A força da união Confira as entidades filiadas da Conempec – Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços. REPRESENTAÇÃO NACIONAL Conempec – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS ENTIDADES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO COMÉRCIO E SERVIÇOS Av. Norte n.º 1098 - Santo Amaro – RECIFE / PE - CEP: 50.100-000 Fone: (81) 3231-2560 / 3222-1985 Fax: (81) 3423-0284 Cel.: (81) 9989-4046 Site: www.Conempec.org.br E-mail: [email protected] / presidê[email protected] Presidente: JOSÉ TARCÍSIO DA SILVA FEDERAÇÕES 1 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DE ALAGOAS – FAMPEC / AL Rua Audeir Lima Aguiar Peixoto, 123 – Sala 204 - Farol - CEP 57.015-110 - MACEIÓ - AL Fone.: (82) 3326-2122 / 33263340 Fax.: (82) 344-1888 Cel.: (82) 9902.5449 Com.: (82) 344-1384 Site.: www.fampec.com.br E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: CÍCERO BERTO DOS SANTOS Diretor: LÍCIA CÍCERO CORTEZ SABINO 2 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DO AMAPÁ – FAMPEA/AP Avenida Coaracy Nunes, 140 - Centro - MACAPÁ / AP – CEP: 68.900-010 Fone (96) 223-3393 / 223-0582 / Cel.: (96) 9112-6294 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: PEDRO PAULO PANTOJA CREÃO 3 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO AMAZONAS – FAMPEAM/AM Av. Joaquim Nabuco, 1990 - 1.º andar - Sala 11 - Centro - MANAUS / AM - CEP: 69.020-031 Fone: (92) 633-5871 / 3611-3790 Cel.: (92) 9989.1919 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: MARIA IVANILDE RODRIGUES SAMPAIO 4 – FEDERAÇÃO DAS PEQUENAS E MICROEMPRESAS DO ESTADO DA BAHIA – FEMICRO/BA Avenida Tancredo Neves, 805, Loja A - Centro - Edifício Espaço Empresarial – Caminho das Árvores SALVADOR / BA CEP: 41.820-021 E-mail: [email protected] / [email protected] Fone: (71 3341-6558 / 3341-0219 Res. (71) 3230-8840 Cel: (71) 9969.9853 Presidente: MOACIR VIDAL 5 – FEDERAÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO DISTRITO FEDERAL – FEMPE/DF QNM 09 - Conj. B - Lote 01 – BRASÍLIA / DF- CEP: 72.000-000 Fone (61) 375-2454 Cel.: (61) 9227-6242 / 9267-0758 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: SEBASTIÃO GABRIEL DE OLIVEIRA 6 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES E ENTIDADES DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO COMÉRCIO E SERVIÇOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – FAMPES/ES Av. Leitão da Silva, 1387 – Sala 204 – Ed. Sheila – Santa Lúcia – VITÓRIA / ES CEP: 29.100-000 Fone: (27) 3235.3041 / 3219- 9870 Empresa / 3311.5309 Residência Cel.: (27) 8133-8471 E-mail: [email protected] / [email protected] e-mail Pres: presidê[email protected] Site: www.fampes.org.br Presidente: STÉFANO FERNANDES DE LIMA 7 – FEDERAÇÃO DA MICRO E PEQUENA EMPRESA DE GOIÁS – FEMPEG/GO Rua 10, 445 - Setor Central - GOIÁS / GO - CEP: 74.030-110 Fone (62) 3225-1033 / 3201-5528 Fax.: (62) 3091-4181 Cel.: (62) 9243-1136 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: HÉLIO RODRIGUES DE ALMEIDA Diretor: JOSÉ AUGUSTINHO N. FOGLIATTO Rua 82, Setor Sul – Goiânia Goiás – Fone:(62) 3301-5230 Fax: (62) 3201-5203 Site: www.sectec.go.gov.br E-mail: [email protected] 8 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO MARANHÃO – FEMICRO/MA Av. Jerônimo de Albuquerque, s/n - Casa do Trabalhador - Calhau, Sala 16 – SÃO LUIZ / MA CEP: 65.074-220 Fone: (98) 3233-4020 3236-0230 Cel.: (98) 8116-3941 E-mail: [email protected] Presidenta: SILVANA SOCHA 9 – FEDERAÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DA PARAÍBA – FEMIPE/PB Avenida General Osório, 415 – 4º andar Edifício Banco Real – Centro - JOÃO PESSOA / PB CEP: 58.010-780 Fone: (83) 3229.1077 / 3229-2525 / 3229-1160 Res Fax.: (83) 3229-1672 Cel.: (83) 9988-7755 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: ANTÔNIO GOMES DE LIMA Diretor: REGINALDO GALVÃO CAVALCANTI Fones: (83) 3221+5502 Cel: (83) 9921-3888 E-mail: [email protected] 10 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DO PARANÁ – FAMPEPAR/PR Avenida Vicente Machado n.º 198 Conjunto 102, Centro - CURITIBA / PR – CEP: 80.420-010 Endereço Correspondência: Rua Pedro Ivo, 2669 Country Cascavel / PR CEP.: 85.813-230 Cel.: (45) 9971.4169 E-mail: [email protected] Presidente: OTHMAR HELENO REMPEL 11 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO – FEAMEPE/PE Avenida Norte, 1098 - Santo Amaro - RECIFE / PE - CEP 50.100-000 Fone (81) 3231-2560 / 3222-1985 Fax (81) 3423-0284 Cel.: (81)9989-4046 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: JOSÉ TARCISIO DA SILVA 12 – FEDERAÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DO PIAUÍ – FEMPE/PI Avenida Gil Martins, 1810 - Redenção - TERESINA / PI - CEP: 64.017-650 Fone: (86) 3081.5457 Fax: (86) 3218-5700 Cel.: (86) 9974-0487 E-mail: [email protected] Presidente: ALEXANDER RODRIGUES LUDWIG Diretora: NELI DA SILVA XAVIER Fone: (86) 3224.2002 / 3224.1432 / 3224.6596 13 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE PEQUENAS E MICROEMPRESAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – FEPEME/RS Endereço Monron 93, Rio Grande - RIO GRANDE DO SUL / RS CEP.: 96.200-450 Fone: (53) 3232-4381 Cel.: (53) 9971-1346 E-mail: [email protected] Presidente: GILBERTO DA SILVA CONSONI 14 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DE RONDÔNIA – FAMPERO/RO Trav. Guaporé n.º 556 - Sala 214 - Edif. Rio Madeira - Bairro Centro - PORTO VELHO/RO CEP: 78.900-145 Fone: (69) 3221-3039 - 3229-5613 - 3224-6701 e Celular: (69) 9987-1957 E-mail: [email protected] Presidente: EURO TOURINHO FILHO Vice-Presidente: PLINIO XAVIER BEMFICA Fone: (69) 221.3039 /223-0589 Fax: (69) 224.5579 Cel.: (69) 9981.1998 E-mail: [email protected] 15 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE SANTA CATARINA – FAMPESC/SC Rua Felipe Schimidt, 390 - Sala 901 e 902 – Centro - FLORIANÓPOLIS – SC - CEP: 88.010-001 Fone.: (48) 224-7695 / 224.5041/ 224.2723/ 224.3219 Fax: (48) 224.7695 Cel. (48) 9963-0886 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: CLÓVIS FERREIRA Diretor: LUIZ CARLOS FLORIANI Fone: (48) 224.7695 Cel: 8801.8367 E-mail: [email protected] Endereço: Rua Alexandre Dohler, 221 Centro – Joinvile Santa Catarina – CEP 89201-260 16 – FEDERAÇÃO DAS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – FAMPESP / SP Avenida Jabaguara, 301 - Vila Mariano / SÃO PAULO – SP CEP: 04.045-000 Fone: (11) 5599-3374 / 5585-9863 / Cel.: (11) 9221-2282 E-mail.: [email protected] / [email protected] Presidente: ROMILSON SEBASTIÃO DE SOUZA Diretor: HERNANI DA CRUZ AMARAL 17 – FEDERAÇÃO DE APOIO ÀS ASSOCIAÇÕES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS E EMPREENDEDORES DO ESTADO DE SÃO PAULO – FEAMPESP/SP Endereço: Rua Salça Brava,112 Jardim Helena-São Miguel Paulista –SÃO PAULO/SP-CEP: 08081-020 Celular: (11) 7164-7010 / 8327.6064 - 6585-5360 Amarildo Gabriel (11) 6585-5696 Fone: (11) 6585.5360 / 6297.6611 / 6956.1557 E-mail: [email protected]. br/ [email protected] Presidente: AMARILDO GABRIEL ALVES Vice-Presidente: JOÃO CHAGAS Diretor-Presidente da Adempesp Fone: (11) 6297-6611 ou 6956-1557- Celular: (11) 8327-6064 18 – FEDERAÇÃO DA PEQUENA E MICROEMPRESA DE SERGIPE – FAMPEME/SE Travessa I, 48 Distrito Industrial de ARACAJÚ / SE - CEP: 49.040.240 Fone: (79) 3249.1797 / 3042.2570 / 3227.2406 res. Cel.: (79) 9982.3885 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: NELSON ARAÚJO DOS SANTOS 19 – FEDERAÇÃO TOCANTINENSE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - FETOMIPE/TO 105 Norte - QI 05 – Alamedas Caraíbas, Lote 15 - Centro - TOCANTINS / TO– CEP: 87.015-050 Fone: (63) 3215-4963 / 3213.1936 Cel: (63) 9998.6371 E-mail: [email protected] Presidente.: SEBASTIÃO MARTINS DOS SANTOS 20 – FEDERAÇÃO CEARENSE DAS ASSOCIAÇÕES DE MICROEMPRESAS E EMPRESA DE PEQUENO PORTE – FECEMPE/CE Praça Waldemar Falcão, s/n Centro – 2º andar- Sala 04 – CEARÁ / CE CEP: 60.055-000 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: JESUS PEREZ - E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente em Exercício: ANTÔNIA DALVANI MARQUES MOTA Rua General Góis Monteiro, 608 – Padre Andrade CEP: 63.356-320 Fone-Fax: (85) 3226.1619 / 3478.1291 empresa / Celular: (85) 8825.6470 / Res. (85) 3478.1291 21 – FEDERAÇÃO RORAIMENSE DAS ASSOCIAÇÕES DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DE RORAIMA – FAMPER/RR Rua Pedro Teixeira, 497 – Aparecida – RORAIMA / RR - CEP: 69.306-060 Fone: (95) 224.0481 / 624.5233 Ce.: (95) 9961.2585 E-mail: [email protected] Presidente: ROSINETE DAMASCENO BALDI 22 – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES E ENTIDADES DE EMPREEENDEDORES DO PARÁ – FAEEPA/PA Rua Carneiro da Rocha, nº 919, Bairro do Arsenal, loja 01 – BELÈM / PA CEP 66023-110 Fone: (91) 3242-7076 Res. (91) 3272-5968 Cel: (91) 9989-1168 E- mail: [email protected] Presidente: OLAINO COELHO DA MOTA ASSOCIAÇÕES 1 – ASSOCIAÇÃO DAS MICROEMPRESAS DO MATO GROSSO DO SUL – AMEMS/MS Rua Cândido Mariano, 1052 - Centro - CAMPO GRANDE / MS CEP: 79.002-200 Fone: (67) 325-7820 / 382.2109 Fax: (67) 382-2109 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: JOÃO RAMOS MARTINS 2 – ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DA MICRO E PEQUENA EMPRESA DO RIO GRANDE DO NORTE/RN Rua Borborema, 1032 – Alecrim – Natal / RN - CEP: 59.040-130 Fone: (84) 3082.3096 / 3643.3672 cel.: (84) 9991.1457 / 9975.8856 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: VALÉRIO DOS SANTOS SIQUEIRA 3 – ASSOCIAÇÃO DAS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS GONÇALENSES – AMPEG / RJ End: Travessa Uriscina Vargas nº 66, Centro – São Gonçalo – RJ CEP: 24.452-020 Fone: (21) 3708.0482 / 3708.2295 Cel: (21) 8104.3737 E-mail: [email protected] / [email protected] Presidente: JOSÉ CARLOS SANT”ANNA 4 – ASSOCIAÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO RIO GRANDE – AMPERG Endereço Monron 93, Rio Grande / Rio Grande do Sul / RS CEP.: 96.200-450 Fone: (53) 3232-4381 Cel.: (53) 9971-1346 E-mail: [email protected] Presidente: GILBERTO DA SILVA CONSONI 07 Em Defesa dos Pequenos Negócios Revist a Conempec – Edição Especial – ASSOCIATIVISMO: CASOS DE SUCESSO é uma publicação da Conempec – Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços DIRETORIA Presidente: José Tarcísio da Silva – Feamepe/ PE; 1º Vice-presidente: Victorio Socha – Femicro/MA; 1° Secretário: Valdir Ribeiro de Souza – Femicro/BA; 2° Secretário: Sebastião Gabriel de Oliveira – Asmec/DF; 1° Tesoureiro: Dagoberto Lindaci – Simiempe/PE; 2° Tesoureiro: Antônio Gomes de Lima – Femipe/PB; Vice-presidente da Região Norte: Olaino Coelho da Mota – Fampep/PA; Vice-presidente da Região Sul: Luis Carlos Floriani – Fampesc/SC; Vice-presidente da Região Nordeste: Alexander Rodrigues Ludwig – Fempepi/PI ; Vice-presidente da Região Centro-Oeste: João Ramos Martins – Amems/MS Vice-presidente da Região Sudoeste: Pedro Gilson Rigo – Fampes/ES Manifestação em Brasília. Sicoob-Coopere 12 Capacitação Prepara Líderes e Empresas CONSELHO FISCAL Membros efetivos: Sebastião Martins dos Santos – Fetomepe /TO; Hermelindo de Souza Bezerra – Ampecs/AC; Cícero Berto dos Santos – Fampec/AL; Membros suplentes: Plínio Benfica – Fampero/RO; Suely Moraes dos Santos – Simpe/AM; Valdemar Thomsen – Arpemei/SP COORDENADOR EDITORIAL Abnor Gondim (Plano Mídia Marketing e Comunicação) - [email protected] Redação: Patrícia Acioli e Ana Maria Costa Relatórios dos casos de sucesso: Dra. Maria Inês Medeiros (Farmanossa/CE, Catende/PE e Peagro /AL); Dra. Anamélia Paranhos Macedo (Coopetêxtil/PE); Dr. Gilmar Geraldo Barbosa (Associação Comercial de São João do Paraíso/MG e Peiex); Dra. Arlita Santana (Coopere/BA); Dr. Luiz Carlso Floriani (Associação de Joinville Ajorpeme/SC) Projeto gráfico e diagramação: Eduardo Gregório ([email protected]) A Conempec está engajada na luta pela valorização das micro e pequenas empresas, como o movimento a favor da Lei Geral do segmento, com a redução da carga tributária Dez mil empresários formais e informais serão capacitados pela Conempec e entidades filiadas por meio de cursos, palestras e oficinas Treinamento das associações acissp 15 Associativismo: Casos de Sucesso Onze experiências mostram como a união de empreendedores resultou na melhoria de competitividade‘ Sede da Acissp (MG) Conempec Juntos para Seguir Adiante! Conempec e Entidades Filiadas............................................................................................. 2 Carta aos Empreendedores Integrar para Crescer ................................................................................................................. 06 Estatuto Com o DNA do Associativismo ............................................................................................... 10 Programa Capacitação Prepara Líderes e Empresas ......................................................................... 12 Sumário Expediente asn ASSOCIATIVISMO: CASOS DE SUCESSO Moda Empreendedora (MS) Toque Feminino Coletivo ......................................................................................................... 19 Soluções (SC) Entidade de Santa Catarina Vira Referência Nacional ................................................. 26 Concorrência (CE) Unir para Competir ...................................................................................................................... 34 Usina Catende (PE) Da Falência à Autogestão ........................................................................................................ 41 Sicoob-Coopere (BA) Uma História Escrita com Luta e Resistência ................................................................... 51 São Sebastião do Paraíso (MG) A Vitória do Desenvolvimento ................................................................................................ 62 Caxias do Sul (RS) Isca para Peixes Graúdos ......................................................................................................... 71 Cooperativismo (PE) Tecendo Lucros . ........................................................................................................................... 76 Supermercados (SC) De Peixe Pequeno a Tubarão .................................................................................................. 81 Reforma agrária (AL) A Organização dos Agricultores Familiares ..................................................................... 89 Artesãos (PA) Miriti na Era dos Games . .......................................................................................................... 99 Revisão: Maria A. das Neves Gráfica: Athalaia Ano: 2006 Conempec – Associativismo Conempec – Associativismo JOSÉ TARCÍSIO DA SILVA Presidente da Conempec Conempec – Associativismo Conempec As micro e pequenas empresas têm se tornado cada vez mais foco das políticas públicas de desenvolvimento no Brasil. Já são consideradas base da iniciativa privada e fator de desconcentração empresarial geográfica. Também são reconhecidas como importante instrumento de inclusão social e principal gerador de oportunidades de ocupação, emprego e renda. No entanto, observa-se que metade delas morre precocemente até o segundo ano de funcionamento, quer seja pela falta e insuficiência de capacitação empresarial de seus empreendedores, quer seja pela precariedade de políticas públicas e ações de apoio ao segmento. Daí torna-se essencial recorrer a estratégias inovadoras e eficazes de atuação de forma associativa para a criação de um ambiente favorável aos pequenos negócios. Diante desse cenário, a Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio de Serviços (Conempec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), formulou o Programa de Fortalecimento do Sistema Associativo das Micro e Pequenas Empresas e incluiu dentre seus objetivos principais justamente a integração dos empresários para a construção de grupos associativos. É o Projeto Integrar para Crescer. O programa também envolve ações de capacitação para a profissionalização da gestão empreendedora e orientação para legalização empresarial (Projeto Microempresa Legal) e o desenvolvimento de competências e habilidades de liderança (Projeto Capacitação de Lideranças). Os 11 casos de sucesso relatados aqui inauguram esta nova publicação da entidade – a revista Conempec –, com edição especial concebida para reforçar as formas de associativismo como novos rumos para o sucesso dos pequenos negócios, seja em setores tradicionais, como farmácias do Ceará e supermercados de Santa Catarina; seja em grupos excluídos, como artesãos do Pará, mulheres de pescadores de Mato Grosso do Sul ou trabalhadores rurais, que recuperaram uma usina falida em Pernambuco e viabilizaram projetos de reforma agrária em Alagoas, ou ainda, por meio de fortes entidades empresariais da região de Joinville (SC) ou de São Sebastião do Paraíso (MG). Esses casos precisam ser difundidos no meio empresarial. Afinal, o exemplo é a melhor forma de sensibilizar. Vale conhecer experiências bem-sucedidas que retratam o alto nível de empreendedorismo do nosso povo – o sétimo mais empreendedor do planeta - e a importância das práticas coletivas para blindar os empreendimentos de menor porte contra as adversidades de toda ordem. A nova publicação também comemora a aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, pela Câmara dos Deputados. Falta a aprovação pelo Senado e a sanção do presidente da República. Estamos perto de um novo marco legal a favor do segmento. Serão beneficiados 15 milhões de micro e pequenas empresas no Brasil, sendo mais de um terço delas informais. Em 12 meses, 50% das informais devem ingressar na formalidade. Nessa condição, as empresas têm melhores condições de se integrar para crescer. Boa leitura! Em defesa dos pequenos negócios Entidade participa da Frente pela Lei Geral e do Fórum Permanente das Pequenas Empresas Em quase sete anos de funcionamento, a Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços (Conempec) tem desenvolvido uma série de atividades em defesa dos interesses do segmento. “A Confederação tem alcançado conquistas que objetivam modificar procedimentos, visando beneficiar micro e pequenas Enrique Matute/Agência Sebrae de Notícias Carta aos Empreendedores Integrar para crescer empresas por meio de reuniões, encontros e congressos” , afirma José Tarcísio da Silva, presidente da Conempec e da Federação das Associações das Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (Feamepe). Com sede no Recife, a entidade foi criada em 16 de novembro de 1999. Antes, atuou como associação, criada em 1994. Posteriormente, participou do movimento que resultou O presidente da Conempec no Fórum Permanente, do qual participam o ministro Furlan e o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto Conempec – Associativismo Conempec na criação do Simples, sistema unificado de pagamento de tributos federais. Ao longo desses anos, promoveu vários congressos e encontros para discutir políticas públicas de apoio à categoria. Atualmente, a Conempec desenvolve ativa participação na Frente Parlamentar pela Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que reúne as principais entidades empresariais do País. Desde março de 2005, a Frente promove ações para a aprovação do projeto da Lei Geral, que prevê a criação do chamado Super Simples, com a unificação de todos os impostos federais, estaduais e municipais, e a desburocratização na criação das empresas. A Conempec também participa do Fórum Permanente das Micro Empresas e Empresas de Pequeno Porte, que se tornou um elo de comunicação entre governo e empresas. Implantado por decreto-lei presidencial, o Fórum funciona no âmbito do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O Fórum é integrado por representantes de 57 entidades de micro e pequenos empreendimentos, órgãos públicos ligados à área e entidades que apóiam o segmento.Tem como presidente o ministro do MDIC, Luiz Fernando Furlan. O Fórum mantém ativos seis comitês, a seguir: Formação e Capacitação Empreendedora, coordenado por José Tarcísio da Silva; Racionalização e Desburocratização; Tecnologia e Inovação; Informação, Exportação e Financiamento. Conempec – Associativismo Já existem federações de micro e pequenas empresas ligadas à Conempec no Distrito Federal e em 20 estados – Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí, Sergipe, Espírito Santo, Goiás, Amapá, São Paulo, Roraima, Rondônia, Acre, Pará, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Tocantins. “A Confederação tem alcançado conquistas que objetivam modificar procedimentos, visando beneficiar micro e pequenas empresas por meio de reuniões, encontros e congressos” USEM E ABUSEM José Tarcísio da Silva, presidente da Conempec. O Programa da Conempec está relacionado com as metas do Sebrae de ampliar o atendimento individual para 5 milhões de empresas por ano, buscar as 400 mil empresas registradas anualmente no País e reduzir de 50% para 30% o índice de mortalidade nos dois primeiros anos de funcionamento. Galeria de Eventos Essas metas foram anunciadas pelo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, durante o XIV Congresso Brasileiro e o VI Congresso Estadual de Micro e Pequenas Empresas, dois eventos promovidos pela Conempec. “Temos quase 11 milhões de empreendimentos na informalidade”, avisou Okamotto. “Precisamos levar conhecimento a esses empreendedores. Usem e abusem do Sebrae.” Para o gerente da Unidade de Políticas Públicas do Sebrae, Bruno Quick, uma pessoa é levada a criar um negócio informal pela falta de emprego, pela necessidade de complementação de renda familiar ou até mesmo por algum tipo de experiência inicial. Fica nessa situação por causa da burocracia, falta de informação e custo. Para se abrir uma empresa no Brasil, o custo médio gira em torno de R$ 700,00 e é necessário obter cerca de 80 documentos nas esferas federal, estadual e municipal. Conempec – Associativismo Rodrigo Moreira/ASN Estatuto Com o DNA do associativismo A Conempec foi constituída com o objetivo apoiar a criação de novas entidades A promoção do associativismo está no DNA da Conempec. No estatuto da Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços consta, dentre seus objetivos, “apoiar e incentivar a criação de Federações de Associações de Micro e Pequenas Empresas, de Sindicatos de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços e de Associações de Micro e Pequenas Empresas, em todo o território nacional”. Seu trabalho se faz presente na desburocratização do crédito, qualificação de empresários e líderes do segmento em questão, na redução e renegociação de tributos, 10 Conempec – Associativismo na realização de eventos para disseminar informações dentre outras realizações. Instituição civil, sem fins lucrativos, a Conempec é formada por entidades que representam micro e pequenas empresas do comércio e de serviços que atuam no Brasil e para a realização de suas atividades. Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e outras entidades, a Conempec tem realizado congressos, seminários, encontros, capacitações para empresários e líderes do setor, ao longo de sua existência. Participa também de movimentos nacionais que visam uma legislação mais justa como O presidente da Conempec participou de audiência com o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, para a aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas as manifestações a favor da aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. A Conempec tem um papel fundamental em todos os momentos importantes no setor das micro e pequenas empresas no Brasil. Integrada a uma rede de entidades, atua sempre junto às esferas legislativas, para obter condições mais viáveis de desenvolvimento dos pequenos negócios. A Conempec tem ainda como principais objetivos: – promover a mais perfeita união entre os órgãos representativos das micro e pequenas empresas comerciais e prestadoras de serviços do Brasil; – defender os interesses das entidades filiadas e em particular os direitos e aspirações dos micro e pequenos empresários; – propor e sugerir aos poderes públicos medidas de interesse das classes produtoras, capazes de promover o desenvolvimento e a prosperidade da economia nacional e incentivar a livre iniciativa; – organizar, promover e participar de seminários, congressos, conferências, simpósios, mostras e eventos em geral do interesse do empresariado que representa; – pugnar pelo desenvolvimento da classe que representa e pelo estreitamento das relações entre entidades representativas dos diversos segmentos da atividade econômica do País e do exterior; – desenvolver, em consonância com os poderes públicos, planos de cooperação social e/ou assistencial às micro e pequenas empresas comerciais e de serviços; – opinar sobre os atos e medidas dos Poderes Legislativos e Executivo considerados prejudiciais aos interesses das micro e pequenas empresas comerciais e prestadoras de serviços; – participar, por meio de seus diretores, dos conselhos nacionais de entidades estatais, para estatais, de serviço social autônomo e de entidades privadas. Conempec – Associativismo 11 Fortalecimento das associações Outro objetivo do programa é elevar a competitividade das empresas participantes e ampliar as condições para a formalização dos negócios que estão na economia informal. Estima-se que haja no País cerca de 15,5 milhões de empreendimentos de menor porte. Desse total, cerca de 10 milhões estão na informalidade. LÍDERES Capacitação prepara líderes e empresas Conempec vai qualificar 10 mil empresários de todo o Brasil Sócios de micro e pequenas empresas formais ou informais estão aptos a participar da série de capacitações que está sendo promovida este ano em 11 estados pela Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços (Conempec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Trata-se do Programa de Fortalecimento do Sistema Associativo das Micro e Pequenas Empresas, desenvolvido por meio de cursos, oficinas e palestras. Neste ano, a previsão é atender empresários dos estados 12 Conempec – Associativismo O Programa de Fortalecimento do Sistema Associativo das Micro e Pequenas Empresas oferece como módulos de treinamento os projetos Integrar para Crescer, Capacitação de Liderança e Microempresa Legal. É voltado para a formação de líderes do segmento. No caso do Projeto Integrar para Crescer, a entidade busca a integração dos micro e pequenos empresários para a construção de grupos associativos. O QUE É O PROJETO MICROEMPRESA LEGAL de Pernambuco, da Paraíba, de Alagoas, da Bahia, do Pará, do Piauí, de Santa Catarina e do Espírito Santo, Maranhão, do Amazonas e de Sergipe. Em 2007 todos os estados serão contemplados, o que proporcionará capacitação para cerca de 10 mil empreendedores. O Projeto Microempresa Legal representa um conjunto de ações integradas de capacitação empresarial, desenvolvido em conjunto com as Federações e Associações de representação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte nos estados brasileiros. De acordo com o presidente da Conempec, José Tarcísio da Silva, as ações do programa vão contribuir para a redução dos altos índices de mortalidade das micro e pequenas empresas – 49,4%, até o segundo ano, 56,4% até três anos, e 59,9% até o quarto ano, segundo pesquisa do Sebrae. As programações desenvolvidas nas capacitações do Projeto Microempresa Legal contribuirão para que as empresas beneficiadas tenham melhorias administrativas e financeiras significativas, uma maior produtividade e qualidade nos seus produtos e serviços e melhor satisfação dos clientes, parceiros e colaboradores. Os resultados previstos serão decorrentes da profissionalização na gestão empresarial e um maior aproveitamento das suas potencialidades, gerando desenvolvimento, crescimento econômico e ampliação de oportunidades de ocupação, emprego e renda. A Conempec e as Federações associadas, como entidades parceiras, estão confiantes de que as ações desenvolvidas contribuirão para a redução do alto índice de mortalidade do segmento das Micro e Pequenas Empresas. Possibilitarão, ainda, uma maior elevação do nível de competitividade das empresas participantes e a ampliação das condições para a formalização legal das atividades empresariais informais. OBJETIVO Desenvolver ações de capacitação para o fortalecimento do Sistema Associativo das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte nos Estados Brasileiros, estimulando o fomento e desenvolvimento de ações coletivas e a profissionalização na gestão empresarial, visando ao desenvolvimento e crescimento auto -sustentável. PÚBLICO-ALVO Microempresários e empresários de pequeno porte (formais e informais), associados e potenciais associados das entidades representativas do segmento nos diversos Estados do Brasil. Conempec – Associativismo 13 Fortalecimento das associações Perfil do empreendedor CONTEÚDO DO PROJETO MICROEMPRESA LEGAL 1. Palestra: COMO TORNAR SUA MICRO E PEQUENA EMPRESA UM EMPRENDIMENTO DE SUCESSO Programação: – Orientações e recomendações técnicas para tornar a sua microempresa um empreendimento de sucesso; – A formalização do empreendimento: vantagens e benefícios; – A importância das ações coletivas como estratégia para a obtenção de conquistas econômicas e sociais. Conheça as principais características de quem tem habilidades para empreender De acordo com as cartilhas do Programa de Fortalecimento do Sistema Associativo das Micro e Pequenas Empresas do Brasil, o empreendedor não é fruto exclusivo do nascimento ou herança genética, mas sim resultado de muito trabalho, talento e potencialidades latentes que poderão ser desenvolvidas nas pessoas que desejam tornar-se empreendedoras. Em geral, segundo a publicação, os empreendedores apresentam as seguintes características: – Existência de atitudes psicológicas orientadas para a implementação de projetos, identificados como necessidades e oportunidades mercadológicas, não percebidas pela maioria das pessoas; – Procura conhecer tecnologias, mudanças, expectativas e necessidades do mercado em que atuam ou têm interesse em atuar, seja como profissional ou como pessoa disposta a aproveitar as oportunidades de negócios; Carga horária: 3 horas – São receptivos às mudanças que estão ocorrendo para a abertura de negócios, sabem aproveitar as oportunidades de negócios derivadas de fatores e variáveis diversas, tais como as tecnológicas, políticas e sociais; 2. Oficina: CONHECENDO A SUA POTENCIALIDADE EMPRESARIAL – Boa parte dos empreendedores tem algo em comum, que transcende os campos dos negócios e da economia. Muitos procuram contribuir para o progresso da humanidade e pela melhoria da qualidade de vida das pessoas. Programação – Conhecendo o seu perfil empreendedor; – Conhecendo a sua competência gerencial; – Conhecendo a sua empresa. Carga horária: 6 horas 3. Curso: PRATICANDO UMA GESTÃO EMPREENDEDORA NA MICRO E PROJETO CAPACITAÇÃO DE LIDERANÇAS Programa de fortalecimento do sistema associativo das micro e pequenas empresas PEQUENA EMPRESA Programação: – Idéias e conceitos de gerenciamento; – Aspectos de qualidade e produtividade; – Comportamento gerencial eficaz; – Conceitos e idéias de marketing; – Conceitos e práticas de finanças. Carga horária: 12 horas 4. Encontros técnicos: ORIENTAÇÕES PARA LEGALIZAÇÃO EMPRESARIAL – Principais etapas no processo de legalização e formalização das empresas; – Vantagens, benefícios, obrigações e responsabilidades decorrentes da legalização empresarial. Conempec – Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio de Serviços O QUE É O PROJETO DE CAPACITAÇÃO DE LIDERANÇAS O Projeto Capacitação de Lideranças representa um conjunto de ações integradas de capacitação empresarial, desenvolvida em conjunto com as federações e associações de representação das microempresas e empresas de pequeno porte nos estados brasileiros. Carga horária: 4 horas Mais Informações: Conempec: 0xx 81-3231-2560 e www.conempec.org.br 14 Conempec – Associativismo A Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas do Comércio de Serviços – Conempec, e as federações associadas, como entidades parceiras, estão confiantes de que as ações desenvolvidas contribuirão para a redução do alto índice de mortalidade do segmento das MPEs. Possibilitarão, ainda, uma maior elevação do nível de competitividade das empresas participantes e do desenvolvimento e fortalecimento das lideranças das entidades associadas nos Estados e municípios. OBJETIVO Possibilitar aos participantes informações e situações de aprendizagens, visando o desenvolvimento de competências e habilidades de liderança para uma melhor atuação nas suas empresas e no desenvolvimento de ações coletivas. PÚBLICO-ALVO Microempresários e empresários de pequeno porte (formais e informais), associados e potenciais associados das entidades representativas do segmento nos diversos estados do Brasil. Conempec – Associativismo 15 Fortalecimento das associações 1. Palestra: CONHECENDO HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA Programação: – O que é liderança? – Conhecendo o perfil de uma liderança empreendedora.;– Conhecendo habilidades e competências básicas de liderança. Carga horária: 3 horas 2. Seminário: DESENVOLVENDO A SUA POTENCIALIDADE DE LIDERANÇA Programação – Questões básicas de liderança; – Abordagens sobre o estudo da liderança; – Compreendendo as condições para o desenvolvimento da liderança; – Desenvolvendo a sua potencialidade de liderança. Carga horária: 9 horas O QUE É O PROJETO MICROEMPRESA LEGAL O Projeto Microempresa Legal representa um conjunto de ações integradas de capacitação empresarial, desenvolvido em conjunto com as federações e associações de representação das microempresas e empresas de pequeno porte nos estados brasileiros. As programações desenvolvidas nas capacitações do Projeto Microempresa Legal contribuirão para que as empresas beneficiadas tenham melhorias administrativas e financeiras significativas, uma maior produtividade e qualidade nos seus produtos e serviços e melhor satisfação dos clientes, parceiros e colaboradores. Os resultados previstos serão decorrentes da profissionalização na gestão empresarial e um maior aproveitamento das suas potencialidades, gerando desenvolvimento, crescimento econômico e ampliação de oportunidades de ocupação, emprego e renda. A Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas do Comércio de Serviços – Conempec, e as federações associadas, como entidades parceiras, estão confiantes de que as ações desenvolvidas contribuirão para a redução do alto índice de mortalidade do segmento das MPEs. Possibilitarão, ainda, uma maior elevação do nível de competitividade das empresas participantes e a ampliação das condições para a formalização legal das atividades empresariais informais. OBJETIVO Desenvolver ações de capacitação para o fortalecimento do Sistema Associativo das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte nos Estados Brasileiros, estimulando o fomento e desenvolvimento de ações coletivas e a profissionalização na gestão empresarial, visando o desenvolvimento e crescimento auto-sustentável. PÚBLICO – ALVO Microempresários e empresários de pequeno porte (formais e informais), associados e potenciais associados das entidades representativas do segmento nos diversos estados do Brasil. 16 Projeto: CONTEÚDO DO PROJETO DE CAPACITAÇÃO DE LIDERANÇAS Conempec – Associativismo integrar para crescer Objetivos · Possibilitar oportunidades para geração de vínculos empresariais, disseminação de conhecimentos e troca de experiências de interesses comuns e relevantes para o segmento das MPEs; · Gerar oportunidades para identificação e validação de experiências individuais e coletivas na busca da excelência no desenvolvimento de suas atividades junto aos associados; · Desenvolver competências e habilidades para uma gestão empreendedora nas entidades de representação das MPEs; · Desenvolver competências e habilidades para realização de articulações e integrações com organizações públicas e privadas visando intervenções externas voltadas para o desenvolvimento e fortalecimento das entidades e de seus núcleos setoriais. PROGRAMA · Conhecendo o Integrar para Crescer · Condições para geração de ambiente para Integração e Crescimento; · Gestão e desenvolvimento da Associação Empresarial; · Realizando Diagnostico Setorial e Praticando o Planejamento Estratégico; · Integração com Agentes Externos para consolidação da entidade Carga horária total do Projeto: As diversas fases do Projeto serão desenvolvidas em 70 horas de atividades de instrutoria e consultorias de aconselhamentos de forma coletiva nas áreas de planejamento estratégico e associativismo. Metodologia Exposição dialogada e moderação de encontros programados com a utilização da metodologia METAPLAN e ZOOP (Planejamento de Projetos Orientados por Objetivos), exercícios estruturados, questionários e dinâmicas de grupos. CONHECENDO O INTEGRAR PARA CRESCER O Projeto Integrar para Crescer têm como principais finalidades estimular a formação de grupos ou de núcleos setoriais, compostos por empreendedores de um mesmo ramo de atividade, motivados por interesses e necessidades comuns, utilizam-se de modelos e estratégias de atuação coletiva, objetivando a identificação e geração de soluções conjuntas. Os núcleos setoriais poderão fazer parte de uma associação, ou possa ser um grupos que na busca de fortalecimento individual, identificam na formação do Conempec – Associativismo 17 nucleo a forma mais viável para potencializar a sua capacidade individual e, assim, gerar um nível de poder para por meio da integração e união de esforços, recursos e competências, defender interesses a alcançar objetivos comuns. As ações do Projeto Integrar para Crescer poderá ser desencadeadas a partir de um grupo de empresários de atividades comuns ou núcleo setorial, bem como fomentar o fortalecimento de uma associação recente, em fase de fase de estruturação, e, ainda, contribuir para a sua consolidação por meio de ações de capacitação para a profissionalização da Gestão da Associação, criando assim, as condições básicas para geração de alternativas para o seu desenvolvimento, autosustentação e crescimento como entidade de representação empresarial. Na dinâmica de formação dos núcleos setoriais, fortalecimento de associações e organização de processos associativos, visando a criação e /ou consolidação de entidades em formação e nas já existentes, serão realizados encontros tecnicos com a moderação de consultores para desenvolvimento de ações de capacitações, consultorias de aconselhamento de forma coletiva, diagnóstico e planejamento de ações que possibilitarão oportunidades de geração de vínculos empresariais, disseminação de conhecimentos e troca de experiências de interesses comuns e relevantes para o segmento das MPEs; A execução do Integrar para Crescer terá como instrumentos morteadores 18 Conempec – Associativismo das ações a elaboração de um diagnóstico setorial e de um planejamento estratégico a serem realizados junto aos empresários de micro e pequenas empresas, ou núcleos setoriais, com o apoio de consultores capacitados na metodologia do Integrar para Crescer. Os principais resultados serão a definição de rumos estratégicos, administrativos e operacionais, além da formação, integração e convergência associativa, objetivando assim, melhoria de competitividade do segmento envolvido, gerando condições para sustentabilidade da entidade ou associação num menor espaço de tempo. As ações de intervenções dos consultores credenciados nos Núcleos Setoriais, entidades e associações empresarias, serão realizadas a partir dos resultados de diagnósticos setoriais, elaboração de planejamento estratégico e a definição de um plano de ação, instrumentos elaborados pelo consultor em conjunto com os empresários envolvidos no Projeto. As ações previstas no Plano de Ação serão realizadas pelos participantes do Integrar para Crescer, com apoio e aconselhamento do consultor, principalmente, quando no desenvolvimento de articulações objetivando a participação e integração nas ações com entidades governamentais e a inciativa privada. Em suma, trata-se de proporcionar por meio de encontros estruturados com potenciais lideranças, empresários de micro e pequenas empresas, em um ambiente de confiança, cumplicidade e reciprocidade, para troca de dados, informações e conhecimento Moda empreendedora iv ciat Asso os : Cas ismo Toque feminino coletivo Couro de peixe vira fonte de renda de mulheres de pescadores em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Experiência rendeu o Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora à presidente da entidade, Wânia Alecrim de Lima, que também foi incluída como finalista no prêmio da revista Cláudia, da Editora Abril. Grupo que participa da Amor Peixe: união para incrementar negócios Márcia Gouthier/Agência Sebrae de Notícias Fortalecimento das associações o cess de Su Wânia Lima, presidente da Amor Peixe, na entrega do Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora: “Antes, riam do nosso cheiro de peixe; hoje, nosso artesanato faz sucesso até no Fashion Rio” Conempec – Associativismo 19 Moda empreendedora faz parte do Projeto Talentos do Brasil, que é desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com a Petrobras, prefeituras, WWF (Fundo Mundial para a Natureza) no Brasil e Sebrae. A Amor Peixe conta também com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal, da Universidade Católica Dom Bosco, do Instituto de Meio Ambiente Pantanal, da Fundação de Cultura, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Linha de produção artesanal variada sem agredir meio ambiente A Associação Amor Peixe, formada em sua maioria por mulheres de pescadores de Corumbá (MS), virou uma referência no Centro-Oeste em empreendedorismo coletivo, moda e trabalho social. Criada em 2002, a entidade foi fundada com a orientação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para beneficiar o couro de peixe. Desde então, as integrantes da associação fazem, periodicamente, cursos de capacitação no Sebrae/MS. Agora, elas se preparam para aumentar e diversificar a produção. Elas saíram de uma vida sem perspectivas para uma experiência de negócios bem-sucedida. Os produtos da Associação foram apresentados este ano na 8ª edição do Rio Fashion Business, no Rio de Janeiro, realizado de 9 a 14 de janeiro, no Museu de Arte Moderna. Antes do evento, as artesãs participaram de uma Oficina de Design com o especialista Renato Imbroisi, especialista 20 Conempec – Associativismo em design de peles exóticas. As novas peças confeccionadas foram organizadas em um catálogo que também tem a participação das artesãs. A linha de produção inclui desde bolsas, acessórios e cintos até lindas bijuterias, tudo feito de forma artesanal, com o reaproveitamento de pele de peixe (pacu, piranha, dourado e tilápia), sem agredir o meio ambiente. Negócios estão sendo feitos com lojistas dos Estados Unidos, Venezuela, Holanda, Canadá e França. “Elas aprenderam novas técnicas de corte e modelagem e criaram peças agregando maior valor ao couro do peixe”, afirma Renato Imbroisi. “As artesãs têm sido muito abordadas por suas histórias de vida que estão emocionando os visitantes. É isso que queremos mostrar com o nosso trabalho, a diversidade brasileira, a espontaneidade desses grupos, e com isso, atingir resultados.” Para preparar o couro do peixe, são necessários produtos químicos que são comprados em São Paulo. De acordo com as mulheres, um quilo geralmente dá para fazer uma bolsa não muito grande. Os custos são altos e o trabalho é demorado. Para preparar a pele leva em média dois dias, pois depois de passar horas no fulão (barril de madeira acoplado a um motor para ficar girando) a pele seca na sombra durante um dia e somente depois será trabalhada. OPORTUNIDADES PRÊMIOS A Associação vende mensalmente 100 a 200 peças. São mais de 20 produtos diferentes confeccionados a partir do beneficiamento do couro de peixe na região turística de Corumbá. As atividades das artesãs são desenvolvidas em um prédio público cedido pelo governo do Estado do Mato Grosso do Sul. Lá funcionou uma cadeia. Hoje, o local abriga a Casa do Artesão. Em cerimônia alusiva ao dia 8 de março deste ano, Dia Internacional da Mulher, a presidente da Associação, a empreendedora Wânia Alecrim de Lima, 37 anos, foi homenageada como a vencedora da região CentroOeste do Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora 2005 na categoria Associações e Cooperativas. Variedade artesanal melhora, transforma e garante renda Para os integrantes da associação, o beneficiamento da pele de peixe e a comercialização de seus produtos é uma oportunidade de buscar uma vida melhor. “Queremos ter nosso próprio dinheiro”, diz Márcio da Cunha, que ingressou na entidade em razão de não ter conseguido emprego em Corumbá. Helena Ortega da Costa, pescadora, Lara Silva Zentene, artesã, e Maria Auxiliadora Fernandes, dona-de-casa, acreditam que essa é uma oportunidade para elas desenvolverem um trabalho e garantirem uma renda. Helena Ortega da Costa parou de pescar, pois tem problema de pressão alta e não pode ficar muito tempo no sol. Para ela, que sempre trabalhou com peixe, essa foi a única alternativa de renda que encontrou. A participação da Amor Peixe no evento Conempec – Associativismo 21 Moda empreendedora Mas a projeção da experiência foi mais além. A história de vida da artesã fez com que ela fosse uma das 15 finalistas ao Prêmio Cláudia 2006 na categoria Trabalho Social. O Prêmio avalia cinco categorias: ciências, cultura, negócios, políticas públicas e trabalho social. A relação das finalistas foi divulgada pelo site www.premioclaudia.com.br. O SONHO VIROU EMPRESA Em 2003, o sonho da Wânia Alecrim de Lima e suas companheiras ganhou contornos mais reais. A Amor Peixe foi constituída oficialmente, com estatuto e Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Em 2004, a entidade recebeu o apoio da Fundação Estadual de Cultura. Hoje, integram a entidade dez mulheres de pescadores e outras 36 pessoas de suas famílias. “Os resultados que conseguimos são inúmeros. Das dez mulheres que fazem par- te da associação, seis voltaram a estudar e todos os outros integrantes fazem cursos regularmente”, assinala a presidente da Associação. “Houve melhoria também no convívio entre as famílias, temos mais dignidade e nossos maridos contam com a nossa renda, que vem dos produtos feitos na Associação, para ajudar nas despesas da casa. Temos esperança de que os benefícios que a Amor Peixe está trazendo para vários segmentos da comunidade possam servir de exemplo e que iniciativas como essa possam ser fomentadas no Brasil como um todo, porque melhoram, transformam e trazem esperanças de que todos podem recomeçar. Basta querer”, explica. PRODUÇÃO DE KITS Atualmente, a Amor Peixe, além das vendas no varejo, tem contrato de produção com uma empresa mineradora multinacional para fabricar kits distribuídos nos workshops O viés social Outra vertente das atividades da Associação Amor Peixe é a área social. A Associação Amor Peixe tem projetos na área de formação e capacitação dos pescadores de Corumbá e suas famílias. De acordo com a presidente da entidade, Wânia Alecrim, os projetos, no entanto, dependem de um maior aporte de recursos para ganhar regularidade e beneficiar mais pessoas. “Se não houver uma possibilidade de gerar renda para essas pessoas, não dará certo”, ressalta. Do contrário, segundo ela, pode gerar frustração. “Não adianta ter cursos, se não for dada a estrutura necessária para que as pessoas tenham a possibilidade de aplicar o conhecimento”, alerta. A avaliação é fruto de experiências recentes. Em 2004, Wânia e outra associada apresentaram ao programa BB Educar, do Banco do Brasil, um projeto de alfabetização para os pescadores da região. “O Banco nos deu o material didático e nos capacitou a dar aulas”, lembra. A idéia é fazer com que os pescadores pudessem ao menos escrever um bilhete às suas famílias. “Por causa do ofício, eles ficam longos períodos fora de casa e a maioria deles mal desenha o nome”, afirma. As duas integrantes da Amor Peixe foram à beira dos rios cadastrar os pescadores e montaram salas de aula para 50 pessoas. Somente 13 conseguiram se alfabetizar. “Tivemos muitos desafios. Homens e mulheres não podiam ter cursos juntos, por causa da cultura deles. Muitos pescadores tinham problemas de visão. Além disso, as aulas só podem ser realizadas durante o período da piracema, entre outubro e março.” No livro das empreendedoras Líder das artesãs vendia jornal para pagar os estudos Neste ano a trajetória das integrantes da Associação Amor Peixe foi incluída no livro “Histórias de Sucesso”, elaborado pelo Sebrae, em homenagem às vencedoras do Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora. No final do ano, ela deverá se formar no curso de Zootecnia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Uma mudança e tanto para quem vendia jornal para pagar os estudos. A reviravolta veio com a iniciativa de fazer o próprio negócio. A presidente da entidade conta que acreditou que o couro de peixe beneficiado e transformado artesanalmente em produtos como bolsas, agendas e outras peças, poderia atrair um grande número de turistas e ser uma alternativa de renda. Por isso decidiu fazer cursos, estudar e com auxilio do Sebrae, fundou a associação. Fez vestibular para turismo e passou. Custeou sua faculdade vendendo jornais nas ruas de Corumbá e fazendo faxinas nos fins de semana, até que foi convidada pela ONG WWF-Brasil e recebeu uma bolsa de estudos. Wânia enfrenta cotidianamente o desafio de administrar diferenças. “Muitas companheiras sabiam apenas desenhar o nome, eram donas-de-casa que resolveram mudar de vida. Nem sempre elas entendem tudo o que acontece, principalmente na área financeira como as taxas bancárias que temos de pagar”, explica. Para facilitar, a Associação tem uma gestão administrativa transparente. Tudo o que acontece, principalmente o dinheiro da associação na conta do banco, vai para o mural. Na diretoria da Associação estão as associadas com mais escolaridade. O desejo de Wânia é que alguma das companheiras da Associação se interesse em aproveitar a bolsa que a Universidade Católica deu para a Amor Peixe. “Algumas que estão fazendo o ensino médio já demonstraram interesse”, comemora. promovidos pela empresa. Cada kit – bolsa de juta com aplicação de couro nas laterais, porta-moedas, caderneta e estojo de colar – são vendidos a R$ 50. A empresa costuma fazer encomendas que variam entre 400 e 600 kits. “Boa parte das nossas peças vai para a Austrália”, revela Wânia. A divisão dos lucros destina 30% para a manutenção da Associação e os demais 70% são divididos entre as associadas. BENEFICIAMENTO DA PELE DE PEIXE As empreendedoras da Amor Peixe 22 Conempec – Associativismo eram donas de casa, mulheres de pescadores. A partir de um curso de beneficiamento da pele do peixe, em 2001, se reuniram e decidiram montar um negócio para incrementar a renda familiar. “Nós procuramos o Sebrae e começamos a participar dos cursos de capacitação. Todo mundo participou. Até hoje fazemos isso. Praticamente toda semana o Sebrae nos oferece uma bolsa para algum curso”, conta a presidente da Associação. Os cursos de capacitação também despertaram a vontade de aprender mais. Wânia acrescenta que muitas mulheres mal sabiam Conempec – Associativismo 23 Moda empreendedora “Muitas companheiras não sabiam nem escrever o nome, eram donas-de-casa que resolveram mudar de vida. Nem sempre elas entendem tudo o que acontece, principalmente na área financeira, como as taxas bancárias que temos de pagar. Para facilitar, a Associação tem uma gestão administrativa transparente e tudo o que acontece no banco vai para o mural.Na diretoria estão as associadas com mais escolaridade”. ler e escrever. “Agora, todas já terminaram o ensino fundamental”, conta. Ela própria ingressou na Universidade e está terminando o curso de Zootecnia. A mudança na vida dos associados foi gritante. “Antes, éramos apenas donas-de-casa, algumas de nós chegava a passar fome”, revela. Agora todas estão investindo esforço próprio focado no empreendedorismo. O último curso do Sebrae feito pelos integrantes da Amor Peixe, na área de design, abriu novos horizontes para a produção que fabrica apliques para roupas, cadernetas, bolsas, carteiras, estojos, porta-moedas, tudo em couro de peixe. A idéia é incrementar ainda mais as peças e expandir os negócios. EXPANSÃO A Associação está em franca expansão. Com parcerias firmadas com a prefeitura de Corumbá, Sebrae, WWF, Embrapa, entre outras, a Amor Peixe pretende ampliar o número de associados e planeja se tornar uma empresa. Além disso, há outros projetos como o beneficiamento da carne do peixe. Para isso, no entanto, a Associação deverá ampliar sua capacidade de produção. Às três máquinas de costura industrial para peixe devem se somar outras três para atender à crescente demanda por produtos. A Amor Peixe recebeu, em julho de 24 Conempec – Associativismo 2006, da prefeitura de Corumbá um novo frigorífico para armazenar as peles. É que a produção, que iniciou com as peles dos peixes pescados pelos maridos das associadas, passou a não ser suficiente para atender às inúmeras encomendas. A saída foi “importar” peles de tilápia da cidade de Dourados. “Gastamos 100 a 200 kg de peles e os piscicultores daqui não tinham como processar o peixe sem pele”, explica Wânia. Outro problema era a armazenagem do couro em frigorífico fora da Associação, o que implicava mais custos como o de transporte. A saída foi apresentar um projeto à prefeitura de Corumbá, que foi aprovado. Assim, além do frigorífico, a Associação ganhou também meia tonelada de peles de peixe. E aguarda uma balança digital. As parcerias, de acordo com a presidente da Amor Peixe, são fundamentais para viabilizar a expansão. É que um quilo de peixe dá apenas para produzir uma bolsa, tamanho médio. Os custos são elevados e falta recursos para investir no maquinário necessário à ampliação da produção. As dificuldades, no entanto, sinalizaram novos nichos de mercado a serem explorados pela Amor Peixe como o beneficiamento do peixe. “Nossa intenção é resgatar o projeto inicial de processar os peixes daqui da região”, diz Wânia. Com o apoio da Embrapa Pantanal, a Amor Peixe desenvolveu pratos semi prontos, à base de peixe e tradicionais da culinária pantaneira. Os pratos escolhidos foram o quibe de peixe, caldo de piranha e o pacu salgado com batata. “Houve um grande interesse dos supermercados Comper e Carrefour mas não temos ainda a infra-estrutura necessária para iniciar a produção”, ressalta Wânia. Ela conta que, no supermercado Carrefour, foi feita uma degustação do quibe de peixe que lotou a gôndola de consumidores. Para viabilizar o projeto, a Associação terá de montar um mini frigorífico e uma estrutura de cozinha industrial. O projeto foi apresentado à Petrobras. “Se tudo der certo, vamos conseguir vencer mais esse desafio e melhorar a vida de mais pessoas daqui da região”, acrescenta a presidente. Artesanato pantaneiro Mulher de pescador, a pantaneira Wânia Alecrim, 38 anos, casou jovem e abandonou a escola para cuidar da casa. Em 2002, já com quatro filhos, participou de um curso de curtição de pele de peixe, oferecido pelo governo de seu estado, Mato Grosso do Sul, para membros de famílias como a dela, que tiram o sustento do rio. “Vi ali uma oportunidade de crescer, de mudar de vida. A pele, que antes ia para o lixo, podia virar artesanato e gerar renda para nós.” Assim, incentivou algumas colegas a se juntar a ela na confecção de bolsas, roupas e carteiras e outras peças de pele curtida, amaciada e tingida - de peixes regionais. “Percebi também que, sem educação, ninguém vence e fui fazer supletivo.” Vendeu móveis da casa e até o motor do barco do marido para pagar os estudos e as viagens pelo País, onde passou a apresentar, em feiras e exposições, as criações do grupo. Logo Wânia e as amigas conseguiram parceiros, como a instituição ambientalista WWF Brasil, e, em maio de 2003, inauguraram a Amor Peixe, ONG com sede na Casa do Artesão, no centro de Corumbá (MS). As 14 integrantes da Amor Peixe já fizeram cursos de design, costura, empreendedorismo e faturam, cada uma, cerca de 400 reais por mês com a venda de seus produtos para empresas e turistas. Wânia, que é presidente da ONG, entrou na faculdade de zootecnia, dá palestras e cursos-recentemente capacitou pescadoras da Bolívia - e planeja ir mais longe: busca patrocínio para adquirir máquinas de costura, além de um freezer, e, com isso, aumentar a produção e mudar a história de muitas outras mulheres. Fonte: site da Prêmio Cláudia | http://claudia.abril.com.br/premioclaudia/leiamais_waniaa.shtml Contatos: Associação de Mulheres Organizadas Reciclando Peixe: (67) 3232-2325 Conempec – Associativismo 25 Associação de Joinville ofe- Soluções (SC) rece soluções em gestão, conhecimento e oportunidades de negócios por meio do associativismo e cooperativismo; promove o desenvolvimento sustentável de micro e pequenas empresas. Entidade de Santa Catarina é referência nacional Fotos: Ajorpeme/Divulgação Celso Trentini, presidente da Ajorpeme: 22 anos sob o lema “Juntos Somos Mais Fortes”. 26 Conempec – Associativismo Na segunda metade do século XIX, a colonização germânica trouxe para Joinville cerca de 28.000 imigrantes que fugiam da Europa em busca de novas oportunidades. Eles trouxeram na bagagem o espírito de luta e de trabalho e transformaram os contratempos na maior cidade de Santa Catarina. Hoje com cerca de 450 mil habitantes, Joinville é responsável por quase um quinto de tudo que o Estado exporta. É sede de pesos pesados da indústria nacional, como Tigre, Brasmotor (Embraco e Cônsul), Döhler e Busscar, entre outros. Mas também abriga uma das melhores organizações empresariais do Brasil – a Associação de Joinville e Região da Pequena, Micro e Média Empresa (Ajorpeme), apontada como a maior entidade do gênero, com 2.300 associados, todos empresários de micro e pequenos empreendimentos. A quantidade atual de associados da entidade era algo inimaginável para o grupo inicial de apenas 34 empresários. Dela participam empresas de micro, pequeno e médio porte dos setores da indústria, comércio, serviços e base tecnológica e também do agronegócio. Sediada a 180 km da capital Florianópolis, a Associação surgiu com o objetivo de reunir os empresários do norte e nordeste de Santa Catarina para defender a livre iniciativa, a propriedade privada, a democracia e o permanente aprimoramento tecnológico e profissional de seus associados.. Por isso, virou uma referência de repre- sentatividade do segmento das empresas de médio e pequeno porte, não só de Joinville e região, como também de Santa Catarina e do Brasil. Qual o segredo para uma entidade se transformar em um modelo de organização do segmento? A resposta reside na qualidade dos serviços prestados, na política de renovação de lideranças, na participação institucional em organizações que catalisam o desenvolvimento socioeconômico e o fortalecimento da própria entidade. Tudo isso transforma a entidade em um modelo do segmento. A atuação político-institucional é garantida e orientada pelo próprio estatuto da Ajorpeme, que define como trabalho de ação a representação e defesa junto aos poderes públicos das medidas necessárias e suficientes para o bom desempenho do segmento. Procura manter representação junto às entidades e órgãos colegiados que estabelecem a política econômica governamental nos âmbitos municipal, estadual e federal. Para fidelizar seus associados, a entidade mantém o Portal do associativismo na Internet pelo endereço eletrônico www. ajorpeme.com.br. Nele há informações sobre cursos, eventos, palestras, treinamentos, notícias e, principalmente, um canal de negócios em que associados e usuários poderão localizar produtos e serviços de todas as empresas associadas e fazer seu contato via e-mail, site, endereço e também solicitar orçamentos on-line. Além do portal, os associados contam também com a Revista Ajorpeme (mensal), o Informativo Ajorpeme (semanal), news letter e a Coluna da Ajorpeme, publicada todas as quintas-feiras no jornal A Notícia. Os associados contam também com atualização Conempec – Associativismo 27 Ética e responsabilidade social Soluções (SC) Ajorpeme criou instituto para conseguir o apoio dos associados Desde a revisão do Planejamento Estratégico da Ajorpeme, elaborado em 2002, com término em 2010, uma das macro-estratégias foi a “Elaboração de um projeto social”. Nessa época, a idéia era que a Ajorpeme implementasse um projeto social próprio para que as pequenas e microempresas associadas pudessem apoiar. Em 2003 foi criado o Instituto Ajorpeme – Ética e Desenvolvimento Social, com a finalidade de trabalhar junto aos associados a responsabilidade social, seus benefícios e suas obrigações, bem como junto à comunidade de Joinville e região. Pela busca de conhecimento, troca de informações e procurando conhecer a realidade social da cidade, os membros do Instituto descobriram que não seria necessário criar projetos sociais próprios, já que existem inúmeras entidades do terceiro setor atuando na região com excelentes iniciativas, necessitando de apoio e capacitação. Dessa forma, deduziu-se que o Instituto Ajorpeme pudesse capacitá-las na gestão de suas competências, para que as empresas, em especial os associados, pudessem apoiar essas entidades. Constatou-se também que o Instituto deve canalizar a maior parte de seus esforços para a responsabilidade social empresarial, sendo que os benefícios revertem tanto para os associados, quanto para a comunidade de Joinville e região. dos serviços prestados, por meio das ferramentas de comunicação e marketing, reuniões, palestras e seminários regulares sobre assuntos de interesse das empresas e dos empresários. Assim, eles são informados, por exemplo, de que toda quinta-feira na entidade acontece a Quinta de Negócios, que promove interação e debate de novas idéias entre associados ESTRUTURA INCLUI UNIVERSIDADE A Ajorpeme oferece aos associados um vasto calendário de atividades voltadas à difusão do conhecimento. Ministra cursos, palestras, reuniões e debates. Tem sede própria, que é palco de cursos, palestras, reuniões e debates. Conta com auditório, salas de treinamento, de reunião e de atendimento aos associados. 28 Conempec – Associativismo No entanto cada vez mais se faz necessária a ampliação da sede atual ou até mesmo a construção de uma nova. Para cobrir essa defasagem, a entidade alugou em 2005, um prédio vizinho de três pavimentos para sua área de treinamento, que tem agenda sempre completa. Sua estrutura interna divide-se em administrativa e financeira, unidades avançadas, assessoria de comunicação, área comercial e área de negócios – e ainda a Universidade Corporativa Ajorpeme (Uniajo). A entidade oferece ainda três postos avançados localizados nas regiões leste e sul de Joinville e em Pirabeiraba, onde são realizados eventos, treinamentos e palestras de acordo com a necessidade dos empresários locais. A Associação possui convênios e parcerias na área da educação que visa ao desenvolvimento e à capacitação da classe empresarial e de seus funcionários, nas áreas do ensino fundamental ao universitário, pósgraduação e especialização. A Uniajo, há três anos, oferece educação continuada e treinamento profissional, com certificação ISO 9001, um atestado de qualidade reconhecido internacionalmente. É resultado de convênio entre a entidade e a Universidade da Região de Joinville (Univille). PROJEÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL O presidente da Ajorpeme, Celso Trentini, destaca que a meta para 2010 é a expansão dentro do País e no exterior. “Que a entidade seja reconhecida nacionalmente, como a mais atuante e empreendedora associação de micro, pequenas e médias empresas, promovendo o desenvolvimento sustentável. E que as empresas estejam atentas ao mercado externo, não somente pela venda de seus produtos, mas também pela busca do conhecimento”, acrescenta. Essa expansão pretendida tem tudo a ver com o objetivo principal da entidade – oferecer às empresas de pequeno porte, soluções em gestão, conhecimento e oportunidades de negócios por meio do associativismo, cooperativismo e da representatividade, promovendo desenvolvimento sustentável. SOLIDARIEDADE A entidade promove e incentiva a solidariedade entre empresários e demais instituições congêneres que venham ao encontro dos seus objetivos, na promoção do desenvolvimento do Brasil, na defesa intransigente da livre iniciativa, da democracia e da propriedade privada. Incentiva e promove também continuamente o desenvolvimento de seus associados, por meio do aperfeiçoamento técnico, profissional e gerencial, visando à segurança, racionalização, qualidade, produtividade e ao justo lucro. Para desenvolver essa missão, a Ajoperme participa do Conselho Empresarial de Joinville. Também abre regularmente a entidade para visitação possibilitando assim, a transferência de informação e experiências que possam garantir práticas de sucesso, principalmente para novas instituições. Promove visitas de seus diretores e líderes atendendo convite de outras entidades do gênero, para informar e orientar sobre as práticas adotadas pela Ajorpeme. São oferecidas assessorias gratuitas, nas áreas comercial, design, engenharia civil, gestão, jurídica, marketing e meio ambiente. Oferece, ainda, convênios em serviços de saúde, educação, capacitação profissional, com descontos para o associado. Promove missões empresariais estaduais, nacionais e internacionais, possibilitando a participação em eventos de todos os segmentos e setores, tanto de abrangência nacional como internacional. A Ajorpeme participa regularmente de eventos estaduais e nacionais, visita entidades empresariais do estado, do País e até mesmo internacionais, para busca constante do aperfeiçoamento. Outra atividade é a realização de seminários semanais gratuitos e também palestras quinzenais com autoridades em assuntos de interesse do segmento, com especialistas em motivação, marketing, empreendedorismo, associativismo e economia, entre outros. Conempec – Associativismo 29 Maternidade Empresarial Soluções (SC) Programa orienta interessados em abrir novos negócios A origem de suas receitas é mensalidade dos associados, cursos, treinamentos, palestras, seminários, participação em eventos. Importante destacar que todos os produtos citados são oferecidos a preços bem abaixo do mercado para todos os associados. Nãoassociados também podem participar, porém terão um preço adequado à própria oferta do mercado. Quinta de Negócios, evento promovido quinzenalmente pela Ajorpeme objetiva promover negócios entre os associados da entidade. PARCERIAS O programa Maternidade Empresarial Ajorpeme funciona como uma boa mãe. Tem como foco principal o atendimento as pessoas que pretendem se estabelecer como empresários de micro ou pequenas empresas, mas estão inseguras quanto ao projeto e, antes de tomar a decisão, necessitam munir-se de um conjunto de informações econômico-financeiras. O programa atende também a empresários cujas empresas já estão em funcionamento. Porém, por vários motivos, eles têm dificuldades na condução dos negócios e buscam no programa um caminho que proporcione mais conhecimento e segurança. O objetivo do programa é oferece um atendimento personalizado que proporcione a oportunidade de aprender os trâmites legais, administrativos, econômicos, financeiros e mercadológicos que envolvem a operacionalização de um empreendimento. Isso permite, de forma planejada, visualizar o resultado futuro de seu investimento. COLIGAÇÕES Em outra linha de sua atuação, a Associação defende, ampara, orienta e coliga as pequenas, médias e microempresas e autônomos que se dedicam a qualquer atividade econômica devidamente legalizada perante os órgãos competentes, participando junto aos poderes públicos no estabelecimento de critérios que definam as suas obrigações e direitos junto às comunidades nacional e internacional. 30 administrativa e política institucional independente. O estatuto da entidade restringe sua utilização para fins político-partidários e eleitorais. Conempec – Associativismo A entidade está também empenhada na defesa dos interesses das micro, pequenas e médias empresas em todas as instâncias constitucionais na esfera judicial e extrajudicial, podendo, para tanto, ajuizar demandas em nome de seus associados. Por todo o leque de serviços prestados aos associados, a entidade se sustenta com receitas próprias, sem a dependência de recursos oficiais, o que lhe garante autonomia A Associação é filiada à Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Fampesc) e tem representantes em diversos conselhos municipais e comunitários. Também participa da discussão de temas regionais, estaduais e federais com reflexos em questões das micro e pequenas empresas, por meio de líderes inseridos em vários conselhos de interesse do segmento. A Ajorpeme apóia as ações desenvolvidas pela Fampesc e pela Confederação Nacional das Entidades de Micro e Pequenas Empresas do Comércio e Serviços (Conempec), além de constituir representantes na composição diretiva dessas entidades. Tem como parcerias organizacionais, o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a própria Fampesc, instituições educacionais como a Universidade da Joinville (Univille), a Faculdade Cenecista de Joinville (FCJ), e financeiras, como Caixa Econômica Federal (CEF), Ban- Na lista das maiores receitas Joinville aparece entre os 15 maiores arrecadadores de tributos Joinville é o município mais populoso e industrializado de Santa Catarina, Estado que detém o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) industrial per capita do País e ocupa o quinto lugar no ranking das exportações nacionais, com uma fatia de 5,52% do total brasileiro, em 1996. O parque fabril do município, com mais de 1.500 indústrias, emprega 58 mil funcionários e cresce em média 5,67% ao ano. Responsável por cerca de 20% das exportações catarinenses, terceiro pólo industrial da região Sul, com volume de receitas geradas aos cofres públicos inferior apenas às capitais Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR), Joinville figura entre os quinze maiores arrecadadores de tributos e taxas municipais, estaduais e federais. A cidade concentra grande parte da atividade econômica na indústria – que gera um faturamento industrial de US$ 14,8 bilhões por ano – com destaque para os setores metalmecânico, têxtil, plástico, metalúrgico, químico e farmacêutico. O PIB per capita de Joinville também é um dos maiores do País, em torno de US$ 8.456/ano. co do Brasil (BB), a Casa do Empreendedor, a Cooperativa de Crédito (Sicred), a Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc) e Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). Conempec – Associativismo 31 Soluções (SC) Atenção para o Comércio Exterior Ajorpeme conta com Núcleo de Internacionalização As micro e pequenas empresas de Joinville contam com o Núcleo de Internacionalização da Ajorpeme para abrir espaços no mercado internacional. Neste ano, a entidade promove, de 14 de outubro a 4 de novembro a Missão Empresarial Internacional para proporcionar a participação nas Feiras Sial 2006, maior do ramo alimentício, que acontecerá em Paris, França, e Feira The Big 5 Exibition, maior do Oriente Médio no ramo de construção civil, que acontecerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Outros objetivos da missão são o contato com culturas estrangeiras, promoção de negócios, a visita a consulados, câmaras de comércio, nos países já citados e também na Suíça, Itália (ou Reino Unido) e Alemanha. O investimento para participar deste evento é de R$ 12.000,00. Este valor inclui passagens aéreas, hospedagem em hotéis quatro estrelas, cafés da manhã, direito a estandes nas duas feiras e deslocamentos terrestres. A quantia pode ser parcelada em 12 ou seis vezes por meio do programa Proger para Exportação do Banco do Brasil, com seis meses de carência. Ajorpeme promoveu o 2° Seminário de Comércio Exterior organizado pelo Núcleo de Internacionalização da Associação Ampliação e estrutura A entidade cresceu com o lema “Juntos Somos Mais Fortes” Já se passaram 22 anos de história repleta de grandes momentos e realizações. No início, não faltaram dificuldades a ponto de, em determinados momentos, quase faltarem forças para resistir. Mas sempre foi encontrada uma saída para todos os obstáculos, pois não faltaram líderes comprometidos que se doaram e perseguiram com garra o objetivo maior da entidade a favor do segmento, para consagrar o lema que ostenta até hoje em sua bandeira – “Juntos somos mais fortes”. Uma fase importante na história da Ajoperme ocorreu em 1996, quando foi feita a aquisição do terreno que continha um grande galpão prémoldado para que se estabelecesse ali a sede própria da entidade. Em 1998 e 1999, todos os esforços se concentraram em transformar o galpão em um ambiente adequado para atender às necessidades da entidade e de seus associados. Investiu-se, de forma organizada e coordenada, numa infra-estrutura que atendesse e orgulhasse seus associados, pelo padrão de acabamento, praticidade e conforto. ASSEMBLÉIA DOS ASSOCIADOS As assembléias gerais são formadas pelos sócios de todas as categorias, com exceção dos sócios beneméritos e sócios convidados, desde que estejam em pleno gozo de seus direitos, sendo soberana em suas resoluções. O Conselho Superior, o Conselho Deliberativo, o Conselho Fiscal e a Diretoria Executiva, são órgãos autônomos, sobrepondo-se a cada um a assembléia geral, cabendo-lhes administrar os fins e o patrimônio da Associação. O Conselho Superior é composto pelos expresidentes da Diretoria Executiva da Associação que são convidados a participar do Conselho, podendo aceitar ou não o convite. Tais membros deverão estar em pleno gozo de todos os seus direitos e deveres estatutários. O Conselho Deliberativo é composto de seis membros efetivos e seis membros suplentes, formado por associados da entidade, eleitos por votação secreta e com mandato de três anos. Entre suas funções, está a de planejar e dirigir as atividades da Associação para a consecução de seus objetivos e deliberar sobre seu posicionamento quanto às questões relacionadas, traçando normas e controlando resultados A Diretoria Executiva é constituída de um presidente, sete vice-presidentes e dez diretorias (Administrativa, Comercial, Marketing, Financeira, Negócios, Núcleos, Patrimônio, Social, Treinamento e Unidades Avançadas). Entre suas atribuições, está a de cumprir e fazer cumprir as normas prescritas no Estatuto, Regulamento Interno e o Regimento Interno, bem como, as deliberações do Conselho Fiscal, Conselho Deliberativo, Conselho Superior e Assembléia Geral. PROCESSO SUCESSÓRIO Os membros da Diretoria Executiva são todos representantes de micro, pequenas e médias empresas ou autônomos, conforme dispõe o artigo 12, e serão eleitos por votação secreta para um mandato de um ano, podendo ser reeleitos por mais um período consecutivo. Até hoje não houve reeleição atendendo à proposta de oferecer a todos o exercício da liderança. Os cargos eletivos para composição da Diretoria Executiva da entidade são voluntários e não são remunerados e nem a Associação distribui aos titulares desses cargos quaisquer benefícios ou lucros auferidos de suas atividades. O processo sucessório tem permitido a identificação e geração constante de novas e lideranças para a entidade e por conseguinte, para a comunidade, estado e País. O quadro social da Ajorpeme é composto de sócios fundador, ativo, benemérito e convidado. NÚCLEOS SETORIAIS Os núcleos setoriais são grupos de trabalho formados por empresários de um mesmo setor ou que desenvolvam atividades semelhantes, que têm problemas e necessidades comuns e que buscam soluções em conjunto. A entidade oferece núcleos de Advogados, Ajorpeme Jovem, Automecânicas, Cimentício, Conselho dos Núcleos, Consultores, Contábil, Educação infantil, Engenharia Civil, Indústria de alimentos, Informática, Internacionalização, Mercados, Mulheres Empreendedoras, Odontologia, Restaurantes, Revendedores de Veículos, Segurança, Transformação e Reciclagem de Plástico e Vidraçarias. Mais informações: www.ajorpeme.com.br | 32 Conempec – Associativismo Telefone: (48) 2101-4120 Conempec – Associativismo 33 Farmácias (CE) Unir para competir União de micro e pequenas farmácias de Fortaleza na Rede Farmanossa é remédio para enfrentar a concorrência desleal de grandes grupos econômicos. É o associativismo de quase 450 proprietários de farmácias de Fortaleza que se mobilizaram para ter uma marca forte, capacitação e novas formas de comercialização com cartões de crédito e convênios próprios. A Rede Farmanossa, de Fortaleza, surgiu como uma estratégia de sobrevivência contra a concorrência predatória dos grandes grupos econômicos. Nasceu em 1997 por iniciativa de um grupo de micro e pequenas empresas farmacêuticas independentes que procuravam reagir à concorrência agressiva. Mas só Maurício Possidônio, presidente da Farmanossa: a Rede foi um verdadeiro caso de sucesso 34 Conempec – Associativismo foi possível viabilizar a proposta mediante uma mudança da cultura empresarial. A entidade procurou transformar posições individualistas em associativistas, com a predominância das propostas em favor do segmento. uma marca forte; acesso à mídia em geral; capacitação dos seus proprietários e colaboradores; possuíssem novas formas de comercialização, com cartões próprios de fidelidade e convênios com cartões de crédito tradicional. Tudo começou com cerca de 50 farmacistas, que fadados ao fechamento dos seus estabelecimentos, reagiram a práticas desleais exercidas por grandes grupos, como preços abaixo do custo, uma forma danosa e ilegal de provocar a falência dos concorrentes de menor porte. Era preciso que as farmácias independentes se unissem e passassem a ter: “Esse é um verdadeiro caso de sobrevivência e inclusão dos pequenos comerciantes em um mercado que parecia saturado na época”, lembra o presidente da Rede Farmanossa, Maurício Possidônio dos Santos. A crise do segmento de pequenas farmácias era um fato. Os grandes grupos sofis- Farmácias apostam na venda de genéricos Farmanossa é também apresentada como Rede dos Genéricos, com entrega em domicílio A Rede Farmanossa aparece em alguns estabelecimentos associados como a Rede dos Genéricos, inclusive com serviço de entrega em domicílio. Para o presidente da Rede Farmanossa, Maurício Possidônio dos Santos, toda a cadeia é beneficiada com a venda de medicamentos genéricos e similares: indústrias, distribuidores, comerciantes e consumidores. Os genéricos são medicamentos que não possuem uma marca comercial e são vendidos por meio do nome de sua substância ativa, ou seja, a substância do remédio que efetivamente cura. Sua eficácia é comprovada por meio de testes que buscam demonstrar que o medicamento genérico, em análise, pode substituir de forma segura e eficaz o medicamento de referência. Estima-se que cerca de 600 novos medicamentos genéricos vão entrar no mercado até ao final do ano, a um ritmo de 50 por mês, e o preço destes fármacos deverá descer brevemente, segundo prevê o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed). As vendas de medicamentos genéricos e similares representam aproximadamente entre 10% e 30%, respectivamente, do mercado global de remédios no Brasil, movimentando, em conjunto, mais de R$ 1,8 bilhão por ano. Essas estimativas são da Associação Brasileira dos Distribuidores de Laboratórios Nacionais (Abradilan), entidade que reúne cerca de 70 empresas, responsáveis por mais de 70% da distribuição de medicamentos do gênero no País. Conempec – Associativismo 35 Assistência aos carentes Farmácias (CE) Meta da Rede é dar assistência farmacêutica a diabéticos e hipertensos Outra meta da Rede Farmanossa é a implantação de um serviço de coordenação na sede para aperfeiçoamento e controle das ações de assistência farmacêutica voltadas às comunidades carentes em relação a problemas de saúde de diabéticos e portadores de hipertensão. Esse procedimento vem sendo realizado nas áreas de influência das farmácias associadas. Há um planejamento para expansão desse tipo de assistência farmacêutica, firmando-se compromisso efetivo com os postos de saúde dos bairros, para a doação de medicamentos necessários ao tratamento de diabetes e hipertensão arterial de carentes, devidamente cadastrados pelo serviço público de saúde. Independentemente dessa participação e responsabilidade efetiva com o social, a Rede Farmanossa, em conjunto com distribuidores e laboratórios, realizam, regularmente, eventos que proporcionam esclarecimentos sobre cuidados com a saúde e condições para se ter uma boa qualidade de vida, quando são instrutores os próprios farmacêuticos . ticavam seus estabelecimentos e ofereciam condições consideradas imbatíveis aos consumidores, deixando em dificuldades todos os que estavam no mercado, de pequeno e médio porte. “Os empresários perceberam que a força capaz de mudar o quadro viria da união de todos, em função de uma proposta comum, que seria a criação de uma marca competitiva que apontasse os rumos para uma melhor participação do segmento”, conta o presidente. Inicialmente, quando da constituição da rede, foi utilizado o modelo de contribuições financeiras mensais dos associados. Mas a experiência fracassou devido à inadimplência e ao nível de dificuldades que vieram a comprometer o setor, levando-o a uma crise sem precedentes. Sobretudo, pelos elevados descontos fornecidos pelos grandes grupos ao consumidor (30% a 50%), com a finalidade de desestabilizar o segmento farmacêutico, excluindo do mercado as micro e pequenas empresas. Foi quando, juntos, pensaram: retirar da 36 Conempec – Associativismo própria transação comercial (compra de itens farmacêuticos para todos), um percentual, chamado “Bônus”, que passou a alimentar o sistema que já apresentava sinais concretos de benefícios para os afiliados. rência exercida por grandes grupos corporativos jamais poderá oferecer”, observa. Para ingressar na Rede Farmanossa, as farmácias são avaliadas quanto às instalações e cadastro. De acordo com Maurício Santos, o responsável legal pela empresa deve ser acessível à idéia “unir para competir, unir para crescer”, e que tenha idoneidade ética e compromisso com as ações do grupo. Atualmente, o faturamento médio mensal de cada farmácia é estimado em cerca de R$ 30 mil. Do associado da Rede Farmanossa, algumas condutas são exigidas, como destaca o presidente da entidade: “Fidelidade nas compras, união dos membros para crescer em conjunto, compromisso com o modelo associativista de gestão empresarial, ética, ser coerente entre o que se fala e o que se pratica, dentre outras concepções necessárias”. O remédio é expandir Rede está em franca expansão No início de suas atividades, a Rede Farmanossa possuía cinqüenta pontos de vendas. Atualmente, são 482 postos, dos quais 440 são de proprietários associados. O alcance geográfico da Rede compreende 136 municípios, dos 184 que compõem o Estado do Ceará. No Piauí, além da capital Teresina, sete municípios são beneficiados pela cooperativa. A diretoria da Rede conta com a interiorização como forma de expandir os negócios. A perspectiva é de aumento de 100% no número de associados no Piauí até 2010. Espera-se também a expansão em 30% do número de estabelecimentos farmacêuticos existentes no Nordeste até 2015. DA CRISE AO CARTÃO Passados sete anos, atualmente a Rede Farmanossa enfrenta a crise e conta atualmente com 482 postos de venda, dos quais 440 são de empresários associados. Oferece cartão de crédito, inclusive a grupos econômicos com dificuldades financeiras para adquirir medicamentos. Esse instrumento é oferecido a cliente com renda mínima mensal a partir de R$ 200,00 e que não tenha restrições cadastrais. O limite é feito de acordo com a renda e não há pagamento de anuidade. O presidente da Rede garante que as farmácias conveniadas oferecem aos clientes qualidade e atendimento personalizado, uma vez que o proprietário da maioria das associadas atende pessoalmente. “O contato direto com o consumidor é um diferencial que a concor- JUSTIÇA, IMPOSTOS E CONDUTAS Um das vitórias da Rede Farmanossa em defesa da categoria foi obtida por força de uma liminar. A Justiça limitou os descontos dos medicamentos em até 15%. As grandes empresas beneficiavam o cliente, no primeiro momento, para depois estabelecer aumentos extorsivos, com o domínio do mercado. “Essa decisão é resultado da luta da Rede Farmanossa e do Sindicato do Comércio Farmacêutico do Ceará (Sincofarma-CE) contra a estratégia usada por grandes grupos corporativos para dominar o mercado dizimando as farmácias independentes”, afirma o presidente da Rede. Outra importante conquista para o segmento foi a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), do Governo do Ceará em: 20% para os medicamentos de referência; 45% para os genéricos, e 68% para os similares. PARCEIROS Um importante parceiro da Rede é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A Rede também é apoiada pela Secretaria de Fazenda do Ceará e pelo Banco do Brasil. Entre algumas indústrias parceiras, estão o Laboratório Neo Química, Teuto, EMS Genéricos, Eurofarma, Pfizer, Altana Farma. Os principais distribuidores são destaques: Athos Farma, Pana- Conempec – Associativismo 37 Farmácias (CE) rello, Audifar, Riosfarma, Nordeste, Plusfarma, Nova, Sodime, Roberto Fortes, Total, Cariri Medicamentos, Ibiapina e Jotujé. O quadro de empregados diretos no escritório da Rede Farmanossa é de 15 funcionários. São terceirizados apenas os serviços de advocacia e contabilidade. A matriz da Rede fica em Fortaleza, com sede na Rua Cruz Saldanha, nª 485, bairro Parquelândia. Há ainda três associações coligadas que funcionam no interior do Ceará: Aprovac – Juazeiro do Norte(CE); Aprofanorte – Sobral(CE), e Aprofarc – Crateús(CE). E uma Multifarma (Parnaíba(PI)). Para o presidente da Rede, o caminho para a sobrevivência dos pequenos empreendimentos está no associativismo como modelo de gestão empresarial. “Já é visível a consolidação da Rede Farmanossa, que hoje é apontada como um ‘caso de sucesso’, viabilizando o segmento das farmácias independentes”. Uma das prioridades dos associados é investir na fidelização dos afiliados à Rede no que concerne à concentração de compras da Central de Negócios e compartilhar das ações e decisões do sistema, com sentimento de parceria e não de concorrência. Mídia sustenta a Rede Os recursos financeiros que proporcionam a sustentabilidade da Rede Farmanossa não só para a manutenção do sistema, mas para o custeio de todas as ações de capacitação, como feiras, atividades de lazer e de cultura, entre outras, são originários dos serviços de mídias dos laboratórios parceiros e dos distribuidores, tanto nacionais quanto locais. As fontes de renda são provenientes da indústria farmacêutica de similares e de genéricos, sujeitos à variação do volume de compras realizadas pelo chamado Balcão de Negócios (bônus que variam entre 7% e 10%) e bônus dos distribuidores, que variam de acordo com o montante de compras entre 0,75% a 2%. A Rede Farmanossa é filiada à Federação Bra- sileira das Redes Associativistas de Farmácias (Febrafar), que tem por finalidade promover a integração das redes associadas em todo o território nacional, visando ao desenvolvimento socioeconômico e à representatividade política de suas afiliadas. A Febrafar funciona como uma instância superior, como base para o desenvolvimento sustentável do sistema associativo farmacêutico. Promove a interação entre as diversas redes associativas do País com as indústrias farmacêuticas, propiciando um ambiente favorável à discussão e resolução de dificuldades comuns ao mercado. Repassa as experiências de sucesso, orienta e identifica alternativas comerciais positivas. * Investimentos em tecnologia de informática e layout de lojas; * Implantação do sistema de convênio; * Limitação dos descontos ao consumidor que tinham a função de retirar os micro e pequenos empresários do mercado. Beneficiavam o cliente no primeiro momento, para depois estabelecer aumentos extorsivos. Hoje, por meio de liminar judicial obtida, os descontos só podem atingir o limite máximo de 15%; * Redução do ICMS (Governo do Ceará) para: 20% para os medicamentos de referência; 45% para os genéricos, e 68% para os similares; • Lançamento do cartão de crédito Farma- nossa/Febrafar/Farmaplus; * Aumento da representatividade: inclusão do Estado do Piauí que já conta com 62 farmácias; Ceará (de 310 pontos de vendas para 420, durante o período de 1 ano); * Parcerias com as indústrias farmacêuticas: Neo Química e distribuidores semi-exclusivos, Teuto/Universal, EMS, Eurofarma, Altana, Pfizer e outros; * Fortalecimento das parcerias com os distribuidores de produtos de referência (Panarello, Audifar e Atosfarma); * Modernização das farmácias (novos layouts) por meio de parceria com a Distribuidora Jotujé. O funcionamento da rede farmanossa O quadro total de empregados no escritório da Rede Farmanossa atinge, hoje, o número de 15 (quinze), todos, devidamente registrados, e de acordo com as obrigações trabalhistas vigentes. São terceirizados os serviços de advocacia e contabilidade. O Presidente da Associação Cearense de Farmácias e Drogarias Independentes (Acefi) é eleito em assembléia por seus associados. Ele é também sócio-gerente e administrador da Rede Farmanossa Comércio, Representações e Serviços Ltda., com direito à retirada de pro labore. As despesas com pessoal, incluindo, o valor referente à retirada do pro labore, por parte do presidente, somam hoje, um total de R$ 50 mil. Como ordenadores de todas as despesas, estão o presidente e o diretor-financeiro. Em conjunto, eles assinam e respondem por todos os pagamentos realizados. Há uma Central-Matriz, situada na cidade de Fortaleza, e três associações no interior do Estado do Ceará, que funcionam como capilaridades da Rede Farmanossa, reproduzindo todas as ações, emanadas da Central. O alcance geográfico da Rede Farmanossa, compreende, hoje, 136 municípios, dos 184 que compõem o Estado do Ceará. Já no Estado do Piauí, a Rede Farmanossa encontra-se em franco desenvolvimento, já atingindo a capital, (Teresina) e 7 municípios; Ações implementadas As principais ações implementadas pela Rede Farmanossa em nove anos de atividades foram as seguintes: * Foi realizada transição da associação sem fins lucrativos, gerida por uma diretoria sem remuneração, para uma administração feita por meio de uma empresa. (Farmanossa Comércio 38 Conempec – Associativismo Representações e Serviços Ltda.); * Projeto de expansão - Ceará e Piauí; * Criação de unidades regionais: Aprovac – Juazeiro do Norte (CE); Aprofanorte – Sobral (CE); Aprofarc – Crateús (CE); Multifarma – Parnaíba (PI); Da visão de futuro Conheça as principais propostas da Rede Farmanossa para o desenvolvimento das micro e pequenas empresas: * Legislação específica para o Associativismo Empresarial; * Consolidação da Rede Farmanossa como organização profissional competente para o enfrentamento dos obstáculos ao crescimento, defesa e manutenção do segmento das micro e pequenas farmácias independentes localizadas em todo o País; Conempec – Associativismo 39 mento de farmácias; * Ampliação da Rede Farmanossa em 100%, para 2010; * Formação de equipe técnica de consultores especializados, nas mais diversas áreas de atuação, com o objetivo de prestar assessoramento a sua clientela alvo – os farmacistas; * Aperfeiçoamento do sistema de rede informatizado, com a criação de softwares específicos, de modo a atender a todos os tipos de informações solicitadas pelo público-alvo, entidades, parceiros, fornecedores, etc. * Frota própria de veículos; * Sede própria, com auditório para 200 associados; * Interiorização da Rede Farmanossa nos municípios restantes do Estado do Ceará; e um aumento de 100% no número de associados no Estado do Piauí, para 2010; * Expansão da Rede Farmanossa em 30% dos estabelecimentos farmacêuticos existentes no Nordeste, para 2015. Usina Catende (PE) Farmácias (CE) * Aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que vislumbra o Consórcio Simples. Isso evitaria a bitributação nas compras da Central para as farmácias afiliadas. Para os optantes do Simples, é fundamental, a eliminação da bitributação do PIS e da Cofins. * Colocação da logomarca "Rede Farmanossa" em todas as farmácias e em número expressivo de produtos por ela adquiridos e comercializados; * Estabelecimento de critérios mais seletivos, com relação à conduta dos seus associados no cumprimento das negociações intermediadas pela Central de Negócios, inclusive com a determinação de quotas mínimas de compras, o que viabilizará um maior poder de barganha (ganho de escala), por parte da Rede Farmanossa, bem como um orçamento maior para a realização de metas da entidade; * Planejamento estratégico com foco no atendimento de excelência; otimização dos serviços dos profissionais de nível superior de farmácia, assim como capacitação de todos os que fazem o seg- Da falência à autogestão Em Pernambuco, cerca de 4.000 Conclusão Lições que podem ser aprendidas com a experiência da Rede Farmanossa A facilidade de identificação do caminho viável para a sobrevivência dos pequenos empreendimentos – O ASSOCIATIVISMO COMO MODELO DE GESTÃO EMPRESARIAL – não está na mesma proporção das dificuldades encontradas quando da implementação da rede, sobretudo, no que concerne à fidelização dos afiliados ao sistema. A proposta requer, acima de tudo, UNIÃO de seus membros que, por vezes, mesmo sendo participantes do grupo, resistem à idéia de prestigiar ações coletivas negociadas pela central, causando enfraquecimento, e descrédito junto ao mercado. No entanto, já é visível a consolidação da Rede Farmanossa, que com todas as suas limitações temporárias, hoje, é apontada como um “CASO DE SUCESSO”, viabilizando o segmento das farmácias independentes, antes ameaçado por grupos dominantes. Investir na fidelização dos afiliados à Rede Farmanossa, sobretudo no que diz respeito à concentração de compras da Central de Negócios; compartilhar de forma concreta e responsável das ações e decisões do sistema, com sentimento de parceria e não de concorrência entre seus membros, sem dúvida alguma, são as palavras-chave de uma administração de sucesso. Mais informações: www.febrafar.com.br 40 Conempec – Associativismo famílias de trabalhadores rurais e operários são responsáveis por um modelo de sucesso empresarial e de inclusão social em uma atividade econômica tradicionalmente marcada pela exploração da mão-de-obra no campo: a cana-de-açúcar. Os agricultores e operários viraram patrões de uma usina condenada à falência e reverteram o caminho da crise econômica na região. Há 11 anos esses pernambucanos desenvolvem um dos principais projetos de autogestão do País na Usina Catende, no município de mesmo nome, na Zona da Mata. Transferida aos trabalhadores rurais e operários, a Usina Catende é um modelo de autogestão no Brasil Conempec – Associativismo 41 Usina Catende (PE) Depois de passar para as mãos dos trabalhadores, a experiência ficou conhecida como “Projeto Catende Harmonia”. A denominação identifica que hoje o empreendimento tem pouco a ver com a empresa existente até 1995, antes de ser decretada sua falência e dando início ao processo de transformação econômica e social da região. Para contar essa história de sucesso, é preciso dizer que, além de um projeto autogestionário consolidado, esses empreendedores também estão contribuindo para construir um modelo diferenciado de empresa açucareira, no qual a cana-de-açúcar convive com a diversificação agrícola. É um forte exemplo de que é possível superar o modelo predominante: de monocultura, de baixa sustentabilidade ambiental e manutenção da miséria no campo. TRANSPARÊNCIA E EMPREGOS O “Projeto Catende Harmonia” mostrou que, se exercida de maneira familiar e cooperativa, a agricultura familiar permite a fixação do homem no campo. E se a gestão for democrática, transparente e participativa, o espaço para a cidadania fica maior ainda. Novos horizontes se abriram na região graças ao cooperativismo dos trabalhadores Entretanto, as conquistas já contabilizadas por esses trabalhadores vão mais além. A administração da massa falida nesses 11 anos manteve a empresa operando em nove safras, preservando em torno de 1.300 empregos diretos e gerando, em média, 1.400 empregos temporários, com salários em dia quase durante todo o período. Embora a empresa ainda continue deficitária, a renda gerada nesse tempo manteve a economia regional aquecida, especialmente os investimentos agrícolas e industriais. Ao lado disso, milhares de ex-assalariados rurais, demitidos e credores da falência, foram convertidos em agricultores familiares no maior núcleo integrado de agricultura familiar do Estado e o único dessa dimensão na Zona da Mata. Esses agricultores passaram a criar gado bovino, caprino, ovino e peixe. Plantaram lavoura de subsistência, café e cana, entre outras culturas. Entre os avanços também está a ampliação do plantio de cana-de-açúcar própria para o processamento na usina, bem como a implantação de um programa inédito de agricultura familiar na exploração dessa cultura, o “Cana de Morador”, que mobiliza mais de 2.200 pequenos plantadores familiares. O parque industrial vem sendo recuperado e melhorado com uma nova e moderna caldeira construída em 2002, com recursos próprios. Também foi construída uma fábrica de ração e recuperada parte da frota de veículos, dentre outras providências ligadas à melhoria da produção e produtividade industriais. A unidade dos trabalhadores fez a diferença para a superação das agudas dificuldades sociais, econômicas, financeiras e de infra-estrutura produtiva. A união de forças evitou o fechamento de uma das mais tradicionais usinas do Nordeste e do País e, pouco a pouco, possibilitou a recuperação de uma empresa operando com as limitações de um regime judicial de falência. 42 Conempec – Associativismo Hoje, a Usina Catende é um complexo agroindustrial que produz açúcar cristal, melaço, torta, ração e adubo à base de bagaço de cana e melaço e com potencial para fabricar álcool. NOS ANOS 1950, UMA USINA PIONEIRA A Usina Catende, a 120 quilômetros de Recife, foi instalada no fim do século XIX em Catende, interior de Pernambuco. Por volta de 1920, foi adquirida por Antônio Ferreira da Costa Azevedo, o “Tenente da Catende”, que introduziu novos modelos gerenciais, mas não atentou para a importância das relações sociais no empreendimento. Nos anos 1940 e 1950, a usina atingiu o auge na produção sucro-alcooleira pernambucana e nacional. Foi campeã em toneladas de açúcar exportado, foi a primeira brasileira a produzir álcool anidro (usado para mistura à gasolina) e também pioneira na instalação de um laboratório químico no País. Teve ainda a primeira “planta integrada” vertical, que assegurava o suporte a cada etapa do processo de fabricação de açúcar, mas também de seu escoamento, carregamento, armazenamento e exportação. Isso era possível porque a empresa tinha uma rede ferroviária com mais de 150 quilômetros de extensão. A Catende foi a maior usina de açúcar da América do Sul, com inovador projeto de irrigação, desenvolvido com barragens e canais, e com uma hidroelétrica capaz de fornecer energia para toda a Zona da Mata Sul de Pernambuco. DESTRUIÇÃO E DECADÊNCIA A partir da gestão de seus descenden- tes – segunda metade dos anos 1950 e fim dos anos 60 – já eram evidentes os sinais de falência da usina. Em pleno regime militar, as famílias que assumiram a empresa na década de 70 eram vinculadas ao poder e usufruíram das benesses do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), obtendo generosos empréstimos com dinheiro público. Os novos proprietários destruíram a infra-estrutura produtiva: venderam os trilhos da linha férrea, destruíram as barragens, os canais de irrigação foram aterrados e substituídos por estradas para tráfego de caminhões adquiridos por meio do Pró-Álcool. Mas, como naquela época os juros já estavam altos, remunerando melhor as aplicações financeiras do que os investimentos produtivos, a indústria sucro-alcooleira se tornou uma atividade pouco lucrativa. A insolvência estava implantada. Uma das conseqüências desse quadro macroeconômico foi a desativação do IAA, o que acelerou a insolvência da atividade, agravada pela incompetência empresarial. Os usineiros resistiam em incorporar os padrões técnicos avançados, preferindo a solução fácil dos financiamentos abundantes do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e dos incentivos fiscais administrados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Mais uma vez, o setor prevaleceu-se da força política remanescente e ganhou sobrevida com as políticas públicas mal formatadas. EXPULSÃO O colapso no setor sucro-alcooleiro nas décadas de 1980 e 1990, dentre outros impactos na zona açucareira de Pernambuco, resultou no fechamento de cerca de 18 usinas, na extinção de 150 mil postos de trabalho, na expulsão dos trabalhadores do Conempec – Associativismo 43 Usina Catende (PE) campo após a destruição de cerca de 40 mil pequenos sítios com lavouras de subsistência. Além disso, a crise gerou um expressivo passivo público trabalhista e incentivou a prática de fraudes à execução dos credores. Em 1993, a Usina Catende demitiu, de uma só vez, mais de 2.000 trabalhadores, utilizando-se da força política, pois o passivo trabalhista foi simplesmente negado. Em contrapartida, essa atitude provocou, pela primeira vez, uma inédita reação coletiva por parte dos trabalhadores. O PONTO DE PARTIDA Em agosto de 1993, após serem demitidos sem indenização, 2.300 trabalhadores da então Usina Catende e suas entidades decidiram lutar intransigentemente por seus direitos. O motivo foi um só: eles perceberam que a empresa estava envolvida em uma falência profunda, ou seja, estava prestes a desaparecer e era a fonte de renda de outros 1.400 que permaneciam empregados. Os dois grupos – demitidos e empregados – se aliaram para evitar o fechamento da usina, que teria conseqüências drásticas para a vida dessas famílias e de toda a região. O primeiro passo foi recorrer ao Poder Judiciário, requerendo a falência judicial e a continuidade dos negócios, afastando os proprietários pelas vias legais. Em parceria com o Governo do Estado e o Banco do Brasil, eles iniciaram a recuperação da empresa, em novos padrões de gestão e planejamento, determinando um novo perfil para uma usina açucareira, ou seja, plantar cana, mas diversificar com outras lavouras e com a criação animal; exercer a atividade agroindustrial combinando as produções cooperada e fa- 44 Conempec – Associativismo miliar; e, particularmente, introduzindo meios democráticos e participativos de gestão. patrimônio que garantisse o pagamento dos elevados créditos dos empregados. Os sindicatos de trabalhadores de Catende, Xexéu, Água Preta, Jaqueira e Palmares; a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape), representados por 2.300 trabalhadores demitidos em 1993, ingressaram, em 1995, com inovador pedido de falência da então Companhia Industrial do Nordeste Brasileiro, razão social da Usina Catende. Os autores do pedido sabiam que o gesto não significava apenas a busca de seus créditos, mas, sobretudo, a defesa de suas oportunidades de trabalho e renda. Outro motivo foi assegurar a continuidade dos negócios, via empresa de trabalhadores credores, que assumisse o patrimônio no final do processo de falência, e que construísse um modelo alternativo de gestão, de reorganização de meios de produção agrícola e industrial, de diversificação produtiva que conciliasse produção empresarial com a produção familiar, em oposição ao tradicional sistema predominante no setor canavieiro nordestino que predominou por vários séculos. Uma semana depois, os usineiros requereram a autofalência na Comarca do Recife, com clara intenção de contornar a iniciativa judicial dos trabalhadores e indicar um síndico de sua confiança. Essa tentativa foi neutralizada pela nomeação do Banco do Brasil, designado síndico em ambas as comarcas. Assim, foi decretada em 1995 a primeira falência judicial de usina nordestina, rompendo-se com o costume de serem os usineiros os liquidantes de suas empresas falidas, como ocorreu com outras 18 empresas pernambucanas que fecharam as portas no mesmo período. A falência da Usina Catende foi a maior dentre as usinas de Pernambuco e uma das maiores no País. Em preços atualizados, o seu passivo totaliza R$ 914,835 milhões, enquanto seu ativo monta a R$ 62,576 milhões, conforme valores históricos constantes do laudo de avaliação judicial. A iniciativa judicial dos trabalhadores rurais da Usina Catende visava não só à defesa de seus direitos e de sua renda, ao evitar o fechamento de uma empresa que era a principal fonte de renda e empregos da região que abrange cinco municípios e uma população superior a 140 mil habitantes. Objetivava reverter as fraudes dos falidos contra as execuções judiciais realizadas por meio de transferência ilegal da propriedade de engenhos, bem como a preservação judicial de um Os créditos trabalhistas atingiram a elevada cifra de R$ 73,410 milhões, em valores atualizados. A Lei de Falências garante aos trabalhadores a prerrogativa de receber o patrimônio em pagamento dos seus direitos trabalhistas e incorporá-lo na empresa ou na cooperativa que criaram para dar continuidade às atividades agroindustriais. Isso está assegurado no artigo 102 da anterior Lei de Falências (Decreto nº 7.661/1945), tendo em vista que o artigo 192 da recente e nova Lei de Falências determina que a lei anterior se aplique às falências ajuizadas antes da vigência da lei atual. JUSTIÇA No caso da Usina de Catende, a Justiça reconheceu os direitos dos trabalhadores. O empreendimento se manteve vivo graças a uma convergência de esforços que foram coroados pela posição do Poder Judiciário, que decidiu favoravelmente aos empregados. LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA As principais lições que podem ser extraídas da experiência do Projeto Catende Harmonia são as seguintes: 1. A força e unidade de luta de um grupo de trabalhadores reverteu o desfecho de uma situação desfavorável; 2. A maneira como um processo produtivo é gerido pode resultar em transformações econômicas e sociais relevantes não apenas para 4.000 famílias de agricultores e operários, mas para a população de cinco municípios e uma região inteira; 3. Estabelecer parcerias com organizações governamentais, não-governamentais, instituições financeiras públicas, da sociedade civil e, inclusive, com o Judiciário é fundamental para superar dificuldades de toda ordem; 4. O cooperativismo é uma das principais ferramentas da economia solidária Mais informações: www.catendeharmonia.com.br Tel: (81) 3673-1056 Fax: (81) 3673-1221 Conempec – Associativismo 45 Usina Catende (PE) Dessas ações participaram os credores da massa falida, o Banco do Brasil, o então governo de Pernambuco e, claro, tendo à frente os trabalhadores, os maiores interessados no sucesso da empreitada. Hoje, as principais fases do processo falimentar já estão concluídas ou em fase final. Essa ação articulada entre o Poder Judiciário e os credores legais principais, de conteúdo autogestionário, vem sendo o motor da superação das inúmeras dificuldades derivadas da falência estrutural da usina, agravada por vários incêndios e enchentes ocorridos em 2000 e 2002. Embora essa conformação judicial seja fundamental para a autogestão, não impede os limites naturais dessa situação. A falência é invocada como óbice intransponível para a concessão de crédito e o conseqüente aporte dos recursos indispensáveis aos investimentos estruturais, geradores da auto-sustentação do empreendimento e da superação da condição deficitária ainda predominante. A gestão do “Projeto Catende Harmonia” é compartilhada entre os credores trabalhadores e a Justiça, sendo realizada por um síndico designado pelo Juiz da Falência, em conjunto com os credores trabalhadores, por meio de suas entidades representativas: os cinco sindicatos de trabalhadores rurais, as 48 associações de moradores nas quais se organizam as comunidades que residem nas 48 propriedades rurais pertencentes à usina, e uma comissão eleita pelos operários. Durante esse processo, foi fundamental o apoio técnico e a assessoria prestados por diversas organizações não-governamentais, entidades sindicais e órgãos governamentais. Os principais parceiros dos 46 Conempec – Associativismo trabalhadores no projeto são a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT (ADS); a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária (Anteag), o Centro Josué de Castro, a Universidade Federal Rural de Pernambuco, o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (Centru), os Centros das Mulheres do Cabo, de Catende, Palmares e de Água Preta; Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Estatísticas (Ibase), Cáritas Brasileira, Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Ceas Rural, Centro Sabiá, Centro Cultural Brasil Alemanha, Senar e Sebrae, Oxfan, Save The Children, Bilance/Cordaid e Manos Unidas. A SITUAÇÃO ATUAL Depois de mais uma de uma década de luta e dos sucessos alcançados, as cerca de quatro mil famílias envolvidas no projeto estão olhando para o futuro. A massa falida acumulou um saldo positivo de R$ 2,5 milhões, utilizados nas despesas de entressafra de 2005. A situação revela que a empresa tem potencial para alcançar autonomia econômica e financeira. É preciso ressaltar que essa possibilidade seria ainda maior, não fossem as atuais condições estruturais de produção, ainda limitadas – pelo total de cana plantada, muito abaixo das possibilidades; pela frota reduzida e envelhecida; pela ausência de agregação de valor relacionada à ausência de uma destilaria de álcool. No que se refere ao quadro de pessoal e de salários, a massa falida tem a seguinte configuração: 1.289 trabalhadores (838 no campo e 451 na fábrica). O salário-base no campo é de R$ 355,00 (nível único variando de acordo com a produção individual); o salário médio na indústria é de R$ 900,00 (operários e administrativos), e de R$ 2.800,00 (chefias). Além do quadro de pessoal permanente, o projeto cria centenas de empregos temporários nos meses de safra, no campo e na indústria. Durante a safra de 2005-2006, foram contratados, como safristas, 1.400 trabalhadores rurais e 250 operários. Um dado social básico no projeto autogestionário é que essas contratações temporárias resultam de seleção, com absoluta prioridade, dentre os trabalhadores demitidos pelos usineiros – os principais credores – e suas famílias. Outro aspecto relevante decorre das peculiaridades do processo sazonal que é intrínseco à atividade sucroalcooleira, anualmente caracterizada por períodos curtos de produção na safra (em média quatro meses), seguido por um período de oito meses de entressafras. Nesse período, elevadas despesas são efetuadas com ajustes na fábrica e atividades na lavoura, problema esse que em muito contribuiu para a falência da usina. A usina dispõe de 27.670 hectares, dos quais 11,1 mil constituem a área para exploração própria com cana, 6.900 para plantação de cana dos moradores, 3 mil hectares formam floresta, 2.200 são ocupados por outras culturas. A exploração das terras da usina Catende obedece a dois regimes: exploração coletiva e agricultura familiar. No primeiro caso, a relação se dá entre trabalhadores rurais e a gerência da usina, na forma de administração judicial, em moldes operacionais semelhantes à tradição prevalente na zona canavieira, sem, contudo, reproduzir o modelo de apropriação dos resultados do trabalho coletivo por um reduzido grupo de proprietários. A cana colhida sob esse regime é chamada de “cana própria”, pois pertence à usina, sendo que os gastos integram os custos de produção. No segundo caso, ao contrário, a unidade familiar é que desenvolve as tarefas, a partir da ocupação dos engenhos, com autonomia, assumindo os custos de produção, de tal sorte que o produto principal de sua atividade é vendido à usina, à semelhança do que faz o fornecedor tradicional. O uso das A cana redeu nos últimos onze anos uma média de 800 sacos de açúcar cristal por safra Conempec – Associativismo 47 Usina Catende (PE) áreas é negociado e autorizado pelo coletivo e pela Justiça. As atividades de plantio, corte e transporte são planejadas. Não é cobrado qualquer arrendamento pelo uso da terra, considerando que todos são credores e moradores. Por isso, se chama “cana-de-morador” e assim é computada nas estatísticas de consumo de matéria-prima. As atividades da “cana-de-morador” constituem um exemplo de como o projeto Catende exercita a participação coletiva na tomada de decisões que envolvam a comunidade. É um programa em grande expansão nos últimos cinco anos que se tornou vital à sustentação social e econômica do projeto, bem como à formação de renda familiar. A sua implantação inicial envolveu financiamento interno, sem juros e com carência e prazo, nos moldes de uma cooperativa de crédito na qual a moeda foram sementes, insumos e terras. No momento, 2.200 trabalhadores credores integram o programa. Além da cana-de-açúcar, o morador e sua família diversificam a produção, rompendo com a tradicional monocultura da cana-de-açúcar. Assim é que nas terras da Catende existem, hoje, cerca de 3,6 mil hectares cobertos com pastos, viveiros de peixes, culturas de subsistência, criação de gado, caprinos, ovinos e peixes, e se produz café, frutas, milho, feijão, tubérculos, dentre outras culturas, com intuito de garantir sustentabilidade socioeconômica e ambiental do “Projeto Harmonia Catende”, bem como ampliação da renda. A diversificação constitui um dos eixos centrais e um dos objetivos do projeto autogestionário, no qual os trabalhadores não pretendem reproduzir o modelo de ex- 48 Conempec – Associativismo clusividade da produção agrícola e industrial de cana-de-açúcar. Por isso, constitui uma opção estratégica dos trabalhadores para reduzir a crônica dependência socioeconômica de uma só cultura, possibilitando a geração de mais renda, a criação de outros postos de trabalho. PRODUÇÃO E CONSUMO A Usina Catende possui capacidade potencial para processar cerca de 5.200 toneladas de cana por dia. Nesses 11 anos, a empresa teve em média 170 dias de moagem por safra e esmagou 2.700 toneladas por dia de trabalho efetivo. A usina esmagou 45,6% de cana própria, 25,9% de matéria-prima de fornecedor; 19,1% das canas vieram dos moradores de seus engenhos e 9,4% de outras usinas e destilarias vizinhas, fruto de contratos eventuais. Verificando a evolução desses percentuais, ano a ano, é fácil concluir que a produção de cana própria tem permanecido num patamar abaixo da metade, enquanto a cana oriunda dos moradores dos engenhos da usina vem aumentando, passando de 7% na safra 2000-2001 para 34% em 20042005. Em resumo, a cana própria não alcança metade do total das canas que passam pelas moendas da Catende, no período analisado. Somada, contudo, ao volume de cana entregue pelos moradores dos engenhos que compõem o projeto e desenvolvem sua agricultura às terras da massa falida, a proporção de cana esmagada na usina atingiu 55% do total, nas cinco últimas safras. Entretanto, essa é uma das razões das dificuldades econômicas da usina. Faltam condições de investimentos para ampliar a cana própria – coletiva e individual – que economicamente é mais rentável e que possibilita um melhor desempenho, tanto na auto-sustentação, como na capacidade de assegurar suporte ao desenvolvimento da agricultura familiar. Cooperativismo é vital O esforço dos trabalhadores credores e da Justiça Falimentar sempre foi limitado para geração interna de recursos, inclusive por meio de onerosas operações de venda antecipada de açúcar ao mercado, ciclo interrompido apenas no ano de 2004, com o decisivo apoio do governo federal atual, em operação com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essas dificuldades crônicas somente serão superadas após o encerramento da fase judicial e consolidação institucional do projeto. O Projeto Catende Harmonia só virou realidade por força do cooperativismo. Os trabalhadores construíram as organizações que são eixo central para a almejada solução institucional e para realizar os seus objetivos produtivos criaram a Companhia Agrícola Harmonia e a Cooperativa Harmonia de Agricultores e Agricultores Familiares. Foi assim que a superação de incontáveis fatores produziu uma das principais experiências de economia solidária no Brasil, representando um dos maiores projetos autogestionários em pleno funcionamento no País, em função de suas dimensões de organização social e administração de negócios. Em condições tão adversas de produção e de sobrevivência econômica e financeira, o fechamento da empresa, mesmo na fase falimentar, somente pode ser contornado pela sólida unidade dos trabalhadores para a superação dos impactos de uma falência crônica, pela enorme força de vontade e pelo trabalho intenso dos credores trabalhadores no campo e na Dentre as inúmeras necessidades do empreendimento, foi construída e colocada em funcionamento neste ano a Biofábrica – uma unidade de melhoramento genético de sementes de cana-de-açúcar, hoje com mais de 120 mil em tratamento. Com o beneficiamento das mudas, uma nova geração de sementes de cana garantirá não só uma maior quantidade, mas sobretudo excelência na qualidade de semente a ser plantada, e conseqüentemente, um maior retorno financeiro. indústria, que em conjunto, lutam pela sobrevivência própria, de todos e do empreendimento, que passou a ser uma razão de vida. Na atualidade, diversos estudos de viabilidade estão sendo desenvolvidos sobre os cenários econômicos dos negócios das milhares de famílias e de sua cooperativa. No entanto, a viabilidade principal do empreendimento já está demonstrada pela energia e unidade daqueles milhares de trabalhadores na luta pela defesa de seus direitos e para manter viva a empresa. É um caso de indiscutível sucesso. As vendas dos produtos são normalmente efetuadas a atacadistas do mercado interno. Eventualmente, é exportado o açúcar demerara, por meio de empresas especializadas do comércio internacional. O principal produto é o açúcar cristal, tendo como subprodutos o melaço e a torta. Nos últimos 11 anos, a usina produziu, em média por safra, 793,5 sacos de 50 quilos de açúcar cristal; 26,5 mil toneladas de melaço e 21,9 mil toneladas de torta. Conempec – Associativismo 49 OLHANDO PARA O FUTURO Além da consolidação do projeto autogestionário, os trabalhadores do “Projeto Catende Harmonia” contribuem para a construção de um modelo diferenciado de empresa açucareira, no qual a cana-de-açúcar convive com a diversificação, por meio de outras culturas agrícolas e da criação de animais, superando o modelo predominante de monocultura e de baixa sustentabilidade social e ambiental. Mas, para completar esse sonho, os trabalhadores têm consciência de que é necessário solucionar algumas questões centrais. A começar pela garantia de acesso às linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para investimento, proporcionando a ampliação do plantio de cana na agricultura familiar e coletiva (cooperada), com a conseqüente sustentabilidade e rentabilidade do empreendimento. Esses créditos de investimentos serão vitais para implantar uma destilaria de álcool e para modernizar a frota de caminhões e tratores. No governo do presidente Luiz Inácio da Silva, os trabalhadores tiveram acesso ao Pronaf, mas individualmente e na categoria de custeio. Atualmente, negociam com os bancos oficiais para o crédito ser concedido também à cooperativa e na modalidade de investimento, com volume e prazos compatíveis com os investimentos necessários. 50 Conempec – Associativismo Outro desafio é consolidar a diversificação agrícola e industrial, que é outra meta dos trabalhadores, evitando a replicação da monocultura da cana e da dependência de seus poucos produtos derivados. A diversificação ainda é um complemento de renda e alimento. Promover a transição progressiva para a escala econômica, com beneficiamento industrial, da criação de animais e da produção agrícola diversificada é uma prioridade central do projeto. Atualmente, com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), são desenvolvidos estudos sobre como realizar essa transição com observância dos princípios do desenvolvimento rural sustentável. Há ainda a necessidade de uma solução definitiva para o processo judicial falimentar, liberando o processo produtivo das limitações inerentes ao processo de falência. Da mesma forma, assegurar estabilidade na gestão do patrimônio (imóveis rurais e instalações industriais). Atualmente, por solicitação dos trabalhadores e de suas entidades, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vistoriam as terras para desapropriação global, pondo fim às disputas judiciais com os falidos no que se refere aos imóveis rurais transferidos, ilegalmente, meses antes da decretação da falência. Os trabalhadores já decidiram que não haverá parcelamento das terras, na medida da capacidade de cada família e da Cooperativa. Após a desapropriação das terras, os trabalhadores do campo e da indústria irão requerer ao Judiciário a adjudicação do ativo industrial à sua cooperativa em pagamento de seus elevados créditos. Sicoob-Coopere (BA) Usina Catende (PE) A iniciativa foi do ex-governador já falecido Miguel Arraes simboliza a procura da agricultura familiar no Projeto Harmonia, pelas condições de acesso a tecnologias modernas. Uma história escrita com luta e resistência Em uma região marcada pelos efeitos da seca e onde a vida pulsa em torno apenas do sisal, único produto agrícola oferecido generosamente pelo solo pobre do semi-árido, trabalhadores rurais do município de Valente, nordeste da Bahia, a 240 quilômetros de Salvador, descobriram que unidos poderiam ser muito mais fortes do que as adversidades naturais. Eles construíram uma lição de cidadania ao se associar em cooperativa rural e de crédito, vencendo suas próprias limitações, como o baixo grau de escolaridade, o desconhecimento quase total de leis, de economia e estratégias de mercado. novidade da fibra sintética. Até então, o sertanejo encarava com naturalidade o desafio de enfrentar as dificuldades impostas pelo escaldante clima do sertão, com suas altas temperaturas o ano inteiro e um índice pluviométrico oscilando numa média de 500 milímetros, distribuídos em longos 12 meses. Sicoob-Coopere: a necessidade, aliada ao espírito de luta e ao cooperativismo, foi a receita do sucesso A história remonta aos anos 1970 e 1980 do século passado, quando foram eles surpreendidos pela crise sisaleira e a conseqüente queda drástica do preço do produto no mercado internacional, desbancado pela Conempec – Associativismo 51 Sicoob-Coopere (BA) Da terra quase infértil brotava a semente do sustento de milhares de famílias, que se acostumaram a gravitar em torno da cultura do sisal, seguindo toda a linha produtiva, desde o plantio ao corte até o beneficiamento. A monocultura, passada de geração em geração, não deixava margens a outras perspectivas, mesmo porque faltavam estímulos para arriscar mais em direção a alternativas que apontassem para novos horizontes. Seguir o instinto e arrancar o sisal da terra parecia ser o único caminho, quase uma fatalidade, num cenário desprovido de esperanças. Mas, se era difícil depender de uma fonte de renda, com pouco ou quase nenhum suporte do poder público destinado à melhoria das condições de trabalho, a perda repentina do ganha-pão deixou uma interrogação envolta em medo e dúvida sobre o futuro das próximas gerações. De natureza valente, no entanto, o sertanejo foi capaz de perceber que era da terra que a semente da vida iria continuar brotando. Que era com o sisal, sim, que ele seguiria escrevendo sua trajetória. Só precisava saber como. A necessidade, aliada ao espírito aguerrido dos que aprenderam a lutar e nunca se dobrar diante das dificuldades, fez com que eles descobrissem que seria mais fácil vencer os obstáculos se juntassem esforços em prol do bem comum. COM A BÍBLIA O ano era 1980. O preço do sisal estava tão baixo que as plantações tinham sido abandonadas e milhares de agricultores estavam na miséria. A pergunta era: como se reunir para discutir o que fazer se o País vivia em plena ditadura militar e não 52 Conempec – Associativismo eram permitidas associações de grupos? Venceu a perspicácia. Com uma Bíblia na mão, muita fé e várias idéias na cabeça, os pequenos agricultores fundaram a Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb), reunindo comunidades camponesas dos municípios de Araci, Feira de Santana, Ichu, Valente e Serrinha. Esse último foi escolhido para sede da entidade, com filiais nas outras quatro cidades. Imbuídos pelo desejo de promover a melhoria da qualidade de vida da população da região sisaleira, por meio do desenvolvimento social e econômico sustentável e solidário, já era tarde pensar em voltar atrás. Aos poucos, a Apaeb foi se tornando grande consumidora de fibra até elevar os preços e revigorar as lavouras, transformando em aliado o sisal, que um dia havia sido vilão. Aos agricultores coube a tarefa de desenvolver projetos econômicos e negociar as mercadorias produzidas em suas áreas e todas as decisões eram tomadas por uma direção central. CAPRINOCULTURA Em cada cidade, funcionava um ponto de venda para onde convergia a produção dos associados. O excesso de centralização na tomada de decisões terminou por gerar divergências administrativas e alguns postos foram fechados. Como conseqüência natural dessa situação, 11 anos depois, em 1991, cada Apaeb transformou-se em pessoa jurídica autônoma e a unidade de Valente ganhou o nome de Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente, mas conservou a sigla Apaeb, pois já tinha identidade própria e era bastante conhecida em toda a região e pelos clientes. Em Valente, as lideranças enxergaram a importância de tornar mais ágil o processo decisório, uma das razões do seu bom desempenho, que repousa também na visão empresarial voltada às exportações do sisal para o exterior, recebendo pagamento em dólar. Ponto para o pequeno produtor associado, que começou a ser melhor remunerado. Cada vez mais profissionalizada e em plena expansão comercial, a Apaeb entendeu que seus negócios poderiam crescer ainda mais caso tivesse sua própria batedeira e não dependesse mais das batedeiras locais. São unidades rudimentares de industrialização usadas para esticar, amaciar e prensar o sisal em fardos, que possibilitam a transformação em cordas e outros produtos. Isso foi alcançado graças à intervenção da Cebemo (instituição de cooperação internacional holandesa, denominada atualmente de Cordaid), que doou os recursos financeiros necessários à compra dos equipamentos. Economia gerada, maior poder de compra do sisal, mais ganhos ao produtor. Consolidada e disposta a vôos mais altos, a Apaeb sentiu que era chegado o momento de diversificar a produção e voltou-se para a caprinocultura, outra atividade econômica potencialmente viável na região. Dessa vez, com US$ 100 mil doados pela organização alemã Misereor, a entidade criou um fundo rotativo extremamente peculiar para empréstimo aos produtores: caso não tivessem dinheiro para quitar a dívida, o pagamento seria feito em quilos de carne correspondentes ao valor devido. SURGE A COOPERATIVA DE CRÉDITO Ao mesmo tempo, o sisal recupera- va-se no exterior e a Europa vinha na linha defrente, movida por uma consciência ecológica que dava preferência a produtos naturais. Na outra ponta, entretanto, o Brasil mergulhava numa inflação astronômica, tornando alto o custo do dinheiro. O que fazer? Não seria a primeira vez que os agricultores testariam sua criatividade e lançaram a idéia de receber, numa espécie de caderneta de poupança, com uma única conta bancária, todos os depósitos não só dos associados da Apaeb, como da comunidade, pagando os mesmos juros dos bancos oficiais. Assim, matava dois coelhos com uma só cajadada: os agricultores poderiam proteger o dinheiro, enquanto a entidade formava capital de giro. Fruto da união e da criatividade, o trabalho dos cooperados tende a diversificar Mais que uma poupança, contudo, estava sendo esboçada a cooperativa de crédito rural que viria vingar definitivamente em 1993, como Cooperativa Valentense de Crédito Rural Ltda. (Coopere), formando a atual dobradinha Sicoob-Coopere. A iniciativa, porém, esbarrou nas normas regulamentares do sistema financeiro brasileiro, contrárias ao funcionamento como agente financeiro de associações civis sem fins lucrativos. Somente após emba- Conempec – Associativismo 53 Sicoob-Coopere (BA) samento adquirido sobre os mecanismos de funcionamento das cooperativas de crédito, por meio de visitas de intercâmbio dentro e fora do país, participação em seminários e estudos, as lideranças da Apaeb decidiram substituir a Poupança Apaeb pela Coopere. Antes disso, foi preciso aderir ao Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, que vem a ser o Ceco, uma instituição conveniada ao Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), que presta serviços de compensação. Dessa forma, o pequeno produtor passou a contar com serviços antes inacessíveis nos bancos oficiais e principalmente nos bancos privados. Como agente estabelecido e legalizado, a Coopere transformou-se na maior cooperativa de crédito do estado da Bahia, seja em número de agên- cias como de filiados, tendo conseguido, em 1995, dois anos depois de fundada, CR$ 1 milhão do Banco do Nordeste, oriundos do Fundo Constitucional do Desenvolvimento do Nordeste. A verba foi investida em ações destinadas ao desenvolvimento rural, beneficiando 160 famílias. E os incentivos não pararam por aí, criada a cooperativa, veio também financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destinado a empréstimo aos produtores interessados na compra de animais. Foi o suficiente para a ampliação do rebanho regional com 5.000 novos caprinos e ovinos. Juntas em sua longa caminhada, a Sicoob-Coopere vem cumprindo seu papel social e provando que os movimentos populares se não são uma saída, ao menos apontam a direção a seguir. EXPERIÊNCIA GANHOU O MUNDO Cooperativa é tema de um livro que será usado em outros países onde atua a Blue Moon, ONG internacional patrocinadora da obra, como China e Índia Em sua experiência bem-sucedida, além da agência que mantém na agência em Valente, a Sicoob-Coopere tem unidades nos municípios de Capim Grosso, Conceição do Coité, Gavião, Nova Fátima, Quixabeira e Retirolândia. Essas agências são responsáveis pelo atendimento direto ao cooperado e, a depender do tamanho, contam com três e cinco funcionários, exceção apenas para a unidade de Valente, que possui 11 empregados. Cada agência funciona com pelo menos um gerente, um tesoureiro e um atendente. Em setembro do ano passado, o quadro de funcionários era formado por um total de 48 pessoas. Hoje, a cooperativa caminha a passos largos sempre em busca de novas conquistas que possam consolidar a confiança e a auto-estima adquirida pelo agricultor familiar durante todos esses anos. Embora distante dos tempos da Revolução Industrial, que trouxe consigo o conceito de cooperativismo na França e na Inglaterra, continua muito próxima do trabalhador a idéia de que os obstáculos existem para ser vencidos. Que o fundamental não é deter o capital e a renda e sim ter o poder de transformá-los em instrumentos para o bem comum. E fazer isso não exige mentes brilhantes ou mesmo nível de escolaridade. São aprendizados que se descobrem na prática, na necessidade e em situações em que até mesmo a 54 Conempec – Associativismo esperança já não encontra mais lugar. Pobres, desamparados e sem saber que rumo tomar, os agricultores preferiram voltar os olhos para a frente e perguntar “o que fazer?” Ao invés de “O que fizemos?” UMA SURPRESA O exemplo da Sicoob-Coopere, recheado de episódios ousados e atitudes audaciosas, ultrapassou os limites do solo árido do interior baiano e ganhou dimensão internacional reconhecida no livro Uma Surpresa no Sertão: A experiência da Apaeb e da Coopere, escrito por Ranúsio Cunha, Glauco Monteiro Wanderley e Diomar Silveira. Trata-se de um estudo em português e inglês, rico em detalhes e quase didático na explicação de cada avanço, de cada nova descoberta, que culminaram no sucesso da cooperativa, uma iniciativa que merece sim ser imitada. A publicação teve o apoio da organização norte-americana Blue Moon Fund e dirigido por uma organização não-governamental nacional, a Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), sediada no Rio de Janeiro. Em visita a Valente, a presidente do Blue Moon decidiu financiar o estudo, pois acredita que a experiência pode ser útil a outras organizações nos países em que a instituição atua, especialmente a Índia e a China. E as lições a aprender são muitas. Como diz o livro, em seu prefácio, “o sertanejo demonstrou, com ações concretas, sua capacidade de resistência, sua força e ousadia. Começou a encontrar saída num salão que não tem portas, como diziam os camponeses. A estrutura perversa estava bem montada. Mas os camponeses persistentes insistiam usando uma expressão popular: damos um boi pra não entrar numa briga e uma boiada pra não sair dela”. Como se tudo visto até aqui não bastasse para comprovar a importância da Sicoob-Coopere, basta dar uma olhada na extensa lista de parceiros, adeptos da proposta comum de perseguir o desenvolvimento regional, a partir do crescimento das pessoas e das organizações sociais. “Para fomentar este desenvolvimento, procuramos colaborar com as instituições locais, ao mesmo tempo em que recebemos também a ajuda delas”, resume o presidente. “O mesmo relacionamento de apoio mútuo buscamos por meio de organizações externas. Por isso, são muitos os nossos parceiros na busca por alcançar a visão de futuro e cumprir a missão institucional da cooperativa”, acrescenta. Os colaboradores são: Apaeb-Valente (Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira), Câmara de Dirigentes Lojistas de Valente, Associações Comunitárias Rurais da Região, Escola Família Agrícola Avani de Lima Cunha (EFA), Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal (Fatres), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Valente, Monte Santo, Itiúba, Queimadas, Santaluz, Retirolândia, Conceição do Coité, Conceição de Nova Fátima, São Domingos, Gavião, Capim Grosso; Conselho de Desenvolvimento Municipal de Retirolândia, Prefeituras de Retirolândia, Nova Fátima, Gavião, Quixabeira; Câmaras de Dirigentes Lojistas de Retirolândia, de Conceição do Coité e Capim Grosso; União das Associações Comunitárias de Nova Fátima (Unanf); Associação Comercial Industrial e Agrícola de Capim Grosso; Cooperativa Mista Agropecuária de Capim Grosso; Rádio Comunitária Contorno de Capim Grosso; Associação dos Pequenos Produtores de Jaboticaba (APPJ); Paróquia São Cristóvão de Capim Grosso; Movimento de Organização Comunitária (MOC); Conselho Gestor do Fundo Rotativo (Cogefur), Disop – Brasil e Bélgica; Associação das Cooperativas de Apoio à Economia Familiar (Ascoob); Bilance / Cordaid; Banco do Nordeste do Brasil, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Pró-Renda Bahia; Rádios Comunitárias de Capim Grosso, Quixabeira, São Domingos e Valente – FM. Conempec – Associativismo 55 Sicoob-Coopere (BA) SERTANEJO, UM HOMEM QUE APRENDEU A CONTAR SUA PRÓPRIA HISTÓRIA A obstinação do sertanejo, que sempre enfrentou com coragem as condições desfavoráveis do clima, arrancando a vida da terra com as mãos e aprendendo a sobreviver na raça, já ganhou um capítulo honroso em nossa literatura, quer como o bravo descrito por um apaixonado Euclides da Cunha nas páginas de Os Sertões, ou mesmo enveredando pelo misticismo religioso encarnado pela figura do Padre Cícero, cantado em prosa e verso como salvador para uns, anti-herói para outros. A verdade é que esse homem, mesmo quase sem apoio institucional e longe dos livros, aprendeu sozinho a escrever a sua própria história. O agricultor de Valente, município encravado em pleno polígono da seca no interior da Bahia, e de cidades vizinhas, prova, em mais uma conquista, a incansável capacidade de superação que caracteriza o sertanejo. Há 26 anos, quando o sisal, a principal atividade econômica da região, parecia ter encerrado seu ciclo, trabalhadores rurais não só reativaram as lavouras, como industrializaram o processo produtivo e reconquistaram o mercado, ultrapassando as fronteiras do Brasil. O MILAGRE TEM NOME Dessa vez, os santos foram muitos, mas o milagre um só e chama-se união, de onde nasceu, cresceu e não pára de render frutos duas fortes entidades de classe que atendem pelas siglas Sicoob-Coopere, que viram brotar de suas bases verdadeiros heróis. Daqueles que jamais descansam, mas que habitam o imaginário popular. Homens que não entendiam de leis, estatutos e normas econômicas, hoje atuam no mercado financeiro com desenvoltura, contam com acesso facilitado ao crédito e a juros mais baixos que os praticados pelos bancos oficiais, sustentam seu próprio negócio e promovem o crescimento regional. O desenvolvimento veio e está presente em 22 municípios onde as duas entidades atuam. Nos dias atuais, as atividades econômicas se diversificaram, atestando que sempre há lugar para quem arrisca, ousa e não tem medo de aprender com os próprios erros. Os trabalhadores rurais adquiriram com a experiência a consciência de classe, descobriram que também têm direitos e, sobretudo, que são peças importantes na hora que vendem sua força de trabalho. E a cultura do sisal? Vai muito bem, obrigada, e se depender do braço forte do trabalhador rural ainda terá muito chão pela frente. ORGANIZAÇÃO E BASE Gigante em realizações, maior ainda em área de atuação, a Sicoob-Coopere abriu espaço pelo sertão e hoje tem jurisdição em 22 municípios. Sete desses, incluindo a sede em Valente, possuem Postos de Atendimento Cooperativo (PAC), que funcionam como uma espécie de pólo para onde convergem os demais. Seu quadro de associados só faz crescer e é composto atualmente de 9.510 pessoas, 56 Conempec – Associativismo um salto se comparado com os 340 cooperados que apostaram na iniciativa e ajudaram a entidade a dar os primeiros passos. Como entidade organizada, possui seus estatutos, que estabelecem as linhas de atuação e escolha dos dirigentes, eleitos democraticamente com a participação de todos os cooperados. Para concorrer às eleições, é preciso que o candidato tenha representatividade em seu município, perfil de liderança, seja indica- do por entidades parceiras da cooperativa, tenha disponibilidade de tempo, não possua pendências financeiras e tenha nível de escolaridade suficiente que permita a leitura e interpretação de leis. Todos esses requisitos são levantados durante as pré-assembléias dos associados. No topo da pirâmide, estão o Conselho de Administração, a Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal. O Conselho de Administração é formado por sete membros, com mandato de três anos. É responsável, dentre outros, por aprovar o regimento e normas internas, pelo exame e aprovação dos planos anuais de trabalho, pela avaliação do desempenho da cooperativa e cumprimento das metas estabelecidas anualmente pela assembléia geral. A Diretoria Executiva administra o dia-a-dia da cooperativa. Delega poderes e estabelece limites de atuação para os gerentes das agências, aprova pedidos de crédito feitos pelos cooperados e é responsável pela admissão e demissão de pessoal. Para a sua composição são eleitos três dos sete membros do Conselho de Administração em assembléia geral (presidente, vice-presidente e secretário). Composto por seis membros (três efetivos e três suplentes), o Conselho Fiscal é encarregado da fiscalização dos atos do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva. O mandato é de um ano. Após esse período, é realizada votação em assembléia geral quando, no mínimo dois terços dos seus quadros são renovados. Da mesma forma que normas rígidas norteiam o processo eleitoral, a admissão dos associados da Sicoob-Coopere é também cercada por alguns requisitos. Para ser incorporado, ele não pode ter mais do que dois empregados permanentes, precisa ser indicado por três sócios e comparecer a três assembléias mensais. O processo termina com a indicação aprovada pelo Conselho Administrativo. É necessário ainda o pagamento de um quarto do salário mínimo vigente no País. O número de filiações foi mais significativo quando a cooperativa conseguiu recursos para a formação do Fundo Rotativo e o Departamento de Desenvolvimento Comunitário estimulava as reuniões entre os agricultores, divulgando as facilidades e vantagens de solicitar empréstimos e assistência técnica. O que não falta, porém, são estratégias dedicadas a criar ambiente propício para cada vez mais trazer novos associados. O esforço tem sua razão de ser se for considerado que existem, nos 22 municípios em que atua a cooperativa, uma população economicamente ativa de 500 mil pessoas, das quais apenas dois por cento filiados. DINHEIRO MAIS BARATO Numa área de 371 quilômetros quadrados e uma população de 20 mil habitantes, o Valente ostenta altos índices de analfabetismo e poucas oportunidades de emprego, sendo este item uma das grandes preocupações e objetivo perseguido pela cooperativa. Dando mostras de eficiência também neste setor, no final de 2004, a Apaeb já havia gerado 904 empregos, impulsionados em grande parte pela fábrica de tapetes e carpetes, feitos com a fibra do sisal e inaugurada oito anos antes, graças à ajuda nacional e internacional, que financiaram 95% dos US$ 2,5 milhões necessários ao empreendimento, já que a entidade dispunha, de apenas 5% desse valor, além de uma grande vontade de dar mais um passo adiante. Conempec – Associativismo 57 Sicoob-Coopere (BA) Palestra para jovens 58 Outros 20% foram doados pela belga Disop, uma instituição de auxílio a países em desenvolvimento, e pela Inter-American Foundation, dos Estados Unidos. Os 75% restantes foram emprestados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), com prazo de pagamento para 10 anos. Foi a mesma Disop que, demonstrando confiança na cooperativa, já internacionalmente conhecida como exemplo de desenvolvimento sustentável, conseguiu apoio para pagar um estudo de mercado, feito por um especialista do setor têxtil. Isso veio juntar-se à experiência adquirida por representantes da cooperativa, acos- tumados a participar de encontros como o que é promovido todos os anos pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO), direcionado ao mercado de fibras. Conempec – Associativismo Só faltava encontrar os meios para o melhor aproveitamento industrial do sisal. A idéia da fábrica de tapetes e carpetes surgiu como um novo filão ainda inexplorado no setor de fibras. Aliado a isso, destacam-se o desenvolvimento da cadeia produtiva da caprino-ovinocultura, a organização e aperfeiçoamento do artesanato com fibras naturais, apoio à criação da Cooperativa de Artesãs Fibras do Sertão (Cooperafis) e o fomento ao desenvolvimento comunitário rural. Todo o dinheiro fica no município onde é arrecadado, o que contribui para a geração de renda do produtor rural, segundo ressalta o presidente e um dos fundadores da cooperativa, Ranúsio Santos Cunha, que cumpre o primeiro ano do segundo mandato. timos com juros inferiores aos oferecidos pelo mercado financeiro formal. Tudo isso sem burocracia e ainda com a vantagem de contar com orientação técnica para que a transação renda bons frutos. Paralelo a isso, os postos oferecem um vasto leque de produtos e serviços, a exemplo de conta-corrente, talão de cheques, cartões, aplicações financeiras, recebimento de aposentadorias, pagamento de contas, carnês, cobranças, desconto de duplicatas, transferência de recursos entre agências e instituições financeiras e banco 24 horas. ACESSO A SERVIÇOS FINANCEIROS da Agência (CCA). Valores até R$ 30 mil, são analisados pelo Comitê de Crédito Sicoob-Coopere (CCSC). Se o empréstimo pedido ultrapassa os R$ 30 mil, o julgamento fica por conta do Conselho de Administração (CA). Entre o pedido e a liberação de empréstimos de até R$ 30 mil, o tempo médio é de três dias. Os empréstimos concedidos pela Coopere não ficam restritos apenas ao financiamento de projetos técnicos no meio rural, mas estendem-se ao crédito pessoal, obedecendo às mesmas regras. As tarifas cobradas pela Coopere são, em média, 40% mais baratas que as praticadas pelos bancos. “A cooperativa é auto-sustentável e tem como base a economia local”, explica. Se a geração de emprego é uma meta, é fato também que a oferta de recursos destinados a impulsionar os negócios do pequeno agricultor é de fundamental importância para que o ciclo se feche. Ranúsio Cunha enumera alguns procedimentos como a aquisição de recursos com a captação local junto aos associados e comunidade, para realizar empréstimos em forma de crédito rural; convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); convênio com a Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente (Apeb), que dispõe de um fundo rotativo com recursos para pequenos criatórios e projetos de energia solar; aplicação do Conselho Gestor do Fundo Rotativo (Cogefur); repasses advindos do Bancoob. Bem estruturada e com ativo circulante de R$ 14.847.356,59, conforme balanço patrimonial datado de 31 de dezembro do ano passado, a cooperativa vem empreendendo esforços para a melhoria da qualidade de vida dos pequenos produtores, tornando mais fácil o acesso a serviços financeiros e, em especial, a crédito, conforme ressalta o presidente. Desse modo, o Sicoob disponibiliza para empréstimo o limite máximo de até 70% dos recursos disponíveis pela cooperativa. Os 30% restantes são destinados ao Sicoob em forma de garantia dos depósitos dos cooperados. O cooperado terá acesso a empréstimos após filiação há mais de 30 dias, ter integralizado o mínimo de cotas-parte, fixadas em R$ 200,00 no ano passado, não ter pendências junto aos órgãos de proteção ao crédito, estar em dia com as obrigações estatutárias e ser aprovado pelo comitê de crédito. “A Coopere compete com empresas sólidas e grandes, como são os bancos públicos e particulares que atuam na região. A meta da cooperativa é manter tarifas mais baixas do que as do mercado, tanto por um compromisso de inclusão da população mais pobre nos serviços financeiros, quanto por uma estratégia de competição”, explica Ranúsio Cunha. Na cooperativa, os produtores rurais desfrutam de uma condição privilegiada, ao conseguir aplicar suas economias com maior rentabilidade e ter acesso a emprés- São os Comitês de créditos que analisam as solicitações de crédito, de acordo com o valor pleiteado. Para valores até R$ 2.500,00 cabe análise ao Comitê de Crédito Em que pese seus princípios estritamente sociais, onde as palavras lucro e prejuízo são substituídas por sobras e perdas, conforme atestam os dirigentes, a coopera- “Essa é uma equação que se resolve de maneira bastante simples”, acrescenta o educador da cooperativa, Marivaldo Sales. Segundo ele, por se tratar de uma entidade sem fins lucrativos, a cooperativa tem condições de oferecer maior remuneração nas aplicações financeiras, mesmo cobrando juros menores nos empréstimos. “O desafio é aumentar a poupança local”, observa. DE OLHO NO MERCADO Conempec – Associativismo 59 Sicoob-Coopere (BA) tiva não perde de vista o comportamento do mercado formal e as necessidades dos seus associados. “Fazemos no cotidiano como qualquer empreendimento para ficarmos atualizados. Avaliamos preços e qualidade da concorrência , assim como fazemos pesquisas junto aos associados para avaliação da qualidade dos nossos serviços e atendimento e para ofertar novos produtos”, resume o presidente. Para isso, investe também em tecnologia, a partir da qual desenvolve ferramentas próprias, com destaque para o Sistema de Informática do Sicoob. Cada funcionário trabalha com um microcomputador e todos são interligados por rede. De estrutura simplificada, a cooperativa prega a filosofia de que quanto mais preparado for seu quadro de funcionários, mais eficiente se torna na prestação de serviços. Prova disso foi a criação do Programa de Desenvolvimento de Capacidades (Prodecap), voltado para a melhoria das relações interpessoais de todos os funcionários, buscando com isso melhor o aperfeiçoamento e melhor qualificação profissional. Se o investimento em pessoal é grande, o estímulo à participação do associado no dia-a-dia da entidade tem também lugar privilegiado e é um exercício constante dos dirigentes. Dentre outros instrumentos, são realizadas palestras de interesse dos produtores rurais, reuniões com lideranças nas comunidades, assembléias municipais nas quais os associados expõem suas dificuldades e por meio das quais enviam propostas para a Assembléia Geral Ordinária, realizada anualmente em Valente. Além disso, os meios de comunicação, como rádios comunitárias e 60 Conempec – Associativismo oficiais divulgam as atividades da cooperativa, que faz também propagandas com ofertas dos seus produtos e serviços, mostrados por meio de boletins. “Faz parte falar da solidez da cooperativa. Investimos também na capacitação técnica dos colaboradores e acompanhamos a produção dos agricultores para que nosso trabalho não se perca nas ações frias do marketing”, detalha o presidente. Se o assunto é marketing, no institucional e comunicação interna são utilizadas notícias de temas relacionados ao cooperativismo divulgadas pela mídia, atualização e participação dos membros da cooperativa dentro do cenário nacional. Tudo isso visa a um objetivo maior, focado na responsabilidade social, que é a mola-mestra e razão da instituição. “Nossa finalidade é contribuir para a construção do desenvolvimento sustentável, que gere melhor qualidade de vida para as pessoas e para as comunidades”, destaca Ranúsio Cunha. Mesmo desvinculada de política partidária, a cooperativa não interfere na ideologia dos seus associados, mas estimula debates com enfoque para questões sociais e estimula a organização entre setores como jovens e mulheres, por exemplo. “Nós não abrimos mão da autonomia e independência, mas acreditamos na sociedade e na justiça social”, enfatiza o dirigente da cooperativa. O educador Marivaldo Sales destaca que esse compromisso social vai além dos limites da cooperativa e tem colocado muitos dos seus dirigentes em destaque na cena estadual e nacional, quando o assunto é cooperativismo. “Cooperativa é uma sociedade de pessoas e não de capital”, diz. Se para a política partidária a entidade se diz suprapartidária, para as políticas de cunho social, ela levanta todas as bandeiras. ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL Uma dessas bandeiras foi erguida com o incentivo à criação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), quando a cooperativa juntou-se, no final da década de 1990, aos que apelavam ao governo para que as crianças permanecessem mais tempo na escola. Hoje, ajuda a gerir o programa e participa dos Conselhos Municipais de Educação e Saúde. Sua luta em prol da educação e da cultura inclui ainda a Escola Família Agrícola, inspirada em proposta pedagógica desenvolvida na França. Na escola fundada em 1996, os alunos estudam as matérias do currículo escolar oficial e aprendem técnicas agrícolas, administração de propriedades e conceitos ligados à vida no campo. Mantém o Centro de Aprendizagem e Intercâmbio de Saberes (Cais), voltado para a formação de agricultores familiares. Prepara jovens para o mercado de trabalho na Escola de Informática e Cidadania. Para incentivar a cultura regional, construiu a Casa da Cultura e financia eventos artísticos em Valente e cidades da região. Como um oásis plantado no semiárido baiano, tem espalhado serviços para melhorar a qualidade de vida do homem do campo. Participa, por exemplo, do programa 1 Milhão de Cisternas, de responsabilidade de uma rede de organizações não-governamentais que atua nas regiões secas do Brasil e estimula a construção de reservatórios de água de chuva em regime de mutirão; adquiriu uma perfuratriz para a escavação de poços comunitários na região, subsidiados por recursos adquiridos pela cobrança do serviço a quem pode pagar; mantém um programa de energia solar, que em 2004 já beneficiava 300 famílias residentes na zona rural. Mais informações: Cooperativa Valentense de Crédito Rural LTDA – Sicoob- Coopere RANÚSIO SANTOS CUNHA Presidente REINALDO LOPES DE OLIVEIRA Vice-presidente RUA J. J. SEABRA, 161 - CENTRO. CEP: 48.890-000 - VALENTE / BA TEL: (075) 3263- 2513 FAX: (075) 3263-2337 CNPJ: 73.398.646/0001-42 E-MAIL.: [email protected] EXPEDIENTE INTERNO: 07:30 às 16:30 EXPEDIENTE EXTERNO: 08:00 às 13:00 N.º de Associados – 9.003 - Ativos – 9.003 - Colaboradores - 46 Principal Atividade Econômica: Sisal e Pecuária Jurisdição: Valente, Retirolândia, São Domingos, Santa Luz, Araci, Serrinha, Queimadas, Cansanção, Nordestina, Itiúba, Senhor do Bonfim, Ichu, Jaguarari, Gavião, Nova Fátima, Conceição do Coité, Qiuxabeira, Capim Grosso. Conempec – Associativismo 61 São Sebastião do Paraíso (MG) Franca. Como se isso não bastasse, a região conta com diversas rodovias, o que torna a cidade de fácil acesso, convidativa para uma economia próspera. Se a localização do município foi fruto do acaso, a virada não teria sido possível não contasse a população com a perícia da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Serviços de São Sebastião do Paraíso (Acissp) para desenvolver o seu trabalho. A entidade entrou em campo com 11 estratégias para vencer. Entre elas, destacam-se o baixo valor da mensalidade, o seu sistema de cobrança e os vários tipos de assessoria prestada. A vitória do desenvolvimento Os resultados conquistados em equipe por meio de uma série de parcerias, não apontam para uma solitária estrela, mas para uma constelação de boas jogadas que permitiram à Associação Comercial, Agropecuária e de Serviços do município (Acissp) ser hoje uma das entidades mais ativas na representação empresarial de Minas Gerais. Em um jogo, seja de tabuleiro ou de campo, há aqueles que vencem por sorte ou pela perícia. O ideal, dizem especialistas, é quando os dois vêm juntos. A partida do município de São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais, contra o atraso e o subdesenvolvimento é um misto dos dois componentes. Localizada no sudoeste mineiro, a cidade tirou a sorte grande: está estrategicamente situado entre São Paulo e Belo Horizonte, fica a 100 km de Ribeirão Preto e a 70 km de 62 Conempec – Associativismo Embora tenha sido constituída em 1948, foi ao longo dos últimos 11 anos que conseguiu crescer. Nesse período o quadro social saltou de pouco mais de 150 para 1.400 associados. O nível de satisfação da classe empresarial regional, bem como o reconhecimento da comunidade, contribui para a reputação conquistada pela entidade e servem como fonte de inspiração para outras organizações. O objetivo da Acissp, que não tem fins lucrativos, é colaborar com o processo de desenvolvimento estratégico e sustentado do município. Para isso, conta com seus associados e colaboradores na defesa e na preservação da iniciativa privada. OS CAMINHOS DA ECONOMIA PARAISENSE Foi na trilha das plantações de café que os 65 mil habitantes de São Sebastião do Paraíso conquistaram a segunda maior cooperativa de café do País, a Cooperativa Regional de Cafeicultores em São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso). Além disso, o município abriga diversas empresas, não só nos campos tradicionais da agroindústria, mas em diferentes setores Equipe da entidade, presidida por Ailton Sillos, atende empresários e candidatos a empreendedor com 200 ações de capacitação Conempec – Associativismo 63 São Sebastião do Paraíso (MG) produtivos: laticínios, indústria têxtil, fruticultura, plantio de cana-de-açúcar, indústria de material cirúrgico hospitalar, movelaria, nutrição animal, entre outras atividades. Possui também um dos maiores pólos curtumeiros do Brasil e o mais destacado em Minas Gerais, englobando aproximadamente dez empresas com tradição e experiência na produção de peles de qualidade. Se diversificar é um segredo para o sucesso, o município sabe bem o que isso significa. Sua fabricação de componentes para lingerie completa os resultados positivos que já eram encontrados apenas na montagem de conjuntos de moda íntima. A produção de São Sebastião do Paraíso é vendida em variadas regiões do Brasil e para outros países. ESQUEMA TÁTICO Para vencer o jogo do desenvolvimento, a entidade investiu em várias ações. Uma delas está ligada à mensalidade. A dependência da Acissp em relação à arrecadação de recursos financeiros via mensalidades é baixo. O foco predominante de sua atuação é a oferta de serviços, que refletem na fidelização da clientela. A médio prazo planeja-se abdicar da cobrança de mensalidades dos associados. Mas, para sobreviver em um esquema de mensalidades baratas, é importante ter um sistema de cobrança eficiente, o que, na verdade, é um dos diferenciais da entidade. Para fazer esse serviço, ela recruta jovens, que são treinados e batem de porta em porta para entregar os boletos. Além disso, todos os serviços usufruídos pelos associados são consolidados no mesmo documento de cobrança, o que também facilita. Outra maneira encontrada para economizar foi a impressão própria dos boletos, o que evita a incidência de encargos bancários. A combinação de um bom serviço de cobrança e qualidade na prestação de serviços faz a inadimplência da entidade chegar a quase zero. PARCEIROS & AÇÕES Saiba como a entidade empresarial do interior mineiro oferece 200 atividades de capacitação A Acissp realiza anualmente cerca de 200 ações de capacitação. Para executá-las, a entidade conta com um elenco de parceiros de peso, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e a Federação das Associações Comerciais, Industriais, Agropecuárias e de Serviços do Estado de Minas Gerais (Federaminas), a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), a Federação do Comércio de Minas Gerais (FCEMG) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). Tem mais. Pensando em aumentar as chances de crescimento das empresas de pequeno porte, a Acissp firmou parcerias com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para ampliar o leque de fontes de financiamento para aquisição de equipamentos de informática e a preparação dos usuários. As atividades são realizadas em sua sede e em instalações das outras entidades envolvidas. Com isso, a entidade consegue oferecer ampla assessoria aos associados a custos reduzidos e com abrangência a variadas áreas de interesse da clientela. Entidade desenvolve atividades com parceiros de peso EMPRESA-ESCOLA Eliminação das mensalidades Numa visão de médio prazo, a Asissp planeja abdicar da cobrança de mensalidades dos associados. Em primeiro lugar, porque o nível de dependência da Acissp em relação à arrecadação de recursos financeiros via mensalidades é muito baixo. O foco predominante da atuação da entidade é a oferta de bons serviços que se traduzem na fidelização da clientela. Ainda assim, os valores dos associados são baixos. Confira: MENSALIDADES Categorias de associados Beneficiário de Serviços Prestadores de Serviços Pequenas Empresas Empresas de 10 a 30 Funcionários Empresas de 31 a 50 Funcionários Empresas com mais de 51 Funcionários 64 Conempec – Associativismo Valor R$ 12,00 R$ 20,00 R$ 20,00 R$ 25,00 R$ 50,00 R$ 90,00 A integração empresa-escola (Ciee/Acissp), feita há nove anos, foi um gol da entidade. Foi criada a Coordenadoria de Programa de Estágios para Estudantes de Ensino Médio e Educação Superior, do Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais. Desde a sua implantação, já foram atendidos cerca de 14.000 estudantes na região. Desses, aproximadamente 4.500 conseguiram empregos com carteira assinada. O sucesso dessa ação é apontado para a assertividade dos critérios de seleção, preparação e acompanhamento dos estagiários junto às empresas atendidas pelo programa. A Acissp dispõe do escritório da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais para atendimento a empresários e contadores regionalmente, com envio de mala direta diária para a sede da Junta Comercial de Minas Gerais, em Belo Horizonte. O atendimento se estende aos municípios de São Tomás de Aquino, Monte Santo de Minas, Itamogi e Jacuí prestando apoio especializado às micro e pequenas empresas em procedimentos comerciais e contratuais, constituição, alteração, extinção de empresas e registros de livros, buscas, certidões, entre outros serviços. O atendimento a empresários é realizado por funcionário da Acissp e não há incidência de honorários sobre os serviços prestados. Conempec – Associativismo 65 São Sebastião do Paraíso (MG) Primeiro Emprego Dos 14 mil estudantes assistidos pelo CIEE/ACISSP mais de 4500 conseguiram empregos com carteira assinada na região. Resultado da assertividade dos critérios de seleção, preparação e acompanhamento dos estagiários junto às empresas atendidas pelo programa. Para angariar sócios, a Acissp criou uma rede de serviços para as necessidades dos setores empresariais que atende. Exemplo disso é o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Com abrangência nacional, a entidade opera consultas on-line 24 horas, via Unidade de Resposta Audível (URA). A implantação do sistema de consultas on-line tem motivado a informatização das micro e pequenas empresas da região. A BOLA DO JOGO A tática que permeia todo o sucesso da Acissp está ligada à formalização de convênios para prestação de serviços aos associados e comunidade em geral. Essa é a espinha dorsal da sustentabilidade financeira da entidade juntamente com o investimento em ações para o aumento do número de sócios. Motivada pelas crescentes demandas por serviços de assistência à saúde, a Acissp oferece diversas opções de planos que se estendem ao atendimento clínico, laboratorial, odontológico e hospitalar. A Acissp assegura às entidades conveniadas garantia de recebimento e gerencia, por meios próprios, eventuais inadimplências geradas a partir da utilização dos serviços pelos conveniados. Também foram formalizados convênios com os Correios para envio de correspondências e encomendas e com a Embratel para oferta de planos telefônicos e acesso a serviços internacionais de telefonia, que deverão subsidiar ações da Câmara de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Acissp. Os convênios constituem atualmente a 66 Conempec – Associativismo principal fonte de receita da Acissp. Contudo, esse crescimento foi gradativo e pautado pela adequada seleção de fornecedores. O poder de barganha da entidade foi aumentado na proporção em que conseguiu assumir os riscos de inadimplência por meio da composição de capital de giro suficiente para garantia das operações de pagamento aos convenentes. Solução facilita o jogo A Acissp conta com Câmara de Mediação e Arbitragem para ajudar a resolver conflitos empresariais e evitar longos processos na Justiça. Criada em julho de 2004, a Câmara de Mediação e Arbitragem da Acissp é o quarto órgão dessa natureza instalado em Minas Gerais. Está à disposição do empresariado local para solução de possíveis conflitos em contratos que tratam de bens patrimoniais disponíveis. Trinta e cinco árbitros das mais variadas áreas de atuação (indústria, comércio, serviços, saúde, direito etc.) foram treinados e credenciados pela Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem para executar essa função. No rol das vantagens efetivas da solução dos conflitos pela Camassp estão: a velocidade, a economia, a informalidade, o sigilo, a especialização e o prestígio da autonomia da vontade. A Câmara oferece as seguintes alternativas extrajudiciais de solução de conflitos: 1) Conciliação – é um procedimento extrajudicial em que as partes escolhem um terceiro neutro que, por meio da sua intervenção direta, procura levar as partes a um acordo, pondo fim a um conflito. O conciliador não profere sentença, mas sim um termo de acordo que é formalizado pelas partes. A conciliação é mais usada nas relações trabalhistas, por meio de lei específica. 2) Mediação – é um método de resolução de conflitos onde um terceiro, neutro e imparcial, mobiliza as partes interessadas para um acordo. O mediador ajuda as partes a identificar e resolver as questões de conflito, buscando restabelecer o processo de comunicação e de avaliação de opções e objetivos. Dessa forma, não é um procedimento impositivo, mas estabelecido consensualmente para buscar mútua satisfação das partes envolvidas. Aplica-se inclusive a alguns direitos de família e outros não solucionáveis pela arbitragem; 3) Arbitragem – é o meio alternativo de solução definitiva de controvérsias pela intervenção de um ou mais árbitros escolhidos pelas partes sem intervenção estatal. No Brasil, a Arbitragem é regulada pela Lei nº 9.307/1996, sendo que o procedimento se instaura por meio de cláusula compromissória inserida previamente em contrato ou, ainda, por meio de documento separado ou posteriormente firmado pelas partes. Embora a demanda pelo serviço ainda seja pouco significativa, a Acissp mantém, com recursos próprios, um advogado que realiza atendimentos diários na entidade. Na verdade, não há cultura empresarial no Brasil para a solução extrajudicial de conflitos. Mas a sobrecarga do Poder Judiciário e a articulação da Acissp no sentido de incluir contratos a cláusula compromissória, assegura que esse seja um serviço de natureza estratégica para o futuro da entidade. NEGÓCIOS A Acissp implementou em 1999 o Balcão de Negócios cujo objeto principal de atuação é a intermediação junto a agentes financeiros de linhas de crédito de fomento a empresários e empreendedores de São Sebastião do Paraíso e região. O apoio às empresas inclui a elaboração de projetos de viabilidade econômica e o suporte de documentos exigidos pelos bancos no ato da solicitação de empréstimos. Apenas em 2005 cerca de R$ 40 milhões foram injetados na economia local e aproximadamente de mil empregos foram gerados na região. Por intermédio de funcionário próprio, a Acissp auxilia empresários no acesso a linhas de crédito. Além da identificação do financiamento mais adequado a cada perfil empresarial, também é composto plano de negócios, a partir do qual o tomador é assistido financeira e gerencialmente. O serviço é gratuito e tem sido um dos agentes de captação de associados. A Acissp adota como estratégia para mobilização e maior coesão de seus associados, a formação de câmaras setoriais. São elas: a Câmara de Comercialização e Armazenagem de Café, que conta com 35 associados de vários municípios de Minas Gerais e de outros estados, estrutura a partir da qual empresários do ramo defendem seus interesses com suporte técnico-administrativo e jurídico da Acissp; e a Câmara de Couro e Calçados. As câmaras setoriais dispõem de todo apoio técnico, político, institucional e infraestrutural da Acissp. Identificadas afinidades e desafios de cada segmento empresarial, os problemas são tratados de forma personalizada e sob o lema “a união faz a força”. Conempec – Associativismo 67 São Sebastião do Paraíso (MG) Em fase de implantação com apoio do Sebrae Minas, a entidade desenvolve o projeto Geor-Couro, voltado para ações tecnológicas, administrativas e processos de preservação ambiental. Geor é a sigla da Gestão Estratégia Orientada para Resultados, uma metodologia adotada pelo Sebrae para acompanhar e mensurar os efeitos gerados na economia por causa de suas ações, como aumento do faturamento das empresas, redução do nível de desemprego no município etc. A Câmara de Comércio e Relações Exteriores (Comex-Acissp) é um órgão interno da entidade que atua na defesa e articulação de interesses de empresas paraisenses com vocação para o comércio exterior e/ou estreitamento de relações com parceiros comerciais e institucionais estrangeiros. JOVENS EMPREENDEDORES Ganhando fôlego para o futuro, a Acissp, criou em 2006, o Conselho Empresarial de Jovens, que tem como objetivo principal integrar jovens empresários aos desafios inerentes ao associativismo e à gestão de uma associação nos moldes da Acissp. O Conselho conta com a participação de 15 empresários paraisenses com idade máxima de 35 anos. Com foco nos empreendedores da região, a associação oferece por meio do Ponto de Atendimento do Sebrae Minas em São Sebastião do Paraíso serviços e produtos de orientação empresarial para quem pretende abrir ou expandir os negócios. Os empreendedores têm acesso a consultorias presenciais e a distância, publicações, informações sobre abertura de empresas e cursos sobre temas como admi- 68 Conempec – Associativismo nistração financeira, formação do preço de venda, plano de negócio, gestão de recursos humanos, marketing, entre outros. UM MUNDO DE SERVIÇOS Também são oferecidos capacitação empresarial, programas para a melhoria dos processos gerenciais, tecnológicos, desenvolvimento das habilidades de liderança e do comportamento empreendedor. Acissp abriga em sua sede os seguintes órgãos: • Ponto de Atendimento do Sebrae • Escritório do CIE-E - Centro de Integração Escola-Empresa • Balcão da Junta Comercial de Minas Gerais Além disso, com o apoio da Acissp e de outras entidades locais são elaboradas estratégias de desenvolvimento, estabelecendo parcerias com os municípios, entidades empresariais e instituições de fomento e pesquisa, apoiando setores que precisam tornar-se mais competitivos. Também encontram-se instalados na sede: • Serviço Central de Proteção ao Crédito – SCPC; • Balcão de Negócios; • Câmara de Comércio Exterior; • Câmara de Couro e Calçados; • Câmara de Comercialização Armazenagem de Café; • Câmara de Mediação e Arbitragem. Na microrregião de São Sebastião do Paraíso, o Sebrae apóia projetos de desenvolvimento junto aos setores, como, couro, café, calçados e turismo. Além disso, implementa programas para o aumento da qualidade e competitividade de empresas de diversos segmentos e estimular o desenvolvimento econômico de territórios por meio da capacitação empreendedora. A Microrregião de São Sebastião do Paraíso atende 13 municípios: Arcerburgo, Guaranésia, Guaxupé, Itamogi, Jacuí, Juruaia, Monte Belo, Monte Santo de Minas, Muzambinho, Nova Rezende, São Pedro da União, São Sebastião do Paraíso e São Tomás de Aquino. Formando os jogadores do futuro – Em 1997, por meio de franquia adquirida pela Acissp ao Sebrae-MG foi implantada a Escola Técnica de Formação Gerencial (ETFG). Ela é responsável pela formação de alunos de nível médio e de técnicos em Administração. A ETFG de S.S. do Paraíso é refe- Figuram entre as entidades mantidas pela Acissp externamente à sua sede: • Escola Técnica de Formação Gerencial – ETFG; • Serviço Social da Indústria -Sesi/Acisp. rência do Sistema Sebrae em Minas Gerais, representou o Brasil na Alemanha em 2003 como referência brasileira em formação educacional, onde recebeu o título Best School. Ela é mantida pela Acissp com apoio da Fecom, Administração Municipal e várias empresas cidadãs: Ampara, Luiz Tonin, Cooparaiso, Gonçalves Sales, Nova América, Multimov, Matsuda. Até o final de 2005, cerca de 180 alunos passarão pela Escola com aproveitamento superior a 80% em ingresso em universidades públicas ou particulares. Outros 20% dos alu- nos formados empreendem seu próprio negócio. Enfim, para a Acissp, o futuro é agora. MISSÃO A Acissp tem como missão colaborar com o processo de desenvolvimento estratégico e sustentado do município, juntamente com seus associados e colaboradores, tendo como objetivos principais a defesa e a preservação da iniciativa privada como instrumento fundamental para o desenvolvimento econômico-social do País, por meio da livre concorrência, propriedade privada, legitimidade do lucro, remuneração justa pelo trabalho e justiça social. A Acissp possui representatividade junto as suas Federações afins e, em especial, à Federaminas, por meio da vice-presidência de Ailton Rocha de Sillos, engenheiro e empresário que preside a associação paraisense desde 1995. Os canais de relacionamento da Acissp se ligam aos principais segmentos da sociedade e à maioria das instituições da cidade e região. Os serviços prestados pela Acissp estão em concordância com as principais demandas dos associados e vêm preencher lacunas, antes existentes, na promoção do desenvolvimento empresarial de S.S. do Paraíso. Outro relevante indicador da atuação da entidade se refere aos títulos a esta outorgados ao longo dos últimos anos: • 1999 e 2000 – Conselho de Integração e de Desenvolvimento Regional de Destaque - Federaminas • 2001– Destaque no Associativismo Mineiro – Federaminas • 2003 e 2004 – Competência no Associativismo - Federaminas Conempec – Associativismo 69 A Acissp apresenta a seguinte estrutura organizacional Organograma – A entidade é composta por um conselho de administração, diretoria executiva e conselho fiscal. Conselho de Administração Ailton Rocha de Sillos – Sillos e Reis Engenharia Geraldo Alvarenga de Resende Filho – Gonçalves Salles S/A Marcelo Pimenta – Cooperativa Regional dos Cafeicultores de S.S. do Paraíso Gender José B. P. Alcântara – Uspan Importadora e Exportadora Sergio Roberto Merizzi – Producol Ind. e Com Ltda José Basílio de Queiroz – Transportadora Tebas Reginaldo de Souza – Desfile Calçados Gilberto Gonçalves – Ampara Assistência Médica Marcos Antonio dos Santos – Fundação Educacional Comunitária de S.S. do Paraíso Diretoria Executiva Diretor-Presidente: Milton Rocha de Sillos – Sillos e Reis Engenharia Diretor Vice-presidente: Willian Martoni - Martoni Materiais p/ Construção e BM Pallace Hotel Diretores de Administração e Finanças: Guilherme de Pádua Maia – Gráfica São Luiz e Gustavo Coelho de Pádua - Conformatec Industria e Comércio Ltda. Diretores Jurídicos: James Warley Pereira Ribeiro – Advogado e Douglas de Assis Dowe – Advogado Diretores de Marketing: Mariano Aparecido Bicego – Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal e Professor Universitário e Andréia Colozio Candiani – Revista Nova Show e Radialista Conselho Fiscal- Efetivo Welington Mumic – Curtume Mumic Pedro Dilson Costa Coutinho – E.E. Mariana Marques / Apae Pedro Henrique Zanin Junior – Modelage Pré-moldados de Concreto Conselho Fiscal – Suplentes Maria Hortência de Souza – Escritório de Contabilidade São Judas Dorival Moreira Machado – Escritório de Contabilidade Dorival Machado & Filhos Paulo Roberto de Oliveira – Posto de Serviços Carro Limpo Diretores do SCPC Luiz Gonzaga Goulart – Farmácia São Sebastião Leonardo Borges de Souza – Técnico Eletricista Mais informações: www.acissp.com.br | Av. Oliveira Rezende,1350 Tel: (35) 3531-2486 - São Sebastião do Paraíso - MG 70 Caxias do Sul (RS) São Sebastião do Paraíso (MG) ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Conempec – Associativismo Isca para peixes graúdos A pescaria representa a subsistência para alguns. Para outros, é apenas um esporte. Mas em ambos os casos, a paciência é a maior das virtudes, embora um pequeno componente possa representar o diferencial entre uma espera infrutífera e um belo peixe para o jantar: a isca. empresas já se destacam em segmentos de grande destaque na indústria gaúcha, como o metal-mecânico, o moveleiro, o têxtil e outros setores com forte presença na região. O Peiex do Núcleo Operacional caxiense é emblemático. O programa encontra-se em desenvolvimento em outras regiões e pólos do País, mas poucos deles possuem a O Projeto de Extensão Industrial Exportadora (Peiex), implantado no Núcleo Operacional de Caxias do Sul, ilustra muito bem a importância de uma boa isca, quando se quer pegar um peixe maior. Organizados em diversos Arranjos Produtivos Locais (APLs), concentrações de empresas do mesmo ramo, 282 empreendimentos da região gaúcha vêm sendo atendidos pelo projeto. Essas Participantes realizam ações de caráter prático enquanto “aprendem a pescar” Conempec – Associativismo 71 Caxias do Sul (RS) diversificação de atividades e a versatilidade do pólo caxiense, que atende empresários de 47 municípios. O foco do programa é disseminar a cultura exportadora entre um empresariado que já possui destaque em seu pólo de atuação. Após a identificação do que precisa ser mudado ou aprimorado, o extensionista (responsável pelo atendimento técnico às empresas do APL) auxilia o empresário na busca do melhor caminho a ser percorrido para superação de determinado desafio. “Por isso, o Peiex ensina a pescar”, diz o professor Marcelo Nichele, coordenador do projeto pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). “As ações têm caráter prático e acontecem na própria empresa”, complementa Nichele. O conhecimento dos problemas, desafios e particularidades da região é outro dos fatores responsáveis pelo sucesso do programa: quatro dos sete extensionistas do Peiex caxiense são professores da UCS. “No Núcleo Operacional de Caxias do Sul, buscamos selecionar professores extensionistas que falem a língua do empresário”, lembra o monitor do Peiex, o professor Rodrigo Borges Bertoni. Essa linguagem começa com a palavra flexibilidade, verdadeira música para os ouvidos da classe empresarial. “O projeto tem carga horária flexível e o atendimento dos extencionistas se dá em conformidade com as solicitações dos empresários”, explica Bertoni. A proximidade dos acadêmicos com o empresariado local gerou uma importante interação Universidade x Empresas, antes rara na região caxiense. O professor extensionista Empresários do setor de confecções participam de grupos de trabalho auxiliados por consultoria 72 Conempec – Associativismo Carlos Alberto Costa enfatiza que vários empresários sequer haviam entrado nas dependências da UCS, mas que a implementação do Peiex os fez conhecer laboratórios e serviços que, atualmente, são demandados para o aprimoramento de processos das empresas participantes do projeto. Do chão de fábrica para o mundo Não se pode rogar uma viagem de circunavegação sem que se tenha a mínima infra-estrutura portuária, naval e logística. A construção de um bem-sucedido empreendimento exportador funciona de maneira similar. De nada adianta uma boa divulgação externa, recursos humanos bem treinados para lidar com um cliente estrangeiro e uma estratégia logístico-comercial bem aplicada, quando alguém não adequou seu próprio chão de fábrica a essa realidade. Mudanças de linha de montagem e produção, do maquinário e de suas calibragens e até do produto e dos fornecedores se fazem necessárias, para atingir o mercado internacional. O programa Peiex conta com o apoio do Sebrae, que coordena projeto em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Mas longe de ser um programa apenas de promoção comercial, as mudanças começam já no chão de fábrica, ou nas mais simples minúcias do dia-a-dia da empresa participante. O Ministério, por meio da Secretaria de Desenvolvimento da Produção, é responsável pelos honorários pagos aos extensionistas, bem como o custeio de suas despesas com traslados. A Apex, utilizando a experiência adquirida em dezenas de rodadas de negócios setoriais no exterior já feitas, oferece treinamento específico sobre comércio exterior e dispõe informações sobre diversos países e mercados-alvo aos empresários. Junior Dorigan, empresário da Metalúrgica Romamar destaca os resultados registrados a partir da realização do treinamento em gestão de pessoas. “Hoje me relaciono muito melhor com os funcionários, os ganhos são visíveis. Além disso, pudemos identificar por intermédio de outras iniciativas, demandas por ações de consultorias tecnológicas em layout de produção e automatização de equipamentos”. Reunidos pelas atividades do Peiex, empresários do setor de confecções da região constituíram um grupo de trabalho composto por sete empresas. Auxiliados pela consultora em comércio internacional Ranise Mabília, as primeiras ações dos empresários têm se dirigido à prospecção de mercados no exterior. “A participação em eventos internacionais, a tradução de catálogos de produtos para outras línguas e a formação de preços para exportação parecem pouco expressivas, mas já começam a abrir portas fora do País; além disso, é possível perceber que com a união de interesses e de esforços tudo fica mais fácil”, afirma Ranise. Um dos grandes desafios do Peiex é dotar empresas de micro e de pequeno porte de atributos necessários para a concorrência em nível global, tanto para preservação de mercados já existentes quanto para alavancagem de novos clientes no exterior. As ações não se restringem à promoção de produtos e serviços, mas também influem na própria escolha e produção dos itens. O empresário Cláudio Pereira de Mesquita da Metalúrgica Cafla salienta que os treinamentos foram excepcionais, mas que o principal ganho foi acerca do planejamento da empresa e da implantação de softwares de produção e gerenciamento. “Minha empresa sempre foi flexível e sempre atendemos a pedidos difíceis de serem executados, mas agora dá para sentir mais firmeza em relação Conempec – Associativismo 73 Caxias do Sul (RS) a novos desafios”. Neste momento, a Metalúrgica Cafla, com o envolvimento de três outras empresas, se prepara para o desenvolvimento de uma nova máquina retífica que permitirá ao grupo de empresários realizar serviços diferenciados no mercado. O sucesso passo a passo A estrada para o sucesso não é constituída por uma única e longa reta, mas possui curvas, altos e baixos, obstáculos e todo tipo de barreira. É demasiado arriscado, também, se dispor a percorrer essa jornada de uma só tacada. A viagem sem paradas pode gerar desgastes e expor as fraquezas até mesmo do mais hábil e experiente motorista. O desdobramento do Peiex tem início com a seleção e apresentação da entidade conveniada, para gestão local do projeto (no caso de Caxias do Sul, a UCS), a partir da qual haverá a composição dos núcleos estratégico e operacional. O Núcleo Estratégico congrega instituições vinculadas a arranjos específicos. É responsável pela governança do APL. Interage com o Núcleo Operacional, disponibilizando o banco de dados das empresas, propicia a discussão para análise do diagnóstico e participa da construção do Plano de Desenvolvimento do APL (PDA). Já o Núcleo Operacional por meio de sua equipe técnica, é o responsável pelo Peiex: as experiências dos empresários se complementam 74 Conempec – Associativismo atendimento empresarial. É composto por um coordenador que executa a interlocução entre a coordenação geral do Peiex, a instituição conveniada e o núcleo. É constituído ainda por um monitor extensionista responsável pelo cumprimento das metas técnicas do Peiex junto às empresas do APL, sete técnicos extensionistas responsáveis pelo atendimento técnico às empresas do APL, e quatro estagiários responsáveis pelo apoio técnico-administrativo no núcleo. A partir da formação dos dois núcleos, apresenta-se a metodologia do projeto. Após isso, há a fase de capacitação dos técnicos extensionistas que levarão a cabo o programa, além do estabelecimento do perfil das empresas participantes e priorização do atendimento. O próximo passo é a distribuição das empresas participantes do projeto entre os técnicos nomeados para o treinamento e capacitação. A partir daí, as diversas empresas são visitadas pelos técnicos, que passam a trabalhar com um diagnóstico preliminar, a partir do qual será ministrado o treinamento. O Peiex contribui de forma pragmática para o sucesso das empresas, mas, também, estabelece elos de co-responsabilidade entre empresários e extensionistas. “A experiência com estes empreendimentos é grandiosa, pois além conhecer o dia-a-dia das empresas e dos empresários, é possível contribuir para a construção de uma nova história. Eu me sinto participante e atuante nesta trajetória e isto, não tem preço. É muito bom e eu gosto muito do que faço.” afirma a técnica extensionista Fernada Mari Zattera. O empresário Junior Dorigan reitera seu interesse pelo assessoramento dos extensionistas. “Neste momento, nos preparamos para uma nova expansão e o trabalho realizado pela UCS nos oferece confiança na tomada de decisões”, enfatiza. Além do diagnóstico da área de comércio exterior, os técnicos despendem especial atenção aos aspectos das áreas de recursos humanos, finanças e custos, vendas e marketing e ainda pela parte de manufatura e desenvolvimento de produtos. Nas margens do açude Com todos os dados em mãos e com os planos de metas e aplicação definidos, os técnicos, as empresas e o APL partem para a fase de implantação do projeto. Agora, o pescador, munido de seu equipamento de trabalho, terá a oportunidade de constatar o quão eficiente será sua isca, e que tipo de peixe irá fisgar. O bom pescador sabe o que irá fisgar. Não se mostra satisfeito com um pintado, se seu objetivo original era um tucunaré. Munidos de seus respectivos diagnósticos, os técnicos se reúnem junto aos coordenadores para análise dos pontos averiguados na fase de diagnóstico e definição das melhores políticas de implantação. São definidas todas as prioridades de execução para as empresas, para os extensionistas e para as instituições envolvidas, e a partir disso é elaborado um plano de desenvolvimento do APL. Concluída a execução das atividades e estratégias destinadas ao conjunto de empreendimentos do arranjo, é redigido um relatório final sobre o projeto. Treinamentos e atendimentos são montados a partir dos diagnósticos realizados nas empresas, o que assegura maior assertividade em relação às reais necessidades do meio empresarial Os treinamentos bem como os atendimentos de campo, foram montados a partir dos diagnósticos realizados nas empresas, o que assegura maior assertividade em relação às reais necessidades do meio empresarial, como afirma o professor João Vicente Godolphim. Os extensionistas são recebidos com curiosidade e reverência pelos empresários, a maior parte das empresas atendidas pelo projeto jamais foi assistida por ações de capacitação. “Há um sentimento de gratidão de parte a parte tanto pelos empresários quanto por nós extensionistas”, diz Jaci Natal Tasca. Outro benefício do Peiex é a troca de experiências entre professores e empresários. “As vivências se complementam”, comenta o extensionista Sidnei Alberto Fochesatto. Conempec – Associativismo 75 Cooperativismo (PE) A cooperativa, localizada em Caraibeiras, distrito de Tacaratu, no sertão pernambucano, é uma região que vive praticamente do trabalho artesanal, onde em cada casa há pelo menos um tear e todas as pessoas da família – até as crianças – são envolvidas nas atividades. Até surgir a cooperativa, o trabalho era realizado isoladamente e os artesãos mantinham uma cultura individualista, tendo muita dificuldade em realizar suas atividades, uma vez que não havia condições de crescimento e desenvolvimento de sua produção por falta de recursos para aquisição de matéria-prima e equipamentos mais eficientes. Tecendo lucros A abertura de mercado, a globalização e o advento da tecnologia trouxeram grandes desafios às organizações. Para enfrentá-los, elas formam parcerias entre si, e transformam ameaças em oportunidades de negócio por meio da cultura cooperativista e associativista. Cooperativa é referencial de sucesso para grupos que desejam se organizar 76 Conempec – Associativismo Um referência de sucesso de grupos organizados em cooperativas. Assim, a consultora Anamélia Paranhos Macedo, da Visão Empresarial Consultores Associados, classificou a Cooperativa dos Artesãos Têxteis de Tacaratu (Coopertêxtil). Em seu relatório, uma espécie de avaliação técnica da cooperativa, ela concluiu que a entidade é considerada “um referencial de sucesso de grupos organizados em cooperativas”. A visita foi realizada sob a supervisão do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), onde foram abordados aspectos gerais para a coleta de dados. Para Anamélia, a cultura associativista não existia e “o espírito de parceria era visto não como uma união de forças para se fazer representar no mercado de trabalho, mas como uma perda de espaço e de poder”, descreve, e o monopólio de alguns dominava a região, impedindo-a de desenvolver-se. A partir da consciência das dificuldades existentes, artesãos de uma mesma rua resolveram se unir para criar forças e representatividade, decidindo então criar uma associação que representasse a sua atividade. Assim, em 28 de julho de 1999 surgia a Associação dos Artesãos de Tacaratu. Por meio da Associação, os sócios conseguiram financiamento pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), compraram o terreno da sede onde funciona a cooperati- Trabalho artesanal agrega toda a família criando espírito de parceria com a comunidade local va, os galpões para oficinas de tecelagens e teares mecânicos que substituíram os manuais. Dessa maneira, foi aumentada a produção com qualidade maior e tempo menor, aumentando a competitividade. Entre os parceiros, estão o Sebrae, o Serviço Nacional da Indústria (Senai), a ONG Visão Mundial e o BNB. “Esses parceiros vêm realizando trabalhos nas áreas de gestão, desenvolvimento de produtos, Conempec – Associativismo 77 Cooperativismo (PE) Empresas divulgam trabalho Parcerias, como a do Sebrae, resultaram em desenvolvimento e melhor qualidade do artesanato Outros mercados – A venda de produtos da Coopertêxtil abrange o mercado local por meio da loja na sede da cooperativa. Expandem-se também nos mercados dos estados de Pernambuco, São Paulo, Tocantins e Bahia, sendo que os dois primeiros recebem maior concentração de vendas. Por meio de uma parceria com a ONG Visão Mundial, os trabalhos são exportados para a Holanda. Dentre os clientes da Coopertêxtil estão consumidores comuns, revendedores de várias regiões, pequenos comerciantes, donos de quiosques e grandes lojas, como Tok Stok e Pão de Açúcar. Isso torna evidente a expansão do artesanato de Tacaratu no mercado interno e externo, o que possibilita grandes negócios, além de divulgar o sertão pernambucano como potencial e detentor de talentos. Como clientes potenciais há o Supermercado Bompreço, rede Wal Mart, Camicado, Riachuelo, Carrefour, Pernambucanas, Lojas Americanas, Magazine Luiza, dentre outros. Quanto a estratégias de divulgação, a Coopertêxtil possui um catálogo de produtos elaborado em parceria com o Sebrae, além da etiqueta com a marca e o nome da cooperativa. A cooperativa participa de feiras e eventos, e foi convidada recentemente para participar da Feira do Empreendedor em Recife e do Rio Fashion Week. Em março participou de um desfile de modas no Paço Alfândega, quando lançou produtos no segmento de confecções femininas, com boa aceitação, e perspectivas para a cooperativa continuar investindo nesse segmento. controle de produção e comercialização, além do apoio na resolução das dificuldades atualmente existentes”, destaca Anamélia. Expansão e competitividade – Com o aumento da produção, veio a necessidade de tornar mais viável a comercialização dos produtos, o que seria possível por meio do cooperativismo. Assim, em 15 de dezembro de 2003, foi criada a Coopertêxtil, auxiliada pelo Sebrae por meio da implantação do programa Redes Associativas, mas não extinguindo a Associação, que ainda está em atividade. A Coopertêxtil foi fundada com 21 cooperados que participavam da sua gestão, sendo beneficiados com a prestação de serviços. O retorno foi o aumento da lucrativida- 78 Conempec – Associativismo de e melhores condições de vida. “A cultura associativista começou a ser difundida na região com a conscientização das pessoas e os benefícios vieram para os sócios, para a comunidade, para o município e para os consumidores finais”, lembra Anamélia Paranhos. Com a Coopertêxtil, a comercialização dos produtos se expandiu e quase toda a produção dos cooperados é vendida para outras regiões. A feira ainda existe, mas a maioria dos artesãos que vende suas produções no local não é cooperada. Padrão de qualidade – Além dos cooperados, a Coopertêxtil beneficia mais 260 artesãos por meio da terceirização de alguns serviços, o que gera emprego e renda. Esses beneficiados não tinham nenhuma fonte de renda, vivendo antes em condições precárias. Com isso, observa-se que, além da comercialização de produtos e beneficiamento dos cooperados, a entidade também auxilia artesãos locais não-cooperados que estão fora do mercado. A produção inclui redes, colchas, jogos americanos, mantas para sofás, cortinas, capas de almofadas, bolsas, xales, tapetes. Atualmente, é exigido um padrão de qualidade estabelecido pelos produtores e que é mantido por meio de uma inspeção feita ao final da produção de cada peça, além de uma análise da qualidade, pela Cooperativa, antes de enviar as peças aos clientes. “Esse fato tem feito um diferencial competitivo nos produtos frente ao mercado e à concorrência”, observa a consultora. Matéria-prima e maquinários modernos possibilitam expansão do artesanato e competitividade Conempec – Associativismo 79 Segurança – As condições de trabalho são passíveis de alguns cuidados devido à exposição a fatores como clima, poeira, ruídos das máquinas e jornada de trabalho excessiva. A preocupação com a prevenção de danos físicos e acidentes de trabalho Crescimento equilibrado A Coopertêxtil tem uma representatividade significativa na região, embora esteja pulverizada por artesãos que trabalham de maneira individualizada e isolada, conforme observou Anamélia. A gestão da Coopertêxtil é feita com a participação dos sócios, da diretoria e do conselho fiscal. Há participação dos 12 sócios-membros que estão sempre à frente da cooperativa na gestão das atividades diárias e rotineiras. Das vendas de produtos dos cooperados, caso sejam vendas locais, 7% do seu valor fica retido na cooperativa e das vendas realizadas fora da região, 18%. O pagamento aos cooperados é realizado no início de cada mês, a partir da soma dos valores dos produtos vendidos. Os controles são feitos desde a aquisição de matéria-prima, até o controle de estoque de produtos acabados e vendas dos mesmos. No que diz respeito aos aspectos financeiros da Coopertêxtil foi verificado que, muito embora o fluxo de caixa seja bastante justo no sentido do equilíbrio entre receitas e despesas, existe hoje a situação de auto-sustentação, em que a renda gerada pela comercialização de seus produtos e a mensalidade paga pelos cooperados têm conseguido manter seu equilíbrio financeiro. A consultora destacou que “a Coopertêxtil, apesar de seu pouco tempo de existência vem conseguindo obter um crescimento significativo quanto ao desenvolvimento e qualidade de seus produtos, desenvolvimento e conhecimento técnico de seus cooperados, fortalecimento e divulgação de sua marca. Por ser ainda muito jovem, tem conseguido surpreender com os resultados alcançados”, conclui. Supermercados (SC) resultou na promoção de um treinamento em parceria com o Senai e a Segurança, Organização e Limpeza (SOL), além de treinamentos de manutenção e operação de máquinas. “Verificamos ainda em alguns teares, o uso de protetor auricular e de máscara pelo trabalhador. Não há histórico de acidentes de trabalho no tempo de existência da cooperativa”, informa a consultora. Embora não tenha sido verificada nenhuma ação voltada para a responsabilidade social, observa-se por parte da cooperativa uma grande preocupação e comprometimento com o desenvolvimento local e a sustentabilidade de moradores da região, por meio das relações de parcerias efetuadas com artesãos terceirizados, conforme citado anteriormente. De peixe pequeno a tubarão Unidos para vender mais barato e aumentar o faturamento, proprietários de mercados de bairros de Tubarão, em Santa Catari- na, enfrentam as grandes redes do segmento e criam marca própria com cartão de crédito e produtos. Eles acreditam que ser pequeno BG Press Cooperativismo (PE) A produção é realizada de acordo com a matéria-prima disponível de cada cooperado e armazenada tanto nas residências, como na sede da cooperativa, que também é uma loja para exposição e comercialização. Têm sido desenvolvidos produtos, além de novas cores da matéria-prima utilizada, a partir de pesquisas e experimentos realizados com parceiros, o que têm contribuído bastante para a melhoria da qualidade do trabalho. Mercadistas de bairros se uniram em Tubarão para enfrentar grandes grupos do setor com a criação da Rede SuperAzul, que tem cartão de crédito e produtos da própria marca Mais informações: Cooperativa dos Artesãos Têxteis de Tacaratu (PE) Rua Tecelões, S/N, Tacaratu | Fone: 87- 38437537 80 Conempec – Associativismo Conempec – Associativismo 81 Supermercados (SC) não é problema quando não se está sozinho. A união faz a força. Uma andorinha sozinha não faz verão. Velhos clichês inspiraram novas idéias. Com o avanço da tecnologia e com o objetivo de facilitar a vida dos clientes, donos de pequenos supermercados de Tubarão, cidade localizada no sul de Santa Catarina, a 133 quilômetros de Florianópolis, lançaram, em 2004, o cartão SuperAzul para fidelizar e conquistar clientes. A experiência deu certo, e eles passaram a produzir mercadorias e buscam novos associados. A idéia da Rede SuperAzul nasceu por meio do Proder Comcenso de Tubarão. Trata-se de um programa de mobilização comunitária desenvolvido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC) para estimular o desenvolvimento dos municípios, com o pleno aproveitamento das suas potencialidades. A meta do Proder é a geração de emprego e renda e o apoio ao desenvolvimento local integrado e sustentável. Objetiva a geração de ocupações produtivas preferencialmente em municípios de pequeno porte, pela disseminação do empreendedorismo e pela criação e desenvolvimento de micro e pequenos negócios. consultores para definir os setores prioritários, a quantidade de empresas e empregos e o valor que gera para o município. Dentre os vários setores analisados e selecionados, os supermercados de bairro mereceram atenção especial. Essa estratégia procura identificar as vocações econômicas dos municípios, seus pontos fortes e fracos e definir plano de ação com a participação de parceiros públicos, empresariais e de organizações não-governamentais. Além disso, o programa se baseia na realização de pesquisas econômicas, ou seja, censo empresarial e domiciliar. Concorrentes viram parceiros Os proprietários desses supermercados foram convidados a partir do programa. Na ocasião, eles foram apresentados aos parceiros do Proder Comcenso e aos objetivos da realização de ações coletivas e de cooperação, para propor a análise do setor sob a visão dos proprietários. O grupo se consolidou e hoje dele participam 17 empresários, até de cidades próximas a Tubarão. Em 2001, a Prefeitura Municipal de Tubarão, a Associação Empresarial de Tubarão (Acit) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) local decidiram contratar o Proder Comcenso. Durante o ano foi realizado um censo domiciliar e empresarial no município. No começo de 2002 foram contratados De acordo com o presidente da Rede SuperAzul, Renato Menegaz, os comerciantes que aderiram ao grupo atualmente desfrutam de benefícios que vão além do faturamento. “O crescimento foi total, a vontade de crescer continua e esperamos agregar mais mercadistas. A meta é aumentar o número de associados para 30 mercados”, planeja. Rede SuperAzul Menegaz: a Rede SuperAzul transformou ex-concorrentes em parceiros Para ele, a Rede transformou ex-concorrentes em parceiros, uma constatação de que o associativismo pode melhorar os negócios e a qualidade de vida dos proprietários que integram a Rede. O grupo é caracterizado por mercados de bairros, em geral, empresas familiares. Casos reais de sucesso Por que ser um peixe pequeno se posso ser um tubarão? Foi pensando assim que um dos sócios e fundadores da Rede SuperAzul, 82 Conempec – Associativismo Ivanei Menegaz, aumentou o faturamento do supermercado Econolar, de sua propriedade. Ivanei diz que o faturamento do supermercado, com sede no bairro Monte Castelo, em Tubarão, Santa Catarina, teve acréscimo de 10% a 15% após a criação da Rede SuperAzul. “Para mim, a Rede é um caso de sucesso, só pelo fato de não sermos mais concorrentes”, diz ele. “Quem não quis, se arriscou no começo e deixou a Rede SuperAzul; agora, se arrepende, porque vê o quanto a gente deu certo”, afirma Ivanei Menegaz. Outro empresário que incrementou seu comércio e acredita no associativismo é Renato Menegaz da Silva, dono do Mercado Zezinho, também em Tubarão. “Com a Rede SuperAzul, existe um caminho aberto para quem está na área de supermercado”, garante o empresário. O estabelecimento teve a área interna aumentada em 80 metros quadrados, acréscimo no faturamento de 50% e mais três funcionários foram contratados no primeiro ano da participação. Crescimento A Rede SuperAzul, oficializada em outubro de 2002, reduziu custos e aumentou o faturamento dos mercados em média de 20%, com casos de 40%, chegando até a mais de 100%. A maioria dos mercados embelezou suas instalações e aumentou a área interna e o número de funcionários, contribuindo também para gerar mais empregos indiretos. Qualquer pessoa que comprove renda e tenha o nome sem restrições de crédito pode ter o cartão, que é aceito nos mercados associados da Rede. O cartão é gratuito, sem taxas de adesão e de anuidade. Conempec – Associativismo 83 Supermercados (SC) O agente de Articulação de Tubarão e Região do Sebrae-SC, Altair Lucinio Fiamoncini, acredita que as parcerias iniciais para a criação da Rede SuperAzul foram e continuam sendo muito importantes para o crescimento do setor de supermercados. “Somente com parcerias há crescimento mais rápido. Pequenos empresários unidos e apoiados conseguem vender a preços competitivos”. Além de 11 mercados de Tubarão, a Rede SuperAzul está presente em mais sete municípios – Armazém, Capivari de Baixo, Imaruí, Imbiti- ba, Laguna, Pedras Grandes e Treze de Maio, em um raio de 100 quilômetros quadrados. A Rede SuperAzul foi o incentivo para mudanças na história dos pequenos mercadistas, que tinham como meta trabalhar no setor, aposentar-se, fechar o mercado e viver tranqüilos. A presença da Rede transformou a vida desses comerciantes. A expectativa para um futuro próximo é o sonho comum de todos os integrantes da Rede, que é uma nota única para compras, com isenção de impostos estaduais e federais a fim de evitar a bitributação. Entre os grandes trunfos da Rede Super Azul estão a geração de empregos, aumento das vendas, aproximação entre empresários, redução de custos e maior força frente aos órgãos públicos e privados. Carrefour e Pão de Açúcar produtos dos próprios grupos. No caso da Rede SuperAzul, já fazem parte da marca, café, feijão, farinha de mandioca de dois tipos, pizza, papel higiênico com 30 e 60 metros, batata palha, alho e macarrão. Produtos Para o presidente da Rede SuperAzul, há uma grande satisfação com a marca, que divulga o nome da Rede e oferece boa qualidade. “Ao mesmo tempo que incentivamos a produção local, ficamos conhecidos e nos fortalecemos ainda mais”, diz. Outra maneira de competir com as redes maiores é a oferta de produtos com a marca SuperAzul. Aliás, essa é uma tendência verificada nos grandes grupos econômicos. É fácil encontrar em redes como SANTO DE CASA FAZ MILAGRE Prefeitura é premiada pelo Sebrae por programa de apoio a núcleos setoriais No município de Tubarão (SC), “Santo de Casa Aqui Faz Milagre”. Trata-se de um programa promovido pela Prefeitura que sinaliza a importância de o associativismo empresarial estar conectado também com as ações do Poder Público. Foi criado para ampliar a perspectiva comercial das empresas locais. Com a iniciativa, estão sendo organizadas e aperfeiçoadas as atividades de empresários dos setores de móveis, confecções, mercados de bairro e turismo rural. O programa rendeu ao prefeito Carlos Stüpp o título de vencedor estadual do Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor 2003. Para ele, o programa beneficia não somente a classe empresarial, mas toda a sociedade tubaronense. “O grande milagre desse programa foi a recuperação de nossa auto-estima e do nosso espírito empreendedor”, comenta Stüpp. A Prefeitura desenvolveu o programa com base em pesquisa desenvolvida pelo programa Proder Comcenso do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC), que apontou os principais eixos econômicos com potencial de desenvolvimento. Desde 2001, de posse das informações fornecidas pelo Sebrae, foram criados núcleos setoriais de empresários do mesmo ramo. CONFECÇÕES Para a criação de cada núcleo, a Prefeitura investiu cerca de R$ 156 mil. Com o tempo e os bons resultados, alguns desses núcleos transformaram-se em associações, como é o caso, por exemplo, da Rede SuperAzul, a Associação dos Confeccionistas de Tubarão e o núcleo de móveis. Em setembro deste ano, os franceses tiveram a oportunidade de conhecer as peças da empresa de confecções tubaronense Ilha Biquíni. Ao lado de itens fabricados nos mais variados países, as peças da empresa estarão expostas em uma das maiores feiras voltadas à moda praia e lingerie da Europa. O evento ocorreu em Lion, na França. 84 Conempec – Associativismo O reconhecimento da qualidade dos produtos tubaronenses e o convite para a exposição na feira européia aconteceram graças à participação da empresa, nos últimos dois anos, na maior feira têxtil da América Latina, a Fenit, realizada em São Paulo. “Ano passado, durante a feira, fizemos os primeiros contatos com os franceses. Na edição deste ano, estreitamos os laços, confirmando nossa participação no evento europeu”, conta a proprietária da Ilha Biquíni, Hercília Schmitz, de acordo com notícia publicada no site da Prefeitura. A participação na Fenit, segundo ela, é uma forma de prospectar novos negócios e até mesmo superar algumas dificuldades que o setor enfrenta no mercado nacional. “Além de bastante competitivo, o ramo de confecções no País enfrenta algumas adversidades, como a excessiva carga tributária. Por isso, temos que buscar novas possibilidades e a inserção em mercados internacionais é uma das boas alternativas para expandir os negócios”, afirma a empresária, que pretende novamente participar da Fenit no próximo ano. “Queremos aprimorar nossa participação na feira e conquistar cada vez mais espaço no mercado das confecções”, declara. Na edição da Fenit deste ano, realizada em agosto, houve a participação de cerca de 40 empresários e representantes de núcleos setoriais de Tubarão. No grupo, seis empresários da cidade expuseram seus produtos pelo segundo ano consecutivo. Eles integram a Associação de Confeccionistas de Tubarão, criada a partir do programa “Santo de Casa Aqui Faz Milagre”. Para participar da Fenit receberam apoio do Sebrae, Fiesc e da Prefeitura de Tubarão. Junto aos produtos na linha de moda íntima, moda praia, confecção em malha, couro e jeans, o grupo levou farto material de divulgação do município de Tubarão. Produtos coloniais como biscoitos e a cachaça produzida em Tubarão, balcões produzidos pelo setor moveleiro, folderes e banners que divulgaram os atrativos turísticos do município também foram expostos na Fenit. “Com esse apoio, a Prefeitura de Tubarão buscou estimular não apenas bons negócios para os empresários da confecção, mas também divulgar o potencial turístico de Tubarão, principalmente o turismo rural e o potencial econômico da cidade em outros setores como a indústria de móveis e o de prestação de serviços”, ressalta o secretário de Indústria e Comércio, Afonso Furghestti. Conempec – Associativismo 85 Supermercados (SC) TURISMO EM TUBARÃO Tubarão, localizada entre a serra e o mar, possui muitas belezas naturais. Com uma área de 313 km2 e uma população de 90 mil habitantes, a cidade é dotada de infra-estrutura urbana. Seu potencial turístico concentra-se nas águas termais, canalizadas para os complexos hoteleiros da região. Na economia a cidade destaca-se na pecuária e na agricultura. É o segundo centro comercial do sul do Estado, principalmente na área de cerâmica. Pólo comercial de uma região formada por 18 municípios, centro universitário do sul de Santa Catarina, a cidade de Tubarão, cortada pelo rio do mesmo nome e pela BR-101, oferece várias opções turísticas. Duas estâncias termais encravadas em verde vale e com toda a estrutura, mostram a potencialidade de turismo de lazer e saúde, aliado às trilhas ecológicas. Há também os sítios arqueológicos, monumentos naturais, cachoeiras e rios. O Museu Ferroviário e o Passeio Turístico Ferroviário mostram a história de Tubarão. O Marco de Anita Garibaldi na localidade de Morrinhos, onde nasceu a heroína, é outro ponto turístico da cidade. Tubarão também oferece fácil acesso às praias. O comércio diversificado completa o roteiro pelo município. Santo Forte Criado com base em pesquisa desenvolvida pelo Sebrae em Santa Catarina, que apontou os principais eixos econômicos com potencial de desenvolvimento, no caso, em Tubarão, atua desde 2001. De posse das informações fornecidas pelo Sebrae, foram criados núcleos setoriais de empresários do mesmo ramo. Para a criação de cada núcleo, a Prefeitura investiu cerca de R$ 156 mil. Com resultados eficazes, alguns desses núcleos Conempec – Associativismo transformaram-se em associações, como é o caso, por exemplo, do núcleo de confeccionistas. Incentivar o empreendedorismo e garantir a sobrevivência e manutenção de empresas é mais do que uma iniciativa social das prefeituras catarinenses. É uma questão de viabilidade econômica para os municípios e, além disso, de cidadania. Tubarão foi privilegiada com o sucesso nos negócios, que começou com o projeto “Santo de casa aqui faz milagre”, que mudou a economia local. A parceria entre o poder público e a iniciativa privada em projetos que visem ao desenvolvimento econômico e social foi o foco do Programa Santo de Casa. Por meio do programa, foram capacitadas cerca de 500 pessoas em projetos como o Líder Empreendedor e o Candidato a Empresário. Um dos resultados foi a criação Rede SuperAzul Município conta com rede de águas termais nos hotéis Seis mercados em Tubarão adquirem produtos diretamente dos agricultores da região de Alto Rio do Pouso, grupo identificado no setor de Turismo Rural, também contemplado pelo Proder Comcenso, do qual participam 12 famílias desse segmento. A iniciativa pretende incentivar aumento da produção artesanal, realizar visitação às fazendas e evitar o êxodo rural. 86 Mercados de bairros melhoraram suas instalações para aderir à Rede SuperAzul de 45 negócios e mais outro tanto em processo de abertura. Empresas já estabelecidas em Tubarão ganharam incentivos. Em Tubarão, existem 134 pequenos e médios mercados de bairros. Nascida em um núcleo setorial, a Rede SuperAzul reuniu 18 estabelecimentos que, juntos, geram 156 empregos diretos, cerca de 25% a mais do que antes da formação do núcleo. A rede de mercados SuperAzul foi beneficiada com melhorias em infra-estrutura, saneamento e cursos técnicos para seus profissionais. O desenvolvimento do turismo rural é outra meta da Prefeitura de Tubarão. Na localidade de Rio do Pouso, a 18 km da sede do município, 30 propriedades rurais já estão integradas ao núcleo do setor. O Núcleo de Moveleiros reúne 11 empresas do ramo, que oferecem mais de uma centena de empregos. Desenvolvimento Local Proder Comcenso valoriza as potencialidades dos municípios A criação da Rede SuperAzul e de outros núcleos setoriais de Tubarão decorrem do Proder Comcenso, criado pelo Sebrae em Santa Catarina para estimular o desenvolvimento dos municípios, com a identificação e valorização de suas potencialidades econômicas. De acordo com o Sebrae-SC, o programa está fundamentado em dois princípios básicos: • A melhor forma de gerar empregos é criar e desenvolver empresas; • A forma mais eficaz de criar e desenvolver empresas é estimular e formar empreendedores. A melhoria da qualidade de vida das populações das comunidades atendidas está relacionada com a identificação e avaliação dos pontos fortes e as oportunidades do município. Feito isso, vale desenvolver as seguintes ações: • Fomentar o surgimento de novos empreendedores e empreendimentos; Conempec – Associativismo 87 Resultados Esperados do Proder • Cultura empreendedora disseminada nos municípios; • Empreendimentos criados e expandidos; • Novos postos de trabalho gerados com o conseqüente incremento da renda da comunidade e a redução dos índices de pobreza; • Criadas as condições e ambientes para fixação do homem na comunidade; • Arrecadações do município aumentadas; • Agência de desenvolvimento local implantada e apoiada; • Cesta de produtos e serviços do Sebrae disponibilizada. O trabalho do Sebrae (SC) em programas de desenvolvimento socioeconômico proporcionou a vários municípios brasileiros a oportunidade de compreenderem suas problemáticas e estabelecer suas soluções. Em função das diferenças e necessidades de cada região, é importante conhecer todos os seus aspectos específicos, com a maior riqueza de detalhe possível. O novo Proder ou o Proder Comcenso atua da mesma forma do programa convencional, com a vantagem de rastrear todas as informações disponíveis no local. As alterações realizadas partiram da necessidade de adequar o produto ao novo “Foco de Atuação do Sebrae (SC)”, ou seja, na busca pela qualidade dos produtos e serviços prestados, na aproximação e no fortalecimento das parcerias entre o Sebrae (SC) e os diversos agentes de desenvolvimento existente no cenário macroeconômico estadual, como, por exemplo: as associações comerciais e industriais, as câmaras de dirigentes lojistas, outras entidades e associações de cunho empresarial, as prefeituras municipais, etc. Além disso, busca-se corrigir possíveis distorções de rumo do projeto, fazendo com que os resultados sejam obtidos na prática. Selecionando o município O processo inicia-se na seleção do município a ser trabalhado, de acordo com critérios definidos pelo Sebrae-SC. Experiências do Sebrae apontam os seguintes critérios: • População municipal; • Existência de um levantamento socioeconômico municipal; • Solicitações formais ao Sebrae pela prefeitura, associações de classe, médias e grandes empresas públicas e privadas, câmara de vereadores, governos estadual ou federal, programas específicos de desenvolvimento estadual ou federal, feitos em conjunto ou isoladamente. Partindo do pressuposto que o foco tem que estar voltado para as necessidades do cliente, o novo Proder traz como principal vantagem uma maior flexibilidade na sua implantação. A flexibilidade se dá em virtude de o projeto estar dividido em fases bem definidas e interligadas, que serão realizadas por profissionais especializados em cada área de atuação. Independentemente da interligação entre as diversas fases do Proder, cada etapa distintamente poderá ser considerada um produto serviço final, desde que atenda ao cliente. A localidade poderá contratar todo o Proder, apenas as pesquisas/censo, as pesquisas/censo mais o perfil da realidade ou apenas a fase de trabalho de campo. Além do mais, o município poderá optar por um projeto com enfoque setorial na área de Turismo. 88 Conempec – Associativismo Reforma agrária (AL) Supermercados (SC) • Fortalecer os empreendimentos existentes; • Gerar novos postos de trabalho; • Captar novos investimentos para a comunidade A organização dos agricultores familiares De nada adianta a união sem organização. Trabalhar juntos com o mesmo objetivo é imprescindível. Mas é preciso, sobretudo, organizar, orientar e capacitar os produtores. Em Maragogi, a 128 quilômetros de Maceió, centenas de trabalhadores rurais foram assentados em projetos de reforma agrária, mas não sabiam tirar da terra o próprio sustento. Egressos de canaviais, muitos deles só usavam a foice para cortar cana-deaçúcar. Com o Projeto Pequenos Agricultores Organizados (Peagro), eles criaram uma cooperativa e ganharam uma unidade para beneficiar frutas e hortaliças, com rigor no controle da qualidade dos alimentos. O projeto Peagro surgiu em 2001, graças ao apoio e à confiança de cidadãos, governo e organizações não-governamentais da Itália, como a Província Autônoma de Tren- Caminhão refrigerado transporta frutas, polpas e hortaliças para hotéis e pousadas Conempec – Associativismo 89 Reforma agrária (AL) to e a Associação “Semear a vida”. O objetivo tem sido transformar em produtores rurais os trabalhadores assentados de projetos de Reforma Agrária em Maragogi, Alagoas, com a missão de promover e fortalecer a integração das famílias, gerando emprego, renda e melhor qualidade de vida, além de resgatar a sua cidadania. Entreposto de comercialização da Copeagro, onde é realizada aos sábados a feira agrícola dos assentados. de atuação sintonizado com a realidade do homem e da mulher do campo, por meio de visitas, fornecimento de assistência técnica, formação e acompanhamento a assentados. Assim, o projeto favoreceu melhoria da organização da produção e sua comercialização em uma feira semanal realizada no galpão da Coopeagro (Cooperativa dos Pequenos Agricultores Organizados), que hoje congrega um grupo de 109 pequenos agricultores familiares assentados pelo Incra, bem como na feira municipal. Fortalecer o espírito cooperativo é uma das ações concretas realizadas por meio do Projeto Peagro pela Associação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus. Outras ações desenvolvidas são a criação de con- PARCEIROS DO PEAGRO MISSÃO DO Peagro: “Promover e fortalecer a integração das famílias dos pequenos agricultores, gerando emprego, renda e melhor qualidade de vida, resgatando sua cidadania”. 90 São parceiros do Projeto Peagro as seguintes instituições: Província Autônoma de Trento e a Associação “Semear a vida” Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); Universidade Federal de Alagoas; Cáritas Diocesana; Fundo de Microcrédito (Funcred); Governo do Estado de Alagoas; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO); Corais; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Programa Cédula da Terra (PCT); Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional e colocar (FASE); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Fórum Comunidade Ativa; Banco do Nordeste; Arcoral; Ministério da Agricultura Prefeitura de Maragogi Conempec – Associativismo dições para a organização dos agricultores familiares, assistência técnica, projetos para melhorar a produção no campo e a comercialização de frutas, verduras, hortaliças e até mesmo de alguns pequenos animais. Produção e Comercialização A Reforma Agrária no município de Maragogi começou em 1997 e, em pouco tempo, foram assentadas 1.062 famílias. Durante a segunda metade da década de 1990, a temática da reforma agrária no Litoral Norte foi impulsionada pelo agravamento dos conflitos sociais do campo, fomentados pelo fechamento ou redução de postos de trabalho nas usinas de cana-de-açúcar. Tal quadro levou centenas de famílias a se adequarem às propostas dos movimentos sociais dos trabalhadores rurais sem-terra. No período de 1994 a 2001, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) respondeu a essa demanda, criando 22 projetos de assentamento na região – 35% dos assentamentos em Alagoas, sendo 14 em Maragogi. Ainda hoje, observa-se a tendência ao aumento do número de assentados, considerando-se que 250 novas famílias encontram-se em fase de estabelecimento em três novos assentamentos e outras encontram-se em acampamentos a espera da desapropriação de novas terras. No dia 7 de setembro de 2003, o projeto Pequenos Agricultores Organizados (Peagro) deu um passo importante para consecução de seus objetivos: o surgimento da Cooperativa dos Pequenos Agricultores Organizados, a Coopeagro, entidade de natureza jurídica surgida da idéia de que somente por meio do associativismo é que os trabalhadores podem melhorar sua situação. A proposta teve a adesão de agricultores de 7 dos 14 assentamentos rurais de Maragogi. Atualmente, conta com 61 sócios. O Projeto Peagro manteve seu foco Também o projeto articulou o transporte dos produtos in natura para as cidades do Recife e de Maceió, o que se tornou possível com a doação feita à Cooperativa de um trator e de um caminhão. Na sede da Coopeagro, foi criado um espaço para a chegada, seleção e beneficiamento de frutas e hortaliças e uma pequena unidade de beneficiamento em que uma parte da produção de frutas é transformado em pasta ou em polpa. Com a colaboração do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas (Sebrae-AL), foi instalado nesse espaço o Programa Alimento Seguro (PAS), que utiliza o rigor do procedimento mundial de qualidade denominado de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APCC). Uma vez que o processo de beneficiamento é quase artesanal, isso frequentemente atrasa a entrada dos produtos na fábrica, sobretudo na época da safra de Conempec – Associativismo 91 Reforma agrária (AL) maracujá e de graviola. Como resultado, observa-se a perda de parte de frutas, que estão na espera de aproveitamento. Os con- gelados beneficiados na fábrica são estocados em duas câmaras frias com capacidade de conter cerca de 22 toneladas cada. OBJETIVOS GERAIS DO PEAGRO - Garantir que as famílias dos sem-terra possam assentar-se definitivamente e com sucesso nas terras desapropriadas, tornando-se protagonistas de sua própria história; - Fornecer um modelo de acompanhamento da família do pequeno agricultor que possa ser desenvolvido também em outros lugares de reforma agrária. OBJETIVOS ESPECÍFICOS – Contrastar a monocultura propondo novos plantios e variedades de produtos agrícolas; – Romper a desconfiança, as distâncias culturais de um povo heterogêneo, sem raízes, abrindo-o ao associativismo que se constrói no espírito de colaboração, confiança mútua e união (os dias de campo, os cursos, as visitas para conhecer outros projetos afins ajudará a criar laços de amizade e fortalecerá a vontade de juntar suas forças para melhorar a qualidade de vida da sua família e do grupo todo); – Afastar o atravessador constituindo uma organização de venda que valorize o produto do campo e beneficie diretamente o agricultor; – Garantir a subsistência da família do pequeno agricultor para que possa satisfazer as necessidades básicas de cada membro e incentivar a mulher e o jovem a se tornarem parte ativa da família rural; – Evitar o abandono da terra, conquistada com tanto sofrimento e a fuga para a cidade. Isso só será possível se a família puder ter uma renda suficiente para garantir suas necessidades; – Abastecer os mercados locais com um fluxo de produtos agrícolas mais consistente e regular, como também fornecer os produtos do campo, de forma sistemática, para hotéis e pousadas da região que atualmente são abastecidos pela Ceasa de Recife, Caruaru e Maceió; – Dar sustentabilidade ao projeto para que possa continuar suas atividades quando terminar o apoio italiano; – Por meio de parceiros locais articular momentos formativos, visitas, cursos sobre agricultura familiar e transformação das frutas em polpas, passas, conservas, etc.; – Educar as famílias rurais ao respeito pela natureza para que seu desenvolvimento seja auto-sustentável, limitando , dentro do possível, o impacto ambiental, vivam inseridas no seu habitat natural, respeitosamente promovido, para que a biodiversidade seja preservada em todas as suas manifestações; – Permitir aos agricultores liquidar suas dívidas com o Governo para não perder a terra e a casa conquistadas e ajuda-los a aumentar sua renda com o acompanhamento constante dos técnicos e com a criação de uma rede de venda local; – Prestar assistência técnica no campo, num contato direto com o agricultor e o plantio, sendo o técnico em primeiro lugar um educador, capaz de diálogo e de amizade capaz de muita paciência e ao mesmo tempo, autoridade suficiente para orientar o agricultor, ajudando-o a planejar e a organizar cotidiana e mensalmente os trabalhos na sua propriedade. 92 Conempec – Associativismo A Saída da Miséria A herança dos canaviais Houve também a melhoria das condições de produção impulsionada pelo advento do microcrédito, investimento disponibilizado pelo Governo brasileiro para os cooperados por meio da Associação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus. Esses recursos têm chegado aos assentados em forma de sementes, fertilizantes, mudas e insumos em geral. Com isso, observou-se o conseqüente aumento das áreas de cultivo. A aculturação e submissão do trabalhador rural nordestino e a enorme diferença social são as marcas deixadas pela cultura da cana-de-açúcar. Tal fato ressaltou a necessidade da reorganização da fábrica de polpas, com a melhoria das condições de recebimento dos produtos do campo e sua estocagem. O acréscimo de máquinas que permitam acelerar o ritmo de beneficiamento, diminuir os custos de mão-de-obra e a obtenção de um produto seguro (congelado e/ou engarrafado, com rotulagem e embalagem adequados) permitirá o aumento da capacidade de absorção da produção agrícola dos cooperados. Com esse acréscimo, haverá a transformação da realidade das comunidades assentadas, favorecendo a comercialização de seus produtos, permitindo-lhes o acesso e a inserção em outros mercados, aumentando sua perspectiva de sustentabilidade econômica e de saída da miséria. Uma esperança quanto ao equacionamento de parte dos problemas enfrentados hoje pela Cooperativa surge com a consolidação do Programa Petrobras Fome Zero. Seus objetivos são “colocar sua tecnologia e força de trabalho à disposição do bem-estar da população, com o objetivo de transformar a realidade das comunidades mais pobres do País, permitindo que elas possam se inserir com dignidade na sociedade brasileira”, Privilegiado por suas riquezas naturais, o litoral do município de Maragogi está inserido na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, unidade de conservação da natureza criada pelo Governo Federal em 1997, para proteger os manguezais, as praias e os recifes de corais. A riqueza e beleza dos recursos naturais sustentam boa parte dos habitantes do município, cujas atividades de pesca, turísticas e agrícolas formam a base da economia. No município, vivem 21.825 habitantes, sendo 12.892 na zona urbana e 8.933 na zona rural. De acordo com informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Maragogi tem a maior área de assentamentos no Estado de Alagoas, vez que 1/3 de suas terras passou a pertencer aos assentamentos rurais. Em razão disso, um total de 1.065 famílias passou a viver na zona rural de Maragogi, cuja ligação com a cidade se dá por estradas não pavimentadas que se tornam intransitáveis no período das chuvas, o que dificulta ainda mais o acesso aos serviços básicos de saúde, educação, alimentação, entre outros necessários ao cidadão. A maior parte dessa área destinada à implantação dos assentamentos rurais pertencia à falida usina de cana-de-açúcar, a Central Barreiros, donde vieram muitos dos trabalhadores rurais que vivem nesses assentamentos. Outra parte dos trabalhadores, que trabalhava nos engenhos e usinas de cana-de-açúcar e que não se integrou no pro- Conempec – Associativismo 93 Reforma agrária cesso de acampamento e posterior assentamento, instalou-se na periferia da cidade de Maragogi, e busca na pesca e na atividade turística qualquer tipo de sustento para seus familiares. Em geral, a situação dessas famílias é de extrema pobreza. as visitas regulares aos assentados, as irmãs foram conquistando a confiança das mulheres e dos homens do campo, que iam vislumbrando uma nova perspectiva para suas vidas. A cultura da cana-de-açúcar em Alagoas, data do início da colonização do Brasil, quando o Estado ainda pertencia à capitania de Pernambuco. Ao longo desses 400 anos, a crescente degradação da Mata Atlântica, relegada atualmente aos parcos remanescentes de 5% da área original, o processo de aculturação e submissão do trabalhador rural nordestino, e a enorme diferença social, são as marcas e os legados deixados pela cultura da cana-de-açúcar. O Projeto Pequenos Agricultores Organizados (Peagro) concentrou seus esforços em suas linhas de atuação em quatro grupos: 1ª) A primeira linha de atuação é focada nos 61 sócios da cooperativa Coopeagro. Compreende: assistência técnica; cursos; dias de campo; assembléias ordinárias e extraordinárias, a cada três meses, com êxito na produção agrícola: e produção de graviola, banana, laranja, limão, bergamota, abacaxi, maracujá, goiaba, acerola, inhame, macaxeira, batata doce e hortaliças. Esses produtos são comercializados pela Copeagro no galpão da Coopeagro, na feira nos dias de sábado, nos hotéis e pousadas do município e na cidade do Recife; A lida com a cana-de-açúcar não exige do trabalhador rural conhecimentos e práticas ligadas à agricultura familiar, e sim a disposição e força física para o corte da cana, muitas vezes associado ao uso do fogo. Isso implica sérias dificuldades para o sucesso dos assentamentos, cujos trabalhadores têm a árdua tarefa de cultivar a terra pouco produtiva e já exausta pela monocultura e fazê-la produzir o sustento dos seus. Sem a intimidade com a agricultura familiar e sem a assistência técnica prometida pelo Governo, mas não viabilizada, a maioria dos lotes dos assentamentos estava fadada à improdutividade e ao abandono por parte dos assentamentos. Em 1998, a Associação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus iniciou nos assentamentos um trabalho cujo princípio fundamental é a conquista da dignidade e da cidadania do povo do campo. Aos poucos, com 94 Conempec – Associativismo Atuação do peagro 2ª) A segunda linha de atuação envolve 20 famílias que são simpatizantes da cooperativa e estão melhorando sua produção e se preparando para entrar como sócios; 3ª) Na terceira linha, a prioridade é dada a um terceiro grupo composto de cerca de 70 famílias que foram visitadas e incentivadas a se associar, mas que ainda estão incertas de participarem do projeto; madas, pesca ilegal, veneno, violência, uso de drogas, etc. Estabilizada a situação dos cooperados, também essas famílias serão aproximadas, num primeiro momento por intermédio das irmãs e dos sócios da cooperativa e, posteriormente, dos profissionais numa tentativa de convertê-las para a organização e assessoria técnica. Mas isso exige tempos longos e muito investimento de pessoas e meios. Entre as ações mais efetivas do Projeto Peagro estão as seguintes: A construção da casa de farinha no assentamento Água Fria ; A implantação de quatro pequenas casas, nos assentamentos, para processamento e estocagem da polpa das frutas; A construção de seis cisternas de placas, de um reservatório para armazenamento de 180 mil litros de água e de outros menores para sustentar pequenos sistemas de irrigação. Os 30 agricultores beneficiados devolverão o valor em produtos agrícolas, e, por meio do fundo rotativo criado com as devoluções, outros agricultores terão acesso à irrigação; A construção de um galpão com 1.020 m2 de área construída (e 700 m2 de primeiro andar), local que servirá (e em parte já está funcionando com as polpas de frutas) para processamento dos produtos agrícolas e entreposto para comercialização, além de se constituir num espaço para a realização de cursos de formação, assembléias e outros eventos educativos, restaurante popular etc. Cursos de artesanato em palha de bananeira e apicultura (50 colméias) por meio de um convênio com o Incra,. no valor de R$ 4.000,00; Galpão da cooperativa serve também para assembléias, cursos de formação e outros eventos educativos 4ª) Por último, o projeto atua com um quarto grupo formado de centenas de famílias que ainda não despertaram para as questões da terra e da vida do campo e cuja presença na zona rural é problema, uma vez que muitos estão envolvidos com furtos de produtos agrícolas, desmatamentos, quei- Conempec – Associativismo 95 Reforma agrária Mais 60 colméias à espera de serem implantadas provenientes de um pequeno recurso para incentivar a criação de pequenos animais. Este recurso, de R4 450,00 para cada sócio da Coopeagro, dá direito a escolher dentro uma variedade de pequenos animais; A organização de um programa de informática com os dados de cada agricultor, dados de produção e comercialização dos gêneros alimentícios, medição do lote com o O Sistema de Posicionamento Global (GPS) para fazer o levantamento das áreas produtivas e programar novos plantios para as áreas que ainda estão sem produção; A implantação das Boas Práticas (BPF – APPCC), com o acompanhamento de um professor da Universidade Federal de Alagoas; A implantação da Trilha Visgueiro, roteiro ecológico, pelos remanescentes de área de Mata Atlântica no assentamento Água Fria, cujos serviços de guias e alimentação são providos pelos trabalhadores e trabalhadoras da Coopeagro; A compra das 3 motos Honda para os técnicos, de um trator 4 x 4, de um caminhão refrigerado para o transporte de frutas, hortaliças e polpas de frutas produzidas pela Coopeagro e para o abastecimento de hotéis e pousadas da região; A própria criação da Coopeagro, que superou as suspeitas, incertezas e o pensamento incrédulo, criando o encontro, o diálogo, a criação de laços de amizade e confiança e o senso comum entre os agricultores de que a terra lhes pertence e nela podem plantar e colher os frutos; 96 Conempec – Associativismo A feira agrícola dos cooperados nos dias de sábado, localizada no galpão da Coopeagro, com lanchonete, restaurante popular e boa participação da comunidade local e dos veranistas. Um trenzinho passa nas ruas para oferecer transporte às donas de casa. Histórico e funcionamento do peagro Confira do projeto e as principais preocupações dos assentados: 2001 – 2002: Implantação do Projeto – por meio de visitas aos agricultores, reuniões, divisão da região interessada à reforma agrária em núcleos de base, organização dos plantios e primeiros passos de comercialização; 2003 – 2005: Ampliação do Projeto – acolhendo novos agricultores que se mostraram interessados em participar e aprender, melhorando o planejamento dos plantios e construindo o ponto de apoio pela transformação e comercialização dos produtos do campo (galpão situado na AL 101 – Maragogi). Em 2005 – Intensificação do esforço sobretudo na formação e no acompanhamento dos sócios da Coopeagro, tentando incentivar um sentido de pertença, de colaboração, de ajuda mútua. Nesse sentido nasce a figura do agricultor repassador de conhecimentos para outro agricultor. Mensalmente, a Diretoria da Coopeagro e do Projeto Peagro, junto com um representante de cada assentamento onde existem sócios da cooperativa (7 assentamentos dos 14 existentes em Maragogi) se reúne para avaliar e planejar a caminhada, procurando formas de superar os obstáculos que atravessam a caminhada. Entre as principais preocupações e desafios do projeto estão: › Falta de crédito agrícola; › Falta de pequenos animais; › Produção ainda limitada; › Falta de recursos para a agroindústria; › Falta de um terreno; › Falta de moradia dentro da propriedade agrícola; › Pouca familiaridade com o cooperativismo. Outros problemas enfrentados são: – Como dar continuidade à assistência técnica após a conclusão do projeto italiano; como ter acesso a cursos; microcrédito; ajuda e orientação na comercialização dos produtos agrícolas e de seus derivados: gerenciamento da Cooperativa; precariedades nas estradas da área rural que impossibilitam o escoamento da produção agrícola durante a estação das chuvas. COOPEAGRO Veja os objetivos geral e específico da Cooperativa dos Pequenos Agricultores Organizados (Cooperagro). Objetivo Geral: Fortalecimento das ações produtivas do nível de conhecimento, informação, organização e competitividade dos pequenos agricultores, tornando possível sua inserção, com sustentabilidade, no contexto social e econômico da região, tendo sempre como princípio o respeito à biodiversidade local em todas as suas manifestações; Objetivos específicos : a) Fortalecer a produção agrícola de subsistência, de hortifrutigranjeiros, a floricultura, a criação de animais de pequeno, médio e grande portes, e a produção de compostos orgânicos; b) Viabilizar o processo de industrialização da produção agrícola, da pecuária e do artesanato; c) Proceder à comercialização dos produtos in natura e dos produtos industrializados; d) Promover a preservação ambiental, por meio da educação ambiental; da reciclagem; da conservação dos recursos hídricos; do uso racional dos recursos da fauna e da flora; do reflorestamento de áreas degradadas; e) Promover o Ecoturismo; f) Realizar e/ou articular a capacitação dos sócios e seus familiares, em técnicas agropecuárias; ecologia; agricultura orgânica; produção e industrialização; questões de gênero; cultura popular, folclore e lazer; sistemas de pesquisa e informação de mercado; g) Conceder o adiantamento em espécie monetária com base no valor de mercado ou do custo de produção dos produtos recebidos dos associados ou que estejam em fase de produção, de acordo com o equilíbrio financeiro da Cooperativa. De acordo com o parágrafo primeiro do seu estatuto, para implementar tais objetivos, a Cooperativa solicitará a colaboração de parcerias e buscará insistentemente, junto aos organismos institucionais responsáveis, os serviços de infra-estrutura: eletrificação no campo, estrada, água saudável, transporte, educação, saúde e outros de que se poderá precisar para as famílias cooperadas terem uma vida digna e saudável. Promoverá, ainda, mediante convênio com entidades especializadas, públicas e/ou privadas, o aprimoramento técnico-profissional dos seus associados e Conempec – Associativismo 97 Conclusão – Depoimentos Testemunhos diversos apontam que o fruto mais importante do Projeto Peagro foi o surgimento da Cooperativa dos Pequenos Agricultores Organizados, a Coopeagro. A entidade tem CNPJ n°05.954.790/0001-68 e está sediada na AL 101 Norte, 382, Quadra L – Loteamento B, bairro Santa Teresa Verzeri , na cidade de Maragogi. Eis alguns depoimentos relevantes de sócios e parceiros da cooperativa: “Enquanto, eu, antes vivia de favores do governo, hoje vivo do meu trabalho e tenho o indispensável para viver “ (Audir); “Se no momento ganho pouco, é por causa da seca, mas disponho de um sistema de irrigação e logo vou me refazer”(Beto); “Por causa da seca, não ganho muito, mas agora disponho de um terreno preparado e adquiri experiência” (Antônio Pedro); “A renda da minha família melhorou muito, porque antes eu trabalhava em terra emprestada. Agora tenho a minha terra e já entrego produtos na Coopeagro”. (Fernando); “Hoje produzimos com alegria, porque sabemos onde vender nossos produtos. A renda da minha família dobrou” (Amaro Antônio); “Com os primeiros ganhos, já posso pagar um ajudante e comprar adubo” (Marcos); “Eu levava muito maracujá à feira da cidade e me pagavam pouco. Hoje, com a cooperativa, vendo tudo a melhores preços” (Zé Primo); “Estou feliz, porque vi a história do nosso resgate se tornar realidade por meio da Coopeagro” (Irmão Zé); “Sou um privilegiado, porque sou um sócio-fundador. A Cooperativa foi a solução para nós, porque sozinhos é impossível progredir” (Amaro); “Sou feliz por ser sócio também porque tivemos que colocar em prática a nossa fé. A Cooperativa nos deu condições de vender nossos produtos em melhores condições” (Elias); “A nossa situação melhorou muito, porque antes os atravessadores compravam por um preço baixo e ficavam com todo o ganho”(Tatiana); “Tenho aprendido muito com os técnicos da cooperativa” (José Terto); “Com a assistência técnica e os estímulo constante para a comercialização recuperei o meu lote e hoje tenho uma renda bastante constante” (Varderi); “Fui resgatado pelo projeto que me indicou um caminho, que me ajudou a ser um agricultor” (Rivaldo); “O Projeto Peagro me ajudou muito dando-me a oportunidade de me tornar apicultor, por meio de cursos se acompanhamento técnico. Hoje, eu crio abelhas” (Roberto José); “O Projeto da Associação das Irmãs me ajudou muito, salvando meus plantios de graviola com assistência técnica, irrigação, incentivo. Não posso esquecer que foi o Projeto Peagro que me emprestou o material para construir a casinha da fruta para conservar, com higiene e cuidado, a pasta da graviola madura que não é possível levar para a cidade, sobretudo durante a estação das chuvas” (José Amaro). MAIS INFORMAÇÕES: Cooperagro:(82) 3296 2010 | Endereço: AL 101 Norte, 382, Quadra L – Loteamento B, bairro Santa Teresa Verzeri, Maragogi, Alagoas 98 Conempec – Associativismo Artesãos Reforma agrária dos seus empregados, quando houver necessidade, além de participar de campanhas de expansão da idéia do cooperativismo. Miriti na era dos games Em plena época de games interativos, iPODs e Playstations, a criatividade do caboclo paraense seduz crianças com barquinhos, araras, jacarés e tatus feitos artesanalmente a partir de uma palmeira nativa, o miriti. Com a criação de uma entidade representativa, a Asamab, os artesãos de Abaetetuba, a 135 quilômetros de Belém, no Pará, transformaram o miriti em artesanato de decoração e já conseguiram expor na França e exportar para Europa, Estados Unidos e Japão. No segundo domingo de outubro, ocorre em Belém do Pará a tradicional festa religiosa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. É o Natal antecipado dos paraenses. Nessa época, as empresas antecipam parte Publicação do Sebrae-PA mostra a produção artesanal que encanta crianças em Belém e é exportada para Europa, EUA e Japão Conempec – Associativismo 99 Artesãos do 13º salário e distribuem cestas para a ceia da festividade, cuja romaria reúne milhares de fiéis. A comemoração se espalha em cada esquina. E no Natal fora de época não podem faltar presentes, sobretudo, os tradicionais brinquedos esculpidos em talas tiradas das folhas do miriti. igarapés. O meio de transporte do ribeirinho, a canoa, é acessório obrigatório para o bom vendedor de brinquedos de miriti. Outros brinquedos da procissão são os cataventos e as sombrinhas. Tudo feito de forma artesanal: papel laminado e linhas de cores variadas. Até mesmo a roda gigante do arraial que se ergue na Praça de Nazaré ganha movimento nos pedaços dessa palmeira originária das várzeas amazônicas e das beiras dos Produção permanente Desde 2000, os artesãos de Abaetetuba ganharam novo impulso e transformaram a produção de brinquedos de miriti em uma atividade constante, não apenas limitada à época do Círio, até então a única oportunidade de negócios. Isso ocorreu graças a uma parceria entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), a Prefeitura e a Associação dos Artesãos de Brinquedos de Miriti de Abaetetuba (Asamab). Assim, a produção passou a ser perene. Agora é possível obter os brinquedos durante o ano todo. Os produtos da associação são comercializados em diversos pontos turísticos da capital, a exemplo do Mangal das Garças, Museu Goeldi e São José Liberto. As peças também são encontradas fora do Estado e até no exterior. Foi o que ocorreu em 2005, durante o Ano do Brasil na França, quando o Governo do Pará enviou algumas peças desse artesanato para exposição em Paris. Esse boom dos brinquedos feitos de miriti começou com as feiras do produto realizadas em Belém uma semana antes do Círio. Essa divulgação ajudou na continuidade do trabalho como forma de expressão artística e, essencialmente, como principal fonte de renda dos artesãos de Abaetetuba. O vice-presidente da Asamab, Desidério Antônio dos Santos Neto, afirma que a comercialização do artesanato é uma alternativa para obter renda, ambientalmente sustentável para a população regional, sem que tenham que desprezar sua cultura, além de conservarem os recursos naturais das florestas. O atual presidente da entidade, Amadeu Gonçalves Sarges, foi um dos artesãos que mudaram o processo de fabricação de peças após a intervenção feita pelo Sebrae no Pará. Hoje, ele só utiliza tinta atóxica e, Brinquedos de miriti resistem em plena era dos games, iPODs e Playstation 100 Conempec – Associativismo Conempec – Associativismo 101 para trabalhar e aprender o ofício de artesão”, explica Desidério. Artesãos A variedade do artesanato fica maior a cada ano e as peças tradicionais, como os animais da região, – cobras, jacarés e pássaros – brinquedos e objetos que retratavam a cultura local – foram expandindo até chegar a eletrônicos, carros, motocicletas e até réplicas das taças da Copa do Mundo, satisfazendo o gosto de crianças e adultos. Ainda segundo o vice-presidente da Asamab, o ofício possibilita uma renda fixa aos artesãos, que se preocupam mais com a qualidade final dos produtos do que com a quantidade da produção. “Por isso acreditamos que, em breve, todos os artesãos possam viver do miriti como atividade principal”, avalia ele, comemorando o fato de o artesanato ter deixado de ser uma atividade ligada ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré para ser comercializado o ano inteiro. A produção de artefatos a partir de talas de palmeiras já tem o Miriti Fest, que, além dos brinquedos, oferece também pratos feitos à base de miriti. Nesse evento são expostas cerca de 15 mil peças. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) realizou cursos de culinária para as mulheres de Abaete- PROTETOR SOLAR Pesquisas apontam que o óleo extraído do miriti pode ser usado para proteger a pele além de fazer os brinquedos em tamanho normal, começou a produzir miniaturas. Com isso, ele atende a encomendas internacionais da Europa e dos Estados Unidos e garante uma renda mensal de R$ 1,5 mil. Segundo ele, o apoio do Sebrae também teve outro efeito positivo. Atraiu a atenção do poder público local que, segundo Amadeu, passou a se envolver mais nas ações de apoio aos artesãos. “Antes não davam muita atenção para nós”, afirma. De acordo com a Unidade de Negócios do Sebrae em Abaetetuba, o trabalho só obteve sucesso porque os ribeirinhos entenderam que atuar juntos era a saída. Além disso, eles perceberam que qualidade é muito mais rentável que quantidade. Para conquistar novos clientes, os artesãos me- 102 Conempec – Associativismo lhoraram as peças, renovaram o trabalho e ganharam mercado. A maior necessidade da Associação no momento é a construção de uma sede própria para que os turistas possam encontrar o artesanato com facilidade e também para comodidade dos artesãos. “Nosso ateliê fica nas nossas casas, daí necessitarmos de um local apropriado para o trabalho e venda”, acrescenta ele. O grupo se reúne na sede do Sebrae, em casas de associados, em escolas e em outros espaços públicos. Em família A Asamab possui 150 artesãos cadastrados, sendo 80 associados. “Ao todo são cerca de 400 pessoas envolvidas, uma vez que congrega pais, filhos, mães, parentes, A matéria-prima do artesanato é extraída da palmeira maurita flexuosol, conhecida como meritizeiro ou buritizeiro, abundante no Brasil em várzeas e beiras de igarapés. O óleo, de alto teor oléico e ácidos insaturados, ao natural, pode ser usado como protetor solar, pois absorve as irradiações prejudiciais à pele, de acordo com pesquisas da Universidade Federal do Pará (UFPa). O talo das folhas, utilizado para fazer os brinquedos e miniaturas diversas, é aproveitado também no fabrico de cestos e balaios; sua palha serve para cobrir cabanas; a fibra, para tecer redes, tapetes, bolsas e objetos de decoração; a fruta, miriti, serve como alimento, acompanhada de açúcar e farinha, tem grande valor energético, sendo rica em vitamina A. Além de base para licor, mingau e geléia, a fruta tem sua tinta aproveitada para pintar artesanatos e quadros. A amêndoa do miriti fornece 48% de um óleo que, por enquanto, não é aproveitado, ainda segundo a pesquisa. Para obter a matéria-prima dos brinquedos, os “braços” do miritizeiro são descascados, chegando assim ao miolo, que alisado com facão é transportado aos feixes para os produtores. Os artistas esculpem – geralmente com facas e facões – as peças de acordo com suas habilidades. Uns são especializados em barcos, bonecos, animais regionais e domésticos, como cobras, tatus, jacarés, pássaros, vacas, tornando a escolha uma característica dos autores, seguindo sua inspiração, urbana ou tradicional. Depois de prontas, as peças recebem o desenho-base da pintura. A arte, geralmente é repassada de pai para filho. É importante destacar que a confecção dos brinquedos não é uma atividade predatória, uma vez que o miriti escolhido é jovem e da planta são colhidos apenas os braços em que ficam as folhas, mantendo a árvore viva e com crescimento normal. No Brasil, ela é encontrada nos estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, São Paulo e Tocantins e ainda no Distrito Federal. Conempec – Associativismo 103 Artesãos tuba incluindo pratos feitos de miriti, como bombons, peixe ao molho de miriti, pudins, cremes, mingau e até vinho feitos com a fruta. Elas aproveitam o que aprenderam no curso para comercializar sua produção em feiras e outros eventos. trabalho, adaptando e desenvolvendo técnicas para seu beneficiamento. A variedade de formas e de tamanhos obtida em pesquisas com as maquetes feitas de miriti ofereceu resultados considerados extremamente positivos no estudo da arquitetura, tanto em relação a formas e estilos, quanto ao custo bastante baixo se comparados a outros materiais. Os primeiros estudos das maquetes ganharam reconhecimento e importância em exposições realizadas em Belém, no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e na UFPa. Design Há seis anos trabalhando com o grupo de artesãos, o Sebrae no Pará, por meio da Unidade de Negócios de Abaetetuba, investe na qualidade e no design do artesanato, além de ajudar na organização da associação bem como na comercialização dos produtos. O Sebrae atua também junto aos parceiros na solução de problemas. Na inauguração do Centro de Design da Amazônia, em agosto de 2006, na sede do Sebrae em Belém, uma das palestras enfocou como tema o desenvolvimento de embalagem artesanal utilizando papel reciclado e miriti. “Conquistar novos mercados é o nosso desafio”, assinala a superintendente do Sebrae no Pará, Maria Oslecy Garcia. “O design tem sido a porta de entrada dos empresários no mundo da inovação”, afirma o gerente de Inovação Tecnológica do Sebrae, Paulo Alvim. O principal meio de divulgação do trabalho artesanal de miriti tem sido por meio de feiras. Em 2006 a Asamab organizou quatro exposições para a comercialização, no Rio de Janeiro, em São Paulo e duas em Brasília, de acordo com informações do vice-presidente. Isopor natural Seria um desperdício dizer que do miriti aproveita-se tudo. Seu uso tem avançado 104 Conempec – Associativismo A conclusão é que o uso do miriti pode baratear em cerca de 90% a confecção de maquetes, apresentando alta qualidade no acabamento, propiciando melhor estudo e análise da arquitetura com maior acessibilidade de custo. TESE DE DOUTORADO cada vez mais. Tanto que a Fundação Curro Velho, do governo do Estado realiza em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPa), a experiência de substituir o isopor pelo miriti na construção de protótipos. A idéia partiu de um funcionário da Fundação, Ricardo Andrade, que propôs o uso do miriti para a criação de objetos tridimensionais para a prática do aeromodelismo. Assim, foi dado o passo inicial para uma série de alternativas que estão sendo desenvolvidas por essa parceria. Com isso, o custo de confecção de maquetes arquitetônicas tende a diminuir, sem perder a qualidade do Doutoranda da USP defende o uso do miriti para a inclusão de crianças com necessidades especiais O lúdico das peças chamou a atenção da pesquisadora Wanderléia Medeiros, pedagoga que faz doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e que defende a tese dos brinquedos de miriti como elemento pedagógico de inclusão no trabalho com crianças que apresentam necessidades especiais. A informação foi divulgada no site do Sebrae no Pará. “Com minha tese quero mostrar como o brinquedo de miriti pode contribuir para o processo de inclusão dessas crianças na escola e na comunidade”, destacou a pesquisadora, que é professora do Núcleo Pedagógico Integrado (NPI), da Universidade Federal do Pará. Conempec – Associativismo 105 FORMA SEM FORMA Artesãos Produção de brinquedos inspira poeta paraense a enaltecer a atividade O poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro, nascido em Abaetetuba, assim descreveu o artesanato que tornou a cidade conhecida: “Miriti: embora haja a fabricação de um número limitado de tipos dessa forma de artesanato, cada um dos objetos representa uma singularidade artística individualizadora. Todos têm uma forma, mas nunca uma forma. São, portanto, densamente simbólicos”. Por todos os lugares da cidade, onde nasceu o poeta estão presentes passarinhos, canoas, barcos e pessoas de miriti. No Círio de Nazaré em Belém eles se multiplicam, colorindo a procissão e os parques de diversão. Segundo o poeta, quando vão para as mãos do colecionador, do decorador ou para museus, os brinquedos de miriti experimentam o fenômeno que o sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard chama de abstração da função. “Quando é usado como brinquedo, ele não é um objeto estético. Há a transferência dominante nesse processo de conversão semiótica do brinquedo de miriti. Ele deixa de ser um instrumento, para tornar-se um objeto auto-reflexivo. Não é mais um caminho para uma finalidade exterior a ele, mas um caminho para si mesmo. Não é mais curiosidade e instrumento de jogo para quem o utiliza, mas objeto de paixão de quem o possui”. Fique antenado para participar das novas conquistas das micro e pequenas empresas. CAPITAL MUNDIAL DO MIRITI Artesãos recebem cursos de renovação da fabricação de brinquedos Fundado em 1880, com área de 1.613,9 km2 e cerca de 120 mil habitantes, o município de Abaetetuba é também conhecido com “terra da bicicleta” ou “China brasileira”, uma vez que esse é o meio de transporte mais utilizado pelos habitantes. Mas os artesãos e órgãos parceiros empenham-se para identificar a cidade como a capital mundial do miriti. No município já existem trabalhos de resgate cultural, como a tentativa de inserir em algumas escolas cursos de fabricação dos brinquedos. É promovido o treinamento de artesãos com cursos de renovação dos brinquedos em novos desenhos, para inclusão no mercado como peças representativas de uma região, pela originalidade e qualidade dos produtos. Os brinquedos feitos de miriti são expostos ou levados à venda em uma estrutura que tem a forma de uma cruz de braço duplo. Feita com pedaços do mesmo material, mede cerca de dois metros na haste vertical e um metro nos braços horizontais. Nessa estrutura os brinquedos são anexados formando uma espécie de painel. Postos sem uma ordem rigorosa, os brinquedos ficam acumulados de modo que resulta em conjunto estético original e atraente, de cores e formas que chamam a atenção. São as girândolas ou girandas, como são chamadas popularmente. Abaetetuba teve origem na aldeia Samaúma, que entre 1617 e 1653 era chamada de São Miguel do Beja e foi desmembrada de Belém em 1880. Chamada de Abaeté, que na língua tupi significa homem forte, é também nome do rio cujas águas se encontram com as do Rio Tocantins na Baía de Marapatá, às margens da qual foi fundado o município. Como trabalho alternativo, a população local pratica a atividade de ciclotaxista, que usa a bicicleta como táxi. A tradição de usar este veículo rendeu à cidade o título de “China brasileira”. Para se ter uma idéia da importância da bicicleta , no começo deste século, havia ponto para ciclotaxistas, estacionamento rotativo no terminal rodoviário à disposição dos 20 mil veículos do gênero que circulavam pelas ruas nessa época, de acordos com dados do Departamento de Trânsito (Detran) do Pará. MAIS INFORMAÇÕES: Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanato de Miriti de Abaetetuba (Asmab) | Endereço: Rua Lauro Sodré, 2031, São Lourenço. CEP.: 68.440-000. Abaetetuba - Pará | Telefones: (91) 3751 1895 / 3751 1270 106 Conempec – Associativismo Visite o site da Conempec www.conempec.org.br C o n e m p e c