Para a Professora Ana Maria Amaro,
com um ramo de flores de ameixieira
Conheci a Professora Doutora Ana Maria Amaro nas 1.as Jornadas de
Antropologia Cultural em Vila Nova de Gaia em 1987. Era então
professora de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa e veio falar-nos «Da canje de Garcia
d’Orta à canja tradicional nortenha». Anos depois, em 1996, no 2º
Congresso Internacional sobre o Rio Douro, falou sobre «Uma prática
tradicional de substituição de inseticidas na cultura da vinha na Bacia do
Douro», já então como professora do Instituto Superior de Ciências Sociais
e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa. Tinha-a então como uma
antropóloga com interesses pelas manifestações interculturais. Até que um
dia, regressando a casa após as aulas que dava à noite na Universidade
Portucalense, durante o tardio jantar, vejo-a a falar sobre Macau num
programa da RTP2, e só então fiquei a saber que era uma ilustre sinóloga
que passara muitos anos a ensinar e a aprender em Macau e na China.
No Solar Condes de Resende, na antiga Coleção Marciano Azuaga, existe
um pequeno núcleo asiático que nunca tinha sido estudado. Escrevi àquela
professora a dar conta da sua existência, que o veio ver com uma assistente,
e desde aí iniciamos uma colaboração que perdurou no tempo. Fiquei então
a saber que era a dinamizadora, desde 1997, dos Estudos sobre a China
naquele Instituto, então ainda na Junqueira, onde organizava as Semanas
Culturais da China, procurando a elas atrair os estudiosos nacionais e
estrangeiros da civilização chinesa, das relações entre aquele grande país
asiático e o mundo e sobre a presença de Portugal em Macau desde o
século XVI. Tendo-me convidado para nelas participar, perante os meus
poucos conhecimentos sobre aquelas matérias, propus-lhe que apenas
poderia apresentar alguns aspetos das relações entre o Porto e a China, ou
sobre a presença na região de produtos e pessoas daí oriundas, o que
aceitou com interesse, pois não estavam então esses estudos sistematizados.
E foi assim que desde 2001 e até 2013 participei naqueles fóruns
internacionais que se realizaram em Lisboa naquele Instituto (que
entretanto mudara para as novas instalações no Alto da Ajuda), e depois
noutros locais, tendo publicado nas respetivas atas justamente intituladas
“Estudos Sobre a China”, e noutras publicações, uma dúzia de artigos sobre
aquela temática, bem assim como sobre «A Representação dos chineses na
obra de Eça de Queirós». Entretanto em 1999 a Professora voltara ao Solar
Condes de Resende para participar no Colóquio D. Pero IV e a sua época,
onde nos falou sobre a menina chinesa oferecida ao imperador do Brasil e a
implantação do liberalismo em Macau. Em 2002 organizamos um curso
livre sobre Introdução ao Estudo de Línguas Antigas, onde o chinês foi por
si ensinado e pela sua assistente Mestre Irene Rodrigues; em 2003 aí
recebemos a exposição “ O Mundo Maravilhoso dos Papeis Recortados
chineses” que organizara em Lisboa, e em 2008 também aí tivemos a
exposição de “Instrumentos Musicais Tradicionais Chineses”, com a
colaboração da Embaixada da República Popular da China. Quando em
2008 o fórum veio a Gaia, aí apresentamos «O núcleo chinês da Coleção
Marciano Azuaga: o colecionismo como lazer», em colaboração com
Susana Guimarães, depois publicado no n.º 6 da Revista de Estudos
Chineses que entretanto fundara. Tudo por sugestão, acompanhamento e
ação da Professora, como carinhosamente lhe chamávamos. Entretanto,
com as mudanças operadas em 2005 na direção do Instituto de Ciências
Sociais e Políticas, entendeu que a ação do Centro de Estudos Chineses que
dirigia não estava a ser valorizada, e por isso partiu a procurar outros locais
para a continuar a exercer. Em 2006, com um conjunto de amigos e
colaboradores, fundara o Instituto Português de Sinologia e a Revista de
Estudos Chineses - Zhongguo Yanjiu, que passou a assegurar a publicação
dos estudos apresentados nos “Fórum Cultural da China”, que sucederam
àquelas “semanas”, entretanto realizados no Porto, em Vila Nova de Gaia,
em Lisboa e em Leiria, cada vez mais prestigiados com a presença de
grandes sinólogos de universidades de todo o mundo, mas a que as
autoridades portuguesas, académicas e outras, pouca ou nenhuma atenção
dispensavam.
Nestas tarefas permanentes e esgotantes, quando poderia estar
calmamente a usufruir da sua reforma de professora, o seu corpo foi
ficando cada vez mais debilitado, enquanto o seu espírito teimava em dar
continuidade a todos os projetos que tinha em mãos, nomeadamente a
publicação atrasada dos seus próprios trabalhos, como a monumental obra
«Jogos, brinquedos e outras diversões populares de Macau». Mas o corpo
foi-lhe faltando, não resistindo ao inverno rigoroso da idade e a Professora
deixou-nos no passado dia 12 de maio, certamente pedindo ao seu dragão
celestial que proteja aqueles que a estimavam e que o seu saber, trabalho e
abnegação inspiraram, ainda que desencontrados nas janelas de outras
tarefas, quando a sua, a de estudar e dar a conhecer a civilização chinesa,
lhe mereceu uma dedicação exclusiva que as centenárias relações entre
ambos os países justificam.
Como advertiu Eça de Queirós em Os Maias, pela voz de Ega, o seu
altar ego, «com os anos, a não ser a China, tudo na Terra passa»: por isso a
memória da Professora Doutora Ana Maria Amaro perdurará como uma
referência incontornável no estudo da civilização chinesa e das relações
entre a China e Portugal.
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor
Doutoramento
João Nicolau de Almeida
No próximo dia 29 de maio terá lugar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro (UTAD) em Vila Real o doutoramento honoris causa do Eng.º João Nicolau de
Almeida, enólogo formado pela Universidade de Bordéus e administrador delegado da
Casa Ramos Pinto, neste no ano em que se celebram os 25 anos do seu “Duas Quintas”.
É também autor, ou co-autor, de vários livros e artigos sobre vinhos e a sua elaboração e
características.Na mesma sessão será também agraciado com a mesma distinção o
Professor Engenheiro Luís Braga da Cruz, ex-presidente da Comissão de Coordenação
da Região Norte.
Revista e livros
Eça-Dagobertiana
Chegou-nos de Oeiras-Piauí o n.º 3 da Revista da Confraria Eça-Dagobertiana
referente a 2015, com uma bela capa que nos mostra como o espírito de Eça,
eternamente elegante, é venerado nesta cidade brasileira através do nosso confrade
escritor e historiador Dagoberto Carvalho Junior. No interior, para além de artigos de
releitura e redescoberta do nosso patrono comum, sobre as suas mais diversas obras,
quase diríamos sobre as suas “obras completas”, apresentados nos seus Eventos
Literários, a revista abre com as atividades da Confraria ao longo de 2013 e fecha com
um Caderno Especial Comemorativo do Centenário de António Santana Ferreira de
Carvalho, «homem que pugnava pela retidão de carácter».
Sexo e sensualidade
No dia 20 de maio foi lançada em Lisboa no El Corte Inglês a nova edição,
inteiramente remodelada, do livro «Sexo e Sensualidade em Eça de Queiroz» de A.
Campos Matos, com magníficas ilustrações de Rui Campos Matos, publicado pela
Editora Esfera Poética. Uma abordagem descomplexada de um tema caleidoscópico na
obra queirosiana.
Flore Portugaise
No dia 23 de maio foi lançado no Parque Biológico de Gaia o livro «A Flore
Portugaise e as viagens em Portugal de Hoffmannsegg e Link (1795 a 1801). Retrato de
Portugal Setecentista», tese de doutoramento em Biologia de Nuno Gomes Oliveira,
apresentada na Universidade de Coimbra, publicada pela Chiado Editora.
Peças do Solar em Mérida
Entre 23 de março e 30 de setembro deste ano está patente ao público a
exposição “Lusitânia-Romana - origem de dois povos”, no Museu Nacional de Arte
Romana em Mérida, organizada por este museu espanhol e pelo Museu Nacional de
Arqueologia português, patrocinada pelo Governo da Extremadura.
Entre as várias instituições portuguesas presentes que cederam peças está o Solar
Condes de Resende, que disponibilizou as duas tesserae hospitales do Monte Murado,
Vila Nova de Gaia, as quais habitualmente estão expostas no seu Núcleo Museológico
de Arqueologia. Durante a sua presente digressão ibérica foram aqui substituídas por
réplicas devidamente identificadas.
Conferências e palestras
No passado dia 23 de abril, Luís Manuel de Araújo, egiptólogo da FLUL e
diretor da Revista de Portugal, falou no Museu Nacional de Arqueologia sobre «Uma
milenar ideia do Antigo Egito: viajar é estar vivo!»; entretanto dirigiu um curso em seis
sessões sobre a mesma temática no El Corte Inglês de Lisboa e no dia 29 de abril
apresentou uma palestra sobre o mesmo tema na Casa do Infante no Porto. No dia 9 de
maio conduziu uma visita de estudo dos alunos da FLUL à coleção egípcia do Museu de
Historia Natural da Universidade do Porto, tendo proferido no Salão Nobre da Reitoria
uma conferência sobre «A Rainha Hatchepsut (c.1479-1458 a.C). Um notável rei do
Antigo Egipto».
Por sua vez J. A. Gonçalves Guimarães, no passado dia 8 de maio falou sobre
«O exercício profissional da escrita e Direitos de Autor» para os alunos de
biblioteconomia do ESEIG – IP Porto.
No dia 20 de maio no auditório do Arquivo Municipal de Vila Nova de Gaia, o
presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins, proferiu uma palestra
subordinada ao tema “Gestão política e responsabilidade financeira – o papel do
Tribunal de Contas” para uma plateia de juristas, magistrados e autarcas.
A 22 de maio o psiquiatra e psicanalista Jaime Milheiro participou na
Conferência sobre a Vida e Obra do Poeta Albano Martins na Biblioteca Pública
Municipal de Gaia. Esta homenagem ao poeta do Fundão, há décadas radicado em Vila
Nova de Gaia, termina no dia 30 de maio com uma sessão presidida pelo sociólogo e
presidente da Câmara de Gaia Eduardo Vitor Rodrigues a qual contará com a presença
de ensaísta Eduardo Lourenço e do compositor gaiense António Pinho Vargas.
No dia 28 de maio, na última quinta-feira do mês, no Solar Condes de Resende,
José Manuel Tedim falará às 21.30 sobre «3 Mestres do Expressionismo Alemão: Franz
Marc; August Macke e Gabriele Münter.
Homenagem a Nelson Cardoso
A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia inaugurou no passado dia 8 de maio
o Pavilhão das Pedras – Nelson Cardoso, dando-lhe o nome do primeiro administrador
da empresa municipal Gaianima falecido a 19 de janeiro de 2011. Tendo a obra sido
lançada no mandato anterior, o atual executivo deu conclusão à obra e concretizou a
homenagem àquele que durante anos foi um empenhado delegado do FAOJ, dirigente
associativo, autarca, gestor municipal e presidente da Mesa da Assembleia Geral dos
Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana.
Confraria do Pinhal do Rei
Decorreu no dia 16 de maio passado o VIII Capítulo da Confraria do Pinhal do
Rei, Leiria, no qual a Confraria Queirosiana se fez representar pelo seu Confrade Eng.º
Ricardo Chartres d' Azevedo.
Encontros de Maio
Nos próximos dias 28 e 29 de maio, no auditório do Parque Biológico de Gaia,
organizado pelo Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território
(CEGOT), com o patrocínio da Universidade do Porto e da Câmara de Gaia, e a
colaboração da Confraria Queirosiana e de outras entidades, vai decorrer um seminário
sobre «A Faixa Litoral de São Paio à Granja. Ocupação humana e processos
geomorfológicos», em que serão conferencistas, entre outros, António Manuel S. P.
Silva sobre «Mais de um século de arqueologia em Vila Nova de Gaia: investigação e
gestão de um património em risco»; e J. A. Gonçalves Guimarães e o anterior sobre
«Trabalhos arqueológicos no Castelo de Crestuma (2010-2015): resultados e
problemáticas», e Nuno Gomes Oliveira e outros sobre «Litoral de Vila Nova de Gaia:
algumas medidas de conservação, com particular destaque para a biodiversidade». A
entrada é livre obrigando a inscrição prévia.
Ervamoira 30 anos
Em 1985 tiveram inicio as escavações arqueológicas na Quinta de Ervamoira,
Vale do Côa, desde então dirigidas por J. A. Gonçalves Guimarães, com a colaboração
de Maria da Graça Peixoto e outros arqueólogos do Gabinete de História e Arqueologia
de Vila Nova de Gaia (hoje Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR
– Confraria Queirosiana), as quais se prolongaram, durante o Verão, até 2004, e desde
1996 complementadas com a Semana de Estudos Especializados nas férias da Páscoa.
Um resumo desta atividade, pela qual passaram cento e setenta e quatro participantes
individuais, alguns dos quais vários anos seguidos, pode ser visto no artigo «Da
intervenção arqueológica ao Museu de Sítio: a experiência da Quinta da Ervamoira» de
J. A. Gonçalves Guimarães, publicado em 2014 nas Atas das Conferências do Museu de
Lamego/CITCEM, 2014:81-102. Mas a recordação destes trabalhos continua viva
naquele museu inaugurado a 1 de novembro de 1997, que continua a receber os
visitantes que ali acorrem ao longo do ano, e nas largas dezenas de trabalhos entretanto
publicados sobre os seus resultados.
Para comemorar a data, a Confraria Queirosiana vai organizar nos dias 12 e 13
de setembro uma visita àquela Quinta e Museu e à região de Vila Nova de Foz Côa,
estando já abertas as pré-inscrições, sendo os lugares disponíveis limitados a um
autocarro.
Porto 1815
Uma garrafa de Vinho do Porto 1815 da Casa Ferreira, envelhecida durante dois
séculos na frasqueira dos seus armazéns em Vila Nova de Gaia, foi vendida no passado
dia 7 de maio num leilão na Torre de Londres, onde foi apresentada por Fernando
Guedes, presidente do conselho de administração da Sogrape, sendo arrematada por
5000 libras (cerca de 6800 euros), pagos por um apreciador anónimo.
Este Porto, também conhecido por Porto Waterloo, Duque de Wellington, ou
simplesmente “1815”, foi várias vezes referido na obra de Eça de Queirós,
nomeadamente em “O Crime do Padre Amaro”, “Os Maias” e em “O Conde
d’Abranhos”, pelo menos. Restam naquela empresa gaiense 49 garrafas que nem tu,
nem eu, caro leitor, algum dia beberemos. Mas outras há que lhe pedem meças como o
“1834” e o “1847”. Se os virem por aí, bebam-nos, pois dos bons vinhos, como dos
bons amores, deles antes ter saudades que desgostos.
O produto da venda daquela garrafa destinou-se à Associação Portuguesa de
Esclerose Lateral Amiotrófica. (a partir de uma notícia de Manuel Carvalho publicada
no Público no dia 9 de maio passado).
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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 79 – segunda-feira, 25 de maio de 2015
email:[email protected]; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-eoutras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: A. Campos Matos; Dagoberto
Carvalho Júnior; Luís Manuel de Araújo.
-Publicada por ASCR-Confraria Queirosiana às Eça & Outras a 5/25/2015 11:26:00
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