo querido Que já viajaste tantas canções comigo E ainda há tantas por viajar A bênção, Carlinhos Lyra Parceiro cem por cento Você que une a ação ao sentimento E ao pensamento A bênção, a bênção, Baden Powell Amigo novo, parceiro novo Que fizeste este samba comigo A bênção, amigo A bênção, maestro Moacir Santos Não és um só, és tantos como O meu Brasil de todos os santos Inclusive meu São Sebastião Saravá! A bênção, que eu vou partir Eu vou ter que dizer adeus Cantado 33 Ponha um pouco de amor numa cadência E vai ver que ninguém no mundo vence A beleza que tem um samba, não Porque o samba nasceu lá na Bahia E se hoje ele é branco na poesia Se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração Composição: Vinícius de Moraes / Baden Powell(1963) Eis o poeta do samba, o branco mais preto do Brasil, nessa composição junto com Baden ele fala da alegria que o samba transmite para muitas gerações, que não existe distinção de cor ou raça, ou mesmo classe social, que na arte da vida o samba sempre ensina que é melhor ser alegre do que ser triste, que o sorriso é sempre a melhor coisa que existe, até mesmo na hora de conquistar. O poeta também fala que o samba é branco na poesia, por ser ele e Baden que estão compondo o samba, todavia ele é negro no coração, retrata claramente suas raizes a flor da pele misturada com todo seu misticismo, sua crença nos orixas, seu lado religioso, amigo, que se reflete em forma de agradecimento a seus companheiros pelas parcerias feitas e de grande sucesso. Observa-se, através de uma meta, o fazer poético como mostra a segunda quarta e quinta estrofe. Observe também, mas na voz a mulher representada, comparada ao fazer poético na terceira estrofe. A penúltima estrofe mostra a importância da presença do amor no que se faz. O poema mostra ainda a raiz negra do samba, que embora tenha muitos aspectos brancos sua essência, seu motivo, seu sangue é negro. Soneto de Separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama De repente não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante 34 E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo, distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente Composição: Vinícius de Moraes(1959) Neste soneto o autor descreve a separação de uma forma muito dolorosa, retrata momentos felizes que se distorcem em determinadas situações, exatamente o que passamos quando nos deparamos com alguma decepção, seja ela no amor, ou na amizade. Em um poema recheado de antíteses e paradoxos o poeta canta e lamenta uma separação. Pobre Menina Rica Eu acho que quem me vê, crê Que eu sou feliz, feliz só porque Tenho tudo quanto existe Pra não ser infeliz Pobre menina tão rica Que triste você fica se vê Um passarinho em liberdade Indo e vindo à vontade, na tarde Você tem mais do que eu Passarinho, do que menina Que é tão rica e nada tem de seu Eu acho que quem me vê, crê Que eu sou feliz, feliz só porque Tenho tudo quanto existe Pra não ser infeliz Pobre menina tão rica Que triste você fica se vê Um passarinho em liberdade Indo e vindo à vontade, na tarde Você tem mais do que eu Passarinho, do que menina Que é tão rica e nada tem de seu Composição: Carlos Lyra e Vinícius de Moraes(1961) Vinícius, além de falar de uma determinada classe social, ele compara a felicidade a uma liberdade impossível para algumas pessoas, como no caso da “pobre menina 35 rica”, que é realmente pobre por não ter liberdade de escolha, por não ser livre como um pássaro, por não escolher seu amor. Se todos fossem iguais a você Vai tua vida Teu caminho é de paz e amor A tua vida É uma linda canção de amor Abre os teus braços e canta A última esperança A esperança divina De amar em paz Se todos fossem Iguais a você Que maravilha viver Uma canção pelo ar Uma mulher a cantar Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir A beleza de amar Como o sol, como a flor, como a luz Amar sem mentir, nem sofrer Existiria a verdade Verdade que ninguém vê Se todos fossem no mundo iguais a você Composição: Tom Jobim / Vinícius de Moraes (1956) Nesse poema Vinícius e Tom afirmam Se todos fossem iguais a você, que maravilha seria viver, uma junção de sentimentos de amor, paz, e esperança em que mesmo que existisse essa possibilidade de todos serem iguais, não iriam existir a monotonia, a rotina coisas que poderiam atrapalhar o percurso de uma história de amor. Minha Namorada Meu poeta eu hoje estou contente Todo mundo de repente Fica olhando, fica olhando Eu hoje estou me rindo Nem eu mesma sei de quê Porque eu recebi Uma cartinhazinha de você Se você quer ser minha namorada Ah! Que linda namorada Você poderia ser Se quiser ser somente minha 36 Exatamente essa coisinha Essa coisa toda minha Que ninguém mais pode ser Você tem que me fazer um juramento De só ter um pensamento Ser só minha até morrer E também de não perder esse jeitinho De falar devagarinho Essas estórias de você E de repente Me fazer muito carinho E chorar bem de mansinho Sem ninguém saber porquê Mas se mais do que minha namorada Você quer ser minha amada Minha amada, mas amada prá valer Aquela amada pelo amor predestinada Sem a qual a vida é nada Sem a qual se quer morrer Você tem que vir comigo em meu caminho E, talvez, o meu caminho Seja triste prá você Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos E os seus braços, o meu ninho No silêncio de depois E você tem que ser a estrela derradeira Minha amiga e companheira No infinito de nós dois Composição: Carlos Lyra e Vinícius de Moraes (1966) Carlos Lyra e Vinícius retratam um sentimento de amor puro e sincero ao falar de “minha namorada”. Este poema é uma verdadeira canção de amor, que faz da simples namorada sua grande amada, o poema cresce com as intenções que o autor descreve esse amor que começa de uma maneira inocente e segue com um amor mais maduro. Chega de Saudade Vai minha tristeza, e diz a ela que sem ela não pode ser, diz-lhe, numa prece Que ela regresse, porque eu não posso Mais sofrer. Chega, de saudade a realidade, É que sem ela não há paz, não há beleza É só tristeza e a melancolia Que não sai de mim, não sai de mim, não sai Mas se ela voltar, 37 Que coisa linda, que coisa louca Pois há menos peixinhos a nadar no mar Do que os beijinhos que eu darei Na sua boca, dentro dos meus braços Os abraços hão de ser milhões de abraços Apertado assim, colado assim, calado assim Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim. Não quero mais esse negócio de você longe de mim... Composição: Tom Jobim e Vinícius (1958) Nesse poema, o poeta mostra sua face saudosa, de querer estar perto de alguém, fala de uma tristeza que não tem fim,de um amor que foi embora, mas que se voltar, a vida terá mais brilho e que tudo irá mudar, irá tratá-la com mais amor e carinho,fará agora tudo com mais intensidade.Retrata bem a nossa vida que em muitos casos só damos valor quando perdemos algo. O poeta usa as repetições das palavras no intuito de enfatisar seu sentimento, como se reafirmasse a promessa de como trataria a pesoa amada se ela voltasse. Pela luz dos olhos teus Quando a luz dos olhos meus E a luz dos olhos teus Resolvem se encontrar Ai, que bom que isso é, meu Deus Que frio que me dá O encontro desse olhar Mas se a luz dos olhos teus Resiste aos olhos meus Só pra me provocar Meu amor, juro por Deus Me sinto incendiar Meu amor, juro por Deus Que a luz dos olhos meus Já não pode esperar Quero a luz dos olhos meus Na luz dos olhos teus Sem mais lararará Pela luz dos olhos teus Eu acho, meu amor E só se pode achar Que a luz dos olhos meus Precisa se casar Composição: Vinícius/Tom Jobim (1977) 38 Na décima sétima face o autor falar, de enamorar alguém com o olhar, ele transmite intensamente através dessa composição do que um olhar é capaz de fazer, mexendo com nossa razão e sentimento de uma maneira leve e sutil, não esquecendo de que tudo começa com um simples olhar. Rosa de Hiroshima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada Composição: Vinícius de Moraes / Gerson Conrad Nesse poema, o autor fala da rosa de uma maneira muito especial, não como uma simples criação divina, mais como a representação de um sofrimento irreparável, relembrando as vítimas de Hiroshima, tendo como papel principal o ser mulher, que foi atingido de várias formas, tanto pela tragédia quanto pela natureza, alterando o estado natural das coisas e das vidas que jamais serão esquecidas. Observa-se, no poema que apesar do aspecto social, o lirismo é contundente e o olhar para o próximo passado pelo poeta salta para um clamor de justiça. Observase o fazer literário, a capacidade poética que permite fazer com que uma tragédia seja revelada de forma especial e “bonita”. Talvez, justamente a capacidade de amar que o poeta tinha lhe fez ver essa “rosa”, tão tenebrosa e dizê-la de forma especial ao leitor. 39 Observa-se que Vinícius cantou o amor de todas as formas possíveis. Há em todos os poemas um eu poético que se diz, que deseja e mostra seu desejo, seus anseios, medos e receios do mesmo tempo que mostra-se lúcido e terno. Percebe-se que apesar de alguns poemas trazerem a saudade e muitas vezes um grande amor, não há exacerbação de sentimentalismo, ou pieguice, há toda uma leveza, uma ternura um jeito todo especial de ser e fazer poético. Numa linguagem acessível, leve, liberta de regras e convenções, Vinícius diz o que o homem quer dizer e o que a mulher quer escutar. O poeta tem uma vasta obra poética onde estão inseridos muitos poemas e canções feitos para criança e alguns poemas que trazem o aspecto social como a “Rosa de Hiroshima”. Porém é no amor que, sem dúvida, está o seu maior e mais fértil lado poético. 40 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer da elaboração desta monografia, foi mostrada a vida e a obra do poeta e compositor Vinícius de Moraes, um dos grandes nomes da música popular brasileira. Observou-se um pouco de sua intimidade e a sua importância que ele teve para música brasileira. Diante do que foi escrito, observou-se que o autor teve muita influência no movimento da Bossa Nova, tanto que foi analisada como uma das características mais marcantes em sua obra musical, uma vez que ele foi um dos principais nomes do referido movimento. Buscamos analisar, na obra de Vinícius, tanto na poesia quanto na música, as diversas faces do amor, no intuito de observar como se revela esse sentimento na obra do autor. Um dos pontos observados no estudo, é que o amor está presente na alma do poeta e que esse sentimento, inerente ao ser humano e aguçado em Vinícius, é que foi o tempo todo, o elemento motriz para sua obra literária. O amor esse grande sentimento, em que na verdade o poeta não amava somente as mulheres, mais sim o amor, ele amava amar, seja em circunstâncias felizes ou tristes. Vinícius no decorrer deste trabalho nos dá uma lição de vida de que nunca é tarde para amar, independente de idade, classe ou cor o amor está presente no ser humano. Em que devemos viver a vida intensamente como se fosse o último dia e que nós seres humanos devemos nos dá sempre uma nova chance de recomeçar e ser feliz. A conclusão a que se chega é que o sentimento do amor realmente possui inúmeras faces, que apesar de ser um sentimento complexo, ele é universal, atemporal e que ainda vale a pena amar. 41 6. Referências Barros, Sóstenes Pernambuco Pires. O que é ‘Bossa’? Porque ‘Bossa Nova’? Onde, quando e como tudo começou? Disponível em <www.almacarioca.com.br/mpb>. Acesso em 30/08/2008. Castelo, José. O poeta da Paixão. 2º Ed. São Paulo: Companhia das letras, 1994. Chico Buarque entrevista em DVD Vinícius de Moraes. Paramount, 2005. Cruz, Luiz Santa. O soneto na poesia de Vinicius de Moraes. Disponível em <http://www.casadobruxo.com.br/poesia/v/vinicius182.htm>. Acesso em 05/09/2008. Enciclopédia da Música Brasileira. Vinícius de Moraes. Disponível <www.mpbnet.com.br/musicos/vinicius.de.moraes>. Acesso em 20/08/2008. em Fernandes, Vagner. Eterno Vinicius: o poeta, que completaria hoje 90 anos, recebe homenagem de amigos e admiradores. Disponível em <www.casadobruxo.com.br/poesia/v/esp_vmjb00.htm>. Acesso em 03/09/2008. Andrade, Mário. Pequena história da música. 2º ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987. Murgel, Carô. Cartola. Disponível em <www.mpbnet.com.br/musicos/cartola/>. Acesso em 20/08/2008. 42 Murgel, Carô. Nelson Gonçalves. Disponível <www.mpbnet.com.br/musicos/nelson.gonçalves>. Acesso em 20/08/2008. em Murgel, Carô. Noel Rosa. Disponível em <www.mpbnet.com.br/musicos/noel.rosa/>. Acesso em 20/08/2008. Rocha, Tatiana. Carmem Miranda. Disponível <www.mpbnet.com.br/musicos/carmem.miranda/>. Acesso em 20/08/2008. em Squeff, Enio & Wisnik, José Miguel. Música: O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira. 2º Ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. 43 APÊNDICES ANEXO A Pátria minha A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho Pátria, eu semente que nasci do vento Eu que não vou e não venho, eu que permaneço Em contato com a dor do tempo, eu elemento De ligação entre a ação e o pensamento Eu fio invisível no espaço de todo adeus Eu, o sem Deus! Tenho-te no entanto em mim como um gemido De flor; tenho-te como um amor morrido A quem se jurou; tenho-te como uma fé Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito Nesta sala estrangeira com lareira E sem pé-direito. Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra Quando tudo passou a ser infinito e nada terra E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz À espera de ver surgir a Cruz do Sul Que eu sabia, mas amanheceu... Fonte de mel, bicho triste, pátria minha Amada, idolatrada, salve, salve! Que mais doce esperança acorrentada O não poder dizer-te: aguarda... Não tardo! 44 Quero rever-te, pátria minha, e para Rever-te me esqueci de tudo Fui cego, estropiado, surdo, mudo Vi minha humilde morte cara a cara Rasguei poemas, mulheres, horizontes Fiquei simples, sem fontes. Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta Lábaro não; a minha pátria é desolação De caminhos, a minha pátria é terra sedenta E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular Que bebe nuvem, come terra E urina mar. Mais do que a mais garrida a minha pátria tem Uma quentura, um querer bem, um bem Um libertas quae sera tamen Que um dia traduzi num exame escrito: "Liberta que serás também" E repito! Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa Que brinca em teus cabelos e te alisa Pátria minha, e perfuma o teu chão... Que vontade me vem de adormecer-me Entre teus doces montes, pátria minha Atento à fome em tuas entranhas E ao batuque em teu coração. Não te direi o nome, pátria minha Teu nome é pátria amada, é patriazinha Não rima com mãe gentil Vives em mim como uma filha, que és Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez. Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que peça ao rouxinol do dia Que peça ao sabiá Para levar-te presto este avigrama: "Pátria minha, saudades de quem te ama… Vinicius de Moraes." 45 ANEXO B Ariana, a mulher Quando, aquela noite, na sala deserta daquela casa cheia da montanha em torno O tempo convergiu para a morte e houve uma cessação estranha seguida de um debruçar do instante para o outro instante Ante o meu olhar absorto o relógio avançou e foi como se eu tivesse me identificado a ele e estivesse batendo soturnamente a Meia-Noite E na ordem de horror que o silêncio fazia pulsar como um coração dentro do ar despojado Senti que a Natureza tinha entrado invisivelmente através das paredes e se plantara aos meus olhos em toda a sua fixidez noturna E que eu estava no meio dela e à minha volta havia árvores dormindo e flores desacordadas pela treva. Como que a solidão traz a presença invisível de um cadáver – e para mim era como se a Natureza estivesse morta Eu aspirava a sua respiração ácida e pressentia a sua deglutição monstruosa mas para mim era como se ela estivesse morta Paralisada e fria, imensamente erguida em sua sombra imóvel para o céu alto e sem lua E nenhum grito, nenhum sussurro de água nos rios correndo, nenhum eco nas quebradas ermas Nenhum desespero nas lianas pendidas, nenhuma fome no muco aflorado das plantas carnívoras Nenhuma voz, nenhum apelo da terra, nenhuma lamentação de folhas, nada. Em vão eu atirava os braços para as orquídeas insensíveis junto aos lírios inermes como velhos falos Inutilmente corria cego por entre os troncos cujas parasitas eram como a miséria da vaidade senil dos homens Nada se movia como se o medo tivesse matado em mim a mocidade e gelado o sangue capaz de acordá-los E já o suor corria do meu corpo e as lágrimas dos meus olhos ao contato dos cactos esbarrados na alucinação da fuga E a loucura dos pés parecia galgar lentamente os membros em busca do pensamento Quando caí no ventre quente de uma campina de vegetação úmida e sobre a qual afundei minha carne. Foi então que compreendi que só em mim havia morte e que tudo estava profundamente vivo Só então vi as folhas caindo, os rios correndo, os troncos pulsando, as flores se erguendo E ouvi os gemidos dos galhos tremendo, dos gineceus se abrindo, das borboletas noivas se finando E tão grande foi a minha dor que angustiosamente abracei a terra como se quisesse fecundá-la Mas ela me lançou fora como se não houvesse força em mim e como se ela não me desejasse E eu me vi só, nu e só, e era como se a traição tivesse me envelhecido eras. Tristemente me brotou da alma o branco nome da Amada e eu murmurei – Ariana! E sem pensar caminhei trôpego como a visão do Tempo e murmurava – Ariana! E tudo em mim buscava Ariana e não havia Ariana em nenhuma parte Mas se Ariana era a floresta, por que não havia de ser Ariana a terra? Se Ariana era a morte, por que não havia de ser Ariana a vida? 46 Por que – se tudo era Ariana e só Ariana havia e nada fora de Ariana? Baixei à terra de joelhos e a boca colada ao seu seio disse muito docemente – Sou eu, Ariana... Mas eis que um grande pássaro azul desce e canta aos meus ouvidos – Eu sou Ariana! E em todo o céu ficou vibrando como um hino o muito amado nome de Ariana. Desesperado me ergui e bradei: Quem és que te devo procurar em toda a parte e estás em cada uma? Espírito, carne, vida, sofrimento, serenidade, morte, por que não serias uma? Por que me persegues e me foges e por que me cegas se me dás uma luz e restas longe? Mas nada me respondeu e eu prossegui na minha peregrinação através da campina E dizia: Sei que tudo é infinito! – e o pio das aves me trazia o grito dos sertões desaparecidos E as pedras do caminho me traziam os abismos e a terra seca a sede na fontes. No entanto, era como se eu fosse a alimária de um anjo que me chicoteava – Ariana! E eu caminhava cheio de castigo e em busca do martírio de Ariana A branca Amada salva das águas e a quem fora prometido o trono do mundo. Eis que galgando um monte surgiram luzes e após janelas iluminadas e após cabanas iluminadas E após ruas iluminadas e após lugarejos iluminados como fogos no mato noturno E grandes redes de pescar secavam às portas e se ouvia o bater das forjas. E perguntei: Pescadores, onde está Ariana? – e eles me mostravam o peixe Ferreiros, onde está Ariana? – e eles me mostravam o fogo Mulheres, onde está Ariana? – e elas me mostravam o sexo. Mas logo se ouviam gritos e danças, e gaitas tocavam e guizos batiam Eu caminhava, e aos poucos o ruído ia se alongando à medida que eu penetrava na savana No entanto era como se o canto que me chegava entoasse – Ariana! E pensei: Talvez eu encontre Ariana na Cidade de Ouro – por que não seria Ariana a mulher perdida? Por que não seria Ariana a moeda em que o obreiro gravou a efígie de César? Por que não seria Ariana a mercadoria do Templo ou a púrpura bordada do altar do Templo? E mergulhei nos subterrâneos e nas torres da Cidade de Ouro mas não encontrei Ariana Às vezes indagava – e um poderoso fariseu me disse irado: – Cão de Deus, tu és Ariana! E talvez porque eu fosse realmente o Cão de Deus, não compreendi a palavra do homem rico Mas Ariana não era a mulher, nem a moeda, nem a mercadoria, nem a púrpura E eu disse comigo: Em todo lugar menos que aqui estará Ariana E compreendi que só onde cabia Deus cabia Ariana. Então cantei: Ariana, chicote de Deus castigando Ariana! e disse muitas palavras inexistentes E imitei a voz dos pássaros e espezinhei sobre a urtiga mas não espezinhei sobre a cicuta santa Era como se um raio tivesse me ferido e corresse desatinado dentro de minhas entranhas As mãos em concha, no alto dos morros ou nos vales eu gritava – Ariana! E muitas vezes o eco ajuntava: Ariana... ana... E os trovões desdobravam no céu a palavra – Ariana. E como a uma ordem estranha, as serpentes saíam das tocas e comiam os ratos Os porcos endemoninhados se devoravam, os cisnes tombavam cantando nos lagos 47 E os corvos e abutres caíam feridos por legiões de águias precipitadas E misteriosamente o joio se separava do trigo nos campos desertos E os milharais descendo os braços trituravam as formigas no solo E envenenadas pela terra descomposta as figueiras se tornavam profundamente secas. Dentro em pouco todos corriam a mim, homens varões e mulheres desposadas Umas me diziam: Meu senhor, meu filho morre! e outras eram cegas e paralíticas E os homens me apontavam as plantações estorricadas e as vacas magras. E eu dizia: Eu sou o enviado do Mal! e imediatamente as crianças morriam E os cegos se tornavam paralíticos e os paralíticos cegos E as plantações se tornavam pó que o vento carregava e que sufocava as vacas magras. Mas como quisessem me correr eu falava olhando a dor e a maceração dos corpos Não temas, povo escravo! A mim me morreu a alma mais do que o filho e me assaltou a indiferença mais do que a lepra A mim se fez pó e carne mais do que o trigo e se sufocou a poesia mais do que a vaca magra Mas é preciso! Para que surja a Exaltada, a branca e sereníssinia Ariana A que é a lepra e a saúde, o pó e o trigo, a poesia e a vaca magra Ariana, a mulher – a mãe, a filha, a esposa, a noiva, a bem-amada! E à medida que o nome de Ariana ressoava como um grito de clarim nas faces paradas As crianças se erguiam, os cegos olhavam, os paralíticos andavam medrosamente E nos campos dourados ondulando ao vento, as vacas mugiam para o céu claro E um só clamor saía de todos os peitos e vibrava em todos lábios – Ariana! E uma só música se estendia sobre as terras e sobre os rios – Ariana! E um só entendimento iluminava o pensamento dos poetas – Ariana! Assim, coberto de bênçãos, cheguei a uma floresta e me sentei às suas bordas – os regatos cantavam límpidos Tive o desejo súbito da sombra, da humildade dos galhos e do repouso das folhas secas E me aprofundei na espessura funda cheia de ruídos e onde o mistério passava sonhando E foi como se eu tivesse procurado e sido atendido – vi orquídeas que eram camas doces para a fadiga Vi rosas selvagens cheias de orvalho, de perfume eterno e boas para matar a sede E vi palmas gigantescas que eram leques para afastar o calor da carne. Descansei – por um momento senti vertiginosamente o húmus fecundo da terra A pureza e a ternura da vida nos lírios altivos como falos A liberdade das lianas prisioneiras, a serenidade das quedas se despenhando. E mais do que nunca o nome da Amada me veio e eu murmurei o apelo – Eu te amo, Ariana! E o sono da Amada me desceu aos olhos e eles cerraram a visão de Ariana E meu coração pôs-se a bater pausadamente doze vezes o sinal cabalístico de Ariana… Depois um gigantesco relógio se precisou na fixidez do sonho, tomou forma e se situou na minha frente, parado sobre a Meia-Noite Vi que estava só e que era eu mesmo e reconheci velhos objetos amigos. Mas passando sobre o rosto a mão gelada senti que chorava as puríssimas lágrimas de Ariana E que o meu espírito e o meu coração eram para sempre da branca e sereníssima Ariana No silêncio profundo daquela casa cheia da Montanha em torno.