Pré-Vestibular Popular da UFF na Engenharia UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DISCIPLINA: LITERATURA PROFESSORA: ALINE RODRIGUES Os Gêneros Literários O texto literário pode ser divido, primeiramente, em dois grandes grupos. No que se refere à forma, pode ser escrito em verso ou prosa. Em relação ao conteúdo e à estrutura, pode ser dividido em gêneros distintos: I. Gênero Lírico Texto de caráter emocional no qual os sentimentos, ideias e visão de mundo de um eu-lírico. Normalmente em 1 ª pessoa e com predomínio das funções emotivas e poéticas. Soneto da Separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Vinicius de Moraes II. Gênero Dramático Do grego dráma = ação, trata-se do texto, escrito em prosa ou verso para ser encenado, em que a ação se desenrola a partir de diálogos. Compreende as seguintes modalidades: A. Tragédia: Representação de um fato trágico, provocado pelo homem. Na tragédia clássica, o conflito é desencadeado por causa dos valores. Já a tragédia moderna tem como tema central a subjetividade. Ex: Clássicas: Medeia, Édipo Rei; Modernas: Hamlet, Macbeth, Otelo B. Comédia: Representa um fato inspirado no cotidiano. Sua origem está nas festas populares gregas. É uma sátira de comportamentos individuais e coletivos com o intuito moralizante. Ex: Lisístrata, de Aristófanes. C. Tragicomédia: Mistura de elementos trágicos e cômicos. Na antiguidade, também significava a mistura do real e do imaginário. Ex: As Bacas – Eurípedes / Memórias Póstumas de Brás Cubas III. Gênero Épico É uma narrativa em forma de versos que conta os feitos (geralmente, fatos históricos) de um povo, ou de um cidadão; representado por um herói. Apresenta sempre um narrador falando do passado - Narrativa “in medias res”. É caracterizado pela presença de mitologia greco-latina – Plano real e mítico -, heróis mitológicos e heróis humanos. Ex: “Ilíada” e “Odisséia” – Homero , “Eneida” - Vírgilio , “Os Lusíadas” – Camões e “A Divina Comédia” – Dante Alighieri “ As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; “ (Lusíadas, Canto I, 1) IV. Gênero Narrativo: “A narrativa está presente em todos os tempos, em todos os... lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa; (...) a narrativa está sempre presente, como a vida. “ (BARTHES, Roland. A aventura semiológica) É proveniente do gênero épico – narrativas em prosa, não foi previsto por Aristóteles na sua divisão dos gêneros. De acordo com a sua estrutura, pode ser classificado como: Romance, novela e conto: a) O romance – Trata-se de uma narrativa longa, geralmente estruturada em capítulos, compondo-se por vários personagens, onde vários conflitos estão ligados a um conflito principal, formando desta forma o que chamamos de enredo. Suas origens remontam à Idade Média, mas a forma atual desenvolveu-se desde o século XVIII. b) A novela – Os episódios são realizados de forma ininterrupta e dinâmica. Os espaços são bem delimitados e o enredo corrobora-se para o desfecho da narrativa e para a resolução de variados conflitos. c) O conto – Caracteriza-se por uma narrativa curta, envolvendo poucos personagens, onde o enredo gira em torno de apenas um conflito que se resolve em pouco tempo. Funções da Linguagem a) Função emotiva (ou expressiva): Centralizada no Emissor , Primeira pessoa do singular (eu). Emoções. Interjeições e Exclamações. Exemplos: Blogs, Autobiografias e Poesias líricas. “Ah! Leva a solidão de mim Tira esse amor dos olhos meus Tira a tristeza ruim do adeus Que ficou em mim Que não sai de mim” b) Função Referencial: Centralizada no Referente. Terceira pessoa do singular (ele/ela). Informações, descrições de fatos, neutralidade. Ex: Jornais e livros técnicos. “São Paulo, 29 mar (EFE).- O ex-vicepresidente José Alencar morreu nesta terça-feira, em São Paulo, aos 79 anos.” c) Função apelativa (ou conativa): Centraliza-se no receptor. Segunda pessoa do singular e imperativo. Figuras de linguagem. Discursos políticos, Sermões e Promoção em pontos de venda d) Função Fática: Centrada no canal de comunicação. Objetivo é testar a compreensão durante a comunicação. “Alô! Tá me “Entendeu?” ouvindo?”; “Pronto?”; e) Função poética: Centralizada na mensagem. Subjetividade. Figuras de linguagem e brincadeiras com o código. Ex: Obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc. “De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.” (Vinícius de Morais. Soneto da fidelidade) f) Função Metalinguística: centralizada no código. usa a linguagem para falar dela mesma. Ex: Poesia sobre poesia, Propaganda sobre propaganda e Dicionário “Escrevo porque gosto de escrever. Ao passar as idéias para o papel, sinto-me realizada...” Escrever: Pôr ou dizer por escrito. 2. Encher de letras. 3. Compor, redigir. 4. Ortografar. 5. Fig. Fixar, gravar. 6. Representar o pensamento por meio de caracteres. Figuras de Linguagem Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem. Podemse classificar as figuras de linguagem em três tipos: Figuras de Pensamento Figuras de Palavras e Figuras de Sintaxe. Figuras de Pensamento: As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. a) Antítese: é a aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. “Onde queres prazer sou o que dói / E onde queres tortura, mansidão / Onde queres um lar, revolução/ E onde queres bandido sou herói” (Caetano Veloso) b) Eufemismo: quando uma palavra ou expressão é empregada para suavizar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante. “E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir/ Deus lhe pague.” (Chico Buarque) c) Hipérbole:é um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva a ideia. “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac) “Na chuva de cores/ Da tarde que explode/ A lagoa brilha”. (Carlos Drummond de Andrade) d) Ironia: consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos. “As moças entrebeijam-se porque não podem morder-se umas às outras. O beijo deles é a evolução da dentada da pré-avó.” (Monteiro Lobato) “Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor.” ( Mário de Andrade) e) Paradoxo: não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas de ideias que se contradizem. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa) f) Personificação ou Prosopoeia: Atribui movimento, ação, fala, ou sentimento características próprias de seres animados - a seres inanimados, irracionais e imaginários. “... a Lua/ tal qual a dona do bordel / pedia a cada estela fria/ um brilho de aluguel” (João Bosco & Aldir Blanc) “O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico...” (Mário de Andrade) “Um frio inteligente (...) percorria o jardim...” (Clarice Lispector) Figuras de Palavras: a) Metáfora: É o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É uma comparação subentendida. “O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.” (Drummond) “Minhas sensações são um barco de quilha pro ar.” (Fernando Pessoa) b) Metonímia: É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Autor pela obra: “Li Jô Soares dezenas de vezes.” O continente pelo conteúdo: “O ginásio aplaudiu a seleção” A parte pelo todo: “Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento.” Efeito pela causa: “Suou muito para conseguir a casa própria” c) Sinestesia: Transfere percepções da esfera de um sentido para o outro e tem como resultado uma fusão de impressões sensoriais de grande poder sugestivo. “A sua voz áspera intimidava a platéia.” “Ó sonora audição colorida do aroma” d) Catacrese: É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio. “O menino quebrou o braço da cadeira.” Figuras de sintaxe: a) Assíndeto: ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações. “Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apartando-se, fundindo-se.” (Machado de Assis) “Fere, mata, derriba denodado...” (Camões) b) Elipse: Ocorre quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. “Sentei-me na cama, uma dor aguda no peito, o coração desordenado.” (Antônio Pereira) “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas.” (Rubem Braga) c) Anáfora: consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade. “Eu quase não saio/ Eu quase não tenho amigo/ Eu quase não consigo / Ficar na cidade sem viver contrariado.” (Gilberto Gil) d) Pleonasmo: É o emprego de palavras redundantes , com o fim de enfatizar ou reforçar a expressão. “Morrerás morte vil na mão de um forte” (Gonçalves Dias) “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa) e) Polissíndeto: É a repetição enfática de uma conjunção coordenativa (conjunção e ). “Vão chegando as burguesinhas pobres,/ e as criadas das burguesinhas ricas/ e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.” (Manuel Bandeira) f) Silepse: ocorre quando a concordância é realizada com a idéia e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: gênero, número e pessoa. “A certa altura, a gente tem que estar cansado” “Corria gente de todos os lados e gritavam” “A gente não sabemos escolher presidente/ A gente não sabemos tomar conta da gente.” EXERCÍCIOS 1. (UFRJ) “E protegei sobretudo os meninos pobres dos morros e dos mocambos, os tristes meninos da cidade e os meninos amarelos e barrigudinhos da roça, protegei suas canelinhas finas, suas cabecinhas sujas, seus pés que podem pisar em cobra e seus olhos que podem pegar tracoma – e afastai de todo perigo e de toda maldade os meninos do Brasil, os louros e os escurinhos, todos os milhões de meninos deste grande e pobre e abandonado meninão triste que é o nosso Brasil, ó Glorioso São Cosme,Glorioso São Damião!” Setembro, 1957 (RUBEM BRAGA, 200 Crônicas escolhidas) No parágrafo, ocorre uma personificação. Diga qual é essa personificação, relacionando-a ao tratamento dispensado pelo texto ao tema da infância. 2. Os poemas Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... (MÁRIO QUINTANA, Poesia completa.) a) O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo. Como é denominada essa figura? b) Eles não têm pouso nem porto (v. 6-7) Os versos acima podem ser lidos como uma pressuposição do autor sobre o texto literário. De que forma essa pressuposição está ligada à obra literária, como texto público? O Barroco 1. Quadro Histórico Contra- Reforma Século – XVII: Pós-Concílio de Trento Comércio e expansão ultramarina União Ibérica 2. Características do Barroco Estilo que nasce de uma crise dos valores renascentistas. O homem barroco vive em estado de tensão e desequilíbrio. Dualismo do homem barroco: Está dividido entre o mundo espiritual (celeste, eterno) e mundo material (terreno, passageiro), antropocentrismo e teocentrismo, pecado e perdão. Evasão pelo culto exagerado à forma: Busca pelo detalhe e o rebuscamento formal. Figuras de linguagem: Predominantemente, hipérbole. Metáfora e antítese. 3. Estilos Literários no Barroco: Cultismo – Linguagem rebuscada e extravagante. Valorização do pormenor mediante aos jogos de palavras. Uso demasiado de figuras de linguagem. Influência do poeta espanhol Luís de Gôngora. Conceptismo – Marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, segue um raciocínio lógico, racionalista, de retórica aprimorada. É uma espécie de argumentação dentro da poesia ou do sermão. O espanhol Quevedo foi um dos principais autores do cultismo. Exemplo de Soneto Conceptista: MEU DEUS Meu Deus, que estais pendente de um madeiro, Em cuja lei protesto de viver, Em cuja santa lei hei de morrer Animoso, constante, firme e inteiro: Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer, É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de um Pai, manso Cordeiro. Mui grande é vosso amor e o meu delito; Porém pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor, que é infinito. Esta razão me obriga a confiar, Que, por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor de me salvar. 1. Poeta busca o perdão Divino e para isso argumenta com Deus – tenta convencer Deus de que é bom que o perdoe para assegurar a glória divina. 2. Silogismo: Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador. Premissa menor: Eu sou um pecador. Conclusão: Logo, eu espero salvar-me. 4. Principais Autores: Padre Antônio Vieira: É considerado o maior orador sacro da Língua Portuguesa. Possui uma obra dividida em profecias, cartas e sermões, quase duzentos. De estilo barroco conceptista, o pregador português joga com asa idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos da retórica dos jesuítas. Um de seus principais sermões é o Sermão da sexagésima (ou A palavra de Deus), pregado na Capela Real de Lisboa em 1655. "... Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta, que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? ..." (Fragmento do Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira) Gregório de Matos: É o primeiro grande poeta brasileiro. Gregório ficou conhecido como o “Boca do Inferno” devido a sua poesia satírica. Praticou, e com esmero, a poesia religiosa e a lírica. Cultivou tanto o estilo Cultista, quanto o Conceptista, apresentando jogo de palavras ao lado de raciocínios sutis, sempre como o uso abusivo de linguagem. A sua obra poética passeia por três vertentes distintas: Poesia religiosa: coloca-se diante de Deus, como um pecador, pedindo perdão por seus erros e confiante na misericórdia divina. “Pequei, Senhor; mas não porque hei peca Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado.” Poesia satírica: criticava os letrados, os políticos, a corrupção, o relaxamento dos costumes, a cidade da Bahia, desdenha das aparências do mundo. Desvenda a sua iniqüidade, com um pessimismo realista, que não hesita em entrar pela obscenidade e a crueza da vida do sexo. "Que os brasileiros são Bestas, e estão sempre a trabalhar toda a vida, por manter Maganos de Portugal.“ Poesia lírica: o lirismo amoroso de sua poesia define-se pelo erotismo, revelando uma sensualidade ora grosseira, ora de rara fineza. Gregório de Matos foi o primeiro poeta que admirou e glorificou a beleza de mulheres brancas e negras. “Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara:” Soneto V Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ornadas, Do que anda só o engenho mais profundo. Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir, que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo o mar de enganos Ser louco cos demais, que ser sisudo. EXERCÍCIOS Texto I Largo em sentir, em respirar sucinto Peno, e calo tão fino, e tão atento, Que fazendo disfarce do tormento Mostro, que o não padeço, e sei, que o sinto. O mal, que fora encubro, ou que desminto, Dentro no coração é, que o sustento, Com que para penar é sentimento, Para não se entender é labirinto. Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; Da tempestade é o estrondo efeito: Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Mas oh do meu segredo alto conceito! Pois não me chegam a vir à boca os tiros Dos combates, que vão dentro no peito. Gregório de Matos Guerra. Sonetos Texto II O tempo não pára Disparo contra o sol Sou forte, sou por acaso Minha metralhadora cheia de mágoas Eu sou um cara Cansado de correr Na direção contrária Sem pódio de chegada ou beijo de namorada Eu sou mais um cara Mas se você achar Que eu tô derrotado Saiba que ainda estão rolando os dados Porque o tempo, o tempo não pára Dias sim, dias não Eu vou sobrevivendo sem um arranhão Da caridade de quem me detesta A tua piscina tá cheia de ratos Tuas idéias não correspondem aos fatos O tempo não pára Eu vejo o futuro repetir o passado Eu vejo um museu de grandes novidades O tempo não pára Não pára, não, não pára Eu não tenho data pra comemorar Às vezes os meus dias são de par em par Procurando uma agulha num palheiro Nas noites de frio é melhor nem nascer Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer E assim nos tornamos brasileiros Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro Transformam o país inteiro num puteiro Pois assim se ganha mais dinheiro a. As estéticas literárias não se confinam a determinados tempos e a determinados autores na expressão do sentimento e da visão de mundo. De uma forma ou de outra, os poetas Gregório de Matos e Cazuza (séculos XVI e XX, respectivamente) discutem as contradições que, atemporalmente, cercam a existência humana. Transcreva dois versos seguidos do texto I e dois versos seguidos do texto II que comprovem o caráter contraditório da visão de mundo de cada autor. b. mediocritas” – exaltação do meio-término. Rousseau e o Mito do Bom Selvagem. Procura pelo “locus amenos”. Poesia Bucólica e Pastoril Fingimento poético e uso de Pseudônimos Pastoris 3. Produção Literária no Brasil: Cláudio Manoel da Costa (Glauceste Satúrnio): O poeta Gregório de Matos e o compositor Cazuza, como homens de seus tempos, apresentam, em certos aspectos, atitudes distintas em relação aos conflitos existenciais. O primeiro reconhece a existência dos conflitos que o atormentam. O segundo, além de reconhecer conflitos pessoais, expõe as mazelas que cercam o ser humano em geral. Transcreva, de cada autor (texto IV e texto V), dois versos seguidos que confirmem tal afirmativa. Nascido em Minas Gerais, vai para Coimbra estudar Direito (1749) quando entra em contato com os ideais iluministas. Lança o livro “Obras” e funda a Arcádia Ultramarina. Inconfidente, é preso e encontrado morto na cadeia. Assume o papel de um pastor, pobre, mas feliz – Glauceste Satúrnio. Cultivou a poesia bucólica e pastoril. Além do livro “Obras”, deixou também o poema épico “Vila Rica”. O Arcadismo Nasceu em Portugal, passou parte da infância no Brasil. Graduado em Direito por Coimbra, escreve a tese Tratado do Direito Natural. Ao retornar para Brasil aos 38 anos como ouvidor e juiz, instala-se em Vila Rica e se envolve na Inconfidência Mineira quando estava prestes a se casar. É preso e condenado ao degredo em Moçambique. 1. Quadro Histórico Mundo: Século das Luzes: Iluminismo racionalismo e despotismo esclarecido Revolução Industrial e Urbanização Independência dos EUA Brasil: Transferência do Centro Econômico do Nordeste para o Sudeste – Minas e Rio Mineração Inconfidência Mineira 2. Características: Simplicidade Retorno aos modelos clássicos greco-latinos da Antiguidade e Renascimento. Horácio: “Fugere urbem” – Fugir da cidade; “Carpe Diem” – viver o presente e “aurea Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu) : Principais Obras: Marília de Dirceu: Obra composta por liras, inspiradas no seu romance com Maria Dorotéia, na qual Gonzaga posiciona-se como o pastor Dirceu. Apaixonado pelo campo, Dirceu, vive a vida intensamente e retrata o seu amor à Natureza e à Marília. Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; dá-me vinho, legume, fruta, azeite; das brancas ovelhinhas tiro o leite, e mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela. graças à minha Estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte: dos anos inda não está cortado; os Pastores que habitam este monte respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, que inveja até me tem o próprio Alceste: ao som dela concerto a voz celeste nem canto letra, que não seja minha. Graças, Marília bela. graças à minha Estrela! (...) Cartas Chilenas: São 13 poemas satíricos com estrutura de carta escritos por Critrilo. Os desmandos, atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais são relatados em versos decassílabos do "Fanfarrão Minésio" (o governador de Minas Gerais, Luís Cunha Meneses) no governo do "Chile" (a cidade de Vila Rica). “Os zelosos juízes punir querem A injúria da justiça: formam autos, Procedem às devassas, pronunciam, E mandam que estes nomes se descrevam Nos róis dos mais culpados. Mas, amigo, De que serve fazer-se o que as leis mandam Na terra, que governa um bruto chefe, Que não tem outra lei mais que a vontade?” (Trecho – Carta IX) Santa Rita Durão: Frei da ordem de Santo Agostinho, orador e poeta pode ser considerado o criador do indianismo no Brasil. Seu poema épico Caramuru é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos. XVII “Correm, depois de crê-lo, ao pasto horrendo, E, retalhando o corpo em mil pedaços, Vai cada um famélico trazendo, Qual um pé, qual a mão, qual outros os braços; Outro na crua carne iam comendo, Tanto na infame gula eram devassos; Tais há que as assam nos ardentes fossos, Alguns torrando estão na chama os ossos.” O Romantismo A. A Escola Romântica Define-se como escola literária nos últimos 25 anos do século XVIII. Na Alemanha, a publicação de Wether de Goethe, 1774, traz as bases definitivas do sentimentalismo e do escapismo pela morte. Na Inglaterra, o Romantismo manifestase nos primeiros anos do século XIX, com o surgimento de Lord Byron e sua poesia ultra-romântica. Em Portugal, a publicação do poema Camões, de Almeida Garret, é o marco do início do movimento literário no país. 1. Momento histórico mundial Segunda metade do século XVIII, o processo de industrialização havia mudado muito as antigas relações econômicas. O grande marco das mudanças é a REVOLUÇÃO FRANCESA. Período da consolidação da burguesia, que passou a dominar a vida política, econômica e social após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial (virada do séc. XVIII para o XIX). 1.1 Momento histórico brasileiro Após 1808, o país tinha vivenciado uma certa independência com a vinda da família real portuguesa. Em 1822, ocorre a independência, cresce o sentimento nacionalista e a busca por um passado histórico. 1823/1831 – Período conturbado; autoritarismo de D. Pedro I; Constituição outorgada, Confederação do Equador e luta pelo trono com D. Miguel. Período Regencial e maioridade de Pedro II. 2. Características do Romantismo Características que mudam com a evolução dos autores. Inicia-se nos últimos anos do século XVIII e vai até meados do século XIX. Inicialmente, era tudo que se opunha ao clássico, propõe uma retomada aos valores Medievais. Subjetivismo: Relativo ao SUJEITO. Trata de assuntos de uma forma pessoal (de acordo com o modo como se vê o mundo; faz um recorte subjetivo porque retrata a realidade de forma parcial. Idealização: a extrema valorização da subjetividade leva muitas vezes à deformação. Sentimentalismo: relação entre o artista e o mundo é sempre mediada pela emoção. Egocentrismo: maior parte dos românticos volta-se predominantemente para o próprio eu, numa postura tipicamente narcisista. Religiosidade: mais comum entre os primeiros românticos, a vida espiritual é enfocada como ponto de apoio ou válvula de escape diante das frustrações do mundo real. Byronismo: foi amplamente cultivado entre os românticos brasileiros da segunda geração (entre os anos 50 e 60 do século XIX). Traduz estilo de vida boêmio, voltado para o vício e de uma forma particular de ver o mundo 3. As gerações românticas 1ª Geração – Nacionalista ou Indianista: Marcada pela exaltação da Natureza, a volta ao passado histórico, o medievalismo e a criação da figura nacional do índio. 2ª Geração – Ultra-romântica : Influenciada por Lord Byron, arcada pelo mal-do-século, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Seu tema preferido é a fuga da realidade. 3ª Geração – Condoreira: Desenvolve uma poesia de cunho político e social. O termo condoreirismo é conseqüente do símbolo de liberdade adotado: o condor. B. Poesia Romântica I) Primeira Geração Romântica 1) Gonçalves de Magalhães: Nascido em Niterói, apesar de voltar-se para a poesia religiosa, cultiva a poesia indianista. Considerado o introdutor do Romantismo no Brasil. Fundador da revista Niterói, com outros poetas, na qual teoriza sobre a reforma nacionalista e espiritualista da literatura brasileira. Principais obras: Suspiros Poéticos e A Confederação dos Tamoios. 2) Gonçalves Dias (1823-1864): É o responsável pela consolidação do Romantismo no país. Primeiro poeta autêntico brasileiro e único indianista de interesse. Trabalha com os temas iniciais do estilo, como o indianismo, a natureza pátria e o espírito de brasilidade. Podemos dividir sua obra em: lírica, medieval e nacionalista. É dele a autoria de um dos poemas mais importantes da literatura nacional: Canção do Exílio. Obras: Primeiros contos, poesia (1846); Segundos cantos e Sextilhas de Frei Antão, poesia (1848); Últimos cantos (1851); Os Timbiras, poesia (1857). Canção do exílio "Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá." II) Segunda Geração 1) Álvares de Azevedo: É o responsável pelos contornos definitivos do “mal-do-século” na literatura brasileira. A sua poesia possui grande tendência para a evasão e para o sonho; aspectos mórbidos e depressivos da existência. As imagens de morte e amor também estão sempre presentes. Há uma fusão entre libido e instinto de morte. Sendo que o amor é idealizado, irreal e cheio de heroínas ingênuas e filhas do céu. Meus oito anos Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! Lembrança de Morrer Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nenhuma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro, ... Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade... é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. (...) Soneto VI Os quinze anos de uma alma transparente, O cabelo castanho, a face pura, Uns olhos onde pinta-se a candura De um coração que dorme, inda inocente... Um seio que estremece de repente Do mimoso vestido na brancura... A linda mão na mágica cintura... E uma voz que inebria docemente... Um sorrir tão angélico, tão santo... E nos olhos azuis cheios de vida Lânguido véu de involuntário pranto... 2) Casimiro de Abreu: É o primeiro poeta a reler a “canção do exílio”. É também o autor de “Meus oito anos” cujas releituras quase equiparam-se em número as de Gonçalves Dias. A sua poesia tem como temas principais o saudosismo nacionalista e a saudade nostálgica. Principal Obra: As Primaveras (1859) Como são belos os dias Do despontar da existência! — Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é — lago sereno, O céu — um manto azulado, O mundo — um sonho dourado, A vida — um hino d'amor! Que aurora, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minhã irmã! (...) III . Terceira Geração: Castro Alves: Educado pela literatura de Vitor Hugo, tem horizontes mais amplos, não se interessa apenas pelos sentimentos. Como poeta, cantou a República, o abolicionismo, a igualdade e os oprimidos. Sua única obra publicada em vida foi o livro “Espumas flutuantes” após o poeta ter regressado à Bahia. A poesia social tem grande expressão na sua obra e pode ser considerado o maior poeta da sua geração. O "adeus" de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus E amamos juntos E depois na sala "Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala E ela, corando, murmurou-me: "adeus.“ Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . . E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus Era eu Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando-a presa "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..." E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!... E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!“ C. Prosa Romântica Passaram tempos sec'los de delírio Prazeres divinais gozos do Empíreo ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . " Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: "adeus!" Quando voltei era o palácio em festa! E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa! E ela arquejando murmurou-me: "adeus!" Navio Negreiro IV Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: Características: Flash-back narrativo O amor como redenção Idealização do herói Idealização da mulher Personagens planas Linguagem metafórica Impasse amoroso, com final feliz ou trágico Oposição aos valores sociais Produção literária: 1) Joaquim Manoel de Macedo Inaugura o romance romântico no país com o livro “A Moreninha”. Em sua obra, apresenta todo o esquema dos romances românticos clássicos como a descrição da sociedade carioca, linguagem simples, pequenas intrigas, amor e mistério. Escritor da classe média, seus romances são permeados de jovens estudantes, moças casadoiras e ingênuas. 2) Manoel Antônio de Almeida: Autor de Memórias de um soldado de milícias, possui uma obra bastante inovadora. O livro pode ser considerado o verdadeiro romance de costumes brasileiros, pois abandona a visão burguesa e retrata o povo em sua simplicidade. É um romance altamente irônico e que documenta a época em que D. João esteve no país. - A obra fere os ideais românticos através da figura do heroi Leonardo. É um heroi pitoresco, está à margem da sociedade, a vê de outro ângulo: de baixo para cima. 3) José de Alencar: Principal romancista do Romantismo brasileiro, ambicionou representar os diversos aspectos do país. Pode-se dividir a sua obra em cinco modalidades. Romance de costumes ou romance urbano: trata as particularidades da vida cotidiana da burguesia e, por isso, conquistou um enorme prestígio entre o público dessa classe. Trata das intrigas de amor e desigualdades econômicas, mas sempre com um final feliz. Apresenta os perfis de mulher. Obras: A Viuvinha, Cinco Minutos, Lucíola, Diva e Senhora. Trecho I - Aurélia. “Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornouse a Deusa dos bailes; a musa dos poetar e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era Rica e Famosa. Com duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante. Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor?” Romances Regionais: Mostram o relacionamento entre o homem e o meio físico. Alencar descreve o sertanejo e o gaúcho. Obras: O sertanejo e O gaúcho Romances indianistas: celebra tanto o estado de pureza e inocência do índio quanta a formação mestiça da raça brasileira. Nesses romances, a natureza aparece exaltada e nela vive o super-herói, um índio de cultura e fala europeizada. Obras: O guarani, Iracema e Ubirajara. O Guarani - Trecho “Álvaro fitou no índio um olhar admirado. Onde é que este selvagem sem cultura aprendera a poesia simples, mas graciosa; onde bebera a delicadeza de sensibilidade que dificilmente se encontra num coração gasto pelo atrito da sociedade? A cena que se desenrolava a seus olhos respondeu-lhe; a natureza brasileira, tão rica e brilhante, era a imagem que produzia aquele espírito virgem, como o espelho das águas reflete o azul do céu." O Real Naturalismo Trecho II - Casamento. ”- Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Poderemos ter esse orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo à esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada uma que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido. - Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d'alma. - Vendido Sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer.” Romance Histórico: Romances de fundo histórico, voltados para o período colonial. Obras: A Guerra dos Mascates e As minas de prata. “ O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.” Eça de Queirós A) O Ciclo Anti-Romântico - Fim do século XIX Início da 2ª Fase da Revolução Industrial. Distanciamento cada vez maior entre o operariado, vivendo em condições de miséria, e os capitalistas. Em Portugal, o atraso em relação ao que ocorre na Europa começa a ser sentido. No Brasil, a campanha abolicionista intensifica-se em 1850. A Guerra do Paraguai resulta na difusão do republicanismo e funda-se Partido Republicano. o As mudanças ocorridas na sociedade condicionam o surgimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais: O positivismo de Augusto Comte: Preocupação com o real-sensível e com os fatos. Defende o pensamento científico e a conciliação entre “ordem e progresso”. O socialismo científico de Marx e Engels: Inicia-se com a publicação do Manifesto Comunista. Define o materialismo histórico e a luta de classes. O evolucionismo de Darwin: A partir da publicação de “A origem das espécies”, dá continuidade aos seus estudos a respeito da teoria da evolução de Lamarck e traz a teoria da seleção natural. Psicanálise de Sigmund Freud: Psicanálise é a ciência do inconsciente que foi fundada por Sigmund Freud (1856-1939). Um método de investigação, que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. B) A Prosa I) Romance Realista II. Naturalismo - Características Preferências por temas de patologia social – ressaltam temas como o efeito das taras e os vícios na formação de caráter. Objetivismo científico e impessoalidade – os naturalistas atem-se aos fatos. Literatura engajada – Faz da obra de arte uma tese com intenção científica que visa a reforma da sociedade. Ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual. Despreocupação com a moral Romance Naturalista Realismo – Características Objetivismo – aparece como negação do subjetivismo romântico. Narrativa lenta Homem voltado para aquilo que está fora dele, o “não-eu”. Extrema preocupação com presente, o contemporâneo. Determinismo - a obra de arte seria definida por três fatores: meio, momento e raça. Mulher não idealizada, mostrada com defeitos e qualidades; Crítica aos valores e às instituições decadentes da sociedade burguesa. Amor e outros sentimentos subordinados aos interesses sociais; Voltado para a análise psicológica e crítica da sociedade que é feita através das atitudes de seus personagens. Extrema preocupação com o indivíduo, por isso, tantos romances com o nome de seus personagens: Dom Casmurro, Brás Cubas, Quincas Borba. É uma forma de romance documental. III. É marcado pela análise social a partir de grupos marginalizados e por valorizar o coletivo. Forte influência de Darwin através da ênfase na natureza animal do homem. Para eles, o homem deixase levar pelos instintos naturais e a repressão destes levaria às taras patológicas. Descrições minuciosas tanto das relações sexuais e de temas antes proibidos como o homossexualismo feminino e masculino. Casos Específicos: * Machado de Assis: ◦ Dotado de raro discernimento literário, adquire por esforço próprio uma forte cultura intelectual, baseada nos clássicos, mas aberta aos filósofos e escritores contemporâneos. ◦ ◦ Sua obra tem, sobretudo, a possibilidade de ser reinterpretada à medida que o tempo passa, porque, tendo uma dimensão profunda de universalidade, funciona como se dirigisse a cada época que surge. Atinge a sua máxima expressão poética nos romances de ficção. Ao todo, escreve nove romances e mais de uma centena de contos. Podese dividir a sua obra em duas fases, sendo “Memórias Póstumas” o divisor. 1ª Fase: Helena e Ressurreição: ◦ Apesar de romanescos, já antecipam tendências que mais tarde se consolidariam como o amor contrariado e por interesse, ambição por uma ascensão social, preocupação psicológica e ironia. Principais Obras: Ressurreição, Helena, A mão e a Luva, Iaiá Garcia. 2ª Fase: A linguagem pensante A prosa atinge o máximo de sua expressão. A análise psicológica das personagens, o egoísmo, o pessimismo, o negativismo e a linguagem correta. Quanto à forma, seus capítulos são curtos, a linguagem é clássica e o autor busca a todo tempo um diálogo com o leitor. Através da técnica de capítulos curtos o autor consegue fazer com que as idéias não se percam. Mudança do foco narrativo e o narrador Machadiano: “A originalidade do narrador machadiano consiste em atuar como ator dramático, que assume e finge todo gênero de caracteres, desempenhando diferentes papéis, articulando uma alternância vertiginosa de perspectivas ou máscaras narrativas, modulando vários pontos de vista”. *”Em face da sua obra, toda conclusão do leitor é um risco, porque nela o senso do mistério que está no fundo da conduta se traduz por um desencanto aparentemente desapaixonado, mas que abre a porta para os sentidos alternativos e transforma toda noção em ambiguidade”. Principais Obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires. Memórias Póstumas “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas” “(...) Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis (...)” “Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva Brás Cubas . . . . . ? Virgília . . . . . . Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Virgília . . . . . . !” Dom Casmurro “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios.” “Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...” Raul Pompéia Destaca-se pela publicação de “O Ateneu”. Romance que surpreende pela linguagem peculiar. O romance narrado em primeira pessoa conta as situações e experiências vividas pelo adolescente Sérgio. Já adulto, Sérgio reconstitui as suas memórias no famoso internato “Ateneu”. Não há uma história encadeada, um enredo propriamente dito, e sim um acúmulo de fatos, percepções, situações e impressões, que servem para indicar a psicologia e a estrutura social do mundo do internato "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. ’” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.” ( O Ateneu – Raul de Pompéia) Naturalistas 1. Aluísio de Azevedo Consagra-se como escritor naturalista com a publicação de O mulato(1881) que marca oficialmente o início do Naturalismo no Brasil. O livro aborda temas como: o racismo, a pressão do meio sobre o indivíduo e puritanismo sexual. O autor ia aos locais onde pretendia ambientar seus romances. Procurava assim reproduzir o mais fielmente possível a realidade que retratava. O naturalismo no país atinge o seu auge com a publicação de “O cortiço”, que, tem destaque o jogo dos fatores sociais. Aluísio valoriza os instintos naturais, comparando constantemente suas personagens a animais. “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavamse ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.” (O Cortiço – Aluísio Azevedo) Parnasianismo “Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório – questão de moda.” (Mário de Andrade), 1. Características Abrange o fim da década de 80 do século XIX até a Semana de Arte Moderna. Expressão Poética da época do Realismo/Naturalismo “Arte pela arte” – objetivo maior é alcançar a perfeição em sua construção. Poetas à margem das grandes mazelas sociais. Objetividade temática: descritivismo, temas universais como negação ao sentimentalismo romântico e uma tentativa de atingir a impessoalidade. Culto da forma: Retorno do soneto, métrica de versos alexandrinos e decassílabos, rima rica e preferência pelo soneto. Apego a tradição clássica Influência greco-latina (Parnaso Grego) 2. Produção Literária: Tríade Parnasiana I) Alberto de Oliveira: (1857-1937) É considerado parnasiano a partir de seu segundo livro “Meridionais”. Muito amigo de Olavo Bilac e Raimundo Correia, é um dos sócios fundadores da Academia Brasileira de Letras. A sua principal capacidade era descrever sempre, com banalidade ou requinte. Grande leitor dos clássicos, fez sonetos à maneira dos barrocos e dos árcades, com um rebuscamento que chega a atrair o leitor, dando-lhe a impressão de estar diante de uma complicada peça de museu. I) Vaso Grego “Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendia Então, e, ora repleta ora esvasada, A taça amiga aos dedos seus tinia, Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira, Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa voz de Anacreonte fosse.” (Alberto de Oliveira) II. Raimundo Correia (1859-1911) Influenciado por poetas românticos no início de sua obra, assume o Parnasianismo com o livro Sinfonias. Assume a mesma temática da época: natureza, perfeição formal dos objetos, cultura clássica e cultura clássica. Forte influência, às vezes, exagerada de poetas europeus em sua obra levou ao questionamento: “Plagiador ou Recriador”? III. Olavo Bilac (1965-1918) No começo da carreira, escreveu poemas ornamentais e depois encontrou um caminho no lirismo amoroso, destacando-se a série denominada “Via Láctea” que expressa com ênfase calorosa o “roteiro da paixão”, desmentindo assim os pressupostos rigorosos dessa corrente. Interessou-se pelos problemas educacionais, elaborando livros didáticos de tonalidade patriótica. É considerado o mais bem acabado poeta brasileiro. Seus poemas representam uma perfeita elaboração formal. Seu amor pela língua seria coroado com o soneto “Língua Portuguesa”. Via Láctea Soneto XVIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas". (Olavo Bilac) Intuição x lógica, misticismo x materialismo, sugestão sensorial x explicação racional. O simbolismo sugere por meio de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, repulsos sonoros o mundo interior –intuitivo, antilógico e antirracional. Na Europa, as origens do simbolismo devem ser buscadas na França com a publicação de “As flores do mal” de Baudeleire e nos poemas de Stéphane Mallarmé. Características Simbolismo 1. Momento Histórico No final do século XIX e início do século XX, três tendências caminhavam paralelas: o Realismo e suas manifestações naturalistas, e o Simbolismo, à margem da literatura acadêmica da época. Momento histórico muito conturbado, transição do século XIX para o XX. A Europa estava em pleno expansionismo em direção aos países da África, Ásia e América Latina. Europa começou a investir no crescimento bélico de suas nações, estando eles às vésperas da primeira guerra mundial. Para essa crescente militarização, os historiadores dão o nome de "Paz Armada“ É dito que o Brasil não teve um momento simbolista típico. Mas passava por um conturbado período de consolidação da república com a falha da Revolução Federalista, que exigia a renúncia de Floriano. 2. O Simbolismo: Teoria Questionamentos: A ciência seria capaz de explicar os fenômenos relacionados ao homem? Ciência e linguagem seriam limitados Reação ao valor desmedido dado as coisas materiais. Linguagem da música Rejeição ao cientificismo, o materialismo e o racionalismo Realista. Valorização de manifestações metafísicas e espirituais. Desejo de transcendência e integração cósmica opondo-se aos limites físicos. Interesse pelas zonas profundas da mente – inconsciente, subconsciente - e dos estados da alma, do sonho e da loucura. Homem voltado para uma realidade subjetiva, o “eu” passa a ser o universo, mas não o “eu” superficial. Buscavam a essência do ser humano, a alma, o que ele tem de mais profundo e universal. Atração pela morte e elementos decadentes da condição humana. Observação: Poeta simbolista = Vidente; revela o conhecimento por meio da palavra e do pensamento. Para eles, a poesia nasce do espírito irracional, da linguagem delirante e enigmática 3. Produção Literária: Cruz e Souza(1861-1898) As suas duas únicas publicações: "Missal" e "Broquéis" dão início ao simbolismo no Brasil. Sua produção inicial fala da sua própria dor, mas depois passa a uma poesia universal que fala da angústia de todo e qualquer ser humano. A sua poética cria uma tensão entre o poeta mais ligado ao parnasiano, perfeito soneto, e um poeta simbolista que busca ampliar o sentido das palavras. Sincretismo literário O Assinalado Tu és o louco da imortal loucura, O louco da loucura mais suprema. A Terra é sempre a tua negra algema, Prende-te nela a extrema Desventura. 1) Momento Histórico (1902-1922) Mas essa mesma algema de amargura, Mas essa mesma Desventura extrema Faz que tu'alma suplicando gema E rebente em estrelas de ternura. Tu és o Poeta, o grande Assinalado Que povoas o mundo despovoado, De belezas etrenas, pouco a pouco... Na Natureza prodigiosa e rica Toda a audácia dos nervos justifica Os teus espasmos imortais de louco! Alphonsus de Guimaraens (1870-1921): Possui uma obra marcada pelo triângulo:Misticismo, Amor e Morte. O seu verso é simples, de uma musicalidade feita de tons menores. Sua poética estabelece ainda uma corrente reversível entre lirismo amoroso e lirismo religioso, criando uma atmosfera de sentimentalismo onde o afeto se torna culto, e o culto adquire a ternura familiar dos afetos singelos. 2. Características Embora não constitua uma escola literária, não há uma mobilização de autores em torno de um ideal comum, podem-se depreender alguns pontos comuns. Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... Europa preparava-se para a 1ª Guerra Mundial Fim da República da Espada e Início da República do Café-comleite. Auge da economia cafeeira e grande entrada de imigrantes. Agitações sociais: Guerra de Canudos Cangaço e outros movimentos rurais Revolta da Vacina Revolta da Chibata Ruptura com o passado – com academicismo. Denúncia da realidade brasileira – o Brasil não-literário do nordeste, do caboclo, do subúrbio. Regionalismo – painel nacional dos cenários marginais: Sertão, Vale do Paraíba e o interior, Espírito Santo e o subúrbio carioca. Tipos humanos marginalizados: caipira, sertanejo, mulatos... Ligação com fatos políticos – a ficção mais ligada à realidade. 3. Produção Literária Euclídes da Cunha (1866 – 1902) Jornalista e correspondente de um jornal, esteve presente durante a última fase da Guerra de Canudos. No’Os Sertões” (1902), descreve a luta entre grupos rurais dirigidos por um líder messiânico, Antônio Conselheiro, e as tropas do exército, que transformaram a repressão em guerra de extermínio, encerrada em 1897. Faz menção ao determinismo, ao indicar como o meio físico e a raça condicionavam os grupos sociais, e como a diferença de ritmos da evolução gerava desarmonias catastróficas. No entanto, sua obra transforma a pretendida objetividade científica em testemunho indignado e lúcido, resultando em denúncia do exército e da política dominante. O livro “Os Sertões” traz um verdadeiro retrato do sertão do Brasil e divide-se em três partes: A terra, o homem – “O sertanejo é, antes de tudo, um forte” e a luta. Na obra, o autor utiliza-se de diferentes perspectivas para relatar a guerra. Há a visão do canudense, de Antônio Conselheiro, soldado... “Fechemos este livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. (...) caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, quando todos morreram. Eram apenas quatro: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” (fragmentos de Os sertões) Augusto dos Anjos (1884 – 1914): Um poeta marginal, não pela conduta, mas pela singularidade do seu único livro, “Eu” (1912). A sua obra poética não se enquadra em nenhuma das tendências, mas em todas. Suas poesias são uma confluência de inspirações como de Baudelaire, Antero de Quental, Cruz e Souza, do Expressionismo alemão e da poesia científica do final do século XIX. A matéria de sua poesia, maioria de sonetos, traz como matéria principal o verme, o micróbio, a célula, o embrião, o escarro, a ferida e a carne em decomposição. Sua poética é agressiva e pessimista. É fascinado pela cadeia que liga o infinitamente pequeno ao infinitamente grande, o destino da matéria e a vertigem dos mundos. Faz uma poesia de uma sonoridade agressiva, mau gosto como um destemor tamanho, e de uma vulgaridade grandiosa que transforma a oratória em uma mensagem apocalíptica. VERSOS ÍNTIMOS Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Lima Barreto (1881-1922) O autor possui uma escrita que buscava o ritmo coloquial, despreocupado com a “pureza vernácula”, frequentemente incorreta, e que parece desafiar intencionalmente a gramática. No romance “O triste fim de Policarpo Quaresma” (1915), sátira quase trágica dos equívocos do patriotismo (muito invocado naquela fase inicial da República), onde conta a destruição de um inofensivo idealista pela realidade feia e mesquinha da política. O livro traz ainda críticas à educação recebida pelas mulheres, à República de Floriano e o militarismo exacerbado. Ao colocar em cena uma nova face da cidade do Rio de Janeiro, o subúrbio, retrata não só a sua paisagem, como também o dia-adia de sua população. “Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação da cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções. (...) As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.” “Há pelas ruas damas elegantes, com sedas e brocados, evitando a custo que a lama ou o pó lhes empanem o brilho do vestido; há operários de tamancos; há peralvilhos à última moda; há mulheres de chita; e assim pela tarde, quando essa gente volta do trabalho ou do passeio, a mescla se faz numa mesma rua, num quarteirão, e quase sempre o mais bem posto não é que entra na melhor casa.” Monteiro Lobato (1882- 1948) Com uma obra parcialmente regionalista, Monteiro Lobato, escritor inquieto e personalidade poderosa, mistura o senso moderno dos problemas a um naturalismo já superado, em contos ordenados em torno da anedota-chave. Apesar de ser considerado pré-modernista por sua obra intimamente ligada ao regionalismo e por denúncias da realidade brasileira, Lobato posicionava-se radicalmente contra o Modernismo. Sua maior contribuição literária foram os livros infantis, de uma invenção original e moderna, escritos em linguagem da mais encantadora vivacidade. “– A vida, senhor Visconde, é um piscapisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?" As Vanguardas Europeias 1. Introdução A palavra vanguarda remete ao francês avant-garde que significa “marcha à frente”. Após o início do século XX, passa a designar correntes artísticas que tragam propostas inovadoras. São nomeadas “correntes de vanguardas” as tendências da arte que surgem na Europa antes, durante e depois da 1ª Guerra Mundial. Dentro das vanguardas européias estão os diversos “-ismos”: Futurismo, Cubismo, Dadaísmo, Expressionismo e Surrealismo. As vanguardas caracterizavam-se pela publicação inicialmente de manifestos que foram publicados no período de 1909 à 1924. O Futurismo: Primeiro movimento de vanguarda depois do impressionismo. Inicia-se no século XX com a publicação de um manifesto em 20 de fevereiro de 1909 por Filippo Tomaso Marinetti. Proposta: Olhar para o futuro e desprezar o passado. Nada feito antes é levado em consideração. Exaltação da vida moderna, a máquina, a eletricidade, a velocidade e o automóvel Trechos do Manifesto: 8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente. 9. Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas idéias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher. 10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academia de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária. 11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; Cubismo (1907): Surge em Paris, três anos após o Futurismo, nascido de experiências de Pablo Picasso e de Georges Braque. Inicialmente, detém-se às pinturas através da valorização de formas geométricas e também da colagem, uma técnica introduzida pelos cubistas. Além disso, a pintura cubista propõe o rompimento com real (foto) e a linearidade da arte renascentista. Literariamente, o cubismo tem sua primeira experiência literária através do manifesto de Apollinaire em 1913. A literatura cubista manifesta uma preocupação em se aproximar das outras artes plásticas valorizando a construção do texto e os espaços em branco e preto da folha de papel. Defendia- se também as máximas das “palavras em liberdade”, da “invenção de palavras” e da “destruição das sintaxes condenadas pelo uso”. Proposta: Olha-se para um cubo e compreende-se a totalidade do objeto. “O trabalho do artista não é cópia nem ilustração do mundo real, mas um acréscimo novo e autônomo”(Picasso). No Brasil, Oswald de Andrade será influenciado por essa tendência na década de 20 e também, posteriormente, a poesia concretista. Dadaísmo (1916) Surge durante a Primeira Guerra Mundial quando ainda acreditavase na vitória Alemã. Surge durante o movimento de instabilidade do período da Guerra. O manifesto é idealizado por Tristan Tzara : Manifesto Dadá. Proposta: é um movimento de retorno à infância – dadá. Eles querem a inocência primitiva. Propõe a valorização do nada. É o mais radical e agressivo dos movimentos de vanguarda. Na literatura, a arte é caracterizada pela agressividade, improvisação, desordem e rejeição de qualquer tipo de racionalização. Valorizou-se também a livre associação de palavra e a construção de palavras explorando apenas o significante. Pegue um jornal Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. (Tristan Tzara) Expressionismo (1917) Surge, na Alemanha, concomitante ao Futurismo, durante o período da primeira Guerra Mundia, mas só tem o seu manifesto publicado em 1917. Proposta: Constitui o movimento de DENTRO para fora. O que importa é a associação que o pintor faz em seu interior, o objeto não precisa estar presente. A única realidade é a expressão, ou seja, as imagens nascidas em nosso mundo interior, o belo e o feio não importam.Idéias trazidas pelo manifesto: Ironiza o Real/Naturalismo – o indivíduo estrutura os fatos, não os descreve; Defende o fim das adiposidades da linguagem – poesia sem adjetivo, substantivada; Globalização do movimento – nem Alemão ou Francês; e defende a ideia de que a salvação da humanidade estaria no mundo interior – movimento um pouco mitificado. Obs: Não confundir com Impressionismo – tendência artística que visava a impressão, ou seja, é um movimento de FORA para dentro. O objeto está sempre presente. Surrealismo Lançado por André Breton – que rompe com o Dadaísmo - em Paris no ano de 1924. Surge no período entre guerras. Suas origens estão ligadas mais ao Expressionismo e à sondagem do mundo interior. Movimento que busca unir Arte e Psicanálise. Proposta: São duas as linhas de em seu início: experiências criadoras automáticas e o imaginário onírico (do sonho). Posteriormente, o surrealismo vai agregar-se a teorias sociais como o Marxismo causando rompimentos interiores e perdendo a sua força. Artistas: André Breton (Literatura); Salvador Dalí, Max Ernst e Joan Miró (artes plásticas); e Luis Bruñel (cinema). Modernismo – 1ª Fase (19221930) 1. Momento Histórico : • • • • • • • Surto de industrialização e transformação das principais cidades Aumento no número de imigrantes Fortalecimento dos barões do café com a chamada política do “Cafécom-leite”. Surgimento do movimento operário, as primeiras greves em São Paulo e os ideais anarquistas Integralismo Tenentismo Revolução de 1930 2. A semana de arte moderna de 1922: Acontece em São Paulo com a participação de artistas paulistas e cariocas. Conferência de Abertura de Graça Aranha. Reuniu a manifestação não só das literaturas modernistas como também das artes em geral: pintura, escultura, música etc. É a reunião de várias tendências de renovação, que visavam combater a arte tradicional, que já ocorriam antes de 22. Aproxima diversos artistas modernistas que estavam dispersos e permite que esses formem grupos que seguiram aprofundado a arte moderna. Principais Participantes: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcante, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Villa Lobos. 3. Características: • • └ └ └ └ └ • • Caráter anárquico e destruidor: Rompimento com todas as estruturas do passado. Nacionalismo moderno e original: Volta às origens Pesquisas de fontes quinhentistas Busca por uma língua brasileira Paródias Valorização do verdadeiro índio Nacionalismo crítico x Nacionalismo ufanista Revistas e Manifestos que trariam as bases para a produção literária deste primeiro momento 4. Manifestos – orgia intelectual: Manifesto da Poesia Pau-Brasil:. Comandado por Oswald, defendia a criação de uma poesia de exportação. Literatura que faz uma revisão crítica da história brasileira e divulga aceitação cultural. Tecnicamente, previa a criação da língua brasileira. “A língua sem arcaísmos (...)Como falamos. Como somos.” Verde Amarelismo e Anta: Reação ao nacionalismo de Oswald. Defende o nacionalismo ufanista inclinando-se para o nazifascismo. Tomam como símbolos a Anta e o índio Tupi. Antropafagia: Criado por Tarsila, Oswald e Raul Bopp, é o mais radical dos movimentos. É uma nova etapa do Pau-Brasil. Propõe a assimilação dos valores – o que há de bom – e o vômito do que não convém. “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. (...) Tupi, or not tupi that is the question.(…) Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.” 5. Produção Literária: 1) Mário de Andrade (1893-1945) É a figura central do modernismo, foi poeta, narrador, ensaísta, musicólogo e folclorista. Escreve inspirado numa língua falada e nos modismos populares. Não hesita em usar formas consideradas incorretas, desde que legitimadas pelo uso brasileiro. Por isso, foi chamado de demolidor da “pureza vernácula” e do “culto da forma”. Como principal teórico do Modernismo, Mário escreveu as obrasa A Escrava que não é Isaura e o “Prefácio Interessantíssimo”, do livro Paulicéia Desvairada. Principais obras literárias: Paulicéia Desvairada (1922), Amar, verbo intransitivo (1927) e Macunaíma, o herói sem caráter (1928), “Leitor: Está fundado o Desvairismo. Este prefácio, apesar de interessante, inútil. Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para que me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou. Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo. Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem. (...) E está acabada a escola poética "Desvairismo". Próximo livro fundarei outra. E não quero discípulos. Em arte: escola=imbecilidade de muitos para vaidade dum só.” 2) Oswald de Andrade (1890-1954): O autor entra em contato com as vanguardas européias em 1912 de onde traz as suas influências do Futurismo. É fiel aos ideais da primeira fase modernista até a sua morte. Defendia um nacionalismo que busca as origens e traz um retrato crítico da realidade brasileira. A parodização como forma de repensar a literatura nacional é uma de suas marcas. Como teórico, propõe uma interpretação da cultura brasileira como “assimilação destruidora e recriadora da cultura européia”. Essa visão é claramente observada no “Manifesto Antropófago” (1928) e em vários escritos da combativa Revista de Antropofagia (1928-1929), que ele fundou e orientou. Em sua obra poética, revoluciona o aspecto visual dos poemas através de seu “poema-pílula”. Os seus principais romances são Memórias Sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande nos quais o autor rompe com a estruturação tradicional dos romances – capítulos curtíssimos, misto prosa e poesia. Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Me dá um cigarro amor humor 3 de maio Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta Das coisas que nunca vi 3) Manuel Bandeira (1886-1968): Considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira, não há nenhum outro poeta da primeira fase cuja obra se compare a dele. Segundo Alfredo Bosi, “a biografia Manuel Bandeira é a história de seus livros. Viveu para as letras.”. Assim, a morte de sua família aos quatro anos e a luta contra a tuberculose têm vislumbres significativo em sua obra. Inicia a sua obra poética antes do modernismo com a publicação de A cinza das horas. O autor possui grande influencia parnasiana e simbolista, mas aproveita-se do momento de transição dos movimentos para demonstrar também o seu gosto pelas formas livres. Seu poema “Os sapos” é declamado durante a Semana de Arte Moderna, mas o poeta não adere amplamente, como Mário e Oswald, ao Modernismo da primeira fase. Principais Obras: A cinza das horas (1917), Libertinagem (1930) é o livro mais radical e ligado a primeira fase do Modernismo, poesias como “Pneumotórax”, Poema tirado de uma notícia de jornal”, “Vou-me embora pra Pasárgada” e “Poética”. Poema Tirado de uma Notícia de Jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. Satélite Fim de tarde. No céu plúmbeo A Lua baça Paira Muito cosmograficamente Satélite. Desmetaforizada, Desmetificada, Despojada do velho segredo de melancolia, Não é agora o golfão de cismas, O astro dos loucos e dos enamorados Mas tão-somente Satélite. Ah Lua deste fim de tarde, Desmissionária de atribuições românticas, Sem show para as disponibilidades sentimentais! Fatigado de mais valia, Gosto de ti assim: Coisa em si, Satélite. O Bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem Modernismo 2º Momento - Poesia 1. Momento Histórico (1930 – 1945): Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e a Grande Depressão Avanço do Comunismo e Choques entre Capitalistas e Comunistas Desenvolvimento do Nazifacismo no mundo e sua vocação expansionista 2ª Guerra Mundial Bomba Atômica de Hiroshima Primeiro Governo de Vargas e Início do Estado Novo Criação da ONU Queda de Getúlio Vargas 2. Produção Literária: Cecília Meireles (1901 – 1964) Inicia na literatura no grupo dos poetas da “corrente espiritualista” na revista Festa, de inspiração neo-simbolista. Afasta-se, posteriormente, desta tendência, mas sua poética não abandona o tom intimista, introspectivo , musical e de uma eterna viagem ao interior. A consciência da transitoriedade das coisas também marcará a obra de Cecília. – o tempo será uma das personagens principais de sua obra. Outra marca da poética da poetisa é a valorização dos símbolos e de imagens sugestivas com constantes apelos sensoriais. Além da extrema musicalidade de seus versos. No livro Romanceiro da Inconfidência, escreve em romance – composição popular medieval escrita em redondilha – e reconstrói um episódio da história nacional. Cecília afirma tratar-se de uma “história feita de coisas eternas e irredutíveis; de ouro, amor, liberdade e traições.” Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) Considerado por muitos o maior poeta brasileiro e de língua portuguesa. Inicia a sua vida literária em 1930 com o livro Alguma poesia. No entanto, passa por quatro fases diferentes: a) Modernista – 1930/1934 – com os livros Alguma Poesia e Brejo das Almas - Poética extremamente ligada aos cacoetes modernistas. b) Social – 1940/1945 – A rosa do povo e Sentimento do Mundo – Poesia social e de grandiloquência. c) Metafísica – 1951 – Claro enigma “Os acontecimentos me aborrecem”. d) Memorialística – 1968 – Boitempo (1,2,3). Livros autobiográficos que contam histórias do tempo da infância do poeta. Drummond foi contista e jornalista, além de praticar uma espécie de crônica em verso que fica entre a poesia e o registro da memória. Alcançou grande penetração no público, e quando morreu, aos oitenta e cinco anos, era considerado por consenso nacional o maior escritor do momento. Mãos Dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considere a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde tudo é belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. Vinícius de Moraes (1913 – 1980) Vinícius de Moraes é descrito por ele próprio como “capitão-do-mato, poeta, diplomata, o branco mais preto do Brasil”. Assim como Cecília Meireles, inicia a sua vida literária com uma poesia neosimbolista da corrente espiritualista e ligado à poesia católica de 1930. Depois de abandonar o neosimbolismo, desenvolve-se como um cantor da “paixão e da simplicidade cotidiana”. Ao escrever versos de grande fartura técnica, toma gosto pelo soneto destacando-se na sua poética a valorização de temas como o momento presente e o imediatismo. O jogo entre felicidade e infelicidade – “é melhor ser alegre que ser triste” vs. “tristeza não tem fim, felicidade sim” é uma das grandes temáticas de sua poesia juntamente com o amor. Vinícius dedica grande parte de sua poética a cantar o amor e a mulher – sendo essa o seu grande objeto de devoção. O autor escreve ainda poesias de cunho social cujo grande destaque é “Operário em Construção”, que também alcançou enorme popularidade. Soneto de fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. com o aspecto social e o psicológico. Com o livro Caminho de pedras, a sua literatura atinge o engajamento máximo, já em As três Marias a análise psicológica é priorizada. José Lins do Rego Em sua obra, o tema da infância e das suas memórias compõe o ciclo da cana-de-açúcar (1932-1936). O autor retrata a zona da mata e a decadência dos engenhos, esmagados pelas usinas. O cenário é sempre o engenho Santa Rosa pertencente ao Coronel Zé Paulinho presente nas obras Menino de Engenho, Usina e Fogo Morto. O autor aborda, ainda, outros aspectos da vida nordestina como o misticismo e o cangaço, cuja fonte temática foi a literatura de cordel como Pedra Bonita e Cangaceiros. Dentre a vasta obra do autor, apenas os livros Água-mãe e Eurídice são ambientados fora do Nordeste. Romance da geração de 30 Graciliano Ramos 1. Características: • • • • Surge no Nordeste sem derivar do Modernismo – é uma outra tendência renovadora que se aproveita das liberdades conquistadas pela 1ª Geração Modernista Inicia-se com a publicação do Manifesto Regionalista(1926) e tem como primeira obra o romance A bagaceira de José Américo. O romance aborda pela primeira vez temas como os retirantes e o engenho. Romance caracterizado pela denúncia social. É uma espécie de documentação da realidade brasileira. A relação eu e “mundo” é tensa. Busca pelo homem brasileiro espalhado pelas regiões do país. O regionalismo atinge sua expressão máxima. Relação personagem e meio social levada ao extremo. Raquel de Queirós Estréia com o livro O Quinze em 1930, atua como militante do Partido Comunista e passa um tempo presa por isso. A autora foi ta primeira mulher a fazer parte da ABL e possui uma obra fortemente marcada pelo regionalismo, contando a história de sua gente no Ceará e das secas. Os seus romances são escritos em linguagem fácil através de uma narrativa dinâmica. Nos primeiros livros, trabalha Apesar de estar cronologicamente inserido no regionalismo de 30, o autor não se enquadra muito dentro movimento regionalista. Ainda que em seus livros o autor retrate as agruras do povo sertanejo, os seus romances vão além de uma mera retratação do meio ambiente sertanejo. O autor eleva ao máximo o clima de tensão na relação existente entre o homem e o meio social. Não só o mundo em que vivem as personagens é seco, mas também a própria existência delas é seca. A morte é também um tema recorrente em sua obra, aparece em São Bernardo, Caetés, Angústia e Vidas Secas. A lei que rege os seus romances é a lei da selva. O grande ponto de contato entre os personagens é a luta pela sobrevivência, são personagens oprimidos e moldados pelo meio. Não há nada a fazer. A condição subumana nivela os homens e os bichos. As pessoas retratadas por Graciliano não tem nome ou sobrenome, em Vidas Secas, as crianças são identificadas apenas como “o mais novo” e “o mais velho”. • Pode-se dividir a sua obra em três categorias: b) Romances Narrados em primeira pessoa: Caetés e São Bernardo c) Romances narrados em 3ª pessoa: Vidas Secas – O narrador Graciliano empresta a sua voz para retratar os pensamentos e os sentimentos das personagens de um livro. O livro enfoca o modo de ser e a condição da existência miserável em que a família de Fabiano vive. d) Autobiográficos: Infância e Memórias do Cárcere – o autor coloca-se na posição de problema e caso humano. Jorge Amado O autor representa o regionalismo baiano da zona do cacau e da zona urbana de Salvador. Preocupou-se em retratar os marginalizados e através dele analisar a sociedade baiana. Através de romances com uma linguagem simples, retrata o falar do povo e apresenta sua postura ideológica no decorrer dos romances. A sua identificação como comunista nunca foi escondida, chegando a dedicar livros a Carlos Prestes e sendo ele também o autor de sua biografia. • É possível dividir a obra de Jorge Amado em três fases: a) Romances proletários: ambientados na cidade de Salvador. Ex: Capitães de Areia e O país do carnaval b) Ciclo do Cacau: a paisagem é composta pelas fazendas de cacaus de Ilhéus e Itabuna. Mostra a exploração dos trabalhadores rurais. Ex: Terras do sem fim, Cacau e São Jorge de Ilhéus. c) Depoimentos e crônicas de costumes: inicia-se com Juiabá e Mar Morto, mas é com Gabriela que se consolida. A palavra chave para a literatura de Jorge Amado é a liberdade. Tanto nos relacionamentos individuais quanto no plano social. A morte e a morte de Quincas Berro d’água é considerado a sua obra prima. Érico Veríssimo É o único escritor gaúcho do regionalismo moderno a alcançar sucesso. Seus romances retratam a provinciana vida urbana de Porto Alegre e a relação entre o homem e a sociedade local, descrita com um toque humanitário e sentimental. As obras mostram a crise da sociedade moderna: a falta de solidariedade e o cotidiano caótico. No decorrer de sua narrativa, personagens reaparecem em vários momentos fazendo com que o autor, por vezes, fosse considerado redundante. Além disso, o autor não se aprofunda nas análises psicológicas ou sociais. O Tempo e o Vento é considerada a sua obra prima, principalmente a primeira parte da trilogia. Nos livros, é narrada a história das disputas de terras no Rio Grande do Sul entre os séculos XVIII e XIX. Geração de 45 ou o PósModernismo 1. Momento Histórico: • Fim da segunda guerra mundial, começo da era atômica após as bombas de Hiroshima e Nagasaqui, criação da ONU e a publicação da Declaração dos Direitos Humanos. • Brasil de 45: Fim do Estado Novo e redemocratização, mas logo depois se inicia um novo período de perseguições políticas, ilegalidades e exílio. 2. Introdução: • A literatura manifesta uma geração nova, na prosa narrativa, na poesia, na crítica. Esta começa a mostrar os efeitos do ensino superior das letras. A dramaturgia passa também por uma revolução devido às mudanças ocorridas no teatro. Nelson Rodrigues é o grande destaque desse gênero. • Na prosa, os autores retomam alguns escritores da década de 30 e buscam uma literatura mais intimista, introspectiva e de profundidade psicológica. • Na poesia, há uma negação às conquistas e inovação modernas. Os poetas dedicam-se a uma poesia “equilibrada e séria”, mas não deixam de lado o verso livre e o tema cotidiano. Guimarães Rosa: A vida literária de Guimarães Rosa inicia-se com a publicação Sagarana (1946), livro de contos de linguagem elaborada que faz com que o leitor reflita mais sobre o “ser” do que sobre as situações narrativas. Na vasta obra do autor, um suposto regionalismo ao falar sempre do povo do sertão toma-se, na verdade, um veículo de divulgação da universalidade. Para Guimarães Rosa, o “sertão é o mundo”. Dez anos depois de Sagarana, publica as novelas de Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas, sua obra mais importante em que narra as aventuras de um velho bandido e seu estranho amor por seu velho companheiro de armas. O valor da linguagem poética de Guimarães não está apenas no rebuscamento, mas nos neologismo, na recriação e invenção de palavras. A sua escrita funde a perspectiva local do regionalismo com os meios técnicos das vanguardas, para chegar a uma escrita original e integrada, podendo-se falar de um suposto super-regionalismo (por analogia com “surrealismo”). “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde um criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.” “Eu atravesso as coisas — e no meio da travessia não vejo! — só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou (...) o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...”. que o romance, parece conter a sua narrativa ideal. As suas principais obras são Laços de Família, Perto do Coração Selvagem, A hora da estrela e A paixão segundo GH. “O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção é que obtenho o que ela conseguiu.”. “Uma vida completa pode acabar numa identificação tão absoluta como o não-eu que não haverá mais um eu para morrer.” (epígrafe de “A paixão segundo GH) João Cabral de Melo Neto: O poeta torna-se famoso por ser o criador de uma linguagem original e pela capacidade de seduzir pela pura qualidade verbal e pela capacidade de exprimir, de maneira poderosa, uma realidade que parece nascer da experiência com a palavra. A sua poesia é caracterizada pela objetividade ao constatar mostrar a realidade. Seu primeiro livro, Pedra do sono (1942), possui forte tendência surrealista, que posteriormente será abandonada por ele. O poeta manifesta também preocupação com a arquitetura da poesia, é o poeta engenheiro: constrói o poema palavra por palavra. A obra poética do autor é marcada também pelo combate ao lirismo choroso através de uma linguagem enxuta e concisa. Clarice Lispector É o principal nome da tendência intimista moderna. A temática recorrente de sua obra é o questionamento do ser, do estar no mundo e da pesquisa do ser humano. Daí resulta o seu famoso romance introspectivo A paixão segundo G.H. Em sua obra, há uma eterna ambiguidade entre o “eu” e o “não-eu”, o “ser” e o “não ser, já notado anteriormente na obra de Guimarães Rosa. No campo da linguagem, Clarice preocupa-se com as palavras e com a revalorização delas, dando-lhes novas roupagens e ampliando o limite de sua significação. Preocupa-se também com o que está nas entrelinhas e manifesta a capacidade de manipular os detalhes, que vão se juntando para formar a narrativa, sem que haja necessidade de uma estruturação rigorosa. O conto, mais do “Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira).” (trecho de “Morte e Vida Severina)