Conclusões sobre a Expomusic e o mercado de áudio
Autor: Fernando A. B. Pinheiro
Depois de visitar a Expomusic e as lojas da Rua Santa Ifigênia, em São Paulo, acredito que seja
interessante fazer um "resumo geral" do que vimos e de como podemos perceber o mercado de
equipamentos de som no Brasil.
Assim, postaremos nossas conclusões sobre diversas tecnologias e tipos de produtos. Não encare o
que vamos falar como uma regra absoluta, analise as informações e tire suas próprias conclusões.
Algumas dessas conclusões são até antigas, só faltava uma ocasião apropriada para escrever.
MICROFONES SEM FIO
Esqueça a compra de microfones sem fio com transmissão VHF! Nenhum fabricante sério está investindo
um dólar nessa tecnologia. Muitos nem fabricam mais mics VHF. Na feira e nas lojas, VHF só microfones
antigos ou os mais baratos mesmo. Qualquer compra deve ser direcionada para microfones com
transmissão UHF, região que ainda não está "poluída" e consegue-se uma transmissão limpa.
Mas como é uma questão de tempo para a região também ficar poluída, já há uma tendência de
lançamentos de microfones UHF, com vários canais selecionáveis (multicanais), que o pessoal costuma
chamar de "sem fio digital". Alguns modelos têm 5, outros têm 10, alguns modelos mais caros tem 100 ou
mais canais (frequências de transmissão a escolher). Quem pensar em comprar hoje um microfone sem
fio, principalmente para sistemas que vão utilizar vários microfones sem fio ao mesmo tempo, é melhor
comprar logo um desses digitais. E para quem pensa que só os grandes fabricantes tem desses sem fio
digitais, marcas como Behringer, Karsect/Staner e SKP já têm modelos assim, com preços bem mais em
conta.
Mas o fato do microfone ser UHF e/ou ser digital não é garantia de qualidade. Conheci um tipo raro de
vendedor (os honestos) na EletroSates, o Rildo, que me atendeu tão bem que merece a propaganda. Vi
um microfone UHF, multicanal, com excelente acabamento e por um preço relativamente razoável (R$
970,00). A marca é DVON, da qual nunca havia ouvido falar. Fiquei interessado, o aparelho é bem bonito,
mas logo o Rildo explicou: "não presta, o microfone não tem alcance de nem 20 metros sem começar a
chiar, em qualquer das frequências. Tentamos devolver ao fornecedor mas ele não aceitou. Estamos
vendendo pelo preço de custo do produto apenas".
Além dos mics sem fios tradicionais, pessoalmente sempre tive curiosidade em um tipo "raro" de
microfone sem fio. Na verdade, não é um microfone propriamente dito, mas sim uma base transmissora,
que poderia ser encaixada em qualquer microfone, transformando assim qualquer modelo de microfone
de mão "com fio" em um "sem fio". Já vi isso em televisão, principalmente em repórteres de rua, mas só.
Mas que decepção: só vi dois sistemas assim, um da Samson e outro da Sennheiser, e ambos
caríssimos. A curiosidade passou rapidinho...
MICROFONES COM FIO
Já havia ouvido falar bem dos JTS, inclusive de gente importante do IATEC (tanto o Fred Júnior quanto o
próprio Pedruzzi). Mas foi na feira que tive a oportunidade de vê-los e testá-los pela primeira vez. Como
foi no próprio estande da empresa, sem poder comparar com nenhuma outra marca, o teste não foi dos
mais empolgantes. Mas na loja... continua adiante.
Também já havia ouvido falar bem da marca Superlux, em fóruns diversos pela internet. Mas lá eu tive a
chance de ver e testar, e inclusive descobrir que a Superlux deve fornecer seus microfones para a
Samson em regime de OEM (coloca o nome da outra empresa).
Descobri o PRA-D (e o irmão gêmeo PRA-C, com chave On/Off). É exatamente o mesmo microfone que o
Samson Q7 (mesma cápsula, mesmo formato, praticamente as mesmas especificações*, mesmíssima
sonoridade), um microfone bem conceituado, com boa sonoridade. Mas o PRA-D é vendido por um preço
muito melhor que o Q7 (R$ 80,00 contra R$ 130,00).
* as especificações podem variar dependendo do aparelho em que foi testado e, é claro, dependendo da
vontade de "exagerar" do fabricante. Na dúvida, compare você mesmo:
http://www.samsontech.com/products/relatedDocs/Q7_ownman_v1s.pdf
http://www.superlux.com.tw/en/microphones/show_product.php?id=130
É necessário explicar que existem o PRA-D1, PRA-D3 e PRA-D5 (o mesmo para a série PRA-C), sendo o
número indicativo de quantos microfones vem na caixa, se 1, 3 ou uma maleta com 5. Mas é sempre o
mesmo microfone.
E ainda vi o Superlux SMK-H8K que é aparentemente idêntico ao Samson C02 (um ótimo microfone para
ser usado em corais entre outros usos) inclusive nas especificações. Só não tive como testar para
comparar nem saber o preço, pois o vi na Expomusic mas estava em falta na Torau. Mas compare:
http://www.samsontech.com/products/relatedDocs/C02_ownman_v1s.pdf
http://www.superlux.com.tw/en/microphones/show_product.php?id=50
(neste caso, as especificações são exatamente as mesmas, mas um diz que o mic é cardióide e outro diz
que o mic é supercardióide. Como o desenho do diagrama polar é o mesmo, tire suas próprias
conclusões, para mim ambos são cardióides).
Vi várias lojas vendendo o kit de 5 mics PRA-D da Superlux, mas eu queria comprar um único para levar
para casa, mostrar para o pessoal em comparação com o Q7 (quem já viu ficou impressionado: idênticos,
mas com preços bem diferentes). Indicaram então a Torau, do mesmo grupo do distribuidor da Superlux.
Realmente, lá eles me venderam um único microfone (na verdade, eles compram o kit mas o vendem de
1 em 1. Custou-me R$ 82,00, sendo o preço do kit com 5 peças é R$ 380,00 (sai a R$ 76,00 cada
unidade).
Estava eu na Torau testando o PRA-D5 em uma mesa Soundcraft e uma caixa da Nexo, quando olho
para o lado e vejo alguns microfones JTS. Ótima oportunidade para testar. Peguei o NX-8 (R$ 200,00)
para comparar e - uau! - minha voz ficou igual a do Cid Moreira!!! Naquele sistema, o NX-8 se mostrou
infinitamente superior ao Q7/PRA-D, não só na minha voz quanto na voz de um cantor gospel que estava
lá e fez o favor de cantar um pouco (comparação feita com a mesma regulagem, só mutei/desmutei o
canal na hora de trocar o microfone). O mic se mostrou tão melhor que fiz algo que não gosto: uma
dívida, e ainda bem que aceitaram cheques para 30/60 dias (segundo o vendedor, exceção especial para
ganhar o cliente). Ganharam.E eu nem olhei as especificações do microfone (coisa que sempre faço).
Gostei tanto que comprei.
Na minha igreja, com uma Behringer SL3242 e caixas da Yorkville (canadense, 1a. linha, mas a marca é
praticamente desconhecida, só vendeu em MG e ES), pedi para um cantor fazer o teste e o pessoal
gostou muito foi do reverb que eu coloquei na voz - mas eu não havia colocado nada, estava tudo flat. A
sonoridade da voz do cantor no NX-8 realmente parecia que tinha um pouco de reverb, e bem melhor que
no Superlux PRA-D, testado também.O NX-8 mostrou-se mais "encorpado", com graves melhores que o
PRA-D. E nesses testes comparamos esses microfones com os da própria igreja, um LeSon SM-58 Plus.
Coitado do mic da LeSon, é o que posso dizer. O responsável pelo louvor já perguntou como fazer para
comprar em São Paulo.Quero deixar aqui registrados como duas ótimas sugestões de microfones.
PROTEÇÃO ELÉTRICA DE EQUIPAMENTOS
Se aqui na minha cidade é difícil ver sistemas de proteção de energia para áudio, do tipo Furman ou
Zerotron, lá em São Paulo é extremamente comum. Tanto na feira quanto nas lojas, quem tinha
periféricos ligados na energia também tinha um "protetor" junto. Havia protetores "de grife" e
outros genéricos, mas sempre era fácil encontrá-los. Ou a energia de São Paulo é muito pior do que aqui
na minha cidade ou lá eles sabem trabalhar direito, e aqui não.
Vou voltar a escrever o que eu já falei antes (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=19):
protejam sua aparelhagem com pelo menos um estabilizador desses de computador. São baratos e
protegem realmente mesas e periféricos (não servem para amplificadores). Em caso de pique de energia,
é muito melhor queimar um estabilizador de R$ 30,00 que um periférico de R$ 300,00, não acham?
ALTO-FALANTES, CAIXAS ACÚSTICAS e LINE ARRAYS
Guardem o nome deste material: ímã de neodímio (Nd). Ainda está caro, mas daqui a alguns anos vamos
ver falantes pequenos e leves mas com altíssimas potências. Isso vai nos levar a um próximo patamar
nas caixas acústicas. Caixas pequenas e potentes, ou caixas grandes e leves. Chegamos a ver uma
caixa passiva com driver titânio e woofer de 15", com 400W RMS e apenas 15kg de peso!
Aliás, falantes de ímã de neodímio já são comuns em caixas do tipo line-array (que em geral são
caríssimas), permitindo assim a fabricação de caixas pequenas (algo em torno de 60cm x 20cm x 30cm)
mas com altíssima potência, acima de 1.000 Watts. Imagine ter nas suas mãos algo pequeno e tão
potente.
E falando dos Line-Arrays, eles estão compactos, leves, potentes, caríssimos e... sem projeto e cálculos,
não são nada. Estava eu dentro da Torau quando alguns artistas (falaram lá na hora os nomes, eu disse
que não conhecia e ficaram me olhando, com aquela cara de quem pensa de que planeta eu deveria ser,
mas realmente não os conheço) pararam para elogiar o sistema da Nexo, utilizado em um show na
Paraíba. Mas comentaram o seguinte "mas parece que ele tem pouco alcance. Até a uns 20 metros do
palco estava ótimo, mas depois o pessoal falou que ficou tudo embolado". Típico erro causado por quem
quer economizar, não entendendo o princípio de funcionamento dessas caixas. Quer descobrir onde foi o
erro? Consulte
http://www.musitec.com.br/revista_artigo.asp?revistaID=1&edicaoID=114&navID=1218
Acredito que os line-arrays ainda vão demorar a se tornar populares em instalações em igrejas,
principalmente pelo preço. Mas para shows, acho que não tem nada melhor. Prova disso é a enorme
quantidade de marcas/modelos existentes no mercado. Fabricante que ainda não tem, já está correndo
para montar o seu.
Saindo um pouco dos Lines-arrays e voltando para as caixas de P.A. dessas que estamos acostumados,
na feira só vi uma única caixa com o tradicional conjunto woofer + driver fenólico + supertweeter (3 vias),
e ainda assim só a linha mais barata de um único fabricante. Mesmo nas lojas, elas são em minoria, todo
mundo dá preferência para caixas com woofer + driver titânio (2 vias). A sonoridade melhor compensa e
muito, e comprar hoje caixas de 3 vias é algo a ser evitado.
Interessante como muitas lojas vendem caixas de fabricação própria. A maioria com falantes Oversound,
cuja fábrica fica nas redondezas e isso diminui custos. Mas as caixas também têm drivers titânio e
divisores de frequência (a maioria da Nenis). Muitas caixas eram cópias de projetos de outros fabricantes.
AMPLIFICADORES
A StudioR já havia lançado uma linha de amplificadores com sistema completo de proteções e preço
acessível (a série Z500, Z700 e Z900), e agora é a vez da HotSound fazer o mesmo, com amplificadores
de 300W a 1200W. Se os outros fabricantes não abrirem o olho para a importância de proteções para
amplificadores, daqui a algum tempo só teremos estas marcas no mercado.
Acredito que só por total desconhecimento que alguém ainda compra um amplificador cujas proteções
são mínimas, sendo que na mesma faixa de preços há modelos que têm proteções completas (DC, Temp,
AutoRamp, Limitadores, etc).
MESAS DE SOM
Primeira constatação: mesa de som nova tem que ter efeito interno. Não precisa ser grandes coisas, mas
tem que ter. Behringer, Phonic, Alto, Roxy, Mackie, Yamaha, Peavey, SKP, todas as importadas tem
mesas assim. Nacionais? Só o modelo Wing da Staner. A pergunta mais ouvida sobre a nova linha IMIX
da Staner era: "cadê o efeito"?
Segunda constatação: até 32 canais, a oferta de analógicas supera em muito as digitais. Praticamente
todos os fabricantes estrangeiros (e o nacionais, claro) têm mesas até 32 canais. Isso porque até essa
faixa, as analógicas tem melhor custo/benefício que as digitais. Acima disso, a coisa muda de figura.
O que acontece acima dos 32 canais? Acontece uma mudança de paradigma: mesas digitais acabam
tendo melhor custo/benefício que as analógicas. Na verdade, quanto menos canais tivermos, a balança
penderá para as analógicas. Quanto mais canais tivermos, a balança penderá para as digitais.
Vejam só: a analógica de 32 canais mais cara (Peavey, R$ 5.500,00) custa mais barato que a 01V96V2,
de apenas 16 canais originais (expansíveis a 32), com custo de R$ 8.000,00, R$ 10.000,00 com as
expansões. Mas para quem precisa de 40 ou 48 canais, por exemplo, só vai encontrar Vega da Ciclotron,
Pallas da Staner ou as Cyclone da Alto, todas por preços acima de R$ 15.000,00, isso falando das mais
baratas (há Soundcraft e Midas, mas os preços...). Nessa faixa de preço, uma Yamaha digital DM1000
custando R$ 18.000,00 já começa a ser interessante (uma DM1000 completa com 48 canais sai por R$
22.000,00).
Estive conversando com um peazeiro de uma empresa de locação daqui da minha cidade. Ele só falou o
seguinte sobre digitais: "hoje, os input list dos artistas tem muitos periféricos, compressores,
equalizadores. Se você não tiver digital, que tem isso tudo na própria mesa, vai ter que comprar um
monte de periférico, e isso vai acabar saindo mais caro". E olha que ele está saindo de uma M7CL de 48
canais (expansível a 96) para uma PM5D com até 144 canais e uma quantidade maior ainda de
periféricos inclusos na própria mesa, exatamente para atender a esse tipo de situação.
Resultado disso: muitas analógicas usadas para vender e outras "encalhadas" nas lojas. Tanto na Torau
quanto na Playtech, o cenário é: as digitais em destaque e as analógicas "abertas à negociação"
(eufemismo para dizer: se você comprar uma analógica, estará fazendo um favor para o lojista). Na
Torau, vi mesas analógicas Soundcraft literalmente jogadas em um canto, com mais de dedo de poeira
em cima. E isso em se tratando de Soundcraft!
E tanto o gerente da Torau quanto o da Playtech foram enfáticos nesta afirmação: qualquer peazeiro que
trabalha com artistas (shows) só trabalha com digitais. Quem tem analógica está vendendo. Analógica só
quem compra são as igrejas!!
Igrejas? Segundo eles, as analógicas (mesmo as grandes) são as preferidas das igrejas. Mesmo com as
digitais tendo melhor relação custo/benéfico, ainda são mais caras que as analógicas (pouco mais caras,
mas os benefícios são muito superiores, compensando), o pessoal de igrejas quer sempre gastar o
mínimo possível. Daí, comprar uma Pallas ou uma Vega acaba saindo mais vantajoso financeiramente.
E finalmente eles acrescentaram: "sem contar que "qualquer um" mexe em analógica, na digital não. Não
precisa pagar treinamento para ninguém". Dois gerentes, das duas das maiores lojas da Rua Santa
Ifigênia, duas ocasiões distintas (dois dias diferentes), e a mesma opinião!
DIGITAL SNAKE
Mais um bom motivo para investir em digitais: não precisamos mais de multicabos e medusas. Alguém
teve a maravilhosa idéia de "mover" os conectores das entradas das mesas de som (e os seus prés e
conversores A/D - de analógico para digital) para uma caixa fora da mesa de som, interligando a caixa à
mesa via um cabo de rede de computador - CAT 5, encontrado facilmente em qualquer loja, e com custo
de R$ 1,00/metro.
Idéia maravilhosa. Simplesmente aposentaram o multicabo! A Roland tem (o nome Digital Snake é
propriedade da Roland, mas é o melhor nome possível para a tecnologia), Allen & Heath, Soundcraft,
Mackie vai ter (em Janeiro/2008) e Yamaha tem por padrão na PM5D e opcional nas outras. O Digital
Snake proporciona agilidade, permite colocar a mesa de som a até 100m de distância e é muito mais leve
carregar que um pesado multicabo. Maravilha!
CHINESES
Não encontrei produtos chineses de marcas desconheciada em apenas dois segmentos: amplificadores e
falantes. Na feira até que havia alguns poucos exemplos de produtos chineses nesses segmentos, mas
nas lojas nada, absolutamente nada.
No meu entender, há dois motivos para isso. O primeiro é o peso, que encarece o frete (sempre calculado
por peso) e tira a vantagem econômica da mão de obra barata chinesa. O segundo é a qualidade do
produto nacional, que é boa. Temos exportado Snake, Selenium, Eros (falantes), Staner (falantes e
amplificadores) e StudioR e Hotsound (amplificadores), isso entre as empresas que sei que estão
exportando. Tais produtos tem tido boa aceitação em mercados como EUA e Europa, onde a
concorrência é muito maior, ou seja, é uma prova do que o produto Made in Brazil já atingiu um bom nível
de qualidade e maturidade!
DÓLAR BAIXO X ESTOQUE VELHO
Pesquise os preços antes de comprar, as diferenças estão grandes, às vezes é até possível levar
modelos mais novos por preços melhores que os dos modelos velhos. Tudo isso tem razão no dólar. Por
que? Porque comerciante não quer levar prejuízo, nunca.
A idéia é simples: se o lojista comprou o equipamento na época do dólar alto (alto custo de aquisição), vai
querer vender por um preço também alto. Mas com o dólar caindo cada vez mais e mais, a tendência é
que, à medida que os estoques forem sendo renovados, os preços também caiam.
Enquanto o lojista tiver produtos comprados na época do dólar alto, mesmo que a reposição seja feita em
dólar mais baixo, ele não vai abaixar o preço! Em geral, as margens de lucro representam uma
porcentagem fixa em cima do preço de custo. 30%, por exemplo. Se um lojista comprou 10
equipamentos de US$ 100,00 com o dólar a R$ 2,00, vai vender por R$ 200,00 (custo) + 30% (lucro) = R$
260,00. Se o lojista for repor o estoque quando ainda tiver 3 produtos, mesmo que o dólar tenha caído
para R$ 1,80, ele não vai repassar o desconto para o consumidor, pois não vai ficar com o mesmo
produto com dois preços. E sempre prevalecerá o preço mais alto.
Vejam que coisa interessante eu encontrei. Em uma loja em SP (loja A), encontrei mesas Behringer da
série UB (mais antiga) e da série Xenix, mais nova. As mesas são bem parecidas entre si quanto a
recursos, pois a maioria das mudanças é interna. As Xenix estavam em média R$ 100,00 a R$ 150,00
mais caras que as UB. Já na loja B, que também vende mesas Behringer, não havia mais nenhuma UB
para vender, e as Xenix estavam até um pouco mais baratas que as UB da loja A. Como a loja B já havia
se livrado de todo o estoque velho, pôde repassar a queda do dólar para o consumidor.
Quem tem estoque mais novo vende mais barato! Mas como não dá para saber quem tem ou não
estoque novo, só pesquisando muito os preços mesmo.
CLONAGEM DE EQUIPAMENTOS
Nas aulas de ciências de 5ª série do ensino fundamental (na minha época, chamado de Ginásio), aprendi
a seguinte frase: "Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma", do cientista francês
Lavosier. Com o advento da Internet, a expressão do cientista logo virou piadinha para trabalhos
escolares: "Na Internet, nada se perde, nada se cria, tudo se copia".
Pois eu descobri que no áudio se usa essa máxima também, em menor ou maior grau. A Behringer
parece fazer isso, copiando bons projetos de outras empresas*, mas pelo menos a "cara" do produto é
diferente.
*A Behringer parece copiar mesas de som da americana Mackie. As mesas Eurodesk SL são baseadas
na Mackie CFX e a série Xenix usam cópias dos prés XDR da empresa. Dizem que isso começou após
terem "roubado" um dos engenheiros da Mackie em 2003. E copia amplificadores da também americana
QSC.
Mas a questão ficou absurda no caso da novata Roxy ("filhote" da Phonic): os equipamentos
são completamente idênticos em aparência aos Behringer equivalentes, parecem que saíram da mesma
fábrica. Até os nomes foram copiados (Behringer Xenix, Roxy Renix). No mínimo, tal atitude foi "feia" por
parte da Phonic: em vez de melhorarem seus próprios produtos para competir com a Behringer, criaram
uma outra marca para fazer isso.
Mas resta saber se a cópia foi feita apenas externamente ou internamente também. Será que usaram os
mesmos componentes que a Behringer? Não que a Behringer seja um produto de primeira linha (ainda
estão longe), mas os anos de mercado contam, e muito, já que isso traz experiência dos problemas que
acontecem (exemplo prático: as primeiras mesas Behringer tinham muito problema de fonte insuficiente.
Hoje melhorou. Os amplificadores não traziam a especificação de norma de medição de potência até
2005, hoje já trazem).
E a Roxy? Será que copiou o projeto novo ou o antigo da Behringer? Mesmo custando até 10% mais
barato, eu acho que não pago para ver...
E o caso da Samson/Superlux, citado acima, é a mesma coisa? Acredito que não. Aí é caso de produto
OEM. A Samson vai até a Superlux e encomenda 10.000 produtos, mas pede para colocar a sua marca.
É muito comum em caso de fabricantes que desejam ter uma certa linha de produtos, mas em vez de
gastar com projeto e engenharia, simplesmente compra de outro e os vende com sua marca.
CLONAGEM DE CÁPSULAS DE MICROFONES
Há um tempo atrás, coloquei no SomAoVivo que o Shure SM-58, o TSI TA-58 e o CSR-48/CSR-58 (48
com chave On/Off, 58 sem chave) utilizam aparentemente a mesma cápsula
(http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=26).
Tive o cuidado de colocar o "aparentemente" porque as semelhanças são externas, não tenho como
verificar as semelhanças internas. Mas os preços não tem nada de semelhantes: R$ 250,00 o kit com 5
CSR, R% 260,00 por um único TSI e R$ 350,00 por um único SM-58 Shure.
Fui para a feira e descobri então que vários fabricantes têm um microfone com cápsula semelhante ao
Shure SM-58, a saber:
- TSI TA-58
- CSR 48 e CSR-58 (vendidos em conjuntos de 5, ou as variações HT-48 e HT58 (vendidos
unitariamente)
- JTS PDSM-3
- Staner ST-78
- Santo Angelo SAS-58
- Multivoice K-58
Descobri que existem cópias cujo preço variam de R$ 50,00 a até R$ 260,00, do mesmo microfone (que,
na versão "original", custa R$ 350,00).
Acredito que essas "clonagens" sejam feitas por engenharia reversa. A idéia é simples: o fabricante
compra alguns modelos do original, desmonta completamente e começa a fazer cópias do produto.
Externamente os produtos serão idênticos, mas internamente... podem variar muito.
Veja o caso do Shure SM-58. Não sei ao certo, mas acredito que sua cápsula use ímã de neodímio* e a
bobina use fio de seção retangular. Só que ambas as tecnologias são caras, e isso se reflete no custo do
microfone.
* nenhuma informação sobre material da cápsula consta nas informações sobre o Shure SM-58 no site do
fabricante, mas sobre o Beta-58 eles falam que é mesmo de neodímio.
Pergunto então: qual desses microfones "clonados" será a melhor cópia da cápsula do SM-58? Será que
o TSI TA-58, por ter preço próximo ao da Shure, será praticamente o mesmo microfone? Ou o JTS, que já
foi elogiado até pelo Pedruzzi, mas que custa metade do preço do original? Vou além nas minhas
perguntas: quem me garante que o Staner ST-78, de R$ 100,00, não use a mesmíssima cápsula do CSR
de R$ 50,00? Será que estão cobrando "marca"?
São perguntas difíceis de serem respondidas. Só com muito, muito teste para responder. E na dúvida,
fique com o original.
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O mercado de áudio