SORÇÃO E DIFUSÃO DE VAPOR DE DICLOROMETANO EM NANOCOMPÓSITO DE POLIPROPILENO/ ARGILA MONTMORILONITA Tadeu L. A. Pelozzi1, Fernanda C. Morelli2, Adhemar Ruvolo Filho3* e Luiz A. Pessan4 1 2 Universidade Federal de São Carlos-UFSCar-São Carlos – SP - [email protected] Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – São Carlos - SP - [email protected] 3* Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – São Carlos – SP - [email protected] 4 Universidade Federal de São Carlos-UFSCar-São Carlos - SP - [email protected] Neste trabalho foi preparado nanocompósito de polipropileno e argila montmorilonita organofílica comercial de codinome Cloisite 20A na concentração de 1,5% e polipropileno graftizado com anidrido maleico como agente compatibilizante pela técnica de intercalação no estado fundido em extrusora de dupla rosca. O material obtido foi caracterizado de forma comparativa com polipropileno puro extrudado através da técnica de sorção e difusão de vapor de diclorometano. Os resultados obtidos para a sorção do diclorometano mostraram que para toda faixa de atividades estudada as amostras dos nanocompósitos absorveram uma quantidade menor de vapor de diclorometano em comparação ao polipropileno sem adição de argila. No entanto o valor do coeficiente termodinâmico de difusão obtido para o nanocompósito foi maior que aquele obtido para o polipropileno puro extrudado. Considerando o valor ligeiramente maior de cristalinidade, observada para o polipropileno na presença do argilo mineral, os resultados de sorção se justificam, porem no caso da difusão provavelmente deve existir uma maior fração de volume livre na interface argila/matriz polimérica que favorece a maior difusão das moléculas apolares do diclorometano. Palavras-chave: nanocompósito, polipropileno, sorção, difusão, diclorometano, argila montmorilonita Sorption and diffusion of dichloromethane vapor on polypropylene/montmorilonitic clay In this work was prepared nanocomposite of polypropylene and organophilic montmorillonite Cloisite 20A for concentrations of 1.5%, clay and graft polypropylene with maleic anhydride as compatibilizer. The mixture was made in the melt state by using a double screw extruder. The nanocomposite and the pure extruded polypropylene were characterized through sorption and diffusion of dichloromethane vapor. The results showed that for all dichloromethane activities studied, the amount of vapor sorbed was lower than that observed for the neat polypropylene samples. Therefore the thermodynamic diffusion coefficient for the nanocomposite is higher than that of pure polypropylene. Considering the slightly higher value of crystallinity observed for the polypropylene nanocomposite, the results of sorption are justified. However, for the diffusion coefficient values, probably an extra free volume at the interface clay/polymer matrix is formed and this can favor the diffusion of the apolar molecules of dichloromethane. Keywords: Nanocomposite, polypropylene, sorption, diffusion, dichloromethane, organophilic montmorillonite clay Introdução A mistura de polímeros e argilas organofílicas tem sido muito estudada nas últimas décadas para a produção de nanocompósitos. Os nanocompósitos constituem uma classe de materiais formados por híbridos orgânicos e inorgânicos, no qual sua fase inorgânica está dispersa em nível nanométrico. Essa classe de materiais começou a ser estudada na década de 80 pelo laboratório de Pesquisa da Toyota com o desenvolvimento de nanocompósitos de poliamida e argila [1]. O nanocompósito estudado nesse trabalho é conhecido como polímero de silicato em lamelas (PLS). A fase inorgânica (argila) desse nanocompósito encontra-se dispersa e sob a forma de camadas (lamelas) de aproximadamente um nanômetro de espessura e centenas de nanômetros de largura e comprimento, possuindo, portanto um elevado fator de forma. A obtenção de nanocompósitos tem atraído muito os interesses de pesquisadores [2] , pois nanocompósitos baseados na inserção de nanoentidades, na forma de argilo-minerais em matrizes poliméricas foram capazes de gerar materiais com elevadas propriedades mecânicas, de barreira (reduzida difusão de espécies gasosas, por exemplo), elevadas propriedades térmicas, entre outras. Com relação às propriedades de barreira, a redução da permeabilidade em relação à matriz polimérica pura tem sido atribuída ao elevado fator de forma das camadas de argilo-mineral, que aumentam o caminho livre percorrido por um determinado penetrante no material, e a restrição imposta pela baixa mobilidade das cadeias poliméricas entre os espaços lamelares do argilomineral. O processamento do nanocompósito foi realizado através da intercalação no estado fundido. O polímero é misturado com a argila organofílica no estado fundido de forma a permitir a intercalação das cadeias do polímero entre as lamelas da argila. Devido à elevada queda de entropia conformacional das cadeias poliméricas intercaladas, a força motriz desse processo é a contribuição entálpica das interações polímero/argila durante o processamento. As tensões cisalhantes, ao promoverem a destruição dos aglomerados de argila e o acesso das cadeias poliméricas às partículas primárias da argila, auxiliam o processo de intercalação, permitindo sua ocorrência em sistemas onde há uma difícil dispersão entre a matriz polimérica e a argila [3]. A literatura dos últimos dez anos [1,2] tem mostrado resultados significativos em termos de propriedades mecânicas e de barreira de nanocompósitos de argilo-mineral em matrizes de nylon, politereftalato de etileno, policarbonato entre outros. No entanto, nos trabalhos reportados sobre nanocompósitos de matrizes olefínicas [4,5] o que se observa é que a compatibilidade em termos de adesão interfacial polímero/argila ainda é um desafio em aberto, fato comprovado pela pouca influência do argilo-mineral nas propriedades mecânicas destes materiais, assim como na dificuldade para se obter um bom nível de esfoliação do argilo-mineral. O polipropileno é um polímero semicristalino cuja organização estrutural e morfologia quando o material é resfriado do estado fundido amorfo, poderá ser significantemente influenciada pelas condições de processamento e pela presença de cargas minerais. As propriedades de transporte podem ser utilizadas na avaliação de mudanças estruturais na região amorfa e estão diretamente Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 relacionadas a dois efeitos: fração de volume livre congelada e a mobilidade molecular dos segmentos de cadeia polimérica na região amorfa. Este trabalho descreve a preparação de um nanocompósito de polipropileno/polipropileno graftizado com anidrido maleico e argila montmorilonita organofílica a partir da mistura no estado fundido e a sua caracterização em termos de sorção e difusão de vapor de diclorometano. Experimental Materiais Os materiais utilizados na preparação dos nanocompósitos foram o polipropileno PP H501C da empresa Braskem, o compatibilizante polipropileno enxertado com anidrido maleico (PP-g-AM) OREVAC CA-100 da empresa Arkema e a argila montmorilonita de codinome Cloisite 20A fornecida pela empresa Southern Clay Company. Métodos A preparação das misturas (PP-g-MA/argila e do PP-g-MA/argila/PP) foi realizada em duas etapas. A primeira consistiu de uma mistura de PP-g-MA e argila, na proporção 1:3 em peso, utilizando-se um misturador com alta taxa de cisalhamento (w= 3000 rpm) que produziu um concentrado com 25% de argila. A segunda etapa consistiu na diluição do concentrado na matriz de PP, para obtenção do nanocompósito com concentração de argila de 1,5%, via intercalação no estado fundido fazendo uso de uma extrusora com dupla rosca modelo MT19TC-25:1 da marca B & P Process Equipament and Systems, L/D = 25 , perfil de temperaturas utilizado de 187°C/200°C/210°C/210°C/210°C e velocidade de rotação das roscas de 150rpm. Em seguida, para realização das análises, foram preparadas amostras na forma de filmes, via termo prensagem na temperatura de 180 oC, seguido de resfriamento sob pressão até a temperatura ambiente. As medidas de sorção e difusão de vapor de diclorometano foram realizadas pelo método micro gravimétrico, utilizando uma balança com mola de quartzo, com constante de extensão de 3,25 cm.mg-1, de acordo com os procedimentos descritos na literatura [6,7]. Todos os experimentos foram realizados na temperatura de 25oC. As medidas de sorção foram realizadas em função da atividade do vapor do diclorometano (a=P/PT), onde P é a pressão de vapor na qual as amostras foram expostas, e PT é a pressão de saturação do diclorometano na temperatura em que foram realizados os experimentos. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Resultados e Discussão Na Figura 1 estão apresentados os resultados das concentrações de equilíbrio (Ceq) do vapor de diclorometano absorvido pelas amostras, em porcentagem em peso, em função da atividade do vapor, expressa como P/PT. 7 PP H501 HC PP nano 1.5% 6 Ceq, g/100g 5 4 3 2 1 0 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 P/PT Figura 1 – Concentração de equilíbrio de vapor de diclorometano em função da atividade para as amostras de PP puro extrudado e do nanocompósito com 1,5% de argila.. A concentração de equilíbrio do vapor de diclorometano depende da fração de fase amorfa presente nas amostras e da fração de volume livre congelada, assumindo-se que a fase cristalina formada seja completamente impermeável. Os resultados obtidos mostram que para toda faixa de atividades estudada a amostra do nanocompósito absorve uma quantidade menor de vapor de diclorometano em comparação ao polipropileno sem adição de argila. Estes resultados levam a algumas hipóteses; a cristalização da matriz de polipropileno ocorre em percentual mais elevado na presença do argilo mineral; não ocorre sorção preferencial do diclorometano na superfície das lamelas do argilo mineral; se a matriz de polipropileno apresenta o mesmo grau de cristalinidade com a adição de argila, a fase amorfa desta matriz sofre um maior empacotamento pela adição da argila. Através de difração de Raios-X foram obtidos respectivamente os valores de porcentagem de cristalinidade de Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 38,3% e 42,6% para as amostras do polipropileno puro extrudado e para o nanocompósito com 1,5% de argila. Para cada atividade de vapor de diclorometano, a concentração reduzida do vapor absorvido, Ct/Ceq, foi calculada, e representada em função da raiz quadrada do tempo, √t. Caso a correlação obtida for linear, então o comportamento de sorção é considerado Fickiano, e a equação 1 é válida, permitindo assim que se possa calcular o coeficiente de difusão. Ct/Ceq = 4/L. (D/π)1/2 Equação 1 Onde Ct é a concentração para um tempo genérico t do experimento de sorção, D o coeficiente de difusão e L a espessura da amostra. A dependência do coeficiente de difusão com a concentração de equilíbrio é dada pela equação: D= Do exp(γ Ceq) Equação 2 Onde Do é o coeficiente termodinâmico de difusão, relacionado com a fração de volume livre e a microestrutura do polímero semicristalino; e γ é um coeficiente de concentração, o qual depende da fração de volume livre e da capacidade de plastificação do vapor absorvido pelo polímero. Na Figura 2 estão apresentados os resultados obtidos para o coeficiente de difusão em função da concentração de equilíbrio de diclorometano para o polipropileno puro extrudado e o nanocompósito com 1,5% de argila. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 -7 -8 -10 2 Log D, cm s -1 -9 -11 -12 -13 PP Extrudado -11 2 -1 log Do = -10,68 Do = 2,09 x 10 cm s -14 -15 1 2 3 4 5 6 7 Ceq,g/100g -7 -8 -10 2 Log D, cm s -1 -9 -11 -12 -13 PP Nano 1,5% -10 2 -1 log Do = -9,886 Do= 1,30 x 10 cm s -14 -15 0 1 2 3 4 5 Ceq, g/100g Figura 2. Logaritmo do coeficiente de difusão em função da concentração de equilíbrio de diclorometano para as amostras de PP puro extrudado e do nanocompósito com 1,5% de argila.. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Na Tabela 1 estão apresentados os valores do coeficiente termodinâmico de difusão e do coeficiente de concentração, determinados para as amostras estudadas. Tabela 7: Coeficiente termodinâmico de difusão (D0) e coeficiente de concentração(γ). Do(cm2/s) 2,09 .10-11 1,30.10-10 Amostra PP H501 HC PP Nano 1.5% γ 0.93 0.92 Das curvas de sorção, quando a Ceq tende a zero , a relação [δCeq/δ(P/PT)]T fornece o coeficiente de solubilidade (S em g/100g.mmHg). Termodinâmicamente pode-se definir um coeficiente de permeação (P) como sendo: P = Do. S Na Tabela 2 encontram-se de forma comparativa os valores obtidos para os parâmetros P, Do e S das amostras estudadas. Tabela 8: Coeficientes termodinâmico de difusão(Do), de sorção(S) e de permeação(P) Amostra PP H501 HC PP Nano 1.5% Do(cm2/s) 2,09.10.-11 1,30. 10-10 S( g/100g.mmHg) 0.105 0.069 P(cm2.g/100g.s.mmHg) 2,19.10-12 8,97. 10-12 Embora a curva de sorção em toda a faixa de atividades estudada mostra que o nanocompósito absorve menos diclorometano que o PP puro; os resultados dos coeficientes de difusão termodinâmicos mostram um efeito contrário. Os resultados obtidos são muito interessantes e permitem sugerir as seguintes considerações: i) Se a diminuição da sorção de diclorometano no nanocompósito fosse proporcionalmente compensada pelo aumento observado no coeficiente de difusão termodinâmico, então o coeficiente de permeação deveria ser constante; ii) a diferença observada nos coeficientes de permeação sugere que provavelmente deve existir uma maior fração de volume livre na interface argila/matriz polimérica o que favorece a maior difusão das moléculas apolares do diclorometano. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Conclusões Os resultados obtidos para a sorção do diclorometano mostraram que para toda faixa de atividades estudada as amostras dos nanocompósitos absorveram uma quantidade menor de vapor de diclorometano em comparação ao polipropileno sem adição de argila. No entanto, o valor do coeficiente termodinâmico de difusão obtido para o nanocompósito foi maior que aquele obtido para o polipropileno puro extrudado. Considerando o valor ligeiramente maior de cristalinidade, observada para o polipropileno na presença do argilo mineral, os resultados de sorção podem ser justificados. Entretanto, no caso da difusão provavelmente deve existir uma maior fração de volume livre na interface argila/matriz polimérica que favorece a maior difusão das moléculas apolares do diclorometano. Agradecimentos A CAPES pela bolsa de mestrado (F. C. Morelli), ao CNPq / PIBIC-UFSCar pela bolsa de Iniciação Científica ( T. L. A. Pelozzi) e a Fapesp pelo apoio através do Projeto Temático 2006/61008-5. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. M. Alexandre; P. Dubois; Materials Science and Engineering, 2000, 28, 1-63. M. Okamoto; S.S. Ray.; Progress in Polymer Science, 2003, 28, 1539-1641. X. Kornmann, Tese de Doutorado, Lule A; Tekniska Universitet, 2000. N. Hasegawa; M. Kawasumi; M. Kato; A.; Usuki. J. Appl. Polym. Sc. 1998, 67, p. 87-92. M. Osman; J.E.P. Rupp; U.W. Suter; Polymer. 2005, 46, 1653-1660. V. Vittoria, A. Ruvolo-Filho, and F. De Candia; J. Appl. Polym. Sci., 1992, 44, 2127. A. Ruvolo-Filho, L. F. Boesel, and L. A. Pessan; J. Macromol. Sci.-Phys., 2001, B40 (1), 31. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009