Operários,
Tarsila de Amaral
CAPÍTULO 1
O conhecimento
Histórico, 12
CAPÍTULO 2
Os primeiros
passos da
humanidade, 31
Murais,
Di Cavalcanti.
CAPÍTULO 3
O povoamento
da América e os
primeiros
habitantes do
Brasil, 42
6
887
A narrativa histórica é repleta de
interlocuções com os múltiplos
saberes produzidos pelos homens ao
londo de sua vida. Tudo pode se
tranformar numa fonte histórica:
uma música, um filme, um
documento, obras artísticas.
Percebe-se, assim, a grande
versatilidade da História. As imagens
ao lado compõem bons exemplos de
narrativas históricas. A primeira, de
Tarsila de Amaral, expressa a
diversidade cultural da cidade de São
Paulo. Enquanto que na segunda, Di
Cavalcanti procura demonstrar uma
arte ousada e de forte precisão
técnica associada ao cotidiano.
O Conhecimento Histórico
A construção da História
A História é uma grande aventura repleta de desafios, conflitos, surpresas e invenções.
Todas as ações humanas podem ser classificadas como eventos históricos. A História
procura compreender as diferentes formas de vida dos homens no decorrer dos tempos.
Desse modo, através do estudo do passado da humanidade, o historiador procura interpretar e explicar o momento presente.
As análises históricas consistem num recurso de fundamental importância para
compreensão das múltiplas e variadas relações sociais construídas ao longo da caminhada
humana.
A História é uma construção coletiva. Todos os homens são agentes históricos, uma vez
que eles produzem culturas e procuram dá significados às suas ações inseridas num
determinado tempo e época.
Todos os homens em sociedade fazem História, mesmo que suas ações não estejam descritas nos livros. A História é uma
construção coletiva. Todos os homens são agentes históricos, uma vez que eles produzem culturas e procuram dá significados
às suas ações inseridas num determinado tempo e época. Nesta obra intitulada Murais, o pintor modernista Di Cavalcanti
retrata o cotidiano de pessoas simples, no entanto, todos são importantes agentes da História.
São muitas as definições que se fizeram de História. O historiador Antônio Paulo
Rezende conceituou a História como um grande edifício construído pelo homem, onde o
mesmo vai fazendo sua história, superando dificuldades, inventando instrumentos e
explicando as coisas do mundo.
Por mais extensa que seja, a narrativa histórica é incapaz de englobar em sua totalidade
todos os eventos dos sujeitos da História. Portanto, selecionar os protagonistas de uma
narrativa histórica, sempre é uma opção política do historiador. Há uma relação direta entre
fazer e contar história, e isso determina a forma de compressão do processo histórico.
Atualmente, há uma tendência acentuada de explicar o presente tendo como referencial
ele próprio e, simultaneamente, o desprezo pelo passado. O historiador Eric Hobasbawn, na
produção de um primoroso parágrafo, comentou sobre o perigo dessa desqualificação:
7
887
―A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa
experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e
lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de
presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com os passado público da época em que
vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros esquecem,tornam-se mais
importantes que nunca (...). Por esse motivo, porém, eles têm de ser mais que simples
cronistas, memorialistas e compiladores.‖
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.13.
Para o francês Marc Bloch, um dos maiores historiadores do século XX, a história é
definida como a ciência dos homens no transcurso do tempo. Em uma célebre passagem,
estudioso tenta desfazer o equívoco segundo o qual a História se detém apenas pelo
passado.
―Já contei em outro lugar o episódio: eu estava acompanhando, em Estocolmo, Henri
Pirenne. Mal chegamos, ele me diz: ‗O que vamos ver primeiro? Parece que há uma prefeitura
nova em folha. Comecemos por ela.‘ Depois, como se quisesse prevenir um espanto,
acrescentou: ‗Se eu fosse antiquário, só teria olhos para as coisas velhas. Mas sou um
historiador. É por isso que amo a vida.‘ Essa faculdade de apreensão do que é vivo, eis
justamente, com efeito, a qualidade mestra do historiador. (...)
Portanto, não há senão uma ciência dos homens no tempo e que incessantemente tem
necessidade de unir o estudo dos mortos ao dos vivos.‖
BLOCH, Marc. Apologia da História, ou o Ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. p.65-7.
O texto de Bloch deixa em evidência que o conhecimento histórico é elaborado através
de um permanente diálogo entre o presente e o passado. A história procura compreender as
diferentes ações dos homens em sociedade.
A História estuda a vida humana através do tempo; analisa o que os homens fizeram,
pensaram ou sentiram enquanto seres sociais. A História, como outras formas de
conhecimento da realidade, está sempre se constituindo. Ela é inesgotável. São múltiplos os
seus objetos de estudos e as possibilidades de interpretação. Portanto, o saber que a
História produz nunca é perfeito ou acabado. Nunca iremos saber ―tudo‖ que ocorreu.
―O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos processos e dos
sujeitos históricos, o desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos
humanos em diferentes tempos e espaços. Os historiadores estão atentos às diferentes e
múltiplas possibilidades e alternativas apresentadas nas sociedades, tanto nas de hoje
quanto nas do passado, que emergiram da ação consciente ou inconsciente dos homens;
procuram apontar para os desdobramentos que se impuseram com o desenrolar das ações
- desses sujeitos.
A aprendizagem de metodologias apropriadas para a construção do conhecimento
histórico, seja no âmbito da pesquisa científica, seja no do saber histórico escolar, torna-se
um mecanismo essencial para que o aluno possa apropriar-se de um olhar consciente para
sua própria realidade e para si mesmo. Ciente de que o conhecimento é provisório, o aluno
terá condições de exercitar nos procedimentos próprios da História: problematização das
questões propostas, delimitação do objeto, exame do estado da questão, busca de
informações, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepção dos sujeitos
históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificação e comprovação
de hipóteses, organização dos dados coletados, refinamento dos conceitos (historicidade),
proposta de explicação para os fenômenos estudados, elaboração da exposição, redação de
textos.‖
BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL,
Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 42-43.
As fontes históricas
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887
O historiador não se apropria do seu objeto de estudo diretamente. O seu trabalho
consiste em compreender os fatos históricos ou experiências humanas por intermédio de
registros que foram deixados por determinado grupo social em um determinado local e
tempo. De modo geral, as fontes usadas pelos pesquisadores são classificadas como:
escritas, orais, sonoras, visuais e as que compõem a cultura material.
Fontes escritas, sonoras e visuais
DOCUMENTOS OFICIAIS OU
Leis, contratos, registros contábeis,
PARTICULARES
registros de cartórios
PUBLICAÇÕES
Livros, jornais, revistas
CIENTÍFICAS/IMPRENSA
DOCUMENTOS SONOROS E
Músicas, pinturas, filmes, vídeos,
VISUAIS
fotografias, MP3
Fontes orais
Entrevistas, relatos, contos, lendas,
DOCUMENTOS ORAIS
mitos, fábulas
Todos os vestígios produzidos e deixados pelos homens podem ser denominados de
fontes históricas, podendo ser oficiais, particulares, cartas, pinturas, depoimentos,
construções, recursos tecnológicos (observe nas imagens abaixo).
Mp3.
Operários, de Tarsila do Amaral.
Os Beatles.
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Boa parte das fontes históricas materiais é encontrada em órgãos públicos ou privados,
tais como universidades, igrejas, galerias de arte, museus e outros espaços. Esse conjunto
de fontes materiais recebe o nome de ―patrimônio histórico e cultural de um povo‖. Dessa
maneira, para escrever a História o pesquisador se utiliza de fontes. Através dos dados
produzidos pelas fontes, o historiador vai construindo sua narrativa e análise. Tudo aquilo
que o homem elaborou pode servir como fonte histórica. Assim, as fontes históricas são
constituídas por evidências da ação humana, após um tratamento narrativo ou explicativo
pelo historiador.
―Para escrever a História o pesquisador se utiliza de fontes. Através dos dados fornecidos
pelas fontes, ele vai montando sua narrativa e sua análise. Tudo aquilo que o homem
produziu, modificou, escreveu, desenhou, pode servir de fonte histórica. Na verdade, o que se
busca é contar a história dos homens, em uma determinada época e tempo escolhidos. Cada
pesquisador tem sua área de interesse. Alguns escolhem temas políticos, outros econômicos.
Os temas são variados e podem ser analisados de maneiras diferentes. Tudo vai depender das
fontes selecionadas e do que o historiador está querendo fazer com elas.‖
REZENDE, Antônio Paulo. Todos contam sua História. Antiguidade e Idade Média. Inojosa editores. p.11
Tempo e História
Assim como a História é vivida no tempo, ela também é o estudo do tempo, em todos os
seus desenvolvimentos: presente, passado e futuro, considerando-se os seus vários
entrelaçamentos. Cabe ao historiador responder aos questionamentos do presente, fazendo
e refazendo perguntas ao passado.
O tempo histórico tem um valor relativo. Portanto, estabelecer as relações temporais
entre as múltiplas experiências humanas constitui uma das tarefas do historiador sempre
sujeita a polêmicas e contrapontos. Um aspecto importante no tocante ao tempo histórico é
que ele é singular e complexo. Além disso, o tempo consiste numa convenção criada para
facilitar a nossa comunicação e o entendimento do que nos rodeia.
Segundo o historiador François Dosse, o presente colabora para a pesquisa do passado e
possibilita a valorização da história-problema, ao mesmo tempo que enriquece as análise do
passado. Assim, os episódios culturais, econômicos, políticos e sociais pode ser entendidos
pelos estudos da História. Vale ressaltar, que mesmo compreendendo as ações do tempo
presente, isso não pressupõe que teremos condições de prever o futuro. Poderemos, sim,
ter percepção de algumas tendências e criar possibilidades ou novos caminhos, mas sem
adivinhar o que irá acontecer.
O calendário e a periodização
O estudo do tempo exige a elaboração de procedimentos de datação e delimitação.
Esses procedimentos são fornecidos pela cronologia, que auxilia a história com dois
importantes instrumentos de organização dos acontecimentos estudados: o calendário e a
periodização.
As sociedades humanas sempre demonstraram preocupação com a marcação do tempo.
A criação de calendários tinha como finalidade a organização das principais atividades
religiosas, econômicas e políticas. O calendário aceito e adotado oficialmente nas relações
internacionais é o calendário cristão. De acordo com ele, o tempo é repartido em dois
grandes momentos: antes e depois do nascimento de Cristo, considerado o ano 1 de uma
nova era para a história da humanidade.
Os muçulmanos datam a história de sua civilização a partir da Hégira, acontecimento
que marca a fuga do profeta Maomé da cidade árabe de Meca para Medina, no ano 622
d.C.. Enquanto os judeus datam a história da criação descrita na Bíblia, que teria ocorrido
numa data equivalente a 7 de outubro de 3760 a.C..
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887
A divisão da história em períodos (―Pré-História‖ e História) consiste numa convenção
estabelecida pelos estudiosos europeus nos séculos XVI e XVII baseada no calendário
cristão e na história da Europa.
No princípio do século XIX, a periodização foi completada por historiadores franceses. O
marco inicial da História corresponde à invenção da escrita, por volta de 4.000 a.C. Todo o
percurso anterior dos homens tem sido comumente denominado de ―Pré-história‖.
Dessa maneira, foi estabelecida a periodização da história em quatro Idades:
 Idade Antiga: do aparecimento da escrita (± 4000 a.C.) à queda de Roma (476).
 Idade Média: inicia-se com a queda de Roma (476) e se estende até a queda de
Constantinopla (1453).
 Idade Moderna: da queda de Constantinopla (1453) até a Revolução Francesa (1789 –
Bastilha).
 Idade Contemporânea: da Revolução Francesa (1789–Bastilha) aos nossos dias.
Há nessa concepção relativo preconceito, uma vez que a História se inicia desde que o
homem passou a produzir cultura. A escrita é uma conseqüência da procura do homem em
melhorar suas condições de vida social, facilitando a comunicação e conservação da
memória. Enfim, o homem é o sujeito da história, então ele fez história desde que surgiu no
planeta.
DIVISÃO DA HISTÓRIA EM PERÍODOS
‖PRÉ-HISTÓRIA‖
(Fase dos documentos não
escritos – poitivimo)
PALEOLÍTICO
NEOLÍTICO
IDADE DOS METAIS
4000 a. C. invenção da escrita
IDADE ANTIGA
3200 a.C. Unificação do Egito sob autoridade de um
faraó
753 a.C. Fundação de Roma
1 Nascimento de Jesus Cristo
478 Fim do Império do Ocidente
622 Hérgia (Fuga de Maomé de Meca para Medna)
IDADE MÉDIA
600 Coroação de Carlos Magno como Imperador do
Ocidente
1453 Tomada de Constantinopla (fim do Império Romano do Oriente
HISTÓRIA
(Fase dos documentos
escritos)
IDADE MODERNA
1492
1500
1554
1585
1778
Descobrimento da América
Descobrimento do Brasil
Fundação de São Paulo
Fundação do Rio de Janeiro
Independência dos Estados Unidos
1789 Revolução Francesa
IDADE
CONTEMPORÂNEA
11
887
1803 Primeira Locomotiva a vapor
1822 Independência do Brasil
1914 Início da Primeira Guerra Mundial
1917 Revolução Socialista na Rússia
1929 Quebra da Bolsa de Valores de Nova York
1939 Início da Segunda Guerra Mundial
1969 Descida do homem à Lua
1989 Queda do Muro de Berlim
1991 Fim da União Soviética
1997 Clonagem da ovelha Dolly
1998 Copa do Mundo da França
2001 Atentado terrorista aos EUA
2004 Brasil designado pra comandar uma missão de Paz
no Haiti
2005 Evo Morales eleito Presidente da Bolívia
2007 A China se apresenta como uma das quatro
economias do Mundo
2008 Crise mundial do capitalismo
2009 Surgimento da Gripe H1N1
2010 Terremoto no Haiti
2011 Tragédia na região Serrana do Rio de Janeiro
História e Memória
Pode-se afirmar que a partir do momento que os homens começaram a transformar a
natureza e inventar símbolos para representá-la, eles passaram a produzira História. Nesse
sentido, as criações culturais foram decisivas para a distinção entre os homens e os
animais.
Ao longo dos tempos, a História tem sido abordada por múltiplos olhares e diversas
interpretações, o que resulta numa produção historiográfica bastante diversificada.
Desde a Antiguidade, as sociedades humanas vêm elaborando narrativas que visavam
contar o surgimento dos homens e suas realizações. A princípio, essas narrativas eram
influenciadas pelo pensamento mítico que enalteciam os grandes feitos heroicos. Mesmo
parecendo uma leitura ingênua da realidade, essa perspectiva histórica não pode ser de
maneira alguma desprezada, porque através dela podemos compreender melhor os hábitos,
os costumes e os obstáculos enfrentados pelas primeiras sociedades humanas.
A criação da escrita teve um papel relevante na sistematização da memória, ajudando a
preservar as ações do passado, contribuindo para a transmissão dos significados dos feitos
dos homens. Obviamente, isso não significa que os povos que não tinham ou não tem
escrita também não fizeram História. Os relatos orais devem ser valorizados, pois através
deles muitas sociedades humanas continuam se relacionando com os eventos do passado,
zelando pela sua cultura, preservando seus preceitos e crenças que garantem sua existência
social.
Segundo o historiador Jacques Le Goff, em sua obra História e Memória, ―a memória,
onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o
presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para
libertação e não para a servidão dos homens.‖ Sem memória não há História. Há uma
relação intrínseca, entre História e memória. A memória é formada de lembranças e
esquecimentos. Ela possui um caráter coletivo, que está relacionada com as relações de
poder de cada época ao longo do processo histórico.
Concepções de História
A historiografia antiga e medieval
O conhecimento histórico não é feito apenas por intermédio de consulta e pesquisa a
acervos oficiais, mas também por interpretações e relatos do significado na sociedade
humana. Nessa perspectiva, os pais da História foram os gregos, que por volta do século V
a. C. a conceberam. Precedendo os gregos, os chineses haviam organizado suas listas de
documentos que possuíam um sentido mágico, ou seja, detinham um caráter litúrgico e
sagrado.
Na Grécia antiga, a narrativa histó
rica foi elaborada essencialmente com o propósito de fazer a
distinção entre sua cultura e os hábitos e costumes dos demais
povos. Esses relatos foram reproduzidos principalmente na obra de
Heródoto, conhecido como o ―pai da História‖. Em suas viagens,
coletou depoimentos importantes e escreveu suas narrativas,
lançando seu olhar sobre os egípcios, persas e citas. Heródoto
tomou como modelo de sociedade, o modo de vida dos gregos e
todo povo que se distinguisse dos gregos era classificado como
bárbaro. Vale enfatizar, que o historiador atenien-se, enaltece a
memória em seus textos como relevante recurso para evitar o
esquecimento.
Busto de Tucídedes. Historiador ateniense, considerado como inovador, uma vez que buscou
narrar, com primazia de detalhes os acontecimentos que marcaram a Guerra do Peloponeso.
12
887
Em seu livro A guerra do Peloponeso, Tucídedes trata de maneira minuciosa as origens
da sociedade ateniense até o desenvolvimento do confronto bélico que dá nome a sua obra.
Tucídedes buscou narrar com fidelidade os acontecimentos que marcaram a Guerra do
Peloponeso.
De acordo com os historiadores contemporâneos, sua obra traz uma reflexão sobre os
atos políticos e seus desdobramentos no futuro, principalmente da cidade de Atenas.
Tucídedes defendia a ideia de que era necessário resgatar o passado como mecanismo de
aprender com erros cometidos, de forma a não voltar a cometer os mesmo equívocos.
―Heródoto e Tucídedes elaboraram suas narrativas em um contexto em que os contos
épicos e míticos estavam fortemente presentes no cotidiano, fazendo parte da educação e da
formação moral dos cidadãos gregos e costumavam ser tratados como verdadeiros. Essas
narrativas se distinguiam do texto histórico na medida em que não procuravam datar os
eventos narrados nem mesmo se preocupavam com a comprovação de seu relato. Além
disso, tradicionalmente, grande parte das narrativas épica e mítica era passada de geração
para geração por meio do relato oral.
Heródoto e Tucídedes, por sua vez, buscaram estabelecer uma cronologia mais definida
para os seus relatos. Naquela época não havia uma calendário unificado, como nós temos
atualmente. Na Grécia, por exemplo, cada cidade tinha seu próprio calendário baseado nas
festividades religiosas locais. Heródoto mesmo lidando com a imprecisão dos relatos sobre o
passado grego, que até aquele período era tratado como algo atemporal, conseguiu elaborar
uma sequência cronológica para o período que abrange aproximadamente desde a metade do
século VII a.C. até a época em que viveu, século V a.C.‖
Estudos de história, 1. Ricardo de Moura, Mônica Liz Miranda, Helena Guimarães Campos. 1 ed. São Paulo: FTD, 2009. P.22.
O legado de Heródoto e Tucídedes tem grande valor historiográfico, uma vez que suas
narrativas se distanciaram das influências religiosas que caracterizam os relatos míticos
sobre a vida dos homens em sociedade. Ambos entendiam que o destino das pessoas era
resultado de suas próprias escolhas e da vontade dos deuses.
Algumas obras de caráter histórico também foram produzidas entre os romanos.
Semelhante aos gregos, os latinos comparavam seu modelo de vida com a de outros povos,
considerados como ―bárbaros‖. Os romanos defendiam a ideia de que seus hábitos e
costumes eram superiores às demais sociedades. Os romanos acreditavam que as
sociedades ―nasciam, cresciam e morriam‖, do mesmo jeito que ocorre com os seres
humanos.
Durante a Idade Média (V-XV), período marcado pelo fortalecimento do cristianismo, a
narrativa histórica ficou sob o controle da Igreja Católica. Nessa fase, a historiografia
adquiriu um forte predomínio da participação divina nos acontecimentos, levando a História
a assumir um caráter teológico, ou seja, estava sublinhada pela vontade de Deus e não dos
homens.
Durante o século XII, os senhores feudais e os governantes dos burgos, na tentativa de
legitimar seu poder, entre outros meios, através da elaboração de uma genealogia,
riquíssima em figuras poderosas, heróis e santos, o que possibilitava alianças matrimoniais
que resultava em boas vantagens.
A concepção teológica da História foi alterada com certo significativo pelos humanistas
no século XV. A parir de então, a narrativa histórica passou a analisar as ações humanas
pela perspectiva racional. Nessa época, houve uma coleta de documentos antigos, os quais
passavam por avaliações criteriosas de sua originalidade. Os cronistas humanistas buscaram
contribuições de outras áreas do saber para atingir a veracidades de suas análises. A
Filologia, a Diplomática, a Cronologia, a Epigrafia, a Arqueologia, a Numismática, a
Heráldica e a Sigilografia deram contribuições importantes para a formação de uma
narrativa histórica mais elaborada.
13
887
Historicistas e positivistas
Entre os séculos XVIII e XIX, mesmo com todos os esforços dos historiadores em
realizar a separação entre a História e a Filosofia, a os relatos históricos permaneceram
priorizando as ações dos ―grandes homens‖ e dos ―heróis‖.
A História só atingiu o status de ciência no século XIX, o qual se costuma a ser
denominado de o ―século da ciência‖, uma vez que a ciência passou a ter uma dimensão
que possui atualmente. A grande admiração que a ciência nos provoca resulta do fato que
ela é pautada numa pesquisa bem estruturada e visa demonstrar a verdade sobre o objeto
estudado. Em relação ao conhecimento histórico, o historiador fundamenta seu trabalho
numa cansativa pesquisa bibliográfica e documental, que usa as fontes históricas como
meios de interpretar melhor os temas abordados.
Nessa perspectiva, no propósito de tornar a Histórica num saber científico, foi adotada a
concepção de que a História constituía ―uma ciência do passado‖ e que registrava os fatos
tais como eles aconteceram. A parir de então, os fatos que fossem restituídos por meios de
fontes escritas ou documentos oficiais, organizados numa ordem cronológica e relatados de
numa sequencia linear, detinha uma verdade inquestionável.
Os defensores dessa concepção historiográfica foram os intelectuais historicistas
(conservadores) e positivistas. O conhecimento histórico elaborado por esses pensadores
consistiam em relatar objetivamente o que estava contido nos documentos oficiais, sem a
formulação de nenhum questionamento sobre as informações registradas nos escritos. Essa
concepção historiográfica prevaleceu durante todo o século XIX e até metade do XX.
Atualmente, esse modo de pensar e escrever a História é conceituada como uma
maneira tradicional de abordar a História, que teve como principais representantes o alemão
Leopold Von Ranke e filósofo francês Augusto Comte.
Ranke acreditava que utilizando os métodos das ciências naturais, o saber histórico
atingiria cientificidade. Para ele, os documentos escritos possuíam a verdade dos fatos e
para recuperá-los seria imprescindível ter rigor científico. Segundo Leopold, para que a
História pudesse ser classificada como ciência, os historiadores deveriam utilizar apenas
como fontes confiáveis, os documentos escritos, analisando sua veracidade e, em seguida,
narrando o que estava contido neles. O historiador não poderia interpretar ou construir
qualquer análise, pois fazendo isso, estaria emitindo avaliações imbuídas de paixões,
crenças e passionalidades, o que comprometeria o caráter ―científico‖ da História. Diante
disso, conclui-se que para os historicistas, os fatos históricos eram produzidos por causas e
conseqüências, o conhecimento histórico era objetivo e imparcial. Só assim, a História
poderia ser considerada com uma ―ciência‖.
O pensador Augusto Comte afirmava que a sociedade
respeitava as leis naturais. Dessa forma, independentemente dos atos individuais, tudo o que acontece em
sociedade estava designada pelas leis semelhantes como
ocorre com os fenômenos das ciências da natureza (leis
da física, por exemplo). Segundo Comte, a sociedade
deveria ser hierarquizada, onde essas leis naturais
determinariam as funções dos grupos sociais. Portanto,
essa segmentação social entre os que mandam e o que
obedecem seriam concebidas naturalmente.
O pensador Augusto Comte afirmava que a sociedade respeitava as leis
naturais. Segundo Comte, a sociedade deveria ser hierarquizada, onde essas
leis naturais determinariam as funções dos grupos sociais.
14
887
Mesmo sendo bastante criticado, o positivismo ainda influencia muitos historiadores. As
principais críticas se concentram na objetividade e na imparcialidade do conhecimento
histórico pretendidas pelos positivistas. Quanto a isso, os positivistas falharam contundentemente, porque defendiam que as únicas fontes confiáveis para a montagem da experiência histórica eram os documentos oficiais e escritos. Bem, se o historiador usa exclusivamente fontes escritas, ele está se posicionando claramente a favor das elites governantes.
Marxismo e a construção do conhecimento histórico
Outra concepção historiográfica desenvolvida no século XIX foi o materialismo histórico,
criada pelos pensadores Karl Marx e Friedrich Engels. O pensamento marxista inovou
profundamente a construção do conhecimento histórico ao romper de maneira nítida com as
concepções que prevaleciam até então. Esses autores defendiam que os temas sociais e
econômicos deveriam ser abordados com mais ênfase pelos historiadores.
―O marxismo, enquanto ciência da história, tomará como objeto as estruturas econômicosociais, invisíveis, abstratas, gerais, mas ‗chão‘ concreto da luta de classes e das iniciativas
individuais e coletivas. Para Marx, os indivíduos só podem ser explicados pelas relações
sociais que mantêm, isto é, pela organização social a que pertencem e que os constitui como
eles são.‖
REIS, José Carlos. A Historia, entre a filosofa e a ciência. São Paulo: Ática.p. 43.
O marxismo afirmava que as condições materiais (forças produtivas) de existência dos
homens são elementos condicionantes das formas de governo, as manifestações culturais,
as ideologias, as religiões. É bom ressaltar que não podemos reduzir o materialismo
histórico ao certo determinismo, pois não foi esse o propósito da concepção dessa
historiografia. Sobre essa distinção, a historiadora brasileira, Vavy Pacheco comenta:
―O materialismo histórico mostra que os homens, para sobreviverem, precisam transformar a
natureza, o mundo em que vivem. Fazem-no não isoladamente, mas em conjunto, agindo em
sociedade; estabelecem, para tal, relações que não dependem diretamente de sua vontade,
mas dependem do mundo que precisa transformar e dos meio que vão utilizar para isso.
Todas as outras relações que os homens estabelecem entre si dependem dessas relações para
a produção da vida, não sob a forma de dependência mecânica, direta e determinante, mas
sob forma de condicionamento.‖
BORGES, Vay Pacheco. O que é História. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 36-37.
Ao estudar as sociedades, Marx e Engels criaram o conceito de Modo de Produção
quer pode ser conceituado sinteticamente, como o meio pelo qual os homens se organizam
para conseguir os bens materiais de que precisam para sobreviver. O modo de produção é
estabelecido pelos meios de produção, as forças produtivas e as relações sociais de
produção. As grandes mudanças ocorridas ao longo do processo histórico foram advindas
das lutas de classes, que conduziriam a classe subordinada ao poder, resultando na
alteração no modo de produção.
A Escola do Annales e a Nova História
No começo do século XX havia diversas concepções quanto a elaboração do
conhecimento histórico. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) contribuiu decisivamente
para uma alteração considerável na forma de escrever e pensar História à medida que o
resultado desse conflito gerou muitas incertezas quanto às teorias científicas e paradigmas
instituídos na época. A crença inabalável no progresso e na razão implicitamente inserida
nas concepções historiográficas se dissipou. Os europeus começaram a duvidar de muitas
coisas estabelecidas como certas. De certa maneira, essa atmosfera de incertezas, motivou
os pensadores franceses Lucien Febvre e March Bloch para produzirem a grande
renovação da historiografia do século XX, chamada de Escola do Annales. Quanto a
importância dessa inovação nos estudos históricos, Ciro Flamarion Cardoso, Fez as
seguintes observações:
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―A decisiva mudança de rumos ocorreu a partir de 1929, com a criação dos Annales, por
Lucien Fvere e March Bloch um ponto de encontro e de debates entre historiadores e
cientistas sociais, em geral. Graças a seu estímulo (...) começou a evolução que condu-ziu ao
estado presente da historiografia francesa, cuja influência sobre muitos historia-dores latinoamericanos sempre foi grande. Em uma primeira fase, foram os estudos econômicos da
conjuntura que mais influenciaram os historiadores, estimulando o estudo dos preços e
salários.‖
CARDOSO, Ciro F.; BRIGNOLLI, Héctor P. Os métodos da História. 2. Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1983. p.23-24.
Os Annales são estudados em três fases. Na primeira (1929-1945), Marc Bloch e Lucien
Febvre, professores da Universidade de Strasbourg, editaram e lançaram uma revista que
trazia uma nova abordagem sobre a História. A partir de então, passa-se a combinar geografia, história, sociologia e outras ciências com o intuito de produzir um pensamento histórico. Ambos foram influenciados pela obra do francês Henri Berr, que no final do século XIX,
ao publicar Revista de Síntese, já pretendia criar centros de debates nos quais se questionassem as certezas defendidas pela História-Relato. Através da revista Annales, Bloch e
Febvre divulgam problematizações e novas reflexões que passaram a chamar a atenção de
diversos historiadores de diversos países.
A princípio, houve uma dedicação aos estudos econômicos, porém, posteriormente foi
inseridas novas temáticas, aproximando a História das ciências sociais. Desse modo, a
Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Economia passaram a fornecer elementos
relevantes para a composição da análise histórica.
Já na segunda fase (1945-1968), merece grande relevância o francês Fernand Braudel
em sua famosa obra ―O Mediterrâneo‖. Esse historiador propõe uma nova noção de tempo
histórico, dividido em pequena duração (os eventos), média duração (as conjunturas) e
longa duração (as estruturas). Os três tempos históricos desenvolvidos por Braudel
coexistem e espelham variadas características da vida dos homens em sociedade.
Quanto a noção de fonte histórica, a revista Annales também trouxe grandes alterações.
Tradicionalmente, eram considerados como fontes legítimas apenas os documentos oficiais,
porém, a partir dos Annales, passaram a questionar essa concepção, propondo que todo
vestígio deixado pelo homem pode ser considerado como documento histórico. Sendo,
assim, os Annales decretaram o fim do documento escrito como única fonte confiável, abrindo os caminhos para a construção de um novo conhecimento histórico fundamentado em
fontes diversificadas. O historiador passa ter um amplo leque de fontes, como os filmes, as
pinturas, os alimentos, as roupas, os hábitos, os costumes, as crenças, as tradições.
Na terceira fase (a partir de 1968), os principais expoentes são Georges Duby e
Jacques Le Goff. O último publicou um artigo intitulado Nova História (Nouvelle Histoire),
que causou amplo debate acadêmico. Os desdobramentos a partir disso originaram a
chamada ―Nova História‖. Le Goff, herdeiro dos Annales, afirma que qualquer documento
histórico tem múltiplas intenções:
―(...) o documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao
futuro – voluntário ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias. No limite, não
existe um documento-verdade. (...) É preciso começar por desmontar, demolir esta
montagem, desestruturar esta construção e analisar as condições de produção dos
documentos-monumentos.‖
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas – São Paulo: Unicamp, 1992. p.548.
Nas três fases pode-se observar o caráter inovador desses historiadores, pois há uma
grande modificação na produção do saber histórico que deixou de ser uma mera reprodução
documental, passando a uma ―História-problema‖, que cria possibilidades na interdisciplinaridade, ou seja, dialoga com outras ciências sociais.
―O programa proposto pelos annales consistia fundamentalmente no seguinte: a interdisciplinaridade, a mudança dos objetos da pesquisa, que passava a ser as estruturas
econômico-social-mental, a mudança na estrutura da explicação-compreensão em histó-ria, a
mudança no conceito de fonte histórica e sobretudo, embasando todas as propôs-tas
anteriores, a mudança do conceito de tempo histórico, que agora consiste, fundamentalmente, na superação estrutural do evento.Este programa foi praticado de forma
criativa e original pelas três gerações.‖
REIS, José Carlos. A História, entre a filosofa e a ciência. São Paulo: Ática.p. 43.
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TEXTO COMPLEMENTAR
TEXTO 01
Como uma onda do mar
Lulu Santos/Nelson Motta
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Disponível em: www.letras.terra.com.br. Acesso em 27 de dezembro de 2009.
Analisando o texto
1. Na letra da música pode-se perceber que o autor faz alusão ao tempo, o qual é marcado
pela singularidade. Qual o trecho da música pode comprovar essa afirmação?
Justifique.
2. Qual a sua opinião sobre a concepção de tempo proposta pela música?
TEXTO 02
“Passado e presente, uma relação permanente”
―(...) Todo ser humano tem consciência do passado em virtude de viver com pessoas
mais velhas. Provavelmente todas as sociedades que interessam ao historiador tem um
passado, pois mesmo as colônias mais inovadoras são povoadas por pessoas oriundas de
alguma sociedade que já conta com uma longa história. O passado é ,portanto, uma
dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das
instituições, valores e outros padrões da sociedade humana. O problema para os historiadores é analisar a natureza desse ‗sentido do passado‘ na sociedade e localizar suas
mudanças e transformações.
Paradoxalmente, o passado continua a ser a ferramenta analítica mais útil para lidar
com a mudança constante, mas em uma nova forma. Ele se converte na descoberta da
história como um processo de mudança direcional, de desenvolvimento ou evolução. A
mudança se torna, portanto, sua própria legitimação, mas com isso ela se ancora em um
‗sentido do passado‘ transformado.‖
HOBSBAWN, Eric. Sobre a história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
Analisando o texto
1. Baseado nas idéias expostas pelo autor, elabore um texto sobre a relação entre o
presente e o passado e qual sua importância de compreendê-lo.
2. De acordo com o texto, a relação entre os tempos históricos é dinâmica. Diante disso,
qual o ‗sentido do passado‘ para a humanidade?
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FAZENDO HISTÓRIA
1. Com seus conhecimentos sobre história, conceitue as palavras e expressões a seguir:
a)
b)
c)
d)
documento histórico(cite exemplos)
fonte escrita e oral
tempo histórico
fato histórico
2. Escolha uma das correntes historiográficas (positivismo, marxismo, Escola dos Analles e
Nova História) e cite um evento histórico, comentando-o de acordo com a concepção de
história escolhida por você.
3. Tendo em vista os conceitos abordados no capítulo, como você definiria história?
4. Analise a letra da música ―Até quando?‖ de Gabriel o pensador e depois faça um comen-
tário sobre a importância de se ter um olhar crítico em relação aos acontecimentos
sociais, políticos e econômicos na sociedade, os quais são expostos de maneira criativa
pelo o autor da música.
Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve
Você pode e você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédia
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédia
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?
(...)
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente
A mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro
Até quando você vai levando porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai ficar de saco de pancada?
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Até quando você vai levando?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai ficar de saco de pancada?
Até quando você vai levando?
Disponível em http://gabriel_o_pensador.hipermusicas.com/ate_quandozzizz/. Acesso em
dezembro de 2007.
5.
Um dos grandes dramaturgos e poetas do século XX, o alemão Bertolt Brecht (18981956), escreveu um poema que traz vários questionamentos sobre a elaboração do
conhecimento histórico. Leia-o.
Perguntas de um Operário Letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê. Poemas Trad. Paulo Cesar Souza.
São Paulo: Brasiliense, 1986. p.167.
Comente os principais questionamentos criados por Brecht, tendo como referência a
concepção de que a ―História é uma construção coletiva‖.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) ―É necessário que o ensino de história seja revalorizado e que os professores
dessa disciplina conscientizem-se de sua responsabilidade social perante os alunos,
preocupando-se em ajudá-los a compreender o mundo e – esperamos – a melhorar o
mundo em que vivem. Para isso, é bom não confundir informação com educação.‖ (PINSKY,
Jaime. & PINSKY, Carla B. ―Por uma História prazerosa e consequente‖. In: KARNAL, Leandro. (Org.) História na Sala de Aula:
Conceitos, Práticas e Propostas. São Paulo: Contexto, 2008). (Adaptado)
Após a leitura do texto, pode-se conceber que o principal objetivo do conhecimento
histórico consiste em:
a) perceber que o passado humano é uma agregação de ações separadas, e não, um
conjunto de comportamentos intimamente interligados que tem razões eventuais.
b) estabelecer compromisso com o presentismo comum, tentando encontrar, no
passado, justificativas para atitudes, valores e ideologias perpetuadas e praticadas
no presente.
c) utilizar afirmações baseadas, apenas, em filiações ideológicas que são importantes
por transmitir verdades e valores sociais.
d) promover atitudes vanguardistas que propiciam comportamentos de neutralidade
diante das múltiplas propostas do conhecimento histórico.
e) compreender os processos e os sujeitos históricos, os desvendamentos das relações
que se estabelecem entre os grupos humanos, em diferentes tempos e espaços.
2. (VUNESP) Empregado por Heródoto, o termo história (istorie) tinha o significado de
pesquisa. Com o tempo, tanto o objeto dos historiadores, quanto a ciência que dele se
ocupa, a História, passaram a ser designados pelo mesmo nome, fato destacado por
várias correntes historiográficas. Entre as respostas apresentadas, indique a que
expressa o objeto da História.
a) O relato sistematicamente ordenado dos acontecimentos do passado mediante a
reconstituição de processos temporais.
b) A reestruturação das relações de troca e de dominação política ocorrida no passado
entre membros de uma determinada sociedade.
c) A interpretação de processos políticos que incidiram na organização nas diversas
formas de estruturação do poder.
d) A recomposição das lutas sociais que levaram à edificação de nações e povos, desde
a Antiguidade até os tempos atuais.
e) Um conjunto de narrativas sobre o passado de um ou de vários povos, recolhido
através das representações legadas pelas gerações anteriores às suas herdeiras.
3. (ADIVISE) Observe o texto abaixo:
―Desde o começo, nas manifestações mais primárias e elementares, a História tem tido
sempre uma função social – geralmente a de legitimar a ordem estabelecida –, ainda
que tenha tendido a mascará-la, apresentado-se com a aparência de uma narração
objetiva dos acontecimentos concretos.
(FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru: EDUSC, 1998,p . 15)
Tendo em perspectiva a hipótese acima apresentada, observe os enunciados abaixo:
I. O tempo é uma dimensão central no trabalho do historiador.
II. A fragmentação do conhecimento histórico é algo inerente à disciplina desde os seus
primórdios, na antiguidade clássica ocidental.
III. A história está condenada a ser a ideologia das classes dominantes, embora
apresente um discurso crítico-filosófico.
Está(ão) correta(s):
a) I, II e III.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.
e) Apenas a I está correta.
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4. (UPE) A noção de tempo é, juntamente com a de espaço, de suma importância para o
trabalho do historiador. Não existe um conceito universal e uniforme de tempo e,
dependendo da perspectiva teórica do historiador, o tempo é ressignificado. Sendo
assim, é correto afirmar que:
a) a História não estabelece relações com o tempo presente, restringindo seu âmbito de
atuação ao passado.
b) a História consiste em reflexões apenas dos tempos modernos.
c) a ideia teleológica da História estava presente no materialismo histórico do século
XIX.
d) a Escola dos Annales rompe com a relação passado construção de projeções futuras
acerca das sociedades por eles estudadas.
e) o conceito absoluto de tempo desenvolvido por Newton no século XVII foi
restabelecido nas propostas epistemológicas adotadas pelos historiadores da
chamada Nova História.
5. (UPE) ―Os maiores problemas para os novos historiadores são certamente aqueles das
fontes e dos métodos. Quando os historiadores começaram a fazer novos tipos de
perguntas sobre o passado, para resolver novos objetos de pesquisa, tiveram de buscar
novos tipos de fontes, para suplementar os documentos oficiais. Alguns se voltaram
para a história oral; outros à evidência das imagens; outros à estatística. Também se
provou possível reler alguns tipos de registros oficiais de novas maneiras‖.
BURKE, Peter. ―Abertura: A nova história, seu passado e seu futuro‖. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da História: Novas
perspectivas. São Paulo: Editora da Unesp, 1992. (Adaptado)
Após o advento da Escola dos Annales, o conceito de fontes históricas foi ampliado,
seguindo a tendência dos novos objetos de estudo. O texto acima do historiador
britânico Peter Burke chama atenção para essa realidade. Sobre a relação entre os
historiadores e suas fontes, é correto afirmar que:
a) ainda prevalece, na produção historiográfica atual, uma visão rankeana das fontes,
limitando estas ao material de natureza escrita e de caráter oficial.
b) apesar de serem vastamente utilizadas em pesquisas históricas, as fontes orais ainda
não receberam o reconhecimento e a validade acadêmica e científica.
c) a chamada Nova História possibilitou a ampliação de temas, objetos, abordagens e
problemas para os historiadores, o que acabou por provocar um alargamento da
natureza/tipificação das fontes.
d) a despeito deste movimento de renovação, as fontes de natureza material ainda se
restringem à análise dos arqueólogos, não ocupando a pauta das fontes utilizadas
pelos historiadores.
e) as fontes oficiais, de caráter administrativo e político, foram abandonadas pelos
historiadores da geração pós-annales, que passaram a priorizar pesquisas no âmbito
da história cultural.
6. (FCC) (...) Os nomes dizem respeito, apesar de tudo, às realidades de uma influência
forte demais para permitir um dia descrever uma sociedade sem que seja feito um largo
emprego das palavras, devidamente explicadas e interpretadas.(...)Estimar que a
nomenclatura dos documentos possa bastar completamente para fixar a nossa era seria
o mesmo, em suma, que admitir que nos fornecem a análise toda pronta.A História,
nesse caso, não teria muito a fazer.(Marc Bloch. Apologia da História ou o Ofício de Historiador)
Para Marc Bloch, o historiador deve conduzir sua análise histórica com o auxílio:
a) da linguística que lhe possibilitará averiguar que as instituições essencialmente
idênticas, nas sociedades fragmentadas, são designadas por termos semelhantes.
b) de uma dupla linguagem, a da época estudada, o que lhe permite evitar o
anacronismo, mas também a do aparato verbal e conceitual da disciplina histórica
atual.
c) de um vocabulário uniforme, estabelecido como fonte precisa, indiscutível e
verdadeira, das condições sociais e políticas de uma época, objeto de seu estudo.
d) da palavra escrita, que vale mais por sua etimologia do que pelo uso que se faz
dela, e que representa o testemunho material da sociedade a ser pesquisada.
e) das ciências naturais, que criaram signos para designar vocábulos inventados, para
dar nomes aos atos, às crenças e aos diversos aspectos da vida humana em
sociedade.
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7. (BIORIO) ―Constitui um documento toda fonte de informação de que o espírito do
historiador sabe extrair alguma coisa para o conhecimento do passado humano,
considerado sob o ângulo da questão que lhe foi proposta. É perfeitamente óbvio que é
impossível dizer onde começa e onde termina o documento; pouco a pouco, a noção se
alarga e acaba por abranger textos, monumentos, observações de todo o gênero‖
(Marrou. Henri-Irénée. Sobre o conhecimento Histórico. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1978. p. 62).
Assinale a opção que melhor interpreta a concepção de documento presente na
citação acima:
a) os documentos do Estado devem ser considerados pelos historiadores como fonte
privilegiada para a construção do conhecimento.
b) o historiador deve considerar o documento como fonte de realidade objetiva.
c) o historiador deve manter uma relação ativa frente ao documento mediante a
formulação de hipóteses.
d) a existência do documento é a única condição necessária para a elaboração do
conhecimento histórico.
e) o documento é uma fonte confiável desde que ofereça ao historiador relatos do que
realmente aconteceu.
8. (FUNCAB) A obra organizada por Peter Burke, A escrita da história:novas perspectivas ,
ressalta que ―a historiografia no século XX questionou o caráter e a limitação das fontes
oficiais, a imputação de uma objetividade que lhe era creditada pelo fato de se constatar
sua autenticidade‖.(...) ―Ao começarem a fazer novos questionamentos sobre o passado
para escolher novos objetos de pesquisa, necessitam buscar outros tipos de fontes para
suplementar os documentos oficiais‖. De acordo com o texto e com seus conhecimentos
sobre o assunto, marque a opção que corresponde à perspectiva apresentada.
a) A Nova História chama atenção para a importância da história oral e reforça a
impossibilidade de uma nova leitura dos documentos oficiais, que por sua vez
mostram-se ineficientes sob esta perspectiva.
b) Os fatos históricos que não foram registrados em documentos, gravados ou escritos,
não devem ser investigados, pois somente as fontes oficiais têm credibilidade
histórica.
c) A cada problema histórico corresponde um tipo único de documentos, especializado
para esse uso.
d) A utilização de imagens como fonte histórica é melhor aproveitada pelos estudiosos
que investigam a história antiga.
e) O reconhecimento da subjetividade inerente à escrita da história e a valorização da
vida cotidiana, ou da história ―vista de baixo‖, corroboraram para o aumento das
possíveis fontes a serem investigadas pelo historiador.
9. (FCC) Segundo o historiador francês Jacques Le Goff, a
...matéria fundamental da história é o tempo; portanto, não é de hoje que a cronologia
desempenha um papel essencial como fio condutor e ciência auxiliar da história. O
instrumento principal da cronologia é o calendário, que vai muito além do âmbito do
histórico, sendo mais que nada o quadro temporal do funcionamento da sociedade. O
calendário revela o esforço realizado pelas sociedades humanas para domesticar o
tempo natural (...). Porém, suas articulações mais eficazes (...) estão ligadas à cultura
e não à natureza. (Le Goff, Jacques. História e Memória. Trad. 3.Ed. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1994, pp.12-13)
De acordo com esse autor, é correto afirmar que
a) o calendário e as cronologias, por estarem vinculados à ideologia dominante,
representam uma falsa ideia do passado, e não devem ser levados em conta pelos
historiadores, que buscam desvincular seus conhecimentos das contagens artificiais
do tempo.
b) o calendário e as cronologias tornaram-se, também, objetos de estudo e análise por
parte dos historiadores, já que expressam as vinculações míticas, religiosas,
tecnológicas, políticas, econômicas, sociais e mesmo ideológicas a partir do estudo
do passado.
c) o historiador, que possui o compromisso com a verdade do passado, deve assumir a
tarefa de elaborar os calendários e cronologias utilizados em sua sociedade, já que
os riscos de manipulação dos fatos por outras pessoas é muito grande.
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d) os historiadores deixaram de se preocupar com calendários e cronologias desde o
surgimento da Escola dos Annales francesa, à qual pertence Jacques Le Goff,
passando a valorizar as diversas abordagens dos fatos e processos do passado.
e) a constatação de que cada cultura possui seu próprio sistema de contagem de tempo
levou os historiadores a adotarem um padrão mundial único de calendário e
cronologia, atualmente seguido por todas as sociedades e culturas.
10.(FCC) A Escola Metódica se constitui de um conjunto de historiadores fortemente
marcados pela derrota na guerra franco-prussiana de 1870 e pela pesquisa histórica
alemã, fatores que muito influenciaram o pensamento histórico na França no contexto
da III República (1870-1940). A derrota do exército francês marca, além de um trauma
na história do país, uma ruptura na historiografia do período, conferindo à nação não só
a necessidade de uma segunda origem, que suplantasse o fracasso militar, mas também
a de novas formas de representar a história nacional, fundando ou refundando
identidades. A influência do pensamento histórico alemão está no fato de muitos dos
principais historiadores franceses do período terem realizado seus estudos na Alemanha.
(Pedro P. A. Funari; Glaydson José da Silva. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008, p.34)
O conhecimento histórico e o texto permitem afirmar que os metódicos:
a) levantaram documentos oficiais para provar que os acontecimentos se realizam nas
esferas coletivas da sociedade.
b) romperam com os textos e com os fatos, relacionando o exercício do historiador ao
domínio de novas técnicas de pesquisa.
c) desenvolveram uma historiografia voltada para a história nacional, cuja preocupação
maior é o ideal de identidade da nação.
d) criticaram seus predecessores pela ausência da imparcialidade na leitura das
interpretações escritas que investigaram.
e) defenderam a premissa de que a História tem na revolução sua força motriz e nas
bases materiais o seu principal fundamento.
11.(UPE) Sobre o processo histórico, considere as seguintes proposições:
I. O ponto de partida para se entenderem os processos históricos é os registros ou
evidências de lutas dos agentes históricos.
II. O processo histórico constitui-se de práticas ordenadas e estruturadas de maneira
racional.
III. A história, concebida como processo, busca aprimorar o exercício da problematização
da vida social como ponto de partida para investigação produtiva e criativa.
IV. As contextualizações anacrônicas são imprescindíveis para a compreensão das
explicações que compõem o processo histórico.
Estão corretas:
a) somente I, II e III.
b) somente I, II e IV.
c) somente I, III e IV.
d) somente III e IV.
e) I, II, III e IV.
12.(FCC) (...) essa corrente historiográfica defendia que toda a História era uma história
dos homens no tempo e, com ela, a organização da pesquisa histórica passou a ser
definida mais pelos seus objetos do que pela cronologia dos fatos políticos e
institucionais. (In. Leandro Karnal (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.)
Considerando as diversas tendências historiográficas do século XX, o texto identifica a:
a) História do Tempo Presente.
b) História da Vida Privada.
c) História Metódica.
d) Escola Positivista.
e) Escola dos Annales.
13.(UPE) ―Existe o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o
presente das coisas futuras‖ (Santo Agostinho)
Sobre tempo e história, não é correto afirmar que:
a) a compreensão do tempo histórico deve sempre estar atrelada a sua linearidade,
para simplificar e enriquecer a análise.
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b) uma das tarefas do historiador, sujeita a polêmicas e contrapontos, é a de
estabelecer as relações temporais entre as experiências humanas.
c) para organizar sua vida cultural e suas relações sociais, o ser humano precisa estar
ligado a uma ideia de duração temporal.
d) o tempo do calendário – os dias, os meses, os anos – é o tempo objetivo, com a
mesma validade para todas as sociedades.
e) a periodização, ao traçar fronteiras entre as épocas, talvez dê ao homem a grande
ilusão de que é o senhor da sua história e de que o tempo é mais uma das suas
invenções incríveis.
14.(FCC) O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o
conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se
transforma e aperfeiçoa.
(Marc Bloch. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Trad. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.75)
Assinale a alternativa que expressa a visão do autor sobre o passado.
a) O passado pode ser modificado através da escolha de documentos estudados.
b) A História define o passado como um dado rígido, que não se altera ou modifica.
c) Os temas do presente condicionam e delimitam o retorno, possível, ao passado.
d) O passado é o objeto da ciência e a História é a ciência do passado remoto.
e) A História é a ciência que se apoia em fatos, grandes nomes e heróis.
15.(AOCP) O conhecimento histórico possui como característica básica, a sua própria
historicidade. Sobre o significado da afirmativa acima, assinale a alternativa incorreta.
a) Há um olhar crítico para a História produzida, uma constante retificação das versões
produzidas por historiadores de tempos em tempos.
b) A historiografia é compreendida como o conjunto de estudos históricos; o conjunto
das variadas formas de escrever e pensar a História.
c) A historiografia muda de tempos em tempos, dificultando a ampliação do
conhecimento teórico da disciplina.
d) O olhar crítico para a produção do conhecimento histórico ao longo do tempo permite
entender as transformações ocorridas na historiografia.
e) Historiadores e filósofos, desde a Antiguidade, esforçaram-se em encontrar meios de
definir o que é e como se processa o conhecimento histórico.
16.(UPE) O conhecimento historiográfico é essencial na formação de um historiador,
pois possibilita a construção de uma percepção acerca do fazer historiográfico e
histórico. Sobre determinadas vertentes da Historiografia, analise as informações
abaixo:
I. Com caráter humanista e defesa da História enquanto preservação da
memória, tem em Tucídides um dos seus representantes.
II. Surgida no século XIX, prega uma História linear e factual.
III. Defende a Luta de Classes como agente modificador da História.
As sentenças acima fazem referência, respectivamente, às correntes historiográficas:
a) Cortesã, Historicista e Marxista.
b) Cristã, Positivista e Historicista.
c) Clássica, Positivista e Marxista.
d) Romântica, Iluminista e dos Annales.
e) Clássica, Cristã e Positivista.
17.(CEPERJ) Embora tenham algumas divergências quanto a questões metodológicas e
epistemológicas relacionadas com suas respectivas interpretações dos fenômenos
históricos, tanto Marx quanto Febvre e Bloch acreditam que não se pode compreender o
passado fechando-se no seu próprio tempo. Eles ressaltam o compromisso do
historiador com seu próprio tempo, em contraposição à visão do pesquisador que
procura o passado pelo passado em si. A comparação acima aproxima duas importantes
vertentes da historiografia contemporânea, que são:
a) Materialismo Histórico e Positivismo.
b) História Demográfica e História Econômica.
c) História Econômica e Positivismo.
d) Materialismo Histórico e Escola dos Annales.
e) Positivismo e Escola dos Annales.
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OLHARES HISTÓRICOS
Cinema
A Vida é Bela (Itália, 1997. 116 min.). Direção de Roberto Benigni.
Na Itália dos anos 40, Guido levado para um campo de concentração
nazista e tem que usar sua imaginação para fazer seu pequeno filho
acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o
intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cercam. Uma
excelente obra, que através da relação entre pai e filho mostra os
pavores da Segunda Guerra Mundial.
Nós que aqui estamos por vós esperamos
Direção de Marcelo Masagão. (Brasil, 1999. 73 min). Filme de memória sobre o século XX, a
partir de recortes biográficos reais e ficcionais de personagens que viveram no século
passado.
Livros
Apologia da História ou o ofício do historiador.
Zahar, 2002.
Marc Bloch. Rio de Janeiro: Jorge
Memória e sociedade: lembrança de velhos. Ecléa Bosi.
Letras, 1998.
São Paulo: Companhia das
História e Memória. Jacques Le Goff. Trad. Suzana Ferreira Borges, Bernardo Leitão e
Irene Ferreira. 5 ed. Campinas: ed. Da Unicamp, 2003.
Música
Tudo passa. Composição de Túlio Dek.
A música faz uma abordagem bastante significativa sobre as efemeridades das ações
humanas e sua fugacidade. Além disso, há uma alusão as mudanças tão presentes na
história de cada um de nós.
Revistas
Aventuras na História. São Paulo: Editora Abril.
Em linguagem com caráter jornalístico, a revista traz, mensalmente, artigos e temas
variados do conteúdo histórico
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Os primeiros passos da humanidade
A “Pré-história”: problemas conceituais
Para entender melhor as mudanças ocorridas com o ser humano e as sociedades no
decorrer do tempo, costuma-se fragmentar a História em partes ou períodos, elegendo-se
alguns acontecimentos como referências de cada um desses períodos. Vale salientar que os
critérios para delimitar esses períodos podem ser políticos, sociais, econômicos ou culturais.
É a partir dessa divisão do objeto do estudo que começa a atividade do historiador.
Tradicionalmente, a História é dividida em dois grandes períodos: Pré-História e História
propriamente dita. O critério para essa divisão baseia-se no fato de os povos terem domínio
ou não da escrita. Dessa forma, a Pré-História compreende entre o surgimento do homem
até as primeiras manifestações da escrita, por volta de 3500 a.C. Já a História engloba os
seguintes períodos: Antigo, Medieval, Moderno e Contemporâneo.
Vale ressaltar que os termos ―Pré-História‖ consistem numa convenção e só o usamos
nesta obra porque essa denominação sobre a qual ela se assenta é um elemento puramente
didático, sendo assim, facilitador dos estudos históricos.
Essa divisão adota uma postura preconceituosa. As sociedades ―pré-históricas‖ ou
primitivas são geralmente definidas de maneira igualmente negativa, a partir do critério da
falta: sociedade sem Estado, sem escrita, sem história, sem tecnologia. Numa visão
marxista, pode-se afirmar que a economia desse período baseava-se numa economia de
subsistência, sem produção de excedentes, ou seja, sem comércio. Portanto, trata-se de
visão tendenciosa e anacrônica.
O papel do trabalho na evolução humana
Nossos parentes mais antigos são denominados de antropóides. Eles habitavam em
cavernas e tinham grandes semelhanças com os primatas, inclusive seu jeito de caminhar.
Seu fóssil foi encontrado na África. Achados arqueológicos estimam que os primeiros
hominídeos viveram há aproximadamente 3,5 milhões de anos. No decorrer dos tempos, o
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ser humano conseguiu ultrapassar barreiras e limites naturais para produzir sua história. O
ser humano tornou-se capaz de transformar o ambiente que o cercava, além de adaptar-se
a ele. Foi capaz de entender a natureza e, por meio do trabalho, transformá-lo em favor de
sua sobrevivência.
Relacionando-se com outros seres da espécie, ele acumulou e reproduziu conhecimentos
ao longo do tempo, tornando esse domínio eficaz e produtivo.
Podem-se citar transformações relevantes como condicionantes para o desenvolvimento
natural da espécie humana e adaptação aos múltiplos meios naturais: a posição ereta, uma
vez que dá maior liberdade à mão; ampliação da visão; aumento gradativo da capacidade
craniana; o domínio de uma linguagem articulada, que possibilitou a difusão e troca de
saberes.
―O trabalho assim concebido – ação deliberada sobre o meio, caracterizada e dirigida pela
inteligência e pela capacidade de abstração e formulação de conceitos – nada tem a ver com
as atividades que realizam outros animais, como as abelhas ou as formigas. O trabalho
humano não é ação sobre o meio realizada de forma instintiva ou mecânica, mas processo
complexo de aprendizagem, onde o homem não se limita a repetir ações e processos, como
os outros animais, mas desenvolve técnicas e tecnologia que lhe são úteis. Ou seja, o
homem se diferencia pois cria suas próprias ferramentas e sua ação não se limita a
modificar os materiais que encontra disponíveis na natureza. Desde os primeiros tempos
da humanidade houve uma divisão do trabalho, que no início se dava em função de
características fisiológicas, como gênero, idade, força física etc. Mas, à medida que o trabalho
se diversificava e se tornavam mais complexas a técnica e a tecnologia, essa primeira divisão
do trabalho foi sendo superada pela divisão entre o trabalho material e o trabalho intelectual.
Passava a haver, quanto à função imediata do indivíduo no meio social, um trabalho realizado
pela mente e um trabalho realizado pelas mãos, sendo o primeiro entendido como afastado
da prática humana, um produto da consciência humana e não de um órgão. Cada indivíduo
ficou limitado a esferas profissionais particulares, exclusivas, não devendo sair delas, sendo
unicamente caçador, operário, professor ou administrador. Com essa divisão, o trabalho e
seus produtos passaram a ser, qualitativa e quantitativamente, distribuídos de forma
desigual.‖
SILVA, Michel. O macaco e o trabalho. Artigo extraído da Revista Urutágua. UEM –Paraná: nº14; dez/2007.jan/fev/mar de
2008. Quadrimestral. Disponível em http://www.urutagua.uem. br/014/14silva_michel.htm.
Acesso em 29 de dezembro de 2007.
As origens dos homens
Há duas hipóteses principais que tentam explicar a alvorada do homem. A primeira se
baseia na imagem de Adão e Eva, é defendida pelos criacionistas; a outra é a teoria da
evolução proposta por Charles Robert Darwin.
Segundo os criacionistas, o mundo e a humanidade são criações de Deus, de acordo
com o relato do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis. Adão e Eva são considerados os
primeiros seres humanos segundo os seguidores dessa hipótese.
―No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas
sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus:
Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as
trevas. (...) E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e
sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à
sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e
Deus lhes disse: Frutifcai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os
peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.‖
Gênises. Cap. ; 1 Versículos:1-4;26-28. Texto extraído da Bíblia Sagrada. Edição atualizada, 2002.
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Em confronto ao criacionismo, a teoria evolucionista ou darwinismo afirma que o homem
e os demais seres vivos se originaram de estrutura orgânica mais simples, que sofreram
modificações ao longo do tempo. Atualmente, o evolucionismo se tornou, para as pesquisas
genéticas, um dos pontos principais do pensamento contemporâneo.
Essa teoria deixou muita gente indignada no século XIX. Principalmente os que
aceitavam a versão bíblica. Darwin expôs em sua obra, ―A Origem das Espécies‖,
questionamentos sobre muita coisa aceita no seu tempo. O estudo dos fósseis de ossadas
demonstrou que o hominídeo não surgiu de repente. Houve, dessa forma, processo
evolutivo a partir de um animal primata.
―Charles Robert Darwin nasceu na Inglaterra em 1809 e desde cedo interessou-se pelas
ciências naturais. Em 1825 foi para Edimburgo estudar medicina, mas logo abandonou o
curso. Matriculou-se então no Christ‘s College, em Cambridge, decidido a tornar-se clérigo.
Ali fez amizade com o botânico John Stevens, cuja influência foi decisiva apara que Darwin
fosse convidado a participar, como naturalista, da viagem de circunavegação do navio Beagle,
promovida pelo Almirante britânico.
Realizada entre 1831 e 1836, a viagem deu suporte às pesquisas iniciais de Darwin sobre
a origem das espécies, Ele pôde verificar como as espécies aparentadas apresentavam
características distintas, de uma região para outra. Notou ainda que entre as espécies
extintas e as atuais existiam traços comuns, embora diferenciados. Tais fatos levaram-no a
supor que os seres vivos não são imutáveis. Mas se transformam, tal conclusão abalou
convicções religiosas, a ponto de, por mais de duas décadas, ele recusar a apresentá-la.
Sua obra Sobre a origem das espécies por de seleção natural ou a conservação das raças
favorecidas na luta pela vida, publicada em 1859, colocou-o no centro de acirradas
polêmicas. Darwin morreu em conseqüência de um ataque cardíaco em 19 de abril 1882.‖
BRAICK, Patrícia Ramos. História. São Paulo: Moderna, 2007. Volume único
Darwin expôs em sua obra, ―A Origem das Espécies‖,
questionamentos sobre muita coisa aceita no seu tempo. O
estudo dos fósseis de ossadas demonstrou que o hominídeo
não surgiu de repente.
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A evolução biológica da espécie
O antepassado mais antigo do homem, conhecido como Driopithecus, viveu entre 26 e 9
milhões de anos atrás. Por volta de 15 milhões de anos atrás, integrantes dessa espécie
começaram a andar sobre as patas traseiras.
Aos primatas bípedes dessa espécie os cientistas deram o nome de hominídeos. O
hominídeo mais antigo de que se tem notícia é o Australopithecus. Esses seres viviam em
hordas em cavernas da África, coletando alimentos na natureza. Outros indivíduos da
família dos hominídeos pertenciam ao gênero Homo. Há cerca de 2 milhões de anos, viveu o
Homo habilis, que desenvolveu habilidades para manejar instrumentos de pedra e
introduziu a carne em sua alimentação. Depois de 500 mil anos, surgiu o Homo erectus, que
construía seus próprios abrigos, dominava o fogo
e era capaz de articular sons.
Há cerca de 350 mil anos, surgiu o Homo sapiens. Os indivíduos desse grupo reuniam-se
em bandos de caçadores, introduziram rituais religiosos e, provavelmente, já se
expressavam por meio da fala.
Outro ramo, surgido há 100 mil anos – o do Homo sapiens sapiens –, aperfeiçoou as
técnicas de confecção dos instrumentos de caça e produziu diversas obras de arte, com
sentido religioso ou com o objetivo de comunicar-se.
―O ser humano resulta da longa evolução do universo e da vida que, há aproxi-madamente
15 bilhões de anos, impulsiona no sentido de uma complexidade crescente: os átomos, as
moléculas, as estrelas, as células, os seres vivos e nós, humanos, que não cessamos de
perguntar-nos de onde viemos...todos unidos, como os elos de uma mesma cadeia, do big
bang até a inteligência humana. Descendemos, assim, não só de ,macacos e bactérias, mas
também de estrelas e galáxias.‖
CLOTTES, Jean. A mais bela história do homem – De como a Terra se tornou humana. Rio de Janeiro: Difel, 2002. Contracapa.
Os grandes períodos da “Pré-história”
A Pré-História é subdividida em três períodos: Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada;
Neolítico ou Idade da Pedra Polida e Idade dos Metais.
I. Paleolítico: o início da caminhada humana
O Paleolítico se estendeu de 4 milhões de anos atrás até por volta de 8000 a.C., período
no qual os homens pescavam, caçavam e coletavam seu alimento na natureza e começaram
a produzir armas e instrumentos de caça. Os hominídeos desse período formavam, portanto, uma sociedade de coletores e caçadores, os quais viviam em grupos e compartilhavam coletivamente o espaço e o trabalho. Esse período também é conhecido como Pedra
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Lascada, uma vez que alguns instrumentos fabricados eram feitos grosseiramente de pedra.
Os hominídeos desse período também usavam instrumentos feitos de madeira, ossos e
dentes de animais.
Os grupos humanos dessa etapa da evolução humana eram nômades. As adversidades
climáticas e o condicionamento à natureza justificam essas migrações sucessivas. No
entanto, não se pode desprezar as descobertas dessa época. O controle do fogo possibilitou
o aquecimento durante o frio, a defesa contra os animais e o cozimento dos alimentos.
Nos últimos 100 mil anos do paleolítico, o homem primitivo aperfeiçoou vários artefatos,
num processo de permanente elaboração cultural que deu origem ao arco, à fecha, às
lanças e aos diversos utensílios feitos de argila, ossos e dentes. Somado a isso, as
transformações do ambiente terrestre se refletiram nos costumes dos homens, auxiliando
para a fixação de alguns grupos em certas regiões.
Esse período de mudanças é designado de Mesolítico e representa a transição para o
Neolítico. A pesquisa sobre as sociedades dessa etapa histórica pode ser realizada baseada
em instrumentos e armas nas magníficas pinturas rupestres.
―Por muito tempo os antropólogos preocuparam-se em definir a cultura como uma atividade
exclusivamente humana, um pressuposto que com certeza condicionou suas escolhas. Hoje
em dia sabemos que muitos animais têm uma cultura, fazem invenções e descobertas e as
transmitem aos descendentes. A preocupação dos antropólogos foi, portanto, superada pelos
acontecimentos: os homens não possuem o monopólio da cultura. Mesmo não sendo os
únicos seres culturais, ainda somos os mais culturais; é uma supremacia garantida pelo
incrível desenvolvimento da linguagem humana, sem dúvida muito superior à de outros
animais e que permite a melhor comunicação até agora possível na natureza.‖
CAVALLI-SFORZA, Luca; CAVALLI-SFORZA, Francesco. Quem somos? História da diversidade humana.
São Paulo: Unesp, 2002. p.275.
II. A Revolução Neolítica
No início do período Neolítico (entre 10.000 e 5000 a.C.), os grupos caçadores e
coletores já dispunham de relativa bagagem cultural. Nesse período, o homem aperfeiçoou
seus instrumentos, passou a criar animais e cultivar produtos agrícolas. Isso lhe permitiu
deixar o nomadismo e iniciar a vida sedentária. Esse desenvolvimento foi tão extraordinário
que recebeu o nome de ―revolução neolítica‖. Esse evento, também conhecido como
―Revolução Agrícola‖, resultou em amplas metamorfoses do homem sobre a natureza. A
partir desse acontecimento os homens se tornam seres dominantes da natureza.
As experiências lhes ensinaram a identificar quais os animais podiam caçar e quais
plantas eram comestíveis. Além disso, aprenderam a construir canoas, jangadas e barcos,
importantes para suas migrações. A trituração dos alimentos e o polimento de seus
instrumentos de pedra, criando instrumentos mais resistentes também fazem parte desse
leque de conquistas coordenadas pelo homem no Neolítico.
Nesse período, a população cresceu e surgiram as aldeias, onde se concentrava o poder
político e religioso. O trabalho passou a ser dividido.
III.
Idade dos metais
A partir da descoberta da fundição (5000 a.C.), começou a Idade dos Metais. Os
primeiros objetos foram fundidos em cobre, ao qual se acrescentou depois o estanho –
originando o bronze. Há 3500 anos, iniciou-se a fundição do ferro, que substituiu a pedra na
confecção de armas. A partir daí, as cidades cresceram em regiões do Egito e do Oriente e
começaram a surgir os primeiros registros escritos – marcos da passagem para a História.
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TEXTO COMPLEMENTAR
Texto 1
Os Homens e seus instrumentos
O aparecimento do homem sobre a Terra é indicado pelos instrumentos que ele fez. O
homem necessita de instrumentos para suplementar as deficiências de seu equipamento fisiológico na obtenção de alimento e abrigo. Pode fabricar tais ferramentas pela
correlação delicada entre mão e olho, só possibilitada pela constituição de seu cérebro e
sistema nervoso. As primeiras ferramentas foram, presumivelmente, pedaços de
madeira, osso ou pedra, levemente aguçados ou acomodados à mão pela quebra ou
lascagem. Se feitas de madeira, terão desaparecido. As mais antigas ferramentas de
pedra são normalmente indistinguíveis dos produtos da fratura natural (pedra rachadas
pelo congelamento ou calor, ou espedaçadas pelos choques com os cascalhos do rio).
Gordon Childe, A evolução Cultural do Homem. Rio de Janeiro. Zahar. Pág. 61.
Analisando o texto
1. Descreva qual a importância da fabricação de instrumentos pelo homem.
2. Compare uma ferramenta moderna, usada no seu dia-dia, com uma ferramenta do
homem no início da História.
3. Relacione a capacidade de criar artefatos ao processo de humanização.
Texto 2
O aquecimento global pode obrigar o homem a viver nos pólos.
seria uma volta ao gelo, onde nasceu a cultura humana.
No cenário mais catastrófico do aquecimento global, traçado pelo cientista inglês James
Lovelock, a humanidade precisaria migrar para os pólos e para o alto das montanhas,
onde a neve e o gelo remanescentes garantiriam um clima mais frio no verão. Seria uma
espécie de volta ao berço. Foi no clima rigoroso da última glaciação na Europa, que só
terminou 11500 anos atrás, que o homem moderno desenvolveu os conceitos de família,
de religião e de convivência social, os alicerces da civilização atual. Sabe-se disso porque
os homens da Idade do Gelo deixaram espetaculares evidências arqueológicas de uma
revolução criativa, iniciada há mais de 30000 anos.
Veja.Duda Teixeira. Reportagem extraída da edição publicada no dia 11 de abril de 2007.
Analisando o texto
1. Qual a relação que a repórter faz alusão no texto entre aquecimento global e o início da
história humana?
2. Faça um comentário sobre o domínio do homem sobre a natureza e suas inevitáveis
conseqüências.
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FAZENDO HISTÓRIA
1. Para alguns estudiosos, a história da humanidade só começou a partir da descoberta da
escrita, que as sociedades ―pré-históricas‖ não conheciam. Dê sua opinião sobre essa
afirmação.
2. Explique as principais atividades realizadas pelo homem paleolítico para garantir a sua
sobrevivência.
3. Explique o que foi a Revolução agrícola do Neolítico e qual sua importância para o
desenvolvimento das sociedades humanas.
4. Para o historiador Felipe Fernandez-Armesto, a definição de ―natureza humana, se é
apropriado falar em tal coisa, não está fixada: mudou no passado e poderia mudar de
novo‖ (Então você que é humano?: uma breve história da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.156).
Tendo como referencial essa declaração e as informações do capítulo, apresente os
principais argumentos que podem justificar essa concepção.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) Entre os nômades, o trabalho não tem o mesmo valor que nas sociedades
agrárias. Os índios Ianomâmi, da Amazônia desenvolvem suas atividades, em média,
três horas por dia e não valorizam o trabalho nem o progresso tecnológico. Os Guai
aqui, caçadores nômades da floresta paraguaia, passam, pelo menos, metade do dia em
completa ociosidade. Quanto ao desenvolvimento social, do pensar e do fazer dos
primeiros humanos, é correto afirmar que a:
a) produção de novas ferramentas de pedra polida foi a transformação mais importante
ocorrida nesse período.
b) fabricação de ferramentas e a utilização do fogo evidenciam que a sobrevivência
humana não está diretamente relacionada à adaptação cultural do homem.
c) abundância de recursos animais e vegetais promoveu a sedentarização do homem.
d) capacidade de conseguir mais alimentos deu ao homem menor controle sobre o meio
ambiente.
e) troca da caça e da coleta pela agricultura ocorreu de maneira súbita.
2. (FCC) Observe a figura.
Segundo especialistas, como arqueólogos e antropólogos, uma das razões que
levaram as pessoas da pré-história a retratar figuras como as da imagem acima foi,
provavelmente,
a) a necessidade de deixar vestígios e proteger suas habitações.
b) a falta de símbolos gráficos, ligada ao excesso de misticismo.
c) o desconhecimento da escrita, relacionado a ideias religiosas.
d) a caça como atividade lúdica e modo de enfeitar a moradia.
e) a preocupação pela sobrevivência, associada a ritos mágicos.
3. (FUNCAB) ―A expressão Revolução Neolítica foi criada pelo arqueólogo inglês Gordon
Childe para designar o movimento que, na ―Pré-História‖, substituiu o nomadismo de
certas populações humanas pela sedentarizarão. Essas sociedades desenvolveram
técnicas de cultivo agrícola e de armazenagem de alimentos.‖ (Adaptado da Wikipedia)
Sobre o surgimento e a expansão da agricultura, pode-se afirmar que:
a) foram posteriores ao aparecimento do Estado e da escrita, pois esses elementos já
existiam no Período Paleolítico.
b) ocorreu no Oriente Próximo (Egito e Mesopotâmia) e daí se difundiu para o Extremo
Oriente, Europa e América.
c) teve origem na China e, como tantas outras invenções, alcançou a Europa e desta
passou à América.
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d) ocorreu, em tempos diferentes, no Oriente Próximo (Egito e Mesopotâmia), na Ásia
Oriental (Índia e China) e na América (México e Peru).
e) pouco contribuiu para o ulterior desenvolvimento dos grupos humanos, ao contrário
do que ocorreu com a metalurgia e o comércio.
4. (UFPB) As relações entre as explicações míticas e as científicas encontram, na
origem da espécie humana, um dos pontos fundamentais e controvertidos. Sobre tais
explicações, leia as afirmativas.
I. O livro do Gênesis estabelece, sobretudo para as tradições religiosas judaicocristãs, o mito do Éden, no qual viviam Adão, criado por Deus e feito à sua
semelhança, e Eva, criada também por Ele a partir de uma costela de Adão.
Desse casal, descenderiam todos os homens. Os partidários dessa explicação são
chamados de Criacionistas.
II. O livro ―A Origem das Espécies‖, de autoria do naturalista inglês do século XIX,
Charles Darwin, estabelece, nas tradições modernas, a consolidação de uma
explicação científica sobre o aparecimento da vida e o surgimento do homo
sapiens, que seria resultado das mutações genéticas adaptativas de símios. Essa
explicação ficou conhecida como Evolucionista.
III. O conhecimento histórico, baseado nas concepções científicas, demarca o
aparecimento da espécie humana no período Paleolítico ou Idade da Pedra
Lascada, ao que se segue o período Neolítico ou Idade da Pedra Polida e depois o
período da Idade dos Metais, que, reunidos, compõem a chamada ―Pré-história‖.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas I e II.
d) apenas II e III.
e) I, II e III.
5. (UFRR)
O CRU E O COZIDO:
OS MITOS SOBRE A ORIGEM DO FOGO.
O antropólogo Claude Lévi-Strauss propôs certa vez que o conhecimento e uso do fogo
constituíssem o divisor de águas entre a natureza e a cultura. Isto é, por meio do fogo,
o homem afasta-se da natureza, desenvolve técnicas mais avançadas e, mais
importante ainda, distingue-se em relação à natureza e aos animais. Neste sentido,
haveria uma oposição básica entre os alimentos crus e os alimentos cozidos, sendo
estes últimos tomados também, como índice de identificação entre as comunidades
tribais atuais.
Sobre o conhecimento do fogo, marque a alternativa correta:
a) O domínio do fogo possibilitou ao homem do Paleolítico melhorar a alimentação com
mais variedade de carne assada e verduras cozidas.
b) A conquista e domínio do fogo provocaram uma revolução na vida dos ―homens e
mulheres‖ do Neolítico.
c) A conquista e domesticação do fogo significaram um processo de humanização,
aquecimento do corpo contra o frio, espantar os animais perigosos e cozinhar os
alimentos.
d) O domínio do fogo elevou o homem ao estágio de civilização.
e) O fogo foi a grande descoberta do homem do paleolítico, mas isto não o tornou
diferente dos outros animais deste período e nem mudo a alimentação.
6. (UPE) A sobrevivência humana foi alvo de muitas aventuras, acompanhadas de
especulações sobre a formação das instituições sociais e a necessidade de ultrapassar
dificuldades cotidianas. Nas suas relações com a natureza, a sociedade humana
historicamente:
a)lutou para transformá-la, sendo responsável pela elaboração de regras consequentes
do ponto de vista ecológico.
b)superou grandes obstáculos, com suas invenções culturais, conseguindo vitórias
importantes e usando sua criatividade.
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c) equilibrou seus feitos culturais com suas instituições sociais, garantindo espaços
significativos para a vida social.
d) foi ousada nas suas ações, mas restringiu o valor do comportamento individual nos
tempos modernos.
e) manteve hábitos de sua vida animal de forma permanente, conseguindo afirmar sua
superioridade sem atropelos.
7. (UPE) Sobre História, Natureza e Cultura, analise as proposições abaixo.
I. Quando cria e recria o mundo, construindo e reconstruindo maneiras de viver cada
vez mais complexas transmitidas de geração para geração, o homem faz história.
II. Quando começou a transformar a natureza, o homem criou os alicerces
fundamentais da cultura e deu início à história.
III. Mitos, lendas, deuses são as diversas maneiras que as sociedades humanas
inventaram para explicarem o surgimento do mundo e das coisas.
IV. Um dos aspectos mais importantes para compreendermos as diferentes trajetórias
dos homens é a relação entre história e cultura.
Estão corretas:
a) I e III, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
8.
(UPE) Sobre a relação homem e natureza, assinale a alternativa incorreta.
a) A evolução orgânica do homem foi suficiente para lhe garantir as condições de
enfrentar os desafios da natureza com absoluto sucesso.
b) Quando o homem começou a transformar a natureza, ele deu início à história e criou
os alicerces fundamentais da cultura‖.
c) Com habilidade e inteligência, o homem procurou inventar instrumentos capazes de
aumentar suas possibilidades de uma existência social mais segura.
d) Um dos aspectos mais importantes para compreendermos as diferentes trajetórias
dos homens é a relação entre história e cultura.
e) Ao assumir a postura ereta, o homem pôde desenvolver suas habilidades manuais,
as quais estimularam o aumento da capacidade cerebral para armazenar e associar
informações.
9. (UFPB) Embora tenha como objeto de estudo as experiências humanas do passado, o
conhecimento histórico reflete os interesses do tempo presente. Por isso, os
historiadores utilizam-se de idéias e noções elaboradas pela biologia, antropologia,
sociologia, etc. que possam responder às curiosidades de seus contemporâneos. Duas
importantes teorias explicativas da origem do homem marcaram as obras dos
historiadores de modo especial: Criacionismo e Evolucionismo.
Sobre essas teorias, associe a cada uma delas suas respectivas características.
(1) Criacionismo
( ) obra do acaso
(2) Evolucionismo
( ) darwinismo
( ) plano divino
( ) gênesis
( ) big bang
A seqüência correta é
a) 1, 2, 1, 2, 1.
b) 1, 2, 1, 1, 2.
c) 2, 1, 1, 2, 1.
d) 2, 2, 1, 1, 2.
e) 1, 1, 2, 2, 1.
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OLHARES HISTÓRICOS
Cinema
2001: Uma odisséia no espaço (Estados Unidos/Inglaterra, 1968).
Direção de Stanley Kubrick. 148 min.
O filme mostra um monólito negro que aparece em dois momentos
cruciais da história humana: o domínio das ferramentas e a era espacial.
A sequencia inicial do filme representa os primeiros momentos da espécie
humana no planeta.
A evolução da humanidade: armas, germes e aço (Estados Unidos, 2005).
Documentário produzido pela National Geographic, baseado no livro homônimo de Jared
Diamond. 159 min.
A Guerra do Fogo (França/Canadá, 1981). Direção de Jean Jacques Arnaud. 97 min.
Filmado no Quênia, na Escócia, na Islândia e no Canadá. A história gira em torno da
descoberta do fogo em uma tribo pré-histórica.
O Elo Perdido (Estados Unidos, 1988). Direção de Carol e David Hughes. O filme narra a
fuga de um hominídeo cujo grupo foi dizimado por humanos. 88 min.
Livros
Aventura da escrita – história do desenho que virou letra. Lia Zatz. 2 ed. São Paulo:
Moderna, 2002.
A Pré-História. Antonio Carlos Olivieri. 14 ed. São Paulo, Ática, 2004.
Armas, germe e aço. Jared Diamond. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Charles Darwin: a Revolução da Evolução. Rebecca Stefoff. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
Sites
Arte Rupestre
Site em espanhol que contém uma introdução sobre a arte rupestre no mundo, com
ilustrações e mapas de localização. Disponível em: www.rupestreweb.info
Museu de Arqueologia e Etnologia
O site fornece informações gerais sobre os assuntos, além de divulgar as exposições e
atividades realizadas no MAE. Disponível em: www.mae.usp.br
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O povoamento da América e os primeiros
habitantes do “Brasil”
As várias hipóteses sobre a chegada do Homem à América
Diversas pesquisas arqueológicas indicam que a América começou a ser povoada por
volta de 20 mil anos atrás, no entanto, alguns arqueólogos e geólogos estipulam que essa
ocupação possa ter ocorrida há 20 mil, 30 mil ou até há 50 mil anos. Os primitivos
habitantes da América, incluindo o brasileiro, pertencem à espécie Homo sapiens Moderno,
originário da África. Mesmo com essas contradições quanto a datas, os arqueólogos têm
acessos a uma série de registros habitantes da América: restos de fogueiras, pinturas
rupestres, fósseis. Além disso, os maias, os astecas e os incas, deixaram pirâmides, templos
e estátuas.
PERIODIZAÇÃO DA “PRÉ-HISTÓRIA” AMERICANA
Paleolítico ou Paleoíndio
Neolítico ou Neoíndio
Produção de instrumentos feitos
de pedras e ossos;
Coleta sistemática de vegetais:
milho, batata, cacau, abóbora,
mandioca;
Caça e pesca;
Sedentarização e urbanismo;
Pinturas rupestres;
Confecção de cerâmica, cestaria,
tecidos e artefatos de pedra;
Desconhecimento da escrita;
Terras comunitárias;
Grupos heterogêneos;
Criação de animais: lhamas e
alpacas;
Regiões que apresentaram vestígios dessa fase: Chile; Argentina;
Brasil.
Regiões que apresentaram vestígios dessa fase: México, América
Central e Andes.
Há diversas hipóteses que buscam provar como ocorreu a chegada desse homem ao
continente americano.
I. Hipótese do autoctonismo
Os especialistas, atualmente, rejeitam a idéia de que o homem americano surgiu no
próprio continente, uma vez que não foi encontrado na América nenhum fóssil anterior ao
Homem Sapiens Moderno.
II. Hipótese da chegada pelo Pacífico
Segundo os defensores dessa teoria, o homem chegou à América através de
deslocamentos espontâneos navegando pelo Pacífico, saindo da Ásia, Polinésia ou Oceania.
Como esses deslocamentos se deram por via marítima, justificaria alguns traços étnicos
australoides e melanoides entre os primitivos americanos.
III. Hipótese da chegada pela Ásia: modelo Clóvis
De acordo com essa hipótese, os grupos humanos (mongolóides ou pré-mongolóides)
migraram da Ásia (Sibéria) e chegou ao solo americano através do Estreito de Bering
(região que separa a América do Norte da Ásia) há aproximadamente 12 mil ou 13 mil anos.
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No momento dessa travessia, o Estreito de Bering estava coberto por uma imensa camada
de gelo por causa da diminuição das águas do mar provocada pela última glaciação, que
fundou há 10 mil anos.
Essa teoria é a mais aceita entre os arqueólogos, os geólogos e os paleontólogos. Essa
hipótese é bem vista pela comunidade científica porque existe muita semelhança de DNA
entre os povos que habitavam ambos os continentes.
A maioria dos defensores dessa teoria sustenta que o Sítio Arqueológico de Clóvis,
situado no estado norte-americano do Novo México, se encontra o fóssil mais antigo, com
11.500 anos, que registra a presença do homem na América. No entanto, pesquisas atuais
refutam essa afirmativa.
IV. Hipótese da ocupação simultânea
Segundo as mais recentes descobertas no campo da arqueologia, o homem americano
fixou-se simultaneamente diversas regiões sul-americanas. Além do Brasil, em outras
regiões são observados registros da presença humana. No sítio de Monte Verde (Chile), na
Patagônia Argentina, pinturas rupestres, pontas de lanças e restos de fogueiras permitiram
ratificar a presença humana na América do Sul há mais de 11.500 anos.
―As discussões sobre o início do povoamento das Américas se parecem ainda frequentemente
com um debate entre ―crentes‖ e ―incrédulos‖ que digladiam diante dos olhos perplexos
dos que apenas procuram pesar os argumentos.(...) de qualquer forma, a opinião
arqueológica internacional começa a aceitar a idéia de que existiram no hemisfério sul
populações pelo menos tão antigas quanto(...) 11500 anos atrás, é preciso agora tornar
esta aceitação irreversível publicamente detalhada e criticamente os achados(...). Comprovada uma antiguidade de mais de 11000 anos na América do Sul, não haverá como negar a
existência de culturas(mais antigas) pelo menos no hemisfério norte.
ANDRÉ, Prous. O povoamento da América visto do Brasil: uma perspectiva crítica. Revista Usp,
São Paulo, n.34, p.20-1, jun-ago.1997.
Os habitantes da América
Uma das divergências mais marcante entre os especialistas sobre o surgimento do
homem americano relaciona-se quanto ao tempo de sua chegada. Até o fim da década de
1990, a hipótese mais aceita era a do Modelo Clóvis. Segundo essa teoria, o homem teria
chegado à América no máximo há 11.400 anos.
Entretanto, as pesquisas realizadas nas cavernas de Bluefsh, Canadá, dataram os
instrumentos feitos por seres humanos de 24 mil anos. Em Monte Verde (Chile), os
arqueólogos descobriram lareiras de argila e objetos de pedra com idade aproximada de 32
mil anos aproximadamente. Tal achado arqueológico provocou muito impacto entre os
estudiosos da área.
Para aumentar a polêmica sobre a possível data da chegada do homem ao continente
americano, a arqueóloga Niède Guidon e sua equipe acharam na Serra da Capivara(São
Raimundo Nonato, Piauí), os vestígios mais antigos concernente à presença humana na
América. Os fragmentos de fogueiras, machados e facas encontrados possuíam datação
que se aproximam a 48 mil anos.
―A teoria de Bering já está em xeque, porque a datação de 48 mil anos que obtivemos é
absolutamente certa. Não há erro possível: o homem estava em São Raimundo Nonato há
pelo menos 50 mil anos. As datas calculadas para entrada variavam entre 30 mil anos, a mais
antiga, e 5 e 12 mil anos, as mais recentes. (...) Uma hipótese com que trabalhamos é que a
América tenha sido colonizada por diferentes vagas populacionais, o que, em parte, explicaria
as diferentes datações (...) É possível que o homem antigo tenha chegado à América por
Bering (...), mas pode ter havido outras passagens. Outra hipótese é que o estreito de Bering
tenha estado a seco diversas vezes e que a passagem tenha ocorrido em mais de um
momento (...)‖
GUIDON, Niède. Nas pegadas do homem americano. Entrevista a Vera R. Costa. Ciência Hoje, v. 12, n.69, p. 51-52.
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887
Os sítios arqueológicos e Antiguidade da presença humana em território do
atual Brasil
 Lagoa Santa
As primeiras pesquisas arqueológicas realizadas no Brasil datam entre 1835 e 1845,
quando o naturalista dinamarquês Peter Lund encontrou fósseis nas grutas de Lagoa Santa,
município de Minas Gerais. Os esqueletos descobertos por Lund ficaram conhecidos como o
Homem de Lagoa Santa.
Em 1975, foi desenterrado em Lagoa Santa o crânio de uma mulher de 11.500 anos,
denominado de Luzia. O motivo desse nome é justificado em referência a Lucy, que consiste
em um dos fósseis mais antigos já descobertos pelos estudiosos.
A descoberta de Luzia simbolizou uma vitória para a arqueologia
brasileira. O crânio de Luzia foi encontrado em Lagoa Santa, Minas Gerais,
em 1975. No primeiro plano, crânio de Luzia. No segundo, reconstituição
de seu rosto.
A descoberta de Luzia colocou o Brasil numa posição
notável no campo da arqueologia. Nos anos 90, o fóssil de
Luzia foi analisado por uma equipe de especialistas da
Universidade de São Paulo (USP). Em 1999, com a ajuda da
computação gráfica desenvolvida na Universidade de
Manchester (Inglaterra), houve a reconstituição da possível
cabeça de Luzia. Segundo as análises dessa reconstituição,
Luzia possuía aspectos negróides que se assemelhavam com
os habitantes das regiões da África e da Oceania, a saber,
nariz achatado, queixo grande e lábios grossos, não apresentando características fenótipos com os índios brasileiros.
“Os primeiros povoadores eram negróides” diz o cientista Walter neves
―Dois crânios humanos antigos, desenterrados no Vale do ribeira, em São Paulo, e no Vale
Central do México, estão ajudando a confirmar uma hipóteses sobre o povoamento das
Américas que costumava provocar risadas nos arqueólogos há uma década: a de que os
primeiros habitantes do continente eram mais parecidos com os aborígines do que com os
nossos índios atuais. Os fósseis, de 8.800 e 10.700 anos, respectivamente, estão entre os
vestígios humanos mais antigos do continente.
Medições realizadas em ambos mostram que eles eram fisicamente semelhantes à Luzia, a
‗brasileira‘ de traços negróides de 11.500 anos de idade que virou celebridade.
Para o antropólogo Walter Neves, da USP, e seu colega Héctor Pucciarelli, da Universidade
de La Plata, Argentina, a povoação do continente americano teve dois componentes
biológicos:
os primeiros povoadores das Américas vieram da Ásia, mas, não eram
mongolóides (asiáticos típicos), e sim ‗autralo-melanésios‘ de características negróides.
Essa população teria cruzado o estreito de Bering, entre Sibéria e Alasca, há cerca de 15
mil anos, tendo em extinta devido a algum tipo de competição com os mongolóides, avós dos
índios atuais(o segundo componente biológico), que imigraram depois. O fato é que todos os
crânios de idade igual ou superior a 8 mil anos analisados pelo grupo de Neves,
desenterrados principalmente na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, têm traços
africanos.‖
Ângelo, Claudino. Primeiros habitantes das Américas. Folha de S. Paulo, 21/3/05.
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 Os sambaquis
Uma importante marca sobre o nosso antepassado são os sambaquis ou ‗concheiras‘. Os
sambaquis constituem elevações de conchas que chegam a alcançar dezenas de metros, ou
seja, são morros de conchas de moluscos cobertos pela vegetação. Esses registros
arqueológicos são encontrados na faixa litorânea do Brasil ou nas margens de alguns rios.
Essas formações não são naturais e sim, resultado da ação dos primitivos moradores do
atual território brasileiro.
As comunidades que habitaram nos sambaquis deixaram vários vestígios, tais como:
restos de alimentos, ossos de peixes e cascas de moluscos. Também foram enterrados
nesse local, cabanas, artefatos e corpos. Boa parte dos sambaquis está localizada no litoral
nordestino e nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
No ano de 2001, os pesquisadores da Universidade de São Paulo descobriram o mais
antigo sambaqui encontrado em solo brasileiro. Nele foi achado um esqueleto de um
homem com cerva de 8.800 anos.
 Sítios na Amazônia
Para os arqueólogos, a região da Amazônia foi inicialmente habitada há 12 mil anos. Os
resquícios desse povoamento foram descobertos em Santarém e Pedra Pintada. Esses
primitivos habitantes eram nômades e também praticavam a caça e a coleta. Em torno de
1000 a.C., formaram as primeiras aldeias.
Já em 3.500 a.C., aproximadamente, foi formada na Ilha de Marajó, uma sociedade de
agricultores, dando origem à cultura marajoara, que se caracteriza pelo sofisticados
trabalhos de cerâmica.
 São Raimundo Nonato
O Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado em 1979 e tombado pela Unesco
como Patrimônio Mundial da Humanidade em 1991. Esse Parque está situado no Piauí, no
município de São Raimundo Nonato.
Nessa região estão sendo realizados vários estudos coordenados pelos arqueólogos
Niède Guidon e Fábio Parente. Essas pesquisas revelaram a existência de um conjunto de
mais de 25 mil pinturas rupestres, além de 250 sítios arqueológicos. Por causa do clima, os
objetos e figuras estão bem conservadas. Para Niède Guidon, os achados arqueológicos de
São Raimundo Nonato datam de pelo menos de 20 mil anos, sendo que os restos das
fogueiras encontradas têm mais de 30 mil anos. Infelizmente, a teoria de Niède Guidon é
rejeitada por boa parte dos arqueólogos.
Além desses Sítios Arqueológicos apresentados, há outros importantes no Brasil, tais
como: Santana do Riacho, Marcelândia e Santa Elina (Mato Grosso), Palmito (Rio Grande
do Sul), Rio Parati (Santa Catarina). Nesses locais, têm sido encontrados potes de barro,
objetos de pedra lascada e polida, pinturas rupestres e restos de fósseis.
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TEXTO COMPLEMENTAR
Guardiã do passado: a polêmica arqueóloga do sertão piauiense
―A doutora Niède Guidon convida a todos os quiserem assistir sua morte a comparecer
amanhã, às 9h, no Serrote do Artur, onde ela será assassinada pelo proprietário, o senhor
Artur‖. A Rádio de São Raimundo Nonato repetia a cada 15 minutos o anúncio, que pôs a
pequena cidade do interior do Piauí em polvorosa. O dono daquela área, rica em pinturas
rupestres, havia prometido matar Niède se ela adentrasse suas terras para realizar pesquisas.
Não era a primeira, nem seria a última vez que alguém ameaçaria Niède Guidon. Diretora
da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), que administra o Parque Nacional da
Serra da Capivara, ela é uma das maiores arqueólogas da atualidade.
E uma das mais polêmicas também. Com base em descobertas arqueológicas datadas de
50 mil anos, defende a hipóteses de que o homem teria chegado ao solo americano muito
tempo antes do que apontam as terias tradicionais.
Ninguém discorda, porém, que ela conseguiu transformar um punhado de rochas no sul do
Piauí em um dos maiores parques arqueológicos do planeta, exemplo de pesquisa acadêmica,
conservação ambiental e desenvolvimento sustentável.
A paulista de Jaú, que já foi professora do ensino médio, ocupou cargos em impor-tantes
instituições de pesquisa na França. Chegou ao sertão em 1970, chefando uma missão
arqueológica daquele país para ajudar a implantar o parque, em uma região que ostenta a
maior concentração de pinturas rupestres das Américas.
Logo no inicio, quando não havia estrutura de visitação, a pesquisadora rasgava dezenas
de quilômetros sob o sol forte da caatinga, a pé, em busca de vestígios da presença humana.
Passava dias no meio do mato, longe da civilização. Hoje, com mais de 70 anos, já se
acostumou com os pinos que ganhou nos joelhos por causa dos inevitáveis acidentes.
Niède, com sangue francês, italiano, português, suíço e índio, nunca casou ou teve filhos.
Brinca dizendo que sua herança genética não é boa. ―O que me falta aqui são as noites de
teatro, as óperas, os grandes concertos que assisti quando vivia em Paris. Mas tenho a
maravilha da natureza do parque, dos sítios arqueológicos fantásticos, a pesquisa intrigante e
que me segura como um romance policial. E isso me basta.
Em tempo: na manhã seguinte, o promotor da cidade mandou a polícia militar acompanhála às terras do senhor Artur. No final, ele topou fechar um acordo de aluguel e ela pôde
pesquisar em paz.
EVELYN, Uliam; SAKAMOTO, Leonardo. Heróis da Natureza. Revista Terra. Edição: abril de 200
Analisando o texto
1. Elabore um texto relatando a trajetória da pesquisadora Niède Guidon.
2. Dê sua opinião sobre a importância das pesquisas feitas por Niède para a arqueologia
brasileira.
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FAZENDO HISTÓRIA
Texto 01
―A arqueóloga Niède Guidón riu por último. Evidências apresentadas ontem indicam que
as ferramentas de pedra descobertas pela pesquisadora no Boqueirão da Pedra Furada, em
são Raimundo Nonato, foram mesmo feitas por seres humanos, e têm entre 33 mil e 58 mil
anos de Idade. São, portanto, a evidência mais antiga da ocupação da América. Durante
mais de duas décadas Guidon, paulista de origem francesa, foi ridicularizada por seus
colegas por propor uma idade tão antiga para os instrumentos (...)
Os artefatos têm causado controvérsia desde a sua descoberta, em 1978. Eles foram
achados juntamente com supostas fogueiras no abrigo, cujo carvão foi datado em até 50
mil anos. Uma datação realizada depois na Austrália recuou a idade ainda mais: 58 mil
anos. O problema era que dominada pelo chamado paradigma ‗Clovis first‘, segundo o qual
os ancestrais dos índios chegaram recentemente, por uma ponte terrestre aberta entre a
Sibéria e o Alasca na última glaciação‖.
GARCIA, Rafael. Folha de S. Paulo, 20 dez. 2006.03. Depois da leitura do texto acima,
faça uma pesquisa sobre São Raimundo Nonato.
1. Depois da leitura do texto acima, faça uma pesquisa sobre São Raimundo Nonato.
2. Defina as seguintes palavras:
a) Arqueologia
b) Artefatos
c) Sítio Arqueológico.
d) Fósseis
e) Carbono-14.
3. Pesquise em jornais, revistas e internet as mais importantes e recentes descobertas
arqueológicas brasileiras.
4. Quais as hipóteses para o início da ocupação humana na América.
5. Faça um rápido comentário sobre os principais Sítios Arqueológicos do Nordeste.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UFSC) Sobre a ocupação humana no continente americano, assinale a alternativa
incorreta.
a) Existem elementos que comprova, ter ocorrido a mais de 30 mil anos.
b) Grupos nômades ocuparam o litoral atlântico.
c) Grupos agricultores fixaram-se nos altiplanos andinos.
d) Teorias comprovam a origem asiático-polinésia do homem americano.
e) Teorias comprovam a origem autóctone do homem americano.
2. (UFSCAR) (...) Pré-História do Brasil compreende a existência de uma crescente
variedade lingüística, cultural e étnica, que acompanhou o crescimento demográfico das
primeiras levas constituídas por poucas pessoas (...) que chegaram à região até alcançar
muitos milhões de habitantes na época da chegada da frota de Cabral. (...) não houve
apenas um processo histórico, mas numerosos, distintos entre si, com múltiplas
continuidades e descontinuidades, tantas quanto as etnias que se formaram constituindo
ao longo dos últimos 30, 40, 50, 60 ou 70 mil longos anos de ocupação humana das
Américas. (Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noeli. Pré-História do Brasil, 2002.)
Considerando o texto, é correto afirmar que:
a) as populações indígenas brasileiras são de origem histórica diversa e, da perspectiva
linguística, étnica e cultural, se constituíram como sociedades distintas.
b) uma única leva imigratória humana chegou à América há 70 mil anos e dela
descendem as populações indígenas brasileiras atuais.
c) a concepção dos autores em relação à ―Pré-História‖ do Brasil sustenta-se na idéia
da construção de uma experiência evolutiva e linear.
d) os autores descrevem o processo histórico das populações indígenas brasileiras como
uma trajetória fundada na idéia de crescente progresso cultural.
e) na época de Cabral, as populações indígenas brasileiras eram numerosas e estavam
em um estágio evolutivo igual ao da ―Pré-História‖ europeia.
3. (UFPB) Numa reportagem publicada na Revista Veja, em 21 de abril de 1999, é feita
a seguinte constatação:
―Outro trabalho científico de destaque envolvendo a chegada do homem à América foi
publicado no mês passado pela revista americana Science, uma das mais importantes do
mundo na área. O estudo foi feito por dois geneticistas brasileiros, Sérgio Danilo Pena e
Fabrício Santos, que confirmaram o parentesco genético entre tribos de seis países
americanos (Brasil, Peru, Argentina, Colômbia, México e Estados Unidos) e um pequeno
povoado nas Montanhas Altai, entre a Sibéria, na Rússia, e a Mongólia.‖
A partir da citação, analise as hipóteses abaixo sobre a origem do homem no continente
americano. A mais aceita pela historiografia e que, mais uma vez, foi confirmada pela
pesquisa citada, é a hipótese da:
a) origem autóctone que afirma ser o homem oriundo da própria América.
b) origem polinésia que defende terem os grupos de homens saído das ilhas do
Arquipélago Polinésio, em canoas rudimentares, atravessado o Oceano Pacífico e se
estabelecido em diferentes locais da América.
c) origem asiática que pressupõe a emigração sucessiva de grupos humanos
provenientes da Ásia. Esses grupos teriam atravessado o estreito de Bering, que
durante invernos rigorosos formava um istmo de gelo, possibilitando sua travessia a
pé.
d) origem africana que defende a vinda de sucessivos grupos de homens do continente
africano. Esses homens teriam atravessado o Oceano Atlântico em canoas rudimentares e se instalado em vários pontos da América.
e) origem fenícia que pressupõe uma migração dos fenícios para as Américas, atestada
por antigas inscrições encontradas em pedras em vários locais do continente.
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4. (CEPERJ) Antes da chegada dos espanhóis e demais europeus, o continente americano
era habitado por vários povos, numerosos, desigualmente distribuídos pelo território e
diferenciados entre si por distintos graus de domínio técnico sobre a natureza. Desde
que os europeus desembarcaram no Novo Mundo, diferentes teorias têm explicado a
origem do homem americano. Atualmente, a hipótese sobre a origem do homem
americano mais aceita é:
a) a tese segundo a qual o indígena americano é autóctone, ou seja, é originário da
própria América.
b) a perspectiva que afirma que o indígena americano é descendente de populações
indianas que navegaram do Índico até o Atlântico.
c) os povos americanos provêm de outros continentes e se originam de migrações
diversas através do Estreito de Bering e do Oceano Pacífico.
d) os indígenas americanos navegaram pelo Atlântico, desde a costa da África até
atingirem o litoral atlântico da América e se fixarem.
e) os nativos da América são descendentes dos maias, incas e astecas e se originam
dos expurgos que costumavam acontecer entre esses povos.
5. (UEPG) Em seus estudos sobre a ocupação do continente americano, uma das fontes de
que os estudiosos se valem são montes artificiais formados por conchas de moluscos e
restos de outros animais que antigos habitantes do continente depositavam em
determinados locais. Como são chamados esses vestígios?
a) jardins suspensos.
b) tumbas.
c) zigurates.
d) sambaquis.
e) elevações.
6. (UEPG) No chamado período ―pré-histórico‖, em algumas regiões do mundo, a
organização dos grupos humanos passou a assumir características próprias. Estas e
outras características foram acompanhadas pelo desenvolvimento das crenças e das
idéias de cada grupo. É por vestígios encontrados que é possível estudar este período.
Entre os registros que possibilitam o estudo deste período estão as pinturas rupestres.
Sobre estes registros, assinale a alternativa correta.
a) São artefatos construídos no interior das tribos indígenas com o único objetivo de
afugentar animais ferozes.
b) São pinturas encontradas nas paredes internas das cavernas, como de Altamira, na
Espanha e Lascaux, na França, que comprovam a existência de crenças e cerimoniais
entre os grupos humanos, além de serem exemplos de suas habilidades artísticas.
c) São desenhos que expressam unicamente a divisão do trabalho existente nos grupos
que viviam na América.
d) Era um fenômeno de registro das atividades humanas, mas que pela sua baixa
qualidade, não foram consideradas como fontes de estudo nas pesquisas de caráter
antropológico.
e) Caracterizam-se como sendo descrições escritas de rituais sagrados, que se
tornaram muito comuns nos grupos que viveram no interior da África.
7. (UEPG) No período denominado de ―pré-história brasileira‖, diversos povos
pertencentes a várias culturas espalharam-se sobre o território brasileiro. Estes povos
sabiam construir instrumentos de pedra e osso, arco a flecha, entre outros. Peter Lun
encontrou no Brasil fósseis de cerca de 30 indivíduos daquele período.
Assinale a alternativa que identifica a localização desse sítio arqueológico.
a) Região de fronteira entre Brasil e Uruguai.
b) Região da Chapada Diamantina.
c) Região amazônica.
d) Parque Nacional de Sete Cidades no sertão de Piauí.
e) Região mineira de Lagoa Santa.
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OLHARES HISTÓRICOS
Cinema
Evolução (Canadá, 1971. 12 min.). Direção de Michael Mills. O desenho animado descreve,
com muito humor, o processo evolutivo do ser humano. Ganhou 11 prêmios internacionais.
Livros
Os povos da América: dos primeiros habitantes às primeiras civilizações urbanas.
Ana Maria Neves e Flávia Ricca Humberg. São Paulo: Atual, 1996.
Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Madu Gaspar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2005.
O Brasil, antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país. André Prous. 2. ed. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
Sites
Associação Brasileira de Arte Rupestre
O site tem uma seção introdutória abordando pinturas rupestres e indicando uma série de
links de instituições semelhantes no mundo.
Disponível em: www.ab-rupestre.org.br
Fundação do Museu do Homem Americano
Página que mantém informações atualizadas sobre os achados arqueológicos e pinturas
rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí.
Disponível em: www.fumdham.org.br
Museu da América
Museu espanhol voltado para os acervos do continente americano. Há uma seção exclusiva
para assuntos relacionados com o período pré-histórico.
Disponível em: www.museudeamerica.mcu.es
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CAPÍTULO 4
O Egito
Antigo, 52
CAPÍTULO 5
Mesopotâmia, 67
CAPÍTULO 6
Hebreus, 78
CAPÍTULO 7
Cretenses e
Fenícios, 90
CAPÍTULO 8
Os Persas, 98
Geralmente o soberano egípcio
(o faraó) era representado
utilizando símbolos de poder e
realeza. Acima, representação do
Tribunal de Osíris.
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Ao longo do processo histórico, o
homem estabelece várias relações de
poder. Na antiguidade, havia forte
ligações entre religião e as variadas
formas de saberes. As duas imagens
ao lado retratam o cotidiano
religioso dos egípcios.
O Egito Antigo
Localização geográfica
O Egito está localizado no nordeste da África, em uma área conhecida no passado como
Crescente Fértil. Apesar da nomenclatura, ocupa um território predominantemente
desértico. O Egito tinha o rio Nilo seu ponto de partida fundamental. Não é por acaso que o
historiador grego Heródoto afirmou que o Egito foi um presente do Nilo.
A presença do rio para qualquer comunidade humana numerosa na antiguidade era
essencial para garantir uma sobrevivência com menos obstáculos, de alimentos e
possibilidade de vida mais sedentária. Sem o Nilo e suas inundações seria quase impossível
a fertilidade das terras do Egito. A presença marcante do rio Nilo era ressaltada pelos
egípcios. O rio era um verdadeiro deus.
Mapa da Crescente Fértil do Egito Antigo.
A natureza tornou possível o desenvolvimento da civilização egípcia, principalmente
graças à presença do rio Nilo, pois na região de suas nascentes (Etiópia, Sudão e Uganda
atuais) caem, a partir do mês de junho até setembro, abundantes chuvas que provocam
enchentes e alagam todo o vale percorrido pelo rio. Quando, a partir, aproximadamente, do
mês de novembro, as águas voltam ao leito normal, deixam nas terras irrigadas um ―limo‖
extremamente fértil (húmus). Esse material fertilizador é trazido de regiões distantes, em
conseqüência da erosão provocada pela correnteza da água. Era esse húmus ou limo
fertilizante, que misturava elementos naturais de origem animal, vegetal e mineral, que
tornava possível a prática da agricultura no Antigo Egito. Essa ciclotomia do rio contribuiu
para a formação da peculiar sociedade ou civilização hidráulica egípcia.
No entanto, não se pode esquecer a ação humana. O homem criou técnicas e
instrumentos para construir seus caminhos para sua sobrevivência. A necessidade de
aproveitar o máximo as águas do Nilo fez os egípcios desenvolverem um relevante sistema
de irrigação. Os egípcios utilizavam bem as águas que inundavam o vale, por elementos da
vegetação e substâncias minerais.
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A situação política
Inicialmente, o Egito era composto por pequenas aldeias autônomas denominadas como
spart ou nomos, chefiadas pelos nomarcas. A prática da agricultura, facilitada pela situação
natural da região, possibilitou o desenvolvimento da região com a formação dos primeiro
centros urbanos. A união dos nomos do Vale do Nilo na construção de canais de irrigação e
diques originou dois reinos: Alto Egito ou Terra do Sul e o Baixo Egito ou Terra do Norte.
Por volta de 3100 a.C, os reinos egípcios foram unificados por intermédio de Menés. A
partir de então, o Egito passou a ter um governo forte e centralizado na exploração contínua
do trabalho dos camponeses. O faraó, como era chamado o rei egípcio, era identificado a
Hórus, filho de Rá, o deus-sol.
O soberano no Egito detinha poderes administrativos, militares e religiosos, sendo o
sacerdote chefe dos templos. Além disso, intervinha no comércio, nas minas e nos celeiros.
Dessa forma, a história do Egito dinástico é comumente estudada em três períodos: o
Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império.
Antigo Império (3200 – 2300 a.C)
Iniciado com a unificação dos dois reinos, feita por Menés, o primeiro faraó. O Antigo
Império pode ser considerado como um período de paz. O faraó não tinha um exército
permanente. O Egito conseguiu uma relativa prosperidade econômica.
Essa época foi caracterizada por grandes obras de irrigação, além da construção das
pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, em Gizé. Segundo Heródoto, na construção de
Quéfren foram utilizados cerca de 100 mil homens, durante 20 anos.
Pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, em Gizé. Essas construções magníficas
exigiam conhecimentos apurados de geometria, engenharia e matemática.
As pirâmides simbolizavam a imortalidade dos faraós. Eram grandiosos túmulos que
exibiam as profundas relações que havia entre a religião e o Estado Egípcio.
No decorrer dos anos, o poder central foi se enfraquecendo. Sua decadência pode ser
atribuída às manobras dos grandes proprietários de terras e dos líderes dos antigos nomos,
que desafiaram, freqüentemente, a força do faraó. Assim, entre 2300 – 2100 a.C. houve um
período de instabilidade caracterizado pelo enfraquecimento do poder faraônico e pelo
fortalecimento dos poderes locais (nomarcas).
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Médio Império (2100 a.C. – 1788 a.C.)
Sob a liderança do faraó Menutohop II, iniciou-se uma disputa vitoriosa contra os
nomarcas, restabelecendo o poder central e a unidade do império. A cidade de Tebas foi
transformada na nova capital. O regime de servidão coletiva foi restabelecido, o que
possibilitou a ampliação dos canais de irrigação e contenção, abrindo novas áreas para
exploração agrícola.
O Médio Império foi um período próspero. Houve expansão territorial, início das relações
internacionais com os fenícios, os sírios e os cretenses. A vida cultural floresceu de forma
esplendorosa.
Os egípcios, no entanto, sofreram mais uma interrupção na sua centralizadora trajetória
política, com a invasão dos hicsos, por volta 1630 a.C. Os hicsos eram povos nômades
vindos da Ásia. Eles usavam armas de ferro e carros de guerra conduzidos por cavalos,
desconhecidos na sociedade egípcia. Os invasores permaneceram por mais de cem anos no
Egito.
Novo Império (1580 a.C. – 525 a.C.)
O longo domínio dos hicsos uniu os egípcios contra esse inimigo comum. Sob a liderança
de Amósis I, iniciou-se o levante que levou a expulsão dos hicsos.
A centralização política foi reposta, dando início ao Novo Império, que alguns historiadores consideram como o apogeu da civilização egípcia.
Nesse período, outros povos que haviam se estabelecido no Egito, como os Hebreus,
foram perseguidos e transformados em escravos. O pacifismo deu lugar a uma política de
conquistas territoriais: Núbia, Palestina, Etiópia, Síria e Fenícia. Dessa forma, os egípcios
saíram do seu isolamento.
Os egiptólogos destacam o surgimento dos comerciantes, mesmo dependentes dos
palácios e dos templos, mas exercendo relações comerciais internas e externas,
especialmente com a Ásia, incluindo o tráfico negreiro.
―Com o Estado centralizado que controlava a economia do país, com um governo e
funcionários administrando inclusive os templos, terras, homens, barcos e rebanhos,
comprando tributos e trabalhos, além daquilo que era produzido nas terras do próprio
palácio, o governante se impunha como senhor supremo do Egito. Foi com tal poderio
que o faraó Amenófis IV (1377 a.C – 1358 a.C) fechou templos e confiscou bens em favor
da divindade Aton, buscando profundas reformas de cunho político-religioso.‖
VECENTINO, Cláudio. História pra Ensino Médio: História Geral e do Brasil. Volume único. São Paulo: Scipione, 2001. Série
Parâmetros.
As conquistas militares foram notáveis no governo de Ramsés II, o qual subjugou os
hititas. Segundo os historiadores, o ápice da civilização egípcia foi atingido com esse faraó,
não apenas devido às vitórias militares, mas também às obras arquitetônicas desse período.
Após o seu governo, houve mais uma vez o esfacelamento do poder central, marcado pelas
disputas internas entre os sacerdotes e o faraó. Devido a esses problemas, o Egito, por
volta de 1100 a.C, volta a ficar dividido em Alto e em Baixo, com governos rivais disputando
o poder central.Isso enfraqueceu o Estado, o que impulsionou a invasão dos assírios em 662
a.C.
Entretanto, o Egito ainda voltaria a ser autônomo durante o Renascimento Saíta, em
referência a Saís, sua última capital. No decorrer desse período, o comércio ganhou notável
desenvolvimento, tendo o faraó Necao financiado uma expedição fenícia de contorno a costa
africana.
Por volta de 525 a.C., os persas, comandados por Cambises, derrotam os egípcios na
batalha de Pelusa e conquistam o território. A partir de então, o Egito vai ser alvo de
sucessivas invasões, depois dos persas, vêm os macedônios, os romanos, os árabes, os
turcos e os ingleses.
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Situação econômica
O Egito, como uma das mais privilegiadas e típicas civilizações ou sociedades hidráulicas
do Médio Oriente, teve na agricultura a base de sustentação e concentração do seu
trabalho. Favorecidas pelo rio, pelo adubo natural (húmus), pelas barragens de contenção
(diques/açudes) e canais (irrigação), as terras revelaram generosidade nas colheitas e
fertilidade.
Ao longo do rio Nilo, desenvolveram-se plantações de trigo, cevada e linho feitas pelos
felás (campesinato) e escravos (populações dominadas), que impulsionaram rapidamente a
agricultura, graças ao aperfeiçoamento técnico para a semeadura e plantio. Arados
primitivos puxados por bois e o uso de metais contribuíram para grandes colheitas, que
transformaram o Egito num grande celeiro do Oriente.
As terras pertenciam à comunidade como um todo, porém, o Estado coordenava as
atividades produtivas, enquanto os camponeses tinham apenas o direito de usufruto. A
economia egípcia apoiava-se na servidão coletiva: os camponeses eram obrigados a realizar
grandes obras de irrigação dirigidas pelo poder faraônico, além de construírem locais de
armazenamentos, palácios, templos religiosos e monumentos fúnebres. Esse tipo de trabalho era realizado com freqüência no período de cheias do Nilo, quando havia interrupção
temporária das atividades agrícolas.
―Nas civilizações orientais da Antiguidade a organização das atividades econômicas
dependeu, de modo geral, do uso e do controle dos recursos hídricos. Daí por que elas já
foram definidas, figurativamente, como civilizações hidráulicas.
Essas civilizações localizaram-se ao longo de rios que, de um modo ou de outro,
forneciam os principais meios para obtenção da subsistência dos povos que ocupavam as
terras por eles irrigadas. O Egito foi o caso mais típico e também o mais famoso.‖
NADAI, Elza e NEVES, Joana. História Geral. A construção de um mundo globalizado. 1 ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 57
O Egito era o grande produtor da Antiguidade. Uma parte da produção das boas
colheitas era exportada. Havia também criação de gansos, carneiros e cabras. O artesanato,
a produção de vidros e tecidos, além da relevante construção naval complementam a
economia do Egito.
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O comércio era feito ao longo do rio Nilo por embarcações que subiam e desciam o ―riodeus‖ (vida e fertilidade), lotadas de produtos agrícolas (cereais) e artesanais. A fiação, a
tecelagem, a produção de gêneros artesanais derivados das folhas de papiros (planta do
delta do rio Nilo) e a ourivesaria patrocinaram um significativo desenvolvimento do
comércio interno, na medida em que poucas relações eram mantidas com o exterior. O
pastoreio de gados bovino e ovino também poderia ser visto nas regiões de pastos
ribeirinhos. Contudo, podemos dizer que predominava no Egito a economia natural.
Organização social
As diferenças sociais tiveram origem quando a disputa pela posse das terras férteis e
cultiváveis colocou, de um lado, os egípcios apenas possuidores da força de trabalho (massa
camponesa ou felás e escravos); de outro, os proprietários das terras (obtidas pela força e
mantidas através da religiosidade, fanatismo, misticismo e proteção dos deuses e
sacerdotes). No ponto mais alto da pirâmide social havia o rei (faraó) e a família (nobreza).
O rei, por considerar-se descendente da divindade, possuía prerrogativas únicas. A classe
sacerdotal também ocupava importante posição na hierarquia social, pois, juntamente com
a nobreza, era proprietária das terras e detentora da força de trabalho (campesinato).
―O Egito foi marcado por rígida divisão social. (...) Com o tempo, a sociedade ficou
maus diversificada, abrangendo comerciantes, artesãos, construtores, soldados, embalsamadores, funcionários públicos, escribas, sacerdotes e pessoas de muitas outras
profissões. Como acontece hoje em certos países. A ocupação profissional dos
indivíduos determinava sua posição na sociedade.‖
BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História – Das cavernas ao Terceiro Milênio. Volume único. São Paulo:
Moderna, 3 edição, 2006.
Com o desenvolvimento das atividades comerciais e artesanais (Médio Império),
conheceu-se o desenvolvimento de uma classe média que chegou, por conta de suas
características empreendedoras, a conquistar alguma posição social e influência sobre o
governo.
Os funcionários ou burocracia do Estado faraônico passaram a ocupar, ao longo da
história do Antigo Egito, um lugar de destaque principalmente no tocante à arrecadação de
tributos dos camponeses. Existia toda uma hierarquização de escribas cuja posição variava
de acordo com a confiança neles depositada pelo Estado (faraó, nobreza e alta classe
sacerdotal). Os operários tinham uma posição e situação desfavoráveis em relação aos
camponeses, pois eram estes que imortalizavam o deus-rei (faraó). Funcionários especiais
fiscalizavam os felás.
A massa de escravos era submetida aos trabalhos mais duros, como bombear água para
os canais de irrigação e açudes. Os escravos foram mais numerosos a partir do Novo
Império, quando grande número deles foi feito pelas guerras.
Apesar da existência de escolas públicas mantidas pelo Estado faraônico, estas formavam principalmente escribas que iam trabalhar na administração governamental.
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A terra dos deuses
No Egito antigo, as crenças religiosas eram determinantes para organização social.
Segundo Heródoto, os egípcios eram os mais religiosos dos homens. O cotidiano dos
egípcios era conduzido pelos preceitos de sua fé. Os textos literários, os majestosos templos
e até mesmo o conhecimento científico enfatizavam a soberana eternidade dos deuses
perante a vulnerabilidade humana.
Os egípcios acreditavam em vários deuses, ou seja, eram politeístas. As divindades
eram simbolizadas na forma animal e humana, conhecido como antropozoomorfismo. Os
animais, como cães, gatos, crocodilos, além das forças naturais (sol, céu, terra), eram
objetos de culto.
A religião egípcia apresentava-se em duas: a oficial e a popular. Para boa parte da
população as celebrações, em geral secretas, realizadas pelos sacerdotes nos templos não
tinha menor sentido. A maioria da população baseava suas crenças e ritos nas magias,
adivinhações, esconjuros, fazendo uso intenso dos meios naturais (fauna e flora). O
ocultismo também era praticado no Egito antigo, sendo a astrologia bem desenvolvida na
época. Dessa forma, as artes e as ciências estão impregnadas pelas concepções religiosas.
―Por falta de uma doutrina teológica elaborada e acessível, a religiosidade popular se
caracterizava pela preocupação com o além, por temores e superstições sobre a vida
presente e a futura e por uma moral orientada para enfrentar o julgamento que
sobreviria à morte. O povo não entrava nos templos, reservados aos sacerdotes
previamente purificados; não obstante, abriam-se previamente cavidades em suas
paredes para que os súditos acorressem a apresentar suas oferendas e súplicas. Nas
solenidades, as estátuas dos deuses saíam em procissão e podiam ser vistas por todos.
Num lugar de destaque nas casas, eram veneradas pequenas estátuas dos antepassados
ou de alguma divindade menor. A elas eram acrescentadas amuletos e conjuros de toda
sorte de perigos, dos quais permaneceram abundantes restos arqueológicos.‖
Enciclopédia Barsa. A Religião no Egito Antigo. Religiosidade popular. p.317.
O número de deuses e deusas que compunham o panteão egípcio era enorme.
Acompanhe na tabela abaixo, alguns deles.
 Rá: deus-sol; o Senhor de todos.
 Atum: princípio criador. Criou Shu e Tefnet.
 Hórus: deus falcão; o sol nascente
 Osíris: senhor dos mortos e deus da fertilidade.
 Ísis: deusa da vegetação e das sementes.
 Ptah: protetor dos artesão.
 Set: o vento quente do deserto.
 Amon-Rá: protetor dos faraós.
 Thot: deus da ciência e patrono dos escribas.
 Anúbis: deus-chacal; protetor dos embalsamadores .
 Maat: deusa da justiça.
 Sobeque: deus-crocodilo.
A reforma religiosa
Por volta do século XIV a.C., o faraó Amenófis, casado com a rainha Nefertiti, implantou
o culto ao deus Aton, o qual era simbolizado pelo disco solar. Dessa forma, Aton passou a
ser a divindade principal do panteão egípcio. Portanto, Amenófis IV pretendia tornar Aton o
deus único. Para alguns estudiosos, essa pretensão pode ser vista como uma experiência
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monoteísta. No entanto, a casta sacerdotal não aceitou e as adorações aos deuses antigos
foram mantidas. Amenófis construiu um templo em homenagem a Aton que passou a se
chamar de Aquenaton, ―aquele que adora Aton‖. No governo de Tutancâmom, sucessor de
Amenófis, foi restabelecido o culto aos antigos deuses em suas maneiras tradicionais.
O culto a Aton
―Amanheces formoso no Horizonte Celeste,
Tu, vivente Aton, princípio da vida!
(...)
Quando adormeces no horizonte ocidental
A terra escurece como se estivesse morta.
(...)
Criador da semente nas mulheres
Tu que transforma o fluido em homem
Que manténs o filho no ventre materno
(...)
Ó Deus único, nenhum outro se te iguala!
Tu próprio criaste o mundo de acordo com tua
vontade,
Enquanto ainda estavas só.(...)‖
PINSK, J(org.). 100 textos de História Antiga. São Paulo:contexto,
1991, p.56-57.
Busto de Aquenaton
A crença na vida após a morte
Para os egípcios, a morte simbolizava apenas o ato de separação entre corpo e alma.
Eles acreditavam que a morte não significava o fim de tudo. A crença na eternidade levou
os egípcios a criar técnicas com objetivo de preservar os corpos. Para isso, eles
desenvolveram a mumificação.
―A preocupação egípcia com a vida após a morte fez surgir a figura do embalsamador:
do faraó à população pobre, todos queriam preservar o próprio corpo após a morte, para
impedir a putrefação e o conseqüente desaparecimento do cadáver. Só assim poderiam
ingressar na vida eterna.(...)
O embalsamador apresentava aos parentes do morto os diversos modelos e estilos de
múmias, bem como os produtos que poderiam ser utilizados. A condição econômica da
família do falecido determinava as condições do embalsamamento.‖
BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História – Das cavernas ao Terceiro Milênio. Das origens da humanidade à
Reforma religiosa na Europa.. São Paulo: Moderna, 3 edição, 2006. p.58.
Para os egípcios, a morte simbolizava apenas o ato de separação entre corpo e alma. Eles acreditavam que a morte não
significava o fim de tudo.
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As ciências

Astronomia: No Egito antigo pode ser compreendida como uma necessidade religiosa.
Através do desenvolvimento da astronomia foi possível estabelecer um calendário solar
para festas e comemorações. Esse calendário era formado da seguinte maneira: o dia
era dividido em 24 horas e a hora em minutos; a semana tinha dez dias e o mês, três
semanas. O Ano, de 365 dias, era dividido em estações: inundação, germinação e
ceifa. Além disso, para medir o tempo, os egípcios usavam relógios de água.

Matemática: O avanço dessa ciência está ligado com a astronomia, a qual exigia
diversas formas de cálculos, mas também foi influenciada pela arquitetura e escultura
monumentais, que demandavam conhecimentos de geometria apurados.

Medicina: Foi uma das ciências que mais progrediu. Estava vinculada com a religião na
prática do embalsamamento.
As artes

Escrita: era bastante sofisticada, desenvolveu-se de três formas.
Hieroglífica: considerada sagrada, mais antiga e composta por mais de 600
caracteres.
Hierática: uma simplificação da hieroglífica.
Demótica: mais recente e popular, formada por cerca de 350 sinais.
 Arquitetura: Devido às construções dos templos e das pirâmides, e seus respectivos
valores, foram empregadas múltiplas técnicas de construção que até hoje desafia e
impressiona a engenharia moderna.
 Literatura: Era marcada pela presença de hinos religiosos e suntuosos odes compostas
para os deuses. Na obra Discurso do Camponês eloqüente estão
expostos
as
obrigações que devem ter os bons funcionários do Estado. Além disso, não se pode
esquecer o Livro dos Mortos que ensinava como enfrentar o julgamento de Osíris. Esse
livro era colocado com os embalsamados.
ANOTAÇÕES
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TEXTO COMPLEMENTAR
Religiosidade e Religiões
A crença pessoal e coletiva na existência de uma realidade ou de forças sobrenaturais
é uma característica marcante em todas as sociedades humanas. Freqüentemente, a
religiosidade se manifesta através de narrativas mitológicas, explicações teológicas,
rituais e normas de comportamento.
A persistência de determinadas práticas religiosas pode se transformar em
movimentos religiosos, organizados segundo uma hierarquia de papéis de seus
componentes e uma doutrina que estabelece as regras dos cultos e da vida moral de
seus participantes.
As religiões exercem uma forte influência sobre as diversas atividades da vida social,
sejam ética, política, econômica, artística, etc., quase sempre gerando conflitos entre os
ideais religiosos e os interesses seculares tanto de seus seguidores, quanto de seus
adversários.
A religiosidade e as religiões formam, pois, um conjunto de sentimentos contraditórios que simbolizam o desejo pessoal de elevação espiritual, a adequação do homem
a preceitos divinos, a superação da imperfeição da vida terrena e a vontade de conservar
e fortalecer os laços da unidade social.
Desse modo, devemos entender que ―os mais bárbaros ritos ou os mais bizarros, os
mais estranhos mitos traduzem alguma necessidade humana, algum aspecto, seja
individual, seja social da vida. (...) Portanto, no fundo, não existem religiões falsas. À
sua maneira, todas são verdadeiras, todas respondem, mesmo de diferentes formas, a
condições dadas da existência humana‖.
DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. In: Os Pensadores. 2.ª ed. São Paulo:
Abril Cultural, 1983, p. 206.
Analisando o texto
1. Segundo o autor, a crença em forças sobrenaturais é inerente ao homem. Sobre isso,
como essa religiosidade se manifesta? Cite dois exemplos.
2. Qual a relação entre a Religião e a sociedade?
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FAZENDO HISTÓRIA
1. (FUVEST) No Antigo Egito, assim como nos demais lugares onde foi inventada, a escrita
esteve vinculada ao poder estatal. Este, por sua vez, dependeu de um certo tipo de
economia para surgir e se desenvolver. Considerando as afirmações acima, explique as
relações:
a) Escrita e Estado;
b) Estado e economia.
2. No Egito Antigo, os indivíduos adoravam centenas de deuses e deusas tidos como
responsáveis pela vida, pela fertilidade do solo. Pela morte e pela natureza.
a) Conceitue as palavras politeísmo e antropozoomorfismo.
b) Avalie a importância da vida após a morte para os egípcios.
3. Caracterize as relações entre os camponeses e o Estado no Egito Antigo.
4. Qual foi a função do Estado na sociedade egípcia e qual o papel exercido pelo faraó?
5. A sociedade egípcia era profundamente religiosa e devotada à idéia da vida após a
morte. Você acha que isso também acontece na sociedade brasileira? Faça uma pesquisa
sobre as religiões de maior crescimento no Brasil. O que explica a popularidade delas?
Que explicações elas fornecem para a vida após a morte?
6. A história política do antigo Egito se divide em três períodos distintos: Antigo, Médio e
Novo Império. Resuma os principais fatos de cada período.
7. Os egípcios eram extremamente religiosos. Como eram seus deuses e qual a relação
deles com a morte?
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (VUNESP) A irrigação não pode ser vista como a causa do surgimento do Estado
centralizado e da civilização egípcia: pelo contrário, um sistema centralizado de obras
hidráulicas para a agricultura irrigada surgiu como resultado tardio de um Estado forte.
(Ciro F. Cardoso. O Egito Antigo, 1982.)
A partir do texto conclui-se que, no Egito Antigo,
a) as cheias do Nilo, irregulares e responsáveis por inundações que destruíam tudo o
que havia nas margens, não favoreceram o processo de sedentarização.
b) o poder do Faraó era simbólico, uma vez que o soberano não dispunha de exércitos
nem de burocracia para fazer valer sua vontade.
c) a concentração do poder nas mãos de uma dinastia centralizadora não pode ser
explicada a partir das necessidades agrícolas.
d) dependia-se do comércio externo para alimentar a população, uma vez que a
produção agrícola era muito limitada.
e) o sistema político em vigor resultava de necessidades impostas pelas características
geográficas da região.
2. (IPEDEC) O Egito foi palco do surgimento de uma das civilizações que merecem
destaque na história da antiguidade. Nesse contexto, observe as assertivas a seguir,
avalie as proposições corretas.
I. Os avanços tecnológicos alcançados por esta civilização podem ser conferidos em
suas mais arrebatadoras obras arquitetônicas realizadas, as pirâmides, gigantescas
tumbas destinadas aos faraós, cuja construção deve ter iniciado por volta do início do
Antigo Império.
II. As técnicas de irrigação eram avançadas para sua época, empregavam a técnica de
irrigação através da canalização das águas do rio. Também eram aproveitadas as
cheias periódicas do rio Nilo, com o alagamento e esvaziamento periódicos, as terras
referentes às margens do rio tornavam-se bastante férteis e produtivas.
III. Após a morte dos faraós seus corpos eram embalsamados e sepultados no interior
das pirâmides. Os egípcios possuíam a crença da vida após a morte, o que explica o
grande cuidado na conservação dos corpos de seus governantes.
IV. As realizações artísticas, tanto na arquitetura como na escultura e na pintura,
atingiram seu auge entre a primeira e a segunda dinastia de faraós, dando origem
aos padrões e formas estéticas que não iriam perdurar.
Sendo assim, podemos afirmar que:
a) Apenas I, II e III estão corretas.
b) Apenas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas I, III e IV estão corretas.
d) Apenas I, II e IV estão corretas.
e) Apenas I e II estão corretas.
3. (UPE) As primeiras civilizações encontraram muitas dificuldades para superar seus
medos diante dos fenômenos da natureza. Nesse sentido, valeu a criatividade e a
capacidade de invenção. Com relação aos egípcios, podemos salientar que
a) encontraram situação mais favorável que os outros povos do Oriente Próximo, porém
não conseguiram destaque devido ao autoritarismo dos faraós.
b) construíram diques e canais que facilitaram a exploração de técnicas agrícolas
indispensáveis para a sobrevivência.
c) se restringiram ao campo da arte, tendo construído obras arquitetônicas monumentais, como as pirâmides.
d) foram hábeis artesãos embora na arte privilegiassem a pintura com técnicas avançadas para a época.
e) se deixaram dominar por uma religiosidade que os impediu de desenvolver suas
técnicas e sua arte.
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4. (UFPB) Leia, sobre o Antigo Império egípcio, o texto a seguir:
―O fortalecimento da monarquia tornou possível o fortalecimento de uma espécie de aristocracia,
constituída pelos altos funcionários reais, pelos chefes locais e pelos governadores de províncias
(os nomarcas), que possuíam na prática a propriedade efetiva das terras em troca de tributos e
serviços ao faraó. O crescimento dessa aristocracia, somado à consolidação da monarquia,
determinou o aumento da demanda de serviços, que exigiu o desenvolvimento do que se poderia
chamar de uma ‗classe média‘, constituída pelos artesãos e funcionários. Sabe-se que o
contingente de trabalhadores era constituído pelos egípcios pobres e livres e por escravos, que
eram em geral estrangeiros prisioneiros de guerra. Não há, porém, concordância quanto ao peso
específico de cada um desses grupos nem na produção econômica nem na estrutura social‖.
(NADAI, Elza e NEVES, Joana. História Geral. Antiga e Medieval. 5 ed., São Paulo: Saraiva, 1994, pp. 50-51)
A partir do texto, afirma-se:
a) A vida social do Egito antigo era marcada pela dominação de uma elite ao mesmo tempo
burocrática e religiosa, congregada em torno do faraó.
b) Os estudos arqueológicos e históricos não são capazes de indicar qualquer descrição acerca
da estrutura social do Egito antigo.
c) A lenta evolução econômica, o pouco desenvolvimento das ciências e a ausência de
riquezas explicam as duras condições sociais dos agricultores.
d) A vida social precária do Antigo Império foi contrastante com o apogeu da civilização do
Baixo Império.
e) A economia egípcia não se baseava na agricultura, pois a indústria e o extrativismo mineral
eram as atividades mais importantes.
5. (UFC) Aos egípcios devemos uma herança rica em cultura, ciência e religiosidade:
eram habilidosos cirurgiões e sabiam relacionar as doenças com as causas naturais;
criaram as operações aritméticas e inventaram o sistema decimal e o ábaco. Sobre
os egípcios, é correto afirmar também que:
a) foram conhecidos pelas construções de navios, que os levaram a conquistar as
rotas comerciais para o Ocidente, devido a sua posição geográfica, perto do mar
Mediterrâneo.
b) deixaram, além dos hieróglifos, outros dois sistemas de escrita: o hierático,
empre-gado para fins práticos, e o demótico, uma forma simplificada e popular do
hierático.
c) praticaram o sacrifício humano como forma de obter chuvas e boas colheitas, haja
vista o território onde se desenvolveram ser desértico.
d) fizeram uso da escrita cuneiforme, que inicialmente foi utilizada para designar
objetos concretos e depois ganhou maior complexidade.
e) usaram as pirâmides para fins práticos, como, por exemplo, a observação
astronômica.
6. (EPEC) ―Ele é o deus Rá, cujos raios de luz nos permitem ver. Ele dá mais brilho às suas
terras do que o sol. Ele torna a terra mais verde do que o próprio Nilo durante as
inundações...‖ (Texto da época do faraó Amenemate).
O poder exercido pelos faraós no Antigo Egito tinha como característica:
a) A separação da autoridade religiosa da autoridade política e econômica.
b) A centralização administrativa e total controle dos setores religioso, político, econômico e
militar.
c) A subordinação ao Conselho dos Éforos e a Assembléia dos Cidadãos.
d) A plena delegação de poderes a classe sacerdotal e o estilo antiabsolutista.
e) A descentralização administrativa e a ativa participação popular.
7. (UESPI/COVEST) As influências das religiões foram significativas na construção
cultural das sociedades. Nessa perspectiva, nos primeiros séculos da sociedade
egípcia:
a) prevaleceu o poder dos sacerdotes que exerciam os privilégios políticos mais
importantes para deflagração dos conflitos contra os outros impérios.
b) constata-se a presença de uma arte com marcas das crenças religiosas,
preservando a existência de certas regras na sua criação e execução.
c) manteve-se uma estrutura religiosa dominada pelos faraós, prevalecendo
princípios politeístas com deuses antropomórficos e vingativos.
d) firmou-se uma religião ética, relacionada com o poder político, mas interessada
em derrubar privilégios e hierarquias.
e) enalteceu-se a existência de deuses ambiciosos e com desejos humanos, sem que
houvesse também crenças monoteístas.
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8. (UFScar) Analise a imagem.
É correto afirmar que a imagem representa
a) uma cena do cotidiano dos hititas, na pesagem de mercadorias comercializadas com
o povo egípcio.
b) acontecimentos do sonho de Moisés, de libertação do povo hebreu, quando era
prisioneiro do faraó egípcio.
c) o início do mundo para os antigos egípcios, quando Nut, deusa do céu e das estrelas,
anuncia sua vitória diante de Chu, deus do Ar.
d) o livro dos mortos dos egípcios, com Osíris à direita e Anúbis ao centro, pesando o
coração de um morto para avaliar sua vida.
e) deuses egípcios da época da antiga dinastia ptolomaica: Amóm-Rá à direita, Thot
acima e Set e Aton ao centro.
9. (COVEST) As religiões são importantes para as organizações culturais do mundo
antigo, criando espaços de convivência e de crenças sociais. Entre os egípcios, a
religião:
a) dependia da capacidade de invenção de artistas para sobreviver.
b) estava profundamente ligada aos presságios da astrologia.
c) tinha forte vinculação com a mitologia dos caldeus e dos sumérios.
d) ligava-se a crenças em deuses que tinham a forma de animais.
e) desvinculava-se do poder dos sacerdotes, acreditando nos faraós.
10.(VUNESP) (...) um dos traços mais visíveis da economia egípcia antiga era, sem
dúvida, o estatismo faraônico: a quase totalidade da vida econômica passava pelo faraó
e seus funcionários, ou pelos templos. Estes últimos devem ser considerados parte
integrante do Estado, mesmo se, em certas ocasiões, houve atritos entre a realeza e a
hierarquia sacerdotal (...). As atividades produtivas e comerciais, mesmo quando não
integravam os numerosos monopólios estatais, eram estritamente controladas,
regulamentadas e taxadas pela burocracia governamental.
(Ciro F. Cardoso. O Egito Antigo, 1982. Adaptado.)
a)
b)
c)
d)
e)
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A partir do texto, conclui-se que, no antigo Egito,
a economia era ineficiente, pois funcionários corruptos exploravam os camponeses e
desviavam os impostos devidos ao Estado.
as constantes disputas entre a burocracia estatal e os sacerdotes levaram à
separação entre o poder político e religioso, o que comprometeu o poder do faraó.
o domínio do poder público sobre a sociedade inibiu o surgimento de iniciativas
privadas, capazes de racionalizar a produção e evitar o desperdício.
a cobrança de impostos constituía-se na principal atividade do Estado, que não
dispunha de exércitos organizados para enfrentar inimigos externos.
a organização da economia garantia ao estado o controle dos excedentes de
produção, que se constituíam em importante fator de poder político.
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11.(UNESP) A espinha dorsal do Egito é o resultado da união entre o Nilo Branco, que
vem dos lagos da África Central, com o Nilo Azul, que desce as montanhas da Etiópia.
Ele atravessa metade do Sudão e corta o Egito de sul a norte, até desaguar no
Mediterrâneo.
Observe o mapa.
A partir da leitura do texto, da observação do
mapa e de seus conhecimentos, analise as
afirmações.
I.Há três milênios, uma vez por ano, entre
julho e setembro, o degelo da neve nas
montanhas da Etiópia e as fortes chuvas na
região provocavam torrentes de água e lama
que faziam o Nilo transbordar.
II.Atualmente, o comportamento do rio Nilo não
mudou: ele recebe o mesmo volume de água de
seus afluentes, especialmente depois da
construção de barragens.
III.O Nilo era tão importante para a
sobrevivência dos egíp cios que eles o consideravam um deus. Esta
civilização desenvolveu-se junto ao curso do rio,
construindo diques e canais de irrigação.
IV. O rio Nilo percorre uma região desértica,
que abrange apenas terras do Sudão e, no seu
baixo curso, deságua no Mar Mediterrâneo,
formando um extenso estuário.
Estão corretas as afirmações
Aventuras na História. Egito, edição especial,
a) I e III, apenas.
2011. Adaptado.
b) II e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
12. (UEPG) A respeito da estrutura social no Egito antigo, assinale a alternativa
correta.
a) Os egípcios se organizavam em comunidades tribais, comandadas por chefes
chamados patriarcas.
b) Somente os escribas tinham algum tipo de privilégio.
c) No topo da estrutura social estavam o faraó e sua família.
d) Os cidadãos egípcios tinham direitos políticos, participavam do governo e
constituíam a maioria da população.
e) A posição mais elevada pertencia aos juízes, que detinham poderes militares,
políticos e religiosos.
13. (ASPERHS) De todas as civilizações que se desenvolveram no Crescente Fértil, a do
Egito se destaca como uma das mais importantes. Sobre a história egípcia leia:
I. A sociedade egípcia formou-se da mistura de diversos povos: hamíticos, semitas,
núbios.
II. Os egípcios julgavam que toda felicidade dependia do faraó e realizavam freqüentes
cerimônias em sua homenagem.
III. Os escravos inteiramente dependentes de seus senhores, eram em geral bem
tratados, os egípcios se consideravam obrigados a oferecer certa segurança aos
escravos.
IV. Uma característica marcante da economia no Egito Antigo era a propriedade
privada da terra, que pertencia aos monarcas e senhores locais.
Estão corretas:
a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, II, e III.
e) I, II, III e IV.
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OLHARES HISTÓRICOS
Cinema
O príncipe do Egito
Direção de Brenda Chapman, Steve Hickner, Simon Wells. EUA,
1998. 99 min.
Reproduz, em desenho animado, a história de Moisés, patriarca
hebreu que conduziu o povo judeu do Egito para a Terra
Prometida, na região da Palestina.
Egito – em busca da eternidade
National Geographic, 1983. Produção sobre o antigo Egito e os esforços atuais para a sua
recuperação e preservação.
Livros
Fatos e mitos do antigo Egito. Margaret Marchiori Bakos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
O mundo Egípcio, Deuses, templos e faraós. John Baines e Joromis Ma‘lek. Del Prado.
Deuses, múmias e zigurats: uma comparação das religiões antigas do Egito e da
Mesopotâmia. Ciro Flamarion Cardoso.
História da Antiguidade. Mário Aertis Giordani. Oriental. Vozes.
Contos e lendas do Egito Antigo. Bregitte Évano. Companhia das Letras.
Sites
Revista Klepsidra
Na revista eletrônica assinada por alunos da Faculdade de História da Universidade de São
Paulo, é apresentado um artigo sobre os principais períodos da história do Egito Antigo.
Disponível em: www.klepsidra.net/klepsidra16/egito-1.htm
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Mesopotâmia
A Mesopotâmia constitui uma faixa de terra estreita e fértil, localizada na Ásia Menor ou
na conhecida Crescente Fértil. Essa região está situada entre os rios Tigre e Eufrates (atual
Iraque). Pode-se também observar algumas semelhanças dessa civilização com o Egito,
uma vez que os dois rios possibilitaram fantásticas condições para o transporte de produtos,
caça e pesca abundantes. O período de cheias dos rios permitia a irrigação, a fertilização e a
concentração de barragens (diques/açudes).
Várias civilizações, como as dos sumérios, acádios, amoritas, elamitas, caldeus, assírios
disputaram a posse das terras férteis e aráveis na Mesopotâmia.
Sumério e acádios
Os sumérios foram os primeiros a desenvolver uma civilização na Mesopotâmia. Por
volta do quarto milênio antes de Cristo, esse povo ocupou o sul da região (Caldéia),
conhecida como Sumer. Eles fundaram várias cidades, tais como, Ur, Uruk, Eridu, Lagash e
Nipur. Essas áreas urbanas consistiam em pequenas Cidades-estados, ou seja, possuíam
autonomia religiosa, política e econômica. O governante de cada cidade era conhecido como
Patesi ou Lugal. Esse rei acumulava funções militares e religiosas, controlava as obras
públicas, como construção de celeiros, templos e canais.
Os sumérios aperfeiçoaram técnicas de irrigação, artes, arquitetura e comércio. Criaram
uma forma de escrita designada como escrita cuneiforme. Esse foi dado porque essa escrita
é composta de caracteres em forma de cunha. No século XIX, os pesquisadores Georg
Grotenfend e Henry Rawlinson decifraram essa escrita que permitiu conhecer a esplendorosa literatura mesopotâmica, que trazia textos religiosos, históricos, mitológicos, códigos
de leis e provérbios.
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A escrita
―Das necessidades da religião, do comércio e do governo surgiu a realização mais
extraordinária da suméria: a invenção da escrita. Os sacerdotes descobriram que
precisavam de um método de preservação de registros, a fim de, por exemplo, saberem
quais agricultores já haviam feito suas contribuições anuais de cevada. Os mercadores
tinham que relacionar a quantidade de cereais enviada ao estrangeiro para trocas. Os
administradores necessitavam de registros de levantamento topográficos e atividades
cívicas. Para preservar essas informações, os escribas, usando afiados estiletes de junco,
gravaram marcas em placas feitas da matéria-prima mais abundante na Suméria: a
argila.Eles trabalhavam com a argila ainda úmida e mole; após o cozimento da placa as
marcas tornavam-se inalteráveis.‖
In Era dos Reis Divinos(3000-1500 a.C) in História em Revista, Abril livros, 1991, p.16.
As cidades-Estados sumerianas eram rivais entre si por causa das disputas territoriais.
Dessa forma, as guerras eram constantes, principalmente entre Ur e Lagash. De certa
maneira, essas divergências facilitaram a instalação, por volta de 2350 a.C., de povos
semitas na Mesopotâmia, tendo como a principal cidade Acad, que originou o nome Acádios.
Os Acádios formaram o primeiro Império da Mesopotâmia. O fundador do Império foi rei
Sargão, que, por volta de 2330a.C., subjugou e unificou as cidades sumerianas. O Império
Acádio foi invadido pelos gutis(povos asiáticos).
Primeiro Império Babilônico
O declínio das cidades sumerianas possibilitou o surgimento de grupos semitas em torno
da cidade de Babilônia, dando origem ao primeiro Império Babilônico. O rei mais apreciável
foi Hamurábi (1728 a.C -1686 a.C.). No seu governo, Hamurábi ampliou o Império,
chegando a ocupar terras no golfo pérsico. No entanto, esse Rei ficou notável como
legislador. Ele foi responsável pela formulação de um dos primeiros códigos de leis,
conhecido como o Código de Hamurábi, baseado na chamada Lei de Talião (olho por olho,
dente por dente).
Leia a seguir parte do Código de Hamurábi:
―Se a esposa de um homem é apanhada na cama com outro homem, os dois serão
amarrados e lançados na água. Se o marido da mulher quer poupá-la, o rei também
poderá poupar seu súdito.
Se um médico fizer uma operação difícil com faca de metal em um homem livre e lhe
causar a morte ou destruir seu olho, a sua mão será amputada.
Se um arquiteto construir para outrem uma casa e ela não for bastante sólida, se a
casa ruir matando o dono da casa, este arquiteto é passível de morte.‖
Citado em GRIMBERG, Carl. História Universal. Madri: Daimon, 1981.
Os assírios
As principais cidades assírias eram Assur e Nínive. Durante a expansão do Império,
ocorrida entre 883 a.C. e 612 a.C, foram conquistados territórios além da Mesopotâmia,
como a Síria e o Egito.
O primeiro exército permanente, com recrutamento obrigatório na antiguidade, foi
formado pelos assírios. A infantaria era formada pelos arqueiros e lanceiros. Existiam
também tropas de soldados especializados em construir pontes e cavalaria eficiente,
somado a isso tinha os carros de combate e armas (catapulta, por exemplo).
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Durante os governos de Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal o Império assírio alcança
seu apogeu. No entanto, a dominação imposta pelos assírios provocou uma série de revoltas
entre os povos subjugados. Dessa forma, pode-se notificar as rebeliões no Egito, na Fenícia,
na Babilônia. Esses levantes foram decisivos para o fim do Império Assírio.
Segundo Império Babilônico
Por volta de 612 a.C., a Babilônia voltou a ser capital de um Império, cujo auge se deu
no governo de Nabucodonosor (612 a.C-561 a.C.). No seu governo, foram construídas
grandes obras públicas, como templos, muralhas defensivas, grandes palácios cercados
pelos ‗jardins suspensos‘ e a famosa torre de Babel. Após a morte de Nabucodonosor, os
seus sucessores não conseguiram manter a unidade do vasto Império, que abrangia o reino
de Judá, a Palestina e o Egito. Em 539 a.C., os Persas conquistaram o Segundo Império
Babilônico. Assim, chega ao Fim a história de poderosos Estados na Mesopotâmia.
Economia e Sociedade
A economia mesopotâmica era baseada na agricultura. O norte da Mesopotâmia era
menos fértil devido à escassez de vegetação e de chuvas. Já o sul, as planícies alagadas
possibilitaram grandes plantações e generosas colheitas. O Estado tinha controle sobre os
trabalhos agrícolas, a utilização das terras e a construção de açudes e canais de irrigação. O
trigo, a cevada e o centeio eram os produtos mais produzidos. Também foram bastante
difundidos o pastoreio de carneiros para a produção de lã, além do gado bovino e eqüino,
para transporte e tração.
Já as atividades artesanais, complementava o setor agrícola. O desenvolvimento dessa
atividade deveu-se à metalurgia (estanho e cobre), nas jóias e bijuterias. O comércio local
e o regional ativo criaram condições para o desenvolvimento de um rico comércio voltado
para o exterior, o qual se propagou para as regiões do Indo (Índia/Pérsia) e da Ásia Menor
ou Ocidental. As negociações eram feitas essencialmente in natura ou trocas. Havia também
o uso de barras de metais preciosos (ouro /prata). Os comerciantes mesopotâmicos
exportavam cereais, tecidos, armas e objetos de metal, em contrapartida importavam
marfim, pedras preciosas, metais (estanho/cobre) e uma grande gama de matérias-primas.
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O crescimento das atividades comerciais gerou a organização financeira através da
instituição de bancos, atividades de crédito e juros (financiamento).Os mesopotâmicos já
usavam recibos, escrituras, cartas de crédito para a dinamização de suas relações
econômico-comerciais.
Como no Egito, a terra era comunitária, mas o Estado era o proprietário geral de todas
as terras. O Estado recebia os rendimentos sob a forma de tributos. Isso determinou que as
classes sociais ligadas ao Estado, e que o representavam, se beneficiassem com as rendas
resultantes do trabalho da terra (nobreza / alta classe sacerdotal / burocracia). Como uma
típica representante do sistema asiático, a Mesopotâmia tinha nos templos a instituição que
concentrava e dirigia as atividades econômicas do Estado.
Apesar da existência de escravos, a mão-de-obra predominante era formada pelos
homens livres (campesinato / artesãos / comerciantes). Na mesopotâmia, pode-se observar
um quadro social marcado pela sua forte rigidez, ou seja, fortemente hierarquizada.
Os comerciantes, os proprietários (homens livres) e os escravos compunham, ao lado
dos artesãos, médicos, funcionários e escribas, as camadas sociais básicas dos povos
mesopotâmicos. A posição social dos comerciantes e proprietários era determinada pela
acumulação e condição econômica. A família, nessa condição social, tinha um papel
importante, tendo a mulher certa autonomia. Já os escravos, apesar da não-existência de
uma sistematização, como veremos na Antigüidade Clássica, eram vistos e tratados como
objetos e instrumentos de trabalho.
Religião e Cultura
Os povos mesopotâmicos em geral eram politeístas. Eles veneravam vários deuses
ligados à natureza e aos astros, dando-lhes uma configuração humana. Cada povo tinha seu
deus preferido, como Marduck entre os babilônios, Assur entre os assírios, e Ishtar, deusa
cultuada por todos os povos mesopotâmicos.
Os mesopotâmicos desenvolveram a magia, a adivinhação e a astrologia como meio
para descobrir a vontade de seus deuses e conseguir proteção para a vida terrena, já que
não cultuavam a vida pós-morte como os egípcios.
Os templos construídos em homenagem aos deuses, também funcionavam como bancos
ou depósitos para armazenar os cereais. A classe sacerdotal era muito poderosa e interferia
no poder através do misticismo e magia (horóscopos / astrologia).
No plano cultural, os povos mesopotâmicos desenvolveram uma série de atividades
como a Arquitetura, Astronomia, Matemática e a escrita. A Arquitetura dedicou-se à
construção de templos como o zigurate e palácios feitos em tijolos de argila.
A Escultura e a Pintura existiram em função da Arquitetura (baixo relevo e mural). Na
Matemática, desenvolveram estudos acerca das operações matemáticas e dos princípios de
geometria aplicada. O estudo de Astronomia, os mapas estelares, a divisão de ângulos, o
calendário de sete dias e os graus foram outras descobertas feitas nos templos pelos
sacerdotes monopolizadores da cultura mesopotâmica.
A escrita cuneiforme, grande realização dos sumérios, também marcou a Mesopotâmia e
o Médio Oriente. Talvez a maior obra da Literatura mesopotâmica seja o Código de
Hamurábi. Apesar de não ser original, pois é uma compilação de leis sumerianas e costumes
semitas, contém 282 leis tratando dos mais variados temas. Suas principais características
são: a "pena de Talião", isto é, "olho por olho, dente por dente", a divisão social em
camadas e a busca da organização do Estado mesopotâmico (Primeiro Império Babilônico).
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TEXTO COMPLEMENTAR
A importância da água para a humanidade no decorrer da história
―Foi nas origens das primeiras sociedades que as ofertas de água doce exerceram um
papel muitas vezes determinante na dinâmica da vida humana e no desenvolvimento
técnico e material. Data de aproximadamente 3.100 a.C. o surgimento da civilização
suméria, na região banhada pelos rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque.
Estes rios, através de seu regime de cheias e vazantes anuais, provê as terras
adjacentes com matéria orgânica fertilizante. (...) Graças à abundância das colheitas eles
obtinham mais alimento do que o necessário para a sobrevivência imediata. O
armazenamento deste excedente dava aos sumérios algumas vantagens na época: a
liberação de alguns indivíduos da lavoura para o trabalho com a arquitetura e a
escrita.(...)
Há uma hipótese geral, no estudo das origens das diferentes sociedades, de que a
produção de um excedente agrícola é necessária para que os agrupamentos humanos
cresçam. (...) Os rios e suas dinâmicas anuais de cheias-vazantes propiciariam a fartura
nas agriculturas nas sociedades suméria, acadiana e egípcia.‖
Revista Com Ciência. Número 13, set. 2000. disponível em www.comciencia.com.br. Acesso em 18 de
dezembro de 2007.
Analisando o texto
1. Faça um pequeno texto comentando sobre a importância dos rios para as civilizações
egípcia e mesopotâmica.
2. Atualmente tem-se debatido bastante sobre a transposição do rio São Francisco. Sobre
isso, será que se pode fazer alguma comparação entre a importância dos rios para o
Egito e a Mesopotâmia, e hoje, para a população do sertão? Justifique.
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FAZENDO HISTÓRIA
1. Explique como era organizada a sociedade sumeriana.
2. Avalie os principais aspectos do Código de Hamurábi e sua importância para o mundo
Ocidental.
3. Faça um quadro comparativo entre a economia no Egito e na Mesopotâmia.
4. Faça um texto descrevendo sobre a relação entre religião e poder na mesopotâmia.
5. Analise a concepção de morte entre os egípcios e os mesopotâmicos.
6. A guerra e a violência parecem ser marcas registradas da região mesopotâmia. Da
Antiguidade até os dias de hoje a região tem vivido constantes conflitos. Explique a
origem das primeiras guerras mesopotâmicas
7. Explique como o mito de Gilgamesh ajuda a entender a forma como os antigos
mesopotâmicos viam a morte e a vida além-túmulo.
―Em 2003 saqueadores esvaziaram um dos museus mais importantes do mundo, no
centro da capital do Iraque, Bagdá. O governo de Saddam Hussein desintegrou-se e as
recém-chegadas forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos não conseguiram
impedir um crime contra a história.
Contrabandistas profissionais ligados à máfia internacional de antiguidade
conseguiram violar algumas das portas trancadas das salas de armazenamento do
Museu de Bagdá.
Eles saquearam artefatos de valor incalculável, como a coleção
inteira de selos cilíndricos do museu e um grande número de esculturas assírias de
marfim.
Mais de 15 mil objetos foram levados. Vários deles foram contrabandeados para
fora do Iraque e oferecidos no mercado. (...)
Quanto mais tempo o Iraque ficar em estado de guerra, mais berço da civilização
estará ameaçado. Pode nem durar o suficiente para que nossos netos aprendam com
esse patrimônio.‖
BAJJALY, Joanne Farchakh. Com guerra, Iraque perdeu 12 mil peças arqueológicas, 25 de abril de 2005. Disponível em
www.bbc.com.uk/portuguese. Acesso em 17 de dezembro de 2007.
8. Baseado no texto acima, forme um grupo de cinco colegas e pesquise sobre as guerras
entre o Iraque e os Estados Unidos ocorridas em 1991 e no ano de 2003. Para facilitar o
trabalho, o grupo pode seguir este roteiro:
I. Saddam Hussein
II. Xiitas e Sunitas
III. Relações econômicas entre Iraque e Estados Unidos
IV. Atual situação política, econômica, social e cultural do Iraque
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE)Uma civilização, via de regra, implica uma organização política formal com regras
estabelecidas para governantes e governados (mesmo que autoritá rios e injustos);
implica projetos amplos que demandem trabalho conjunto e administração centralizada
(como canais de irrigação, grandes templos, pirâmides, portos, etc.); implica a inco
rporação das crenças por uma religião vinculada ao poder central, direta ou
indiretamente (os sacerdotes egípcios, o templo de Jerusalém, etc.); implica uma
produção artística que tenha sobrev ivido ao tempo e ainda nos encante (o passado não
existe em si, senão pelo fato de nós o reconstruirmos); implica a criação ou
incorporação de um sistema de escrita (os incas não preenchem esse quesito, e nem
por isso deixam de ser civilizados); implica finalmente, mas nã o por último a criação
das cidades.
(PINSKY, Jaime. As Primeiras Civilizações. São Paulo: Contexto, 2001. p. 62. Adaptado.)
Baseando-se nas reflexões levantadas pelo texto acima, analise as afirmações a seguir
sobre as civilizações da Antiguidade Oriental:
I. Os egípcios desenvolveram um significativo conhecimento de engenharia, conforme
ressalta o texto, com grandes construções, tais como canais de irrigação, templos e
pirâmides.
II. Tanto as ações dos sacerdotes egípcios como as dos sacerdotes do Templo de
Jerusalém, diferentemente do que propõe o autor, não representavam ações de
poder ligadas a um poder central.
III. Os povos, que habitaram a região da Mesopot âmia, desenvolveram conhecimento
no campo da astrologia e da astronomia.
IV. O autor aponta como um dos elementos essenc iais na caracterização de uma
civilização a estruturação de regras de convívio político.
V. Apesar de a criação das cidad es ser uma das caract erísticas ds antigas civilizações,
não podemos destacar a vida urbana como uma das características da antiga
Mesopotâmia, em especial no Segundo Império Babilônico.
Estão corretas:
a) I, II e V.
b) II, III e IV.
c) I, IV e V.
d) I, III e IV.
e) III, IV e V
2. (VUNESP) A história da escrita começa entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia
– região do Oriente Médio que se estende do Golfo Pérsico a Bagdá (atual capital
iraquiana). A população era composta de camponeses, pastores, ‗funcionários‘ das cortes
reais, sacerdotes e comerciantes. Assim se explicam as inscrições gravadas nas primeiras
placas de barro descobertas na região da Suméria, nos arredores do grande templo da
cidade de Uruk. As ‗placas de Uruk‘ são constituídas de listas de sacos de grãos e de
cabeças de gado, estabelecendo uma espécie de contabilidade do templo. Os primeiros
símbolos escritos são, pois, de contas agrícolas. Graças às placas encontradas nas
escolas sumérias instaladas nos templos, trazendo de um lado o modelo estabelecido
pelo mestre e, do outro, a cópia executada pelo aluno, pode-se retraçar as diferentes
fases da escrita cuneiforme.
(Georges Jean. A Escrita: memória dos homens. Adaptado)
De acordo com o texto, a escrita surge entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia.
Da mesma forma, são dessa região os vestígios mais antigos do processo de
sedentarização do homem. Isso ocorreu porque
a) os primeiros agrupamentos humanos a se sedentarizar buscaram regiões mais secas
– como os desertos do Oriente Médio – para se instalar, receando os impactos das
chuvas torrenciais e das enchentes de outras localidades.
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b) a opção pela sedentarização esteve intimamente associada à procura por lugares
isolados e protegidos, distantes dos mares e cercados por rios, o que dificultava as
invasões estrangeiras.
c) nessa região não chovia o suficiente para possibilitar o desenvolvimento da
agricultura, e os homens que lá se fixaram buscavam uma região em que pudessem
se dedicar mais às atividades tipicamente urbanas.
d) os locais em que se formaram as primeiras cidades, às margens dos rios, eram
adequados à formação de agrupamentos humanos, pois a terra era cultivável
somente onde havia a água de um rio ou de uma nascente.
e) a Mesopotâmia sempre foi muito disputada por diferentes agrupamentos humanos
que estavam em busca de suas riquezas minerais e procuraram se fixar na região
para proteger os seus domínios.
3. (UPE) Na região mesopotâmica, viveram diferentes povos. Ao longo da história, esses
povos confrontaram-se em vários momentos. Sobre esses povos mesopotâmicos, é
incorreto afirmar que:
a) foram os assírios um dos povos mesopotâmicos responsáveis pela criação de uma
das primeiras escritas permanentes do mundo.
b) pelas ideias dominantes na Mesopotâmia, o rei era considerado como um
representante direto dos deuses, alguém predestinado para concretizar, entre os
homens, a vontade divina.
c) Cidades – Estados era a forma de organização política das cidades da Mesopotâmia.
Em diferentes épocas, cidades mais poderosas chegaram a impor seu domínio sobre
as outras.
d) as primeiras formas de escrita eram representadas por desenhos figurativos do
objeto representada (Escrita Demótica).
e) o Código de Hamurabi foi uma reunião de normas sobre transgressões cometidas.
Ele não apresentava definições para os crimes, mas descrevia casos específicos que
seriam usados como padrão a ser aplicado em situações semelhantes.
4.(ASPERHS) A Mesopotâmia é uma região cercada por montanhas ao norte e por desertos
ao sul, mas esta localização geográfica em nada impediu o desenvolvimento dos povos
que ali se instalaram. Sobre este tema analise os itens abaixo:
I. Os sumérios trouxeram para humanidade uma contribuição importante, à chamada
Revolução Urbana e sua organização político-administrativa deu-se em torno de doze
cidades-Estado.
II. Os sumérios foram dominados pelos acádios, que mais tarde foram dominados pelos
amoritas e estes originaram o primeiro império organizado na Mesopotâmia, o
Império Babilônico.
III. Os assírios desenvolveram-se ao Norte da Mesopotâmia e tudo indica que tiveram o
primeiro exército organizado da história: com tropas de arqueiros e lanceiros, carros
de combate e cavalaria.
IV. O Segundo Império Babilônico foi fundado pelos hititas, que liderados por
Nabucodonosor obtiveram o apogeu do desenvolvimento arquitetônico e ainda a
expansão dos domínios até o Reino de Judá, na Palestina.
Estão corretas:
a) I e III.
b) II e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
5. (UFRR) Sobre a Mesopotâmia é correto afirmar que:
a) A organização de instituições que garantiram a participação coletiva na política, a
criação do sistema democrático, a formulação de leis e de instituições. O escravismo
foi o pilar da economia.
b) O Estado tinha como objetivo maior a construção de gigantescas obras hidráulicas
para a prática da agricultura, bem como o incentivo ao desenvolvimento do
conhecimento científico e tecnológico através de suas escolas.
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c) O trabalho era organizado com uma forte presença de um Estado centralizado e
teocrático, voltado para a construção e manutenção de obras públicas. Apesar de
contar com o trabalho escravo este não era o pilar de sua economia.
d) O trabalho era organizado com uma forte presença de um Estado centralizado e
teocrático, voltado para a construção e manutenção de obras públicas com a
economia centrada no comércio e na navegação.
e) Civilização classificada como "hidráulica", teocrática de prática monoteísta, tinha
como base econômica o escravismo.
6. (VUNESP) Leia atentamente o texto a seguir.
Destruição cultural
Entre os vários crimes cometidos na guerra do Iraque está o desaparecimento de
inestimáveis tesouros arqueológicos que foram destruídos nos bombardeios ou
roubados nos saques que varreram o país depois da queda de Saddam. Ainda é cedo
para calcular os prejuízos, mas as estimativas pessimistas mencionam o número de 170
mil itens aniquilados ou desaparecidos. (...) Os EUA não podem ser isentos de culpa...
Deixaram de tomar as providências mínimas para evitar a pilhagem do Museu Nacional
do Iraque, da Biblioteca Nacional e de vários outros museus e arquivos, além de sítios
arqueológicos. O problema dos saques era tão previsível que há até informações de que
quadrilhas especializadas em roubo de obras de arte foram para o Iraque para
participar do butim.
(...) Também parece ter-se perdido a Biblioteca de Sippar, uma coleção de cerca de
800 tabletes de barro com escrita cuneiforme babilônica do século 6.º a.C. É a mais
antiga coleção de obras encontrada em seu lugar original. (...) Boa parte do
acervo da biblioteca não havia sido decifrada nem publicada.
(Folha de S.Paulo, 27.04.2003. Editorial)
Acerca dessa guerra e da consequente destruição do país e de seu patrimônio, é
correto afirmar que:
a) o território da antiga Mesopotâmia coincide em parte com o território do atual
Iraque, e a destruição desse patrimônio significa a perda de objetos da cultura
material de povos como os sumérios e os acádios.
b) a região do atual Iraque não teve grande importância histórica, pois, com a ascensão
de Saddam Hussein ao poder, o país se tornou uma ditadura e foi relegado a
segundo plano no contexto mundial.
c) o Iraque teve perdas financeiras irreversíveis com a destruição desse patrimônio
cultural, pois a comercialização dos tesouros arqueológicos era importante fonte de
recursos para o país antes da guerra.
d) os EUA não se preocuparam em cuidar desse patrimônio, pois sabiam que o material
destruído já não tinha tanta importância do ponto de vista das pesquisas, mesmo
para historiadores e arqueólogos.
e) o patrimônio cultural deve ser transmitido de geração para geração, mas como os
itens destruídos ou roubados são muito antigos, já não dizem respeito às gerações
contemporâneas.
7. (UPE) Dentre os povos que habitaram a região da Mesopotâmia, podemos perceber
uma diversidade de contribuições para a humanidade. Essas contribuições podem ser
exemplificadas pelo:
a) desenvolvimento da escrita fonética por parte dos assírios.
b) fato de os sumérios terem escravizado os hebreus.
c) primor urbanístico por parte dos fenícios.
d) uso do direito por parte do primeiro império babilônico.
e) esplendor da filosofia entre os acádios
8. (UPE)As sociedades da Antiguidade Oriental tiveram práticas sociais com influências
marcantes das religiões e inventaram outras formas de conhecer o mundo. Na
Mesopotâmia, ocorreu/ocorreram
a) o predomínio de castas sacerdotais poderosas, mas que criticavam o poder existente
e combatiam as superstições.
b) expressões artísticas pouco originais, direcionadas só para admiração dos deuses e
das forças da natureza.
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c) o uso da escrita cuneiforme, a descoberta do uso da raiz quadrada e a crença na
ação de espíritos malignos causadores de doenças.
d) a crença em deuses antropomórficos, oniscientes e eternos que não eram adorados
em templos.
e) uma arte direcionada para consagração dos feitos militares e não preocupada com a
construção de uma arquitetura grandiosa.
9. (UPE) Do Oriente antigo próximo, duas civilizações se destacaram, aparecendo sempre
como as mais importantes no estudo das sociedades antigas. Egito e Mesopotâmia se
assemelham em muitos aspectos históricos, mas não podemos negar as suas peculiaridades. Considerando a informação sobre essas duas civilizações, assinale a alternativa
correta.
a) Havia constantemente cultos aos deuses da fertilidade, com objetivo de aumentarem
a sua produção agrícola e o comércio local.
b) Faraó e o Rei eram considerados Deuses, devendo suas populações prestar-lhes
obediência e culto divino.
c) As duas civilizações se destacaram ao mesmo tempo na matemática, física,
medicina, astrologia e astronomia.
d) Por haver um grande desenvolvimento literário e cultural nas duas civilizações, a
maioria da população sabia ler e escrever.
e) Mesmo vivendo em regiões predominantemente desérticas e montanhosas, estavam
muito ligadas aos seus rios, considerados como uma riqueza nacional.
10.
(UFPB) Uma das regiões de maiores conflitos civilizacionais, ao longo da História,
é a do Oriente Médio. Na Antigüidade, parte dessa região foi ocupada pelo Império
Babilônico. Embora a riqueza de sua civilização seja mal conhecida, a Babilônia povoa
o imaginário social até os tempos contemporâneos, em diversas manifestações
culturais, a exemplo da ópera Nabucodonosor (do compositor italiano Giuseppe Verdi)
e de algumas músicas brasileiras atuais, como a apresentada abaixo.
Suspenderam os Jardins da Babilônia
e eu para não ficar por baixo
Resolvi botar as asas para fora, porque
Quem não chora daqui, não mama dali [...]
(LEE, Marcucci; LEE, Rita. Jardins da Babilônia, 1978. Disponível em:
<www.cliquemusic.com.br>. Acesso em: 15 ago. 2006).
Sobre a civilização babilônica, é correto afirmar:
a) A configuração geográfica de planície, na Mesopotâmia, foi elemento favorável a
invasões de numerosos povos, que conseguiram conviver em um Estado unificado,
estável e duradouro.
b) A Babilônia foi fundada e tornou-se capital durante a primeira unificação política na
região – o Primeiro Império Babilônico, quando cessaram as ondas migratórias na
Mesopotâmia.
c) A desagregação do Primeiro Império Babilônico não mais permitiu outra unificação
política na região, impedida pelos assírios, povo do norte da Mesopotâmia, ainda
hoje remanescente no Iraque.
d) O esplendor da Babilônia ocorreu no Segundo Império, com a construção de
grandes obras públicas: as muralhas da cidade, os palácios, a Torre de Babel e os
Jardins Suspensos.
e) A cultura babilônica, como a dos povos mesopotâmicos, em geral, apresentou um
grande desenvolvimento da astronomia, da medicina e da matemática, que se
separaram, respectivamente, da astrologia, da magia e da mística dos números.
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OLHARES HISTÓRICOS
Cinema
Mesopotâmia: retorno ao Éden
Série Civilizações Perdidas, 1997. Documentário
floresceram na Mesopotâmia.
que
mostra antigas culturas
Livros
A epopéia de Gilgamesh. Ibn Al-Muqasfa. São Paulo: Martins fontes, 2001.
Antigas Civilizações. São Paulo: Ática. (coleção Atlas Visuais).
Mesopotâmia: a invenção de uma cidade. Gwendolyn. São Paulo: Imago, 2003.
Sites
Babilônia Brasil
Site traz importantes informações sobre a Mesopotâmia.
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que
Hebreus
A história dos hebreus tem uma importância especial para a cultura contemporânea.
Os princípios éticos e morais dessa civilização são legados que fundamentaram as duas
principais religiões do ocidente: o judaísmo e cristianismo.
Judeu ortodoxo em Jerusalém. Atualmente, a intolerância tem sido uma das
marcas constantes no Oriente Médio entre Israelenses e Palestinos.
A maior parte do que se sabe em relação aos hebreus se encontra no Velho Testamento,
coleção de livros que reunido com o Novo Testamento, compõem a Bíblia. O Velho
Testamento contém as Escrituras sagradas para os Judeus. Vale salientar, que a Bíblia é
considerada como a grande fonte histórica para compreender o percurso do povo hebreu.
Além disso, as pesquisas arqueológicas e obras de historiadores judeus também contribuem
para entender melhor o passado hebraico.
Os hebreus têm sua trajetória marcada por várias mudanças. Antes de chegarem à
Palestina (por volta 2000 a.C.), esses semitas viviam perto da cidade de Ur, localizada ao
sul da Mesopotâmia. Por volta de 1700 a.C, os Hebreus estiveram no Egito em busca de
melhores condições de vida. Entre a permanência na Mesopotâmia e o Egito, eles
organizaram-se em clãs, as quais foram chefiadas pelos patriarcas.
―Segundo o Antigo Testamento, ao saírem de Ur no II milênio a.C. os hebreus tinham por
objetivo chegar a Canaã, na Palestina, território que Deus lhes teria destinado e, por
isso, chamado por eles de Terra prometida. Por essa época, a sociedade hebraica estava
organizada em clãs dirigidos por patriarcas. Abraão, um desses patriarcas, teria sido o
responsável pela condução dos hebreus à Terra Prometida.‖
ARRUDA, José Jobson; PILLETI, Nelson. Toda História. 13ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
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887
Os Patriarcas
Nessa fase de organização econômica e social, os patriarcas têm atribuições de juízes,
sacerdotes e chefes militares. Além disso, eles eram autoridades política e moral das
famílias, conduzindo seus parentes e seus rebanhos pelas regiões férteis. O povo judeu foi
dirigido pelos patriarcas por muito tempo. Os principais patriarcas foram Abraão. Isaac e
Jacó.
Abraão e a Terra Prometida
―O Senhor disse a Abraão: ‗Sai da tua terra, de tua parentela, da casa de teu pai e vai
para a terra que te mostrarei. Farei de ti um grande povo e te abençoarei,
engrandecendo teu nome, de modo que se torne uma bênção. Abençoarei os que te
abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Com teu nome serão abençoadas
todas as famílias da terra.‖
Texto extraído da Bíblia – Estudando a Palavra de Deus. São Paulo/Petrópolis, FTD/Vozes, 1995. p.29.
 O Êxodo
Por volta de 1760 a.C, as fortes secas impulsionaram os hebreus a abandonar a
Palestina e deslocar para o Egito. Eles se instalaram região do Delta do Nilo, dominado pelos
hicsos. É importante frisar, que muitos hebreus foram contratados pelos hicsos para
diversos trabalhos, inclusive entregando-os relevantes cargos.
No entanto, em 1580 a.C, aproximadamente, os egípcios expulsaram os hicsos,
passando a perseguir e escravizar os hebreus. Depois de 400 anos de estada no Egito,
Moisés lidera a saída dos hebreus, num acontecimento que ficou conhecido como Êxodo.
A viagem de retorno a Palestina durou quarenta anos. Segundo a Bíblia, foi durante
percurso que Moisés recebeu de Iaweh (Deus), no Monte Sinai, as Tábuas da Lei ou os Dez
Mandamentos. No Decálogo ou na Lei Mosaica, como também são denominados, estão
contidos normas civis, morais e religiosas. Moisés faleceu antes de vislumbrar a Terra
Prometida, dessa forma, Josué e Calebe passaram conduzir o povo.
Os dez mandamentos
1. Não terás outros deuses em desafio a Mim.
2. Não farás imagem esculpida.
3. Não tomarás o nome teu Deus, em vão.
4. Lembra-te do dia do Sábado, para o santificar.
5. Honra a teu pai e a tua mãe, a fim de que os
teus dias se prolonguem sobre o solo que , teu
Deus, te dá.
6. Não assassinarás.
7. Não cometerás adultério.
8. Não
levantarás falso testemunho contra teu
próximo.
9. Não
Moisés com as Tábuas da Lei, por
Rembrandt, simbolizando o momento
em que Moisés mostra as tábuas com os
mandamentos ao povo de Israel.
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levantarás falso testemunho contra teu
próximo.
10. Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a
mulher do teu próximo.
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Juízes e Monarcas
Com o retorno à Palestina, os hebreus dessa vez, se organizaram em várias clãs em
doze tribos, cada qual com uma quantidade de terra. Para tomar posse da Canaã, os
hebreus precisavam, antes de tudo, derrotar seus inimigos, entre eles os filisteus, que
também almejavam conquistar a região.
Dessa forma, surgiram os chefes com qualidades militares que ficaram conhecidos como
Juízes. Os mais famosos foram Otoniel, Sangar, Barac, Gedeão, Sansão e Samuel. Além de
combaterem os filisteus, os juízes tiveram que lutar contra os amoritas. O governo dos
juízes desenvolveu e propiciou aos hebreus se organizarem num sistema monárquico.
Samuel, o último juiz, ungiu Saul como o primeiro rei. Logo após Saul, veio Davi, que
conquistou novas terras e trouxe prosperidade econômica para o reino hebreu. Jerusalém
foi escolhida como a capital do Estado, simbolizando dessa maneira a unificação das tribos
do norte e do sul da Palestina.
O governo de Salomão, filho de Davi, foi marcado por grande desenvolvimento
econômico. Ele firmou acordo com os fenícios, onde previa a troca de trigo e óleo por
madeira, além disso, da Ásia Menor eram trazidos cavalos.
A prosperidade tornou viável a construção do Templo de Jerusalém, destinado a guardar
as Tábuas da Lei e o candelabro de sete braços, símbolos da religião dos hebreus e, hoje,
dos judeus.
O Muro das Lamentações e a Cúpula da Rocha são dois locais emblemáticos de Jerusalém. O Muro das Lamentações é
o único fragmento que resta do último Templo de Jerusalém, que foi destruído pelos roamanos em 70 d.C.
Para manter o luxo e a riqueza que foram marcas registradas no governo de Salomão,
era necessário aumentar constantemente os tributos, que por sua vez, sobrecarregava os
pobres, conduzindo-os à miséria. Além disso, os camponeses eram forçados a trabalhar nas
obras públicas. Tais procedimentos produziram descontentamentos e revoltas entre os
hebreus.
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O Cisma e o Cativeiro da Babilônia
Em 935 a.C., com a morte de Salomão, ocorreu uma divisão política e religiosa nas doze
tribos de Israel, decretando o fim da Monarquia unificada. Como conseqüências dessa
cisma, foram criados dois Estados: ao norte, o Reino de Israel, composto por dez tribos e
liderados por Jeroboão, sendo a sua capital Samaria. Apesar do culto a Iaweh permanecer,
foi introduzido à adoração a vários outros deuses.
Nesse reino, o rei oprimia bastante seus
súditos, principalmente os camponeses que
pagavam altos impostos. Por volta do século IX
a.C., o movimento profético ganhou muita força.
Os profetas, Elias, Esdras, Jeremias e outros,
defendiam as aspirações dos mais pobres e
liderava a oposição ao rei.
Em 723, o rei assírio Sargão II invadiu Israel,
destruindo a capital Samaria. Nesse mo-mento,
Israel se torna província assíria, sendo que
grande parte dos israelenses foi levada para a
Mesopotâmia.
Já o Reino de Judá, localizado ao sul, era governado por Roboão. Esse reino era formado
pelas tribos de Benjamin e de Judá, sendo sua capital Jerusalém. Os habitantes de Judá
permaneceram fiéis ao monoteísmo. Em meados do século VII a.C., o rei Ezequias fez um
aliança com o Egito, com a finalidade de evitar a invasão dos assírios. Mesmo assim, boa
parte do território de Judá foi submetida aos assírios.
Por volta de 596 a.C., Nabucodonosor II, rei da Babilônia, conquistou o Reino de Judá,
destruindo o Templo de Jerusalém e ordenando o deslocamento do rei e os mais
importantes moradores da região para a Mesopotâmia. Esse acontecimento foi denominado
como o Cativeiro da Babilônia.
Diáspora e a criação do Estado de Israel
Quando o Império Babilônico foi derrotado pelos persas, o rei Ciro, libertou os hebreus
que retornaram à região da antiga Jerusalém. Nesse local, foi reconstruído o templo.
Lentamente, as divergências entre Israel e Judá foram sendo eliminadas, o que impulsionou
a chamá-los genericamente de judeus.
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Após o domínio persa, a Palestina foi conquistada, 332 a.C., por Alexandre da
Macedônia. Em 63 a.C., a região foi anexada ao Império Romano. A princípio, não houve
choque entre crenças religiosas dos judeus e romanos. Entretanto, a partir de 70 da nossa
era, com a divinização do imperador romano e com a não aceitação de venerá-lo, foi
ordenada a destruição de Jerusalém. Além disso, as diversas revoltas organizadas por
grupos nacionalistas judeus agravaram a crise entre os romanos e judeus. Esses fatos,
propiciaram, a expulsão e dispersão dos judeus pelo mundo, tal fenômeno recebeu o nome
de Diáspora.
Fora da Palestina, os judeus passaram a viver em comunidades pequenas. Mesmo sem
território próprio, preservaram sua identidade cultural. Em 1948, a ONU cria o Estado de
Israel, possibilitando o retorno do povo judeu ao antigo território. Infelizmente, a criação de
Israel gerou uma série de conflitos com os palestinos, que permanece até os dias de hoje.
―Diz a lenda religiosa que Deus prometeu aos judeus um lar na Palestina. Mas nunca
teria prometido expulsar os árabes cananeus da Palestina, nem tampouco falou com
Moisés, nem com Abraão para matar os palestinos ou os árabes cananeus. Por isso, eu
não concordo com a história que diz que eles são donos da Palestina, pois ficaram pouco
tempo nela, especialmente em Jerusalém, e nunca ocuparam toda a região.‖
MATO GROSSO, Lejeune. Palestinos na formação do mundo árabe. Princípios. São Paulo, editora Anita Garibaldi, 1991.
Religião e Cultura
Ao estudar Hebreus não se pode separar os aspectos religiosos de sua trajetória
histórica. Isso porque, há uma intimidade muito forte entre a religião e os fatores sociais,
econômicos e políticos.
O processo evolutivo da religião hebraica tem um percurso bem diferente de outros
povos da Antiguidade. Inicialmente, os hebreus praticavam a monolatria, ou seja, crença
em vários deuses, mas adoração e culto a apenas um deles. Com o decorrer dos tempos,
Iaweh tornou-se a deidade mais cultuada.
―No Oriente Antigo, o mito carecia de independência. Antes de se cristalizar em
formas literárias, ele era magia (uma maneira de agir sobre o mundo) e ritual (um modo
de obter o apoio divino mediante certas observâncias). Por existir uma comunidade entre
o mundo dos homens e o da natureza, ambos animados, dotados de inteligência e
vontade própria, ambos dominados pelos deuses – isto é um pressuposto do pensamento
mítico -, então o homem, além de explicar miticamente como algo se deu ‗pela primeira
vez‘, no começo dos tempos, através da intervenção de deuses ou heróis sobrehumanos, também queira evocar pelo ritual e renovar pela magia tais gestos e palavras
criadores, desenvolvendo ações que –acreditava-se – coagiam para que certas coisas
desejadas acontecessem: a cheia do rio; a fertilidade das mulheres; a vitória sobre os
inimigos (...)
Nessa modalidade de cultura e de pensamento, era forçoso que a religião ocupasse
um lugar central. Paradoxalmente, porém, o termo ‗religião‘ não pode ser traduzido para
as línguas de época. É que a separação entre o domínio religioso e outros domínios é
algo que no mundo atual parece corriqueiro, mas que não faria sentido para um oriental.
Governo e culto, astronomia e astrologia, lei divina e lei humana etc. não eram vistos
como coisas distintas ou separáveis entre si. A religião estava em toda parte, tudo
penetrava, e portanto, não podia ser percebida como setor circunscrito da realidade e da
vida social.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a Antiguidade. Brasília: Unb. P48 e 56-7.
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O primeiro código para o desenvolvimento ao culto a Iaweh foi elaborado por Moisés
através do Decálogo ou os Dez Mandamentos, além de outras normas encontradas no
Antigo Testamento. Dessa forma, os hebreus foram os primeiros povos a sistematizar o
culto monoteísta.
A partir do século VIII a.C., com a colaboração dos profetas, se consolidou a adoração
exclusiva a Iaweh. Os profetas desempenharam um papel muito importante na religião
hebraica. Eles fizeram algumas reformas religiosas com o objetivo de manter o povo
israelita fiel a Jeová ou Iaweh. Os principais profetas foram: Elias, Oséias, Habacuque,
Neemias, Isaías e Jeremias.
A Bíblia representa a expressão mais relevante da cultura hebraica. Como eram
limitados aos preceitos de sua religião, os hebreus não se dedicaram às ciências nem a
escultura. Portanto, o legado cultural que marcou profundamente a civilização ocidental foi o
estabelecimento do monoteísmo, uma vez que contribuiu para o surgimento das principais
religiões contemporâneas: judaísmo, cristianismo e islamismo.
Principais festas judaicas
PÁSCOA
ANO NOVO/TROMBETAS
A Páscoa representa a libertação dos judeus
do Egito e dura uma semana.
Um tempo de reconciliação com Deus.
IOM KIPPUR – Dia da Expiação
(Perdão)
É o dia mais santo de todo o calendário
judaico. Os judeus devotos jejuam durante
24 horas, passam todo o dia na sinagoga e
usam uma veste branca como símbolo de
pureza. No fim do dia, fiel considera-se
espiritualmente renascido.
TABERNÁCULOS
Festival de colheitas agradecendo a Deus
pela sua bondade e os cuidados com os
judeus durante os quarenta anos de
travessia do deserto.
ANOTAÇÕES
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TEXTO COMPLEMENTAR
Mundo condena pior ataque de Israel no Líbano
―A comunidade internacional condenou o ataque mais violento desde o início da
guerra não declarada entre o grupo terrorista libanês Hiszbollah e Israel. Ao menos 56
pessoas morreram nos bombardeios contra o vilarejo de Qana (...). Dentre as vítimas,
37 eram crianças, segundo fontes da polícia libanesa e das equipes de resgate.
O representante das Relações exteriores da União Européia, Javier Solana, afirmou
em um comunicado que ‗nada pode justificar‘ a morte de civis inocentes.(...)
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), por sua vez, que
convocou reunião de emergência para domingo, disse ser necessário ‗que o conselho de
Segurança tome medidas para evitar que a situação se torne incontrolável e a escalda de
violência se espalhe.‘
O Papa Bento 16 também pediu, durante a bênção do Ângelus, um cessar-fogo
imediato no Oriente Médio. ‗Em nome de Deus me dirijo a todos os responsáveis por esta
espiral de violência, para que as armas sejam depostas imediatamente por todas as
partes‘, disse em Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas, perto de Roma.‖
Folha on line, 30/07/2006. Disponível em www.folha.uol.com.br. Acesso em 20 de dezembro de 2007.
Analisando o texto
1. Defina o tema principal abordado no texto.
2. Qual a posição da comunidade internacional mediante ao conflito no Oriente Médio?
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FAZENDO HISTÓRIA
1. Os Hebreus acreditavam na existência de um Deus único.
a) Faça uma comparação entre a religião hebraica e os demais povos da Antiguidade
Oriental (Egípcios, Mesopotâmicos).
b) Caracterize as fases políticas da História dos Hebreus.
2. Leia o texto abaixo.
O Legado de Abraão
―Em certo sentido, bem mais amplo, porém, Abraão nunca morreu. No mais alto
plano religioso, o patriarca e sua pioneira crença em um Deus único acabaram sendo um
modelo para Jesus Cristo e seus primeiros discípulos e, muito tempo depois, também
para o profeta Maomé e seus seguidores muçulmanos. Hoje, Abraão se destaca como
uma figura espiritual ímpar, transcendendo as fronteiras das três religiões. Ainda que
possa ser questionável a exatidão das escrituras, ainda que os indícios arqueológicos e
históricos sejam raros, judeus, cristãos e muçulmanos até hoje o veneram como o
verdadeiro patriarca.
(...)
‗Meus Deus me Salvará‘. Nessas quatro simples, mas poderosas palavras
encontramos a essência de Abraão e de seus espantosos feitos. Elas expressam sua
crença fundamental: a de que existe apenas um único Deus. E essa crença mudou o
mundo apara sempre.‖
SZULC, Tad. National Geographic – Brasil, dez.2001, p. 74-75.
a) Qual a principal idéia contida no texto de Tad Szulc?
b) Interprete o sentido de classificar Abraão como uma ‗figura espiritual ímpar‘.
3. Faça um quadro com as principais características da religião hebraica.
4. Comente sobre a importância da religião dos hebreus para a formação da sociedade
ocidental.
5. Atualmente está ocorrendo um sangrento conflito entre Israel e os Palestinos. Forme um
grupo de cinco pessoas e pesquise em livros, jornais, revistas, enciclopédias e internet,
os principais argumentos defendidos por cada parte dos envolvidos. Ao término da
pesquisa, elabore uma possível solução para trazer a paz entre os palestinos e judeus.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (IPAD) Nas sociedades do mundo antigo, as religiões foram decisivas para a
manutenção de valores e costumes. Elas se firmaram em espaços da política e
influenciaram transformações em vários momentos históricos. Entre os hebreus, a
religião:
a) contribuiu para organização da vida social, conseguindo assegurar permanências
culturais importantes.
b) afirmou preceitos éticos baseados no monoteísmo, não se deixando influenciar pela
cultura de outros povos.
c) democratizou os governos, enfatizando a solidariedade e criticando a violência dos
exércitos imperialistas.
d) permaneceu como a única monoteísta do mundo antigo, proclamando o amor ao
próximo e a onipotência divina.
e) fortaleceu as crenças em ídolos e em princípios das filosofias orientais, não
interferindo na vida política.
2. (UPE) Sobre a religião e a identidade dos hebreus, analise as afirmativas abaixo.
I. Inicialmente politeístas, os hebreus mudaram sua concepção religiosa na época de
Abraão, que era contrário à adoração de ídolos.
II. Durante a peregrinação no deserto, sob a liderança de Salomão, os hebreus
iniciaram a fase conhecida como ―monolatria nacional‖, substituindo a crença em
Abraão pela crença em Moisés, quando este propagou os Dez Mandamentos.
III. Com Amós, Oseias, Isaías e Miqueias, Iavé tornou-se o deus de todos os homens,
senhor do universo, e a religião adquiriu um conteúdo ético, pois os profetas
denunciavam as injustiças sociais, combatendo o excesso de riqueza de alguns e a
pobreza da maioria.
IV. Mesmo se dividindo entre a seita dos fariseus, a seita do seduceus e a seita dos
essênios, a religião manteve a força. Entretanto, o povo sempre viveu disperso pelo
mundo.
Estão corretas:
a) somente I e II.
b) somente I, II e III.
c) somente I, III e IV.
d) somente I, II e IV.
e) I, II, III e IV.
3. (UPE) Os hebreus tiveram um papel importante para a religião das sociedades
contemporâneas, em especial ao desenvolverem o culto monoteísta. No processo de
desenvolvimento do monoteísmo, podemos destacar o (a):
a) figura de Moisés como um dos construtores deste novo culto.
b) influência da religião egípcia sobre os hebreus.
c) presença de deuses fenícios no panteão hebraico, em especial após o cativeiro da
Babilônia.
d) culto aos ancestrais como uma das práticas desse monoteísmo.
e) substituição do deus Javé por Ur no centro do culto hebraico.
4. (COVEST) O povo hebreu teve dificuldade para se estabelecer politicamente durante a
Antiguidade. No entanto, a sua religião foi decisiva para a manutenção da sua cultura. A
religião hebraica, durante toda a Antiguidade:
a) foi politeísta, seguindo o modelo das crenças egípcias e assírias.
b) adotou ídolos que simbolizavam as forças da natureza.
c) manteve o dualismo presente, imitando as crenças mesopotâmicas.
d) sofreu mudanças significativas, passando por reformas éticas importantes.
e) esconsiderou a escatologia, acreditando em deuses antropomórficos.
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5. (UEPG) A respeito do Êxodo, importante episódio da história do povo hebreu, assinale a
alternativa correta.
a) Foi o período em que os hebreus estiveram na Babilônia, como escravos.
b) Conduzidos por Abraão, o primeiro patriarca, os hebreus partiram de Ur e
estabeleceram-se na Palestina.
c) Abraão anunciou uma nova cultura religiosa e libertou o povo hebreu do cativeiro
egípcio.
d) Foi a fuga dos hebreus da escravidão do Egito, sob a liderança de Moisés.
e) Marca o nascimento de Cristo para os hebreus.
6. (URCA/CE) Excertos da legislação Mosaica (Deuteronômio):
―Cap. 19 (...)
15 - Uma só testemunha contra ninguém se levantará para qualquer iniquidade, ou por
qualquer pecado, seja qualquer o pecado que pecasse: pela boca de duas testemunhas,
ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o negócio.
16 - Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele
acerca do desvio.
17 - Então aqueles dois homens, que tiverem a demanda, se apresentarão perante o
Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias;
18 - E os juízes bem inquirirão; e eis que, sendo a testemunha falsa testemunha, que
testificou falsidade contra seu irmão.
19 – Far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão: e assim tirará o mal do meio de ti.
20 – Para que os que ficarem o ouçam e temam e nunca mais tornem fazer tal mal no
meio de ti.
21 - O teu olho não poupará: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por
mão, pé por pé.‖
O direito hebraico era um direito religioso e no aspecto penal procurava-se
estabelecer um equilíbrio entre a ofensa e a repressão, mediante um sistema
condicionado à regra de que ao mal praticado deveria corresponder um mal igual. Esse
tipo de punição é conhecido como:
a) Pena da Razoabilidade.
b) Pena da Proporcionalidade.
c) Pena do Talião.
d) Pena da Individualidade.
e) Pena do Ordálio.
7. (UPE) Assinale a alternativa incorreta.
a) Dentre os povos da Antigüidade, os Hebreus distinguiram-se pelo monoteísmo,
baseado na crença em Iavé.
b) O Cristianismo incorporou grande parte das tradições religiosas dos hebreus, que nos
foram transmitidas através do Antigo Testamento.
c) Os Hebreus resolveram deixar o Egito durante o Reinado de Salomão, porque o
regime de perseguição, imposto pelos Juízes e o Faraó, tornou-se insustentável.
d) Moisés conduziu o povo hebreu do Egito à Palestina, no episódio conhecido como
Êxodo.
e) Os hebreus celebravam Três grandes festividades, entre as quais a Páscoa, na qual
se comemorava a saída do Egito.
8. (ASPERHS) Vários povos da antiguidade oriental influenciaram decisivamente para as
sociedades posteriores. Dentre esses povos estão os Hebreus. A maior contribuição dos
Hebreus, para as sociedades atuais foi no campo religioso. Quais as características dessa
religião:
a) A introdução do dualismos ou seja a luta do bem contra o mal.
b) O politeísmo antropozoomórfico, onde vários deuses tinha forma de homens e
animais.
c) O politeísmo zoomórfico, deuses em forma de animais, como o deus Baal.
d) O monoteísmo religioso, a crença num deus onipotente, onisciente e onipresente.
e) O islamismo, a crença em Alá e no alcorão.
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9. (PUC-SP) O cristianismo, na sua origem, está repleto de heranças(em geral modificadas)
da religião judaica; mas há, também, elementos que não são partilhados por essas duas
concepções religiosas. Dentre eles, podemos destacar:
a) a referência ao Antigo Testamento como escritura sagrada.
b) o conceito de culpa como elemento estruturante da moral religiosa.
c) a fé em um único deus.
d) O alcance universal do ideal de salvação.
e) A adoção de uma moral sexual que valoriza a monogamia.
10.(UFPI) Segundo os relatos bíblicos, os hebreus migraram do Egito para a Palestina e, lá,
conquistaram territórios e formaram, depois de algum tempo, uma Monarquia. Sabe-se,
também, que o povo hebraico, tinha, na sua religião, um traço que o diferenciava dos
demais povos que habitavam a Palestina. Sobre a religião hebraica, é incorreto afirmar que:
a) baseava-se na crença da revelação direta de Deus, o que levava os hebreus a
acreditarem que eram os escolhidos por Deus para serem seu povo na Terra.
b) tinha na Arca da Aliança um elemento concreto de ligação com Javé.
c) contava com uma estrutura sacerdotal hierarquizada, cujo centro era a figura de um
Sumo sacerdote que dirigia as práticas religiosas em Israel.
d) diferenciava-se, pelo caráter monoteísta, das demais religiões orientais na
antiguidade.
e) o culto a Javé assumia papel central nas práticas hebraicas, no entanto, o culto
privado de divindades zoomórficas sempre foi aceito pela religião oficial.
11.(PUC-PR) Na Antiguidade muitos povos consideravam que as doenças eram enviadas pelos
deuses. No final do século VIII a.C., quando os assírios sitiaram a cidade de Jerusalém e
ameaçaram invadi-la, uma epidemia virulenta acometeu o acampamento matando muitos
soldados. Nessa ocasião, Ezequias, rei de Judá, considerou essa epidemia uma bênção de
Deus. Nesse contexto, marque a alternativa incorreta sobre a religião dos hebreus:
a) Os hebreus consideravam Deus como soberano absoluto, fonte de todo o Universo e
dono de uma vontade suprema.
b) O Deus hebreu era transcendente, não se identificava com nenhuma força natural;
estava acima da natureza.
c) Os hebreus consideravam Deus bom e que fazia exigências éticas ao seu povo. Ao
contrário dos deuses do Oriente Próximo, Deus não era atraído pela luxúria ou
impelido pelo mal.
d) Deus para os hebreus era uno, soberano, transcendente e bom.
e) Para os hebreus o poder de Deus vinha de um poder preexistente, habitava a
natureza e fazia parte dela.
12.(UPE) A civilização hebraica tem forte influência na cultura ocidental cristã,
fornecendo contribuições valiosas para a formação da chamada Civilização Judaicocristã. Sobre isso, analise os itens abaixo:
I. Os hebreus formaram-se da miscigenação entre clãs de semitas e tribos indoeuropeias.
II. Davi foi o grande rei hebreu que é o autor dos Salmos.
III. Moisés libertou os hebreus do cativeiro no Egito e é o autor do Pentateuco.
IV. Salomão, que construiu o templo de Jerusalém, é o autor do Cântico dos Cânticos.
V. Dentre os textos que compõem o Velho Testamento, podemos destacar a
presença de livros de leis, relatos históricos, profecias e até mesmo um poema
lírico-amoroso.
É correto afirmar, após a análise dos itens acima, que:
a) todos estão corretos.
b) apenas I está correto.
c) I e V estão corretos.
d) apenas II, III, IV e V estão corretos.
e) apenas V está correto.
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OLHARES HISTÓRICOS
Cinema
Dez Mandamentos
Direção de Cecil B. DeMille.(EUA, 1956. 220 min.).
Superprodução épica que narra a história de Moisés desde o
nascimento no Egito até a liderança do povo hebreu rumo à
Terra Prometida.
José, o Rei dos sonhos
Direção de Robert Ramirez e Rob de Luca. EUA, 2000. 75 min.
Rei David (Inglaterra/Estados Unidos, 1985. 116 min.). Direção de Bruce Beresford. O
filme conta a história do Rei Davi e os conflitos de seu reinado a partir de 1006 a.C.
Livros
Jerusalém: uma cidade, três religiões. Karen Armstrong. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
O Golem e outras aventuras do rabino Judá Levi, de Praga. Jayme Brener. São Paulo:
FTD. Coleção Aventuras Mitológicas.
História dos Hebreus: obra completa. Flávio Josefo. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.
Judeus. Rachel Mizrahi. São Paulo: Companhia Nacional Editora Nacional, 2005.
Sites
The Jerusalém Mosaic
www.jeru.huji.ac.il Neste site é possível fazer uma imagem virtual pelos diversos períodos
da história de Jerusalém, mostrando seus costumes, história, artes e religião.(em Inglês).
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Cretenses e Fenícios
Cretenses
A Ilha de Creta, a maior do Mar Egeu, está localizada a leste do Mediterrâneo. Nessa
região, entre de 2000 e 1400 a.C., floresceu uma sociedade peculiar chamada de civilização
cretense, egéia ou minóica. Nesse período, os cretenses detiveram o domínio do comércio
marítimo no Mediterrâneo, além de influenciar culturalmente o povo grego. Essas influências
puderam ser percebidas nas primitivas manifestações artísticas e em alguns mitos gregos,
como por exemplo, a Lenda do Minotauro.
Teseu e o Minotauro
―O episódio da invasão de Creta e destruição do palácio de Cnossos parece construir
a base da lenda de Teseu e Minotauro. Segundo a lenda, havia em Creta um labirinto
habitado pelo Minotauro, um ser híbrido de homem e touro. A cada sete anos Atenas
devia enviar-lhe sete donzelas e sete jovens em sacrifício, o que, na lenda, simbolizaria o
domínio de Creta sobre o continente.
Teseu dispõe-se a enfrentá-lo para libertar a cidade. Entrou no labirinto, matou o
Minotauro e conseguiu sair pois, ao entrar, foi desenrolado um novelo que sua mulher,
Ariadne(aranha), ficou segurando na entrada. A vitória de Teseu, por sua vez, signifcaria
a autonomia do continente. A chamada Guerra de Tróia, que envolveu micênicos e
gregos, na Ásia Menor, estaria na seqüência desse episódio.‖
In: NEVES, Joana. A construção de um mundo globalizado. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 97.
Sabe-se pouco sobre a organização da sociedade cretense, no entanto os palácios
possuíam grande importância. As pesquisas arqueológicas encontraram ruínas em Faístos,
Cnossos e Malia. Os palácios tinham uma outra função que armazenar produtos agrícolas
que eram pagos pelos camponeses como tributos.
Além disso, os palácios também serviam como residência de um rei que governava com
ajuda de funcionários e nobres. Vale salientar que a civilização cretense era composta por
cidades-estados, ou seja, cada cidade tinha seu rei. Assim, não havia um soberano que
dominasse todo território. Entretanto, a cidade de Cnossos conseguiu subjugar outras
cidades, centralizando a administração.
Segundo os estudiosos, os cretenses eram pacifistas. Essa hipótese foi levantada depois
que não foram encontradas muralhas ao redor dos palácios, algo que era bem comum no
Oriente Próximo.
Nas partes mais planas da ilha, os cretenses plantaram vinhas, oliveiras e cereais. Sob
a influência de outros povos da Antiguidade, eles adquiriram técnicas para o trabalho com
cerâmicas e metais.
Os cretenses também construíram navios com madeiras da própria ilha. O comércio era
feito através de trocas ou com o uso de placas de bronze, primitivas moedas, que podiam
chegar a pesar trinta quilos.
Vida social e cultural
Os cretenses foram grandes artistas na pintura, na escultura, na cerâmica e no
artesanato de pedras preciosas. Os cretenses praticavam várias modalidades de esportes e
competições, tais como xadrez, corridas e boxe. Além disso, construíram teatros feitos de
pedras com a finalidade de apresentar desfiles e eventos musicais.
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887
A religião na sociedade cretense era matriarcal, ou seja, havia um culto à Grande-Mãe,
deusa da fertilidade, sendo vista como a mãe de todos os seres vivos. Havia ainda a
adoração a animais, por exemplo, ao touro. Nas cerimônias fúnebres, havia o costume de
enterrar os mortos com utensílios de seu uso além de alimentos e bebidas.
Segundo antropólogos e historiadores, a mulher cretense, diferente de outros povos da
Antiguidade, tinha uma posição social privilegiada.
Fenícios
Os fenícios têm origem semita e estavam localizados numa região entre as montanhas e
o Mar Mediterrâneo oriental, atualmente o Líbano. Assim como os demais povos da
Antiguidade, os fenícios praticavam a agricultura. A região era cortada por pequenos rios,
que irrigava a pequena lavoura e a formação de pastos, onde se criavam gados e ovelhas.
No entanto, sua posição geográfica contribuiu para o contato com diversos povos
estrangeiros e a atividade comercial. Os Fenícios foram influenciados culturalmente pelos
egípcios, babilônios, assírios e gregos. Dessa forma, eles estavam sujeitos a um processo
contínuo de mistura de etnias.
A antiga fenícia era formada por 25 cidades-estados, ou seja, cidades autônomas.
Portanto, não existia um poder centralizado. O sistema de governo era uma monarquia ou
uma república plutocrática (controlada pelos cidadãos mais ricos). Os reis, integrantes das
famílias mais poderosas, repassavam os cargos através da hereditariedade. O monarca era
assistido por um grupo de anciãos.
Os fenícios são conhecidos como os grandes mercadores da Antiguidade. A princípio, os
comerciantes faziam trocas de mercadorias, conhecidas como escambos. Depois de algum
tempo, os governantes fenícios começaram a fabricar moedas. O comércio de madeira, a
construção naval, a metalurgia e a produção têxtil geraram excelentes lucros para as
cidades-estados. As cidades fenícias expandiram seus itinerários comerciais por todo o
Mediterrâneo, formando feitorias e colônias em pontos especiais, entre elas Cartago, ao
norte da África, em 814 a.C.
As cidades fenícias que mais prosperaram foram Ugarit, Gubla ou Biblos, Tiro e Sidom.
Ugarit foi fortemente influenciada pela cultura do Egito, uma vez que manteve intensas
transações comerciais com esse povo. Os ugarites foram derrotados pelos hititas, perdendo,
assim, sua autonomia.
Já em Biblos os negociadores revendiam rolo de papiro egípcio para produzir livros.
Assim como Ugarit, Biblos é sobrepujado pela expansão hitita.
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Colonização fenícia e colonização grega
―Os padrões e formas de colonização respectivos da expansão territorial grega e
fenícia têm sido frequentemente comparados e contrastados. À luz das conclusões daí
retiradas, podemos afirmar que a escolha do local da construção dos centros tinha uma
importância primordial: enquanto os colonos fenícios os construíam em pequenas ilhas
ou promontórios peninsulares, os colonos gregos preferiam terrenos situados na faixa
costeira sim, mas em posições menos extremas e, por vezes, até mesmo levemente para
o interior. Essa diferença de atitudes é fruto de dois objetivos distintos: enquanto no
caso dos fenícios, os entrepostos eram vistos apenas como portos de escala comercial,
no caso dos gregos visava-se a obtenção de bases para o estabelecimento de uma
expansão e domínio territorial. Efetivamente, as colônias gregas geraram sem dúvida
formas de aculturação mais fortes no seio das populações indígenas que as fenícias.‖
PERONE, Renato. In: História da Humanidade. – do terceiro milênio ao século VII a.C. Org. Unesco.
Editora Verbo, 1996. v. 2, p.361.
Com o declínio do Egito e a queda dos hititas, Sidom tornou-se a mais importante cidade
comercial da região, controlando sozinha o comércio nessa parte do Mediterrâneo. Com a
chegada dos assírios, Sidom perde seu brilhantismo no setor comercial.
A partir do século VIII a.C., as cidades fenícias entraram em declínio, pois sofreram uma
série de invasões: assírios, persas, macedônios.
Economia e expansão marítima
Os fenícios eram habilidosos artesãos, por isso usavam a madeira, os metais e o marfim
na confecção de jóias, armas, cerâmicas e peças de vidros. Eles também tinham domínio
sobre a tinturaria de tecidos, utilizando uma espécie de corante denominado de ―púrpura‖.
Além disso, compravam vestes e tapetes da Mesopotâmia. Da Arábia, os fenícios
importavam ébano, marfim, essências aromáticas e ouro, além de cavalo da Ásia Menor. Os
Fenícios também vendiam e compravam escravos.
Fantásticos navegadores (detentores da Talassocracia ―poder dos mares‖), os fenícios,
foram para a Península Ibérica à procura de ferro e prata e chegaram também na
Inglaterra. Além de realizarem viagens em torno da África a serviço do faraó Necao.
Em suas expedições, eles se orientavam pelo sol, durante o dia, e pela Ursa Maior, à
noite. Os seus barcos eram compostos de remos e velas, assim puderam alcançar regiões
muitos distantes da Fenícia.
Cultura e Religião
A religião dos fenícios era animista, isto é, atribuía poderes aos fenômenos naturais ou
a componentes da natureza, como as montanhas, as árvores. Somado a isso, as suas
crenças estavam centradas em rituais dedicados aos deuses locais. Cada cidade possuía seu
deus principal, o mais cultuado era Baal. Os fenícios construíam diversos altares com o
objetivo de sacrificar animais em homenagens aos deuses.
Alguns deuses fenícios
EL DAGON - Representava os rios e anunciava as chuvas.
BAAL - Era o deus das alturas, tempestades e raios.
AYAN - Filho de Baal, representava as águas subterrâneas.
ANAT - Filho de Baal, representava a guerra.
Por serem comerciantes, os fenícios eram práticos. Com o objetivo de facilitar e
organizar as atividades comerciais, eles desenvolveram uma escrita fonética que serviu de
base para o alfabeto grego, posteriormente o alfabeto atual. Os Fenícios criaram esse
conjunto de símbolos para viabilizar a gestão dos negócios. Esse sistema de código é o
principal legado fenício para o ocidente, haja vista que serviu de base para inúmeras línguas
contemporâneas.
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TEXTO COMPLEMENTAR
HISTÓRHISTÓRICOSHISTÓRICO
SQUESTÕESE VESTIBULARES
As semelhanças entre Cretenses e Fenícios
―Os cretenses podem ser considerados excelentes navegadores. Foram também
grandes comerciantes. Embora enfrentassem dificuldades na agricultura, com poucas
terras férteis, tinham uma boa produção de azeite e vinha que, em parte, era exportada.
Além disso, desenvolveram um artesanato utilizando-se de metais que era muito bem
aceito pelos povos do Mediterrâneo. Sua área de atuação no comércio marítimo era
ampla chegando até o mar Negro.
Com o desenvolvimento do comércio marítimo, cretenses e fenícios viviam em
contatos com vários povos. Além disso, tinham uma vida urbana importante. Na Fenícia,
as cidades Biblos, Sidom, Tiro eram as mais conhecidas. Em Creta, Cnossos e Faistos. As
cidades cretenses possuíam grandes palácios e uma vida social intensa, onde a mulher
tinha uma posição social prestigiada, diferente dos outros povos da Antiguidade.‖
REZENDE, Antônio Paulo. Todos contam sua História - Antiguidade e Idade Média. Recife, Inojosa editores , 1995. p.58-59.
Analisando o texto
1. Descreva as semelhanças expostas pelo autor entre fenícios e cretenses.
2. Relacione a situação da mulher em Creta com a mulher egípcia, mesopotâmica e
hebraica.
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FAZENDO HISTÓRIA
1. (Vunesp) Alguns povos da Antiguidade foram mercadores que viveram do comércio
marítimo. Cite três cidades-Estado fenícias e indique a principal contribuição que os
fenícios legaram às civilizações posteriores.
2. O alfabeto foi uma criação dos fenícios. Qual a sua importância para os povos da época?
3. Explique de que forma a localização geográfica da fenícia contribuiu para o desenvolvimento do comércio.
4. Conceitue: Plutocracia e Talassocracia.
5. Elabore um pequeno texto comentando sobre a cultura e religião fenícia.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (LUDUS) O mapa a seguir coloca em destaque uma estreita faixa de terra na qual está
atualmente localizado o Líbano. Por volta do III milênio a.C., instalou-se na região um
povo semita que, devido à proximidade geográfica com o Egito, à ocorrência de um
litoral que favorecia bons portos e à abundância do cedro utilizado na construção de
navios, dominou, entre 1.400 e 600 a.C.,
o comércio mediterrâneo, substituindo os
cretenses na exploração marítima e
comercial. Entre as alternativas a seguir,
assinale aquela que apresenta o povo
caracterizado no texto.
a) Fenícios.
b) Palestinos.
c) Hebreus.
d) Hititas.
e) Assírios.
2. (IPEDEC) Os Fenícios eram um povo de origem semita da costa setentrional do Mar
Vermelho. Por volta do ano 1000 a.C., cidades-estados instauram a Fenícia como
federação, sob a hegemonia de Tiro. Colonizam o sul da península Itálica, parte da
Sicília, litoral sul da península Ibérica e norte da África, onde fundam Cartago em 814
a.C. A partir de 800 a.C., a Fenícia faz parte, sucessivamente, do Império Babilônico, do
Persa e do Macedônico. Com a queda de Tiro, em 332 a.C., a hegemonia passa para
Cartago, que enfrenta os romanos nas Guerras Púnicas. Cartago é derrotada em 146
a.C. Sobre os Fenícios, analise as assertivas abaixo:
I. Possuíam uma poderosa classe de comerciantes ricos e utilizam o trabalho
escravo. Sua religião era politeísta, na qual praticavam cultos e sacrifícios
humanos.
II. Desenvolveram técnicas de navegação e de fabricação de barco, vidro, tecido e
artesanato metalúrgico. Criam um alfabeto, posteriormente adotado pelos gregos
e a partir do qual é instituído o alfabeto latino.
III. A principal atividade econômica dos fenícios era o comércio marítimo. Realizam
grande intercâmbio com as cidades gregas e egípcias e as tribos litorâneas da
África e da península Ibérica, no Mediterrâneo.
IV. A base da organização política eram os clãs familiares, detentores da riqueza e do
poder militar. Cada cidade-estado era governada por um rei, indicado pelas
famílias mais poderosas.
Sendo assim, podemos afirmar que:
a) Apenas I, II e III estão corretas.
b) Apenas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas I, III e IV estão corretas.
d) Apenas I, II e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
3. (UFC) Os fenícios viviam numa faixa de duzentos quilômetros de comprimento, entre o
mar Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano. Semitas, provinham do litoral
setentrional do mar Vermelho. Assinale a principal contribuição desse povo para as
sociedades atuais.
a) O alfabeto.
b) Os templos.
c) A escrita hieroglífica.
d) A escrita cuneiforme.
e) A invenção do comércio.
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4. (ASPERHS) Leia com atenção.
―Sua religião era animista, isto é, atribuía poderes sagrados às montanhas, árvores e às
manifestações da natureza. Além disso, estava centrada em ritos e deuses locais. Cada
cidade tinha seu próprio deus principal (Baal), mas também havia a prática de cultos
dedicados a divindades comuns a todas as cidades.‖ A que povo pertencem esses
aspectos religiosos?
a) Acádios.
b) Persas.
c) Fenícios.
d) Eólios.
e) Cretenses.
5. (Fatec-SP) Entre as principais características da civilização fenícia, merecem destaque
especial:
a) a economia agrícola de regadio, a sociedade de castas e a organização política
teocrática.
b) a economia mercantil, a organização política sob forma de cidades-Estados e a
criação do alfabeto.
c) a religião monoteísta, a escrita cuneiforme e a sociedade nômade-pastoril.
d) a religião dualista, o regime político democrático e a escrita hieroglífica.
e) a sociedade estamental, a economia de subsistência e o expansionismo militar.
6. (VUNESP) Na região onde atualmente se encontra o Líbano, instalou-se, III milênio a.C.,
um povo semita que passou a ocupar a estreita faixa de terra, com cerca de 200
quilômetros de comprimento, apertada entre o mar e as montanhas. Várias razões
levaram esse povo ao comercio marítimo, merecendo destaque sua proximidade
geográfica com o Egito; costa, que oferecia lugares para bons portos; e o cedros,
principal riqueza, usados na construção de navios. O contido nesse parágrafo refere-se
ao povo.
a) fenício.
b) Hebreu.
c) Sumério.
d) Hitita.
e) Assírio.
7. (UFPI) A respeito da sociedade fenícia podemos afirmar corretamente que:
a) A fenícia desconhecia centralização do poder, pois era formada por cidades-estados
que tinham ampla autonomia política, econômica, religiosa e administrativa.
b) A independência política das cidades-estados fenícias foi possível, durante séculos,
pelas alianças estabelecidas com os romanos que, por sua vez, faziam frente à
expansão persa.
c) Os extensos vales situados entre as montanhas e o Mediterrâneo possibilitaram o
grande desenvolvimento da agricultura e do pastoreio e, consequentemente, do
comércio.
d) De todas as criações fenícias, a mais importante foi a caravela, posteriormente
aperfeiçoada pelos gregos.
e) A grande e original contribuição dos fenícios para a história da civilização foi à
introdução das vogais no alfabeto criado pelos gregos e romanos, o que veio tornar a
comunicação mais fácil e rápido.
8. (FGV-SP) Das alternativas abaixo, a que melhor caracteriza a sociedade fenícia é:
a) a existência de um Estado centralizado e o monoteísmo.
b) O monoteísmo e a agricultura.
c) O comércio e o politeísmo.
d) As cidades-Estados e o monoteísmo
e) A agricultura e a forma de Estado centralizado.
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OLHARES HISTÓRICOS
Leitura
A História Geral das civilizações: o Oriente e a Grécia Antiga. 2 ed. A. Ayboyer e A.
Aymard. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
O livro das religiões. Jostein Gaarder. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
A história do alfabeto. J. Man. Trad. Edith Zonenschain. Rio de Janeir: Ediouro, 2001.
As primeiras civilizações. Jaime Pinsk. São Paulo, Atual, 1987. (Discutindo História).
Revista
História Viva. São Paulo: Dueto Editorial.
Revista mensal, com artigos sobre diversos temas históricos.
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Os persas
O atual Planalto Iraniano foi povoado, por volta de 2000 a.C., por duas grandes tribos
indo-européias: Medos e Persas. Esses grupos formaram dois reinos autônomos. O reino
dos persas, conduzido pela família Arquemênidas, foi conquistado pelos medos sob a
liderança de Ciaxares.
No governo de Ciaxares (625 a.C-585a.C) organizou-se um exército de pesada infantaria
e habilidosa cavalaria. Além disso, ele fez acordos com os caldeus e derrotou os assírios. No
entanto, os sucessores de Ciaxares foram débeis e não conseguiram manter as mesmas
estruturas no reino. Isso facilitou a vitória de Ciro, iniciando a hegemonia dos Persas, a
partir de 550 a.C.
As Conquistas Persas
Ciro, o primeiro rei do Império Persa, realizou uma série de conquistas. No seu governo
houve a dominação da Lídia e das cidades gregas da Ásia Menor. Em 539 a.C., anexou a
Fenícia, a Palestina, a Síria e tomou a Babilônia, libertando os judeus e pondo fim ao
conhecido Cativeiro Babilônico. Ciro permitiu que os judeus regressassem para Palestina,
ajudando-os a reconstruir o Templo de Jerusalém.
A tolerância religiosa e cultural foi uma das marcas do governo de Ciro. No entanto,
exigia homens para o exército, víveres e metais preciosos dos povos submetidos. Dessa
maneira, em 529 a.C., Cambises, filho e sucessor de Ciro, herdou um fausto Império. Ele
deu prosseguimento às campanhas militares persas, invadindo e conquistando o Egito em
525 a.C, na famosa Batalha de Pelusa.
Nesse momento, o Império Persa englobava a região do Mar Cáspio, o Mar Negro, o
Cáucuso, parte leste do Mar Mediterrâneo, os desertos da Arábia e da África, além do Golfo
Pérsico e a Índia. Segundo alguns historiadores, Cambises tinha a intenção de conquistar
Cartago, mas não conseguiu devido às disputas internas pelo poder. A luta pelo trono
permaneceu após a morte de Cambises. Nesse sentido, Dario fez alianças com parte da
nobreza persa e assumiu o trono da Pérsia.
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A administração persa
O governo de Dario ficou conhecido pela exímia organização político-administrativa do
Império. Ele dividiu o extenso território em províncias chamadas de Satrapias, chefiadas por
governadores (os sátrapas), que tributavam ao Estado de acordo com às riquezas das
províncias, como o Egito e a Mesopotâmia que forneciam gado, trigo, ouro e prata.
Assim, os sátrapas tinham autonomia total, no entanto, tinham que prestar contas aos
representantes do rei. Esse serviço de informação era formado por pessoas de confiança do
rei, denominados de ―Olhos e Ouvidos do Rei‖. Além disso, existia algo semelhante a um
primeiro-ministro, que auxiliava o rei na administração pública.
Dario também unificou o sistema de impostos por intermédio da criação de uma moeda,
o dárico. De acordo com alguns estudiosos, essa moeda era feita de ouro e constitui a
primeira unidade monetária usada internacionalmente.
Para tornar mais eficiente a comunicação entre as províncias, Dario organizou um
sistema de estradas conectando as mais longínquas satrapias do império. Essas estradas
ligavam as principais cidades do império: Sardes, Persépolis, Susa, Babilônia e Ecbatana.
Esse sistema de correios tinha postos de reabastecimento com alimentos, água e cavalos.
Assim, ficou mais rápida a comunicação entre as províncias, isso facilitou o comércio e a
centralização do poder.
Como funcionava o sistema de correios
―A estrada real construída por Dario I media perto de 2.400 quilômetros e cortava o
império, unindo Sardes, nas proximidades do Mar Egeu (Ásia Menor) ao palácio de Susa,
no Golfo Pérsico. A segurança da estrada era garantida por uma constante patrulha
imperial e possuía mais de 100 postos onde mensageiros reais faziam a troca de cavalos
e passavam o correio, um trajeto que durava apenas uma semana em todo o seu
percurso.‖
HERÓDOTO, História. Brasília: Unb, 1988.
Com o auxílio de um magnífico exército, Dario I e depois seu filho Xerxes tentaram
dominar as colônias gregas da Ásia Menor. Essa foi a principal causa para o início das
Guerras Médias ou Greco-Pérsicas. Esses conflitos marcaram o início do enfraquecimento do
Império Persa, até sua decadência final em 330 a.C., quando Dario III é derrotado por
Alexandre da Macedônia.
Zoroastrismo: a luta entre o bem e o mal
No campo das artes, os persas foram pouco originais, uma vez que sofreram influências
culturais de diversos povos da antiguidade. Os monumentos e os palácios em geral,
apresentavam traços babilônicos, assírios e egípcios.
Entretanto, foi na religião que os persas trouxeram grande peculiaridade. Criada pelo
profeta Zoroastro ou Zarastustra, por volta do século VI a.C., a religião persa possuía duas
grandes divindades: Ahura-Mazda, simbolizando o bem, a justiça e a sabedoria; e Ahrimam,
força do mal e das trevas.
Os preceitos básicos pregados por Zoroastro estão inseridos no Zend Avesta, livro
sagrado dos persas. Diferente das demais religiões do Oriente, a doutrina do zoroastrismo
condenava o politeísmo, a magia e os sacrifícios de sangue.
Na concepção de Zoroastro, o homem tinha a liberdade para escolher entre o bem e o
mal. Essa dualidade representava a luta incessante das trevas contra a luz, do espiritual
contra o material.
O zoroastrismo era uma religião escatológica, ou seja, havia a crença na chegada de um
Messias, na ressurreição dos mortos e no juízo final. Essa religião possuía preceitos éticos e
morais inovadores, os quais seguidos pelos homens podiam assegurá-los a salvação. Assim,
para alcançar a vida eterna, cada pessoa tinha que falar sempre a verdade, praticar a
bondade com o próximo, evitar o adultério e obedecer aos governantes. Já para os
seguidores do Mal, estava garantida uma vida de turbulências.
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O Julgamento religioso
―Zoroastro acreditava na imortalidade e seu ensinamento a esse respeito é de crucial
significação. O deus do mal estava fadado a ser por fim derrotado, embora ele e suas
cortes o ignorassem. Essa derrota final do mal viria no dia do último grande julgamento,
quando os mortos retornariam à vida. Nesse meio tempo, as almas dos mortos
sobreviveriam em outro mundo, onde receberiam o tratamento que houvessem merecido
por sua vida na terra. Três dias após a morte, cada alma era levada a uma grande ponte,
que atravessava as profundezas do inferno. Se o bem que o homem houvesse
praticado na terra ultrapassasse o mal, sua alma atravessaria a ponte para um mundo
de celeste felicidade. Mas se os feitos do homem o revelassem como um servo do mal
sobre a terra, a ponte se estreitaria e sua alma seria precipitada no reino da pesada
escuridão e do terrível castigo. Contudo, mesmo essas almas não permaneceriam no
inferno para sempre, pois isso deixaria muitas das criaturas de Ormuz em mãos de seu
inimigo. Mais tarde, no dia do ajuste final, o mal seria purificado em metal derretido,
que para o bem é tão agradável como leite quente. Assim, o próprio inferno seria
purificado e a vitória sempiterna pertenceria à verdade e à bondade.‖
SAVELLE, Max(coord.). As primeiras culturas humanas. História da Civilização Mundial. Belo Horizonte: Villa Rica, 1990. p.138.
As crenças presentes no zoroastrismo influenciaram fortemente o judaísmo, o
cristianismo e o islamismo. Vale salientar que a convivência com os caldeus trouxe
mudanças significativas no zoroastrismo, a saber, a assimilação do fatalismo e do
pessimismo.
Atualmente, essa religião dual tem adeptos na Índia, onde são conhecidos de Parsis,
―persas‖. No Irã há uma minoria de seguidores, representado 0,9% dos 67 milhões de
habitantes.
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TEXTO COMPLEMENTAR
A eficiência do governo persa
―Em teoria, o rei persa era um monarca absoluto que governava pela graça do deus
da luz. Nenhuma constituição ou princípio de justiça limitava sua autoridade soberana.
Na prática, porém, devia deferência aos principais nobres do reino e dispensar alguma
consideração aos costumes antigos e às leis tradicionais dos medos e dos persas. Para
efeitos de administração local o império era dividido em vinte e uma províncias, cada
uma das quais se encontrava sob o mando de um sátrapa ou governador civil. Apesar de
absoluto em todos os assuntos de jurisdição civil, o sátrapa não tinha autoridade militar.
As forcas militares eram confiadas ao comandante das guarnições em toda a província. Como uma salvaguarda adicional designava-se um secretário para cada província a
fim de examinar a correspondência do sátrapa e denunciar quaisquer provas de
deslealdade. E, finalmente, para maior segurança, o rei enviava inspetores especiais uma
vez por ano, com uma poderosa guarda, a fim de visitar cada província e investigar a
conduta do governo. Esses funcionários, conhecidos como Olhos e Ouvidos do Rei, eram
geralmente membros da família real ou outras pessoas em quem o monarca podia
depositar toda a confiança. Apesar de trabalhoso e caro, o sistema funcionou tão
eficientemente que as revoluções dos sátrapas figuraram entre as causas principais da
queda da Pérsia.‖
BURNS, E. M. História da Civilização Ocidental. Porto Alegre, Globo, p.197.
Analisando o texto
1. Faça um rápido comentário sobre a estratégia criada pelo governo persa para ter
controle sobre as províncias.
2. Podemos fazer alguma correlação entre a divisão político-administrativo do Império
Persa com a divisão do Brasil? Justifique.
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FAZENDO HISTÓRIA
HHISTÓRICOSHISTÓRICOSQUES
TÕESE VESTIBULARES
1. Abaixo, segue um fragmento dos ensinamentos de Zoroastro ou Zaratustra, fundador da
religião baseada no dualismo entre o bem e o mal.
―Ora, nas origens primeiras
Há os espíritos do Bem e do Mal
No pensamento, nas palavras, na ação.
Os homens de inteligência sabem escolher entre ambos.
Os tolos não.‖
In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização. São Paulo: Nacional, 1975. p.31.
Nesse trecho transcrito pode-se perceber a característica dual da religião persa. Explique
por quê.
2. Analise o governo de Dario e suas diversas inovações no setor político-administrativo.
3. Faça um quadro comparativo entre as religiões egípcia, mesopotâmica, hebraica, fenícia
e persa.
4. Pesquise os significados das palavras ética e escatológica.
5. Faça uma pesquisa em livros, internet, jornais, enciclopédias ou revistas e procure saber
informações sobre a situação do Irã hoje, quanto a sua religião, economia, política e
sociedade.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UNAMA) Sobre a civilização pérsica, que viveu seu apogeu entre 530- 480 aC, é
incorreto afirmar:
a) Unificadas pelo imperador Ciro, as tribos medas e persas iniciaram, no século VI aC,
uma extraordinária marcha expansionista pela Índia, Egito e Oriente Médio.
b) Em 539 aC, o exército persa marchou sobre a mesopotâmia, anexando a região a
seu império e libertando os hebreus lá escravizados, permitindo que voltassem a
Jerusalém.
c) O império foi dividido em distritos denominados "satrápias", sendo a administração
pérsica caracterizada pela tolerância cultural em relação aos povos conquistados.
d) A religião dos persas era dualista, existindo uma entidade do bem ("Ormuz") e um
deus do mal ("Arimã"), em constante conflito.
e) Após sua vitória sobre os gregos nas Guerras Médicas, o império persa mergulhou na
decadência, sendo derrotado pelas legiões do exército romano.
2. (IPAD) As religiões tiveram importância fundamental para a organização dos povos da
Antigüidade Oriental. A religião persa:
a) influenciou nas construções artísticas marcadas pela simplicidade e originalidade.
b) teve preocupação com os princípios éticos, sendo uma religião revelada.
c) foi dualista, acreditando na vitória do deus do bem, como na religião egípcia.
d) conseguiu divulgar princípios éticos na época em que foi monoteísta.
e) ajudou na organização do império persa, com seu dualismo baseado na figura do
monarca.
3. (UFPB) O Império Persa foi um dos maiores da Antiguidade. Depois de conquistado por
Alexandre, o Grande, a cultura grega foi introduzida nos antigos domínios persas e
naqueles posteriormente conquistados pelo rei macedônio, ensejando a configuração da
cultura helenística.
Sobre a cultura helenística, é correto afirmar:
a) Destacou-se por uma campanha sistemática de destruição de bibliotecas e combate
às culturas dos povos conquistados.
b) Caracterizou-se por uma religião monoteísta e o desprezo ao culto dos deuses
oriundos da cultura grega.
c) Distinguiu-se pela aversão à filosofia e, inversamente, por uma visão de mundo
fortemente pragmática e distante do pensamento abstrato.
d) Resultou da imposição da cultura grega sobre as demais culturas das regiões
conquistadas, a exemplo da egípcia e da persa.
e) Celebrizou-se pelo predomínio do monumentalismo e da grandiosidade no estilo
arquitetônico, com o exemplo marcante do Farol de Alexandria.
4. (UFPB) Sobre o Império Persa, é correto afirmar:
I. A religião persa era o Zoroastrismo, que pregava a existência do bem e do mal,
saindo vencedor o bem, no dia do juízo final.
II. Sua expansão territorial deveu-se à existência de boas estradas e de um forte
exército.
III. Os povos vencidos pelos persas eram obrigados a pagar tributos e a fornecer
soldados para os exércitos do Grande Rei.
A(s) afirmação(ões) verdadeira(s) é(são):
a) apenas I e II
b) apenas II
c) apenas III
d) apenas I e III
e) todas
98
887
OLHARES HISTÓRICOS
Filmes
Direção de Zack Snyder. EUA, 2007. 117 min.
O rei Leônidas e seus 300 guerreiros lutam até a morte
contra o exército persa. Com Gerard Butler, Rodrigo Santoro
e Dominic West no elenco.
Leitura
HOOKER, J.T. Lendo o passado: do cuneiforme ao alfabeto. São Paulo: Edusp, 1996.
LÉVÊQUE, Pierre. As primeiras civilizações. Lisboa: Edições 70, 1990. v.III.
99
887
Vaso grego.
CAPÍTULO 9
A Grécia: das origens
ao helenismo, 106
CAPÍTULO 10
As contribuições da
cultura grega para o
mundo ocidental, 128
Coliseu Romano,
foto atual.
CAPÍTULO 11
Roma: das origens ao
Império, 144
CAPÍTULO 12
As contribuições da
Cultura Romana
para o Mundo
Ocidental, 166
100
887
O mundo ocidental
contemporâneo possui vários
elementos culturais herdados dos
gregos e romanos: hábitos,
costumes, política, ciências,
teatro, artes e arquitetura. Nas
imagens, os preciosos vasos
gregos e o magnífico Coliseu.
A Grécia: das origens ao helenismo
Localização
A região habitada pelos antigos gregos abrangia a parte sul da península Balcânica
(Grécia Continental), a Península do Peloponeso (Grécia Peninsular) e as ilhas do Mar Egeu
(Delos, Rodes, Lesbos - Grécia Insular). Além disso, pertencia ao mundo grego as colônias
da Ásia Menor e as do sul da Itália, conhecidas como a Magna Grécia.
O meio geográfico grego
―Das grandes penínsulas mediterrâneas é a Grécia a mais pobre. A aspereza do seu solo
A história da Grécia Antiga pode ser estudada em cinco grandes períodos:
e os caprichos do seu clima são particularmente desfavoráveis à agricultura, fundamento
dos primeiros povoamentos humanos.Todavia nesta própria indigência um povo corajoso
encontra salutar agulhão: tal desvantagem de ponto de partida não o deixa adormecer
na facilidade. Agarrando a uma terra ingrata, sofre para valorizar; desbravando a
floresta, guarnecendo com terraços os flancos das colinas. Depois, ser-lhe-á necessário
inventar outros expedientes para sobreviver.‖
LÉVÊQUE, Pierre. A aventura grega. lisboa/rio de Janeiro, Cosmos, 1967.p.9.
 Período Pré-Homérico ou Micênico (2000 a.C. – 1100 a.C.): engloba a fase de
formação do povo grego e das invasões dos indo-europeus (aqueus, jônios, eólios e
dórios).
101
887
 Período Heróico ou Homérico (1100 a.C. – 800 a.C.): essa denominação se dá devido à importância das obras ―Ilíada‖ e ―Odisséia‖ escritas por Homero que fornecem várias
informações sobre essa etapa da história grega.
 Período Arcaico (800 a.C. – 500 a.C.): marcado pelo aumento populacional e pela
consolidação da Pólis grega.
• Período Clássico (500 a.C. – 338 a.C.): caracterizado pelo apogeu e declínio das
cidades-gregas, facilitando o domínio dos Macedônios.
 Período Helenístico (338 a.C. – 146 a.C.): durou cerca de 190 anos, quando houve a
fusão de diferentes culturas, principalmente a grega, a persa e a egípcia.
Período Pré-Homérico ou Micênico
Por volta de 2000 a.C., diversos grupos de origem indo-européias ocuparam as regiões
que compunham a Grécia Antiga. Os aqueus, jônios, eólios e dórios, apesar de possuírem o
mesmo tronco étnico, demonstravam disparidades significativas entre eles. A partir da
chegada desses povos, eles passaram a ser denominados de helenos.
Os helenos não ocuparam a Península Balcânica ao mesmo tempo. Os aqueus foram os
primeiros a chegar. Entre 2000 a.C., e 1900 a.C., eles organizaram o primeiro núcleo
urbano: Micenas. Posteriormente, a civilização micênica estendeu-se com o ingresso de
outros grupos migratórios, o que possibilitou o desenvolvimento do comércio marítimo.
Como vimos no capítulo 7, durante essa época, na Ilha de Creta expandiu-se uma
sofisticada civilização. Os cretenses, também conhecidos como minóicos, em referência ao
rei Minos, teve grande relevância entre os primeiros gregos. No século XV a.C., essa
civilização foi brutalmente invadida pelos micênicos ou os aqueus, que vieram da Península
Balcânica com o objetivo de subjugar os cretenses, gerando conflitos com os habitantes da
ilha entre 1500 e 1400 a.C.Com a vitória dos micênicos, Creta foi dominada, entretanto,
houve a incorporação da cultura cretense, resultando na concepção da civilização cretomicênica.
Após o triunfo sobre os cretenses, os helenos permaneceram sua expansão destinada à
Tróia, cidade conhecida pelo seu importante comércio e situada estrategicamente entre o
Mar Mediterrâneo e o Mar Negro.
Nesse contexto ocorreu a famosa Guerra de Tróia. Segundo alguns historiadores,
provavelmente, esse confronto entre a coligação de cidades gregas e Tróia tenha acontecido
no século XIII a.C. Esse episódio está contido no poema épico ―Ilíada‖ (Tróia, em grego),
que se tornou um dos clássicos da literatura grega, escrita por Homero.
Há incertezas sobre os motivos que provocaram a decadência da civilização cretomicênica: terremotos, rebeliões da população submetida ou invasões estrangeiras servem
como hipóteses.
A partir do século XII a.C., os dórios ocuparam a região do Peloponeso, a Ilha de Creta e
outras partes do território da Grécia. Como estes povos não tinham conhecimento da escrita
e não absorveram os valores culturais dos creto-micênicos, houve, nesse momento, uma
época de regressão cultural.
Período Homérico
Essa etapa da história grega é denominada de Homérico devido as principais fontes para
estudos serem dois poemas escritos por Homero: Ilíada (que narra a Guerra de Tróia)
e Odisséia (contando o retorno de Ulisses, ‗Odisseu‘, ao Reino de Ítaca).
Com a chegada dos dórios, verificou-se uma redução na vida urbana e cultural que ficou
conhecida como a ―Idade Média‖ Grega ou ―Idade das Trevas‖. Essa ―regressão‖ ocorreu
também no setor político e social, nesse sentido, surgiram os genoi, que consistiam em
pequenas comunidades rurais compostas por grandes famílias chefadas por uma só pessoa
(o Pater). O pater, a pessoa mais velha da comunidade, tinha poderes religiosos e políticos.
A ele cabia aplicar as leis nos genoi. O poder desse líder era transmitido do pai para filho
primogênito.
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Cada genos (singular de genoi) fazia cultos a antepassado comum, geralmente semideus
ou herói. Além disso, esses grupos familiares se dedicavam à agricultura de consumo
imediato, sendo a propriedade, os equipamentos de produção, os animais e a colheita, bens
que pertenciam a todos os membros do clã.
Entretanto, essa situação se modifica com o decorrer dos tempos. O aumento
populacional gerou uma crise entre os membros dos genos devido à escassez de alimentos,
porque a produção agrícola se tornara insuficiente para manter todos os membros das
famílias.
Segundo alguns historiadores, realmente, o aumento demográfico foi decisivo para a
fragmentação das comunidades gentílicas, pois a distribuição das terras ficou
desigual.Simultaneamente a este processo, várias famílias fizeram alianças com outras
contribuindo para a formação das póleis ou cidades-Estados, a saber, instituições
independentes. Dessa forma, no final do Período Homérico, já existiam diversas cidadesEstados com imensa soberania político-militar.
―A cidade – polis, em grego – é um pequeno Estado soberano que compreende uma
cidade e o campo ao redor e, eventualmente, alguns povoados urbanos secundários. A
cidade se define, de fato, pelo povo –demos- que a compõe: uma coletividade de
indivíduos submetidos aos mesmos costumes fundamentais e unidos por um culto
comum às mesmas divindades protetoras.‖
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2001. p.25.
A desintegração dos genoi, o aumento populacional e as tensões sociais no fim do
Período Homérico e princípio do Período Arcaico geraram a expansão do mundo grego.
Alguns estudiosos também apontam como fatores da colonização o empobrecimento do solo
e a concentração de terras em mãos dos nobres.
A partir do século VIII, houve a colonização no litoral da Ásia Menor, na costa do Mar
Negro, no sul da Península Itálica (Magna Grécia) e no sul da França. Essa expansão teve
como conseqüências o surgimento de novos centros urbanos e a divulgação da cultura
grega por diversas regiões.
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Período arcaico
A crise nos genoi e o surgimento da pólis marcam a fase de transição entre o Período
Homérico e Arcaico. Essa etapa da história grega caracteriza-se pelo predomínio de uma
forma de governo pautada numa autonomia político-administrativa, ou seja, numa
organização política e socioeconômica independente, conhecida como cidades-Estado. Formaram-se centenas de cidades-Estado, cada uma com suas peculiaridades. Porém, as que
mais se destacaram foi Esparta e Atenas, pois sua influência se estendeu sobre as demais.
Essa estrutura de governo, baseada na autonomia administrativa, foi resultado da
diminuição do poder real e do fortalecimento da aristocracia grega. Cada pólis possuía uma
assembléia onde eram debatidos diversos assuntos de interesse da população. O princípio
fundamental que norteava essas reuniões era a isonomia, ou seja, a igualdade entre todos
aristocratas. Inicialmente, o título de cidadão era concedido apenas a esses nobres.
Entretanto, com o passar dos tempos, setores populares foram inseridos nesse processo e
passaram a participar das discussões políticas, especialmente em Atenas nos séculos VI e V
a.C.
―A cidadania nos Estados-nacionais contemporâneos é um fenômeno único na História.
Não podemos falar de continuidade do mundo antigo, de repetição de uma experiência
passada e nem mesmo de um desenvolvimento progressivo que unisse o mundo
contemporâneo ao antigo. São mundos diferentes, com sociedades distintas, nas quais
pertencimento, participação e direitos têm sentidos diversos.‖
GUARINELLO, Noberto Luiz. Cidades-Estado na Antiguidade Clássica. In: PINSKY , Jaime e PIN SKY, Carla Bassanezi. História
da Cidadania. São Paulo, Contexto, 2003, p.29.
Na parte mais elevada da pólis, morava a aristocracia liderada pelo Basileu, um de tipo
de ‗rei-sacerdote‘. Já as partes mais baixas, situava-se o mercado, e nelas habitavam os
trabalhadores em geral (comerciantes, artesãos). A pólis também era formada pela acrópole, local onde ficavam as fortificações e os templos religiosos.
Esparta
Fundada no século IX a.C. pelos dórios, a cidade Esparta situava-se na região da
Lacônia, sul do Peloponeso, cortada pelo rio Eurotas, num vale rodeado de montanhas de
difícil acesso. Nessa região havia grandes quantidades de minerais, uma fonte de recursos
importantes para economia espartana. As terras da Lacônia eram férteis, o que possibilitava
o cultivo de cereais, vinhas e oliveiras. Entretanto, em termos econômicos a região vizinha,
a Messênia, a sudeste do Peloponeso era muito mais atraente. Por essa razão, no século VII
a.C., os espartanos, após vários confrontos, conquistaram toda a Lacônia e a Messênia,
transformando os subjugados numa espécie de servos, chamados de hilotas ou ‗aprisionados‘.
Organização Social
A sociedade em Esparta era fortemente hierarquizada e dividida em três grupos distintos.
Espartanos, iguais ou esparciatas
Descendentes dos dórios, os esparciatas tinham todos os privilégios e formavam a
aristocracia proprietária das terras. Só eles possuíam direitos políticos (cidadãos) e
dedicavam-se únicamente à atividade militar e esportiva. Por lei, eles eram proibidos de
exercer outra profissão que entrassem em atrito com a carreira militar. Vale salientar, que
somente os espartanos e seus descendentes pertenciam ao grupo denominado de iguais.
No mundo antigo grego, as guerras ocorriam, geralmente, no verão. Durante o restante
do tempo, os esparciatas ficavam acampados, praticando exercícios militares e, mesmo
quando iam dormir não soltavam suas armas. Esses guerreiros luta-vam a pé, formando
fileiras, as quais são chamadas de falanges. Após o entoar de flautas e coros, as falanges
iam de encontro ao inimigo, como se fosse uma parede de escudos movimentando lanças
afiadas.
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Periecos
Os periecos eram formados pelos aqueus, antigos habitantes da Lacônia. Dedicavam-se
às atividades artesanais e comerciais. Não possuíam direitos políticos, mas eram livres,
cultivavam suas próprias propriedades e pagavam impostos. Esse grupo social também não
poderia tornar-se cidadão espartano nem casar-se com integrantes dessa classe. Os
periecos eram obrigados a participar das guerras mesmo sem ter recebido treinamento
militar.
Hilotas
Os hilotas eram uma espécie de ‗servo público‘, pertencente ao Estado. Eles eram
obrigados a trabalhar e dar aos espartanos uma quantidade de produção agrícola retirada
do kleros (lote de terras), geralmente a metade. Na verdade, os hilotas, por intermédio de
seu trabalho, sustentavam os espartanos.
Os membros dessa categoria social não tinham direitos legais e podiam ser assassinados
por qualquer espartano sem esse sofrer qualquer penalidade. Em síntese, os hilotas eram
muito humilhados e tinham uma vida muito difícil.
Por esses motivos, os hilotas se revoltaram várias vezes contra os espartanos. Sendo
um dos maiores motins o da Messênia no século VII a.C., o qual chegou a ameaçar o
domínio de Esparta. Com a finalidade de evitar essas revoltas, os espartanos praticavam os
extermínios anuais (krypteia ou criptias), que também tinham a função de treinar
militarmente os jovens.
Organização Política
A estrutura política em Esparta é atribuída ao lendário legislador Licurgo. A cidade era
governada por dois reis, a Diarquia. Os monarcas, originários de duas famílias rivais e mais
ricas da cidade, tinham poderes militar (comandavam o exército), religioso (sumo
sacerdotes) e judiciário (juízes supremos).
Em seguida havia a Gerúsia, conselho composto pelos dois reis e por 28 anciãos
(gerontes) com mais de 60. Os mandatos dos gerontes eram vitalícios. As atribuições da
Gerúsia consistiam em tomar as decisões mais importantes, resolução de questões externa
e na criação de leis.
Já a Ápela era uma assembléia composta por todos os cidadãos acima de 30 anos.
Cabia à Apela escolher os integrantes da Gerúsia e aprovar ou não suas decisões.Além
desses órgãos havia os Éforos (cinco aristocratas), que eram eleitos pela assembléia
popular para mandatos de um ano.Após esse processo, esses ‗observadores‘ presidiam as
reuniões da Gerúsia e da
Ápela, fiscalizavam a vida
pública dos cidadãos, julgavam os processos civis, podiam rejeitar projetos de lei
e eram também responsáveis pela educação das
crianças.
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Cultura e educação em Esparta
As atividades culturais em Esparta eram limitadas pelo forte controle desencadeado pelo
Estado. Diante disso, foram desenvolvidas as seguintes características: o laconismo (hábito
de falar pouco), a xenelesia (expulsão de estrangeiros) e a xenofobia (aversão a
estrangeiros). A prática desses mecanismos dificultou a troca cultural com outros povos.
A esterilidade cultural em Esparta
―A esterilidade cultural de Esparta era resultado inevitável de sua estrutura social e
política. Seus cidadãos eram treinados rigorosamente desde a Infância apenas para uma
coisa – ser bons soldados, e esses cidadãos, os espartanos, era uma pequena elite,
apoiada pelo trabalho de um número muito maior de servos, hilotas. (...)
Todo o ano, os éforos mandavam jovens espartanos escolhidos espionarem e matar
os hilotas que considerassem perigosos.‖
JONES, A. H. Atenas e Esparta‖ in o Mundo Grego. Rio de Janeiro. Zahar. pág.66.
O objetivo da educação espartana era a formação de exímios soldados e cidadãos
compromissados, enfatizando a preparação militar e física. Os meninos, com apenas sete
anos, eram entregues ao Estado que buscava fazer dessas crianças soldados corajosos e
obedientes. Aos doze anos começava sua formação militar.
A educação dessas crianças era marcada pela rigidez e disciplina. Eles se dedicavam
exaustivamente ao treinamento voltado para a guerra. Para adquirirem resistências, os
meninos eram chicoteados até sangrarem. O motivo dessa ação era tornar-los mais cruéis.
Para se ter uma idéia da valorização do militarismo em Esparta, quando nascia uma criança,
o pai levava-o para ser avaliado por um ancião. Se o recém-nascido fosse considerado
saudável, podia-se criar, caso o contrário, jogava-se o bebê de um precipício.
O cotidiano de uma criança espartana
―Aos sete anos, todos os garotos deixavam suas mães e eram reunidos e divididos em
unidades, ou ‗tropas‘. Passavam então a viver em conjunto, nas mesmas condições. O
mais veloz e mais valente nos exercícios militares tornava-se o comandante da unidade
e os outros deviam obedece-lhos, assim como aceitar as punições que ele estabelecesse. Os rapazes aprendiam a ler e escrever apenas o necessário aos objetivos de se
tornarem soldados disciplinados e cidadãos submissos, concentrando-se no aprendizado
militar. Conforme cresciam, suas provações aumentavam: eram obrigados a andar
descalços e nus, de modo que adquiriam uma pele grossa, só se banhavam com água
fria e dormiam em camas de junco, feitas por eles mesmos. Aos vinte anos de idade, o
homem espartano adquiria uns poucos direitos políticos; aos trinta, casava-se, adquiria
mais alguns outros e uma certa independência. Entretanto, apenas aos sessenta estaria
liberado de suas obrigações para com o Estado e seu esquema de mobilização militar
constante.‖
FUNARI, Paulo Funari. Grécia e Roma. São Paulo. Contexto: 2006. p.31-2.
Já as mulheres também tinham, desde a infância, um rígido treinamento psicológico e
físico. Elas possuíam liberdades que não existiam em outras cidades-Estado gregas. As
espartanas praticavam ginástica, participavam de jogos e reuniões e também
administravam o patrimônio da família junto com seus maridos.
Atenas
Situada na península da Ática, Atenas foi fundada pelos jônios, se tornando a mais
importante cidade-estado grega. Por causa da pouca fertilidade do solo, os atenienses se
dedicaram às atividades marítimas. A topografia favorecia o cultivo de uvas e oliveiras. Ao
sul da região, os atenienses exploravam as minas de prata, além de ter um excelente porto,
o Pireu, contribuindo para o comércio marítimo.
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A população ateniense era dividida da seguinte forma:
Eupátridas: formada pela aristocracia, possuidora de grandes terras mais férteis.
Geomores (georgoi): composta pelos pequenos proprietários de terras, demiurgos:
artesãos e comerciantes.
Metecos: constituída de estrangeiros, os quais eram livres e praticavam o comércio. Os
membros dessa classe social, no entanto, não possuíam diretos políticos nem civis.
Escravos: em sua maioria eram prisioneiros de guerra, não detinham direitos políticos.
Inicialmente, o número de escravos era insignificante, no entanto, com o passar do
tempo se transformaram na principal mão-de-obra em Atenas. Os escravos atenienses
exerciam várias atividades, excluindo a área política.
A escravidão na Grécia Antiga
―As propriedades são uma reunião de instrumentos e o escravo é uma propriedade
instrumental animada (...). Se cada instrumento pudesse executar por si próprio a
vontade ou o pensamento do dono (...) se, por exemplo, o arco pudesse tirar sozinho
da cítara os sons desejados, os arquitetos não teriam necessidade de operários, nem os
senhores teriam necessidade de escravo (...).
Todos aqueles que nada têm de melhor para nos oferecer que o uso do seu corpo e
dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão.
É melhor para ele servir que serem abandonados a si próprios. Numa palavra, é
naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão poucos meios que deve resolverse a depender de outrem (...) O uso dos escravos e dos animais é aproximadamente o
mesmo (...).‖
Aristóteles. Política. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1997. v.1. p.70.
Formas de governo
Entre os séculos IX e VI a.C., Atenas vivenciou diversos tipos de regimes: a monarquia,
a aristocracia, a oligarquia, a tirania e a democracia. Fazem parte também do cenário
político em Atenas, as desigualdades e os conflitos sociais. Houve a permuta dos monarcas
pelos magistrados responsáveis pela guerra (polemarcas) e outros assuntos (arcontes).
Além disso, existia ainda um conselho que se encontrava numa colina, denominada de
areópago, para tratar de assuntos jurídicos e administrativos.
Os pequenos camponeses e artesãos viviam situações de penúria e, endividados, se
tornavam escravos. Perante esses problemas, os camponeses iniciaram uma luta com o
objetivo de abolir a escravidão por dívidas e agilizar a reforma agrária. Em relação a isso, a
aristocracia implementou algumas reformas para acalmar os camponeses. Os reformadores
sociais mais famosos foram Drácon e Sólon.
O primeiro a criar leis sociais foi Drácon. Ele, baseado nas tradições ou costumes orais,
registrou por escrito as leis que passaram a ser reconhecidas pela população por intermédio
de um conjunto de leis escritas. Essas leis eram bastante severas, chegando a punir com a
morte vários infratores.
Em 594 a.C., o legislador Sólon, eleito arconte, aboliu a escravidão por dívidas, limitou
o tamanho da propriedade, fez uma divisão censitária em Atenas e devolveu terras geradas por endividamento (kektemoroi). A organização social em Atenas ficou classificada em
quatro classes. Essa divisão se baseava em critérios censitários, ou seja, a posição social
do indivíduo era baseada pela renda anual, a qual era dimensionada pela quantidade de
vinho, azeite ou trigo.
Em linhas gerais, pode-se enumerar os principais pontos das reformas de Sólon:
* Lei da Seisactéia: proibição da escravidão por dívida;
* Divisão censitária da sociedade;
* Criação do Tribunal Popular: Helieu;
* Incentivou a vinda de estrangeiros;
* Criação de uma moeda grega (dracma);
* Acabou com o direito de primogenitura;
* Governo formado pelos mais ricos: Plutocracia ou Timocracia;
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* Favorecimento ao desenvolvimento econômico comercial;
* Concessão de mais poderes para a Eclésia: assembléia popular;
* Criação da Bulé: conselho formado por quatrocentas pessoas que representavam o
demos, ‗povo‘.
A concepção de justiça para Sólon
―Sólon afirmava que um princípio de justiça, Dikê, é a base da comunidade humana,
e que, quando as pessoas infringem esse modelo de justiça, elas provocam a ruína da
cidade. Desse modo, sustentava ele, os ricos proprietários de terras com a sua cobiça
destruíram a vida da comunidade e levaram Atenas às portas da guerra civil.
Um traço notável da vida intelectual era a crença num princípio ordenador do
universo. Para Sólon, a lei universal também interferia na vida social. Originalmente, a
justiça havia sido concebida em termos religiosos como a vontade de Zeus; ao
considerar a justiça como principio atuante dentro da sociedade, Sólon tirou a justiça do
campo da religião e conferiu-lhe uma base secular.‖
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: Uma história Concisa. São Paulo: Martins Fontes, 1985. p.52.
Sólon. As reformas de Sólon foram a base da futura democracia que
viria a ser implantada em Atenas mais tarde.
As reformas de Sólon foram a base da futura democracia que viria a ser implantada em
Atenas mais tarde. Entretanto, as medidas de Sólon desagradaram a aristocracia ateniense
que temia perder os seus privilégios, além de não solucionar a questão da terra, uma vez
que as classes inferiores desejavam uma reforma agrária. Por esses motivos, as Leis de
Sólon não resolveram as tensões sociais em Atenas e possibilitou a ascensão da Tirania.
Por volta de 560 a.C., a polis ateniense passa a viver sob a Tirania de Psístrato. Vale
salientar que os governos tiranos nessa época apresentavam propostas políticas em favor
dos pobres, conseqüentemente, contrariando os interesses dos eupátridas.
O governo de Psístrato foi caracterizado por uma série de reformas. Ele limitou as
posses da aristocracia, realizando, dessa forma, uma reforma agrária. Além disso, estabeleceu uma linha de crédito rural com o objetivo de ajudar os camponeses.
Em linhas gerais, as realizações governamentais da tirania de Psístrato foram as seguintes:
• Incentivos culturais: realizações de festas pagãs e eventos esportivos;
• Transcrição da Ilíada e Odisséia;
• Confisco dos latifúndios dos nobres;
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•
•
•
•
Construção de grandes palácios;
Estabilidade econômica;
Concessão de créditos aos pequenos agricultores;
Realização de obras públicas com o objetivo de gerar empregos.
Em 527 a.C., Psístrato morre. A partir de então, o governo é repassado para as mãos
dos seus filhos, Hiparco e Hípias. O primeiro foi assassinado e o segundo deposto pela
aristocracia.
Após o período das tiranias, o governo ateniense foi assumido pelo legislador Clístenes,
em 507 a.C., No poder, Clístenes realizou várias mudanças no âmbito político-administrativo. Esse estadista alterou o sistema de eleição e representação governamental, uma
vez que buscou incluir a todos nas decisões políticas.
Veja abaixo as principais realizações do governo de Clístenes:
Fortalecimento da Eclésia
Criador da Democracia
Divisão do território geográfico ateniense em dez tribos, que, por sua vez, eram
divididas em unidades menores, chamadas de demos (daí surge o termo democracia,
poder do povo);
Criação do Ostracismo: instrumento de punição para todos aqueles que ameaçarem o
regime ‗democrático‘. Essa instituição consistia no exílio do indivíduo por 10 anos;
O aumento no número de membros da Bulé: de 400 passou para 500.
As medidas de Clístenes, criador da democracia, foram fundamentais para o florescimento econômico e político em Atenas. No entanto, vale ressaltar que a democracia
ateniense tinha suas limitações. Nem todos participavam das decisões administrativas. Só
os grandes proprietários de terras tinham pré-requisitos para participarem desse sistema
democrático. Já os demais membros da sociedade ateniense (metecos, mulheres e escravos) eram isentos de direitos políticos.
Reunião do Congresso Nacional. Na democracia representativa o povo, escolhe vereadores, prefeitos, deputados,
governadores, senadores e o presidente, os quais representarão os interesses sociais no decorrer do seu mandato, criam
projetos, discutem e votam medidas que visam o bem-estar do país.
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Democracia: ontem e hoje
―A democracia dos antigos era fundada sobre o governo de assembléia. Ao contrário da
democracia moderna, nela não existiam entidades intermediárias entre o indivíduo e o
Estado. Já a democracia dos modernos é representativa. Ela é pluralista, isto é, apóia-se na
multiplicidade das sociedades intermediárias – como os partidos políticos, os sindicatos e
outras associações, que funcionam como ‗pontes‘ entre os indivíduos e o Estado.
A democracia representativa também nasceu da convicção de que os representantes
eleitos estariam em condições de avaliar quais seriam os interesses gerais melhor do que os
próprios cidadãos, mais voltados para seus interesses privados. (...) Mas isso desde que o
deputado, uma vez eleito, se comporte como um representante da nação inteira.‖
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra. 2004. p.152.
Período Clássico
Os principais eventos que ocorreram no Período Clássico foram: o apogeu da cultura
grega (destaque para Atenas) e as disputas externas (guerras contra os persas) e as
internas (Guerra do Peloponeso).
Guerras Médicas
O confronto entre os helenos e persas foi provocado pelo projeto expansionista
desenvolvido pelo rei Dario I. O início das divergências se deu quando a cidade de Mileto se
rebelou contra a dominação dos persas, recebendo ajuda dos atenienses. Dessa forma, os
persas deflagram a primeira guerra contra os gregos. Sob a chefa de Milcaíades, os helenos
derrotam os persas na Batalha de Maratona (490 a.C.).
Em 480 a.C., Xerxes, o filho de Dario I, retorna ao campo de batalha e inicia a segunda
guerra contra os gregos. No entanto, um acordo entre diversas cidades-Estado, sob a égide
de Esparta, foi decisivo para a derrota do exército persa. Para especialistas, o triunfo dos
gregos representou um feito inigualável dada à diferença numérica entre ambas as forças.
Além disso, essa vitória reforçou, entre os gregos, a auto-confiança e o engrandecimento da
cultura grega (literatura, escultura, arquitetura).
A Confederação de Delos
Após as guerras greco-pérsicas, Atenas coordenou uma aliança política e militar entre
diversas cidades-Estado gregas, tal acordo foi chamado de Liga de Delos (476 a.C.).
De acordo com as regras que normalizavam a Liga, os participantes tinham que fornecer
frotas, soldados e recursos financeiros que seriam depositados na sede da confederação, a
Ilha de Delos.
Entretanto, como Atenas era referência da associação, tornou-se visível o seu favorecimento quando houve a transferência do tesouro de Delos para Atenas, o que possibilitou o
seu desenvolvimento cultural e econômico.
O governo de Péricles
Durante o governo de Péricles (461 a 429 a.C), o regime democrático ateniense alcança
seu ápice. Paralelo a isso, o número de trabalhadores escravos alcança o seu maior índice, o
que criou condições para o crescimento econômico de Atenas.
―Foram as cidades-Estado gregas que, pela primeira vez na história, tornaram a
escravidão absoluta na forma e dominante na extensão, transformando-a, de forma de
trabalho auxiliar e complementar, em um sistemático modo de produção.‖
Rezende Filho, Cyro de Barros. História Econômica Geral. São Paulo: Contexto, 1991, p.24.
110
887
A democracia no governo de Péricles era direta, possuindo os seguintes princípios:
isonomia (todos são iguais perante à lei), isegoria (igualdade de acesso ao pronunciamento na assembléia) e isocracia (igualdade na participação no poder). As reformas na
política implementadas por Péricles, possibilitou uma participação considerável dos pobres
nas assembléias.
―Temos um sistema político... que se chama democracia, pois se trata de um regime
concebido, não para uma minoria, mas para as massas. Em virtude das leis (...), todas
as pessoas são cidadãos iguais. Por outro lado, é conforme a consideração de que goza
em tal ou tal domínio que cada um é preferido para a gestão dos nossos negócios
públicos, menos por causa da sua classe social do que pelo seu mérito. E nada importa a
pobreza: se alguém pode prestar serviço à Cidade, não é disso impedido pela
obscuridade de sua categoria. É como homens livres que administramos o Estado...
Obedecemos aos magistrados sucessivos, às leis e sobretudo, às que foram instituídas
para socorro dos oprimidos (...)‖.
Discurso de Péricles em 430 a.C. Freitas, Gustavo de. 900 textos e documentos de
História. 2. Ed. Lisboa: Plátano, 1977, v. I, p. 68.
As principais realizações do governo de Péricles foram:
Tratado de Paz com os Persas;
Embelezamento e reurbanização de Atenas;
Construção de magníficos edifícios;
Abertura da assembléia soberana a todo o cidadão;
Estabelecimento de remuneração diária para o jurado
do Helieu (tribunal de justiça);
Estabelecimento da mistoforia (remuneração por desempenho no trabalho).
Pagamentos de salários para soldados, funcionários
públicos e marinheiros;
Incentivos culturais e artísticos.
Busto de Péricles. Durante o governo de Péricles (461 a 429 a.C), o regime
democrático ateniense alcança seu ápice.
A Guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C.)
A hegemonia ateniense gerou um desconforto nas demais póleis. Por isso Esparta
liderou a criação da Liga do Peloponeso que era composta por várias cidades.
O confronto direto entre essas cidades-Estado rivais provocou a eclosão da Guerra do
Peloponeso. Ao término de várias batalhas entre as duas confederações, presididas por
Esparta e Atenas, a Liga do Peloponeso saiu vitoriosa em 404 a.C na batalha de EgosPótamos. Esse resultado significou o fim do imperialismo ateniense e o início do apogeu de
Esparta.
A hegemonia espartana durou pouco. As brigas internas como eram regulares, fragilizou
o domínio de Esparta. Por volta 371 a.C., Tebas derrota os espartanos. Essas disputas entre
as cidades gregas enfraqueceu o mundo grego, o que possibilitou a conquista dos
Macedônios, através de Felipe II em 338 a.C. Era o fim da polis grega.
111
887
Período Helenístico
Situados ao norte da Grécia, os macedônios, sob a liderança de Filipe II, iniciam sua
expansão, conquistando as cidades-Estado gregas, a partir do século IV a.C. Com seu
grandioso exército, Filipe II adotou uma política expansionista baseada na concessão de
relativa autonomia às póleis gregas.
Depois do assassinato de Filipe II, em 336 a.C, seu filho, Alexandre Magno, com apenas
vinte anos, assume o governo da Macedônia. Após derrotar os persas em 334 a.C.,
Alexandre conquista a Fenícia, o Egito e a Mesopotâmia. O grande objetivo de Alexandre,
era chegar ao extremo oriente, entretanto só foi possível avançar até a Índia, uma vez que
seus soldados rejeitaram prosseguir.
Alexandre morreu em 323 a.C. na Babilônia, vítima de uma forte febre. Pelas suas
expressivas conquistas, ficou conhecido na História como Alexandre, o Grande. A partir dos
séculos I e II a.C., o Império Macedônio foi anexado ao Romano.
ANOTAÇÕES
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887
TEXTO COMPLEMENTAR
HIHISTÓRICOSHISTÓRICOSQUE
STÕESE VESTIBULARES
O que era a democracia grega?
―O que era realmente essa democracia grega, ou melhor, democracia ateniense, a
única que realmente podemos discutir? Antes de mais nada convém nos livrarmos de um
problema que periodicamente vem à tona: o da escravidão. É evidente que a democracia
ateniense era uma democracia escravista, que o demos, que exercia a soberania nas
assembléias e tribunais, constituía apenas uma pequena parte da população da Ática,
que a massa dos escravos era dele excluída, escravos cujo número era no mínimo igual
ao dos homens livres, que eram igualmente excluídas dele as mulheres, de quem dizia
Platão serem a metade da cidade a quem toda atividade política era vedada. É
precisamente nesse ponto que é possível avaliar a Distância que nos separa das
sociedades da Antiguidade. Entretanto, o demos não deixava de ser, para usar a
expressão de Pierre Vidal-Naquet, ‗um verdadeiro povo‘, e ‗as lutas de classe que o
perpassam eram lutas verdadeiras‘ (...). O demos, ateniense não era de fato uma classe
privilegiada de ociosos vivendo das rendas dos trabalhos de seus escravos. Apenas uma
ínfima minoria dos ricos assim vivia. A grande massa dos que compunham o demos era
formada por trabalhadores, camponeses, artesãos e comerciantes cujos interesses nem
sempre eram os mesmos: isso pode ser percebido no início da Guerra do Peloponeso,
quando os camponeses assistiram impotentes às devastações lacedemônias de seus
campos e questionaram a estratégia preconizada por Péricles; pode-se percebê-lo
igualmente no século IV, quando os ricos, sobre os quais recaía o peso dos encargos
gerados pelas operações marítimas, passaram a oferecer oposição cada vez mais
ferrenha à política imperialista que servia aos interesses dos demos urbano e dos mais
pobres.‖
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p.88-9.
Analisando o texto
1. Cite as características da democracia grega apresentadas pela historiadora.
2. Faça um quadro comparativo entre a democracia na Grécia antiga e na Atualidade.
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887
FAZENDO HISTÓRIA
HISTÓRICOSHISTÓRICfOSQUEST
ÕESE VESTIBULARES
1. (Unicamp-SP) No poema grego Odisséia, que narra as viagens lendárias do herói
Ulisses, esse personagem chega a um país habitado por gigantes chamados Ciclopes,
que são descritos como ―homens sem leis‖, porque ―não têm assembléias que julguem
ou deliberem‖ e ―cada um dita a lei a seus filhos e mulheres sem se preocuparem uns
com os outros‖. (Homero, Odisséia. São Paulo: Nova Cultural, 2002, p. 117).
a) Aponte dois aspectos da cidade-estado grega que a diferenciava do país lendário
mencionado no texto.
b) Identifique os dois principais modelos de cidade-estado desenvolvidos na Grécia.
c) Cite uma característica da democracia grega que a diferencie da democracia atual.
2. (UFV) Atenas e Esparta representaram dois modelos distintos de organização política e
social no mundo grego. Aponte duas características que diferenciam aquelas cidadesestado em termos políticos e sociais.
a) Atenas
Política:
Social:
b) Esparta:
Política:
Social:
3. (UNICAMP) A relutância dos aliados da Liga de Delos em pagar tributos aumentou
quando Atenas decidiu dedicar o enorme excedente acumulado por quase trinta anos
para reconstruir os templos e monumentos da Acrópole ateniense, destruídos pelos
persas em 480 e 479 a. C..
(Adaptado de Peter Jones (org.), "O Mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica ateniense".
São Paulo, Martins Fontes, 1997, p. 241.)
a) O que foi a Liga de Delos e quais seus objetivos iniciais?
b) Quais os mecanismos que asseguravam a hegemonia ateniense sobre seus aliados
neste período?
4. (FUVEST/ADAPTADA)
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam, se banham com leite, se arrumam suas melenas
Quando fustigadas não choram se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos querem arrancar violentos
Carícias plenas obscenas.
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Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho costumam buscar o carinho de outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas Helenas.
( Chico Buarque de Holanda e Augusto Boal)
A letra da música ―Mulheres de Atenas‖ esboça o papel da mulher ateniense. Que papel
é esse e no que ele se diferencia do exercido pela mulher espartana?
5. (UFG-GO) ―... os fatos na antiguidade foram muito próximos de como os descrevi, não
dando muito crédito, de um lado, às versões que os poetas cantaram, adornando e
amplificando seus temas, e de outro considerando que os logógrafos [primeiros
escritores gregos] compuseram as suas obras mais com a intenção de agradar os
ouvidos que de dizer a verdade (...) deve-se olhar os fatos como estabelecidos com
precisão suficiente, à base de informações mais nítidas.
Tucídides I, 21. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: Ed. da UnB, 1999. p. 25.
O desenvolvimento do pensamento filosófico e o nascimento da História (a investigação
que localiza as ―informações mais nítidas‖), como atividade que distingue mito e
verdade, foram concomitantes ao nascimento da polis e conheceram um período de
florescência no denominado ―Século de Péricles‖.
Discorra sobre os aspectos culturais e políticos desse período da história da Grécia
Antiga.
6. (FUVEST) "Cada um deve observar as religiões e os costumes, as leis e as convenções,
os dias festivos e as comemorações que observavam nos dias de Dario. Cada um deve
permanecer persa em seu modo de vida, e viver em sua cidade (...). Porque eu desejo
tornar a terra bastante próspera e usar as estradas persas como pacíficos e tranqüilos
canais de comércio."
"Edito de Alexandre para os cidadãos das cidades persas" conquistadas.331 a. C.
A partir do texto, responda:
a) Quem foi Alexandre e quais os objetivos de suas conquistas?
b) Indique algumas características do "helenismo".
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887
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UFCE) Durante o período homérico, a sociedade grega organizou-se a partir de
pequenas comunidades denominadas genos. O auge desse sistema caracterizou-se:
a) por pequenos agrupamentos humanos formados pela união de frátrias e cidadesestados chefiados, para a manutenção da igualdade social dos membros do genos,
por um patriarca escolhido por um Conselho de Anciãos.
b) Pelo culto aos antepassados e heróis de família, pela grande participação política
através do sufrágio universal, além da igualdade econômica entre todos os membros
da comunidade.
c) Pela educação cívica, xenofobia e orientação econômico-cultural, devido à força
persuasiva de um chefe, representante do regime patriarcal, escolhido pelo Senado.
d) Por uma autoridade máxima, o pater-familias, que exercia as funções de juiz, chefe
religioso e militar, sendo a posição do indivíduo na comunidade definida pelo grau de
parentesco com o pater.
e) Pela organização hierárquica da comunidade em que a posição social dos indivíduos
era definida segundo as conquistas territoriais que realizavam para a manutenção do
genos.
2. (VUNESP) Leia atentamente o texto a seguir.
As cidades-estado surgiram num quadro de grandes mudanças econômicas e sociais.
Entre os séculos IX e VIII a.C. desenvolveu-se um intenso intercâmbio de pessoas,
bens e ideias por todo o Mediterrâneo. O aumento populacional foi visível.
Gregos e fenícios fundaram colônias por toda parte – norte da África, sul da Espanha,
Mar Negro e Itália –, levando consigo uma forma de organização social peculiar: a
cidade-estado. As cidades-estado surgiram, assim, num quadro de crescimento
econômico e social.
O termo ‗cidade-estado‘ não se refere ao que hoje entendemos por ‗cidade‘, mas a
um território agrícola composto por uma ou mais planícies de variada extensão,
ocupado e explorado por populações essencialmente camponesas, que assim
permaneceram mesmo nos períodos de mais intensa urbanização no mundo antigo. Um
fator primordial para essas comunidades camponesas foi o desenvolvimento da
propriedade privada da terra. As cidades-estado formavam associações de proprietários
privados de terra. Só tinha acesso à terra, no entanto, quem fosse membro da
comunidade. As cidades-estado foram o resultado do fechamento, gradual e ao longo
de vários séculos, de territórios agrícolas específicos, cujos habitantes se estruturaram,
progressivamente, como comunidades, excluindo os estrangeiros e defendendo
coletivamente suas planícies cultivadas da agressão externa.
(Norberto Luiz Guarinello. ―Cidades-estado na Antiguidade Clássica‖. In Jaime Pinsky, História da Cidadania. Adaptado)
a)
b)
c)
d)
e)
Sobre as cidades-estado na Grécia Antiga, é correto afirmar que:
se desenvolveram graças a um intenso processo de urbanização.
se desenvolveram como forma comunitária de proteção a territórios agrícolas.
designavam territórios urbanos, em oposição ao campo e aos territórios rurais.
foram fruto de um processo de retração populacional e ruralização da vida social.
cresceram em decorrência da ausência de trocas mercantis no Mediterrâneo.
3. (UPE) Como modelo de democracia, ergueram-se, na Antiguidade Clássica Ocidental,
relevantes sociedades, que, com seus traços culturais, deixaram seu legado para a
modernidade. Sobre a democracia Grega, analise as afirmativas abaixo:
I. Clístenes estabeleceu, em suas reformas democráticas, mais liberdade para as
mulheres atenienses que para as espartanas.
II. A Assembleia Popular tornou-se o órgão mais importante do governo ateniense,
embora a democracia tenha sofrido um retrocesso na época de Péricles.
III. O regime democrático ateniense incluía todos os seus cidadãos, entre eles os
metecos e os escravos.
116
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IV. O ostracismo foi instituído na Grécia para excluir da vida política, por 10 anos, o
cidadão que fosse considerado pela população uma ameaça às instituições
democráticas.
Está correto o que se afirma em:
a) I, II e IV.
b) II e III
c) III e IV.
d) III.
e) IV.
4.(UFRN) Nos primeiros meses de 430 a. C., Péricles proferiu um discurso em
homenagem aos mortos da Guerra do Peloponeso. Nesse discurso ele afirmou:
Temos um regime que nada tem a invejar das leis estrangeiras. [...] Se, em
matéria de divergências particulares, a igualdade de todos diante da lei é
assegurada, cada um, em virtude das honras devidas à posição ocupada, é julgado
naquilo que pode ocasionar sua distinção: no que se refere à vida pública, as
origens sociais contam menos que o mérito, sem que a pobreza dificulte a alguém
servir à cidade por causa da humildade de sua posição.
PINSKI, Jaime (Comp.). 100 textos de história antiga. São Paulo: HUCITEC, 1972. p. 94-95.
Desse fragmento do discurso de Péricles, pode-se inferir:
a) a existência de um critério censitário como elemento definidor dos cidadãos
atenienses, aos quais cabia, com exclusividade, aprovar as leis e decidir
questões relativas à paz e à guerra.
b) a existência de um código de leis extremamente severas, o que mantinha,
em Atenas, os privilégios da aristocracia.
c) a presença de uma estrutura social flexível da democracia em Atenas, que
permitia aos escravos deixarem essa condição e se tornarem cidadãos.
d) a
singularidade
da
estrutura
da
vida democrática ateniense, que se
caracterizava pela primazia do espaço público e pelo zelo à igualdade entre os
cidadãos.
5.(CEPERJ) Segundo o historiador Gustave Glotz, em seu clássico A cidade grega, os
atenienses percebiam perfeitamente que o estabelecimento da democracia numa urbe tão
populosa como a deles era uma grande novidade e não deixavam de experimentar um
certo orgulho ao compararem a sua cidade a todas as outras, especialmente Esparta.
Tinham orgulho de sua constituição e afirmavam que dos três regimes que os gregos
conheciam o único que parecia convir à dignidade humana era a democracia. Segundo
Glotz, os três regimes políticos experimentados pelos gregos da Antiguidade foram:
a) Oligarquia, Tirania e Democracia.
b) Anarquia, Oclocracia e Politeia.
c) Timocracia, Liberalismo e Socialismo.
d) Anarquia, Monarquia e Democracia.
e) Monarquia, Democracia e Socialismo
6.(UPE) Construir uma relação solidária entre as pessoas faz parte do fazer político humano.
As experiências feitas são múltiplas. Na Grécia, nos tempos da democracia,
a) houve êxito na quebra das hierarquias e na vitória de princípios de igualdade social
para crescimento econômico.
b) extinguiu-se a escravidão e criaram-se alternativas de trabalho para todos, seguindo
os ensinamentos de Platão Aristóteles.
c) buscou-se diminuir as diferenças entre as pessoas, mas não se acabaram as
hierarquias sociais nem as desigualdades econômicas.
d) efetivou-se a aristocracia no poder, apesar da grande astúcia política dos monarcas e
das assembléias populares.
e) havia grandes semelhanças com a democracia contemporânea, afirmando valores
universais e definindo direitos sociais.
7.(UFCE) ―Na cidade grega antiga, ser cidadão não significava apenas fazer parte de uma
entidade ‗nacional‘, mas também participar numa vida comum.‖
MOSSÉ, Claude. O cidadão na Grécia antiga. Lisboa: Edições 70, 1999, p. 51.
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Tomando por base a afirmativa acima, pode-se compreender corretamente que a vida na
polis, para o cidadão, significava:
a) romper com a religião e os mitos e adotar o modo de vida proposto pelos filósofos, o de
disseminar a filosofia e a democracia para todas as cidades-estado gregas.
b) realizar o ideal grego de unificação política, militar, geográfica, econômica, religiosa e
cultural de todas as cidades-estados e assim suprimir as tiranias e as oligarquias.
c) exercer obrigatoriamente uma magistratura ao longo da vida, pois o aprendizado político
por todos representava a garantia do bem-estar social e da manutenção da democracia.
d) formar um corpo de súditos cujas decisões políticas se orientavam para a manutenção
do poder econômico e religioso das famílias detentoras de frotas que comercializavam
pelo Mediterrâneo.
e) integrar uma comunidade que visava ao seu bem comum por meio de decisões
políticas, da adoção de uma defesa militar e de práticas religiosas que buscavam
benefícios e proteção dos deuses da cidade.
8. (IPAD) As cidades-estados da Grécia Antiga, na Península Balcânica, constituíram um
modo de organização política que:
a) foram inventadas pelos eólios e dórios, povos bárbaros vindos do norte da Europa,
que já haviam implantado o Estado.
b) eram politicamente autônomas, sendo Corinto, Micenas, Atenas e Esparta as mais
notáveis.
c) constituíram-se em instrumento de controle da concorrência desenfreada entre a
economia gentílica e a economia urbana.
d) baseavam-se em uma organização econômica comunitária, o que resultou na
instituição de práticas econômicas solidárias.
e) instituíram a democracia na totalidade dos casos, possuindo uma organização social
militarista baseada no escravismo.
9. (COVEST) A expressão "gregos e troianos", que significa hoje coisas diferentes que não
se devem unir, tem uma correspondência na história da Grécia. Assinale a alternativa
correta.
a) Homero, um dos mais famosos "aedos" gregos, contou no seu poema "A Ilíada " a
guerra entre a cidade de Tróia e a cidade de Esparta, resgatando um período da
história grega confirmado por modernas escavações arqueológicas.
b) A história da Grécia é uma história de lutas entre cidades- estado. A guerra entre
Tróia e Esparta está contada na "Odisseia".
c) Ulisses, herói grego, é o autor do rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de
Esparta.
d) A expressão "gregos e troianos" significa os que habitavam a Polis - a cidade da
Grécia.
e) Os gregos representavam os dórios e os troianos os aqueus. A guerra entre Tróia e
Esparta teria destruído a civilização creto-miceniana.
10.(UPE) A questão da cidadania continua causando polêmicas no mundo atual. Muitos
esquecem que essa discussão não é recente, ela atravessa séculos de História. Na
Grécia Antiga, especialmente na cidade de Atenas,
a) havia uma cidadania ampla e universal que mostrava o valor que os gregos davam
às relações políticas.
b) a cidadania estava restrita apenas aos homens que tivessem mais de 21 anos,
nascidos em qualquer cidade da comunidade grega.
c) a experiência com a democracia foi significativa, mas não merece destaque como a
que existiu entre os romanos.
d) houve práticas políticas democráticas que devem ser lembradas, apesar dos limites
existentes e das restrições feitas às mulheres e aos estrangeiros.
e) não houve superação do regime oligárquico, baseado no poder dos grandes
proprietários de terra que não abriram mão de uma legislação autoritária.
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11.COVEST) Atenas conviveu, na política, com formas de governo e experiências
singulares que provocaram muitas intrigas e debates ainda persistentes. Um desses
governos, o do tirano Pisístrato, com suas reformas:
a) conseguiu aumentar o poder das Assembleias, garantindo maior liberdade para a
população feminina, muito marginalizada politicamente.
b) afirmou o poder centralizado da nobreza, ressaltando o valor da grande propriedade
e das atividades comerciais da Grécia.
c) respeitou os direitos dos cidadãos mais pobres, concretizando valores democráticos
definidos pelos filósofos da época.
d) limitou o poder da nobreza e foi sucedido pelos seus filhos Hípias e Hiparco,
que enfrentaram instabilidades políticas e sociais.
e) ampliou a vida social dos atenienses, restringindo a escravidão agora limitada
apenas aos que tinham dívidas com o governo.
12.(PUC-RS) Para responder à questão a seguir, considere as afirmativas abaixo, sobre a
cidade-estado (polis), base da organização sociopolítica da Grécia Antiga.
I. Esparta, que englobava as regiões da Lacônia e da Messênia, e Atenas, que
correspondia a toda a região da Ática, eram exceções quanto à grande dimensão
territorial, se comparadas à maioria das demais cidades-estado.
II. As cidades-estado consolidaram suas estruturas fundamentais no chamado período
arcaico da história grega e conheceram sua máxima expressão política e cultural
durante o período clássico.
III. A acrópole, parte alta da zona urbana da polis, concentrava as atividades econômicas
essenciais para o sustento material da cidade, suplantando a produção agrícola da
zona rural nesse setor.
IV. As cidades-estado formavam unidades politicamente autônomas e economicamente
autossuficientes, não tendo desenvolvido processos significativos de expansão
territorial por colonização de novas áreas até o período helenístico.
Estão corretas apenas as afirmativas
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) I, III e IV.
13. (Fuvest) ―Usamos a riqueza mais como uma oportunidade para agir que como um
motivo de vanglória; entre nós não há vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é
não fazer o possível para evitá-la... olhamos o homem alheio às atividades públicas não
como alguém que cuida apenas de seus próprios interesses, mas como um inútil...
decidimos as questões públicas por nós mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por
compreendê-las claramente, na crença de que não é o debate que é o empecilho à ação,
e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação‖.
Esta passagem de um discurso de Péricles, reproduzido por Tucídides, expressa
a) os valores ético-políticos que caracterizam a democracia ateniense no período
clássico.
b) os valores ético-militares que caracterizaram a vida política espartana em toda a sua
história.
c) a admiração pela frugalidade e pela pobreza que caracterizou Atenas durante a fase
democrática.
d) o desprezo que a aristocracia espartana devotou ao luxo e à riqueza ao longo de toda
a sua história.
e) os valores ético-políticos de todas as cidades gregas, independentemente de sua
forma de governo.
14.(PUC-SP) As conquistas realizadas por Alexandre da Macedônia (também chamado de
Alexandre, o Grande) entre 334 e 323 a.estenderam-se da Grécia até as margens do rio
Indo (Índia). Algumas das características dessa expansão macedônica e do imenso
Império que dela derivou foram:
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a) a imposição de instituições políticas romanas sobre as áreas conquistadas por
Alexandre e a repressão às formas monárquicas predominantes no Oriente
próximo e distante.
b) o apoio do exército macedônio a revoltas de povos subjugados por outros
impérios e a recusa da incorporação de soldados que não fossem macedônios ou
gregos às tropas de Alexandre.
c) a restrição à circulação de mercadorias entre regiões distintas do Império e a
gradativa mas profunda segmentação e diminuição do comércio interno e externo
dos macedônios.
d) o intercâmbio entre culturas ocidentais e orientais e o prevalecimento de uma
perspectiva universalista e assimiladora sobre a mentalidade voltada às questões
locais.
e) a obrigatoriedade de uso de uma só língua, o persa, e a proibição sumária da
transmissão de idéias e da movimentação de intelectuais entre as áreas
dominadas pelo Império.
15.(UFC) ―Na cidade grega antiga, ser cidadão não significava apenas fazer parte de uma
entidade ‗nacional‘, mas também participar numa vida comum.‖
MOSSÉ, Claude. O cidadão na Grécia antiga. Lisboa: Edições 70, 1999, p. 51.
Tomando por base a afirmativa acima, pode-se compreender corretamente que a vida
na polis, para o cidadão, significava:
a) romper com a religião e os mitos e adotar o modo de vida proposto pelos filósofos,
o de disseminar a filosofia e a democracia para todas as cidades-estado gregas.
b) realizar o ideal grego de unificação política, militar, geográfica, econômica, religiosa
e cultural de todas as cidades-estados e assim suprimir as tiranias e as oligarquias.
c) exercer obrigatoriamente uma magistratura ao longo da vida, pois o aprendizado
político por todos representava a garantia do bem-estar social e da manutenção da
democracia.
d) formar um corpo de súditos cujas decisões políticas se orientavam para a
manutenção do poder econômico e religioso das famílias detentoras de frotas que
comercializavam pelo Mediterrâneo.
e) integrar uma comunidade que visava ao seu bem comum por meio de decisões
políticas, da adoção de uma defesa militar e de práticas religiosas que buscavam
benefícios e proteção dos deuses da cidade.
16.(UFF) Em 594 a.C., em Atenas, os aristocratas nomearam Sólon chefe do Executivo. Ele
sustentava que a lei escrita devia estar em harmonia com, o princípio de justiça que
fundamenta a comunidade humana. Por isso, Sólon:
a)redigiu um código de leis que permitiu aos pobres conhecer as leis e combater as
injustiças dos juízes aristocráticos;
b) libertou os atenienses escravizados por dívidas e trouxe de volta a Atenas os que
haviam sido vendidos no exterior;
c) confiscou e redistribuiu a terra dos nobres, como exigiam as pessoas pobres da
cidade;
d) proibiu a concessão de cidadania aos artesãos estrangeiros, ordenando aos pais
atenienses a ensinarem aos filhos seus ofícios;
e) organizou recitais públicos das epopéias de Homero e festivais para o homem
comum.
17.(UFT) Afirma Maurice Crouzet que os contemporâneos de Péricles ter-se-iam escandalizado diante da revolução do gênero de vida e dos costumes da burguesia, que
escandalizou também, em sua própria época, homens que, sem serem moralistas profissionais, responsabilizaram-na por uma das desgraças da Grécia: o despovoamento.
(Adaptado de CROUZET, Maurice. História Geral da Civilização Brasileira: o Oriente e a Grécia Antiga.
O homem no Oriente Próximo. Vol. 2, Rio de Janeiro: 1993, p. 334).
Considerando o despovoamento como uma das causas do declínio da Grécia Clássica, é
incorreto afirmar:
a) Segundo o pensador Políbio, que viveu no século II a C. a causa do mal em questão,
o despovoamento é motivado pela oligantropia (falta de homens).
b) De acordo com o pensador Políbio, observou-se em toda a Grécia, uma ausência de
crianças e uma homofobia que torna as cidades desertas e improdutivas.
120
887
c)
d)
Por vaidade, amor ao dinheiro e covardia, segundo Políbio, os homens não querem
mais casar e se casam, querem criar seus filhos, no máximo educar um ou dois,
entre todos, a fim de deixá-los ricos.
A Grécia foi o ponto de partida, em direção ao Oriente conquistado e administrado
por soberanos gregos, enquadrado e explorado por gregos, de uma emigração
considerável, que a privou de elementos jovens.
18.(PUC-RS) Responder à questão seguir associando os líderes reformadores da estrutura
sociopolítica de Atenas (Coluna A) com as respectivas mudanças nessa estrutura
conduzidas por esses líderes (Coluna B).
Coluna A
1 - Drácon
2 - Sólon
3 - Pisístrato
4 – Clístenes
Coluna B
( ) Estabelecimento de uma divisão política censitária dos cidadãos e
abolição do pagamento de dívidas como mecanismo de escravização
de pequenos proprietários.
( ) Criação, segundo atribuição tradicional, do primeiro código de leis
escritas da Grécia, o qual continha normas extremamente rígidas para
os casos de crime contra a propriedade.
( ) Criação da Constituição política vigente no período clássico, que
tendeu a ampliar a participação política dos cidadãos, a partir da
divisão destes em dez tribos, modificando a antiga divisão por génos.
( ) Criação de medidas de estímulo à agricultura, ao comércio e ao
artesanato, tais como redistribuição de terras, empréstimos estatais
aos agricultores e fomento às construções navais.
( ) Criação do ostracismo, pena de banimento por dez anos imposta a
todo cidadão suspeito de atentar contra a segurança do Estado.
A numeração correta na coluna B, de cima para baixo, é
f) 1 – 2 – 2 – 3 – 4.´
g)2 – 1 – 4 – 3 – 4.
h) 1 – 1 – 4 – 3 – 2.
i) 2 – 4 – 3 – 1 – 2.
j) 3 – 4 – 1 – 2 – 4.
19.(UNESP) A cidade-Estado clássica parece ter sido criada paralelamente pelos gregos e
pelos etruscos e/ou romanos. No caso destes últimos, a influência grega foi inegável,
embora difícil de avaliar e medir.
(Ciro Flamarion S. Cardoso. A cidade-Estado antiga,1985.)
Aponte quais eram as características comuns às cidades-Estados clássicas.
I. Possuíam governo tripartido em assembleia, conselho e certo número de magistrados escolhidos entre os homens elegíveis.
II. Os cidadãos podiam participar de forma direta no processo político.
III. Havia separação entre os órgãos de governo e de justiça.
a) As afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas a afirmativa III está correta.
c) As afirmativas I e III estão corretas.
d) Apenas a afirmativa II está correta.
e) As afirmativas I, II e III estão corretas.
20.(UPE) Construir uma relação solidária entre as pessoas faz parte do fazer político
humano. As experiências feitas são múltiplas. Na Grécia, nos tempos da democracia,
a) houve êxito na quebra das hierarquias e na vitória de princípios de igualdade social
para crescimento econômico.
b) extinguiu-se a escravidão e criaram-se alternativas de trabalho para todos, seguindo
os ensinamentos de Platão Aristóteles.
c) buscou-se diminuir as diferenças entre as pessoas, mas não se acabaram as
hierarquias sociais nem as desigualdades econômicas.
d) efetivou-se a aristocracia no poder, apesar da grande astúcia política dos monarcas e
das assembleias populares.
e) havia grandes semelhanças com a democrcia contemporânea, afirmando valores
universais e definindo direitos sociais.
121
887
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
Nascer, viver e morrer na Grécia Antiga. Maria Beatriz Florenzano. São Paulo: Contexto.
História Abreviada da Grécia Antiga. Matthieu de Durand. Lisboa: Editorial Notícias.
Dicionário da civilização grega. Claude Mossé. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
O mundo de Homero. Pierre Vidal-Naquet. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
Cinema
Alexandre
Direção de Oliver Stone. (EUA, 2004. 176 min.)
Nova versão da vida de Alexandre, o Grande, narrada desde sua
Infância até a conquista do Império Persa e a morte na Babilônia
em 332 a.C.
A Odisseia (Estados Unidos, 1997. 150 min.). Direção de Andrei Konchalovsky.
O filme é uma adaptação do poema clássico Odisseia, atribuído a Homero, no qual Odisseu
(Ulisses) enfrenta a fúria dos deuses e monstros mitológicos, e demonstra bravura e
resistência para retornar à terra natal e aos braços de sua esposa, Penélope.
Sites
Mapas da Antiguidade. Em inglês, o portal
Antiguidade. Disponível em: www.henry-davis.com
disponibiliza mapas
elaborados
na
Projeto Chronus. Criado pela Universidade Federal do Paraná, o site oferece material para
pesquisa e análise, voltado para estudantes do ensino fundamental, médio e superior.
Contém fontes originais, artigos, mapas, imagens, bibliografia, entre outras informações.
Disponível em: www.geocities.com/pjchronos
Templo de Apolo. Apresenta mapas, imagens e informações sobre história, cultura e filosofia
da Grécia.
Disponível em: www.templodeapolo.net/civilizacoes/grecia/grecia.html
122
887
As contribuições da cultura grega
para o mundo ocidental
As contribuições culturais da civilização grega para a formação da mentalidade ocidental
são admiráveis. Religião, teatro, filosofia, política, esporte, literatura, música, história,
geografia, matemática, medicina, escultura, arquitetura e artes plásticas compõem o
universo cultural grego que fazem parte do cotidiano da civilização contemporânea.
Os gregos realizavam os jogos olímpicos a cada quatro anos em homenagem
a Zeus. No período das realizações desse evento, as guerras eram
paralisadas em toda Grécia. A imagem mostra uma das modalidades mais
clássica dos jogos olímpicos contemporâneo, a maratona.
Em linhas gerais, a cultura grega possuía as seguintes características:
Antropocentrismo: o homem é referencial para tudo na arte grega;
Humanismo: valorização das atitudes dos homens;
Naturalismo: representação do homem transmitindo emoções;
Individualismo: o homem como medida de todas as coisas;
Paganismo: religião sem preceitos morais e éticos;
Valorização do belo: uso da proporcionalidade;
123
887
O culto ao corpo entre os gregos
―O culto ao corpo já era uma das principais características dos Jogos Olímpicos na Grécia
Antiga. Na época, os atletas competiam nus. A origem da palavra ginástica, aliás, é exercitarse nu. Mas só homens participavam. As provas olímpicas não eram abertas às mulheres. As
casadas, então, não podiam nem assistir às disputas.O corpo ideal é motivo recorrente na
arte grega, representando em cerâmicas por intermédio dos esportistas. O próprio tema
em latim dos Jogos modernos, ‗Citius, altius, fortius‘, que significa mais rápido, mais alto e
mais forte, projeta um ideal de corpo humano.‖
Humberto. Folha de São Paulo, 27 jul. 1996.
Religião
A religião grega apresenta uma relativa peculiaridade em relação aos povos do oriente.
Os gregos eram politeístas, isto é, adoravam diversos deuses. Essas deidades possuíam
formas humanas (antropomórficas), eram dotados de qualidades, paixões, desejos e
imperfeições. A diferença fundamental entre os deuses gregos e os homens, era que estes
detinham a imortalidade.
O conjunto das divindades gregas contribuiu para o surgimento da mitologia, a qual
tenta explicar a gênese do universo, dos seres humanos e das deidades. A natureza e o
destino dos homens eram decididos pela vontade dos deuses.
Cada divindade possuía suas especialidades. Por exemplo, Zeus (senhor supremo dos
homens), Palas Atena (deusa da sabedoria), Apolo (deus do sol e patrono da verdade),
Afrodite (deusa do amor e da beleza), Hermes (protetor dos viajantes, dos rebanhos e dos
ladrões), Poseidon (deus do mar e dos terremotos), Hefesto (deus do fogo e dos artífices) e
Dionísio (deus do vinho e da fertilidade), além de outros.
Existiam também os semideuses e heróis, os quais eram filhos de um mortal com uma
divindade. Podemos citar alguns: Édipo, Perseu, Cadmo, Aquiles e Jasão. Diferente da
religião hebraica, a grega não possuíam dogmas e nem era escatológica, ou seja, não havia
crença na salvação das almas.
A religião na Grécia Antiga era basicamente com caráter civil, estava muito ligada à
polis. Cada cidade-estado possuía o seu protetor. Havia também duas maneiras de
expressão rituais. A aristocracia venerava um grupo de deuses como Zeus, Afrodite,
Poseidon ou Atena. Já a segunda forma de ritual consistia num conjunto de crenças que
tentavam solucionar os problemas do cotidiano, dessa forma, eram praticadas magias para
vários eventos do dia-dia, tais como nascimento de uma pessoa ou período de colheita.
O aparecimento dos deuses gregos
―No princípio era o nada. Depois, a terra de largos flancos, assento infalível de todas as
coisas para sempre... e o Amor, o mais belo entre os deuses imortais. Ele rompe os
membros e, no seio de todos os deuses, como de todos os homens, doma o espírito e a sábia
vontade. Do nada nasceram Erebos e a negra Noite. Primeiro a Terra concebeu, grande como
ela, o Céu estrelado, capaz de cobri-la inteira, o qual ia ser para os deuses bem-aventurados
um assento infalível para sempre. Em seguida, concebeu os altos montes, aprazíveis moradas
das deusas, as Ninfas, que vivem nos montes ondulados. Em seguida deu à luz o mar
infecundo, de ondas impetuosas, o Largo, sem ajuda do termo amor.‖
Hesíodo. Teogonia. In: PINSKY, Jaime (org.) 100 textos de História Antiga. São Paulo:Contexto, 1991.
Teatro
O teatro foi, sem dúvida, uma das maiores expressões das manifestações culturais
grega. A sua origem está relacionada às festas em homenagens ao deus Dionísio, deus do
vinho (Festas Dionisíacas). Nesses eventos eram realizados sacrifícios, além do uso
declamações de poesias, cânticos e danças. Apenas os homens, usando máscaras,
participavam das peças encenadas. Desse modo, foram criados dois estilos teatrais na
Grécia Antiga: a tragédia e a comédia.
124
887
As peças teatrais tinham como objetivo retratar a vida das divindades. Entretanto, no
decorrer dos tempos outros elementos foram incorporados nos temas das peças, fazendo
com que o teatro deixasse de ter a finalidade, meramente, religiosa.
O teatro de Atenas
―O Teatro em Atenas era uma instituição chave, intrínseca, da cidade democrática no final do
século V a.C. As tradicionais cerimônias religiosas da procissão, do sacrifício e da prece
sacerdotal precediam e conduziam à encenação teatral. (...) Outras
cerimô-nias que
precediam os espetáculos incluíam a apresentação de órfãos de guerra que eram criados às
custas da cidade e uma exibição do tributo em prata imposto por Atenas aos aliado ou súditos
e estocado na Câmara oeste do Paternon. A exibição para os atenienses do seu papel
imperialista e da sua ideologia coletiva dava relevo político às apresentações. Soldados e
juízes, eleitores e pais assistiam à forma de representação escolhida pela própria Atenas. No
teatro, a cidade democrática estava em desfile.‖
BEARD, Mary e HENDERSON, John. Antiguidade Clássica: uma brevíssima introdução. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1998, p.111-112.
Tragédia
O pioneiro no gênero tragédia foi Ésquilo (525-456 a.C). Esse poeta escreveu mais de
oitenta peças teatrais, no entanto, apenas sete foram conservadas: Os Persas, Sete contra
Tebas, As suplicantes, Prometeu acorrentado, Agamenon, Coéforas e Eumênides.
Em suas obras, Ésquilo enfatiza as angústias e os sofrimentos humanos, relatando as
aventuras dos deuses e dos personagens míticos. Assim, as peças de Ésquilo caracterizamse pela temática religiosa, onde são evidenciadas a idéia de fatalidade e crença na vingança
dos deuses contra os seres humanos.
Não podem ser esquecidas, as inovações implementadas nas obras de Ésquilo, a saber, o
uso de máscaras, a técnica do diálogo e a presença da música, o que possibilitou uma maior
dramaticidade nas apresentações teatrais.
Outro expoente da tragédia grega foi Sófocles (496-406 a.C). Esse dramaturgo e ator
escreveu mais de 120 peças, entretanto, apenas sete obras foram preservadas: Antógona,
Ájax, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono.
Em suas peças, Sófocles utiliza personagens nobres. Há dois tipos de sofrimentos das
obras de Sófocles: um que é resultado de uma paixão excessiva e o outro decorrente dos
desígnios estabelecidos pelos deuses, ou seja, as divindades influenciam no destino dos
homens.
A tragédia de Édipo Rei, por exemplo, aborda as angústias da alma humana. A peça
relata a paixão de Édipo que, sem ter conhecimento, mata o pai para ficar com a mãe. Tal
abordagem tem em sua essência caráter universal. Por isso que, no século XIX, o grande
psicanalista Freud utilizou tais elementos para fundamentar seus estudos.
Sófocles trouxe várias inovações para o teatro grego. Ele aumentou o número de
integrantes no coro de doze para quinze e ampliou também o número de atores para três,
antes eram dois.
Eurípedes (480-406 a.C) escreveu noventa e duas peças. Os recursos técnicos
utilizados por Eurípedes influenciaram vários estilos dramáticos, tais como, a novela e o
drama. Em suas obras, esse dramaturgo coloca em cena pessoas simples ao lado de
aristocratas, falando também dos excluídos da sociedade grega: as mulheres, as crianças,
os escravos e os velhos. Nesse sentido, as peças de Eurípedes possuíam forte densidade
social. As obras mais importantes de Eurípedes foram Medeia, As Troianas, Hipólito, As
fenícias e Electra.
Comédia
Aristófanes (447 - 385 a.C) constitui o principal ícone da comédia grega. Esse
teatrólogo elaborou mais de quarentas peças, todavia, apenas onze chegaram até nós.
Segundo estudiosos, Aristófanes, por ser conservador, expressa relativa repugnância às
questões apresentáveis como inovadoras da sua época, no âmbito social, político e religioso.
125
887
Os principais recursos estilísticos utilizados por Aristófanes foram a sátira, a crítica incontida
às prática ilícitas na sociedade ateniense. Entre as principais obras de Aristófanes podemos
citar: Lisístrata ou A Greve do sexo; As vespas; As nuvens Os acamianos.
Por intermédio da técnica dos diálogos, Aristófanes lança diversas análises mordazes
contra poetas, políticos, estudantes, jovens ou velhos, pobres ou ricos. A metodologia na
educação, os debates filosóficos, a função da mulher na sociedade foram os temas mais
abordados por esse dramaturgo.
As ciências
O saber científico na Grécia Antiga foi formado por diversas áreas do conhecimento.
Acompanhe no quadro abaixo as ciências que foram desenvolvidas entre os helenos.
GEOGRAFIA
Esrastótenes: calculou o tamanho da esfericidade da terra.
MATEMÁTICA
e LÓGICA
Euclides: criadores dos princípios fundamentais da geometria.
Pitágoras: desenvolveu diversos conhecimentos matemáticos, tais como, o
relacionamento entre os lados do triângulo e a elaboração dos números
perfeitos e figurados.
Aristóteles: ‗pai da lógica‘, ele estuda o raciocínio por meio das proposições,
argumentos e conclusões. Além disso, estrutura tal pensamento no silogismo,
encadeando duas premissas: uma geral e outra particular.
FÍSICA
Arquimedes: formulou leis de flutuação dos corpos e princípios da roldana e da
alavanca.
HISTÓRIA
Heródoto: conhecido como o ‗pai da história‘ foi o primeiro a escrever a história
distinguindo o mito dos fatos. Relatou as guerras médicas em sua obra História.
Tucídedes: fundador da história objetiva, foi autor da obra História da Guerra
do Peloponeso.
MEDICINA
Hipócrates: considerado como o ‗pai da medicina‘, sendo assim, um grande
ícone na história da saúde. Em suas obras fez descrições clínicas da papeira,
malária,tuberculose e pneumonia.
LITERATURA
Homero: famoso escritor da obras épicas ‗Ilíada e Odisséia‘.
Hesíodo: autor de Teogonia. Essa obra relata o surgimento dos deuses,
traçando uma genealogia das divindades.
Hipônax: utilizava temas populares em suas obras, seu humor feroz influenciou
a comédia na Grécia Antiga.
Safo: poetisa grega. Sua poesia tratava de temas eróticos.
As Artes
Várias manifestações nas artes gregas se inspiravam na mitologia. Sob esse aspecto, as
principais realizações foram a arquitetura e a escultura. O esplendor da arquitetura foi
realizado através da construção de templos e palácios. A arquitetura grega é formada por
três estilos: o dórico, o jônico e o coríntio.
Estes estilos arquitetônicos foram utilizados na construção dos templos para os deuses.
Eram esculpidos em mármore. Na figura, esquerda para direita, temos o dórico (simples e
com fortes colunas), o jônico (suave e decorativo) e o coríntio (influenciado pelo estilo
oriental, apresentando riquezas de detalhes no capitel).
A escultura grega seguia os ideais de equilíbrio, harmonia e beleza, dessa maneira, as
representações feitas pelos artistas eram pautadas nos estudos do corpo do homem. Por
isso, as esculturas apresentavam uma fidelidade incrível da anatomia humana. O principal
artista dessa área na Grécia Antiga foi Fídias (490-430 a.C), criador da estátua da deusa
Atena. Além disso, no governo de Péricles, ele embelezou Atenas com inúmeros
monumentos. Um outro destaque foi Praxísteles, famoso pela magnitude em que esculpia o
ser humano.
No campo das artes gregas, não podemos esquecer da pintura. Surgida como
ornamento da arquitetura, essa expressão artística se desenvolveu associada com o uso dos
vasos de cerâmica que serviam como locais de armazenamentos para diversos tipos de
suprimentos. Os vasos eram decorados de forma harmoniosa, sendo o corpo humano
retratado, geralmente, nas pinturas. Os principais pintores gregos foram Exéquias, Cleitias e
Sófilos.
126
887
Filosofia
De acordo com os especialistas, a filosofia se desenvolveu entre os séculos VIII e V a.C..
Esse período foi marcado pelo florescimento do pensamento reflexivo.
O pensamento filosófico contribuiu enormemente para o avanço do saber científico e das
teorias idealizadoras, as quais procuravam a substância primordial do universo.
Partindo dessa concepção, os homens tentam explicar os fenômenos da natureza e os
demais fatos, através de uma atitude racional e não mais por intermédio dos mitos ou
superstições. No entanto, não se pode desprezar a importância do mito para os gregos, uma
vez que essa narrativa fantasiosa foi a primeira forma encontrada pelos antigos para
entender a origem do homem, da natureza e do mundo.
O Mito: sentidos histórico e filosófico
―É importante entender o sentido da palavra mito no contexto histórico e filosófico. Mito é
uma narrativa que procura explicar, muitas vezes de forma fantasiosa, uma realidade
‗misteriosa‘ para o homem.
Em todos os povos, o mito sempre teve um papel importantíssimo, transmitindo o
conhecimento de pai para filho, garantindo a segurança dos indivíduos e a continuidade dos
valores sociais, unindo as pessoas de um mesmo grupo. Embora não apresente fundamento
científico, isso não significa que seja uma tentativa inferior de explicação da realidade.
O mito é como um caminho conhecido, uma estrada segura que o indivíduo pode
percorrer sem se expor a grandes riscos, sabendo como agir, o que esperar, tendo em mente
o significado dos acontecimentos como que se depara durante sua vida. (...)
Na Grécia Antiga, e, suma, é importante ressaltar essa familiaridade das pessoas com os
deuses. Os mitos formavam, para os gregos daquele tempo, um sistema complexo, que
explicava praticamente todos os elementos de sua cultura. Eles estavam organizados num
conjunto coerente, lógico, e constituíam uma maneira de ver o mundo, de explicá-lo e
compreendê-lo.‖
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofa. São Paulo: Ática, 2006. p.22-24.
Didaticamente, o estudo da filosofa grega é dividida em três momentos: os Présocráticos, os Sofistas e os Socráticos

Os Pré-socráticos
Por volta do século VII a.C., alguns intelectuais passaram a questionar determinadas
situações através do pensamento racional, uma vez que as explicações mitológicas se
tornaram insuficientes. Esses pensadores são chamados de pré-socráticos, assim
denominados, porque são antecessores, cronologicamente, de Sócrates.
A preocupação inicial dos pré-socráticos era encontrar o princípio (a arché) essencial
ou substancial de todas as coisas que compõe a natureza (physis). Por isso, esses
intelectuais ficaram conhecidos como naturalistas ou filósofos da natureza.
Através da observação das contínuas mudanças que ocorriam na natureza, os
filósofos almejavam alcançar uma justificativa coerente e racional para os múltiplos
fenômenos naturais.
Pode-se concluir que os pré-socráticos, ao buscar a causa primeira do Universo,
foram os pioneiros a ordenar, de maneira lógica, o estudo da natureza, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento posterior da física, biologia, astronomia e outras ciências
naturais.
Os principais filósofos pré-socráticos são: Tales, Anaxímenes, Anaximandro, Pitágoras, Heráclito, Xenofonte, Parmênides, Zenão, Anaxágoras, Empédocles, Leucipo e
Demócrito.
127
887

Os sofistas
No período de apogeu de Atenas desenvolveu-se a arte de se expressar bem, esse
fato contribuiu a ascensão de um conjunto de pensadores denominados de sofistas. Tais
filósofos têm plenos domínios da oratória, ou seja, sabiam falar habilidosamente em
público.
Os sofistas eram professores de oratória, ensinavam aos jovens como discursar
publicamente em troca de pagamento. Os principais pensadores sofistas foram Górgias
(483-376 a.C.), Hípias (século V a.C.) e Protágoras (485-410 a.C.). Este último se
tornou famoso pela sua frase ―O homem é a medida de todas as coisas‖.
Para os sofistas, os valores morais e as relações sociais deveriam ser baseados de
acordo com as conveniências ou interesses pessoais. Nessa perspectiva, a moral e a
ética eram desprezíveis, pois o indivíduo devia persuadir outras pessoas para alcançar
seus objetivos, nem que para isso fosse necessário mentir.
Em linhas gerais, os sofistas utilizavam trocadilhos e raciocínios ilógicos para
ludibriar as pessoas, demonstrando uma ‗verdade‘, daquilo que tinha pretensão em
conquistar.

Os socráticos
Sócrates (470-399 a.C)
Esse filósofo não deixou nenhuma obra escrita, porém o seu pensamento foi
explicitado pelos seus discípulos e admiradores, entre eles Platão e Xenofonte. Nascido
em Atenas, Sócrates adota o diálogo como recurso para sua atividade filosófca. Tal
procedimento era trabalhado em dois momentos: a ironia (dissimulação) e a maiêutica
(parto da idéias).
Sócrates levantando o dedo para o alto no seu leito da morte, Jacques-Louis David, 1787.
Platão (428-348 a.C)
Nascido em Atenas, Platão herdou de seu mestre Sócrates a preocupação em usar a
razão filosófica para discutir questões morais, sociais e políticas. Segundo Platão, o não
uso do racionalismo conduz o homem somente aos vícios, à violência e às paixões
carnais.
A doutrina platônica é baseada em alguns conceitos fundamentais: mundo das
idéias (mundo imaterial, imutável e eterno), mundo sensível (mundo material
perceptível por intermédio dos sentidos). De acordo com Platão, o homem é formado de
corpo e alma.
128
887
Sendo a alma concebida como eterna, habitava no mundo das idéias, que sairia
desse lugar, sairia para encarnar no corpo.
Aristóteles (384-322 a.C.)
Esse pensador construiu sua teoria baseada em experiências sensoriais (cinco
sentidos), as quais forneceram informações essenciais para o desenvolvimento de suas
idéias. Aristóteles pregava que cada ser era constituído de uma substância particular
(qualidades e dimensões).
No campo político, Aristóteles analisa meios para o homem viver feliz em sociedade,
buscando soluções para os problemas de sua época. Aristóteles afirmou que ―o homem é
naturalmente um animal político‖. Segundo esse filósofo, o homem precisa viver em
comunidade, discutindo idéias e projetos relacionados a sua sociedade.
Aristóteles define a ética como uma ciência que aborda as normas e condutas dos
indivíduos. De acordo com a doutrina aristotélica, a ética e a política são indissociáveis.
Aristóteles
129
887
TEXTO COMPLEMENTAR
O animal político
―O homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade e
aquele que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o iniba, deixa de fazer
parte de uma cidade, é um ser vil, ou então superior ao homem. Tal indivíduo, como
disse Homero, merece a censura cruel de ser um sem-família, sem-leis, sem-lar. Porque
ele é ávido de combates e, como as aves de rapina, incapaz de se submeter à qualquer
obediência.
Claramente se compreende a razão de ser o homem um animal sociável em grau
mais elevado que as abelhas e que todos os outros animais que vivem reunidos. A
natureza, dizemos, nada faz em vão. Só o homem, entre todos os animais, tem o dom
da palavra; a voz é o sinal da dor e do prazer, e é por isso que ela foi também concedida
aos outros animais. Estes chegaram a experimentar sensações de dor e prazer e a se
fazer compreender uns aos outros. A palavra, porém, tem por fim fazer compreender
uns aos outros. A palavra, porém, tem por fim fazer compreender o que é útil ou
prejudicial e, em conseqüência, o que é justo ou injusto. O que distingue o homem de
um modo específico é que ele sabe discernir o bem do mal, o justo do injusto, e assim
todos os sentimentos da mesma ordem cuja comunicação constitui precisamente a
família do Estado.
Na ordem da natureza o Estado se coloca antes da família e antes de cada indivíduo,
pois que o todo deve, forçosamente, ser colocado antes da parte. (...)
Evidentemente o Estado está na ordem da natureza e antes do indivíduo; porque, se
cada indivíduo isolado não se basta a si mesmo, assim se dará com as partes em relação
ao todo. Ora, aquele que não pode viver em sociedade, ou que de nada precisa para
bastar-se a si próprio, não faz parte do Estado; é um bruto ou primeiro estabeleceu isso
se deve o maior bem; porque, se o homem, tendo atingido a sua perfeição, é o mais
excelente entre os animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis e sem
preceitos. Terrível calamidade é a injustiça que tem aramas nas mãos. As armas que a
natureza dá ao homem são a prudência e a virtude. Sem virtude, ele é o mais ímpio e o
mais feroz de todos os seres vivos; nada mais sabe, por sua vergonha, que amar e
comer. A justiça é a base da sociedade. Chama-se julgamento a aplicação do que é
justo.‖
A Política, Aristóteles.
Analisando o texto
1. Elemento de distinção entre o homem e os animais, a palavra é um valioso instrumento
para nossa espécie. Discuta com seus colegas e participação dessa faculdade humana na
concepção política de Aristóteles.
2. Aristóteles afirma que a natureza dá ao homem duas armas: a prudência e a virtude.
Defina esses conceitos e escreva um pequeno argumento concordando ou não com a
opinião de Aristóteles.
130
887
FAZENDO HISTÓRIA
1. (Unicamp) "Os deuses, quaisquer que tenham sido as suas origens longínquas, nada
mais são do que seres humanos, maiores, mais fortes, mais belos, eternamente jovens;
adquiriram não só a forma humana, mas também os sentimentos, as paixões, os
defeitos e até os vícios dos homens; o mundo divino apresenta, portanto, uma imagem
engrandecida, mas não depurada da humanidade."
(A. Jardé, A GRÉCIA ANTIGA E A VIDA GREGA, 1977)
Usando as informações contidas no texto e outras que você dispõe sobre o assunto, cite
cinco características da religião na Grécia Antiga.
2. Na sua origem, o teatro grego estive ligado à religião. Com o passar do tempo, a função
religiosa foi se perdendo, mais alguns autores mantiveram essa ligação com caráter
divino.
Quais as características de Ésquilo que identificam a origem religiosa do teatro grego?
3. Enumere alguns elementos da cultura grega fundamentais para a formação da cultura
ocidental.
4. Qual a função da mitologia no antigo mundo grego?
5. Faça um quadro síntese das principais ciências desenvolvidas na Grécia Antiga.
6. Quais as teorias defendidas pelos sofistas?
7. “A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da
realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da
origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente
grego.‖
Marilena Chauí
Baseado no texto acima, faça um quadro exibindo os principais filósofos gregos e as
suas respectivas teorias sobre o universo.
8. Observe a letra da música de Herbert Vianna e faça uma análise segundo a concepção
do ―amor platônico‖.
Se eu não te amasse tanto assim
Meu coração
Sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão me guiar
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração
Hoje eu sei
Eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais
Muito além
Do tempo do vendaval
Nos desejos
Num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
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Disponível em www.letras.terra.com.br/ivetesangalo/35008/. Acesso em 13 de janeiro de 2008.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) Desde Homero, a poesia greco-rom ana traçou um padrão de qualidade, que se
configura entre as grandes produções literárias do Ocidente. Sobre a produção poética do
mundo clássico, analise as seguintes afirmações:
I. A poesia de Homero, exemplo de epopeia, serve como fonte para os primórdios da
formação do povo grego.
II. A Odisséia pode ser interpretada, em especial a passagem do canto das sereias,
como a afirmação do poder das elites, personificadas na figura do herói Ulisses.
III. A obra de Safo de Lesbos é marcada pelo erotismo, exaltando as figuras femininas.
IV. A Ilíada , poema que descreve a Guerra de Tróia, foi escrita por Parmênides, apesar
de ser atribuída a Homero.
V. Aristóteles também se destacou na produção poética, com uma obra que teve forte
influência nos escritos do poeta romano Petrônio, em especial no Satiricon .
Estão corretas:
a) I, II e III.
b) I, III e V.
c) II, IV e V.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.
2. (UPE) Através da cultura, a sociedade humana constrói seu conhecimento sobre a
natureza e procura decifrar os mistérios do universo. A produção cultural foi um dos
destaques da Grécia na Antigüidade. Na época, o teatro grego
a) conseguiu sintetizar as preocupações religiosas da sociedade, criticando as
concepções mitológicas dominantes.
b) teve suas encenações ao ar livre bastante admiradas, com atores do sexo masculino,
usando máscaras nas representações.
c) divertiu o povo com suas comédias cheias de ironia filosófica, evitando a
representação de temas sobre as angústias humanas.
d) representou a vida confusa dos deuses gregos, contribuindo para esvaziar o poder
dos mitos e da aristocracia.
e) foi a expressão das preocupações filosóficas do seu povo, divulgando uma ética
democrática sem ligações com a religião.
3. (UNESP) Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de ―vidência‖, privilégio que
tiveram de pagar pelo preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O
deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que
escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo
inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.
(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos , 1990. Adaptado.)
O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre ou-tros aspectos,
a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmis -são oral das tradições,
dos mitos e da memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de
infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da
tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia
em que viviam.
4. (UPE) A sociedade humana constrói sua história, buscando superar suas dificuldades e
refletindo sobre seus problemas. O teatro é uma representação artística de grande valor
no mundo ocidental, colaborando para conhecer as angústias humanas e as
possibilidades de criação. Na Grécia Antiga, as tragédias, como produção artística,
tinham como objetivo
a) divertir a população mais velha e educá-la para a vida democrática na política e no
cotidiano familiar.
b) redefinir o valor da religião, destruindo o significado dos mitos e inventando deuses
mais astuciosos.
c) exaltar o poder da aristocracia, criticando a desigualdade social e defendendo a
coragem dos heróis militares.
d) refletir sobre os problemas humanos, com preocupações educativas, para pensar nos
limites existenciais de cada um.
e) enaltecer o povo grego, consagrando Homero e Sófocles como seus poetas épicos,
construtores de personagens imortais.
5. (UPE) Observe as figuras a seguir:
Trata-se de vasos gregos, no caso duas ânforas do século V a.C. A cerâmica é uma das
manifestações variadas das artes plásticas. Sobre a cerâmica na Grécia Antiga, analise as
afirmativas a seguir:
I. Algns vasos eram ornados com cenas do coti diano dos gregos, representando a
prática de esportes e lazer assim como cenas amorosas, cenas de batalhas, etc.
II. Apesar de uma vasta produção em cerâmica, os gregos não desenvolveram a prática
da escultura.
III. A cerâmica grega, graç as, sobretudo, às suas pinturas, pode ser utilizada como
fonte sobre a vida cotidiana na Grécia Antiga.
IV. A cerâmica grega, além da função ornamental, também tinha uma função utilitária,
apenas na casa dos metecos.
V. As ânforas são vasos com duas asas verticais e com uma base alta, usados
geralmente para beber.
Estão corretas:
a) I e IV.
b) II e III.
c) II e IV.
d) I e III.
e) III e V.
6. (UPE) Desde Homero, a poesia greco-rom ana traçou um padrão de qualidade, que se
configura entre as grandes produções literárias do Ocidente. Sobre a produção poética do
mundo clássico, analise as seguintes afirmações:
I. A poesia de Homero, exemplo de epopeia, serve como fonte para os primórdios da
formação do povo grego.
II. A Odisséia pode ser interpretada, em especial a passagem do canto das sereias,
como a afirmação
do poder das elites, personificadas na figura do herói Ulisses.
III. A obra de Safo de Lesbos é marcada pelo erotismo, exaltando as figuras femininas.
IV. A Ilíada , poema que descreve a Guerra de Tróia, foi escrita por Parmênides, apesar de
ser atribuída a Homero.
V. Aristóteles também se destacou na produção poética, com uma obra que teve forte
influência nos escritos do poeta romano Petrônio, em especial no Satiricon .
Estão corretas:
a) I, II e III.
b) I, III e V.
c) II, IV e V.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.
7. (UPE) Sobre as características da religião na Grécia Antiga, analise as proposições
abaixo.
I.Seus princípios foram transmitidos pela tradição oral.
II.Possuía um conjunto fixo de dogmas estabelecidos num único livro sagrado, o Nefita.
III.Além dos deuses, os gregos também reverenciavam os heróis, os semideuses, filhos
de um deus imortal com uma pessoa mortal.
IV.Para conhecer a vontade dos deuses, os gregos interpretavam certos sinais - os
presságios - ou dirigiam-se aos oráculos.
V.Apregoava a existência de dois princípios opostos: o bem e o mal, enfatizando o livrearbítrio.
Estão corretas:
a) somente I, II e III.
b) somente I, III e IV.
c) somente I, II, III e V.
d) somente II, III, IV e V.
e) I, II, III, IV e V.
8. (UESPI/COVEST) A filosofia grega contribuiu para articular o pensamento ocidental
durante séculos. O pensamento dos filósofos gregos já tinha destaque com o
surgimento da Escola de Mileto, que:
a) seguiu um idealismo filosófico bastante abstrato, reforçando princípios míticos e
religiosos da época.
b) buscava explicar o mundo, usando idéias vindas das religiões mesopotâmicas, nas
quais predominava a astrologia.
c) procurava entender as origens das coisas e do cosmos, não reafirmando as crenças
míticas da época.
d) conseguiu, assemelhando-se ao idealismo platônico, influenciar toda a filosofia do
mundo ocidental.
e) criticou as explicações racionalistas do universo, assegurando a força religiosa dos
mitos e dos sacerdotes.
9. (COVEST) Os gregos construíram reflexões importantes para a formação do
pensamento ocidental, contribuindo para compreender o mundo e a sua complexidade.
Sócrates, um dos seus filósofos mais conhecidos:
a) defendeu a existência da democracia e a organização de uma Assembleia Popular
para definir o governo ateniense.
b) polemizou com os filósofos sofistas que defendiam princípios religiosos diferentes dos
princípios gregos.
c) teve muitas das suas teorias incorporadas ao pensamento idealista de Platão, outro
grande pensador grego.
d) foi contra as reformas políticas defendidas por Aristóteles, pois era favorável à
existência de um governo democrático.
e) propagou a necessidade do fortalecimento militar de Atenas, para evitar os ataques
dos inimigos asiáticos.
10.(UPE) A filosofia grega teve grande influência no mundo ocidental, não sendo
esquecida como ponto de reflexão para o homem contemporâneo. Entre seus filósofos,
merece atenção a atuação dos sofistas que:
a) defenderam o centralismo político e acompanharam os valores do pensamento
socrático.
b) demonstraram ser contrários à existência de uma verdade universal, favorecendo o
relativismo ético.
c) tiveram influência na formulação do pensamento aristotélico devido à sua ligação
com a democracia.
d) ocuparam espaços políticos nos governos da época, criando leis renovadoras e
democráticas.
e) afirmaram o valor da cidadania, dando importância à verdade política vinda das
assembleias.
11.(COVEST) As tragédias gregas são obras literárias de importância fundamental para o
conhecimento histórico da Antiguidade. Uma delas, Prometeu Acorrentado, escrita por
Ésquilo:
a) descreve a invenção da cultura e as punições feitas contra Prometeu pelas suas
ousadias.
b) enaltece as guerras gregas, valorizando a capacidade de lutas dos atenienses e do
seu herói Ulisses.
c) reflete sobre os destinos do ser humano e sua capacidade de lidar com suas culpas
edipianas.
d) ressalta a fundação das cidades gregas e sua capacidade de organizar suas leis
sociais.
e) destaca a importância dos deuses gregos que são vistos como humanos até na sua
mortalidade.
12.(COVEST) Para entender a História, é importante buscar meios, a fim de explicá-la e
poder compreender melhor as relações sociais e os mistérios do mundo. Na
Antigüidade, a filosofia grega muito contribuiu para a reflexão e, mesmo nos dias
atuais, sua produção tem acentuado destaque no pensamento ocidental. Com relação à
contribuição dos filósofos gregos, podemos afirmar que:
a) as teorias de Platão sedimentaram as bases do idealismo, pois defendiam o
relativismo político e se contrapunham aos ensinamentos de Sócrates.
b) as reflexões dos sofistas causaram grande impacto na sociedade da época, com seu
relativismo e seus questionamentos sobre a existência da verdade.
c) a filosofia de Aristóteles sintetizou o pensamento do mundo antigo, contribuindo para
afirmar a possibilidade do relativismo e a necessidade de certezas absolutas.
d) as reflexões de Sócrates sobre a ética e a virtude não foram sistematizadas e eram
totalmente contrárias às reflexões de Aristóteles.
e) a compreensão que os pré-socráticos tinham da formação do universo pouco significou para o pensamento filosófico, sobretudo as teorias de Demócrito e Parmênides.
13. (UFCE) ―...andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela assembléia
indagando a cada um: "Você sabe o que é isso que está dizendo?", "Você sabe o que é
isso em que você acredita?", ..., "Você diz que a coragem é importante, mas o que é a
coragem?". "Você diz que a justiça é importante, mas o que é a justiça?", ..., "Você crê
que seus amigos são a melhor coisa que você tem, mas o que é a amizade?". Suas
perguntas deixavam seus interlocutores embaraçados... descobriam surpresos que não
sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças e valores... ... as
pessoas esperavam que ele respondesse, mas para desconcerto geral, dizia: "Não sei,
por isso estou perguntando." Daí a famosa frase: "Só sei que nada sei". (Marilena Chauí)
O texto de Marilena Chauí relaciona-se com:
a) a criação dos princípios da Lógica, por Aristóteles, de maneira a formar uma ciência
Analítica: a Metafísica.
b) As tragédias de Sófocles, que tinham como tema dominante o conflito entre o
individuo e a sociedade.
c) A obstinação do historiador Tucídides em descobrir as causas políticas que
determinaram os acontecimentos históricos.
d) As preocupações de Eurípedes com os problemas do homem, suas paixões,
grandezas e misérias.
e) A filosofia de Sócrates, voltada para as questões humanas, preocupada com as
virtudes morais e políticas.
14.(UPE) A arte grega construiu espaço significativo na história do mundo ocidental. Sobre
esta arte, pode-se afirmar que:
a) privilegiou a pintura e a música, inspirando os artistas do tempo medieval e do
renascimento.
b) teve, na arquitetura, obras de destaque, em que um dos princípios básicos era a
harmonia das formas.
c) se destacou com originalidade, na música da antigüidade, influenciando depois os
grandes artistas modernistas.
d) se preocupou em seguir os ensinamentos realistas de Platão - o filósofo maior da
cultura grega que se dedicou ao estudo da estética.
e) não teve penetração na vida cotidiana das grandes cidades gregas, sendo apenas
admirada pelas escolas elitizadas.
15.(UEL) Uma das características da cultura política grega é a noção de cidadania. Tal
noção define a vinculação da pessoa a uma determinada pólis, por laços essencialmente
familiares, e estabelece, concomitantemente, a permanente obrigação de defesa da
cidade, a contribuição para seu bem geral, e o direito de opinar sobre seus destinos. Foi
em virtude desta última implicação do conceito de cidadania que, em sentido lato, quase
todas as cidades gregas tenderam à democracia. As diferenças se fazem sentir quanto à
forma de participação do cidadão. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a
cidadania grega, é correto afirmar:
a) As reformas de Péricles buscaram, entre outras coisas, incorporar todos os cidadãos
ao processo decisório da Eclésia e dos tribunais, tornando possível a participação dos
menos abastados, por meio de modesta remuneração.
b) Nas pólis que se mantinham institucionalmente oligárquicas, ou sujeitas a
modalidades de tirania, era vedado aos cidadãos comuns externar suas opiniões
sobre as decisões públicas.
c) As mulheres, numa cultura patriarcal que reservava a vida pública exclusivamente
aos homens, eram cidadãs partícipes da discussão política, tendo voz ativa e voto na
assembléia.
d) Nas cidades gregas, o estrangeiro era um hóspede destituído da cidadania, tendo os
seus direitos privados devidamente assegurados, sem restrições quanto à
propriedade fundiária e aos direitos cívicos.
e) O escravo, que antes de tudo estava excluído da cidadania, era considerado como
parte da comunidade e, portanto, capacitado a opinar sobre os negócios públicos.
16.(VUNESP) Num mundo de cidades gregas muitas vezes rivais, a guerra era uma
atividade não apenas corriqueira, como essencial. O filósofo Heráclito (540-475 a.C.)
observou que ‗a guerra é o pai de todas as coisas‘.
(Pedro Paulo Funari. ―Guerra do Peloponeso‖. In Demetrio Magnoli. História das Guerras)
Sobre os conflitos na Grécia Antiga, é correto afirmar que:
a) as Guerras Médicas causaram pela primeira vez um conflito no interior do mundo
helênico, desunido na luta contra a Pérsia.
b) embora compartilhassem a mesma cultura, após as Guerras Médicas, os gregos
permaneciam separados na determinação de manter a soberania das cidades-estado.
c) a partir da sua hegemonia na Liga de Delos, após a derrota dos persas, Esparta
tentou impor o seu domínio sobre a Grécia.
d) ao final da Guerra do Peloponeso, algumas cidades-estado da antiga Liga de Delos
convenceram Esparta a se manter, juntamente com elas, em regime democrático.
e) a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, tinha como projeto político levar a
democracia a todas as cidades--estado.
17.(COVEST-2011) Platão foi um dos pensadores mais conhecidos do mundo antigo. Suas
reflexões influenciaram na formação do pensamento ocidental. Com relação à política,
Platão era:
a) defensor da monarquia vitalícia, seguindo as tradições da época e da religião de
Zeus.
b) favorável à democracia das assembleias, como base ética para mudar a sociedade.
c) crítico dos governos existentes, elaborando um pensamento libertário e idealista.
d) companheiro de Sócrates em muitas reflexões, embora não fosse partidário da
democracia.
e) elaborador dos princípios do governo de Clístenes, que transformou tradições
seculares.
18.(ESPM)
Algumas das obras da escultura clássica que desfrutaram de maior fama em épocas
posteriores foram criadas durante o período helenístico, como o Laocoonte e seus filhos. A
obra representa a terrível cena em que o
sacerdote troiano Laocoonte e seus dois
infelizes filhos são envolvidos por duas
gigantescas serpentes, em seus anéis, que
os estrangulam. (E. H. Gombrich. A História da Arte)
Sobre a cultura helenística mencionada no
texto, é correto assinalar:
a) foi uma cultura exclusivamente grega
e portanto nacionalista, exprimindo o
orgulho do povo por sua cidade.
b) foi
uma
cultura
exclusivamente
oriental, desprezando o humanismo.
c) a cultura helenística fundiu aspectos
da cultura grega com a cultura
oriental, tornando-se mais realista e
exprimindo a violência e a dor.
d) foi uma cultura influenciada pelo
cristianismo e serviu para expressar o
poder e a influência da Igreja
Católica.
e) foi uma cultura influenciada pelo
islamismo
e
limitada
pelas
especificações religiosas.
19.(VUNESP) Há 2 500 anos, de todos os Estados da época, somente em Atenas, aqueles
qualificados como cidadãos, independentemente da riqueza ou status, poderiam
determinar diretamente seu próprio destino na Assembleia. Via de regra, a democracia
moderna dá poder ao povo para fazer pouco mais do que votar em representantes. Tais
representantes estão atrelados a partidos; a maioria partidária é que efetivamente toma
todas as decisões em nosso nome.(Revista BBC História, Ano 1. Edição n.º 9. Adaptado)
O texto permite a seguinte comparação:
a) enquanto a democracia ateniense era acessível a todos os cidadãos, sem nenhuma
restrição quanto à sua renda ou origem social, a democracia moderna exige que os
cidadãos se filiem a um partido político.
b) na democracia ateniense, a Assembleia era controlada por cidadãos que fossem
qualificados para decidir o destino da cidade; na democracia moderna, o povo apoia
todas as decisões tomadas por seus representantes.
c) Atenas foi o único local do mundo antigo a estabelecer a democracia participativa e
direta para todos os seus habitantes, enquanto pelas regras do mundo atual, a
democracia não é válida para o povo, mas para seus representantes.
d) na democracia ateniense, apenas os cidadãos das camadas sociais enriquecidas e
que desfrutassem de prestígio participavam da Assembleia; na democracia moderna
não existem Assembleias, apenas partidos políticos.
e) única democracia no mundo antigo, o governo ateniense era exercido pela
participação direta dos cidadãos na Assembleia; na democracia comumente adotada
no mundo moderno, o povo elege representantes para exercerem o governo.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
Grécia: a vida cotidiana na cidade-estado. São Paulo: Atual, 2001. (coleção História
Geral em documentos)
O legado da Grécia Antiga. Moses Finley. Brasília: Unb.
O Mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica ateniense. Peter Jones. São
Paulo, Martins Fontes, 1997.
Cinema
Troia
Direção de Wolfgang Petersen. EUA, 2004. 162 min.
Em 1193 a.C., Paris é um príncipe que provoca uma guerra da
Messência contra Tróia, ao afastar Helena de seu marido, Menelaus.
Tem início então uma sangrenta batalha, que dura por mais de uma
década. A esperança do Priam, rei de Tróia, em vencer a guerra
está nas mãos de Aquiles, o maior herói da Grécia, e seu filho
Hector.
HÉRCULES
Direção de Ron Clements, John Musker. (EUA, 1997. 92 min.).
Hércules, filho de Zeus com uma mortal, é um semi-deus que se notabiliza por seus feitos
heróicos.
Roma: das origens ao Império
Por volta do século VII a.C, a península itálica era povoada por diversos povos. O norte
era povoado pelos Lígures; no sul, os imigrantes gregos formaram a chamada Magna
Grécia. Já a região central foi habitada pelos Etruscos e Italiotas (sabinos, samnitas, latinos
e úmbrios). Das fusões culturais dessas várias etnias surgiram os romanos. Segundo os
arqueólogos, os etruscos e os gregos contribuíram decisivamente para a construção do
padrão cultural na Roma Antiga.
Origens e Periodização
Há inúmeras versões concernentes à origem de Roma. As narrativas lendárias foram
bastante difundidas entre os antigos, sendo a mais conhecida o mito de Rômulo e Remo.
O surgimento de Roma
―Todos os povos procuram explicar de onde vieram, como surgiram, e os romanos
contavam certas lendas sobre as origens de sua cidade. A mais conhecida e popular
entre os próprios romanos conta que a cidade foi fundada por Rômulo, filho do Deus da
Guerra, Marte, e de Réa Sílvia, filha do rei Numítor, de Alba Longa, Amúlio, irmão de
Numítor, destronou seu irmão e obrigou sua sobrinha Réia a tornar-se uma sacerdotisa,
o que a levou a jogar seus filhos gêmeos, Rômulo e Remo, nas águas do rio Tibre.
Milagrosamente, os meninos salvaram-se e foram criados por uma loba, tendo depois
recebido os cuidados do pastor Fáustulo e de sua esposa. Ao se tornarem adultos,
restauraram o pai no trono de Alba Longa e pedem permissão para fundar uma cidade às
margens do Tibre. Entretanto, brigaram e Rômulo acabou matando seu irmão.
Transformou o Capitólio em refúgio e para dar esposas aos habitantes, raptaram-se
mulheres sabinas. Ao morrer, Rômulo, foi levado aos céus e adorado como o deus
Quirino.‖
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. Repensando a História. São Paulo: Contexto, 2006. p.80.
Devido à escassez de fontes escritas, pouco se sabe sobre a verdadeira origem da cidade
de Roma. No entanto, as fontes arqueológicas disponibilizadas mostram que o território
onde Roma surgiu foi habitado, inicialmente, por pastores etruscos nas colinas do Lácio. A
partir do século VIII a.C., diversas aldeias se coligaram, criando a Liga das Sete Colinas, da
união dessas aldeias surgiu a cidade de Roma.
Tradicionalmente, divide-se a história de Roma Antiga em três longos períodos:
Monarquia (753-509a.C), República (509-27a.C) e Império (27 a.C-476 d.C).
Monarquia
Há poucas informações sobre o período da Realeza Romana. Baseado em lendas, alguns
historiadores supõem que Roma foi governada por sete reis. Esses monarcas possuíam o
mandato vitalício, exercendo o cargo com atribuições jurídica e militar. Os quatro primeiros
governantes foram sabinos e latinos e os três últimos, etruscos.
No século VI a.C., os etruscos, cuja origem é desconhecida, dominaram o território do
Lácio, onde estava localizada Roma. Os etruscos tiveram grande relevância na formação da
sociedade romana. Eles desenvolveram o comércio e o artesanato, apresentando também
diversas inovações técnicas, as mais notáveis foram a drenagem do pântano e as características urbanas da cidade de Roma.
―Nosso conhecimento da história de Roma nos séculos VIII e VII a.C., e mesmo na
primeira metade do século VI a.C., é muito imperfeito. Todo o período constitui uma área
de suposições e é apresentado de modos diferentes por diferentes historiadores. Pelos
indícios fragmentários e pouco fidedignos à nossa disposição, podemos supor que durante
o período Roma não só tornou-se gradativamente uma comunidade poderosa nas
planícies latinas como também aumentou seu território a expensas de seus vizinhos que
habitavam os montes. (...)‖
ROSTOVTZEFF, Michael. História de Roma. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1960.p.29.
Nesse período, a estrutura política e social baseava-se nas gentes (plural de gens). Cada
gens era chefiada pela pessoa mais velha da comunidade, chamada de pater. Os integrantes
das gentes eram denominados patrícios. Nesse sentido, vale enfatizar que apenas os médios
e grandes proprietários de terras podiam receber o título de cidadão, ou seja, estavam aptos
a participar das discussões políticas.
Dessa maneira, pode-se dizer que, inicialmente, a organização política em Roma
apresentava traços semelhantes às Póleis gregas, ou seja, constituição de uma cidadeEstado governada por um rei (detentores de poderes militares e religiosos) e pelo Senado
ou Conselho dos Anciãos (senex, do latim, significa ―velho‖), formado pelos chefes das
gentes. A principal atribuição dos senadores era eleger o rei.
Além disso, existia a Assembléia Curiata, que criava leis, sendo seus membros advindos
das cúrias. As cúrias consistiam em unidades religioso-administrativas. Segundo historiadores, elas constituíam o principal elemento determinante para a divisão social romana.
O governo de Sérvio Túlio foi marcado pelas reformas populares e pela criação da
Assembléia Centuriata (grupo formado por 80 soldados). Esse órgão tinha objetivos
militares e políticos.
Organização Política no Período da Monarquia
REI
SENADO
ASSEMBLÉIA
ASEMBLÉIA
CURIATA
CENTURIATA
Tinham poderes
Conselho de an-
Formado pelos
Assembléia
limitados.
ciãos formado
cúrias (conjunto
formada por
Possuía poderes
pelos membros
dos homens).
oitenta soldados.
políticos, religio-
das gentes.
Consistiam em
Foi criada no
sos, militares e
Sua principal
unidades religio-
governo do rei
jurídicos.
atribuição era
sas e administra-
Sérvio Túlio.
eleger o rei.
tivas.
Sociedade
Na época da Monarquia, a sociedade era constituída pelos patrícios, clientes, plebeus e
escravos. Os patrícios eram detentores de muitas terras, rebanhos e escravos. Por muito
tempo, só eles poderiam participar do exército. Os componentes dessa aristocracia
usufruíam direitos políticos e desfrutavam do título de cidadãos romanos. Os plebeus viviam
como artesãos.
Já os clientes eram homens livres que formavam acordos bilaterais com os patrícios,
prestando-lhes vários serviços pessoais e militares com o objetivo de receber assistência
social e proteção política. Muitos desses clientes eram ex-escravos ou filhos de escravos,
além daquelas pessoas que não possuíam propriedades.
Gravura que mostra dois camponeses romanos fazendo a colheita na Roma Antiga: a economia romana era
essencialmente agropastoril no período da Monarquia.
A maior parcela da população, nesse período, era constituída pelos plebeus. Homens e
mulheres livres formavam essa classe social. Segundo historiadores, os plebeus se
dedicavam às atividades comerciais, agrícolas e artesanais, não tendo quaisquer direitos
políticos.
A quarta classe social no período da Monarquia eram os escravos. Nesse momento da
História de Roma Antiga existiam poucos escravos. A forma de escravidão mais encontrada
era a originada por dívidas.
Em 509 a.C., Tarquíneo, o Soberbo, foi destronado por uma insurreição liderada pelos
patrícios que expulsaram os etruscos, inaugurando uma nova fase da história romana,
chamada de período republicano.
República
Esse período da história romana durou cinco séculos, entre 509 a.C. e 27 a.C., e foi
caracterizada pela formação de complexa estrutura política. O Senado se tornou a estrutura
de poder hegemônica, ou seja, o órgão decisório mais poderoso. As principais prerrogativas
dos senadores eram definição de leis, o zelo pelas finanças e as questões estrangeiras. O
Senado compunha-se de 300 membros, selecionado entre os cidadãos romanos. Inicialmente, os membros dessa instituição possuíam origem patrícia e aristocrática, exercendo o
cargo de maneira vitalícia.
As magistraturas também tiveram participação relevante na esfera de poder na República. Essa importante instância consistia num grupo de cargos executivos e judiciários
ocupados pelos mais elevados funcionários do Estado. Os magistrados eram escolhidos pelas
Assembléias Romanas (Centuriata, Popular, Curiata e Tribais), cujos cargos tinham
mandatos com tempo limitado.
Os Cônsules eram eleitos a cada dois anos. Eles deliberavam sobre questões religiosas e
militares, entretanto suas decisões necessitavam da aprovação dos senadores; os Pretores
encarregavam-se da justiça; os Censores ficavam responsáveis pela contagem dos cidadãos
e pela preservação da moral; aos Questores cabia o cuidado pelas finanças; os Edis eram
responsáveis do policiamento das urbes romana, organizavam os jogos e as festas cívicas,
além de cuidar do abastecimento da cidade.
Nessa organização política, havia a previsão da escolha de um magistrado chamado de
Ditador, que deveria ser indicado por um dos cônsules para governar num período de seis
meses com plenos poderes. Vale enfatizar que o dilatador seria admitido caso houvesse
ameaça aos princípios republicanos, ou seja, em época de guerras ou convulsões sociais.
Lutas entre patrícios e plebeus
A sociedade romana no início da República continuava controlada pelos patrícios que
ocupavam os melhores cargos políticos. Em seguida vinham os clientes, os quais prestavam
serviços aos nobres em troca de proteção. Já os plebeus eram formados pelos pequenos
camponeses, comerciantes e artesãos. Essa classe social não tinha poderes políticos.
As disparidades políticas entre os plebeus e os patrícios provocaram vários movimentos
sociais, uma vez que embora muitos plebeus tivessem enriquecido e servissem como
soldados ao exército romano, não possuíam privilégios semelhantes à aristocracia de Roma.
Por exemplo, os cargos públicos eram ocupados unicamente por pessoas ligadas às famílias
patrícias. As disputas entre patrícios e plebeus foram notáveis nos primeiros duzentos anos
da República romana.
A partir do século V a.C., o número de plebeus aumentara consideravelmente tanto a
nível populacional quanto em de importância econômica. Os plebeus, nesse sentido,
passaram a reivindicar medidas em prol de sua classe, como direito à cidadania, o que lhes
possibilitava participação nas decisões políticas.
Alguns historiadores apontam outros fatores que impulsionaram os plebeus a se
manifestarem contra os patrícios: a obrigatoriedade do pagamento de altos tributos e da
participação no exército. Essa situação gerou o empobrecimento de muitos plebeus, o que
levou a muitos contrair dívidas, cujo não-pagamento implicaria em escravidão. Uma outra
questão que acirrou os conflitos sociais foram as normas referentes à distribuição das terras
estatais, originárias da expansão romana, que, geralmente, eram destinadas aos patrícios.
Todos esses motivos foram fundamentais para o início de convulsões sociais entre patrícios e
plebeus.
No ano de 494 a.C., um grupo de plebeus foram para o Monte Aventino e de lá
ameaçaram não mais participar do exército romano, caso seus pedidos não fossem aceitos.
Segundo alguns estudiosos, esse evento simbolizou a primeira greve da história. Como
os patrícios necessitavam da mão de obra plebéia e também temiam os motins sociais,
tiveram que atender as solicitações dos plebeus.
As principais conquistas alcançadas pelos plebeus foram:
Criação da assembléia da plebe (471 a.C): formada apenas por plebeus, possuía
caráter sacrossanto, ou seja, as decisões tomadas por essa instância era inviolável. Os
tribunos da plebe podiam anular atos dos magistrados ou decisões do Senado que
tivessem a intenção de prejudicar os interesses dos plebeus.
Lei Licínia/Sextia (367 a.C): concedia aos plebeus o direito de participar do consulado
e regulamentava o uso das terras públicas ‗ager publicus‘.
Lei Canuléia (455 a.C): permitia o casamento entre patrícios e plebeus. Com a
expansão romana, diversos plebeus enriqueceram, em contrapartida alguns patrícios
empobreceram. Desse modo, o matrimônio se tornou interessante para ambas as
classes sociais.
Elaboração da lei da XII Tábuas (450 a.C): conjuntos de normas jurídicas que
estabelecia os direitos e deveres dos cidadãos romanos. Essa Lei consiste no primeiro
código de leis escritas da história.
Lei Poetélia Papíria (326 a.C): aboliu a escravidão por dívidas, que consistia na
submissão do camponês a um dono de terras até o pagamento integral do débito, e
caso ele não conseguisse liquidar, o mesmo seria vendido como escravo.
As conquistas plebéias
―As vitórias plebéias mais significativas ocorreram quando (...) vários plebeus começaram a prosperar exercendo atividades comerciais minando a hegemonia aristocrática.
Uma nova distinção social estabeleceu-se lentamente, fundada principalmente na
riqueza. Havia, de um lado, os ‗romanos mais ricos‘, patrícios e plebeus enriquecidos e,
de outro, a grande ‗massa da plebe‘. As diferenças entre patrícios e plebeus ricos nunca
foram totalmente abolidas, mas se tornou uma nobreza monetária que englobava
patrícios – nobres de sangue – e os plebeus enriquecidos, naquilo que se pode chamar
de uma nobreza patrício-plebéia.‖
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2001. p.83-84.
É importante salientar que essas conquistas beneficiaram apenas uma parcela dos mais
prósperos entre os plebeus. Pode-se afirmar que tais concessões não significaram e nem
acabaram com a exclusão social, ou seja, não houve alterações profundas para a massa dos
plebeus empobrecidos.
A expansão Romana
A fase republicana representou também o período de conquistas territoriais. A princípio,
tais empreendimentos tinham dois objetivos essenciais, a proteção das fronteiras romanas
perante os inimigos vizinhos e a obtenção de propriedades imprescindíveis ao pastoreio e às
atividades agrícolas. Entretanto, com o passar dos anos, a política expansionista romana
passou a ser caracterizada pela conquista de metais preciosos, terras e escravos.
Didaticamente, a etapa de expansão romana pode ser analisada em dois momentos
distintos: o primeiro, de conquista da península Itálica e o segundo, a dominação de regiões
do Mediterrâneo, parte da Europa, da Ásia e da África.
Legião romana ao ataque. O soldados romanos, conhecidos como legionários, eram bem treinados e organizados. A
disciplina era vista com grande importância pelos legionários, pois ela representava um dos pontos fundamentais para
alcançar a vitória perantes os rivais.
Durante os século IV a.C e III a.C., Roma se torna uma poderosa cidade após derrotar
diversos povos, os etruscos, os gauleses, os sabinos, os samnitas, os celtas e a da Magna
Grécia. Com o domínio da Península Itálica, Roma se transforma numa grande potência
militar e econômica. Nesse momento, Roma deixa de ser uma cidade-Estado para se tornar
um Estado imperialista. Deve-se destacar também o exército romano que era extremante
bem estruturado, apresentando grande eficiência nas campanhas militares.
Após submeter os povos da Península Itálica, Roma inicia a expansão externa. O avanço
para o sul da península colocou os romanos em choque com os cartagineses, que controlavam áreas do Mediterrâneo, como a Sicília, a Sardenha e a Córsega. Cartago era uma
cidade localizada ao norte da África, sendo fundada pelos fenícios no século IX a.C.
A princípio, a relação entre romanos e cartagineses foi amistosa. Todavia, como ambos
tinham interesses em dominar o mar Mediterrâneo, aos poucos foi sendo criado um clima de
tensão que desencadeou uma série de conflitos denominados de Guerras Púnicas (os
romanos chamavam os habitantes de Cartago de poeni, daí a derivação púnicas).
As Guerras Púnicas podem ser estudadas em três grandes etapas:
Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C): Os cartagineses foram derrotados e obrigados
a pagarem uma indenização, além de reconhecer o controle da Sicília,Córsega e
Sardenha para os romanos.
Segunda guerra púnica (218-202 a.C): O motivo principal para o reinício do confronto
foi a luta pela posse do território da Hispânia. Sob a liderança de Aníbal Barca, os
cartagineses se concentraram na península ibérica com o propósito de unir forças para
investir contra os romanos. Por volta de 218 a.C., Aníbal cruzou os Alpes e invadiu a
Península da Itália com famosos elefantes de guerras, derrotando os romanos em várias
batalhas. Entretanto, o exército romano se recompôs e conseguiu, em 201 a.C., vencer
os cartagineses em solos africanos.
Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C): Esse terceiro confronto caracterizou-se pela
total
destruição de Cartago e pela transformação de seus sobreviventes em escravos.
O território de Cartago tornou-se província de Roma. Essa vitória sobre os cartagineses
simbolizou o começo da expansão internacional e o completo controle do Mar
Mediterrâneo, chamado pelos romanos de Mare nostrum (―nosso mar‖).
O choque entre romanos e cartagineses
―(...) O choque entre Roma e Cartago era inevitável. Quanto mais cedo ocorresse, tanto
melhor para esta última. A força das rivais era quase idêntica. Ambas tinham seu poderio
baseado numa comunidade de cidadãos, num exército de cidadãos, numeroso e bem
treinado. (...) Ambas eram nações guerreiras e civilizadas. (...) Cartago tinha uma cavalaria
melhor e em maior número do que Roma e sua infantaria era tão bem armada quanto a
romana. (...) Em todos os ramos de táticas estudados pelos generais helênicos, e
especialmente na engenharia, os cartagineses eram superiores aos romanos. (...) Não
obstante, quando se tratava de lutar em terra, os romanos gozavam de várias vantagens,
pois naquela época poucos cidadãos de Cartago serviam nas fileiras, e seus lugares eram
tomados por mercenários e aliados que podiam falhar no momento crítico, ao passo que o
exército romano não empregava mercenários, consistindo inteiramente em cidadãos e
aliados.‖
ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. p. 57-58.
A expansão romana gerou uma série de transformações políticas, econômicas e sociais.
Dominando um enorme território que englobava partes da Europa, Ásia e África, os romanos
drenavam ao máximo as riquezas dessas regiões, tornando-as províncias. Cada província
tinha o compromisso de contribuir com altos tributos ao governo de Roma. Dessa maneira,
os espólios de guerras e os recebimentos de impostos provocaram grande fluxo de riqueza
para Roma.
Em linhas gerais, podem ser apontadas como outras conseqüências da expansão
romana:
Mudanças no cotidiano romano através da inserção de novos hábitos culturais;
Aumento do afluxo de riquezas e na quantidade de escravos;
O êxodo rural provocado pela introdução crescente da mão de obra escrava;
A dinamização da vida urbana;
O crescimento econômico da cidade;
Desenvolvimento do comércio e da manufatura;
Fortalecimento dos nobilitas, que passaram a ocupar os melhores cargos públicos e
militares;
Surgimento de uma nova classe social, os cavaleiros ou homens novos;
Aumento das lutas sociais que contribuíram para crise institucional da República.
As conquistas romanas provocaram mudanças também nas atividades econômicas. A
economia estruturada em produtos agrícolas foi substituída pelo comércio, essa nova
realidade tornou Roma a grande potência mercantil da época. Uma outra modificação no
campo econômico foi o aumento de poder entre os senadores e os cavaleiros. Ambas as
classes sociais passaram a concentrar um número considerável de escravos e grandes quantidades de terras. Essa situação levou ao surgimento de inúmeras propriedades escravocratas e, consequentemente, gerou uma forte concentração de terras nas mãos da
aristocracia romana.
Os movimentos sociais
A enorme desigualdade social que assolava boa parte dos camponeses no final século II
a.C. se transformou numa das questões mais debatidas entre os políticos romanos da
época. Nesse sentido, os irmãos Tibério e Caio Graco tentaram resolver essa triste realidade
por intermédio da realização de reformas com caráter social.
Vindo de família nobre, Tibério Graco foi eleito, em 133 a.C., Tribuno da Plebe. Assim
que assumiu o cargo, conseguiu aprovar uma proposta de reforma agrária. A lei
apresentada por Tibério limitava a extensão das propriedades da aristocracia e determinava
uma nova distribuição das terras públicas (ager publicus) para os camponeses. O projeto
defendido por Tibério desagradou a elite romana, que claramente passaram a se opor à
aplicação de tal medida. Por isso que, em 132 a.C., um grupo contratado pelo Senado
assassinou Tibério Graco e os seus 500 partidários.
Em 123 a.C., o irmão de Tibério, Caio Graco, foi também escolhido como Tribuno da
Plebe. Sua atuação política caracterizou-se pela defesa de uma reforma agrária e pela
criação da Lei Frumentária, que consistia na distribuição de trigo para a população. Para
concretizar suas propostas, Caio procurou se fortalecer politicamente, apoiando os cavaleiros em detrimento dos senadores. Caio Graco possibilitou que os cavaleiros participassem
dos tribunais de finanças e administração. Além disso, à ordem dos cavaleiros foi permitida
a cobrança de impostos.
A aliança política estabelecida com os cavaleiros ajudou Caio Graco a pôr em prática as
reformas de distribuição de terras em Cápua e Tirreno. No entanto, a idéia sugerida por Caio
de conceder a cidadania para os latinos não foi bem vista pelos senadores e plebeus. A
rejeição pelos plebeus desse projeto justifica-se pelo temor da ampliação da quantidade dos
beneficiários da política do recebimento do trigo. Pressionado pelos grupos aristocráticos e
por parte dos plebeus, Caio Graco comete suicídio. Já centenas dos seus seguidores foram
condenadas à morte.
Esses temas (concessão de cidadania e reforma agrária) vieram à tona em 91 a.C. pelo
tribuno Marcos Lívio Druso. Assim como aconteceu com os irmãos Graco, a proposta foi
rejeitada e seu idealizador assassinado.
Paralelo aos problemas agrários que envolveram diversos setores das camadas populares
romanas, outros grupos mais espoliados, a saber, os escravos se organizaram para alcançar
a liberdade.
A importância da escravidão na antiguidade „Clássica‟
―O destino da imensa maioria dos escravos tanto na Grécia, como em Roma, era o
trabalho agrário (isso não se passava sempre ou em toda a parte, mas era a regra geral): era
normal que o seu recrutamento, distribuição e fornecimento fossem efetuados a partir das
feiras nas cidades, onde, naturalmente, muitos deles eram empregados, A escravidão era,
portanto, o elemento econômico que unia a cidade e o campo (...).
Servia de apoio à agricultura (...) e promovia um intenso comércio que constituía o
complemento desta agricultura no Mediterrâneo. Os escravos, entre outras vantagens, eram
uma mercadoria principalmente móvel numa época em que as limitações dos transportes
determinavam os limites da economia. Podiam ser deslocados sem dificuldades de uma
região para outra; podiam adquirir uma quantidade de especializações diferentes (...).
A riqueza e o confronto da classe proprietária urbana das várias cidades-Estado gregas e
em Roma estavam garantidos pelo excedente fornecido pelo trabalho escravo.‖
ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Lisboa: Afrontamento, 1982. p.24-25.
As precárias condições de vida dos escravos geraram freqüentes rebeliões no século I
a.C. Há registros de algumas revoltas em Sicília entre os anos de 136 a.C a 101 a.C. Num
desses casos, os escravos tomaram posse de uma cidade e escolheram Euno, escravo sírio,
como governante. No entanto, as tropas romanas se mobilizaram e conseguiram reprimir os
rebelados sicilianos.
Entre 73 e 71 a.C., o escravo Espártaco liderou no sul da Península Itálica, em Cápua, a
maior rebelião da história romana. Esse gladiador reuniu um grupo de mais de 90 mil
escravos. Inicialmente, os revoltosos conseguiram derrotar várias tropas de Roma, todavia
as autoridades romanas se organizaram, reagindo com forte represália à essa rebelião. Em
71 a.C., o cônsul Crasso, depois de sucessivos enfrentamentos, conseguiu reprimir a revolta,
castigando violentamente os escravos.
A Revolta de Espártaco
―A luta entre os escravos e os proprietários de escravos, que se prolongou por um século,
atingiu o seu ponto culminante com a revolta de Espártaco. (...)
A revolta de Espártaco, apesar de sua importância, não fez com que a aristocracia
romana tomasse consciência do significado dos problemas dos escravos. Aos olhos da elite
da época, Espártaco foi um personagem desconsiderado. (...). No entanto, Salústio,
historiador romano, deu valor ao talento militar de Espártaco. Mais tarde, Plínio, o Velho,
escritor romano, elogiou a nobreza de coração de Espártaco, porque este tinha proibido que
o seu exército possuísse ouro ou prata, que tanto corrompia os romanos.‖
STAERMAN, E. A Luta de Classes no final da República. In: ANNEQUIN, J. et al. Formas de exploração do trabalho e
relações sociais na Antiguidade Clássica. Lisboa: Estampa, 1978. p.196 e 203.
A crise da República
Com o objetivo de evitar outras conturbações sociais, Roma investe fortemente nas
campanhas de expansão externa, tentando canalizar as instabilidades internas para outras
regiões. As freqüentes disputas militares propiciaram o surgimento de diversos líderes
políticos ligados ao exército. Nesse sentido, o governo de Roma passou para as mãos de
generais vitoriosos, tais como Mário e Sila, que implantaram sistemas ditatoriais, alicerçados na fidelidade dos legionários romanos.
Mário conseguiu ser eleito seis vezes consecutivas (de 107 até 100 a.C.) para o cargo de
cônsul, desrespeitando, assim, as tradições republicanas. Mário realizou várias reformas,
podemos citar:
1. Profissionalização do exército, cujos soldados passaram a receber salários;
2. Concessão de lotes de terras para os veteranos (soldados que tinham mais de 25 anos
de serviços militares);
3. Permissão de incorporação dos plebeus no exército romano, os quais também eram
remunerados.
Dessa maneira, paulatinamente, os soldados passaram a colocar os interesses pessoais
acima do interesse estatal. Mário, como tinha um forte apoio dos militares e das camadas
mais pobres, conseguiu estabelecer a ditadura. Desde então, houve limitação do Senado nas
decisões políticas. Esse fato impulsionou a reação dos senadores que, após a morte de
Mário, em 86 a.C., apoiaram o general Sila para governar Roma.
Sila proclamou-se ditador perpétuo em 82 a.C. A sua gestão foi marcada pela redução
do poder no tribuno da plebe, pela repressão aos cavaleiros e às camadas populares
seguidoras de Mário, tal medida tinha como objetivo restaurar a força política do Senado.
Entretanto, isolado e doente, Sila viu-se obrigado a abdicar do cargo em 79 a.C.
Num clima de muita instabilidade e na tentativa de solucionar as crises crescentes, Roma
passa a ser governada por três pessoas, os triúnviros. O Primeiro Triunvirato constituiuse em 59 a.C., sendo composto por três respeitados militares: Pompeu, Crasso e Júlio
César.
Em tese, o poder era dividido entre os três cônsules, no entanto, Júlio César se destacou
devido às inúmeras conquistas, principalmente as das regiões da Gália (atual França) e
parte da Ilha da Bretanha (atual Inglaterra). Além disso, César distribuía terras para os
soldados, ganhando, dessa maneira, grande simpatia dos soldados e da população.
Simultaneamente, Pompeu se aproximava cada vez mais do Senado romano. Assim,
Pompeu contava com a ajuda do Senado e César era apoiado pela plebe. Por isso, depois da
morte de Crasso, em 53 a.C., em combate no oriente, houve uma ampliação da rivalidade
entre os dois triúnviros, desencadeada quando o senado ordena a saída de Júlio César da
Gália. No entanto César desobedeceu às palavras do senado e decide invadir Roma com
seus soldados em 49 a.C. Devido à popularidade de César, ele consegue entrar triunfalmente em Roma, sendo proclamado pelo Senado como Ditador Vitalício. Já Pompeu foi
assassinado no Egito e os seus seguidores foram cruelmente eliminados.
A partir de então, César centraliza em torno de si diversas funções, como a de supremo
comandante do exército, do tribuno e a função de pontífce máximo (sumo sacerdote).
Segundo historiadores, o governo de César foi marcado por grande popularidade.
Veja as principais realizações do Governo ditatorial de Júlio César:
Geração de empregos através da construção de obras públicas;
Realização de uma divisão das propriedades em benefício da plebe;
Criação de mais de quarenta colônias;
Reestruturação das finanças do Estado;
Concessão de cidadania para os habitantes das províncias;
Reformulação do calendário;
Limitação dos poderes dos líderes das províncias.
As atitudes populares promovidas por César levaram ao enfraquecimento da aristocracia
patrícia. Desse modo, aos poucos, a República apresentava sinais de esgotamentos,
entretanto, Júlio César rejeitava a idéia de implantar o regime monárquico ou imperial.
Nesse contexto, a forte concentração de poder de César despertou a oposição de alguns
senadores, os quais, liderados por Brutus e Cássio, planejaram o seu assassinato em 44 a.C.
Os senadores esperavam que logo após a morte de César, as instituições republicanas
pudessem resgatar seu prestígio. Todavia, as crises políticas ainda permaneceram. Desse
modo, formou-se o Segundo Triunvirato: Marco Antônio (Cônsul e comandante do
Oriente), Otávio (sobrinho e filho adotivo de César, comandava o Ocidente) e Lépido (chefe
da ordem dos cavaleiros e Pontífce Máximo).
Em pouco tempo, teve início uma forte dissensão política entre os triúnviros. Marco
Antônio firmou uma aliança com a rainha do Egito, Cleópatra. Esse fato impulsionou uma
guerra entre os governantes do Ocidente e Oriente Em 31 a.C., na batalha de Ácio, o
exército de Otávio conseguiu vencer o de Marco Antônio. Com esse triunfo Otávio passou a
concentrar totais poderes em suas mãos tornando-se governante único.
Sem nenhum rival à frente, o Senado concedeu a Otávio vários títulos: princeps
(primeiro cidadão), augusto (divino ou bem-aventurado), imperator (comandante supremo),
Pontifce maximus (chefe da religião romana) e de Pater patriae (pai da pátria). Esse evento
simbolizou o fim da República e o início do Império Romano.
Império Romano
A ascensão do Império em Roma está relacionada às imensas mudanças nos setores
sociais, militares, econômicos e administrativos advindas com o estabelecimento do regime
imperial. Na esfera política, o Imperador passou a ter um poder superior ao Senado e aos
demais magistrados. O Imperador era responsável pelas conquistas territoriais e
subseqüente anexação das províncias à influência romana.
No decorrer do Império, a participação política das classes populares, bem comum
durante a República, foi diminuindo gradativamente. Dessa forma, os cargos passaram a ser
ocupados via recomendação, ou seja, os cônsules, edis, questores e pretores eram nomeados pelo imperador. Nesse sentido, o acesso às magistraturas militares ou civis passou a
depender de uma rede de influências e amizades entre o imperador, os senadores, a ordem
dos cavaleiros e as aristocracias das províncias.
Tradicionalmente, estuda-se o Império Romano em dois períodos: o Alto Império
(27a.C-235d.C) e o Baixo Império (284-476), existindo entre eles uma
fase de
conturbação militar conhecido como Imperadores de Caserna, durante 235 a 284.
1. O Alto Império
O governo de Otávio (27 a.C a 14 d.C) caracterizou-se por uma estabilidade política,
econômica e social. Como detinha plenos poderes, Otávio implementou diversas reformas,
sendo boa parte delas de caráter popular.
Acompanhe abaixo o rol das principais realizações de Otávio:
Distribuição de terras aos soldados mais experientes;
Estabelecimento da aposentadoria em dinheiro para os combatentes veteranos;
Criação da Guarda Pretoriana responsável pela segurança do Imperador;
Reestruturação do Exército romano, tornando-o profissional;
Fim do alistamento obrigatório;
Criação de um serviço postal conectando as províncias;
Realização de várias obras públicas com objetivos de embelezar Roma e gerar empregos
para os plebeus urbanos;
Financiamento das artes e dos eventos culturais;
Desenvolvimento do comércio marítimo Mediterrâneo;
Alcance da paz e tranqüilidade interna e externa, conhecida como a Pax Romana;
Doação de trigo para a plebe urbana, oficializando a chamada política assistencialista
―Pão e Circo‖.
Otávio Augusto oficializou a política assistencialista ―Pão e Circo‖. O objetivo desta
prática era diminuir os problemas sociais. As autoridades romanas distribuíam trigo entre os
pobres. Já outros políticos, que buscavam apoio do povo, aliciavam os eleitores menos
favorecidos com dinheiro.
Além dos benefícios materiais, o governo promovia espetáculos de gladiadores e
comemorações festivas. Esses eventos eram regados de alegrias e violências. A platéia
aclamava a morte dos derrotados. Os plebeus exigiam emoções, essa era a maneira que
eles encontravam para esquecer suas frustrações. Esses eventos também eram assistidos
pelos integrantes da aristocracia e pelo Imperador.
Quanto ao setor administrativo, Otávio Augusto aumentou o número de funcionários,
criando, assim, condições para o aperfeiçoamento dos serviços públicos. Com o esvaziamento do poder dos magistrados e dos senadores, o imperador passou a emitir moedas em
ouro e em prata. Já no âmbito social, Augusto reorganizou os romanos de acordo com os
padrões econômicos nas seguintes ordens: Senatorial (composta pela aristocracia, os mais
ricos), Eqüestre (a ‗classe média romana‘) e Plebe (os menos favorecidos, os pobres).
Durante governo de Otávio, nasce na província romana da Palestina Jesus Cristo de
Nazaré, o fundador de uma nova religião cujos princípios fundamentais consistiam no amor
ao próximo e na solidariedade.
No ano de 14 d.C., Otávio Augusto morre, deixando o Império Romano bem estruturado
e estável para os governantes posteriores. No entanto, como não existiam regras claras
para a sucessão imperial, iniciou-se uma forte disputa pelo poder.
2. Os sucessores de Augusto
Após a morte de Augusto, três dinastias assumiram o poder. A Dinastia Júlio-Claudiana
(14-68) foi constituída por quatro imperadores: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Com o fim
desta dinastia, o Império Romano passou a ser governado pela Dinastia Flaviana (69-96),
formada por Vespasiano, Tito e Domiciano. O governo de Vespasiano foi caracterizado pela
reorganização das forças militares romanas, estabeleceu novos elementos para a ocupação
do posto de senador e reprimiu várias insurreições no Oriente Médio e nas Gália. Os dois
últimos imperadores dessa dinastia, Tito e Domiciano, governaram entre 81 e 96, deram
prosseguimento às ações de Vespasiano.
Imagem do Coliseu de Roma, uma das grandiosas obras da Antiguidade construída no governo de
Vespasiano, servindo vários eventos, incluindo lutas de gladiadores.
A dinastia dos Antoninos (96-192) vivenciou um momento cujos imperadores Nerva,
Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo tentaram dá continuidade a
prosperidade econômica e a pacificação interna. Durante a gestão de Trajano, o Império
romano alcança sua extensão máxima. Logo após essa dinastia, o Império passa para as
mãos dos Severos (193-235). O imperador Caracala se tornou o grande destaque dessa
série de governantes, uma vez que promulgou uma lei que concedia a cidadania para todos
os habitantes do Império.
Com o fim da dinastia dos Severos, o Império começou a apresentar sinais de crises:
aumento da inflação, dos tributos e o começo das primeiras investidas dos germânicos nas
fronteiras romanas. A instabilidade econômica e social refletiu-se no campo político. Entre
235 e 284, foi marcado por intensa guerra civil e constantes conspirações palacianas. Nesse
curto período Roma conheceu uma sucessão de vinte e seis imperadores, desses, apenas
um não foi assassinado.
3. O Baixo Império
O colapso do Império Romano tornou-se mais visível a partir do século III. Os motivos
foram diversos para a eclosão da famosa “Crise do Século III”, pode-se citar:
O aumento dos preços dos escravos e conseqüente redução da mão-de-obra escrava
provocados pela paralisação da expansão territorial. Roma, a partir do século III, não
mais ampliava suas fronteiras, pelo contrário, encolhia seus domínios devido a pressão
de novos povos que habitavam nos limites do Império. Dessa forma, como a maneira
mais comum de se adquirir escravos era através da subordinação de outros povos, a
economia romana ficou altamente comprometida, haja vista que a escravidão representava a base produtiva do Império;
A elevação nos preços de determinadas mercadorias e escassez de outras. O aumento
dos produtos agrícolas foi impulsionado pela baixa produtividade do trabalho escravo e
pela inexistência de novas técnicas, o que diminuiu consideravelmente o montante de
produção;
Crescente déficit público provocado pela estagnação econômica pelos gastos do estado
com os programas assistencialistas e com o alto número de funcionários (burocráticos e
militares) que asfixiou as finanças de Roma. Tentando resolver tal problema, o governo
romano promoveu sucessivas desvalorizações da moeda, o que gerou um aumento no
custo de vida da população;
Escassez de metais preciosos advinda da falta de conquistas territoriais levou ao
gradativo desaparecimento em Roma do pagamento dos salários em moeda;
Crescente êxodo urbano decorrente da insegurança e violência que assolava os grandes
centros urbanos do império;
O estabelecimento do colonato desenvolvido graças ao empobrecimento das pessoas do
campo e das cidades. O colonato consistia numa relação contratual entre os latifundiários e os trabalhadores ‗colonos‘. Estes não podiam abandonar as propriedades e isso
era transmitido para os seus filhos. Já os donos das terras ofereciam proteção militar e
parte dos seus rendimentos aos colonos;
Sucessivas brigas políticas entre senadores e chefes militares desencadeando uma aguda
crise institucional.
No contexto dessa recessão, o imperador Diocleciano (284-305) surge como o possível
restaurador do brilhantismo do Império. Com a finalidade de facilitar a administração, ele
cria a tetrarquia, ou seja, o Império passa a ser governado por quatro pessoas. A tetrarquia
consistia na adoção de dois co-imperadores, chamados de Augustos, os quais controlavam
as metades do Império do Oriente e Ocidente, cada um era auxiliado pelos outros dois,
denominado de César.
Uma outra medida adotada por Diocleciano foi restabelecimento do alistamento
obrigatório e a admissão de alguns ―bárbaros‖. Os ―bárbaros‖ eram povos que ocupavam as
regiões limítrofes do Império, como não falavam nem grego nem latim, os romanos os
chamavam de ‗incivilizados‘, ‗selvagens‘, ‗bárbaros‘. Além disso, esse imperador implantou
uma rígida política de controle de preços devido aos elevados índices inflacionários.
Entretanto, essas medidas emergenciais não solucionaram a situação calamitosa que
assolava a economia, a sociedade e as instituições políticas de Roma.
Sucedendo Diocleciano, o imperador Constantino (306-337) restaura o modelo de poder
único, ou seja, põe fim ao regime de tetrarquia. Cônscio da fragilidade administrativa, ele
estabelece, em 330, a cidade de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia) como capital
do Império do Oriente. Em 313 houve a aprovação do Edito de Milão que concedia
liberdade religiosa para os cristãos e a restituição dos seus bens confiscados no período das
perseguições.
Agravando ainda mais o colapso do Império, em meados do século IV, tiveram início as
incursões dos ‗bárbaros‘. Repelidos pelos Hunos, os godos e visigodos penetraram nas
fronteiras do império. Essa inserção dos ‗bárbaros‘ foi marcada, inicialmente, pelo pacifismo.
No entanto, a partir de 378, os cavaleiros godos entraram em choque com as tropas
romanas.
Ao assumir o império, Teodósio (379-395) consegue apaziguar os godos por intermédio
da concessão de terras e utilizando-os como ―guardiões‖ das fronteiras do império. Em 391,
através do Edito de Tessalônica, Teodósio torna o cristianismo a religião oficial do império.
Tentando resolver a instabilidade político-administrativa, ele promove uma divisão do
Império Romano em Império do Ocidente, com capital em Milão, e Império do Oriente, sede
em Constantinopla. Mesmo com essa medida drástica, os problemas sociais, políticos e
econômicos não foram solucionados. Dessa maneira, o Império do Ocidente chega ao fim
em 476, quando Odoacro (chefe militar dos ‗bárbaros‘), depôs o seu último imperador,
Rômulo Augusto. Quanto ao Império do Oriente, ele perdura até 1453, graças a sua forte
economia e coesa unidade política.
Declínio e queda do Império Romano
―A ascensão de uma cidade que se avantajou num Império bem merece, por singular
prodígio, ser tema de reflexão (...). Todavia, o declínio de Roma foi a natural e inevitável conseqüência da grandeza imoderada. A prosperidade fez com que amadurecesse
o princípio de decadência; as causas de destruição se multiplicaram com a extensão das
conquistas; e tão logo o tempo ou os acidentes removeram os sustentáculos artificiais,
a estupenda estrutura desabou sob seu próprio peso. A história da ruína é simples e
óbvia. Em vez de perguntar Por que o Império romano foi destruído, devemos antes
surpre-ender-nos de ele ter durado tanto. (...) Os imperadores, preocupados com sua
segurança pessoal e com a ordem pública, viram-se reduzidos ao vil expediente de
corromper a disciplina que as tinham tornado temíveis ao seu soberano e ao inimigo;
relaxou-se a energia do governo militar, e finalmente dissolveu-se (...); e eis que o
mundo romano foi engolfado por um dilúvio de bárbaros.‖
GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. São Paulo: Círculo do Livro, 1989. p.442.
TEXTO COMPLEMENTAR
HISHISTÓRICOSHISTÓRICOSQU
ESTÕESE VESTIBULARES
Discurso de Tibério Graco pela Reforma Agrária
―Os animais ferozes que vivem em terras da Itália, têm, pelo menos, as suas tocas. No
entanto, os homens que combatem e morrem pela Itália possuem unicamente o ar que
respiram e a luz do sol. Sem teto, sem roupas, vagam através do país com as mulheres e
filhos. Nossos generais mentem quando, para estimular as tropas, dizem que os soldados
combatem para defender os próprios lares e os túmulos dos antepassados da pilhagem do
inimigo. Nenhum soldado tem lar! Nenhuma deles poderá dizer onde estão os restos de seus
antepassados! Os soldados derramam o seu sangue e morrem unicamente para defender a
riqueza dos poderosos! Dizem que os soldados romanos são os senhores do mundo. Mas
nenhum deles possui sequer uma terra para repousar a cabeça.‖
BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais. Rio de Janeiro: Laemmert, 1968. p.9.
Por que o Brasil, que tem terra de sobra, ainda vive problemas no campo?
―Existem duas visões conflitantes a respeito da agricultura brasileira. Segundo a mais antiga,
o Brasil tem terras tão esplêndidas e vastas que poderia ser o celeiro do mundo. A outra
é baseada na observação prática de quem viaja pelo país. Fora algumas regiões do centro e
do sudeste, que têm lavouras vistosas, uma boa parte do terreno brasileiro é formada por
matagal inaproveitado. Ou por roçados em que a família cria bode, galinha e planta inhame
para comer no casebre. Nessa paisagem há também o latifúndio improdutivo, dominado pelo
coronel que prefere mexer com política a plantar alguma coisa. É a essa combinação de terras
férteis, mas ociosas, que se dá o nome de problema agrário brasileiro. Esse problema,
temperado por surtos de agitação rural, é muito discutido, tema de análises acadêmicas e de
discursos inflamados no Congresso. Fala-se demais sobre a terra brasileira e pouco se faz.
Muitos números indicam que o Brasil pode ser mesmo um dos celeiros mundiais, mas o fato
é que o país nunca teve uma política agrária global, digna desse nome. Nas áreas em que se
planta com técnicas modernas, a agricultura brasileira é altamente produtiva, quase tanto
quanto a européia ou a americana. Mas na maior parte do Brasil planta-se ao acaso. Se der
certo, deu. E geralmente não dá - porque não há planejamento, dinheiro, técnica, tradição.‖
Extraído de Veja on line. Reportagem Especial ―Em Profundidade – Reforma Agrária‖. Disponível em
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/reforma_agraria/perguntas.html. Acesso em 23 de janeiro de 2008.
1. Após a leitura atenta dos dois textos podemos observar que os respectivos autores
abordam, mesmo num contexto histórico diferente, um tipo de problema social comum.
Cite-o e faça um rápido comentário.
2. Faça uma pesquisa sobre as políticas implementadas pelo governo brasileiro concernente
à questão agrária no país.
3. Qual a sua opinião sobre a Reforma Agrária no Brasil? Como você vê as ações
executadas pelos movimentos dos sem-terras ?
FAZENDO HISTÓRIA
1. Caracterize a sociedade romana no período monárquico.
2. A História de Roma apresenta vários conflitos sociais provocados pelas disparidades
sócio-econômicas entre ricos e pobres. Justifique os motivos para as lutas entre patrícios
e plebeus.
3. Quais as principais conquistas plebéias adquiridas após o longo período de reivindicações
perante os patrícios.
4. Observe os quadrinhos sobre mercado de escravos a seguir:
(UDERZO, A.; GOSCINNY, R. Asterix – Os louros de César. Rio de Janeiro: Companhia Editorial Brasileira, s.d.)
Na imagem, os criadores de Asterix se referem a um aspecto importante da sociedade
romana no final do período republicano. De que período se trata? Comente a importância
dessa atividade para a economia romana.
5. Em que consistia a política ‗pão e circo‘ praticada por vários governantes romanos.
6. Explique as principais razões para o desencadeamento das disputas políticas entre os
militares no final da República em Roma.
7. Cite as principais características do governo Otávio Augusto. Explique a chamada ―Pax
romana‖.
8. A partir do século III, o Império Romano apresenta sinais de crise. Nesse sentido,
relacione os principais motivos que provocaram a conhecida ―Crise do século III‖.
9. Quais as principais medidas adotadas por Diocleciano, Teodósio e Constantino na
tentativa de solucionar a crise do Império?
10.Aponte as principais causas que levaram o Império Romano do Ocidente ao colapso?
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UFTM) Conforme Roma cresceu e se tornou poderosa, as diferenças entre patrícios e
plebeus se acentuaram. Estes, marginalizados, desencadearam uma luta contra os
patrícios que se estendeu por cerca de dois séculos (V a.C.–III a.C.) e resultou na
conquista de alguns direitos como:
a) a eleição de seus próprios representantes, os Tribunos da Plebe, a proibição da
escravização por dívidas e a igualdade civil após o casamento com um patrício.
b) interferir, através dos Tribunos da Plebe, nas ordens oficiais dos reis etruscos e na
divisão de terras que estavam nas mãos dos patrícios e não-produtivas.
c) apropriação de terras na região conquistada da Gália, isenção nos impostos e
permissão de se casarem com patrícios.
d) o fim da obrigatoriedade de se integrarem às legiões romanas, direito conquistado
com os irmãos Tibério e Caio Graco e a proibição da escravização por dívidas.
e) a eleição dos magistrados e senadores a partir da Assembléia, igualando-se a Atenas
no que diz respeito à participação política direta.
2.(UPE) As relações políticas são importantes para a organização do poder, desde a formação
dos primeiros grupos de convivência social. Nos primeiros tempos da história política de
Roma, antes da formação da República,
a) a família inexistia como núcleo de poder importante, devido ao militarismo e ao
poder religioso do rei.
b) prevalecia o poder do imperador vitalício e grande latifundiário, auxiliado pela
Assembléia dos cidadãos ligados ao comércio.
c) existia o Conselho dos Anciãos, com poderes absolutos e relacionados com o
comércio de trigo.
d) o chefe de família limitava-se ao controle dos ritos religiosos domésticos e à
organização dos gastos domésticos.
e) houve espaço político para o poder das famílias mais ricas, geralmente grandes
proprietárias de terras.
3. (FUNCAB) "(...) Graco parecia ter chegado ao ponto em que, ou renunciava
completamente ao plano, ou começava uma revolução: escolheu a última hipótese.
Rompeu relações com o colega e apresentou-se diante da multidão reunida perguntandolhe se um tribuno que se opunha à vontade do povo não devia ser destituído de seu cargo.
A assembléia do povo, habituada a ceder a todas as propostas que lhe eram apresentadas,
e composta na maior parte do proletariado agrícola que emigrara do campo estando
pessoalmente interessada no voto da lei, deu resposta quase unanimemente favorável.
(...) Para obter esta reeleição inconstitucional, meditava ainda novas reformas. (...) O
Senado reuniu-se no templo da Fidelidade. (...) Quando Tibério levou a mão à fronte para
indicar ao povo que sua cabeça estava ameaçada, comentou-se que ele pedira ao povo
para coroá-lo com o diadema. O cônsul Cévola foi instado a deixar que se matasse o
traidor. (...) Morreram com ele cerca de trezentas pessoas." (MOMMSEN, Theodor. História de Roma.
Excertos. p. 174-175)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a questão agrária na República Romana,
é correto afirmar:
a) a morte de Tibério Graco é narrada como resultado de uma tentativa de impedir a
reunião do Senado no templo da Fidelidade.
b) a lei que Tibério Graco desejava aprovar beneficiava os ricos ocupantes de terras
públicas e ampliava ao máximo o apoio político aos seus propósitos.
c) o autor do texto expressa seu preconceito em relação às constantes decisões da
plebe urbana, contrárias aos interesses dos tribunos.
d) os opositores mataram Graco para impedir a aprovação da lei que os obrigaria a
devolver suas terras ao Estado, para posterior distribuição aos pobres.
e) o texto elogia a Assembléia Romana por discutir, democraticamente, os interesses
comuns da plebe e da aristocracia.
4. (UPE) Há muitas especulações históricas sobre as origens de Roma e sua construção
como cidade centro de um grande império. Sobre o início da história de Roma, é correto
afirmar que:
a) se fundou como obra de gregos fugidos de Atenas e de Esparta, todos relacionados
aos ideais de nobreza.
b) não tinha, no seu litoral, condições para construir bons portos, o que dificultou a sua
organização comercial.
c) foi freqüentada pelos povos gauleses, os grandes organizadores da sua vida social e
republicana.
d) tinha territórios favoráveis à defesa natural contra os inimigos políticos, daí o
fortalecimento de suas tropas militares.
e) possuía lendas que explicavam seu surgimento na Península Itálica, embora elas não
tivessem aceitação popular.
5. (UFOP) Originalmente, o termo república significa coisa pública, bem público, mas,
entre os séculos VI e I a.C., a República Romana foi marcada por alguns elementos que
destoavam deste significado, pois
a) a conquista de terras e a introdução do latifúndio provocaram lutas entre os generais
e o Senado que, até então, era o centro do poder patrício.
b) os romanos não conseguiram sustentar o regime republicano devido à forte tensão
política decorrente das lutas entre os sacerdotes e os senadores.
c) as magistraturas não passavam de cargos simbólicos, tendo o poder se concentrado
nos tribunos da plebe e nos centuriões.
d) o exército tornou-se a peça-chave na conquista de terras e ampliação do poder
romano, favorecendo exclusivamente os militares em todos os momentos.
e) o povo romano estabeleceu um sistema de auto-gestão que reprimiu a concentração
de poder do Senado e das magistraturas, espaços plenamente representativos do
povo.
6. (VUNESP) Octávio Augusto (31a.c.-14.d.c) foi uma das mais proeminentes figuras da
Roma antiga, pois em seu governo o Estado romano conheceu seu período mais
próspero, durante o qual foram realizadas as seguintes reformas políticas:
a) a dissolução do Senado, a instituição do soldo para os militares e a diminuição da
autonomia das administrações provinciais.
b) a limitação do tamanho das proles, a condenação do adultério e a proibição do
divórcio.
c) o estabelecimento de regras de sucessão política, a descentralização do sistema de
tributos e a redução do controle sobre os governadores.
d) a descentralização do sistema de tribunais, a concessão privada para a cobrança de
impostos e o retorno às antigas formas de taxação.
e) o estabelecimento de novas formas de taxação, o aperfeiçoamento do sistema de
tribunais e a redução da autonomia das cidades e províncias.
7. (COVEST) Fundar impérios e mantê-los exige custos e convivência com conflitos e
violências. O Império Romano, composto por uma grande diversidade de culturas e
territórios:
a) conseguiu superar os conflitos surgidos, proclamando o direito de cidadania para
todos os seus habitantes e respeitando as diferenças sociais.
b) combateu a escravidão na vida agrícola, não convertendo seus inimigos em
trabalhadores para proporcionar riquezas aos seus latifundiários.
c) manteve uma política de dominação, sob o ponto de vista cultural, dos povos
vencidos, embora tenha evitado recorrer ao exército.
d) transformou os valores políticos da época, incentivando a consolidação da república
e o fortalecimento das assembleias populares.
e) assegurou a sua dominação, utilizando-se, em algumas ocasiões, da violência e
da diplomacia para controlar os povos vencidos.
8. (COVEST) Os cônsules romanos tinham participação efetiva na administração da
república romana, contribuindo para a manutenção do poder dos patrícios. Os cônsules
romanos:
a) dedicavam-se exclusivamente às atividades bélicas, comandando os militares nas
legiões asiáticas.
b) elaboravam as leis e tinham o auxílio dos censores que faziam o recenseamento, de
cinco em cinco anos.
c) tinham relações com as reivindicações dos plebeus, enfrentando as questões da
reforma agrária na república.
d) eram responsáveis pela administração das finanças na época das grandes campanhas
dos exércitos mais elitizados.
e) mantinham seus poderes com a ajuda dos questores, evitando conflitos diplomáticos
com os gregos.
9. (UFFS) A religião romana era essencialmente politeísta e o culto ao Imperador foi de
grande importância em função da unidade que representava. Os cristãos, no entanto,
negaram-se a cultuar os imperadores e se tornaram um perigo para o Estado romano o
que acarretou inúmeras perseguições que só terminaram com os Imperadores
Constantino e Teodósio, que promulgaram, respectivamente:
a) o Édito de Roma que permitiu o culto cristão nas províncias do Império Romano, mas
o proibiu na península Itálica, e o Édito de Hélade que tornou o Cristianismo a
religião oficial de todo o Império.
b) o Édito de Barbárie segundo o qual os cristãos entrariam no exército romano em
nome da liberdade de culto e o Édito de Constantinopla que dividiu o Império
Romano entre Ocidente e Oriente, sendo este reservado apenas aos cristãos.
c) o Édito de Constantino que proibiu que os condenados por pregar a religião cristã
fossem mortos e o Édito de Tito que reafirmou o édito anterior e abrandou os
castigos aos cristãos.
d) o Édito de Milão que concedeu liberdade de culto aos cristãos e o Édito de Tessalônica
que tornou o cristianismo a religião oficial de todo o Império Romano.
e) o Édito de Augusto que negou a divindade Imperial e passou a um sacerdote
politeísta e o Édito de Cristo que pregou o fim das perseguições a todas as religiões.
10.(PUC/Campinas-SP) Leia o texto sobre as instituições políticas da antiga República
Romana.
"Mesmo para um cidadão romano, será impossível dizer, com certeza, se o sistema, em
seu conjunto, era aristocrático, democrático ou monárquico. Com efeito, a quem fixar
atenção no poder dos cônsules, a Constituição romana parecerá totalmente monárquica; a
quem a fixar no Senado, parecerá aristocrática, e a quem fixar no poder do povo,
parecerá, claramente, democrática".
(Políbio, historiador grego do século II a.C.in: Pedro Paulo Abreu Funari.
Roma: Vida pública e vida privada. São Paulo, Atual, 1993.p.21)
Com base no texto e no conhecimento histórico, pode-se afirmar que:
a) As instituições não sofreram Influência dos gregos, uma vez que os romanos
mantiveram uma política isolacionista durante todo o período republicano.
b) Os romanos não inovaram na formação das instituições políticas, já que imitaram o
sistema político das civilizações gregas e das civilizações orientais.
c) A instituições do equilíbrio de poderes, presente na constituição da antiga República
Romana, influenciou posteriormente as Instituições ocidentais, trazendo enorme
contribuição à ciência do direito.
d) O equilíbrio de poderes, instituído após a queda da monarquia, evitou totalmente
conflitos entre as classes sociais durante toda a República, já que permitiu a
participação do povo na vida política.
e) Os plebeus não tinham direito de participação nas instituições políticas romanas da
República, já que eles eram estrangeiros e não possuíram, portanto, a cidadania
romana.
11.(UPE) Os impérios da Antiguidade conseguiram dominar extensas áreas territoriais com
força militar e negociações políticas. A grandeza dos romanos é sempre ressaltada,
quando se refere ao domínio de outros povos. Os romanos:
a) construíram um império baseado apenas na sua expressiva força militar, decorrente
de um numeroso e combativo exército.
b) dominaram toda península Ibérica, não conseguindo derrotar povos de outras regiões
da Europa.
c) conseguiram construir uma complexa administração para manter seu império, com
feitos administrativos seguidos pela cultura ocidental.
d) fracassaram na tentativa de dominar os gregos que resistiram nas lutas realizadas no
mar Mediterrâneo.
e) não se preocuparam com a cultura dos outros povos, mantendo sua identidade
cultural e religiosa, basicamente ocidental.
12.(FUNCAB) ―A Sociedade Romana levou séculos para se expandir e apresentar um
contorno, mais ou menos definido. Após dominar a Península Itálica, os Romanos deram
início à conquista do mediterrâneo. Lutaram mais de cem anos contra Cartago nas
chamadas ―Guerras Púnicas‖. Em seguida, ocuparam a Península Ibérica, o sul da Gália
e, por fim, o Mediterrâneo Oriental".
Sobre a expansão Romana é correto afirmar:
a) Com o tempo, os territórios ocupados eram transformados em províncias e pagavam
impostos ao governo de Roma. Por isso as províncias eram independentes do
governo Romano.
b) As Províncias eram governadas pelo Procônsul ou propetor, com poder absoluto sobre
a vida civil e militar. A cultura e a estrutura política dos povos dominados era
substituída pela Romana.
c) Os povos submetidos eram escravizados, seus bens confiscados e a política era
suprimida. Dessa forma, Roma exercia um poder incontestável.
d) As conquistas foram possíveis graças a existência de um exército poderoso e
permanente formado de cidadãos, escravos e camponeses.
e) As conquistas produziram enorme espólio de guerra. Sem contar as indenizações
pagas pelos vencidos aos romanos, os escravos que ao serem vencidos enriqueciam
os generais e as terras férteis repartidas entre os ricos proprietários.
13. (UNIOESTE) ―Os homens que combatem e morrem pela Itália têm o ar, a luz e mais
nada ( …) lutam e perecem para sustentar a riqueza e o luxo de outro, mas embora
sejam chamados senhores do mundo, não têm um único torrão de terra que seja seu.‖
ANDERSON, Perry. Tibério Graco. In: Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. 1988, p.60.
Considerando os acontecimentos que marcaram a história de Roma Antiga e o
discurso de Tibério Graco, assinale a alternativa incorreta.
a) Durante o período de expansão, muitos plebeus que serviram o exército romano
perderam suas terras porque, sem dinheiro, eram obrigados a vendê-las aos ricos
proprietários de terras e escravos.
b) Tibério Graco, ocupando o mandato de tribuno da Plebe, apresentou uma lei de
Reforma Agrária para impedir o avanço do latifúndio e recompor a camada de
pequenos e médios proprietários.
c) Sensível ao sofrimento da plebe, a elite patrícia apoiou o projeto de Tibério Graco e
aprovou a Reforma Agrária em Roma.
d) As guerras de expansão promovidas pela República contribuíram para tornar Roma
um grande império, porém promoveram uma grande marginalização da plebe
romana.
e) Sem condições de manter suas terras, muitos agricultores migravam para a cidade e
viviam na pobreza. Eram chamados de proletários, pois tudo que possuíam era sua
prole, ou seja, seus filhos.
14.(FGV) Após a conquista da Península Itálica, Roma ampliou seus domínios em torno do
Mediterrâneo, que passou a ser designado como mare nostrum, um verdadeiro lago
interno que permitia a comunicação, as transações comerciais e o deslocamento de
tropas para as diversas regiões romanas. A respeito dessa expansão, é correto afirmar:
a) A conquista de novos territórios desacelerou o processo de concentração fundiária
nas mãos da aristocracia patrícia, uma vez que o Estado romano estabeleceu um
conjunto de medidas que visava distribuir terras aos pequenos e médios proprietários
e à plebe urbana empobrecida.
b) Apesar da conquista do Mediterrâneo, os romanos não conseguiram estabelecer a
integração das diversas formações sociais ao sistema escravista nem tampouco se
dispuseram a criar mecanismos de cooptação social e política dos seus respectivos
grupos dominantes.
c) As conquistas propiciaram, pela primeira vez na Antigüidade, a combinação entre o
trabalho escravo em larga escala e o latifúndio, associação que constituiu uma
alavanca de acumulação econômica graças às campanhas militares romanas.
d) As conquistas militares acabaram por solucionar o problema agrário em Roma,
colocando em xeque as medidas defendidas por líderes como os irmãos Graco, que
postulavam a expropriação das terras particulares dos patrícios e sua repartição
entre as camadas sociais empobrecidas.
e) A expansão militar levou os romanos a empreender um duro processo de latinização
dos territórios situados a leste, o que se tornou um elemento de constante
instabilidade político-social durante a República e também à época do Império.
15.(UPE) Os povos, que não habitavam o Império romano ou que não sabiam se expressar
em latim, eram denominados pelos romanos de bárbaros. Sobre os bárbaros, é incorreto
afirmar.
a) Eram povos germânicos na sua grande maioria e nem sempre tiveram relações
conflituosas com os romanos.
b) Viviam em comunidade, não tendo, portanto, a complexidade social das cidades
romanas nem tampouco as instâncias burocráticas de um grande império.
c) As leis que regiam a vida desses grupos baseavam-se nos costumes e tradições.
d) Professavam uma religião animista e antropomórfica, e os sacerdotes tinham, além
e função religiosa, poder militar e político.
e) A organização social baseava-se na família, tendo no pai a figura central que exercia
poder sobre a esposa e os filhos.
16.(CESGRANRIO) Faça com que os eleitores falem e pensem que você os conhece bem,
que se dirige a eles pelo nome, que sem parar e conscienciosamente procura seu voto,
que você é generoso e aberto, que, mesmo antes do amanhecer, sua casa está cheia de
amigos, que todas as classes são suas aliadas, que você fez promessas para todo
mundo e que as cumpriu, realmente, para a maior parte das pessoas.
MACKENDRIK, P. The roman mind at work . Krieger Pub. Co., 1980, p. 178-179.
O texto acima, de Cícero, orador romano, 106 a.C.–43 a.C., aconselha os possíveis
candidatos nas eleições da Roma republicana. Seu discurso confirma a:
a) autocracia política dos patrícios.
b) realização de eleições censitárias.
c) escolha pública dos Edis e Pretores.
d) conquista da participação política pelos plebeus.
e) influência da democracia grega na República romana.
17.(COVEST) Roma conquistou povos e enfrentou dificuldades para governar tantas
diferenças sociais. Os irmãos Gracos tentaram amenizar as desigualdades existentes,
sugerindo reformas no Senado que alterassem a situação agrária. As sugestões e
reformas dos irmãos Gracos:
a) agradaram aos políticos da época, pois contribuíam para diminuir as tensões
sociais e o número de pobres.
b) foram mal recebidas pelos grandes proprietários, preocupados em preservar suas
riquezas e aumentar seu poder.
c) possibilitaram uma ampla reforma social, democratizando a vida em Roma e
fortalecendo o Senado com leis mais dinâmicas.
d) enfraqueceram as medidas violentas comuns na época, trazendo dias mais
estáveis para as decisões políticas em Roma.
e) tiveram êxito durante duas décadas, sendo depois canceladas pelos imperadores
mais centralizadores.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
A história social de Roma. Géza Alfody. Lisboa: Presença.
Roma no apogeu do Império. Jérôme Carpopino. São Paulo, Companhia das Letras.
Asterix, o gaulês. Uderzo e Goscinny. São Paulo: Record.
Declínio e queda do Império Romano. Edward Gibbon. Edição abreviada. São Paulo:
Companhia das Letras.
Cinema
Gladiador
Direção de Ridley Scott. (EUA, 2000. 155 min.)
Nos dias finais do reinado de Marcus Aurelius, o imperador
desperta a ira de seu filho Commodus ao tornar pública sua
predileção em deixar o trono para Maximus , o comandante do
exército romano. Sedento pelo poder, Commodus mata seu pai,
assume a coroa e ordena a morte de Maximus, que consegue
fugir antes de ser pego e passa a se esconder sob a identidade
de um escravo e gladiador do Império Romano.
ASTERIX E OBELIX CONTRA CÉSAR
Direção de Claude Zidi. (França. 1999. 69 min.)
A pequena aldeia de Asterix e Obelix é a pedra no sapato do imperador Júlio César: de toda
a França, a aldeia gaulesa é o único local que não é controlado pelo Império Romano. O
maior problema, segundo os comandantes da legião romana, é a força descomunal dos
gauleses, conseguida através de uma poção mágica preparada pelo druida Panoramix.
Entretanto, o comandante Detritus tem um plano para derrotar os gauleses: capturar Obelix
e o druida Panoramix.
Roma (Estados Unidos/Inglaterra, 2005. 184 min)
A série de TV da HBO apresenta diversas histórias sobre a vida na cidade de Roma em 52
a.C., período de crise e decadência da República.
Sites
Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (LEIR).
O laboratório é composto por de várias universidades públicas do Brasil, oferece na
página várias fontes escritas do Império Romano, biografia do autor e resumo de textos.
Disponível em: www.leir.ufop.br
As contribuições da Cultura Romana
para o Mundo Ocidental
É inegável a importância da cultura romana na formação do mundo contemporâneo. Em
suas origens, a cultura romana esteve muito ligada aos etruscos. Sob o domínio dos
etruscos, a língua latina transformou-se em escrita.
Durante o período imperial, os romanos souberam absorver os costumes de vários povos
da antiguidade, sendo que a maior influência veio dos gregos. Por isso que alguns
historiadores afirmam que, de certa maneira, a cultura romana consiste numa extensão da
cultura grega. A sociedade romana tinha uma grande admiração pelas manifestações
artística dos gregos.
Aqueduto da Carioca, Rio de Janeiro. Entre às variadas contribuições deixadas pelos romanos está a sua
magnífica engenharia. Os romanos criaram os aquedutos com a finalidade de conduzir a água. Os aquedutos durante
muito tempo serviu de inspiração para os planejamento urbanístico de diversas cidades do mundo.
O brilhantismo cultural de Roma se tornou possível graças ao sistema escravocrata que
disponibilizava aos cidadãos tempo livre para produção artística. Os romanos destacaram-se
nos mais diversificados campos do saber: religião, língua, literatura, prática política,
estrutura administrativa, arquitetura e direito.
―A existência de Roma transformou o mundo. O legado romano penetrou em regiões que os
romanos jamais governaram em continentes que eles jamais sonharam alcançar.‖
HADAS, Moses. Roma Imperial. P.166.
A Vida cotidiana
O significado de cidade, ‗urbs‘, para a sociedade romana possuía dois sentidos básicos. A
urbs simbolizava além de pólo econômico, cultural e administrativo, era também um local
para espetáculos populares, tais como corridas de biga, lutas de gladiadores, jogos de dados
e apresentações teatrais. Entretanto havia outras maneiras de lazer e de relação social. De
manhã em Roma, o Fórum se transformava num pólo de atividades. Nas praças, circulavam
muitas pessoas, inclusive prostitutas, com seus trajes coloridos à procura de clientes.
No Império Romano, os banheiros públicos se tornaram bastante comuns. Nesse espaço, os cidadãos discutiam os mais variados assuntos, conversavam à vontade, resolviam
negócios e cuidavam da sua higiene corporal. Geralmente, as manhãs eram reservadas às
mulheres e à tarde aos homens. Os mais ricos seguiam um rígido procedimento que
consistia numa massagem com óleo aromatizado e terapia à base de substâncias medicinais
para robustecer os músculos.
Termas romanas, Inglaterra. As mais antigas termas romanas datam do Século V a.C., em Delos e Olímpia. Nesses locais
os cidadãos discutiam os mais variados assuntos, conversavam à vontade, resolviam negócios e cuidavam dos seus corpos.
As residências romanas variavam muito em seu tamanho. As camadas populares
moravam em pequenos apartamentos em edifícios (insulae) com múltiplos andares
(chegavam até seis). Essas construções eram passíveis de incêndios e desabamentos devido
às frágeis infraestruturas. Já a aristocracia habitava em casas amplas (domus) que
geralmente ficavam no ponto mais elevado da cidade. O domus era muito confortável, pois
oferecia água encanada, sistema de esgoto, salas de banhos e requintada decoração nas
suas partes internas.
Outros pontos interessantes do cotidiano romano dizem respeito à educação. Os filhos
das classes ricas aprendiam com seus professores particulares (boa parte deles escravos) a
ler e a escrever latim e grego. Além disso, eles adquiriam conhecimentos concernentes à
geografia, arquitetura, astronomia, religião e matemática. Restavam as crianças das classes
populares dedicarem-se às atividades artesanais e agrícolas.
Seguindo as tradições romanas, as mulheres eram orientadas para ser mães e esposas.
Elas estavam excluídas dos debates políticos. As mulheres das famílias nobres administravam os escravos e a casa. Somado a isso, restavam-lhes também ensinar a arte de tecer,
cozer e fiar às suas filhas. Enquanto isso, as mulheres pobres trabalhavam juntos com seus
maridos, chegando a gerenciar seus próprios empreendimentos, no caso de solteira.
O matrimônio tornou-se uma das instituições sociais mais valorizadas. A partir de doze
ou treze anos as jovens já podiam se casar. Normalmente, os casamentos eram combinados
entre as famílias dos nubentes, ou seja, os pais escolhiam os maridos de suas filhas. Outro
fato comum entre os romanos era o divórcio. Quando havia a separação legal, o pai da
noiva recebia de volta o dote oferecido no momento do casamento. Os filhos do casal
permaneciam, normalmente, com os ex-maridos.
A tradicional família romana
―As famílias, em Roma, tinham pelo menos uma notável diferença em relação às gregas, pois
existia muito mais igualdade entre os sexos. Não era negado às esposas o direito de ter
propriedades, desde que estivessem casadas sob o sistema sine manu, isto é, não
submetidos a autoridade – manu - total do marido. Além disso, as filhas poderiam dividir com
os filhos alguns tipos de herança. (...) O grupo familiar, entretanto, era
fortemente
hierárquico e patriarcal, dominado pelo homem mais idoso. A casa romana, o domus,
Religião
espelhava a vida urbana exterior nas relações mais complexas entre os sexos.‖
SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. Rio de Janeiro: Record,
A religião tradicional romana apresentava fortes semelhanças com a grega, ou seja,
consistia numa religião politeísta, desprovida de dogmas e da crença na recompensa depois
da morte. Havia dois tipos de culto: o particular e o público. O culto particular, organizado
pelo pater, oferecia homenagens às divindades protetoras das famílias, os deuses lares. Já o
culto público era organizado pelo Senado.
Em linhas gerais, as práticas religiosas na Roma Antiga caracterizavam-se pela veneração aos antepassados, aos deuses da cidade e à crença nos auspicium (demonstrações das
deidades através dos fenômenos da natureza).
O Panteão romano constituía-se de doze divindades principais, todos praticamente com
as mesmas atribuições dos deuses gregos, modificando apenas as nomenclaturas. Entre as
divindades estavam Júpiter (supremo deus), Juno (irmã e esposa), Netuno (deus do mar),
Baco (deus das festas, do vinho, do lazer e do prazer), Marte (deus da guerra), Ceres (deus
da colheita), Minerva (deusa da sabedoria e do valor), Diana (deusa da lua e da caça), Apolo
(deus da beleza e da destruição), Mercúrio (mensageiro e intérprete da vontade dos
deuses), Vênus (deusa do amor) e Vesta (deusa dos laços familiares).
Na religião romana também era perceptível o senso prático. Os romanos estabeleciam
com os deuses uma relação de troca, ou seja, eles só ofereciam homenagens às deidades,
se os seus desejos fossem atendidos. Dessa forma, os romanos não se preocupavam com os
aspectos éticos.
Jesus e o cristianismo
O cristianismo trouxe profundas mudanças na vida religiosa entre os romanos. Surgido
na Palestina, essa religião baseava-se nos ensinamentos de Jesus. Segundo o Novo
Testamento, Ele nasceu em Belém de Judá no governo de Otávio Augusto. Aos trinta anos,
iniciou suas peregrinações pelas aldeias e algumas cidades da Palestina. Com um grupo de
doze apóstolos, Jesus pregava o amor ao próximo, a prática da humildade e o desapego aos
bens materiais.
As idéias defendidas por Jesus desagradaram aos sacerdotes judeus e à elite romana.
Por isso foi visto por essas autoridades como um rebelde, sendo condenado à crucificação.
O trabalho dos apóstolos Pedro, Paulo, João, Mateus e Marcos foram essenciais para a
difusão do cristianismo no Império Romano depois da morte de Cristo. À medida que os
números de seguidores cristãos iam aumentando, as autoridades romanas iniciavam uma
rígida perseguição. As principais razões dessas perseguições foram à rejeição dos cultos aos
deuses romanos, aos imperadores e à crença em um Deus único e universal.
O Sermão da Montanha
E JESUS, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os
seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos
céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo
o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram
os profetas que foram antes de vós.
Texto extraído da Bíblia Sagrada.
O Sermão da Montanha (1890), pintura de Carl Heinrich Bloch. Com um grupo de doze apóstolos, Jesus pregava o amor ao
próximo, a prática da humildade e o desapego aos bens materiais.
Por muito tempo os cristãos foram perseguidos até que em 313, o imperador
Constantino concebeu a liberdade de culto a eles por intermédio do Edito de Milão. Em 391,
Teodósio publicou o Edito de Tessalônica que transformou o cristianismo a religião oficial do
Império.
Língua e Literatura
Um outro legado importante dos romanos foi a língua latina. Durante a Idade Média,
surgiram as línguas neolatinas: o português, o catalão, o espanhol, o romeno e o italiano.
No campo da literatura, a princípio, os romanos escreveram comédias e tragédias
semelhantes aos dos gregos. Entretanto, por volta do século I d.C surge uma literatura
tipicamente latina. Os principais gêneros literários desenvolvidos foram a sátira, a história,
os tratados filosóficos e as cartas.
A literatura romana caracteriza-se pelo uso de rifão, ou seja, frases sucintas conhecidas
também como ditados populares. Observe alguns exemplos: ―O Amor tudo vence‖; ―De
pernas para o ar‖; ―Ninguém sabe antes de experimentar‖.
AUTORES
Plauto
(230-180 a.C)
Terêncio
(185?-159 a.C?)
Cícero
(106-43 a.C)
Lucrécio
(99-55 a.C)
Catulo
(84-54 a.C)
Júlio César
OBRAS
Esse dramaturgo, inspirado na produção grega, escreveu vinte e uma
peças. As mais importantes obras foram: Mercador, Miles Gloriosus ou
O soldado fanfarrão, Aulularia e Curculio.
Poeta e dramaturgo escreveu Andria e Phormio.
Político, orador e filósofo ficou famoso pelos seus excelentes discursos,
tais como Filípicas, Catilinárias e Saber envelhecer.Além disso produziu
tratado filosóficos, cartas, diversas orações e tratados de retóricas.
Poeta e filósofo epicurista escreveu ―Sobre a natureza das coisas‖.
Nesta obra lança as primeiras idéias fundamentais apra a microbilogia.
Poeta conhecido pelo uso da linguagem coloquial e improviso na
sintaxe.
Além de estadista, foi historiador e escritor, se tornando um dos ícones
(100-44 a.C)
Virgílio
(70-19 a.C)
Horácio
(65-8 a.C)
Ovídeo
(43-17 a.C)
Tito Lívio
(59-17 a.C)
da língua latina. Suas principais obras foram De Bello Galico e De Bello
Civili.
Considerado o maior expoente da poesia latina. È autor do clássico
―Eneida‖.
Poeta lírico e satírico. Tornou-se famoso pelas suas Odes.
Autor da obra ―A arte de amar‖. Os versos suaves e harmônicos de
Ovídeo influenciou Dante Alighieri e William Shakespeare.
Historiador e autor da obras Ab Urbe Condita "Desde a fundação da
cidade" e ―História de Roma‖.
Além desses escritores, pode-se ainda destacar Petrônio e Apuleio na prosa; Sêneca, na
tragédia e na filosofa; Pérsio Juvenal e Marcial na poesia; Plínio, o Velho, pensamentos
científicos referentes ao seu tempo; e Tácito e Suetônio, na área de história.
―Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse
teu rancor mos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)?
(Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos
eludet? quem ad fnem sese effrenata jactabit audacia?).‖
Cícero, Primeira oratória de Cícero contra Catilina (Oratio Prima (Habita in Senatu) - 8/11/63 a.C.). Exórdio. Cícero censura a
vergonhosa audácia de Catilina.
O calendário Juliano
Outra contribuição relevante para o mundo ocidental relaciona-se à contagem do tempo.
Em 46 a.C., Júlio César, orientado pelo astrônomo Sosígenes, estabelece um calendário
formado por 12 meses, correspondentes a 365 dias e 6 horas. Os meses eram constituídos
de 30 dias, existindo também intercalações de meses com 31 dias (a exemplo do nosso
calendário). A cada quatro anos havia o ano bissexto, ou seja, um ano com 366 dias.
Em 24 de fevereiro de 1582, o Calendário Juliano é substituído pelo Calendário
gregoriano. O responsável por essa modificação foi o papa Gregório XIII e aceito pelos
países ocidentais.
Arquitetura
No campo da arquitetura os romanos foram bastante originais. Seus arquitetos
desenvolveram várias técnicas de construções, tais como o uso das abóbadas e tetos
côncavos. Os romanos construíram estradas, sistema de esgotos, pontes, represas,
aquedutos, teatros, anfiteatros e templos religiosos.
Forum Romano.
O planejamento urbanístico foi uma outra área do conhecimento em que os romanos
se destacaram. As construções de termas públicas, jardins, os arcos do triunfo e os
obeliscos são outros exemplos de beleza e magnitude deixados pelos exímios arquitetos e
engenheiros romanos.
Escultura e Pintura
A escultura é fortemente influenciada pelos estilos
etrusco e grego. Os escultores romanos eram práticos
e realistas. As obras romanas apresentam muita
fidelidade com as pessoas retratadas. Semelhante aos
gregos, os romanos também valorizaram o senso de
beleza e perfeição. A intenção dos artistas romanos
era reproduzir esculturas de fácil interpretação.
A pintura romana contém uma diversidade temática:
animais, a vida cotidiana e atividades domésticas.
Seguindo os estilos helenísticos, os pintores romanos
fazem alusão aos prazeres do bucolismo, representando em suas obras cenas de rebanhos, paisagens da
natureza e casas campestres. A grande novidade implantada pelos artistas romanos foi o uso de
paisagens sob a ótica de profundidade e de perspectiva, técnica que os gregos não desenvolveram.
Estátua de Diana no Museu do Louvre.
Semelhante aos gregos, os romanos também
valorizaram o senso de beleza e perfeição.
O direito romano
O maior legado deixado pelos romanos para a civilização contemporânea foi, sem dúvida
alguma, o Direito. A necessidade de administrar um imenso império e de solucionar
múltiplas questões que surgiam cotidianamente fez com que os romanos criassem um
conjunto de leis para organizar a vida social e para resolver os conflitos. A rigor, o Direito
romano tem seu início com a Lei das Doze Tábuas, uma vez que ela já fazia distinção entre
o público e o privado.
Entretanto, a primeira sistematização das leis romanas remonta o governo de Augusto.
Nessa época, grandes juristas como Gaio, Ulpiano, Papiniano, Paulo Cícero, deram
contribuições decisivas para o desenvolvimento das práticas jurídicas.
O direito romano possuía três divisões básicas. O Jus civile ou Quiritium era aplicado
apenas aos cidadãos da cidade Roma. O Jus gentium representava as leis e normas que
eram válidas para todos os habitantes do Império. Já o Jus naturale consistia numa
filosofia estruturada nos princípios universais de justiça que pregava a liberdade de
expressão e a proteção de todos os indivíduos.
―Ninguém é forçado a defender uma causa contra a própria vontade. Ninguém sofrerá
penalidade pelo que pensa. (...) Nada que não se permita ao acusado deve ser permitido
ao acusador. O encargo da prova fica com aquele que afirma, e não com o que nega. (...)
N aplicação de penalidade, devem ser levadas em conta a idade e a inexperiência da
parte culpada.‖
HADAS, Moses. Roma Imperial. P.166.
TEXTO COMPLEMENTAR
Lula sanciona lei que aumenta penas por agressão à mulher
―O Brasil triplicou a pena para agressões domésticas contra mulheres e aumentou os
mecanismos de proteção das vítimas. A Lei de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher (Lei Maria da Penha), sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
aumentou de um para três anos o tempo máximo de prisão — o mínimo foi reduzido de
seis meses para três meses.
A nova lei altera o Código Penal e permite que agressores sejam presos em flagrante
ou tenham a prisão preventiva decretada. Também acaba com as penas pecuniárias,
aquelas em que o réu é condenado a pagar cestas básicas ou multas. Altera ainda a Lei
de Execuções Penais para permitir que o juiz determine o comparecimento obrigatório do
agressor a programas de recuperação e reeducação.
A lei também traz medidas para proteger a mulher agredida, que está em situação de
agressão ou corre risco de vida. Entre elas, a saída do agressor de casa, a proteção dos
filhos e o direito de a mulher reaver seus bens e cancelar procurações feitas em nome do
agressor. A violência psicológica passa a ser caracterizada também como violência
doméstica.
A mulher poderá também ficar seis meses afastada do trabalho sem perder o
emprego se for constatada a necessidade de manutenção de sua integridade física ou
psicológica. Será criado também um juizado especial de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher para dar mais agilidade aos processos.
O Brasil passa a ser o 18º da América latina a contar com uma lei específica para os
casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, que fica assim definida:
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. O texto define as formas de
violência vividas por mulheres no cotidiano: física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral.‖
Fonte: Agência Brasil, 07/08/06. Disponível em http://copodeleite.rits.org.br. Acesso em 28 de janeiro de 2008.
Analisando o texto
1. Faça um comentário sobre o tema abordado no texto.
2. Você acha a ―Lei Maria da Penha‖ justa? Justifique.
3. Qual a sua opinião sobre a necessidade de se criar com a finalidade de regulamentar as
relações sociais? Cite exemplos.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Escreva um pequeno texto relatando o cotidiano na Roma Antiga.
2. Aponte as principais características da religião romana.
3. Observe a letra da música ―Herói dos Heróis‖ da Banda Gospel Novo Som.
Uma missão coroada de paz
alicerçada nas mãos
do supremo criador.
no coração exalava o amor
incompreendido na terra,
a estrela da manhã
Mesmo sofrendo ele não reclamou.
olhou pro céu e pediu pela humanidade
naquela cruz o Herói dos heróis
venceu a morte e levou ou!ou!
sobre si os meus pecados.
Ele deixou sua glória no céu,
veio revelar a luz do sol da justiça.
Ele ensinou a verdade e o amor,
provou do beijo da morte,
se entregou em meu lugar.
Identifique na canção três princípios basilares pregados por Jesus Cristo que trouxeram
forte impacto ético para o Império Romano.
4. Faça um comentário sobre os principais escritores romanos.
5. Algumas palavras em espanhol, italiano e português apresentam, foneticamente, relativa
semelhança. Por exemplo: verdade (português); verità (italiano) e verdad (espanhol).
Justifique por que isso acontece.
6. Comente sobre a arquitetura, escultura e pintura romana.
7. (FUVEST) Indique e comente quatro elementos da Antiguidade greco-romana presentes
ainda hoje no mundo ocidental.
Fragmento 01
―Somos servos da lei para podermos ser livres‖ (Cícero)
Fragmento 02
―Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.‖
Artigo 5º da Constituição Federal
Há semelhanças entre os princípios do direito romano com os apresentados no
Fragmento 02? Justifique.
8. Faça um quadro sintético das principais contribuições deixadas pelos romanos para o
mundo atual.
9. Pesquise na sua cidade se há elementos (arquitetura, escultura, traçados urbanos)
desenvolvidos pelos romanos.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (COVEST) A sociedade humana realiza feitos, fabrica instrumentos, estabelece regras,
organiza grupos de convivência. Na política, essas ações são importantes e permitem
mudanças de comportamentos.
Analisando as experiências políticas dos povos da Antiguidade, podemos afirmar que:
a) o autoritarismo foi predominante, com ressalva para a sociedade grega, onde a
democracia se fez presente de forma ampla.
b) as monarquias vitalícias permitiram a centralização de poder apenas na Antiguidade
Oriental.
c) as religiões, com seu poder e a atuação de seus sacerdotes, foram decisivas para
resolver certas questões.
d) os governantes procuraram socializar as riquezas sociais, com destaque para o
estabelecimento da República em Roma.
e) as Assembleias Populares garantiram a ampliação das relações democráticas,
em Atenas e em Esparta.
2. (UESPI/COVEST) A preocupação romana, com as guerras e a manutenção do império,
não evitou que a religião tivesse grande importância na vida cotidiana. Nas suas crenças
religiosas, os romanos:
a) evitaram o politeísmo, seguindo os ensinamentos do cristianismo.
b) fugiram de divindades e de princípios religiosos que lembravam a falta de ética.
c) imitaram os gregos em muitos princípios e na aceitação das divindades.
d) desprezavam os cultos familiares, considerados supersticiosos e vazios.
e) tinham, inicialmente, uma religião ética e politeísta, com rituais rígidos.
3. (UFCG) Durante a Roma Imperial, os cidadãos que moravam na cidade de Roma viviam
em condições urbano-sanitárias bastante precárias. Todavia, morar na cidade era um dos
primeiros requisitos para demonstrar a sua civitas (sua condição de cidadão). Era o
primeiro passo para ser considerado cidadão ou encontrar uma forma de adquirir a tão
sonhada liberdade.
Sobre a vida cotidiana durante o período imperial romano é INCORRETO afirmar que:
a) Os banhos públicos não eram uma prática de higiene, mas um prazer recusado pelos
cristãos que só se banhavam uma ou duas vezes por mês.
b) Os romanos são, de alguma forma, clientes uns dos outros e têm como obrigação
saudar os seus patrões todos os dias pela manhã, conferindo-lhe honorabilidade,
que para o romano é um símbolo de riqueza e poder.
c) O serviço de abastecimento de água em Roma surgiu no século 11 a.C,
acompanhado por uma vasta rede de esgotos que despejava água servida no rio
Tibre, servindo indistintamente tanto a ricos quanto a pobres.
d) A ―cena‖ (ceia), principal refeição do dia, era feita a partir das 21 horas, quando os
cidadãos ricos se recolhiam às suas residências, acompanhados de escravos que,
carregando tochas, iluminavam as perigosas ruas romanas.
e) A habitação era uma realidade para o romano médio. Não há sem-tetos e todos
aqueles que não possuiam uma casa podem se instalar num albergue público,
financiado pelo Estado romano.
4. (UPE) A cultura foi um dos principais legados da Civilização Romana para a história
ocidental. Sobre a cultura romana antiga, é incorreto afirmar que
a) no teatro, a comédia foi o gênero mais privilegiado em Roma, destacando-se Plauto e
Terêncio.
b) a poesia lírica alcançou seu apogeu a partir do século VI a. C., destacando-se
especialmente os poetas Anacreonte e Píndaro.
c) na filosofia, adotou a idéia de que os homens deviam se libertar do medo dos deuses
e da morte, segundo a filosofia epicurista grega.
d) na historiografia, foi responsável por uma série de narrações históricas, dentre elas
os ―comentários sobre as Guerras das Gálias‖ de Júlio César.
e) em termos jurídicos, a mulher não podia ser julgada pelos tribunais públicos,
competindo ao pater famílias exercer o direito de justiça.
5. (COVEST) A importância do Direito Romano é marcante na cultura ocidental. Dividido
em vários campos, entre eles, o jus gentium, que:
a) ajudava a solução de questões administrativas, atingia os estrangeiros, independentemente de sua nacionalidade.
b) reunia os princípios filosóficos do Direito, garantindo uma teoria segura para a ação
política.
c) defendia apenas os deveres administrativos dos cidadãos romanos, evitando a troca
de nacionalidade.
d) era a base da administração da cidade de Roma, não se importando com os
habitantes das outras cidades.
e) se fundamentava em princípios da filosofia estóica, pois defendia a igualdade social e
jurídica.
6. (UFAC) Em relação ao colapso do Império Romano do Ocidente, assinale a alternativa
verdadeira:
a) A causa principal da dissolução do Império Romano ocorreu quando as cidades do
ocidente romano tornaram-se centros econômicos do império em florescente
processo de urbanização.
b) O Império Romano entrou em colapso, a partir do século III, quando Constantino
resolveu não mais conceder liberdade de culto aos cristãos.
c) A desintegração do Império Romano, no século V, foi provocado pela crise do
escravismo, pelo colapso econômico e pelas chamadas ―invasões bárbaras‖.
d) A desintegração do Império Romano teve como causa principal a divisão do império
em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente.
e) O Império Romano do Ocidente teve uma duração maior do que a existência do
Império do Oriente.
7. (COVEST) As culturas ocidentais e orientais são invenções humanas que respondem,
historicamente, a suas questões e a seus desejos. As religiões, desde os primeiros
tempos da cultura, são nesse sentido:
a) lugares onde a imaginação não tem espaço, mas, sim, a crença e a fé, em entidades
consideradas superiores.
b) formas de compreender o que acontece na trajetória histórica da humanidade,
afirmando muitos dos seus medos.
c) criações humanas, independentes das relações sociais, sem ligações com o poder
político existente.
d) espaços de construção de idéias importantes, onde a razão não possui nenhum
significado histórico.
e) instituições sociais sem significado para a organização econômica da sociedade,
ligadas apenas à fé em deuses.
8. (COVEST) Em uma casa romana aristocrática, habitada pelo pai da família, sua mulher,
esposa em justas bodas, filhos, filhas, escravos e ex-escravos libertos, cada um tinha
seu papel definido. Sobre os costumes das filhas de uma família aristocrática romana, é
correto afirmar que:
a) a jovem herdava o orgulho do pai, acrescido da fortuna que lhe cabia, a qual
geralmente não era transmitida ao marido.
b) em geral, as filhas de um nobre romano não tinham direitos iguais aos filhos homens
que herdavam mais bens patrimoniais.
c) cabia às filhas da nobreza romana apenas a clientela pertencente à sua estirpe.
d) em caso de morte dos pais, as jovens aristocráticas solteiras não poderiam comandar
uma casa romana; elas só mantinham suas posições de poder através de
casamentos.
e) ligações amorosas ou casamentos com viúvas da aristocracia romana eram proibidos
pela legislação romana, fundamentada no pátrio poder.
9. (UPE) Analise as alternativas abaixo e assinale aquela que não está relacionada à
religião romana.
a) A religião romana era um dos fundamentos do Estado, sendo utilizada com finalidade
política.
b) Havia dois tipos principais de culto: o privado, celebrado pelo chefe da família (pater
famílias) e o público, celebrado pelos sacerdotes romanos, com a supervisão dos
magistrados.
c) Era uma religião dualista e escatológica, apresentando deuses antropozoomórficos.
d) A religião romana não tinha doutrina ou dogmas. Entre os deuses e os seres
humanos, estabelecia-se um único compromisso: aqueles davam proteção, e estes
retribuíam com oferendas.
e) A religião romana era uma adaptação da religião da elite grega. Os romanos
mudaram os nomes de divindades gregas e adaptaram seu caráter de acordo com o
modo de vida romano.
10.(UPE) Sobre a cultura romana, assinale a alternativa incorreta.
a) A escultura romana procurava reproduzir, de modo realista, fisionomia dos indivíduos
retratados, sobretudo, dos grandes personagens públicos.
b) A arquitetura é o grande destaque da arte romana, justamente porque busca a
convivência do útil com o belo.
c) Por terem assimilado a literatura e a filosofia grega, os romanos não desenvolveram
estilo literário.
d) Nas construções, destacavam-se os arcos, as abóbadas e as cúpulas por seu aspecto
monumental.
e) A língua latina constitui uma das mais importantes permanências culturais da Roma
antiga entre os povos ocidentais.
11.(UPE) "Em geral diz-se que os romanos eram um povo prático e tecnológico, não muito
dado à especulação intelectual; quanto ao pensamento abstrato, eles se voltavam aos
gregos em busca de inspiração".
A afirmativa anterior feita por Colin Ronan (História Ilustrada da Ciência, vol. II):
a) é desmentida pelos feitos romanos na arquitetura e na matemática, onde se
destacam Plínio e Cícero.
b) constata uma realidade histórica geralmente confirmada pelos historiadores.
c) não procede, pois os romanos foram destacados na filosofia e no direito.
d) estaria correta se negasse a influência que os gregos tiveram na cultura romana.
e) é bastante incompleta, pois Cícero, pensador romano, é considerado o grande filósofo
da Antigüidade.
12.(UPE) A cultura foi um dos principais legados da Civilização Romana para a história
ocidental. Sobre a cultura romana antiga, é incorreto afirmar que
a) no teatro, a comédia foi o gênero mais privilegiado em Roma, destacando-se Plauto e
Terêncio.
b) a poesia lírica alcançou seu apogeu a partir do século VI a. C., destacando-se
especialmente os poetas Anacreonte e Píndaro.
c) na filosofia, adotou a idéia de que os homens deviam se libertar do medo dos deuses
e da morte, segundo a filosofia epicurista grega.
d) na historiografia, foi responsável por uma série de narrações históricas, dentre elas
os ―comentários sobre as Guerras das Gálias‖ de Júlio César.
e) em termos jurídicos, a mulher não podia ser julgada pelos tribunais públicos,
competindo ao pater famílias exercer o direito de justiça.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
História da Vida Privada: do Império Romano ao ano mil. Philippe Ariès e Georges
Duby (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras.
Jesus, o maior psicólogo que já existiu. Mark Baker. São Paulo: Sextante.
A cidade antiga. Fustel Coulanges. Tradução de Frederico Ozanam. São Paulo: Revista dos
Tribunais.
Contos e lendas do nascimento de Roma. François Sautereau. Companhia das Letras.
Império e família em Roma. Pedro Paulo Funari. Atual.
História de Roma. M. Rostovtezeff. Zahar.
Cinema
A Paixão de Cristo
Direção de Mel Gibson. EUA, 2004. 126 min.As últimas 12 horas da
vida de Jesus de Nazaré. No meio da noite Jesus é traído por Judas e
é preso por soldados no Monte das Oliveiras, sob o comando de
religiosos hebreus liderados por Caifás. Após ser severamente
espancado pelos seus captores, Jesus é entregue para o governador
romano na Judéia, Pôncio Pilatos, pois só ele poderia ordenar a pena
de morte para Jesus.
Sites
Panteão romano
Site em italiano que disponibiliza diversas informações sobre Roma Antiga, tais como:
mapas, galeria de imagens e os principais pontos turísticos de italiano. O portal ainda
oferece um seção para o internauta fazer um a viagem virtual na Roma Clássica.
Disponível em: www.italyguides.it/us/roma/pantheon.htm
CAPÍTULO 13
O feudalismo, 179
CAPÍTULO 14
Surgimento e
expansão dos
Impérios Bizantino e
Islâmico, 203
Colheita feita pelos servos.
Eles eram indissociáveis da terra.
As relações de poder ao longo da
História mostraram muitas
flexibilidades e intensas junções. No
período medieval, havia uma forte
ligação entre o poder espiritual e o
poder temporal. A Igreja Católica
tornou-se a principal instituição. Ela
ditava as normas de controle sociais e
monopolizava o saber. Desse modo, a
sociedade, a economia e política eram
influenciadas pelas concepções do
clero. Na imagem, servos trabalham
num feudo. Segundo a Igreja Católica,
a ordem social era uma escolha de
Deus: os que oram (clero), os que
lutam (os senhores feudais) e os que
trabalham (servos).
O Feudalismo
A Idade Média corresponde a um período que se estende do século V ao XV.
Didaticamente, divide-se essa etapa da história da humanidade em dois momentos
distintos: a alta Idade Média (V –XI) corresponde à formação e desenvolvimento do
feudalismo na Europa Ocidental além do surgimento e expansão das culturas Bizantina e
Islâmica no Oriente; já a Baixa Idade Média (XI-XV) caracteriza-se pela falência das
instituições feudais e pelas transformações no âmbito político, econômico, social e cultural.
O Presidente Lula cumprimenta o Papa
Bento XVI (Brasil, 2007). Na Idade Média
a Igreja teve papel fundamental na formação
do Feudalismo. O elo entre o poder temporal
e espiritual, desde o período medieval, vem
contribuindo para o fortalecimento da Igreja
Católica.
Por muito tempo, o mundo medieval ficou conhecido como ―Idade das Trevas‖. Devido
ao estabelecimento de várias instituições subordinadas à Igreja Católica, no século XVI,
alguns intelectuais propuseram tal conceito. Segundo os renascentistas, o medievo foi
marcado por um atraso cultural, artístico e filosófico, se comparado à Antiguidade Clássica.
No século XVIII, esse pensamento foi ratificado pelos iluministas. De acordo com eles, a
Idade Média simbolizava um momento sombrio, de ignorância e de terror, onde a população
era subjugada aos interesses religiosos.
No entanto, essa concepção pejorativa é rejeitada por boa parte de historiadores.
Buscando combater uma visão preconceituosa da Idade Média, surgiram diversos estudiosos
que contribuíram para a construção de um novo olhar sobre o período. Essa inovadora
perspectiva valoriza os avanços tecnológicos, os progressos da cartografia, o
aperfeiçoamento das técnicas de navegação e o desenvolvimento cultural da época.
Uma nova concepção sobre a Idade Média
―Homem de ofício, intelectual tem consciência da profissão que tem de assumir.
Reconhece a ligação necessária entre ciência e ensino. Já não pensa que a ciência deve
ser entousorada, antes está persuadido de que deve ser posta em circulação. As
escolas são oficinas donde se exportam idéias como mercadorias. No trabalho urbano o
professor aproxima, num mesmo movimento produtor, o artesão e o mercador. (...)
A estes artesãos do espírito, empenhados no desenvolvimento urbano do século XII,
nada mais resta senão organizarem-se no seio do grande movimento corporativo,
coroado pelo movimento comunal. Estas corporações de mestres e estudantes serão, no
sentido estrito da palavra, as universidades. Será essa a obra do século XIII‖.
LE GOFF, Jacques. Os intelectuais da Idade Média. Lisboa: Editorial Estúdios Cor. P.69-70.
A formação da Europa Ocidental
Com o declínio do Império Romano, os grupos étnicos germânicos começaram a se
instalar nas terras romanas. Esses povos ocupavam os territórios do Rio Reno até a parte
meridional da Escadinávia. Os povos germânicos eram nômades e praticavam a agricultura e
o pastoreio. A propriedade era coletiva sendo os rebanhos entregues aos mais destacados
guerreiros da comunidade. No período de conflitos elegia-se um líder para dirigir o grupo.
Entretanto, a aproximação dos germânicos com os romanos contribuiu para a dissolução
rápida das comunidades primitivas ‗bárbaras‘. Vale comentar que os romanos designavam
com esse nome todos os povos que não falavam latim e que não conheciam os seus
costumes.
Basicamente, dois fatores ajudaram a desintegração do sistema comunitário germânico.
A princípio, após os contatos com os romanos, desencadeou-se um processo de distinções
sociais entre os integrantes da tribo. Além disso, os chefes começaram a se apropriar das
terras da comunidade.
Mediante a essas mudanças, instalou-se um seleto grupo que lutava para ampliar suas
posses. Esse acontecimento contribuiu para o surgimento de uma nobreza, que não
praticava mais atividades campesinas, mantendo-se com a mão-de-obra servil e escrava.
Assim, formou-se uma categoria social privilegiada detentora de escravos e guerreiros que
vez mais longe dos interesses sociais da comunidade.
Segundo alguns historiadores, os romanos participaram diretamente dessas mudanças,
uma vez que instigavam as disputas entre os germânicos. Ao incentivar essas disputas, os
romanos esperavam fragilizar os germanos, facilitando, assim, o controle imperial sobre
eles. Em suma, da fusão dos costumes germânicos e da sociedade romana originou-se um
sistema econômico, político, social e ideológico denominado de Feudalismo.
As principais correntes migratórias que cruzaram as fronteiras do Império Romano, por
volta do século IV, foram os ostrogodos, visigodos, vândalos, anglos, lombardos, francos e
suevos. Vindo da Mongólia, os Hunos levaram terror para a população. Alguns historiadores
chegaram a compará-los a animais silvestres.
As entradas dos hunos e dos demais conjuntos de ‗bárbaros‘ em regiões romanas do
Ocidente e do Oriente possibilitaram a ocorrência de transformações no dia-dia da
sociedade. Essas incursões propiciaram uma crise mais agravante no Ocidente, haja vista
que os camponeses e habitantes da zona urbana pobres não tiveram como resistir à força
dos invasores.
A debilidade política nos grandes centros urbanos acelerou o processo de ruralização que
já estava em curso desde a ―crise do século III‖, iniciada pelo estabelecimento do colonato
no governo de Diocleciano.
A descentralização política e a ruralização constituíram em ingredientes fundamentais
para a constituição dos reinos bárbaros, reforçando, assim, o desenvolvimento das
instituições típicas do mundo medieval. Nesse período, o direito romano foi substituído pelas
concepções jurídicas dos ―bárbaras‖ e as línguas passaram por mudanças significativas.
A formação dos reinos “bárbaros”
O Reino dos Francos
Por volta do século V, a etnia dos francos estava fragmentada em diversas tribos, as
quais foram unidas por Clóvis no ano de 481. Ele as estruturou e delimitou as regiões
limítrofes do reino. Por isso tornou-se o primeiro rei dos francos, dando início à Dinastia
Merovíngia (referência ao rei Meroveu que governou entre 448 e 457).
―O antigo Estado romano foi substituído, a partir do século V, por reinos bárbaros de
estruturas diversas e frágeis se comparadas às romanas. Entretanto, as próprias
necessidades da guerra e da conquista de terras levam ao fortalecimento dos laços que uniam
o chefe do bando armado com seu próprio povo. A base deste novo Estado é um juramento
de fidelidade pessoal entre o chefe e seus companheiros de guerra, o que é um fato novo.
(...) A fidelidade é um problema pessoal, de homem a homem. Assim, o rei manterá relações
de fidelidade com cada um de seus grandes nobres.(...) Para os reis bárbaros, o reino é
compreendido como uma posse que pode ser partilhada ou concedida quando o rei
deseja retribuir um serviço ou dar condições para que um servidor se sustente.‖
SILVA, Francisco Carlos. T. da. Sociedade Feudal: Guerreiros, Sacerdotes e Trabalhadores.
São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 34-35.
Segundo alguns historiadores, os acontecimentos que consolidaram o poder de Clóvis
foram a conversão ao cristianismo dos francos e a instituição de uma aliança sólida com a
Igreja Católica. Com a morte de Clóvis, o reino dos francos foi dividido entre os seus filhos
que não tiveram a mesma habilidade política do seu pai, levando, desse modo, ao
enfraquecimento do poder real.
Por isso que em 732, o prefeito do palácio, Carlos Martel, após derrotar os árabes na
batalha dos Poitiers, conseguiu centralizar o poder.
Império Carolíngeo
Após o seu falecimento, Pepino, o breve, se torna rei, passando a relacionar-se com a
Igreja Católica. No seu governo, determinou-se o pagamento do dízimo e a doação de
grandes quantidades de terras à Igreja, o que possibilitou a criação do Estado Pontifício. No
ano de 751, Pepino destrona Childerico III, último rei da dinastia merovíngia, dando início a
uma nova sucessão monárquica.
Carlos Magno (768-814) sucede o seu pai Pepino, o Breve. Carlos conseguiu vencer os
lombardos e os saxões, obrigando-os a converter-se à religião cristã. Nesse sentido, o reino
franco tornou-se o mais impetuoso do ocidente. Carlos Magno tornou-se um exímio aliado
dos pontífces, unindo, assim, o poder espiritual e o temporal. A coroação, na cidade de
Roma, feita em 800 pelo Papa Leão III representou a hegemonia do poder do rei franco.
Esse evento marcou a fundação do Sacro Império Romano Germânico.
Carlos Magno, procurando centralizar e fortalecer o seu império, pôs em prática uma
política de incentivo cultural, conhecida como Renascimento Carolíngio. A reforma educacional foi elaborada pelo monge inglês Alcuíno. Esse projeto objetivava desenvolver nas
escolas um saber clássico estabelecendo os conteúdos programáticos calcados nas sete
artes liberais: o trivium, ou ensino literário (retórica, dialética e gramática) e o quadrivium,
ou ensino científco (geometria, aritmética, música e astronomia).
No ano de 787, foram emitidos decretos que instruíam, em todo o império, o restabelecimento de antigas escolas e a criação de novas. Institucionalmente, as escolas eram
divididas em duas categorias: as monacais (sob os cuidados dos mosteiros); as catedrais
(localizadas próximas à sede dos bispados); e palatinas (junto às cortes).
Após a morte de Carlo Magno, em 814, seu filho, Luís, o Piedoso, tentou trazer
estabilidade para o império. No entanto, a situação estava incontornável, numa sociedade
cada vez mais marcada pela descentralização e ruralização. A economia fraca devido à
escassez de moedas, provocando o não pagamento dos salários aos funcionários e aos
soldados.
A variedade de povos sob o domínio carolíngio e as novas ondas de invasões ‗bárbaras‘
nos século IX e X e as disputas internas pelo poder levou o Império para uma crise sem
precedentes. A situação ficou pior depois da morte de Luís, em 840, quando o território
franco foi partilhado entre os seus três filhos por intermédio do Tratado de Verdun, emanado
em 843.
A Feudalidade Europeia
As novas ondas migratórias (vikings, mouros, magiares) que atingiram a Europa
Ocidental, nos séculos IX e X, aceleraram o processo de descentralização política. Nesse
cenário, a nobreza passou a ter um maior controle sobre as propriedades. Enquanto, os
trabalhadores livres e os camponeses tornaram-se obedientes às ordens dos nobres de cada
região.
O aumento da mão de obra servil contribuiu para o desencadeamento das relações de
dependência e fidelidade entre os aristocráticos. Tal fenômeno tornou-se uma das principais
características do chamado Feudalismo que se estruturou e atingiu seu ápice, basicamente,
na Europa Ocidental no século IX.
Há diversos conceitos sobre feudalismo. Nessa obra, trataremos o feudalismo como o
resultado de uma síntese equilibrada entre as instituições romanas em derrocadas e a
sociedade germânica em desenvolvimento.
Devido às crises da mão de obra escravas dos séculos III e IV no Império Romano, os
nobres abandonaram a cidade com destino às grandes propriedades rurais (Villae). Nesses
locais eram explorados os coloni. Os coloni eram formados por ex-escravos e por
camponeses dependentes dos senhores de terra. Juridicamente eles tinham liberdade,
entretanto, não saim da propriedade.
Entre as principais contribuições germânicas, podem ser citadas o comitatus e o
beneficium. O comitatus estabelecia os laços de fidelidade mútua entre os chefes
militares e os guerreiros. Essa aliança baseava-se em trocas de obrigações tanto em sérvios
quanto em obrigações. Esse princípio de fidelidade originou as relações vassálicas, típicas do
feudalismo. Outra prática germânica que fomentou o sistema feudal foi o beneficum, que
significava a concessão do uso da propriedade em troca de tributos e serviços.
O que é feudalismo
―Um sistema de organização econômica, social e política baseado nos vínculos de homem a
homem, no qual uma classe de guerreiros especializados – os senhores -, subordinados uns
aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina
que explora a terra e lhes fornece com que viver.‖
LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Estampa, 1980.
Em linhas gerais, o feudalismo consistiu num sistema tipicamente europeu, cujas
características principais foram:
Relações sociais predominantes: suserania e vassalagem; senhores e servos.
Economia agrária, pastoril, subsistência ou auto-suficiente;
Fragmentação política caracterizada pelo poder local ou regional monopolizado pelos
senhores feudais;
Sociedade estamental ou fortemente hierarquizada;
As relações de dependência pessoal entre o suserano e vassalo tinha por finalidade
garantir aos nobres a ampliação das forças militares e das riquezas territoriais. O suserano
recebia o apoio bélico dos vassalos. Em trocas, estes, ganhavam os benefícios, que poderia
ser um feudo (lote de terras), uma quantia anual, uma armadura de cavaleiro ou a
concessão de cobrança das obrigações aos camponeses (ban).
A cerimônia de homenagem ratificava de forma solene, o acordo de lealdade e
fidelidade incondicional entre eles.
A cerimônia de suserania e vassalagem
―Eis dois homens frente a frente: um que quer servir; o outro que aceita, ou deseja ser chefe.
O primeiro une as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo: claro símbolo de
submissão, cujo sentido, por vezes, era acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a
personagem que oferece as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se
reconhece o homem de quem está na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na
boca: símbolo de acordo e amizade. Eram estes (...) os gestos que serviam para estabelecer
um dos vínculos mais fortes que a época feudal conheceu.‖
BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal.
Politicamente, o feudalismo foi caracterizado pela descentralização e vulnerabilidade do
poder do Estado. A autoridade na época feudal era local, ou seja, cada senhor possuía em
suas propriedades plenos poderes. È importante lembrar que o rei ainda existia, no entanto,
sua influência política era diminuta.
Desse modo, essa fragmentação política contribuia para o fortalecimento dos poderes
locais e para reforço das relações pessoais de vassalagem. Esse acontecimento provocou um
encadeamento de relações de suserania e vassalagem entre os nobres, resultando de forma
inusitada, no sistema de dependência onde boa parte dos nobres era simultaneamente
suserano de uns e vassalo dos outros
A sociedade feudal
A sociedade feudal caracterizava-se por uma rígida estratificação, ou seja, raramente
havia mobilidade social. A posição social era determinada pela riqueza do indivíduo, pelo
nascimento. A sociedade era constituída, basicamente, de três ordens: clero (oratores),
nobreza (bellatores) e camponeses/servos (laboratores). Essa estrutura social seguia a
vontade de divina.
―(...) Deus tinha distribuído tarefas específicas a cada homem; uns deviam orar pela salvação
de todos (clero), outros deviam lutar para proteger o povo (nobreza); cabia aos membros do
terceiro estado (servos), de longe o mais numeroso, alimentar, com seu trabalho, os homens
de religião e da guerra. Este padrão, que rapidamente marcou a consciência coletiva,
apresentava uma forma simples e em conformidade com o plano divino e assim sancionava a
desigualdade social e todas as formas de exploração econômica (...).‖
DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982.
Cada um desses três grupos sociais fixos possuía suas atribuições. Cabia ao clero,
segundo a vontade de Deus, rezar pela salvação de todos. Já aos nobres ou aristocratas sua
função consistia em lutar para proteger a sociedade de quaisquer perigos. Por último,
restavam aos camponeses trabalhar arduamente para produzir o necessário e manter todos
os componentes da sociedade.
Cada um desses grupos sociais se subdividia em diversas outras camadas endógenas.
Existiam vários tipos de trabalhadores na Idade Média Ocidental: os alódios (minifundiários
que cultivavam em seus lotes); os vilões (antigo donos de terras que habitavam as vilas);
os escravos (esse tipo de trabalho não desapareceu com o advento do feudalismo).
Todavia, vale destacar que mão-de-obra servil constituiu-se como a mais utilizada no mundo
feudal.
A tripartição da sociedade feudal – clérigos, nobres e servos - representava uma
organização, cujos privilégios e compromissos se harmonizavam. Os mais eruditos da época
tinham uma nítida percepção dessa divisão. Por isso houve uma vasta produção de
documentos homologando tal ordenamento social, interpretando-o como benevolente desejo
de Deus.
―A sociedade dos fiéis forma um só corpo; mas o Estado tem três corpos: com efeito,
os nobres e os servos se regem pelo mesmo estatuto (...) uns são os guerreiros,
protetores das igrejas; são os defensores do povo, tanto dos grandes como dos
pequenos. (...) A outra classe é a dos servos: esta desgraçada raça nada possui senão à
custa de sofrimento. Dinheiro, vestuário, alimento, tudo os servos fornecem a toda
gente; nem um só homem livre poderia substituir sem os servos.(...) O senhor é
alimentado pelo servo, ele, que pretende alimentá-lo. (...)
A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outros
combatem, e outros, enfim, trabalham. (...) Os serviços prestados por uma das partes
são a condição da obra das outras duas; e cada uma, por sua vez, se encarrega de
aliviar o todo (...). É assim que a lei tem podido triunfar e que o mundo tem podido
gozar de paz.‖
Apud: LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1984. v.2. p.45-6.
Colheita feita pelos servos.
Eles eram indissociáveis da terra. Se por acaso a
feudo mudasse de dono, os servos passariam a
cumprir suas obrigações com o novo senhor.
A sociedade feudal era fundamentada a
posse da propriedade da terra que garantia o
status, a autoridade e a influência política.
Nesse sentido, os senhores feudais representava a mais poderosa categoria social.
Vale enfatizar, que o acesso a terra estava
restringido à aristocracia feudal, formada
por: duques, barões, marqueses, bispos,
arcebispos e abades.
Os servos era indissociável da terra, ou
seja, estavam presos à propriedade. Se por
acaso a feudo mudasse de dono, os servos
passariam a cumprir suas obrigações com o
novo senhor. Enquanto isso, os vilões, em
menor quantidade, não eram tão ligados à
terra, sendo a vinculação com os senhores
menos rígida.
Não podemos classificar os servos como
trabalhadores livres, mas também não devemos designá-los como escravos. As diferenças básicas entre os servos e os escravos
são: os servos não poderiam ser retirados da
propriedade e nem poderiam ser vendidos a
qualquer momento, diferente dos ecravos;
uma outra situação que reforça essa teoria
consiste na condição dos servos possuírem
seus instrumentos de trabalho.
Em troca das liberações dos lotes de terras, os servos e os vilões deveriam cumprir um
conjunto de obrigações com os seus senhores. As principais eram:
Census ou foro: tributo pago em dinheiro ou em produtos pelos vilões para alocação
das terras;
Corvéia: prestação de serviços obrigatório e gratuito na reserva do senhor durante
alguns dias da semana (geralmente três dias). Essa obrigação poderia ser paga também
pela execução de outras atividades, tais como a construção de estradas ou pontes;
Talha: parcela da produção agrícola ou do rebanho do manso servil paga ao senhor;
Champart: pagamento de uma parte da produção das terras aráveis;
Banalidades: taxas pagas pelo uso das instalações (o forno, o lagar, o moinho, o
celeiro) e instrumentos (a enxada, o arado) pertencentes ao senhor;
Capitação: taxa paga de acordo com o número de membros da família do servo;
Mão-morta: pagamento de uma tarifa efetuada pelos herdeiros do servo morto com a
finalidade de permanecer explorando o manso;
Dízimo: os servos deveriam destinar 10% da produção à Igreja;
Formariage: taxa paga pelo servo para adquirir a licença para se casar.
Somada as esses compromissos, os vilões e os servos eram ainda obrigados alojar e
alimentar os senhores e sua equipe em caso de viagens. Com tantas tributações, os
camponeses viviam em situação de extrema miséria. A construção de suas casas eram
frágeis e precárias. Os alimentos que restavam eram insuficientes para suprirem os
camponeses, uma vez que a maior parte da produção ficava com o senhor.
O medo da miséria na Idade Média
―A grande maioria das pessoas vivia no que seria, para nós, uma extrema pobreza. As
descobertas arqueológicas mostram isso claramente. (...) É preciso imaginar esses homens e
mulheres vestidos, em grande parte, com peles de animais, mas não mais bem alimentados
do que a época neolítica – falo das pessoas do povo, pois essa sociedade era estritamente
hierarquizada. Os trabalhadores eram esmagados sob o peso de um pequeno grupo de
exploradores, homens da guerra e homens da Igreja, que saqueava quase todo o excedente
da produção. (...) Em contrapartida, não podemos falar de miséria verdadeira, pois as
relações de solidariedade e fraternidade faziam com que a pouca riqueza fosse redistribuída.
Essa terrível solidão do miserável que vemos hoje em dia, no metrô, não existia.‖
DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000 – na pista de nossos medos. P.26-7.
Esses fatores provocaram uma elevada taxa de mortalidade infantil e uma ínfima
expectativa de vida. Por esses motivos, o crescimento vegetativo ou populacional nessa
época é bastante reduzido.
Economia
A grande propriedade rural ou o feudo era marcado pela auto-suficiência, haja vista
produzia quase tudo para consumo imediato. A economia feudal fundamentou,
essencialmente, na produção da terra que se tornou símbolo de poder político e ideológico.
Desse modo, a produção passou a ser estruturalmente agrícola ou auto-suficiente.
Entretanto há autores que discordam com essa tese.
―Devemos abandonar a imagem, exagerada, de uma agricultura feudal fechada, isolada e
auto-suficiente. É verdade que a pequena propriedade fazia com que qualquer acidente
natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano (guerras, trabalho inadequado
ou insuficiente) provocasse períodos de escassez. Dessa forma, sempre assustados com a
possibilidade da fome, cada senhorio procurava suprir suas necessidades, produzindo para
seu consumo tudo que ali fosse possível. Mesmo em solos pouco favoráveis a determinados
cultivos, não se deixava de produzi-los, ainda que de má qualidade e em pequena
quantidade, para não se depender de outros locais. Mas quando era preciso recorrer à
produção de outras regiões, havia circuitos comerciais para isso. Em suma, era uma
agricultura apenas tendente à subsistência.‖
FRANCO JÚNIOR, Hiário. O Feudalismo. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. p.31.
Entre os séculos IX e X, a extração de excedentes era bastante pequena. Esse fato pode
ser justificado pelo desinteresse por parte dos servos em aumentar a produtividade, uma
vez que isso elevaria mais ainda suas obrigações perante os senhores. Por outro lado, deve
ser visto também que aos nobres não interessam ampliar a produção, pois só lhes
interessavam reter dos camponeses o mínimo para garantir a sua sobrevivência e de sua
família.
As atividades artesanais também estavam presentes na economia feudal. Essa produção
manufatureira era desenvolvida por artesãos itinerantes ou pelos próprios servos. Nos
domínios feudais produziam-se móveis, armas, vinhos, derivados de leite, utensílios de
couro e metal, tecidos e óleo.
Organização do feudo
A propriedade feudal dividia-se em três importantes partes:

Reserva senhorial
Compreendiam as terras de uso exclusivo do senhor feudal. A sua extensão se
aproximava de um terço do feudo. Essa área era cultivada pelos camponeses, os quais
trabalhavam alguns dias da semana gratuitamente (corvéia). Tudo que fosse produzido
nesse domínio pertencia ao senhor do feudo.

Reserva servil
Correspondia os lotes de terras exploradas pelos servos (camponeses) e sua
parentela. Em contrapartida, eles repassavam parte da produção agrícola ao senhor
feudal (talha).

Manso comunal
Área de uso comum. Essa faixa de terra era constituída de pastos, terrenos baldios e
florestas, que forneciam madeiras, mel e frutas. A caça também era uma prática
cotidiana nessa reserva, entretanto, esse privilégio era destinado apenas aos senhores.
Divisão do feudo.
Basicamente o feudo dividia-se em:
manso senhoril, manso servil e manso
comunal.
No domínio servil desenvolveu-se o sistema trienal, técnica baseada no uso revezado do
solo no período de três anos. Os servos alternavam o cultivo dos produtos em três campos,
dividindo-os em faixas a fim de não desgastar os nutrientes do solo.
A importância da Igreja Católica Medieval na construção das suas
concepções de mundo
A hegemonia da Igreja durante o período medieval se deu no âmbito social, econômico,
político e cultural. Ela teve papel importante para a consolidação do sistema feudal, pois
lançou as bases da sociedade medieval, alcançou a unidade religiosa entre os cristãos,
interferiu nos conflitos da época e nas sucessões dos reis.
No princípio da Alta Idade Média, devido à ruralização econômica e a falta de um poder
laico forte, a Igreja tornou-se a única instituição coesa, assim, tinha condições de atuar em
vários setores da vida social.
Ricardo André Frantz
Fachada da Basílica de São Pedro (Vaticano), Sede da Igreja Católica.
A hegemonia da Igreja durante o período medieval se deu no âmbito social, econômico, político e cultural.
O poder da Igreja aumentou no decorrer da Idade Média, do ponto vista econômico, com
a anexação de terras e enriquecimento financeiro por intermédio de múltiplas formas, tais
como o ―Tostão de Pedro‖ (dízimo). Além disso, diversas doações eram feitas pelos
monarcas e pelos senhores laicos, transformando, assim, a igreja numa ‗grande senhora
feudal‘.
A força da Igreja Medieval
―Por toda a Europa reinava apenas uma Igreja; se um homem não era batizado na Igreja,
não era membro da sociedade. Quem quer que fosse excomungado pela Igreja perdia
automaticamente seus direitos civis e políticos (...). Era a Igreja que insistia em recomendar
que os pobres não jejuassem tanto quanto os ricos e que proibia trabalho servil aos
domingos. Era a Igreja que prestava serviço social aos pobres (...). Durante muito tempo
nunca houve outra fonte de educação, além da eclesiástica.
E era enorme a autoridade que a Igreja possuía, não só sobre as almas dos homens como
também sobre os negócios.‖
FREMANTLE, A. Idade da Fé. Rio de Janeiro: José Olímpio.
O catolicismo conseguiu sua afirmação por meio de variadas políticas conciliadoras ou
por pressão de alguns governantes. Percebe-se, dessa maneira, que a conversão ao
cristianismo, muitas vezes, não se deu por livre e espontânea vontade.
Durante boa parte da Idade Média, a Igreja monopolizava a cultura erudita e controlava,
ideologicamente, as massas de camponeses. Numa sociedade de muitos analfabetos, o clero
conservou a cultura letrada grecorromana. Vale destacar que, embora a cultura fosse usada
para atender sos interesses religiosos, a igreja desempenhou um papel decisivo para a não
estagnação do saber. Segundo alguns historiadores, a Igreja tornou-se a ‗guardiã‘ da cultura
clássica.
A Igreja católica Romana acumulou muita riqueza material e detinha muito respeito das
pessoas na esfera espiritual. Hierarquicamente, a Igreja Medieval organizava-se em Alto
Clero/Regular e Baixo Clero/Secular.
O Alto Clero era composto pelos cargos de direção, a saber, os bispos, os abades. Os
membros do Clero regular eram aristocratas. Já o Baixo Clero era constituído pelos padres,
frades e elementos vindos das camadas mais pobres.
Cabia ao clero secular entrar em contato com as coisas do mundo, evangelizando e
buscando a conversão dos ―bárbaros‖ e dos incrédulos. O clero regular ficava nos mosteiros.
Suas principais tarefas eram obedecer às regras impostas, preservar a cultura e ampliar as
riquezas da Igreja.
O chefe da Igreja Cristã chamava-se Bispo de Roma que, no ano de 455, passou a ser
denominado de Papa. Ele tinha o controle direto sobre o Patrimônio de Pedro, as grandes
quantidades de terras. Enfim, essa rígida estrutura hierárquica possibilitou a estabilidade da
Igreja perante as várias crises que assolaram a Europa entre os séculos V e VIII.
Os clérigos medievais assumiram a posição de intermediários entre os homens e Deus.
Durante a época medieval, a Igreja sempre buscou gerar nas pessoas receios sobre a vida
eterna através dos males do mundo.
O alto índice de violência, o medo da morte e as dúvidas concernentes aos ‗desejos
pecaminosos‘ tornaram-se instrumentos básicos utilizados pela Igreja para manipular as
pessoas. O objetivo do clero era criar nos indivíduos um aguçado princípio de culpa. Além
disso, a Igreja usou do poder simbólico para amedrontar as pessoas. O exemplo mais claro
foi a grande difusão da figura do diabo e do inferno.
Para proteger os fiéis das astúcias dos demônios, foram apresentados pela Igreja os
Santos e os protetores. Esses seres celestiais tinham poderes de neutralizar as ações
demoníacas e simultaneamente auxiliar as pessoas nos problemas do cotidiano, oferecendo
ainda proteção aos adultos e às crianças.
A historicidade da Igreja Católica
―A Igreja, durante toda a Idade Média e até o século XVII (...), era algo de muito diferente
daquilo a que chamamos hoje Igreja. Guiava todos os movimentos do homem, do batismo ao
serviço fúnebre, e era o caminho de acesso a essa vida futura em que todos os homens
acreditavam fervorosamente. A Igreja educava as crianças; nas paróquias de aldeia – onde a
massa da população era iletrada – o sermão do pároco era a principal fonte de informação
sobre os acontecimentos e problemas comuns, e de orientação da conduta econômica. A
própria paróquia constituía uma importante unidade de governo local, coletando e
distribuindo as esmolas que os pobres recebiam. A Igreja controlava os sentimentos dos
homens e dizia-lhes em que deviam acreditar, proporcionava-lhes distrações e espetáculos.‖
HILL, C. A Revolução Inglesa de 1640. Lisboa: Presença. p.19-20.
É interessante relatar que nesse momento há uma fusão entre as práticas pagãs e as
doutrinas cristãs adquirindo forte tendência popular, cujos sinais podem ser vistos nos dias
atuais.
A Igreja, no período medieval também praticava atos caridosos. Às vezes ela dava
assistência aos miseráveis e aos desabrigados. Havia nos tempos de festas da nobreza, a
distribuição de alimentos aos famintos. As festividades religiosas simbolizavam um
momento de tranqüilidade e comunhão, amenizando a sofrível realidade dos camponeses.
É interessante relatar que nesse momento há uma fusão entre as práticas pagãs e as
doutrinas cristãs adquirindo forte tendência popular, cujos sinais podem ser vistos nos dias
atuais.
A Igreja, no período medieval também praticava atos caridosos. Às vezes ela dava
assistência aos miseráveis e aos desabrigados. Havia nos tempos de festas da nobreza, a
distribuição de alimentos aos famintos. As festividades religiosas simbolizavam um
momento de tranqüilidade e comunhão, amenizando a sofrível realidade dos camponeses.
Resistências e heresias
No século XI, multiplicaram-se os mosteiros e as paróquias. Todavia, os componentes do
clero permaneciam sendo nomeados pelos senhores feudais e os reis. Essa intervenção do
poder temporal (soberanos) sobre o espiritual (Igreja) resultou em diversas discussões a
partir do século XI.
Segundo as normas da Igreja, o clero de Roma deveria ser nomeado pelo papa, cabia
aos cônegos eleger os bispos e estes escolher o cura. Entretanto, na prática, essas leis não
se aplicavam.
Os senhores feudais e o Imperador do Sacro Império Romano tinha controle sobre os
papas. Enquanto isso, os reis nomeavam os bispos. Enfim, os não-religiosos de-cdiam sobre
os assuntos do clero. Por isso, alguns setores da Igreja intervieram contra essa realidade, a
fim de mudar a situação.
Os casamentos dos padres tornaram ainda mais complexa a situação da Igreja, uma vez
que os curas passaram a se dedicar mais aos familiares do que as obras eclesiásticas.
Por esses motivos surgiu, no século X, um movimento reformador dentro da Igreja
Católica que tinha como objetivo execrar com as práticas anticristãs vivenciadas na época.
Em 910, no sul da França, foi criada a Ordem de Cluby, conhecida também
como
Ordem Beneditina. Isso porque seguiam às normas direcionadas por São Bento.
Os monges de Cluny defendiam o celibato obrigatório, opondo-se ao cesaropapismo
(mistura do poder espiritual com o temporal) e à simonia (venda de cargos e relíquias
religiosas). A Ordem de Cluny acreditava que essa doutrina resultaria numa moralização da
Igreja, reformando-a e colocando-a no caminho da verdadeira fé.
As idéias reformadoras dos beneditinos expandiram-se pela Europa. No século XI, a
abadia de Cluny possuía mais de 200 mosteiros que obedeciam às regras beneditinas.
Influenciado pela Ordem de Cluny, o papa Gregório VII, nesse mesmo século, implantou
uma série de reformulações na Igreja Católica. Entre pontos principais dessa reforma
estavam o fim da simonia, os senhores feudais foram proibidos de nomear bispos e a
obrigatoriedade do celibato clerical.
Entre os séculos XI e XII, a Igreja Católica vive um período de turbulência. Nesse
período, surgiram diversos movimentos questionando os dogmas cristãos. Para combater as
idéias dos hereges (contrários à doutrina católica), a Igreja organizou, no século XIII, o
Tribunal do Santo Ofício.
Os principais grupos que criticava a opulência eclesiástica eram os cátaros (puros)
patarinos e valdenses. Todos eles foram perseguidos com extrema violência e intolerância.
Enfim, essas contestações às práticas abusivas da Igreja medieval pavimentaram o caminho
para as reformas religiosas protestantes implantadas no século XVI.
Ordens mendicantes: os caminhos de São Francisco
A Igreja Católica, como já foi visto anteriormente, era a instituição mais poderosa da
Idade Média. Influenciava toda a conduta moral, social, cultural e política da época. Os
papas, bispos e arcebispos possuíam muitas riquezas e gozavam de muito luxo e privilégios.
Nesse sentido, eles estavam bastante distantes dos genuínos ensinamentos de Cristo, ou
seja, ter uma vida calcada na sobriedade e humildade.
As reações contra os caminhos seguidos pela Igreja contribuíram para o surgimento de
ordens monásticas que objetivavam resgatar os princípios fundamentais do cristianismo.
Em 525, São Bento criou na Itália a Ordem Beneditina com o propósito de retomar os
alicerces condizentes com a doutrina cristã, a saber, a humildade, a solidariedade e a
fraternidade. Os beneditinos eram guiados pela regra ora et labora (orar e trabalhar) o que
significava ter uma vida fundamentada na obediência, castidade e austeridade.
Nesse contexto foi criada outra corrente de protesto contra Igreja, a ordem dos
dominicanos. Fundada por Domingos de Guzman (1170-1221), essa ordem tinha a
pretensão de propagar a genuína doutrina cristã e dedicar-se à pregação, ao ensino religioso
e conservação dos verdadeiros preceitos bíblicos.
São Francisco de Assis (1182-1226) também defendia os votos de pobreza. Ao fundar a
―Ordem dos Frades Menores‖ (franciscanos), ele abriu mão dos bens que possuía e iniciou
uma árdua luta em favor dos menos favorecidos. Segundo pesquisadores, por essa postura,
ele se tornou o mais radical dos eclesiásticos. Atualmente, São Francisco inspira pacifistas,
ambientalistas e os defensores da desigualdade social no mundo.
―A feliz estratégia de São Francisco de descer do púlpito e ensinar exemplos de conduta talvez
seja o principal motivo para que sua pregação tenha atravessado os tempos. Apesar de sua
mensagem ter sido sufocada pelos papas e cardeais que conheceu em vida, e ainda bastante
amenizada após a sua morte, ocorrida em 1226, basta ver que, passados mais de sete
séculos, São Francisco continua a ser, de longe, o santo mais popular entre os católicos do
mundo inteiro. Ele é o santo inspirador dos jovens inconformados com a miséria e a injustiça
do mundo, dos amantes da natureza que o elegem patrono da causa ecológica, dos hippies e
dos pacifistas que aspiram à harmonia entre povos, culturas e religiões por meio da
tolerância. É, enfim, um santo quase para todas as causas.‖
ROMANINI, Vinícius. Revista Nos caminhos da Terra.
Reportagem especial ―Nos passos de São Francisco‖. Editora Peixes: São Paulo, 2004. p. 50.
Esses movimentos inovadores, dentro da própria Igreja, foram bastante significativos,
pois tentavam ser coerentes com os ensinamentos do cristianismo, criticando os grupos
eclesiásticos que se interessavam, exclusivamente, pelo luxo e o poder em seus ministérios.
Cultura medieval ocidental
A cultura da Europa Ocidental no transcurso do feudalismo caracterizou-se pelo
teocentrismo, ou seja, uma concepção que considera Deus como o principal ser do universo.
Desse modo, a produção cultural foi fortemente influenciada pela religiosidade da época.
Como a principal instituição do sistema feudal, a Igreja era a principal divulgadora da
cultura teocêntrica. Praticamente, todas as relações do saber foram legitimadas pela visão
divina.
A doutrina católica condenava o comércio, a usura (empréstimos com cobrança de juros)
e o lucro. Nesse sentido as artes, as ciências, as letras e a filosofia foram influenciadas pelo
pensamento religioso.
O principal tema utilizado nas artes tinha ressonância religiosa. Já na literatura, os
intelectuais só escreviam na língua oficial da Igreja Católica, o latim. Nas ciências, as
explicações sobre os fenômenos naturais eram interpretados de acordo com os
ensinamentos bíblicos. Por fim, a filosofia construia teses defendidas pelos doutores da
Igreja.
Numa sociedade marcada pela generalizada ignorância, a Igreja possuía dois
mecanismos poderosos para manipular as massas: a leitura e a escrita. Esse monopólio do
saber só começa a se debilitar, a partir do século XIV, quando surge um movimento cultural,
literário e científico, denominado Renascimento.
O cotidiano na sociedade feudal
As obras literárias e cinematográficas, tradicionalmente, transmitem uma visão errônea
sobre a vida dos nobres na sociedade feudal. Até por volta do século IX, boa parte dos
castelos medievais eram feito de madeira e terra, oferecendo pouca comodidade.
Posteriormente foram construídos fortificações de pedra, cujos pisos eram compostos de
palhas e esteiras. A partir do século XII torna-se comum o uso de tapetes e estofos. Além
disso, os castelos apresentavam pouca luminosidade, sendo a sua parte bastante úmida.
O cardápio das famílias nobres era farto, no entanto, apresentava pouca variedade de
alimentos. Os principais pratos eram feitos de carne, queijo, peixe, cenouras, ervilha, cebola
e feijão. Para a sobremesa utilizavam-se pêras e maçãs. Em suas refeições diárias, os
nobres comiam com as mãos.
Musée Conde, Chantilly, França
Jantar da Nobreza.
Os principais pratos eram feitos de carne, queijo, peixe, cenouras, ervilha, cebola e feijão.
Os membros da nobreza não praticavam nenhuma atividade laboriosa, sendo esta
condição típica da sua posição que ocupava na sociedade. Cabia aos nobres ocupar o tempo
com guerras, caçadas e torneios.
A violência fazia parte do cotidiano da sociedade feudal. Os nobres entravam em
conflitos por qualquer assunto banal. O gosto pela guerra fez com que a Igreja proclamasse,
no século XI, a Trégua de Deus. Tal medida proibia confrontos nos dias de sexta-feira,
sábados e domingos.
Os servos moravam em choupanas cobertas de barro. Essa habitação precária possuía
como mobília tábuas cobertas de palhas usadas como cama. O piso não tinha nenhum
revestimento, o que gerava várias infiltrações em períodos chuvosos.
Pão preto, verduras, sopa e queijo constituíam os principais produtos alimentares usados
pelos camponeses. Às vezes, carne e peixe apodrecidos complementavam a dieta. Devido às
péssimas condições nutricionais, o índice de mortalidade era muito elevado entre os
camponeses.
As festas populares
As manifestações culturais populares representaram uma reação à imposição aos
comportamentos sociais difundidos pelos clérigos e nobres. Durante a Idade Média, o riso
simbolizava a expressão do mau, segundo a concepção religiosa. Por ter sido proibido,
classificado como pecado, o riso se transformou numa forma de reagir contra a ideologia
oficial defendida pela Igreja.
Nesse período, os eventos populares mais conhecidos foram a festa dos loucos e a
festa do asno. Essas festividades caracterizavam-se pela a alegria, pelas brincadeiras e
pela descontração.
―Sob o regime feudal existente na Idade Média, esse caráter de festa, isto é, a relação da
festa com fins superiores da existência humana, a ressurreição e a renovação, só podia
alcançar sua plenitude e sua pureza, sem distorções, o carnaval e em outras festas populares
e públicas. Nessa circunstância, a festa convertia-se na forma de que se revestia a segunda
vida do povo, o qual penetrava temporariamente no reino utópico da universalidade,
liberdade, igualdade e abundância.‖
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no renascimento: o contexto de François Rabelais.
São Paulo/Brasília: Hucitec. p.8.
Essas festas ocorriam nas ruas, onde se permitiam o uso exagerado de comidas,
bebidas, gestos libidinosos, ridicularizarão do clero, nudez e, obviamente, muito riso. Desse
modo, a cultura popular apresentava sua força, conseguindo sobressair das amarras da
cultura da classe dominante.
É bom lembrar que as festas significavam momentos de exceção, pois a maior parte do
tempo, os servos tinham que trabalhar para cumprir suas obrigações perante os senhores.
Em linhas gerais, as festas populares simbolizam uma maneira de subverter a ordem política
e social de uma sociedade guiada pelas concepções religiosas.
Literatura e Música
A produção literária medieval poder ser verificada na poesia épica que narravam os
feitos heróicos. No século XII, ganha destaque a literatura dos trovadores. Tal estilo era
fomentado pela poesia romântica. A poesia trovadora valoriza os prazeres da vida, as
paixões e os amores.
A fusão dessas formas literárias resultou no romance cortês, caracterizado, simultaneamente, pelas batalhas épicas e pelas incríveis histórias de amor. As principais obras
nesse estilo foram a novela ―Tristão e Isolda‖ e o clássico ―Rei Artur e os Cavaleiros da
Távola Redonda‖.
Nos século XII e XIII, os goliardos (religiosos afastados de suas funções) tornaram-se
célebres artistas. Eles criaram poemas que exaltavam a bonança da vida e criticavam os
costumes da nobreza e da Igreja. Muitos goliardos tornaram-se cantores. Suas canções
satíricas e amorosas eram entoadas, geralmente, nas portas das universidades.
Já o canto gregoriano ou cantochão consagrou-se nas liturgias católicas. O cantochão é
um estilo musical marcado pela simplicidade e suavidade. As suas melodias são executadas
sem o acompanhamento de quaisquer intrumentos musicais.
Filosofia
Na Idade Média houve o desenvolvimento da filosofia. A Patrística e a Escolástica
foram as principais correntes de pensamento dessa época que almejavam conciliar os
saberes filosóficos aos princípios cristãos.
A filosofia Patrística remonta os séculos IV e V. A principal figura dessa escola foi Santo
Agostinho (. Baseado nas idéias de Platão, ele defendia a harmonização entre razão e fé.
Nesse sentido, os temas que mais preocupavam Santo Agostinho eram a moral, a natureza
divina e as relações entre ciência e fé.
Segundo estudiosos, Santo Agostinho conseguiu fazer uma síntese do pensamento
platônico e das doutrinas cristãs. Na sua obra, ―Cidade de Deus‖ relata a existência de um
lugar habitado pelos homens (cidade dos homens) cheios de pecados e corrupções. No
entanto, há um outro local alicerçado na pureza e na felicidade, denominado por ele de
―Cidade de Deus‖. Esse lugar celestial fora construído pelos predestinados e pela gratidão de
Deus.
No século XII ocorreram algumas transformações interessantes no campo do saber, uma
vez que os mosteiros cederam espaço às escolas catedráticas e o ensino tornou-se laico, ou
seja, desvinculou-se dos parâmetros dos clérigos. Desde então, a atividade de ensinar se
tornou uma profissão.
Nesse contexto, nesse mesmo século, surge outra corrente filosófica e teológica que
busca trazer o equilíbrio entre fé e razão, a Escolástica. Calcado no pensamento do filósofo
grego Aristóteles, São Tomás de Aquino (1225-1274) compagina na sua obra ―Suma
Teológica‖ a síntese entre filosofia e teologia numa tentativa de orientar homem rumo a
Deus. Tomás de Aquino também escreveu sobre política, ética, teoria do conhecimento e
antropologia.
Arquitetura
A arquitetura adotou uma estética claramente religiosa. Essa manifestação artística foi
representada por dois estilos: o românico e o gótico. O primeiro tem seu apogeu
alcançado entre os séculos XI e XII. O românico seguia as concepções arquitetônicas
romanas, ou seja, construções de linhas horizontais simples com arcos e abóbadas
sustentadas por estruturas espessas e volumosas. Além disso, eram usadas poucas janelas
nas obras românicas.
Já o padrão gótico desenvolveu-se no princípio da Baixa Idade Média. O gótico
caracterizava-se por um estilo leve, possuindo torres enormes e pontiagudas. Nas
construções góticas usavam-se também janelas com formato de ogiva e os vitrais que
possibilitavam forte luminosidade nas catedrais.
Magnus Manske
Vitrais da Catedral de Notre-Dame de
Reims, França.
Nas construções góticas usavam-se janelas
com formato de ogiva e vitrais que possibilitavam forte luminosidade nas catedrais.
TEXTO COMPLEMENTAR
Igreja vai à Justiça contra pílula do dia seguinte no carnaval de Recife
“A Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife entrou hoje (28) com representação
em que pede à Promotoria de Saúde do Ministério Público de Pernambuco a suspensão da
distribuição de pílula anticoncepcional de emergência (levonorgestrel 0,75 mg) durante o carnaval
no estado. A oferta do medicamento pelas secretarias municipais de saúde de Recife, Olinda e
Paulista, em postos emergenciais montados em locais de grande concentração de foliões, foi
anunciada na semana passada.
Segundo o biomédico Vandson Holanda, coordenador da Pastoral da Saúde, a pílula é abortiva
e por isso seu uso, fora dos casos em que o aborto é permitido por lei, fere a legislação brasileira,
que protege a vida desde a concepção.
―Uma coisa é a posição da Igreja e outra é o que ela considera ilegal. A posição da Igreja é
contra [a pílula] em qualquer circunstância. É ilegal a distribuição: a lei brasileira só autoriza o
aborto em casos de estupro ou má formação fetal. A gravidez não pode ser interrompida em caso
de mulheres que tiveram relação sexual desprotegida‖, argumentou Holanda. Durante entrevista
coletiva em que a medida judicial foi anunciada, o biomédico afirmou que a arquidiocese só voltará
atrás se o Ministério da Saúde garantir que o medicamento não interfere na nidação (processo de
implantação do embrião no aparelho reprodutor feminino) depois da fecundação. A polêmica,
ressaltou, ocorre por divergências no conceito de gestação e começo da vida. Para Holanda, tanto
o Ministério da Saúde como o Conselho Federal de Medicina, seguindo a Organização Mundial da
Saúde, consideram que a gestação inicia-se com a implantação do óvulo no útero, enquanto a
Igreja e até mesmo a lei consideram que ela começa a partir da fecundação do óvulo pelo
espermatozóide. A pílula começou a ser distribuída na rede pública de saúde em 2002, indicada
para casos de violência sexual, de relação sexual sem uso de método anticoncepcional ou de falha
de métodos anticoncepcionais (rompimento da camisinha, esquecimento de tomar pílulas ou
injetáveis, deslocamento do diafragma ou do DIU, uso incorreto de tabelinha).‖
Reportagem de Adriana Brendler. Disponível em www.agenciabrasil.gov.br. Acesso em 03 de fevereiro de 2008.
Ministro Temporão critica a postura da igreja contra distribuição de pílulas
―O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, criticou neste domingo, 27, a postura da
Arquidiocese do Recife, que ameaça entrar na Justiça para proibir a distribuição de
anticoncepcionais de emergência, conhecidos como pílulas do dia seguinte, pela prefeitura da
capital pernambucana. "A prefeitura está certa e a Igreja está equivocada", afirmou o ministro, em
entrevista após o lançamento da campanha de prevenção à Aids, que vai distribuir quase 20
milhões de preservativos durante o carnaval.
"É uma questão de saúde pública, não uma questão religiosa. Lamentavelmente a Igreja, cada
vez mais, se afasta dos jovens com esse tipo de postura", comentou Temporão. Segundo o projeto
da prefeitura de Recife, as pílulas serão entregues a mulheres que declararem, a médicos de
plantão, que tiveram relações sexuais e que suspeitam de falhas nos métodos contraceptivos
normais. A Arquidiocese do Recife classificou a proposta como "aberração". "O Ministério da Saúde
apóia e suporta a medida", reforçou o ministro.‖
Reportagem de Nicola Pamplona. Disponível em www.estadao.com.br. Acesso em 03 de fevereiro de 2008.
Analisando o texto
1. Durante o período medieval a Igreja Católica foi uma instituição que atuou bastante em
todas as esferas da vida social. Após a leitura dos dois textos você acredita que a Igreja
católica ainda tenta intervir em temas sociais com o objetivo de impor suas doutrinas
religiosas? Justifique.
2. Após a leitura dos textos você é favorável ou contrário a liberação das pílulas? Justifique.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Caracterize a sociedade feudal e as relações sociais e políticas que prevaleceram na
Europa Ocidental na chamada Alta Idade Média.
2. Após a leitura do capítulo defina o que vem a ser o Feudalismo.
3. Explique como era organizado o feudo e comente sobre suas respectivas atribuições.
4. Enumere as principais contribuições servis e seus respectivos significados.
5. Explique o que vem a ser os laços de Suserania e Vassalagem
6. Atualmente, o juramento de fidelidade é bastante utilizado na celebração dos casa-
mentos ou em nos relacionamentos amorosos. Qual o sentido da fidelidade nos laços de
suserania e vassalagem?
7. Construa um texto mostrando as principais ações desempenhadas (social, econômica,
política e religiosa) pela Igreja Católica durante toda a Idade Média.
8. Qual a sua opinião sobre o papel desempenhado pela Igreja Católica na Idade Média?
9. (UFGO) A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram,
outros combatem, e outros, enfim, trabalham.
Bispo Adalbéron de Laon, século XVI, apud Jacques Le Goff. A Civilização do Ocidente Medieval.
Lisboa: Editorial Estampa, 1984, v.II. p. 45-6.
Caracterize a sociedade feudal, destacando a relação entre os que ―combatem‖
(nobreza) e os que ―trabalham‖ (servos).
10. (FUVEST) Se, para o historiador, a Idade Média não pode ser reduzida a uma ―Idade
das Trevas‖, para o senso comum, ela continua a ser lembrada dessa maneira, como um
período de práticas e instituições ―bárbaras‖.
Com base na afirmação acima, indique e descreva.
a) duas contribuições relevantes da Idade Média.
b) duas práticas ou instituições medievais lembradas negativamente.
c) faça uma síntese das principais manifestações culturais no período medieval.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) O feudo consistia em um território de dimensões variadas, conforme a região. Lá
estava edificado o castelo do senhor e, nas redondezas, as aldeias, as terras aráveis
divididas em domínio (área do senhor) e mansos (parcelas trabalhadas pelo servo e sua
família), áreas de uso comum... As mulheres, de acordo com a classe social a que
pertenciam, exerciam variadas funções. As camponesas trabalhavam com seus maridos
nas terras dos senhores feudais e, além disso, ainda tinham que cuidar dos afazeres
domésticos. (FARIAS, Ricardo de Moura. Estudos de História, 1. ed. São Paulo: FTD, 2009.)
Assim como o texto, as gravuras expõem a divisão do feudo, o trabalho servil, com
destaque para as mulheres trabalhadoras. Sobre as relações de produção no Sistema
Feudal, identifique a alternativa correta.
a) Observa-se, entre as gravuras, o arado puxado por bois o qual era muito utilizado na
agricultura feudal, provocando uma revolução técnica do trabalho , da
instrumentação para a mecanização.
b) A mulher, apesar de trabalhar tanto quanto o homem, estava sempre em grau de
inferioridade. A maioria estava destinada ao casamento e a uma vida submissa ao
marido.
c) Os senhores feudais possuíam muitas terras, defendi am o interesse dos servos e o
monopólio da cultura.
d) Os camponeses medievais tinham consciência de seu poder de transformação social.
Exemplo desse poder está na corveia.
e) As mulheres desempenharam funç ões importantes na sociedade medieval. As ca
mponesas auxiliavam suas famílias nas tarefas agrícolas cotidianas, enquanto as
pertencentes às famílias nobres se encarregavam da guerra e da distribuição do
feudo.
2. (UPE) O poder do Catolicismo foi marcante no mundo feudal. Apesar disso, surgiram
heresias que contestavam a força dominante e havia, ainda, algumas controvérsias na
construção das relações sociais da época. É correto afirmar que a Igreja Católica:
a) tolerava as diferenças, dando pouca importância aos seus opositores.
b) tinha boa relação com a aristocracia, possuindo, também, propriedades.
c) consagrou os princípios da filosofia helenista, mantendo o seu criticismo.
d) estava afastada das relações políticas devido aos desmandos dos nobres.
e) era influente no mundo da cultura, embora afastada da produção econômica.
3. (UPE) O pensamento católico marcou as formas de ser e de pensar na Europa, durante
a Idade Média. Sobre a produção cultural, ligada ao catolicismo no medievo, marque a
alternativa correta.
a) Apesar de, inicialmente, terem sido associadas à heresia, as ideias de John Huss
influenciaram o catolicismo romano a partir do século XIII.
b) O pensamento de São Tomás de Aquino contestava a filosofia de Aristóteles, expondo
o paganismo presente na obra do pensador clássico.
c) Os mosteiros beneditinos serviram como polos de vulgarização do saber teológico.
d) As primeiras traduções da Bíblia do latim para outras línguas, realizadas com o apoio
da igreja católica, datam da alta Idade Média.
e) Em sua obra, Santo Agostinho estabelece um diálogo com o pensamento de Platão.
4. (UPE) O mito construído, no contexto do Renascimento, de que a Idade Média foi um
período de trevas e ignorância na História, por força, principalmente, do papel
representado pela Igreja naquela sociedade, já foi desmontado pelos medievalistas.
Atualmente, sobre o lugar ocupado pela Igreja Católica na sociedade medieval, pode-se
afirmar que:
a) os elementos que compunham o alto clero, junto aos suseranos, tinham o domínio
sobre a cultura letrada e popular, cabendo, entretanto, aos padres do baixo clero o
papel de servos nas propriedades feudais.
b) o poder da Igreja católica ia além dos limites da vida religiosa, compondo-se o grupo
dos grandes proprietários de terra da época, exercendo o controle absoluto sobre o
saber erudito, em vista da ausência, por toda a Idade Média de qualquer outra
instituição cultural.
c) a organização eclesiástica, definida por volta do século III, não se pautava por uma
hierarquização do clero, cuja autonomia de Roma transformava-o em agente
irradiador da cultura.
d) o poder da Igreja, embora fosse imenso, extrapolando as fronteiras da vida religiosa,
e o catolicismo fosse o vínculo de união cultural da Europa da época, as
universidades foram centros de discussão e preservação da herança cultural oriunda
da Antigüidade Clássica e dos árabes.
e) a Igreja Católica foi a grande defensora dos direitos dos servos e vilões em todo o
Medievo, opondo-se sistematicamente aos senhores feudais, que, nas suas
propriedades, detinham poder absoluto, inclusive o de aplicar leis.
5. (COVEST) As religiões tiveram poder no decorrer da história influenciando as
relações políticas e sociais. A Igreja Católica, por exemplo:
a) conseguiu
manter-se
poderosa
durante
toda
a Idade
Média,
embora,
atualmente, esteja passando por dificuldades, devido à concorrência de outras
religiões.
b) foi importante para assegurar a existência de princípios éticos, combatendo as
ditaduras e colocando-se contra a escravidão nas colônias europeias.
c) criticou os atos imperialistas dos Estados Unidos nos anos 1960 e defendeu a
democracia nos países onde, no século XX, prevaleciam os totalitarismos.
d) esteve, sempre, na defesa da igualdade social, apoiando instituições que defendiam a
liberdade de expressão e procuravam erradicar o trabalho escravo.
e) continua poderosa na Europa, mas sofre críticas frequentes nos países da América
Latina, devido às relações com os governos autoritários.
6. (UPE) O crescimento da dominação romana exigiu organização de instituições para
controlar a diversidade cultural existente. Na religião, a convivência com outros povos
trouxe novas concepções de mundo para os romanos. O surgimento do Cristianismo foi
importante, porque:
a) fortaleceu antigos rituais religiosos que estavam em decadência, devido à falta de
espiritualidade dos sacerdotes romanos.
b) defendeu princípios éticos, em que destacavam o amor ao próximo e a luta contra a
desigualdade social.
c) se tornou imediatamente a religião oficial dos romanos, consagrando tradições
seculares vindas do Oriente Próximo.
d) abalou tradições da sociedade romana e suas instituições políticas, porém não
apresentou renovação na moral da sociedade.evitou a crise do império, fortalecendo
suas relações sociais com uma ética social baseada na solidariedade.
7. (IPAD) O predomínio do poder da Igreja Católica, na Idade Média, é historicamente
registrado em vários estudos. Na construção da arte medieval, o catolicismo influenciou:
a)
b)
c)
d)
e)
a
a
a
a
a
literatura que se restringiu a narrar a vida dos heróis e dos santos.
arquitetura com templos religiosos de grande porte.
música com a consagração do barroco e do canto gregoriano.
produção de peças teatrais que reproduziam o modelo grego.
pintura onde predominou o uso da perspectiva e do movimento.
8. (UPE) Sobre o feudalismo, considere as seguintes proposições:
I. A sociedade feudal se dividia em três ordens principais: nobres, membros do clero e
servos.
II. Na sociedade feudal, predominou a produção de bens agrícolas e pastoris, que tinha
como principal unidade produtora o senhorio e como forma de trabalho a
vassalagem.
III. No feudalismo, as relações sociais de produção baseavam-se na propriedade da terra
e na produção agrícola para consumo imediato.
IV. Ao clero cabia também o papel de justificar a dominação exercida pela Igreja
Católica, quando, difundindo a divisão tripartida da sociedade, afirmava que esse
modelo correspondia ao da sociedade criada por Deus.
Estão corretas:
a) somente I e II.
b) somente I, II e III.
c) somente I, III e IV.
d) somente II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
9. (COVEST) O feudalismo mantinha uma hierarquia social, em que os servos enfrentavam
muitas adversidades sociais, provocando uma pobreza acentuada e condições de vida
precárias. No entanto, nessa época, a nobreza:
a) possuía quantidades expressivas de terras e boa relação com a Igreja Católica,
usufruindo de muitos privilégios.
b) centralizava a vida política em seus feudos mais ricos, embora evitasse disputas
sangrentas e lutas para firmar seus poderes.
c) promovia torneios esportivos com incentivo a uma vida cultural intensa, marcada
pelo refinamento e pelo respeito aos mais velhos.
d) interessava-se pelo monopólio da economia, investindo nas corporações de ofício e
na vida urbana.
e) monopolizava a posse das terras mais produtivas, evitando o fluxo das atividades
comerciais e o desenvolvimento da vida urbana.
10.(UPE) Sobre o feudalismo, considere as seguintes proposições:
I. Apesar da existência de reis, no sistema feudal, a base do poder era local. Cada
feudo era governado por seu senhor, que fazia parte da nobreza.
II. Nas relações de Suserania e Vassalagem, o vassalo tinha a obrigação de cultivar a
terra e prestar serviços gratuitos ao seu suserano.
III. O clero encarregava-se da vida religiosa, e a ele também cabia o papel de justificar a
dominação exercida na sociedade pela Igreja Católica, a maior proprietária de terras
na época.
IV. A sociedade feudal tinha uma economia de base rural, com produção de poucos
excedentes e uma restrita circulação de moedas cunhadas no próprio feudo.
Estão corretas:
a) somente I e II.
b) somente II e III.
c) somente II, III e IV.
d) somente I, III e IV.
e) I, II, III e IV.
11.(UNAMA) Feudo é um termo que possivelmente veio do latim (feodum, ou do latim
vulgar feudum). Ele designa a terra que o senhor feudal outorgava a seus servos ou
vassalos em contrato de vassalagem. Por este contrato, comum no mundo feudal
europeu da Idade Média, as obrigações eram:
a) desiguais, pois o vassalo poderia plantar e ter proteção na terra feudal, em
contrapartida devia cumprir uma série de obrigações como a corvéia, a talha e
deveres militares e de hospitalidade para com os nobres, tornando-se seu servo.
b) parcialmente desiguais, pois os servos moravam nas terras senhoriais, pagavam
impostos e deviam obrigações aos senhores, mas estavam livres para trocarem de
senhores caso ocorressem abusos dos donos das terras.
c) relativamente igualitárias, porque – tanto os senhores se beneficiavam com o
trabalho e impostos dos servos – como estes recebiam terra de graça, roupa,
alimentos e proteção senhorial em uma relação de trabalho livre.
d) desigual e de trabalho obrigatório e gratuito do servo para com o senhor feudal, já
que este vassalo não apenas pagava impostos e tinha obrigações como a corvéia,
mas era tido como escravo ou propriedade de seu senhorio.
12.(UPE) A religião teve importância para a Idade Média em amplos aspectos da sua vida
social. Além do seu destaque político, merece ressaltar figuras, como Tomás de Aquino,
pensador influente, que, no período Medieval,
a)foi um crítico dos costumes da época, sendo partidário de heresias que incomodavam
o clero secular.
b)se firmou como um dos pensadores importantes da Igreja Católica, embora tivesse
ligações filosóficas com Aristóteles.
c) negou a necessidade de acreditar em Deus de forma institucional, defendendo o
pensamento de santo Agostinho.
d)influenciou as ideias da Igreja no período da Alta Idade Média, com sua exaltação da
fé individual.
e)se tornou o centro do pensamento cristão no Ocidente, construindo uma reflexão a
partir de Platão e dos préssocráticos.
13.(UFJF) Sobre o contexto de consolidação do poder da Igreja na Idade Média, leia as
afirmativas abaixo e, em seguida, marque a opção CORRETA.
I. O cristianismo e todas as suas instituições podem ser considerados elementos
unificadores do mundo europeu após a crise do Império Romano e as invasões
bárbaras. Nessa longa trajetória, a Igreja de Roma assume o seu papel de liderança
religiosa, através do combate às heresias.
II. Desde os primeiros tempos do período medieval, a união entre as Igrejas Ocidental e
Bizantina representava o símbolo da unidade da cristandade. Os papas procuravam
favorecer o Império Bizantino e consolidar a Igreja Ortodoxa, visando a aumentar a
influência da Igreja romana no universo cristão ocidental.
III. Havia grupos considerados heréticos, como os valdenses e os cátaros, que
criticavam a hierarquia católica e não reconheciam a autoridade papal. Havia também
outros movimentos que foram incorporados pela Igreja Católica e que levaram à
formação de ordens religiosas, como franciscanos e dominicanos.
a) Todas estão corretas.
b) Todas estão incorretas.
c) Apenas a I e a II estão corretas.
d) Apenas a I e a III estão corretas.
e) Apenas a II e a III estão corretas.
14.(URCA-CE) Leia o seguinte texto do historiador Georges Duby (Guilherme Marechal,
Graal, 1988):
―Falei em homens. Pois esse mundo é masculino. Nele só contam os varões. Precisamos
começar realçando esse traço primeiro, e fundamental: são pouquíssimas as figuras
femininas no poema, e fugidias as suas aparições. As únicas mulheres que se
conservam, por um momento, em cena pertencem à parentela do herói... Mas até essas
parentas próximas só aparecem como sombras, não se vislumbram.‖
Sobre o cotidiano medieval europeu é incorreto afirmar:
a) as mulheres camponesas auxiliavam suas famílias nas tarefas agrícolas cotidianas.
b) as mulheres dependendo de sua posição social podiam chegar a ocupar os mais
altos cargos da hierarquia eclesiástica.
c) as mulheres da nobreza se encarregavam da organização de suas casas e
orientavam o trabalho de suas servas.
d) a Igreja justificava e favorecia a dominação masculina sobre as mulheres
mostrando-se hostil à uma maior liberdade ao sexo feminino.
e) em muitas cidades medievais, mulheres trabalhavam como artesãs e produziam
tecidos, sabão, linhas e outros produtos.
15.(FUVEST) A palavra ―feudalismo‖ carrega consigo vários sentidos. Dentre eles, podemse apontar aqueles ligados a:
a) sociedades marcadas por dependências mútuas e assimétricas entre senhores e
vassalos.
b) relações de parentesco determinadas pelo local de nascimento, sobretudo quando
urbano.
c) regimes inteiramente dominados pela fé religiosa,seja ela cristã ou muçulmana.
d) altas concentrações fundiárias e capitalistas.
e) formas de economias de subsistência pré-agrícolas.
16.(UNICAMP)
No
quadro
ao
lado,
observa-se
a
organização espacial do trabalho agrícola típica
do período medieval. A partir dele, podemos
afirmar que:
a) os camponeses estão distantes do castelo
porque
já
abandonavam
o
domínio
senhorial, num momento em que práticas de
conservação do solo, como a rotação de
culturas,
e
a
invenção
de
novos
instrumentos, como o arado, aumentavam a
produção agrícola.
b) os camponeses utilizavam, então, práticas
de plantio direto, o que permitia a melhor
conservação do solo e a fertilidade das
terras que pertenciam a um senhor feudal,
como sugere o castelo fortificado que
domina a paisagem ao fundo do quadro.
c) um castelo fortificado domina a paisagem,
ao fundo, pois os camponeses trabalhavam
no domínio de um senhor; pode-se ver
também que utilizavam práticas de rotação de culturas, visando à conservação do
solo e à manutenção da fertilidade das terras.
d) A cena retrata um momento de mudança técnica e social: desenvolviam-se novos
instrumentos agrícolas, como o arado, e o uso de práticas de plantio direto, o que
levava ao aumento da produção, permitindo que os camponeses abandonassem o
domínio senhorial.
17.(UFRN)Leia com atenção a definição abaixo:
Capitalismo: sistema
econômico e social predominante na maioria dos países
industrializados ou em industrialização. Neles, a economia baseia-se na separação
entre trabalhadores juridicamente livres, que dispõem apenas da força de trabalho e a
vendem em troca de salário, e capitalistas, os quais são proprietários dos meios de
produção e contratam os trabalhadores para produzir mercadorias (bens dirigidos
para o mercado) visando à obtenção de lucro.
SANDRONI, Paulo (Org. e sup.). Dicionário de economia. São Paulo: Círculo do Livro, 1992. p. 40.
Considerando as características apresentadas acima, o modelo socioeconômico do
feudalismo: europeu na Idade Média se diferencia do modelo capitalista, pois, entre
outros elementos,
a) as demandas do comércio internacional por produtos agrícolas possibilitaram
aos camponeses grandes lucros com a venda de excedentes da produção.
b) as revoltas camponesas do século XV aboliram as taxações feudais e
favoreceram a adoção do sistema de colonato no regime feudal.
c) a maioria da mão de obra era empregada no campo, dedicando-se a uma
produção de subsistência e ligando-se por laços servis à classe aristocrática.
d) a burguesia urbana enriquecida comprava títulos de nobreza
exploração da classe camponesa, submetida à servidão.
e
agravava a
18.(UNIOESTE) ―Walafreus, colono e mordomo,... e sua mulher, colona…, homens de S.
Germain, têm filhos… Ele detém dois mansos livres … de terra arável, seis acres de vinha
e quatro de prados. Deve por cada manso uma vaca num ano, um porco no seguinte,
quatro dinheiros pelo direito de uzar o bosque, dois módios (40 litros) de vinho pelo
direito de utilizar as pastagens, uma ovelha e um cordeiro… Deve corvéias, carretos,
trabalho manual, cortes de árvores, quando para isso receber ordens, três galinhas e
quinze ovos...‖
Poliptico da Abadiade St. Germain. In: FREITAS, Gustavo de.
900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1975, v.1. p.145.
O documento acima refere-se a relação entre senhores e servos na Europa medieval.
Sobre as relações descritas acima, é correto afirmar que:
a) Walafreus e sua família viviam como livres proprietários de terras na Abadia de S.
Germain.
b) as obrigações de Walafreus e sua família referem-se aos deveres que todo suserano
tinha com seus vassalos.
c) na estrutura do feudo, as terras ou mansos onde Walafreus e sua família viviam
representam o manso senhorial.
d) as obrigações de Walafreus e sua família descritas acima referem-se ao pagamento
da mão morta.
e) Walafreus e sua família tinham como obrigação a corveia, ou seja, a prestação direta
de serviços nas terra dos seus senhores.
19.(UEM) "Na Idade Média, o processo de produção predominante – o feudal – teve
relações sociais e uma ordem política e cultural específicas."
(VICENTINO, C. História Geral. São Paulo: Scipione, 2002. p. 111.)
a)
b)
c)
d)
e)
Sobre o feudalismo na Europa Ocidental, assinale a alternativa correta.
No feudalismo, a principal fonte de poder dos barões feudais se assentava nas
manufaturas e nas companhias de comércio criadas e administradas por eles.
Politicamente, o feudalismo pode ser caracterizado como um regime amplamente
democrático, no qual servos e senhores participam igualmente da direção política e
econômica da sociedade.
O feudalismo é um sistema político e social caracterizado pela centralização do poder
nas mãos do rei e pela ausência de poder nas mãos dos integrantes do clero e da
nobreza.
O comércio e as manufaturas contribuíram para o fim do feudalismo europeu
ocidental na medida em que possibilitaram a ascensão social e política do Terceiro
Estado e o enfraquecimento da servidão.
No feudalismo, a ciência e a cultura letrada se desenvolveram fora do raio de
influência da Igreja Católica e dos ensinamentos bíblicos.
20.(VUNESP) Por esses motivos, [...] declaramos que você é uma herege reincidente e
[...] deve ser abandonada por nós e separada da Igreja, para que não contamine os
outros membros.(Relatório final do tribunal eclesiástico que julgou Joana D‘Arc em maio de 1431)
O documento histórico remete ao papel desempenhado pela Inquisição, por meio da
qual a Igreja Católica procurou:
a) ampliar seu número de fiéis, minimizando a conversão de camponeses europeus para
a religião muçulmana.
b) difundir entre seus seguidores o princípio da ―lei de talião‖, evitando que a moral
cristã se perdesse em meio às guerras e revoltas do período.
c) demonstrar sua força e autoridade sobre a cristandade ocidental, visando à
unificação com a Igreja Cristã Ortodoxa.
d) combater atitudes, doutrinas e ideias que questionassem seus dogmas, pretendendo
reforçar seu poder espiritual e temporal.
e) colaborar com os nascentes Estados modernos europeus, exercendo o poder
Judiciário com base no Direito Romano.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
“Idade Média”. Christian Amalvi. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT (dirs).
Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC. vol.1.
Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Perry Anderson. São Paulo: Brasiliense.
História das Inquisições. Francisco Bethencourt. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
A Idade Média: nascimento do Ocidente. Hilário Franco Júnior. 2ª edição revista e
ampliada. São Paulo: Editora Brasiliense.
A civilização do Ocidente Medieval. Jacques Le Goff. São Paulo: EDUSC.
Cinema
Robin Hood
Direção de Ridley Scott (Inglaterra/Estados Unidos)
Épico que narra a história do herói que lidera camponeses
contra o déspota que se aproveita da ausência do rei
Ricardo Coração de Leão para tomar o poder na Inglaterra.
As aventuras de Erik, o viking (Inglaterra, 1989. 93 min). Direção de Terry Jones.
O filme narra com irreverência e sarcasmo a vida de um guerreiro viking.
Sites
Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM)
Site oficial da associação disponibiliza informações importantes sobre o medievo.
Disponível em: www.abrem.org.br
Museu do Louvre
Na página é possível fazer uma visita virtual às seções medievais do famoso museu
francês, cujo prédio tem origem na Idade Média (em inglês, francês e chinês). Disponível
em: www.louvre.fr
Surgimento e expansão dos
Impérios Bizantino e Islâmico
1. O Império Bizantino
A formação do Império Bizantino remonta às crises do Império Romano desencadeadas
por volta dos séculos III e IV. Devido o declínio de Roma, o imperador Constantino, em
330, transforma Bizâncio (batizada de Constantinopla) na capital do Império no oriente. Em
395, Teodósio descentraliza a administração imperial e resolve dividi-la em: Império
Romano do Ocidente (capital Milão) e Império Romano do Oriente (capital Constantinopla).
Robert Raderschatt
Basílica de Santa Sofia, Istambul (antiga Constantinopla), Turquia.
A capital do Império Bizantino, Constantinopla, tinha grande potencialidade financeira e comercial.
Como já foi visto, o Império Romano do Ocidente perdura até o século V. Enquanto isso,
o do Império Bizantino se estende até 1453 com características bastante peculiares. A
civilização bizantina era constituída por várias etnias, entre elas, gregas, asiáticas, egípcias
e semitas. Essa diversidade de povos transformou Bizâncio num legítimo mosaico cultural.
―Num certo sentido isso era verdadeiro, pois aquilo que se tornou conhecido por Império
Bizantino era na origem o Império do Oriente (Grécia, Egito, Síria-Palestina, Mesopotâmia,
Ásia Menor). E realmente, como Roma, Bizâncio uniu, através de um língua e uma
determinada maneira de sentir e de pensar, povos que nada tinham em comum entre si.
Como os antigos gregos e romanos, os bizantinos consideravam-se os únicos habitantes do
mundo civilizado, rotulando de bárbaros todos os que não partilhavam de sua cultura. (...)
Por isso mesmo suas relações com o Ocidente medieval sempre foram difíceis.‖
FRANCO JÚNIOR, Hilário e ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Distinguindo-se da Europa Feudal, o Império Bizantino conseguiu manter um governo
centralizado e uma economia altamente dinâmica. Essa esplendorosa civilização floresceu
em torno da sua unidade religiosa, resultando numa rica produção cultural que possuía
características cosmopolitas.
A capital do Império Bizantino, Constantinopla, tinha grande potencialidade financeira e
comercial. Nessa cidade, era nítida a influência da cultura romana. Por exemplo, o idioma
oficial permanecia sendo o latim.
No Império Bizantino, chamava o chefe de governo de Basileu. Ele detinha poderes
religiosos e políticos. Desse modo, concentravam em suas mãos, simultaneamente poderes
temporais (César, chefe de Estado) e espirituais (Papa, chefe da Igreja), por isso esse tipo
de administrar ficou conhecido de cesaropapismo.
Vatican Library
VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, J. Atlas Histórico de Lisboa: Círculo de leitores, 1990.
Os basileus se autodenominavam escolhidos de Deus, portanto, podiam exercer o poder
de forma despótica. Guiados por essa concepção teocrática, os imperadores bizantinos
governaram com poderes ilimitados, influenciando, praticamente, em todos os âmbitos da
sociedade.
O governo bizantino também acumulava outros cargos burocráticos, tais como líder do
exército, administrador das construções das obras públicas, auditor tributário e chefe da
diplomacia. Esse fato justifica-se, pois o imperador era visto como o ‗vigário de Deus‘, por
isso, devia governar de maneira absoluta.
Economia
A economia bizantina era bastante diversificada. Além das intensas atividades comerciais (terrestres e marítimas), as produções agrícolas e manufatureiras complementavam a
economia imperial. Nas feiras de Constantinopla vendiam-se mercadorias importadas dos
países europeus, árabes e do extremo oriente.
Constantinopla tinha elevada importância comercial dada a sua privilegiada localização
geográfica. Frotas de várias localidades vinham negociar na capital, realizando muitas
transações comerciais. Por concentrar grande quantidade de produtos (artigos de luxo,
objetos de arte, especiarias e jóias) e intensas atividades industriais, Constantinopla tornouse o mais relevante centro urbano e comercial europeu.
O Império Bizantino possuía uma eficiente estrutura administrativa, o que facilitava o
forte controle da economia, a arrecadação de impostos e a regulamentação das relações
comerciais através da elaboração de várias leis protecionistas.
Sociedade
A sociedade bizantina urbana era composta pelos aristocratas (latifundiários ‗dínatas‘,
grandes comerciantes, altos funcionários, membros da corte e do clero), pelos pequenos
negociantes, artesãos, camponeses livres e escravos.
De acordo com pesquisadores, não havia muita distinção social entre pobres e ricos em
Constantinopla. Essa hipótese pode ser discutida, pois nos bairros que possuíam casas
luxuosas também eram construídos casebres habitados pelos pobres.
Entretanto, as
residências dos nobres eram protegidas por muros o que dificultava um maior contato entre
as diferentes classes sociais.
A vida social dos bizantinos se concentrava no Hipódromo, na Basílica de Santa Sofia e
no Palácio Imperial. O Hipódromo lotava em dias de corridas. Nesses eventos, os homens
mais ricos vestiam as suas melhores roupas (casacos bordados), enquanto que suas
mulheres se trajavam com preciosas jóias e belos chapéus. Os homens bizantinos não
acostumavam barbear-se, segundo as concepções de alguns deles, era imoral fazer a barba.
Nessa época os casamentos realizavam-se por meio de negociações ou conveniências.
Apenas o casamento do basileu fugia dessa regra. De acordo com a tradição, cabia a um
grupo de funcionários da corte sair em busca de uma noiva para o Imperador. Geralmente,
selecionavam-se as jovens contidas e formosas.
―A família determinava o futuro de seus jovens e com ela a parentela toda. A idade em
ocorriam essas escolhas constitui objeto de informações divergentes em nossas fontes. A
maioria das histórias sobre as vidas de santos mostra adolescentes ou jovens adultos que
tomam sua decisão ascética ao recusar um projeto de casamento.
Ao longo de uma longa evolução, uma lei do final do século VIII fazia bênção nupcial, o
passo necessário e suficiente para a celebração do casamento. No entanto, pelo menos desde
o século VI, o noivado adquiria crescente importância até produzir efeitos comparáveis aos
casamentos. Oferecia, pois, uma solução às famílias apressadas demais para esperarem a
nubilidade legal, classicamente fixada em doze anos para as meninas e catorze para os
meninos, pois podia-se celebrá-lo a partir da idade requerida para o consentimento.‖
ARIÈS, Philippe. e DUBY, Georges. História da vida privada: do Império Romano ao ano mil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
As crianças bizantinas começavam a freqüentar as escolas a partir dos seis anos. O
ensino era coordenado pela Igreja, entretanto permitiam-se os estudos de escritores laicos.
É interessante relatar, que tanto as crianças pobres quanto as ricas tinham oportunidade de
participar do processo educacional. Ao completar dezoito anos, aprofundavam seus estudos
nas disciplinas de filosofia, matemática, astronomia, geometria e música.
O governo de Justiniano
O Império Bizantino atinge seu apogeu no governo de Justiniano (527-565). Sua
administração caracterizou-se pela estabilidade e pela política expansionista que anexou ao
império regiões africanas, italianas e ibéricas. Além disso, Justiniano realizou uma série de
empreendimentos nos setores culturais e econômicos. Ele também embelezou a capital do
império, construindo várias obras, a principal delas foi a Catedral de Santa Sofia.
Imperador Justiniano em mosaico, Ravena.
O Império Bizantino atinge seu apogeu no
governo de Justiniano.
No campo jurídico, Justiniano sistematizou o Direito Romano, elaborando o Corpus Júris
Civilis (Corpo do Direito Civil), também conhecido como Código Justiniano. Esse compêndio
de leis dividia-se em o Código (conjunto de todos os decretos imperiais homologadas desde
o governo de Adriano), as Novelas ou Autênticas (leis criadas após 534), o Digesto ou
Pandectas (síntese de as constituições romanas) e as Institutas (guia para uso dos
estudantes).
Desse modo, percebe-se que a religião e o direito romano eram usados como eficientes
mecanismos que garantiam a centralização do poder imperial. Vale salientar, que o Código
de Justiniano tem ressonância, ainda hoje, nas práticas jurídicas do mundo ocidental.
O governo de Justiniano também foi marcado pelo combate às praticas de corrupção nas
instituições estatais e pela política de auxílio econômico aos comerciantes e artesãos. Essas
reformas se estenderam para o campo religioso, uma vez que houve a ampliação do poder
da Igreja em várias partes do Império.
Para manter o complexo aparelho administrativo e garantir o controle sobre as recentes
fronteiras conquistadas, houve a necessidade de aumentar os tributos. Esse procedimento
provocou muitas insatisfações sociais.
Os altos impostos e os elevados índices inflacionários contribuíram para a eclosão da
Revolta de Nika. Essa sublevação teve seu início, em 532, durante um evento realizado no
hipódromo. Diante dessa situação, Justiniano pensou em fugir, mas, sua esposa Teodora não
permitiu. Com essa atitude, a imperatriz Teodora demonstrou ter conhecimentos políticos e
coragem de enfrentar os problemas que assolavam Bizâncio.
Os revoltosos, durante três dias, incendiaram edifícios públicos, ecoando a palavra Nika!
Nika! (em grego significa vitória). Entretanto, o general de Justiniano, Belisário conseguiu
reprimir a revolta, matando, aproximadamente, trinta mil pessoas. Após a morte de
Justiniano, o Império inicia um processo de irreversível decadência.
Os principais fatores que contribuíram para a derrocada do Império Bizantino foram as
disputas internas, a vulnerabilidade do poder central, as revoltas em várias regiões imperiais
e a crise econômica. Nesse cenário, em 1453, Constantinopla foi conquistada pelos
turcos,decretando de uma vez o fim do Império Romano do Oriente.
As querelas religiosas: heresias e cisma
A Igreja Católica Bizantina possuía características distintas, pois agregou múltiplas
culturas e costumes orientais. Com o passar dos anos foram criadas facções religiosas que
passaram a questionar os princípios dogmáticos do catolicismo. As principais correntes,
classificadas pela Igreja do Ocidente de movimentos heréticos, foram os monofisistas e os
iconoclastas.
Os monofisistas pregavam que Jesus Cristo era dotado, apenas, pela natureza divina. Já
os iconoclastas se opunham à adoração de ícones ou imagens, defendo até mesmo a sua
destruição. Essas divergências provocaram graves crises político-religiosas entre os católicos
ocidentais e orientais.
―As imagens, ícones, dos personagens divinos, aceitas inicialmente para instruir os fiéis
nos mistérios da fé cristã, tornaram-se tão numerosas que suscitavam estranhos
fervores, práticas religiosas particulares, verdadeiras devoções populares. Eram
encontradas em toda a parte: afresco ou mosaicos nas cúpulas e nas paredes das
igrejas, relevos de marfim ou de madeira pintados, placas de bronze douradas ou
esmaltadas expostas no dia de festa do santo e associadas diretamente ao ritual dos
ofícios. (...) Esses excessos provocaram, em alguns meios mais rigorosos, uma viva
reação. Leigos, sacerdotes lembram as condenações ou as admoestações dos primeiros
doutores da Igreja e invocam a abolição do culto das imagens. Assim, chocam-se
claramente: os iconólatras favoráveis às imagens e os iconoclastas, hostis. (...)‖
HEERS, Jacques. História Medieval. Rio de Janeiro: Difel. p.258.
No século V iniciou-se uma forte discussão sobre natureza de Cristo (monofisismo). O
patriarca Nestório defendia a tese que Jesus possuía duas essências (a divina e a humana),
enquanto a sua mãe Maria tinha apenas a substância humana. Essas teorias ficaram
conhecidas como heresias nestorianas, sendo intensamente criticadas pela Igreja Romana.
Outro ponto desse conflito teológico entre o Oriente e o Ocidente foi a Iconoclastia que
tratou da questão da pertinência do culto às imagens sagradas. A veneração de imagens foi
condenada pela Igreja do Oriente que classificava tal atitude como idolatria.
Diante desses fatos, o imperador Leão III (717-741) oficializou a proibição do culto aos
ícones. As intenções desse decreto eram amenizar o poder dos monges (responsáveis pela
comercialização de imagens) e preservar o ritual religioso menos místico.
Enfim, essas querelas entre o chefe da Igreja do Ocidente (papa) e a autoridade da
Igreja do Oriente (patriarca) chegaram ao extremo em 1054, quando ocorreu a ruptura
entre as entidades religiosas que perdura até hoje. Esse evento ficou conhecido como o
Cisma do Oriente, dando origem a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa
Grega.
Cultura Bizantina
A produção cultural bizantina foi reflexo das influências grega, romana e oriental. Suas
concepções artísticas combinavam luxo, sofisticação, grandiosidade e harmonia. A cultura
bizantina estava muito ligada aos valores religiosos, entretanto, paulatinamente padrões
artísticos profanos também foram inseridos em suas manifestações culturais, tornando-as
conservadoras e tradicionais.
Em decorrência de sua variedade étnica, torna-se altamente complexo estabelecer os
itens que compunham o perfil da cultura bizantina. Talvez, seja mais simples relatar as mais
destacadas expressões das artes em Bizâncio, a saber, arquitetura, pintura, escultura,
artesanato, ourivesaria, literatura e música.
Pintura de Anastasis, Kariye Camii, Igreja do Salvador. A arte bizantina tinha forte caráter religioso.
A arquitetura bizantina caracterizou-se pela suntuosidade, suas construções
demonstraram arrojados domínios de técnicas de engenharia. A principal obra arquitetônica
bizantina é a Igreja de Santa Sofia. Suas cúpula arredonda sustentada em arcos, seus
belíssimos capitéis e suas paredes decoradas com suntuosos mosaicos expressam de forma
magnífica a paradigmática da arte bizantina.
Os mosaicos eram bastante utilizados pelos bizantinos nas ornamentações dos templos
religiosos. Entretanto, os mosaicos também simbolizavam um guia espiritual dos fiéis, pois
representavam em suas obras as imagens de Cristo, dos basileus e dos profetas. A arte
musiva utilizava-se de vários recursos técnicos, como por exemplo, o uso denso da cor
dourada, a apresentação de figuras sob a ordem da frontalidade e da verticalidade.
2. O Império Árabe
A Península Arábica localiza-se entre o Oceano Índico, Golfo Pérsico e o Mar Vermelho.
Essa região durante os primeiros séculos da era cristã era povoada por várias tribos. As
tribos nômades dos beduínos viviam no deserto. Eles praticavam o pastoreio e organizavam
muitas pilhagens. Ao sul e sudeste da Península ficavam os grupos urbanos sedentários que
se dedicavam às atividades agrícolas e comerciais.
As cidades de Meca e Iatreb tornaram-se as principais rotas comerciais da época.
Caravanas vindas da África e do Extremo Oriente cruzavam o deserto para negociar nessas
cidades. Além do seu potencial econômico, Meca também se tornara um ativo centro de
peregrinações religiosas. Os visitantes direcionavam suas orações para a Caaba.
Photo Taken by Ali Mansuri
Um fiel realiza uma oração perto da Caaba.
Atualmente, a Caaba ou ―Pedra Negra‖ simboliza a casa de Deus. Segundo os muçulmanos, ela representa
centro do universo.
A Caaba ou a ―Pedra Negra‖ consiste numa construção sagrada reverenciada até os dias
atuais pelos mulçumanos. Em forma de cubo e coberta por uma manta com detalhes
dourados, algumas lendas afiram que ela teria sido erguida por Adão com o propósito de
adorar a Deus. Entretanto, o livro sagrado dos islâmicos (Alcorão) relata que a ―Pedra
Negra‖ foi entregue pelo anjo Gabriel ao patriarca Abraão.
Inicialmente, os habitantes da Península Arábica eram politeístas, não acreditavam na
vida eterna e tinham forte temor pelos espíritos do mal. Todas as tribos acreditavam nos
espíritos simbolizados pelas forças naturais, os djins.
Após entrar em contato com os judeus e cristãos, os beduínos mudaram tal concepção,
pois passaram a crer na existência de um ser supremo – chamado de Alá – e na vida após a
morte. Pode-se afirmar, categoricamente, que essa convivência pavimentou o caminho para
o desenvolvimento do islamismo entre os árabes.
Maomé: o enviado de Alá
Nascido em Meca, em 570, Maomé é considerado o fundador do islamismo. Ele era
membro de uma pequena tribo chamada de coraixitas. Maomé ficou órfão muito jovem,
passando a ser criado pelo avô. A partir dos quinze anos passa a conduzir as caravanas
comerciais pelos desertos, o que possibilitou o conhecer os preceitos do cristianismo e do
judaísmo. Alguns anos mais tarde casa-se com a viúva Khadija.
De acordo com a tradição muçulmana, por volta de 610, Maomé recebe do arcanjo
Gabriel a incumbência de anunciar a existência de um só deus, eterno e criador de todas
coisas, Alá. Segundo essa revelação, Maomé se tornara o único profeta apto para
representar e propagar a vontade de Alá na terra.
A princípio a pregação de Maomé encontrou muita resistência dos habitantes de Meca.
Isso porque o culto à Caaba tinha adquirido imensa popularidade o que colocava em risco os
interesses dos comerciantes que lucravam bastante com as peregrinações religiosas.
Por essa razão, em 622, Maomé e seus adeptos (‗muslim‘, daí a origem da palavra
mulçumano) fogem de Meca com destino a Iatreb, batizada anos mais tarde de Medina em
homenagem ao profeta. Esse evento passou a ser denominado de Hégira ―emigração‖,
sendo essa data (622) o marco do calendário islâmico.
O Profeta Maomé, recitando o Alcorão em Meca (grav. séc. XV).
Segundo a tradição islâmica Maomé recebeu do arcanjo Gabriel a incumbência de anunciar a existência de um
só deus, eterno e criador de todas coisas, Alá.
Em pouco tempo, Maomé conquistou com suas pregações muitos seguidores em Medina.
Nessa cidade, ele consolidou o culto a Alá o que lhe trouxe poder político e religioso. Por
isso, em 630 ele organiza um exército poderoso com o objetivo de invadir Meca, destruir as
centenas de ídolos e impondo violentamente a veneração a Alá. Nessa invasão apenas a
Caaba, em se tratando de ídolos, foi preservada. A partir de então, Maomé se torna chefe
dos árabes.
Maomé e a origem do Islamismo
―Para os mulçumanos, o Islã sempre existiu como modo de vida que Alá havia destinado
às pessoas. Eles acreditavam que Deus enviou diversos profetas tais como: Abraão (Ibraim),
Moisés (Musa), Jesus (Issa) e o último, Maomé, mensageiro de Deus. (...)
Com o passar do tempo, ele se sentia cada vez mais chocado com a grande quantidade
de deuses adorados na Arábia. A cada ano, Maomé retirava-se para uma caverna no Monte
de Hira, nos arredores de Meca, e lá meditava sobre Deus. Aos 40 anos, Maomé recebeu a
revelação através do anjo Jibril (ou Gabriel). Mais tarde, essas revelações foram transcritas
para o livro sagrado, o Corão.‖
JORDACK, D.M. Islamismo. Blumenau: Todo livro, s.d (Coleção Conhecendo as Religiões)
Maomé morre em 632 deixando como legado maior, a unidade política dos árabes em
torno do islamismo e o compromisso de todos os fiéis em continuar adorando o deus criador
Alá, seguindo fidedignamente os princípios morais emanados dele.
A doutrina Islâmica
A religião criada por Maomé faz uma síntese dos fundamentos das doutrinas do
cristianismo, judaísmo e masdeísmo associando-os aos costumes místicos praticados pelos
árabes de sua época. O Islamismo (derivada de Islam, submissão a vontade de Alá) baseiase no monoteísmo absoluto e na total sujeição aos planos divinos.
Os cinco princípios basilares do islamismo são:
Testemunhar e professar (‗chachada‘) a crença em um só deus, Alá, e Maomé como o
seu maior profeta;
Orar de três a cinco vezes ao dia (‗salat‘) em direção à Meca;
Obrigatoriedade de Jejuar no período do ramadã (mês sagrado dos mulçumanos);
Os mais ricos devem pagar a décima parte de suas riquezas (‗zakat‘) com a finalidade de
ajudar aos pobres;
Fazer peregrinação à cidade sagrada de Meca, no mínimo uma vez na vida, caso tivesse
condições de custear a viagem.
"Deus dá testemunho de que não há mais divindade além d'Ele; os anjos e os sábios O
confirmam Justiceiro; não há mais divindade além d'Ele, o Poderoso, o Prudentíssimo.
(...)
Amparai-vos na perseverança e na oração. Sabei que ela (a oração) é carga pesada, salvo
para os humildes, Que sabem que encontrarão o seu Senhor e a Ele retornarão.
(...)
Assim disse Deus Todo Poderoso Senhor da Glória: Dentre os meus servos, prefiro aquele
que se apressa em quebrar o jejum.
Praticai a oração, pagai o Zakat e genuflecti, juntamente com os que genuflectem.
(...)
Uma peregrinação cumprida com total devoção possibilita o paraíso como recompensa."
Trechos do Alcorão. Disponível em www.islam.org.br. Acesso em 06 de fevereiro de 2008.
Todos os pilares do islamismo estão contidos em dois livros sagrados: o Corão ou
Alcorão que reúne os fundamentos doutrinários definidos por Maomé e a Suna escrito
pelos sucessores de Maomé. A Suna contém as bases dos costumes, das tradições e dos
ensinamentos do profeta, por isso é considerada como a Lei Oral do Islão.
Alcorão (século XII).
O Alcorão contém todos
fundamentais do islamismo.
princípios
A expansão e fragmentação do Império
A morte de Maomé, em 632, gerou uma grave crise política na sucessão governamental.
Para os xiitas, somente algum descendente de Maomé poderia assumir o governo. Já os
sunitas eram favoráveis a escolha entre os mulçumanos de uma pessoa que possuísse
capacidade política e administrativa, independentemente dos seus laços de parentescos com
o profeta..
Tentando evitar mais secessão, os conselheiros de Medina e Meca propuseram a criação
do califado. Quem assumisse esse cargo passaria a ter poderes nas esferas política,
religiosa e militar, ou seja, o Estado mulçumano pode ser classificado como teocrático. O
sogro de Maomé, Abu Bekr, tornou-se o primeiro califa.
Ao assumir o poder, Abu Beckr organiza um eficiente exército, dando início às conquistas
árabes. O principal argumento para a expansão pautou-se na guerra santa, jihah, ou seja,
a difusão da fé em Alá por intermédio da conquista de novos adeptos (os infiéis) sob o uso
da violência. O jihad deu início ao choque cultural entre cristianismo (ocidente) e islamismo
(oriente) que podem ainda ser vistos na atualidade.
A partir de 634, os árabes conseguem dominar os territórios persas, sírios, palestinos,
egípcios e tunisianos. A conquista do norte da África, sob o comando da dinastia dos
Omíadas (661-750), facilitou a invasão da Europa e o conseqüente controle sobre a
Península Ibérica em 711. Essas conquistas levaram os árabes a ter o monopólio comercial
do Mar Mediterrâneo.
A rápida expansão mulçumana pode ser entendida através de vários aspectos. Devido a
pouca quantidade de terras férteis na Península Arábica, houve a necessidade de explorar
novas regiões. Outro motivo foi a forte unidade dos islâmicos guiados pelo princípio do
jihad, ‗guerra santa‘. Recentemente, alguns autores não admitem mais associar ‗guerra
santa‘ ao jihad. Segundo eles, a tradução mais correta do jihad seria o esforço militar com o
objetivo de proteger os ideais islâmicos.
DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987.
Além desses fatores, o aumento demográfico, a descentralização política na Europa
Ocidental (Feudalismo), a fragilidade do Império Bizantino e do Império Persa também
servem para justificar o crescimento acelerado dos domínios árabes.
É interessante observar a relativa tolerância empreendida pelos muçulmanos em relação
aos povos subjugados que rejeitavam os preceitos do Islã. Nesse sentido, exigiam-se de tais
grupos o pagamento de tributos e o reconhecimento da supremacia da religião fundada por
Maomé.
Após a expansão, o islamismo se tornou numa das grandes religiões da época medieval.
No entanto, embora a fé unisse os árabes, as questões políticas levaram a fragmentação do
Império durante a dinastia dos Abássidas (750-1258).
A princípio, as regiões dominadas eram administradas por um só governo sediado em
Damasco, na Síria. Em seguida, a capital transferiu-se para Bagdá, na Mesopotâmia.
No
século VIII, o governante Abder Rahman declarou a emancipação da região de Córdoba.
Essa disputa política impulsionou a criação de várias regiões administrativas independentes
(califados), a saber, Tunísia, Egito, Marrocos e Córdoba.
A Cultura Árabe
A expansão mulçumana possibilitou o florescimento de uma sofisticada cultura desenvolvida pelos árabes. O contato com diversos povos resultou numa admirável produção
artística em variados campo do saber: matemática, astronomia, botânica, alquimia, filosofia,
arquitetura, matemática, medicina, história, música, literatura e pintura.
Boa parte dos intelectuais islâmicos possuía uma formação marcada pelo ecletismo, ou
seja, suas pesquisas se estendiam em vários ramos do conhecimento. O sábio Al-Biruni
segue esse modelo, pois era historiador, matemático, botânico, astrônomo e poeta.
Outras marcas da cultura islâmica eram os domínios das técnicas de observações e
experiências usadas no desenvolvimento dos estudos. Pouca atrelada às concepções
religiosas, os pensadores árabes buscavam sempre uma explicação lógica e plausível os
fenômenos naturais.
Alguns autores atribuem a gênese da efervescente cultura islâmica ao setor da
construção naval. Nessa área do saber foram aplicados uma série de conhecimentos sobre
cartografia, geografia e astronomia.
A matemática alcançou um notório progresso, uma vez que os árabes inventaram um
prático e inovador sistema numérico, contribuindo para o desenvolvimento da trigonometria
e da geometria.
Influenciadas pelas concepções estéticas sírias, a arquitetura mulçumana se destacou
através de suas famosas mesquitas. Para muitos especialistas, essas projeções
arquitetônicas representam o maior exemplo da fusão cultural entre o oriente e o ocidente.
Steven J. Dunlop
Interior da Mesquita de
Córdoba, Espanha.
Influenciadas pelas concepções estéticas sírias, a arquitetura mulçumana se destacou através de suas
magníficas mesquitas.
Os árabes também foram extremamente habilidosos nas artes de ornamentações. Como
a sua religião proibia o uso de figuras humanas, eles criaram os arabescos, um tipo de
pintura que reproduzia a natureza (árvores e plantas).
A filosofia islâmica foi marcada pela análise dos grandes pensadores gregos. Os
principais filósofos árabes foram Avicena (980-1037) e Averrois (1126-1198). Além de
filósofo, Avicena realizou estudos nas áreas de gramática, geometria, física (descobriu a
capilaridade), direito, teologia e medicina. Ele fez profundas releituras sobre os pensamentos de Platão e Aristóteles, procurando fazer uma possível conciliação de suas teorias.
O filósofo Averrois aprofundou-se nos estudos do pensamento de Aristóteles, chegando a
traduzir diversas obras dele do grego para o árabe. Para alguns escritores, as teorias
aristotélicas foram bem recepcionadas no ocidente graças aos comentários elaborados por
Averrois. Ele também se dedicou à astronomia, medicina e direito canônico.
Na literatura prevaleceram os poemas de amor e épicos, além dos contos de aventura,
como o clássico As mil e uma noites, o Livro dos reis e Ruayat, escritos por Omar Khayan.
Através dos muçulmanos chegaram ao mundo ocidental os seguintes produtos agrícolas:
o cacau, o algodão, a cana-de-açúcar, o limão, a laranja e o arroz. Nessa mesma área eles
nos legaram variadas técnicas, a saber, o açude, os canais para mover os moinhos (‗as
levadas‘), a azenha (moinho de água) e a nora (instrumento de captação de água). Outras
descobertas importantes realizadas pelos islâmicos foram a do álcool, do ácido sulfúrico, do
nitrato de prata e do sal amoníaco.
TEXTO COMPLEMENTAR
O caso Benazir: uma hipótese a considerar
―O que pode haver em comum entre o assassinato de John Kennedy em 1963, os
atentados de 11 de setembro de 2001 e o assassinato da ex-primeira ministra
paquistanesa e líder oposicionista Benazir Bhutto, no último 27 de dezembro (2007)?
A pergunta não se refere aos motivos dos atentados, e sim ao que há em comum na
estrutura dos atos, na seqüência de suas etapas e no desfecho de cada um. O motivo da
pergunta é a fragilidade das versões oficiais e as controvérsias sobre quem de fato
cometeu o crime e por qual motivo.
Passaram-se já 44 anos e persiste a dúvida: a quem interessava o assassinato de JFK?
Desde 11/9/2001, os norte-americanos repetem a mesma indagação: quem derrubou as
torres de Nova York? Quem atacou o Pentágono e por qual motivo? Nos dias atuais, é
legítimo que surja a mesma pergunta sobre o assassinato da Benazir Bhutto. Qual versão
que devemos aceitar: a do governo paquistanês ou a das testemunhas oculares? O
governo alega que a líder da oposição morreu ao bater a cabeça em uma barra de ferro
no teto do carro, quanto tentava fugir dos disparos do atirador, que em seguida detonou
os explosivos presos a seu corpo. A oposição, convicta de que a Benazir foi atingida na
cabeça por um tiro, rejeita essa versão e acusa o governo de esconder a verdade.
Nos três atentados, algumas questões são idênticas. Limpeza imediata da área do
crime, revelação do nome do criminoso antes de qualquer investigação e a morte do
suspeito antes de qualquer confissão. (...)
Partindo desse princípio, cabe então perguntar o que aconteceu realmente no
Paquistão. A resposta leva a imaginar uma situação parecida com a que ocorreu no caso
John Kennedy, em 1963, quando uma fonte de informação valiosa, o suposto assassino,
foi eliminada. No caso paquistanês, bastaria que ao assassino, um ―matador de aluguel‖,
fosse oferecido um colete à prova de balas para supostamente protegê-lo da reação dos
agentes de segurança da candidata de oposição. Aos interessados no assassínio de
Benazir pouco interessaria a sobrevivência do matador, bastando-lhes, suponhamos,
prover seu colete com carga explosiva a ser detonada por controle remoto. E eis o crime
com todas as características de um atentado seguido de suicídio.
Não se trata de fato provado, naturalmente, mas de uma hipótese a ser pensada.
Resta saber se ao governo paquistanês interessa apurar o assunto por este ângulo,
tratando-se de um crime que afinal resultou tão absolutamente profilático, a começar pela
morte do assassino e, em seguida, concluindo com o desrespeito a uma regra básica das
investigações periciais sérias, que é a de isolar e preservar pelo tempo necessário todo o
cenário do crime.
Por que, nos três casos mencionados neste artigo, repetiu-se o mesmo esquema? A
pergunta deve ser dirigida aos senhores que, nos três casos, ordenaram semelhante
faxina. Material e humana.‖
Artigo elaborado por Mohamed Habib, ex-diretor do Instituto de Biologia e é pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da
Unicamp. Disponível em www.icarabe.org. Acesso em 06 de fevereiro de 2008.
Analisando o texto
1. Qual foi intenção em fazer a comparação em os casos John Kennedy, o 11 de setembro e
da líder Benazir Bhutto?
2. Após a leitura faça um pesquisa sobre a trajetória biográfica e política da líder
paquistanesa Benazir Bhutto.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Elabore um quadro-resumo sobre a sociedade, a religião e a economia do Império
Bizantino.
2. Qual o significado do termo cesaropapismo e quais as principais conseqüências políticas
dessa forma de governo?
3. Cite as principais características do governo de Justiniano.
4. Faça um comentário sobre as principais manifestações culturais bizantinas.
5. Em que consistia o Corpus Júris Civilis? Qual a sua importância para o mundo ocidental?
6. A saída de Maomé de Meca para Iatreb se transformou num marco histórico para os
árabes. Através da construção de pequeno justifique tal assertiva.
7. Identifique os pilares do islamismo, tecendo um rápido comentário sobre cada um deles.
8. Faça um quadro expondo os pontos e divergentes entre o judaísmo, cristianismo e
islamismo.
9. Comente sobre os principais legados árabes para a civilização do ocidente.
10. Os
diversos atentados terroristas (Nova York, Madri, Londres) atribuídos aos
fundamentalistas islâmicos, contribuíram para a reprodução de uma imagem que atrela
os árabes às práticas terroristas. Pesquise na internet, em jornais, livros e revistas tal
situação e em seguida dê sua opinião sobre o tema pesquisado.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UNESP) Num momento em que o Império Romano do Ocidente havia desmoronado e
os Impérios Bizantino e Persa se esfacelavam, os árabes expandiram consideravelmente
seus domínios. Em menos de 100 anos o Islã era a religião de toda a costa sul e leste do
Mediterrâneo, além de ter se espalhado para a Pérsia, até o vale do Indo, e para a
Península Ibérica. (Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, História para o Ensino Médio)
No contexto de tantas conquistas, a civilização árabe:
a) sintetizou criativamente as tradições culturais árabe, bizantina, persa, indiana e
grega.
b) rejeitou as contribuições culturais originadas de povos que professassem outras
crenças.
c) submeteu pelas armas os povos conquistados e impôs o deslocamento forçado das
populações escravizadas.
d) perseguiu implacavelmente os judeus, levando à sua dispersão pelos territórios
da Europa do leste.
e) desprezou os ofícios ligados às artes, às ciências e à filosofia relegados aos povos
conquistados.
2. (UPE) Sobre o Islamismo, considere as proposições abaixo.
I. Possibilitou a unificação dos povos árabes em torno de uma nova identidade religiosa,
a partir da qual se criou outra organização política e social.
II. A religião islâmica prega a submissão plena do ser humano aos preceitos de Alá, o
Deus único e criador do universo.
III. Os princípios básicos do Islamismo encontram-se reunidos no Alcorão, livro sagrado
dos muçulmanos.
IV. Crer unicamente em Alá e em Maomé, seu profeta, é uma das cinco obrigações
básicas que regem a vida religiosa dos muçulmanos.
Estão corretas:
a) somente I e III.
b) somente I e IV.
c) somente II e IV.
d) somente II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
3. (UFJF-MG) O islamismo, religião fundada por Maomé e de grande importância na
Unidade árabe, tem como fundamento:
a) o monoteísmo, influência do cristianismo e do judaísmo, observado por Maomé entre
povos que seguiam essas religiões.
b) o culto dos santos e profetas através de imagens e ídolos.
c) o politeísmo, isto é, a crença em muitos deuses, dos quais o principal é Alá.
d) o princípio da aceitação dos desígnios de Alá em vida e a negação de uma vida pósmorte.
e) a concepção do islamismo vinculado exclusivamente aos árabes, não podendo ser
professado pelos povos inferiores.
4. (COVEST) O Império Bizantino teve importância histórica na Idade Média, mostrando
que não apenas a Europa produz cultura e tampouco existe um centro de poder que
domina toda a vida social. A economia possuía intensa movimentação financeira, para a
época, com fábricas e um dinâmico comércio. A sociedade desse Império:
a) era marcada pelo igualitarismo, devido aos princípios religiosos dos governantes
mais tradicionais.
b) conseguiu atingir grandes níveis de luxo e ostentação por parte da sua aristocracia,
formada pela minoria da população.
c) tinha a presença dos latifundiários como dominantes e controladores da maior parte
das riquezas e da administração pública.
d) assemelhava-se à sociedade romana, pela divulgação de ideias republicanas e
exaltação de deuses com poder nos lares mais ricos.
e) garantia a presença de uma hierarquia de poder rígida, embora não houvesse
escravos, nem pessoas muito pobres.
5. (UEL) Segundo as Partidas de Afonso X de Castela (1221–1284), ―feudo é o benefício
dado pelo senhor a algum homem (...)‖. Quais eram os compromissos de quem concedia
o benefício e de quem o recebia na sociedade feudal? A Igreja Católica Apostólica
Romana é uma das instituições mais antigas da humanidade. Decorreram mais de mil
anos desde as suas origens, como credo de contestação às crenças e práticas religiosas
pagãs, passando por seu reconhecimento como religião oficial do Império Romano, até a
sua primeira grande divisão, conhecida como Cisma do Oriente, ocorrida em 1054.
A respeito desse primeiro milênio do cristianismo, é correto afirmar:
a) Os principais dogmas da Igreja, no Império Romano do Oriente, nunca foram
questionados, e o cristianismo, mesmo afastado do poder secular, conseguiu
fortalecer o poder do Papa.
b) A crise do Império Romano, no século IV, foi um elemento importante para a
ascensão do cristianismo, e, nesse período, até membros da elite romana
converteram-se à nova religião.
c) A relação entre os cristãos e as lideranças romanas, no início do cristianismo, foi
facilitada pela fragilidade do Império Romano, naquele momento, e ampliada pela
tolerância dos cristãos com os politeístas.
d) A intolerância do Imperador Constantino com os cristãos foi um dos fatores do
grande Cisma do Oriente, e a relação tumultuada entre o Imperador e o Papa levou
à separação do Estado romano da Igreja.
e) O papa Leão I, líder religioso e político de Constantinopla, disputava o poder com o
imperador, mediante incentivo aos monofisistas e aos iconoclastas, e esse confronto
contribuiu para a criação da Igreja Ortodoxa.
6. (UPE) Cisma do Oriente, em 1054, trouxe o surgimento de duas Igrejas, uma delas
subordinada ao patriarca de Constantinopla. O Cisma foi resultado sobretudo
a) das pressões exercidas pelos seguidores da heresia monofisista que negavam o
dogma da Santíssima Trindade.
b) das instabilidades políticas causadas pelas manobras políticas de Justiniano.
c) das divergências existentes entre as duas formas de viver o Cristianismo, uma ligada
ao Ocidente e outra, aos costumes culturais bizantinos.
d) das pressões feitas pelos iconoclastas, defensores de uma religião sem clero, apenas
influenciada por uma leitura direta das santas escrituras.
e) de uma mera luta política por mais poder, desencadeada pelo patriarca de
Constantinopla, Miguel Celurário.
7. (COVEST) Leia atentamente as afirmativas abaixo sobre a cultura muçulmana no
período medieval.
1) As manifestações culturais muçulmanas foram originais e ousadas para a época,
sobretudo suas construções arquitetônicas.
2) Os poemas do muçulmano Omar Khayyam tiveram no ceticismo e no hedonismo suas
grandes marcas.
3) A sociedade muçulmana rejeitou os feitos culturais do Ocidente, criticando a filosofia
grega e seus princípios éticos.
4) A literatura muçulmana influenciou a ocidental, destacando-se as histórias fantásticas
das Mil e uma Noites.
5) A religião e os seus preconceitos impediram descobertas no campo da medicina e das
matemáticas entre os muçulmanos.
Estão corretas apenas:
a) 1 e 4.
b) 2 e 3.
c) 3 e 5.
d) 4 e 5.
e) 2 e 4.
8. (COVEST) A expansão muçulmana trouxe uma outra dinâmica histórica ao mundo medieval. Ela não se restringiu às conquistas militares, mas também teve repercussões no
campo da cultura. Com relação à filosofia durante a expansão muçulmana, destaca-se:
a) o interesse pelo estudo das obras e propostas de Aristóteles.
b) o retorno do pensamento das escolas pré-socráticas.
c) a prevalência do idealismo platônico nos princípios éticos.
d) a organização de um pensamento materialista contra a religião.
e) a afirmação de princípios vindos dos sofistas gregos.
9. (UPE) A religião foi decisiva para expansão da cultura muçulmana. Apesar das guerras,
os muçulmanos realizaram vários feitos culturais que repercutiram na sociedade
ocidental. A influência muçulmana se fez presente na(no):
a) Península Ibérica, onde se conseguiu implantar uma filosofia que combatia o
catolicismo.
b) uso de técnicas agrícolas que ajudavam no cultivo de produtos importantes para a
época.
c) divulgação da filosofia de Sócrates, através de seus sábios que visitavam as
universidades do Ocidente.
d) arte francesa, sobretudo na definição dos estilos gótico e românico, no final da Idade
Média.
e) forma de governo espanhola, estruturada em pequenos feudos, apresentando
agricultura irrigada.
10.(UPE) Muitas vezes, dá-se um destaque exagerado às guerras comandadas pelos árabes
nos tempos medievais, enquanto as suas contribuições culturais permanecem como
exemplos da riqueza de seus feitos. Além disso, as suas atividades comerciais dão
mostras do dinamismo dos árabes, pois
a) conseguiram dominar o comércio medieval, trazendo mercadorias do Oriente para
Europa Central, em grande quantidade.
b) utilizaram muitos instrumentos comerciais como cartas de crédito e companhias de
ações para facilitar os negócios.
c) centralizaram suas atividades em corporações estatais bastante produtivas, com
manufaturas articuladas com a exportação comercial.
d) desenvolveram rotas comerciais no Oceano Pacífico, por onde exportavam seda e
pólvora para as cidades da Ásia.
e) tiveram boas relações com as cidades francesas e italianas durante os séculos finais
da Idade Média, vendendo-lhes especiarias do Oriente.
11.(UPE) Na Idade Média, Bizâncio era um importante centro comercial e político. Merecem
destaques seus feitos culturais, mostrando senso estético apurado e uso das riquezas
existentes no Império. Na sua arquitetura, a igreja de Santa Sofia destacou-se pela:
a) sua afinação com o estilo gótico, com exploração dos vitrais e o uso de metais na
construção dos altares.
b) simplicidade das suas linhas geométricas, negando a grandiosidade como nas outras
obras existentes em Bizâncio.
c) grande riqueza da sua construção, com uso de mosaicos coloridos e colunas de
mármores suntuosas.
d) imitação que fazia dos templos gregos, com altares dedicados aos mitos mais
conhecidos, revelando paganismo.
e) consagração dos valores católicos medievais, em que a riqueza interior era
importante em toda cultura existente.
12.(UPE) Sobre a cultura islâmica, analise atentamente as afirmativas abaixo.
I. A cultura islâmica afirmou-se pela sua religiosidade e pela falta de descobertas em
outras áreas da produção cultural.
II. A interação da cultura islâmica com a ocidental trouxe contribuições importantes e
renovadoras.
III. As conquistas territoriais dos árabes atingiram territórios do continente europeu.
IV. As divisões internas do islamismo causaram disputas políticas que ainda permanecem
na sociedade contemporânea.
V. Não há semelhanças entre o islamismo e o cristianismo.
Após a análise, conclui-se que:
a)
b)
c)
d)
e)
todas as afirmativas acima estão corretas.
apenas as afirmativas I e V estão incorretas.
apenas as afirmativas III, IV e V estão corretas.
apenas a alternativa V está incorreta.
apenas a afirmativa III está incorreta.
13.(UPE) Os muçulmanos expandiram sua cultura na Idade Média e receberam influência
importante do Cristianismo na sua religião, mostrando que havia trocas culturais na
Idade Média, em vários campos do conhecimento. Além disso, na sua Filosofia, os
muçulmanos:
a) reproduziram as reflexões dos gregos pré-socráticos sem originalidade.
b) conseguiram reunir importantes ensinamentos de Aristóteles.
c) definiram princípios revolucionários na ética, baseados nos sofistas.
d) negaram a importância do neoplatonismo para a ciência.
e) combateram a razão, sempre destacando o poder da fé.
14.(COVEST) A cultura bizantina teve destaque pelas suas construções suntuosas, ricas em
detalhes e mosaicos. No que se refere ás manifestações religiosas, os bizantinos foram:
a) politeístas, negando o valor do corpo e enaltecendo a força da dor e o vazio do
pecado.
b) seguidores de muitos princípios do cristianismo, mantendo certas tradições
importantes para sua permanência.
c) defensores das ideias vindas do misticismo oriental, desqualificando o perdão e os
sentimentos de culpa.
d) continuadores das tradições dos antigos místicos da Pérsia, condenando o catolicismo
e o politeísmo.
e) pouco ligados aos mistérios da alma, sendo práticos e interessados nas riquezas
materiais.
15.(UPE) O Islamismo – religião pregada por Maomé e seus seguidores – tem hoje mais de
1 bilhão de fiéis espalhados pelo mundo, sendo ainda predominante no Oriente Médio,
região onde surgiu. Um dos principais fundamentos da expansão muçulmana é a Guerra
Santa. A respeito dos muçulmanos, é correto afirmar que:
a) a expansão árabe-muçulmana acabou por islamizar uma série de povos,
exclusivamente árabes.
b) o povo árabe palestino, atuando na revolução armada palestina, rejeita qualquer
solução que não a libertação total do Estado de Israel.
c) em Medina, a religião criada por Maomé, embora tenha crescido rapidamente e tenha
criado a Guerra Santa – Gihad – não teve caráter expansionista.
d) a história do Líbano contemporâneo esteve sempre ligada à busca de um certo
equilíbrio entre várias comunidades que compõem o país, especialmente as duas
mais importantes: xiitas e cristãos.
e) a facção dos fundamentalistas islâmicos pertence à corrente xiita, sendo que os mais
radicais repudiam os valores do mundo ocidental moderno.
16. (UPE) O mundo árabe e o Império Bizantino se inserem no cenário do Oriente
Medieval. Com uma rica produção cultural e filosófica, os árabes e os bizantinos também
contribuíram para a construção do pensamento medieval. Sobre essa realidade, é
correto afirmar que:
a) o pensamento árabe medieval é fruto direto da filosofia romana, já que esta
influenciava os autores mouros.
b) o Império Bizantino se destacou na produção filosófica e literária, sendo a poesia
épica a grande contribuição bizantina para a cultura medieval.
c) não há ligações entre a produção cultural bizantina e o Renascimento cultural
europeu de fins do período medieval.
d) a filosofia de Aristóteles influenciou o pensamento do grande filósofo árabe Averróis.
e) apesar de importante economicamente, a presença árabe na Península Ibérica não
teve relevânica na vida cultural da Europa medieval.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
Antropologia das Religiões. Antônio Carmo. Lisboa: Universidade Aberta.
Islamismo. Jamal Elias. Lisboa: Edições 70.
A cruz e o crescente: cristianismo e islã, de Maomé à Reforma. Richard Fletcher. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira.
As cruzadas vistas pelos árabes. Amim Maalouf. São Paulo : Brasiliense.
Ocidente x Islão. Voltaire Schlling. 2 ed. Porto Alegre: LePM.
Cinema
As mil e uma noites
(EUA, 2000. 150 min). Direção de Steven Barron.
Neste clássico com uma superprodução, grande elenco e efeitos
especiais de última geração. Por ter sido vítima de uma tentativa de
assassinato por parte de sua primeira mulher, o sultão decide matar
Scheherazade no dia seguinte à posse do império. Para adiar sua
sentença, a bela mulher lhe conta mil e uma histórias sobre terras
exóticas, inimigos desconhecidos, magos, princesas e dragões.
Fascinado, o sultão adia noite após noite a execução de sua esposa !
Sites
Museu Calouste Gulbenkian
A página contém informações e exposições sobre a produção artística do Oriente Islâmico
nos séculos XII a XVIII. Disponível em: www.museu.gulbenkian.pt
Arábias
Organizado pela comunidade árabe no Brasil, pode-se obter informações sobre o Império
Árabe, Maomé e as Cruzadas. Disponível em: www.tendaarabe.com
A criação de Adão. Michelângelo.
Embarcação em
alusão às grandes
viagens marítimas
do início da
modernidade.
CAPÍTULO 15
A Baixa Idade
Média, 222
CAPÍTULO 16
O Renacimento
Cultural e
Científico, 237
CAPÍTULO 17
As Reformas
religiosas, 255
CAPÍTULO 18
O Estado Moderno e o
Absolutismo
Monárquico, 273
CAPÍTULO 19
A expansão
marítima européia
e as práticas
mercantilistas, 287
, 232
CAPÍTULO 20
A conquista e a
colonização
dos povos da
América, 308
CAPÍTULO 21
As colonizações
espanhola,
inglesa, francesa e
holandesa, 326
A Baixa Idade Média
Na Baixa Idade Média (XI-XV), a Europa Ocidental passou por diversas transformações
econômicas, políticas, sociais, culturais e ideológicas. As principais mudanças foram
desencadeadas pelo ressurgimento da vida urbana, o surgimento da burguesia, o reaquecimento comercial, a crise na mão de obra servil, o estabelecimento das Monarquias Nacionais e a diminuição de poder da Igreja Católica. Essa conjuntura significou a exaustão do
sistema feudal, resultando numa série de recessão que propiciou o desenvolvimento das
práticas capitalistas.
As Cruzadas do oriente e ocidente
As relações sociais e religiosas, no decorrer do feudalismo, foram marcadas por uma
forte rigidez hierárquica. Nessa perspectiva, a relação entre os homens e Deus era
concebida como uma estrutura estamental: o homem adquiriu o direito de habitar no
planeta, em contrapartida devia ser fiel a Deus, principalmente, na prestação de serviços.
Tal concepção assemelha-se com um contrato entre um suserano e um vassalo.
Com essa justificativa, a Igreja Católica medieval conseguiu organizar exército de
cristãos (―vassalos‖) que deveriam guerrear em nome de Deus (―suserano‖). Foi nesse
cenário que surgiu a projeção de guerra santa levada ao extremo com a realização das
Cruzadas.
A partir de então, iniciou-se um projeto de combater os infiéis ou ―inimigos de Deus‖:
mouros, hereges, cristãos ortodoxos e pagãos. O cristão-guerreiro seria gratificado com o
perdão dos pecados (indulgências). No decorrer da luta contra os infiéis, as propriedades
dos soldados de Deus eram administradas pelo clero.
―A Cruzada ficou no coração de cada homem nascido de Cristo como uma lembrança de
glória. É significativo que a própria palavra cruzada tenha ainda hoje um sentido de um
empreendimento heroico, conduzido com uma intenção pura e nobre, ao serviço de uma
grande idéia. Enquanto existir sobre a terra uma Cristandade, e mesmo enquanto existir
civilização em que os princípios cristãos não sejam totalmente abolidos, haverá homens que
conservem a memória dessas páginas de santidade e de heroísmo que os cruzados
escreveram com o seu sangue.‖
ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante, 1993.p.535.
No século XI, os turcos seljúcidas tomaram a região do Oriente Médio. Tal domínio
paralisou as peregrinações aos locais sagrados de Jerusalém (centro de peregrinações
cristãs), costume muito difundido durante o período medieval e altamente valorizado pelos
cristãos da época. Por esse motivo, foram organizadas expedições militar-religioso com a
finalidade de libertar a cidade Santa dos infiéis. Os membros desses movimentos usavam
como símbolo uma cruz. Daí, esse movimento receber o nome de cruzadas em referência
aos guerreiros-vassalos do grande Deus.
Em linhas gerais, as Cruzadas devem ser compreendidas, não só pelo aspecto religioso,
mas também por outros problemas enfrentados pela Igreja Católica na época. Entre eles, a
divisão do clero católico em 1054 (Cisma do Oriente) que fez surgir a Igreja Católica do
Ocidente (sede em Roma) e a Igreja Católica Ortodoxa (sede em Constantinopla).
Em 1095, no Concílio de Clermont, o papa Urbano II proferiu um discurso convocando
os europeus para participar da conquista de Jerusalém. Nessa perspectiva, o papa
encontrara uma brilhante oportunidade de unir novamente a cristandade, o que resultaria
no fortalecimento da Igreja. Além disso, a intensa belicosidade dos senhores feudais foram
canalizadas para a luta contra os árabes.
Entre os anos de 1096 e 1270 foram realizadas oito Cruzadas oficiais destinadas ao
oriente com o grande objetivo de retomar Jerusalém dos árabes. A Primeira Cruzada teve
êxito e culminou com a conquista de Jerusalém em 1099. A divisão dos islâmicos facilitou a
missão dos cruzados.
A tomada de Jerusalém em julho de 1099
―Depois, ao aproximar-se a hora em que Nosso Senhor Jesus Cristo consentiu em sofrer
por nós o suplício da cruz, (...) um dos nossos cavaleiros, de nome Létaud, escalou o muro da
cidade. Mal ele havia subido, todos os defensores abandonaram os muros e puseram-se a
correr através da cidade; os nossos seguiram atrás deles e os acossaram, matando-os e
ferindo-os a golpes de sabre até o Templo de Salomão, onde foi tal a carnificina que os
nossos, enquanto andavam, tinham os tornozelos cobertos por sangue dos inimigos... Por
fim, depois de derrotarem os pagãos, os nossos agarraram no interior do templo um grande
número de homens e mulheres e mataram ou deixaram vivo quem melhor lhes parecia... Os
cruzados logo se puseram a correr por toda a cidade, fazendo mão baixa ao ouro e à prata,
aos cavalos e jumentos, e saqueando as casas que regurgitavam de riquezas. Depois, cheios
de felicidade com lágrimas de alegria, foram os nossos adorar o sepulcro de Jesus Cristo,
nosso Salvador e pagaram a sua dívida para com ele.‖
Citado por ROUSSET, Paul. História das Cruzadas. Rio de Janeiro: Zahar Editore, 1980. p.86.
É bom destacar que os islâmicos eram tolerantes em relação aos povos dominados; nem
mesmo os turcos não eram tão fanáticos como relatavam os cronistas e peregrinos
ocidentais. Cristãos, judeus e muçulmanos conviviam em Jerusalém. Enquanto isso,
milhares de judeus foram perseguidos e massacrados na Europa Ocidental. Além disso,
houve uma grande chacina de velhos, mulheres, homens e crianças durante a conquista de
Jerusalém.
A conquista de Edessa (região ao norte da Palestina) impulsionou a formação da
Segunda Cruzada, a qual fracassou, facilitando a retomada de Jerusalém pelos muçulmanos
em 1187.
Já a Terceira Cruzada (1189-1192) ficou conhecida como a ―Cruzada dos Monarcas‖,
uma vez que tinha como principais integrantes: Ricardo Coração de Leão (Inglaterra),
Frederico Barba Ruiva (Sacro Império) e Filipe de Augusto (França). As disputas entre os
nobres prejudicaram a expedição.
Fonte: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991.
Financiada por Veneza, a Quarta Cruzada teve caráter eminentemente comercial. O
percurso dessa campanha foi desviado para a cidade de Zara (húngara e cristã). Em seguida
os venezianos dominaram a cidade Constantinopla. Essa cruzada proporcionou uma série de
mudanças de ordem econômica, social e política na Europa Ocidental.
As Cruzadas subseqüentes acumularam inúmeros fracassos. A força militar muçulmana
tornou-se quase imbatível e, por isso, os turcos islamizados tomaram posse de São João
d‘Acre, último refúgio dos cristãos no Oriente.
Cena do filme Cruzada. As Cruzadas
devem ser compreendidas, não só pelo
aspecto religioso, mas também por outros
problemas enfrentados pela Igreja
Católica na época.
Houve também Cruzadas organizadas contra os árabes no continente europeu: contra os
mouros na Península Ibérica (século XI), contra os eslavos pagãos (século XIII) e contra os
hereges no sul da França (os cátaros).
As cruzadas ocidentais foram também de grande importância. Elas tinham três objetivos
principais: reconquistar a Península Ibérica dos mouros; propagar os costumes cristãos nas
regiões eslavas e por fim, organizar a Cruzada ao sul dos domínios franceses.
A partir do século VIII, a Península Ibérica passou para o domínio dos muçulmanos,
desde então, começou uma luta para reconquistá-la. Essa região possuía atrativos
econômicos similares com os do oriente. Além disso, na península estava situada um
importante centro de peregrinação, Santiago de Compostela. Por esses motivos, a Igreja
Católica, desde o século XI, passou a oferecer indulgências àqueles que lutassem em favor
da reconquista da península.
Houve também uma forte perseguição no ocidente desencadeada contra os hereges. As
ações dos cruzados e as perseguições contra os heréticos podem ser compreendidas como
sinais da crise do feudalismo. As cruzadas provocaram várias repercussões na Baixa Idade
Média. As principais transformações vão se dá no campo da economia, religião, sociedade e
política.
O revigoramento urbano e comercial
Entre os séculos X e XI, a Europa vivenciava um período de significativas mudanças. O
término das invasões ―bárbaras‖ possibilitou uma fase de paz e desenvolvimento no mundo
medieval.
Um dos sinais dessa estabilidade foi o aumento da população. A diminuição das doenças
e o fim das guerras contra os ―bárbaros‖ reduziu a taxa de mortalidade, conseqüentemente
acelerou o aumento demográfico.
ANO
1000
Nº DE HABITANTES
42 milhões
AUMENTO
1050
46 milhões
9,5%
1100
48 milhões
4,3%
1150
50 milhões
4,2%
1200
61 milhões
22,0%
1250
69 milhões
13,0%
1300
73 milhões
5,8%
Jean Gimpel. A revolução industrial na Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. p.71
Esse considerável aumento populacional impulsionou uma maior procura por alimentos,
levando o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas com a finalidade de gerar uma maior
produtividade. Nesse momento surgiram várias inovações tecnológicas como a charrua
(arado de ferro), que trouxe uma maior eficiência na colheita.
―A explosão demográfica provocou estragos e destruições no meio ambiente. Derrubaramse milhares de hectares de florestas para aumentar a superfície das terras aráveis e
pastagens. Além disso, a madeira era, na época, o principal combustível de uso doméstico, e
servia também para construir casas, moinhos de água e de vento, pontes, fortalezas,
paliçadas de defesa, tonéis e cubas de vinhateiros para pisar a uva. Os navios eram de
madeira, assim como as maquinas e os teares. (...) Em 1300, as florestas da França cobriam
13 milhões de hectares, ou seja, um milhão de hectares a menos que em nossa época.‖
GIMPEL, Jean. A revolução Industrial da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar. P. 73.
Outras novidades foram: o aperfeiçoamento do moinho hidráulico, novas formas de
atrelagem dos animais, a difusão da rotação de culturas (sistema trienal). O resultado
dessas inovações foi o aumento da produção agrícola que contribuiu para aumento da
população e possibilitou a geração de excedentes, fortalecendo o desenvolvimento das
atividades comerciais.
Entretanto, todas essas melhorias não foram suficientes para atender a demanda
populacional, ou seja, o alto grau de consumo da época. A conseqüência disso foi a
exploração de novas terras e a intensa saída do campo para cidade, o chamado Êxodo rural.
É nesse cenário que as cidades começam a se expandir com maior intensidade na
Europa medieval. O principal motivo para esse acontecimento foi o desenvolvimento do
comércio. Uma maior produção agrícola resultou numa maior quantidade de produtos no
comércio que, conseqüentemente, acelerou o consumo.
O fortalecimento do comércio modificou as villas, as cidades portuárias e os antigos
locais de feiras comerciais. Diversas cidades cresceram nas proximidades dos castelos e
mosteiros.
Desde o início da Idade Média, alguns comerciantes e artesãos garantiam, mesmo em
condições muito precárias, a produção e a circulação de bens entre os feudos. Essas
pessoas moravam nos burgos (cidades fortificadas). Os habitantes desses locais passaram
a ficar conhecidos como burgueses. Eles tiveram um papel importante no desenvolvimento
das atividades comerciais e manufatureiras. O estilo de vida dos burgueses era bastante
diferente dos senhores feudais, por isso, as atividades dos burgueses estão entre os fatores
responsáveis do declínio do sistema feudal.
A princípio, como as cidades surgiram em pontos próximos aos castelos, elas ficaram
sobre o controle dos nobres, assim, os burgueses eram submetidos à autoridade deles.
Entretanto, devido ao crescimento da vida urbana e do comércio, os burgueses se
fortaleceram e adquiriram condições para comprar sua autonomia, os denominados
movimentos comunais.
―O fator que melhor refletiu e acelerou as transformações sociais foi, porém, o aparecimento de um segmento burguês. O crescimento demográfico e econômico, as cidades da
Idade Média Central revigorou, pois para aqueles que fugiam dos laços compulsórios da
servidão da vida urbana oferecia muitos atrativos. Como dizia um célebre provérbio alemão
da época, ―o ar da cidade dá liberdade‖. Isto é, depois de morar certo tempo numa cidade (o
que podia variar de um a dez anos, conforme o local), o camponês tornava-se homem livre.
Mais do que isso, tornava-se burguês (habitante do burgo, ou seja, da cidade), o que
significava uma situação jurídica própria, bem definida, com obrigações limitadas e direitos
de participação política, administrativa e econômica na vida da cidade. É verdade que desde
os fins do século XII os imigrantes não encontravam nas cidades as oportunidades com que
sonhavam, formando um proletariado que frequentemente acabou por se chocar com a
burguesia dona das lojas e oficinas. Mas, utopicamente, os centros urbanos continuaram a
seduzir os homens do campo.
(...)
A burguesia, cujo aparecimento na Idade Média Central tinha expressado as transformações sociais então em gestação, consolidou-se com a crise aristocrática. Foi assim que
se deu a penetração burguesa no campo, com a compra de terras que ocorria pelo menos
desde o século XII acelerando-se na Baixa Idade Média.
FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 95 e 98.
Já a partir do século XIII, tradicionais núcleos de origens romanas foram reformados e
vários burgos se transformaram em importantes cidades. As cidades alcançavam sua
liberdade de maneira pacífica, através da compra de cartas de franquia, o que davam sua
autonomia política e administrativa. Porém, a luta pela independência envolvia também
conflitos, boa parte deles contavam com o apoio de alguns reis que visavam o seu
fortalecimento frente aos senhores feudais.
Após a conquista das independências, as cidades eram governadas pelos setores mais
ricos da manufatura e do comércio. Cada segmento estruturava-se segundo sua aptidão
(alfaiate, ferreiro), formando as corporações de ofício, denominadas também de guildas ou
grêmios. A principal função dessas associações era evitar a concorrência. Para atingir esse
propósito, havia a fixação dos preços dos produtos e dos salários. Além disso, a quantidade
e a qualidade dos produtos eram rigorosamente controlados.
Uma característica marcante das corporações de ofícios era sua rígida hierarquia, onde
havia a distinção entre o mestre (proprietário da oficina), o companheiro ou oficial
(trabalhador assalariado ou jornaleiro) e o aprendiz (trabalhava em troca da aprendizagem
do ofício, alimentação ou até mesmo moradia).
O título de mestre, relativamente analisado, estava aberto a todos os artesãos, pois após
a conclusão da etapa da aprendizagem, se os mesmos demonstrassem extremas habilidades
a uma banca de examinadores, poderiam atingir a condição máxima de uma corporação.
Entretanto, no fim do século XIII há uma sensível mudança quanto a isso. Passa a ser,
desde então, exigido que o aprendiz criasse uma brilhante obra (obra-prima) perante os
examinadores. Esse procedimento, com o decorrer dos anos tornou-se obrigatória.
O desenvolvimento do comércio fez com que alguns artesãos passassem a depender de
um comerciante, o qual viabilizava matéria-prima e instrumentos de trabalho. Objetivando
adquirir maiores vantagens, os comerciantes compravam matérias-primas de menores
custos e mão-de-obra barata. Com esse procedimento, criaram bases para o surgimento das
manufaturas do mundo moderno.
As manufaturas expandiram-se nessa época em resposta às necessidades de moradia e
vestuário e também devido às periódicas guerras. O aumento populacional também
contribuiu para a busca de uma vida mais confortável entre os membros das famílias mais
ricas.
As diversas doações dos burgueses contribuíram para a efetivação da construção e de
reformas de muitas igrejas após o século XII. Essas generosas doações foram feitas em
troca de benefícios espirituais. Outro objetivo era neutralizar a oposição feita pela Igreja às
atividades burguesas, tais como, o empréstimo de dinheiro a juros (usura). No entanto, o
clero continuou condenando essas práticas e desencadeou uma forte perseguição contra os
judeus (habilidosos comerciantes).
Os comerciantes medievais organizavam suas corporações, denominadas de hansas. O
conjunto de hansas formava a Liga Hanseática. Essa organização se consolidou, a partir do
século XIII, principalmente, na região de Flandres (Holanda e Bélgica). Já ao norte, o
referencial foi a Hansa Teutônica, que dinamizou as atividades comerciais entre as várias
hansas da região da Alemanha.
Em meados do século XIII, houve o aparecimento dos banqueiros, cambistas e usurários
de diversas origens. No entanto, os principais banqueiros do período, concentravam-se nas
ricas cidades Veneza e Gênova.
A partir disso, há ampla expansão de créditos, o que beneficiou o desenvolvimento das
atividades comerciais e manufatureiras. Houve também o fortalecimento do comércio
marítimo costeiro, terrestres e fluviais.
As transformações também atingiram as relações de trabalho na Baixa Idade Média. Nas
terras dos senhores, foram extintas algumas obrigações servis e, após o século XII, os
camponeses passaram a exigir pagamento em dinheiro ou em parte da produção agrícola
pelas suas atividades exercidas.
Todas essas transformações eram incompatíveis com o feudalismo, o qual já estava
dando sinais de sua decadência. Paulatinamente, o próprio sistema feudal criou elementos
para a sua desestruturação.
As feiras medievais
No decorrer da Idade Média, as atividades comerciais enfrentaram diversos obstáculos.
As principais dificuldades eram a escassez de boas estradas, falta de segurança e as altas
taxas cobradas pelos senhores por transitar em suas terras (os pedágios). O comércio
marítimo não possuía embarcações eficientes e nem instrumentos de navegação
sofisticados.
Por volta do século XI, o comércio no Mediterrâneo adquire uma nova dinâmica. Devido
às cruzadas houve uma entrada muito grande de produtos orientais na Europa, tais como
especiarias (cravo, canela, pimenta, noz-moscada) e tecidos luxuosos. Todos esses produtos
eram bastante assediados pela nobreza. Com um tempo cidades como Veneza, Gênova,
Pisa e Amalfi se apresentam como poderosas unidades mercantis. No entanto, Veneza era a
principal potência da época. Essa cidade controlava o fluxo de mercadorias entre o oriente e
ocidente. Por isso, que já no século XIII, os ducados (moedas de ouro de Veneza), eram
aceita como unidade monetária internacional.
Até o século XI, as feiras medievais eram limitadas às trocas de produtos agrários.
Entretanto, após o século XI, ocorre uma considerável expansão. Geralmente, essas feiras
eram localizadas em cruzamentos das principais estradas. As feiras eram centros de
encontros de diversos comerciantes de várias regiões da Europa.
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987. p.60-63.
Nas feiras medievais eram comercializadas uma ampla variedade de produtos: gado,
peixe, vinho, trigo, especiarias, produtos medicinais, tecidos e fios (seda, lã, linho). Os
monarcas e os senhores feudais ficaram interessados que as feiras fossem realizadas em
suas propriedades, pois podiam cobrar impostos. Em contrapartida, os burgueses podiam
transitar livremente com suas mercadorias, além disso, os nobres os defendiam dos
salteadores.
Devido a grande circulação de uma grande diversidade de moedas, os cambistas
tiveram uma função crucial nas feiras. Eles faziam a troca local das moedas cunhadas de
outras regiões. As principais feiras da Europa foram realizadas em Champagne, na França,
ao norte da Itália e na região de Flandres.
As transformações sociais
A sociedade medieval durante a Alta Idade Média era fortemente hierarquizada. Tal
característica permanecia durante a Baixa Idade Média, ou seja, a sociedade era composta
de três categorias: o clero (intermediário entre os homens e Deus), a nobreza (guerreiros,
protetores dos feudos, das mulheres e dos fracos), os servos (camponeses ligados à terra),
os vilões (trabalhadores sem obrigações com o senhor feudal), os comerciantes e os
trabalhadores urbanos.
―Tripla é, pois, a casa de Deus, que se crê uma: embaixo uns rezam, outros combatem, outros
ainda trabalham; os três estão juntos e não suportam ser separados; de forma que sobre a
função de um repousam os trabalhos dos outros dois, todos por sua vez entreajudando-se.‖
Citado em DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Editorial Estampa, 1982.
No decorrer da baixa Idade Média percebe-se o surgimento de novos espaços na
sociedade feudal. Os religiosos, que dominavam a leitura e a escrita em latim, passaram a
prestar serviços ao rei e a alta nobreza. Nesse período também, surge uma nova instituição
de ensino: a universidade. As universidades de Bolonha (final do século XI) e a de Paris
(1150-1170) foram as primeiras a serem fundadas. Os professores dessas instituições, em
sua maioria, estavam ligados à Igreja Católica. Coube a esse grupo de intelectuais iniciarem
um conhecimento que pudesse desvincular razão e fé.
A estrutura social feudal passa por nítidas mudanças. O surgimento de um novo grupo
social, a burguesia, a qual se fortalecia à medida que acelerava a crise do sistema feudal.
Nesse momento, inicia-se um deslocamento do eixo econômico do mundo rural-agrícola
para o espaço urbano e comercial. O empobrecimento da nobreza feudal, devido à
diminuição do recrutamento da mão de obra servil, causada pela redução da população,
alterou as relações de poder entre senhores e servos.
Esse quadro social provoca a diminuição da servidão, uma vez que muitos servos
compram a sua liberdade, fogem ou se tornam pequenos proprietários. No entanto, em
outras regiões, como na Inglaterra e no Leste europeu, há uma intensificação da servidão.
A crise do Feudalismo
No decorrer da Baixa Idade Média, o feudalismo adquiriu novos aspectos. No entanto,
isso não foi suficiente para impedir o surgimento de uma crise generalizada que vai do
século XIII e se prolonga até o XV.
Os principais fatores que contribuíram para a exaustão do feudalismo foram: o
esgotamento dos solos férteis, a paralisação tecnológica, as pestes, as oscilações populacionais e as contínuas e demoradas guerras.
No período medieval, já explorava-se as terras até o seu esgotamento. Isso provocou
uma estagnação na produção, que a partir do século XIII, diminuiu. A conseqüência
principal desse fato foi a elevação dos preços dos produtos básicos da época (os cereais). A
escassez de circulação de moedas devido o declínio das atividades agrícolas agravou-se
mais com a exaustão das minas de ouro e prata. Desse modo, o comércio e as finanças
passam por uma forte crise.
Nessa época houve uma elevação na taxa de mortalidade e uma redução na de
natalidade. Devido a queda no crescimento populacional, houve também uma redução na
procura de trigo e demais cereais. Assim, provocou-se um fenômeno oposto ao anterior: os
preços das mercadorias foram reduzidas. Simultaneamente, os preços dos produtos
manufaturados elevaram-se assustadoramente. Consequentemente, seus lucros diminuíram, devido à subida dos preços. Esses acontecimentos prejudicaram os aristocratas e, por
isso, eles recorreram às guerras e passaram a cobrar mais obrigações aos servos. Essas
medidas eram desencadeadas como meios de garantir o padrão de vida entre os nobres.
A exaustão do feudalismo: peste, fome e rebeliões
Ao longo dos séculos XIV e XV, após uma relativa fase de estabilidade, a economia
européia sofre uma forte crise. Entre os principais fatos que contribuíram para essa recessão
podemos mencionar a peste negra, introduzida na Europa a partir de 1348. Segundo os
indícios, a peste tem origem oriental. Conhecida hoje, como peste bubônica, essa doença é
transmitida ao ser humano através da pulga do rato. Ela foi responsável pela dizimação de
milhões de pessoas na Europa Ocidental. A alta taxa de mortalidade contribuiu para
desestruturação da produção, o que motivou o aumento da fome.
A falta de higiene e a concentração urbana contribuíram para disseminação da peste
negra. A precariedade da coleta de lixo e do sistema de esgoto favoreceram o alastramento
da epidemia. Assustados, muitas pessoas da época acreditavam que a peste era um castigo
divino. No entanto, Boccaccio, em sua obra Decameron, faz uma análise crítica e descritiva
da epidemia:
―A peste, em Florença, não teve o mesmo comportamento que no Oriente. Neste, quando
o sangue saía pelo nariz, fosse de quem fosse, era sinal evidente da morte inevitável. Em
Florença, apareciam no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou na
axila, algumas inchações. Algumas cresciam como maçãs; outras, como um ovo; cresciam
umas mais outras menos; chamava-se o populacho de bubões (...) Tornara-se enorme a
quantidade de curandeiro, assim como de cientistas. Contavam-se entre eles homens e
mulheres que nunca haviam recebido uma lição de medicina. Assim como era certo que
poucos se curavam, também é certo que, ao contrário desses, quase todos, após o terceiro
dia do surgimento dos sinais referidos acima, faleciam. Sucumbiam uns mais cedo, outros
mais tarde; a maioria ia-se para o túmulo sem qualquer febre nem outra complicação.‖
BOCCACCIO, Giovanni. Decameron. São Paulo:Abril Cultural, s.d.
Além da Peste Negra, no século XIV, a mudança de mentalidade impulsionou o
surgimento de questionamentos da ordem feudal. Essa nova postura foram fundamentais
para a ocorrência das modificações econômicas, políticas, culturais e sociais.
Flagelantes: movimento religioso místico que
surgiu como reação à Peste.
A morte de muitos camponeses, devido a peste negra, e as secas periódicas provocou
uma redução na produção agrícola. Desse modo, há um aumento drástico da fome. Nos
campos quase isolados, os pouco camponeses reivindicavam melhores condições de trabalho
e uma parte maior da produção. Em contrapartida, os senhores criaram e impuseram
medidas que impediam a saída dos servos de suas reservas. Simultaneamente, nas cidades,
os monarcas pagavam aos artesãos os mesmos salários anteriores à peste negra.
―Essa sublevação contra o jugo servil, iniciada a 28 de maio de 1358, é conhecida pelo
nome de Jacqueria, derivado de Jaques Bonhomme (Jaques, o simples), apelido depreciativo
que os nobres puseram nos camponeses. A sublevação camponesa não contava com um
plano prévio: desenvolveu-se espontaneamente.
Os camponeses ameaçaram ‗aniquilar todos os nobres até o último‘. A eles se uniram os
artesãos das aldeias e os pobres das cidades. (...)
Os nobres foram atacados de surpresa e não puderam oferecer resistência organizada
desde o princípio. Os camponeses destruíram os castelos feudais e exterminaram seus
habitantes.‖
KOMINSKY, E. A. História da Idade Média. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, s.d. p. 116-117.
Entretanto, os trabalhadores não aceitaram esses condicionamentos. Por isso, foram
iniciadas diversas rebeliões contra os senhores feudais. Os levantes dos jornaleiros, em
1323-1328, foram um dos primeiros. Já na França, em 1358, o campesinato se organizou e
sublevou-se contra a ordem feudal. Esses movimentos camponeses ficaram conhecidos
como jacqueries. Essas revoltas rurais foram fortemente reprimidas.
A crise generalizada na Europa no século XIV foi marcada pelas baixas colheitas, pestes,
diminuição populacional, inflação, abandono das aldeias, violentas rebeliões nas cidades e
nos campos.
Essa situação impulsionou os vários grupos sociais a procurar alternativas para garantir
suas sobrevivências. Os trabalhadores rurais e urbanos usaram as rebeliões. Já a nobreza se
envolveu com os conflitos dinásticos. Essa era uma maneira interessante de adquirir novas
propriedades. A Guerra de Cem Anos (1337-1453) foi o mais grave conflito da época que
envolveu a nobreza francesa e inglesa.
Essas crises contribuíram para o surgimento de novas maneiras de organização política
(a formação dos Estados Nacionais), econômica (mercadores e banqueiros) e social (novas
classes sociais, os burgueses). Desse modo, uma nova ordem estava a caminho.
TEXTO COMPLEMENTAR
Texto 1
A cidade Medieval e a cidade moderna
―A cidade contemporânea, apesar de grandes transformações, está mais próxima da cidade
medieval do que esta última da cidade antiga. A cidade da Idade Média é uma sociedade
abundante, concentrada em um pequeno espaço, um lugar de produção e de trocas em que
se mesclam o artesanato e o comércio alimentados por uma economia monetária. É também
o cadinho de um novo sistema de valores nascido da prática laboriosa e criadora do trabalho,
do gosto pelo negócio e pelo dinheiro. É assim que se delineiam, ao mesmo tempo, um ideal
de igualdade e uma divisão social da cidade, na qual os judeus são as primeiras vítimas. Mas
a cidade concentra também os prazeres, os da festa, os dos diálogos na rua, nas tabernas,
nas escolas, nas igrejas e mesmo nos cemitérios. Uma concentração de criatividade de que é
testemunha a jovem universidade que adquire rapidamente poder e prestígio, na falta de
uma plena autonomia.‖
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.
Texto 2
No texto a seguir, a autora pretende mostrar como seria a sua vida se você morasse numa
cidade européia durante o revigoramento comercial e urbano na Baixa Idade Média.
Cidade e comércio: o que você fabricaria, compraria e venderia?
―Se você morasse numa cidade, como seria a sua vida? Suja, barulhenta, apinhada de gente,
malcheirosa e, provavelmente, muito curta. As doenças se disseminavam rápida-mente onde
muitas pessoas viviam juntas, sem esgoto nem água limpa. Embora houvesse algumas belas
casas construídas pelos nobres e comerciantes, a maioria das pessoas contava com um único
aposento para trabalhar, comer e dormir. Por outro lado, as cidades eram o lugar para se
fazer fortuna. A maioria dos moradores da cidade era pobre, mas alguns ―príncipes
mercadores‖ nas regiões onde hoje se localizam a Itália, a Alemanha e a Holanda provaram
que era possível tornar-se muito rico, mesmo sendo de origem humilde. Como aprendiz, você
passaria sete anos aprendendo um ofício. Mais tarde, você poderia tornar-se mestre, fazendo
artigos de qualidade para vender a preços altos ricos visitantes da cidade. Homens e
mulheres que faziam jóias, sedas bordadas e belas travessas de ouro abriam lojas em
Londres, Paris, Veneza e Roma. Talvez você preferisse montar um negócio para oferecer
serviços: uma barraca de comida ou uma casa de banhos? Todos eram muito lucrativos. Se
você fosse um estudioso, poderia seguir uma dessas profissões: médicos, boticários,
advogados e escribas tinham salas para atender nas grandes Cidades. Havia banqueiros,
cambistas e agiotas também. Todos cobravam altos honorários por seus serviços.‖
MACDONALD, Fiona. Como seria a sua vida na Idade Média? São Paulo: Scipione, 1999. p. 25
Analisando o texto
1. Após a leitura dos dois textos, há alguma semelhança entre as cidades medievais e as
cidades atuais? Justifique.
2. Faça um comentário sobre a estrutura urbana das cidades medievais e das cidades
contemporâneas.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Explique os principais fatores que favoreceram a criação do movimento das cruzadas.
2. As cruzadas foram expedições militar-religiosa que tinham como objetivo inicial libertar a
cidade sagrada de Jerusalém. Nessa perspectiva o choque entre católicos e islâmicos
adquiriu o caráter de ―guerra santa‖. Nesse sentido, em sua opinião há no mundo
contemporâneo conflitos que podemos classificar como ―guerra santa‖? Quais?
Justifique.
3. Explique os principais objetivos das cruzadas empreendidas no início da Baixa Idade
Média.
4. Cite os principais fatores que provocaram a crise do feudalismo.
5. Indique três circunstâncias do contexto do século XIV que podem ter contribuído para o
aumento do número de revoltas camponesas.
6. Leia o texto a seguir.
―Essa gente miserável começou a se sublevar porque alguns diziam que eram mantidos
em grande servidão e que, no começo do mundo, não havia servos (...) (viam-se como)
homens livres semelhantes aos seus senhores e não como bestas (...) motivo pelo qual
não queriam mais sofrer. Pelo contrário, eles desejavam ser iguais e, se trabalhassem ou
prestassem algum serviço para os senhores, queriam receber salários.‖
MACEDO, José Rivair. Movimentos populares na Idade Média. São Paulo: Moderna, 1993. p.56.
O texto expressa uma opinião sobre as causas da revolta Walt Tyler, ocorrida na
Inglaterra em 1381. Após a leitura, dê sua opinião sobre as revoltas camponesas que
também contribuíram para a crise do feudalismo.
7. (Unicamp) No século XIII, um teólogo assim condenava a prática da usura:
O usurário quer adquirir um lucro sem nenhum trabalho e até dormindo, o que vai
contra a palavra de Deus que diz: ―Comerás teu pão com o suor do teu rosto‖. Assim o
usurário não vende a seu devedor nada que lhe pertença, mas apenas o tempo, que
pertence a Deus. Disso não deve tirar nenhum proveito.
Adaptado de Le Goff, J. A bolsa e a vida. São Paulo: Brasiliense, 1989.
a) O que é usura?
b) Por que a Igreja condenava a usura?
c) Relacione a prática da usura com desenvolvimento do capitalismo no final da Idade
Média.
8. (Fuvest) Na Europa Ocidental dos nossos dias, em conseqüência do processo de
integração, verifica-se um problema parecido com que existiu durante a Baixa Idade
Média. Trata-se do problema de articulação das três esferas do poder político: o poder
local, o poder do Estado-nação e o poder supranacional. Hoje, a integração europeia está
sendo feita, ao contrário do que ocorreu no fim da Idade Média, em prejuízo do Estadonação.
Indique:
a) quem exercia cada uma das três esferas de poder durante a Baixa Idade Média?
b) qual delas, no fim daquele período histórico, se sobrepôs às demais. Por quê?
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (COVEST) Muitas lutas sociais compõem a história em todos os tempos. As Cruzadas
marcaram a Idade Média, fazendo seus atores viverem violentas batalhas. Numa análise
histórica do seu significado, podemos afirmar que as Cruzadas:
a) trouxeram o fim imediato do feudalismo, destruindo o poder da nobreza e
fragmentando a extensão das grandes propriedades territoriais.
b) foram importantes para aproximar povos de culturas diferentes, apesar dos
confrontos sangrentos e das ambições das suas lideranças políticas.
c) transformaram a Europa num campo de batalha militar, fazendo desmoronar sua
economia e sua vida social nos núcleos urbanos.
d) tiveram influências nas mudanças religiosas, debilitando o poder do catolicismo, sem
contudo interferir nas questões políticas da época.
e) consolidaram o poder dos muçulmanos na economia medieval, facilitando o monopólio também das suas crenças religiosas.
2. (COVEST) O mundo medieval europeu recebeu influência destacada do catolicismo. A
religião esteve presente na sociedade, em grande parte das suas experiências culturais.
O poder da Igreja Católica foi visível, e a ordem feudal predominou em várias regiões da
Europa. Na ordem feudal:
a) durante toda a Idade Média, prevaleceu o poder da nobreza, sem interferência dos
papas, na sua política.
b) existiam latifúndios com uma produção que buscava a auto-suficiência econômica.
c) havia uma hierarquia social, onde a riqueza definia a posição social, independente da
origem familiar.
d) havia uma produção agrícola importante, em que o comércio entre as cidades era
fundamental para a venda dos excessos.
e) eram adotadas regras definidas para todos, com usos e costumes universalizados
para toda a Europa Ocidental.
3. (COVEST) A disseminação da Peste Negra na Europa, durante a Idade Média,
provocando uma grande mortalidade, contribuiu para:
a) o aumento crescente das atividades manufatureiras, devido à concentração da
população nas cidades.
b) o êxodo de parte da população para o oriente, esvaziando as cidades mais
importantes.
c) o aumento das superstições e da religiosidade, devido ao desespero e ao medo da
morte.
d) o aumento relativo da população do campo, uma vez que ocorreu a morte de boa
parte dos habitantes das cidades.
e) o enfraquecimento do poderio militar europeu, que sofreu, na época, freqüentes
invasões dos povos bárbaros.
4. (COVEST) As transformações econômicas e sociais dos séculos XII e XIII provocaram a
chamada ―crise de consciência religiosa‖. Sobre os movimentos heréticos surgidos neste
período, assinale a alternativa correta.
a) Na Europa, durante estes séculos, a fé em Deus era um valor inquestionável;
portanto, os movimentos heréticos católicos foram contra as práticas religiosas
desenvolvidas por seitas rurais.
b) A insatisfação com relação ao comportamento herético dos príncipes católicos, ávidos
por mais poder do que o do Papa Bonifácio III, fez com que Felipe, o Belo, rei da
França, garantisse a cobrança de impostos junto aos príncipes tidos como heréticos.
c) As ordens mendicantes, consideradas como uma facção religiosa de hereges, foram
duramente perseguidas durante o papado de Honório III, no século XIII.
d) Com as invasões de povos germânicos, na Europa, durante a Alta Idade Média, a
maioria das bibliotecas foi destruída, restando apenas algumas pertencentes à Igreja
Católica, que serviram de base para o surgimento dos movimentos heréticos
europeus.
e) As heresias, que provocaram o surgimento de movimentos heréticos, foram doutrinas
contrárias aos ensinamentos da Igreja, devido à insatisfação em relação ao
comportamento do clero.
5. (COVEST) As Cruzadas misturavam interesses econômicos com interesses religiosos e
não alcançaram o resultado esperado pelas suas lideranças. De fato, elas serviram para:
a) aprofundar a crise do feudalismo, contribuindo para destruir suas bases sociais e
econômicas.
b) dificultar o comércio entre Oriente e Ocidente, provocando guerras constantes entre
bizantinos e muçulmanos.
c) enfraquecer o poder econômico das cidades italianas, renovando práticas religiosas
do catolicismo menos solidárias.
d) fragmentar o poder da Igreja Católica, abrindo espaço social para o surgimento das
monarquias constitucionais.
e) consolidar a grande propriedade rural, prejudicando a vida urbana e as mudanças no
comércio.
6. (UPE) As lutas decorrentes das Cruzadas mostraram não somente o fanatismo religioso
mas também afirmaram a importância de interesses econômicos. As Cruzadas economicamente:
a) fortaleceram o poder de Constantinopla, enfraquecendo o comércio europeu durante
a Idade Média.
b) mantiveram as mesmas rotas comerciais do Império Romano, gerando prejuízos para
os comerciantes.
c) acabaram com o comércio nas grandes cidades européias, fortalecendo o feudalismo.
d) diminuíram bastante o prestígio comercial de Constantinopla, fortalecendo o
comércio no Mediterrâneo.
e) consolidaram o poder da burguesia francesa, interessada em derrotar os
comerciantes italianos.
7. (UPE) São elementos históricos que contribuíram para a crise do feudalismo:
1) as críticas aos desvios da Igreja católica.
2) o renascimento comercial e urbano
3) a formação da burguesia
4) o retorno às relações servis.
Estão corretas
a) apenas 1, 3 e 4
b) apenas 1, 2 e 3.
c) apenas 1 e 2.
d) apenas 1 e 4.
e) 1, 2, 3 e 4.
8. (UPE) Sobre as cidades européias da Idade Média, leia as afirmativas abaixo.
I. Praticamente não havia cidades, pois o comércio feudal era frágil, sustentado por
feiras esparsas.
II. Desapareceram depois das invasões bárbaras, restando pequenas cidades no sul da
França.
III. Muitas cidades medievais tiveram seu crescimento relacionado com as grandes feiras.
IV. Algumas cidades italianas, como Veneza, eram importantes comercialmente.
V. As cidades cresceram com o planejamento do poder público e o grande incentivo da
Igreja Católica.
Estão corretas apenas
a) II e V.
b) III e IV.
c) I e V.
d) I e IV.
e) II, III e IV.
9. (COVEST) As corporações de ofício movimentaram a vida econômica das cidades
medievais na Europa, onde a idéia do lucro era:
a) aceita, devido às influências de uma burguesia que se expandia no comércio da
época, sobretudo no mundo urbano.
b) condenada pela prevalência de uma mentalidade religiosa que defendia a existência
do justo preço no comércio.
c) malvista, apenas, por aqueles que estavam ligados ao clero católico, dono das
maiores corporações da época.
d) praticada por todas as corporações, pois não havia influências da Igreja nas
atividades econômicas das cidades.
e) restrita às corporações existentes nas cidades italianas, não sendo aceita pelas
cidades da Europa Central.
10.(UPE) As dificuldades do feudalismo resultaram em mudanças na organização social e
econômica da Europa. Essas mudanças:
a) favoreceram o desenvolvimento de uma agricultura descentralizada, voltada para as
colônias da América.
b) trouxeram transformações na vida urbana, com renovações nas relações de trabalho.
c) fortaleceram a nobreza e a Igreja Católica, donas dos grandes territórios agrícolas da
época.
d) descentralizaram, mais ainda, a economia, com o fim imediato dos latifúndios e o
crescimento rápido das cidades.
e) refizeram os princípios culturais da época, provocando o surgimento de uma
arte sem qualquer influência do catolicismo.
11.(FUVEST) Sobre as invasões dos "bárbaros" na Europa Ocidental, ocorridas entre os
séculos III e IX, é correto afirmar que:
a) foi uma ocupação militar violenta que, causando destruição e barbárie, acarretou a
ruína de todas as instituições romanas.
b) se, por um lado, causaram destruição e morte, por outro contribuíram,
decisivamente, para o nascimento de uma nova civilização, a da Europa Cristã.
c) apesar dos estragos causados, a Europa conseguiu, afinal, conter os bárbaros,
derrotando-os militarmente e, sem solução de continuidade, absorveu e integrou os
seus remanescentes.
d) se não fossem elas, o Império Romano não teria desaparecido, pois, superada a crise
do século III, passou a dispor de uma estrutura socioeconômica dinâmica e de uma
constituição política centralizada.
e) os godos foram os povos menos importantes, pois quase não deixaram marcas de
sua presença.
12.(FATEC) Jacques Le Golf e George Duby, especialistas em Idade Média, dividem a
sociedade em três grandes ordens. A 1ª compreendia os integrantes do clero, a 2ª
reunia os senhores feudais, e a última era constituída pelos servos. Sobre a sociedade
feudal é correto afirmar que:
a) havia uma grande mobilidade social, apesar das rígidas tradições e vínculos jurídicos
determinando a posição social de cada indivíduo.
b) a honra e a palavra tinham importância fundamental, sendo os senhores feudais
ligados por um complexo sistema de obrigações e tradições.
c) os suseranos deviam várias obrigações aos seus vassalos, por exemplo, o serviço
militar.
d) os servos, como os escravos, não tinham direito à própria vida, viviam presos à terra
e dela não podiam sair.
e) os vilões constituíam uma parcela de senhores feudais que procuravam por outro
senhor mais poderoso, jurando-lhe fidelidade e obediência.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
A vida de um cavaleiro no tempo das cruzadas. GILBERT, John. São Paulo, Verbo, 1985.
As cruzadas. HILLS, Ken. Tradução de Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Ática, 1994.
Viver nas sociedades medievais. MACEDO, José Rivair. São Paulo: Moderna, 1999.
(Coleção Desafios).
A Idade Média. RIUS, Maria e ORIOLVERGÉS, Glória. Adaptação Nicolau Sevcenko. São
Paulo: Scipione, 1990.
A guerra dos Cem Anos. TEIXEIRA, Francisco M. P. São Paulo: Ática, 1996.
Cinema
Cruzadas
Direção de Ridley Scott. EUA / Inglaterra / Espanha, 2005. 145
minutos.
Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que
guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a
visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é
também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica
sua vida a manter a paz na Terra Santa.
Joana D‟Arc
Direção de Luc Besson. EUA, 1999. 155 minutos.
Em 1412, nasce em Domrémy, França, uma menina chamada Joana (Milla Jovovich). Ainda
jovem, ela desenvolve uma religiosidade tão intensa que a fazia se confessar algumas vezes
por dia. Eram tempos árduos, pois a Guerra dos Cem Anos com a Inglaterra se prolongava
desde 1337.
O Renascimento Cultural e Científico
A Europa, entre os séculos XV e XVI, vivenciou uma série de mudanças. As crises
enfrentadas pelo feudalismo, desde o século XI, já davam sinais dessas transformações.
Nesse sentido, a modernidade faz o homem pensar, agir e sentir o mundo de um novo jeito.
Essa postura do homem moderno provoca incríveis modificações na relação de poder, em
todos os âmbitos: econômicos, políticos, sociais, religiosos e culturais.
A partir do século XV, o sistema feudal e as concepções medievais entraram em colapso.
Essa situação possibilitou o crescimento e expansão do capitalismo e a difusão de um
ousado parâmetro cultural fundamentado no homem.
Cronologicamente, a Idade Moderna se inicia com a Queda de Constantinopla, em 1453.
Entretanto, por essa fase da História ser marcada por intensas mudanças, torna-se difícil
situar onde começa e qual sua extensão.
Fazendo uma análise crítica, podemos observar que alguns elementos manifestados na
modernidade já tinham sido divulgados de alguma forma na Baixa Idade Média. Podemos
citar como exemplos, as reformas religiosas do século XVI que podem ser entendidas como
um prolongamento dos movimentos heréticos medievos. Outro fato interessante foi a
formação dos Estados Moderno, o qual resultou da unidade das monarquias nacionais, entre
os século XII e XV.
―O Renascimento assinala o florescimento de um longo processo anterior de produção,
circulação e acumulação de recursos econômicos, desencadeado desde a Baixa Idade Média.
São os excedentes dessa atividade crescente em progressão maciça que serão utilizados
para financiar, manter e estimular uma ativação econômica. Surge assim a sociedade dos
mercadores, organizada por princípios como a liberdade de iniciativa, a cobiça e
potencialidade do homem, comparado como senhor todo-poderoso da natureza, destinado a
dominá-la e submetê-la à sua vontade, substituindo-se no papel do próprio Criador‖.
FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense.
As primeiras contestações sobre a mentalidade medieval e o seu universo cultural
surgiram em pleno século XIII. Além disso, o revigoramento do comércio e da vida urbana
foram reativadas, também, na Baixa Idade Média.
Desse modo, a modernidade deve compreendida como um período de mudanças e
permanências. O homem, a partir de então, passa a encarar o mundo com um outro olhar.
As coisas ao seu redor adquiriram novos sentidos e valores. A curiosidade humana se torna
uma das fortes marcas da modernidade.
VALORES MEDIEVAIS
O tempo divino. É pecado emprestar dinheiro com juros.
A fé é mais relevante que a razão.
Exaltação do espírito coletivista. Todas as pessoas são consideradas integrantes da
cristandade (coletivismo).
Deus é o centro de todas as coisas (teocentrismo).
O corpo constitui fonte do pecado.
VALORES DA MODERNIDADE
O tempo pertence ao homem e este deve usufruí-lo em benefício próprio.
A razão e a fé são importantes. Há uma valorização da observação e da experiência.
A criatividade e a originalidade do homem são valorizadas (individualismo).
O homem é o centro de tudo (antropocentrismo).
O corpo simboliza a fonte da beleza e do prazer.
O significado do pensamento renascentista
O Renascimento consiste num movimento histórico de múltiplas dimensões. As
experiências renascentistas se manifestaram de diversas formas entre os séculos XII e XVI.
Esse movimento tornou o homem mais inquieto e inconformado com as explicações do
mundo naquele momento. O homem renascentista é, acima de tudo, curioso e interessado
pelas artes, invenções técnicas, política e ciências. Desse modo, todas as áreas do saber
humano foram explorados pelos intelectuais renascentistas. O Renascimento reafirma a
cultura da Antiguidade Clássica. Os pensadores renascentistas consideravam-se herdeiros
diretos da cultura grecorromana.
―Os quatro movimentos que se convencionou considerar inauguradores da Modernidade –
Renascimento, Protestantismo, Descobrimentos e Centralização – são de fato medievais. O
primeiro deles, o Renascimento dos séculos XV-XVI, recorreu a modelos culturais clássicos,
que a Idade Média também conhecera e amara. Aliás, foi em grande parte através dela que
os renascentistas tomaram contato com a Antiguidade. As características básicas do
movimento (individualismo, racionalismo, empirismo, neoplatonismo, humanismo) estavam
presentes na cultura ocidental pelo menos desde princípios do século XII. Ou seja, como já
se disse muito bem, embora o Renascimento só invoque a Antiguidade, é, realmente, o filho
ingrato da Idade Média.‖
SICHEL, Edith. A Idade Média e o Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.171.
Os renascentistas exaltavam o novo e o moderno. Nessa perspectiva, eles vão
classificar o período medievo como um momento de ―obscuridade‖, de ―irracionalidade‖ e
―ignorância‖. A visão de mundo dos renascentistas, baseada na razão e no antropocentrismo, se opunham à medieval caracterizada pelo misticismo e pelo teocentrismo. Vale
salientar, que os homens renascentistas não negavam a existência de Deus, entretanto
buscavam entender a realidade a partir da perspectiva terrena e humana.
A atitude do homem renascentista provocou algumas divergências religiosas, pois os
intelectuais renascentistas além de criticar os costumes da Igreja Católica medieval também
elaboraram novos princípios. Assim, esses questionamentos contribuíram para difusão dos
movimentos religiosos reformistas do século XVI, entre eles podemos citar a Reforma
Protestante coordenada por Martinho Lutero.
O renascimento, no entanto, deve ser entendido como um movimento de transição,
pois mesmo os seus intelectuais pregando a ruptura com a Idade Média, não podemos
esquecer a importância dos monges na divulgação dos valores da cultura clássica. Alguns
membros do clero ajudaram na transmissão dos textos de escritores pagãos e dos primeiros
intelectuais da cristandade.
―(...) o Renascimento foi um movimento, uma revivificação das capacidades do homem, um
novo despertar da consciência de si próprio e do universo – um movimento que se alastrou
pela Europa Ocidental e que, pode-se dizer, durou mais de dois séculos. Foi entre 1400 e
1600 que dominou plenamente.‖
SICHEL, Edith. O Renascimento. Rio de Janeiro: zahar. P. 7.
Assim, para alguns historiadores, o movimento renascentista simbolizou uma completa
ruptura ao período medieval. Já outros, consideram o Renascimento mais uma transição do
que uma cisão profunda, porque muitas manifestações renascentistas foram propagadas
durante a Idade Média ( século XII).
Vários fatores e elementos contribuíram para o surgimento e desenvolvimento do Renascimento. Dentre eles podemos mencionar o renascimento comercial, o renascimento urbano,
a ascensão da burguesia (alguns se tornaram financiadores e amantes da cultura, os
mecenas), a influência dos bizantinos e islâmicos e a invenção da imprensa de tipos móveis.
Em linhas gerais, as principais características do Renascimento foram:
1. Classicismo: os renascentistas resgataram os valores da cultura greco-romana,
utilizando-os nas correntes de pensamento, nas concepções filosóficas e nas doutrinas
políticas. A retomada dos valores da Antiguidade Clássica foi manifestada principalmente
nas artes plásticas.
2. Racionalismo: os renascentistas exaltavam a razão, acreditando que só através da
investigação e da experiência se podia encontrar a verdade. Desse modo, os princípios
religiosos e suas explicações sobre o mundo foram refutados.
3. Neoplatonismo: defendia uma elevação espiritual que possibilitasse aproximar os
homens e Deus. Essa interiorização era usada para tornar o homem mais espiritual e
menos materialista.
4. Individualismo: a capacidade de pensar, criar e inventar do homem são valorizadas.
5. Hedonismo: consistia na valorização do corpo, das satisfações terrenas e espirituais.
Havia também a defesa do culto ao belo e ao perfeito. Esse intenso amor pelas coisas
humanas foi utilizado por diversos escritores renascentistas, entre eles, François
Rabelais e William Shakespeare.
6. Otimismo: os renascentistas exaltavam a vida e todas as formas de hábitos que
garantissem a liberdade do homem agir sobre o meio.
7. Naturalismo: os artistas renascentistas
tinham forte interesse de retratar de forma
rigorosa os homens e os animais. A preocupação em definir a natureza de maneira
fiel impulsionou os estudos sobre o corpo
humano (anatomia), as plantas e os animais. Assim, os intelectuais pretendiam fazer uma transposição do saber alcançado na
pesquisa cientifica para a produção artística.
Homem Vitruviano (1490), Leonardo da Vinci. O homem
tem expressão e sexo definidos, a proporção e a
perspectiva demonstram os conhecimentos matemáticos
do artista.
8. Ideal da universalidade: os pensadores renascentistas afirmavam que uma pessoa
poderia vir a entender e saber tudo o que conhece. Portanto, o renascentista ideal era
aquele que soubesse todas as artes e todas as ciências. O que mais se aproximou desse
modelo foi Leonardo Da Vinci, pois tinha domínio de múltiplas áreas do saber. Ele foi, em
diferentes momentos da sua vida, urbanista, pintor, arquiteto, mecânico, engenheiro,
fisiologista, químico, botânico, geólogo, físico, escultor, cartógrafo, pioneiro da balística,
da aviação, criador do escafandro e do pára-quedas.
―(...) os vossos conhecimentos devem ser extensos, variados e hauridos em todas as
espécies de experiências, sem nada negligenciar daquilo que possa contribuir para a conduta
de vossa vida, para a vossa glória e para a vossa reputação.‖
In: FREITAS, G. de (org). 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1976. p. 143.
9. Humanismo: afirmava que o homem era o centro de todas as coisas. Essa concepção
também é denominada de antropocentrismo. Nesse sentido, os homens possuíam
capacidade de encontrar as verdades da realidade sem, necessariamente, precisar da
intervenção de Deus (teocentrismo). Cabiam também aos homens crescerem material
e espiritualmente, com o propósito de deixar suas marcas no mundo. Os humanistas se
tornaram grandes estudiosos dos intelectuais greco-romanos. A retomada do
pensamento da Antiguidade Clássica se deu porque os artistas e intelectuais
renascentistas acreditavam que o século XIV era uma época fantástica da humanidade,
momento em que a produção artística e o pensamento filosófico tinham como eixo
principal o ser humano. Os humanistas valorizavam de tal maneira os estudos clássicos
que muito deles se tornaram especialistas em latim, grego e hebraico. A intenção deles
era ter acesso aos textos originais grecorromanos sem a intervenção da Igreja Católica,
que, até então, era responsável pelas traduções e interpretações dessas obras. Para
alguns historiadores, o humanismo consistiu num movimento intelectual surgido nos
centros urbanos italianos mais prósperos, como Florença. Os estudos humanos (filosofia,
retórica, poesia, história e matemática) tinham por fim criar condições para o desenvolvimento do homem. Os humanistas se dedicavam a propagação desses estudos.
O Renascimento Italiano
O movimento renascentista surgiu na Itália, no final da Baixa Idade Média. Com o
renascimento comercial e urbano, as cidades italianas se apresentaram como grandes
articuladores das atividades comerciais/burguesas e culturais entre o ocidente e o oriente.
As cidades portuárias italianas mais prósperas foram Roma, Bolonha, Nápoles, Gênova,
Veneza, Florença, Turim, Pisa e Milão. Vale enfatizar, que a Itália não tinha alcançado sua
unidade política ainda (a unificação ocorre no século XIX). Estima-se que na época do
Renascimento a Península Itálica possuía dez milhões de habitantes. Nesse momento, a
região era fragmentada em cinco unidades. Ao norte, destacavam-se as repúblicas de
Florença e Veneza e o ducado de Milão; ao centro, se concentravam os Estados da Igreja; já
ao sul, tinha o reino de Nápoles. A riqueza dessas regiões possibilitou o surgimento de um
grupo de indivíduos ricos, conhecidos como mecenas, os quais à procura de promoção
pessoal patrocinavam as criações científicas e artísticas.
A disputa entre as cidades pelo domínio pleno do comércio impulsionou enormes
conflitos militares. Na época ainda não havia exército unificado, por isso, os comerciantes
mantinham seus locais protegidos pelos condottieri (chefe de tropas). As diversas fases de
instabilidades políticas favoreceram os golpes pelo poder organizados por ricas famílias. Os
casos mais famosos ocorreram em Florença (família Médici) e em Milão (família Sforza).
Foi nesse cenário que se desenvolveu o Renascimento Cultural. Os principais motivos
que explicam o pioneirismo italiano nesse movimento são o comércio de especiarias,
uma burguesia enriquecida e os contatos com as culturas bizantina e islâmica.
Essas circunstâncias geraram condições favoráveis para o desenvolvimento do
Renascimento.
Tradicionalmente, o Renascimento italiano é dividido em três grandes fases: Trecento
(século XIV), Quatrocento (século XV) e Cinquecento (século XVI).
A primeira fase constitui um período de transição, onde há uma convivência entre os
elementos medievais com os ideais humanistas. Já a segunda, caracteriza-se pela ascensão
do movimento renascentista, o qual foi apoiado pelos Médicis (ricos banqueiros). Por fim, a
terceira fase, há uma mudança do centro cultural do Renascimento. Após uma revolta social,
frade Savonarola destitui os Médicis do governo e em seguida implantou medidas que
limitaram a produção cultural. Esse motivo provocou a transferência do núcleo cultural de
Florença para Roma.
GALERIA DEGLI UFFIZI, ITÁLIA
Nascimento de Vênus (1483) de Sandro Boticelli.
Nessa tela o autor conciliou os valores cristãos com os do paganismo.
Foi no Cinquecento que a arte renascentista alcançou o seu apogeu. Nessa fase se
destacaram figuras como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio, e Sandro Botticelli.
Após essa ascensão, o Renascimento italiano entra em profunda crise. Veja agora, as
principais manifestações culturais do renascimento italiano.
1. A pintura
Giotto di Bondoni (1266-1377): Uma das importantes figuras das artes plásticas do
movimento renascentista. As suas criações artísticas romperam com as representações
esquemáticas do período medieval. As pinturas de Giotto são caracterizadas pelo seu
grande naturalismo. Em suas obras as figuras humanas são representadas com grande
naturalismo, principalmente, Cristo e os santos. Além disso, as telas de Giotto
apresentam um sentido de profundidade espacial (perspectiva) e as faces de suas
figuras demonstram sentimento e emotividade. Em suas principais obras, podemos citar
São Francisco de Assis.
Donatello (1386-1466): Construiu várias esculturas que trazem abordagens religiosas,
entretanto elas exaltam o ser humano. Entre as mais importantes esculturas podemos
mencionar São Jorge e Gattamelata.
Sandro Boticelli (1445-1510): As suas obras recuperam cenas da mitologia grega.
Boticelli se tornou num dos expoentes da pintura do Quatrocento. Nas suas obras foram
impressas traços e estilos suaves às figuras representadas. Ele acreditava que a arte
constituía numa expressão simultâneamente espiritual, religiosa e simbólica. Sua
procura pela beleza alcançou o momento máximo em Nascimento de Vênus (1483). Esse
monumental trabalho sugere mais do que o amor físico. Nessa tela Boticelli nos
impressiona pela criação de uma admirável beleza do corpo nu da Vênus que simboliza a
pureza. Uma outra obra importante de Botticelli foi a Alegoria da Primavera. Nessa obra
pode ser notada também a elegância, a beleza e a sensualidade.
Masaccio (1401-1429): Tornou-se um mestre da perspectiva.
Leonardo Da Vinci (1452-1519): Dedicou-se
a vários ramos do saber. A versatilidade e
genialidade desse ícone do Renascimento
também foi expressa na pintura. Suas principais
obras foram La Gioconda (a conhecida Mona
Lisa) e a Santa Ceia. A arte desse grande
talento renascentista foi baseada no estudo
científico da natureza e caracterizada por um
enorme realismo. A pintura de Da Vinci fugiu da
imitação dos clássicos.
La Gioconda (Mona lisa), de Leonardo da Vinci, pintura feita
entre 1503 e 1506.
Rafael Sanzio (1483-1520): Um dos mais populares pintores do Re-nascimento. Ele
ficou conhecido como ―pintor das madonas‖. Seu estilo baseava-se na clareza das
figuras, no equilíbrio e na harmonia. Na sua obra Escola de Atenas, pintada no Vaticano,
podemos observar essas características. Nessa pintura, ao lado dos intelectuais e pensadores gregos representados do tamanho real, destacam-se os filósofos Platão e
Aristóteles. O Papa Leão X e as numerosas madonas são suas importantes obras.
Michelangelo Buonarroti (1475-1564): Foi escultor e pintor. Ele foi responsável pelos
fantásticos afrescos da Capela de Sistina, em Roma. Nessa obra trazem várias pinturas
que abordam alguns momentos relatados pela Bíblia. Por exemplo, A criação de Adão e o
Juízo Final. As pinturas de Michelangelo expressam a dor e a paixão com um grau de
intensidade incrível. Por isso ele leva as concepções estéticas renascentistas ao seu
máximo estágio de potencialidades. Michelangelo foi considerado como o ―gigante do
Renascimento‖. Ele também esculpiu Pietá, Davi e Moisés.
Michelangelo: o gigante do Renascimento
―(...) A Capela de Sistina foi construída a partir de 1475 (o mesmo ano em que
Michelangelo nasceu) e contém em si um espaço simplicíssimo: é uma única e ampla sala
retangular, com as medidas que a Bíblia atribui ao templo de Salomão: 40,23 metros de
comprimento e 13,41 metros de largura. Nas paredes há afrescos de artistas do porte de
Botticelli ou Luca Signorelli, mas pouco reparam nelas.
Ao entrar, por uma pequena porta ao lado do altar, quase todos os visitantes levantam os
olhos vorazes para a abóbada, até que, virando-se satisfeitos, os abaixam em direção ao
―Juízo Final‖. (...)
O afresco foi acolhido com admirado esturpor; mas não faltaram comentários malévolos.
Alguns acharam que os nus (Michelangelo pintou a maioria dos corpos nus) eram demais e
inapropriados para uma capela papal. Tanto disseram que, depois da morte de Michelangelo,
alguns véus e tecidos foram acrescentados em defesa do pudor.‖
SCARPELLINI, Vincenzo. Folha de São Paulo. 14 abr. 2005. Turismo, p. 10.
Ticiano (1487-1576): Um dos maiores pintores da escola veneziana, considerado
também como mestre da cor renascentista. Pintou várias telas baseadas na mitologia
greco-romana. Entre suas principais podemos citar A Vênus de Urbino, Amor Sacro,
Amor profano e Ecce Homo.
Tintoretto (1518-1594): Criou várias obras que utilizavam temas históricos e
religiosos. Suas pinturas também ficaram notáveis pela a forte intensidade de cores. A
sua principal obra foi Paraíso.
2. Literatura
Com a criação da imprensa dos tipos móveis, inventada por Gutemberg, por volta do
século XVI, os livros tornaram-se mais acessíveis ao público maior. O surgimento da
imprensa foi fundamental para o desenvolvimento social e econômico, porque divulgava
novas idéias e técnicas, essenciais às grandes empresas de comerciantes para a
expansão de seus negócios.
Entretanto, antes mesmo do surgimento da imprensa, a península Itálica foi cenário
de uma enorme produção literária. As obras literárias renascentistas foram
caracterizadas pelas críticas às concepções religiosas medieval, pelo uso dos dialetos e
línguas nacionais, pela valorização do homem e a exaltação de suas conquistas.
Dante Alighieri (1265-1321): Nascido em Florença, escreveu a obra A divina
comédia. Essa obra foi escrita no dialeto local, o toscano florentino que deu origem ao
italiano. O costume da época era escrever em latim, a tradicional língua da Igreja
Católica. Dante é considerado o precursor do Renascimento. A Divina Comédia ficou
famosa não pelo tema, ainda medieval e religioso, mas pela forma que segue o estilo do
poema épico clássico. Nesse poema, Dante faz uma peregrinação ao inferno, ao
purgatório e ao paraíso. Nas duas primeiras etapas, foi guiado pelo poeta romano
Virgílio. Já na última etapa, Dante encontra-se com o grande amor da sua vida, Beatriz.
Francesco Petrarca (1304-1374): Considerado o pai da literatura humanista.
Escreveu De África e Cancioneiro. Essa última obra reúne um conjunto de sonetos e
poemas dedicados à sua amada, Laura. Petrarca acreditava que vivia num novo período,
o qual era uma extensão dos anos dourados do Império Romano. Além disso, Petrarca foi
pioneiro da unidade italiana e um dos primeiros a denominar a fase medieval como
período das ―trevas‖.
Giovanni Bocaccio (1313-1375): Autor do clássico Decameron. Esse conjunto de
contos satíricos e anticlericais relatam a sociedade da sua época. Os personagens dessa
obra expressam a complexidade humana e os desejos das camadas populares. Bocaccio
também escreveu em dialeto toscano.
―(...) O sol ainda estava bem alto, porque a conservação tinha sido breve. Por isso, logo
que Dioneu e os outros rapazes se puseram a jogar gamão, Elisa Chamou de parte as
donzelas e lhes disse: Desde que chegamos aqui eu tenho desejado levá-las a um lugar muito
perto de onde estamos, e aonde até agora não creio que nenhuma de nós tenha ido: Vale das
Mulheres. Até hoje, quando o sol ainda vai alto, nunca tinha achado tempo para levá-las até
lá.
(...) Não andaram mais de milha e chegaram ao Vale das Mulheres. Nele entraram por uma
passagem muito estreita, onde corria um límpido regato, nascido em um dos extremos. Viram
que o vale era o mais lindo e aprazível que se pudesse conceber, especialmente naquele
tempo de calor forte. (...)‖
BOCACCIO, Giovanni. O vale das Mulheres. In: Contos de Decameron. São Paulo, Scrininum.
Torquato Tasso (1544-1595): A sua obra Jerusalém libertada trata das realizações de
Godofredo de Bulhão nos movimentos das Cruzadas. Essa obra já revela o sentimento
religioso da Contrarreforma.
Ludovico Ariosto (1474-1533): Escreveu Orlando furioso que aborda as aventuras do
sobrinho de Carlos Magno. A narrativa dessa obra é estruturada entre a lenda e a
realidade.
3. Filosofia, política e ciência
Giordano Bruno (1548-1600): Foi monge dominicano, cientista e filósofo. Ele
acreditava na concepção Heliocêntrica de Nicolau Copérnico. Giordano também
afirmava que o universo era infinito e povoado por uma multiplicidade de mundos
parecido com o nosso e habitados por seres humanos. Suas idéias entraram em choque
com as defendidas pela Igreja, defensora do geocentrismo. Por isso foi acusado de
heresia, sendo julgado e condenado à fogueira pelo Tribunal da Inquisição.
Tommaso Campanella (1568-1639): Um dos mais importantes humanistas de sua
época. Combateu o domínio espanhol na região da Itália, ficando preso por 27 anos. Na
prisão escreveu o clássico A cidade do Sol, livro que faz a descrição de uma sociedade
ideal, baseada em concepções comunitárias.
Nicolau Maquiavel (1469-1527): De acordo com os estudiosos contemporâneos, ele é
considerado como o fundador da ciência política moderna. Maquiavel foi imortalizado
pela sua obra O Príncipe dedicado a Lourenço de Médici. Nessa obra ele procura
alternativas para restaurar a ordem política na Itália, assolada pelas invasões espanhola,
francesa e alemã. Para Maquiavel, a política tinha um caráter antropocêntrico e realista.
Assim, a política era fruto da ação humana e não divina. Em O Príncipe, Maquiavel
defende que o governante deveria ser temido, impondo-se pela força, mas, simultâneamente, deveria ser amado. Maquiavel se tornou famoso por tratar de questões do poder
que desvinculavam a religião da ética. Ele também foi autor da peça teatral Mandrágora.
Galileu Galilei (1564-1643): Um dos maiores pensadores italianos que se preocupou
com as questões da metodologia do conhecimento. Ele comprovou a teoria heliocêntrica.
De posse do telescópio, Galileu descobriu os anéis de Saturno, as manchas do Sol e os
satélites de Júpiter. Outro feito de Galileu foi a sua conclusão sobre a Via Láctea que era
constituída de um aglomerado de corpos celestes independentes do nosso sistema solar.
A expansão do Renascimento
Além da Itália, o Renascimento se propagou por outras regiões da Europa. As principais
foram Alemanha atual, os Países Baixos (atuais Bélgica, Luxemburgo e Holanda), Inglaterra,
França, Portugal e Espanha.
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Sacro Império (Alemanha atual)
No Sacro Império se destacou dois artistas importantes: Albrecht Durer (14711528) e Hans Holbein (1497-1543). Suas obras foram impregnadas pela agitação
religiosa protestante da Alemanha. As principais obras de Durer foram Cristo crucificado
e os Quatro apóstolos. Elas expressam a angústia religiosa da época. Já Holbein, se
tornou o maior retratista do seu tempo. Entre os seus trabalhos mais notáveis estão
Henrique VIII, monarca inglês, e Erasmo de Roterdã, escritor humanista dos países
baixos. Temos também que mencionar Lucas Cranach (1472-1553), autor de várias
telas marcadas pelo intenso fervor religioso.
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Países Baixos
Nessa região, o Renascimento foi tão importante como na Itália, porém, a sua
divulgação foi menor. As intensas atividades comerciais da região foram decisivas para o
desenvolvimento do Renascimento, do mercado de artes, de artista e também do
mecenato. Na pintura se destaca os irmãos Hubert van Eyck (1366-1426) e Jan van
Eyck (1390-1441). Esses artistas utilizaram a técnica da perspectiva e aperfeiçoou a
pintura a óleo, além de empregar diversos tons de cores não imaginadas até o
momento. Em seus retratos são revelados personagens da riqueza e grandeza comercial
dos Países Baixos. Além desses pintores flamengos, se destacaram Robert Campin,
Pieter Bruegel (1525-1569) e Hieronymus Bosch (1450-1516). Os quadros de
Bruegel abordam paisagens e cenas exuberantes da vida dos camponeses e da
população flamenga.
Entretanto, talvez a figura mais recordada do Renascimento seja Erasmo de Roterdã
com sua famosa obra Elogio da Loucura. Nesse livro, ele crítica abertamente a cultura
medieval e o clero católico, principalmente o papa Júlio II, que segundo Erasmo, era o
responsável pela corrupção da Igreja Católica.
França
O Renascimento francês foi bastante vigoroso. Os reis Luís XI e Francisco I foram
importantes mecenas. Eles financiaram intelectuais e artistas. As principais produções
francesas se deram no campo da literatura. Os principais escritores que se destacaram
foram François Rabelais (1494-1553) com suas duas obras-primas satíricas Gagântua e
Pantagruel enquanto que na filosofia se apresentou Michel Montaigne (1553-1592),
autor do livro intitulado Ensaios. Nessa obra, caracteriza-se pelo ceticismo e pelas
indagações de quaisquer verdades estabelecidas. Esse humanista também analisou vários
temas, passando a ser considerado na época como o grande exemplo de tolerância.
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Inglaterra
O Renascimento inglês ocorreu de forma tardia. Coincidindo com a centralização
política, a música, a literatura e o teatro foram notáveis no Renascimento nesse país. Um
dos escritores humanistas mais ilustres foi Thomas Morus (1478-1535), autor da obra
Utopia. Esse trabalho se destaca pela descrição que o autor faz das condições de vida de
uma sociedade sem a existência de ricos e pobres numa ilha imaginária. Assim, ele
concebe uma sociedade ideal guiada pelos princípios comunitários. Por questões
religiosas, Morus, foi preso e morto por ordem do monarca Henrique VIII. William
Shakespeare (1564-1616) foi o mais ilustre dramaturgo inglês. As suas obras
mostram os conflitos e as angústias vividas pelo homem consigo mesmo. Os textos
shakespearianos têm forte apelo humanista, pois eles sempre estão preocupado em
resolver problemas terrenos. Sua obra mais famosa, talvez seja Romeu e Julieta que
narra história de um amor proibido entre dois jovens pertencentes a famílias rivais.
Shakespeare também escreveu Hamlet, Henrique V, A comédia dos erros, Sonho de
uma noite de verão, A megera domada, O mercador de Veneza, Otelo, Rei Lear e
Macbeth. Essas peças até hoje são conhecidas e encenadas em partes do mundo.
Considerado como um dos maiores dramaturgos de todas as épocas, algumas de suas
obras fazem críticas aos valores da cavalaria e dos costumes medievais, entretanto,
algumas vezes, suas obras apresenta influencia do imaginário e crenças populares do
período medieval, tais como a abordagem de bruxas, fadas e fantasmas.
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Portugal
No Renascimento português se destacaram no teatro Gil Vicente (1465-1537),
autor de diversas peças teatrais, e na literatura Luís de Camões (1524-1580). Esse
último escreveu o poema épico Os Lusíadas. Essa epopéia relata a grande aventura das
navegações e conquistas marítimas portuguesas. Por isso, muitos intelectuais afirmam
que esse livro como pilar da identidade nacional lusitana.
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Espanha
As figuras renascentistas espanhóis mais importantes foram na pintura El Greco
(1541-1614) e na literatura Miguel de Cervantes (1547-1616).
El Greco nasceu na Grécia, no entanto, foi na Espanha que ele produziu suas obras
mais notáveis. Em seus trabalhos ele expressou enorme intensidade emocional e paixão
pela Contra-Reforma espanhola. Suas produções também são marcadas pela
originalidade, pois ele não se prendeu às características da pintura renascentista.
Em Dom Quixote de La Mancha, Cervantes faz uma sátira à nobreza Espanhola, a
qual insistia em se considerar a principal força política da época. Por intermédio de
metáforas, o escritor faz severas críticas aos costumes tradicionais, ainda bastante
influenciados pela mentalidade medieval. Hoje, essa obra é considerada um dos grandes
clássicos da literatura mundial. A riqueza literária e a narrativa inovadora são as
principais marcas desenvolvidas por Cervantes.
O Renascimento Científico
Baseado nos estudos do homem e da natureza, fundamentados numa visão crítica, os
renascentistas contribuíram para o desenvolvimento da ciência moderna. O humanismo fez
com que o homem recusasse a explicação divina da realidade, passando a adotar a
perspectiva mais terrena e natural. A partir de então, os fenômenos passaram a ser
compreendidos por olhares racionalistas e antropocêntricos.
Foi no Renascimento que foram criados os primeiros métodos do conhecimento (a
experiência e a observação) que fundamentaram as concepções científicas conteporâneas.
Através desses métodos, a astronomia pode comprovar a teoria heliocêntrica que se
contrapunha à geocêntrica (criada por Ptolomeu), aceita pela Igreja Católica. Enquanto os
geocentristas acreditavam que o sol girava em torno da Terra, os Heliocêntricos defendiam o
contrário.
Nicolau de Cusa (1401-1464): Foi o primeiro a rejeitar a teoria geocêntrica. Tempos
depois, Nicolau Copérnico (1473-1543), conhecedor do direito civil e canônico, estudou
em importantes universidades italianas. Posteriormente, se interessou pela astronomia.
Fundamentado em cálculos matemáticos e pensamentos de cientistas italianos da época.
Copérnico formulou a teoria que a terra e os demais planetas giravam em torno do sol.
Johan Kepler (1571-1630): Deu seqüência às idéias de Copérnico, demonstrando que as
órbitas dos planetas não eram circulares e sim elípticas. Já o médico e alquimista suíço
Paracelso (1493-1541) elaborou o primeiro manual de cirurgia, focalizando o a função da
química no campo da medicina. Ele também fez uma descrição clínica da sífilis e descobriu a
relação existente entre o cretinismo (estágio de debilidade produzido pela ausência
da glândula tireóide) dos filhos e o bócio (hipertrofia tireóide) dos pais.
No campo das ciências médicas, Miguel Servet (1511-1553) e William Harvey
(1578-1657) se distinguiram pelos notáveis trabalhos concernentes à circulação
sanguínea. Eustáquio (1520-1574) conseguiu descobrir a ligação entre o ouvido médio
com a garganta. A prática da dissecação de cadáveres foi introduzida por Mundinus
(1270-1326). Falópio (1523-1562) descobriu os ovidutos (canal que conduz os óvulos
do ovário para outros órgãos do sistema reprodutor humano) humanos, conhecidas hoje
como trompa de Falópio. Temos que destacar ainda os célebres estudos da anatomia
humana feitos por Andréas Vesálio (1514-1564).
Houve também outras progressos nas ciências naturais que contou com as contribuições
de Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; do geólogo Georg Bauer, os quais
descobriram as novas formas de usar os minérios; enquanto que Ambroise Pare criou a
técnica do uso de ataduras no estancamento de hemorragias.
A modernidade e as mudanças de hábitos
O Renascimento foi importante porque quebrou o monopólio da explicação da realidade e
do mundo que estavam nas mãos da Igreja Católica. Os intelectuais renascentistas abriram
caminhos para a compreensão da natureza por meio da razão e da livre interpretação. O
racionalismo renascentista triunfou sobre as concepções religiosas e tradicionais calcadas na
fé. A partir de agora, o homem moderno pauta seu conhecimento na experimentação
científica. Tudo isso provoca uma mudança de mentalidade no homem moderno.
As mudanças geradas pelo Renascimento não limitou apenas ao campo cultural e
científico. Elas também impactaram também o universo social e o cotidiano. Durante a
Idade Média, havia poucas distinções culturais entre ricos e pobres. Com exceção dos
religiosos e pequena parte da nobreza, grande parte da população não conhecia o mundo
letrado. Eles geralmente, freqüentavam as mesmas cerimônias religiosas e festas profanas,
diferenciando-se apenas pelas posições ocupadas nas liturgias.
Porém, durante a Idade Moderna, podemos observar algumas diferenças de comportamentos. Nesse sentido, foi sendo elaborada a imagem do ―homem civilizado‖ que passou a
ser visto como ―pessoa educada‖. Desde então, adotar certas posturas à mesa, certos
hábitos e comportamentos sociais passaram a distinguir os nobres (detentores da cultura
letrada e formal, pertencente a ‗alta cultura‖) dos pobres (iletrados, informal, ―baixa
cultura‖). Assim, os símbolos da educação, higiene, cavalheirismo, polidez, a etiqueta,
sofisticação, maneirismo, modos de vestir e comer se tornaram ações típicas do ―homem
civilizado‖, que servem como parâmetros para a sociedade ocidental contemporânea.
As ressonâncias das reformas do século XVI prejudicaram as novas buscas dos saberes
científicos, no entanto, isso não impediu o seu desenvolvimento. A modernidade transformou
homem em ser mais livre, mais corajoso, mais independente, ousado e criativo.
TEXTO COMPLEMENTAR
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda às questões.
O legado do Renascimento
―(...) Podemos dizer sem exagero que no Renascimento a humanidade começou a se
libertar das condições que lhe eram impostas pela natureza. O homem deixou de ser
apenas uma parte da natureza. A natureza passou a ser algo que se podia usar e
explorar. ‗Saber é poder‘, dizia o filósofo inglês Francis Bacon, substituindo com isto a
aplicação prática do conhecimento. E isto era uma coisa nova. A humanidade passou a
intervir na natureza e a querer controlá-la.
- Mas isto não foi uma coisa positiva?
Sim e não. Vamos retomar aqui os fios do bem e do mal que se entrelaçam em tudo
o que o homem faz. A ruptura tecnológica iniciada no Renascimento levou aos teares e
ao desemprego, aos remédios e a novas doenças, à eficiência controlada da agricultura
e à exploração da natureza, a novos utensílios como máquinas de lavar e geladeiras, e
também à poluição ambiental e às montanhas de lixo. O fato de assistirmos hoje à
terrível degradação de nosso meio ambiente levou muitos a ver a ruptura tecnológica
como um perigoso desvio das condições de vida que nos são dadas pela natureza. Para
estas pessoas, o homem colocou em marcha um processo que não pode mais controlar.
Outros, mais otimistas, acreditam eles, também tem suas ‗doenças de infância‘; mas no
fim os homens vão aprender a controlar a natureza, sem com isto ameaçá-la em
seus pontos vitais. (...)
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
Analisando o texto
1. Segundo o texto
Renascimento?
que
tipo
de
relação
homem-natureza
foi
introduzida
pelo
2. Apresente aspectos positivos e negativos que, de acordo com o autor, foram advindas
pelo rompimento tecnológico iniciado no Renascimento.
3. O texto aborda duas percepções distintas a respeito a relação futura entre homem,
natureza e tecnologia. Identifique-as.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Após a leitura do capítulo escreva um pequeno texto fazendo alusão aos principais
eventos que se tornaram pilares do mundo moderno.
2. Explique o contexto histórico da Europa na época do Renascimento e comente sobre a
principal fonte de inspiração dos sábios renascentistas.
3. Explique o humanismo renascentista.
4. Cite e comente as principais características do Renascimento.
5. O Renascimento foi iniciado na Península Itálica, num período em que a região já possuía
uma economia desenvolvida que possibilitou a ascensão de uma elite que investiu na
produção artística da época.
a) Quais os fatores podem ser citados que contribuíram para que o movimento
renascentista tivesse início na Península Itálica?
b) Comente a importância dos mecenas nas artes renascentistas.
6. Os intelectuais renascentistas viam os centros urbanos como locais ideais para a
propagação das artes. Nesse sentido, explique os motivos de o ambiente urbano ser
mais adequado para a divulgação da arte e da cultura renascentista.
7. (UERJ) A estátua de David, hoje exposta na Academia de Florença, na Itália, é
considerada uma das maiores obras da arte universal e um símbolo do Renascimento. O
renascimento é considerado por muitos historiadores um marco da ―grande mutação
intelectual do Ocidente‖ ocorrida nos séculos XV e XVI.
a) Analise três características básicas deste movimento artístico.
b) Cite outras três obras importantes produzidas pelo Renascimento, localizando seus
autores e o país em que foram produzidas.
8. Escreva um pequeno texto relatando os principais legados renascentistas para o mundo
contemporâneo.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) A Peste Negra assolou a Europa com uma longa e devastadora epidemia no
século XIV. Campos e cidades foram arrasados; um terço da população europeia morreu
sob o impacto da doença. Outros fatores também contribuíram para esse período de
depressão, provocando uma grave crise no Sistema Feudal. No entanto, essa Crise foi
responsável pelas transformações empreendidas entre os séculos XV e XVIII, período
esse denominado de transição do Feudalismo para o Capitalismo. No que se refere a
essas transformações, assinale a alternativa correta.
a) O Renascimento cultural e científico contribuiu para alterar as concepções de
mundo, valorizando a razão humana estabelecida no Humanismo e no
Antropocentrismo.
b) A formação do Estado Moderno implicou o declínio do poder papal e dos senhores
feudais assim como o de toda a nobreza.
c) A Reforma Protestante também manifestou uma nova mentalidade associada ao
declínio do feudalismo com a formação de novos valores, fortalecendo o sent imento
nacionalista representado no Teocentrismo.
d) Como alternativa econômica, a burguesia eur opeia, após a queda do absolutismo
no século XV, estabeleceu uma economia mercantil, voltada para um conjunto de
práticas econômicas socializantes.
e) A crise do Sistema Feudal foi resultante das fugas servis para as Cruzadas no início
do século V, ocasionando o desaparecimento das relações comerciais entre o
Ocidente e o Oriente.
2. (COVEST) O Renascimento trouxe mudanças nas concepções de mundo dos tempos
modernos, embora mantivesse um diálogo histórico com a cultura clássica e seus
valores. A sua forma de ver o mundo está presente em obras literárias, como as de
Rabelais, Cervantes, Camões e tantos outros. Com efeito, a literatura renascentista:
a) consagrou princípios éticos do cristianismo medieval, criticando valores da sociedade
burguesa que se formava.
b) foi importante para a formação das línguas nacionais na Europa, afirmando uma
renovação na forma de se escrever e contar as histórias.
c) baseou-se na literatura romana, ao afirmar a importância dos mitos para o
imaginário social de cada época.
d) consolidou a admiração da sociedade moderna pela tragédia, desprezando outras
formas literárias importantes.
e) manteve a estrutura narrativa dos tempos medievais, apesar de seu acentuado
antropocentrismo.
3. (COVEST) As idéias trazidas pelo Renascimento conseguiram expandir-se, pela Europa,
mudando hábitos, criticando tradições, renovando concepções de mundo. Em Portugal, a
obra do poeta Luís de Camões:
a) construiu uma epopéia do povo português, exaltando seus feitos e aventuras.
b) ressaltou as conquistas políticas portuguesas, com o fim do absolutismo.
c) teve importância fundamental para a época, embora não tenha se destacado no
mundo lusófono.
d) imitou a estrutura da Divina Comédia de Dante e foi, por isso, pouco original.
e) afirmou a literatura portuguesa como a mais importante do Renascimento.
4. (COVEST) O Renascimento confrontou-se com muitas verdades consolidadas no mundo
medieval. Uma de suas fontes básicas de reflexão foi:
a) a cultura bizantina, pela consistência de seus fundamentos éticos e políticos.
b) o pensamento greco-romano, com suas elaborações sobre a cultura humana.
c) a reflexão de autores muçulmanos, ligados ao secularismo e ao ateísmo.
d) a religião persa, com sua escatologia definindo o juízo final e as virtudes humanas.
e) o enunciado ético dos gregos pré-socráticos, voltado para o culto a Dioniso e ao
prazer.
5. (UPE)O movimento Renascentista europeu permitiu a descoberta do ―homem‖ como o
centro do saber, despertando interesse pelo prazer, pela alegria e pelo amor. Época dos
avanços culturais, científicos e de magníficas obras de arte, constr uções de pureza,
sensualidade, caridade e ódio. Sobre a Renascença, é correto afirmar que:
a) o Renascimento alterou a estrutura cultural da época, valorizando a razão humana
estabelecida no Teocentrismo.
b) a imagem do ―Homem Vitruviano‖ é uma representação elaborada no final do século
XV por Leonardo da Vinci e exprime o antropocentrismo e a harmonia das formas
que caracterizaram as obras artísticas do período renascentista.
c) os homens da época tenderam a valorizar a produção artística e intelectual das
civilizações do Oriente Médio, especialmente a egípcia e a mesopotâmica, pela
conexão que estas guardavam com a história hebraica.
d) o Renascimento reflete as profun das transformações socioculturais, políticas e
econômicas, processadas nos países europeus, a partir do século XVII.
e) a dinâmica do comércio nas cidades italianas, a herança de uma cultura material
clássica e a presença de mecenas interessados em investir nas produções artísticas
favoreceram a arte renascentista, que se caracterizou pela visão simplista, revelada
nas obras de Michelangelo.
6. (COVEST) A contribuição do Renascimento para a renovação da cultura foi marcante na
formação do mundo ocidental. Redefiniu valores e crenças sociais. Seus artistas e
pensadores receberam grande influência da cultura clássica. O Renascimento, de fato,
foi:
a) crítico com relação ao Cristianismo, rejeitando suas crenças e mandamentos.
b) desconstrutor de princípios da mitologia grega nas suas obras artísticas mais
conhecidas.
c) politicamente adepto dos ensinamentos dos sofistas, pelo combate ao autoritarismo.
d) atuante na reformulação de verdades consagradas, refazendo tradições seculares.
e) pouco original nas suas obras estéticas, continuando os costumes romanos
medievais.
7. (PUC-RJ) ―Meu falecido pai, de memória abençoada, fez todo esforço para que eu
pudesse alcançar excelência mental e técnica. O fruto dos meus estudos e trabalhos
alcançou o seu desejo mais querido. Mas você pode perceber que, para a educação, as
condições não eram favoráveis como são hoje. Nem eu tive professores tão capazes
como você. Nós ainda estávamos na idade das trevas. (...) Agora, pela graça de Deus, a
luz e a dignidade foram restituídas às letras e eu vivi para vê-lo. Hoje as antigas ciências
estão restauradas (...). As línguas restituídas: o grego (...); o hebraico e o latim (...).
Hoje o mundo está repleto de homens sábios (...). Mas lembre-se disso, a sabedoria de
nada lhe servirá se você não amar e temer a deus (...). Seu pai, Gargantua.‖
François Rabelais, Carta de Gargantua a Pantagruel, 1532
São características do humanismo renascentista indicadas nesse texto, exceto:
a) a crítica à Idade Média, percebida como período de trevas.
b) a valorização de uma educação laica e a abertura das bibliotecas monásticas.
c) o desejo de renovar a fé cristã mediante a tradução e circulação dos textos sagrados.
d) a retomada do patrimônio cultural e literário da Antiguidade Clássica.
e) o otimismo em relação aos avanços humanos no campo da educação.
8. (UPE) Há tempos históricos marcados por renovações culturais significativas. O Renascimento é um momento destacado da cultura ocidental. A contribuição do polonês
Nicolau Copérnico para o conhecimento da época:
a) baseou-se nas descobertas de Aristarco e Ptolomeu, não contrariando os dogmas do
catolicismo.
b) negou o geocentrismo, seguindo ensinamentos já colocados por Nicolau de Cusa, no
século XV.
c) foi escrever compêndios de filosofia que negavam o cristianismo e a existência do
geocentrismo.
d) foi conseguir, com o heliocentrismo, mudar as concepções da Igreja Católica da
época.
e) foi originar as suas descobertas, mas terminou sendo condenado pelo Tribunal da
Santa Inquisição.
9. (UFPI) ―O Renascimento implicaria numa redescoberta do homem, fazendo com que o
teocentrismo da Idade Média cedesse lugar ao antropocentrismo (...). O Renascimento
não é senão a passagem, lenta e gradual, da Idade Média para a época moderna.‖
(AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.)
Sobre o Renascimento cultural na Europa, podemos afirmar que:
I. se caracterizou pelo impulso na elaboração de estudos do homem e da natureza. O
homem teria capacidade de, utilizando-se da razão, encontrar explicações racionais
para os fenômenos naturais.
II. tinha na Antiguidade Oriental, particularmente na Cultura Bizantina, seu mais
sofisticado modelo, sendo a praça de São Marcos, em Veneza, um marco da
arquitetura renascentista de inspiração oriental.
III. a Itália foi um dos principais centros de produção cultural renascentista, tendo em
Nicolau Maquiavel, Giordano Bruno e Michellangelo nomes de destaque do período.
IV. foi um movimento artístico que atingiu particularmente a produção literária,
enquanto as artes plásticas, mesmo na Itália, davam continuidade ao gosto artístico
medieval.
Para responder, use a chave abaixo.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Somente a afirmativa III é correta.
c) Somente as afirmativas I e III são corretas.
d) Somente a afirmativa II é errada.
e) Somente a afirmativa IV é errada.
10.(UPE) O Renascimento conseguiu renovar as concepções estéticas nos vários campos da
produção cultural. Na pintura
a) o uso da perspectiva trouxe novas possibilidades para o artista construir suas
representações sobre mundo.
b) deu continuidade aos princípios das artes oriental e clássica, em que houve destaque
para as manifestações nas artes plásticas.
c) teve nas obras de Brunelleschi e Leonardo da Vinci sua grande expressão pelo uso de
cores claras e temas religiosos.
d) consagrou a mitologia grega com seus quadros sombrios, reveladores dos limites da
vida humana e das angústias existenciais.
e) houve grande autonomia estética e profissional dos artistas com a formação de um
mercado para venda das suas obras na Europa.
11.(UFSM) Nos séculos XV e XVI, ocorreu, na Itália, um extraordinário desenvolvimento
cultural, conhecido como. Renascimento. Sobre esse movimento, é correto afirmar:
a) Foi fruto de uma inquietação intelectual surgida devido às novas condições
socioeconômicas da Europa, no período de transição do feudalismo para o
capitalismo.
b) O traço característico do renascimento foi a preocupação com a figura humana; no
entanto, a influência da igreja impediu a valorização do nu humano.
c) Não interferiu nas estruturas curriculares das universidades que continuaram
voltadas para as disciplinas teológicas.
d) A ênfase na cultura e nas artes levou à depreciação de ciências, como anatomia,
física, astronomia.
e) A atuação dos mecenas (burgueses ricos que protegiam e financiavam artistas)
impediu o desenvolvimento de novas técnicas, cores, perspectivas e noções de
equilíbrio.
12.(UPE) O Renascimento não pode ser considerado uma revolução no campo cultural da
Europa. Transformações importantes surgiram, mas
a) houve muita influência da cultura bizantina na pintura e na escultura, em toda a
Europa.
b) foi marcante a permanência dos padrões estéticos do catolicismo na arte.
c) se destaca a grande influência da cultura clássica nos intelectuais da época.
d) se manteve um pensamento religioso centralizador, sem renovação nos seus
princípios.
e) se consolidou o pensamento de santo Agostinho com sua crença na fé e nos dogmas
medievais.
13.(CESGRANRIO) A figura acima é o conhecido trabalho de
Leonardo da Vinci chamado ―O Homem de Vitrúvio‖,
produzido entre 1485 e 1490, exposto na Galleria dell‘
Accademia, em Veneza. Da Vinci é apontado como um dos
principais nomes do Renascimento europeu vigente no
século XV, pois introduziu novas perspectivas em estudos
acadêmicos, nas artes e demais aspectos da vida social.
Que características da arte renascentista estão presentes
na obra acima?
a) Humanismo e proporção.
b) Classicismo e despotismo.
c) Academicismo e republicanismo.
d) Teocentrismo e metafísica.
e) Misticismo e neoplatonismo
14.(UPE) O Renascimento renovou o mundo cultural e
trouxe ideias políticas diferentes do mundo medieval. No campo da literatura, o
Decamerão tornou-se um marco, sendo lido até hoje. No seu livro famoso, o italiano
Boccaccio:
a) fez acusações ao catolicismo, sendo, inclusive, censurado pelo papa.
b) contribuiu para o surgimento de mudanças na forma de escrever, criticando os
costumes da época.
c) afirmou a necessidade de derrubar a monarquia absolutista existente na Itália.
d) conseguiu transformar a literatura italiana que era marcada pela nostalgia.
e) seguiu as ideias de Erasmo, defendendo o fim do feudalismo e da escravidão.
15.(COVEST) O Renascimento não rompeu radicalmente com o passado. Dialogou com a
cultura clássica e renovou hábitos sociais do mundo moderno. Um dos destaques do
Renascimento foi Erasmo, que escreveu O Elogio à Loucura:
a) que apresentava um teor crítico admirável para o mundo em que vivia.
b) exaltando o amor romântico e o feudalismo dos nobres.
c) em defesa da democracia grega e de suas tradições políticas.
d) ressaltando a força da Igreja Católica e dos seus padres.
e) fundamentando a ética burguesa e o seu individualismo.
16.(VUNESP) Observe as imagens.
(Michelangelo.
Pietà.
Basílica
de São Pedro,
1499.)
(Catedral de Chartres.
França, início em 1145.)
Comparando-se o conjunto escultórico medieval de Chartres com David, de Michelangelo,
caracteristicamente renascentista, ficam nítidas algumas diferenças de estilo e de
concepções de mundo entre a Idade Média e o Renascimento. Indique a alternativa que
assinala essas diferenças.
a) A escultura medieval exprime a oposição do cristianismo ao culto de imagens, a
renascentista representa a dúvida do homem na possibilidade de sua salvação.
b) A escultura renascentista confere ao personagem do Antigo Testamento uma natureza
frágil e espiritual, a medieval apresenta as figuras sagradas como fisicamente
poderosas.
c) A escultura medieval visa glorificar o poder dos reis europeus, a renascentista enaltece
a vida simples e honesta do camponês italiano.
d) A escultura medieval é fina e alongada, a renascentista desligou-se do espaço
arquitetônico.
e) A escultura renascentista é desprovida de sentido religioso, a medieval expressa uma
crítica aos desregramentos da Igreja Católica.
17.(COVEST) Os caminhos da renovação científica favoreceram o surgimento de teorias que
abriram novos caminhos para lançar os alicerces da ciência moderna. O inglês Francis
Bacon foi um dos renovadores que escreveram obras importantes. Sobre ele, podemos
afirmar que:
a) escreveu uma obra intitulada Ensaios, onde faz uma importante análise do ser
humano.
b) compartilhou do método cartesiano e foi defensor do racionalismo positivista.
c) não teve pretensões políticas; daí, sua grande dedicação à ciência.
d) formulou, juntamente com Campanella, a idealização da chamada Cidade do Sol.
e) foi, com Newton, o inventor do método indutivo, o qual revolucionou a Química e a
Física.
18.(UFTM) A reflexão histórica e social e a ciência política (...) nasceram juntas no
Renascimento, num encontro que não foi meramente casual. Desse mesmo cruzamento de
interesses nasceria uma outra corrente de pensamento tão original quanto ousada: os
utopistas. As obras mais notáveis nesse gênero são a Utopia(1516), de Thomas Morus, a
Cidade do Sol (1623), de Campanella e a Nova Atlântida, de Francis Bacon.(Nicolau Sevcenko)
Tematicamente, essas três obras se aproximam, pois:
a) tratam de comunidades ideais e imaginárias, nas quais os homens vivem com fartura
e em paz e com o poder centralizado e pautado pela racionalidade.
b) reforçam a preponderância das práticas e concepções religiosas e defendem que a
organização do espaço político deve ser dirigida pela Igreja católica.
c) defendem que o futuro da organização das sociedades humanas seria marcado pelo
caos, em cidades dominadas pela violência e intolerância entre os homens.
d) usam como referência a concepção do apocalipse, pela qual a humanidade teria o
pior dos destinos, longe da atenção e da proteção divinas.
e) associam a felicidade dos homens à organização de espaços comunitários, localizados
longe das cidades e dirigidos pelo saber religioso.
19. (UPE)O Renascentismo foi um movimento de renovação cultural, que ocorreu na
Europa, acompanhando as transformações que vinham ocorrendo desde o feudalismo da
Idade Média. Sobre o Renascimento, considere as seguintes proposições:
I. Em oposição à fé religiosa, os renascentistas procuravam explicar o mundo com
base no materialismo.
II. Ideias defendidas pelos renascentistas contribuíram para reforçar uma nova ética no
uso do poder.
III. O Renascentismo, movimento cultural urbano, caracterizou-se, também, pela
qualidade da obra intelectual.
IV. A mentalidade renascentista, que concebia a inclusão das pessoas no mundo cristão
de maneira coletiva, contribuiu para desenvolver o Humanismo.
Estão corretas:
a) somente I e II. b) somente I e III. c) somente IV. d) somente II e III. e) I, II, III e IV.
20.(COVEST) O Renascimento transformou hábitos sociais e teve importância nas
mudanças culturais que contribuíram para a formação do mundo moderno. Analisando
suas contribuições no campo da pintura, podemos afirmar que seus artistas:
a) se dedicaram a imitar a estética medieval, com pequenas modificações no uso das
cores.
b) foram influenciados pelos mitos gregos e romanos, fugindo dos modelos
medievais.
c) tiveram grande autonomia nas escolhas dos temas, preferindo destacar a
religiosidade dos cristãos.
d) criticaram a forma de expressão dos povos da Antiguidade, sobretudo das obras
envolvidas com os mitos pagãos.
e) apresentaram obras originais, livres de modelos do passado, e desvinculadas de
temas religiosos.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
A cultura do Renascimento na Itália. BURCKHADT, Jacob. São Paulo: Companhia das
Letras, 2003.
O Renascimento italiano. BURKE, Peter. Rio de Janeiro: Nova Alexandria, 1999.
O Renascimento. JOHNSON, Paul. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. (História essencial).
O Renascimento. PERIS, Carme e VERGES, Glória e Oriol. São Paulo, Scipione, 1996,
(Coleção Viajando Através da História).
O Renascimento. SEVCENKO, Nicolau. 16. ed. rev. Atual. São Paulo, Atual, 1994.
(Discutindo a História).
Descobrimento e Renascimento. THEODORO, Janice. São Paulo, Contexto, 1991.
(Repensando a História)
Cinema
Romeu e Julieta
Direção de Baz Luhrmann. EUA, 1996. 120 minutos.
Nesta versão para os dias de hoje da peça de Shakespeare o cenário
é Verona Beach. Os Capuleto e os Montéquio, duas famílias que
sempre se odiaram, têm rixas sem cessar, mas isto não impede que
Romeu (Leonardo DiCaprio), um Montéquio, se apaixone pela bela
Julieta (Claire Danes), uma Capuleto. Entretanto, uma apresentadora
de televisão anuncia que este amor profundo acabará gerando
trágicas conseqüenciais, em virtude desta insana rivalidade familiar.
Sites
Museu da Alemanha
Um dos mais importantes Museus da Alemanha.
O museu exibe obras artísticas do século XVIII ao XIX, focando principalmente a Baixa
Renascença Italiana. Disponível em: www.pinakothek.de
Renascimento
Site desenvolvido pelos alunos da Universidade de Passo Fundo (UPF) sobre o período
renascentista. Disponível em: www.renascimento.clio.pro.br
Fundação Museu da Tecnologia de São Paulo
Na linha do tempo, os marcos dos grandes inventores desse período histórico, tais como
Gutermberg, Leonardo Da Vinci e Galileu Galilei e a história de suas descobertas. Disponível
em: www.museutec.org.br
As Reformas Religiosas no Século XVI
No período medieval, a Igreja Católica era a instituição mais poderosa. Mesmo assim, a
partir da Baixa Idade Média, ela enfrentou sucessivas crises e modificações, as quais
contribuíram para o surgimento de diversos movimentos que combatiam às práticas e aos
valores defendidos pelos cleros da época. As pessoas que criticavam os dogmas da Igreja
eram chamados de hereges.
Os grupos heréticos foram fortemente perseguidos. Eles denunciaram os abusos e
corrupção do clero. Além disso, defendiam um cristianismo baseado numa vida sóbria e sem
distinções sociais. As ordens dos mendicantes, como ficaram conhecidos esses
movimentos, não admitiam o comportamento do clero e nem os seus amplos privilégios. Por
isso, essas seitas propunham o retorno à prática de um cristianismo semelhante aos
primeiros seguidores de Jesus, ou seja, praticar uma religião fundamentada na humildade,
solidariedade e cooperação.
Com o intuito de conter esses movimentos, a Igreja criou, no século XIII, o Tribunal da
Inquisição ou do Santo Ofício. O objetivo essencial desse órgão era esmagar as seitas,
enquadrando eles como ―criminosos da fé‖. A partir de então, diversas heresias foram
reprimidas, sendo muito de seus defensores condenados e executados na forca ou na
fogueira. Por 300 anos, a Igreja perseguiu e condenou à morte e à tortura milhares de
pessoas na Europa. Várias mulheres foram queimadas vivas ou enforcadas em locais
públicos, isso porque eram vistas como feiticeiras ou bruxas pela pelos religiosos católicos.
―A Inquisição como sacrifício de carne humana é tão inquietante que tem relegado a segundo
plano um aspecto fundamental: por que o processo de um réu era conduzido até a fogueira?
Afinal, a Inquisição não era uma empresa de espetáculos de horror. Era um tribunal: Tribunal
do Santo Ofício da Inquisição. De que mecanismo se valia para averiguar a culpa dos réus?
Mesmo julgando crimes discutíveis, não poderia ter sido uma instituição ―justa‖?
SEVECENKO, Nicolau. O Renascimento. 8 ed. São Paulo: Atual; Campinas:
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1988.
No entanto, o estabelecimento dessa instituição não paralisou o crescimento de
contestações contra a Igreja Católica. As críticas desencadeadas na Baixa Idade Média
contribuíram para que, séculos depois, surgissem novas idéias em oposição ao frágil e
saturado modelo Católico medieval, uma vez que o clero não tinha mais capacidade de
atender os anseios religiosos de alguns segmentos da sociedade.
No início da Idade Moderna, a Igreja Católica encontrava-se em franca decadência. O
catolicismo se tornara uma religião de luxo e grandiosidade. Assim, a Igreja tinha se
afastado dos verdadeiros princípios cristãos, como a simplicidade, a humildade e a
solidariedade. Outro aspecto importante foi que a Igreja passou a se preocupar mais com
questões políticas e econômicas do que com as questões espirituais. Tudo isso contribuiu
para o surgimento e propagação de críticas à Igreja Católica.
O sentido das Reformas Protestantes
As reformas religiosas do século XVI compõem uma série de acontecimentos que
marcam as mudanças de concepções medievais para uma sociedade fundamentada num
modelo e mentalidade burguesa. A extensão da Reforma Protestante ultrapassou as contestações, aos dogmas e costumes do clero católico, as quais enfraqueceram a estrutura
administrativa do clero católico.
Em parceria com setores sociais, desejosos pela perda de poder papal, as reformas
religiosas geraram transformações nas esferas políticas, econômicas e sociais na Europa.
A palavra protestantismo não faz menção a uma instituição religiosa ou uma
nomenclatura específica e sim ao movimento que teve início na Alemanha, no século XVI,
encabeçado pelo Martinho Lutero.
Sob o aspecto teórico é fundamental relacionar as reformas protestantes com o Renascimento Cultural. Sendo caracterizado pela valorização do homem e suas habilidades, pela
exaltação do espírito crítico, o pensamento renascentista influenciou de maneira decisiva na
cisão da cristandade no século XVI. As concepções antropocêntricas renascentistas foram
importantes, pois ao aproximar razão e fé, contribuiu para que os reformadores pudessem
fazer uma releitura dos conceitos religiosos da época. A partir disso, surgiu a idéia de que o
homem poderia fazer uma interlocução com Deus, sem a intermediação da Igreja, e que a
leitura e interpretação das sagradas escrituras deveria ser individual e livre.
―(...) os teólogos, portanto, tinham a preocupação voltada para as almas e para Deus, ou
seja, para o mundo transcendente, o mundo dos fenômenos espirituais. Os humanistas, por
sua vez, voltavam-se para o aqui e o agora, para o mundo concreto dos seres humanos em
luta entre si e com a própria natureza, a fim de terem um controle maior sobre o próprio
destino. Por outro lado, a pregação do clero tradicional reforçava a submissão total do
homem, em primeiro lugar, à onipotência divina, em segundo, à orientação do clero, e, em
terceiro, à tutela da nobreza, exaltando no ser humano, sobretudo, os valores da piedade, da
mansidão e da disciplina. A postura dos humanistas era completamente diferente, valorizava o
que de divino havia em cada homem, induzindo-o a expandir suas forças, a criar e a produzir,
agindo sobre o mundo para transformá-lo de acordo com sua vontade e seu interesse.‖
SEVECENKO, Nicolau. O Renascimento. 8 ed. São Paulo: Atual; Campinas:
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1988. p. 15.
O homem renascentista lançou os pilares para o pensamento livre, contribuindo para a
construção de diversos questionamentos às verdades religiosas até, então, tidas como
únicas e verdadeiras. A concepção heliocêntrica de Nicolau Copérnico, o método científico
de Francis Bacon, a física de Isaac Newton, as pesquisas de Leonardo da Vinci e as idéias de
outros intelectuais possibilitaram a elaboração de um novo caminho. Isso levou ao desprezo
de muitas crenças medievais, pois a mentalidade dos renascentistas eram fundamentadas
na razão e na liberdade de pensamento.
Sob a ordem política, os reformadores receberam auxílio de diversos monarcas. O
processo de consolidação dos Estados Nacionais propiciou a criação de um sentimento
nacionalista entre os habitantes de um mesmo território, os quais possuíam uma só moeda
e se identificavam com os símbolos de seu país (hino, bandeira).
O fortalecimento do poder do rei gerou divergências com a Igreja Católica. Com a
criação das monarquias nacionais, o rei se tornara a principal autoridade. Dessa forma, o
poder papal ficara reduzido. Além disso, os conflitos também se alastraram na arrecadação
de tributos, na nomeação de religiosos e até mesmo na administração da justiça.
Sob o aspecto econômico, a reforma protestante pode ser melhor entendida se levarmos
em consideração a ascensão da burguesia. Essa classe teve papel importante no processo
da Reforma. Segundo a doutrina católica, a acumulação de riquezas, o comércio, os
empréstimos com juros (usura) e a intensa busca pelo lucro eram classificados como ações
pecaminosas, por isso, a Igreja condenava.
―(A Igreja) ... condenava ou desprezava muitos ofícios, proibidos em primeiro lugar aos
clérigos, mas em muitos casos também aos leigos. No mínimo era ofícios denunciados como
um caminho fácil para levar ao pecado. Então frequentemente no índex: taverneiros,
açougueiros, jornais, histriões, mágicos, alquimistas, médicos, cirurgiões, soldados, rufiões,
prostitutas, tabeliães, mercadores principalmente; mas também pisoeiros, tecelões,
correeiros, tintureiros, confeiteiros, sapateiros, jardineiros, pintores, pescadores, barbeiros,
magistrados municipais, guardas campestres, funcionários de alfândega, cambistas, alfaiates,
perfumistas, tripeiros, moleiros, etc. É possível entrever alguns dos motivos para essa
marginalização. (...) O usurário, pior espécie de comerciante, é vítima de várias condenações
convergentes: a exploração – particularmente escandalosa – o dinheiro, a avareza, a
preguiça. (...)
O usurário, pior espécie de comerciante, é vítima de várias condenações convergentes: a
exploração – particularmente escandalosa – o dinheiro, a avareza, a preguiça. (...) Ao
usurário diziam a Igreja e os poderes leigos:‘Escolha: a bolsa ou a vida‘. Mas o usurário
pensava, o que quero é ‗a bolsa e a vida‘.
LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida: economia e religião na Idade Média; tradução de Marcos de Castro.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira: 2007. p. 59; 83.
Em pleno século XVI, a Igreja ainda mantinha preceitos do sistema feudal. Porém, a
sociedade capitalista que surgia, exigia novas definições em relação às atividades mercantis.
Assim, os burgueses viam a Igreja Católica como um grande empecilho ao desenvolvimento
dos seus negócios.
Nessa perspectiva, a Reforma deve ser entendida como um movimento que quebra com
a unidade religiosa na Europa Ocidental. Vale salientar que os movimentos reformistas
devem compreendidos sob diversos aspectos: culturais, religiosos, econômicos, sociais e
políticos. Teremos, dessa forma, uma melhor leitura das reformas religiosas do século XVI.
Os precursores da Reforma
As mudanças políticas, econômicas e culturais ocorridas na Europa no século XV
impulsionaram novas críticas ao comportamento da Igreja Católica. No decorrer dos séculos
XV e XVI, alguns acontecimentos contribuíram bastante para o aumento da impopularidade
da Igreja, entre eles, a venda de indulgências (perdão dos pecados), de relíquias religiosas
e até mesmo dos cargos clericais. Reforçando essas ilicitudes, o papa cometia grandes
abusos de poder.
Toda essa situação gerou uma imensa revolta nas esferas econômicas, políticas e sociais.
Por exemplo, a burguesia estava altamente insatisfeita com a Igreja, pois a mesma
condenava a usura e o desejo de enriquecer. Por outro lado, os monarcas buscavam uma
oportunidade para limitar os poderes temporais do clero em seus territórios. Enquanto isso,
os fiéis de origem simples passaram a enxergar a Igreja como uma instituição estruturada
em interesses materiais e não espirituais.
Todos esses fatores geraram situações que contribuíram para a formação de novas
entidades religiosas, as quais tinham como pretensão se adaptar as mudanças vivenciadas
na Europa. Nessa perspectiva, nos séculos XIV e XV apareceram os primeiros intelectuais
considerados como os precursores da Reforma Protestante.
As agitações na Boêmia: religião versus nacionalidade
―Na região da Boêmia (que atualmente faz parte da República Tcheca), o movimento de
contestação contra a Igreja Católica já se fazia notar no século XIV. Mas foi no início do século
XV que Jan Huss e seus seguidores tornaram esse movimento mais consistente, desafiando o
papa e o alto clero local, de origem alemã.
Antes do aparecimento de Huss, já havia na Boêmia um movimento de reformas que
denunciava as debilidades da Igreja e a corrupção clerical. Em país nenhum da Europa teve a
Igreja maior número de propriedades ou foi o clero mais mundano do que na Boêmia, onde os
escritos de John Wycliffe eram muito apreciados, principalmente no meio universitário, onde
havia uma certa animosidade entre tchecos e alemães.
A Universidade de Praga (capital da Boêmia era intensamente nacionalista. Os Tchecos, de
origem eslava, nutriam uma intensa rivalidade contra os alemães; dessa forma, a Igreja
romana, representada pelos bispos alemães, parecia-lhes duplamente estrangeira (romana e
alemã). Jan Huss, que foi ordenado sacerdote em 1401, foi excomungado em 1410; após
queimar em praça pública a bula papal que decretava sua excomunhão, continuou sua
pregação, em meio a violentas manifestações dos hussitas. Por essa época apareceram na
região clérigos vendendo indulgências, cujo produto se destinava a manter o exército papal,
então em guerra com o reino de Nápoles. Huss protestou, afirmando que o papa não só tinha
o direito de guerra como o pagamento em dinheiro das indulgências não dava o perdão a
ninguém, já que a salvação da alma se restringia aos predestinados. Novas agitações se
sucederam, e Huss foi novamente excomungado. Três jovens hussitas, por terem dito que as
indulgências eram uma falsidade, foram queimados.
Em 1414 Jan Huss foi intimado a comparecer ao Concílio de Constança, com a promessa de
que poderia defender suas doutrinas e voltar livremente. Todavia, prelados presentes em
Constança eram inimigos de Huss. Assim, enquanto ele pensava em expor seus argumentos
para convencer os conciliadores, estes só estavam dispostos a condená-lo. A sentença já
estava decidida. Em 1415, Jan Huss foi condenado à morte na fogueira. Um ano depois, seu
principal discípulo, Jerônimo de Praga, também foi queimado vivo.
RIBEIRO JR., J. Pequena história das heresias. Campinas: Papirus, 1989, p.88-92.
O inglês e professor da Universidade de Oxford, John Wycliffe (1330-1384), denunciou
a corrupção da Igreja e defendia a livre interpretação da Bíblia. Ele também desafiou a
Igreja Católica no momento que defendia a abolição dos impostos clericais e da hierarquia
eclesiástica. Wycllife afirmava que qualquer pessoa alcançaria a salvação eterna pela fé,
portanto, não era necessário fazer ―boas obras‖ ou comprar indulgências, como defendia a
Igreja Católica.
Jan Huss nasceu na Boêmia (atual República Tcheca), sendo condenado e executado na
fogueira, em 1415, por defender as idéias de Wyclliffe. Esse pioneiro da reforma estudou
bastante os textos bíblicos, por isso, foi favorável à extrema obediência à Bíblia e também
fez denúncias à corrupção e ao luxo vividos por alguns membros do clero católico. Outro
dado importante foi que Huss fez a tradução das sagradas escrituras para língua local.
A morte de Huss deu origem ao movimento dos hussitas. Eles combatiam a autoridade
eclesiástica e imperial. Os hussitas se tornaram ícones entre os empobrecidos rebeldes
camponeses e símbolo do nacionalismo boêmio. Após várias vitórias, em 1434, os levantes
hussitas foram reprimidos.
A reforma luterana: salvação pela fé
No século XVI, o Sacro Império Romano-Germânico abrangia a região da atual
Alemanha. Na época ele era composto por diversos principados independentes e governados
por nobres. Nesses locais, havia uma forte disputa pelo poder, entre a Igreja Católica e o
Imperador. O domínio do Império estava sobre o controle da dinastia Habsburgos,
governada, na época, por Carlos V.
Proprietária de muitas terras, a Igreja germânica praticava alguns atos vinculados ao
mundo medieval, tais como a exploração de camponeses e condenação ao lucro entre os
burgueses. As maiores propriedades da Igreja se localizavam próximas ao rio Reno,
denominado ―caminho do clero‖. Essas áreas proporcionavam grandes lucros à Igreja.
Assim, a Igreja continuava sendo a ―grande senhora feudal‖, se apossando de parte da
colheita produzida pelos camponeses. Podemos identificar o clero alemão, como uma
nobreza opressora e espoliadora.
Os diversos segmentos sociais que habitavam nos principados tinham objetivos e
interesses divergentes. Os burgueses desejam um clero menos intolerante e ao mesmo
tempo pretendia diminuir o envio de capital para a Igreja; já os nobres tinham interesses
em se apropriar das terras clericais, enquanto os camponeses consideravam a Igreja como
umas das instituições mais opressora do Império, por causa da cobrança do dízimo. Os
camponeses queriam terras para plantar. Por isso, eles estavam determinados a lutar contra
a opressão dos nobres e também da Igreja Católica. Por tudo isso, a imagem da Igreja fica
altamente desgastada na Alemanha.
Martinho Lutero, retrato feito por Lucas Cranach, em 1529.
É nesse cenário que Martinho Lutero, monge agostiniano e doutor de teologia pela
Universidade de Wittenberg, defendeu ideias contrárias às práticas ilícitas da Igreja Católica.
De origem pequeno-burguesa, defendia a liberdade de culto e o livre exame da Bíblia. Indo
de encontro aos preceitos pregados pela Igreja Católica, Lutero afirmava que a salvação da
alma era alcançada por intermédio da fé. Segundo ele, as obras não garantem a salvação
humana. Martinho Lutero, além disso, reprovou violentamente os fortes abusos praticados
pela Igreja, principalmente, o comércio de indulgências.
―Lutero, que nasceu em 10 de novembro de 1483, filho de pequenos burgueses,
humanista, licenciado em artes, tornou-se monge agostinho em 1505 e professor de teologia
em Wittenberg em 1508. Alma escrupulosa e apaixonada, vivia torturando em busca de uma
perfeição inacessível, sentindo em si movimentos de inveja e cólera. Julgava-se danado e caía
no desespero. No inverno de 1511-1512 encontrou na Epístola aos Romanos a fórmula da
salvação: ‗o justo viverá pela fé‘. Em 1515-1516 comentava essa Epístola para seus alunos e
expunha já as suas idéias fundamentais.‖
MOUSNIER, R. Os séculos XVI e XVII. In: CROUZET, M. (org.). História geral das civilizações.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. v. IX, p.84-85.
A fim de concluir a construção da basílica de São Pedro (Roma), o papa Leão X ordenou,
em 1517, através da promulgação de uma bula, a venda de indulgências (perdão dos
pecados) para todos os cristãos. O domincano Teztel foi o encarregado de comercializá-las
no território alemão. Na carta pontifícia, também, se estabeleciam acordos com os
franceses, ingleses e banqueiros alemães. Lutero discordou claramente contra essas e
outras posturas adotados pela Igreja Católica. Era o início de uma tensa disputa ideológica.
Em outubro de 1517, Lutero afixou nas portas da catedral de Wittenberg 95 proposições
ou teses que repudiavam não só a prática das indulgências, mas também outros pontos
cruciais da doutrina católica. As teses condenavam a venda do perdão, afirmando que o
papa não poderia salvar ninguém mediante ao pagamento ou doação de bens materiais,
enfatizando que todos aqueles que acreditassem na salvação pelas indulgências seriam
eternamente condenados. O documento de Lutero também exortava o papa a terminar a
construção da basílica de São Pedro com recursos próprios.
Leia algumas teses
Tese 24. (...) a maior parte do povo está sendo enganada pela promessa de que seus
pecados serão perdoados;
Tese 32. Serão condenados (...), juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam
seguros de sua salvação através de carta de indulgências;
Tese 75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem
absolver um homem (...) é loucura;
Tese 86. Por que, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos Crassos (romanos ricos), não
constrói com seu próprio dinheiro ao menos a basílica de São Pedro, em vez de fazê-lo com o
dinheiro dos pobres fiéis?
SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contra-Reforma: o cristianismo em crise. P.36-37.
Em 1520, Lutero publicou um texto de contestação à doutrina católica. Esse manifesto
ficou conhecido como ―Carta aberta à nobreza cristã da nação alemã sobre a Reforma do
Estado cristão‖. Esse documento trazia definições sobre o programa da reforma religiosa.
Após esses acontecimentos o papa Leão X, exigiu que Lutero se retratasse. No entanto,
ele não aceitou, por isso, em 1520, foi excomungado. Como meio de demonstrar sua
irritação, Lutero queimou publicamente a decreto papal que excomungava-o.
O Imperador do Sacro-Império, Carlos V, realizou uma reunião, a chamada Dieta de
Worms, em 1521, os príncipes dessa assembléia imperial foram favoráveis a Lutero, uma
vez que boa parte dos nobres eram hostis a Igreja. Mesmo sendo apoiado pelos príncipes,
Carlos V expulsa Lutero das regiões imperiais. Nesse instante, ele foi acolhido no castelo do
príncipe da Saxônia, Frederico III. Outros príncipes também ajudaram financeiramente na
difusão do pensamento luterano por todo Império. Com o apoio da nobreza, Lutero
continuou sua pregação em favor da Reforma. Ele traduziu a Bílbia do latim para o alemão.
. Em 1530, junto com teólogo Filipe Melanchton lançou a Confissão de Augsburgo, a qual
se tornou pilar para a doutrina luterana.
A Reforma Luterana segue os seguintes fundamentos:
1. a salvação se alcança exclusivamente pela fé;
2. livre interpretação da Bíblia;
3. crença na falibilidade papal;
4. liberação do casamento entre os membros da Igreja;
5. apenas dois sacramentos são utilizados na liturgia: batismo e eucaristia;
6. a única verdade inquestionável são os textos das Sagradas Escrituras;
7. fim do celibato clerical e do culto às imagens;
8. a Igreja é útil à salvação, e não necessária, como defendiam os teólogos católicos;
9. uso das línguas nacionais nas liturgias religiosas, e não do latim;
10.negação do ato da transubstanciação: transformação do pão e do vinho em corpo e
sangue de Cristo;
11.favorável ao ato da consubstanciação: o pão e o vinho deveriam ser vistos, apenas,
como um ato abençoado e divino;
12.criação de Igrejas nacionais e sem hierarquias eclesiásticas;
13.subordinação da Igreja ao Estado.
―Embora a origem da Reforma de Lutero se deva a uma experiência pessoal, ela refletiu, na
verdade, o estado de espírito comum a muitos seguidores da Igreja Romana. De fato, a
iniciativa da interpretação da Bíblia deve ser compreendida como mais uma das muitas
manifestações típicas do individualismo do homem renascentista.‖
PERIS, Carmen; VERGÈS, Oriol. El Renascimiento. Barcelona: Parramóm: Ediciones, s.d. p.32.
A doutrina de Lutero se propagou rapidamente na Alemanha. Esse fato acirrou
intensamente as disputas entre membros do clero, a nobreza e os príncipes. Com o
propósito acabar com os conflitos religiosos, Carlos V, convoca, em 1530, a Dieta de
Augsburgo. Nessa assembléia, o imperador pretendia elaborar um plano de conciliação entre
reformistas e católicos, porém sua intenção fracassou. As lutas se prolongaram até 1555, o
novo imperador, Fernando I, assinou a Paz de Augsburgo. Esse acordo reconhecia a
fragmentação religiosa da Alemanha e, por isso, liberou para que a população de cada
região seguisse a religião escolhida pelo seu príncipe. .
A expansão do luteranismo e as questões sociais
Os nobres da Alemanha aderiram às propostas do luteranismo com o propósito de se
apropriar dos vastos domínios da Igreja Católica. Com essa finalidade, por exemplo, o grãomestre da Ordem Teutônica, ordem religiosa medieval, que adotou as idéias de Lutero e
confiscou as propriedades da ordem. Além disso, boa parte da nobreza invadiu diversos
principados eclesiásticos com o objetivo de se apossar das terras.
Assim, as idéias de Lutero propagaram-se com muita intensidade pelo Sacro Império
Romano-Germânico. No entanto, a difusão do luteranismo provocou a ocorrência de vários
conflitos sociais, religiosos e políticos, como, a Revolta dos Cavaleiros (1522 - 1523) e
Rebeliões Camponesas (1523 - 1525). Ambos os movimentos foram influenciados pela
idéias anabatistas. Essa seita defendia o batismo apenas dos adultos, porque as crianças
não tinham maturidade suficiente para fazer escolhas. Os anabatistas pregavam o retorno
ao igualitarismo da época dos apóstolos e a divisão dos bens, principalmente das terras. Por
esses motivos, suas propostas tiveram forte apelo social.
A Revolta dos Cavaleiros foi um movimento que contou com a participação da
pequena nobreza em decadência, os quais não detinham nem posses e nem privilégios
sociais. Os cavaleiros defendiam a necessidade de haver uma melhor distribuição de renda e
uma redução da influência política da alta nobreza. Impulsionados pelas idéias luteranas,
que condenavam a riqueza da Igreja, os integrantes desse movimento invadiram as terras
eclesiásticas e compartilharam-nas com o campesinato.
Lutero repudiou todos os movimentos sociais radicais da época, defendendo que a
rebeldia não era benéfica ao homem. Assim, apóia as ações empreendidas pelos nobres
contra os cavaleiros. Segundo ele, os projetos de reformas deveriam ser coordenados pela
alta nobreza, a qual deveria ficar com todas as terras advindas da Igreja. Assim, a Reforma
Luterana se afasta de qualquer movimento social radical, ou seja, não há caráter
revolucionário em sua proposta.
Nos anos de 1523 a 1525 eclodiram várias mobilizações camponesas na Alemanha. A
princípio, esses movimentos surgiram como suporte aos cavaleiros, mas logo em seguida se
transformou num grupo independente. Os movimentos camponeses foram liderados por
Thomas Munzer, adepto do anabatismo e seguidor fervoroso do luteranismo. Ao observar
que os princípios defendidos por Lutero traziam, basicamente, benefícios para a nobreza,
Munzer se afastou das propostas de Lutero e criou sua própria doutrina, a qual era contrária
à existência de propriedade privada. Seus seguidores, camponeses e aprendizes urbanos,
rebelaram-se contra os bens da aristocracia e da Igreja.
―Em primeiro lugar, nosso modesto pedido e desejo, nossa opinião e vontade é que, no
futuro, nos sejam dados poder e autoridade, para que cada comunidade possa eleger o seu
pastor e, da mesma forma, possa demiti-lo, caso se porte indevidamente. (...)
Em terceiro lugar, até agora éramos tratados como escravos, o que é uma vergonha, pois,
com o seu precioso sangue, Jesus Cristo nos salvou a todos tanto ao mais humilde pastor ao
mais nobre senhor sem distinção. (...)
Manifesto dos Camponeses. Fevereiro/Março de 1525. In: Antologia Humanística Alemã.
Porto Alegre: Globo, 1972. p.15-16.
Na região central da Alemanha, o movimento alcançou proporção revolucionária, pois os
camponeses passaram a exigir o fim da servidão e posse comum da propriedade. Em
relação a esse movimento popular, mais uma vez Lutero repudia-o publicamente,
condenando Thomas Munzer e seus signatários.
Sem apoio suficiente, os movimentos camponeses foram fortemente reprimidos por
tropas militares custeadas pela alta nobreza. No geral, foram mais de 100 mil pessoas
mortas, entre elas o principal líder das rebeliões, Thomas Munzer, decapitado em 1925.
O calvinismo, a predestinação e o espírito capitalista
A difusão e consolidação da doutrina luterana, na Alemanha, influenciou outros países
europeus. Entre eles Suécia, Dinamarca e Noruega, onde seus monarcas aderiram aos
preceitos protestantes, eliminando, assim, a influência do catolicismo.
O eco da reforma luterana também atingiu a Suíça.
Na época, o país estava
fragmentado em cidades-repúblicas, tais como Basiléia, Genebra, Zurique e Berna, todas
elas eram grandes centros de atividades comerciais. O controle político dessas cidades
estava nas mãos de um grupo de burgueses em plena expansão. No entanto, as barreiras,
estabelecidas pela Igreja, impediam o aumento de seus lucros. O clero era contrário à
liberdade comercial e ao elevado lucro da burguesia. Nessa perspectiva, os comerciantes
necessitavam de novos fundamentos econômicos, religiosos e morais que pudessem ser
favoráveis ao lucro e à prática da mão de obra livre e assalariada. Nesse sentido, conclui-se
que a reforma religiosa suíça veio suprir uma necessidade, evidentemente, burguesa.
A Reforma Protestante foi iniciada no território suíço por Ulrich Zwinglio (1489-1531),
que passou a divulgar intensamente a doutrina de luterana. Ele foi ordenado a padre em
1517, mostrando-se bastante crítico em relação aos dogmas católicos. Zwinglio exercia ação
humanitária em benefício aos pobres e enfermos nas ruas de Zurique, principalmente no
decorrer da peste negra que atingiu a Suíça em 1519. Por esses gestos, ficou muito
conhecido. Esses gestos de caridades o fez meditar mais sobre a necessidade se entregar
mais ao universo religioso. Em suas palavras proferidas, defendiam a urgência de uma
reforma na Igreja Católica.
Zwinglio acreditava na predestinação, porém, rejeitava a confissão, afirmando que cabia,
apenas, a Deus redimir os homens dos seus pecados. Por esforço de Zwinglio, a religião
reformada alcança até o norte da Suíça. Em 1531, foi iniciada uma guerra civil que
ocasionou a sua morte. Entretanto, suas propostas foram reconhecidas no acordo,
denominado de Paz de Kappel (1531), que deliberava aos governantes a escolha da sua
própria religião.
As disputas religiosas se alastraram até Genebra. Essa cidade foi palco de atuação de um
dos mais notáveis incentivadores da Reforma, o intelectual francês João Calvino (15091564). Estudioso de Direito, teologia e das artes liberais, ele aderiu às idéias de Lutero, em
1530.
Devido às perseguições religiosas, Calvino transfere-se para Genebra em 1536. Nesta
cidade publicou Instituições da religião cristã. Nesse documento definia os fundamentos
teológicos do calvinismo, a saber, a confirmação dos princípios luteranos (salvação pela fé) e
a crença total na Teoria da Predestinação. Segundo essa teoria, o homem já nasce
predestinado à salvação ou a condenação. Esse princípio surgiu do dogma da onisciência de
Deus, que sabe e vê todas as coisas. Dessa maneira, Deus sempre soube quem iria se
salvar e quem estaria condenado. O culto calvinista era simples, sua liturgia limitava-se à
leitura e comentários dos textos sagrados.
―Chamamos de predestinação ao eterno decreto de Deus com que sua majestade
determinou que deseja fazer a cada um dos homens: porque ele não cria a todos em uma
mesma condição de estado, mas ordena a uns a vida eterna e a outros a perpétua condenação. Portanto, segundo o fim a que o homem é criado, dizemos que está predestinado ou à
vida ou à morte. (...)‖
Trecho do livro Instituições da Religião Cristã.
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A doutrina calvinista defendia os seguintes princípios:
livre interpretação da Bíblia;
aceitação apenas de dois sacramentos: batismo e eucaristia;
salvação obtida por meio da graça de Deus (predestinação);
extinção da hierarquia eclesiástica;
utilização das línguas nacionais nos cultos religiosos.
Como o apoio da burguesia suíça, Calvino estruturou seus princípios fundamentados na
valorização do trabalho, na rigorosa disciplina e na utilidade de economizar. Segundo ele, o
trabalho era o responsável pelo sucesso material, que representa um sinal divino. Para
Calvino, o enriquecimento (indicação da salvação) simboliza uma graça de Deus enquanto
que a pobreza uma condenação.
O calvinismo defendia o lucro e o empréstimo de dinheiro com juros, assim, essa
doutrina como era compatível com as atividades comerciais, foi bem aceita entre os
burgueses das principais cidades-repúblicas da Suíça.
Em 1541, Calvino assume poder político e religioso de Genebra. A administração de
Calvino foi marcada pelo intenso despotismo, impondo severos costumes morais, tais como,
obrigar as pessoas a participar do culto e da comunhão.
A doutrina calvinista se expandiu rapidamente pela Europa Ocidental, atingindo os Países
Baixos, a Dinamarca, a Escócia (os presbiterianos), a França (os huguenotes) e a
Inglaterra (os puritanos). O calvinismo adquiriu mais adeptos do que do luteranismo, na
medida sua doutrina atendia melhor as necessidades capitalistas dos burgueses.
―O significado econômico do calvinismo, e bem assim o da crença reformada em geral,
tem sido origem de prolongada controvérsia. Max Weber afirmou que a fé protestante,
através do realce que deu às ocupações, ajudou a desenvolver a iniciativa capitalista. É certo
que ele poderia ter apontado, em reforço das suas idéias, a capacidade comercial e industrial
dos calvinistas holandeses, dos huguenotes franceses, dos homens de negócios escoceses e
dos industriais (...) britânicos, mas, conforme salientaram os seus críticos, teria exagerado a
questão (...)
O realce calvinista da atividade e da poupança não tardou a ser associado ao êxito (e à
riqueza) como um sinal de favor de Deus, e ao fracasso (e à pobreza) como uma indicação do
seu desfavor.‖
GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma. Lisboa: Dom Quixote, 1991. p. 194.
O Anglicanismo
A Reforma Protestante inglesa tem características bastante peculiares. O monarca
Henrique VIII repudiou, inicialmente, as idéias luteranas, chegando até a perseguir os seus
seguidores. Essa oposição aos reformadores, fez com a Igreja condecorasse o rei inglês
como Defensor da Fé. No entanto, Henrique objetivava confiscar as terras eclesiásticas,
debilitando, dessa maneira, a influência da Igreja Católica.
Em 1527, Henrique VIII, encontrou uma justificativa para afastar o clero das questões
políticas na Inglaterra. Nesse ano, o soberano requisitou ao papa Clemente VII a anulação
do seu matrimônio com a espanhola Catarina de Aragão, a qual não podia engravidar. Por
casar-se com Ana Bolena, sem a bênção da Igreja, o rei foi excomungado.
Os vários problemas entre o papa e o rei provocaram a cisão em 1531, quando o
Parlamento inglês aprovou um conjunto de leis que subordinava a Igreja à autoridade
governamental. No ano de 1534, através do Ato de Supremacia, o rei se tornou o
representante máximo da Igreja Anglicana, sendo responsável pela nomeação dos
eclesiásticos e pelas determinações das doutrinas religiosas. Vale salientar, que todos
dogmas católicos foram mantidos no anglicanismo, com exceção o poder papal que estava
submetido ao do rei. Após o Ato, as propriedades da Igreja Católica transferiram-se para o
controle dos nobres e do monarca. Nessa perspectiva, podemos concluir que as razões da
separação oficial entre o Estado e a Igreja Católica não foram religiosas, mas econômicas e
políticas.
Com a morte de Henrique VIII, iniciou-se um período intenso de tensão. Entretanto,
quando Elizabeth I (1533-1603), filha de Henrique VIII com Ana Bolena, chega ao trono,
consegue estabelecer a paz religiosa. Com ela no poder, a doutrina anglicana adquiriu
princípios mais definidos. Tais preceitos foram resultados de um entrelaçamento entre
elementos do anglicanismo com o calvinismo. O grande objetivo era gerar uma conciliação
ente os fundamentos religiosos na Inglaterra, a fim de evitar a fragmentação do reino.
Entre 1558 e 1603, a Rainha Elisabeth I aprofundou e consolidou o processo de reforma.
Nesse período ela publicou a Lei dos 39 Artigos. Em linhas gerais, o anglicanismo se
caracterizava pelos seguintes pontos;
1. uso da língua inglesa nas liturgias;
2. manutenção da hierarquia clerical;
3. salvação alcançada pela predestinação;
4. aceitação do batismo e da eucaristia;
5. submissão da Igreja ao Estado.
O Igreja Católica “renovada”
As reformas protestantes provocaram transformações políticas e sociais em praticamente
todo o continente europeu. A expansão do protestantismo gerou uma contra-ofensiva da
Igreja Católica. Esse movimento renovação do catolicismo ficou conhecido como
Contrarreforma.
Segundo alguns historiadores, as origens da Reforma Católica remontam o final do
século XV, ou seja, foi iniciada antes da Reforma Protestante. Na Itália e na Espanha, sob a
liderança de alguns membros do clero, foram estabelecidas medidas com o propósito de
reabilitar a disciplina religiosa e retomar a verdadeira essência do cristianismo. Porém, a
Igreja Católica só adota medidas mais efetivas com a consolidação dos movimentos
reformistas do século XVI.
A reação Católica tinha como objetivo conter o avanço protestante e recuperar o
prestígio do catolicismo no cenário geopolítico europeu. Para atingir tal fim, a Igreja utilizou
os padrões mais tradicionais do catolicismo, como por exemplo, a restabelecimento do
Tribunal do Santo Ofício. Esse órgão, criado na Idade Média, julgava e punia aquelas
pessoas (os hereges) que discordavam e criticavam com as práticas da Igreja Católica.
Buscando solidificar a reforma católica, o papa Paulo III convoca o Concílio de Trento
(1545-1563). Essa assembléia foi marcada por algumas suspensões. O principal objetivo do
Concílio era discutir temas religiosos e posicionar-se em relação às críticas protestantes.
Todavia, esse encontro não conseguiu chegar a nenhum consenso, apenas reafirma os
dogmas católicos e condena às ações protestantes.
As decisões tomadas pelo Concílio foram caracterizadas mais pelo tradicionalismo do que
pela inovação. As principais medidas do Concílio foram as seguintes:
1. manutenção dos sete sacramentos católicos: batismo, crisma, eucaristia, ordem,
confissão, extrema unção e matrimônio;
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reafirmação dos princípios do catolicismo e condenação das novas religiões;
o latim permanece com língua litúrgica oficial nas missas católicas;
confirmação da infalibilidade papal;
manutenção da hierarquia eclesiástica, do celibato clerical;
adoção de uma nova disciplina para os membros do clero;
criação do Catecismo e dos seminários de teologia;
instituição da lista dos livro proibidos (o Index Librorum Proibitorum). O index foi várias
vezes reavaliados, sendo abandonado em 1966;
9. restabelecimento do Santo Ofício.
Trechos de algumas decisões do Concílio de Trento
―I – Se alguém disser que o homem se pode justificar para com Deus por suas próprias obras
(...) ou pela doutrina da lei, sem a divina graça adquirida por Jesus Cristo, seja
excomungado.
V- Se alguém disser que o livre arbítrio do homem está perdido e extinto depois do pecado
de Adão, ou que ele é um simples nome sem objeto, ou o que lê é uma ficção introduzida
pelo demônio na Igreja, seja excomungado.‖
ARTOLA, Miguel. Textos fundamentais para la leitura. Madri: Alianza, 1985.
O Concílio também criou medidas moralizadoras buscando coibir práticas abusivas, como
a venda de indulgências. Porém, a Igreja continuou afirmando a necessidade das boas obras
como meio de se obter a salvação.
A Reforma Católica também contou com o reforço de várias ordens religiosas. A mais
famosa foi a Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola em 1534. Os membros
dessa ordem ficaram conhecidas como jesuítas. Eles desempenharam ações muito
importantes para o fortalecimento do catolicismo em várias regiões que atuaram. Como
educadores, foram fundamentais na catequização dos nativos americanos.
As reformas e as mudanças nas relações de poder
A Reforma empreendida por Martinho Lutero e João Calvino gerou mudanças nas
relações econômicas, sociais, políticas e religiosas. O protestantismo trouxe uma nova moral
econômico-religiosa, a qual possibilitou o enriquecimento da burguesia. Além disso, a
ruptura da cristandade resultou no prestígio da autoridade papal. Porém, a maior
conseqüência da Reforma Protestante foi a cisão da cristandade ocidental.
A livre interpretação da Bíblia, a liberdade de culto e a substituição do latim pelas
línguas nacionais contribuíram decisivamente para o fortalecimento do nacionalismo nos
países. Entretanto, vale salientar, que liberdade de culto não pode ser confundido com
liberdade religiosa, porque a intolerância também foi usada pelos protestantes mais
tradicionais.
TEXTO COMPLEMENTAR
Texto 01
Católicos e luteranos se reconciliam
―Depois de quase quinhentos anos, católicos e luteranos perceberam que tinham mais
semelhanças do que divergências e deram um passo importante para o entendimento.
Em outubro de 1999, depois de quatro séculos de separação e de 32 anos de conversações.
Católicos e luteranos assinaram, na Alemanha, acordo que estabelece um consenso sobre a
principal questão teológica que os afastou. O documento conjunto vai explicar de que modo as
duas denominações encaram hoje a salvação – o instante em que os cristãos se libertariam de
todos os pecados e se encontrariam com Deus na eternidade. Quando se rebelou contra o papa
Leão X, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) produziu as 95 Teses que tratavam do
tema, e as tornou públicas. O gesto desencadeou o movimento da Reforma, que deu origem às
Igrejas protestantes.
À época, católicos defendiam que, para atingir a salvação. Os fieis deveriam praticar boas
obras. Ou melhor: entregar-se às ações solidárias e respeitar um sem-número de ritos (orações,
jejuns, donativos, peregrinações, adoração de relíquias etc). A salvação dependeria do mérito de
cada cristão. Quem fizesse mais obras ‗somaria mais pontos‘ no céu. Tal doutrina acabou gerando
uma série de abusos como a venda de indulgências. Em troca de recursos para a reconstrução da
basílica de São Pedro (Roma), o papa Leão X oferecia a remissão total ou parcial das penas que o
doador de dinheiro iria sofrer; na Terra ou no purgatório, por ter cometido pecados. As 95 Teses
questionavam as vendas... Daqueles escritos brotava uma nova doutrina: a salvação deriva da
graça divina e não das obras. Foi há menos de quatro décadas que as distancias começaram a
diminuir. Em 1967 criou-se a comissão Mista Internacional Católico-Luterana, que desde então se
reúne periodicamente para analisar as pendências teológicas. Há dois anos o grupo finalizou a
declaração que deverá ser assinada agora (outubro de 1999) e receberá o aval do Vaticano e da
Federação Luterana Mundial, que congrega 95% dos 61 milhões de luteranos. Com o acordo,
ambas passam a professar que:
- Salvação decorre da graça de Deus e não das boas obras.
- Só se chega à salvação pela fé.
- Embora não levem à salvação, as boas obras são conseqüências da fé.
- O cristão faz boas obras não para se salvar, mas como testemunho da fé.
A assinatura ocorrerá em 31 e outubro, data em que Lutero divulgou as 95 Teses.
A cidade de Augsburgo, onde o monge sofreu um interrogatório por ordem do papa, sediará a
cerimônia.
Anteore, Armando. Folha de S. Paulo, 19/9/1999.
Texto 02
―Durante muito tempo, acreditou-se que a Reforma havia ocorrido por causa dos ―abusos‖ que
naquele momento se produziam no interior da Igreja. (...)
Atualmente se considera insuficiente a explicação moral da Reforma, que procura dar conta de um
fenômeno essencialmente religiosos. (...)
(...) a investigação histórica atual se orienta decididamente, no que se refere à Reforma, para o
estudo das doutrinas e de suas relações com a mentalidade dos homens do século XVI. A causa
principal da Reforma foi, em resumo, esta: numa época agitada, na qual o individualismo realizava
grandes progressos, os fiéis sentiram a necessidade de uma teologia mais sólida e mais viva que
aquela que lhes ensinava – ou não lhes ensinava – um clero geralmente pouco instruído (...).‖
MARQUES, Adhemar et tal. História Moderna através de textos. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 111-2.
Analisando os textos
1. Qual o tema abordado por eles?
2. Quais as principais ideias que o texto 01 faz alusão? Comente-as.
3. Em sua opinião quem cedeu mais de seus princípios para assinar o acordo? Justifique.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Explique os principais fatores que contribuíram para Reforma Protestante.
2. Comente as principais práticas da Igreja Católica criticadas pelos reformistas no século
XVI.
3. Relacione as idéias luteranas com as revoltas camponesas ocorridas nos territórios na
Alemanha.
4. ―Por outro lado, impõem-se o fato de os protestantes (especialmente em alguns de seus
ramos...), tanto como classe dirigente, quanto como classe dirigida, seja com maioria,
seja como minoria, terem demonstrado tendência específica para o racionalismo
econômico, que não pôde ser observada entre os católicos em qualquer dessas
situações. A razão dessas diferentes atitudes deve, portanto, ser procurada no caráter
intrínseco permanente de suas crenças religiosas, e não apenas em suas temporárias
situações externas na história.‖
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 8 ed. São Paulo: Pioneira, 1994. p. 23.
O calvinismo defendia o trabalho, a vida regrada e o hábito de economizar dinheiro.
Após a leitura do texto faça a relação entre a doutrina calvinista e o desenvolvimento do
capitalismo.
5. Leio o texto abaixo e em seguida responda às questões.
―Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele
mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico
exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também ao chamado de Deus,
santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e sua ação é santa.‖
CALVINO, João. In: MOUSNIER, Ronald. História geral das civilizações: os séculos XVI e XVII: os processos
da civilização européia. São Paulo: Difel, 1973. Tomo IV, v.1.
a) De acordo com o texto, explique a teoria da predestinação criada por João Calvino.
b)
Relacione a expansão das idéias defendidas no texto com o desenvolvimento do
capitalismo a partir do século XVI.
6. Por que o Parlamento inglês apoiou a iniciativa do monarca Henrique VIII na fundação da
Igreja Anglicana?
7. (FUVEST-SP) Antes do luteranismo e calvinismo surgirem, no século XVI, e romperem
com a unidade do cristianismo no ocidente, houve, na Baixa Idade Média, movimentos
heréticos importantes, como o dos cátaros e dos hussitas, que a Igreja Católica
conseguiu reprimir e controlar.
Explique:
a) Como a Igreja Católica conseguiu dominar as heresias medievais?
b)
Por que o luteranismo e o calvinismo tiveram êxito?
8. (Unicamp-SP) ―Embora a origem da Reforma de Lutero se deva a uma experiência
pessoal, ela refletiu, na verdade, o estado de espírito comum a muitos seguidores da
Igreja romana. De fato, a iniciativa da livre interpretação da Bíblia de ser compreendida
como mais uma das muitas manifestações típicas do individualismo do homem
renascentista.‖
(PERIS, Carmem e VERGES, Glória. El Renascimento. Barcelona: Parramón Ediciones, s.d., p.32)
a) Quais foram as relações culturais da Reforma Protestante com o Renascimento?
b) Por que a livre interpretação da Bíblia era criticada pelo alto clero medieval?
9. (FUVEST) Alguns historiadores admitem conexão entre o calvinismo e o
desenvolvimento do capitalismo a partir do século XVI. Indique dois aspectos dessa
conexão.
10.(Unicamp) No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero, professor de Teologia da
Universidade de Wittenberg, afixou na porta de uma igreja daquela cidade um
documento em que eram expostas 95 Teses.
Baseado em Elton, G. R. história de Europa.
a) Que processo histórico o gesto de Lutero inaugurou?
b) Cite duas práticas adotadas pela Igreja Católica condenadas por Lutero.
c)
Por que se considera que esse processo histórico acabou facilitando o desenvolvimento do capitalismo?
11.(Unicamp) Em um dicionário histórico, encontramos a seguinte definição: ―ContraReforma – o termo abrange tanto a ofensiva ideológica contra o protestantismo quanto
os movimentos de Reforma e reorganização da Igreja Católica, a partir de meados do
século XVI.‖
Dicionário do Renascimento italiano. Zahar, 1988.
Dê as principais características da Contrarreforma e analise duas delas.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE)O século XVI na Europa assistiu a modificações tensas e conturbadas em relação
à crença da população. Com o começo das reformas religiosas, o cristianismo ocidental
deixou de ser uno, e os protestantes ocuparam um espaço na sociedade europeia.
Sobre a reforma religiosa do século XVI, analise as afirmações a seguir:
I. No período medieval, vozes, como as de John Wycliff e Jan Huss, faziam críticas ao
catolicismo e pregavam reformas.
II. O pensamento humanista e individualista do Renascimento não influenciou a eclosão
da Reforma.
III. O despreparo moral e intelectual do clero católic o medieval junto com a cobrança de
indulgências aceleraram o advento da reforma protestante.
IV. O Concílio de Trento buscou negar o valor da s doutrinas protestantes e reafirmar a
hegemonia católica no mundo cristão europeu.
V. A Europa assistiu a um enfraquecimento da intolerância religiosa com as reformas,
evitando conflitos armados entre católicos e protestantes.
Estão corretas:
a) I, II e III.
b) II, IV e V.
c) II, III e IV.
d) I, III e IV.
e) III, IV e V.
2. (UPE) A Contrarreforma ou Reforma Católica consistiu na reorganização da Igreja
Católica com o objetivo de enfrentar o avanço do protestantismo. As principais
medidas dessa reforma foram, exceto:
a) organização do Concílio de Trento, que estabeleceu um conjunto de decisões para
garantir a unidade da fé Católica, reiterando os princípios tradicionais do catolicismo.
b) reativação dos tribunais da Inquisição para combater e punir os desvios da fé
católica.
c) considerar a fé cristã que tinha na bíblia, através do livre-exame, sua única fonte, o
caminho para a salvação da alma.
d) criação da ordem jesuíta, que investiu na criação de escolas religiosas para promover
a educação dos cristãos.
e) fortalecimento da censura com criação do índex de livros proibidos, prática
que contribuiu, também, para inibir o debate e as descobertas científicas.
3. (FCC) O surgimento do cristianismo introduz uma noção de História, segundo a qual
esta nada mais é do que o desenvolvimento dos desígnios divinos.
(Pedro P. A. Funari & Glaydson J. Silva. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008, p. 25)
A Reforma, séculos depois, introduziu outros princípios, tais como:
a) a defesa da autoridade incontestável do papa e dos sacerdotes, na interpretação dos
desígnios divinos.
b) o conceito de predestinação e a noção de que o trabalho e o lucro dignificam o
homem.
c) a crença de que os pobres deveriam se rebelar contra os ricos, pois a História era
movida pela luta de classes.
d) a visão de que os Estados deveriam se subordinar politicamente às orientações do
Vaticano.
e) a concepção de que os judeus e demais seguidores de outras crenças deveriam ser
eliminados.
4. (UPE) Sobre a reforma luterana, considere as seguintes proposições:
I. De acordo com a pregação de Lutero, mais importante do que a hierarquia era
palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras.
II. Com a eclosão da revolta dos camponeses germânicos, liderados por Thomas
Müntzer, Lutero aconselhou os senhores a: ―golpear, estrangular e apunhalar os
amponeses, pois não há nada mais diabólico do que um homem revoltado.
III. ―Eliminou a maioria dos sacramentos Católicos, negando que tivessem o poder de
salvar os homens do pecado. Manteve apenas o batismo.
IV. Extinguiu o celibato, permitindo o casamento dos sacerdotes e instituiu, no lugar da
missa, a ceia do Senhor.
Estão corretas:
a) somente I e II.
b) somente II e III.
c) somente III e IV.
d) somente II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
5. (UPE) Sobre O Calvinismo, considere as seguintes proposições:
I. Defendia ideias de socialização, propondo a repartição de propriedades com a
condenação da riqueza.
II. Pregava a reforma da Igreja, negava o dogma da infalibilidade do papa e lutava
contra o predomínio dos prelados germânicos.
III. Ensinava que o lucro não era pecado e que a única maneira de alguém saber se
estava predestinado à salvação era obter êxitos nas relações econômicas por meio do
trabalho árduo e disciplinado.
IV. Propunha a aceitação exclusiva das sagradas escrituras como instrumentos para
conhecer a verdade divina.
Estão corretas:
a) somente I e II.
b) somente III e IV.
c) somente I, II e III.
d) somente II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
6. (COVEST) A Reforma trouxe mudanças que não ficaram, apenas, restritas ao campo da
religião. As mudanças tiveram amplas repercussões na política, inclusive por
possibilitarem o surgimento de grupos que questionavam radicalmente a sociedade da
época. Os anabatistas, por exemplo:
a)negavam a validade do cristianismo e defendiam o fim das monarquias.
b)combateram o conservadorismo de Lutero e conseguiram fazer uma reforma social
nos Países Baixos.
c) eram partidários dos ensinamentos de Santo Agostinho e defendiam os interesses da
aristocracia.
d)defendiam uma melhor repartição das riquezas sociais, conseguindo adeptos em
muitas regiões da Europa.
e)fizeram alianças políticas com a aristocracia, embora combatessem os ensinamentos
de Lutero.
7. (UPE) O predomínio do Catolicismo fez parte de um grande período da história da
Europa. Com o surgimento e a expansão da Reforma, novas idéias surgiram, abalando
um poder secular. Lutero, um dos líderes da Reforma, defendia o (a)
a) fim do clero católico, com uma crítica ao que diziam as Sagradas Escrituras,
duvidando das suas verdades.
b) afirmação do pensamento de santo Agostinho, valorizando o papel da fé na salvação
do indivíduo.
c) manutenção dos sacramentos, para fortalecer a palavra de Deus, enaltecendo poder
do clero mais simples.
d) extinção do celibato, além de manter a necessidade de consolidar a hierarquia papal
e sua relação com os bispos.
e) conflito contra o poder dos reis, negando a importância do pecado e do batismo.
8. (VUNESP) Leia com atenção as frases a seguir.
I. A Reforma Protestante, ocorrida em meados do século XV, na Europa, representou,
entre outras coisas, a insatisfaçãoda nobreza em relação às riquezas e ao poder da
Igreja Católica.
II. As camadas populares, por sua vez, acatavam as orientações da Igreja por continuar
a ver, nessa instituição, a expressão dos valores básicos da religião cristã, como
humildade e caridade.
III. A partir das críticas aos abusos da Igreja Católica, Martinho Lutero propôs a criação
de uma Igreja mais próxima dos valores originais do cristianismo.
Está correto apenas o contido em:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e III.
e) II e III.
9. (UPE) No início da Idade Moderna, o catolicismo experimentou uma dissensão interna
que marcou definitivamente sua ação enquanto Igreja Universal. Lutero, Calvino e
Henrique VIII foram responsáveis pela maior Reforma Religiosa no âmbito do
cristianismo. Neste período, essa religião dividiu-se em quatro correntes, sendo que
a) os católicos acreditavam na salvação pela fé e pelas boas ações, enquanto os
calvinistas e anglicanos aceitavam apenas a salvação pela fé como parte da teoria da
predestinação.
b) os luteranos, em relação à eucaristia, acreditavam na presença real de Cristo com
transubstanciação, e os calvinistas e anglicanos, apenas na presença espiritual de
Cristo.
c) os anglicanos, em relação ao culto, suprimiram o sacrifício da Missa e conservaram a
liturgia, enquanto os católicos continuaram com a Missa, centro principal do culto.
d) os católicos continuaram com os sete sacramentos, enquanto os luteranos,
calvinistas e anglicanos, apenas com dois: batismo e comunhão.
e) os luteranos entendiam que a Igreja era útil à salvação, suprimindo a hierarquia
eclesiástica, enquanto os anglicanos também mantiveram a utilidade da Igreja em
relação à salvação e conservaram a hierarquia eclesiástica.
10.(COVEST) A Reforma trouxe abalos ao poder político dos católicos e se confrontou com
grupos da nobreza da época. Nas suas propostas, orientava para:
a) a necessidade de mudar os hábitos religiosos e para o combate ao celibato.
b) a força de uma ética baseada na igualdade e no respeito à distribuição das riquezas.
c) a formação de governos libertários, com princípios constitucionais democráticos.
d) a organização de uma religião sem formalidades, que condenava os ensinamentos do
Antigo Testamento.
e) o estabelecimento de uma religião monoteísta, sem cultos ou ritos dominicais.
11.(SELECT) A passagem do Feudalismo para o Capitalismo Industrial representou um
longo processo de transição. Durante as primeiras fases da Idade Moderna, esse
processo foi acompanhado e influenciado por mudanças políticas e culturais de
importância decisiva, tais como: ‐ O Renascimento Cultural, movimento de renovação na
arte e na cultura européia. Muitos artistas e pensadores passaram a exprimir em suas
obras, ideais, valores e uma visão de mundo livre dos dogmas da Igreja. O ser humano
tornou‐se o centro das indagações dos novos intelectuais. – E a Reforma Protestante,
movimento religioso iniciado por Martinho Lutero, que determinou a ruptura da unidade
da igreja católica e deu origem ao Protestantismo.
Sobre o Renascimento Cultural e a Reforma Protestante, tendo como referência inicial
o texto acima, assinale a alternativa correta:
a) Uma das características marcantes do Renascimento foi o seu racionalismo, com a
convicção de que todos os fenômenos podem ser explicados pela deísmo, pela razão
e pelo humanismo.
b) Calvino admitia a necessidade da concessão da graça divina para a salvação dos
homens.
c) Enquanto Lutero acredita na fé como único modo de salvação, Calvino admite a
predestinação daqueles indivíduos que têm sucesso nos negócios e nas questões
materiais.
d) O Renascimento marcou um momento de ruptura com as concepções da cultura
medieval ao incorporar o Individualismo e Antropocentrismo.
e) Maquiavel, pensador renascentista, baseou‐se na democracia grega para a
formulação do seu pensamento político.
12.(UFT) No início da Era Moderna, o processo de crise que gerou a chamada Reforma
envolveu não apenas fé mas também disputas políticas. Considerando-se esse contexto,
é correto afirmar que:
a) a Igreja Católica reagiu à Reforma convocando o Concílio de Trento, cujas medidas
visaram a impedir o crescimento do protestantismo.
b) as religiões protestantes não aceitavam inovações nos ritos sagrados – entre outras,
a realização de missas em outras línguas que não o latim.
c) Martinho Lutero, em seus ataques ao Papado, discordava principalmente do processo
violento de catequese dos aborígines americanos.
d) uma das iniciativas do Vaticano para aplacar as críticas dos protestantes consistiu em
tornar mais branda a ação do Tribunal do Santo Ofício.
13.(UPE) "Ante os ataques dos protestantes e na linha das posições doutrinais e das
decisões do concílio, a Igreja pós-tridentina tende a revalorizar determinadas formas de
devoção coletiva. De fato, estas aparecem como a expressão da realidade da Igreja
universal, desde que estreitamente enquadradas pelo clero" Lebrun, F. "As Reformas:
devoções comunitárias e piedade pessoal" in História da Vida Privada (3), Cia. Das Letras, p. 73).
A convocação do Concílio de Trento foi uma reação contra a Reforma, tomando
medidas como:
a) a proibição da venda de indulgências nas regiões do norte da Europa, mantendo a
venda em Portugal e na Espanha.
b) a reativação da Inquisição e a criação de uma lista de livros proibidos , contribuindo
para a censura das ideias.
c) a liberação da venda de cargos eclesiásticos, mas manteve a indissolubilidade do
casamento.
d) a mudança na hierarquia eclesiástica, diminuindo os poderes do papa e dos bispos.
e) a criação do tribunal da Inquisição em nações do norte da Europa, com a finalidade
de combater calvinistas e luteranos.
14.(UPE) O poder da Igreja Católica sofreu abalos na sua base com a Reforma liderada por
Calvino e Lutero. Com relação às mudanças das práticas religiosas da época, a Reforma
a) reforçou a intervenção dos sacerdotes nos rituais, evitando crítica à sua autoridade
como representantes de Deus.
b) incentivou a leitura da Bíblia em latim, nos templos religiosos, conduzida pelas
lideranças clericais mais atuantes.
c) acabou com a existência da confissão privada, cabendo a cada um fazer seu exame
de consciência sobre os pecados cometidos.
d) fortaleceu a hierarquia clerical, criando mais espaços para estreitar as relações entre
os governos da época e a religião.
e) retomou princípios defendidos por Tomás de Aquino, enfatizando a autonomia de
cada um para se salvar dos seus pecados.
15.(COVEST) A Reforma trouxe mudanças políticas, religiosas e culturais. Foi
importante para a Modernidade. Seus entendimentos com a burguesia:
a) foram cheios de conflitos, pois a burguesia queria que o catolicismo prevalecesse
em toda a Europa.
b) tiveram pactos significativos, pois Lutero não aceitava o poder da nobreza nem o
militarismo dos reis.
c) conseguiram êxitos, pois a burguesia queria espaço para defender seus projetos
contrários aos da Igreja Católica.
d) fracassaram na Europa Ocidental; apenas se estenderam de forma ampla na
Inglaterra e na América.
e) consolidaram-se no século XVII, com a vitória da Revolução Francesa e o fim das
monarquias absolutistas.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
História das inquisições: Portugal, Espanha e Itália
BETHENCOURT, Francisco. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
–
séculos
XV-XIX.
A Reforma na Europa do século XVI. DICKENS, A. G. Lisboa, Editorial Verbo. (História
Ilustrada da Europa).
A cruz e o crescente: Cristianismo e Islã, de Maomé à Reforma. FLECHTER, Richard.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
Renascimento e Reforma. GREEN, V. H. H. Lisboa: Dom Quixote, 1991.
Cinema
Lutero
Direção de Eric Till. Alemanha/EUA, 2003. 112 minutos
Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero (Joseph
Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se junta ao
monastério, mas logo fica atormentado com as práticas adotadas
pela Igreja Católica na época. Após pregar em uma igreja suas 95
teses, Lutero passa a ser perseguido. Pressionado para que se
redima publicamente, Lutero se recusa a negar suas teses e
desafia a Igreja Católica a provar que elas estejam erradas e
contradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero foge e
inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e
que eles permitem o acesso de todas as pessoas a Deus.
Sites
95 Teses de Lutero
Site da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que oferece o texto integral das
95 proposições elaboradas pelo reformador Martinho Lutero.
Disponível em: www.luteranos.com.br
O Estado Moderno e o
Absolutismo Monárquico
O sistema feudal foi caracterizado pela fragmentação territorial e pela descentralização
política. Consequentemente, o rei possuía poucos poderes. Entretanto, na Baixa Idade
Média, o fortalecimento do comércio e o desenvolvimento das cidades fez surgir a burguesia. Esse grupo social contribuiu de maneira essencial para o surgimento e consolidação dos
Estados Nacionais na Europa.
O fortalecimento do poder dos monarcas interessa aos burgueses. Igualmente, os reis se
interessavam do apoio da burguesia, pois, dessa forma podia-se, por meio de empréstimos
e contribuições tributárias, sustentar os exércitos que combatiam as investidas dos nobres
feudais. A criação de um exército permanente contribuiu decisivamente para o aumento do
poder real. Com o passar dos anos, as milícias foram incorporadas ao exército. Assim, a
importância dos cavaleiros, núcleo do poder feudal, foi decaindo. A partir disso, o rei passou
a controlar além do exército, a justiça e a arrecadação de impostos.
Bandeira do Brasil. Essa imagem retrata alguns dos símbolos dos Estados Nacionais, sentimento de
pertencimento ao país.
Outro fator decisivo que contribuiu para a construção dos estados nacionais foi a unidade
territorial. A unificação territorial de importância fundamental, pois, a mesma possibilitava a
padronização das leis, da moeda e dos pesos e medidas. Dessa maneira, o rei se encontrava
altamente fortalecido. É nesse cenário, que, entre os séculos XII e XV, são estabelecidos as
monarquias nacionais. Os casos mais expressivos foram em Portugal, na Espanha, na
Inglaterra e na França.
O Estado nacional centralizado simbolizou a consonância de interesses entre o monarca
e os burgueses. A burguesia se interessava por estado forte, pois essa condição possibilitava o desenvolvimento da economia. Já os nobres viam no fortalecimento do poder
central, uma alternativa para reprimir as diversas rebeliões camponesas que assolavam
várias regiões da européia. Desse modo, o Estado Nacional apresenta contradições, pois por
um lado beneficiava a burguesia e o rei, do mesmo modo atendia os interesses da nobreza.
Em linhas gerais, os principais elementos do Estado Nacional são: moeda única,
território unificado, exército nacional, língua, administração e outros símbolos
nacionais (bandeira e hino). Esses sentimentos patrióticos agravaram ainda mais o sistema
feudal que chega a sua exaustão no século XIV.
Com o objetivo de superar os entraves das estruturas feudais, o rei buscou suporte
econômico nos burgueses, além disso, ele manteve as relações com os nobres, na pretensão
de garantir os privilégios em troca de apoio político. A partir desse jogo de interesses, os
poderes dos monarcas cresceram gradativamente.
No decorrer dos séculos XVI e XVII, em várias monarquias nacionais da Europa
Ocidental, o poder político foi amplamente acentuado. Nesse instante, os monarcas
passaram a governar de maneia autoritária. Com o passar dos tempos, o poder real foi
adquirindo um caráter absoluto.
Características do Estado Absolutista
Com a consolidação do absolutismo, o Estado passou a monopolizar as esferas do poder
militar, administrativo, jurídico e político. Essa centralização também beneficiou a emergente
classe de burgueses, a qual se interessava pela unificação de mercados e da moeda,
pela proteção contra concorrência de produtos estrangeiros. Os burgueses também
desejavam a existência de uma legislação, que fosse válida para todo o território.
Vale salientar, que a formação e desenvolvimento dos Estados Nacionais não
representaram o fim do sistema feudal, pois as relações sociais e econômicas possuíam
marcas tipicamente do feudalismo. Porém, o processo do absolutismo teve um papel
essencial para acelerar a passagem para o capitalismo moderno.
Em linhas gerais, as principais características dos Estados Absolutistas são: forte
centralização política, unificação de sistemas legais (leis), formação de um exército nacional
sob o comando do monarca, arrecadação de impostos, enfraquecimento dos poderes
senhoriais, burocracia, subordinação da Igreja ao estado, diplomacia, nacionalismo,
aumento da justiça real, unificação monetária, mercantilismo, eliminação da autonomia das
cidades e das regiões aduaneiras.
O absolutismo monárquico não foi um processo homogêneo. Ele alternou de país para
país. Algumas regiões sequer, conseguiram completar a fase de centralização, como foi caso
da Alemanha, que só alcançou no século XIX. O absolutismo alcançou ampla estabilidade
em Portugal, Espanha, França e Inglaterra.
Geralmente, o poder absolutista tem sido analisado como um regime em que o rei detém
elevados poderes, se posicionando acima de tudo e de todos, ou seja, ele não necessita
prestar contas a ninguém. Entretanto, essa concepção é discutível, porque não podemos
entender como uma pessoa, independente de sua concepção política, possa governar um
país sem qualquer tipo de apoio. Geralmente, os governantes fazem alianças políticas, a
qual se torna essencial para garantir a governabilidade. Dessa maneira, esses acordos
obrigam os governantes a assumirem alguns compromissos com sua base de apoio,
limitando, assim, de alguma forma, os seus poderes. Portanto, o absolutismo se enquadra
em tal argumentação.
Para alguns historiadores, o Estado Absolutista pode ser considerado como tipicamente
burguês. Já para outros, ele pode ser representado por dois grupos sociais hegemônicos
(burguesia e nobreza) que geram o ―equilíbrio de classes‖.
A análise do Estado Moderno pressupõe a existência de uma discrepância entre a teoria
e a prática à época do absolutismo. Tal afirmação pode ser observada, uma vez que no
plano teórico o poder dos soberanos era incontestável, porém na prática existiam limitações
ao exercício da autoridade por parte dos monarcas. Essa limitação pode ser muito bem
constatada nos parlamentos formados por integrantes da aristocracia, na manutenção dos
privilégios dos nobres, tais como isenção de tributos, direito a tribunais especiais, monopólio
dos melhores cargos públicos.
Teóricos absolutistas
No decorrer dos séculos XVI e XVII, surgiram diversos pensadores que defenderam a
necessidade de um Estado fortemente centralizado e absoluto, ou seja, autoritário. Esses
intelectuais elaboraram teorias que foram fundamentais para a construção da imagem dos
governantes absolutistas. Visando justificar o poder dos reis, os pensadores absolutistas
elaboraram teorias filosóficas com o propósito de manipular as camadas sociais. O objetivo
principal era vender uma boa ―imagem‖ do monarca. Esses teóricos fizeram uma grande
reflexão sobre o Estado e Política com a finalidade de encontrar modelos ideais de Estado e
de poder.
Um dos primeiros pensadores a lançar pressupostos teóricos para justificar o poder
centralizado e duradouro foi o florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527). Sua teoria segue
princípios racionalistas, fazendo reflexão sobre o Estado e a política. Suas concepções
tornaram-se alicerces da ciência política contemporânea. Maquiavel é favorável ao
fortalecimento do poder do príncipe, ou seja, do Estado. Segundo ele, para instalação e
consolidação do Estado seria fundamental que o governante tivesse autonomia e que na sua
gestão não houvesse qualquer influência das instituições religiosas.
Influenciado pela descentralização política da Itália, em sua obra O Príncipe, ele afirma
que a maior função de um governante é garantir, a qualquer custo, o poder e a estabilidade
de um Estado. Nesse livro, ele rompe com as tradições cristão-medievais, lançando uma
nova concepção, a qual afirma que ética e política deve separar-se.
Retrato de Nicolau Maquiavel, pintado por Santi di Tito.
―Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou inverso? Respondo que seria
preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me mais seguro
ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas. Há uma coisa que se pode dizer, de
uma maneira geral, de todos os homens: que são ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos
do perigo, ávidos de ganhar. Enquanto lhes fazem bem, são teus, oferecem-te o seu sangue,
os seus bens, a sua vida e os seus filhos, como disse atrás, porque a necessidade é futura;
mas, quando se aproxima, furtam-se, e o príncipe que se baseou somente nas suas palavras
encontra-se despojado de outros preparativos está perdido. As amizades que se conquistam
com dinheiro, e não pelo coração nobre e altivo, fazem sentir os seus efeitos – mas são como
se não as tivéssemos, pois de nada nos servem quando delas precisamos. Os homens
hesitam menos em prejudicar um homem que se torna amado do que outro que se torna
temido, pois o amor mantém-se por um laço de obrigações que, em virtude de os homens
serem maus, se quebra quando surge ocasião de melhor proveito. Mas o medo mantém-se
por um temor do castigo que nunca nos abandona.Contudo, o príncipe deve fazer-se temer
de tal modo que, se não conseguir a amizade, possa pelo menos fugir à inimizade, visto
haver a possibilidade de ser temido e não odiado, ao mesmo tempo.‖
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Lisboa: Europa-América.p.88-90.
De acordo com Maquiavel, o príncipe para alcançar o poder e nele permanecer, deve
obedecer duas regras essenciais: estar isentos das influências pessoais e morais e não se
preocupar com os meios que serão usados para atingir tal finalidade. O importante é
alcançar o objetivo, pois ―os fins justificam os meios‖. Assim, o governante deve se guiar
por uma ética comprometida com os desejos do Estado, a qual se contrapunha à ética que
pautava os homens. Vale salientar, que seu pensamento não é favorável ao absolutismo,
entretanto, as ideias contidas na sua obra influenciaram diversos intelectuais da época, os
quais defendiam um Estado centralizado que concebesse plenos poderes ao rei.
Thomas Hobbes (1588-1679) é considerado por muitos como o principal teórico da
época, pois ele conseguiu articular e justificar de maneira lógica e coerente a teoria
absolutista. Em sua obra Leviatã, defende que o Estado absoluto simboliza a sobreposição
do ―estado de natureza‖.
Para Hobbes, os seres humanos, em seu estado natural, atendem apenas seus desejos
pessoais, não se preocupando com as necessidades coletivas e gerais, o que os conduzem
às constantes divergências. Segundo esse pensador, por causa do egoísmo inerente ao
homem, a sociedade humana apresenta uma tendência à desorganização e ao caos, pois os
seus membros, dotado de egoísmo, estão dispostos a tudo para satisfazer os seus
interesses. Nesse sentido, Hobbes afirma ―o homem era o lobo do homem‖, ou seja, a
disputa de todos contra todos. Para superar essa situação, a sociedade civil deve estabelecer
um contrato, o qual os homens devem ceder seus direitos a um governante, isto é, ao rei.
Dessa forma, o povo deveria legitimar o poder do soberano (caráter absoluto), pois, só
assim, ele estaria apto a resolver os conflitos sociais.
Outro pensador absolutista foi Jean Bodin (1530-1596). Em seu livro Seis Livros da
República. Nessa obra, ele inaugura a corrente que procura justificar o poder absolutista
através da concepção divina dos monarcas. Bodin defendia que o monarca estava acima da
legislação e dos cidadãos comuns, pois a soberania real derivava de Deus. Nessa perspectiva, o monarca não deveria dividir o poder com ninguém, e nenhuma pessoa também
deveria questioná-lo.
―O rei sábio deve governar harmonicamente o seu reino, entremeando suavemente os
nobres e os plebeus, os ricos e os pobres (...). Nada havendo de maior sobre a terra, depois
de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes
para governarem os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de
respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar
deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus de quem
ele é a imagem na terra.‖
BODIN, Jean. Seis Livros da República. In: CHEVALLIER, Jean-Jacques.
As grandes Obras Políticas de Maquiavel a Nossos dias. 3 ed. Rio de Janeiro: agir, 1976. p.60-61.
Outro pensador que defendeu a centralização do poder foi o holandês Hugo Grotius.
Segundo ele, apenas a autoridade ilimitada do monarca seria capaz de garantir a ordem
social de um país. Grotius se preocupou bastante com a situação da política internacional.
Devido a isso, é considerado como um dos fundadores do Direito Internacional.
Já o bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704) é também considerado um
dos renomados teóricos do poder absoluto dos reis. Escreveu Política Tirada da Sagrada
Escritura, publicada postumamente. Essa obra foi escrita para justificar o poder do rei Luís
XIV (França). Nesse livro, Bossuet defende que há uma aproximação entre o poder real e o
poder divino. Segundo ele, essa proximidade faria com que as ações do rei fossem infalíveis,
devido à inspiração de Deus. Portanto, esse pensador afirma que a autoridade do monarca
tinha consonância divina, assim, o poder real se fundamenta no direito divino. Bossuet
concebe os reis como expressão mais sublime da autoridade cedida por Deus.
―O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. (...) Três razões
fazem ver que este governo (o da monarquia hereditária) é o melhor. A primeira é que é o
mais natural e se perpetua por si próprio (...). A segunda razão (...) é que esse governo é o
que interessa mais na conservação do Estado e dos poderes que o constituem: o príncipe,
que trabalha para o seu Estado, trabalha para seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino,
confundindo com o que tem pela sua família, torna-se natural (...). A terceira razão tira-se da
dignidade das casas reais (...). A inveja, que se tem naturalmente daqueles que estão acima
de nós, torna-se aqui em amor e repugnância a uma família que sempre viram como superior
e à qual se não conhece outra que a possa igualar (...) O trono real não é o trono do homem,
mas o trono do próprio Deus (...). Os reis (...) são deuses e participam de alguma maneira da
independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê
melhor, e deve obedecer-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a
sedição.‖
BOSSUET, Jacques-Bénigne. Política tirada da Sagrada Escritura. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de
História. Lisboa: Plátano Editorial, s.d. v. 2. p. 201.
Monarquias portuguesa e espanhola
Os árabes permaneceram do século VIII até o XV na Península Ibérica. Até, por volta do
século XI, os mouros e os católicos conviviam em alternados períodos de paz e conflitos. No
entanto, após as cruzadas foi desencadeada uma intensa luta com o propósito de expulsar
os islâmicos. Essas lutas ficaram conhecidas como Guerra de Reconquista. À medida que
as áreas eram retomadas, em Portugal passavam a ser chamadas de condes. Já na
Espanha, recebiam o nome de reinos.
Portugal surgiu a partir de uma faixa de terra conquistada pelos cristãos sob o comando
do monarca Afonso VI de Leão, que repassou o seu controle para o francês Henrique de
Borgonha, devido a sua dedicação no combate aos árabes.
Essa área recebeu o nome de Condado Portucalense. Em 1139, essas terras são
repassadas para o filho de Henrique de Borgonha, Afonso Henrique. Com apoio de um grupo
de políticos, ele consegue a emancipação do condado, dando origem a Portugal.
Semelhante ao processo de unificação portuguesa, o Estado espanhol se forma, a partir
da expulsão dos islâmicos de sua região. As áreas conquistadas foram os reinos de Leão e
Castela, Navarra e Aragão. Com o passar dos anos, alguns deles foram anexados por
intermédio de lutas ou por vínculos matrimoniais. Foi o que ocorreu com a união entre os
reis católicos Fernando e Isabel. Após esse casamento houve a junção entre os reinos de
Leão e Castela e o reino de Aragão, dando origem a atual Espanha. Influenciados por um
forte sentimento religioso, Fernando e Isabel tiveram uma participação decisiva na expulsão
dos árabes da Península Ibérica, em 1492.
No século XVI, a Espanha se apresenta no cenário internacional como uma grande
potência, devido a sua recente centralização política. O monarca Carlos I de Habsburgo foi o
responsável pela consolidação do absolutismo na Espanha. No ano de 1519, se tornou
imperador do Sacro Império Romano-Germânico, passando a ser chamado de Carlos V. Em
1556, ele dividiu o reino com seus irmãos Fernando (territórios da Áustria e Alemanha) e
Filipe II (Espanha, colônias espanholas, regiões da Itália e Países Baixos).
No governo, Filipe II buscou fortalecer o seu poder a nível externo (colônias) e interno.
Em 1580, há união das coroas espanhola e portuguesa e Filipe II se torna rei dos dois
países.
Em 1588, após organizar a Invencível Armada (frota naval), a Espanha enfrenta o
exército inglês. No entanto, as pretensões expansionistas espanholas foram paralisadas,
pois a marinha inglesa conseguiu derrotar a até, então, frota invencível da Espanha. A
derrota ocorreu no canal da Mancha.
As perdas na Europa, adicionadas à crise na extração de metais preciosos nas colônias e
a insuficiência administrativa espanhola em modernizar sua estrutura econômica,
contribuíram para que a principal potência do século XVI entrasse em declínio.
Monarquia inglesa
Antes da unificação o território britânico era formado por quatro reinos. A centralização
das Ilhas Britânicas ocorreu no século XII sob a liderança do rei Henrique II. O sucessor dele
foi Ricardo Coração de Leão, que dedicou boa parte do seu governo a luta nas cruzadas ou
combatendo os franceses.
A falta do rei e os elevados custos militares provocaram insatisfação entre os nobres, os
quais conseguiram, em 1215, assinar a Carta Magna. Esse instrumento jurídico limita o
poder dos reis. Até hoje o regime de governo na Inglaterra é a monarquia constitucional,
cuja origem, portanto, se relaciona com a Magna Carta.
Segundo alguns historiadores, a monarquia inglesa consiste num caso especial, devido a
maneira pela qual o poder político se estruturou no país após a assinatura da Magna Carta
pelo rei João Sem Terra.
A Magna Carta constituía um estatuto político basicamente feudal. Ela não tinha a
pretensão de garantir liberdades e garantias individuais às pessoas comuns. O seu objetivo
maior era estabelecer os limites do poder real, através da fixação dos direitos e deveres dos
súditos e da monarquia. Com a criação do Parlamento inglês, no século XIII, há uma
ampliação do alcance da Magna Carta. Nesse momento, há uma determinação da lei onde o
monarca deveria respeitar o Parlamento e este não poderia ser de modo algum destituído.
O Parlamento inglês era constituído pela Câmara dos Lordes (nobres e eclesiásticos) e
Câmara dos Comuns (baixa nobreza, Gentry). Portanto, o Parlamento era bicameral. É
bom destacar que os membros do clero eram escolhidos pelo rei, enquanto que os
elementos da baixa nobreza eram eleitos através do voto censitário (votos vinculados às
posses). Os dois órgãos parlamentar passaram a controlar a arrecadação de tributos estatal
além do exercício das atividades legislativas.
A centralização do poder real na Inglaterra teve sua consolidação no século XVI, com a
ascensão da Dinastia Tudor, após a Guerra das Duas Rosas (1455-1485). Esse conflito foi
provocado pela disputa do trono inglês entre as tradicionais famílias York e Lancaster. Essa
guerra envolveu boa parte da nobreza, a qual saiu bastante debilitada após o seu término. A
chegada de Henrique VII ao poder representou a pacificação entre os York e Lancaster.
Entretanto, o Estado Absolutista inglês se forma com Henrique VIII (1509-1547). Ele
submeteu o Parlamento e homologou o Ato de Supremacia que tornava o anglicanismo em
religião oficial da Inglaterra. Após um breve intervalo de atritos religiosos, no governo de
Maria I (1553-1558), o catolicismo foi restaurado. Porém, com a chegada de Elizabeth I
(1558-1603) ao poder, o anglicanismo voltou a ser a religião oficial do reino. Com essa
rainha a economia inglesa alcança estabilidade, pois ela adotou uma arrojada política
mercantilista e construiu uma poderosa frota marinha. Sem deixar herdeiros, a rainha
Elizabeth foi sucedida por Jaime I (1603-1625), dando início a Dinastia Stuart.
Monarquia francesa
A Guerra de Cem Anos foi essencial para a constituição da monarquia na França. Esse
evento gerou um sentimento de nacionalidade, unificou o exército e fragilizou a nobreza. Por
outro lado, esse longo conflito tardou o processo de centralização, já em andamento desde o
século XIII.
Com o término da guerra, o rei Carlos VII aprovou algumas medidas, tais como uma
reforma financeira e o controle sobre o exército, as quais fortaleceram a monarquia.
Entretanto, no século XV, quando Luis XI chega ao poder, inicia-se uma oposição entre a
nobreza e o rei. Porém, o rei Luís consegue reprimir os nobres na região de Borgonha. A
derrota dos nobres simboliza a unificação, legitimação e fortalecimento da monarquia da
França.
No século XVI, num cenário marcado por disputas religiosas, foi reiniciado na França o
processo de centralização por intermédio da Dinastia Valois. No governo de Carlos IX
(1560-1574), foram intensificados os conflitos envolvendo os burgueses calvinistas (os
huguenotes) e os nobres católicos. O ápice dessas divergências ocorreu na noite de São
Bartolomeu, em 1572, quando milhares de protestantes foram cruelmente massacrados
em Paris.
No reinado do calvinista Henrique IV, houve a promulgação do Edito de Nantes que
liberava o culto aos protestantes. Dessa forma, o país alcançou um relativo pacifismo, pois
foi retomada a aliança entre o rei e a burguesia. O seu sucessor, Luís XIII, procurou tornar a
França uma poderosa potência européia através do seu ministro o cardeal Richelieu. Os
franceses enfrentaram a Dinastia Habsburgo (Espanha e Áustria) na Guerra dos Trinta
Anos (1618-1648). A vitória da França criou condições necessárias para a consolidação do
absolutismo no país.
Luís XIV (1643-1715) simbolizou o apogeu do absolutismo francês. No governo, ele
concentrou plenos poderes em suas mãos, dando significado literário a sua famosa frase ―O
Estado sou eu‖. Através do seu ministro, Colbert, foram lançados os fundamentos do
mercantilismo francês. Esse período foi caracterizado pelo incentivo à navegação marítima e
à conquista de colônias e ampliação das manufaturas. Essas práticas econômicas
estimularam os burgueses.
Pretendo exibir a grandiosidade do seu reino, o rei Luís XIV construiu o Palácio de
Versalhes. Para esse local, se transferiram milhares de nobres que passaram a adquirir
amplos privilégios. Os sucessores desse governo, Luís XV e Luís XVI, enfrentaram várias
instabilidades econômicas, políticas e sociais que comprometeram a manutenção do regime
na França.
Imagem de Luís XIV, o Rei Sol, pintado por Hyacinthe Rigaud,
em 1701.
―É somente na minha pessoa que reside o poder soberano. É somente de mim que os meus
tribunais recebem sua existência e a sua autoridade; a plenitude desta autoridade, que eles
não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso nunca pode ser
contra mim voltado; é unicamente a mim que pertence o poder legislativo, sem dependência
e sem partilha; é somente por minha autoridade que os funcionários dos meus tribunais
procedem, não à formação, mas ao registro, à publicação, à execução da lei, e que lhes é
permitido advertir-me o que é o dever de todos os úteis conselheiros; toda ordem pública
emana de mim, e os direitos e interesses da nação, de que se pretende ousar fazer um corpo
separado do Monarca, estão necessáriamente unidos com os meus e repousam inteiramente
nas minhas mãos.‖
Luís XIV, citado por Marques, Berutti e Faria. História moderna através dos textos.
Cultura na época do absolutismo
Na final do século XVI e início do XVII, a Europa passava por uma crise econômica e
social. Essa instabilidade foi provocada, entre outros fatores, pela reforma católica, a qual
influenciou a cultura barroca. A época do barroco (XVI/XVII) expressa as agitações
econômicas, religiosas e sociais. A produção cultural barroca não contemplou apenas a
nobreza, mas também alcançou o público em geral. A arte barroca buscava o sobrenatural e
o maravilhoso. O surgimento do barroco ocorreu na Itália. Porém, a arte barroco floresceu
em demais regiões da Europa. O pintor Caravaggio (1573-1610) foi um dos expressivos
artistas da época. Ele empregou em suas obras o contraste dramático de luz e sombra,
característica que se tornou referência no Barroco na Europa.
Na Espanha a cultura barroca foi caracterizada pelo nacionalismo, realismo e fé religiosa.
Nesse país se destacou Velásquez (1599-1666). Já na França, no governo de Luís XIV, o
barroco ganhou muita consistência. Os artistas barroco se transformaram em funcionários
públicos. As principais figuras do barroco francês foram Racine (teatro e história), Molière
(teatro), Lê Brun (artes plásticas).
Nos Países Baixos, os destaques da arte barroca foram Rubens (1577-1640) que pintou
vários quadros visando exaltar a religiosidade católica; Gianlorenzo Bernini (1598-1680)
foi pintor, escultor e arquiteto; Frans Hals procurou em suas obras retratar o cotidiano da
burguesia holandesa.
A difusão da música barroca foi mais intensa do que a renascentista. A produção musical
barroca é marcada por muita alegria e espiritualidade. Os mais importantes compositores
dessa fase foram Antônio Vivaldi (1676-1714) e o alemão Johan Sebastian Bach (16851750). A mais famosa obra de Vivaldi foi de As quatro estações. Já Bach, considerado como
um dos mais brilhantes compositores de todas as épocas, compôs mais de 200 cantatas,
entre elas Paixão segundo Mateus. Além disso, criou peças orquestrais, como os Concertos
de Brandenburgo.
TEXTO COMPLEMENTAR
Conselho de Maquiavel: “melhor ser temido que amado”
―Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou o inverso? Respondo
que seria preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, pareceme muito mais seguro ser temido que amado, se só se puder escolher uma delas. Há
uma coisa que se pode dizer, de uma maneira geral, de todos os homens: que são
ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos do perigo, ávidos de ganhar: Enquanto lhes
faz bem, são teus, oferecem-te o seu sangue, os seus bens, a sua vida e os seus filhos
(...) porque a necessidade é futura; mas, quando ela se aproxima, furtam-se, e o
príncipe que se baseou somente nas suas palavras encontra-se despojado de outros
preparativos, esta perdido. As amizades que se conquistam com dinheiro, e não pelo
coração nobre e altivo, fazem sentir os seus efeitos – mas são como se não os
tivéssemos, pois de nada nos servem quando delas precisamos. Os homens hesitam
menos em prejudicar um homem que se torna amado do que outro que se torna temido,
pois o amor mantém-se por um laço de obrigações que, em virtude de os homens serem
maus, quebra-se quando surge a ocasião de melhor proveito.
Mas o medo mantém-se por temor de um castigo que nunca nos abandona. Contudo,
o príncipe deve fazer-se temer de tal modo que, se não conseguir amizade, possa pelo
menos fugir das inimizades, visto haver a possibilidade de ser temido e não ser odiado,
ao mesmo tempo. Isto sucederá, sempre, se ele se abstiver de se apoderar dos bens e
riquezas dos seus cidadãos e súditos e também das suas mulheres. E quando for
obrigado a proceder contra o sangue de alguém, não deve agir sem justificação
conveniente nem causa manifesta. Acima de tudo, convém que se abstenha de tocar nos
bens de outras pessoas, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do
que a perda do seu patrimônio.
Maquiavel, Nicolau. O príncipe.
Analisando o Texto
A teoria de Maquiavel segue os princípios racionalistas, fazendo reflexão sobre o Estado e
a política. Suas concepções tornaram-se alicerces da ciência política contemporânea. Nesse
sentido, quais as principais ideias contidas no texto acima que expressam os princípios
maquiavélicos? Por quê? Justifique.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Descreva os principais elementos que contribuíram para a formação das monarquias
nacionais em Portugal, na Espanha, na França e na Inglaterra.
2. Analise a relação de interesses estabelecidas entre o rei e a burguesia na montagem do
Estado Moderno.
3. Em sua opinião, as ideias de Maquiavel podem ser aplicadas na vida política do mundo
atual? Por quê? Justifique.
4. Explique a expressão ―O homem é o lobo do homem‖ do teórico absolutista Thomas
Hobbes.
5. Escreva um pequeno texto abordando sobre o barroco europeu e suas relações com o
absolutismo monárquico.
6. Leia, abaixo, o bilhete escrito pelo monarca absolutista Luís XIV aos Representantes de
Paris:
―É somente na minha pessoa que reside o poder soberano. É somente de mim que os
meus tribunais recebem sua existência e a sua autoridade; a plenitude desta autoridade,
que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso
nunca pode ser contra mim voltado; é unicamente a mim que pertence o poder
legislativo, sem dependência e sem partilha (...)‖
Luís XIV, citado por Marques, Berutti e Faria. História. História moderna através dos textos.
Após a leitura, aponte as principais ideias deixadas bem claras por Luís XIV? Elas
definem as características de um regime absolutista? Por quê? Justifique.
7. (Unicamp-SP) Sobre o governo dos príncipes, Nicolau Maquiavel, um pensador italiano
do século XVI, afirmou: ―O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e
religioso, bastando que aparente possuir tais qualidades. (...) Um príncipe não pode
observar todas as coisas a que são obrigados os homens considerados bons, sendo
frequentemente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a
humanidade, a religião (...). O príncipe não deve se desviar do bem, se possível, mas
deve estar pronto a fazer o mal, se necessário‖.
(Adaptado de MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe.(Os Pensadores). São Paulo,
Nova Cultural, 1996. p. 102-103.)
A partir do texto, responda:
a) Qual o maior dever do príncipe?
b) Como o príncipe deveria governar para ter êxito?
c) De que maneira as ideias de Maquiavel se opunham à moral cristã medieval?
8. (UFSCar) Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, refletindo sobre as razões do sucesso
ou do fracasso político dos governantes, escreveu:
―(...) restringindo-se aos casos particulares, digo que se vê hoje o sucesso de um
príncipe e amanhã a sua ruína, sem ter havido mudança na sua natureza, nem em
algumas de suas qualidades. Creio que a razão disso (...) é que, quando um príncipe se
apoia totalmente na fortuna, arruína-se segundo as variações daquela. Também julgo
feliz aquele que combina o seu modo de proceder com as particularidades dos tempos, e
infeliz o que faz discordar dos tempos a sua maneira de proceder.‖
O Príncipe. Trad. De Lívio Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 10.
a) Em que período histórico-cultural Maquiavel viveu e, portanto escreveu suas obras?
b) Defina a noção maquiavélica de Fortuna e explicite como o autor entende os motivos
do fracasso ou do sucesso dos governantes.
9. (Unicamp) ―Todo o poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem como ministros de
Deus e seus representantes na Terra. Consequentemente, o trono real não é o trono de
um homem, mas o trono do próprio Deus.‖
Bossuet, Jacques. Política tirada das palavras da Sagrada Escritura, 1709.
―(...) que seja prefixado à Constituição uma declaração de que todo o poder é originalmente concedido ao povo e, consequentemente, emanou do povo.‖
Emenda Constitucional proposta por Madison em 8 de junho de 1789.
a) Explique a concepção de Estado em cada um dos textos.
b) Qual a relação entre o indivíduo e Estado em cada um dos textos?
10.(FUVEST) A partir da Idade Moderna observa-se, em países da Europa ocidental, um
progressivo fortalecimento das monarquias nacionais. Descreva as principais características políticas e econômicas desse processo entre os séculos XVI e XVII.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UEAP) ―A organização dos Estados Nacionais, entre os séculos XV e XVIII, foi
desencadeada por diversos acontecimentos importantes, que fizeram parte do contexto
histórico europeu na transição do sistema feudal para uma sociedade de ordem
burguesa‖.
(MOTA, Mirian B.; BRAICK, Patrícia R. História: das cavernas ao Terceiro Milênio.
São Paulo: Moderna, 2002, p.122).
Leia as assertivas a seguir e, com base no texto e em seus conhecimentos sobre o
contexto histórico que tornou possível a constituição dos Estados Nacionais, marque a
alternativa correta.
I. No final da Idade Média os reis procuram concentrar o poder político em suas mãos,
processo esse que se desenrolou de forma tranqüila, pois foram pontuais os embates
e guerras entre os senhores feudais e os reis.
II. Com a expansão comercial e urbana a partir do século XI, surge um novo grupo
social, a burguesia, que, devido a interesses opostos aos da nobreza, apóia
financeiramente os reis no processo de centralização do poder.
III. O renascimento comercial e urbano e a crise do feudalismo fortaleceram a
centralização do poder nas mãos dos reis, fazendo com que, aos poucos, a
organização política feudal cedesse lugar às monarquias nacionais.
IV. No processo de centralização do poder, os reis se utilizaram de milícias urbanas, sem,
no entanto, chegarem a criar exércitos nacionais permanentes.
a)
b)
c)
d)
e)
Apenas
Apenas
Apenas
Apenas
Apenas
I e II estão corretas.
I e III estão corretas.
II e III estão corretas.
II e IV estão corretas.
III e IV estão corretas.
2. (UFG) Leia o texto a seguir.
As monarquias absolutas introduziram os exércitos regulares, uma burocracia
permanente, o sistema tributário nacional, a codificação do direito e os primórdios de
um comércio unificado. Todas essas características parecem ser eminentemente
capitalistas. ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 17.
Neste sentido, as monarquias absolutistas refletem
a) o equilíbrio crescente de forças entre nobreza e burguesia.
b) a ampliação do poder da nobreza, temerosa em relação à burguesia.
c) o enfraquecimento da figura do rei e, consequentemente, da nobreza.
d) a necessidade de reformas políticas, tendo em vista as pressões sociais.
e) a vulnerabilidade dos grupos burgueses no decorrer da modernidade.
3. (UFPB) O absolutismo foi o regime político genuíno dos tempos modernos. Entre os
seus teóricos, destaca-se Thomas Hobbes, autor de ―O Leviatã‖. A sua concepção de
poder pode ser assim resumida:
a) Todas as atividades destinadas ao benefício do Estado são legítimas, uma vez que os
fins justificam os meios.
b) A política e a moral não se separam, pois o bem do Estado está ligado ao bem do
indivíduo.
c) O melhor Estado é o democrático, entendido como um contrato entre o soberano e
seus súditos.
d) A monarquia hereditária é o melhor governo, pois tem origem divina, é mais natural
e se perpetua por si mesma.
e) O poder do Estado soberano é ilimitado, onde a lei, a propriedade e as doutrinas
devem ser rigidamente por ele controladas.
4. (COVEST) Muitos pensadores renascentistas formularam princípios que combatiam o
autoritarismo político e viam a possibilidade de se construir uma sociedade mais justa e
tolerante. Outros, como Maquiavel, inspiraram o absolutismo. Este pensador:
a) destacava que o conflito de interesses marca a sociedade humana, defendendo,
assim, a centralização política.
b) apesar do seu pessimismo, defendia princípios democráticos e a ética na política.
c) tinha idéias parecidas com as de Erasmo, autor do Elogio da Loucura.
d) estabeleceu uma forte relação com o pensamento político de Aristóteles.
e) firmou-se como um dos principais pensadores utopistas da época renascentista.
5. (COVEST) As teorias de Maquiavel e Hobbes foram fundamentais para o estabelecimento do absolutismo, a consolidação do Estado Moderno e para mudanças nas
relações políticas da Europa. Entre as idéias básicas de Hobbes, podemos destacar:
a) a necessidade de educar o ser humano, para que ele retomasse sua boa relação com
a natureza e transformasse a vida social da sua época.
b) a crença na capacidade de se estabelecer relações harmoniosas entre os povos,
desenvolvendo-se o comércio e os negócios públicos.
c) a crítica feita ao Cristianismo e sua insistência em derrotar o poderio da Igreja e das
religiões, que, segundo ele, eram as únicas responsáveis pela hipocrisia social.
d) a preocupação com a centralização do poder político, fundamental para a posterior
consolidação do Estado Moderno.
e) a preocupação com a política, que não impediu a produção de obras literárias
importantes para sua época dentro de uma perspectiva artística.
6. (UPE) Os principais aparelhos do Estado Nacional, na sua fase de formação e
consolidação, foram a(o):
a) patrística e a teocracia.
b) feudalismo e a suserania.
c) universalismo do papado e a ética paternalista.
d) Lei de Talião e a escatologia.
e) burocracia e o exército.
7. (UNIFAL) ―Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes
soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os
outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e
reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com
toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano, despreza a Deus, de Quem ele
é a imagem na terra." (BODIN, Jean. "A República". IN: CHEVALIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de
Maquiavel aos nossos dias. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1966. p. 58.)
Com base nos conhecimentos sobre o absolutismo e a partir do texto de Jean Bodin, é
correto afirmar:
a) O monarca absolutista tinha plenos poderes e as ações não eram limitadas por
qualquer espécie de lei e sua forma de governo era considerada despótica.
b) Ao chefe de estado era proibido fazer leis com validade em todo o país, decretar a
guerra e a paz, criar cargos públicos, condenar ou perdoar os réus, cunhar moedas,
estabelecer ou suspender impostos.
c) Para os teóricos do absolutismo, o governo monárquico era a forma mais eficaz de
soberania, pois dispunha da unidade régia e de autoridade divina.
d) Segundo a teoria do direito divino, a Igreja Católica estaria destituída de qualquer
prerrogativa na administração dos sacramentos, que passam a ser incumbência do
príncipe soberano.
e) De acordo com a teoria do direito divino, o governante deve assumir uma postura
aberta ao diálogo e argumentações das camadas sociais mais necessitadas.
8. (CETAP) Diversos pensadores desenvolveram filosofias que justificavam o poder
absoluto dos reis. Dentre eles, temos Jacques Bossuet, teórico francês que afirmava
que:
a) o ―homem é o lobo do homem‖, a sociedade civil precisa se organizar politicamente
em torno de um rei para sair do estado de natureza, que para ele é o caos, desordem
e convulsão social.
b) o rei é de importância vital para a sociedade, pois só um governo forte e capacitado é
capaz de instituir limites necessários a uma boa convivência social.
c) sem rei haveria uma ―guerra de todos contra todos‖, por isso a importância da
existência do rei na sociedade, pois somente ele, com poderes absolutos, é capaz de
colocar limites nas ações desordenadas do povo.
d) todo poder emana de Deus e os reis são seus representantes na terra, sendo assim,
o trono real é o trono de Deus, não podendo seus atos serem questionados pelos
homens.
e) um rei deveria ser virtuoso, pois ele era o representante divino, mas ao mesmo
tempo ousado para tomar decisões políticas, dentre elas, a guerra, que deveria se
constituir em um bem para seu povo.
9. (VUNESP) O fim último, causa final e desígnio dos homens (...), ao introduzir aquela
restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua
própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela
mísera condição de guerra que é a consequência necessária (...) das paixões naturais
dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçandoos, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos (...).
(Thomas Hobbes. Leviatã, 1651. In: Os pensadores, 1983.)
De acordo com o texto,
a) os homens são bons por natureza, mas a sociedade instiga a disputa e a competição
entre eles.
b) as sociedades dependem de pactos internos de funcionamento que diferenciem os
homens bons dos maus.
c) os castigos permitem que as pessoas aprendam valores religiosos, necessários para
sua convivência.
d) as guerras são consequências dos interesses dos Estados, preocupados em expandir
seus domínios territoriais.
e) os Estados controlam os homens, permitindo sua sobrevivência e o convívio social
entre eles.
10.(UFPI) Relativamente à história do absolutismo monárquico na Europa, analise os itens
a seguir:
I. O Estado nacional absolutista desenvolveu a formação e consolidação de uma
burocracia estatal, de um exército nacional, bem como (para a elaboração e
execução de políticas econômicas que viabilizassem o acúmulo de riquezas – o
mercantilismo) estratégias de ação fundamentais para sua implementação
bemsucedida.
II. Uma das estratégias de ação dos monarcas franceses, para consolidar a figura do Rei
como governante absoluto, foi fortalecer a participação dos Nobres nas decisões
políticas.
III. O rompimento entre Henrique VIII e a Igreja Católica e a conseqüente fundação da
Igreja Anglicana foram fundamentais para consolidar o absolutismo na Inglaterra. Em
um só movimento, ele afastou a interferência do Papa nos assuntos internos da
Inglaterra, apossou-se dos bens pertencentes à Igreja em seus domínios e passou a
ter rígido controle sobre a hierarquia eclesiástica da nova Igreja.
IV. Nicolau Maquiavel, no livro O Príncipe, defende a legitimidade de um Estado
absolutista. O principal argumento do pensador italiano está fundamentado no
princípio divino dos reis, ou seja, a autoridade dos reis era sagrada, de modo que se
rebelar contra o Rei era rebelar-se contra Deus.
Assinale a opção correta:
a) São verdadeiros os itens I, II, III e IV.
b) São verdadeiros os itens I e II.
c) São verdadeiros os itens I e III.
d) São verdadeiros os itens I, III e IV.
e) São verdadeiros os itens I, II e III.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
As Grandes Obras Políticas de Maquiavel a Nossos Dias. CHEVALLIER, Jean-Jacques.
3. ed. Rio de Janeiro: Agir.
O Antigo Regime e a Revolução. TOCQUEVILLE, Aléxis de. 2. ed. Brasília: Editora
Universidade de Brasília.
Cinema
Elizabeth
Músicas
Missas, oratórias e concertos de Johann Sebastian Bach (1685-1750): Seis concertos de
Brandenburgo e o oratório Paixão de São Mateus.
Handel (1685-1759), autor do clássico Messias.
Sonatas e missas feitas para cravo de Domenico Scarlatti (1685-1757)
A expansão marítima europeia
e as práticas mercantilistas
As grandes navegações constituem um período marcado por grandes e surpreendentes
aventuras, pois os europeus viajaram por locais até, então, jamais explorados. O imaginário
e o medo do desconhecido foram marcas singulares dessas expedições. Desse modo, os
tripulantes tinham que ter preparação técnica, espírito aventureiro e ousadia para enfrentar
as várias lendas que, na época, falavam da existência de monstros marinhos e serpentes
gigantescas. Essas fantasias que se relacionaram com a expansão ultramarina eram ainda
influências do universo medieval que cercava o homem moderno. Mesmo possuindo
coragem e ousadia, os navegantes temiam o incerto. Assim, o mito e a razão estavam
presentes nas conquistas marítimas.
Entretanto, o domínio de vários conhecimentos científicos (astronomia e cartografia)
contribuiu para que os navegadores conseguissem superar as dificuldades, possibilitando,
assim, suas diversas conquistas. A partir do século XV, as inovações técnicas possibilitaram
a realização das grandes viagens marítimas. O avanço da cartografia, a invenção das
caravelas, o aperfeiçoamento da bússola, do quadrante e do astrolábio foram essenciais
para as realizações das perigosas expedições ultramarinas.
―O momento das descobertas foi também o momento das rupturas. Ao lado das invenções
técnicas, que permitiam as aventuras dos navegantes, transformações nas estruturas
materiais e mentais deram início ao que a filosofia e a história chamam de ―libertação do
indivíduo‖, tirando-o do anonimato medieval: ―divinização do homem e humanização de
Deus‖. Com o nascimento da ideia de indivíduo, surge um novo homem que se pretende
autônomo. É essa autonomia que permite a construção, por meio da experiência, de uma
nova ordem econômica e política que se contrapõe, no plano das ideias, ao caráter ideológico
dominante. Vemos, na circunavegação, a criação do grande processo de circulação:
surgimento do espírito capitalista, com a circulação da mercadoria e da moeda; ao mesmo
tempo que o gosto do risco nas navegações se afirma, aparece o primeiro esforço para
organizá-la racionalmente através de contrapontos de seguro, fundação das bolsas e dos
grandes banco.‖
NOVAES, Adauto. Experiência e destino. (org.). A descoberta do homem e do mundo.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 10-1.
Para compreender melhor as navegações europeias, torna-se fundamental analisá-la
levando em consideração às influências do Renascimento (senso crítico e racionalismo), os
interesses econômicos e a consolidação dos Estados Nacionais. Sob a perspectiva econômica, havia a necessidade de encontrar locais que pudessem fornecer mercadorias e metais
preciosos, gerando, assim, condições favoráveis ao acúmulo de capitais entre os burgueses
que eram as grandes patrocinadoras das expedições marítimas. Além disso, as monarquias
desempenharam um papel fundamental no apoio e financiamento das viagens além mar.
O sentido da expansão ultramarina para a modernidade
A expansão marítima deve ser inserida no contexto das diversas transformações
ocorridas na Europa Ocidental entre os séculos XV e XVI. As viagens marítimas ampliaram e
provocaram a formação de novos horizontes nas mentalidades dos europeus. As grandes
navegações assinalaram a europeização de boa parte do planeta, especialmente, do ―Novo
Mundo‖, ou seja, a América.
Segundo alguns historiadores, a Expansão Marítima provocou uma verdadeira ―revolução
comercial‖. A partir de então, o Mar Mediterrâneo, que desde a antiguidade era o principal
eixo econômico europeu, cedeu espaço para uma nova rota, a saber, o Oceano Atlântico.
Através dessa realização, verifica-se uma internacionalização dos mercados ou até mesmo a
fase inicial da globalização. A partir desse processo histórico, o comércio adquiriu um caráter
dinâmico e diversificado, envolvendo vários continentes: Europa, África, Ásia e América.
Com a incorporação das novas rotas, as cidades italianas perderam o monopólio das
especiarias. Os metais preciosos extraídos do continente americano foram rapidamente
importados para a Europa, o que provocou uma elevação considerável nos preços no século
XVI. No decorrer do século XVI, graças a exploração sistemática dos recursos minerais do
eixo México-Peru-Potosí, houve um forte afluxo de metais preciosos na Europa.
―(...) É evidente que o ingresso no século XVI marca o início da expansão europeia pelo
mundo afora. Os ―descobrimentos‖ dos portugueses e dos espanhóis, seja qual for o
significado que se dê a esse termo, projetam a Europa para fora de seu quadro continental e
revolucionam os conhecimentos que os sábios europeus acreditavam ter sobre o globo desde
a Antiguidade. Mas centrar-se na expansão ibérica é, mais uma vez, reproduzir uma história
carregada de eurocentrismo, no sentido em que a história dos outros continentes só existiria
em relação à que é construída pelos povos da Europa. Nessa toada, o México ou o Brasil só
emergiriam à tona da História quando descobertos e conquistados pelos europeus.
Se essa passagem de século tem hoje um sentido para nós, um sentido que talvez não
tinha nos séculos anteriores, é porque vemos que aí é que surgem as primícias da
globalização. E essa globalização é mais que um processo de expansão de origem ibérica,
mesmo se o papel da península foi dominante. A globalização que se esboça entre o fim do
século XV e o início do século XVI corresponde a um fenômeno global de ―desencravamento‖
(...) Inconscientemente, Colombo, realiza, assim, o ―desencravamento‖ de uma América
isolada do resto do mundo a milênios, ao passo que Vasco da Gama faz da áfrica o elo que
une Portugal à Ásia."
GRUZINSKI, Serge. A Passagem do Século: 1480-1520 – as origens da globalização.
São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.96-98.
Os principais desdobramentos do expansionismo europeu foram a montagem do sistema
colonial nas Américas que possibilitou a acumulação primitiva de capitais na Europa, o que
acelerou ainda mais a passagem do feudalismo para o capitalismo. Além dessas ressonâncias econômicas, é importante destacar que a as grandes navegações contribuiu decisivamente para o fortalecimento do Estado Moderno, além de intensificar o tráfico negreiro da
África para a América e o extermínio de diversos povos, culturas e etnias do continente
americano.
A visão do paraíso
As viagens marítimas europeias enfrentaram uma série de dificuldades. Os principais
problemas, inicialmente vivenciados, foram as precárias embarcações, a escassez de
eficientes instrumentos náuticos para a navegação em mar aberto e o desconhecimento de
oceanos e continentes, tais como a América. Até o século XV, o mundo europeu tinha como
centro o Mar Mediterrâneo, o qual era utilizado como percurso para buscar especiarias no
oriente.
Nem mesmo o desenvolvimento das técnicas na época (o aperfeiçoamento do uso da
bússola, do quadrante, do astrolábio e da cartografia) e a elaboração de instrumentos (a
luneta inventada por Galileu e o relógio mecânico) foram suficientes para garantir o sucesso
das viagens marítimas. Mesmo com todos esses avanços, as expedições marítimas eram
revestidas de dúvidas e incertezas. Na época, havia a crença de que a terra era uma
superfície plana em forma de disco. Assim, quem avançasse até seus extremos, poderia cair
num grande abismo. Além disso, diversas lendas de influências religiosas, contribuíram para
a construção do imaginário europeu em relação às terras, até então, desconhecidas. Nesse
sentido, criaram-se a ideia da existência do Jardim do Éden (o paraíso). Essa criação divina
estava perdida nas terras distantes e misteriosas. Ao chegar à América, em 1492, Cristóvão
Colombo havia acreditado que tinha achado o tal paraíso.
Entretanto, um dos mitos mais divulgados era a do Eldorado, uma região onde quase
tudo era feito de ouro. Ao conquistar os astecas e os maias, os espanhóis chegaram a
acreditar na descoberta do Eldorado devido a grande quantidade de ouro e prata nas regiões
habitadas por essas civilizações.
―(...) fizera-se fazer um belíssimo jardim, com todos os frutos e árvores que soubera
encontrar e, ao redor daqueles, diversos e vários palácios e casas, adornados com trabalhos
de ouro, pinturas, e equipados com tecidos de seda. Ali, por algumas canaletas que
desembocavam em diversas partes desses palácios, se via correr vinho, leite e mel e água
claríssima e ali se fizera morar donzelas graciosas e belas, que sabiam cantar e tocar
qualquer instrumento e dançar e, sobretudo, treinadas em fazer aos homens todas as carícias
e agrados que se possam imaginar.‖
POLO, Marco. Livro das maravilhas; Porto Alegre: L&PM, 1996.
As viagens marítimas foram fundamentais para a ampliação de novos conhecimentos. A
partir dessas expedições, os europeus acumularam diversos saberes e experiências,
modificando a concepção e entendimento de si mesmo e da realidade que o cercava.
As grandes navegações foram impulsionadas por uma série de fatores econômicos e
políticos. O desenvolvimento das atividades mercantis, no século XV, gerou a necessidade da
busca de novos mercados consumidores, além de matérias-primas e de metais preciosos
(ouro, prata). Essas carências foram ampliadas com o aumento dos preços das mercadorias,
uma vez que as repúblicas italianas, com destaque para Gênova e Veneza, (detentoras do
monopólio das especiarias no Mar Mediterrâneo) passaram a cobrar altos impostos sobre os
produtos vindos do oriente, tais como noz-moscada, pimenta-do-reino e seda. Outro fator
que temos que considerar foi a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, que
dificultou ainda mais a rota para o Oriente.
Nessa perspectiva, os europeus se sentiam cada vez mais necessitados de encontrar
novas rotas comerciais com a finalidade obter metais preciosos, romper o monopólio
comercial das cidades italianas e também dos árabes. Desse modo, Portugal e Espanha,
seguidos por Inglaterra, França e Holanda foram os primeiros países que se lançaram na
grande aventura marítima. O objetivo em comum desses países era redimensionar as
atividades e as rotas comerciais.
A montagem da Monarquia portuguesa
A formação do Estado Português está relacionada aos constantes combates contra os
árabes que ocuparam a Península Ibérica no século VIII. A Guerra de Reconquista, como
ficou conhecida a luta contra os mouros, contribuiu para a expansão do cristianismo e para a
centralização política portuguesa.
A monarquia portuguesa foi fundada, em 1139, por D. Afonso Henriques. Ele deu início a
dinastia de Borgonha, que permanece no poder até 1383. Nesse período, os portugueses
lutaram intensamente com a finalidade de consolidar sua emancipação política. A existência
da figura do rei foi essencial na organização e na coordenação geral nos enfrentamentos
contra os muçulmanos. Dessa maneira, a precoce centralização política e administrativa contribuiu para a consolidação do reino de Portugal e para o fortalecimento da
autoridade do monarca.
Vale salientar, que enquanto Portugal possuía um governo
centralizado, outras regiões da Europa apresentavam ainda estruturas políticas tipicamente
feudais.
Outro fator importante para o pioneirismo português foi a sua localização geográfica.
Sua posição facilitou o interesse pelas navegações, uma vez que os lucros obtidos com a
pesca, deu condições para que os portugueses pudessem se planejar e organizar futuramente viagens em busca de novas rotas. Essas condições contribuíram para os projetos
marítimos portugueses, pois boa parte das regiões europeia enfrentava muitas dificuldades,
tais como: a escassez de mão-de-obra, a baixa geral nos preços dos produtos, as insurreições camponesas, as revoltas urbanas, a fome, as epidemias e as constantes guerras.
Nesse cenário, algumas cidades do litoral de Portugal, especialmente Lisboa, passaram a
ponto de referência entre o sul e o norte da Europa. A partir desse momento, há a
consolidação de um grupo de comerciantes portugueses, os quais estão vinculados
com às atividades marítimo-comerciais e também visam acabar com a monopolização
italiana sobre o ―comércio das especiarias‖. Isso porque entre as ―fontes produtoras‖ dos
produtos orientais e os comerciantes de Portugal, havia quase 12 intermediários, sendo que
um deles reajustava o valor que se aproximava de 100%.
Nessa perspectiva, o fortalecimento dos comerciantes portugueses constitui um dos
fatores do pioneirismo português no processo da Expansão ultramarina.
A Revolução de Avis e a busca de novas rotas
A chegada ao poder do rei D. João I (1385-1433), ao trono português, deu início à
dinastia Avis. Nesse momento, entra em cena um grupo de ricos burgueses, em busca de
poder e riqueza. Devido aos altos lucros obtidos pelos bem-sucedidos investimentos nas
navegações e no comércio, a burguesia mercantil passou a apoiar financeiramente o
monarca na denominada Revolução de Avis (1383-1385). O objetivo desses mercadores
era garantir a permanência de seus lucros.
A centralização política portuguesa se completa com a Revolução de Avis. No entanto,
alguns historiadores discutem se esse movimento foi de fato um evento burguês. Porém, a
participação da classe mercantil nesse acontecimento foi significativa. Após esse episódio,
Portugal (ameaçado de ser anexado ao reino de Castela), consolidou-se como Estado
monárquico centralizado que contava com a participação da burguesia e também dos
fidalgos.
A Revolução de Avis também simbolizou a vitória da burguesia mercantil que ao formar a
parceria com o a monarquia tornou Portugal uma nação moderna e empreendedora. Além
disso, Portugal se lança a grande aventura marítima pelo Oceano Atlântico, livrando a
Europa da dependência do mar Mediterrâneo. Através das pioneiras viagens portuguesas, o
comércio europeu encontrara uma nova rota para chegar às fontes de metais preciosos e
mercadorias orientais. As Índias eram fornecedoras de produtos de grandes interesses para
os europeus, a saber, as especiarias. Dessa forma, o reino português se torna um dos
principais agentes da expansão marítima e comercial da Europa.
Em 1419, o filho de D. João I, o infante D. Henrique organiza, na cidade de Sagres, um
centro náutico, geográfico, astronômico e cartográfico, que passou a ser conhecida
equivocadamente como a Escola de Sagres. Na verdade, não existiu em Sagres um
complexo escolar, materialmente estruturado, o que houve ali foi o desenvolvimento e
aperfeiçoamento de técnicas de navegação que recebeu fortes influências árabes através da
incorporação de inovadores conhecimentos astronômicos e náuticos. De fato, a cidade de
Sagres funcionava como uma espécie de centro de estudos de assuntos relacionados com as
grandes navegações.
As viagens e conquistas portuguesas
Portugal inicia sua expansão marítima com a conquista da cidade marroquina de Ceuta,
em 1415. Em seguida, os portugueses conquistaram a Ilha da Madeira (1425), o
arquipélago de Açores (1427) e várias outras descobertas no decorrer do litoral atlântico
africano. Assim, as explorações empreendidas, inicialmente, pela costa ocidental da África
tinham como objetivo estabelecer contatos comerciais com centros produtores de ouro,
comercializar escravos e também dá continuidade a Reconquista, pois havia a intenção de
permanecer combatendo os muçulmanos e cristianizar as pessoas pagãs.
―A espada aliada à cruz e a fome iriam comandar as conquistas europeias, segundo o poeta
chileno Pablo Neruda. A espada representava a força e a natureza militar da conquista. A cruz
simbolizava a missão religiosa que procurava amenizar a violência, com a ideia de catequizar
os infiéis, os não-cristãos. Os portugueses davam a suas conquistas o aspecto de uma nova
cruzada. Era a forte presença da Igreja Católica, muito poderosa em Portugal e na Espanha,
deixando sua marca na expansão marítima europeia.‖
REZENDE, Antônio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: a construção da
modernidade – O Brasil e o mundo moderno, v.2. São Paulo: Atual, 1996.
Em 1434, o explorador Gill Eanes, cruzou o Cabo Bojador, que, de acordo com as
tradições da época, consistia no ponto máximo para se navegar sem correr o risco de ser
devorado por um monstro marinho. No ano de 1440, as viagens ultramarinas adquiriram
um forte aparato tecnológico com o aperfeiçoamento das caravelas, que ficaram mais
manejáveis e leves. Usando essa importante novidade, os portugueses alcançaram o
arquipélago de Cabo Verde (1444).
Bartolomeu Dias e os seus marinheiros enfrentando uma
tempestade. O navegador alcançou o extremo meridional
da Costa Africana, 1487-1488.
No entanto, em 1460, as conquistas portuguesas são paralisadas após a morte de D.
Henrique. A consolidação das áreas ocupadas se deu por intermédio da organização de
inúmeras feitorias (entrepostos comerciais) e fortalezas, as quais garantiram a monopolização do comércio da região aos portugueses. Com o passar dos tempos, esses núcleos
começaram a gerar lucros, pois, além de ocuparem posição comercial privilegiada, forneciam ouro, escravos e marfim.
No reinado de D. João II (1481-1495), o projeto expansionista ganhou um novo ritmo.
Em 1482, Diogo Cão conseguiu chegar à foz do Rio Congo, conduzindo seus navios, nos três
anos sucessivos, mais para o sul. Era o início dos preparativos da Coroa portuguesa em
alcançar as Índias contornando o litoral da África (périplo africano). Entre 1487 e 1488, o
navegador Bartolomeu Dias alcançou o extremo meridional da costa africana, chamado
por ele de Cabo das Tormentas. Porém, o rei de Portugal ficou tão satisfeito, que rebatizou a
região, passando a ser denominada de Cabo da Boa Esperança.
Desse modo, a
descoberta de Bartolomeu Dias deu abertura definitiva a um novo caminho com destino ao
lucrativo e desejado comércio com as Índias.
Em 1497, seguindo o mesmo percurso de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, escolhido
pelo rei D. Manuel I, completou o périplo africano, passando por Moçambique e chegando,
em 1498, em Calicute, na Índia. O sucesso da expedição de Vasco da Gama foi
fundamental, pois possibilitou que os portugueses pudessem lutar pela hegemonia das
especiarias orientais. Em 1500, com o objetivo de consolidar o domínio comercial nas
Índias, a Coroa portuguesa organizou, até então, a maior e mais bem equipada expedição
com 1300 tripulantes e treze navios. Essa poderosa esquadra foi comandada pelo capitãomor Pedro Álvares Cabral. Nobre e habilidoso navegador, Cabral era um destaque na corte
portuguesa. No decorrer da viagem, algumas caravelas se afastaram do litoral africano, o
que levou Cabral a aportar, no dia 22 de abril, na Ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado ao
Brasil. No dia 02 de maio, ele segue viagem até Calicute (Índia).
Lá, após ter
desembarcado, bombardeou a cidade e deu início ao domínio lusitano na região. Ao
regressar à Portugal com a notícia de que conseguira ampliar as possessões portuguesas no
Novo Mundo, Cabral recebeu diversas homenagens.
É importante lembrar, que a expedição liderada por Cabral não foi a última empreendida
pelos portugueses. Em 1511, eles conquistaram Malaca, localizada no sudoeste asiático. Já
em 1517, chegaram à China, onde, em 1555, através de um acordo estabelecido com o
imperador chinês, dominaram a Ilha de Lampacao, que passou a ser denominada, em 1557,
de Macau. Essa importante cidade se transformou num ponto estratégico usado pelos
lusitanos como porta de entrada ao Império Chinês.
Em 1543, os portugueses atracaram na Tanegashima, no Japão. Nessa região, mesmo
existindo a figura de um imperador, na prática o poder era descentralizado, apresentando
também aspectos políticos e sociais semelhantes aos vivenciados na Europa Ocidental
Medieval.
A sociedade japonesa era constituída por comunidades isoladas em si mesmas, ou seja,
havia pouco contato com povos estrangeiros. Os portugueses não construíram nem um
ponto estratégico de dominação no Japão. Porém, como a região era rica em prata, os
comerciantes lusos obtiveram rentáveis negócios.
As bem-sucedidas viagens marítimas empreendidas pelos portugueses ao Oriente
possibilitou o surgimento da lucrativa “Carreira da Índia”. Essa viagem ocorria
anualmente, saindo de Lisboa até a cidade Goa, na Índia. O objetivo dessa expedição era
comercializar a pimenta-do-reino, que era o principal produto de exportação dos
portugueses para os demais países do continente europeu. A cidade fortificada de Goa,
consistia num ponto estratégico dominado diretamente pelos lusitanos. No final do século
XVI, Goa já se tornara o centro de referência do comércio oriental, além de concentrar o
maior número de portugueses fora do país. A presença nas várias regiões orientais e as
influências étnico-culturais portuguesas levaram, alguns historiadores japoneses, a batizarem o fase compreendida entre 1540 e 1630 de “século cristão”.
Com o domínio do comércio das especiarias, com as inúmeras conquistas coloniais e com
um Estado centralizado, todos os fatores contribuíam para colocar Portugal numa posição de
prestígio no cenário internacional. Entretanto, Portugal não soube aproveitar por muito
tempo tais vantagens. Os fantásticos lucros adquiridos, aos poucos, foram diminuindo. O
imenso império constituído era bastante dispendioso, gerando mais prejuízos do que
ganhos. Nessa situação, a coroa portuguesa teve que pedir empréstimos e adotar,
internamente, uma rígida política fiscal com o propósito de manter a administração de suas
terras conquistadas. Para dificultar ainda mais, a enorme evasão populacional (gerada pela
dedicação aos empreendimentos externos e marítimos), provocou uma drástica queda na
produção agrícola. Dessa forma, países como Holanda e Inglaterra foram beneficiados ainda
mais com as conquistas portuguesas, pois além de negociarem com produtos orientais na
Europa também lucravam com a concessão de empréstimos bancários.
Analisando a viagem de Cabral
Cabral partiu para as Índias não só para continuar os contatos estabelecidos por Vasco
da Gama, mas também com outros objetivos. Um deles era dar cobertura aos limites préestabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, acordo diplomático assinado com a Espanha,
em 1494, que definia que as terras localizadas 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde
pertenciam a Portugal. Dessa maneira, pelo tratado, maior parte do território brasileiro já
estava anexada aos domínios lusitanos, portanto, um pouco antes da chegada de Cabral ao
nosso solo, em 22 de abril de 1500.
Outra questão polêmica seria se algum outro navegador português teria chegado à
América antes de Cabral. Alguns documentos comprovam que antes da viagem de Cabral ao
Brasil, houve duas viagens comandadas pelos navegadores espanhóis Vicente Pizón e Diego
de Lepe, os quais percorreram o litoral brasileiro entre janeiro e março de 1500. No entanto,
há algumas aberturas que geram polêmicas entre diversos historiadores. Uma teoria afirma
que, em 1498, o explorador português Duarte Pacheco Pereira, enviado especial de D.
Manuel I, teria desembarcado em terras brasileiras. Essa realização estaria registrada no
livro Sobre os Mares do Mundo escrito por ele entre os 1505 e 1508.
―(...) Portanto, bem aventurado Príncipe, temos sabido e visto como no terceiro ano de vosso
reinado do ano de Nosso Senhor de 1498, donde nos Vossa Alteza mandou descobrir a parte
ocidental, passando além da grandeza do mar oceano, onde é achada e navegada uma tão
grande terra firme, com muitas ilhas adjacentes a ela, que se estende a 70 graus de ladeza
da linha equinocial contra o Pólo Ártico e, posto que seja assaz fria, é grandemente povoada,
e do mesmo círculo equinocial torna outra vez e vai além em 28 graus e meio de ladeza
contra o Pólo Antártico e tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma
parte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela; (...) assim que temo sabido
que das praias e costa do mar destes reinos de Portugal. (...)‖
PEREIRA, Duarte Pacheco. As viagens de Cabral, Pinzón e Lepe, o verdadeiro descobridor do Brasil.
Globo Ciência. São Paulo: Abril, 1997.
As navegações espanholas
No final do século XV, os espanhóis lançaram-se nas viagens marítimas. Assim, como
Portugal, a localização geográfica da Espanha era favorável ao avanço ultramarinho. Além
disso, vale ressaltar que a unidade política e a formação do Estado Nacional, alcançadas em
1492, foram essenciais para o desenvolvimento das atividades marítimas no Atlântico.
Nesse mesmo ano, como prolongamento da guerra de Reconquista, a Espanha anexou o
reino de Granada (último reduto árabe na Península Ibérica). Desse modo, a unificação dos
reinos espanhóis sob a coordenação de Castela foi decisiva para as pretensões expansionista.
Outro fator importante que podemos mencionar é que havia na Espanha um grupo de
burgueses interessados em investir nos negócios relacionados às navegações e ao comércio
oriental. O aspecto religioso também fundamentou o projeto expansionista espanhol. A
questão da conversão, voluntária ou forçada, dos ―infiéis‖ (todos que não pertenciam ao
catolicismo), era interpretada como uma obrigação abençoada por Deus. Nessa perspectiva,
em 1535, o cronista espanhol Oviedo exclamou: ―Que, duvida que a pólvora contra os infiéis
é incenso para o Senhor?‖. Diante disso, as navegações espanholas devem ser
compreendidas como uma confluência de interesses político, religiosos e econômicos.
Os aperfeiçoamentos tecnológicos e os sucessos das viagens lusitanas influenciaram as
expedições da Espanha. Porém, os espanhóis não contavam com uma equipe de técnicos
(construtores de navios, geógrafos, navegadores, cartógrafos). Por isso, as experiências
vivenciadas pelos italianos e os portugueses serviram como base para as grandes aventuras
espanholas.
Nessa perspectiva, em 1492, o navegador genovês, Cristóvão Colombo inicia o ousado
empreendimento expansionista espanhol. Contratado pelos reis espanhóis Fernando e
Isabel, Colombo desenvolveu um projeto utópico e arrojado para a época. Influenciado pelo
espírito questionador dos intelectuais renascentistas, ele era um estudioso de viagens
marítimas. Como conhecia a cartografia, Colombo acreditava que a Terra era redonda (tese
rejeitada pela maioria dos europeus) e, portanto, poderia alcançar o Oriente navegando pelo
Ocidente. Evidentemente, hoje, sabemos que ele tinha razão, mas ele não tinha
conhecimento que entre a Ásia e a Europa existia um extenso continente, a América.
Em 12 de outubro de 1492, as três embarcações (Santa Maria, Pinta e Nina)
comandadas por Colombo aportou na ilha de Guanaani, rebatizada de São Salvador. Nessa
mesma viagem, Colombo descobriu as ilhas de Cuba e São Domingos. Os primeiros contatos
entre europeus e nativos, nesse momento, foram amistosos. Colombo pensava que havia
chegado às Índias. Porém, estava num novo continente, bem distante das terras que
pretendiam alcançar. Empolgado, retornou a Espanha, onde recebeu diversos títulos e
honras, tais como Vice-Rei e Governador das Terras Firmes e Ilhas a Descobrir. Na segunda
viagem feita ao solo americano, em 1493, montou uma expedição com cerca de 1500
homens que conseguiu tomar posse das terras e fundar a primeira cidade. A partir de então,
Colombo começa a enfrentar os primeiros atritos com os colonizadores. Na terceira viagem,
em 1498, descobriu a ilha de Trindade.
Segundo alguns historiadores, a glória de Colombo foi rápida e instantânea. Após
diversos fracassos em suas tentativas de explorar as terras recém-descobertas, chegou a
ser preso em 1500, sendo solto em seguida. Com a morte de sua protetora, a rainha Isabela
da Espanha, em 1504, acabou se isolando. Em 1506, em Valadolid, Colombo morre. Até
então ele rejeitava a ideia de que chegara à América, como defendia América Vespúcio em
seu livro Mundus Novus, lançado em 1503.
A propagação na Europa das informações de que a Espanha havia alcançado as Índias
desencadeou uma intensa disputa entre portugueses e espanhóis. Isso porque desde 1415,
os portugueses estavam se dedicando em seu empreendimento ultramarino e sentiam no
direito de comercializar os produtos orientais.
AS NAVEGAÇÕES E A PARTILHA
DO MUNDO
Nessa perspectiva, é compreensível a preocupação de Portugal, principalmente depois da
proposta sugerida pelo papa Alexandre VI, 1493, que determinava a divisão das terras
―descobertas‖ e a ―descobrir‖ por intermédio de um meridiano que passava a 100 léguas a
costa ocidental de Cabo Verde. Segundo a proposta do papa espanhol, tal acordo seria
oficializado através da Bula Intercoetera, que, dessa forma, legitimava à Espanha todas as
terras localizadas a oeste e ao governo português as terras situadas a leste desse
meridiano. No entanto, Portugal não aceitou a proposta, pois temia que a ―sua‖ rota para
Oriente fosse prejudicada. Desse modo, em 1494, os dois países assinaram o Tratado de
Tordesilhas que deslocava o meridiano para 370 léguas a oeste do Cabo Verde. O Tratado
de Tordesilhas foi bastante favorável aos portugueses, porque garantiu o domínio sobre o
Atlântico Sul, o controle sobre a rota oriental e a posse das terras que a Coroa portuguesa
―descobertas‖ e a ―descobrir‖.
Fernão de Magalhães e a viagem ao redor do mundo
Em 1513, o navegador espanhol Vasco Nunez Balboa realizou um feito importante:
cruzou o istmo do Panamá, alcançando o Pacífico. Assim, a Espanha começava a lucrar com
as riquezas, como seus projetos marítimos, e com as riquezas advindas das colônias
americanas.
No entanto, foi o português Fernão de Magalhães que, em 1519, comandou uma
expedição que realizou a primeira viagem circunavegação. Contornando a América do Sul(o
estreito de Magalhães), passando pelo Pacífico, chegando a Índia e retornando à Espanha
pelo Cabo da Boa Esperança. A duração dessa expedição foi de três anos.
A frota inicial dessa viagem era de cinco navios, porém apenas um conseguiu terminar o
trajeto. O próprio Fernão de Magalhães não conseguiu chegar até o fim, pois foi vítima de
uma emboscada organizada pelos nativos nas Filipinas, em 1521.
Foi o navegador e escritor italiano Antonio Pigaffeta que completou o percurso dessa
longa aventura, escrevendo um relato dessa pioneira viagem ao redor do mundo. Segundo
esse documento, apenas dezoito dos 237 tripulantes conseguiram retornar à Espanha,
aportando na cidade de Servilha, em 8 de setembro de 1522.
A Europa pós-expansão marítima
As expedições marítimas foram essenciais para que os europeus entrassem em contatos
com outros costumes e culturas. Os mares e oceanos, que antes assustavam, são utilizados
como meio para alcançar lucro e riquezas advindas dos negócios marítimos. Além disso,
temos que mencionar o grande desenvolvimento na arte das navegações e a aquisição
inovadores conhecimentos técnicos.
―A conquista da América inaugurou um amplo campo propício à constituição de mitologias
envolvendo as relações entre a cultura europeia e os povos que habitavam o continente. O
encontro de mundos distintos, com seus esquemas mentais e culturais inteiramente
diferenciados, agravados pelo deslocamento de especialidades conhecidas e dominadas,
impedia a reação desses povos entre si, tornando-os ausentes. As relações entre a história e
o espaço (desconhecido dos europeus que chegavam e inimaginado pelos naturais sobre os
que chegavam) sofreram uma interrupção promovendo novas formas de articulação entre o
presente e o passado.‖
IOKOI, Zilda Márcia Gricoli. América Latina: imagens, imaginação e imaginário. Rio de Janeiro: Expressão e cultura; São Paulo:
Edusp, 1997. p.745.
A Espanha formou o mais poderoso império, entre os séculos XVI e XVII. Esse destaque
internacional foi alcançado graças a grande quantidade de ouro e prata extraída das colônias
americanas. Entretanto, assim como os portugueses, os intensos gastos estatais e a
ostentação da coroa provocaram uma forte recessão no poderoso império espanhol.
Nessa perspectiva, outros países entram nas aventuras marítimas à procura de riquezas.
Nesse cenário, entram os franceses, ingleses e holandeses que desejavam também
participarem da partilha do Novo Mundo. Porém, eles não obtiveram grandes êxitos
marítimos, se compararmos com a Espanha e Portugal, mesmo assim, acumularam muita
riqueza. Enfim, as conquistas europeias foram importantes, pois lançaram os alicerces do
sistema capitalista moderno.
As navegações de outros países europeus
Os franceses lançaram-se as viagens marítimas a partir do século XV. Com o intuito de
descobrir uma passagem para o Pacífico através do Atlântico, Juan Verazzano e Jacques
Cartier comandaram as primeiras expedições. O primeiro até a Nova Inglaterra, em 1524.
Enquanto que o segundo viajou ao Canadá, em 1534. Porém, ambas as viagens
fracassaram, o que levou Verazzano e Cartir a se dedicarem à pirataria, principal-mente no
Brasil (Maranhão e Rio de Janeiro). Posteriormente, os franceses se preocuparam em formar
as colônias da América do Norte.
Assim, como os franceses, os ingleses eram excelentes piratas e contrabandistas.
Vários navios que cruzavam as costas do Atlântico eram saqueados e roubados pelos
famosos corsários ingleses. Por conseguir grandes tesouros para a coroa, Francis Drake se
transformou em um dos principais corsários da Inglaterra. Ele comandou uma viagem com
sucesso uma viagem ao redor do mundo, em 1578. Percorrendo todo o litoral sulamericano, cruzando a costa ocidental da América Central e da América do Norte, Drake
seguiu para Austrália em 1579. É importante lembrar, que os ingleses procuravam uma
passagem para o continente asiático pelo extremo norte da América e do Mar Norte. Em
1553, Richard Chancellor tentou, mas fracassou.
O tráfico de escravos (da África para a América) também gerou significativos lucros para
os ingleses. Segundo alguns historiadores, essa atividade foi essencial para o
desenvolvimento da economia inglesa. A partir do século XVII, a Inglaterra inicia seu projeto
de colonização da região que atualmente pertence aos Estados Unidos.
A entrada tardia da França e da Inglaterra na corrida marítima pode ser justificada pelas
dificuldades provocadas pela Guerra de Cem Anos (1337-1453). Como já analisamos, a
unidade político-administrativa constituía um dos pontos básicos para os ousados projetos
expansionistas, como foi o caso dos países ibéricos, pioneiros nos empreendimentos
marítimos. Assim, quando a França e a Inglaterra solucionaram os problemas políticos,
puderam entrar nas grandes aventuras ultramarinas.
Os holandeses organizaram algumas expedições pelo Mar do Norte e de Barents sem
muito êxito. Na época, a Holanda se destacava como revendedora e produtora de
mercadorias no comércio e no continente europeu. No século XVI, os holandeses eram
subordinados, politicamente, ao Império Espanhol. Mesmo com esses problemas políticos,
os holandeses eram exímios comerciantes e financistas, como foi o caso, por exemplo, do
financiamento da produção açucareira no Brasil, sendo responsável pelo seu refinamento e
posterior distribuição na Europa. Além de investir na indústria manufatureira de açúcar, a
partir da segunda metade do século XVI, a Holanda se dedica ao lucrativo empreendimento,
a saber, o tráfico de escravos africanos para América.
Desse modo, as viagens marítimas consolidaram a hegemonia dos países europeus sob o
resto do mundo. Além disso, o projeto ultramarino desenvolveu o comércio e as atividades
financeiras, ampliando as rotas para Oriente, quebrando, dessa forma, o monopólio das
navegações no Mediterrâneo. A expansão marítima beneficiou a burguesia, que, a partir de
então, afirma-se como um poderoso segmento social além de fortalecer os Estados
Nacionais, deixando-o mais forte e centralizado.
O mercantilismo
No decorrer da expansão marítimo-comercial dos séculos XV e XVI os Estados Modernos
europeus colocaram em prática uma série de ações econômicas que visavam ao desenvolvimento das atividades manufatureiras, cujos resultados financeiros contribuíram para o enriquecimento da burguesia e o fortalecimento do poder dos monarcas. Desse modo, os países
objetivavam acumular muitos metais preciosos (ouro, prata). Boa parte dos lucros era
obtida através da exploração colonial.
É importante enfatizar que o termo mercantilismo não foi empregado, na época, por
nenhum de seus defensores. Nem mesmo seus mais fervorosos intelectuais, como JeanBaptiste Colbert (França) e Thomas Mun (Inglaterra), usaram tal nomenclatura. Irônicamente, o escocês Adam Smith, em seu livro A Riqueza das Nações (1776), tornou-se o
principal divulgador do termo mercantilismo. Smith, integrante da Escola Clássica, era
defen-sor do capitalismo liberal. Portanto, o mercantilismo não pode classificado como um
siste-ma econômico. Ele consiste num conjunto de ideias e prática econômicas usadas pelos
comerciantes e governantes europeus entre os séculos XV e XVIII. O mercantilismo variou
bastante de acordo com as realidades políticas e econômicas dos países europeus.
As práticas econômicas eram controladas diretamente pelo Estado. Ele definia as
prioridades, concedia os monopólios, estabelecia as taxas alfandegárias protecionistas,
incentivava a construção naval e também atuava ativamente na formação e administração
do sistema colonial. Assim, o mercantilismo, deve ser entendido como uma série de ideias e
práticas econômicas que fortaleceu os Estados Modernos, a burguesia mercantil, as
conquistas marítimas e o sistema de colonização.
Quadro de Claude Lorrain que representa um porto de mar francês de 1638, no momento
fundamental do mercantilismo.
A prática mercantilista variou de Estado para Estado, além de suas modificações ao
longo dos séculos, mesmo assim, podemos traçar os pontos comuns do mercantilismo:

Intervencionismo estatal: consistia na regulamentação do mercado interno, dos
monopólios comerciais e das atividades internacionais. O objetivo dessa prática era
fortalecer o Estado e a burguesia. Dessa forma, os governantes tinham condições
necessárias para equipar melhor seus respectivos exércitos e aperfeiçoar sua política
fiscal. Também cabia ao Estado fazer concessões de monopólios, as quais eram
favoráveis aos burgueses.

Metalismo ou bulionismo: Na época, a riqueza de um país era avaliada pela
quantidade de metais preciosos (metalismo) acumulados. Desse modo, o acúmulo de
ouro e prata era essencial para o enriquecimento dos Estados Nacionais. Entretanto, o
metalismo foi bastante criticado no século XVII, pois a grande quantidade de metais
reservados(denominado na Espanha de bulionismo) pela Espanha, no século anterior,
impulsionou a elevação geral dos preços e das importações dos produtos manufaturados, o que resultou no escoamento dos metais para fora do país. O caso espanhol
comprovou que não bastava apenas acumular metais preciosos, era necessário criar
condições para deixar a balança comercial em superávit, ou seja, as exportações
(venda) deveriam ser superiores as importações (compra).

Balança comercial favorável: os países deveriam exportar mais do que importar.
Outra alternativa seria o aumento do valor das mercadorias em relação ao preço de
compra. Assim, para ocorresse uma balança comercial favorável era fundamental
garantir o desenvolvimento dos mercados externos (vender mais produtos) e preservar
a economia interna (diminuir as importações). Essa estratégia dificultava a saída dos
metais preciosos, aumentando seu estoque com a elevação das exportações.
―a única maneira de fazer com que muito ouro seja trazido de outros reinos para o tesouro
real é conseguir que grande quantidade de nossos produtos seja levada anualmente além dos
mares, e menor quantidade de seus produtos seja para cá transportada.‖
Trecho de documento da corte inglesa, 1549. Política para tornar o reino
de Inglaterra próspero, rico e poderoso.
 Monopólio: Boa parte dos Estados Nacionais Modernos praticava o monopólio, como a
finalidade de garantir o controle das atividades comerciais no país. Normalmente, os
monarcas entregavam as concessões aos grupos de burgueses em troca da contribuição
tributária e pagamentos pelo direito da exclusividade dos empreendimentos mercantis.
 Exploração colonial ou colonialismo: As colônias desempenhavam uma função
primordial no mercantilismo, ou seja, elas asseguravam à metrópole a monopolização
comercial, forneciam matérias-primas, produtos tropicais, metais preciosos (ouro, prata)
e por fim, também eram usadas como mercado consumidor. Nessa perspectiva, a
colonização foi o eixo de desenvolvimento principal para as metrópoles, uma vez que as
colônias possuíam elementos econômicos essenciais para o enriquecimento os Estados
europeus. A exploração do ―Novo Mundo‖ foi decisiva para a sistematização do mercantilismo.
―(o mercantilismo) ... reagrupa comodamente uma série de atos e de atitudes, de projetos,
de ideias, de experiências que marcam, entre o século XV e o século XVIII, a primeira
afirmação do Estado moderno em relação aos problemas concretos que ele tinha que
enfrentar.‖
Fernand Braudel
 Pacto colonial: Os Estados que aderiram ao colonialismo tiveram que encontrar meios
para integrar as imensas áreas territoriais africanas, orientais e americanas ao mercado
europeu. Com essa finalidade foi implantado o pacto colonial. O pacto ou exclusivismo
colonial estabelecia que as regiões colonizadas existem em função das metrópoles, ou
seja, as colônias servem apenas, apara atender as necessidades econômicas das Coroas
metropolitanas(controladores das importações e exportações). Desse modo, toda
produção colonial deveria propiciar o enriquecimento dos comerciantes e das Metrópoles. As atividades econômicas desenvolvidas nas colônias eram bastante restritas, pois
a produção colonial deveria ser um simples complemento da economia de suas
respectivas metrópoles. Era terminantemente proibido qualquer tipo de concorrência
entre colônia e metrópole.
 Protecionismo: pretendendo proteger seus mercados internos, os países aumentavam
as tarifas alfandegárias, assim, atingiam-se os seguintes objetivos: o encarecimento dos
produtos importados que refletia diretamente numa maior procura pelos produtos
nacionais. A postura protecionista também incluía o impedimento da entrada de alguns
produtos, o que também estimulava o comércio interno e, consequentemente, aumentava a riqueza nacional.
O mercantilismo nos países ibéricos
Os monarcas da Espanha e de Portugal implantaram o metalismo ou bulionismo
(palavra derivada do inglês bullion, que significa metal precioso). De acordo com essa
concepção, a prosperidade estava intimamente relacionada com às condições do Estado em
acumular ouro e prata. Inicialmente, os portugueses se dedicaram ao exclusivismo comercial das especiarias orientais (comercialismo). Posteriormente, sistematizaram sua colonização nas terras americanas, passando a adotar uma postura de expropriação de todos os
bens que possibilitassem lucros das regiões coloniais, a essa prática denominamos de
colonialismo.
Alguns dados estimam-se que aproximadamente que mais de 18 mil toneladas de prata
e duzentas de ouro foram extraídas pelos espanhóis entre os séculos XVI e XVII. Assim, a
base do sistema colonial da América espanhola foi estruturada na extração de metais
preciosos. Entretanto, vale salientar que, os espanhóis também se dedicaram ao comércio
de escravos, as pilhagens, às atividades agrícolas e à pecuária.
Mercantilismo francês
Na França o mercantilismo foi denominado de industrialismo ou colbertismo, em
referência a Jean-Baptiste Colbert que exerceu a função de ministro das Finanças, entre
1661 e 1683, durante o governo do monarca Luís XIV (1661-1715). No decorrer do século
XVII, os governantes franceses invectivaram as produções manufatureiras, principalmente
as conhecidas ―indústrias de luxo‖, ou seja, estavam na pauta das exportações os seguintes produtos: móveis, perfumes, tecidos, papeis, porcelanas, cristais e tapetes. Essas
atividades comerciais eram intensamente regulamentadas pelo Estado, como o propósito de
garantir o padrão de qualidade. Além disso, o mercantilismo francês foi incrementado pelo
comércio colonial e pela indústria naval. As conquistas coloniais, resultado dos
empreendimentos das eficientes companhias de comércio, receberam fortes estímulos e
concessão de monopólios do governo da França.
―Além das vantagens que produzirá a entrada de uma quantidade maior de prata corrente no
reino, é certo que, através das manufaturas, milhões de pessoas que vivem na indolência
ganharão sua vida. Que número também considerável ganhará sua vida na navegação e nos
portos do mar, que a multiplicação quase ao infinito dos navios multiplicará, do mesmo modo,
a grandeza e o poder do Estado. Eis a meu ver, os fins aos quais devem tender a aplicação do
rei, sua bondade e seu amor por seus povos.‖
Jean-Baptiste Colbert
O Mercantilismo na Inglaterra
O mercantilismo na Inglaterra adotou o comercialismo, que, na prática, consistiu no
incentivo á produção manufatureira, principalmente, o setor de têxteis. Houve também um
estímulo ao desenvolvimento da marinha inglesa e às atividades dos corsários (responsáveis
pelos saques aos navios espanhóis carregados de metais preciosos).
A prática da política mercantilista na Inglaterra se desenvolveu entre os séculos XVI e
XVII, simultânea ao projeto expansionista marítimo-comercial. Em 1600, foi organizada a
Companhia das Índias Ocidentais que implantou centro de negócios na Índia e na Indonésia.
Em seguida, os ingleses estabeleceram entrepostos em Bombaim (Índia), Pérsios (Irã) e na
América. Essas ações resultaram no desenvolvimento da marinha mercante inglesa e na
expansão da exportação (minério de alúmen, papel e produtos têxteis).
Graças aos ―Atos de Navegação‖, promulgados pelo governo inglês, a marinha mercante
se aperfeiçoou e se modernizou. Em 1651, o primeiro ato foi aprovado por Oliver
Cromwell. Essa medida político-econômica estabelecia que os produtos europeus só
poderiam ser transportados por navios ingleses ou de seus países de origens. Dessa
maneira, as mercadorias africanas, asiáticas e americanas só poderiam ser importadas em
navios coloniais ou ingleses. Em 1660 foi aprovado o segundo ato. Ele especificava que o
capitão e no mínimo três quartos dos tripulantes dos navios tinham que ser britânicos. Para
alguns historiadores, essas duas medidas foram fundamentais para a prosperidade do
Estado inglês e para o desenvolvimento das atividades comerciais.
O Mercantilismo nos Estados Germânicos
Os Estado Germânicos(compostos por diversas unidades fragmentadas) adotaram o
cameralismo. Essa expressão originou-se de Kammer (tesouro real) e era utilizada para
designar as ações de combate as seqüelas geradas pelas excessivas descentralizações
territorial. Assim, o cameralismo consistiu numa política econômica mercantilista bastante
diferente daquelas praticadas por outros países europeus.
Os cameralistas tinham como objetivo aumentar a arrecadação de impostos, desse
modo, o Estado enriqueceria através dessas rendas. Os príncipes das principais unidades
germânicas, como a Áustria, controlavam e regulamentavam as produções agrícolas e
manufatureiras.
O mercantilismo na Holanda
Na Holanda, a política mercantilista desenvolveu-se por intermédio de uma forte
burguesia mercantil e bancária. O mercantilismo holandês, desse modo, foi fundamentado
em três bases principais: na Companhia das Índias Orientais, responsável pelo controle
dos negócios holandeses no Oriente (remessas de ouro e vendas de produtos adquiridos) e
de explorar riquezas e bens de regiões coloniais; o Banco de Amsterdã, que fornecia
linhas de créditos e moedas de vários países aos comerciantes, independentemente de sua
nacionalidade; por fim, a frota mercante transportava volumosas cargas nos trajetos
marítimos. Os holandeses também se destacaram na produção de tecidos e lanifícios, no
tingimento e tecelagem da seda, no acabamento dos tecidos ingleses, na cervejaria, na
destilaria, na preparação do sal, cacau e tabaco, na fabricação de microscópios, no
polimento de lentes ópticas, na produção de pêndulos e aparelhos de navegação e nas
impressões cartográficas e de livros de vários idiomas.
TEXTO COMPLEMENTAR
Raios cósmicos ameaçam viagens espaciais
Pesquisadores se preocupam com o tipo de blindagem contra a radiação para proteger
astronautas que partem em viagens de longa-distância
por John Matson
Antes que os astronautas ponham os pés em Marte uma infinidade de desafios
técnicos precisa ser superada. Proteger os viajantes espaciais do bombardeio de
partículas energéticas não é certamente o último entre eles. Fora da atmosfera e do
campo magnético que protegem a Terra partículas supersônicas geradas no interior de
estrelas investem furiosa-mente zunindo pelo espaço e bombardeando violentamente
tudo o que encontram pelo caminho - inclusive astronautas. Nos seres vivos, podem
causar destruição de material genético.
Durante anos, vários sistemas de proteção foram propostos, de barreiras físicas a
blindagens magnéticas ou eletrostáticas - soluções que alguns pesquisadores de
destaque consideraram completamente impraticáveis. No entanto, um grupo de
pesquisadores europeus começou a testar um campo de força magnética em laboratório,
obtendo resultados tecnológicos que acreditam ser potencialmente viáveis.
Ruth Bamford, física do Laboratório Rutherford Appleton, em Didcot, na Inglaterra, e
seus colegas dispararam um feixe de plasma com partículas carregadas com velocidade
acima de mach 3 (mac 1 equivale à velocidade do som), para simular um jato de
partículas energéticas solares em um campo magnético induzido. O que observaram foi o
desvio praticamente total das partículas carregadas em torno do campo - uma ―minimagnetosfera‖ relativamente segura, de acordo com o estudo publicado on-line no jornal
Plasma Physics and Controlled Fusion, em 4 de novembro de 2008.
Embora essa estratégia tenha permanecido como uma solução potencial para o
problema da radiação, abordagens recentes a consideram insustentável. Conforme
observado por Eugene Parker, professor de física da University of Chicago, ―o peso de um
sistema desse tipo seria demasiado para uma viagem espacial viável‖. Samuel Ting
Prêmio Nobel e pesquisador do Massachusetts Institute of Technology, chefiou o grupo
que planejou esse sistema com uma massa de nove toneladas, ainda muito pesado e
desencorajador para se pensar numa viagem a Marte.
―Preocupei-me mais com os raios cósmicos das galáxias, que têm energia mais alta,
o que exige, portanto um campo magnético mais intenso,‖ avalia Parker. Suas
estimativas dependem da necessidade de desviar partículas, algumas delas 20 vezes
mais energéticas que as analisadas por Bamford e seu grupo.
Disponível em http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/raios_cosmicos_ameacam_viagens_espaciais.html
Acesso em 23 de fevereiro de 2009.
Analisando o texto
Após a leitura dos dois textos, será que podemos estabelecer alguma relação entre as
dificuldades enfrentadas pelos navegadores no decorrer da Expansão Marítima e os
astronautas dos tempos atuais? Os receios, os medos, as incertezas são semelhantes? Por
quê? Justifique.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Explique qual o significado político, econômico e cultural da Expansão Marítima para o
mundo ocidental (Europa, África e América).
2. O projeto de Expansão Marítima foi resultado de diversos interesses. Faça um breve
texto comentando os elementos que fundamentaram as grandes navegações europeias.
3. Leia o poema a seguir.
Mar Português
―Ó, mar salgado, quando do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzamos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noiva ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale apena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele foi que espelhou o céu.‖
PESSOA, Fernando. Mensagem. São Paulo: Difel, 1986.
Após a leitura do poema, mencione as principais ideias desenvolvidas no poema de
Fernando Pessoa que podemos relacionar com a Expansão Marítima portuguesa.
4. (UNESP) Um mercantilista inglês escreveu: Os meios ordinários para aumentar nossa
riqueza e tesouro são pelo comércio exterior, para o que devemos obedecer sempre a
esta regra: vender mais aos estrangeiros em valor do que conseguimos deles.
MUN, Thomas. Discourse on England‘s treasure by
foreign trade, 1664.
a) O autor desse fragmento exprime um princípio essencial da política mercantilista. Era
através dele que os mercantilistas explicavam a origem da riqueza dos Estados. Que
princípio era este?
b) Por quer as áreas coloniais da América foram fundamentais para a satisfação desse
princípio mercantilista?
5. (Unicamp-SP) A expansão marítima da península Ibérica (Espanha e Portugal) nas
Américas foi orientada por um projeto colonizador que, além da exploração econômica
das terras, tinha por objetivo a imposição de uma cultura europeia e cristã. Qual foi o
papel da Igreja Católica nesse projeto colonizador?
6. (Fuvest) Explique como a formação do Estado Nacional português contribuiu para o
pioneirismo na expansão comercial marítima.
7. (Fuvest) Portugal, nos séculos XV e XVI, exerceu importante papel no cenário europeu
graças ao pioneirismo de sua navegação pelo Atlântico.
a) Qual o objetivo da política portuguesa de incentivo à navegação?
b) Cite duas inovações técnicas de navegação adotadas pelos portugueses.
c) Quais as vantagens econômicas colhidas por Portugal nessas viagens?
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE)O processo da Expansão Ultramarina acabou por redefinir o mapa mundial nos
séculos XV-XVI. Com a descoberta da América e a possibilidade de um melhor
conhecimento da África e Ásia, por parte dos europeus, ocorreram várias mudanças na
mentalidade europeia. Sobre essa realidade, é correto afirmar que:
a) várias narrativas sobre as terras distantes e exóticas e seus habitantes foram
publicadas na Europa, como os escritos de Hans Staden.
b) os espanhóis, logo de início, caracterizaram as descobertas de Colombo, como a
chegada a um novo continente até então desconhecido.
c) os portugueses optaram por colonizar a África central, evitando fixarem-se na
América.
d) a França e a Inglaterra colheram os lucros pela antecipação às nações ibéricas no
processo das descobertas ultramarinas.
e) a Espanha acabou por ocupar boa parte do território africano, dominando assim o
tráfico negreiro até fins do século XVIII.
2. (COVEST) O mercantilismo foi um conjunto de idéias e de práticas econômicas
dominantes na Europa, entre os séculos XIV e XVIII, que variou de Estado para Estado.
Sobre o mercantilismo, assinale a alternativa correta.
a) Foi uma forma de exploração da natureza, empregada aos recursos minerais,
vegetais, animais e humanos que obedecia a interesses imediatistas, sem preocupação com o futuro.
b) A Holanda praticava um tipo de mercantilismo conhecido como metalista e industrial
que veio a desenvolver em parceria com a Espanha no século XVIII.
c) Portugal desenvolveu apenas o mercantilismo de plantagem, baseado na produção
tropical destinada ao mercado internacional.
d) As refinarias de açúcar de Sevilha substituíram as refinarias de Portugal, na fase do
desenvolvimento do mercantilismo industrial de Castela.
e) Companhias de comércio foram instaladas por todos os Estados mercantilistas
eurpeus, para reforçar a política comercial ou o colbertismo (referência a Colbert,
ministro francês, que defendia o comércio de produtos baratos vendidos mais caros
nos mercados coloniais).
3. (UPE) Leia atentamente as afirmativas abaixo.
I. As grandes navegações contribuíram para ampliar o comércio e promover um
encontro entre culturas de diversas origens marcado pela conciliação.
II. A Dinastia de Avis estimulou atividades mercantis com a participação significativa do
infante D. Henrique.
III. Espanha e Portugal tiveram importância destacada na Expansão Marítima Européia,
financiando navegadores sem estimular disputas territoriais.
IV. A viagem de Colombo, com a ajuda dos reis de Espanha, resultou no descobrimento
da América em 1492 embora o navegador pensasse ter alcançado as Índias.
Após a leitura, conclui-se que:
a) as afirmativas III e IV estão incorretas, pois Colombo contou com a ajuda do governo
português.
b) as afirmativas II e IV são as únicas corretas.
c) apenas a afirmativa IV está correta.
d) todas as afirmativas estão corretas.
e) todas as afirmativas registram erros históricos.
4. (UFPI) A expansão marítima e comercial, empreendida pelos europeus no início da
Idade Moderna, lançou os países do velho continente em busca de riquezas além-mar. As
longas viagens realizadas nos séculos XV e XVI se inserem no contexto das práticas
mercantilistas que caracterizaram esse período e resultaram na formação de vastos
impérios coloniais em diferentes continentes. Assinale a opção que indica corretamente o
principal motivo dessas viagens realizadas no âmbito da expansão marítima e comercial.
a) A principal motivação foi a revolução comercial e tecnológica que se desenvolveu
nesse período. As novas técnicas de navegação que os portugueses e espanhóis
colocaram em prática a partir do século XV tornavam as viagens oceânicas mais
rápidas e seguras, consolidando o pioneirismo da industrialização na península
ibérica.
b) A principal motivação foi comprovar as teses sustentadas pela Igreja Católica sobre
a esfericidade da Terra naquele período. Assim, o catolicismo contribuiu de modo
decisivo para estimular o desenvolvimento das práticas mercantilistas e do próprio
sistema capitalista que viria a se consolidar em seguida.
c) A principal motivação foi a contratação de mercadores de Gênova e Veneza,
experientes navegadores nas rotas mediterrâneas, pelos reinos de Portugal e
Espanha. Assim, ficou assegurado o acesso dos portugueses e espanhóis às rotas
comerciais para o Oriente, seja pelos oceanos, seja pelo Mediterrâneo.
d) A principal motivação foi a necessidade de abastecer o mercado europeu com maior
quantidade de matérias-primas e assegurar dessa forma, o pioneiro processo de
industrialização verificado na península ibérica nesta época.
e) A principal motivação foi quebrar o monopólio árabe-italiano no comércio de
especiarias com o Oriente, controlado pelos mercadores de Gênova e Veneza.
Assim, tornou-se necessário encontrar outra rota de navegação marítima que não
fosse pelo mar Mediterrâneo.
5. (COVEST) Sobre a Expansão Marítima Europeia, analise as afirmativas abaixo.
1. Para a realização da grande aventura marítima, foram fundamentais as descobertas
técnicas da época, não tendo influência a experiência do navegador.
2. A busca de riqueza foi importante para o envolvimento das pessoas com a navegação
e para a valorização de novos produtos comerciais.
3. O descobrimento do Brasil foi resultado de uma estratégia do grande navegador
Vasco da Gama com a ajuda de Pedro Álvares Cabral.
4. A Expansão Marítima trouxe grandes renovações para a cultura da época e teve,
portanto, claras ligações com as mudanças históricas que levaram à construção dos
tempos modernos.
5. A importância das viagens de Colombo se restringe aos parâmetros de uma aventura
heróica de um grande e idealista navegador.
Estão corretas apenas:
a) 1, 2 e 5
b) 3 e 4
c) 1, 3 e 5
d) 2 e 4
e) 1, 2, 4 e 5
6. (UFAC) O Mercantilismo europeu se deu a partir do século XVI, quando:
a) Aprofundou-se a íntima relação entre Estado Nacional e economia, caracterizando-se
por ser uma política de controle e incentivo, buscando o Estado garantir o seu
desenvolvimento comercial e financeiro, fortalecendo o próprio poder.
b) Os senhores feudais resolvem comercializar seus produtos junto aos burgos.
c) A Igreja assume o controle das grandes viagens ao Velho Mundo.
d) O Estado Nacional e suas monarquias não interferem nas relações mercantis dos seus
burgueses.
e) As monarquias nacionais liberam suas colônias das amarras mercantis.
7.(UEM) Entende-se por Mercantilismo o conjunto de leis e de práticas administrativas
adotadas por vários Estados europeus entre os séculos XVI e XVIII, que regulamentavam
as atividades econômicas. A respeito do Mercantilismo, assinale o que for incorreto.
a) O mercantilismo assumiu formas diferentes nos diversos países europeus.
b) As leis mercantilistas eram inspiradas pela doutrina do liberalismo econômico, de
Adam Smith, e visavam intensificar as exportações e as importações.
c) Os teóricos do Mercantilismo acreditavam que, mais do que o comércio interno, era o
comércio externo com outras nações que trazia lucros e riquezas.
d) Os países mercantilistas adotavam medidas severas para evitar a saída de ouro e de
prata de seu território.
e) Obter uma balança comercial favorável era uma preocupação constante dos Estados
mercantilistas.
8. (ACEP) No curto espaço de tempo que se estende da chegada de Cristóvão Colombo a
São Domingos (1492) à tomada da cidade de Cuzco pelas forças militares comandadas
por Francisco Pizarro (1533), os espanhóis conquistaram um vasto território no
continente americano. Assinale a alternativa que descreve corretamente uma etapa da
conquista espanhola da América.
a) A rendição do Chile levada a cabo por Pedro de Valdívia, com a derrota imediata e
escravização da população dos araucanos nativos da região.
b) A submissão dos tainos e caraíbas nas Antilhas por Diego D‘Almagro, com o
subsequente desenvolvimento da agricultura intensiva de tabaco na região
possibilitada pelo uso dos nativos como mão-de-obra escrava.
c) A conquista do Império asteca no México pelas tropas de Fernão Cortez, com a
instituição da mita como forma compulsória de trabalho organizadora da exploração
de prata e ouro na região.
d) A derrota do Estado quéchua ou Império inca pelas expedições comandadas por
Francisco Pizarro, com guerras de conquista que se estenderam até a segunda
metade do século XVI.
e) O confronto com os maias na Guatemala através das forças comandadas por Pedro
de Alvarado, com a expulsão dos espanhóis e a reorganização do reino de forma
autóctone ao longo do século XVI.
9. (IPAD) As afirmativas abaixo referem-se ao Mercantilismo. Analise-as.
1. O estímulo à exportação pelas metrópoles de matérias-primas industriais para os
mercados coloniais emergentes foi um objetivo da política mercantilista.
2. Dentre as principais práticas mercantilistas destacam-se o estímulo à balança
comercial favorável, o metalismo, o monopólio comercial e a intervenção estatal na
economia.
3. O Mercantilismo é constituído por um conjunto de idéias e práticas coerentes e
uniformes, aplicadas por vários Estados Nacionais europeus com resultados
semelhantes.
4. A aplicação das ideias mercantilistas acarretaram o fortalecimento do Estado
Nacional, de um poder centralizado e absoluto, cuja expressão foi a Monarquia
Absoluta.
Estão corretas apenas.
a) 1, 3 e 4.
b) 2, 3 e 4.
c) 2 e 4.
d) 1 e 3.
e) 3 e 4.
10.(COVEST) As viagens do genovês Cristóvão Colombo são anúncios de novos tempos
para o mundo europeu, que se lançava em busca de riquezas e de aventuras. Com ajuda
do governo espanhol, Colombo foi:
a) um aventureiro corajoso e improvisador, para quem não importavam os objetivos
mais sérios da navegação.
b) um estudioso de cartografia, acreditando, segundo descobertas recentes, que a
terra era redonda.
c) um navegador ambicioso, preocupado em encontrar minas de ouro e servir bem ao
Rei da Espanha.
d) além de rico comerciante de produtos do Oriente, um intelectual respeitado na
época, por suas idéias renovadoras.
e) um defensor de mudanças políticas na Espanha e na Itália, ligado aos projetos das
burguesias locais.
11.(URCA/CE) As grandes navegações são conhecidas como um momento histórico de
conquistas por parte dos europeus sobre outras regiões do mundo. Sobre o processo de
Expansão Marítima é correto afirmar que:
a) Foi um fato isolado e de sorte dos europeus, notadamente dos portugueses que
detinham conhecimento náutico e um grande espírito de aventura.
b) Teve a primazia dos franceses, primeiros descobridores de novas terras e
primeiros colonizadores das Américas.
c) Teve ligação com o mercantilismo europeu e com a busca de riquezas em outros
continentes.
d) Foi motivada somente pelo fervor religioso e a busca da conversão de povos do
mundo ao catolicismo.
e) Foi de fundamental importância na formação do Reino de Portugal e na
ascensão da Dinastia de Borgonha.
12.(UPE) As mudanças ocorridas na Idade Moderna atingiram diretamente todo um
sistema que prevaleceu na época do feudalismo. Com a formação das monarquias
nacionais, com o poder centralizado dos reis, houve também uma preocupação em
organizar a economia, usando práticas mercantilistas. O mercantilismo favoreceu:
a) o fortalecimento das atividades comerciais, embora combatesse o monopólio e a
grande propriedade de terras.
b) a intervenção do Estado na economia, incentivando o colonialismo e o
protecionismo.
c) a ascensão política da burguesia, embora combatesse o metalismo e os lucros
excessivos.
d) a expansão da economia europeia, destacando-se o livre comércio, o desenvolvimento da pecuária e a quebra do intervencionismo.
e) o crescimento das economias da Europa Central, criando condições para o fim das
corporações de ofício e incentivando a atividade agrícola.
13.(FURG) No processo de transição entre a Idade Média e a Moderna houve uma lenta
transformação das mentalidades. Enquanto no medievo os homens viviam dentro de uma
ordem social estamentária, na modernidade o privado passou a ser valorizado. Essa nova
forma de pensar foi representada pela busca dos bens materiais, caracterizada na Idade
Moderna por dois fenômenos históricos, o primeiro chamado de Mercantilismo e o segundo
de Navegações. Sobre estes, considere as afirmativas:
I. O mercantilismo foi um movimento voltado para a aquisição de metais, com o
objetivo de aumentar as reservas de riquezas das monarquias, apoiado pela Igreja e
direcionado para conquistar a Terra Santa.
II. As Navegações marítimas não tiveram como motivador apenas os interesses
comerciais, mas, também, o desejo de conhecer o maravilhoso, o fantasioso e o
desconhecido.
III. O mercantilismo foi uma teoria econômica que privilegiava a aquisição da
mercadoria, mas desprezava o metal.
IV. Os Estados mercantilistas investiram nas navegações como forma de ampliar
territórios, de buscar metais preciosos e de explorar as novas colônias como
mercados fornecedores de matéria-prima e ao mesmo tempo como consumidores.
V. O que auxiliou os navegadores da Idade Moderna foi a abundância de mapas, que
contava muito com a contribuição dos mapas antigos.
VI. As práticas mercantilistas tiveram como principais características a intervenção do
Estado na economia e a regulamentação dos investimentos públicos, de forma a
acumular capital.
Leia atentamente e assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas:
a) Somente a I e a V estão corretas.
b) Apenas a VI está correta.
c) A I, a III e a V estão corretas.
d) A II, a IV e a VI estão corretas.
e) Apenas a I está correta.
14.(UPE) ―O mercantilismo foi o princípio, que norteou a prática econômica de grande parte
dos reinos europeus na época moderna‖. São características da política econômica
mercantilista:
1. Combate ao monopólio e ao protecionismo comercial.
2. Manutenção de uma balança comercial favorável.
3. Empenho em acumular moedas e metais preciosos no território nacional.
4. Ausência da interferência do Estado na economia.
Estão corretas apenas:
a) I, II e III.
b) I, III e IV.
c) II, III e IV.
d) I e IV.
e) II e III.
15.(FATEC) A ocupação da América começou efetivamente com a chegada dos espanhóis
(Colombo), em 1942. Ao chegar ao ―Novo mundo‖ os europeus encontraram
a) somente civilizações extremamente primitivas que viviam da caça e da pesca, como
os tupis, na região Sul da América, e os iroqueses, habitantes do Norte.
b) apenas povos que permaneciam isolados entre si, em estágios anteriores à
civilização, ou seja, o Neolítico e o Paleolítico, como os Astecas na América Central.
c) uma imensa diversidade de povos e culturas: civilizações extremamente
organizadas e avançadas em seu processo político-econômico e social, e povos que
permaneciam no que os historiadores conceituam como períodos Neolítico e
Paleolítico.
d) civilizações sofisticadas, como os Incas, Maias e Astecas, que, por meio de uma
imensa confederação, conseguiram defender-se dos europeus, até a chegada de
Fernão Cortez, no México, em 1520, com seu poderoso exército lusoespanhol.
e) povos antropófagos, primitivos e selvagens, desorganizados militarmente e
dominados pelos Maias, que viviam no período Paleolítico, o que facilitou o domínio
dos ingleses na região.
INSTRUÇÃO: Responder à questão 16, sobre a prática econômica mercantilista,
relacionando a coluna da esquerda com a coluna da direita.
1.
2.
3.
4.
5.
( ) Metalismo - A metrópole buscava conquistar colônias fornecedoras
de metais, visto que, para os metalistas, a riqueza nacional era
indicada pelo nível de reservas de metal acumulado.
( ) Mercantilismo Industrial - Desenvolveu manufaturas de luxo, para
atender ao sofisticado mercado da Espanha, e expandiu suas
companhias de comércio e a construção naval.
França
( ) Mercantilismo Comercial - Tinha como prática comprar barato e
Espanha
vender caro, ganhar no frete, estimular a construção naval e formar
Inglaterra
companhias de comércio.
Províncias Unidas
( ) Mercantilismo Cameralista - Na falta de um Estado para conduzir a
Alemanha
política econômica, as Ligas das cidades mercantis se organizaram
para proteger seu comércio marítimo, agindo como intermediárias
sobretudo no comércio de cereais da Europa Oriental para o Ocidente.
( ) Mercantilismo Comercial e Industrial O país ampliou sua
indústria naval e assumiu quase todo o tráfico marítimo internacional
no século XVI, formando poderosas companhias de comércio e
erguendo um centro financeiro.
Associando-se corretamente cada país da coluna da esquerda com a modalidade
mercantilista por ele praticada, obtém-se, de cima para baixo, a sequência:
a)2 - 3 - 4 - 5 – 1.
b)1 - 4 - 2 - 3 – 5.
c) 2 - 1 - 3 - 5 – 4.
d)2 - 5 - 4 - 3 – 1.
e)2 - 1 - 5 - 3 – 4.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
A Formação do Império Português (1415-1580). AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz
Carlos. São Paulo: Atual, 1999. (Discutindo História)
História da América Latina. BETHELL, Leslie (org.). São Paulo: Edusp, 1998.
A América Latina na época colonial. LOCKHART, James; SCHWARTZ, Stuart. Tradução de
Maria Beatriz de Medina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
Cinema
1492: A descoberta do Paraíso
Revista
BBC História. Expedições e Aventuras. Ano 1 - edição n° 6.
A conquista e a colonização
dos povos da América
O encontro entre dois mundos
Ao chegarem ao ―Novo Mundo‖, os exploradores europeus encontraram uma diversi-dade
de etnias que povoavam o continente. Essa incrível variação cultural reunia desde grandes
impérios até populações em estágio de nomadismo. A região da América do Norte era
ocupada por grupos indígenas bem diferentes, alguns urbanizados e sedentarizados, como,
por exemplo, os iroqueses. Já nas planícies havia povos que praticavam a agricultura com
técnicas avançadas. Enquanto isso, no extremo do continente, os esquimós garantiam a sua
sobrevivência por intermédio da coleta, da pesca e da caça.
Boa parte dos nativos americanos residia nas florestas tropicais localizadas na América
do Sul. A coleta de frutos e raízes, a caça e a pesca serviam como elementos essenciais
para a sua alimentação. Havia também etnias que praticava a agricultura de subsistência,
cultivando plantas como, a mandioca. A vivência nas florestas e o cultivo de alguns desses
produtos implicaram em hábitos e costumes desconhecidos, até então, pelos europeus. Essa
diferente realidade provocou várias reações entre os conquistares, entre as quais o
paternalismo, a rejeição e a curiosidade. As descrições dos cronistas, dos viajantes e dos
colonizadores sobre a fauna, a flora, os costumes e as etnias retratavam a forma exótica do
que se observava. Tudo indica que o encontro entre dois mundos diferentes deliberou um
espanto geral em ambas as partes. Os hábitos e costumes percebidos no outro eram bem
diferentes das pessoas estavam acostumadas a perceber nos seus conterrâneos.
A descrição que os índios (mais) fizeram dos europeus
―(...) Seus rostos eram estranhos
Os senhores os tomaram por deuses,
Nós mesmos, vosso pai,
Fomos vê-los
Quando entraram em Yximchée, (...)‖
LÉON-PORTILLA, Miguel. A conquista da América vista pelos índios. Petrópolis: Vozes, 1985.
A surpresa dos portugueses em relação aos indígenas
―(...) A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes, bem
feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor caso de encobrir ou de
mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência com em mostrar o rosto. Ambos
traziam o lábio de baixo furado e metido nele seus ossos de verdade, brancos e do
comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na aponta como
furador.(...)
GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado da Terra do Brasil. In: RONCARI, Luiz. Literatura brasileira:
dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, 1995.
Os conquistadores espanhóis ficaram admirados quando encontraram a cidade de
Tenochtitlán. Na época com cerca de 1 milhão de pessoas, a cidade fascinava por sua
grandiosidade e riqueza. Os europeus também se maravilharam com a fauna e flora do
mundo tropical. Por isso, novos alimentos, como o milho, o abacaxi, o tomate, a batata, a
abóbora, mandioca foram inseridos na alimentação entre os europeus. Os hábitos e os
costumes de vida dos nativos provocaram espanto e rejeição. Por exemplo, a antropofagia
(consumo de carne humana), os sacrifícios humanos (astecas e maias), os mitos, as lendas,
o politeísmo e a poligamia foram violentamente combatidos. Já a nudez era descrita com
bastante perplexidade.
Por outro lado, os nativos americanos também espantaram pelos modos de vida dos
europeus. As armas de fogo, as caravelas, os canhões, as roupas, a língua, os cavalos e os
costumes causaram um forte impacto entre os povos do ―Novo Mundo‖.
As descrições e os relatos em relação ao tipo de vida de alguns grupos indígenas
produziram entre os europeus diversas reações, muitas delas exageradas. O humanista
francês Montaigne (1533-1592) via essas sociedades como a representação do paraíso e,
portanto, defendia os hábitos indígenas. Em sua obra Ensaios, de 1582, o autor expressa
sua sensibilidade com o modo violento pela qual se processou a conquista espanhola:
―Nosso mundo acaba de descobrir um outro (...) não menos povoados e organizado que o
nosso (...)
Os que o subjugaram (...) usavam coletes de uma pele luminosa e dura e armas cortantes
e resplandecentes (...); acrescentem-se os raios e os estrondos de nossas armas e
arcabuzes, capazes de amedrontar o próprio César, que, igualmente inexperiente, se teira
espantado (...).
Quantas cidades arrasadas, quantas nações exterminadas, quantos milhões de povos
passados a fio de espada (...): vitórias mecânicas. Nunca a ambição (...) incitou os homens,
uns contra os outros, a tão horríveis hostilidades e a calamidades tão miseráveis!‖
MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1984.
Entretanto, a maioria dos conquistadores conceituava os nativos como primitivos,
irracionais, sem almas, brutos, selvagens, obscenos. Segundo os europeus, as nações
indígenas viviam num estágio atrasado e numa sociedade sem regras e sem religião. Essa
postura etnocêntrica serviu como discurso para dominar, ou seja, tais concepções foram
alicerces para justificar a exploração e o violento processo de colonização instituído nas
terras americanas.
As descobertas europeias não podem de maneira alguma ser concebidas como ponto de
partida da história americana. Isso porque, há aproximadamente 50 mil anos a.C., iniciaram
as primeiras migrações dos povos asiáticos para a América. Distribuindo-se por todas as
terras americanas, formaram ao longo dos tempos sociedades complexas, as quais anos
depois seriam achadas pelos invasores europeus.
Essas variedades culturais influenciaram as relações estabelecidas entre os
conquistadores e os conquistados. Por exemplo, os tupis que habitavam o Brasil tinham
hábitos e procedimentos culturais da fase do Paleolítico, ou seja, desconheciam a escrita e
sobreviviam da coleta, da caça e da pesca. Enquanto isso, os astecas, maias e incas
praticavam a agricultura, ergueram grandes monumentos arquitetônicos e possuíam uma
sofisticada organização social.
Entretanto, uma cultura não deve ser analisada pela quantidade de obras elaboradas.
Cada civilização tem seus hábitos e costumes próprios de viver, sua forma original de
procurar o equilíbrio nas relações culturais estabelecidas entre os homens e a natureza. Os
preconceitos são estabelecidos quando se afirma que há culturas melhores que outras. A
partir de então, são criadas justificativas para a dominação e injustiças. Foi dessa maneira
que os europeus pretenderam legalizar a conquista, se auto-elegendo superiores,
possuidores de verdades e enviados de Deus.
As culturas indígenas americanas antes da chegada dos Europeus
 As primeiras culturas pré-coloniais da América: Astecas, Maias e Incas
Antes da chegada dos colonizadores europeus, na em terras do atual México, América
Central e na Região Andina existia uma diversidade de culturas altamente sofisticadas,
conhecidas como ―culturas pré-colombianas‖.
As manifestações culturais das civilizações da Mesoamérica (Maias e Astecas) e das
Cordilheiras dos Andes (Incas) podem ser constatadas desde as construções de gigantescos
monumentos feitos de pedras até a escrita, os sistemas matemáticos, a astronomia e o
calendário.
O continente americano tinha uma população de aproximadamente de 40 milhões de
habitantes, onde eram faladas mais de 2 mil línguas diferentes.
A sofisticação das culturas pré-colombianas
“(...) Estão longe os tempos em que autores (...) podiam considerar as altas culturas
pré-colombianas como primitivas. Elas eram, pelo contrário, como tem sido demonstrado
cada vez com maior clareza e riqueza de dados, sofisticadas e complexas; e apresentavam,
em suas relações sociais e em suas categorias de pensamento, lógicas coerentes (...).‖
CARDOSO, Ciro Flamarion. Poder e religião nas altas culturas pré-colombianas: astecas, maias e incas. In:
VAINFAS, Ronaldo (org.). América em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
1) Os maias
A sociedade Maia estava localizada na Península do Yucatán, atual território do México.
Ocupava também parte da Guatemala, Honduras e São Salvador. Entre 250 e 900 d.C, essa
sofisticada civilização se desenvolveu baseada em cidades-Estado bem estruturadas, como
Chichén Itzá, Mayapán e Uxmal. Cada cidade possuía autonomia político-administrativa e
era governada por um monarca cujo poder tinha caráter hereditário e divino, ou seja, o rei
era uma pessoa escolhida por um deus para governar na Terra.
O rei entre os maias era denominado de Halach Uinic que tinha a responsabilidade de
cuidar da política interna e externa. Ele e os guerreiros exerciam funções políticas e
religiosas. A fama do monarca era alcançada pela sua capacidade de fazer prisioneiros, no
decorrer das guerras, com finalidade de sacrificá-los nos cultos as divindades.
Cena do filme Apocalypto, dirigido por Mel
Gibson, 2006.
Sociedade e economia
Na sociedade maia era marcante a religiosidade, a qual confirmava os privilégios do
governante e de algumas famílias. O rei ou Halach Uinic nomeava uma série de funcionários
como magistrados, chefes militares, sacerdotes e administradores. Um outro componente
dessa sociedade eram os mercadores, grupo social que comercializava penas, produtos
agrícolas, mel, cera, sal, cerâmica e mantas.
Os artesãos e os camponeses ‗mazehualob‘ integravam a maior parte da população.
Entre outras obrigações, tinham que pagar impostos e trabalhar em grandes obras.O
interessante é que escravos de guerras pertenciam a um senhor, porém não trabalhava na
produção.
―Em algumas regiões do continente americano, o maior desenvolvimento da agricultura –
produzindo o excedente, a hierarquização social, a divisão do trabalho entre campo e cidade , aliado à pressão demográfica e à introdução de novas tecnologias (produção em terraços
nas montanhas e irrigação, por exemplo), propiciou o surgimento de grandes centros
urbanos. A partir dessas bases, organizaram-se as civilizações pré-colombianas dos maias
(América Central), Astecas (México) e Incas (nos Andes).‖
MOARES, José Geraldo Vinci de. História: geral e Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p.16
As atividades econômicas maia era essencialmente agrícola: milho, cacau, algodão e
sisal. Devido a baixa fertilidade das terras, os maias desenvolveram vários saberes técnicos,
como por exemplo, o rodízio das culturas. As catástrofes naturais, o esgotamento dos solos
e as disputas internas e externas levaram a civilização maia à decadência.

Religião e cultura
Os maias desenvolveram diversos conhecimentos. Na matemática, criaram um sistema
numérico ‗vigesimal‘, ou seja, os números eram agrupados em vintenas: 20, 40, 60, 80.
Elaboraram o símbolo para o zero, fundamental para resolver operações complexas e uma
escrita com caracteres hieroglíficos, ainda indecifrável. No campo da astronomia, fizeram a
previsão de eclipses com cálculo precisos sobre a movimentação dos astros, o que facilitou
na criação de um calendário com 365 dias, dividido em 18 meses de 20 dias, aos quais
somavam cinco dias para completar o ciclo solar.
A arquitetura e a engenharia foram as áreas dos saberes mais desenvolvidas pelos
maias. As pirâmides, as cidades com edifícios, os canais de irrigação e os reservatórios de
água encantam os espectadores até hoje. Por fim, merece ainda destaque os trabalhos de
cerâmica, a pintura de afrescos e as esculturas de baixo-relevo.
A religião era algo marcante na mentalidade dos maias. Eles acreditavam que a vida era
conduzida pelos deuses, os quais eram cultuados nos grandes templos. A maioria das
divindades era representada por elementos naturais como a chuva, o sol e o vento, porém,
havia a crença em um deus criador do mundo, que eles denominavam de Hunad.
2) Os Astecas
Localizados no lago do Texcoco, região do atual México, os Astecas ou Mexicas (13501521) formaram um poderoso Império que recebeu uma série de influências culturais de
outras civilizações, a saber, olmecas, zapotecas, mixtecas, totonacas e maias. Onde hoje se
encontra a capital mexicana, os astecas construíram a cidade de Tenochtitlán. Vale salientar,
que o Império Asteca foi resultado da junção entre três grandes centros urbanos, Texcoco,
Tlacopán e a própria Tenochtitlán. Os astecas conquistaram vários povos vizinhos que
contribuíam com impostos em forma de produtos, tais como ouro, algodão e cacau. O
alimento básico da população era o milho. Além disso, o cacau era usado para a extração do
xocoatl, primitivo chocolate. Outros produtos também cultivados entre os astecas: feijão,
tomate, pimenta, abóbora e tabaco.
A capital do Império, Tenochtitlán, era um grande centro urbano com cerca de 1 milhão
de habitantes, apresentado dimensão superior a qualquer cidade européia da época.
Segundo historiadores, Tenochtitlán era bem estruturada e organizada, o que fez com que
os espanhóis ficassem maravilhados com a grandeza da cidade.
―Quando lá chegamos, ficamos atônitos com a multidão de pessoas e a ordem que prevalecia,
assim como a vasta quantidade de mercadorias. Cada espécie tinha seu lugar particular, que
era distinto por um sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, jóias, plumas, mantas,
chocolate, peles curtidas ou não, sandálias e outras manufaturas de raízes e fibras de juta,
grande número de escravos homens e mulheres, muitos dos quais estavam atados pelo
pescoço, com gargalheiras, a longos paus.‖
MEGGERS, Betty J. América pré-histórica.Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Nela eram comercializados legumes, jóias, ervas medicinais e até mesmo escravos. As
sementes de cacau eram usadas como unidade de valor para trocas comerciais. Os astecas
ainda adquiriam de outras regiões tecidos, peles, cerâmica e borracha.

Sociedade e Política no Império Asteca
A sociedade asteca era fortemente hierarquizada. A nobreza (chefes militares, altos
funcionários do Estado e sacerdotes) consistia na camada social mais privilegiada. Em
seguida, vinha um grupo intermediário formado por comerciantes ou pochthecas (isentos de
pagarem impostos) e artesãos. Por último, os escravos, os camponeses, os prisioneiros de
guerras e os criminosos. Os sacerdotes faziam observações astrais e davam consultas sobre
diversos assuntos, por exemplo, viagens e negócios. Os camponeses recebiam do Estado,
alimentos e roupas.
O rei ou ‗Tlatoani‘ (chefe dos guerreiros) comandava os exércitos, cuidava da política
internacional e partilhava o poder com um determinado chefe de governo, chamado de
mulher-serpente, responsável pelas construções e pelas leis. Dessa forma, a monarquia
asteca era teocrática e militarista.
A guerra era realizada em nome de um deus, mas também tinha interesses econômicos,
a saber, arrecadar impostos dos povos dominados. Assim, pode-se afirmar que o Império
asteca era sustentado pelos tributos recolhidos das populações subjugadas.
O Estado asteca era dono de todas as terras do império. Essas propriedades eram
distribuídas aos templos, cidades e bairros, chamados de calpulli.
Nas cidades e bairros o trabalho tinha o caráter coletivo, ou seja, todos tinham o direito
de cultivar uma parte da terra. No decorrer dos tempos, essa tradição foi se modificando,
pois os chefes militares e outros nobres se desobrigaram em trabalhar, o que gerou uma
desigualdade social.

Religião e Cultura
A religião asteca era politeísta e astral, sendo o culto ao Sol um dos mais praticados. Em
seus rituais, os astecas praticavam sacrifícios humanos. Uma das metas do exército asteca
era capturar o maior número possível de prisioneiros e destiná-los a Tenochtitlán. Lá eram
feitos os sacrifícios ao deus da guerra, Huizilopochtli. Os sacerdotes interpretavam esse
ritual como uma necessidade de regar a terra com sangue humano.
A imagem é de um manuscrito
mexicano de fins do século XVI
e retrata o massacre realizado
pelos espanhóis contra
guerreiros astecas durante a
festa de Tóxcatl, ocorrida no
templo Maior em Tenochtitlán.
Este episódio histórico é
conhecido como ―Noite Triste‖.
Outras divindades importantes deidades eram Quetzacoatl, deus da sabedoria, e Tlacoc,
deus da chuva. Existiam divindades para cada cidade e para cada profissão. A mitologia
asteca previa o retorno dos deuses à terra. Assim, quando os espanhóis chegaram a essa
região em 1521, foram recebidos como tais deuses.
No campo cultural, os astecas criaram um calendário (semelhante ao dos Maias),
desenvolveram um sistema de escrita, elaboraram poemas, peças dramáticas, cantos e
hinos religiosos, os quais eram acompanhados por instrumentos musicais.
O brilhantismo das construções arquitetônicas e a organização urbanística demonstraram
um apurado conhecimento matemático dos astecas. Na capital do Império, encontravam-se
belíssimos canais, templos, palácios, lojas e residências.
As construções mais características da
civilização asteca são os templos em
forma de pirâmide. Pirâmides de
Comalcalco.
3) Incas
Os Incas montaram um imenso Império no território andino, que correspondia aos atuais
Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile. Com cerca de 15 milhões de habitantes com
culturas e costumes diferenciados, dessa forma, os Incas formaram o mais vasto Império da
América pré-colombiana. Vale ressaltar, no entanto, a presença de outros povos que
habitavam nessa região antes dos Incas, os Chavíns (serras peruanas), os Manabis (litoral
do Equador), os Chimus (norte do Peru). Além desses, pode-se citar os Chinchas, Mochichas
e os Nazcas.
De acordo com os pesquisadores, a maior parte dessas civilizações pré-incaicas eram
organizados em centros urbanos, possuíam templos e tinham uma agricultura variada
baseada no cultivo do milho e da batata. Havia também a domesticação de animais, lhamas,
vicunhas e alpacas.

Formação de um Império nos Andes
Liderado por Manco Capac, considerado o primeiro Imperador, os Incas se estabeleceram
em Cuzco (Peru) no século XII. A partir daí, os incas iniciaram sua expansão que abrangeu
desde a atual Colômbia até o sul do Chile.
Entre 1438 e 1471 ocorreu a consolidação do Império. Governado pelo jovem príncipe,
Pachacuti Yupanqui, os Incas dominaram os chancas e em seguida os chimus que ocupavam
os vale ao norte da Bolívia. O imperador Yupanqui, também chamado de Inca, ocupou o
território de todo o Peru e fronteiras do Equador. Seus sucessores conquistaram parte da
Argentina e da Bolívia.

Organização política e social
O Império Inca era constituído por várias etnias e culturas de civilizações preexistentes.
O sistema político era baseado numa monarquia teocrática hereditária que atribuía plenos
poderes ao governante, denominado Inca. O rei ou o inca, que era venerado como um deus,
era considerado como um filho do deus-Sol, Inti Raymi. O Inca também criava leis, comandava o exército e era o guardião das terras. Ele podia ter quantas mulheres quisesse, além
da sua esposa principal, chamada de coya, que geralmente era eleita entre suas irmãs.
A falta de regras claras para a sucessão governamental gerou várias disputas pelo poder.
Por exemplo, a expansão do Império foi paralisada em razão da disputa entre os irmãos
Huascar e Atahualpa, ambos os filhos de Huayana. O primeiro centralizou o império em
Cuzco e o segundo em Quito. Essas divergências políticas e os confrontos entre os
funcionários do Estado enfraqueceram o Império Inca, facilitando conquista dos espanhóis
em 1532.
A sociedade era compota pelo chefe do Estado (o Inca), que detinha poderes divinos
hereditários. Logo abaixo vinham os sacerdotes, que ensinavam e narravam os mitos, as
lendas e as histórias sobre o Imperador. Já os cargos administrativos eram ocupados por
nobres e pelos parentes do Imperador. Os guerreiros tinham bastantes prestígios entre os
incas, uma vez que havia uma exaltação à educação militar.
Assim como o Império Asteca, os burocratas Incas eram mantidos pelos impostos
arrecadados pelo Estado. Vários funcionários eram escolhidos pelo governante para
controlar as contribuições tributárias.
Havia também os grupos familiares e comunitários conhecidos como ayllus. Os ayllus
consistiam em terras doadas pelo estado, onde os camponeses trabalhavam coletivamente.
Essas comunidades estavam ligadas por antepassados semelhantes e por laços de
parentesco. O ayllu era governado pelo mais idoso da comunidade, o curaca.
Os camponeses que integravam os ayllus eram obrigados a cultivar as propriedades do
Inca e dos nobres, além de pagarem impostos em forma de produtos. O Estado também os
obrigavam a prestar serviços em obras públicas, com as pontes, as pirâmides, as estradas
os canais de irrigação e os terraços
A extração de minério era executada através do trabalho compulsório não remunerado,
chamada de mita, cuja mão de obra era disponibilizada pelas aldeias através de rodízios.
Nesse sistema, os trabalhadores recebiam apenas alimentos em troca de força produtiva.
Por último estavam os artesãos e os yanaconas, nascidos na cidade de Yanacu e condenados à escravidão. A mão de obra escrava era destinada apenas às atividades domésticas.

Economia e planejamento
A economia inca era baseada na agricultura. O milho, a batata, o tomate, abóbora e o
amendoim constituíam os produtos mais cultivados. Com o objetivo de não deixar faltar
alimento para a numerosa população de aproximadamente 20 milhões, o Estado doava as
terras aos camponeses para que eles cultivassem toda a área possível. Por isso, foram
desenvolvidas lavouras nas encostas das serras. Esses sistemas de terraço eram formados
por grandes degraus construídos com paredes de pedras e cuja irrigação era feita por
intermédio de canais de irrigação.
Havia também a domesticação de animais. As lhamas serviam de meio de transporte,
fornecia couro, carne e esterco. Já das alpacas e vicunhas eram obtidos lã. Os cachorros-domato e os porcos eram poucos utilizados entre os incas. O comércio era fraco e restrito a
produtos requintados usados pelos nobres.
O Estado inca fazia regularmente censo populacional. Para fazer a contagem era utilizado
o quipo, determinada de calculadora manual, composta de cordões coloridos e nós. O
levanta-mento do número de habitantes representava base do planejamento para o Estado,
uma vez que fornecia informações essenciais para dos impostos, de mão-de-obra para
execução de obras públicas e por fim, meio de controlar o crescimento vegetativo.
O grandioso Império Inca contou com uma magnífica infra-estrutura baseada na
construção de pontes e estradas que possibilitaram a circulação de mensageiros,
populações, exércitos e funcionários. Para se ter idéia de como era sofisticado esse
planejamento, ao longo dos trajetos os viajantes podiam usufruir de pequenas construções
(os tambos) que possuíam alimentos e água, e em certos casos serviam como abrigo.

Religião e cultura
Os Incas não conheciam a roda e nem criaram um sistema de escrita. Entretanto
tiveram êxitos em outras áreas do conhecimento. Na medicina usavam ervas e faziam
sangrias, realizando cirurgias com perfurações cranianas.
No campo da matemática desenvolveram um sistema decimal de registro, chamado de
quipu. Além disso, usaram pesos e medidas padronizados. Na astronomia, fizeram previsões
de eclipses e elaboraram um calendário. Os artesão incas trabalharam com a madeira, o
ouro, a prata e o tecido. Houve a produção de cerâmica, esculturas e pinturas.
A arquitetura e a engenharia são os maiores feitos da cultura incaica. Nessa área do
saber, os incas construíram os palácios, as fortalezas, as pontes, os terraços de irrigação e
as pirâmides. As obras arquitetônicas mais famosas estão localizadas nas cidades de
Sacsahuamán, Cuzco e Machu Pichu.
Em 1533, a Império Inca foi invadido pelos espanhóis e o imperador, Atahualpa, foi
assassinado. Alguns incas resistiram à conquista dos europeus até 1571, quando foi
executado o último líder inca, Tupac Amaru que se tornou uma figura simbólica das culturas
ameríndias americana.
Os índios da América do norte
Os grupos indígenas que povoavam da região
Sudeste dos atuais Estados Unidos cultivavam
milho, feijão, abóbora e outros tipos de frutos
silvestres. Praticavam a pesca e a caça. Criaram
técnicas para a construção canoas, casas, vasos
de cerâmica e armas para defesa e ataque. Já os
habitantes do Sudoeste, conheciam o sistema de
irrigação e cultivam o algodão. As mulheres eram
responsáveis pela moagem do milho, pelo cuidado das hortas e excelentes ceramistas. Já os
homens ajudavam nas atividades domésticas,
teciam e confeccionavam sandálias de couro. A
chefia dos pueblos (povoados) era tradicionalmente exercida com o auxílio de uma assembléia
composta por anciãos e pela presença dos
sacerdotes tribais.
Retrato de um Sioux (Red Bird).
Entre os povos mais famosos da América do Norte na época da colonização estavam os
sioux ou dakota. Eles eram compostos por três grupos: os santees, os yanktons e os
tétons. Por sua vez, os tétons eram formados por várias tribos, entre elas, os oglalas, brulés
e hunkpapas. Esses grupos habitavam as regiões das pradarias cortadas pelos rios da bacia
do Missouri e Mississipi, noroeste dos atuais Estados Unidos. Nessa mesma região viviam os
cheyenne (aliados dos sioux) e os crow (inimigos dos sioux). Cada grupo indígena possuía
seu próprio idioma, porém existia uma linguagem de sinais que possibilitava a comunicação
entre as variadas nações indígena
Os sioux, além de praticarem praticar a agricultura, caçavam bisão e búfalo. Após as
caçadas, as aldeias repartiam a carne dos animais. Os chifres e os ossos eram utilizados na
elaboração de armas e com o couro confeccionavam utensílios domésticos e vestimentas.
Violência e dominação cultural nas relações políticas entre colonizados e
colonizadores
O processo de colonização da América foi marcado pela tensão e violência, o que
resultou em perdas irreversíveis para os habitantes americanos. Todavia, os invasores
buscaram elaborar uma memória histórica favorável a eles, como meio de anular ou
neutralizar a história dos vencidos.
Os conquistadores ocuparam o território recém-invadido como se fossem os donos
legítimos de todos e de tudo. A partir de então, a história do continente americano será
marcada por milhares de mortes e um intenso processo de exploração. Os fatores principais
que impulsionaram essa brutalidade foram o sonho do Eldorado, a pretensão do rápido
enriquecimento com ouro e a prata existentes em grande quantidade no continente e, por
fim, o incentivo à inimizades entre os povos americanos.
Segundo alguns historiadores, a presença em si dos europeus foi o suficiente para
provocar milhares de mortes nas terras americanas, devido a disseminação de inúmeras
epidemias. A pneumonia, a gonorreia, o sarampo, o cólera, a escarlatina, a febre amarela, o
tifo, a gripe e a varíola dizimaram populações inteiras. Em contrapartida, os europeus foram
contagiados pela encefalite, pólio, a sífilis venérea e a hepatite.
Índios perderam a guerra bacteriológica
―O Descobrimento da América, no quadro da expansão marítima europeia, deu lugar à
unificação microbiana do mundo. No troca-troca de vírus, bactérias e bacilos com a Europa,
África e Ásia, os nativos da América levaram a pior. Dentre as doenças que maior mortalidade
causaram nos ameríndios estão as ‗bexigas‘, isto é, a varíola, a varicela e a rubéola (vindas
da Europa), a febre amarela (da África) e os tipos mais letais de malária (da Europa
mediterrânea e da África). O cólera, o sarampo, a difteria, o tracoma, o tifo, a peste
bubônica, a escarlatina, a disenteria amebiana, gripes, entre outros males, também foram
aqui introduzidos pelos europeus. Já a América estava infectada pela hepatite, certos tipos de
tuberculose não associados à doença pulmonar, encefalite e pólio. Mas o melhor ‗troco‘
patogênico que os ameríndios deram aos europeus foi a sífilis venérea, verdadeira vingança
que os vencidos da América injetaram no sangue dos conquistadores. Nos portos europeus
onde desembarcavam os conquistadores, a sífilis, sexualmente transmitida, se propagava,
gerando um pânico semelhante ao que a Aids suscita hoje entre nós. Assim, no século XVI, a
representação da morte passou a ser associada ao erotismo nas pinturas dos retábulos das
igrejas: o tradicional esqueleto com uma foice foi substituído por uma jovem mulher, bela,
diáfana, encarregada de levar os homens para o outro mundo.
Porém, as mortandades causadas na América pelos micróbios introduzidos pelos
descobridores foram maiores que os estragos causados na Europa pela sífilis. Eclodindo a
partir de 1519 nas Antilhas, a varíola começava na América a carreira que lhe daria o título
de maior assassina da humanidade. No continente, a varíola abriu caminho para os espanhóis
conquistarem Tenochtitlán (novembro de 1519), atual cidade do México, e em seguida
alastrou-se no Peru (1521), derrubando dezenas de milhares de indígenas que poderiam ter
enfrentado os espanhóis. Nesse sentido, as vitórias de Cortez sobre os astecas e de Pizarro
sobre os incas devem ser reconsideradas: não se trata de batalhas nas quais a cavalaria e a
pólvora europeia venceram as flechas e as lanças indígenas, mas de uma guerra
bacteriológica que os ameríndios não tinham chance de ganhar.‖
ALENCASTRO, Luís Felipe de. Folha de S. Paulo, 12 out. 1991. Caderno Especial.
Em relação aos nativos, os europeus possuíam várias vantagens. Seus desejos eram
explícitos e necessitavam de uma ação cruel: exterminar para conquistar. Os invasores
conheciam melhor as técnicas e estratégias militares, detinham armas de fogo e também se
valiam das constantes rivalidades entre as diversas etnias.
Em 1520, as campanhas do espanhol Hernán Cortés com o intuito de dominar as terras
americanas demonstram o método cruel e violento utilizado pelos conquistadores. Cortés
invadiu o México e massacrou a população local. Já Francisco Pizarro, na década de 1530,
massacrou o povo inca. Além desses exemplos, podemos relatar que várias outras nações
foram exterminadas, violentadas e muitas escravizadas.
Dessa forma, a injustiça e intolerância foram as principais marcas usadas pelos
conquistadores. Eles atuaram como os verdadeiros donos do mundo, se comportando como
os grandes protetores da civilização em combate aos perigos da selvageria.
Os europeus misturaram interesses econômicos com o projeto civilizatório e ainda
contavam com a proteção religiosa. Proclamavam-se os escolhidos de Deus, protetores da
verdadeira e genuína religião. Nessa perspectiva, passaram a impor a fé cristã aos
habitantes do ―Novo Mundo‖, obrigando-os, dessa maneira, a abandonar suas crenças
religiosas. O cronista espanhol Francisco López de Gómora, em sua Historia General de
las Índias, de 1551, procura justificar a violência da conquista:
―Como disse, nossos espanhóis descobriram, percorreram, converteram grande quantidade
de terras em sessenta anos de conquista. Nunca nenhum rei e nenhuma nação percorreram e
subjugaram tantas coisas em tão pouco tempo, assim como nós fizemos, nem fizeram, nem
mereceram, o que nossa gente fez e mereceu pelas armas, pela navegação, pela pregação do
Santo Evangelho e pela conversão dos idólatras. É por essa razão que os espanhóis são
perfeitamente dignos de louvor. Bendito seja Deus que lhes deu essa graça e esse poder‖.
Espada, cruz e fome: Mecanismos da conquista espanhola
Em benefício a ―humanidade civilizada‖, com o auxílio e apoio da Igreja Católica, os
portugueses e espanhóis exterminaram diversos povos e culturas. A catequização foi uma
maneira suave de legitimar a dominação, de divulgar a superioridade dos cristãos sobre as
nações indígenas conquistadas. Nesse sentido, os africanos escravizados e os nativos
sofreram cruelmente. Na concepção dos colonizadores, eles sequer eram vistos como seres
humanos. Eram concebidos como ‗uma coisa‘,‘ um objeto‘, ‗algo sem alma‘.
Assim, a missão colonizadora foi construída com extrema violência, subjugação e
hipocrisia praticada pelos europeus. O historiador Ronaldo Vainfas, em seu livro Economia
e Sociedade na América Espanhola observou tais mecanismos de conquistas:
―A conquista espanhola, em todas as regiões onde se viu coroado de êxito, conduziu a um
processo de crise geral das culturas submetidas. Em certas situações, como no caso Arawak
das Antilhas, levou ao completo desaparecimento físico da população conquistada. Noutros
casos, como no México ou no Peru, ainda que não tenha eliminado totalmente a população
indígena, provocou alterações e deformações profundas na cultura e no modo de vida dos
povos conquistados (...). À guisa de ilustração, relembremos o caso do México Central, que
possuía pouco mais de 25 milhões de índios em 1519, e se viu reduzido a cerca de 1 milhão,
em 1605 (...)‖.
VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Gaal, 1984. p.40.
De acordo com as pesquisas realizadas por professores da Universidade de Berkeley, nos
Estados, a população indígena americana na época da chegada dos europeus era de,
aproximada-mente, 80 milhões. Buscando compreender como puderam algumas centenas
de europeus dominarem e vencer populações tão grandes, sociólogos, historiadores,
antropólogos e poetas elaboraram diversas respostas.
O escritor chileno Pablo Neruda (1904-1973), ao analisar os mecanismos de conquistas
usadas pelos espanhóis afirmou: ―A espada, a cruz e a fome dizimaram a família selvagem‖.
Ao utilizar a palavra espada, o poeta fazia referência à superioridade das armas dos
conquistadores (canhões, arcabuzes, lanças e pistolas, espadas, armaduras e escudos
central), às quais os nativos podiam combatê-las com seus arcos, flechas, lanças de
madeira e tacapes. Além disso, os cavalos usados pelos espanhóis deixaram os índios
assustados, pois os nativos desconheciam esses animais. Os cavalos garantiram aos
invasores uma enorme agilidade nos campos de batalha. Ao referir-se à cruz, Neruda faz
alusão à função desempenhada pela Igreja Católica, vista como o ―suporte espiritual‖ do
projeto da conquista e, posteriormente, da colonização. A catequese era imposta à força e
também funcionou como um elemento importante na desestruturação do universo psíquicoespiritual dos nativos americanos. A ―cruz‖ foi usada para legitimar a conquista. Não por
acaso, em 1492, Cristóvão Colombo, ao tomar posse das terras, o seu primeiro gesto foi
fincar um cruz. Nessa perspectiva, o cronista espanhol Francisco López Gómora, afirmou:
―Assim, não pense ninguém que foram tirados o poder, os bens e a liberdade dos indígenas: e
sim que Deus lhes concedeu a graça de pertencerem aos espanhóis, que os tornaram cristãos
(...). Ensinaram-lhes latim e ciências, que valem mais do que toda a prata e todo o ouro que
eles tomaram. Porque, com conhecimentos, são verdadeiros homens, e da prata nem todos
tiravam muito proveito.‖
Por fim, ao utilizar o termo fome, Neruda refere-se às conseqüências da desorganização
das formas de trabalho preexistentes, que garantiam a sobrevivência de milhões de
habitantes do ―Novo Mundo‖. Ao estabelecer o sistema colonial fundamentado, inicialmente,
na exploração dos recursos minerais, os espanhóis deslocaram enormes contingentes de
nativos de suas aldeias para o trabalho compulsório nas minas. Tal procedimento rompeu
definitivamente a produção de alimentos, provocando fome generalizada. A fragilidade
orgânica dos povos indígenas favoreceu a propagação endêmica (varíola e sarampo) com
maior rapidez.
Preocupado com a situação dos índios, o frei Bartolomeu de Las Casas em seus vários
livros relata detalhes do processo da conquista. Defensor dos índios, Las Casas denuncia os
mecanismo violentos e criminosos praticados pelos espanhóis. Leia a seguir trechos de sua
autoria:
―Esses povos se igualam ou até mesmo ultrapassam muitas nações do mundo reputadas
como civilizadas e racionais, não sendo inferiores a nenhuma.
Assim, igualam-se a gregos e romanos e até em alguns de seus costumes, os superam.
Superam também a Inglaterra, a França e algumas de nossas regiões da Espanha (...).
É portanto fato estabelecido que a maior parte dentre eles estão, no conjunto, assaz
dispostos a receber não só a doutrina moral mas também nossa religião cristã, mesmo se
alguns, em alguma região, ainda não atingiram a perfeição política de uma república bem
governada e possuam certos costumes corrompidos (...).
Não há nenhuma razão para nos surpreendermos com os defeitos, os costumes bárbaros
e desregrados que podemos encontrar entre as nações índias, nem menosprezá-las por isso.
Pois a maioria das nações do mundo, senão todas, foram bem pervertidas, irracionais,
depravadas e deram mostra de muito menos prudência e sagacidade no modo de se governar
e exercer as virtudes morais.
Nós próprios fomos piores nos tempos de nossos ancestrais e em toda a extensão de
nossa Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação de nossos costumes.‖
LAS CASAS, Bartolomeu de. Apologética História, cap. 263. In: MAHN-LOT.
A Descoberta da América. São Paulo: Perspectiva, s.d. p.110-111.
Os adelantados
O período da conquista se prolongou por quase 60 anos, sendo encerrado oficialmente
em 1556, momento em que Felipe II passa a ocupar o trono da coroa espanhola. Com o
propósito de consolidar o poder do Estado, esse monarca adotou um conjunto de medidas
com a finalidade de reduzir consideravelmente a autoridade dos adelantados. Estes eram
particulares que adquiriam concessões da Coroa para ocupar e conquistar as terras
americanas. Eles enfrentaram diversas guerras contra os nativos usando recursos próprios,
entretanto, combatiam em nome do rei.
Os adelantados eram em sua maior parte homens com poucos recursos econômicos, os
quais viram na aventura americana possibilidade para o enriquecimento imediato. Entre os
principais adelantados destacaram-se Hernán Cortez e Francisco Pizarro. Os adelantados
eram acompanhados por um pequeno exército contratado e equipado com armas de fogo,
cavalos e pólvora.
Inicialmente, os adelantados não eram submetidos a nenhuma autoridade. A ação dos
conquistadores não foi restringida e o uso da violência contra os indígenas tornou-se
constante. Com vimos, os abusos de poder ocorreram sob o pretexto, até mesmo, da
divulgação dos preceitos cristãos. A princípio, o governo espanhol apoiou as atitudes desses
aventureiros, porém, a partir da segunda metade do século XVI, a forte autonomia dos
adelantados passou a gerar preocupação as autoridades metropolitanas. A partir de então, o
governo espanhol pretende reestruturar a empresa colonial, fortalecendo a ação estatal e
impondo a vontade do monarca nas regiões recém-conquistadas. Em 1556, Filipe II proíbe a
utilização dos termos conquista e conquistadores. Em relação a proibição do uso dessas
palavras o historiador Ruggiero Romano comentou que ―desapareceram dos atos oficiais,
mas ficaram nos fatos‖.
A resistência indígena
A resistência indígena foi bastante comum em todo o território americano. Ela ocorreu,
de modo geral, por intermédio de ataques aos povoados e vilas e, às vezes, pelo massacre
de habitantes já estabelecidos pelos conquistadores. Em 1537, por exemplo, no Peru, após a
conquista consolidada por Pizarro e Almagro, os incas remanescentes, comandados por
Manco-Capac, organizaram uma rebelião que só foi sufocada em 1572, quando houve a
execução de Tupac-Amaru, sucessor de Manco-Capa. Até os dias atuais, o nome TupacAmaru simboliza resistência indígena.
Essa resistência também se manifestou na América Espanhola por intermédio da
preservação de vários elementos das culturas indígenas (material e espiritual). Em diversos
países da América hispânica, como o Peru, o México e a Bolívia, a permanência dos dialetos
e das línguas pode ser compreendida como uma ação de resistência. Além disso, nesses
países ainda são praticados cultos, rituais e festas, cujas raízes são advindas das culturas
astecas, incas e maias. Tudo isso pode ser entendido como meios de resistências
construídos pelos povos indígenas. Outro exemplo de resistência pode ser visto na postura
de Tecumseh, chefe dos Shawnees, uma das tribos da América do Norte. No século XIX,
quando foi desencadeado o projeto de conquista (também sob o uso da violência) dos
territórios do oeste dos Estados Unidos, Tecumseh observou:
―Onde estão hoje os pequot? Onde estão os narragansett, os moicanos, os pokanoket, e
muitas outras tribos outrora poderosas de nosso povo? Desapareceram diante da avareza e
da opressão do Homem Branco, como a neve diante de um sol de verão. Vamos nos deixar
destruir, por nossa vez, sem luta, renunciar as nossas casas, à nossa terra dada pelo Grande
Espírito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar
comigo: Nunca! Nunca!‖
In: BROWN, Dee. Enterrem meu Coração na Curva do Rio. São Paulo: Melhoramentos, s.d. p.19.
TEXTO COMPLEMENTAR
Texto 01
O encontro entre culturas: europeus e americanos
―Pessoas e situações diferentes daquelas que conhecemos devem ser encaradas e
analisadas de acordo com os valores da cultura à qual pertencem. Se, ao contrário, a
avaliação for feita do ponto de vista de quem analisa ao que se chama etnocentrismo,
que significa julgamento feito a partir dos valores de uma única cultura, a do próprio
observador. Nesse caso, determinada cultura é considerada melhor ou pior em
comparação ao que é familiar e considerado normal.
[...]
Os europeus ficaram sem saber qual o lugar ocupado pelos índios na humanidade e
se eles tinham alma ou não. Na verdade, desde o primeiro encontro, as populações nas
terras americanas não foram sequer consideradas como integrantes da humanidade.
[...]
A dificuldade de olhar o diferente continua existindo até hoje. A referência para
avaliar o outro tende a ser o que nós somos. Conhecer os usos e os costumes de vários
povos, comparar uns com os outros pode nos ajudar a entender que as culturas não
devem ser julgadas melhores ou piores, mas que, apenas, elas são diferentes.‖
SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro. O encontro entre culturas: europeus e indígenas no Brasil. 12. ed. São
Paulo: Atual, 2000. p.38-40.
Texto 02
Identidade indígena
―Um jovem índio, Nambikwara, nos fala de como as pessoas identificam os índios: ‗Se
você não tem isso feito na boca, no nariz e na orelha (furos), as pessoas não vão
acreditar, vão falar: você não é índio! Aí não tem jeito de comprova que você é índio!
Índio tem de ser sempre índio!‘
Como é ser sempre índio? Será que vestir roupa de branco, falar português, utilizar
utensílios domésticos, agrícolas, faz do índio um branco?
Nós nos acostumamos com a imagem de índios todos iguais. Essa visão equivocada
acontece há 500 anos, desde que Colombo chegou á América pensando ter chegado às
Índias.
Ainda hoje, muitos continuam olhando para esses povos do mesmo jeito, embora as pesquisas
e os meios de comunicação já tenham demonstrado que as sociedades indígenas, ao mesmo
tempo em que compartilham um conjunto de traços comuns, também se diferenciam umas das
outras. (...)
Cada sociedade indígena se pensa e se vê de maneira diferente e tenta manter o que é
específico de seu povo apesar dos efeitos destrutivos do contato com o branco.‖
ZENUN, Katsue Hamanda e ADISSI, Valéria Maria Alves. Ser índio hoje. São Paulo: Loyola, 1998. p. 15-16.
1. De acordo com o texto 01, em que consiste o etnocentrismo e o que pudemos fazer para evitá-lo?
2. Em sua opinião, no contato entre europeus e os habitantes da América, no século XVI, houve a
prática do etnocentrismo? Justifique.
3. Após a leitura, faça uma análise comparativa dos temas abordados nos dois textos. Cite os pontos
comuns.
4.
FAZENDO HISTÓRIA
1. (UFU-MG) ―Assim, não pense ninguém que foram tirados o poder, os bens e a liberdade
(dos indígenas): e sim que Deus lhes concedeu a graça de pertencerem aos espanhóis,
que os tornaram cristão e que os tratam e os consideram exatamente como digo. (...)
Ensinaram-lhes o uso do ferro e da candeia (...). Deram-lhes moedas para que saibam o
que compram e o que vendem, o que devem e possuem. Ensinaram-lhes latim e
ciências, que valem mais do que toda a prata e todo o ouro que eles tomaram. Porque,
com conhecimentos, são verdadeiramente homens, e da prata nem todos tiravam muito
proveitos.‖
GÓMARA, Francisco López de. História general de las índias:
coletânea para a História da América.São Paulo: CENP, 1978.
O texto acima expressa uma forma de se ver a conquista e a colonização da América
pelos espanhóis. A partir da análise do texto e de seus conhecimentos sobre este
processo histórico.
a) Faça um comentário sobre a visão antropocêntrica do autor, destacando a forma
como os valores culturais de espanhóis e indígenas são tratados no texto.
b) Identifique e caracterize uma das três principais sociedades indígenas conquistadas
pelos espanhóis – maias, astecas ou incas – mostrando como viviam e se organizavam social e politicamente no período imediatamente anterior à conquista.
2. Leia atentamente o texto a seguir.
Canto triste
E tudo isso sucedeu conosco.
Nós o vimos (o conquistador),
Nós ficamos perplexos,
Com este triste e deplorável destino,
Nos sentimos angustiados.
Pelos caminhos jazem flechas partidas,
As cabelos estão espalhados.
As casas estão destelhadas,
Seus muros avermelhados.
Germens se espalham por suas ruas e
praças,
e as paredes estão salpicadas de miolos.
As águas estão rubras, tintas (de
sangue),
E quando a bebemos,
é como se bebêssemos água salgada.
Nos puseram preço.
Preço de jovem, de sacerdote,
De criança e de donzela.
Basta: o preço de um pobre
Era um punhado de milho,
Somente dez tortas de insetos;
Vinte tortas de grama salgada,
Este era o nosso preço.
Ouro, jade, ricas mantas,
(...) tudo isso é precioso.
Nada foi levado em conta.
Chorai, amigos meus,
Compreendi que com estes fatos
Perdemos a Nação Mexicatl.
A água azedou, se azedou a comida.
Isto é o que nos fez Tlatelolco,
O doador da vida.
In: PORTILLA, Miguel Leon. Visión de los Vencidos: Relaciones
Indígenas de La conquista. México, UNAM, 1989.
O texto acima consiste num ―poema-lamentação‖ escrito à época da conquista
espanhola no México. Nele tem-se a denominada ―visão dos vencidos‖ mencionando o
sentido da conquista para os povos indígenas. Esse poema tem autoria desconhecida e
revela a incompreensão dos astecas em relação à violência praticada contra eles. Nessa
perspectiva quais trechos do poema revelam a perplexidade do autor diante da violência
come-tidas pelos espanhóis.
3. Explique a frase a seguir, levando em conta o que estudamos neste capítulo.
―As sociedades maia, inca e asteca eram sociedades revestidas de um caráter sagrado;
a religião participava intimamente da vida cotidiana dos povos. Todas as funções
dirigentes ganhavam legitimidade graças ao ritual religioso que os cercava.‖
PEREGALLI, E. A América que os europeus encontraram.
4. (UNICAMP-SP)
a) A respeito dos astecas, comente as características urbanas de Tenochtitlán.
b) Por que foi fundamental para os espanhóis construir a Cidade do México sobre
Tenochtitlán?
5. (Fuvest-SP) A terra queimará e haverá grandes círculos brancos no céu. A amargura
surgirá e a abundância desaparecerá... Será o tempo da dor, das lágrimas e da miséria.
É o que está para vir. (Profecia maia).
Quais as formas de dominação, impostas pelos conquistadores espanhóis aos povos
indígenas da América, que mostram o cumprimento da profecia.
6. Como estavam organizadas as comunidades indígenas antes da chegada dos europeus?
Comente como ocorreram os primeiros contatos.
7. Faça uma descrição do processo da conquista, destacando na América espanhola.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE)Com relação às áreas Mesoamérica e Andina, no período colonial, é CORRETO
afirmar que os(a):
a) Maias se constituíram em um grande Império, chegando a ser comparado ao
Império Grego.
b) Astecas, do ponto de vista político, viviam sob um Conselho Supremo, muito
distante de um modelo de Monarquia.
c) maior parte das realizações artísticas das culturas andinas foram conservadas pelos
espanhóis.
d) espanhóis, à medida que penetravam no interior do continente, surpreendiam-se
com o alto nível de organização econômica, política e religiosa dos povos
ameríndios.
e) emancipação das colônias espanholas significou a libertação do povo de Tupac.
2. (UPE) O mundo moderno fez crescer os desejos de liberdade e provocou muitas lutas
políticas até mesmo fora da Europa. A conquista dos povos da América
I. trouxe a abertura de mercados e novas ideias de mundo, sem o uso da violência e da
força política.
II. modificou, de imediato, a vida dos países conquistadores, tornando-os potências
internacionais e imbatíveis.
III. fortaleceu a Igreja Católica, mantendo seu poder religioso em toda a América, sem
oposições de outros grupos.
IV. consolidou o capitalismo já no século XVI, com a afirmação da mão de obra
assalariada e o fim da escravidão europeia.
V. facilitou o contato entre povos de culturas diferentes, baseado na supremacia dos
valores europeus.
Somente está correto o que se afirma em:
a) I, III, IV e V.
b) I e V.
c) II, III e V.
d) V.
e) I, II e V.
3. (PUC-PR) Como conseqüência dos descobrimentos marítimos, grandes quantidades de
ouro e prata foram levadas para a Europa pelos espanhóis, originários de obras de arte
e minas de povos vencidos, principalmente dos:
a) tupis e guaranis.
b) charruas e fueguinos.
c) araucanos e charruas.
d) pueblos e seminoles.
e) incas e astecas.
4. (UFC-CE) Recentemente, Alejandro Toledo foi eleito presidente do Peru. Durante a
campanha eleitoral, foi chamada de ―Pachacútec‖, numa alusão ao imperador incaico que
consolidou um império nos Andes centrais. Sobre a sociedade incaica, é correto afirmar
que:
a) o fato de constituir um das mais significativas sociedades pré-colombianas tem como
base a negação da cultura dos povos dominados.
b) A sua economia tinha por base a agricultura, com a distribuição de terras pelo Estado
e a prática do sistema de regadio.
c) O que diferenciava das demais culturas pré-colombianas era a idéia de uma
sociedade igualitária.
d) O comércio interno era significativo, tendo no guano um dos produtos mais
valorizados.
e) A sua cultura desapareceu com o processo da dominação espanhola.
5. (UFSM-RS) ―Os guerreiros constituíam um dos grupos mais importantes na sociedade
asteca. No início, eram escolhidos entre os indivíduos mais corajosos e valentes do
povo. Com o tempo, entretanto, a função de guerreiro começou a ser passada de pai
para filho, e apenas algumas famílias, privilegiadas, mantiveram o direito de ter
guerreiros entre seus membros.‖
KARNAL, Leandro. A conquista do México. São Paulo: FTD, 1996.p 13.
O texto faz referência à sociedade asteca, no século XV, a qual era:
a) guerreira e sacerdotal, formada de uma elite política que governava com tirania a
massa de trabalhadores escravos negros.
b) igualitária e guerreira, não reconhecendo outra autoridade senão a sacerdotal,
que também era guerreira.
c) comunal, com estruturas complexas, sendo dirigida por um Estado que contava
com um aparelho administrativo, judiciário e militar.
d) hierarquizada e guerreira, visto que o imperador era, ao mesmo tempo, o general
do exército asteca e o sumo pontífice sacerdotal.
e) igualitária, guerreira e sacerdotal: todo guerreiro era um sacerdote e todo
sacerdote era um guerreiro.
6. (ADIVISE) Das sociedades indígenas pré-colombianas que viviam no continente
americano, destacam-se a dos incas, a dos maias e a dos astecas, que se
diferenciaram das demais por serem sociedades sedentárias e agrícolas, sendo
consideradas como civilizações ou sociedades de alta cultura. Em relação à cultura
desses povos, marque a afirmativa incorreta:
a) Por meio de guerras, os astecas dominaram um grande território e inúmeros
povos, que pagavam impostos ao seu rei. Para garantir as boas graças dos
deuses, sacrificavam os prisioneiros de guerra, adquirindo com isso uma
estabilidade social.
b) A sociedade maia era constituída por centenas de centros cerimoniais autônomos.
Os maias acreditavam que cada dia e cada mês eram regidos por uma divindade.
Para apaziguar os deuses, erguiam pirâmides e realizavam sacrifícios humanos.
c) Os ameríndios receberam os espanhóis com grandes honras, presentes e festas,
pois acreditavam que seu deus mítico havia retornado. Depois, ao perceberem
que os espanhóis não eram deuses, os expulsaram por algumas vezes.
d) Os incas impuseram a todos os povos dominados a sua religião, na qual o deus
sol, representado pelo rei, era o mais importante nos rituais e cerimônias. Seu
idioma era quíchua e todos deveriam conhecê-lo e praticá-lo. Além disso, havia
um sistema numérico de nome quipo compartilhado por todos.
7. (UFPB) Antes da chegada dos europeus ao continente americano, os seus
habitantes vivenciavam estágios diferentes de desenvolvimento. Sobre esses
estágios, analise as afirmativas abaixo.
I. As tribos mais numerosas, no Brasil, pertenciam ao tronco lingüístico tupiguarani, praticavam a agricultura, mas não conheciam os metais, à exceção do
ouro.
II. Os Astecas absorveram os conhecimentos de outras culturas, como a dos
Olmecas e a dos Maias, formando uma sociedade hierarquizada, com uma
agricultura sofisticada.
III. Os Incas notabilizavam-se pelo uso da roda e da escrita, pela prática do monoteísmo e pelas relações de igualdade entre todos os seus membros.
Está(ão) correta(s) apenas:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
8. (COVEST) A colonização dos povos da América envolveu conflitos culturais e embates
militares expressivos. Com relação à conquista dos astecas, feita pelos espanhóis,
podemos afirmar que:
a) a atuação militar dos espanhóis foi que decidiu a derrota dos astecas, devido à
fragilidade do seu exército e à sua desorganização política.
b) a grandiosidade dos astecas impressionou os conquistadores espanhóis, sobretudo, o
comandante Fernão Cortez.
c) apesar de sua riqueza, os astecas não tinham conquistas culturais que impressionassem os europeus; eram apenas bons artesãos.
d) a vitória de Cortez expressou, na época dos grandes descobrimentos, a força
imbatível do exército espanhol, aliado dos portugueses na colonização da América.
e) essa conquista trouxe riquezas para o conquistador Fernão Cortez, rico comerciante
de minérios da época; contudo, as vantagens para o domínio espanhol na América
foram insignificantes.
9. (UFOP) Sobre as culturas pré-colombianas Asteca e Inca, é incorreto afirmar:
a) Entre os Astecas, os membros da comunidade pagavam ao Estado três tipos de
tributo: o serviço militar, o trabalho pessoal nas cidades e o tributo em espécie.
b) Diferentemente dos Astecas, os Incas não estabeleceram sistemas tributários
sobre as populações do Império.
c) Os Incas formaram o Império mais vasto de toda a América pré-colombiana, que
incorporava centenas de grupos étnicos, culturais e linguísticos.
d) A unidade social básica, tanto entre os Incas, como entre os Astecas, era a
comunidade aldeã.
10.(UPE) As conquistas coloniais abasteceram a Europa com novos produtos, mas também
fez o chamado mundo antigo conhecer outras sociedades e outros feitos humanos. Na
América, os incas:
a) tinham um grande império, no qual havia liberdade política, semelhante à
democracia dos tempos de Atenas.
b) possuíam grandes riquezas econômicas, contudo sem haver organização
administrativa para expandi-las.
c) conseguiram dominar vários povos, formando um império poderoso e organizado
administrativamente.
d) localizaram-se numa região rica em ouro e prata, próxima do México que facilitou
sua aliança com os astecas.
e) habitavam a região amazônica apresentando um sistema de governo descentralizado
e ricas minas de ouro.
11.(IPAD) Os descobrimentos marítimos aproximaram culturas diferentes e dinamizaram o
comércio europeu. A colonização das terras conquistadas se deu com o uso:
a) das tropas militares, sem práticas mercantilistas para suas atividades comerciais.
b) da violência contra os conquistados, mas também com a ajuda da Igreja.
c) de uma pedagogia religiosa que condenava a escravidão do índios.
d) da força da nobreza da França e da Inglaterra, sem a presença da burguesia.
e) das tropas militares dos países mais poderosos, sem a participação da nobreza.
12.(FUNCAB)Os Tupinambás, no entender dos lusos, ―usavam de bestialidades mui
estranhas‖: pedras ou ossos nos beiços, por exemplo, vivendo como ―alimárias
montesas‖, ou seja, como animais. O fato deles não possuírem nem fé, nem lei, nem
rei (...) transformou-se aos poucos em justificativa para desprezá-los. Pior ainda, o
canibalismo, registrado primeiramente por Américo Vespúcio, fez de muitos grupos
tribais o símbolo por excelência da barbárie. (Mary del Priore; Renato Pinto Venâncio. O livro de ouro da
história do Brasil, 2001.)
Infere-se do texto que:
a) ao aportarem na América, os europeus encontraram outras sociedades e culturas, já
citadas na Bíblia, mas consideradas extintas.
b) a catequese pretendia cristianizar os Tupinambás por intermédio da correspondência
entre os deuses indígenas e os santos católicos.
c) os europeus, guiados pelos preceitos renascentistas, encaram os indígenas como
crianças, que mereciam apoio, proteção e educação.
d) os indígenas encontrados pelos portugueses não despertaram atenção e curiosidade,
pois não possuíam reservas de ouro e prata.
e) por encarar o outro a partir de seus próprios valores, o olhar europeu só foi capaz de
julgar os índios a partir da diferença e da falta.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
Visão do Paraíso. HOLANDA, Sérgio Buarque de. São Paulo: Companhia editora
Nacional/USP,1969.
A América que os europeus encontraram. PEREGALLI, E. São Paulo: Atual, 1994.
Américas Antigas: as grandes civilizações.SAUNDERS, Nicholas J.Tradução de Ana
Paula B. da Silva. São Paulo: Madras, 2005.
Os índios norte-americanos. Cinco séculos de luta e opressão. SOLA, J.A. São Paulo:
Moderna, 1995.
Tristes Trópicos: Perspectivas do homem.LÉVI-STRAUSS, Claude. Ed. 70 Melati, Julio
Cézar. Índios do Brasil. Brasília, Coordenada, 1972
Cinema
Apocalypto
Direção de Mel Gibson. Estados Unidos, 2006. 139 min.
Um homem é capturado para ser sacrificado, em nome da prosperidade do
império maia. Ele consegue fugir e tenta voltar para casa o mais rápido
possível, para salvar sua família. Dirigido por Mel Gibson (Coração Valente).
Sites
Enciclopédia de Artes Visuais
Site disponibiliza informações sobre a iconografia e a literatura produzidas por viajantes estrangeiros
no decorrer dos séculos XV a XIX.
Disponível em: www.itaucultural.org.br
As colonizações espanhola, inglesa,
francesa e holandesa
O Sistema de Colonização
A conquista e a ocupação do ―Novo Mundo‖ foi estruturada nos interesses
metropolitanos, ou seja, a colonização foi utilizada como instrumento para atender os
anseios da monarquia e da burguesia comercial. Nesse sentido, a principal função das
colônias era produzir riquezas por intermédio da extração dos recursos naturais (ouro,
prata, madeira) e das atividades agrárias (plantação de cana-de-açúcar, algodão). Essa
exploração colonial era decorrente da prática do mercantilismo e ficou conhecida como
sistema colonial. Segundo os princípios desse sistema, a colônia deveria fornecer seus bens
naturais e produzir matérias-primas para as metrópoles. Somado a isso, a colônia era
obrigada a limitar suas atividades manufatureiras, pois só poderia consumir produtos
manufaturados vindos direto da metrópole. Desse modo, a colônia só existia para atender
os interesses metropolitanos.
Nessa estrutura, não havia espaço para acordo ou parcerias, apenas a subordinação da
colônia à metrópole, o que consolidava o pacto colonial. Cada metrópole (país colonizador)
tinha posse total de sua colônia, e apenas ela detinha a ‗legalidade‘ para desenvolver
atividades comerciais no território colonial (exclusivismo econômico).
Assim, a metrópole possuía a monopolização dos negócios coloniais, uma vez que
não era permitido o surgimento de competição e concorrência. Esse „exclusivismo
comercial‟ permitia à burguesia mercantil metropolitana a aquisição da maioria do lucro
produzida na colônia. Sobre essa característica o historiador Fernando Novais afirmou:
―É o regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o elemento essencial
desse mecanismo (do Antigo Sistema colonial mercantilista). Reservando-se a exclusividade
do comércio com o Ultramar, as metrópoles europeias na realidade organizavam um quadro
institucional de relações tendente a promover necessariamente um estímulo à acumulação
primitiva de capital na economia metropolitana a expensas das economias periféricas
colônias‖.
As regiões coloniais eram propriedades do Estado colonizador, que a explorava de acordo
com as suas necessidades. Geralmente, foram concedidas ou doadas terras temporariamente ou definitivamente a colonizadores que tinham como obrigações explorar as
riquezas e repassar parte delas à metrópole. A enorme quantidade de riquezas extraída da
América foi fundamental para o acúmulo de capitais nas mãos das monarquias europeias e
também da burguesia mercantil. Essa concentração de capital (propiciado pelo tráfico
negreiro, pela exploração colonial, pelo protecionismo comerciais) colaborou decisivamente
para o encaminhamento da Revolução Industrial.
O processo de colonização na América também contribuiu para o surgimento de
sociedades como diversas bases culturais sob as influências espanhola, inglesa, francesa,
holandesa e portuguesa.
―A América é uma mulher... Pelo menos assim, ela aparece nas iconografias entre o século
XVI e XVIII; o ventre opulento, o longo cabelo amarrado com conchas e plumas, as pernas
musculosas, nus seios. (...) A representação assim construída pelos europeus traduzia um
discurso que tentava se impor como concepção social sobre o Novo Mundo: a América, como
uma bela e perigosa mulher, tinha que ser vencida e domesticada para ser melhor explorada.
A metáfora para a exploração do continente serviu, na prática, para ilustrar as relações de
gênero, no período da conquista.‖
PRIORE, Mary Del. Imagens da terra fêmea: A América e suas mulheres. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). América
em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
A formação dos primeiros núcleos de ocupação
O domínio e o processo de exploração espanhola se deu por intermédio do estabelecimento de núcleos de ocupação permanente. O ponto de partida foi a ilha de Hispaniola
(São Domingos). Milhares de espanhóis se deslocaram para essa região com o propósito de
explorá-la. Além disso, várias expedições de conquista foram organizadas com o destino às
atuais Cuba, Jamaica e Porto Rico. Entretanto, à procura compulsiva por metais preciosos
conduziram os espanhóis para colonização das terras continentais, reduzindo, consequentemente, as migrações ao Caribe.
Em 1509, foi instalado o segundo núcleo de ocupação na América central, mais
precisamente no istmo do atual Panamá. A ocupação dessa região foi essencial para os
anseios da Espanha, pois pela localização, o Panamá se transformara no epicentro da
colonização. No sentido norte, os espanhóis conquistam Costa Rica e Nicarágua, e, em
direção ao sul, entre 1525 e 1546, as terras das atuais Venezuela e Colômbia são ocupadas.
Foi dessa região, que os conquistadores saíram para dominar o Império Inca.
Fonte: DUBY, Georges. Atlas
historique. Paris: Larousse, 1987.
p.282.
Em 1517, no México, foi constituído o terceiro núcleo colonial. Entre 1519 e 1521, o
adelantado Hernán Cortez e um grupo de espanhóis dominaram a sede do Império Asteca.
A partir da ocupação, a região passou a ser denominada de Nova Espanha. Daí foram
organizadas expedições exploratórias em direção as atuais repúblicas de El Salvador,
Guatemala e Honduras. Houve também fluxos migratórios para as regiões do norte
(Califórnia e Texas).
O quarto núcleo de ocupação foi instalado no Peru, entre 1531 e 1533. Posteriormente,
foi iniciado o processo de colonização dos atuais Chile, Bolívia e Equador. Já na região da
Bacia do Rio da Prata (atuais Argentina, Paraguai), entre os anos de 1509 e 1559, foi
instalado o quinto núcleo de ocupação. Dessa maneira, paulatinamente, a presença
espanhola se consolidava. Documentos indicam que vieram para a América mais de 15.000
pessoas entre 1509 e 1559. Sabendo que, o número de migrantes clandestinos foi bem
mais elevado.
A colonização espanhola
A colonização da Espanha foi estruturada essencialmente na extração de metais
preciosos (ouro e prata) dos atuais territórios do México, Bolívia e Peru. O vasto Império
espanhol se estendia de Buenos Aires até a Califórnia. Fazia parte também do sistema
colonial espanhol, várias ilhas do Caribe, entre elas, Cuba. O principal objetivo da Coroa
espanhola era manter o controle sobre a comercialização dos recursos minerais explorados
desde a fase da conquista.
―(...) A partir de meados do século XVI, o poder nas colônias tendeu a mudar de mãos,
passando dos conquistadores aos funcionários da máquina estatal. A alteração foi profunda,
pois expressou a afirmação do poder metropolitano nos territórios americanos.‖
VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p.88-89.
O Estado espanhol se preocupava também em criar uma estrutura burocrática que
pudesse garantir uma maior arrecadação tributária e consequentemente, visava evitar a
sonegação de impostos. Tais procedimentos eram fundamentais para manter o projeto de
colonização. Simultâneamente, foi coibida a escravização indígena, atividade comum na
época da conquista, entretanto, estabeleceu-se o trabalho obrigatório.
Nesse sentido, o monopólio comercial (exclusivismo comercial) foi sistematizado o que
garantiu uma elevada transferência de riquezas das colônias para a metrópole. A
consolidação do domínio espanhol sobre suas colônias ocorreu, progressivamente, por
intermédio do estabelecimento dos vice-reinos e das audiências.
Dessa maneira, entende-se que a construção do sistema colonial da Espanha ocorreu
após um longo processo de desorganização social e cultural dos índios americanos. Os
mecanismos de organização usados pelos espanhóis eram estruturas políticoadministrativas complexas. Assim, foram criados diversos órgãos: os metropolitanos (poder
deliberativo) e os coloniais (poder executivo).
Organização político-administrativa da América Espanhola
Em 1535, foi criado o vice-reinado da Nova Espanha, com capital na cidade do
México. Posteriormente surgiu o Vice-Reinado do Peru (1543) que correspondia a atual
região do Peru e parte da Bolívia. No século XVIII, criou-se o vice-reino da Nova Granada
(1717). Com sua capital em Bogotá, seus territórios englobavam, o que compreende
atualmente, o Panamá, à Colômbia e o Equador. Em 1776, surgiu o Vice-Reino do Rio da
Prata, formado pelos atuais Paraguai, Argentina, Uruguai, parte da Bolívia e Argentina.
Como pertenciam à alta nobreza, os vice-reinos representavam na colônia os anseios do rei
espanhol. Essas instituições controlavam as minas, supervisionava a catequização dos
índios, presidiam as reuniões das Audiências. Subordinados aos vice-reinos foram estruturadas algumas unidades de menor relevância, as denominadas capitanias gerais (Chile,
Venezuela. Guatemala e Cuba).
Durante o século XVI, o governo espanhol aperfeiçoou as estruturas políticoadministrativas no ―Novo Mundo‖. A principal intenção da Coroa espanhola era tomar posse
definitiva do seu extenso império. A partir de então, muitos adelentados foram sendo
substituídos pelos magistrados. Foram criadas as Audiências, instalados nos principais
centros econômicos das colônias, eram responsáveis pelas questões administrativas, fiscais
e judiciárias. As Audiências estavam subordinadas ao Real e Supremo Conselho das
Índias (sede em Servilha), instituído em 1524, cuja competência consistia em centralizar a
legislação e administração das colônias espanholas americanas. Além disso, tinha poder
para nomear funcionários coloniais e a tutela sobre os ameríndios.
As Audiências exerciam suas funções como tribunais, os quais estavam subordinados
diretamente ao Real e Supremo Conselho das Índias. Como possuíam diversas
competências fiscalizadora, judiciária e administrativa, as Audiências se tornaram poderosas
instituições nas colônias espanholas.
Em nível local, foram instituídos os Cabildos (―câmaras municipais‖), cujas atribuições
eram recolher impostos regionais e aplicar as normas jurídicas nas vilas e nas cidades. Eles
eram formados por pessoas nascidas nas próprias colônias e por filhos de espanhóis
nascidos na América. Os integrantes dos Cabildos constituíam a elite colonial, denominada
de criollos (proprietários de minas, de terras e grandes comerciantes). O alcaide presidia
os cabildos e os seus componentes eram chamados de regidores.
É importante mencionar, que apenas os Cabildos podiam ser ocupados por indivíduos
nascidos na América. Os restantes dos cargos da administração colonial eram destinados
exclusivamente para os nascidos na Espanha, os Chapetones ou guachupinos. Os
inúmeros privilégios concedidos a esse grupo no exercício dos cargos políticos e
administrativos tornaram-se elementos fundamentais para o desencadeamento das lutas
pela independência, lideradas pelos criollos, no início do século XIX.
Rede burocrático-administrativa da América Hispânica
Casa de
Contratação
(1503)
Responsável pelas questões jurídicas, econômicas nas colônias.
Regularizava as atividades comercias e fiscalizava a entrada e saída de
metais preciosos.
Conselho das
Índias (1524)
Principal órgão da administração colonial. Nomeava e fiscalizava os
funcionários coloniais, além de ser responsável pela defesa militar.
Vice-Reinados
Para controlar melhor as colônias, a Coroa Espanhola descentralizou a
administração em quatro Vice-reinados: da Prata, do Peru, de Nova
Granada e Nova Espanha.
Capitanias
Divisões administrativas dos vice-reinados.
Audiências
Tribunais judiciários, atuando, também na fiscalização das ações
administrativas.
Cabildos
Órgão semelhante às câmaras municipais. Era responsável pela
administração local.
Organização econômica das colônias hispânicas
Essencialmente, o que impulsionou os colonizadores espanhóis foi os ‗sonhos dos
dourados‘, ou seja, a exploração econômica seguia os princípios mercantilistas: as colônias
teriam que complementar as economias metropolitanas, com o fornecimento de metais
preciosos.
Logo após o início da colonização, os espanhóis passaram a utilizar o trabalho escravo
indígena, principalmente o das mulheres, que extraíam o ouro aluvião de rios na América
Central e nas Antilhas. Na metade do século XVI, os conquistadores descobriram minas e
prata em Potosí (Bolívia). A partir de então, a extração metálica se tornou a principal
atividade na economia da América hispânica, o que propiciou uma intensa ocupação das
regiões mineradoras. A cidade de Potosí, no apogeu da extração de prata (1590-1600),
chegou a ter em torno de 150 mil habitantes.
Sob o ponto de vista jurídico, as minas não eram propriedades particulares. O subsolo
pertencia à Coroa espanhola. No entanto, os mineradores recebiam concessões para
explorar. Posteriormente, foram introduzidos novos equipamentos na extração dos metais
no fundo das minas, como isso exigia investimentos elevados, os pequenos e médios
extrativistas foram excluídos, deixando, assim, a exploração metálica para os grupos
financeiros aristocráticos.
O sistema de trabalho adotado nas atividades mineradoras foi o repartimiento de
índios, conhecido como cuatéquil no México e mita nas regiões andinas. Com a proibição da
escravização indígena, em 1542, os espanhóis passaram a empregar a mão-de-obra nativa
por intermédio do trabalho compulsório. Assim, o repartimiento consistia no trabalho obri-
gatório e temporário realizado nas minas e nos locais de beneficiamento do minério.
Geralmente, a seleção dos índios ocorria através de um sorteio. Após a escolha, os
indígenas passavam a exercer suas atividades em regiões com péssimas condições de
trabalho, em troca, recebiam baixíssimos salários. Com o tempo, além da remuneração,
passaram a ganhar o partido (parte da produção da extração metálica). Posteriormente,
com o declínio das comunidades ameríndias, o trabalho livre substituiu o repartimiento.
A mita consistia numa forma de trabalho compulsório usada notadamente nas regiões
mineradoras do Peru e da Bolívia. Constituía uma modalidade de mão-de-obra tipicamente
Inca. Durante o Império Inca, ela caracterizava-se pela mobilização, em caráter rotativo, de
certo número de trabalhadores que deveriam prestar serviços gratuitos ao Estado Incaico.
Esses trabalhadores eram enviados pelas aldeias que estavam sob o domínio do Império.
Nessa perspectiva, os conquistadores se beneficiaram dessa forma preexistente de
trabalho compulsório para iniciar a dominação. Nesse momento, as aldeias indígenas
passaram a enviar trabalhadores (os mitayos), que exerciam suas funções nas minas de
Potosí durante o dia todo com, cerca de 5 mil pessoas em cada um dos turnos.
Já nas minas de prata da região de Zacateca, norte do México, foi instalado o cuatequil.
Esse sistema de trabalho era semelhante ao implantado em Potosí, ou seja, consistia na
utilização da mão-de-obra indígena. Estabelecido em 1512, a encomienda („recomendar‟) apresentou uma modalidade particular de repartimiento.
O encomendero responsabilizava-se em assegurar a educação cristã a tribos inteiras de
índios, as quais eram confiadas aos colonizadores que passavam a ter, a sua disposição,
trabalhadores para a execução de atividades agrícolas e mineradoras. Nesse processo, os
índios também eram deveriam pagar tributos em espécie.
A encomienda era concedida pela Coroa e só podia ser transferida por até duas gerações
à do beneficiário. Os encomederos eram proibidos de tomar posse das terras tribais. No
entanto, na prática isso fugiu do controle das autoridades. Segundo historiadores, a
encomienda e o repartimiento foram um dos responsáveis pelo grande massacre das
populações indígenas.
Códice Kingsborough: um encomendero abusa de um índio
Os encomederos foram severamente criticados por leigos e eclesiásticos, dada a
tamanha violência com tratavam os nativos. O dominicano Bartolomeu de Las Casas
(1474-1566), o mais árduo defensor dos indígenas, assim comentou:
―Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se têm na conta de cristãos) usaram
de duas maneiras gerais e principais para extirpar a face da terra aquelas míseras nações.
Uma foi a guerra injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar todos aqueles que
podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em recobrar a liberdade ou subtrair-se aos
tormentos que suportam, como fazem todos os Senhores naturais e os homens valorosos e
fortes; pois comumente na guerra não deixam viver senão as crianças e as mulheres: e
depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a que jamais tinham submetidos
homens ou animais.‖
LAS CASAS, Frei Bartolomeu de. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias(1552).
Porto Alegre: L&PM, 2001.
De acordo com o historiador Ciro Flamarion, as encomiendas:
―em que, como prêmio do esforço de conquista, a alguns dos conquistadores fossem
confiadas (entregues ‗em encomenda‘) comunidades indígenas que ficariam sob sua
responsabilidade em matéria de catequese e defesa; em troca, o encomendero poderia exigirlhes tributos em gêneros e prestações de trabalho.‖
CARDOSO, Ciro F. S. O Trabalho na América Latina Colonial. São Paulo: Ática, 1985, p.40.
A extração de metais preciosos nas colônias espanholas atingiu números expressivos. O
historiador francês Pierre Chaunnu afirmou que entre 1503 e 1660 foram produzidos,
aproximadamente, 25 milhões de quilos de prata. Vale salientar, que as atividades
comerciais nas regiões próximas de extração mineral foram bastante intensas, uma vez que
tornou-se necessário o abastecimento às populações nas proximidades dos núcleos
mineradores. Esse dinamismo gerado pelo abastecimento de mercados gerou um
considerável comércio entre as regiões do Chile, Paraguai e Argentina, os quais distribuíam
produtos agrícolas e gado. Desse modo, houve um desenvolvimento expressivo nas regiões
localizadas ao norte de Buenos Aires, cuja economia era pautada, principalmente, pela
pecuária extensiva.
O comércio entre as colônias e a metrópole realizava-se entre os portos americanos
(Vera Cruz, no México; Havana, em Cuba; Cartagena, na Colômbia; Porto Belo, no Panamá)
e o porto fluvial de Sevilha, na Espanha. Essa transação se enquadrava no sistema de
portos únicos e galeões que era subordinado ao Real e Supremo Conselho das Índias.
No início do século XVII, a atividade mineratória começa a entrar em declínio. Um dos
motivos que explicam essa situação é a impressionante e drástica diminuição de
trabalhadores nas minas provocada pela elevada mortandade dos nativos. Observe os dados
da tabela, abaixo, que faz alusão a população indígena no México:
População indígena do México (em milhões de habitantes)
1519
1532
1548
1568
1580
1595
1605
25,3
16,8
6,3
2,6
1,9
1,3
1,0
Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira.
Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, 1997. p.39.
Simultaneamente ao declínio da extração metálica, desenvolveu-se, em algumas
regiões, como nas Antilhas, uma agricultura que cultivavam produtos tropicais e
subtropicais voltados para a exportação denominada de hacienda („fazenda‟).
Esse sistema era estruturado no plantation: propriedade latifundiária, prática da
monocultura e utilização do trabalho escravo de procedência africana. As haciendas também
se caracterizavam pela maneira autoritária com que o proprietário coordenava as atividades
agrícolas e a vida daquelas que dependiam dele economicamente. A concentração de terras
fortaleceu a elite criolla que possuía a maior parte das propriedades rurais.
As principais regiões que ocupadas pelas haciendas foram: América Central (produção
de índigo, El Salvador), Antilhas e México (açúcar), América do Sul (algodão, Peru). É
importante enfatizar, que poucos territórios da América Espanhola utilizaram o sistema de
escravidão africano. As colônias hispânicas, no geral, usaram em suas áreas de trabalho um
percentual que se aproximou dos 10% de mão-de-obra africana. A exceção foi Cuba, que
devido a expansão dos seus ingenios (engenhos), a partir da segunda metade do século
XVIII, introduziu na produção açucareira, entre 1774 e 807, uma quantidade muito grande
de escravos africanos.
A colonização inglesa
No começo do século XVII tem início a colonização inglesa nos territórios que, de
acordo com o Tratado de Tordesilhas pertenciam à Espanha. Os espanhóis organizaram
algumas expedições em regiões dos atuais Estados Unidos. Porém, a aparente inexistência
de metais preciosos, o clima temperado da América do Norte e a extração de metais
preciosos no eixo México-Peru inviabilizaram para os espanhóis a colonização daquelas
áreas.
Inicialmente, os ingleses marcaram presença na região através de algumas expedições
marítimas, as quais objetivavam encontrar uma passagem para Ásia por intermédio das
áreas do extremo da América do Norte. Embora, não tenham alcançado êxito, essas viagens
em conjunto com as práticas da pirataria, possibilitaram aos aventureiros ingleses um
conhecimento do litoral norte do Atlântico.
Apesar das tentativas de ocupar essas regiões em fins do século XVI, foi só a partir do
início do século XVII que se efetivou o processo de colonização. Em 1607, foi fundada a
primeira colônia, Virgínia. Após receber concessões do Estado, a Companhia de Comércio de
Londres lançou a iniciativa de fundar essa colônia. O principal interesse da companhia era
estruturar uma produção agrícola que pudesse abastecer o mercado europeu. Diversas
outras companhias de comércio também lançaram no processo de colonização, fundando
novas colônias nas áreas costeiras.
―Os primeiros colonos ingleses desembarcaram na América em 1607, onde fundaram a
colônia da Virgínia, que não prosperou e foi abandonada. Entretanto, veja qual foi a
impressão de John Smith: ‗Nunca o céu e a terra se combinaram em parte alguma numa
harmonia mais perfeita para proporcionar ao homem um lugar para sua habitação‖.
HOCKET, Homer C. Political and social history of the United States (1492-1828). Nova York: Macmillan, 1925.
Por volta de 1620, algumas famílias a bordo do navio Mayflower saíram da Inglaterra
com destino à América. Membros da pequena burguesia, artesãos, camponeses, pequenos
proprietários rurais e comerciantes integravam essas famílias.
Por serem calvinistas, essas pessoas foram perseguidas pela doutrina religiosa oficial da
Inglaterra, o anglicanismo. Desse modo, muitos puritanos (calvinistas) vieram para a
América por causa de questões religiosas.
Nesse sentido, algumas colônias foram
instituídas a partir de incentivos particulares, ou seja, coordenadas por refugiados políticos
e religiosos. No mesmo ano de desembarque ao continente americano, os puritanos
fundaram a colônia de Massachusetts, dando início a colonização da denominada Nova
Inglaterra.
A formação das treze colônias
Graças a incentivos de particulares, foram formadas, na América do Norte, o conjunto
de 13 colônias. Podemos analisá-las, distribuindo em três agrupamentos: ao norte, as
colônias chamadas de Nova Inglaterra (Massachussetts, New Hampshire, Connecticut e
Rhode Isaland); ao sul, foram fundadas Geórgia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do
Sul e Virgínia; já o centro era formado por Nova Iorque, Nova Jérsei, Pensilvânia e
Delaware.
As colônias do norte eram formadas por pequenas propriedades rurais que produziam
diversos produtos, com a utilização do trabalho familiar e mão-de-obra assalariada. Foi
utilizada também, em grande número, a mão-de-obra dos denominados ‗servos de
contratos‘. Estes constituíam camponeses expropriados e expulsos das regiões comunais
devido ao processo de cercamentos em andamento na Inglaterra. Como eles não tinham
condições de custear os gastos da viagem, assinavam um contrato de trabalho com
duração, no geral, de seis anos. Esse acordo afirmava que o camponês deveria prestar
serviços em terras do proprietário que havia custeado todas as despesas de deslocamento.
Essa situação se configurava como uma servidão por dívida (indentured servant).
As colônias nortistas desenvolveram a agricultura de subsistência, tendo destaque o
cultivo de cevada, centeio e alfafa. Nessa região, também foram instalados os engenhos
hidráulicos para a moagem de milho e trigo. Os produtos excedentes e manufatureiros
atendiam à demanda dos mercados locais. Além da policultura, houve a prática da pecuária
(gado bovino e ovino), que incrementou a produção de carne, banha e têxtil. Outras
atividades econômicas importantes desenvolvidas na Nova Inglaterra foram a pesca
(bacalhau, cavala, salmão e arenque), a construção naval e a fabricação do rum.
Nessa região, desenvolveu-se um conjunto de relações mercantis que envolvia os
colonos da Nova Inglaterra ( ou até mesmo as do centro), as Antilhas(colônias inglesas e
francesas) e a África. Chamado de ‗comércio triangular‟ ou ‗triângulos comerciais‟.
Esse rico comércio consistia basicamente na compra pelos colonos do norte de açúcar e
melaço vindos das Antilhas. Por sua vez, os nortistas transformavam o melaço em rum, o
qual era transportado por navios da Nova Inglaterra e negociado no mercado africano.
Como tinha boa aceitação comercial na África, trocava-se o rum por escravos. Nesse
processo, os escravos obtidos nessas negociações eram destinados às fazendas antilhanas,
às colônias do sul e também ao mercado da Europa. Posterior a distribuição de escravos, os
navios retornavam às colônias nortistas com mais açúcar e melaço. Através do comércio
triangular, os colonos também levavam para o mercado europeu várias mercadorias, tais
como peixe seco, açúcar, melaço e frutas. Dos países europeus, os colonos adquiriam
produtos manufaturados que eram comercializados na Nova Inglaterra.
Essa relativa liberdade comercial da Nova Inglaterra e das colônias do Centro, a qual
rompia com o monopólio metropolitano, pode ser entendida pela situação vivenciada na
Inglaterra no século XVII. Na época, a Coroa Inglesa passou por muitas convulsões
políticas, marcadas por vários conflitos entre a monarquia e o parlamento. Os interesses
estatais e burgueses em relação ao mercado oriental, somado com a crise política do século
XVII, são fatores que provocaram um desinteresse da metrópole em relação às suas
colônias.
―A colonização de povoamento que se inicia na América no século XVII constitui, portanto,
seja uma operação com objetivos políticos, seja uma forma de exploração de mão-de-obra
europeia que um conjunto de circunstâncias tornara relativamente barata nas Ilhas
Britânicas. Ao contrário do que ocorrera com Espanha e Portugal, afligidos por uma
permanente escassez de mão de obra quando iniciaram a ocupação da América, a Inglaterra
do século XVII apresentava um considerável excedente de população, graças às profundas
modificações de sua agricultura no século anterior. Essa população, que abandonava os
campos à medida que o velho sistema de agricultura coletiva ia sendo eliminada, e em que as
terras agrícolas eram desviadas para a criação de gado lanígero, vivia em condições
suficientemente precárias para submeter-se a um regime de servidão por tempo limitado,
com o fim de acumular um pequeno patrimônio. (...)
O início desta colonização de povoamento no século XVII abre uma etapa nova na história
da América. Em seus primeiros tempos essas colônias acarretam vultosos prejuízos para as
companhias que se organizam. Particularmente grandes são os prejuízos das colônias que se
instalam na América do Norte.‖
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1987. p.21-23.
O surgimento das assembleias coloniais e a chamada ―negligência salutar‖ contribuíram
para o desenvolvimento da construção de um sentimento de independência política (selfgovernment). Assim, por essa série de razões (existência de manufaturas, autogoverno,
pequena propriedade e trabalho livre, além de outras razões), boa parte dos historiadores
usa o termo ―colônias de povoamento‖ em referência às colônias que integram a Nova
Inglaterra.
As colônias do Sul utilizavam o sistema de plantation(grandes fazendas) estruturado no
cultivo de tabaco, arroz, índigo e algodão voltado para o mercado exterior. Dessa forma, as
colônias sulistas se enquadravam no tradicional modelo do Antigo Sistema Colonial, uma
vez que sua economia era um complemento da metropolitana. Inicialmente, foi utilizado o
trabalho familiar e a servidão por contrato. Porém, rapidamente os latifundiários deram
preferências à mão de obra dos escravos africanos. A sociedade das colônias meridionais
foi marcada por intensas diferenças sociais e étnicas. A discriminação racial e a intolerância
adquiriram enormes proporções, tendo como maior exemplo a criação, no século XIX, da
sociedade secreta segregacionista Ku Klux Klan.
Localizadas entre a Nova Inglaterra e as colônias sulistas, os núcleos do Centro
foram os últimos a se formarem na América Inglesa. Essa região já havia sido explorada por
holandeses, franceses, alemães e suecos. As colônias centrais pode ser entendida como
uma fusão do dinamismo da Nova Inglaterra com a tolerância das colônias do sul. Desse
modo, podemos afirmar que houve grande diversidade étnico-cultural dada a presenças de
vários grupos sociais na região. As principais atividades comerciais nessas colônias foram:
manufaturas têxteis e metalúrgicas, a criação de gado, agricultura (trigo, cevada, centeio e
aveia) desenvolvida em pequenas e médias propriedades.
As colonizações francesa e holandesa
Nas regiões do atual Canadá, os franceses fundaram suas colônias. As regiões dominadas
pelos colonizadores franceses se estenderam pelo interior do continente americano, por
causa dos caçadores de pele e dos missionários. Em linhas gerais, o território colonial da
França foi constituído por uma extensa área pouco povoada.
Além da América do Norte, a França também formou colônias nas Antilhas, cuja
exploração se estruturava no sistema de plantation. Além disso, os franceses conquistaram
a região das Guianas e invadiram o Brasil, criando instalações no Rio de Janeiro (1555) e no
Maranhão (1612).
Já os holandeses, como não haviam ocupados regiões do continente americano,
passaram um bom tempo sem fundar colônias. Porém, eles foram atuantes nas atividades
coloniais através dos financiamentos concedidos à produção agrária e ao tráfico negreiro.
Entre 1630 e 1654, os holandeses ocuparam o Nordeste do Brasil, desenvolvendo, em fins
do século XVII, uma bem-sucedida produção açucareira nas Antilhas, também sob a égide
do sistema de plantation.
TEXTO COMPLEMENTAR
Educação nas colônias: primeiras escolas e universidades
A colonização britânica na América do Norte foi feita em boa parte por grupos
protestantes. Esses grupos, como vimos, consideravam indispensável que todas as
pessoas conhecessem a Bíblia. Ora, para isso, era preciso que todos aprendessem a ler.
Os colonos protestantes fundaram então muitas escolas de alfabetização. Essas escolas
eram mantidas pela própria comunidade, que pagava inclusive o salário do professor.
Isso ajuda a explicar por que, durante os séculos XVII e XVIII, os índices de analfabetismo nas Treze Colônias estavam entre os menores do mundo.
Além das escolas de ensino básico, os colonos fundaram também universidades. Para
ser admitido numa delas, o candidato devia saber interpretar obras de autores clássicos
no original, em latim ou grego, conhecer a Bíblia com profundidade, saber aritmética e
levar a vida sem vícios. O estudo da Bíblia era matéria obrigatória em todos os cursos
dessas universidades, que tinham entre seus principais objetivos a formação de líderes
religiosos (pastores e pregadores) para as comunidades.
Entre as mais conceituadas universidades norte-americanas fundadas nos tempos
coloniais, está a Universidade de Harvard, criada em 1636 em Massachussetts.
Harvard começou com um único professor e apenas nove alunos, dos quais a maioria
abraçou o ofício de pastor. Um texto de 1643 dizia que esta universidade estava sendo
criada (...) para avançar o saber e perpetuá-lo para a posteridade, com a preocupação
em não permitir que pastores mal preparados trabalhem em nossas igrejas.
Extraído do site oficial da Harvard Universty: www.harvard.edu.
Hoje Harvard é uma das universidades mais prestigiadas do mundo, atraindo
pesquisadores e estudantes de todos os continentes. A instituição oferece vários cursos em
diversas áreas das ciências humanas, exatas e biológicas. Os cursos em Harvard são caros,
porém s estudantes carentes com bom desempenho recebem bolsas de estudos. Após a
leitura do texto, comente a importância do processo educacional implantado nas Treze
Colônias e quais suas influências para o desenvolvimento dos Estados Unidos?
FAZENDO HISTÓRIA
1. (Fuvest-SP) Compare os sistemas de colonização adotados na América por Espanha e
Inglaterra.
2. (UFU-MG) Na colonização da América os espanhóis utilizaram-se de dois sistemas para
enquadrar o trabalho dos índios.
Dê o nome e explique como funcionava cada um desses sistemas.
3. (Fuvest-SP) O mundo grecorromano e o mundo ocidental moderno criaram colônias
ultramarinas e usaram o trabalho escravo. Indique as diferenças entre esses dois
períodos históricos no que se refere à colonização e à escravidão.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) ―Creio que por causa dessas obras ímpias, criminosas e ignominiosas,
perpetradas de modo tão injusto e bárbaro, Deus derramará sobre a Espanha sua fúria e
sua ira, porque toda a Espanha bem ou mal, teve o seu quinhão nas sangrentas
riquezas, usurpadas à custa de tanta ruína e extermínio‖.
Las Casas citado por Todorov. p. 29.
A citação de Las Casas é uma profecia de que dificilmente os países europeus
puderam escapar. Analise e assinale a alternativa correta.
a) A Espanha foi quem mais lucrou com as expansões marítimas, estando apta a entrar
na modernidade com todos os recursos oriundos da política metalista.
b) Embora a Espanha desempenhasse o papel principal na colonização, não esteve
sozinha no processo de destruição, trazendo consigo portugueses, franceses,
ingleses, holandeses, belgas, italianos e alemães que chegaram mais tarde.
c) A Espanha não destruiu tanto assim a América, pois em algumas partes deste
continente, como no Equador e no Peru, os povos indígenas ainda representam boa
parte da população.
d) Todo o ouro conquistado pela Espanha serviu para pagar as dívidas contraídas com
as Treze Colônias da América, que estavam necessitando de dinheiro para conquistar
sua independência da Inglaterra.
e) A Espanha não lucrou com o ouro extraído porque teve que dividir o território
conquistado com a Inglaterra e a França, que reivindicaram a parte norte da
América.
2. (COVEST) Uma conjugação de fatores possibilitou que as colonizações espanhola e
inglesa, na América, desenvolvessem sociedades profundamente diferentes. Assinale a
alternativa que indica tais diferenças.
a) A ausência de metais preciosos e a monocultura da cana-de-açúcar nas treze
colônias da América inglesa.
b) A tolerância religiosa na América espanhola e a diversificação de atividades agrícolas
na América Inglesa.
c) A negligência fiscal por parte da Inglaterra e a presença de colonos de diferentes
credos políticos e religiosos, em busca de liberdade na América inglesa se contrapões
à presença do Estado espanhol na administração colonial e da religião católica junto
aos colonos e índios.
d) A ausência da escravidão na América espanhola e a presença da servidão na América
inglesa.
e) A monocultura da cana-de-açúcar, do tabaco e do algodão na América espanhola, em
oposição à extração de metais preciosos na América inglesa.
3. (UFPB) A ocupação das Américas pelos europeus, a partir de 1492, logo demandou a
presença do Estado metropolitano a fim de organizar, direcionar e normatizar a vida nas
colônias. Para tanto, as metrópoles montaram aparelhos administrativos complexos,
seguindo modelos de cada tradição européia, em contato com as tradições aborígines e
que, em sua maioria, serviam aos interesses dessas metrópoles sobre o território. Nesse
contexto, em relação à administração espanhola, considere as afirmações:
I. A administração da América hispânica caracterizou-se pelo centralismo de decisão na
Corte de Madrid. Foi unitarista no controle territorial do continente americano e
desenvolveu uma política religiosa cosmopolita, respeitando as religiões locais.
II. A divisão administrativa adotada pela Espanha previa dois tipos de Colônia: os vicereinados e as capitanias-gerais. Chegaram a ser estabelecidos quatro vice-reinos –
Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata – e quatro capitanias-gerais –
Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
III. A Busca do Eldorado foi muito forte entre os espanhóis. Fato que levou à montagem
de uma administração preocupada, primeiramente, em cristianizar os gentios. Daí,
só tardiamente, é que se voltaram para o controle fiscal, com o surgimento da
mineração no século XVIII.
Está(ão) correta(s) somente:
a) I.
b) II.
c) III.
d) II e III.
e) I e II.
4. (UPE) Na época da expansão marítima europeia na América, as viagens de exploração
eram importantes para o crescimento das riquezas das potências da época. Os ingleses
neste contexto
a) fizeram, inicialmente, mais viagens de reconhecimento ao litoral da América do Sul.
b) firmaram contratos com Portugal, para explorar as minas de ouro, usando princípios
mercantilistas.
c) tiveram a sorte de descobrir minas de ouro que garantiram as despesas com a
colonização.
d) contaram com a ajuda de piratas famosos, para assaltarem navios estrangeiros e
acumularem riquezas.
e) dominaram, já no século XV, boa parte da região que viria a ser os Estados Unidos
da América.
5. (UPE) Assinale a alternativa correta.
a) As colonizações portuguesa e espanhola tiveram êxito na conversão pacífica dos
nativos da América, construindo uma cultura híbrida e diversificada.
b) As administrações coloniais seguiram, inicialmente, princípios do mercantilismo
substituídos, já no século XVII, pelas teorias do liberalismo econômico.
c) A presença da Igreja Católica foi fundamental nas colônias portuguesas, ajudando na
montagem da dominação e garantindo um suporte religioso importante.
d) O ouro foi a grande riqueza da América portuguesa, livrando a metrópole de dívidas
e garantindo o ressurgimento do império português.
e) Os modelos administrativos coloniais foram centralizadores, incentivaram a prática
da escravidão, mas deram certa autonomia às colônias para organizar sua economia.
6. (UPE) A expansão marítima europeia movimentou riquezas, sonhos, ambições, conhecimentos. Estava articulada com as inúmeras mudanças que ocorriam nos séculos
iniciais da Idade Moderna. A colonização das terras conquistadas foi:
a) um longo processo que envolveu a burguesia européia, juntamente com as
monarquias nacionais, aliados na defesa da quebra dos monopólios.
b) importante para assegurar a dominação política e auferir lucros com as riquezas
existentes.
c) executada pela burguesia e a nobreza, sem a participação dos monarcas da época.
d) marcada pelo êxito imediato, a boa receptividade dos colonos e a eficácia do pacto
colonial.
e) feita de maneira improvisada, encontrando resistência dos nativos e enfraquecendo
os Estados europeus.
7. (UNIFAL) Com relação à colonização francesa, espanhola e inglesa no continente
americano, é CORRETO afirmar:
a) A colonização espanhola, baseada no trabalho compulsório indígena, nos séculos XVI
e XVII, predominou nas áreas mineradoras do México e Peru.
b) A colonização inglesa na região do Caribe baseava-se no trabalho escravo indígena e
na grande lavoura de exportação.
c) Nas regiões de colonização francesa, predominou a escravidão indígena, fundamental
para a produção da economia canavieira.
d) A colonização inglesa da América do Norte baseava-se, ao Sul, na agricultura familiar e atividades manufatureiras e, ao Norte, na lavoura escravista de exportação.
8. (FUNCAB) Na colonização da América Espanhola, a mão-de-obra indígena foi empregada pelos espanhóis em diferentes regimes de trabalho. Com relação aos sistemas de
trabalho utilizados na colonização hispano-americana, analise as afirmativas abaixo:
I. Na encomienda, os indígenas eram encomendados (entregues) aos colonos
espanhóis (os encomenderos), que eram obrigados a pagar os tributos à Metrópole.
Na prática, os nativos acabavam por realizar trabalho forçado em favor dos
colonizadores.
II. No repartimiento, os espanhóis recrutavam mão de obra indígena para trabalhar em
fazendas ou obras públicas, como pontes e estradas. Nesse sistema de trabalho, os
indígenas eram teoricamente remunerados em dinheiro, mas houve casos de pagamento em gêneros ou ainda com moedas sem valor.
III. Na mita, o regime de trabalho já era utilizado pelos incas antes da chegada dos
espanhóis à América, que fizeram algumas adaptações aos seus interesses. Embora
remunerada, essa atividade era imposta aos indígenas, sendo eles recrutados na
comunidade para servir no mesmo período em que cuidavam de suas próprias terras.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
9. (UFPB) A ocupação das Américas pelos europeus, a partir de 1492, logo demandou a
presença do Estado metropolitano a fim de organizar, direcionar e normatizar a vida nas
colônias. Para tanto, as metrópoles montaram aparelhos administrativos complexos,
seguindo modelos de cada tradição européia, em contato com as tradições aborígines e
que, em sua maioria, serviam aos interesses dessas metrópoles sobre o território. Nesse
contexto, em relação à administração espanhola, considere as afirmações:
IV. A administração da América hispânica caracterizou-se pelo centralismo de decisão na
Corte de Madrid. Foi unitarista no controle territorial do continente americano e
desenvolveu uma política religiosa cosmopolita, respeitando as religiões locais.
V. A divisão administrativa adotada pela Espanha previa dois tipos de Colônia: os vicereinados e as capitanias-gerais. Chegaram a ser estabelecidos quatro vice-reinos –
Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata – e quatro capitanias-gerais –
Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
VI. A Busca do Eldorado foi muito forte entre os espanhóis. Fato que levou à montagem
de uma administração preocupada, primeiramente, em cristianizar os gentios. Daí,
só tardiamente, é que se voltaram para o controle fiscal, com o surgimento da
mineração no século XVIII.
Está(ão) correta(s) somente:
a) I.
e) II.
b) III.
c) II e III.
d) I e II.
10.(UNESP) Leia as assertivas sobre a independência das 13 colônias inglesas na América
do Norte.
I. Foi um movimento que manteve as bases da estrutura da sociedade colonial,
preservando a escravidão.
II. A resistência interna das colônias foi fortalecida com o apoio externo dos países
ibéricos.
III.Sofreu influência das idéias iluministas francesas, baseadas nos princípios da
liberdade, propriedade e igualdade civil.
IV. A união das 13 colônias inglesas contra a Inglaterra objetivou a ruptura do pacto
colonial.
Estão corretas as afirmativas
a) I e IV, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
Estados Unidos: a formação da nação. KARNAL, Leandro. São Paulo, Contexto, 2002.
(Coleção Repensando a História)
A formação dos Estados Unidos. NARO, Nancy Priscilla Smith. São Paulo, Atual. 2000.
(Coleção Discutindo História)
Cinema
O Novo Mundo
Direção de Terrence Mallick. Estados Unidos, 2005. 135 minutos.
No início do século XVII, 3 navios partem da Inglaterra para a
América do Norte. Ao chegar eles aportam em meio a um império
indígena, sendo que um dos tripulantes se apaixona pela filha do
chefe local.
O Novo Mundo
Direção de Terrence Mallick. Estados Unidos, 2005. 135 minutos.
No início do século XVII, 3 navios partem da Inglaterra para a América do Norte. Ao chegar
eles aportam em meio a um império indígena, sendo que um dos tripulantes se apaixona
pela filha do chefe local.
As bruxas de Salém
Direção de Nicholas Hytner. Estados Unidos, 1996. 123 min.
Em pleno século XVII, um grupo de adolescentes é flagrado em ritual demoníaco. Ao serem
interrogadas sobre o fato, elas passam a apontar as pessoas as quais não gostam como
sendo verdadeiras bruxas, como forma de se vingarem.
Internet e Literatura
Pablo Neruda
O site hospeda as principais obras do poeta chileno Pablo Neruda.
Disponível em: www.poetaneruda.es.tl
Vista de Itamaracá, Franz Post.
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 22
América Portuguesa: a
montagem do sistema
colonial, 343
CAPÍTULO 23
A economia da
América
Portuguesa, 360
A sociedade
colonial brasileira
e a escravidão
moderna, 375
América portuguesa:
A montagem do sistema colonial
Semelhante aos demais europeus, os lusitanos, ao desembarcarem na América,
estranharam bastante os primeiros povos que habitavam o atual Brasil. Os costumes, as
tradições, a língua, a nudez e a organização social das comunidades indígenas não eram
compatíveis com a realidade conhecida pelos portugueses.
A surpresa dos portugueses em relação aos indígenas
―(...) A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes, bem
feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor caso de encobrir ou de
mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos
traziam o lábio do baixo furado e metido nele seus de verdade, brancos e do cumprimento
duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como furador. (...)‖
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil. In: RONCARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos
últimos românticos. São Paulo: Edusp, 1995.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil se assustaram com os povos que aqui
habitavam. Isso se deu devido às disparidades encontradas entre os costumes dos povos
indígenas (maneira de vestir, de encarar os trabalhos e de pensar e de ver o mundo) em
relação aos europeus. A organização social dos ameríndios foi classificada pelos invasores
como ‗primitivas‘, ‗incompletas‘ e ‗infantilizada‘. Essa visão preconceituosa gerou algumas
contradições, a saber, o índio era visto como uma pessoa ‗sem maldade‘, ‗pura‘ e ao mesmo
tempo ‗selvagem‘. Essas concepções favoreceram a uma política dúbia, a maioria dos índios
foram vítimas de massacres, já outros, ficaram protegidos pela catequização coordenada
pelas missões religiosas.
A diversidade cultural dos primeiros habitantes do Brasil
Pouco se sabe da história dos índios brasileiros no período colonial ou até mesmo antes
dele. Segundo estimativas a população que ocupava o território brasileiro girava em torno
de 5 a 6 milhões de habitantes. Boa parte das informações que se tem sobre os primeiros
habitantes do atual Brasil foi disponibilizada por missionários, náufragos e viajantes que
conviveram entre os grupos Tupis. De acordo com essas fontes, havia uma forte diversidade
cultural entre os índios. Cada qual com suas crenças, seus costumes, suas línguas e seu
modo de lidar com os recursos naturais. Entretanto, é possível citar algumas semelhanças
entre eles. Confira abaixo alguns aspectos.
Não conheciam a escrita;
Havia uma divisão de trabalho por sexo e por idade: os homens pescavam e caçavam;
construíam casas; fabricavam canoas e armas; preparavam o solo para o plantio;
protegiam a tribo e guerreavam. Já as mulheres cultivavam o milho, a batata-doce, a
mandioca; fiavam e teciam. Além disso, executavam os serviços domésticos e cuidavam
das crianças;
Casamento endogâmico, ou seja, entre os membros da mesma tribo; em algumas tribos
era permissível a poligamia;
Executavam a queimada da vegetação para o plantio, essa prática chama-se de coivara;
Não possuíam um Estado organizado;
As terras eram comunitárias, mas os objetos de trabalho eram individuais;
Alguns grupos faziam migrações quando os alimentos estavam próximos de terminarem;
já outros, mais sedentários, utilizavam a cerâmica;
Sociedade de guerreiros: conflitos entre os grupos indígenas;
Religião baseada em mitos e espíritos;
Com base na semelhança lingüística, houve, inicialmente, uma divisão dos índios
brasileiros, os Tupis-Guaranis e os Tapuias (todo aquele que falava tupi). Os Tupis-guaranis
estavam localizados em todo litoral brasileiro, do norte ao sul e como tiveram relações
amistosas com os portugueses foram vistos de forma positiva. Já os Tapuias, habitavam em
algumas áreas litorâneas e no interior do Brasil foram hostis à presença dos portugueses e,
por isso, foram classificados negativamente.
Família guarani capturada por caçadores de índios escravistas, tela de Jean Baptiste Debret, 1830.
O poder entre os Guaranis
―Entre os Guaranis, como nos povos indígenas na América portuguesa em geral, o poder
político não estava separado da sociedade. Era a própria sociedade quem detinha a
totalidade do poder. Havia líder, mas seu poder era limitado. O respeito às decisões do chefe
dependia de sua capacidade de persuasão e não da força. Os chefes tinham mais obrigações
que privilégios e suas decisões estavam condicionadas na cultura do povo e não em sua
vontade.
A aceitação da liderança dependia daquilo que eram consideradas virtudes do chefe,
entre elas a idade, a experiência, a coragem, a generosidade, os dotes oratórios, ser bom
guerreiro, bom xamã, as habilidades na caça, pesca e agricultura.
Todas essas qualidades eram usadas para a comunidade. O que legitimava o poder do
chefe eram as contraprestações que a comunidade recebia dele. Em resumo, os líderes
tinham mais prestigio que poder. A única exceção em que o chefe exercia o poder com
autoridade, utilizando-se da força, eram os períodos de guerras.
A autoridade do líder era extremamente frágil. Dependia diretamente do respaldo dos
liderados. O chefe não possuía súditos, mas sim partidários‖.
COLAÇO, Thaís Luzia. In: WOLKEMER, Antônio Carlos (Org.). Direito e justiça na América indígena da conquista à colonização.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998. p116-7.Texto adaptado.
A língua usada pelos colonizadores para manter os primeiros contatos com os índios foi
o tupi ou tupinambá. Porém, existia uma outra língua que era resultado da mistura entre o
tupi e o latim, conhecida como língua geral ou nheegatu. Segundo pesquisadores, na época
da chegada dos europeus existia uma diversidade enorme de grupos indígenas, classificados
em centenas de línguas diferentes. Para os especialistas essa quantidade de famílias
lingüísticas podem ser organizadas em quatro troncos lingüísticos: Tupi, Macro-Jê, Karib e
Arwak.
Os grupos indígenas conheciam muito bem os fenômenos naturais. Por exemplo, os
Tupinambás sabiam fazer a relação entre as fases da lua e as marés. Os povos indígenas
praticavam fitoterapia, ou seja, faziam tratamentos médicos através do uso de várias
plantas. Havia a aplicação de venenos na captura de peixes e na caça em geral. Uma das
substâncias mais utilizadas entre eles era o curare. Ele era colocado na ponta da flecha. Ao
atingir a presa, seu efeito era imediato, pois os animais eram paralisados e chegavam a
morrer por asfixia.
As peças feitas pelos índios eram voltadas para o uso cotidiano, tais como potes e urnas.
Os enfeites plumários, os adornos e as pinturas eram usados em ritos ou festas, eventos
considerados por eles muito especiais.
As plumas possuíam uma diversidade de cores, que depois de maravilhosas
combinações serviam como matérias-primas na fabricação de braceletes, toucas, mantas,
colares, diademas. Além disso, havia a produção de redes, esteiras e cestos de vários
estilos.
As tatuagens que são usadas por muitas pessoas nos dias atuais, também eram comuns
entre os índios. Nessas pinturas corporais eram empregados vários tipos de corantes,
principalmente o azul-escuro do jenipapo, o vermelho do urucum, o branco do calcário e o
preto do carvão.
Segundo os antropólogos, essas pinturas tinham relações com a função social da pessoa
ou com ao cerimonial a ser realizado. Os diversos saberes sobre a natureza foram
altamente necessários para a sobrevivência dos europeus no período colonial, e tais
conhecimentos foram absorvidos no decorrer do século e são perceptíveis na cultura
brasileira contemporânea. Enfim, não se pode negar as inúmeras contribuições dos índios
para a formação étnica e cultural da sociedade brasileira.
O início da ocupação
O processo de colonização alterou toda a realidade cultural e étnica da população local.
Assim, as comunidades indígenas foram fortemente impactadas pelo projeto colonizador de
Portugal. A princípio, as relações entre os habitantes do litoral foram pacíficas, porém, com
o transcorrer dos anos a violência e a catequização foram os principais instrumentos para
dominar os ameríndios.
Nos primeiros 30 anos da colonização, a corte portuguesa tinha maior interesse com os
empreendimentos comerciais orientais, os quais lhe rendiam elevados lucros. Isso porque,
que nas terras do atual Brasil não havia sinal da existência de metais preciosos, assim, as
regiões da América Portuguesa ficaram em segundo plano. Entretanto, as terras descobertas precisavam ser ocupadas pelos portugueses, pois outros países também desejavam
participar das atividades comerciais e rejeitavam o Tratado de Tordesilhas. Nesse momento, Portugal precisava colonizar e dominar as colônias do ―novo‖ continente, mas a
conquista era muito dispendiosa. Sobre essa fase, denominada por muitos historiadores
como ―pré-colonial‖, Luiz Roberto Lopez afirma:
―Durante os primeiros trinta anos da dominação portuguesa, o Brasil não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não estavam presentes diversos elementos que
(...) fazem parte da estrutura colonialista. É fato que existia uma riqueza da qual os
portugueses se apropriavam. Mas inexistia um sistema montado em função dessa
apropriação (...). A apropriação da referida riqueza – o pau-brasil – dava-se dentro de
moldes muito primitivos e a sociedade indígena que aqui existia não era afetada pelo
relacionamento econômico imposto pelas necessidades de enriquecimento de Portugal.
Em resumo, este lado nos mostra que se a simples dominação política não configura a
situação colonial, da mesma forma não a configura a apropriação pura e simples das
riquezas de uma terra pela população de outra.‖
LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Colonial. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. p. 17.
Mapa de Lopo Homem, 1519.
No começo de 1500, Pedro Álvares Cabral realizou uma excitante viagem que tinha
como objetivo consolidar as relações mercantis com as Índias e confirmar as vantagens
territoriais estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas. Com uma grandiosa frota composta
por treze naus e aproximadamente mil e duzentos homens, Cabral aportou em Porto
Seguro, região litorânea, da terra que ele nomeou de Ilha de Vera Cruz, posteriormente,
Terra de Santa Cruz. A ―descoberta‖ cabralina não foi obra do acaso, segundo alguns
historiadores, o ocorrido estava dentro de suas previsões.
Inicialmente, os portugueses não se interessavam em ocupar rapidamente as terras
brasilis, pois a aparente inexistência de riquezas (especiarias e artefatos luxuosos) não
justificaria tal empreendimento. Na realidade, a chegada da frota lusitana à América não
provou o mesmo estímulo da expedição comandada por Vasco da Gama ao Oriente. Assim,
os negócios com as Índias eram muitos mais vantajosos. Mesmo assim, era necessário
proteger a colônia, desbravar o seu litoral, criar feitorias. Isso porque países, como a
França, rejeitaram às determinações do Tratado de Tordesilhas, que partilhava o mundo
entre espanhóis e portugueses. Desse modo, os franceses organizaram diversas incursões
ao litoral da colônia americana, discordando do domínio de Portugal, uma vez que as terras
ainda estavam desocupadas. Tal questionamento se fundamentava no princípio jurídico
chamado uti possidetis, ou seja, o direito de posse estava condicionado a ocupação e a
exploração.
A primeira forma de exploração: o pau-brasil
A extração do pau-brasil (ibirapitanga, em tupi) constituiu a primeira forma de
exploração econômica empreendida pelos portugueses. Essa árvore era encontrada em
grande quantidade nas matas litorâneas que abrangia os atuais estados do Rio Grande do
Norte ao Rio de Janeiro. Os componentes naturais dessa madeira tinham um precioso valor
comercial. Desde o período medieval, nos centros manufatureiros de Flandres (entre
Holanda e Bélgica), os tecidos eram tingidos com púrpura e com uma substância advinda de
uma árvore. Da casca do pau-brasil era retirada um corante avermelhado que além ser
usado para tingir tecidos, também utilizava-se na produção de tinta para escrever, na
fabricação de navios e móveis. Sobre a relativa importância econômica dessa madeira, o
historiador Hilário Franco comenta:
―Se o valor daquele produto (o pau-brasil) era bem inferior ao das especiarias – já se
calculou que uma nau de 120 toneladas carregada de especiarias valia sete vezes um igual
carregamento de pau-brasil – não era, no entanto, desprezível. De fato, não se justificariam
tantos cuidados do governo, se se tratasse de produto inferior na escala dos lucros auferidos.
O próprio interesse estrangeiro em particular deste comércio, com navios franceses, e em
menor escala, ingleses e espanhóis, procurando romper o monopólio lusitano, indica nesse
sentido.‖
FRANCO JÚNIOR, hilário; CHACON, Paulo Pan. História Econômica Geral e do Brasil.
São Paulo: São Paulo, 1980.p. 180.
Aos poucos Portugal foi se dedicando a extração do pau-brasil. Mesmo estando ciente
que os negócios com esse recurso vegetal jamais alcançaria os lucros obtidos no Oriente, a
Coroa estabeleceu o monopólio da madeira. Desse modo, o governo concedia à particulares
ou às expedições oficiais, o direito de explorar, transportar e comercializar o produto. Por
outro lado, os contratantes tinham como obrigação organizar o sistema de feitorias - locais
de armazenamento fortificados onde era guardada a madeira a ser levada para a metrópole.
A cada ano, os contratantes deveriam organizar expedições com o objetivo de explorar o
litoral. Vale destacar que a grande presença desse vegetal no litoral, também atraiu
contrabandistas franceses. Por isso, como meio encontrado para impedir o contrabando
ilegal da madeira, a Coroa decretou o monopólio desse produto.
A mão de obra utilizada na extração do pau-brasil foi a indígena, a qual foi assegurada
através do escambo. Em troca de tecidos, roupas, canivetes, miçangas e outros objetos, os
habitantes locais derrubavam as árvores, adquiriam as toras e as transportavam para as
feitorias. Assim, esse mecanismo tornou viável a exploração dessa madeira que se
enquadrava nos interesses econômicos da Coroa portuguesa. Desse modo, a exploração do
pau-brasil foi caracterizada pelo caráter predatório e rudimentar que contribuiu para a
destruição das florestas litorâneas brasileiras. De acordo com alguns números, anualmente, eram extraídas aproximadamente 300 toneladas de madeira. Dado a forma destrutiva e
exploratória, essa atividade econômica entra em decadência já na década de 1520.
Entre 1501 e 1502 foi organizada a primeira viagem ao Brasil, a qual contou com a
participação do navegador italiano Américo Vespúcio e do comandante Gonçalo Coelho. Vale
salientar, que as primeiras expedições não constituíram empreendimentos com fins
colonizadores. Inicialmente, elas tinham a finalidade de fazer o reconhecimento geográfico
e, simultaneamente, pesquisar as viabilidades da exploração do pau-brasil.
Fernando de Noronha junto com os seus consorciados obtiveram entre 1503 e 1505, o
exclusivismo da exploração da madeira. Nesse período, contando com o apoio da Coroa,
realizaram-se outras expedições exploratórias comandadas por Cristóvão Jacques, Fernão
de Magalhães, Diogo Garcia e Sebastião Caboto.
Segundo alguns historiadores, nessa fase inicial, já havia dezenas de europeus
(exilados, desertores e náufragos) convivendo com os índios. Essas pessoas foram utilizadas
com freqüência como intérpretes nos contatos entre os europeus e os habitantes locais.
A colonização e a organização administrativa
A partir do início da década de 1530, a Coroa portuguesa passou a encontrar
dificuldades em manter o extenso império colonial tanto no Oriente quanto no Ocidente.
Além disso, o governo também enfrentava outro problema, sustentar a luxuosa e
dispendiosa corte metropolitana. Diante dessa situação, tornou-se obrigado a contrair
empréstimos e a procurar prováveis riquezas nas terras da América. Assim, podemos
afirmar que as principais razões que contribuíram para o processo de colonização foram:
1. declínio das atividades comerciais de especiarias no Oriente;
2. incursões de estrangeiros no litoral da colônia portuguesa;
3. conclusão de que a montagem das feitorias em pontos estratégicos era insuficientes
para efetivar a conquista do território;
4. descoberta de metais preciosos nas regiões do México e Peru.
Nessa perspectiva, como as expedições exploratórias e de costeiras foram incapazes de
paralisar a permanente presença dos corsários franceses (contrabando de pau-brasil) no
litoral brasileiro, seria necessário que o Estado português pudesse garantir a posse dessas
regiões, estabelecendo núcleos constantes de povoamento, colonização e proteção.
No governo de João III, a economia portuguesa enfrentou uma intensa crise econômica.
O império português era bastante dispendioso. Além disso, a arrecadação tributária não
conseguia acompanhar os altos gastos da corte. Daí, Portugal acumulava dívidas. A
burguesia portuguesa também se endividou, uma vez que passou a depender dos
empréstimos dos banqueiros estrangeiros para manter seus negócios.
Diante das ameaças estrangeiras e concebendo o Brasil como alternativa para diminuir a
recessão, o governo português começa definitivamente a colonização em 1530, quando foi
realizada a grandiosa expedição (com mais de quatrocentos homens, entre eles espanhóis e
holandeses) colonizadora sob o comando de Martin Afonso de Sousa. O representante da
Coroa tinha como principal compromisso reconhecer e colonizar as regiões, tornando-as
rentáveis, proteger o litoral colonial, fundar vilas e fortificações. Ele também visava
encontrar uma passagem terrestre ou fluvial que ligasse o Atlântico às minas de prata
peruanas. Com Martin Afonso de Sousa foi iniciada a plantação de cana-de-açúcar nas
terras lusitanas, atividade que transformaria a colônia numa região potencial-mente
geradora de grandes lucros para a metrópole. Com amplos poderes repassados pela Coroa,
Martin Afonso, como tinha que ocupar as terras da colônia, passou a distribuir sesmarias
(lotes de terras desocupadas) às pessoas que tinham interesses em explorá-las com os
recursos próprios. Esse mecanismo de distribuição já havia sido praticado com êxito nas
colônias portuguesas de Madeira e Açores. Ao regressar da expedição à região sul, Martin
Afonso fundou, 1532, a vila de São Vicente (atual litoral do Estado de São Paulo),
considerada o primeiro núcleo urbano da colônia portuguesa. Nesse local, ele também
estabeleceu o cultivo da cana-de-açúcar, ordenando a construção do primeiro engenho da
América portuguesa, lançando as estruturas para agroindústria açucareira.
A expedição empreendida por Martin Afonso foi fundamental para o desenvolvimento do
projeto de colonização desejado pela coroa portuguesa. Como meio de concretizar os planos
colonizadores, em 1534, a Coroa instituiu o sistema de capitanias hereditárias ou
donatárias, praticado anteriormente nas ilhas litorâneas da África. Com o estabelecimento
do sistema de capitanias, o território foi fragmentado em 15 faixas lineares de terras que se
estendiam do litoral ao meridiano de Tordesilhas.
Para a efetivação, o governo português contou com o auxílio de particulares, aos quais
eram concedidas lotes de terras por intermédio a carta de doação. Essa concessão era
intransferível, ou seja, a capitania não podia ser vendida e nem doada, pois cabia exclusivamente ao monarca português esse direito. Entretanto, o sistema transferia privilégios aos
capitães donatários, geralmente integrantes da pequena nobreza, burocratas e comerciantes com mínimos recursos para empreender.
Vale destacar, que as doações também eram utilizadas como meio de recompensa pelos
serviços prestados ao governo português. Em relação a essa forma de colonização
encontrada pelo governo português, o economista Celso Furtado comentou:
―Contudo, tornava-se cada dia mais claro que se perderiam as terras americanas
amenos que fosse realizado um esforço de monta para ocupá-las permanentemente
(...). Sem embargo, os recursos de que dispunha Portugal para colocar produtivamente
no Brasil eram limitados e dificilmente teriam sido suficientes para defender as novas
terras por muito tempo.‖
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. P.56.
―Não restam dúvidas de que, desde o momento de seu desembarque, tanto os
donatários quanto seus colonos visavam ao lucro imediato. O principal, e quase único,
objetivo da maioria era enriquecer o mais rápido e facilmente possível e retornar a
Portugal. Nesse sentido, os homens que os donatários trouxeram para ocupar suas terras
não eram ‗colono‘ no sentido literal da palavra: eram conquistadores dispostos a saquear
as riquezas da terra, especialmente as minerais.‖
BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. p.13.
Detalhe do mapa ―Terra Brasilis‖ (Atlas Miller, 1519), atualmente na Biblioteca Nacional de França.
Os direitos e deveres dos capitães donatários estavam inseridos num documento
chamado de Foral. Em relação à administração, possuíam o direito de fundar vilas, doar
sesmarias, responsável pelo monopólio da justiça e da liderança militar. No âmbito
econômico, detinham o domínio das moendas de água, dos engenhos e das marinhas de
sal. Além dessas vantagens, os capitães podiam a cada ano escravizar e mandar vender em
Portugal 24 índios apresados tinham o direito de vintena (vigésima parte) do valor da
extração do pau-brasil, 50% do dízimo do pescado, a redízima (um centésimo) dos lucros
da coroa, a décima parte dos metais preciosos e, por fim, detinham os direitos de
passagens em portos, rios e ―outras águas‖.
Os principais objetivos desejados com o estabelecimento das capitanias hereditárias, no
geral, malograram. As razões para esse fracasso podem ser atribuídas à escassez de
recursos financeiros, a distância da Europa, a falta de terras férteis em algumas capitanias,
as precárias condições de transportes e comunicação, a falta de experiência e interesses de
alguns donatários e, ainda, as hostilidades entre portugueses e os habitantes locais. As
únicas capitanias bem-sucedidas foram as de Pernambuco e São Vicente, que se
desenvolveram devido à instalação da agroindústria açucareira. Vale salientar, que Martin
Afonso, concessionário da Capitania de São Vicente, não se interessou em administrá-la
pessoalmente, optando pela ocupação do cargo de capitão-mor da Armada da Índia. Para o
historiador Sérgio Buarque de Holanda, a família de colonos Schetz, oriundos dos países
baixos, foram os responsáveis pela prosperidade de São Vicente. Entretanto, mesmo com os
investimentos feitos na produção de cana-de-açúcar e na criação de gado, o desenvolvimento dessa capitania não se aproximou da prosperidade de Pernambuco.
Sob a administração de Duarte Coelho, Pernambuco, mesmo sem o auxílio da Coroa
portuguesa, se desenvolveu. Ele fundou a vila de Olinda, enfrentou conflitos com os
habitantes locais, importou escravos da África, que passaram a ser utilizados como principal
mão de obra da lavoura canavieira. Duarte Coelho reclamava da falta de apoio do Estado
Português, que não conseguia coibir a presença dos contrabandistas do pau-brasil. Apesar
das queixas, o governo português não atendeu o seu pedido.
―A vila de Olinda é a cabeça da capitania de Pernambuco, a qual povoou Duarte
Coelho, (...) Esta gente pode trazer de suas fazendas quatro ou cinco mil escravos da
guiné e muitos do gentio da terra. É tão poderosa esta capitania que há nela mais de
cem homens que têm de mil até cinco mil cruzados de renda, e alguns de oito, dez mil
cruzados. Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram a elas
muito pobres, com os quais entram cada ano desta capitania quarenta e cinqüenta
navios carregados de açúcar e pau-brasil.‖
SOUSA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1987. p. 135-138.
Com o propósito de incentivar o processo de colonização, em meados do século XVI, a
coroa portuguesa cria o Governo-Geral (1548), cuja função primordial seria centralizar as
decisões e a administração colonial. Desse modo, houve a substituição do projeto inicial,
marcado pela descentralização, por outro, caracterizado pela centralização administrativa. A
principal função do Governo-Geral era oferecer apoio e suporte as capitanias.
Nessa perspectiva, a Capitania da Bahia de Todos os Santos foi escolhida para ser a sede
do governo. Em 1549, a cidade de Salvador seria fundada. Desse modo, essa capitania se
tornou a primeira capitania real, ou seja, administrada diretamente por um encarregado do
governo português. Com o decorrer do tempo, a metrópole foi readquirindo direitos de
administração sobre outras capitanias hereditárias, transformando-as em capitanias reais.
Os governadores motivaram e apoiaram a implantação de engenhos nos assentos
coloniais, promovendo a aglutinação dos nativos com os povoados e vilas. Além disso, os
governadores também instituíram feiras regulares, controlaram o povoamento, combateram
os invasores, proibiram o comércio irregular do pau-brasil, organizando-o e garantindo,
dessa forma, lucros ao Estado Português.
Acompanhado de mais de mil pessoas, em 1549, aporta na colônia o primeiro
governador-geral, Tomé de Souza, ficando no cargo até 1553. Ao desembarcar na Bahia,
ele organizou a sede do governo (Salvador) e tentou centralizar as medidas políticas e
administrativas na colônia, porém não obtive êxito. Os governadores posteriores também
enfrentaram uma série de dificuldades para implantar o projeto de centralização. O
governador Duarte da Costa (1553-1556) encontrou resistência até mesmo entre os
colonos da Bahia. No seu mandato, teve que combater a invasão francesa ao Rio de Janeiro.
Já o governador-geral Mem de Sá (1558-1570), utilizando de habilidade política, expulsou
os franceses, iniciou uma violenta luta contra os nativos revoltosos e apoiou os jesuítas no
processo de catequização das tribos pacíficas.
O governo-geral era assessorado pelo provedor-mor (encarregado pela cobrança de
impostos e provimentos de cargos), o ouvidor-mor (cabia a ele a aplicação da justiça) e o
capitão-mor (cuidava da defesa da colônia). Vale ressaltar que, o estabelecimento do
Governo-Geral não acarretou o fim das capitanias hereditárias. Segundo o Regimento,
documento régio que criou o modelo centralizador definia que o Governo-geral teria sido
instituído ―para dar ajuda e favor aos capitães donatários.‖
―Eu, el-rei, faço saber a vós, Tomé de Sousa, fidalgo de minha Casa, que vendo quanto
serviço de Deus e meu é conservar e enobrecer as capitanias e povoações das Terras do
Brasil (...), ordenei ora de mandar nas ditas terras fazer uma fortaleza e povoação grande e
forte, em um lugar conveniente, para daí se dar favor e ajuda às outras povoações (...); e
por ser informado que a Bahia de Todos os Santos é o lugar mais conveniente da costa do
Brasil (...), que na dita Bahia se faça a dita povoação e assento, e para isso vá uma armada
com gente, artilharia, (...) e tudo o mais que for necessário. E pela muita confiança que
tenho em vós (...) hei por bem de vos enviar por governador às ditas terras do Brasil (...).‖
BONAVIDES, Roberto e AMARAL, Paulo. Regimento de Tomé de Sousa, 17 de dezembro de 1548. In: Textos políticos da
história do Brasil. Brasília: Senado Federal; Subsecretaria de Edições Técnicas, 1966.
Entre 1572 e 1578, a colônia portuguesa vivencia uma situação político-administrativa
curiosa: com o propósito de reforçar e tornar a administração mais eficiente, o monarca D.
Sebastião estabeleceu na América Portuguesa dois governos-gerais.
Ao norte foi instituído um governo, com sede em Salvador e ao sul foi estabelecido o
outro, no Rio de Janeiro. Entretanto, os frustrantes resultados obtidos com essa divisão
levaram a Coroa a restabelecer o antigo formato. Em 1578, houve a reunificação da
administração, com sede em Salvador.
Em 1621, ocorreu mais uma vez uma divisão político-administrativa, que teve uma
maior permanência. Nesse ano, foram criados o Estado do Brasil (que se estendia do Rio
Grande do Norte ao sul da colônia) e o Estado do Maranhão (formado por parte do Pará e os
atuais estados do Maranhão, Piauí e Ceará). As sedes administrativas desses estados eram,
respectivamente, Salvador e São Luís. A criação do Estado de Maranhão pode ser
compreendido pela preocupação da Coroa portuguesa em relação às ameaças de ocupação
da região pelos franceses. O Maranhão permaneceu separado da unidade colonial até 1774.
A partir do século XVIII, as capitanias hereditárias começam a serem extintas, pelo
Marquês de Pombal. Em 1759, a capitania de São Vicente foi a última a deixar de existir. No
transcorrer desse tempo, a autonomia dos donatários foram limitadas cada vez mais pelo
exercício de poder dos governadores-gerais, os quais tinham interesses em consolidar sua
autoridade.
Administrações municipais: ”os homens bons”
Os governadores-gerais enfrentaram algumas dificuldades para estabelecer a sua
autoridade, devido a resistência dos capitães-donatários, dos proprietários de terras e do
imenso território a ser administrado. O grande dilema da unidade administrativa consistia
em que, além de ter atraia os colonos, seria necessário ao mesmo tempo controlá-los e
governá-los. Desse modo, à medida que alguns poderes foram extraídos dos donatários e
fazendeiros, instituíram-se órgãos que possibilitavam a sua participação política e
administrativa.
Nessa perspectiva, foram estabelecidas nas vilas e nas cidades as Câmaras Municipais
ou Senado da Câmara, responsáveis, entre outras atribuições, pela administração
municipal; organização das feiras e mercados; execução de obras públicas; conservação das
ruas, limpeza urbana e arborização. Só podiam participar das eleições os homens nascidos
na comunidade local. Entretanto, estavam aptos a votar e a ser votados, apenas, os
chamados “homens bons”, a saber, proprietários de terras e escravos, membros do clero,
funcionários reais e nobres. Assim, escravos, pobres, estrangeiros, judeus, mulheres ou
praticante de qualquer atividade manual (camponeses, comerciantes, artesãos) eram
excluídos do processo. Cada Câmara possuía dois juízes ordinários (eleito), um juiz-de-fora
(nomeado pela Coroa), um procurador e três vereadores. Essas pessoas eram incumbidas
de solucionar todos os problemas do município, desde o recolhimento de impostos até
disputas por terras.
Segundo alguns historiadores, a câmara possuía elevada autonomia, tornando-se, desse
modo, importante espaço para a realização dos desejos e vontades políticas dos poderosos
dos municípios. Mesmo subordinadas ao governo-geral, as Câmaras Municipais, se
transformou em muitos casos, num agente de clientelismo e corrupção. A renda usada para
gerir os negócios públicos era originária da arrecadação de tributos e do patrimônio
municipal (ruas, praças, pontes, estradas, alugueis de prédios públicos).
―(...) A Coroa via com freqüência suas ordens canceladas ou ignoradas, o que era
provavelmente inevitável dado o tamanho da colônia e os escassos recursos disponíveis
a ela. Embora tendo jurado lealdade à Coroa, (...) administradores com freqüência usavam sua própria autoridade para enriquecer a si e a sua família. O contrabando, por
exemplo, predominava, em especial nas fronteiras do Norte e do Sul, subtraindo à Coroa
ganhos valiosos.‖
SKIMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
O sentido da colonização
A organização econômica da América portuguesa foi estruturada nos moldes do Antigo
Sistema colonial, ou seja, seguiu os princípios do colonialismo mercantilista. De acordo com
o historiador Caio Prado Júnior o modelo de colonização possuía um ―sentido‖. Sobre esse
tema, ele comenta:
―No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos
trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mas complexa que a antiga
feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos
naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu.
É este verdadeiro sentido da colonização tropical. De que o Brasil é uma das
resultantes; e ele explicitará os elementos fundamentais, tanto no social, como no
econômico, da formação e evolução histórica dos trópicos americanos. Se vamos à
essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer
açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois algodão e
em seguida café para o comércio europeu. Nada mais que isto.‖
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 42. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Nessa perspectiva, o projeto de colonização da América portuguesa apresentaram as
seguintes características:
como na América hispânica, houve nas terras portuguesas a exploração estruturou-se na
complementaridade, ou seja, a colônia deveria fornecer à metrópole e ao mercado
europeu, tanto recursos naturais (ouro e prata) como produtos tropicais;
a produção colonial foi organizada em larga escala e custos reduzidos, aspectos que
podem justificarem, em sua maior parte, a estrutura latifundiária e o uso do trabalho
escravo, principalmente, africano;
o processo de colonização rinha como principal pilar o ―pacto colonial‖, expressão
equivocada, embora alguns historiadores tenha o costume de utilizá-la, pois a
unilateralidade desse ―pacto‖ era notório, uma vez que beneficiava e favorecia a
transferência de riquezas coloniais para a sede da Coroa e para a burguesia mercantil;
a agricultura era caracterizada pela monocultura, mão-de-obra escrava (tráfico de
escravos bastante lucrativo), voltada para o mercado exterior e dependente de financiamentos internacionais. Esse caráter, serviu como um dos impedimentos para o
estabelecimento de uma colonização formada por pequenas e médias propriedades e
uso do trabalho assalariado ou familiar, pois tais aspectos gerariam um dinamismo no
mercado interno, algo que o sistema colonial condenava;
a proibição da implantação de manufaturas nas regiões coloniais, fator que garantia à
burguesia metropolitana o comércio, com elevados lucros, das mercadorias europeias;
o ―exclusivismo comercial‖, que transferia para a burguesia mercantil com exclusividade
o domínio de maior parte dos lucros produzidos na colônia. A respeito dessa
característica, o historiador Fernando Novais enfatizou:
―É como no regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o elemento
essencial desse mecanismo (do Antigo Sistema Colonial mercantilista). Reservando-se a
exclusividade do comércio com o Ultra-mar, as metrópoles europeias na realidade
organizavam um quadro institucional de relações tendentes a promover necessáriamente um estímulo à acumulação primitiva de capital na economia metropolitana a
expensas das economias periféricas coloniais. O chamado monopólio colonial, ou mais
corretamente e usando um termo da própria época, o regime do ‗exclusivo‘
metropolitano constituía-se pois no mecanismo por excelência do sistema.‖
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial.
1777-1808. Ed. São Paulo: Hucitec, 1983. p. 72.
TEXTO COMPLEMENTAR
TEXTO 1
Um caldo de culturas
―Índio: Pindorama, Pindorama é o Brasil antes de Cabral
Pindorama, Pindorama é tão longe de Portugal...
Fica além, muito além do encontro do mar com o céu
Português: Vera Cruz, Vera Cruz quem achou foi Portugal
Vera Cruz, Vera Cruz atrás do Monte Pascoal
Bem ali Cabral viu, dia vinte e dois de abril
Não só viu, descobriu toda terá do Brasil
Índio: Pindorama, Pindorama, mas os índios já estavam aqui
Pindorama, Pindorama já falava tão bem tupi
Só depois vêm vocês que falavam tão bem português
Só depois de vocês, nossa vida mudou de uma vez
Todos: Ao Álvares Cabral, Ao El rei Dom Manuel
ao índio do Brasil, ainda quem me ouviu
Vou dizer descobri, o Brasil ta inteirinho na voz
Quem quiser vem ouvir Pindorama ta dentro de nós [...]‖
Pindorama. Sandra Peres e Luís Tatit, 1998.
TEXTO 2
Encontro de culturas
―Por causa dos portugueses, eclodiu um tumulto dos selvagens numa região, a dos
Caetés, que até então tinha sido tranquila, e o capitão (...) mos implorou (...) que
acorrêssemos em ajuda à localidade de Igaraçu (...).
Partimos (...). O número de defensores devia estar em torno de noventa cristãos
aptos para a luta. (...) Os selvagens que nos sitiavam foram estimados em oito mil.
Nossa única proteção na localidade sitiada consistia numa cerca de varapaus. (...) Ao
atirarmos neles, jogavam-se ao chão de modo a escapar das balas. (...) Chegavam perto
do povoado, atiravam numerosas flechas para o alto, que deviam nos atingir ao cair e às
quais tinham amarrado algodão embebecido em cera. (...). Ameaçavam também nos
comer caso nos pegassem. (...) O sítio demorou quase um mês. Os selvagens tiveram
algumas baixas, mas nós, cristãos, não sofremos nenhuma.‖
STADEN, Hans. Hans Staden: primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes.
São Paulo: Terceiro Nome, 1999. p.40-41
Analisando os textos
1. De acordo com letra da canção Pindorama, explique o significado do Brasil em cada estrofe.
2. Comente as principais ideias contidas no texto.
FAZENDO HISTÓRIA
1. (Unicamp) A expansão marítima da Península Ibérica (Espanha e Portugal) nas
Américas foi orientada por um projeto colonizador que, além da exploração econômica
das terras, tinha por objetivo a imposição de uma cultura europeia e cristã.
Qual foi o papel da Igreja Católica nesse projeto colonizador?
2. (Vunesp-SP) Este Estado do Brasil... tem gente, os mercadores, que trazem do Reino
as suas mercadorias a vender a esta terra e comutar por açúcares, do que tiram muito
proveito.(Diálogos das grandezas do Brasil, 1618).
Baseando-se no trecho, responda:
a) Como era realizado o comércio do Brasil colônia?
b) Além dos mercadores, qual outra camada social era beneficiada na colônia brasileira?
3. (Fuvest-SP) Antonil, na obra Cultura e opulência no Brasil, de 1711, afirmava:
Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho. Analise a afirmativa.
4. (Unicamp-SP) O trecho a seguir foi adaptado de Roteiro do Maranhão a Goiaz, um
escrito anônimo de 1780: As colônias são estabelecidas para a utilidade da metrópole.
Os habitantes da colônia devem ocupar-se em cultivar e adquirir as produções naturais,
ou matérias-primas, que serão exportadas para a metrópole, a qual não só irá servir
delas, mas, aperfeiçoando-se, poderá também tirar das colônias o preço da mão-deobra e comercializar o supérfluo com as nações estrangeiras.
a) Caracterize as funções das colônias do ponto de vista das metrópoles.
b) De acordo com o texto, como as metrópoles utilizavam a produção colonial?
c) Descreva, a partir do texto, o processo de obtenção do lucro pelas metrópoles.
5. (Vunesp-SP) A empresa agrícola inerente à colonização portuguesa continua como
fator do subdesenvolvimento atual do Brasil e de outros países. Esclareça o que é
plantation e explique as razões de sua escolha pelos colonizadores lusitanos.
6. (Fuvest-SP) Comente os problemas do regi-me de capitanias hereditárias e sua relação
com a criação do governo-geral em 1548.
7. (Faap-SP) Qual o grau de relacionamento da pecuária do São Francisco com a
economia açucareira do Nordeste colonial?
8. (UFRJ) ―...sois grandes loucos, pois através-sais o mar e sofreis grandes incômodos,
como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos
filhos ou para aqueles que vos sobrevivem. Não será a terra que vos nutriu suficiente
para alimentá-los também? Tempos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos
certos de que, depois da nossa morte, a terra que nos nutriu também nos nutrirá...‖
Registro deixado por Jean de Léry, que esteve no Rio de Janeiro, em 1557.
Esta citação foi uma resposta dada por um Tupinambá a um francês, depois de saber
que ele vinha de terras longínquas a fim de buscar lenha para extração de tintas.
a) Explique uma das principais diferenças culturais entre os portugueses e os povos que
habitavam o Brasil, evidenciando a propriedade da terra.
b) Cite duas características do modelo econômico mercantilista, predominante na
Europa, no período a que o texto se reporta.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (UPE) A conquista e a colonização da América não estavam unicamente ligadas ao
processo de expansão mercantilista da Europa moderna. Faziam parte, também, da
ação da igreja tridentina no combate ao protestantismo e na luta em prol da ampliação
do número de fieis católicos. Nessa perspectiva,
a) a catequese dos povos americanos não teve destaque na ação das coroas portuguesa
e hispânica no Novo Mundo.
b) a instituição do padroado régio na Espanha e em Portugal assim como em suas
possessões no além-mar comprova o caráter religioso da conquista da América.
c) a ação dos jesuítas na catequese dos ameríndios e na colonização ibérica na América
se restringiu aos territórios hispânicos.
d) a presença massiva de protestantes na América colonial sob a tutela das monarquias
ibéricas ressalta a pequena atuação da igreja católica na colonização do Novo
Mundo.
e) na América Portuguesa, os jesuítas não tiveram espaço para a atuação catequética,
cabendo essa ação, nos territórios lusos da América, a outras ordens, como os
franciscanos e beneditinos.
2. (UPE) Conquistar a terra era uma grande aventura que envolvia muitas surpresas e
frustrações. A expedição de Martim Afonso não foge desse quadro. Sobre ela, pode-se
afirmar que
a) foi uma iniciativa independente da metrópole, sem ajuda de particulares, visando
expulsar os rivais estrangeiros.
b) deu início ao bem sucedido sistema de capitanias hereditárias, centralizando a
administração e descobrindo as minas de ouro do Sudeste.
c) introduziu o sistema de ―plantation‖ na colônia, com a importação de escravos e o
comércio com a Holanda e com a Espanha.
d) se preocupou apenas com a lavoura açucareira em São Vicente, não se interessando
com a descoberta do ouro no Oeste de Minas.
e) foi importante para começar a fixar as bases da colonização, embora não tenha
concretizado alguns objetivos planejados.
3. (UEA) Leia o texto.
Novas cartas jesuíticas
Devia haver um protetor dos índios para os fazer castigar, quando houvesse mister
(necessidade), e defender dos agravos (males) que lhes fizessem (...). A lei que lhes
hão de dar é defender-lhes de comer carne humana e guerrear (...), fazer-lhes ter uma
só mulher, vestirem-se, pois têm muito algodão, ao menos depois de cristãos, tirar-lhes
os feiticeiros, mantê-los em justiça entre si e para com os cristãos; fazê-los viver
quietos e sem se mudarem para outra parte... (Pe. Manuel da Nóbrega, 08.05.1558.)
A partir do texto, pode-se concluir que
a) os europeus demonstraram respeito e consideração pelos hábitos e práticas das
sociedades indígenas.
b) as recomendações foram acatadas pelas populações indígenas, pois não se
distanciavam de seus usos.
c) os europeus e as sociedades indígenas estabeleceram intensas trocas culturais, em
clima de reciprocidade.
d) a superioridade europeia foi reconhecida pelos líderes indígenas, que comandaram a
adaptação à nova ordem.
e) os europeus pretendiam modificar os costumes e o modo de vida dos indígenas, os
quais consideravam bárbaros.
4. (UFAL) Como o sistema de capitanias gerais não conseguiu sucesso na colonização do
Brasil, devido a várias dificuldades, Portugal resolveu organizar o governo-geral, que:
a) centralizou a exploração econômica e reorganizou a administração das riquezas até
1822.
b) conseguiu superar certos obstáculos e evitar, sem maiores dificuldades, o isolamento das capitanias.
c) teve o cuidado de fortalecer a colônia contra as invasões estrangeiras e de melhorar
as relações com os indígenas.
d) se chocou com os objetivos da Igreja Católica, preocupada com a libertação dos
nativos e dos escravos.
e) manteve a dominação portuguesa de forma violenta, fracassando, no entanto, na
superação das dificuldades já existentes.
5. (CONSULPLAN) ―Durante os primeiros trinta anos da dominação portuguesa, o Brasil
não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não estavam presentes diversos
elementos que (...) fazem parte da estrutura colonialista. É fato que existia uma riqueza
da qual os portugueses se apropriavam, mas inexistia um sistema montado em função
dessa apropriação (...). Uma das razões da ausência de um projeto de colonização pode
ser percebida nas palavras do navegador italiano Américo Vespúcio, que percorreu boa
parte do litoral brasileiro na primeira década do século XVI, a serviço do Estado
português. Pode-se dizer que não encontramos nada de proveito.‖
(Marques, Adhemar. Pelos caminhos da História)
a)
b)
c)
d)
e)
A alternativa que sintetiza o conteúdo dos trechos é:
Durante esse período, verificou-se a extração sistemática do pau-brasil, contribuição
fundamental para o início efetivo da colonização e para a incursão de europeus de
outras nacionalidades no litoral brasileiro.
Para a Coroa e para a burguesia portuguesa, principais agentes da expansão
ultramarina, as terras brasileiras não ofereciam possibilidades imediatas de
exploração de acordo com as práticas mercantilistas que fundamentavam a
montagem do sistema colonial.
Havia uma produção organizada voltada para o comércio para complementar a
econômica metropolitana que apresentava reais possibilidades de obtenção de lucro
imediato.
Por cerca de 30 anos a Coroa Portuguesa desenvolveu um projeto de colonização da
Terra Brasilis baseado no comércio das especiarias, o que configura a dominação
política, e da mesma forma, configura a apropriação das riquezas de uma terra pela
população de outra, caracterizando o pacto colonial.
No período, o projeto de colonização efetivo apresentado pela Coroa Portuguesa era
suficiente para garantir a efetiva posse do território, não precisando, portanto que a
metrópole utilizasse de outros meios para participar das práticas mercantilistas
europeias.
6. (TJ-PE) O primeiro passo na vida político-administrativa que a metrópole
realizou nas terras do Brasil com vistas a viabilizar a empresa açucareira e, portanto,
a colonização no Brasil foi a adoção do sistema de capitanias hereditárias, já
utilizado por Portugal nas ilhas colônias do Atlântico. Esse sistema, portanto, familiar
aos lusitanos, caracterizava-se por vários aspectos, a que nos referimos a seguir,
porém deve ser assinalado aquele incompatível:
a) Esse sistema tinha por base a doação de largas faixas de terra aos capitães
donatários, sendo regulamentadas por Cartas de Doação e Forais.
b) O amplo poder e a total autonomia do donatário foi ferramenta de
fundamental importância para a Corte metropolitana implantar seus projetos de
desenvolvimento colonial sob absoluto controle real.
c) O donatário, figura central na colônia no sistema de donatarias, deveria
colonizar a capitania, fundando vilas, bem como proteger a terra e seus colonos
dos ataques nativos e de estrangeiros.
d) O donatário tinha a competência de fazer cumprir o monopólio real do paubrasil e do comércio colonial.
e) O donatário respondia por cobranças de impostos sobre o comércio colonial
reservando, à Coroa, um quinto do valor obtido na exploração de metais
preciosos então descobertos.
7.(UECE) ―A armada de Martim Afonso de Sousa, que deveria deixar Lisboa a 3 de de-zembro
de 1531, vinha com poderes extensíssimos, se comparados aos das expedições anteriores,
mas tinha como finalidade principal desenvolver a exploração e limpeza da costa,
infestada, ainda e cada vez mais, pela atividade dos comerciantes intrusos.‖
HOLANDA, Sérgio Buarque de. As primeiras expedições. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.).
História geral da civilização brasileira. Tomo I, vol. 1. São Paulo: Difel, 1960.
Com base nesta citação, assinale a alternativa que indica corretamente os principais
objetivos das primeiras expedições portuguesas às novas terras descobertas na
América:
a) expulsar os contrabandistas de pau-brasil e combater os holandeses instalados em
Pernambuco.
b) Garantir as terras brasileiras para Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas, e
expulsar os invasores estrangeiros.
c) Instalar núcleos de urbanização estável, baseados na pequena propriedade familiar,
e escravizar os indígenas.
d) Estabelecer contatos com as civilizações indígenas locais e combater os invasores
franceses na Bahia.
8.(ADIVISE) A criação do Governo Geral (1548) e sua posterior implantação (1549)
alteraram o rumo da política na América Portuguesa. Dentre as mudanças
verificadas após a instalação do Governo Geral, assinale a afirmativa correta:
a) Foram confirmadas a soberania e a autoridade da metrópole portuguesa em sua
colônia americana.
b) Foi encerrado o ciclo de pirataria e das invasões francesas e holandesas na América
Portuguesa.
c) Foram concedidas maior autonomia às Capitanias Hereditárias e mais soberania aos
donatários.
d) Foi dado grande incentivo às companhias de mineração, que resultaram na
descoberta das minas gerais.
9.(FUNCAB) Segundo o professor Luiz Roberto Lopes, ―Durante os primeiros trinta anos de
dominação portuguesa, o Brasil não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não
estavam presentes diversos elementos que fazem parte da estrutura colonialista‖. Assim é
fato que:
a) o extrativismo do pau-brasil não contribuiu para o início efetivo da colonização.
b) a extração de pau-brasil deu início ao processo de colonização.
c) o caráter predatório da extração de pau-brasil gerou desinteresse a Portugal.
d) Portugal entrou em acordo com a Espanha para extrair pau-brasil.
e) o extrativismo de pau-brasil era bem superior ao lucro comas especiarias.
10.(UFF) A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500, é considerada como um dos
documentos fundadores da Terra Brasilis e reflete, em seu texto, valores gerais da cultura
renascentista, dentre os quais destaca-se:
a) a visão do índio como pertencente ao universo não religioso, tendo em conta sua
antropofagia.
b) a informação sobre os preconceitos desenvolvidos pelo renascimento no que tange à
impossibilidade de se formar nos trópicos uma civilização católica e moderna.
c) a identificação do Novo Mundo como uma área de insucesso devido à elevada
temperatura que nada deixaria produzir.
d) a observação da natureza e do homem do Novo Mundo como resultado da experiência
da nova visão de homem, característica do século XV.
e) a consideração da natureza e do homem como inferiores ao que foi projetado por Deus
na Gênese.
11.(UNIRIO) A colonização brasileira no século XVI foi organizada sob duas formas
administrativas, Capitanias Hereditárias e Governo Geral. Assinale a afirmativa que
expressa cor-retamente uma característica desse período.
a) As capitanias, mesmo havendo um processo de exploração econômica na maior parte
delas, garantiram a presença portuguesa na América, apesar das dificuldades
financeiras da Coroa.
b) As capitanias representavam a transposição para as áreas coloniais das estruturas
feudais e aristocráticas europeias.
c) As capitanias, sendo empreendimentos privados, favorecem a transferência de
colonos europeus, assegurando a mão de obra necessária à lavoura.
d) O Governo Geral permitiu a direção da Coroa na produção do açúcar, o que
assegurou o rápido povoamento do território.
e) O Governo Geral extinguiu as Donatarias, interrompendo o fluxo de capitais privados
para a economia do açúcar.
12.(UPE) Descobrir terras foi uma aventura cercada por grandes interesses. Havia ambições
econômicas, desejos de enriquecimento rápido, pessoas que buscavam na aventura da
colonização mudar suas vidas e, se possível, fixar residência nas terras conquistadas. No
início, Portugal teve dificuldades de encontrar uma riqueza que estimulasse a
colonização. A exploração do pau-brasil
a) foi precária e de pouca rentabilidade com a participação exclusiva do Estado
português.
b) trouxe lucros com a participação do comerciante Fernão de Noronha.
c) não atraiu interesses de particulares, além de esse produto ser desconhecido na
Europa.
d) abrangeu boa parte do território brasileiro com a atuação de comerciantes franceses
aliados com a Corte portuguesa.
e) contou com a hostilidade das tribos indígenas que não se interessavam em ajudar
Portugal e respondiam, com violência, às tentativas dos exploradores.
13.(UPE) Para Portugal era fundamental ocupar as colônias, para evitar conflitos com as
nações inimigas e garantir a colonização. Apesar das dificuldades iniciais, terminou por
implantar o sistema de capitanias hereditárias. Era feita a doação da terra ao donatário,
mas o poder continuava centralizado nas mãos do rei.
No caso da capitania de Pernambuco, seria correto afirmar que
a) juntamente com as capitanias de São Vicente e do Maranhão foram as mais
lucrativas.
b) seu donatário não conseguiu ocupar a capitania, sendo obrigado a retornar a
Portugal e a desistir da ocupação.
c) conseguiu prosperar, destacando-se pela produção do açúcar.
d) foi ocupada, inicialmente, por invasores franceses, apesar da luta do seu donatário
para expulsá-los.
e) seu donatário se dedicou ao cultivo do algodão e do açúcar, tornando-se um dos
centros culturais da colônia no século XVI.
14.(COVEST) As feitorias portuguesas no Novo Mundo foram formas de assegurar, aos
conquistadores, as terras descobertas. Sobre essas feitorias, é correto afirmar que:
a) a feitoria foi uma forma de colonização, empregada por portugueses na África, na
Ásia e no Brasil, com pleno êxito para a atividade agrícola.
b) as feitorias substituíram as capitanias hereditárias durante o Governo Geral de Mem
de Sá, como proposta mais moderna de administração colonial.
c) as feitorias foram estabelecimentos fundados por portugueses no litoral das terras
conquistadas e serviam para armazenamento de produtos da terra, que deveriam
seguir para o mercado europeu.
d) tanto as feitorias portuguesas fundadas ao longo do litoral brasileiro quanto as
fundadas nas Índias tinham idêntico caráter: a presença do Estado português e a
ausência de interesses de particulares.
e) o êxito das feitorias afastou a presença de corsários franceses e estimulou a criação
das capitanias hereditárias.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII.
ALENCASTRO, Luiz Felipe. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
História dos índios no Brasil. CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). São Paulo:
Fapesp/Companhia das Letras, 2002.
À margem dos 500 anos: reflexões irreverentes. PRADO, Maria Lígia. São Paulo:
Edusp, 2002.
Religião e religiosidade no Brasil Colonial. PRIORE, Mary Del. São Paulo: Ática, 2000.
Cinema
Caramuru, a invenção do Brasil
Direção de Guel Arraes. Brasil, 2001. 88 min.
Em 1º de janeiro de 1500 um novo mundo é descoberto pelos
europeus, graças a grandes avanços técnicos na arte náutica e
na elaboração de mapas. É neste contexto que vive em Portugal
o jovem Diogo, pintor que é contratado para ilustrar um mapa e,
por ser enganado pela sedutora Isabelle, acaba sendo punido
com a deportação na caravela comandada por Vasco de Athayde.
A economia na América Portuguesa
A Coroa Portuguesa, a partir da década de 1530, enfrentou algumas dificuldades para
administrar ou sustentar ao mesmo tempo suas posses no Oriente e na África, além de
manter a dispendiosa corte metropolitana. Assim, como vimos no capítulo anterior, os
problemas econômicos impulsionaram os portugueses a procurar novos meios, entre eles
consolidar a conquista e ocupação das terras americanas. Essa alternativa surgida não
consistia numa tarefa fácil, uma vez que implicava no povoamento da colônia, na geração
sistemática de atividades lucrativas e na organização administrativa da região.
Assim, para montar todo esse aparato administrativo na América Portuguesa, tornava-se
necessário a disponibilidade de recursos financeiros que serviriam para custear o povoamento e a mão-de-obra, além de outros pontos. O primeiro passo dado para consolidar tais
objetivos, foi a implantação e desenvolvimento da produção açucareira.
Como a colônia apresentava características geográficas favoráveis ao cultivo da cana-deaçúcar, esse empreendimento propiciou bastante lucro para a Coroa Portuguesa.
―O que é legítimo afirmar, comprovado pela documentação dos preços, é que com a fase
de grande crescimento da economia açucareira assistimos ao seu enquadramento nas linhas
de força do sistema colonial; os preços sobem pouco na colônia, a elevação é acentuada na
metrópole, isto é, geram-se lucros excedentes –lucros monopolistas – que se acumulam
entre os empresários metropolitanos.‖
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial.
1777-1808. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1983. p. 80.
Em síntese, a economia da América Portuguesa foi caracterizada pela utilização da mãode-obra escrava, pela grande propriedade (latifúndio), pelo cultivo de produtos tropicais e
pela extração de metais e pedras preciosa. Outras atividades econômicas também tiveram
importante participação na economia colonial, mesmo sendo colocada em segundo plano
pela política mercantilista metropolitana. O eixo econômico que recebeu mais atenção do
governo português foi evidentemente, a lavoura canavieira. A implantação da agroindústria
açucareira articulou a exploração da América e da África (fornecedora da mão-de-obra) e
ajudou a Coroa Portuguesa a superar ou amenizar a crise dos negócios orientais.
Açúcar: o doce sabor do lucro
De acordo com o Tratado de Tordesilhas, uma parte da região brasileira já pertencia a
Portugal antes mesmo de 1500, porém outros países europeus rejeitavam as determinações
da divisão realizada em 1494. Para efetivar a ocupação das terras americanas, o governo
português, a partir de 1530, iniciou a organização de um empreendimento agrícola bastante
lucrativo para a metrópole. De grande aceitação no mercado europeu, o açúcar foi o
produto escolhido. A opção pelo cultivo da cana-de-açúcar pode ser explicada, pois os
portugueses tinham grandes experiências na produção e comercialização do açúcar
desenvolvido nas ilhas do Atlântico. No final do século XV, na ilha da Madeira já existiam
cerca de 150 engenhos de açúcar, movimentados pelo trabalho escravo.
―(...) Impulsionado pelo príncipe D. Henrique, o Navegador, colonizadores portugueses se
instalaram nas ilhas de Açores e Madeira, aproximadamente em 1425. (...) Mercadores
genoveses logo viram a possibilidade de cultivar cana-de-açúcar nas ilhas. (...) Nas ilhas de
Açores os canaviais cobriam parte das terras, uma vez que a cultura de cereais encontrou
clima favorável. Na ilha da Madeira, e posteriormente nas Ilhas Canárias e São Tomé, a
história foi diferente. Ali, agricultores puderam cultivar cana-de-açúcar em grande quantidade
e na maior parte das terras da ilha. O açúcar proveniente da Ilha da Madeira começou a
chegar a Portugal em 1450; no final do século XV, o açúcar proveniente das ilhas do Atlântico
era mais barato do que aquele produzido no continente europeu, na região mediterrânea.
(...)‖
SOLBRIG, Otto T. e SOLBRIG, Doroth J. Sos hall you reap: farming and crops in human affairs.
Washington, D.C.: Island Press, 1994.
O açúcar era considerado pelos europeus como uma especiaria. Até o período medieval,
ele era usado, exclusivamente, para fins medicinais. Com o decorrer do tempo, o açúcar foi
sendo substancialmente valorizado, tornando-se um produto de primeira necessidade nas
refeições da burguesia e aos poucos se popularizou, se tornando presente na vida cotidiana
de muitos europeus.
Nas regiões a Espanha árabe e na Sicília, desde o século VIII, já se dedicavam ao cultivo
da cana, sendo consideradas as principais produtoras açucareira na Europa. Até os judeus,
instalados em Portugal no início do século XVI, estabeleceram-se na ilha de São Tomé,
litoral africano, para se dedicar ao plantio da cana-de-açúcar.
A produção açucareira na colônia portuguesa foi estruturada, essencialmente, no
Nordeste em sistema de Plantation, estrutura agrícolas caracterizada pelas grandes propriedades rurais monoculturas, produção voltada para o mercado externo e a utilização do
trabalho escravo.
As unidades de produção, denominado de engenhos, ocuparam diversas regiões da
colônia. Os engenhos foram instalados no Nordeste e nos atuais estados de Minas Gerais,
Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesses locais foram produzidos os açúcares
mascavo e semi-refinado e aguardentes de cana (cachaça). Desse modo, nas décadas de
1530 e 1540, a produção canavieira se tornou na primeira atividade mercantil explorada
sistematicamente pela Coroa portuguesa no Brasil.
As boas relações entre holandeses e portugueses favoreceram ao financiamento da
empresa do açúcar, além da distribuição do produto mercado europeu. Por volta de 1590, já
havia aproximadamente 36 engenhos na Bahia e 66 em Pernambuco. Cada engenho possuía
em torno de 80 a 100 trabalhadores.
Engenho de açúcar no
Nordeste brasileira, 1816.
Em linhas gerais, a implementação da agromanufatura do açúcar na América Portuguesa
foram impulsionados pelos seguintes fatores:
1. Extensa margem de lucro que poderia ser alcançada com comercialização do produto no
mercado da Europa;
2. A falta de concorrência e a experiência dos portugueses na produção açucareira nas
ilhas do atlântico (Madeira e Cabo Verde)
3. A participação de créditos holandeses, atuante no financiamento da montagem dos
engenhos, no transporte, no refinamento e na distribuição do açúcar no mercado
europeu;
4. As condições geográficas favoráveis, principalmente, no Nordeste, que apresentava
excelente qualidade do solo (massapê) e ótimas condições climáticas (quente e úmido)
para o cultivo do produto, além da disponibilidade de enormes áreas territoriais.
A produção da cana-de-açúcar demandava grandes propriedades, elevado números de
escravos, pastos para os animais, meios de transportes e áreas florestais que pudessem
fornecer lenha e madeira. A preocupação em atrelar a produção açucareira a uma atividade
rentável gerou uma indispensável necessidade de instalações de elevado custo e também da
utilização de grande quantidade de trabalhadores especializados. Para financiar tal
empreendimento houve a necessidade de contrair empréstimos concedidos principalmente
pelos banqueiros flamengos.
Os engenhos açucareiros
A montagem de um engenho de açúcar demandava altos custos financeiros, o que
provocou frustração nos pequenos produtores, obrigando, inicialmente, os donatários a
solicitarem empréstimos aos holandeses e italianos.
Os engenhos consistiam num conjunto de construções, localizadas nas fazendas
canavieiras, normalmente interligadas, constituídos pela casa-grande (habitação do dono ou
senhor de engenho), a senzala (dormitório dos escravos), a capela (celebração de missas),
a plantação canavieira e o espaço destinado a manufatura do açúcar. Assim, o engenho
tornou-se, durante o período colonial, a mais importante unidade de produção açucareira no
Brasil.
Boa parte das atividades econômicas se concentravam ao redor dos engenhos. A grande
propriedade era destinada especialmente para o cultivo da cana-de-açúcar através da
prática da monocultura, sobrando pouquíssimo espaço para o desenvolvimento da agricultura de subsistência e a pecuária. Depois da colheita, o açúcar era manufaturado nas instalações dos engenhos formados pela moenda, a casa das caldeiras, a fornalha e casa de
purgar.
A cana era esmagada na moenda, onde se extraía o caldo chamado de garapa. Existiam
duas modalidades de engenhos, os movidos por tração animal (trapiche) e os de roda
d‘água (reais). Os mais comuns eram os trapiche, pois a construção dos reais eram
dispendiosos e também dependiam das regularidades dos fluxos fluviais. O cozimento da
cana se processava na casa das caldeiras e fornalhas, grandes tachos, comumente feito
de cobre. Por fim, eram retiradas as impurezas do açúcar na casa de purgar.
A situação dos trabalhadores do engenho era muito complicada, uma vez que eles
viviam num ambiente insalubre, longas jornadas de trabalhos, calor excessivo e vários
acidentes. Sobre os perigos no trabalho nos engenhos, André João Antonil, em seu livro
Cultura e opulência do Brasil, descreve:
―A moenda é o lugar de maior perigo do engenho. Porque, se, por desgraça, a escrava que
mete a cana entre os eixos (cilindros), ou por força do sono, ou por cansaço, meteu
desatentamente a mão mais adiante do que devia, arrisca-se a passar moída entre os eixos.
Se não lhe cortarem logo a mão ou o braço apanhado, tendo para isso junto da moenda um
facão, ou não forem tão ligeiros em fazer parar a moenda, o sofrimento dessa escrava será
ainda maior. Na moenda trabalham cerca de sete ou oito escravas: três para trazer cana, uma
para meter, outra para passar o bagaço, outra para conservar e acender as candeias, que na
moenda são cinco, outra para limpar o cocho do caldo e os aguilhões da moenda e refrescálos com água para que não ardam, e outra para botar fora o bagaço, ou no rio ou na
bagaceira, para se queimar a seu tempo. E se for necessário botá-lo em parte mais distante,
não bastará uma só escrava, mas haverá necessidade de outra que a ajude, porque, de outra
sorte, não se daria vazão a tempo, e ficaria entupida a moenda.‖
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.
No Brasil eram produzidos o açúcar branco, voltado para a exportação, e o açúcar
mascavo (grosso e escuro). A utilização das técnicas de purgar nas unidades produtoras
brasileiras ocorreu, pois não havia refinarias em Portugal. Após o branqueamento, o açúcar
era embalado em caixas e transportado para a Lisboa, que por sua vez seria enviado para
Antuérpia, onde ocorria a distribuição. A partir do século XVII, a cidade de Amsterdã
tornou-se a distribuidora, além de possuir instalações apropriadas para o refinamento do
açúcar.
À margem das grandes propriedades agrícolas e do complexo do engenho, existiam os
lavradores pobre (brancos e mestiços), os quais produziam como meeiros. Nesses locais,
desenvolveram a agricultura de subsistência e o cultivo da cana. Entretanto, eram obrigados
a utilizar a moenda dos senhores de engenhos, por esse motivo ficaram denominadas de
fazendas obrigadas. Em algumas situações, os latifundiários concentravam suas
atividades no processamento do açúcar, deixando a produção sob a responsabilidade dos
lavradores.
Todas essas etapas produtivas transformaram a produção açucareira num negócio
agroindustrial sofisticado e lucrativo, o qual era resultado da combinação de terra, técnica,
trabalho compulsório, cultivo da cana-de-açúcar e instalações. A produção e a comercialização açucareira foram essenciais para consolidar os domínios portugueses no Atlântico,
além de contribuir para a formação de grupos sociais caracterizados por prestígio e poder.
Outro desdobramento dessa unidade produtiva se deu na constituição da sociedade colonial
brasileira, a saber, latifundiária, exportadora e escravista.
A mão de obra na lavoura canavieira
O governo português encontrou muitas dificuldades em empregar a mão de obra
europeia em sua colônia. Devido aos problemas provocados no final do período medieval,
Portugal e outras nações da Europa apresentavam baixo índice populacional. Somado a isso,
livres da servidão feudal, os camponeses não desejavam se deslocar para a América, onde
tinham que enfrentar a difícil tarefa de aventurar-se nas matas tropicais, além de enfrentar
os nativos e árduos trabalhos rurais.
Segundo a lógica econômica estabelecida pela Coroa metropolitana, que visava à
obtenção de elevados lucros com a negociação de produtos tropicais, o dispêndio com a
mão-de-obra deveria ser reduzido. Esse dilema foi solucionado com a inserção de um modo
árduo de trabalho, a escravidão.
No início da produção açucareira, os senhores de engenhos encontraram muitas
dificuldades, devido à escassez de mão de obra. Para resolver esse problema, os índios
foram amplamente usados como escravos nas grandes lavouras canavieiras.
"Família de um chefe camacã se
prepara para uma festa", Jean
Baptiste Debret. Inicialmente os
índios foram utilizados na
produção açucareira.
Mesmo com os impedimentos do Estado português por meio de leis e decretos, além do
combate dos jesuítas, os índios foram escravizados até aproximadamente a década de
1570.
A Igreja Católica, em especial, os jesuítas condenavam a escravização indígena, porém,
não tinham a mesma postura em relação ao trabalho compulsório dos escravos africanos.
Sobre isso, o historiador Jaime Rodrigues afirma:
―O padre Vieira viveu no Maranhão na segunda metade do século XVII e atuou como
protetor dos índios contra a escravidão, defendendo a introdução de escravos africanos. Um
episódio ilustrativo, da maneira como Vieira encarava a escravidão dos africanos, ocorreu
quando os negros de Palmares solicitaram o envio de um capelão para o quilombo. Vieira
recusou-se a atender o pedido, por diversas razões, entre elas, ‗fortíssima e total‘, o fato de
os quilombolas serem escravos rebelados. Por isso estariam em pecado, e sua liberdade não
era conveniente à Colônia. Como disse Vieira em uma de suas cartas, ‗esta mesma liberdade
assim considerada seria a total destruição do Brasil‘. Os Jesuítas se opuseram ao cativeiro
dos índios e transmitiram aos escravos negros a ideia de que sua condição era definitiva por
Deus e que, se suportassem essa situação, a recompensa seria dada no céu. Vieira
comparava os sacrifícios dos escravos na produção de açúcar aos de Cristo na cruz.‖
RODRIGUES, Jaime. O tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Ática, 1997. p.17.
Em fins do século XVI, houve uma substituição nas regiões açucareiras da mão-de-obra
indígena pelos escravos oriundos da África.
Porém, nas regiões periféricas ou regiões econômicas secundárias, tais como o vale
amazônico, o sertão nordestino, São Paulo e o extremo sul, o trabalho compulsório indígena
durou um pouco mais, até por volta do século XVIII, quando foi estabelecida, em 1755,
uma lei de combate a escravidão dos ameríndios.
Por muito tempo, alguns historiadores defendiam a tese de que a substituição da mão
de obra indígena pela escrava africana se deu em decorrência da falta de costume do nativo
ao trabalho, sendo, assim, classificado como preguiçosos, enquanto que o negro tinha
aptidões ao serviço pesado. Entretanto, tal teoria, atualmente, não tem crédito algum.
Há outra teoria que tenta compreender os motivos que impulsionaram a alteração do
trabalho indígena pelos negros africanos. Essa se pauta em conceitos econômicos,
afirmando que o tráfico negreiro constituía numa lucrativa atividade mercantil. Muitos
historiadores contemporâneos afirmam que se torna mais prudente analisar o caso por meio
de diversas determinantes, pois há vários fatores que provocaram a substituição do trabalho
indígena pelo negro.
Em resumo, a escravidão indígena se tornou inviável nas lavouras canavieiras, segundo
as perspectivas dos colonizadores, pelos seguintes fatores:
1. as permanentes resistências das populações indígenas;
2. a fuga em grande escala de tribos das regiões litorâneas para locais de difícil acesso no
interior e área amazônica;
3. devido a resistência dos índios nativos e por se localizarem em regiões cada vez mais
distantes das unidades produtoras, houve um aumento nos preços dessa mão de obra;
4. a falta de adaptação dos índios ao regime de trabalho agrícola típico das atividades da
plantação canavieira, ou seja, caracterizada por processos repetitivos, rigorosa disciplina, uso de método humilhantes e opressivos, além da comercialização das relações
humanas;
5. os interesses mercantis da burguesia metropolitana mais interessada pelo lucrativo
tráfico negreiro, o que devido a grande demanda da mão de obra africana nas regiões
açucareiras garantiu um elevado acúmulo de capitais nas mãos desses empreendedores.
Nessa perspectiva, o trabalho escravo africano foi instalado no Brasil para atender a
demanda da empresa monocultura canavieira. Antes mesmo de colonizar o Brasil, o governo
português já lucrava com o tráfico negreiro, que se realizava com a captura de negros
africanos e sua comercialização na Europa. Além dos portugueses, os ingleses, os
holandeses e os franceses também obtiveram bons lucros com a venda de escravos.
Os traficantes adquiriam os escravos africanos por meio de valores irrisórios, ou melhor,
em troca de fumo; caixas, barris e amarrados de açúcar; aguardente; búzios; fardos e
caixões de tecidos de algodão; mosquetes (arma similar a espingarda); pólvora; espelhos e
contas de vidro. Após a aquisição dos escravos, os colonos vendiam nas colônias,
conseguindo expressos lucros.
Negros de Bengala e Congo, por Debret.
Os colonos viam no trabalho escravo africano algumas vantagens. Uma delas, se dava
pelo desconhecimento por parte dos negros do território, o que dificultava as fugas. Outra
vantagem consistia na aquisição de escravos oriundos de diversificados grupos étnicos e,
portanto, de costumes diferentes, de modo a prejudicar a comunicação e a unidade entre
eles. No entanto, isso não impediu o surgimento de grupos de resistências que foram
articulados por grupos de escravos africanos.
A escravidão moderna se tornou um dos pilares para o desenvolvimento econômico e
para o dinamismo dos negócios mercantis que consolidaram o domínio dos países europeus.
Nas grandes fazendas coloniais, os escravos foram vítimas de maus-tratos e preconceitos. A
mentalidade dos colonizadores se pautava em desvalorizar a raça negra, desprezando seus
padrões culturais e seus costumes, incentivando as disputas internas entre grupos
africanos, como maneira de justificar a escravidão. Assim, o escravo era visto com mera
força de trabalho e como uma mercadoria de precioso valor mercantil.
A partir da década de 1550, desembarcaram no Brasil os primeiros negros, oriundos de
dois grandes grupos étnicos: os bantos (África equatorial e tropical) e os sudaneses
(ocidente africano). Os navios tumbeiros que traziam os negros eram caracterizados por
precárias condições higiênicas. Entre 1560 e 1570, houve uma crescente substancial de
entrada de escravos no Brasil, boa parte deles eram destinados às plantações canavieiras do
Nordeste, principalmente com destino a Bahia e Pernambuco.
As atividades pecuárias: sertão nordestino e extremo-sul
O governo português deu atenção especial à produção da lavoura canavieira que
garantiu extraordinário lucro para a metrópole, principalmente para a Holanda, que chegou
a ganhar mais que Portugal com o refinamento e distribuição do produto. Portanto, esse
bem sucedido empreendimento fez com que os portugueses ficassem desinteressados em
investir em outros setores econômicos.
―(...) Para Roberto Simonsen, quatro foram os instrumentos econômicos que ampararam a
expansão para o interior: a criação de gado, como ‗retaguarda econômica das zonas de
engenho e, mais tarde, em decidido apoio à mineração‘; a caça ao índio, como suprimento de
mão-de-obra em face do comércio africano em declínio, em meados do século XVII; e a busca
de especiarias e drogas do sertão.
Entretanto, o elemento mais importante, nessa fase, foi o gado e a sua expansão através
de currais, na luta de vida e morte contra o primeiro ocupante da terra, desfazendo-se o
mito, caro à historiografia brasileira, da boa conveniência dos índios com os currais.‖
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Conquista e colonização da América portuguesa.
In: LINHARES, Maria Yeda L. História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
Entretanto, o crescimento da indústria açucareira e o aumento das pessoas envolvidas
nessa produção geraram várias necessidades. Nesse momento, a criação de gados ganha
espaço na economia colonial, que teve um papel importante na subsistência da população.
O gado era bastante útil como alimento, meio de transporte, fornecimento de couro e força
de trabalho. Os primeiros rebanhos vieram das ilhas portuguesas do Atlântico,
principalmente de Cabo Verde.
No início da colonização o gado era criado nos engenhos, onde era usado como tração
animal e também no transporte de cargas e pessoas. Gradativamente houve um aumento
no número de reses, o que gerou alguns problemas para os donos de engenhos, uma vez
que os gados destruíram o canavial e ocupava espaço que pertencia ao cultivo do açúcar.
Desse modo, a pecuária encontrou uma série de dificuldades para sua implementação.
Visando garantir os lucros dos grandes proprietários, a administração portuguesa chegou a
proibir a criação dos animais na região litorânea. Essa medida contribuiu para o processo
de interiorização e ocupação do ―grande sertão‖, ultrapassando os limites estabelecidos pelo
Tratado de Tordesilhas. Sobre a expansão pecuária no sertão nordestino, o jesuíta André
João Antonil (1649-1716), em seu livro Cultura e Opulência do Brasil, escreveu:
―As fazendas e os currais de gado situam onde há largueza de campo e água (...), por isso
os currais da Bahia estão postos na borda do rio São Francisco (...). E, posto que sejam
muitos os currais da parte da Bahia, chegam a muito maior número os de Pernambuco (...).
Os currais desta parte hão de passar de oitocentos, e de todos estes vão boiadas para o
Recife, Olinda e suas vilas para o fornecimento das fábricas dos engenhos (...). Só no rio
Iguaçu estão hoje mais de trinta mil cabeças de gado. As da parte da Bahia se tem certo que
passam de meio milhão, e mais de oitocentos mil hão de ser as partes de Pernambuco.‖
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1982. p. 199.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, a pecuária começou a ser realizada no sertão da
colônia, partindo do Rio do São Francisco e percorrendo os atuais estados da Bahia,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, atingido também os
rios Tocantins e Araguaia. Nessa extensa área ainda pouco povoada, os gados ocupavam
enormes latifúndios e eram cuidado por escravos africanos. Em propriedade de porte médio,
os animais eram tratados por trabalha-dores livres, geralmente brancos pobres ou mestiços.
O vaqueiro ou ―curraleiro‖ recebiam uma pequena remuneração pelo exercício de suas
atividades. Porém, a situação dos vaqueiros se diferenciava dos demais criadores, pois
passados quatro ou cinco anos de serviços cada um deles em cada quatro crias recebiam
uma. Assim, os vaqueiros podiam formar seus próprios rebanhos.
―(...) Assim, o (vaqueiro) podia iniciar seu próprio rebanho e sua fazenda criatória que, por
ser extremamente simples, requeria pouco capital. (...) A sociedade que se organizou nas
áreas de pecuária, denominada de ‗civilização do couro‘ (expressão criada pelo historiador
Capistrano de Abreu, no século XIX), permitiu certa mobilidade social. No século XVIII, a
descoberta de ouro nas Minas Gerais levou a pecuária a descer pelo curso do São Francisco,
onde ocorreram lutas entre os índios, que tinham roças nas ilhas, e os vaqueiros, que viam
nessas mesmas ilhas estábulos naturais para o gado. A criação acompanhava ainda os cursos
do Araguaia e do Tocantins.‖
BOLTEHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e Império.
Belo Horizonte: o Autor, 2001. p.136.
A descoberta de salinas nos atuais estados do Ceará, Alagoas e a existência de barreiros
salgados no vale do São Francisco contribuíram para o desenvolvimento das atividades
pecuárias. A partir do início do século XVIII, o atual estado do Pará, ilha do Marajó, se
tornou num importante centro criatório do gado bovino. Já no sul da colônia, a origem da
pecuária teve origem em terras espanholas. Nessa região, a criação do gado era destinada
para a produção da carne salgada (charque). Além disso, essa área fornecia para as regiões
mineradoras gado muar e equino.
No decorrer do século XVIII, a pecuária também se expandiu ao extremo-sul, especificamente para a Capitania de São Pedro, atual Rio Grande do Sul. Essa ampliação significou
também resultou no rompimento com os limites estabelecidos pelo meridiano imaginário de
Tordesilhas.
Em 1680, nas margens do Rio da Prata, a coroa portuguesa funda a Colônia de
Sacramento. O objetivo da Coroa era incentivar o povoamento dessas regiões. Por isso, há
uma motivação da vinda de famílias açorinas para a ocupação das costas litorâneas do
extremo-sul.
A pecuária sulista alcança inicia sua expansão a partir da segunda metade do século
XVIII, pois a ―indústria do charque‖ atinge seus índices mais consideráveis devido a
necessidade de abastecer as áreas mineradoras, na época, já densamente povoadas.
―A atividade mineradora, nos primeiros anos do século XVIII, criou, nas regiões das Minas,
Mato Grosso e Goiás, um grande mercado consumidor de carne. Por isso, muitos paulistas
dedicaram-se a levar para lá boiadas dos campos de Curitiba ou de mais ao sul (do Rio
Grande). O gado era aprisionado, amansado, quedando-se algum tempo nas invernadas,
numa espécie de estágio. Após a engorda, seguia andando até Laguna, núcleo populacional
mais importante do sul. Dali era embarcado para o Rio de Janeiro e Santos, a fim de
abastecer as regiões mineradoras.‖
GANCHO, Cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena de. Caminhos do Boi:
Pecuária Bovina no Brasil. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1990. p. 24.
As drogas do sertão
O espanhol Francisco de Orellana denominou, em 1542, de Amazonas o mais importante
rio que cruzava o norte do Brasil. Essa região que pertencia as posses da Espanha, foi
desbravada e conquistada por exploradores lusitanos. Entretanto, antes dos portugueses,
por volta do final do século XVI e princípio do XVII, os ingleses e holandeses tentaram
ocupar o local.
Em 1616, os portugueses conseguiram edificar um forte em Belém e expulsar os
invasores. Comandada por Pedro Teixeira, em 1637, foi organizada algumas campanhas
oficiais que geraram condições para a colonização portuguesa.
Os principais motivos que impulsionaram os portugueses a explorar o interior da floresta
amazônica foram a possibilidade do aprisionamento indígenas para o trabalho compulsório.
Outro interesse consistia na busca de produtos designados de drogas do sertão. Essa
nomenclatura representava várias especiarias tipicamente da Amazônia: guaraná, anil,
baunilha, salsa, urucum (corante), pau-cravo, castanha-do-pará, gergelim, cacau e noz de
pixurim.
Realizada por meio de trabalho indígenas (organizado pelos jesuítas), que conheciam a
região, a extração dessas ervas e produtos tropicais transformou-se, entre o final do século
XVII e o início do XVIII, na principal atividade econômica desenvolvida no norte, tendo
assim, um importante papel na ocupação do interior da floresta amazônica. Vale salientar,
que os portugueses passaram a se interessarem pelas drogas do sertão no momento em
que os negócios orientais entrava em declínio. Por isso, a necessidade de realizar a
ocupação e exploração de um território que possuía muitas riquezas naturais e exóticas.
Outras atividades econômicas
Na América Portuguesa, outras atividades econômicas também se destacaram à margem
do sistema plantation. Produtos como algodão e o tabaco foram cultivados em pequenas
propriedades e geraram vantagens econômicas para os seus produtores. O litoral baiano se
destacou no cultivo do tabaco que era trocado na África por escravos. Além disso, o tabaco
era consumido na colônia e no mercado europeu, cujos números de consumidores eram
elevados.
No início da colonização, o cultivo do algodão era voltado para mercado interno,
especialmente, na utilização dos tecidos para fazer as roupas dos escravos. É importante
destacar, que os índios já exploravam o algodão, usando-o seus fios para confecção de
redes. Por volta do século XVIII, iniciou-se a exportação de grandes quantidades de
algodão. Esse fato se deu devido a subida de preços no cenário internacional e pela
independência dos Estados Unidos. As colônias inglesas eram exímias produtoras de
algodão e, por causa das instabilidades geradas pela guerra, suas vendas sofreram
considerável abalo. Entretanto, no início do século XIX, os Estados Unidos retomam sua
produção, resultando numa queda das exportações na colônia portuguesa.
Os negócios locais dinamizaram e envolveram comerciantes e produtores. Dentre os
principais produtos produzidos na América Portuguesa, destacaram-se feijão, açúcar, farinha
de trigo, de milho e de mandioca, rapadura, fumo, couro, toucinho, charque e carne fresca,
aguardente, peixe fresco e seco. No comércio colonial também havia a comercialização de
produtos importados, tais como: azeite, vinagre, bacalhau, vinho, pimenta-do-reino,
especiarias, azeitonas, tecidos finos, agulhas para costura, papel, pena, linhas, tinta para
escrever, anzóis e linhas para pesca, além disso, também tinha vasilhas, panelas, jarros,
pratos, tachos e vasos para uso particular, pregos, ferramentas, cordas, caixas e o sal.
Como complemento da economia colonial, havia também a agricultura de subsistência,
que mesmo sufocada pela monocultura, conseguiu produzir uma boa variedade de frutas,
além do cultivo da mandioca, arroz, milho e feijão. No entanto, essa atividade foi
insuficiente, uma vez que não atendia a demanda populacional que a partir do século XVII
cresceu consideravelmente.
TEXTO COMPLEMENTAR
TEXTO 1
Rapadura: alimento do sertanejo
―(...) Hoje muito consumida pela população do Nordeste do Brasil, especialmente no
sertão a rapadura é rica em vitaminas, ferro e flúor. E ainda: possui grande teor energético
e preço baixo, além de ter característica de produto natural.
Também chamada de ‗raspadura‘ (palavra provinda do verbo raspar), a rapadura
originou-se das crostas de açúcar presas às paredes das tachas, durante a sua fabricação,
retiradas pela raspagem e moldadas como tijolos. Com o passar do tempo, recebeu alguns
requintes como a adição de castanhas de caju, amendoim, cabeças-de-cravo e cascas de
laranja.
A fabricação da rapadura iniciou-se nas Canárias, ilhas espanholas do Atlântico,
possivelmente no século XVI, constituindo-se não apenas guloseima, mas uma solução
prática de transporte de alimento em pequena quantidade para uso individual. Como o
açúcar comumente umedecia-se e melava, o ladrilho de rapadura acompanhava o viajante,
por ser de fácil transporte e possibilitar prática acomodação, além de resistir durante meses
às mudanças atmosféricas.
A iguaria, que ficou conhecida por andar junto com a farinha do sertanejo, ganhou
notoriedade. Das mochilas de personagens famosos como Lampião, o rei do cangaço, a
rapadura conquistou as prateleiras dos supermercados e serviu de tema para uma feira
nordestina em Santa Cruz da Baixa Verde, a 444 km do Recife. (...)‖
Disponível em: www.geocities.yahoo.combr/abtine2000/rapadura/rapadura.htm.
Acesso em 10 de agosto de 2009. Texto adaptado.
TEXTO 2
A alimentação na Colônia
―Para as necessidades de alimentação foram-se cultivando de norte a sul, através dos
primeiros séculos coloniais, quase que as mesmas plantas indígenas ou importadas. Na
farinha de mandioca fixou-se a base do nosso sistema de alimentação. Além da farinha
cultivou-se o milho; e por toda parte tornou-se quase a mesma mesa colonial, com
especializações regionais apenas de frutas e verduras: dando-lhe mais cor ou sabor local em
certos pontos a maior influência indígena; ou outros, um vivo colorido exótico a maior
proximidade da África; e em Pernambuco, por ser o ponto mais perto da Europa,
conservando-se como um equilíbrio entre as três influências: a indígena, a africana e a
portuguesa.
(...) É ilusão supor-se a sociedade colonial, na sua maioria, uma sociedade de gente
bem-alimentada. Quanto à quantidade, eram-no em geral os extremos: os brancos das
casas-grandes e os negros das senzalas. Os grandes proprietários de terras e os pretos seus
escravos. Estes porque precisavam de comida que desse para os fazer suportar o duro
trabalho da bagaceira.‖
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala. 49 ed. Ed. São Paulo: Global, 2004. p.94-5.
Analisando os textos
Comente os principais aspectos apresentados nos textos acima concernente aos hábitos
alimentares desenvolvidos no período colonial.
FAZENDO HISTÓRIA
1. Em sua opinião, por que o governo português começou a se empenhar na colonização
das terras americanas a partir da década de 1530? Quais as dificuldades encontradas
para efetivar a colonização do Brasil? Explique.
2. Qual a alternativa encontrada pela Coroa portuguesa para consolidar a colonização de
sua colônia? Qual o resultado dessa solução? Fracassou ou teve êxito? Justifique sua
resposta.
3. Explique as principais funções do governo-geral e quais os resultados obtidos na prática
por esse sistema.
4. Conceitue as Câmaras Municipais. Qual o papel político exercido por elas no período
colonial.
5. (PUC-RJ) O trabalho escravo indígena e do negro africano desempenhou papel
fundamental na colonização da América Portuguesa.
a) Considerando que, nos primórdios da colonização, o recurso à escravização dos
―negros da terra‖, isto é, dos indígenas, foi uma prática recorrente inclusive nas
áreas de plantio da cana-de-açúcar, cite uma razão que tenha contribuído para a progressiva substituição dos escravos indígenas por escravos de origem africana nessas
áreas.
b) Caracterize uma repercussão econômica, social ou demográfica do fim do tráfico
negreiro intercontinental para a sociedade brasileira em meados do século XIX.
6. (Vunesp) ―No Brasil, costumam dizer que para os escravos são necessários três PPP, a
saber, ‗pau, ‗pão‘, e ‗pano‘. E, posto que comecem mal, principiando pelo castigo que é o
pau, contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir como muitas
vezes é o castigo.‖
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil, 1711.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.
a) Qual a crítica ao sistema escravista feita pelo autor do trecho apresentado?
b) Indique dois motivos que explicam a introdução da escravidão negra na porção
americana do Império Português.
7. Pesquise em jornais, revistas, livros ou na internet, informações fazendo referência a
posição social e atuação dos negros na sociedade brasileira contemporânea e em
seguida relacione-os com o nosso passado histórico.
QUESTÕES DE VESTIBULARES
1. (VUNESP) Sobre o emprego da mão de obra escrava no Brasil colonial, é possível
afirmar que
a) apenas africanos foram escravizados, porque a Igreja Católica impedia a
escravização dos índios.
b) as chamadas ―guerras justas‖ dos portugueses contra tribos rebeldes legitimavam a
escravização de índios.
c) interesses ligados ao tráfico negreiro controlado pelos holandeses forçavam a
escravização do africano.
d) os engenhos de açúcar do Nordeste brasileiro empregavam exclusivamente indígenas
escravizados.
e) apenas indígenas eram escravizados nas áreas em que a pecuária e o extrativismo
predominavam.
2. (COVEST) Através dos engenhos de produção de açúcar, Portugal conseguiu acumular
riqueza e ampliar os investimentos no Brasil. Contou ainda com financiamento dos
holandeses. As condições de vida, nos engenhos de cana-de-açúcar:
a) eram de muito luxo e ostentação para aqueles que trabalhavam como assalariados.
b) eram muito precárias nas senzalas, onde habitava a maior parcela dos escravos.
c) dependiam apenas dos senhores, que algumas vezes construíam pequenas moradias para seus escravos.
d) não privilegiavam nem mesmo os senhores, devido à sua falta de estrutura.
e) eram de luxo apenas para os representantes oficiais da Igreja Católica.
3.(COVEST) As razões que fizeram com que no Brasil colonial e mesmo durante o império a
escravidão africana predominasse em lugar da escravidão dos povos indígenas, podem
ser atribuídas a:
a) setores da Igreja e da Coroa se opunham à escravização indígena; fugas, epidemias
e a legislação antiescravista indígena tornou-a menos atraente e lucrativa.
b) religião dos povos indígenas, que, proibia o trabalho escravo. Preferiam morrer a ter
que se submeterem às agruras da escravidão que lhes era imposta nos engenhos de
açúcar ou mesmo em outros trabalhos.
c) Reação dos povos indígenas, que por serem bastante organizados e unidos, toda vez
que se tentou capturá-los, eles encontravam alguma forma de escapar ao cerco dos
portugueses.
d) a ausência de comunicação entre os portugueses e os povos indígenas e a dificuldade de acesso ao interior do continente, face ao pouco conhecimento que se
tinha do território e das línguas indígenas.
e) um enorme preconceito que existia do europeu em relação ao indígena, e não em
relação ao africano, o que dificultava enormemente o aproveitamento do indígena
em qualquer atividade.
4. (UFC) Segundo a definição do historiador Charles R. Boxer, ―o Padroado real português
pode ser definido em geral como uma combinação de direitos, privilégios e deveres
concedidos pelo papado à Coroa de Portugal na qualidade de patrocinadora das missões
católicas e dos estabelecimentos eclesiásticos missioneiros na África, Ásia e Brasil‖ [A igreja
militante e a expansão ibérica, 1440-1770. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 98].
São ―direitos, privilégios e deveres‖ do Estado português na Colônia portuguesa na
América, segundo o Padroado,
a) a uso da Mesa de Consciência e Ordens, criada pela Santa Sé, à qual cabia submeter
à aprovação do rei as indicações dos postulantes a cargos eclesiásticos de categoria
inferior aos bispos pertinentes.
b) a fiscalização da Inquisição mediante o controle administrativo do Tribunal do Santo
Ofício, ativo em Pernambuco, Salvador, Paraíba, Rio de Janeiro e no Estado do GrãoPará.
c) a construção de catedrais, igrejas, conventos e ermidas bem como a coleta dos
dízimos, a criação de novas dioceses e a nomeação de seus titulares.
d) o acompanhamento das atividades missionárias de diversas ordens regulares, como
franciscanos, mercedários, beneditinos, carmelitas e jesuítas, sob a supervisão da
Congregação de Propaganda Fide, criada por Roma em 1622.
e) o veto a bulas e breves papais não autorizados previamente pela Coroa bem como a
implementação de artigos reguladores do dogma religioso e da disciplina eclesiástica
para uso exclusivo do culto e do clero coloniais.
5.(COVEST) Ocupar as terras conquistadas era uma preocupação do governo português,
logo depois da chegada de Cabral ao Brasil. Nesse sentido, a exploração do pau-brasil
foi:
a) fundamental para a instalação imediata dos governos nas capitanias mais ricas, o
que ajudou na compra de escravos.
b) lucrativa para Portugal, durante toda a época colonial, concorrendo com o ouro na
sua exportação.
c) importante para a organização das capitanias gerais, antes da vinda de Martim
Afonso de Souza para o Brasil.
d) ponto de partida para se pensar na administração colonial, apesar das dificuldades
financeiras.
e) decisiva para a escolha do modelo de colonização, no qual não havia auxílio de
capitais privados.
6.(UFTM)
Fonte: Silva, Maria Beatriz Nizza. Nova História da Expansão Portuguesa. Lisboa, Estampa, 1986.
O mapa da página anterior representa as principais atividades da economia brasileira no
século:
a) XVI, que apresenta exploração do pau-brasil no litoral e das drogas do sertão na
região amazônica, assim como a ocupação do interior brasileiro pelas atividades de
mineração e pecuária.
b) XVII, que apresenta importações/exportações, antes proibidas na colônia devido ao
monopólio comercial da metrópole portuguesa.
c) XVIII, pois já demonstra atividades de mineração no centro brasileiro. Não pode ser
de século posterior por não indicar atividade cafeicultora.
d) XIX, em que, no Brasil Império, a economia tinha por base a cafeicultura voltada
para a exportação.
e) XX, no qual a exportação de pau-brasil é preponderante na economia brasileira e se
verifica a existência de áreas industriais, destacadas no mapa.
7.(UPE) A colonização do território brasileiro custou décadas de ocupação para os
portugueses, devido a sua imensa extensão. Com relação à base econômica de
colonização do Norte, pode-se afirmar que
a) predominou, no início, a exploração do ouro que os índios escondiam.
b) ela ficou restrita às drogas comuns na região amazônica e à exploração de minérios.
c) ela teve a cana-de-açúcar como um produto bem sintonizado com as condições da
região.
d) foram bem aceitos os produtos da região na Europa, como canela e cacau.
e) foi explorada a pesca com a ajuda dos índios tapuias da região.
8.(UPE) A exploração das colônias forneceu riquezas para manutenção de muitos Estados
europeus dos tempos modernos. O Brasil destacou-se pela sua importância, contribuindo
com suas riquezas para Portugal. A economia colonial no Brasil
a) teve no açúcar seu único produto realmente lucrativo.
b) dependeu da exploração do ouro.
c) centralizou suas atividades na região Nordeste.
d) conseguiu, com a exploração de diamantes, bons lucros para Portugal.
e) ocupou territórios próximos da região litorânea para a exploração da pecuária.
9. (UPE) Sobre a cana-de-açúcar no Brasil colonial, não é correto afirmar que
a) as zonas produtoras coloniais dedicavam-se à elaboração de um só produto (monocultura).
b) a produção, que tinha a finalidade de complementar as economias da metrópole,
estava voltada para os mercados europeus.
c) os simples plantadores acabaram subordinando-se aos senhores de engenho.
d) se optou pela implantação do escravismo negro, devido a um empreendimento de
alta rentabilidade: o tráfico negreiro.
e) se incentivava minifúndio, isto é, o trabalho livre de pequenos agricultores.
10.(URCA) No período colonial brasileiro as atividades econômicas da mineração e da
produção açucareira tiveram destaque. Ao analisarmos as duas atividades pode-se notar
que:
a) na região açucareira predominou o trabalho escravo, já na região da mineração a
mão de obra das jazidas auríferas era predominantemente assalariada.
b) em ambas predominou o uso do trabalho escravo com predomínio da escravização
dos negros africanos e de seus descendentes aqui nascidos.
c) a mineração tinha um caráter predatório, já a atividade açucareira sempre se
preocupou com a renovação dos solos e a preservação do meio-ambiente.
d) nas duas atividades a utilização do trabalhador livre e assalariado favoreceu a
dinamização da economia colonial.
e) enquanto na região açucareira do nordeste houve rígido controle fiscal e
metropolitano, na região mineradora os portugueses mantiveram-se relativamente
distantes conferindo autonomia aos colonos.
11.(COVEST) A chegada dos portugueses ao Brasil despertou interesses de outros
países europeus. De fato, Portugal:
a) efetivou a ocupação imediata das terras e garantiu seu poder incontestável
diante das outras potências.
b) teve
dificuldade
para
assegurar
sua conquista, devido a problemas na
administração política da colônia.
c) fez alianças políticas importantes com a França e com a Holanda, para combater as
ambições da Espanha.
d) implantou o sistema de capitanias hereditárias, com o êxito que foi destacado
pelos seus inimigos europeus.
e) desprezou a ocupação da colônia, devido à fragilidade da sua organização militar
e a pressão exercida pela Espanha.
12.(UPE) As relações entre ameríndios e europeus na América Portuguesa, desde o século
XVI, se caracterizaram como um dos elementos de formação da organização social do
Brasil. Sobre esta realidade, é correto afirmar que
a) as relações pautadas no escambo, tão características dos anos iniciais da
presença europeia na América Portuguesa perdurou, de forma sistêmica, nas
relações entre europeus e indígenas, até o século XIX.
b) os movimentos de resistência indígena nunca se configuraram como ameaça para os
europeus.
c) a mão de obra indígena não foi utilizada sistematicamente no processo de
colonização da América Portuguesa, tendo em vista a utilização em massa dos
africanos como mão de obra desde a primeira metade do século XVI.
d) a Guerra dos Bárbaros, ocorrida entre os séculos XVII e XVIII, foi um dos capítulos
das tensões entre os índios e a coroa portuguesa no período colonial.
e) diferentemente do que se deu na América Espanhola, não há registros de
movimentos de resistência indígena na América Portuguesa.
OLHARES HISTÓRICOS
Livros
Os africanos e seus descendentes no Brasil. BOULOS JR., Alfredo. São Paulo: FTD,
2002.
Moradores de engenho: relações de trabalho e condições de vida dos
trabalhadores rurais na zona cana-vieira de Pernambuco segundo a literatura, a
academia e os próprios atores sociais. DABAT, Christine Rufino. Recife: Ed, Universitária
da UFPE, 2007.
O trabalho nos engenhos.TRINDADE, Etelvina. São Paulo: Atual, 2000.
Cinema
A MISSÃO
Direção de Rolando Joffé. Inglaterra, 1986. 125 min.
No final do século XVIII Mendoza, um mercador de escravos, fica com
crise de consciência por ter matado Felipe, seu irmão, num duelo,
pois Felipe se envolveu com Carlotta. Ela havia se apaixonado por
Felipe e Mendoza não aceitou isto, pois ela tinha um relacionamento
com ele. Para tentar se penitenciar Mendoza se torna um padre e se
une a Gabriel, um jesuíta bem intencionado que luta para defender os
índios, mas se depara com interesses econômicos.
Música
Tributo a Martin Luther King - Wilson Simonal
A sociedade colonial brasileira
e a escravidão moderna
A sociedade brasileira atual pode ser analisada pela combinação e entrelaçamento de
distintos grupos culturais e étnicos, cujos alicerces remontam ao período colonial. A
sociedade colonial era constituída, essencialmente, por três grupos étnicos: brancos, índios
e negros. Cada uma dessas etnias geraram contribuições culturais originais que foi se
concretizando de modos diferenciados nas diversas regiões do Brasil.
A sociedade colonial fundamentou-se, basicamente, no trabalho escravo, o que
contribuiu para os distanciamentos sociais e os preconceitos gerados pelo trabalho manual.
A escravidão colonial era institucionalizada. Alastrou-se por toda a sociedade, influenciando
nas formas de pensar e agir. Desse modo, o preconceito racial, iniciado no período colonial,
perpassou a abolição e chegou até os nossos dias. Sobre as distinções raciais e de classes
praticadas no Brasil Colônia, o historiador Boris Fausto comenta:
―No âmbito da estrutura social da Colônia, um princípio básico de exclusão distinguia
determinadas categorias, pelo menos até a Carta-lei de 1773. Era o princípio da pureza de
sangue. Impuros eram os cristãos-novos, os negros, mesmo quando livres, em certa medida
os índios e as várias espécies de mestiços. Desse princípio racial decorria a impossibilidade de
ocupar cargos, receber títulos de nobreza, participar de irmandades de prestígio, etc. A
Carta-lei de 1773 acabou com a distinção entre cristãos antigos e novos, o que não quer dizer
que daí para frente o preconceito se tenha extinguido.‖
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. p. 31.
No decorrer dos seus trezentos anos, a sociedade colonial do Brasil sofreu poucas
alterações estruturais. Nesse extenso período, as atividades produtivas estiveram, no
âmbito geral, sustentadas pelos trabalhadores escravos. Podemos afirmar, que as condições
sociais foram moldadas pelas práticas trabalhistas, que permaneceram praticamente
inalteráveis até o final do século XIX.
As relações sociais estabelecidas durante o período colonial foram bastante
diversificadas. Pequenos lavradores, comerciantes, artesãos, burocratas, roceiros, cativos
libertos, religiosos, senhores de engenhos, escravos, mestiços, negros, índios e brancos
promoveram um importante dinamismo nas relações de poder na sociedade colonial.
A casa-grande e dominação na sociedade açucareira
As características das atividades econômicas foram determinantes para a heterogeneidade da formação da sociedade brasileira colonial. Localizados na zona litorânea, os
engenhos se tornaram os centros das relações sociais. Nessas áreas, onde prevaleceram a
agromanufatura açucareira, foram desenvolvidas boa parte da vida social da colônia. Nessa
sociedade preponderou patriarcalismo, ruralismo e escravismo.
A sociedade açucareira era caracterizada pela rígida estrutura social e pelo seu perfil
aristocrático. A grande propriedade agrária, genericamente denominada de engenho, era
formada pela casa-grande, moradia do senhor e de sua família; pela senzala, local que
abrigava os negros escravizados; pela capela, usada para a celebração de missas. Além
disso, tinham as dependências de agregados e de homens livres que viviam nos engenhos e
prestavam vários serviços, como anotações contábeis e fiscalização do trabalho escravo.
O senhor de engenho era a principal autoridade das grandes propriedades açucareiras.
Em seu cotidiano, ocupava-se com os negócios do açúcar, venda, controle e compra de
escravos, administração de suas terras e o pagamento dos salários aos trabalhadores livre.
.
A autoridade dos senhores de engenho não se limitava aos seus familiares. Detentores
de muito poder e prestígio, tinham domínio sobre praticamente todos os habitantes de suas
propriedades, a saber, agregados e massas de escravos. Nem mesmo alguns homens livres
(comerciantes) escapavam, uma vez que o engenho era o mais importante compra-dor de
mercadorias.
Enegenho de cana-de-açúcar em
Pernambuco, Frans Post
(século XVII).
As relações de dependência estabelecidas entre o senhor com os integrantes ligados à
grande propriedade, determinaram à formação de uma sociedade patriarcal. Nessa
perspectiva, os senhores detinham o pátrio poder, ou seja, plenos poderes sobre os seus
dependentes (familiares e demais moradores do engenho). Tudo deveria passar pelas mãos
do senhor. Através dele, eram garantidos os recursos financeiros para a construção e
reforma de igrejas, além da prestação de serviços na área de saúde. Essa estrita relação de
dominação/ subordinação contribuiu para a formação de fortes laços de proteção e de
favores. Esse clientelismo, desenvolvido principalmente nas diversas regiões rurais brasileiras, permaneceu por muito tempo, chegando até mesmo, mesmo com em outros
formatos, até os dias atuais. Pode-se perceber isso, claramente, em algumas práticas
políticas contemporâneas.
A estrutura patriarcal tinha sua reprodução garantida através do direito de
primogenitura, ou seja, a herança do senhor de engenho cabia exclusivamente ao seu filho
mais velho. Os senhores ostentavam luxo, grandeza e autoridade. O religioso André João
Antonil, em seu livro Cultura e Opulência do Brasil, comentou sobre a importância dada, na
época, ao título de ―senhor de engenho‖:
―O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal
(homem que possui riquezas) e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de
engenho, quanto proporcionalmente se estimam os títulos entre fidalgos do reino.‖
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1982. p.89.
O sociólogo Gilberto Freyre (1900-1984) analisou de maneira inovada e ousada, a
estrutura social desenvolvida nos engenhos. De acordo com Freyre, o patriarcalismo, a
dominação e a violência que marcaram as relações sociais durante o período colonial
brasileiro foram atenuadas pelo processo de mistura de raças (miscigenação), pela
―cordialidade‖ e pela tolerância moral.
Em seu livro Casa-Grande e Senzala, lançado em 1933, Freyre buscou entender o
dinamismo da sociedade patriarcal através do estudo das festas, crenças, tradições e dos
costumes praticados pelos diferentes grupos étnicos da época. Em sua opinião, a
miscigenação deu a sociedade colonial um caráter único e diversificado.
Os escravos nas regiões açucareiras desempenhavam múltiplas atividades: preparo da
terra, plantio e corte da cana, transporte do produto e serviços domésticos (mucamas,
criados, moleques de recado). Estes últimos viviam em dependências secundárias da casagrande. Dada a necessidade e relevância do trabalho escravo para a economia colonial,
Antonil afirmou: ―Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho porque sem eles
no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazendas nem ter engenho corrente.‖
―Considerando de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade, (...) um processo
de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura europeia e
a indígena. A europeia e a pastoril. A africana e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o
fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano
e o mascate. O grande proprietário e o paria. O bacharel e o alfabeto. Mas predominando
sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo. É
verdade que agindo sempre entre tantos antagonismos contundentes, amortecendo-lhes o
choque ou harmonizando-os, condições de confraternização e de mobilidade social peculiares
ao Brasil: a miscigenação, (...) a fácil e freqüente mudança de profissão e de residência, o
fácil e frequente acesso a cargos e a elevados posições políticas e sociais de mestiços e de
filhos naturais, (...) a tolerância moral, a hospitalidade a estrangeiros, a intercomunicação
entre as diferentes zonas do país.‖
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala. 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio. P.170-171.
Escravidão
Antes da chegada dos conquistadores europeus, os povos africanos eram fragmentados
em diversas etnias e se organizavam em clãs, tribos, reinos e unidades políticas variadas. A
multiplicidade cultural, espiritual e linguística era imensa. Essa diversidade étnica provocava
com grande frequência vários conflitos intertribais, onde o grupo os perdedores tornavamse prisioneiros dos vencedores. Assim, a escravidão era uma relação social conhecida na
África, porém de maneira diferenciada. Tradicionalmente, os cativos eram presos de
guerras, propriedade comunitária, não podendo ser vendido. De acordo com alguns
historiadores, tratava-se de uma escravidão semi-patriarcal, ou seja, os escravos não
tinham valor econômico. Posteriormente, no contexto do colonialismo da América, os
europeus aproveitaram-se desse fato para adquirir escravos, que foram transformados em
mercadorias e negociados para vários locais do continente americano.
A partir do século XVI, vários negros são retirados de sua terra natal e trazidos para o
Brasil, tornando-se mão-de-obra essencial para o funcionamento da economia colonial. Os
escravos africanos transformaram-se em força de trabalho básico nas atividades açucareira,
mineira e outros setores. Os negócios envolvendo escravos geraram grande rentabilidade
para os senhores de engenhos, poderosos mineradores e demais proprietários.
Os escravos eram transportados da África à América através dos tumbeiros (alusão às
tumbas) que não oferecia nenhuma condição higiênico-sanitária. Cada navio negreiro transportavam, cerca de 400 a 600 pessoas (homens, mulheres e crianças) em compartimentos
sem ventilação. As principais regiões de aquisição de escravos no território africano no
decorrer o período colonial foram: Guiné (século XVI), Congo e Angola (séculos XVII e
XVIII) e Moçambique (séculos XVIII e XIX). Os dois grupos étnicos de negros vindos da
África, tradicionalmente identificados, são dos bantos e dos sudaneses.
Navio Negreiro, Rugendas. Os escravos eram transportados da África à América através dos tumbeiros
(alusão às tumbas) que não oferecia nenhuma condição higiênico-sanitária.
Declamado, em 1868, o conhecido poema de Castro Alves, Navio Negreiro, descreve as
dificuldadese sofrimentos dos negros deslocados da do continente africano para América.
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
Castro Alves, autor do Poema Navio Negreiro.
Trecho do poema Navio Negreiro.
A probabilidade de sobrevivência das pessoas trazidas ao Brasil pelos tumbeiros estava
condicionada a alguns fatores: longa e desgastantes viagens (duração de 35 a 50 dias
aproximada-mente, ou de 5 a 6 meses, quando se enfrentava péssimas condições de
navegação); condições climáticas; alimentação e água. De qualquer forma, as condições de
viagens vivenciadas pelos africanos eram precárias e insalubres. Alguns historiadores
acreditam que as perdas humanas atingiram, no século XVI, a taxa média de 25%. Na
época, os percentuais aceitáveis giravam entre 5% e 15%. Estimativas aproximadas
sinalizam que, ente os século XVI e XIX, quase 400 mil morreram no trajeto África-América.
―Na sua condição de propriedade, o escravo é uma coisa, um bem objetivo. Lembrando
Aristóteles, consideramos nossa propriedade o que está fora de nós e nos pertence. Nosso
corpo, nossas aptidões intelectuais, nossa subjetividade não entram no conceito de nossa
propriedade. Mas o escravo, sendo uma propriedade, também possui corpo, aptidões
intelectuais, subjetividade – é, em suma, um ser humano. Poderá ele o ser humano ao se
tornar propriedade, ao se coisificar?
Assim que escravidão saiu da fase embrionária e mais ou menos acidental nas
comunidades primitivas, ganhando, na sociedade já dividida em classes, contornos definidos
e institucionalizados, a tendência dos senhores de escravos foi a de vê-los como animais de
trabalho, como instrumentum vocale, bem semovente (...)
Daí ter sido usual a prática de marcar o escravo com ferro em brasa como se ferra o
gado. Os negros eram marcados já na África, antes do embarqu
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