ISSN 1984-9354 IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO (ERP): MELHORIAS NO SETOR DA QUALIDADE DE UMA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Michelle Magalhães de Mello (LATEC / UFF) Resumo: Nos últimos anos houve uma expansão do segmento farmacêutico no Brasil, e com isso, as indústrias foram impulsionadas a buscar vantagem competitiva frente ao mercado, porém sem perder o foco na qualidade e segurança de seus produtos. É cada vez maior o uso dos Sistemas Integrados de Gestão Empresarial ou ERP (Enterprise Resource Planning) nas empresas, como forma de inovação tecnológica. Estes sistemas vêm sendo apontados como importante ferramenta de gerenciamento da informação. O setor de Garantia e Controle da Qualidade é essencial para as indústrias farmacêuticas, e está diretamente ligado ao cumprimento das boas práticas de fabricação (BPF). O presente artigo é um estudo de casos, que tem por objetivo descrever de que forma o processo de implementação de um Sistema ERP possibilitou a reestruturação e contribuiu para melhorias significativas no setor de Garantia e Controle da Qualidade em uma indústria farmacêutica de grande porte, localizada na cidade do Rio de Janeiro. Palavras-chaves: : Sistema integrado de gestão (ERP), implementação, indústria farmacêutica, qualidade. X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 1. INTRODUÇÃO O setor farmacêutico brasileiro apresentou um crescimento acentuado nos últimos dez anos, apesar do momento de crise econômica mundial. O aumento da empregabilidade e as melhores condições socioeconômicas dos brasileiros são as principais causas deste fenômeno. Desta forma, não apenas aumentou o consumo de medicamentos no Brasil, como também a exigência dos consumidores por produtos de qualidade, seguros e que atendam às suas necessidades. O elevado nível de competição, tanto em caráter local como global, tem levado as indústrias farmacêuticas a investir em novas tecnologias e repensar sua estratégia empresarial a fim de obterem vantagem competitiva, para alcançar posição de destaque no mercado, frente aos concorrentes. Para tanto, buscam incorporar novas ferramentas que auxiliem a gestão de seus negócios, com o desafio de obter informações integradas, com qualidade e confiabilidade que possibilitem a tomada de decisão. Em uma época de avanço científico e tecnológico acelerado, as ferramentas de organização e controle empresarial estão em crescente valorização. É cada vez maior o uso dos sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), ou Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, sendo fator efetivo de controle gerencial nas empresas. Esses sistemas surgiram com a promessa de solucionar problemas ao incorporar funcionalidades que suportam as atividades dos diversos processos de negócio das empresas. O setor de Garantia e Controle da Qualidade é essencial para as indústrias farmacêuticas, pois está diretamente ligado ao cumprimento das boas práticas de fabricação (BPF). Os conceitos de garantia da qualidade, controle da qualidade e BPF estão inter-relacionados e contemplados no gerenciamento da qualidade. É chamada de "garantia da qualidade" a totalidade das ações sistemáticas necessárias para assegurar, com confiança adequada, que um produto ou serviço cumpre com os requisitos de qualidade exigidos. (RDC17, Ministério da Saúde, 2010). 2 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 2. OBJETIVO O objetivo principal deste artigo é descrever de que forma o processo de implementação de um Sistema Integrado de Gestão Empresarial ou ERP (Enterprise Resource Planning), possibilitou a reestruturação e contribuiu para melhorias significativas no setor de Garantia e Controle da Qualidade em uma indústria farmacêutica de grande porte, sediada na cidade do Rio de Janeiro. 3. METODOLOGIA A metodologia aplicada no presente artigo é do tipo descritiva e exploratória de natureza qualitativa. A pesquisa foi realizada através do método de estudo de caso único, e para tal, foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados: * Entrevista aos colaboradores envolvidos direta ou indiretamente com o fenômeno estudado. * Pesquisa documental, através da qual o material coletado foi analisado e utilizado para corroborar evidências de outras fontes e/ou acrescentar informações. * Observação direta Um estudo de caso pode ser definido como “uma investigação empírica de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites e o contexto não estão claramente definidos”. (Yin, 2005) 4. ESTUDO DE CASO 4.1. A Indústria A empresa utilizada como base de dados para o presente estudo de casos classifica-se como uma indústria farmacêutica de grande porte, presente no mercado há mais de 70 anos. Seu portfólio conta com mais de 40 medicamentos de marca, que atuam em diversos segmentos terapêuticos, cuidando da saúde desde a infância até a maturidade. A planta produtiva está localizada na cidade do Rio de Janeiro e ocupa uma área de 26.000 m 2. Atuante na produção e comercialização de medicamentos éticos, a indústria conta com linhas de sólidos, sólidos hormonais, líquidos, xaropes, injetáveis, produtos para saúde e cosméticos. empresa investe na melhoria contínua dos processos e na atualização da sua linha de produtos. 3 A X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 4.2. Caracterização de Sistema Integrado de Gestão (ERP) Os Sistemas Integrados de Gestão Empresariais, também denominados ERP (Enterprise Resource Planning) tiveram um grande crescimento a partir de 1990. Desde 1996, as empresas brasileiras vêm buscando cada vez mais o uso dessa ferramenta de gestão. Atualmente, a maioria das empresas nacionais e multinacionais já implementaram ou estão implementando sistemas ERP. Estes sistemas evoluíram gradualmente a partir do MRP (Material Resource Planning), com o objetivo de promover a integração entre os processos empresariais e as diversas áreas da empresa, a fim de otimizar as operações do dia-a-dia e auxiliar na tomada de decisão. Além disso, outro ponto crítico para as empresas é a disponibilidade de informações confiáveis e acessíveis para todos os níveis organizacionais que assim necessitem. Os sistemas ERP propõem resolver este problema, uma vez que, segundo Stamford (2000), possibilitam um fluxo de informações único, contínuo e consistente por toda a empresa sob uma única base de dados. Figura 1: Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (ERP). Fonte: http://www.palsoft.in/ERPSolution.html Dentre os conceitos de ERP encontrados na literatura, destaca-se, no contexto deste estudo de casos, o de Souza (2000), que diz que os sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) podem ser definidos 4 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 como sistemas de informação integrados, adquiridos na forma de pacote comercial, com a finalidade de dar suporte à maioria dos processos de uma empresa. São geralmente divididos em módulos que se comunicam e atualizam a mesma base de dados central, de forma que informações alimentadas em um módulo são instantaneamente disponibilizadas para os demais módulos que dela dependam. 4.3. Ciclo de vida de sistemas ERP O modelo de ciclo de vida de sistemas ERP foi apresentado por Souza e Zwicker (2000) e consiste nas etapas de Decisão e seleção; Implementação e Utilização. (Fig. 2) Figura 2: Ciclo de vida de sistemas ERP Fonte: Souza e Zwicker (2000, p. 50) A acessibilidade das informações e a necessidade de integrar os dados da empresa podem ser considerados os fatores críticos na decisão de adquirir um ERP. Segundo Muscatello et al (2003), Sistemas de Planejamento de Recursos Empresariais (ERP) são concebidos para resolver o problema de fragmentação da informação ou de ‘ilhas de informação’ nas empresas. Os sistemas prometem informatizar toda a organização com um conjunto de módulos cobrindo todas as atividades da organização. Além disso, o ERP tem sido promovido como um elo desejado e crítico para alcançar a integração entre os departamentos de uma companhia, bem como entre a empresa e seus parceiros. 5 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 O processo de implementação de sistemas ERP obriga as empresas a repensar sua estrutura e redesenhar seus processos. De acordo com Mendes e Escrivão Filho (2000) não deve ser encarado como um projeto de implantação de sistema de informação, mas como um projeto de mudança organizacional. Na fase inicial de planejamento do projeto de implementação de um sistema ERP, são definidos o software que será usado e a consultoria que atenderá as necessidades de negócio da empresa. Também são definidos o escopo do projeto com os processos empresariais que serão inseridos no ERP e, consequentemente, os módulos que serão implantados, a estratégia de implantação, e por fim o cronograma com a data da entrada em produção (Hypólito e Pamplona, 1999). A equipe de colaboradores que ficará responsável pelo projeto é extremamente importante para o sucesso da implantação do ERP e deve contar com funcionários que conheçam a fundo todas as operações envolvidas. Depois disso, são realizados os testes com o sistema e também a migração dos dados já existentes na empresa. Então, os usuários finais são treinados e o sistema entra em produção, fase chamada de “go live”. Entende-se como utilização, o momento em que as operações e processos realizados no dia-a-dia da empresa passam a ser realizados através do sistema ERP. O uso freqüente da nova tecnologia mantém o sistema em evolução contínua, a fim de refletir os processos que estão em constante modificação na empresa. Portanto, a etapa de utilização realimenta a etapa de implementação com novas idéias e necessidades que surjam com o uso continuado do sistema. 4.4. Implementação do ERP na Indústria farmacêutica Na indústria farmacêutica objeto do estudo, o projeto de implantação do sistema ERP teve início no ano de 2011 e foi dividido em 4 fases. Inicialmente, foi escolhido o sistema que seria implementado e a empresa de consultoria vinculada ao mesmo, que seria a responsável por conduzir o projeto. Também foram definidos os módulos a serem implantados, e então foram selecionados os usuárioschave, que são os colaboradores diretamente ligados as áreas específicas e que foram os encarregados pelo desenho do projeto e avaliação das oportunidades de melhorias em cada um dos módulos. Foram mapeados mais de 100 processos e realizadas quase 400 reuniões. Aproximadamente 30 colaboradores ficaram totalmente focados neste trabalho e mais de 50 consultores agregaram conhecimento ao projeto. 6 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 A equipe realizou mais de 130 horas de testes integrados para os principais processos da empresa, a fim de atestar que as funcionalidades do sistema seriam capazes de desempenhar com exatidão as mais variadas operações, tanto individualmente como inseridas em um processo integrado. Todos os dados que deveriam migrar para o novo sistema foram compilados e carregados para a fase de produção. A implementação do ERP aconteceu em 2012 e contou com o treinamento de quase 400 colaboradores em cerca de 60 cursos. Houve uma fase inicial de adaptação até o alinhamento de todos os funcionários com as novas práticas. Quando o sistema começou a ser utilizado no dia-a-dia organizacional, tornou-se possível verificar os acertos e as falhas do projeto e os impactos positivos e negativos. Foram necessárias algumas modificações e melhorias no sistema para adequar processos em constante evolução. Os principais fatores apontados como benefícios para a empresa com a implantação do ERP são: o sinergismo entre as áreas, possibilitando o entendimento da rotina dos setores e facilitando a cooperação mútua; o compartilhamento de informações mais seguras e ágeis; a padronização de linguagem, processos e conceitos; e a assertividade na tomada de decisão. Além disso, foi uma inovação tecnológica adquirida pela indústria que possibilitou sua evolução. Alguns fatores primordiais para que o projeto de implementação do ERP na indústria fosse realizado de forma satisfatória, foram: o forte apoio e envolvimento das diretorias, o comprometimento das equipes de trabalho com foco em resultados e a receptividade dos usuários finais, os quais encararam o novo sistema como um desafio para o crescimento profissional. 4.5. Módulo de Gerenciamento da qualidade (QM) Gestão da qualidade pode ser caracterizada como as diversas atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização no sentido de possibilitar a melhoria de produtos/serviços, com o objetivo de garantir a completa satisfação das necessidades dos clientes, ou ainda, a superação de suas expectativas. Os conceitos de garantia da qualidade, controle de qualidade e boas práticas de fabricação (BPF) estão inter-relacionados e contemplados no gerenciamento da qualidade. De acordo com a RDC 17/ 2010 do Ministério da Saúde, a "Garantia da qualidade" é um conceito muito amplo e deve cobrir todos os aspectos que influenciam individual ou coletivamente a qualidade de um produto. Abrange a totalidade das providências adotadas com o objetivo de garantir que os medicamentos estejam dentro 7 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 dos padrões de qualidade exigidos, para que possam ser utilizados para os fins propostos. O sistema de garantia da qualidade, apropriado à fabricação de medicamentos, deve assegurar que sejam realizados todos os controles necessários nas matérias-primas, produtos intermediários e produtos a granel. O setor de Controle e Garantia da qualidade é responsável por um conjunto de operações (programação, coordenação e execução) com o objetivo de verificar e assegurar que os produtos estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos, sempre através de algum tipo de análise ou medição. Através disso, as principais vantagens alcançadas são a otimização de processos, redução de tempo gasto e desperdícios de recursos, padronização de procedimentos, aumento do grau de segurança dos insumos utilizados e dos produtos finais. O módulo de Administração da Qualidade, também chamado de Quality Management (QM) é baseado nas definições da norma ISO 9000. Com as funções deste módulo é possível aplicar os elementos mais importantes de um sistema da qualidade, isto é, atividades associadas ao planejamento, controle e acompanhamento da qualidade. O módulo de Gerenciamento da qualidade (QM) foi implantado na indústria com o objetivo de viabilizar e facilitar as operações comuns ao setor, como por exemplo: Controle do registro de análise; Liberação de materiais para utilização; Emissão de certificado de análise; Identificação e rastreabilidade de produtos; Gestão de documentos; Controle de auditorias internas; Acompanhamento de ações corretivas e preventivas. 5. RESULTADOS A implementação do sistema ERP no setor de garantia e controle da qualidade da indústria farmacêutica em questão, possibilitou uma série de melhorias para os processos realizados no dia-adia deste setor, as quais serão descritas nos próximos parágrafos. Além disso, este sistema de gestão permitiu ainda, a integração entre a área da qualidade e as demais áreas que estão interligadas a mesma, e tornou as informações mais acessíveis entre os setores da companhia. 8 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 5.1. Reestruturação do processo de análise e liberação de materiais A implementação do módulo QM no setor de Controle da Qualidade (CQ) da indústria farmacêutica, trouxe melhorias que vão desde a rastreabilidade e confiabilidade dos dados gerados a partir das análises realizadas, até a agilidade da informação. Também foi de suma importância para a reestruturação do processo como um todo. O controle de qualidade passou por uma intensa modificação estrutural. Ainda no início do projeto, foram mapeadas todas as operações envolvidas no processo de análise e liberação de materiais pelo setor. A partir disso, foram identificadas as oportunidades de melhorias e então todo o processo foi redesenhado e melhorado a fim de que fossem incorporados os parâmetros de controle aplicáveis pelo sistema, os quais foram adaptados para as necessidades do setor. 5.1.1. Mapeamento do processo Figura 3: Cadeia Cliente/ Fornecedor Analisando-se a Cadeia Cliente/Fornecedor do processo 1, temos o setor de produção desempenhando tanto o papel de cliente (fabricação), quanto o papel de fornecedor (embalagem). Em relação às entradas, temos as amostras que são entregues pela produção ao CQ para serem analisadas juntamente com o pedido de análise. O dono do processo é o setor de análise e liberação de produtos. Como saídas temos os resultados de análise e a aprovação ou reprovação do lote. 9 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Por outro lado, no caso de insumos, como matérias-primas ou materiais de embalagem (processos 2 e 3), temos que o setor de recebimento da indústria é o fornecedor, e a fabricação e embalagem respectivamente são os clientes finais. No caso do processo de análise e liberação de produtos acabados (4), o cliente final é a expedição para posterior venda do produto ao mercado. Quando o setor produtivo fabrica um novo lote, uma amostra desse material é separada para ser enviada ao CQ juntamente com o pedido de análise. O analista do CQ avalia esta amostra realizando todos os testes necessários, faz o laudo de análise e passa os resultados para o líder do setor que é o responsável por aprovar o lote para posterior envase/ encartuchamento pelo setor de embalagem. Da mesma forma, quando existe uma nova entrada de material no setor de recebimento/ almoxarifado, em um primeiro momento, este material fica em quarentena aguardando a sua liberação. É retirada então, uma amostra e entregue ao CQ que analisa e libera este material para que possa ser utilizado pela produção (fabricação ou embalagem) ou disponibilizado para venda de produtos ao mercado. Todo material recebe um número de lote logístico que é dado no momento do recebimento ou da produção do material. 5.1.2. Melhorias após a implementação do ERP Com a implantação do novo sistema, todo material que necessita de qualquer análise do controle de qualidade, também passou a receber automaticamente um número de lote de controle, o qual tem registradas todas as informações relacionadas às análises daquele material. Para isso, passaram a ser cadastradas no sistema todas as operações que o material deve sofrer, ou seja, todos os variados tipos de análise, bem como os testes específicos para cada material, que vão atestar que este encontra-se de acordo com as normas da qualidade anteriormente especificadas, respeitando suas características individuais e a legislação vigente para cada tipo de material. Também foi implantado um sistema para leitura de código de barras. Este programa está interligado ao ERP e utiliza a mesma base de dados para captar as informações relacionadas à identificação e amostragem dos diferentes tipos de materiais. Desta forma, o processo de amostragem se tornou mais eficiente e rápido, uma vez que, informações como, tamanho de amostra e tipo de amostragem a ser realizada, passaram a ser disponibilizadas automaticamente, vindas do sistema ERP. Com o sistema de código de barras minimizou-se os possíveis erros relacionados à identificação e localização de materiais no estoque. 10 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Após a análise do material, os resultados encontrados passaram a ser lançados diretamente no sistema pelo analista, e também todos os relatórios gerados durante a análise passaram a ser anexados ao respectivo lote de controle. Desta forma, tornou-se possível obter um relatório de análise com todas as especificações e resultados dos diversos materiais/ produtos de acordo com o lote de controle desejado. Antes da implementação do ERP, todos os resultados gerados pelas análises realizadas eram registrados manualmente em relatórios específicos, esses relatórios eram impressos e arquivados. Com isso perdia-se muito tempo com o preenchimento de laudos em papel e arquivamento de pastas. Além disso, quando era preciso buscar informações a respeito dos insumos e dos produtos, perdia-se muito tempo com a procura em arquivos. O lote de controle passou a fornecer rastreabilidade ao registro das análises, portanto, houve a mitigação do tempo com o preenchimento de laudos em papel e eliminaram-se também os problemas com relatórios danificados ou não encontrados, uma vez que lançados os resultados no ERP, os laudos passaram a ser automaticamente gerados por este sistema. Com a entrada de resultados no sistema, muda o status do material, indicando para o líder do setor que este deve ser avaliado. O líder, responsável por aprovar ou reprovar o lote, passou a visualizar instantaneamente todos os resultados de análise para um determinado lote, facilitando assim a avaliação dos materiais. Com o ERP, tornou-se possível, também neste mesmo momento, realizar a movimentação de mercadorias no estoque através de diferentes depósitos, indicando que o lote poderá ser utilizado para a produção, liberado para venda ou encaminhado para descarte. Além disso, pode ser indicada pelo líder uma quantidade para retenção do material para uma necessidade de análise futura, como consta na RDC 17/2010 do Ministério da Saúde. Nos casos em que existe algum desvio de qualidade do material, seja matéria-prima ou material de embalagem, o lote é reprovado e deve ser devolvido para o fornecedor/ fabricante. Para tanto, é necessário que seja feito um memorando de rejeição, o qual acompanha o lote reprovado. Este relatório era feito manualmente, porém com o ERP ele passou a ser automaticamente gerado assim que é determinada a rejeição de um material. Por fim, o processo de liberação do lote do material analisado passou a gerar uma mudança de status no sistema. Essa informação pode ser instantaneamente visualizada pelos setores que dela necessitam para prosseguir com suas atividades. Essa disponibilidade de informação, em tempo real, foi um ganho de tempo e redução de trabalho para os principais setores que se interligam e dependem das atividades realizadas pelo CQ, como por exemplo, o PCP, produção, almoxarifado, etc. Esses setores, anteriormente, acompanhavam a liberação de materiais via portal da empresa, através de planilhas específicas, e muitas vezes tinham que recorrer ao telefone para obter informações atualizadas. Desta 11 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 forma, essa nova estrutura do processo aproximou as áreas afins, possibilitando a cooperação mútua entre elas. Figura 4: Novo fluxo do processo 5.2. Melhorias no acesso e confiabilidade de documentações A implantação do módulo QM, também possibilitou a emissão automática de Certificados de análise. Este certificado é o documento emitido ao cliente que informa os resultados das análises de um determinado lote de um produto vendido. Antes do novo sistema, este certificado era emitido manualmente e as informações tinham que ser levantadas através do arquivo de ordens de produção. Este processo era trabalhoso e demorado. Com o ERP o certificado de análise passou a ser emitido via sistema, o qual busca informações automaticamente através do número do lote de controle, tornando mais rápido e fácil o processo de identificação e rastreabilidade dos mais variados produtos. Para isso, é necessário realizar a associação do material acabado com o semi-acabado para que no 12 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 certificado de análise constem as informações de ambos. Também foram incluídas automaticamente no certificado de análise, as informações do responsável técnico, tais como: Nome, Cargo e CRF. A implementação do novo sistema também propiciou melhorias no processo de gestão de documentos. A garantia da qualidade (GQ) é o setor responsável pela gestão da documentação de todas as áreas da empresa, que podem ser monografias de análise, ordens de produção, instrução de processos, listas técnicas, procedimentos operacional padrão (POP’s), etc. Anteriormente os documentos eram controlados manualmente com auxílio de planilhas e a consulta dos mesmos era realizada através do portal da empresa. Com o ERP todos os documentos passaram a ser disponibilizados e controlados pelo sistema, possibilitando visualização rápida e fácil por todos os setores da empresa Existem documentos que possuem controle de status, como por exemplo, os POP’s e as monografias de análise. Esses documentos passam por um fluxo de aprovação que era manual, ou seja, os documentos eram impressos e passados para assinatura de todos os aprovadores. O ERP possibilitou a assinatura eletrônica e o controle via workflow, através do qual o aprovador recebe uma notificação indicativa de uma pendência em analisar um documento, quando este for aprovado passa para o próximo aprovador e ao final do fluxo de aprovações, a GQ libera a documentação. Após liberação, o documento fica disponível no sistema para uso dos colaboradores. Além disso, tornou-se possível planejar, acompanhar e avaliar os dados de auditorias internas e de fornecedores, diretamente no sistema. Auditoria é uma investigação sistemática usada para determinar se um objeto atende ou não a requerimentos previamente especificados. Através do ERP foi possível realizar o checklist e o plano de auditorias diretamente no sistema, além de gerenciar as observações encontradas nas auditorias, bem como as não conformidades identificadas. O novo sistema permitiu ainda o acompanhamento de ações corretivas e preventivas e a criação dos relatórios de auditoria diretamente no ERP. Desta forma, as informações tornaram-se de fácil acesso, atualizadas em tempo real e principalmente precisas e confiáveis, trazendo maior rapidez para as operações de rotina do setor e corroborando para a eficiência das ações de gerenciamento da qualidade na industria farmacêutica estudada. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme citado por Souza (2000), os sistemas integrados de gestão ou ERP (Enterprise Resource Planning) são sistemas de informação que possuem a finalidade de dar suporte a maioria dos 13 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 processos de uma empresa. Estes sistemas promovem a interação entre as mais variadas áreas, à medida que atualizam a mesma base de dados central, de forma que informações alimentadas em um módulo são instantaneamente disponibilizadas para os demais módulos que delas dependam. Com a implementação de um sistema ERP, a indústria farmacêutica estudada obteve benefícios como: o sinergismo entre as áreas, o compartilhamento de informações mais seguras e ágeis, a padronização de processos e a assertividade na tomada de decisão, além do avanço tecnológico. O sucesso para a implantação deste sistema foi conseguido graças a grande mobilização que ocorreu em todos os níveis da indústria, através da qual todos os colaboradores estavam engajados no projeto, mesmo que indiretamente. Os conceitos de garantia da qualidade, controle de qualidade e boas práticas de fabricação (BPF) estão inter-relacionados e contemplados no gerenciamento da qualidade, segundo a RDC 17/ 2010 do Ministério da Saúde. O setor de Garantia e Controle da qualidade abrange a totalidade de medidas adotadas com o objetivo de assegurar que os medicamentos estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos, para que possam ser utilizados para os fins propostos. Com a implantação do módulo de Gerenciamento da Qualidade (QM) foi possível aplicar atividades associadas ao planejamento, controle e acompanhamento da qualidade. Este setor foi muito beneficiado com a implementação deste módulo do sistema ERP, uma vez que tornou-se possível promover a reestruturação dos processos e, consequentemente, melhorias nas operações realizadas no dia-a-dia do mesmo. O principal benefício identificado foi a forte integração entre as áreas interligadas a área da qualidade, propiciando maior entendimento e cooperação entre elas. Além disso, as informações tornaram-se de fácil acesso, atualizadas em tempo real e principalmente precisas e confiáveis, trazendo maior rapidez e eficiência ao processo decisório. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGAMASCHI Sidnei, REINHARD Nicolau. Implementação de sistemas para gestão empresarial. Gestão & Produção. v 8, n.2, p. 258-273, 2001. BRASIL, Ministério da Saúde. 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