VITÓRIA, ES, SÁBADO, 30 DE MAIO DE 2015 ATRIBUNA 3 Reportagem Especial ENTENDA O CASO Máfia > OFICIAIS do Batalhão de Trânsito fo- ram denunciados pelo Ministério Público Estadual em 2008 por montarem um esquema de arrecadação de dinheiro de guinchos e pátios após apreenderem veículos em blitze. Pagamentos > SEGUNDO a denúncia do Ministério Público Estadual, o pagamento era feito através da associação interna do Batalhão de Trânsito e mais de R$ 120 mil foram encaminhados por pátios para a conta da associação. > OS PÁTIOS que não faziam pagamentos eram boicotados: não recebiam veículos até acertarem o pagamento devido à associação, de acordo com a denúncia. Aluguel > TAMBÉM foi denunciado o repasse de dinheiro do aluguel de área do Quartel da PM para a conta da associação. > O ALUGUEL da área teria sido feito sem licitação para a instalação de antena de celular. AS CONDENAÇÕES Cel. Antônio Carlos Coutinho > FOI CONDENADO ao pagamento de multa de R$ 30 mil. Também deverá ressarcir em conjunto um total de R$ 60.882,62. > SEGUNDO O JUIZ, o ex-comandante geral da Polícia Militar foi omisso e sabia do esquema que estava montado dentro do Batalhão de Trânsito. Cel. Valdir Leopoldino > O C O R O N E L f oi condenado a pagar R$ 50 mil de multa e devolver o valor de R$ 60 mil em conjunto. Também foi condenado a perder a função pública. > SEGUNDO A DECISÃO, ele se utilizou da função para obter vantagem econômica indevida. Ten-Cel. Altiere Carlo da Silva > O TENENTE-CORONEL foi conde- nado a pagar R$ 50 mil de multa e devolver o valor de R$ 60 mil em conjunto. Também foi condenado a perder a função pública. > SEGUNDO A DECISÃO DA JUSTIÇA, ele se utilizou da função para obter vantagem econômica indevida. Ten. Carlos Marx Siqueira > FOI CONDENADO ao pagamento de multa de R$ 20 mil e vai ter de ajudar a devolver R$ 60 mil aos cofres públicos. > SEGUNDO o magistrado, o tenente participou e anuiu com a transferência de verbas públicas para as contas da Assetran de aluguel de área do quartel para instalar antena. MÁFIA DO GUINCHO Ação para anular multas iante dos escândalos da máfia do guincho, três motoristas, orientados por um advogado, ingressaram ontem com uma ação na Justiça contra o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES) pedindo a anulação das multas lavradas entre 2005 e 2007. Apesar de serem os autores da ação popular, se a Justiça acolher o pedido, a decisão irá valer para todos os motoristas que foram multados e tiveram os carros removidos na época em todo o Estado, segundo o advogado do grupo, Marco Aurélio Rangel Gobette. O advogado disse que a ação popular refere-se apenas ao período de 2005 a 2007, em que oficiais da Polícia Militar teriam participado de um esquema fraudulento e ordenado aos agentes de trânsito que as blitze fossem intensificadas na Grande Vitória e os veículos removidos para os pátios. A motivação para ingressar com a ação foi a sentença proferida na última segunda-feira pelo juiz Jorge Henrique Valle dos Santos, da 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Estadual, que condenou quatro oficiais da PM. Em um dos trechos citados nessa sentença, consta que “a quantidade de blitze da polícia variava de acordo com a necessidade de arrecadar dinheiro, ou seja, quanto mais blitze ocorriam, mais dinheiro os policiais militares recebiam.” Porém, o advogado disse que se nas apurações da CPI do guincho, que estão em andamento, ficar comprovado que houve novas ir- LEONE IGLESIAS/AT D ADVOGADO Marco Aurélio Rangel com os motoristas Luiz Adler, Osvaldo Maturano e Jilson Ferreira: ação popular regularidades, uma nova ação poderá ser proposta. Os motoristas que ajuizaram a ação ontem são: o taxista Luiz André de Jesus Adler, 48 anos, o empresário Osvaldo Maturano, 42, e o funcionário público Jilson Ferreira Fritz, 41. Os três disseram que não foram multados ou tiveram os veículos removidos na ocasião, mas diante do escândalo resolve- ram ingressar com a ação popular para beneficiar os condutores que teriam sido lesados à época. Na ação foi citado o artigo 2º da lei 4.717/65 que diz que são nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades, nos casos de desvio de finalidade. Em um dos trechos da ação popular foi destacado que “as autoridades de trânsito jamais tiveram THIAGO COUTINHO - 29/01/2015 Juristas dizem que nem todas as multas são ilegais Embora haja indícios de que as blitze teriam sido intensificadas e, em alguns momentos, forjados motivos para apreender veículos com objetivo de arrecadar, juristas observam que nem todas as multas aplicadas podem ser consideradas ilegais. Destacando que não conhece o conteúdo da ação popular proposta pelos motoristas e ajuizada ontem, o professor da FDV e doutor em Direito do Estado Anderson Sant'ana Pedra fez algumas considerações. “Uma ação popular cabe para questionar algum ato ilegal praticado, lesivo ao patrimônio do Estado. Mas, ao que parece, se a multa foi aplicada, o motorista fez algo equivocado. Nesse caso, não há ilegalidade quando o agente lavra um auto de infração. Se o agente deixasse de multar, ele estaria prevaricando”, avaliou. A advogada Bárbara Dalla Bernardina Lacourt, especialista em Direito Administrativo, também ressaltou que o fato de ter existido um possível esquema ilícito arquitetado para angariar dinheiro a ser revertido em benefício próprio dos agentes não significa que todas as multas aplicadas foram ilegais. “Entendo que motoristas possam se sentir lesados e demonstrem in- teresse de questionar isso na Justiça. Mas isso não autoriza que o judiciário automaticamente conclua que todas as multas foram ilegais.” Ela também disse que os tribunais entendem que ação popular não é cabível para anular ato lesivo a patrimônio individual. Falando no contexto geral sobre motoristas que acham que foram lesados pela máfia do guincho, a advogada e presidente da Associação de Defesa do Consumidor no Estado, Karla Cecília Pinto, orientou que os condutores recorram à Justiça. como objetivo lavrar aqueles autos de infração para preservar o cumprimento da legislação de trânsito, mas sim o realizaram em claro e nítido desvio de finalidade, para alimentar um esquema fraudulento de captação de recursos.” Já o Detran-ES disse que o Executivo desconhece o teor da ação e vai se manifestar no âmbito processual após intimação da Justiça. ROTATIVO EM VITÓRIA: mudanças na fiscalização feita pela Guarda Agentes vão depor na CPI ANDERSON PEDRA: avaliação Os cinco agentes que são os campeões de multa em Vitória vão prestar depoimento na segundafeira na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia do Guincho, que está sendo realizada na Assembleia Legislativa. A procuradoria jurídica da Assembleia deu parecer que sustenta juridicamente a quebra de sigilos fiscal, telefônico e bancário dos agentes de trânsito. Porém, a assessoria da deputada Janete de Sá, que é relatora da CPI, explicou que após os depoimentos é que será avaliada a necessidade de pedir as quebras de sigilo. Um dos agentes, que é o campeão em remoções na capital, tem 1.650 guinchamentos desde 2011. Ele foi afastado da fiscalização e passa por uma sindicância na Prefeitura de Vitória. Desde o último dia 22, uma portaria da prefeitura faz com que os chefes de equipe tenham de ir até o local do veículo que está cometendo a infração para que ele seja removido. Também foi dada a orientação para que sejam priorizados veículos que estão atrapalhando o trânsito ou comprometendo a segurança de pedestres e outros veículos.