DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO DO ENSINO DA ÁLGEBRA: CONTRIBUTO DE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO1 Neusa Branco Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Santarém Unidade de Investigação do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa [email protected] João Pedro da Ponte Instituto de Educação, Universidade de Lisboa [email protected] Resumo Esta comunicação analisa de que forma a abordagem que orienta uma experiência de formação em Álgebra e no seu ensino, num curso de formação inicial de educadores e professores dos primeiros anos, contribui para a aprendizagem de uma formanda, Alice, de conceitos algébricos e relativamente ao ensino-aprendizagem deste tema. O presente trabalho segue uma metodologia qualitativa, recorrendo a estudos de caso. Os dados são recolhidos por dois questionários com tarefas matemáticas, um no início e outro no final da experiência e três entrevistas. A evolução de Alice é significativa em diversos tópicos algébricos bem como no conhecimento sobre as situações que visam o desenvolvimento do pensamento algébrico e o modo como a abordagem em sala de aula pode potenciar o trabalho dos alunos em questões algébricas. A experiência de formação, ao promover a partilha de estratégias entre os formandos, a ênfase nos seus raciocínios e na justificação, teve um papel importante na sua aprendizagem. Palavras-chave: Formação inicial de professores; Álgebra; Experiência de formação. Introdução A formação inicial de futuros professores dos primeiros anos do ensino básico e de educadores de infância constitui um suporte importante para o modo como mais tarde desempenham a sua atividade profissional, sendo fundamental que os formandos assumam uma perspetiva ampla do ensino e a aprendizagem dos diversos temas matemáticos. Esta comunicação analisa o contributo de uma experiência de formação em Álgebra, na formação inicial de professores dos primeiros anos e educadores, que visa o desenvolvimento do pensamento algébrico e o conhecimento dos aspectos fundamentais respeitantes ao ensino deste tema, para que, futuramente, os possam mobilizar na sua prática. 1 Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Projecto Práticas Profissionais dos Professores de Matemática (contrato PTDC/CPECED/098931/2008). 1- 1 XXII SIEM — 2011 Na experiência de formação são propostas tarefas de carácter exploratório relativas a tópicos como relações, sequências, regularidades, sucessões, funções e modelação matemática e a articulação entre si e com outros temas, tendo em vista promover o desenvolvimento do conhecimento matemático dos formandos. A natureza exploratória das tarefas pretende levá-los a desenvolver o seu conhecimento, aliando o conhecimento algébrico ao conhecimento para ensinar Álgebra. Diversas propostas partem de situações de ensino-aprendizagem, de modo que os formandos tenham oportunidade de: (i) analisar estratégias usadas por alunos; (ii) observar, explorar e relacionar diferentes representações; (iii) compreender que conhecimento os alunos revelam; (iv) identificar as dificuldades dos alunos; e (v) refletir sobre hipóteses de trabalho com os alunos, visando fomentar o desenvolvimento do seu pensamento algébrico. Esta comunicação discute de que forma a abordagem que orienta a experiência de formação contribui para a aprendizagem de uma formanda, Alice, de conceitos algébricos e relativamente ao ensino-aprendizagem da Álgebra. A formação inicial de professores em Álgebra Nos últimos anos, tem ganho cada vez mais força a ideia que o desenvolvimento do pensamento algébrico deve iniciar-se nos primeiros anos de escolaridade (Blanton & Kaput, 2005; Carraher & Schliemann, 2007). Para Canavarro (2007), esta perspetiva promove o “aprofundamento da compreensão da Matemática e do poder desta área do saber” (p. 92). Kaput (2008) considera que o pensamento algébrico integra três vertentes: (i) o estudo de estruturas e sistemas abstractos a partir de cálculos e relações, decorrentes da Aritmética e de raciocínio quantitativo; (ii) o estudo de funções, relações e variação; e (iii) a aplicação de um conjunto de linguagens de modelação, dentro e fora da Matemática. A formação inicial, no que respeita à Álgebra, deve atender a esta perspetiva de modo a proporcionar aos futuros professores experiências de aprendizagem que lhes sustentem as suas decisões para promover a aprendizagem dos seus alunos. Como referem Ponte e Chapman (2008), os futuros professores devem desenvolver a capacidade de integrar o conhecimento dos conteúdos e processos matemáticos e o conhecimento dos alunos a ensinar, de acordo com a sua escolaridade e as orientações curriculares. Segundo estes autores, as estratégias a usar na formação inicial devem procurar promover o desenvolvimento desse conhecimento, “integrando 1- 2 XXII SIEM — 2011 conteúdos e pedagogia e ensinando os futuros professores do mesmo modo que se espera que eles ensinem os seus alunos” (p. 256). A formação inicial em Álgebra deve ter em conta que os formandos, quando forem leccionar, serão colocados perante desafios e exigências relativamente ao pensamento algébrico que, na sua maioria, não experimentaram enquanto alunos. Deste modo, como refere Doer (2004), é necessário, simultaneamente, construir a partir da sua experiência e quebrar o modelo que acompanha essa mesma experiência. Segundo a autora, é na formação inicial que os formandos devem ser chamados a compreender as suas próprias experiências e observações de ensino e a “compreender caminhos alternativos de ação que poderiam ser mais eficazes no desenvolvimento de uma compreensão conceptual da Matemática, para um maior número de alunos” (p. 269). Kaput e Blanton (2001) reconhecem que os professores dos primeiros anos estão inseridos num processo de mudança no ensino-aprendizagem da Álgebra, por terem tido poucas experiências com atividades de generalização e formalização, aspectos que, na sua perspetiva, devem constituir a base do trabalho com os alunos na escola. Neste contexto de mudança, são muitos os desafios que se colocam aos professores a contemplar na sua formação inicial. Canavarro (2007), por exemplo, indica a necessidade de o professor valorizar o raciocínio dos alunos e a importância de selecionar tarefas e promover uma dinâmica de sala de aula conducentes ao desenvolvimento do seu pensamento algébrico. Metodologia de investigação O presente trabalho segue uma metodologia qualitativa, de cunho interpretativo, recorrendo a estudos de caso. O seu propósito é compreender a perspetiva dos participantes, num contexto de formação, assumindo a complexidade deste processo. A investigação é realizada pela primeira autora que é simultaneamente a docente da experiência de formação. Esta opção metodológica vincula a investigação de um modo estreito ao contexto real de sala de aula, permitindo que os resultados informem a sua própria prática profissional. Este artigo foca o estudo de caso de Alice, uma formando que antes da entrada no ensino superior frequentou a disciplina de Matemática apenas até ao 9.º ano e, presentemente, pretende ingressar no Curso de Mestrado em Educação Pré-escolar. A 1- 3 XXII SIEM — 2011 recolha de dados tem lugar entre Junho de 2009 e Março de 2010. Os dados são recolhidos por dois questionários com tarefas matemáticas e questões didáticas, um proposto no início e outro no final da experiência de formação e duas entrevistas com base nesses questionários, bem como uma terceira entrevista realizada durante a experiência de formação. As entrevistas incidem igualmente sobre questões matemáticas e didáticas e permitem ainda conhecer a perspetiva da formanda em relação ao trabalho efectuado na experiência de formação. É ainda realizada observação participante pela docente na experiência de formação, registando notas de campo e recolhendo documentos produzidos pela formanda durante a realização das tarefas da experiência de formação e na elaboração de um portefólio, sobre essas tarefas. A análise dos dados assume um cunho essencialmente interpretativo, procurando evidenciar o contributo da experiência de formação para a realização de tarefas algébricas e para o desenvolvimento da sua perspetiva sobre o ensino-aprendizagem da Álgebra. Exploração de situações matemáticas Antes da experiência. No questionário inicial, Alice não responde a algumas questões, nomeadamente as que envolvem generalização e representação de propriedades das operações e que envolvem linguagens de modelação. Interpreta adequadamente situações que envolvem expressões numéricas mas não revela de modo claro o seu pensamento relacional. Em sequências pictóricas, como a da figura 1, determina corretamente termos próximos, adicionando sucessivamente 2 ao termo anterior: Figura 1 – Sequência pictórica do questionário inicial Na determinação de termos distantes e na generalização da sequência numérica Alice mantém a abordagem recursiva o que conduz a respostas incorretas. No questionário indica ter 62 pintas no termo de ordem 60, fazendo 60 + 2 = 62 . Revela não ter estabelecido uma relação entre a ordem do termo e o número de pintas que o constitui. Na entrevista verifica que o raciocínio que está a indicar para o termo de ordem 60 não é válido para os primeiros termos, testando o caso do 2.º termo em que o seu número de pintas não se obtém fazendo a adição de 2 à sua ordem. Contudo, desiste de determinar 1- 4 XXII SIEM — 2011 o termo de ordem 60. Como termo geral da sequência numérica indica a expressão algébrica n + 2 . A generalização que estabelece tem por base um raciocínio recursivo e a letra n refere-se a um número que desconhece mas que representa o número de pintas da ordem anterior e não a ordem do termo que se pretende determinar. Na interpretação de um gráfico de uma função não responde corretamente a algumas questões que envolvem a leitura de valores do eixo das ordenadas dada a indicação em relação a valores da variável independente. Em problemas que envolvem quantidades desconhecidas indica os valores corretos mas não explica como os calcula. Na entrevista diz ter chegado à solução por tentativas de modo a satisfazer as condições. Durante a experiência. Alice envolve-se na resolução de situações matemáticas que promovem o pensamento algébrico. No seu trabalho individual, em pequeno grupo e em grande grupo, estabelece relações e representa generalizações em diversos tópicos. Considera significativo o trabalho de análise de expressões numéricas por dar significado à equivalência do sinal de igual e por promover o pensamento relacional, dando ênfase às propriedades das operações e não à realização do cálculo. O seu trabalho com regularidades e sequências (repetitivas e crescentes) é diversificado e resolve situações que envolvem sequências repetitivas, como a que se segue: Figura 2 – Sequência repetitiva da entrevista 2 Alice generaliza com base na análise da unidade que se repete. Identifica que o termo das ordens múltiplas de quatro é o retângulo, que um triângulo surge nas ordens pares e outro nas ordens ímpares e que ordens ímpares têm também uma estrela como termo. Indica, ainda, que se dividir o número da ordem por quatro, por se tratar do número de elementos da unidade que se repete, e considerar o resto, consegue dizer qual dos elementos da unidade que se repete é termo dessa ordem. O trabalho sequências numéricas associadas a sequências pictóricas contribui também para a sua aprendizagem. Este tópico torna-se muito significativo para Alice por nunca ter explorado as sequências a partir na estrutura dos termos pictóricos para identificar relações com a ordem dos termos e assim determinar o termo geral da sequência numérica, como na sequência seguinte: 1- 5 XXII SIEM — 2011 Figura 3 – Sequência pictórica da entrevista 2 [referindo-se ao 3.º termo] Aqui é a mesma coisa. Três [aponta para as primeiras três linhas] é n, porque depois se tivesse mais n era mais três, menos um vai dar esse [o número restante de linhas. Escreve (…) Fica n vezes isto [refere-se à expressão n + n − 1 ]. (E2) ] As situações com funções afins, lineares e não lineares, envolvem diversas representações, que Alice realiza adequadamente relacionado tabelas e gráficos. Nas situações que envolvem quantidades desconhecidas, revela algumas dificuldades que ultrapassa ao estabelecer relações entre os dados. Realiza operações elementares que revelam um raciocínio relativo a quantidades que expressa em linguagem algébrica. Após a experiência. Alice revela o seu pensamento relacional na análise de expressões numéricas, tendo por base as propriedades das operações. Contudo, manifesta ainda dificuldades na compreensão de situações que envolvem a subtração ao não decompor corretamente o subtrativo. No trabalho com sequências pictóricas identifica o termo geral da sequência numérica e com base nele determina termos próximos e distantes. Na análise de funções afins, interpreta corretamente os gráficos, identificando situações lineares e não lineares. Relaciona corretamente o gráfico com a expressão algébrica no que respeita à ordenada na origem mas não em relação ao seu declive. Nas questões com quantidades desconhecidas estabelece relações mas não as expressa em linguagem algébrica. Realiza diversas operações de acordo com as relações que estabelece entre os dados do problema, indicando o significado dos valores que vai obtendo. Alice mostra ainda algumas fragilidades na utilização da linguagem algébrica que se revelam na interpretação de expressões algébricas relativas a funções. Durante e após a experiência de formação, em diversas situações, manifesta o seu pensamento algébrico, evidenciando um desenvolvimento significativo nas capacidades de estabelecer relações e de analisar e resolver situações que envolvem sequências e modelação matemática. 1- 6 XXII SIEM — 2011 Perspetiva sobre o ensino e a aprendizagem da Álgebra Antes da experiência. Alice dá breves indicações quando analisa respostas de alunos, conseguindo identificar que o aluno não analisa corretamente a expressão numérica. Na análise da sequência pictórica atende apenas à construção do aluno sem verificar se respeita a lei de formação. Na entrevista analisa estes dois aspectos de modo adequado. Perante a conjetura formulada por um aluno (figura 4), que pode ser modelada de modo a ser validada, Alice impõe restrições desnecessárias: Um aluno formulou a conjetura seguinte: “Multiplico dois números naturais. Se multiplicar metade do primeiro pelo dobro do segundo o produto é igual ao obtido na primeira situação” Figura 4 – Conjetura do questionário inicial Figura 5 – Resposta de Alice no questionário inicial A sua estratégia envolve a realização de tentativas para verificar a validade da conjetura para um conjunto de números e não consegue estabelecer uma generalização. Durante a experiência. A análise de respostas de alunos em expressões numéricas abertas desperta Alice para as dificuldades na compreensão do sinal de igual que muitos alunos revelam nos primeiros anos. Explora e generaliza sequências pictóricas, vê como alunos de 2.º ano determinam diversos termos da sequência, evidenciando diferentes análises da sua estrutura, e verifica que estes conseguem expressar generalizações em linguagem natural. O trabalho com funções evidencia uma abordagem ao estudo deste conceito nos primeiros anos e Alice propõe questões para discutir com os alunos que evidenciam a relação entre as variáveis. Analisa situações de modelação onde os alunos usam diferentes estratégias e representações, nomeadamente, letras para representar quantidades desconhecidas. Com este trabalho percebe o contributo para o desenvolvimento do raciocínio dos alunos da partilha de estratégias e da comunicação desses raciocínios. 1- 7 XXII SIEM — 2011 Após a experiência. Alice identifica o pensamento relacional que o aluno evidencia e valida a sua resposta. Valida respostas de um aluno no âmbito de sequências pictóricas mas não analisa pormenorizadamente a sua resolução de modo a evidenciar o seu raciocínio. Na validação da conjetura de um aluno identifica regularidades e tira conclusões adequadas, embora usando um processo por tentativas. Alice valoriza as aprendizagens que realiza na experiência de formação, identificando o desenvolvimento do seu conhecimento matemático e do seu conhecimento dos alunos e dos seus processos de aprendizagem. Destaca, ainda, a importância de ser capaz de usar diferentes estratégias e da capacidade que o professor deve ter para analisar as resoluções dos alunos e para conduzir as situações de ensino-aprendizagem de modo a fomentar a discussão e partilha de ideias. Balanço do percurso na experiência de formação Desenvolvimento do conhecimento algébrico e didático. Durante a experiência de formação, Alice faz um balanço sobre o trabalho que está a desenvolver, revelando sentir algumas dificuldades por estar a tratar assuntos muito distantes dos que conhece: Eu sinto que há partes da disciplina em que tenho muito mais dificuldades, não quer dizer que não goste ou que não concorde com o método ou outra coisa qualquer, é uma dificuldade que eu tenho, porque é uma coisa que eu não dou há… Desde o 9.º ano. E há coisas que nem nunca abordei, nem ouvi falar e depois é mais complicado. (E2) A dificuldade que Alice identifica não está relacionada com o modo de trabalho nas aulas mas com o facto de se tratar de tópicos que desconhece, o que reforça a importância de tratar tópicos de Álgebra que suportam o desenvolvimento do pensamento algébrico dado que estes formandos não têm uma experiência prévia neste âmbito. Tal como refere em relação a outras unidades curriculares, Alice diz sentir dificuldades em compreender as situações no início de qualquer tema, o que ultrapassa com a continuação do trabalho. A análise de respostas de alunos a questões envolvendo expressões numéricas abertas, na experiência de formação, possibilita a Alice uma reflexão sobre o trabalho com cunho algébrico que se pode desenvolver em diversos temas matemáticos. Refere que, com essa tarefa, tomou “consciência das dificuldades que muitos alunos apresentam, inicialmente, ao interpretarem o significado do sinal de igual” (Portefólio-T1). Esta 1- 8 XXII SIEM — 2011 situação alerta-a para as interpretações que um trabalho sistemático com ênfase no cálculo pode promover nos alunos: “eu não tinha bem a noção que os alunos do 1.º ciclo ignorassem tanto o significado de equivalência, porque eu pensei que fosse mais trabalhado e que eles tivessem mais essa noção” (E2). Com esta experiência de formação percebe a importância de promover nos alunos uma interpretação adequada do sinal de igual, contribuindo para a compreensão da linguagem algébrica. Antes desta experiência, Alice desconhecia o trabalho com sequências pictóricas. Na segunda entrevista, que ocorre após ter trabalhado algumas sequências, identifica esse trabalho como sendo o que lhe proporcionou uma maior aprendizagem e o que mais gostou: “Eu gostei muito, eu gostei muito da generalização (…) é engraçado ver como a partir de uma imagem conseguimos descobrir a imagem número não sei quantos” (E2). Para obter um termo geral de uma sequência numérica associada a uma sequência pictórica, indica: “tento encontrar alguma regularidade, normalmente começo sempre pelo número de ordem. Tem de haver alguma relação com o número de ordem” (E2). Na análise de um termo procura regularidades na sua estrutura que têm por base a sua ordem. Tendo como horizonte a educação pré-escolar, indica as sequências como tópico que pode tratar neste nível. Na sua perspetiva, o professor deve: Levar a que eles consigam pensar, ainda que numa coisa simples, porque não pode ser uma coisa complicada... Eles já têm que pensar, já têm que experimentar, então já os leva a raciocinar. E eu acho que as sequências, essas eu já sei que podem ser trabalhadas no pré-escolar, mais que isso, ainda não sei muito, mas pronto as sequências sim, estou a ver-me a trabalhar as sequências com os miúdos. (E3) O bom desempenho que revela neste tipo de situações e a segurança nos seus conhecimentos neste âmbito permitem-lhe assegurar que pode adequá-las e ao ensino pré-escolar. Modo de trabalho na experiência. Alice indica o que considera mais significativo em relação a este aspecto: Eu gosto do método, principalmente quando nós trabalhamos muito em grupo e conseguimos comunicar com as nossas colegas, saber opiniões e às vezes até elas me explicam a mim, trocamos ideias e eu gosto muito desse método. O método mais teórico também é necessário, também não tenho nada contra. Só que eu às vezes sinto-me assim um bocadinho “à nora”. (E2) Refere gostar particularmente dos momentos de trabalho em grupo por estes 1- 9 XXII SIEM — 2011 envolverem a partilha de ideias e de conhecimentos matemáticos com os colegas. Valoriza a possibilidade de poder colocar questões às colegas e serem estas a esclarecê-las. Mostra-se muito insegura em relação aos seus conhecimentos e diz desconhecer muitos dos conteúdos abordados. A discussão com as colegas possibilita o esclarecimento de interpretações e de pequenas questões que não colocaria perante o grande grupo. Na terceira entrevista diz ter gostado da abordagem seguida porque, como diz “foi também muito à base de trabalho na sala de aula. Não quer dizer que nós não aprendamos com a teoria, mas acho que aprendemos muito também em grupo, a discutir ideias e a tirar conclusões” (E3). Refere não querer menosprezar a aprendizagem que pode advir de aulas de carácter teórico mas reconhece que a sua aprendizagem se desenvolve, essencialmente, nos momentos de trabalho em grupo, da partilha e discussão de ideias e dos momentos de síntese em grande grupo preconizados nesta experiência de formação. Alice valoriza as tarefas realizadas na experiência de formação: “Gosto [das tarefas], apesar de muitas delas serem para mim difíceis, mas gosto e depois com o contacto com as colegas dá para ir percebendo aqui e ali” (E2). Considera a maioria das tarefas difícil para realizar individualmente mas o trabalho em interação com as colegas faz com que não tenha receio e aprecie a sua realização. Muitas das dificuldades que sente nas aulas devem-se a dificuldades em alguns conhecimentos elementares: “às vezes é mesmo muito difícil porque eu não tenho bases, mas depois com as minhas colegas lá fui conseguindo” (E3). O modo de trabalho na experiência de formação possibilita-lhe envolver-se nas situações propostas, como refere: “já estou à vontade, já troco ideias, já dou opiniões, o contrário também, e tudo o que seja trabalhos de grupo eu gosto, na aula ou mesmo sem ser na aula” (E3). Conclusão Alice reconhece ter tido muitas dificuldades ao longo do seu percurso escolar e manifesta-as em relação a conhecimentos matemáticos elementares. Durante a experiência de formação, contacta pela primeira vez com diversos tópicos. Manifesta uma evolução bastante positiva no que respeita à análise de expressões numéricas, revelando o seu pensamento relacional, na generalização de sequências pictóricas e numéricas e na sua representação em linguagem algébrica. Mostra um melhor desempenho na resolução de problemas envolvendo quantidades desconhecidas em que 1- 10 XXII SIEM — 2011 usa, essencialmente, estratégias aritméticas que se revelam eficientes para determinar valores desconhecidos e validar conjeturas por dedução. Com a experiência de formação, valoriza aspectos transversais para a sua prática letiva futura como a importância dos momentos de partilha e de discussão, que se revelam também fundamentais para a sua própria aprendizagem em Álgebra durante a experiência. Alice assume de um modo claro o seu desejo em frequentar o Mestrado em Educação Pré-escolar. Ao perspetivar o trabalho em Álgebra na sala de aula, centra-se no nível pré-escolar, o que reduz a diversidade de aspectos do pensamento algébrico que sugere. Ainda assim, aponta aspectos fundamentais relativos ao papel do professor na promoção de situações que envolvem o pensamento algébrico e na dinâmica da sala de aula, com ênfase para a discussão em grande grupo como situação promotora da partilha e análise de raciocínios, que advêm da dinâmica e dos aspectos abordados na experiência de formação. A evolução de Alice é significativa em diversos tópicos de Álgebra e no seu conhecimento sobre as situações que visam o pensamento algébrico e o modo como a abordagem em sala de aula pode potenciar o trabalho dos alunos em questões algébricas. Indica que a dinâmica da experiência de formação, promovendo a partilha de estratégias entre os formandos com ênfase nos seus raciocínios e na justificação com base em definições e propriedades matemáticas, teve um papel importante na sua aprendizagem, evidenciando a importância deles contactarem com o modo como podem ensinar os seus alunos (Ponte & Chapman, 2008). A análise de situações de ensinoaprendizagem nos primeiros anos contribui também para que compreenda o ensino da Álgebra e perspetive situações conducentes ao desenvolvimento do pensamento algébrico dos alunos, um aspecto importante do papel do professor (Canavarro, 2007). A realização de tarefas de natureza exploratória, que envolvem a análise de situações de ensino-aprendizagem e promovem a discussão e partilha de ideias e conclusões entre os formandos, contribui para a aprendizagem de Alice no âmbito de tópicos que em muitos casos desconhecia, bem como para a aprendizagem de aspectos transversais sobre a dinâmica das aulas, perspetivando a natureza do trabalho a desenvolver com os alunos para promover o seu pensamento algébrico. Referências Blanton, M., & Kaput, J. (2005). Characterizing a classroom practice that promotes algebraic reasoning. Journal for Research in Mathematics Education, 36(5), 412- 446. 1- 11 XXII SIEM — 2011 Canavarro, A. P. (2007). O pensamento algébrico na aprendizagem da Matemática nos primeiros anos. Quadrante, 16(2), 81-118. Carraher, D., & Schliemann, A. (2007). Early algebra and algebraic reasoning. In F. Lester (Ed.), Second handbook of research on mathematics teaching and learning (pp. 669705). Charlotte, USA: NCTM e IAP. Doerr, H. (2004). Teachers’ knowledge and the teaching of algebra. In K. Stacey, H. Chick & M. Kendal (Eds.), The future of the teaching and learning of algebra: The 12th ICMI Study (pp. 265-290). Norwell: Klumer. Kaput, J. (2008). What is Algebra? What is algebraic reasoning?. In J. Kaput, D. Carraher & M. Blanton (Eds.), Algebra in the early grades (pp. 5-17). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum. Kaput, J. & Blanton, M. (2001). Kaput, J., & Blanton, M. (2001). Algebrafying the elementary mathematics experience. Part 1: Transforming task structures. In H. Chick, K. Stacey, J. Vincent, & J. 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