0 CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Clóvis Luis Pranke Junior ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO EM PAVIMENTOS INTERTRAVADOS DE BLOCOS PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO COM BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO Santa Cruz do Sul 2013 1 Clóvis Luis Pranke Junior ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO EM PAVIMENTOS INTERTRAVADOS DE BLOCOS PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO COM BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de Engenharia Civil, da Universidade de Santa Cruz do Sul, para a obtenção do título de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. M. Sc. João Rodrigo Guerreiro Mattos. Santa Cruz do Sul 2013 2 Clóvis Luis Pranke Junior ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO EM PAVIMENTOS INTERTRAVADOS DE BLOCOS PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO COM BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO Este trabalho de Conclusão foi apresentado ao curso de Engenharia Civil, da Universidade de Santa Cruz do Sul, como requisito para a obtenção do título de Engenheiro Civil. M. Sc. João Rodrigo Guerreiro Mattos. Professor orientador - UNISC M. Sc. Leandro Olivio Nervis Professor examinador – UNISC M. Sc. José Antonio Rohlfes Junior Professor examinador – UNISC Santa Cruz do Sul 2013 3 AGRADECIMENTOS Ao professor João Rodrigo Guerreiro Mattos, que com muita compreensão e paciência me orientou, permitindo o desenvolvimento e conclusão deste trabalho. Ao professor Leandro Olivio Nervis, sempre que solicitado, se propôs a ajudar. Aos meus pais Clóvis e Marta, por toda dedicação na minha educação, dando todas as condições necessárias para chegar aos meus objetivos. A minha irmã Natália, que acompanhou e torceu pelo término deste trabalho. A minha namorada Luciane por todo incentivo, apoio, conforto e compreensão durante este trabalho. Ao engenheiro Daniel Schaack pela paciência e compreensão que teve durante este ano. E a todos parentes, amigos e colegas que, de forma direta ou indireta, contribuíram para conclusão deste trabalho. 4 O mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar, e correr o risco de viver seus sonhos. Cada qual com seus talentos. (COELHO, P. As Valkírias) 5 RESUMO O mau estado de conservação de alguns pavimentos de ruas antigas do município de Santa Cruz do Sul, assimilada com a rápida expansão da zona urbana ocorrida através da implantação de loteamentos, torna importante o questionamento da qualidade dos novos pavimentos a serem construídos. O presente trabalho de conclusão de curso busca fazer este questionamento a um projeto de pavimentação intertravada com blocos pré-moldados de concreto para um loteamento residencial a ser implantado, analisando o comportamento de sua estrutura através de métodos modernos utilizando a ferramenta de análise elástica de múltiplas camadas (AEMC) do software SisPav®. Com as propostas de projeto, foi testada a capacidade do pavimento de absorver as tensões e transmitir para o subleito, tendo os resultados em mãos, os pavimentos foram analisados de acordo com seu volume de tráfego. O dimensionamento de projeto foi avaliado e discutido considerando fatores como técnica, economia e meio ambiente. Palavras-chave: mecânica dos pavimentos, blocos intertravados, análise estrutural. 6 ABSTRACT The bad state of conservation of some paving of old streets of the city of Santa Cruz do Sul, assimilated with the rapid expansion of urban areas occurred through the implementation of allotments, makes important the question of the quality of the news pavings that will be build. The present final paper seeks to make this question to a project of paving interlocked precast concrete blocks of a residential subdivision to be implanted, analyzing the behavior of their structure by modern methods using the analysis tool multiple layers elastic – AEMEC- from the software SisPav®. With the proposals of the project, was tested the capacity of the paving of absorb the tensions and transmit for the subgrade, having the results in hands, the pavings was evaluated and discussed considering the factors like technique, economic and environment. Keywords: Pavement Mechanics, interlocked blocks, structural analysis. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa geológico de Santa Cruz do Sul............................................... 14 Figura 2: Exemplo de estrutura de pavimento asfáltico. ................................... 17 Figura 3: Atuação de cargas dos pavimentos ................................................... 20 Figura 4: Estrutura de pavimento com bloco de concreto intertravado ............. 22 Figura 5: Esquema das tensões, deformações e deslocamentos nos pontos críticos de um pavimento asfáltico. ........................................................................... 28 Figura 6 : modelo de comportamento resiliente de solos. ................................. 32 Figura 7: Distribuição de cargas no pavimento ................................................. 36 Figura 8: Estruturas de pavimento .................................................................... 37 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Constituições de base ....................................................................... 19 Tabela 2: Classificação de vias e parâmetros de tráfego ................................. 25 Tabela 3: Modelos constitutivos do comportamento resiliente de materiais de pavimentação ............................................................................................................ 29 Tabela 4: Sequência de tensões para determinação do módulo de resiliência.31 Tabela 5: Correlações entre MR e CBR. .......................................................... 33 Tabela 6: Valores de Coeficiente de Poisson para alguns materiais de pavimentação ............................................................................................................ 35 Tabela 7: Resumo de dados para o pavimento Tipo 1 ..................................... 38 Tabela 8: Resumo de dados para o pavimento Tipo 2 ..................................... 39 Tabela 9: Resumo de dados para o pavimento Tipo 3 ..................................... 39 Tabela 10: Resumo de valores de carregamento ............................................. 39 Tabela 11: Resultado do AEMC do pavimento tipo 1 no ponto de topo do revestimento .............................................................................................................. 41 Tabela 12: Resultado do AEMC do pavimento tipo 1 no ponto de topo do subleito ...................................................................................................................... 41 Tabela 13: Comparação de Tensões verticais atuante e admissível do Pavimento Tipo 1 ...................................................................................................... 42 Tabela 14: Resultado do AEMC do pavimento tipo 2 no ponto de topo do revestimento .............................................................................................................. 43 Tabela 15: Resultado do AEMC do pavimento tipo 2 no ponto de topo do subleito ...................................................................................................................... 43 Tabela 16: Comparação de Tensões verticais atuante e admissível do Pavimento Tipo 2 ...................................................................................................... 43 Tabela 17: Resultado do AEMC do pavimento tipo 3 no ponto de topo do revestimento .............................................................................................................. 44 Tabela 18: Resultado do AEMC do pavimento tipo 3 no ponto de topo do subleito ...................................................................................................................... 45 Tabela 19: Comparação de Tensões verticais atuante e admissível do Pavimento Tipo 2 ...................................................................................................... 45 9 LISTA DE SIMBOLOS E ABREVIATURAS AASHTO American Association of State Highway and Transportation Officials ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland AEMC Programa Análise Elástica de Múltiplas Camadas CBR California Bearing Ratio CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Naturais cm2 Centimetros quadrados DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes ISC Índice Suporte Califórnia JULEA Jacob Uzen Layered Elastic Analysis Kgf Quilograma Força KPa quilo pascal LTDA Sociedade Limitada M metro MG Minas Gerais MPa Mega Pascal MR Módulo de Resiliencia MS Mato Grosso do Sul NBR Norma Brasileira PR Paraná Psi Libra Força por Polegada RS Rio Grande do Sul SP São Paulo SC Santa Catarina TRB Transportation Research Board µm Micro metro 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12 1.1 Área e limitação do tema .................................................................... 12 1.2 Justificativa .......................................................................................... 13 1.3 Objetivos .............................................................................................. 13 1.3.1 Objetivo geral ................................................................................... 13 1.3.2 Objetivo específico........................................................................... 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 14 2.1 Localização e características geológicas da região de estudo ....... 14 2.1.1 Formação Serra Geral ...................................................................... 15 2.1.2 Durabilidade e Alterações em rochas basálticas; ......................... 16 2.2 Estrutura de um pavimento ................................................................ 17 2.2.1 Subleito ............................................................................................. 18 2.2.2 Reforço de Subleito.......................................................................... 18 2.2.3 Base e Sub Base .............................................................................. 18 2.2.4 Camada de revestimento ................................................................. 19 2.3 Pavimento intertravados com blocos de concreto pré-moldados .. 20 2.4 Tráfego e carregamentos .................................................................... 23 2.4.1 Ciclo de vida do pavimento ............................................................. 25 2.4.2 Influencia da inflação dos pneus .................................................... 26 2.5 Análise mecanística-empirica de um pavimento .............................. 27 2.5.1 Métodos de dimensionamento com base na teoria da elasticidade ........................................................................................................... 27 2.6 Resiliência ............................................................................................ 29 2.6.1 Módulo de Resiliência ...................................................................... 30 2.6.2 Correlação de Módulo de Resiliência com CBR/ISC ..................... 33 2.6.3 Ensaio de CBR ou ISC ..................................................................... 34 2.6.4 Coeficiente de Poisson .................................................................... 34 2.6.5 Dimensionamento mecanístico-empírico de pavimento em bloco intertravado ........................................................................................................... 35 2.6.6 3 Verificação da tensão vertical na superfície do subleito .............. 35 METODOLOGIA ....................................................................................... 37 3.1 Dados de projeto ................................................................................. 37 3.2 Uso do software de Análise Mecanística-empírica ........................... 38 11 3.2.1 4 Verificações de desempenho .......................................................... 39 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................ 41 4.1 Estrutura de Pavimento do Tipo 1...................................................... 41 4.2 Estrutura de Pavimento do Tipo 2 ...................................................... 43 4.3 Estrutura de Pavimento do Tipo 3 ...................................................... 44 5 5.1 6 CONCLUSÃO ........................................................................................... 47 Sugestões para próximas pesquisas ................................................. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 49 12 1 INTRODUÇÃO Sabendo do aquecimento do mercado imobiliário em Santa Cruz do Sul, empreendedores viram o ramo da construção e incorporação de loteamentos residenciais um bom investimento a médio e longo prazo. A execução desses loteamentos compreende toda a infraestrutura desde terraplenagem, assentamento de redes de saneamento, eletrificação e por fim a pavimentação, assunto deste trabalho. Percebe-se de uma maneira geral que o dimensionamento estrutural desses pavimentos nem sempre existe, se existe, é feito de uma maneira empírica. O objetivo principal dos empreendedores e investidores sempre foi e sempre será o lucro rápido. Neste ramo, os prazos curtos são justificativa para deixarem de fazer uma correta investigação geotécnica e um bom estudo científico. Este trabalho busca através de análise computacional de tráfego, estudar, questionar e criticar um projeto estrutural de pavimento intertravado com blocos pré-moldados de concreto. A análise busca verificar a qualidade final do pavimento, o uso correto e racionalizado de recursos naturais e o objetivo principal requisitado pelos empreendedores a economia. Os comportamentos das estruturas dos pavimentos projetados foram analisados por método mecanístico-empírico, através da ferramenta de Analise Elástica de Múltiplas Camadas – o AEMC, que é uma rotina do software SisPav®. Franco (2008) que desenvolveu o software, fala que a necessidade da modelagem mecanística-empírica vem da busca constante de aperfeiçoar os projetos de pavimentação em termos de eficiência estrutural, de modo a utilizar materiais, cuja experiência de desempenho em campo ainda não se tem suficiente, e considerando, também, condições ambientais e de tráfego, diferentes daquelas para as quais os Métodos Empíricos, ainda utilizados no país, foram desenvolvidos. 1.1 Área e limitação do tema O presente trabalho foca a área de geotécnica e pavimentação. Pretende-se analisar e avaliar o desempenho de três tipos de estrutura de pavimentos, através de métodos mecanísticos para estimar as tensões atuantes devido ao tráfego de veículos. As estruturas de pavimentos a serem estudas foram extraídas do projeto de pavimentação intertravada de blocos pré-moldados de concreto de um loteamento 13 residencial em Santa Cruz do Sul, RS, o qual prevê o assentamento de blocos sobre um colchão de areia e o subleito, dependendo da capacidade de suporte, recebem uma camada de basalto alterado (reforço de subleito). As simulações computacionais foram executadas através da ferramenta de rotina AEMC do software SisPav®. 1.2 Justificativa Diante da rápida expansão da zona urbana de Santa Cruz do Sul, tendo as diversas empresas urbanizadoras da região buscando redução de custos, torna-se oportuno o questionamento quanto à qualidade dos pavimentos construídos, inclusive o uso correto dos recursos naturais da região. Na região de Linha João Alves, localizada ao leste do município de Santa Cruz do Sul, o basalto alterado torna-se o material de reforço de subleito preferido para pavimentação pelos empreendedores, por ser de custo relativamente baixo e na maioria das vezes é explorado dentro dos próprios empreendimentos. Constatado que muitas vezes estes pavimentos são dimensionados de forma empírica por não ser definido um controle de aceitação técnico cientifico para os empreendimentos. O presente trabalho tenta inverter essa situação, na tentativa de implantar métodos mais modernos, criando ao acadêmico, experiência científica, auxiliando na formação, para no futuro tomar as decisões corretas quanto à qualidade e economia dos pavimentos executados. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral A presente pesquisa tem como objetivo geral estudar as propostas de um projeto de pavimentação de um loteamento residencial com baixo volume de tráfego. 1.3.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos desta pesquisa são: Fazer uma breve revisão bibliográfica das questões básicas da mecânica de pavimentos; Com dados do projeto, utilizar o software SISPAV para verificar as tensões atuantes no subleito, para então criticar, avaliar e discutir os seus resultados; 14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Localização e características geológicas da região de estudo Para definição dos materiais de construção a serem aplicados em obra é de suma importância ter o conhecimento da localização geográfica e características geológicas da região, justificando assim a escolha dos materiais e seus métodos construtivos, quanto à economia e qualidade. Conforme Wenzel (1996), o município de Santa Cruz do Sul encontra-se na margem sudeste da grande deposição sedimentar conhecida como Bacia do Paraná. Apesar do perímetro urbano se circunscrever dentro da Formação Santa Maria, a litologia mais expressiva, são as rochas basálticas características da Formação Serra Geral que configuram o relevo Norte e Leste da cidade. Figura 1: Mapa geológico de Santa Cruz do Sul Fonte: Noronha et al. (2012) 15 2.1.1 Formação Serra Geral A designação dada por White (1906), citado por Arnold (1993), refere-se Formação Serra Geral como província magmática relacionada aos derrames e intrusivas que recobrem 1,2x106 km2 da Bacia do Paraná (MELFI ET AL., 1988, citado pela COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS -CPRM, 2012), considerado um dos mais importantes eventos vulcânicos do planeta, abrangendo toda a região centro-sul do Brasil recobrindo os estados de MG, MS, SP, PR, SC e RS, e estendendo-se ao longo das fronteiras do Paraguai, Uruguai e Argentina. Aceitando-se a hipótese que tenha continuidade física no continente africano. O sistema de derrames em platô é alimentado através de uma intensa atividade intrusiva, normalmente representada por diques e sills que acompanham, grosseiramente, as principais descontinuidades estruturais da bacia. Na região estudada, a Formação Serra Geral está imediatamente sobreposta aos arenitos da Formação Botucatu e em alguns locais sobre as argilas vermelhas da Formação Santa Maria. Foram identificados três terraços correspondentes a três períodos de extrusão de lavas, ocorrendo intercalações com arenitos, que sugerem a continuação de um ambiente de clima desértico, enquanto durou esse vulcanismo (CORDANI ET AL., 1980, citado por WENZEL, 1996). As variações composicionais, os dados geocronológicos, as características texturais e o arranjo entre derrames e intrusivas da bacia, possibilitaram a divisão da Serra Geral em oito fácies distintas, cinco relacionadas ao magmatismo máfico (fácies Gramado, Paranapanema, Pitanga, Esmeralda, Campo Erê e Lomba Grande) e quatro ao magmatismo intermediário a félsico (fácies Palmas, Chapecó, Várzea do Cedro e Alegrete). Desse conjunto, abordaremos a fácies Gramado (CPRM, 2012). Fácie Gramado tem sua área tipo ao longo da escarpa sul da Serra Geral e refere-se a um conjunto de derrames com espessura máxima em torno de 300 metros que representam as primeiras manifestações vulcânicas sobre os sedimentos arenosos do então deserto Botucatu (CPRM, 2012). 16 2.1.2 Durabilidade e Alterações em rochas basálticas Segundo Fiorentini (2002), citado por Retore (2005), durabilidade de rochas, numa forma abrangente, significa a capacidade do material resistir às mudanças das condições física, químicas e mecânicas (resistência mecânica, textura, porosidade, homogeneidade, permeabilidade, cor, fraturas, estética, etc.), na qual fica submetida desde sua retirada do ambiente geológico de origem, durante os processos de extração, estocagem e manuseio durante a construção da obra de engenharia, até o seu desempenho no pós-obra. O termo alteração é usado para designar as alterações físicas e químicas das rochas. Neste caso, tais modificações provocam mudanças no desempenho da rocha, principalmente do ponto de vista geomecânico (FRAZÃO, 1993, citado por MAIA, 2001). O fator intemperismo é o que representa o conjunto de processos que ocasionam a desintegração e a decomposição das rochas e dos minerais provocados pelos agentes atmosféricos (físicos e químicos) e biológicos (LEINZ E MENDEZ, 1963, citado por MAIA, 2001). Por desintegração, entende-se o intemperismo por agentes físicos e por decomposição o intemperismo devido aos agentes químicos. O intemperismo físico resulta da desagregação mecânica da rocha e desorganização da estrutura dos minerais constituintes, através de mudanças térmicas e erosão da água, gelo, ventos, vegetação, etc. onde a rocha matriz sofre fraturas e se divide em fragmentos cada vez menores formando os pedregulhos, areias, sites e em condições especiais até mesmo as argilas. O intemperismo químico acontece por meio de reações químicas na rocha, através principalmente do agente água, originadas por hidratação, oxidação, dissolução, carbonatação, cimentação e efeitos químicos da vegetação. As argilas representam o último produto do processo de decomposição. A desintegração consiste na perda de coesão da rocha e na progressiva individualização dos minerais constituintes, sem que ocorra, necessariamente, a alteração da natureza dos minerais. A decomposição corresponde à modificação progressiva da natureza dos minerais, sem necessariamente ocorrer desintegração. O grau de alteração das rochas depende da estabilidade química dos minerais constituintes. Em geral, as rochas basálticas se alteram mais facilmente 17 que outros tipos de rocha, como, por exemplo, os granitos, principalmente em condições úmidas. Esta maior alterabilidade dos basaltos se deve porque seus minerais primários são menos estáveis quimicamente que os do granito, para mesmas condições físico-ambientais (ARNOLD, 1993). Nos basaltos é frequente a presença de minerais secundários deletérios originados por ação hidrotermal; que são relativamente mais alteráveis nas mesmas condições físico-quimicas do meio. Dentre os que mais contribuem são os argilominerais de constituintes vítreos que podem ser do grupo das esmectitas estes apresentam expansibilidade na presença da água e encontram-se nas rochas preenchendo as fraturas (ARNOLD, 1993). 2.2 Estrutura de um pavimento O pavimento é definido como uma estrutura de múltiplas camadas construída sobre a camada final de terraplenagem. Essa estrutura é destinada técnica e economicamente a resistir aos esforços verticais produzidos pelo tráfego e a melhorar as condições de rolamento quanto à comodidade e segurança. As camadas de um pavimento representadas na figura 2 seguem a seguinte terminologia: subleito, reforço de subleito, sub-base, base e revestimento superior (ANDRADE, 2012). Seu dimensionamento depende de fatores como o tipo de revestimento, condições de trafego, os materiais utilizados, fundações, o clima e o nível da água. Figura 2: Exemplo de estrutura de pavimento asfáltico. Fonte: Andrade (2012) 18 Os solos do subleito e todos os materiais que compõem as camadas do pavimento devem ser ensaiados e caracterizados para assegurar um bom desempenho do pavimento (MARQUES, 2011). 2.2.1 Subleito Normalmente é o terreno in natura, o qual pode receber camadas de aterro compactado para chegar à cota de projeto. Não deve ser um solo expansivo. O subleito pode receber uma camada de regularização, que corrige falhas da camada final de terraplenagem ou de um leito antigo de estrada de terra (BERNUCCI et al. 2008). O subleito será considerado adequado para “receber” a base ou a sub-base se a sua resistência, expressa pelo índice CBR/ISC, for maior que 2% e a expansibilidade relativa menor ou igual a 2% (ABCP, 2001). 2.2.2 Reforço de Subleito Quando existente, trata-se de uma camada de espessura constante sobre o subleito regularizado. Tipicamente um solo argiloso de qualidades superiores a do subleito. 2.2.3 Base e Sub Base A sub-base encontra-se acima do subleito ou camada de reforço de subleito, a camada deve ter boa capacidade de suporte. Previne o bombeamento do solo do subleito para a camada de base, sendo que a existência ou não da camada de subbase estará dependente do dimensionamento do pavimento. Abaixo do revestimento, fornecendo suporte estrutural, a camada de base tem como função receber as tensões distribuídas pela camada de revestimento. Deverá resistir e distribuir os esforços à camada de sub-base se esta existir ou então para o subleito, evitando assim as deformações permanentes e a consequente deterioração do pavimento. (MÜLLER, 2005, citado por MORGADO, 2008) Nos pavimentos asfálticos a camada de base é de grande importância estrutural. As bases podem apresentar as diversas constituições, conforme Tabela 1. 19 Tabela 1: Constituições de base Base Granular: Base Coesiva: Não tem coesão, não resiste à tração, dilui as tensões de compressão, principalmente devido a sua espessura. Sem Aditivo: Solo; Solo-brita; Brita graduada. Com aditivo: Solo melhorado com cimento; Solo melhorado com cal. Dilui as tensões de compressão também devido a sua rigidez, provocando uma tensão de tração em sua face inferior. Com ligante ativo: Solo-cimento; Solocal; Concreto rolado. Com ligante asfáltico: Solo-asfalto; Macadame asfáltico; Mistura asfáltica. Fonte: BERNUCCI et al., 2008 Os materiais de menor custo, utilizados na região são os basaltos, sendo eles os alterados, extraído por escavações e os detonados. Com um custo um pouco maior, porém com desempenho muito melhor, existem os britados, que podem ser devidamente graduados para seu fim. O uso de aditivos ou ligantes na base não é comum, considerando que o foco do presente trabalho é de obras na zona urbana do município. 2.2.4 Camada de revestimento A camada de revestimento estabelece a condição de conforto ao usuário, durabilidade do pavimento e contribui decisivamente para a função estrutural do pavimento (distribuição de tensões) por intermédio das suas características de travamento, além de suportar as tensões de corte superficiais de contato das rodas dos veículos (MORGADO, 2008) Podemos classificar os pavimentos em três tipos (BERNUCCI et al., 2008): Pavimentos Rígidos: com revestimento executado com placas de concreto de cimento Portland; neste caso a placa absorve maior parte das tensões, a distribuição das cargas faz-se sobre uma área relativamente maior. É pouco deformável e mais resistente à tração, sendo que a qualidade do subleito pouco interfere no comportamento estrutural. Pavimentos Flexíveis: revestido de camada asfáltica ou com blocos de concreto intertravados e com base de espessuras proporcionais à rigidez das camadas. Essas camadas sofrem deformações elásticas significativas que até um limite não levam ao rompimento. A qualidade do subleito é importante, pois é submetido a altas tensões e absorve maiores deflexões. 20 Pavimentos Semi-rigidos: revestido de camada asfáltica e com base estabilizada quimicamente (cal, cimento); sendo a base estabilizada rígida e absorvendo a maior parte das tensões. A Figura 3 faz uma comparação em um modelo de pavimento flexível e um modelo rígido, visualizando a atuação das cargas seu comportamento. Figura 3: Atuação de cargas dos pavimentos Fonte: Andrade (2013) 2.3 Pavimentos intertravados com blocos de concreto pré-moldados O sistema de pavimentação em blocos pré-moldados de concreto - também conhecido como sistema de pavimentação intertravada - consiste na utilização de peças pré-moldadas com características técnicas específicas para esse tipo de aplicação. Tendo um comportamento estrutural semelhante aos pavimentos flexíveis, os pavimentos intertravados com blocos de concreto permitem liberar o tráfego logo após o assentamento e executar consertos sem deixar remendos, sendo uma boa alternativa, tanto do ponto de vista técnico quanto econômico. Os pavimentos com blocos de concreto têm como característica principal a sua superfície antiderrapante proporcionando maior segurança em rampas ou curvas e em casos de frenagem, principalmente quando a superfície se encontra molhada. As juntas entre as peças possibilitam a infiltração de uma parcela das águas incidentes permitindo uma boa drenagem das águas da chuva e, ao mesmo tempo, evitam a impermeabilização do solo, amenizando desta maneira, o impacto ambiental. É 21 considerado, portanto, um piso ecologicamente correto (ESCOLHER & CONSTRUIR, 2007, citado por MORGADO, 2008). A execução desse tipo de pavimento é feita primeiramente pelo assentamento dos elementos de confinamento (normalmente o meio-fio), posteriormente, de forma manual, o assentamento dos blocos de concreto, acima de um colchão de areia não compactado, porém devidamente regularizado. Os pavimentos de blocos requerem elementos que os confinem evitando deslocamentos das peças, abertura das juntas e perda de travamento entre blocos. Esses elementos são denominados de meio-fio e devem colocados antes dos blocos. O colchão de areia do pavimento tem objetivo principal de servir de apoio ao assentamento dos blocos de concreto. A espessura e a qualidade da areia utilizada estão diretamente ligadas ao desempenho final do pavimento. O comportamento estrutural dos blocos de concreto está inteiramente ligado à espessura da camada, à granulometria e ao índice de forma dos grãos (MÜLLER, 2005, citado por MORGADO, 2008). Uma característica que influencia negativamente o desempenho do colchão de areia é a presença de silte e argila na areia. Provoca desajustamento e desnível entre os blocos, além de conduzir a um endurecimento exagerado nesta camada (MORGADO, 2008). A espessura final dessa camada, uma vez colocados os blocos e vibrado o pavimento, deve estar compreendida entre 3 e 5 cm. Conforme Morgado (2008), espessuras maiores que 5 cm, tendem a se deformar com maior facilidade, e ao contrário, tendo a camada de areia com pouca espessura (menor que 3 cm), propicia a ruptura do bloco de concreto. O procedimento correto do assentamento dos blocos determina que ele seja iniciado a partir de um meio-fio lateral e em ângulos retos ou a 45˚ em relação ao eixo definido. Os blocos devem ser dispostos o mais próximo possível entre si, de maneira a garantir o intertravamento - as juntas entre blocos não devem exceder a 3 mm. Os blocos podem ser assentados de diversas paginações, dependendo do seu tipo, do tráfego e da estética que se deseja. 22 Figura 4: Estrutura de pavimento com bloco de concreto intertravado Fonte: Morgado (2008) Concluído o assentamento, o pavimento deve então ser submetido à compactação para adensamento da areia e eliminação de eventuais desníveis, através de uma placa vibratória. Durante a vibração, uma camada de areia fina deve ser espalhada sobre a superfície, garantindo o total preenchimento das juntas do pavimento e consequente intertravamento dos blocos, fator importante para o desempenho adequado do pavimento. Os pequenos espaços existentes entre eles e as bordas de acabamento devem ser preenchidos com argamassa de cimento e areia. A área pode então ser liberada ao tráfego. Pode-se definir travamento como sendo a característica que um pavimento intertravado tem de resistir a esforços de deslocamentos individuais das peças, sendo esses verticais, horizontais, de rotação e de giração em torno dos blocos vizinhos. Um bom travamento confere aos blocos de concreto a capacidade de transmitir as cargas superficiais aplicadas em pequenas áreas, para áreas mais extensas nas camadas de base, mantendo as tensões no subleito do pavimento dentro dos limites admissíveis. (HALLAC, 1998, citado por MORGADO, 2008). A propriedade de distribuição das cargas vai melhorando com o tempo de utilização do pavimento. Chega-se progressivamente a um estado de travamento total, a camada de rolamento vai adquirindo maior rigidez e os blocos pré-fabricados de concreto deixam de constituir uma mera camada de rolamento e transformam-se numa camada estrutural. Conforme a NBR 9781:1987, peças pré-moldadas de concreto devem obedecer aos seguintes requisitos: 23 Qualidade condizente com a vida útil prevista, boa aparência, tamanho e forma mais uniforme possível, para um bom intertravamento entre as faces laterais, e superfície de rolamento plana; As diferenças máximas entre as dimensões nominais dadas pelo fabricante e as reais, medidas em um determinado lote, não devem ultrapassar 3 mm no comprimento e largura e 5 mm na espessura; Bordas com cantos vivos, sem distorções ou perdas de material, rebarbas horizontais; Faces laterais podem ser retas ou curvas, mas devem ser sempre perpendiculares às duas faces anteriores, e não podem ter “ombros” de apoio com as peças vizinhas. 2.4 Tráfego e carregamentos Definiu-se a partir dos estudos desenvolvidos pela AASHTO Road Test no final da década de 50, um eixo padrão que é um eixo simples de rodado duplo com carga de 18.000 lb ou 82 kN (8,2tf) e 552 kPa (80psi) de pressão de inflação dos pneus. Os efeitos destrutivos destas cargas sobre os pavimentos podem ser comparados ao provocado por um determinado número de passagens do eixo padrão (ALBANO, 2005). Desta forma, o tráfego previsto para um pavimento é definido em função do número equivalente de operações do eixo padrão durante o período de projeto. Essa quantidade de passagens do eixo padrão é o tradicional número N. A definição do número N de projeto é baseada em estudos e previsões de tráfego da via. Tem uma modelagem de tráfego complexa, pois envolve contagem de veículos, distribuição do peso sobre os eixos, velocidade de passagem, variação lateral e locação em relação ao eixo da rodovia, geometria dos eixos, pressão dos pneus, entre outros (FRANCO, 2007). Conforme a Prefeitura Municipal de São Paulo (2004) para o estabelecimento do parâmetro "N" (número de operações do eixo padrão de 82 KN), representativo das características de tráfego são estudados os seguintes tópicos: • Estimativa das porcentagens mais prováveis de cada tipo de veículos de carga na composição da frota. Isso é efetuado levando-se em conta a função preponderante de cada classe de via. 24 • Carregamento provável de acordo com cada classe de via. Constata-se que, em viagens curtas e principalmente nas zonas urbanas, a porcentagem de veículos circulando com carga abaixo do limite e mesmo "vazios" é elevada. A solicitação de tráfego sobre uma rodovia pode ser calculado pela expressão abaixo, sendo função direta de três variáveis principais: o volume total de veículos em todo período de projeto (Vt), o fator de veículos (Fv) e o fator climático regional (Fr) que é determinado em função da precipitação pluviométrica anual da região. . (1) Para o cálculo do fator de veículos (Fv), portanto, faz-se necessária a transformação de todas as cargas dos diferentes tipos de veículos em cargas que sejam equivalentes, em poder destrutivo, à carga do eixo padrão (Franco 2007). O método do DNER, desenvolvido a partir de pequenas alterações num método do Corpo dos Engenheiros do Exército Americano (TURNBULL ET AL, 1962, citado por FRANCO, 2007) pelo engenheiro Murillo Lopes de Souza, expressa o fator de veículos em função de dois fatores, o fator de eixos e o fator de carga, conforme a expressão. (2) Fe é o fator de eixos: um valor que, multiplicado pelo número de veículos, fornece o número de eixos correspondente; Fc é o fator de cargas: um valor que, multiplicado pelo número de eixos, fornece o número de eixos equivalente ao eixo padrão. A instrução de projetos da Prefeitura Municipal de São Paulo (2004) classifica os diferentes tipos de tráfegos para projetos de vias com blocos intertravados na tabela a seguir. 25 Tabela 2: Classificação de vias e parâmetros de tráfego Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo (2004) 2.4.1 Ciclo de vida do pavimento Ligado ao projeto de um pavimento e ao numero N, o ciclo de vida de um pavimento deve ser compreendido. Segundo Franco (2007), dois conceitos são necessários para compreensão do ciclo de vida de um pavimento: a serventia mínima, que depende de fatores ligados ao uso e importância da rodovia; e os tipos de ruptura. A ruptura estrutural é o colapso propriamente dito da estrutura do pavimento, ou de um de seus componentes, de forma que o pavimento se torna incapaz de sustentar qualquer carga imposta na superfície. A ruptura funcional, que pode ou não vir acompanhada de uma ruptura estrutural, é a condição que o pavimento atinge caracterizada pelo desconforto ao rolamento dos veículos, pela diminuição da segurança das operações . Um pavimento é projetado para que possua uma condição operacional adequada ao longo de um período de tempo determinado. Porém, se não houver manutenção, essa condição operacional vai sendo degradada ao longo do tempo devido aos problemas construtivos, à passagem das cargas e às ações climáticas. Quando o pavimento sofre qualquer intervenção de manutenção, conservação ou 26 reabilitação, a sua condição operacional se mantém satisfatória por mais tempo. Esse ciclo de degradação e conservação é chamado de ciclo de vida do pavimento. 2.4.2 Influência da inflação dos pneus Outro fator que influencia nos carregamentos de um pavimento é a inflação de pneus dos veículos, já que os pneus utilizados no AASHO Road Test em 1950 eram representativos daqueles que estavam em uso, ou seja, pneus de lonas com pressões de enchimento da ordem de 517 a 552 kPa (75 a 80 psi). Desde então os fabricantes de pneus estão introduzindo no mercado os pneus radiais com melhores condições de suportar maiores pressões e cargas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1990, citado por ALBANO, 2005). Albano (1998) realizou uma pesquisa de campo no município de Portão, Rio Grande do Sul. Foi feito um levantamento de uma série de informações dentre as quais a pressão de enchimento dos pneus integrantes de uma amostra representativa de 275 caminhões. Os valores obtidos confirmam as tendências de aumento da pressão de inflação. Os principais resultados são os seguintes: pressão média na amostra de pneus dianteiros 655 kPa (95 psi) e 717 kPa (104 psi). Guia da AASHTO (1993), citado por Albano (2005) diz que a pressão de inflação, utilizada em veículos pesados, tem aumentado na medida em que os construtores de pneus estão melhorando a tecnologia de fabricação. Destaca também que as montadoras estão avaliando as potenciais vantagens da adoção de maiores pressões de inflação nos pneus. Vários estudos teóricos e experimentais desenvolvidos confirmam que a pressão de contato não é igual à pressão de enchimento nem se distribui uniformemente sobre uma superfície circular. Fernandes Jr. (1994), citado por Albano (2005) comenta que a superfície de contato aproxima-se da elipse (pneus de lonas) ou retângulo (pneus radiais) à medida que a carga por eixo aumenta ou a pressão diminui. Segundo Souza (1980), citado por Albano (2005), a área de contato entre um pneu carregado e uma superfície pavimentada é aproximadamente elíptica para pneus novos com pressão de enchimento e carga máxima recomendada e, para pneus usados, com cargas além da máxima recomendada, a área de contato tende a ficar retangular. 27 2.5 Análise mecanística-empírica de um pavimento De acordo com Trichês, Barra e Nishibe (2006), a implantação de softwares, como os programas de análise mecanística-empírica, no dimensionamento de pavimentos, tem contribuição significativa à previsão de desempenho das estruturas, antes mesmo de serem executadas no campo, ocasionando a otimização dos recursos nas obras rodoviárias, as quais utilizam dos recursos públicos, sem o emprego de critérios técnicos que venham a comprometer a vida útil dos pavimentos no campo. Medina e Motta (2005), citado por Marodin (2010) sugerem o seguinte roteiro para o dimensionamento mecanístico-empírico: Definir o número N de projeto com base em estudos e previsões do tráfego da via; Ensaiar os materiais que serão usados no subleito, a fim de obter os módulos de resiliência e as leis de deformação permanente, considerando variações de umidade; Com os materiais estabelecidos, adotar uma estrutura inicial estimando espessuras para cada camada do pavimento; Calcular, através de programas de cálculo mecanístico-empírico, o estado de tensões e deformações atuantes na estrutura, considerando como carga o eixo padrão; Verificar o afundamento de trilha de roda e comparar os valores de tensões e deformações obtidos no cálculo com os critérios de ruptura estabelecidos em função do número N de projeto, usando, entre outros, curvas de fadiga; Por fim, se o item anterior for atendido, considera-se o pavimento dimensionado. Caso um dos critérios dos itens não for atendido, alteram-se as espessuras das camadas e se refazem todos os cálculos. 2.5.1 Métodos de dimensionamento com base na teoria da elasticidade A estrutura de um pavimento flexível é representada por um meio estratificado, submetido a um carregamento superficial distribuído em uma área circular podendo ser modelada por meio da Teoria da Elasticidade. A Figura 5 representa um 28 pavimento com suas principais deformações e deslocamentos atuantes no interior da estrutura. Figura 5: Esquema das tensões, deformações e deslocamentos nos pontos críticos de um pavimento asfáltico. Fonte: Franco (2007) A partir da caracterização da estrutura e dos materiais, as espessuras das camadas, os módulos de resiliência e os coeficientes de Poisson dos diversos materiais e da composição do tráfego atuante, a resposta do pavimento pode ser estimada por via de cálculo. A teoria da elasticidade é largamente utilizada como ferramenta para o cálculo dessas tensões, deformações e deslocamentos e os métodos atualmente em uso para esse cálculo consideram os materiais segundo dois comportamentos tensão-deformação distintos, quais sejam: comportamento elástico linear e comportamento elástico-não linear. Franco (2007) em sua tese elaborou um programa específico para o cálculo de tensões, deformações e deslocamentos, com rotinas para entrada de dados e apresentação de resultados, denominado AEMC – Análise Elástica de Múltiplas Camadas, que é utilizado como rotina no SisPav®. O programa processa os cálculos com base no programa JULEA criado pelo Dr. Jacob Uzan, alterado para atender o formato de entrada de dados gerado pelo AEMC. Considera o comportamento elástico não linear dos materiais, para isto, o programa divide as camadas de comportamento elástico não linear em três subcamadas e define os pontos de tensão na origem das coordenadas do carregamento (x=y=0,00m) e, verticalmente, no meio das subcamadas. No subleito, para todas as análises, os pontos verticais foram definidos a 0,075m; 0,225m; e 29 0,375m de profundidade, a partir do seu topo. Além disso, todos os modelos de comportamento dos materiais constantes na Tabela 3 também foram incorporados. Tabela 3: Modelos constitutivos do comportamento resiliente de materiais de pavimentação Classe Material Modelo 0 Asfáltico MR= f (tº C) 1 Granular M R= K1 x σ3 2 Argiloso K2 MR=K2 + K3x(K1- σd), se K1,> σd MR=K2 + K4x(σd - K1), se K1 ≤ σd 3 Misturas asfálticas, solo cimentado Mr = constante de módulo elevado ou solo siltoso de módulo baixo 4 5 k5 Solos arenosos com bastante argila MR=K2 + K3 x (K1- σd) x σ3 , se K1,> σd e solos lateríticos finos MR=K2 + K4 x (σd - K1) x σ3 , se K1 ≤ σd Granular (dependente da soma das k5 MR = K1 x θ k2 tensões principais) 6 Argiloso (dependente da tensão k2 MR = K1 x σd desvio) 7 Todos os solos e britas em geral MR = K1 x σd ⋅σ3 k3 k2 Fonte: Medina e Motta (2005), citado por Franco (2007). É importante resaltar que o programa AEMC considera somente a solicitação do eixo configurado. O numero N é considerado no SisPav®, que usa a rotina de carregamentos do AEMC. 2.6 Resiliência Resiliência é um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Após a tensão cessar poderá ou não haver uma deformação residual causada pela histerese do material - como um elástico ou uma vara de salto em altura, que se verga até certo limite sem se quebrar e depois retorna à forma original dissipando a energia acumulada e lançando o atleta para o alto. 30 2.6.1 Módulo de Resiliência Foi convencionado no Brasil designar de “Método da Resiliência” a análise de deformações, de deslocamentos e de tensões de sistemas de camadas elásticas lineares e não-lineares (PINTO E PREUSSLER, 2002, citado por PREUSSLER, 2007). Os pavimentos, quando solicitados pelo tráfego, sofrem deformações elásticas e permanentes ou plásticas. Em pavimentos mais delgados, com tratamento superficial, por exemplo, a maior parcela da deformação é permanente, já em pavimentos com revestimentos mais espessos há predominância das deformações elásticas. As deformações elásticas são conhecidas no meio rodoviário como resilientes. O uso desse termo é justificado pelo fato de que as deformações nos pavimentos flexíveis são muito maiores do que nos sólidos elásticos com que lida o engenheiro concreto, aço, etc. (HVEEM ,1955,citado por RETORE, 2005). O ensaio para obtenção do módulo de resiliência, segundo o método DNITME134-2010, considerando amostra indeformada ou não, consiste primeiramente na preparação do corpo de prova dentro de um molde cilíndrico onde é compactado e pesado; depois é levado à câmara triaxial retirando uma das partes do molde; o corpo de prova é acondicionado aplicando uma sequencia de carregamentos eliminando grandes deformações permanentes nas primeiras aplicações de tensão desvio; aplica-se 200 repetições para cada tensão desvio. Enfim, inicia-se o procedimento para determinação do módulo de resiliência, com aplicação de sequência de 18 pares das tensões indicadas na Tabela 4, para obtenção das leituras das deformações específicas após 10 repetições de carga. 31 Tabela 4: Sequência de tensões para determinação do módulo de resiliência. Fonte: DNIT, (2010) Conforme DNIT, (2010), o módulo de resiliência é a relação entre a tensãodesvio (σ d), aplicada repetidamente em uma amostra de solo e a correspondente deformação específica vertical recuperável ou resiliente ( rε ) (03) Onde: σd = tensão desvio cíclica (σ1 - σ3) Ԑr = deformação recuperável (elástica ou reversível) A cada aplicação da tensão desvio, a deformação axial tem uma parcela pequena de natureza plástica ou permanente Ԑp e uma parcela maior de natureza elástica ou resiliente Ԑr. Na determinação do módulo de resiliência somente a segunda parcela é considerada. 32 A caracterização da deformabilidade do material se dá com os resultados obtidos das leituras das deformações reversíveis medidas após estabilização das deformações permanentes, seguindo um modelo elástico não linear, e das deformações permanentes medidas em função do número de carregamentos, caracterizando a resistência. Os níveis de tensões utilizados nos ensaios são baseados na localização da camada dentro da estrutura do pavimento e pelo tipo de material utilizado (PAUTE, 2000, citado por WAYHS, 2004). Na Figura 6 conforme Medina (1997) citado por Wayhs (2004) apresenta-se o modelo de comportamento resiliente de solo granular observado no Brasil. Figura 6 : modelo de comportamento resiliente de solos. Fonte: Medina (1997) apud Wayhs, (2004) 33 Conforme Preussler (1978) citado por Wayhs, (2004), o módulo de resiliência de solos granulares pode ser influenciado pela pressão confinante, pela razão entre as tensões principais, pelo número de repetições, duração e frequência da aplicação da tensão/desvio, pela história de tensões, composição mineralógica, graduação das partículas, condições de compactação, grau de saturação e temperatura. 2.6.2 Correlação de Módulo de Resiliência com CBR/ISC Além do ensaio de compressão triaxial, podemos determinar o módulo de resiliência de forma empírica, através de correlações. Com a finalidade de agregar o módulo de resiliência aos métodos de dimensionamento de pavimentos, muitas correlações empíricas baseadas nos valores de CBR/ISC foram estudadas e aplicadas. Tendo em vista que os órgãos rodoviários ainda não dispõem de facilidades para os ensaios triaxiais dinâmicos, é de suma importância de se ter correlações entre os valores de CBR/ISC e o módulo de resiliência (MEDINA E PREUSSLER, 1980 citado por SOUZA, 2005), apesar de serem ensaios bem diferentes, pois o Módulo de resiliência é incorporado ao comportamento elástico do material, enquanto o CBR/ISC leva o corpo de prova ao cisalhamento. Muitos estudos foram realizados com o objetivo de correlacionar esses dois parâmetros, nos quais resultaram diversas equações. Witczak et al (1995), citado por Souza, (2005) resumiu algumas dessas equações listadas na tabela abaixo: Tabela 5: Correlações entre MR e CBR. Autores Heukelom e Foster (1960), recomendada pela AASHTO Green e Hall (1975) South African C.S.I. Research (CSIR) Lister (1987) Fonte: Witczak et al. (1995) citado por Souza, (2005) Equações MR = 1500.CBR 0,711 MR = 5409 x.CBR 0,65 MR = 3000 x CBR 0,64 MR = 2555 x CBR A equação 04 apresentada a seguir foi desenvolvida por Medina, Pinto & Preussler(1980) citado por Souza (2005), destacando-se que o índice de suporte califórnia (CBR) é obtido em condições padronizadas de ensaio, diferentemente do módulo resiliente para cuja determinação aplicam-se pressões confinantes e de desvio que se escolhem de antemão e que são bem menores em magnitude. 34 (04) Onde: MR=Módulo de resiliência do solo argiloso compactado na umidade ótima e determinado à tensão-desvio de 0,2 MPa (2 kgf/cm2); CBR=Indice de Suporte Califórnia de amostras embebidas na água durante 4 dias (%). Os módulos de resiliência (MR) estimados por meio da equação (5) de Heukelon e Klomp (1962) citado por Silva et al.(2011) é bem simplificado, porém bem aceito na prática brasileira. (05) 2.6.3 Ensaio de CBR ou ISC Resumindo o ensaio Califórnia Bearing Ratio (CBR) ou Índice de Suporte Califórnia (ISC) é um ensaio relativamente simples e aplicado como parâmetro da resistência de suporte de solos e materiais granulares ou de solos para subleito, sub-base e base na pavimentação de rodovias, foi desenvolvido pela Divisão de Estradas do Estado da Califórnia - EUA. O valor do índice CBR/ISC tem aplicação na seleção de materiais para subleitos e pavimentação, sendo ferramenta do controle tecnológico do terrapleno à estrutura do pavimento. Aplicável a todos os tipos de solos, o conceito baseia-se da relação entre o valor da resistência à penetração no solo a ser ensaiado, em comparação com a medida de referência obtida para um material pétreo padrão (brita estabilizada), classificado para emprego em camadas de base. No Brasil, o ensaio é normatizado pelo método do DNER-ME 049/94. 2.6.4 Coeficiente de Poisson Chama-se Coeficiente de Poisson ( ) à relação entre a deformação transversal relativa e a deformação longitudinal relativa. É uma grandeza sem dimensões. O coeficiente de Poisson, pode ser obtido através do ensaio de compressão triaxial, porém, segundo o TRB (1975), citado por Neto (2004), quando não for possível medir com confiabilidade o coeficiente de Poisson, pode-se adotar o valor descrito na Tabela 6. 35 Tabela 6: Valores de Coeficiente de Poisson para alguns materiais de pavimentação Materiais Coeficiente de Poisson CBUQ 0,25 - 0,35 Subleito, Sub-base, e Bases 0,30 - 0,40 Granulares. Solo Cimento 0,10 - 0,25 Subleito Siltoso ou Argiloso 0,40 - 0,50 Fonte: TRB - SPECIAL REPORT 162 (1975), citado por Neto (2004). Morgado, 2008 em seu estudo considerou o bloco e colchão de areia como uma única camada, adotando o coeficiente de Poisson de 0,30. 2.6.5 Dimensionamento mecanístico-empírico de pavimento em bloco intertravado Visto que o software e a maioria das bibliografias analisam pavimentos asfálticos, Hallac (1998), citado por Morgado (2008) propõe uma metodologia de dimensionamento aplicada a pavimentos intertravado com bloco de concreto em áreas de terminais de carga e zonas industriais, onde circula grande variedade de veículos. A principal característica deste método é admitir um pavimento com três camadas, sendo que a camada de base tem rigidez suficiente para não sofrer ruptura por fadiga. Assim, é condição essencial do método, a adoção de material estabilizado com o módulo de elasticidade elevado e uma deformação pequena na camada de base. O dimensionamento que se faz é a determinação da espessura da base, uma vez que a camada de revestimento (bloco + colchão de areia) é definida como uma camada só, considerando um módulo resiliente de 3000 MPa. 2.6.6 Verificação da tensão vertical na superfície do subleito Sabe-se que o pavimento rodoviário deve exercer a função estrutural de receber as solicitações oriundas do tráfego, em que as variadas camadas devem promover a propagação das tensões aplicadas na superfície, de tal forma que o subleito receba uma parcela bem atenuada desta tensão superficial. A Figura 7 mostra a distribuição das tensões ao longo da vertical até alcançar o subleito do pavimento. 36 Figura 7: Distribuição de cargas no pavimento Fonte: Santana (1993) citado por Marques, (2011) Calcula-se a tensão vertical admissível no subleito pela equação 6, estabelecida por Heukelom e Klomp(1962) citado por Silva et al.(2011). (6) Onde: σVadm= Tensão vertical admissível MR= Módulo de Resiliência N= numero de aplicações de cargas. Conforme se observa na equação, a tensão admissível é resultante pela relação do módulo de resiliência e pelo numero N de passadas de eixo 8,2 tf, ou seja, é a tensão vertical que se admite num subleito de módulo de resiliência tal após um numero N de tráfego. 37 3 METODOLOGIA Neste trabalho, estudou-se a proposta de um projeto de pavimentação para um loteamento residencial. Simulando as tensões para a estrutura de pavimento através do software. A partir de então se avaliou questões pertinentes ao desempenho do pavimento, considerando economia e viabilidade técnica. 3.1 Dados de projeto No projeto consideram-se três tipos de estrutura de pavimentos, para três CBR/ISC de subleitos pré-definidos. O revestimento a ser utilizado será em blocos de concreto intertravados com espessura de 6 cm (a pior situação), assentados em um colchão de areia na espessura de 5 cm. O projeto indica as demais camadas que irão compor a estrutura de pavimentação das vias de circulação do loteamento, em função dos materiais locais disponíveis, procurando compatibilizar nesta definição os aspectos técnicos e econômicos mais viáveis. A definição do CBR/ISC do subleito ocorreu durante a elaboração do projeto geotécnico que estabeleceu este índice em três faixas: CBR/ISC subleito > 7% CBR/ISC subleito > 10% CBR/ISC subleito > 13% A Figura 8 ilustra cada uma das três estruturas de pavimentos que dependem CBR/ISC diretamente do subleito Figura 8: Estruturas de pavimento Fonte: Esaplan Engenharia e Planejamento LTDA, (2012) Segundo Projeto da Empresa Esaplan Engenharia e Planejamento LTDA, (2012) para adoção da estrutura de pavimento tipo 1 e 2 (sobre subleito com CBR/ISC < 7% e CBR/ISC > 7% respectivamente) deverá ser executada camada de 38 reforço de subleito, com lançamento de camada de basalto alterado (CBR/ISC>15% e expansão <2%). O autor do projeto justifica que por se tratar de loteamento que ainda não está em operação não é possível a realização de contagem de tráfego para determinação do número de aplicações do eixo padrão de 8,2 toneladas, assim sendo definido o número N através da comparação com empreendimentos similares. Adotado para dimensionamento do pavimento N = 1,5x106. 3.2 Uso do software de Análise Mecanística-empírica Os parâmetros de entrada do software foram: A espessura das camadas: conforme Figura 8, foi realizada a simulação das estruturas de pavimentos do Tipo 1, 2 e 3. O módulo de resiliência das camadas; a correlação foi realizada pela equação abaixo, também exposta no item 2.6.2 Considerando sempre a pior situação do projeto, ou seja, o pior CBR/ISC a ser aceito na camada. MR=10 x CBR, dado em MPa. Coeficiente de Poisson das camadas: conforme classificação dado no item 2.6.4. Carregamento da estrutura: N=1,5x106, classificado como Tráfego meio pesado. A pressão de inflação de pneus será de 90 psi ou 633 KPa, considerada uma pressão média. O Modelo de comportamento resiliente dos materiais, será sempre o modelo 3, que considera o MR constante. Os Pontos de Analise serão no eixo de aplicação da carga, sendo a profundidade equivalente ao topo do subleito. Segue nas tabelas a seguir, resumo de dados de entrada para o Programa AEMC do SisPav®. Tabela 7: Resumo de dados para o pavimento Tipo 1 Resumo: Estrutura de pavimento Tipo 1 Camada Espessura Coef. Poisson Modelo Módulo de resiliência Bloco + Areia 11 0,30 3 3000 MPa Reforço de subleito 30 0,35 3 150 MPa 39 Subleito 0 0,45 3 70 MPa Ponto de Análise (x,y,z) = 0, 0, 0.4101 (m) Fonte: O autor Tabela 8: Resumo de dados para o pavimento Tipo 2 Resumo: Estrutura de pavimento Tipo 2 Camada Espessura Coef. Poisson Modelo Módulo de resiliência Bloco + Areia 11 0,30 3 3000 MPa Reforço de subleito 18 0,35 3 150 MPa Subleito 0 0,45 3 100 MPa Ponto de Análise (x,y,z) = 0, 0, 0.2901 (m) Fonte: O Autor Tabela 9: Resumo de dados para o pavimento Tipo 3 Resumo: Estrutura de pavimento Tipo 3 Camada Espessura Coef. Poisson Modelo Módulo de resiliência Bloco + Areia 11 0,30 3 3000 MPa Subleito 0 0,45 3 130 MPa Ponto de Análise (x,y,z) = 0, 0, 0.1101 (m) Fonte: O Autor Eixo Tabela 10: Resumo de valores de carregamento Pressão de pneus Configuração de eixo Carga de roda Distancia entre rodas: Duplo 0,633 MPa 8.200 kg 2.050 kg 0,324 m Fonte: O Autor 3.2.1 Verificações de desempenho Consiste em verificar se a tensão vertical no subleito é menor que a tensão admissível e analisar deflexões. Conforme projeto, o numero N = 1,5x106, é classificado como Tráfego Meio Pesado – conforme instrução de projeto da Prefeitura Municipal de São Paulo (2004) são ruas ou avenidas para as quais é prevista a passagem de caminhões ou ônibus em número 101 a 300 por dia, por faixa de tráfego, caracterizado por número "N" típico de 1,4 x106 a 3,1 x106 solicitações do eixo simples padrão (82 kN) para o período de 10 anos. Calcula-se a tensão vertical admissível no subleito pela equação 6, estabelecida por Heukelom e Klomp (1962) citado por Silva et al.(2011). (6) 40 Onde: σVadm= Tensão vertical admissível MR= Módulo de Resiliência N= número de aplicações de cargas Apesar de todos os resultados de dados que o software pode fornecer no que diz respeito a informações sobre o comportamento do pavimento, uma das principais verificações que são as tensões horizontais (Sx ou Sy) na parte inferior da camada de “revestimento” (indicando a possibilidade de fissuração por fadiga) não se aplica ao pavimento intertravado e somente serão analisadas as tensões verticais (Sz) na parte superior do subleito (que indica a possibilidade de afundamento, no subleito). Esta tensão vertical atuante em cada um das três estruturas de pavimento será comparada com as tensões verticais admissíveis de cada um dos três subleitos calculados. Se a tensão admissível for menor que a tensão atuante, o pavimento está subdimensionado, devendo ser revista à altura da camada de reforço de subleito, até que a tensão atuante seja satisfatória. Em caso da estrutura estiver superdimensionada, ou seja, a tensão atuante for consideravelmente menor que a tensão admissível, deve diminuir a altura do reforço de subleito. Sendo que ainda sim a estrutura estiver superdimensionada, verificar qual o numero N que o pavimento suportaria. 41 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Sabendo que os dados de saída do AEMC são os seguintes: Ux, Uy, Uz, são deslocamentos nos seus respectivos eixos; Sx, Sy, Sz são tensões nos seus respectivos eixos; Ex, Ey, Ez são deformações específicas nos seus respectivos eixos; O sistema indica compressão para os valores negativos de tensão e valores positivos para tração. 4.1 Estrutura de Pavimento do Tipo 1 Com os dados de entrada, conforme as Tabelas 7 e 10 do item 3.2 obtêm-se os resultados expostos nas Tabelas 11 e 12: Tabela 11: Resultado do AEMC do pavimento tipo 1 no ponto de topo do revestimento Resultados Estrutura Tipo 1 no topo do pavimento X (m) Y (m) Ponto: 0 0 Deslocamentos: Tensões: Deformações especificas: Ux (µm) Z (m) 0 Uy (µm) Uz (µm) 0 0 569,7088 Sx (MPa) Sy (MPa) Sz (MPa) -0,408877 -0,002481 0 Ex (m/m) Ey (m/m) Ez (m/m) -0,000031 -0,000309 0,000146 Fonte: O Autor Tabela 12: Resultado do AEMC do pavimento tipo 1 no ponto de topo do subleito Resultados Estrutura Tipo 1 no topo do subleito X (m) Y (m) Ponto: 0 0 Deslocamentos: Tensões: Deformações especificas: Z (m) 0,4101 Ux (µm) Uy (µm) Uz (µm) 0 0 419,86248 Sx (MPa) Sy (MPa) Sz (MPa) -0,005167 -0,002704 -0,040792 Ex (m/m) Ey (m/m) Ez (m/m) 0,000206 0,000257 0,000532 Fonte: O Autor Utilizando a equação da tensão admissível, citada no item 3.2.1, considerando o Módulo de Resilencia do subleito 70 MPa ou 713,80 kgf/cm² e o número N de 1,5x106, tem-se como tensão admissível 0,078899 MPa. Na tabela 13, apresenta-se 42 um comparativo entre a tensão vertical admissível para o subleito e a tensão vertical atuante obtida através do software SISPAV. Tabela 13: Comparação de Tensões verticais atuante e admissível do Pavimento Tipo 1 Comparação de Resultados Tensão vertical admissível no topo do subleito: 78,9 KPa Tensão vertical atuante no topo do subleito (AEMC) 40,79 KPa Fonte: O Autor Comparando-se as tensões verticais, admissível e atuante, percebe-se que o dimensionamento do projeto está satisfatório, ainda com certa folga, a tensão atuante é 52% da tensão admissível. De certa forma, esta segurança é boa quando, na execução da obra, não houver um controle tecnológico rigoroso. Porém, se houver um controle eficaz na construção deste pavimento, o dimensionamento pode ser um pouco menos conservador. Nota-se que a tensão vertical admissível é relativamente de valor alto, já que o pavimento em questão é destinado a um loteamento residencial em que o volume de trafego não é pesado, o que reflete no número N, que não é um valor muito elevado. Tanto que se torna desnecessário o dimensionamento de bases e sub-bases na respectiva estrutura do pavimento. Verificou-se no software que reduzindo a camada de reforço de subleito para 10 cm, ainda satisfaria o dimensionamento sendo menos conservador, tendo como resultado a tensão atuante no topo do subleito em 91% da tensão admissível, acarretando como beneficio a economia do material. Porém, deve-se levar em consideração, que dependendo da granulometria do material de reforço de subleito, uma camada de 10 cm pode se tornar inexequível. Quanto aos resultados de deformações, pode-se guardar o valor do deslocamento vertical (Uz), no topo do revestimento, exposto na Tabela 11, e comparar com deformações num posterior ensaio da viga Benkelman, tornando esse um critério aceitável para realizar de modo rápido e não-destrutivo o controle tecnológico da compactação do pavimento. 43 4.2 Estrutura de Pavimento do Tipo 2 Com os dados de entrada, conforme as Tabelas 8 e 10 do item 3.2, foram obtidos os resultados expostos nas Tabelas 14 e 15: Tabela 14: Resultado do AEMC do pavimento tipo 2 no ponto de topo do revestimento Ponto: Deslocamentos: Tensões: Deformações especificas: Resultados Estrutura Tipo 2 X (m) Y (m) Z (m) 0 0 0 Ux (µm) Uy (µm) Uz (µm) 0 0 490,83712 Sx (MPa) Sy (MPa) Sz (MPa) -0,385627 -1,028327 0 Ex (m/m) Ey (m/m) Ez (m/m) -0,000026 -0,000304 0,000141 Fonte: O Autor Tabela 15: Resultado do AEMC do pavimento tipo 2 no ponto de topo do subleito Ponto: Deslocamentos: Tensões: Deformações especificas: Resultados Estrutura Tipo 2 X (m) Y (m) Z (m) 0 0 0,2901 Ux (µm) Uy (µm) Uz (µm) 0 0 387,678 Sx (MPa) Sy (MPa) Sz (MPa) -0,01439 -0,00793 -0,06608 Ex (m/m) Ey (m/m) Ez (m/m) 0,000189 0,000283 -0,00056 Fonte: O Autor Utilizando a equação da tensão admissível, citada no item 3.2.1, considerando o Módulo de Resiliência do subleito 100 MPa ou 1020,70 kgf/cm² e o número N de 1,5x106, tem-se como tensão admissível 0,112822 MPa. Tabela 16: Comparação de Tensões verticais atuante e admissível do Pavimento Tipo 2 Comparação de Resultados Tensão vertical admissível no topo do subleito: 112,82 KPa Tensão vertical atuante no topo do subleito (AEMC) 66,08 KPa Fonte: O Autor 44 Comparando as tensões verticais da Tabela 16, admissível e atuante, verificouse que a capacidade estrutural do projeto é satisfatória, porém, a tensão atuante é 59% da tensão admissível. Como citado anteriormente, esta segurança é boa, se durante a execução da obra, não existir um controle tecnológico rigoroso. No entanto, havendo um controle eficaz na execução desse pavimento, torna este dimensionamento, relativamente, conservador e antieconômico. Verificou-se no software que retirando a camada de reforço de subleito, a verificação ainda estaria satisfeita, sendo o cálculo menos conservador, tendo a tensão atuante no topo do subleito na ordem 93% da tensão admissível, proporcionando economia do material. Nota-se que a tensão vertical admissível aumentou comparando com o pavimento tipo 1, por que apesar do numero N que se manter constante, o Módulo de Resilencia do subleito aumentou, podendo assim reduzir a camada de reforço de subleito, já que o subleito admite maiores tensões. O resultado de deslocamento vertical (Uz) no topo do revestimento, exposto na Tabela 14, podem ser anotados e comparados com deformações num posterior ensaio da viga Benkelman. 4.3 Estrutura de Pavimento do Tipo 3 Com os dados de entrada, conforme as Tabelas 9 e 10 conforme item 3.2, foram obtidos os resultados expostos nas Tabelas 17 e 18: Tabela 17: Resultado do AEMC do pavimento tipo 3 no ponto de topo do revestimento Ponto: Deslocamentos: Tensões: Deformações especificas:: Fonte: O Autor Resultados Estrutura Tipo 3 X (m) Y (m) Z (m) 0 0 0 Ux (µm) Uy (µm) Uz (µm) 0 0 425,4271 Sx (MPa) Sy (MPa) Sz (MPa) -0,33469 -0,988934 0 Ex (m/m) Ey (m/m) Ez (m/m) -0,000013 -0,000296 0,000132 45 Tabela 18: Resultado do AEMC do pavimento tipo 3 no ponto de topo do subleito Ponto: Deslocamentos: Tensões: Deformações especificas:: Resultados Estrutura Tipo 3 X (m) Y (m) Z (m) 0 0 0,1101 Ux (µm) Uy (µm) Uz (µm) 0 0 424,80564 Sx (MPa) Sy (MPa) Sz (MPa) -0,070171 -0,044186 -0,114479 Ex (m/m) Ey (m/m) Ez (m/m) 0,000009 0,000299 -0,000485 Fonte: O Autor Utilizando a equação da tensão admissível, citada no item 3.2.1, considerando o Módulo de Resilencia do subleito 130 MPa ou 1325,63 kgf/cm² e o número N de 1,5x106. Tem-se como tensão admissível 0,146527 MPa. Tabela 19: Comparação de Tensões verticais atuante e admissível do Pavimento Tipo 3 Comparação de Resultados Tensão vertical admissível no topo do subleito: 146,53 KPa Tensão vertical atuante no topo do subleito (AEMC) 114,48 KPa Fonte: O Autor Comparando as tensões verticais, admissível e atuante da tabela 19, verificouse que o dimensionamento do projeto é satisfatório, com menos folga que as situações anteriores, a tensão atuante ficou a 78% da tensão admissível. Ainda é uma segurança razoável, sendo quando não houver um controle tecnológico rigoroso na execução da obra. No entanto, o dimensionamento está um pouco conservador para as cargas do qual o pavimento vai ser solicitado, quando houver, um bom controle tecnológico na execução do mesmo. Observou-se que a tensão vertical admissível aumentou ainda mais comparando com os pavimentos tipo 1 e 2. Pois o numero N se mantém constante, o Módulo de Resilencia do subleito aumentou, eliminando a camada de reforço de subleito do projeto, já que o subleito admite maiores tensões. Já que a camada de reforço de subleito inexiste verificou-se o pavimento é capaz de suportar um tráfego pesado com N=3,3 x106, reduzindo assim, a tensão admissível do subleito. O dimensionamento ainda satisfaria tendo como resultado a tensão atuante no topo do subleito em 92% da tensão admissível. 46 Quanto aos resultados de deformações, pode-se guardar o valor do deslocamento vertical (Uz), no topo do revestimento, exposto na Tabela 17, e comparar com deformações num posterior ensaio da viga Benkelman. 47 5 CONCLUSÃO Analisando os resultados obtidos, tendo em vista o objetivo do trabalho que é de estudar as propostas de um projeto de pavimentação de um loteamento residencial com baixo volume de tráfego, verificou-se que quanto à capacidade estrutural o projeto atende as solicitações com certa margem de segurança, considerando que todas as simulações foram feitas nas piores hipóteses, atendendo os requisitos mínimos do projeto. Sabe-se que ao elaborar um projeto deve sempre avaliar o executor deste projeto, no que diz respeito ao seu controle da qualidade dos serviços. Se na execução houver controle tecnológico rigoroso, esta margem de segurança do projetista pode ser diluída, racionalizando assim, os materiais de construção e consequentemente, os serviços a executar. É papel do engenheiro avaliar o quanto vale o controle tecnológico, qual é o custo dos serviços e dos materiais, avaliar variáveis, como tamanho e custo total da obra para decidir o que é melhor ambientalmente, economicamente e tecnicamente. Atendendo as necessidades de todos envolvidos no produto final da obra, o empreendedor, o cliente e o meio ambiente. Resumidamente, conclui-se que: no Pavimento Tipo 1, a camada reforço de subleito pode ter sua espessura reduzida para 10 cm; no Pavimento Tipo 2, a camada de reforço de subleito pode ser eliminada; e o pavimento Tipo 3 suporta tráfego de classificação pesada. Esta conclusão considera que a correlação do módulo de resiliência esteja o mais próxima possível do real e que existe o correto controle tecnológico acompanhando a execução do pavimento. Outros fatores executivos a serem observados são: a drenagem do subleito, já que o pavimento intertravado com blocos de concreto é permeável e o subleito predominantemente argiloso que é vulnerável a umidade, podendo, assim, ser o causador de patologias pontuais ao longo do pavimento; e a trabalhabilidade do basalto alterado de reforço de subleito que pode dificultar a execução em camadas pouco espessas. 48 5.1 Sugestões para próximas pesquisas Realizar a mesma análise deste trabalho em projetos de pavimentos mais solicitados, ensaiando os materiais das camadas para obter o módulo de resilencia através do ensaio de compressão triaxial para alcançar resultado mais fieis. Estudar deformações e deflexões com o AEMC e utilizar ensaios com Viga Benkelman para controle executivo e balizar as respostas do programa. Estudar os basaltos alterados da região, por serem abundantes, estes devem ser analisados e pesquisados para que se possa avaliar até que ponto o grau de alteração possa permitir o seu uso em bases, já que para reforço de subleito é um material adequado para estradas de baixo volume de tráfego. 49 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGNES, C.; HELFER, I. Normas para apresentação de trabalhos acadêmicos. 9. ed. atualizada. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2011. ALBANO, J. F.. Efeito dos excessos de carga sobre a durabilidade dos pavimentos. Porto Alegre, RS, 2005. Tese de doutorado em Sistema de transportes e logistica (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. ______. Efeitos da variação da carga por eixo, pressão de inflação e tipo de pneu na resposta elástica de um pavimento. 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