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INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
FACULDADES UNIDAS DO NORTE DE MINAS – FUNORTE
ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL – SOEBRÁS
REABSORÇÃO RADICULAR NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO
LAISA ALVES TAVARES
GOVERNADOR VALADARES
2013
1
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
FACULDADES UNIDAS DO NORTE DE MINAS – FUNORTE
ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL – SOEBRÁS
REABSORÇÃO RADICULAR NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO
Laisa Alves Tavares
Monografia apresentada ao Curso de
Especialização
em
Ortodontia
–
FUNORTE/SOEBRÁS – Núcleo de
Governador Valadares, como parte dos
requisitos para obtenção do Título de
Especialista
em
Ortodontia,
sob
orientação do professor: Denis Cesar
Emerick.
GOVERNADOR VALADARES
2013
2
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
FACULDADES UNIDAS DO NORTE DE MINAS – FUNORTE
ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL – SOEBRÁS
REABSORÇÃO RADICULAR NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ortodontia –
FUNORTE/SOEBRÁS – Núcleo de Governador Valadares, como parte dos
requisitos para obtenção do Título de Especialista em Ortodontia, para a banca
examinadora constituída pelos professores:
________________________________________________
Professor orientador: Denis Cesar Emerick
________________________________________________
________________________________________________
GOVERNADOR VALADARES
2013
3
DEDICATÓRIA
A Deus,
“Razão de tudo o que somos e que fazemos”.
Aos meus pais,
“Pelo amor, carinho, compreensão e exemplo de vida. São a razão de minha
existência”.
Ao meu filho Caio,
“Com o meu amor; e que sirva de estimulo em sua vida”.
Aos meus amigos,
“São pessoas tão queridas e especiais, que seria impossível ter feito alguma coisa
sem eles”.
“Obrigada por fazerem parte do meu mundo”.
4
AGRADECIMENTOS
Aos professores do Curso de Especialização em Ortodontia da Funorte, pelos
generosos ensinamentos, contribuição de inestimável valor em minha vida
profissional e pela amizade.
À professora Janaina Gomes, pela ajuda neste trabalho, pela dedicação, apoio,
incentivo e competência.
Em especial ao professor Denis Cesar Emerick pelo incentivo, pelos ensinamentos
que me foram transmitidos, pela presteza no auxilio, as atividades e discussões
sobre o andamento, normatização e orientação desta monografia, dedico minha
admiração e respeito.
Aos amigos do curso pela convivência e aprendizado mútuo; pelas alegrias, tristezas
e sufocos que passamos juntos.
A minha família pela paciência em tolerar a minha ausência.
Às funcionárias, Alexandra, Suzana, Vanice e Luciene, pela atenção e pelos
serviços prestados.
E, finalmente a DEUS pela oportunidade e pelo privilégio que me foi concedido em
compartilhar tamanha experiência, que iluminou o meu caminho durante esta
caminhada.
5
“Se eu pudesse deixar algum presente a
você, deixaria aceso o sentimento de amor aos seres humanos; a consciência de
aprender tudo o que nos foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros
cometidos como sinais para que não mais se repetissem, lembraria a capacidade de
escolher novos rumos. Deixaria para você se pudesse o respeito àquilo que é
indispensável, além do pão, o trabalho e a ação, E quando tudo mais faltasse para
você, eu deixaria se pudesse um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a
resposta e a força para encontrar a saída”.
(Gandhi)
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Classificação das Reabsorções Radiculares. Fonte: (CONSOLARO,
2002). Pag. 13
Figura 2 – Formas Radiculares. Levander e Malmgren sugerem como fator de risco
a forma atípica de raiz. Fonte: (CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO, 1998). Pag. 17
Figura 3 – Morfologia da crista óssea alveolar retangular (A) e triangular (B). Fonte:
(REGO et. al, 2004). Pag. 18
Figura 4 – Radiografias periapicais técnica do paralelismo dos incisivos superiores e
inferiores. Fonte: (CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO, 1998). Pag.21
Figura 5 - Radiografias periapicais iniciais (A) e 06 meses de mecânica (B).
Interrupção do tratamento no arco superior. Fonte: (CAPELOZZA FILHO, SILVA
FILHO, 1998). Pag. 23
GRÁFICO 1 - Ciclo da movimentação dentária induzida por forças leves, proposto
por (REITAN, 1957). Pag. 15
GRÁFICO 2 - Ciclo da movimentação dentária induzida por forças pesadas,
proposto por (REITAN, 1957). Pag. 15
7
RESUMO
A Reabsorção Radicular decorrente do tratamento ortodôntico corretivo é
frequentemente encontrada na quase totalidade dos casos. Neste trabalho
observou-se que em pacientes tratados ortodonticamente a reabsorção radicular
pode estar relacionada a fatores como a magnitude da força empregada, anatomia
radicular, idade, hereditariedade, entre outros. Embora preocupante, a reabsorção
radicular não é, por si, um fator que contra indique os tratamentos ortodônticos, uma
vez que pode ser monitorada preventivamente e minimizada pelo clínico ao longo da
terapia ortodôntica. Dentro dessa avaliação o profissional determinará a melhor
conduta a ser tomada durante o tratamento.
Palavras-chave: Reabsorção Radicular, Tratamento Ortodôntico, Ortodontia.
8
ABSTRACT
The root resorption due to orthodontic treatment is often found in almost
all cases. On this research it was observed that in patients orthodontically treated,
the root resorption can be related to factors as anatomy of roots, age and heredity.
Although worrying, the root resorption is not for its self a factor that won´t indicate
orthodontic treatment, once it can be preventively monitorized and minimized by the
clinic with orthodontics therapy. Within this evaluation the professional will
determinate the best conduct to be taken during the treatment.
Keywords: root resorption, orthodontic treatment, orthodontics.
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 11
2.1 Etiopatogenia da reabsorção radicular ........................................................... 14
2.1.1 Magnitude da força ........................................................................................... 14
2.1.2 Intervalo de aplicação da força ......................................................................... 14
2.1.3 Natureza da força ............................................................................................. 15
2.1.4 Morfologia radicular .......................................................................................... 16
2.1.5 Morfologia da crista óssea alveolar .................................................................. 17
2.1.6 Traumatismo dentário....................................................................................... 18
2.1.7 Hereditariedade ................................................................................................ 19
2.2 Avaliação radiográfica ...................................................................................... 21
2.3 Tratamento ......................................................................................................... 22
3 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 25
CONCLUSÕES ......................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 28
10
1 INTRODUÇÃO
A Reabsorção radicular no tratamento ortodôntico é um assunto bastante
discutido e ainda constitui um enigma para os ortodontistas, se tornando um desafio
em sua prática clinica.
Vários fatores têm sido relacionados na etiologia desse processo
indesejável e irreversível, destacando-se, entre eles, a hereditariedade, idade,
estado de saúde, gravidade da má oclusão, natureza da força usada, tempo de
tratamento, trauma prévio, intervalo de aplicação de força, forma da raiz e da crista
alveolar e magnitude da força usada. Estes fatores serão analisados no presente
trabalho, através de revisão da literatura, correlacionando a reabsorção das raízes
dentárias com o tratamento ortodôntico.
O diagnóstico precoce e preciso da reabsorção, se faz necessário diante
do prejuízo que esse fenômeno causa a estrutura dental.
Assim, torna-se importante conhecer e empregar de maneira sábia as
condutas clínicas adequadas no sentido de prevenir ou minimizar tais ocorrências.
Este estudo objetiva realizar uma revisão de literatura mostrando as
causas inerentes à reabsorção radicular decorrente do tratamento ortodôntico, bem
como apresentar diferentes métodos de tratamento em cada nível de reabsorção
radicular.
11
2 REVISÃO DE LITERATURA
A Reabsorção radicular é um fenômeno bastante estudado e discutido na
ortodontia, mas, provoca ainda, muitas controvérsias entre estudiosos quanto aos
fatores relacionados ao seu surgimento e também quanto aos cuidados requeridos
nos tratamentos ortodônticos, como por exemplo, a quantidade ideal de força a ser
utilizada, a mecânica escolhida e os cuidados após a detecção da reabsorção
(CALLILE MARINHO, 2000).
Bate (1856) foi o pioneiro a evidenciar a reabsorção radicular,
relacionando-a ao trauma do ligamento periodontal. Posteriormente, Ottolengli
(1914) relatou a existência de uma peculiaridade na reabsorção radicular provocada
pelo movimento ortodôntico, a polpa permanece viva enquanto as raízes são
reabsorvidas.
Atualmente sabe-se que a reabsorção radicular acomete a maioria
(90,5%)
dos
dentes
permanentes
tratados
ortodonticamente,
com
lesões
microscópicas (0,73 mm de largura e 0, 10 mm de profundidade) que são quase
sempre reparadas. Apesar de apresentarem magnitude variável e
serem
imprevisíveis, na maioria dos casos, as reduções do comprimento radicular são
pequenas e não chegam a comprometer a função e longevidade dos elementos
dentários envolvidos. No entanto, diante de reabsorções moderadas a extremas,
tem-se adotado condutas clínicas baseando-se nos fatores de risco e na magnitude
das reabsorções (SILVA FILHO, 1997).
As pesquisas em humanos e animais demonstram que a hialinização
periodontal, com a formação de uma zona degenerada e acelular (zona de necrose
estéril) resultante da compressão do ligamento periodontal e de seus componentes,
com consequente redução do suporte nutricional, precede o processo de reabsorção
radicular durante o tratamento ortodôntico (Reitan, 1957; Reitan, 1964; Kvan, 1972).
Esta reabsorção estaria ligada à extensão e tempo de presença da área de
hialinização (Rygh, 1977). Ainda segundo Rygh (1977), três estágios são descritos
nessas áreas de hialinização: degeneração, eliminação dos tecidos destruídos e
12
reparação. A fase de eliminação dos tecidos destruídos tem relação direta com o
processo de reabsorção radicular (Brudvik, 1995; Rygh, 1995).
As forças ortodônticas aplicadas ao dente transformam-se em estresse
biológico no ligamento periodontal, agindo igual e simultaneamente sobre o osso
alveolar e sobre o cemento radicular. Se esses tecidos, osso e cemento,
apresentassem comportamento biológico similar, ambos deveriam ser igualmente
reabsorvidos durante a movimentação dentária (Capelozza Filho, Silva Filho, 1998).
Visto que o cemento é mais resistente à reabsorção, as forças ortodônticas induzem
remodelação óssea, com conseqüente movimentação dentária e reabsorção
radicular insignificante do ponto de vista clínico. Este é o princípio fundamental da
Ortodontia.
Roberts et al (2000) relatou que a alta resistência à reabsorção das
superfícies radiculares tem sido relacionada à camada de pré-cemento e
cementoblastos que recobrem toda a extensão do cemento.
A reabsorção radicular ocorre apenas quando os cementoblastos
desaparecem da superfície do cemento. Na movimentação dentária induzida, os
cementoblastos podem morrer quando a força aplicada sobre o dente comprimir de
tal forma os vasos sanguíneos do ligamento periodontal naquela região que suas
células entram em necrose ou migram. Dessa forma, a superfície radicular,
desprotegida pela ausência dos cementoblastos, pode ser ocupada por células
clásticas, osteoblásticas e macrófagos advindos do osso vizinho e estas
organizarem as unidades osteorremodeladoras, dando inicio à reabsorção radicular
associada ao movimento ortodôntico (Consolaro, 2002).
Esse processo é caracterizado pelo encurtamento da raiz, que se não
diagnosticado com precisão pode causar danos, incluindo a perda do dente (CAMBI
et al, 2002).
Os cementoblastos, ao contrário dos osteoblastos, não possuem
receptores para mediadores sistêmicos, como prostraglandinas, leucotrienos,
interleucinas I, II e VI, IGF e fator de crescimento tumoral (TNF), que são
acumulados nas áreas de compressão do ligamento periodontal contra o osso
alveolar. Além disso, os cementoblastos não têm receptores para os hormônios que
aceleram ou diminuem o processo contínuo da remodelação óssea, como o
paratormônio e a calcitonina, respectivamente. Pode-se dizer, portanto, que os
13
cementoblastos são “surdos” para os mediadores da reabsorção óssea, atuando
como “guardiões da integridade da raiz” (CONSOLARO, 2002).
Apesar da existência de uma barreira biológica protetora, a reabsorção de
cemento e dentina também podem ocorrer.
Classificação da reabsorção radicular
Segundo Consolaro (2002), a classificação que predomina nos vários
trabalhos
e
casuísticas
pertinentes
ao
assunto,
provavelmente
pela
sua
aplicabilidade imediata e facilidade de interpretação é a Classificação de Malmgren
et al, dividindo-se em 4 graus de magnitude, que são.

Grau 1: Contorno apical irregular ou Reabsorção mínima.

Grau 2: Reabsorção apical com menos de 2mm de redução do
comprimento radicular ou Reabsorção moderada.

Grau 3: Reabsorção apical com mais de 2mm a 1/3 de redução do
comprimento da raiz original ou Reabsorção severa.

Grau 4: Reabsorção apical com redução maior que 1/3 do
comprimento da raiz original ou Reabsorção extrema.
Figura 1 – Classificação estabelecida por Malmgrem et al. Fonte: (CONSOLARO,
2002)
Diante de cada nível de reabsorção encontrado, os autores procuraram
estabelecer uma conduta clínica individual, visando minimizar o custo biológico da
mecanoterapia.
14
2.1 Etiopatogenia da reabsorção radicular
Existem várias causas para a reabsorção radicular, sendo que as mais
citadas podem ser divididas em: Variáveis Mecânicas (magnitude da força, intervalo
de aplicação da força e natureza da força) e Variáveis Biológicas (morfologia
radicular, morfologia da crista alveolar), traumatismo dentário e hereditariedade.
2.1.1 Magnitude da força
A indicação clássica quanto à magnitude de força em ortodontia é: força
leve! (Silva Filho; Capelozza Filho, 1998). Força leve é definida como uma força
apenas suficiente para aumentar a atividade celular nos tecidos circundantes ao
elemento dentário e permitir movimento, reduzindo o risco de reabsorção radicular.
A força considerada como ótima é aquela capaz de movimentar o dente
com reduzido custo biológico, sem dano às estruturas de suporte, com velocidade
média e sem sintomatologia dolorosa. Essa força deveria ser menor ou igual à
pressão capilar sanguínea (20 a 26g/cm2). A aplicação de forças leves promoveria
uma movimentação dentária com custo biológico reduzido, com formação de
pequenas áreas de hialinização, reabsorção óssea frontal ou direta e ausência de
cementoclasia. (THIESEN et al, 2004).
2.1.2 Intervalo de aplicação da força
O intervalo de aplicação da força parece ser fator mais importante em
relação à reabsorção radicular que a magnitude de força.
A força ortodôntica gera uma pressão no ligamento periodontal, com
formação de áreas de hialinização, que podem apresentar extensões variáveis. Toda
vez que o Ortodontista menosprezar a resposta metabólica individual, estará
comprometendo a integridade da estrutura dentaria durante a movimentação
ortodôntica. Os controles ortodônticos para a realização de forças devem ser
realizados, em media a cada 03 semanas. Portanto, em uma situação de risco
aumentado à reabsorção radicular, pode-se ampliar o intervalo de aplicação de
forças como medida preventiva. (CALLILE MARINHO, MAIA NOEL, 2000).
15
Gráfico 1 - Ciclo da movimentação dentária induzida por forças leves, proposto por
Reitan (1957).
Gráfico 2 - Ciclo da movimentação dentária induzida por forças pesadas, proposto
por Reitan (1957).
2.1.3 Natureza da força
Quanto à natureza, as forças podem ser classificadas em contínuas,
intermitentes e interrompidas (dissipantes). A força contínua seria expressa através
de uma carga de valor constante que agiria sobre o dente ou grupo de dentes
durante todo o tempo. Estudos recentes demonstraram que é muito difícil conseguir
a aplicação de forças verdadeiramente contínuas clinicamente, visto que sempre há
16
uma redução da magnitude da força inicial à medida que o dente se movimenta. A
força intermitente poderia ser definida como uma força contínua, interrompida por
períodos de repouso e que estaria associada constantemente aos aparelhos móveis
e a alguns auxiliares ao tratamento com aparelhos fixos, como os elásticos
intermaxilares. Essa força geralmente promove movimentos de vai-e-vem, sem um
período ideal de repouso para o ciclo metabólico da movimentação, o que poderia
implicar em reabsorções radiculares mais frequentes (CAPELOZZA FILHO, SILVA
FILHO, 1998).
As forças dissipantes diminuem de magnitude durante a movimentação
dentária, devido ao próprio movimento do dente e à deformação do sistema
mecânico. Desta maneira, as alterações no ligamento periodontal são observadas
apenas no estágio inicial da mecânica, visto que a força vai diminuindo de
intensidade até atingir uma magnitude inócua ao ligamento periodontal (THIESEN et
al, 2004).
2.1.4 Morfologia radicular
As raízes podem ser classificadas quanto à forma geométrica em
romboidal, triangular e retangulares (Cho et al., 1991) (Figura 2). Levander,
Malmgren (1988), descreveram as formas atípicas de raiz que constituem fatores de
risco à reabsorção durante o tratamento ortodôntico. Dentre os diferentes tipos
morfológicos, as raízes triangulares, as raízes em forma de pipeta e as raízes
tortuosas propiciam uma maior concentração da força por área do ligamento
periodontal na região apical, possibilitando que lesões na camada cementoblástica
ocorram com maior freqüência e gravidade, o que implicará em uma redução do
comprimento dentário (CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO, 1998, CONSOLARO,
2002).
Na raiz retangular, a força dissipa-se melhor na estrutura dentária, no
ligamento periodontal e na estrutura óssea vizinha, acarretando menor chance de
reabsorção radicular (CONSOLARO, 2002).
17
A
B
C
D
Figura 2 - Levander e Malmgren, 1988, sugerem como fator de risco a forma atípica
de raiz. No esquema: A) raiz curta, B) raiz abaulada, C) raiz tortuosa, D) raiz em
forma de pipeta.
2.1.5 Morfologia da crista óssea alveolar
Um aspecto local extremamente importante para o entendimento das
respostas biológicas individuais frente às cargas ortodônticas é a morfologia da
18
crista óssea alveolar, que, geralmente, pode ser triangular, retangular ou rombóide
(CONSOLARO, 2002) (Figura 3).
Nas cristas ósseas alveolares triangulares, a deflexão óssea é maior e a
força dissipa-se mais uniformemente diminuindo a chance de lesar os tecidos
periodontais e, especialmente, a camada cementoblástica. Na movimentação de
dentes com cristas ósseas retangulares, a dissipação de forças será menor, pois a
deflexão óssea apresenta-se diminuída. As cristas ósseas alveolares rombóides
dissipam estas forças de forma intermediária (REGO et. al, 2004)
A
B
Figura 3 - Morfologia da crista óssea alveolar retangular (A) e triangular (B).
Fonte: (REGO et. al, 2004).
2.1.6 Traumatismo dentário
Os dentes traumatizados apresentam uma predisposição especial para a
reabsorção radicular espontânea, ou seja, sem o tratamento ortodôntico. Esta
predisposição à reabsorção radicular guarda relação direta com a gravidade do
traumatismo do periodonto (Malmgren et al., 1982).
Estudos comparativos, entre dentes traumatizados e não traumatizados,
demonstraram que os primeiros são mais susceptíveis à reabsorção radicular
durante a movimentação dentária induzida. Segundo Malmgren et al. (1982), os
traumatismos dentários provocam danos ao ligamento periodontal e ao cemento,
aumentando o risco de reabsorção radicular. No entanto, dentes com traumatismos
19
leves ou moderados e com ligamento periodontal intacto, após um período de cinco
a seis meses, podem ser movimentados ortodonticamente com um prognóstico
comparável, em relação à reabsorção radicular, aos dentes que não sofreram
traumas. (REGO et. al, 2004)
Apesar de os dentes traumatizados apresentarem um maior risco de
reabsorção, não se contraindica o tratamento ortodôntico, desde que o mesmo tenha
um planejamento e controle especial. (THIESEN et al, 2004).
Segundo THIESEN et al, 2004, os cuidados devem ser:
-Traumatismos leves e moderados: aguardar um período de observação
de 3/4 meses após o qual, se as condições periodontais forem de completa
normalidade, poderá planejar e aplicar forças visando à movimentação ortodôntica.
-Traumatismos severos (avulsões e luxações): aguardar um período de
01 ano após o qual se restabelecidas as condições de normalidade periodontal
clínica e radiograficamente, poderá movimentar o dente envolvido.
-Fraturas radiculares: deve-se proceder a observação da evolução do
caso por um período de 02 anos, após o reparo completo e a volta à normalidade
clínica e radiográfica das estruturas periodontais, poderá submeter o dente à
movimentação dentária..
2.1.7 Hereditariedade
A genética parece influenciar, de um modo ainda não claramente definido,
a reabsorção radicular. Alguns estudos sugerem uma participação mais efetiva do
componente genético no encurtamento radicular.
Apesar de nenhuma conclusão definitiva ter sido encontrada, os seguintes
mecanismos de hereditariedade são possíveis: modo autossômico dominante, modo
autossômico recessivo e modo poligênico. (CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO,
1998).
Todos os trabalhos que procuraram estabelecer a suscetibilidade ou
predisposição genética e hereditária à reabsorção radicular ou não conseguiram
obter essa correlação ou apresentam falhas metodológicas que comprometem os
seus resultados (Consolaro, 2002). Destarte, a maior ou menor suscetibilidade ou
predisposição relaciona-se a fatores locais individuais, como a forma da raiz e da
20
crista óssea alveolar, e não existe evidência de que algum fator genético possa
diretamente favorecer a instalação de reabsorção em alguns pacientes.
21
2.2 Avaliação radiográfica
Ketcham (1927) foi o primeiro a comprovar radiograficamente a relação
da reabsorção apical com o tratamento ortodôntico. O emprego de radiografias
periapicais tem sido o método de escolha para a avaliação da reabsorção radicular
apical provocada pelo tratamento ortodôntico. Isto se deve à relação custo beneficio
do método, em detrimento às radiografias em norma lateral ou mesmo às
panorâmicas, que apresentam um resultado e uma confiabilidade inferiores, como
também em detrimento às tomografias que, apesar de apresentarem resultados
fidedignos, consiste em um custo elevado, além de exporem o paciente um maior
nível de radiação.
A classificação da morfologia radicular a partir de radiografias
panorâmicas revela uma diferença significante das radiografias periapicais. As
dilacerações radiculares e outras formas anormais claramente visíveis nas
radiografias periapicais aparecem frequentemente com um formato radicular normal
nas panorâmicas. Torna-se claro então que a avaliação da forma radicular nas
radiografias panorâmicas é impraticável. (CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO, 1998).
Indica-se rotineiramente que sejam realizadas radiografias periapicais dos
incisivos superiores e inferiores em pacientes adolescentes e uma série radiográfica
periapical completa em adultos como conduta preventiva habitual, previamente ao
inicio do tratamento. Uma vez que o tratamento tenha sido iniciado, recomenda-se
que sejam feitas radiografias periapicais dos incisivos inferiores e superiores a cada
06 meses, para controle do custo biológico da mecanoterapia. (CALLILE MARINHO,
MAIA NOEL, 2000).
A técnica periapical do paralelismo é a técnica radiográfica que apresenta
a relação risco beneficio mais favorável para detecção e avaliação da reabsorção
radicular apical. Essa técnica fornece o tipo de informação mais adequada, com uma
menor quantidade de radiação para o paciente. (CONSOLARO, 2002).
22
A
A
B
B
Figura 4 - Radiografias periapicais técnica do paralelismo dos incisivos superiores e
inferiores (A) antes de iniciar a mecanoterapia e (B) com 06 meses de mecânica. As
radiografias periapicais de controle (B) dão sinal verde para a execução do
planejamento elaborado. Fonte: (CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO, 1998).
2.3 Tratamento
Durante o tratamento ortodôntico, deve-se reavaliar radiograficamente se
houve ou não reabsorções significantes após 6 meses do inicio do tratamento. Ao
detectar-se uma reabsorção moderada (menor ou igual a 2mm), tem-se um risco
regular de reabsorção severa e risco pequeno de reabsorção extrema ao final do
tratamento.
23
Nesses casos, recomenda-se um período de repouso (fio passivo,
mecânica estabilizada) de 60 a 90 dias, e deve-se comunicar-se a susceptibilidade
ao paciente. Reavaliar anamnese se o paciente não era de risco e procurar fatos
novos de ordem geral (doença, medicamentos, etc.). Seguir o tratamento após estas
providências com maior intervalo de aplicação de força e maior atenção a fatores
locais de risco. Repetir controle radiográfico depois de 90 dias (CAPELOZZA FILHO,
SILVA FILHO, 1998).
Diante das reabsorções severas (>2mm <1/3 de raiz), existe um alto risco
de reabsorções extremas no final do tratamento. Por isso recomenda-se um
descanso obrigatório de 90 dias (fio passivo, mecânica estabilizada); realização de
uma serie de radiografias periapicais completas para avaliação dos outros dentes,
além dos incisivos; reavaliação da anamnese e dos fatores de risco existente no
inicio do tratamento; interrupção do tratamento ou discussão e alterações dos
objetivos iniciais, simplificando e reduzindo, consequentemente, o tempo e a
quantidade de mecânica; além de manter controle radiográfico a cada 90 dias
(CAPELOZZA FILHO, SILVA FILHO, 1998).
Nos casos de reabsorções extremas (>1/3 da raiz), recomenda-se um
descanso obrigatório de 90 dias (fio atual tornado passivo e mecânica estabilizada).
Fazer radiografias periapicais para checar demais dentes. Comunicar ao paciente a
grande susceptibilidade. Reavaliar na anamnese se o paciente não era de risco e
analisar fatos novos de ordem geral (doença, medicamentos, etc.). Adotar
obrigatoriamente a interrupção ou simplificação do tratamento. (CAPELOZZA FILHO,
SILVA FILHO, 1998).
A
A
24
B
B
Figura 5 - Radiografias periapicais iniciais (A) e 06 meses de mecânica (B).
Interrupção do tratamento no arco superior. Fonte: (CAPELOZZA FILHO, SILVA
FILHO, 1998).
25
3 DISCUSSÃO
A reabsorção radicular é uma consequência inevitável e, às vezes
irreversível do tratamento ortodôntico (Silva Filho et al., 1993); fatores etiológicos
como a susceptibilidade individual, predisposição hereditária, fatores locais,
sistêmicos, anatômicos, idiopáticos, e o tratamento ortodôntico são comumente
citados na literatura.
A maioria das reabsorções radiculares decorrentes do tratamento
ortodôntico não compromete a longevidade nem a capacidade funcional dos dentes
envolvidos (SILVA FILHO et al., 1993).
Quanto à magnitude da força, Capelozza & Silva, 1998; Consolaro, 2002;
Reitan, 1957, concordam que o importante é distribuir bem as forças ao longo da
raiz e estrutura óssea, que a força aplicada deve ser leve e intermitente e depende
de variáveis como movimento a ser executado, área total da raiz envolvida e
características do periodonto de sustentação e proteção, e o mais importante é que
não se deve aplicar forças pesadas que possam diminuir o aporte sanguíneo,
criando áreas de hialinização que precedem a reabsorção.
Consolaro, 2001, 2002 e 2004, concorda que dentes traumatizados
podem apresentar lesão na camada cementoblástica que protege a raiz e essa
camada pode ser substituída por osteoblastos que possuem receptores de superfície
para mediadores locais de reabsorção, o que levará à reabsorção na movimentação
ortodôntica. O autor, ainda relata a necessidade de uma boa anamnese, avaliando
tratamentos e traumas anteriores, endocrinopatias, história familiar e outros
aspectos relacionados. Há também a necessidade de uma boa documentação
ortodôntica inicial e radiografias periapicais de 6 em 6 meses, durante o tratamento.
Segundo Capelozza & Silva, 1998, se a reabsorção apical for detectada
deve-se haver suspensão das forças, mantendo o fio passivo por um período de 60
a 90 dias para que haja reorganização celular e eliminação dos tecidos necróticos.
Já se a reabsorção extrema for encontrada deve-se adotar a interrupção ou
simplificação do tratamento. Consolaro, 2002, concorda e afirma que o tratamento
para reabsorção na movimentação ortodôntica não consiste em endodontia ou uso
de hidróxido de cálcio, mas sim na remoção da força aplicada.
26
CONCLUSÕES
Diante do estudo das variáveis mecânicas e biológicas relacionadas ao
processo de reabsorção radicular consequente do tratamento ortodôntico, baseado
em evidências científicas, podemos concluir que:
1) A reabsorção radicular pode ocorrer independentemente da presença ou ausência
de aparelho ortodôntico;
2) As reabsorções radiculares relacionadas com a movimentação dentária induzida
fazem parte do custo biológico do tratamento ortodôntico, mas não deve ser
considerada normal, e sim clinicamente aceitável;
3) Alguns fatores podem desencadear a reabsorção radicular durante o tratamento
ortodôntico, como: estado de saúde dos dentes e periodonto, magnitude da força
ortodôntica aplicada aos dentes, intervalo da aplicação de força, natureza da força,
morfologia da raiz dentária e da crista óssea, traumatismos dentários e
hereditariedade, entre outros;
4) O mais importante, não é a intensidade da força e sim a forma como ela é
aplicada. O ideal é que a força seja intermitente, para que se dê tempo para
reorganização celular da superfície radicular e formação óssea;
5) Raízes triangulares com ápices afilados, em forma de pipeta ou com dilaceração,
tendem a apresentar reabsorções maiores e mais precoces, bem como dentes com
raízes curtas. As cristas ósseas retangulares aumentam a possibilidade de
reabsorções radiculares, pois apresentam menor deflexão óssea e concentram
maior força no ligamento periodontal;
6) Fatores como hereditariedade, genética, gênero, distúrbios hormonais, uso de
anticoncepcionais, idade do paciente, tempo de tratamento e tipo de má oclusão
parecem não apresentar relação direta com a reabsorção radicular durante o
tratamento ortodôntico;
7) O traumatismo dentário é um fator de risco para a reabsorção radicular. Dentes
traumatizados devem ser monitorados por um período de aproximadamente seis
meses, para serem incluídos na mecanoterapia;
8) Algumas medidas de prevenção devem ser tomadas para os pacientes
submetidos ao tratamento ortodôntico, tais como: anamnese e exame clínico
criterioso,
documentação
completa
e
acompanhamento
radiográfico
com
27
radiografias periapicais, uso de forças leves, maior intervalo de ativação das forças
ortodônticas, remoção de hábitos deletérios, ajuste oclusal e contenção com
aparelhos passivos;
9) Quando a reabsorção apical for detectada durante o tratamento ortodôntico devese haver suspensão das forças e manter o fio passivo por um período de 60 a 90
dias para que haja reorganização celular e eliminação dos tecidos necróticos. Já se
a reabsorção extrema for encontrada deve-se adotar a interrupção ou simplificação
do tratamento;
10) A magnitude da reabsorção radicular não é totalmente previsível e apresenta
variações individuais, mesmo presente em todos os tratamentos ortodônticos. No
entanto, o processo de reabsorção dentaria cessa após a remoção da força
ortodôntica, não comprometendo a capacidade funcional dos dentes envolvidos.
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