PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA Obras da coleção do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía Poéticas, fatos, lugares e cronologias PICASSO 1910 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Picasso define, em Cadaqués, o Cubismo hermético concebido como pintura pura. A arte acadêmica ainda orienta as criações poéticas, porém já mostra sinais de esgotamento. Discussões sobre a necessidade de renovação das artes surgem em textos de revistas e em exposições. Ramón Gómez de la Serna publica o Manifesto futurista aos espanhóis, de Filippo Tomaso Marinetti, na revista Prometeo. É criada a “Residencia de Estudiantes”, de Madri, vinculada à Institución Libre de Enseñanza, que, de 1910 a 1939, foi um dos principais núcleos de modernização científica e de cultura da Espanha. Ali se encontraram, na década de 1920, Federico García Lorca, Salvador Dalí, Luis Buñuel, Emilio Prados, José Moreno Villa e outros. 2 PICASSO 1911 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Picasso e Braque passam a utilizar signos da escrita em suas pinturas. Joaquim Sunyer expõe em Barcelona as primeiras manifestações plásticas do Novecentismo. Escritos teóricos e críticos de Eugeni d’Ors sobre o Novecentismo. O governo monárquico inicia reformas institucionais regeneracionistas. 3 PICASSO 1912 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Ao chegar da Europa, Oswald de Andrade traz a notícia das vanguardas, como as sugeridas pelo Manifesto Futurista do poeta italiano Marinetti. Picasso e Braqueiniciama era do collage, trabalhando com papéis colados. Ramón Gómez de la Serna inicia suas célebres tertúlias no Café Pombo de Madri. Juan Gris expõe pela primeiravez no Salão dos Independentes de Paris. A Catalunha, depois do triunfo dos partidos nacionalistas catalães nas eleições municipais, começa a desenvolver um governo autônomo e instituições próprias. A Galeria Dalmau, em Barcelona, inaugura a Exposição de Arte Cubista. Torres García é incumbido de realiza os murais no Palau de la Mancomunitat de Catalunya e institui outra fórmula plástica para o Novecentismo. 4 PICASSO 1913 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Picasso produz obras, como Mulher de camisa, que ultrapassam a estética cubista e prenunciam o Surrealismo. A exposição do pintor moderno e renomado internacionalmente Lasar Segall, em Campinas, passa despercebida do público e da crítica brasileira. Segundo Paulo Mendes de Almeida, a “crítica indígena” reconhece que há algo diferente em sua pintura, mas age de modo condescendente e tolerante. Pablo Gargallo produz seu Retrato de Picasso. 5 PICASSO 1914 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Em 28 de julho, estoura a Primeira Guerra Mundial. Picasso produz em Avignon sua primeira obra neoclássica e continua coma experiência cubista. Juan Gris produz sua versão do collage cubista. 6 PICASSO 1915 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Picasso começa a fazer desenhos em “estilo ingresco”, fundando o Classicismo moderno, ao mesmo tempo em que redefine o Cubismo e continua produzindo obras que prenunciam o Surrealismo. Juan Gris retoma a pintura cubista após sua experiência com o collage. Pablo Gargallo direciona o sentido de sua obra para a modernidade. O Cubismo é apresentado em Madri, graças a Ramón Gómez de la Serna e à exposição Os pintores íntegros. São expostas obras de Diego Rivera e de María Blanchard. É inaugurado o Salão de Arte Moderna em Madri, ainda com um caráter conservador. 7 PICASSO 1916 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Kahnweiler afirma que neste ano Juan Gris inicia uma nova etapa do Cubismo. María Blanchard assume a criação de um novo Cubismo. Expande-se pela Europa a ideia de “retorno à ordem” das primeiras vanguardas. Robert e Sonia Delaunay, Albert Gleizes e outros artistas modernos europeus se refugiam na Espanha, especialmente em Barcelona, e influenciam o despertar da Arte Nuevo. Joaquim Sunyer inicia a segunda etapa de sua poética mediterrânea e novecentista. 8 PICASSO 1917 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Exposição de Anita Malfatti. O escritor Monteiro Lobato escreve o artigo Paranoia ou Mistificação? – acirrada crítica às inovações trazidas por Anita, fato que provoca polêmica no ambiente cultural nacional, envolvendo os principais artistas do movimento modernista. Grande crise geral do Sistema da Restauração na Espanha. Problemas militares, autonomistas, trabalhistas, parlamentares e terroristas (“pistoleirismo”). Picasso começa a trabalhar com os ballets russos de Sergei Diáguilev. Oswald de Andrade conhece Mário de Andrade e juntos defendem Anita Malfatti das críticas feitas por Monteiro Lobato. Picasso visita a Espanha e pinta seus primeiros retratos de Olga. Desenvolve-se na sua pintura o “novo Classicismo”. Forma-se o primeiro grupo modernista com Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Di Cavalcanti e Anita Malfatti. Juan Gris elabora um novo cânone da pintura cubista e um novo conceito de “pintura pura”. Joaquín Torres García abandona o Novecentismo e inicia sua fase vanguardista, a denominada “arte-evolução”. Barradas funda em Barcelona o Vibracionismo, síntese dos primeiros “ismos”. Joan Miró assimila os primeiros “ismos” em sua pintura, sempre em nota vernacular. Começa a relação profissional e pessoal entre Juan Gris e María Blanchard. É realizada em Barcelona a Exposição da arte francesa. 9 PICASSO 1918 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Em 11 de novembro, termina a Primeira Guerra Mundial. Joan Miró inicia uma fase chamada “detalhista”, que contém um dos primeiros aportes europeus ao Realismo Mágico. Rafael Barradas muda-se para Madri e desenvolve a segunda etapa do Vibracionismo. No fim do ano, um grupo de jovens poetas funda em Madri o Ultraísmo, movimento síntese das primeiras vanguardas, ao qual irá se juntar, nas artes plásticas, Rafael Barradas. Vázquez Díaz, modernizando sua linguagem plástica, expõe em Madri e converte-se em uma das primeiras referências da Arte Nuevo. 10 PICASSO 1919 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Josep de Togores começa a definir sua versão própria do Realismo Mágico e escreve artigos teóricos sobre a arte moderna. Barradas inicia sua fase cubista, que dará lugar ao Planismo. 11 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1920 ESPANHA BRASIL Juan Gris começa a desenvolver o conceito de “rimas plásticas”, que trará a público em 1923. Acentuam-se as preocupações de artistas e intelectuais pelo contexto social, a discussão sobre as vanguardas europeias e o trânsito de artistas entre a Europa e o Brasil. Pablo Gargallo passa a utilizar o chumbo e cria sua linguagem de formas côncavas. Oswald de Andrade e Menotti del Picchia fundam a revista Papel e Tinta. José Gutiérrez Solana publica seu livro A Espanha Negra. Acentua-se e desenvolve-se sua poética de realismo sórdido e inquietante, com um substrato expressionista. Graça Aranha publica Estética da vida. Victor Brecheret expõe as maquetes do Monumento às Bandeiras. Exposição de Anita Malfatti e John Graz. 12 PICASSO 1921 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL É publicada a revista ULTRA, melhor órgão de difusão do Ultraísmo, profusamente ilustrada por Rafael Barradas. Oswald de Andrade publica Meu poeta futurista e Mário de Andrade responde com Futurista?!. Mário publica o artigo Mestres do passado. Daniel Vázquez Díaz define sua fórmula novecentista e se converte em um pintor extremamente influente nos círculos madrilenos e do País Basco. Em fins deste ano, no salão do mecenas Paulo Prado, nasce a ideia da organização de um festival de artes com duração de uma semana, inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville. 13 PICASSO 1922 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL A Semana de Arte Moderna de São Paulo é organizada com o apoio financeiro das famílias mais abastadas da cidade. Realizada por um grupo de intelectuais, reunidos em torno de Paulo Prado, a Semana apresenta ao ambiente cultural os pressupostos da arte moderna. Nessa tarefa, conta com o auxílio dos escritores Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Graça Aranha. Durante três dias – 13, 15 e 17 de fevereiro – artistas plásticos, compositores, músicos e poetas de vanguarda comparecem ao Theatro Municipal para conferências, recitais, exposição de pinturas e esculturas, e para diversas outras manifestações assinaladas por uma característica comum: o rompimento radical com os padrões de uma arte chamada “acadêmica”. Benito Mussolini chega ao poder na Itália. Dalí hospeda-se, em setembro, na Residencia de Estudiantes de Madri, onde conhece Federico García Lorca e Luis Buñuel. O jovem artista também ingressa na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando. Muitos dos jovens artistas espanhóis que configuraram a Arte Nuevo dirigem-se a Paris. Josep de Togores assina um contrato com D. H. Kahnweiler. Manuel Ángeles Ortiz começa a trabalhar com Picasso, utilizando as formas clássicas e cubistas, ao mesmo tempo. José Ortega y Gasset funda a Revista de Occidente. Encerra-se o Ultraísmo e começa na Espanha o impacto do chamado “retorno à ordem”. 14 PICASSO 1923 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Olívia Guedes Penteado traz de Paris obras de Pablo Picasso, Tsuguharu Foujita, Fernand Léger e Marie Laurencin. A mecenas passa a ocupar posição central no ambiente cultural de São Paulo. Ocorre na Espanha a ditadura do general Primo de Rivera. A Catalunha perde seus direitos de autonomia. O general oscila entre o autoritarismo e o encontro com o fascismo. Picasso inicia uma nova etapa de sua obra e começa a se afastar do Classicismo moderno. Juan Gris realiza, na Galerie Simon, uma influente exposição em que o Cubismo se converte em lirismo e em relações plásticas. Acontece a “grande transformação” de Miró, marco crucial da arte moderna, o que fará Picasso “acordar” de seu período classicista. O jovem Dalí, que tinha apenas 19 anos, imita o Cubismo, a pintura metafísica, a pintura de Juan Gris, a de Sunyer, e o Vibracionismo de Barradas, alterando as propostas originais. Dalí começa a leitura de Freud, então muito comentado na Residencia de Estudiantes. 15 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1924 ESPANHA BRASIL A “caravana modernista” (Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Olívia Guedes e Gofredo Telles) realiza excursão ao carnaval do Rio de Janeiro e às cidades históricas mineiras, acompanhada pelo poeta franco-suíço Blaise Cendrars. Picasso trabalha na Mercure e inicia uma nova etapa em sua obra, com desenvolvimentos líricos próximos ao onírico. Picasso inicia uma complexa série de naturezas-mortas, que se estenderá até 1925 – obras que marcam o final de sua experiência cubista e sua abertura às propostas próximas ao Surrealismo. Em 18 de março, Oswald de Andrade lança o Manifesto Pau-Brasil, no qual exalta uma arte não contaminada por regras preestabelecidas, basicamente primitivista e associada ao Surrealismo, particularmente no desejo de revelar o primitivo do ser humano. Visa também a uma arte ligada à síntese existente no Cubismo e no Expressionismo. Juan Gris apresenta sua conhecida conferência Das possibilidades da pintura. André Breton publica o primeiro Manifesto do Surrealismo. O jovem Dalí começa a imitar o Classicismo picassiano, primeiro para alcançar uma nova objetividade e depois para dar-lhe uma nota freudiana. Aurelio Arteta é nomeado diretor do Museo de Arte Moderno de Bilbao. Paulatinamente sua pintura passa a assimilar modelos do Novecento italiano. 16 PICASSO 1925 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL O palacete de Dona Olívia, projetado por Ramos de Azevedo com decoração rococó, recebe como anexo o Salão Modernista, um ambiente especial também chamado de “A Galeria de Arte Moderna”, criado por Lasar Segall. Alfred H. Barr Jr. situa neste ano o início do Cubismo curvilinear de Picasso. Joan Miró começa a reveladora série denominada “pinturas oníricas”, à qual dará continuidade, transformando-a com paisagens e retratos imaginários, até 1929. Daniel Vázquez Díaz, com seu Realismo depurado baseado na forma geométrica, converte-se em referência da Arte Nuevo. Ángel Ferrant começa a produzir sua escultura com traços novecentistas, embora com assimilações cubistas. Primeira exposição da Sociedade de Artistas Ibéricos realizada em Madri. José Ortega y Gasset publica A desumani-zação da arte. Um jovem Salvador Dalí realiza sua primeira exposição individual na galeria Dalmau. 17 PICASSO 1926 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Em setembro, Joaquín Torres García instala-se em Paris, onde viria a fazer mudanças em sua obra, sobretudo a partir de 1928, reforçando sua tendência estruturalista e construtiva, concebendo os ícones como signos. Christian Zervos funda a revista Cahiers d’Art. O contexto cultural da chamada “Geração de 27” se interessa pelo Cubismo tardio. Surgem as primeiras revistas poéticas da Geração de 27. 18 PICASSO 1927 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Picasso começa a desenvolver em sua obra, simultaneamente, a poética do telúrico (período das Metamorfoses) e o interesse pela iconografia da “figura monstruosa” e do Minotauro. Julio González faz suas primeiras esculturas em ferro, destacando suas releituras do Cubismo. Francisco Bores e Pancho Cossío, em Paris, criam uma nova modalidade pictórica, hoje conhecida como “figuração lírica”, promovida por Tériade e a revista Cahiers d’Art. Benjamín Palencia e Moreno Villa, assíduos visitantes da capital francesa, desenvolvem a figuração lírica em Madri. Dalí imita a tendência plástico-poética de Picasso, acrescentando-lhe um componente psicológico. Maruja Mallo inicia sua pintura vinculada com o Realismo Mágico, trabalhando fortes tons vernaculares. José Gutiérrez Solana, que por estética e nascimento está relacionado com a Geração de 98 e com a Geração de 14, começa a ser assimilado, como artista independente, nos ambientes da Arte Nuevo. Em 11 de maio morre Juan Gris. É traduzida ao castelhano a obra de Franz Roh Realismo Mágico. Pós-expressionismo. Ángeles Santos e Alfonso Ponce de León reconduzem as relações da Arte Nuevo com a Nova Objetividade. 19 PICASSO 1928 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL O Manifesto Antropófago, escrito por Oswaldo de Andrade, é lançado no primeiro número da recém-fundada Revista de Antropofagia. Em linguagem poética repleta de humor, o Manifesto legitima o movimento antropofágico que pretende repensar a questão da dependência cultural no Brasil. Pablo Picasso e Julio González passam a trabalhar em conjunto. Joan Miró começa a trabalhar (o que faz até 1931) com concepções alheias às belas artes, ou “antiartísticas”. Dalí publica Realidade e suprarrealidade em La Gaceta Literaria, e vive seu momento radical e “antiartístico” pelas páginas de L’Amic de les Arts. Maruja Mallo expõe na sala da Revista de Ocidente suas séries “Estampas” e “Verbenas”. É realizada a exposição Jovem pintura espanhola, no Palais de Beaux Arts de Bruxelles. Joaquín Torres García entra em contato com Theo van Doesburg e se envolve com a abstração geométrica, ao mesmo tempo em que se interessa de forma transformadora pela arte primitiva e pré-colombiana. Josep de Togores desenvolve sua “pintura abstrata”, solução plástica relacionada com o novo lirismo e com o surreal. José Val del Omar cria um novo sentido cinematográfico, por meio do conceito totalizador “Picto–Lumínica–Audio–Táctil (PLAT)”, antecipando várias de suas técnicas mais características, como o “desbordamento apanorâmico da imagem”, fora dos limites da tela, e o conceito de “visão tátil”. 20 PICASSO 1929 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Salvador Dalí começa a desenvolver seu próprio sistema figurativo surrealista, baseado na imagem dupla, a concatenação de imagens e os princípios da “paranoia crítica”. Salvador Dalí e Luís Buñuel produzem Um cão andaluz. Óscar Domínguez inicia sua produção surrealista marcada pelo onírico e pela imagem dupla, mas também com uma poderosa marca da poética do telúrico. Pablo Gargallo entra em seu segundo “Período do Ferro” e aproxima suas produções às de Julio González. Alberto Sánchez e Benjamín Palencia começam a desenvolver a chamada “Escuela de Vallecas”, dedicada à relação entre arte e natureza original. Em Valladolid, Ángeles Santos trabalha em obras audaciosas na poética da Nova Objetividade, ao mesmo tempo em que produz ocasionalmente composições surrealistas de grande formato. Alfonso Ponce de León passa a produzir sua pintura vinculada à Nova Objetividade. Maruja Mallo adentra-se na poética telúrica por meio de uma versão “negra” daquela elaborada na Escuela de Vallecas. Produz a série “Cloacas e Campanários”. Relaciona-se com Dalí e Rafael Alberti. O jovem Esteban Vicente, em Paris, entra em contato com a pintura de Bores. André Breton publica o segundo Manifesto do Surrealismo e coloca-o a serviço da revolução. 21 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1930 ESPANHA BRASIL Picasso passa o verão na Vila Chêne-Roc de Juan-les-Pins, onde faz desenhos preliminares para as gravuras reunidas posteriormente na Suite Vollard, ilustra as Metamorfoses de Ovidio, que serão editadas por Albert Skira, e produz estampas que Ambroise Vollard reunirá em sua edição de 1931 de Obra-prima ignorada, de Honoré de Balzac. Picasso trabalha o desenho linear de estilo classicista em contraposição com as linguagens adotadas em sua pintura e escultura. Ao longo da década, destacam-se: ações sociopolíticas dos artistas, a busca por espaços para exposições voltadas à arte moderna e a formação de grupos e sindicatos. A Exposição da Casa Modernista em São Paulo, organizada por Gregori Warchavchik, conta com obras de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Victor Brecheret, Cícero Dias, entre outros. Outras exposições – como a da Escola de Paris, realizada por Géo-Charles e Vicente do Rego Monteiro (Recife, Rio de Janeiro e São Paulo) e o XXXVIII Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro – tomam conta do cenário. Joaquín Torres García é membro fundador de Cercle et Carré e, por outro lado, é o promotor da primeira exposição do Grupo de Latinoamericanos de Paris, na Galerie Zak. A noção de Arte Latino-americana moderna como um conceito próprio de referência surge aqui. Lúcio Costa é nomeado para a direção da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Luís Buñuel e Salvador Dalí estreiamseu segundo filme, A idade de ouro, no Studio 28 de Paris. A escultura de Alberto Sánchez, realizada em sintonia com as formas da paisagem rural castelhana, enuncia uma escultura orgânica que precede a escultura orgânica internacional, fato que nunca é reconhecido, pois boa parte da melhor obra de Alberto desapareceu durante a Guerra Civil. As paisagens de Benjamín Palencia são um dos pontos mais altos da renovação plástica espanhola. 22 PICASSO 1931 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Em 14 de abril é proclamada a Segunda República Espanhola. Formação do Núcleo Bernardelli no Rio de Janeiro, um conjunto de pintores que se opõem ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes, integrado por: Ado Malagoli, Bráulio Poiava, Bustamante Sá, Bruno Lechowski, Sigaud, Camargo Freire, Joaquim Tenreiro, Quirino Campofiorito, Rescála, José Gomez Correia, José Pancetti, Milton Dacosta, Manoel Santiago, Yoshiya Takaoka e Tamaki. Picasso começa a trabalhar em Boisgeloup (1931-1935), onde tem um ateliê de escultura e produz sua obra gráfica; continua tendo Marie-Thérèse como modelo. O Picasso da inquietação se converte no Picasso do êxtase amoroso. Sua amada é recriada como sujeito da Natureza. Julio González passa a desenvolver uma escultura de conceito próprio sob a poética do “desenho no espaço”. Trabalha em ferro e por meio da técnica da soldadura autógena. Retorno de Candido Portinari de sua viagem de estudos à Europa (Prêmio de Viagem 1928). A partir da década de 1940, Portinari ficaria impressionado com Guernica (1937), de Pablo Picasso, e seus trabalhos posteriores passariam a receber forte influência do pintor espanhol. O Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro acolhe os artistas modernos: Tarsila, Anita, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Guignard, Ismael Nery, Cícero Dias, Vittório Gobbis e Portinari. 23 PICASSO 1932 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Miró começa a produzir uma série de obras próximas da poética do telúrico. Criação da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), um grupo de artistas de diversas áreas, liderado por Lasar Segall, afinado com o ideário moderno e voltado a promover a arte em reuniões e festas. Participam da SPAM: Anita Malfatti, Paulo Prado, Lasar Segall, Camargo Guarnieri, Hugo Adami, Mário de Andrade, Mina Klabin Warchavchik, Rossi Osir, Tarsila do Amaral, John Graz, Regina Graz, Vittorio Gobbis, Wasth Rodrigues, Olívia Guedes Penteado, Antonio Gomide, Sérgio Milliet, Menotti del Picchia, Paulo Mendes de Almeida, Jenny Klabin Segall, Alice Rossi, entre outros. Determinadas iconografias desta série estão muito próximas da “figura monstruosa” de Picasso. Ángel Ferrant produz em Barcelona esculturas radicais confeccionadas com materiais não artísticos. É fundada em Barcelona a Amics de l’Art Nou (ADLAN). Surge em Santa Cruz de Tenerife a revista Gaceta de Arte, dirigida por Eduardo Westerdahl, defensora da modernidade, do racionalismo arquitetônico e introdutora do Surrealismo. Criação do Clube dos Artistas Modernos (CAM), um agrupamento de artistas liderados por Flávio de Carvalho. Distanciado em relação à SPAM, o CAM adota discurso mais autônomo e irreverente. Participam do grupo: Emiliano Di Cavalcanti, Antônio Gomide, Carlos Prado, Arnaldo Barbosa, Vittorio Gobbis, entre outros. Criação do Conselho de Orientação Artística pela Secretaria da Educação do Estado, órgão responsável pela instalação do Salão de Belas Artes, que se extingue em 1934. 24 PICASSO 1933 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Triunfo da coalizão de direitas (CEDA) na Espanha. Exposição Mês das crianças e dos loucos, no CAM. Hitler chega ao poder na Alemanha. Exposição de Arte Moderna da SPAM. Picasso faz a capa da revista Minotaure e inicia a série de obras dedicadas ao Minotauro. Psicologicamente, o artista se identifica com o animal mitológico. Encenação de O bailado do deus morto, do Teatro da Experiência, no CAM. Carnaval na cidade de SPAM. Conferências sobre artes plásticas e outros temas, no CAM. Óscar Domínguez passa a produzir uma série de obras que unem o desejo, a natureza e a cultura, dentro do padrão vernáculo das Ilhas Canárias e no sistema da imagem surrealista. Pode-se considerar que esta série de obras se relaciona com a poética do telúrico. Joaquín Torres García, que agora reside em Madri, funda seu primeiro Grupo de Arte Construtiva. Leandre Cristòfol introduz a abstração lírica em suas esculturas. Manuel Ángeles Ortiz colabora com Federico García Lorca no teatro ambulante La Barraca. 25 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1934 ESPANHA BRASIL Greve geral revolucionária nas Astúrias. Expedição às matas virgens de Spamolândia. Miró inicia a série denominada “Pinturas selvagens”. Salão Paulista de Belas Artes. Curso Livre de Desenho na Sociedade Paulista de Belas Artes em São Paulo. Exposição de pintura de Flávio de Carvalho é fechada pela polícia no CAM. Fechamento do SPAM. Fechamento do CAM. 26 PICASSO 1935 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Mário de Andrade escreve sobre o Grupo Santa Helena (artistas imigrantes ou filhos de imigrantes, vindos da classe operária e considerados a segunda geração dos modernistas). Integrantes: Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Alfredo Rullo Rizzotti, Clóvis Graciano, Fúlvio Pennacchi, Humberto Rosa, Manoel Martins e Mário Zanini. A escultura de González começa a adquirir complexidade e variedade. Interessa-se pelos volumes, pelas figuras de personagens dançando e, por vezes, aproxima-se da poética do telúrico. A obra de Cristófol se aproxima do conceito de “objeto surrealista”, embora sempre pela perspectiva do “poema-objeto”. Exposição Internacional do Surrealismo em Santa Cruz de Tenerife, Ilhas Canárias, organizada por Óscar Domínguez e pelo grupo de intelectuais ligados à revista Gaceta de Arte. Mário de Andrade é nomeado diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Fundação do grupo Seibi (SEIBIKAI), reunindo artistas japoneses ou descendentes. José Val del Omar realiza seus primeiros “documentários poéticos”. Última mostra do Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro. Jorge Oteiza viaja para a América do Sul, expondo em Buenos Aires neste mesmo ano. Portinari obtém menção honrosa no Instituto Carnegie, com a obra O Café (Estados Unidos). Criação do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro. 27 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1936 ESPANHA BRASIL Projeto arquitetônico do Ministério da Educação no Rio de Janeiro idealizado por Le Corbusier. Em janeiro, integrantes da ADLAN organizam em Barcelona uma homenagem a Picasso. Em fevereiro, triunfo eleitoral da Frente Popular na Espanha. A Sociedade Paulista de Belas Artes transforma-se em Sindicato dos Artistas Plásticos e Compositores Musicais, por força da legislação trabalhista. O sindicato passa a promover um salão anual de pintura e escultura denominado Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos. Picasso é nomeado diretor do Museo del Prado. Ángel Ferrant assume, em Madri, “a escultura como desenho no espaço”, utilizando um conceito de Julio González que ainda não havia sido divulgado. Maruja Mallo produz uma série de obras dedicadas ao mundo do trabalho, nas quais seu sistema figurativo objetivista é superado pelo desejo de construção das formas e das figuras e pelo caráter simbólico das composições. Em 18 de julho acontece a sublevação militar contra o governo democrático da 2a República. Será o ponto de partida da Guerra Civil Espanhola. Torres García considera que o Cubismo de Juan Gris é uma das principais referências do Universalismo Construtivo. É realizada a exposição Logicofobista na livraria Catalonia, de Barcelona. 28 PICASSO 1937 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Genocídio causado pelo bombardeio da Alemanha na vila de Guernica, cidade emblemática da identidade basca. I Salão da Família Artística Paulista. Organizadores: Paulo Rossi Ossir e Waldemar da Costa. Integrantes: Aldo Bonadei, Alfredo Rullo Rizzoti, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Arnaldo Barbosa, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Clóvis Graciano, Ernesto De Fiori, Francisco Rebolo, Franco Cenni, Fúlvio Pennacchi, Hugo Adami, Humberto Rosa, Joaquim Figueira, Manoel Martins, Mário Zanini, Nelson Nóbrega, Paulo Rossi Ossir, Renée Lefévre, Scliar, Toledo Piza, Vittorio Gobbis, Waldemar da Costa, entre outros. Picasso cria a série de gravuras e o poema Sonho e mentira de Franco. Picasso produz Guernica. Julio González produz La Montserrat, aproximação momentânea ao Realismo marcada pela evocação cultural da Catalunha e pela aproximação à classe trabalhadora em luta. Os artistas espanhóis expõem obras que denotam o momento bélico, a destruição fascista e o apoio ao governo legal da II República. Entre outras obras, e junto a Guernica, de Picasso, são expostas Fonte de Mercúrio, de Alexander Calder, La Montserrat, de Julio González, O agricultor catalão rebelde, de Joan Miró, e O povo espanhol tem um caminho que conduz a uma estrela, de Alberto Sánchez. I Salão de Maio. Organizado pelo crítico de arte Quirino da Silva em São Paulo. Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos que, entre 1937 e 1949, realiza 13 grandes mostras, além de promover exposições menores pelos bairros de São Paulo. O pavilhão da Espanha na Exposição Universal de Paris tem um caráter propagandístico, informativo e reivindicativo da situação do país, expondo em suas paredes cartazes, fotografias e demais elementos artísticos e documentais que mostram os horrores da guerra. O Jornal Belas Artes dá cobertura aos salões modernos de São Paulo. O projeto de Le Corbusier é adaptado para outra gleba de terra por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Entre outros documentos, são expostos vários poemas de Federico García Lorca, o que contou com o apoio de vários intelectuais internacionais, como Louis Aragon, Paul Éluard, Ernst Hemingway, Octavio Paz, André Malraux, Ilyá Ehrenburg, Waldo Frank, e outros. Na obra de Picasso, as repercussões e reverberações do esforço físico, criativo e emocional desenvolvidos em Guernica se mantiveram até finais de 1937. 29 PICASSO 1938 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL II Salão de Maio. Começa o périplo internacional de Guernica, com diversas apresentações em todo o mundo, que se estenderão até 1958. Picasso se converte no artista mais famoso do mundo e sua obra a mais celebrada, penetrando na consciência popular internacional de uma maneira sem precedentes e sem comparação na arte moderna. A Galeria Casa e Jardim acolhe mostras de artistas modernos em São Paulo. Óscar Domínguez ingressa em sua “etapa cósmica”. 30 PICASSO 1939 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Miró começa a produzir As Constelações. III Salão de Maio. Em 1º de abril acaba a Guerra Civil Espanhola. II Salão da Família Artística Paulista. Em 1º de setembro começa a Segunda Guerra Mundial. Os artistas modernos conquistam uma Divisão Moderna no Salão O Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York realiza uma importante retrospectiva com o título Picasso. Quarenta anos de sua arte. Nacional do Rio de Janeiro. Criação da OSIRARTE, por Paulo Rossi Osir – oficina de azulejos artísticos em São Paulo. Integrantes: Alfredo Volpi, César Lacanna, Ernesto De Fiori, Franz Krajcberg, Gerda Brentani, Hilder Weber, Mario Zanini, Virgínia Artigas, entre outros. 31 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1940 ESPANHA BRASIL Picasso começa uma nova etapa de sua pintura, caracterizada pela síntese de estilo e pelos temas da vida cotidiana. Exposição de Arte Francesa, no Rio de Janeiro. III Salão da Família Artística Paulista. Dalí vai com Gala, sua mulher, aos Estados Unidos – onde permaneceria até 1948 – e abandona seu vínculo com a arte moderna. 32 PICASSO 1941 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Eugenio d’Ors funda a Academia Breve de Crítica de Arte em Madri. I Salão de Arte da Feira Nacional de Indústrias de São Paulo. Primeira grande retrospectiva de Joan Miró no MoMA de Nova York. Exposição/Concurso do Departamento Estadual de Informação e do Patrimônio Histórico em São Paulo. Exposição de Ernesto De Fiori, na Galeria Casa e Jardim. 33 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1942 ESPANHA BRASIL Morre Julio González e Picasso produz uma pintura em sua homenagem, com o título Natureza morta com crânio de touro. Extinção do Grupo Bernardelli. Conferência O Movimento Modernista, de Mário de Andrade, na Casa do Estudante. A editora Dial Press de Nova York publica A vida secreta deSalvador Dalí. I Salão de Arte Moderna de Porto Alegre. Edição do primeiro álbum de gravuras de artistas modernos no Brasil. Oscar Domínguez inicia sua fase metafísica, depois de conhecer o pintor italiano Giorgio de Chirico. 34 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1943 ESPANHA BRASIL Acontece a primeira exposição Salão dos Onze, na galeria madrilenha Biosca. Exposição Antieixista, em São Paulo. Exposição individual de Lasar Segall, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. 35 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1944 ESPANHA BRASIL Picasso colabora na primeira representação de sua obra dramática em seis atos, O desejo pego pelo rabo, na casa de Michel e Louise Leiris, em Paris. Picasso está próximo de militantes do Partido Comunista e de círculos intelectuais que irão fundar o existencialismo. Intelectuais lançam manifesto pró-redemocratização do país. Exposição em benefício da Royal Air Force (RAF) realizada em Londres, com a participação de artistas modernos brasileiros. É publicado Universalismo Construtivo, de Joaquín Torres García, reunindo 150 conferências proferidas após o seu regresso ao Uruguai, em 1934. Este livro condensa toda uma trajetória vital e apresenta uma proposta plástica e cultural transformadora. No exílio, Maruja Mallo começa a trabalhar de acordo com a regra da Proporção Áurea. 36 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1945 ESPANHA BRASIL Em 2 de setembro, termina a Segunda Guerra Mundial. Criação da Seção de Arte e de Museu na Biblioteca Municipal de São Paulo, por Sérgio Milliet, principal incentivador do ideário modernista brasileiro. Oscar Domínguez é expulso do Grupo Surrealista. I Congresso Brasileiro de Escritores em São Paulo. Dalí vai a Hollywood para trabalhar com Alfred Hitchcock no filme Quando fala o coração, realizando as sequências oníricas. Morte de Mário de Andrade. Exposição de artistas plásticos, na Galeria Itá, em homenagem a Mário de Andrade. Maruja Mallo viaja para a Ilha de Páscoa com Pablo Neruda e começa a produzir suas Naturezas vivas. Exposição póstuma de Ernesto De Fiori, no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de São Paulo. 37 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1946 ESPANHA BRASIL Nelson Rockefeller, então presidente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), em visita ao Brasil, reúne-se com um grupo de intelectuais e mecenas. O objetivo é fundar um museu de arte moderna em São Paulo. Pablo Picasso utiliza temas mediterrâneos, como ouriços-do-mar e peixes, em uma série de naturezas-mortas. Antoni Tàpies, além de suas obras de recorte primitivista e expressionista, começa a produzir pinturas abstratas, caracterizadas por um interesse fundamental pela matéria e com um uso recorrente do collage e do grattage. Entre os mecenas que aderem à ideia estão: Yolanda Penteado, Francisco Matarazzo Sobrinho (o Ciccillo) e Francisco Assis Chateaubriand. No mesmo ano, Yolanda e Ciccillo formam suas coleções e a do futuro Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), em excursões entre a França e a Itália, que se encerram em 1947. Na bagagem, trazem duas obras de Pablo Picasso (uma pintura e uma litogravura). Joan Miró produz suas primeiras esculturas em bronze. Exposição coletiva A arte da República Espanhola, com artistas ibéricos da Escuela de Paris, na Galeria Nacional de Praga. 38 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1947 ESPANHA BRASIL Antoni Tàpies conhece Joan Brossa, entrando em contato com os artistas que irão compor o Dau al Set. O Museu de Arte São Paulo – MASP é fundado pelo jornalista Francisco de Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados. Na formação da coleção do museu recebe apoio do crítico de arte, marchand e antiquário italiano Pietro Maria Bardi, diretor do museu da data de sua fundação até 1992. Bardi e Chateaubriand formam importante coleção de arte europeia, da arte antiga à contemporânea. No acervo, destacam-se obras de Rafael, Bellini, Andrea Mantegna, Ticiano, Delacroix, Renoir, Monet, Manet, Cézanne, Toulouse-Lautrec, Van Gogh, Gauguin e Modigliani, entre outras. Esteban Vicente se relaciona com os criadores da Escola de Nova York, ao expor nas mesmas galerias, e, por isso, se envolve no desenvolvimento do Expressionismo Abstrato. 39 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1948 ESPANHA BRASIL Ángel Ferrant colabora com Eugenio d’Ors na Academia Breve e é cofundador, com Mathias Goeritz, da Escola de Altamira. O MAM-SP, constituído por Ciccillo e Yolanda Penteado, responde às expectativas de diversos intelectuais e artistas que defendiam a formação de um museu de arte moderna em São Paulo já a partir dos primeiros anos da década de 1940. Funciona, de forma provisória, nas dependências da Metalúrgica Matarazzo, até a inauguração oficial de sua sede no prédio dos Diários Associados, na Rua 7 de Abril. Pablo Palazuelo produz suas primeiras obras abstratas, inspirando-se nos processos da Natureza. São fundados em Barcelona o grupo e a revista Dau al Set. Fundado a partir do modelo do MoMA e concomitante ao MAM-SP, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) é presidido pelo colecionador e industrial Raymundo Ottoni de Castro Maya. Jorge Oteiza funda no País Basco o grupo dos Cinco Plásticos. Eduardo Chillida instala-se em Paris, onde conhece Pablo Palazuelo. Criação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e da Cia Cinematográfica Vera Cruz, instituições mantidas por Ciccillo e Franco Zampari. Paulatinamente o Surrealismo tardio vai se transformando em arte abstrata. 40 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1949 ESPANHA BRASIL É criado em Zaragoza o grupo Pórtico. Em 8 de março, a nova sede do MAM-SP é inaugurada com a mostra Do figurativismo ao abstracionismo, organizada pelo crítico belga León Dégand. A exposição apresenta ao público brasileiro o desenvolvimento mais recente da arte, reunindo um conjunto de 95 obras de artistas como Hans Arp, Alexander Calder, Robert Delaunay, Cícero Dias, Samson Flexor, Hans Hartung, Wassily Kandinsky, Fernand Léger, Alberto Magnelli, Joan Miró, Francis Picabia, Pierre Soulages, Victor Vasarely, entre outros. A mostra inaugura também a tensão entre as linguagens estéticas (Figuração versus Abstração). Ángel Ferrant expõe seus “móbiles”, peças cinéticas figurativas realizadas em anos anteriores. Na Espanha é despertado o interesse pela arte abstrata lírica e informativa. Miró alterna dois tipos de pintura, uma mais reflexiva e outra mais gestual e impulsiva. É publicado As esculturas de Picasso, livro escrito por Daniel-Henry Kahnweiler e ilustrado com fotografias de Brassaï. 41 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1950 ESPANHA BRASIL Chillida e Palazuelo expõem no Salão de Maio de Arte Moderna de Paris. Francisco Bores começa a etapa denominada “maneira branca”. Pablo Palazuelo inicia sua releitura do Construtivismo e começa a se interessar pelo pitagórico e esotérico. Manolo Millares funda em Las Palmas de Gran Canaria o grupo canário LADAC (Os arqueiros da arte contemporânea). José Guerrero, já residente em Nova York, produz suas primeiras obras abstratas, relendo e transformando o legado do Expressionismo Abstrato norte-americano e motivando novas narrativas na evolução da arte abstrata. 42 PICASSO 1951 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Picasso produz Massacre na Coreia, como protesto contra a guerra e a política externa neoimperialista. A I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo é realizada no antigo edifício do Trianon, à Avenida Paulista, um espaço que atinge aproximadamente 5 mil m2. São trazidos artistas internacionais, dentre eles: Max Bill, Pablo Picasso, Alberto Giacometti, René Magritte e George Grosz. É apresentada, também, a produção nacional, representada por Lasar Segall, Candido Portinari, Victor Brecheret, Oswaldo Goeldi, Di Cavalcanti, entre outros. A premiação concedida à escultura Unidade tripartida, de Max Bill, e à tela Formas, de Ivan Serpa, demonstra as novas tendências construtivas. Dalí apresenta em Paris o Manifesto Místico. Chillida produz em novembro a primeira peça em ferro, Illarik, definindo os parâmetros estéticos de sua obra futura: tendência à abstração concreta, fidelidade à cultura vernacular e suporte filosófico. 43 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1952 ESPANHA BRASIL Pablo Palazuelo recebe o Prêmio Kandinsky. Tápies expõe na Bienal de Veneza. Antonio Saura apresenta, na livraria Buchholz de Madri, pinturas oníricas e surrealistas. 44 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1953 ESPANHA BRASIL A II Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo é conhecida como a “Bienal da Guernica”, por ser o evento que consegue trazer Guernica, de Pablo Picasso, ao Brasil – um dos maiores acontecimentos do cenário artístico nacional até aquele momento. A segunda edição transforma a ideia das bienais brasileiras em algo consolidado e reconhecido internacionalmente. Ocorre no Parque Ibirapuera, recém-inaugurado por ocasião das Comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo. A mostra conta também com trabalhos de Constantin Brancusi, de Giorgio Morandi e de obras dos futuristas italianos, além de outros grandes nomes da arte moderna internacional. Eliseu Visconti, falecido em 1944, é homenageado com uma sala especial, em que são apresentadas 37 de suas mais importantes obras. Antoni Tàpies ingressa no informalismo e na “arte outra”. Realiza suas primeiras pesquisas em “arte matérica”. Obtém o Grande Prêmio de Pintura da Bienal de São Paulo. José Val del Omar começa a produzir o Tríptico elementar de Espanha, principal manifestação de sua concepção cinematográfica particular sobre “a fronteira entre a realidade e o mistério”. Acontece o Congresso e Exposição de Arte Abstrata em Santander. Em Las Palmas de Gran Canaria, Martín Chirino e Manolo Millares começam um intenso período de trabalho, no qual ambos tentarão unir o afã de vanguarda com as raízes da cultura aborígene de sua terra natal. Realiza-se a Semana de Arte Abstrata de Santander. Antonio Saura afasta-se do Surrealismo e dá início à sua obra experimental. James Johnson Sweeney faz a curadoria para o Guggenheim Museum de Nova York da mostra Jovens artistas espanhóis. No conjunto de uma retrospectiva sobre Picasso, e procedente de Nova York e Milão, Guernica é exposto no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no momento em que se realizava a II Bienal de Arte. 45 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1954 ESPANHA BRASIL Picasso inicia um intenso, decisivo e já conclusivo diálogo com a obra de Delacroix, Manet e Velázquez. 46 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1955 ESPANHA BRASIL Antonio López, depois de sua viagem para a Itália, começa a elaborar sua poética do Realismo contemporâneo. A III Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo traz 46 trabalhos de Sophie Taeuber-Arp e 44 gravuras dos muralistas mexicanos. Tem como convidado de honra Lasar Segall, em sala especial com 18 pinturas do período entre 1936 e 1954, e também com 13 esculturas. Acontece em Barcelona a 3ª Bienal Hispano-americana. Ángel Ferrant começa a desenvolver esculturas líricas vinculadas ao informalismo. 47 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1956 ESPANHA BRASIL É criado em Valencia o Grupo Parpalló, manifestação plástica da arte cinética. Picasso retoma o tema das banhistas na pintura e escultura. Tàpies começa a se interessar pelo conceito de “comunicação no muro”, pelo grafite e pela escrita. 48 PICASSO 1957 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Na IV Bienal, o rigor do júri de seleção, formado por Lourival Gomes Machado, José Geraldo Vieira, Lívio Abramo, Armando Ferrari e Flávio de Aquino, exclui diversos nomes consagrados ou emergentes da arte brasileira, o que gera grande revolta entre os artistas. O grande destaque é a mostra do pintor-referência do Expressionismo Abstrato norte-americano, Jackson Pollock. São 34 telas e 29 desenhos que apresentam parte da obra do artista. Jorge Oteiza é premiado na IV Bienal de São Paulo por seu conjunto escultórico Propósito experimental. Antoni Tàpies promove a exposição Arte Outra, aprofunda-se na sua relação com a “arte matérica” e antecipa soluções da “arte pobre”. Esteban Vicente trabalha o collage, mas pela perspectiva do pictórico. É criado o grupo Equipo 57, em prol de uma Arte Abstrata Geométrica Radical, e é definido o conceito de interatividade do espaço plástico. É criado em Madri o grupo El Paso, introdutor das premissas do Informalismo e do Expressionismo Abstrato. Em Barcelona acontece a exposição A outra arte, colocando a origem de uma nova sensibilidade na transição da arte moderna à arte contemporânea. 49 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1958 ESPANHA BRASIL José Guerrero, conhecedor da psicanálise, realiza na galeria Betty Parsons uma mostra intitulada A presença do negro. O MAM-SP, instituição responsável pela organização das bienais, transfere-se para o atual Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera. Antonio Saura produz seus primeiros “retratos imaginários”, nos quais desenvolve a sensibilidade expressionista e dramática, fazendo uma releitura do informalismo, da pintura americana, do Picasso de Guernica e de aspectos da Espanha Negra. Eduardo Chillida ganha o Grande Prêmio de Escultura da Bienal de Veneza. Jorge Oteiza escreve Lei de mudanças. Pablo Palazuelo recebe o prêmio Carnegie. 50 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1959 ESPANHA BRASIL Picasso reinterpreta com sua obra a grande pintura da tradição europeia dos séculos XVI a XIX. A V Bienal traz como novidade, segundo o crítico Mário Pedrosa, a “ofensiva tachista e informal”. Nesse momento, tambémé inaugurada uma área para teatro, que passaa dividir o espaço com as mostras de filmes, com as artes plásticas e com a arquitetura. 51 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1960 ESPANHA BRASIL O MOMA organiza a primeira exposição dedicada à arte moderna espanhola, Nova pintura e escultura espanhola. O Guggenheim Museum realiza a exposição Antes de Picasso, depois de Miró, com a curadoria de James Johnson Sweeney. O grupo El Paso se dissolve. Martín Chirino começa a utilizar o motivo formal mais recorrente de sua escultura abstrata: a espiral. Jorge Oteiza publica O fim da arte contemporânea, onde expõe as razões pelas quais abandona a escultura. Millares converte no centro de sua obra a associação da serapilheira com a mortalha, a ideia da morte material do homem e suas reminiscências (tumbas e sepulcros). Antonio Saura abandona o uso exclusivo do branco e preto na pintura a óleo e inicia diversas séries de caráter acumulativo e repetitivo sobre papel. 52 PICASSO 1961 E A MODERNIDADE ESPANHOLA ESPANHA BRASIL Acontece em Valencia a exposição Arte Normativa, do grupo Parpalló. Na VI Bienal, a curadoria de Mário Pedrosa agrega obras contemporâneas, tais como a de Kurt Schwitters, com retrospectivas históricas, como a de Alfredo Volpi. A ampliação da participação nacional e a maior representação de obras de caráter histórico valem uma série de críticas ao evento. 53 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1962 ESPANHA BRASIL Chillida produz seu primeiro relevo em mármore. É criada a Fundação Bienal de São Paulo, o que marca o desligamento do MAM-SP da organização das edições das bienais. Dissolve-se o grupo Equipo 57. 54 PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA 1963 ESPANHA BRASIL Picasso produz a série O pintor e a modelo. Doação das coleções particulares de Yolanda Penteado e de Ciccillo Matarazzo, além das obras que integravam o acervo do MAM-SP, para a Universidade de São Paulo. O MAM-SP é extinto. A partir da luta de alguns de seus sócios, liderados por Arnaldo Pedroso D’Horta, a instituição viria a se estruturar novamente em 1967. O acervo do novo museu é criado com a doação de obras de artistas modernos brasileiros, da coleção de Carlos Tamagni. Em 1969, o MAM-SP viria a promover a mostra Panorama de Arte Atual Brasileira, em sua sede no antigo pavilhão Bahia, na marquise do Parque Ibirapuera, local que ocupa até hoje. Eduardo Chillida começa a trabalhar o conceito de “limite” em sua obra. A partir das coleções de Yolanda, Ciccillo e do antigo MAM, a Universidade cria o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo MAC-USP, atualmente com sede no Parque Ibirapuera. 55