Criado em Antioquia, Timo Aytaç reside
na Alemanha
Era turco muçulmano, conheceu Cristo na Bíblia, baptizouse e hoje é doutor em teologia
católica
Timo conheceu Cristo lendo a Bíblia e ficou seduzido por Ele
Actualizado 11 de Setembro de 2013
Sandro Magister / Chiesa.espresso.repubblica.it
Quatro anos depois da sua primeira série de entrevistas recolhidas no volume
"Nuovi cristiani d´Europa. Dieci storie di conversione tra fede e ragione"
(“Novos cristãos da Europa. Dez histórias de conversão entre fé e razão”), Lorenzo Fazzini – jornalista e dinâmico director da EMI, Editorial Misionera Italiana –
volta a explorar outras oito histórias de grandes convertidos.
A última entrevista desta nova série saiu no domingo 1 de Setembro no
jornal da conferência episcopal italiana, "Avvenire".
E é a de um convertido do islão ao cristianismo, nascido e crescido na
Turquia e hoje residente na Alemanha.
O seu nome é Timo Aytaç Güzelmansur (na foto).
Nasceu em 1977 em Antakia, a antiga Antioquia, onde – segundo os Actos dos
Apóstolos – os seguidores de Jesus de Nazaré foram chamados cristãos pela primeira vez.
Depois da sua conversão e o baptismo, de 2000 a 2005 estudou teologia
na Alemanha, em Augusta e, depois, em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Conseguiu um doutorado de investigação na Hochschule Sankt Georgen de
Frankfurt, a mesma faculdade de teologia onde o então jovem jesuíta Jorge Mario
Bergoglio tinha a intenção de aperfeiçoar os seus estudos.
O seu “mentor” foi outro jesuíta, Christoph Tröll, grande especialista do islão,
muito apreciado pela sua competência neste tema pela conferência episcopal
alemã e pelo mesmo Joseph Ratzinger o qual, no ano de 2005, apenas eleito
Papa, chamou-o para introduzir em Castel Gandolfo a sessão anual de estudos dos seus ex-alunos de teologia.
Timo Aytaç Güzelmansur não nega a "perigosidade" de uma conversão
num país como a Turquia e, portanto, com maior razão em outros países muçulmanos ainda mais intolerantes.
Mas ressalta o facto de que não faltam conversões, também por um motivo
análogo ao seu: o descobrimento de que Jesus "nos amou até ao ponto de doarse por nós na cruz".
Um muçulmano conquistado por Jesus
Entrevista com Timo Aytaç Güzelmansur
– Como ocorreu a sua conversão ao catolicismo?
– Iniciei a aproximação à fé cristã com 18 anos, depois de ter conhecido na
minha cidade, Antakia, um cristão que logo se converteu em meu amigo. Procedo
de uma família muçulmana não particularmente religiosa, mas apesar disso recebi
uma instrução baseada em princípios islâmicos: os meus pais pertencem à comunidade alauita.
Depois do meu encontro com alguns cristãos comecei a ler a Bíblia e, em especial, o Novo Testamento. Imediatamente fascinou-me a pessoa de Jesus. Esta
fascinação, que ainda hoje em dia me cativa, e a surpresa (por causa da maravilha) de que Jesus me ama tanto que foi crucificado e deu a sua vida por mim, são
os motivos pelos quais me converti ao cristianismo.
– Como reagiram as pessoas do seu ambiente perante a notícia da sua
conversão cristã?
– Houve diferentes reacções. Na minha família surgiu uma espécie de desconhecimento p e r ante o que significa o facto de que um filho vintão decida receber o baptismo.
Provavelmente devido a um sentido de vergonha, causado pela minha decisão
de não externar demasiado os motivos da minha escolha religiosa, verificou-se
um certo distanciamento entre o meu pai e eu, até ao ponto que durante um
certo tempo tive que abandonar a casa dos meus pais e emigrar para o Este da
Turquia. Para alguns amigos meus já não era o de antes. A n t e s p e l o contrário, trataram-me como a um renegado e interromperam todo o contacto comigo.
– Porque decidiu no momento do baptismo mudar o seu nome pelo de
Timóteo?
– Aproximadamente dois anos depois do início do meu interesse pelo cristianismo
tomei a decisão de fazer-me baptizar. Um sacerdote dos Pequenos Irmãos de
Jesus preparou-me para o baptismo. Em 6 de Janeiro de 1997 recebi o baptismo
com o nome de Timóteo na que então era a catedral do vicariato apostólico de
Anatólia, na cidade de Mersin. O meu baptismo foi celebrado pela tarde na
presença de poucas pessoas.
Este nome escolhi-o eu pessoalmente porque Timóteo era um seguidor de São
Paulo. Timóteo era originário de Icónio, a actual cidade turca de Konya. Quando
ele, junto com Paulo, c o meçou a evangelizar na Anatólia era tão jovem como
eu quando pedi o baptismo. Numa carta Paulo escreveu a Timóteo: “Que ninguém menospreze a tua juventude. Procura, por outro lado, ser para os crentes modelo na palavra, no comportamento, na caridade, na fé, na pureza” (1 Tm
4, 12).
– Qual foi o aspecto do cristianismo que lhe surpreendeu mais?
– Converti-me ao cristianismo por causa de Cristo! Como já disse, o que continua
fascinando-me todavia é o amor de Jesus pelos homens. Ele amou-nos até ao ponto de doar-se por nós na cruz. Se Jesus doa a sua vida por mim, como posso responder e u ? Para mim esta é a pergunta fundamental. E pareceu-me lógico
corresponder a este amor seguindo a Cristo e recebendo o baptismo.
– Há aspectos do islão que Você considera positivos?
– O islão não é uma religião homogénea. Dentro dela encontramos numerosas
correntes religiosas, assim como diversos rasgos culturais, e todos são apresentados como islâmicos.
Encontro, por exemplo, grandioso o facto de que o islão não faça diferenças entre
raças ou discriminação por motivo da cor da pele: todos os homens são tratados
como i rmãos. Na comunidade islâmica dos meus pais, os alauitas, ressalta-se o
amor do crente para com Deus e para com os homens.
Sem dúvida, há distintos aspectos do islão que não posso aceitar, como por exemplo, a relação entre homem e mulher, a relação não clara com a força ou o conceito frequentemente citado de “guerra santa”.
– É possível uma coabitação pacífica entre cristãos e muçulmanos?
– Sim, penso que é possível se bem que tenho a impressão de que tanto na
Europa como na Turquia cada um conhece pouco do outro. Frequentemente
vivemos próximos uns dos outros, m a s não com o outro. Devemos mostrar
mais interesse na vida dos outros, intercambiando a s nossas experiências religiosas. Como pessoas em busca do desejo de Deus temos muitos desafios globais
que só poderemos superar juntos.
Parece-me que o peso da história está gravando ainda sobre nós e sobre a nossa possibilidade de conhecer-nos reciprocamente. E sem dúvida é o momento,
como disse o Concilio do Vaticano II no documento "Nostra aetate" sobre as religiões, de deixar de lado o passado para tentar entender-nos sincera e reciprocamente e, juntos, suster a promoção e a tutela dos direitos sociais, que são bens
morais; não últimos, entre estes, a paz e a liberdade para os homens. Temos que
ter a coragem de aproximarmo-nos reciprocamente.
– Desde o seu observatório alemão, estão aumentando as conversões
do islão ao cristianismo?
– Anualmente, na Igreja católica na Alemanha recebem o baptismo
umas duas centenas de pessoas de procedência muçulmana. Não se sabe quantos são os novos cristãos de ambiente protestante que procedem do islão
porque não existem estatísticas.
As pessoas que deixam o islão têm diversos motivos no momento em que decidem dar este passo, que é perigoso. Alguns dizem: Maomé foi um homem de Estado e religioso demasiado violento, e esta violência transmitiu-se também no Corão. Outros, por outro lado, percebem as comunidades árabes onde o islão é
maioria como muito atrasadas. Outros deixaram o islão porque vieram viver no
Ocidente e querem integrar-se totalmente aqui: segundo eles, um passo fundamental é aceitar o credo da maioria, quer dizer, o cristianismo.
Mas, sobretudo, há pessoas muçulmanas de uma profunda religiosidade que estão
procurando a Deus e que por isto encontram no cristianismo um Deus que os
ama, os acolhe e lhes oferece paz. Graças ao encontro com Deus descobrem
uma imagem de Deus que obviamente não podem encontrar no islão.
– Na Itália a condição do cristianismo de hoje na Turquia é conhecida sobretudo por causa dos factos graves, o duplo homicídio do sacerdote Andrea Santoro e do bispo Luigi Padovese. Como vivem os cristãos no seu
país de origem, Turquia?
– Sim, desgraçadamente no passado recente da Turquia houve ondas de violência
não contrastadas contra os cristãos. Pessoalmente não conheci dom Santoro, mas
vivi entre 1998 e 1999 na igreja de Santa Maria em Trabzon onde foi barbaramente assassinado em 2006.
Além disso, fui pessoalmente referente do bispo Luigi Padovese na cidade de
Iskenderun. Continuo ainda hoje surpreendido pelo seu assassinato, às mãos
do seu motorista. A esta série de homicídios há que acrescentar o assassinato
dos três cristãos protestantes e o do j o r n a l ista arménio Hrant Zaehlen.
Depois destes factos, os cristãos na Turquia encontram-se sempre mais incomodados. O humor social do país oferece uma grande variedade de situações: vai-se
desde comportamentos de vi zi n h ança amigáveis até violações hostis. Segundo onde c a d a um viva na Turquia podem-se viver todas estas situações. Na
cidade de Malatya, onde foram assassinados em 2007 três cristãos protestantes,
ainda hoje nenhum turco se reconhece como cristão. Por outro lado, em Antakia,
inclusive os exponentes dos Estados exaltam as boas relações entre muçulmanos,
cristãos e hebreus.
– A respeito do passado, existe no islão de hoje uma maior atenção à
democracia, os direitos humanos e a liberdade religiosa?
– Quando estalaram as sublevações conhecidas como revoluções árabes, ninguém podia prever que dinâmicas teriam desencadeado. Muitas pessoas no Egipto,
Tunes, Bahréin e outros lugares saíram à rua porque estavam conscientes de que
não podiam continuar deixando-se explorar pelo poder estatal. Homens, mulheres
e jovens se insurreccionaram pelos seus direitos e para ter mais liberdade.
Também neste contexto as distintas tradições culturais condicionaram a vida
política e social de cada país individualmente. Não vejo a democracia nas antípodas a respeito do islão. Ainda que neste período não estão chegando boas
notícias da Turquia, devemos recordar que ali há uma democracia que funciona
numa população de maioria islâmica. Não creio que a maioria da população
turca aceitaria como sistema estatal a sharia. O que se necessita é uma maior
formação e educação. Servem vozes islâmicas valentes em oposição ao fundamentalismo para criar uma liberdade do indivíduo que se inspire nos cânones
islâmicos.
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