Segunda-feira 22 de dezembro de 2014 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política 27 GOVERNO FEDERAL Congresso tenta aprovar relatório do Orçamento de 2015 ainda hoje Proposta recebeu 9,7 mil emendas A Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) tem reunião agendada para as 14h30min desta segunda-feira, último dia de atividades do Legislativo antes do recesso parlamentar (23 de dezembro a 31 de janeiro). Deputados e senadores devem tentar aprovar o relatório-final do senador Romero Jucá (PMDB-RR) ao projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2015. O senador Romero Jucá apresentou uma alteração ao seu parecer preliminar, aprovado na Comissão de Orçamento na semana passada. A mudança, que terá que ser aprovada para integrar o parecer, permite que as emendas individuais de deputados e senadores possam destinar recursos para despesas primárias obrigatórias, como gasto com pessoal, despesas discricionárias (não obrigatórias) relativas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e despesas financeiras. A mudança atende a parlamentares que apresentaram emendas a despesas obrigatórias. Cada parlamentar pôde apresentar R$ 16,3 milhões em emendas ao orçamento de 2015. Para que isso ocorra, terão de ser entregues até hoje os 10 relatórios setoriais e o próprio relatório de Jucá. Caso os parlamentares consigam concluir a votação na CMO, a proposta orçamentária tem de seguir para ser votada no mesmo dia no plenário do Congresso. Caso contrário, o Orçamento 2015 só poderá ser votado a partir de fevereiro, quando se inicia a nova legislatura. Também está pendente de apreciação pelos membros da CMO o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) em que constam as medidas saneadoras adotadas e as pendências relativas a obras e serviços com indícios de irregularidades ANTÔNIO CRUZ/AGÊNCIA SENADO/JC Reunião será realizada no último dia do ano legislativo antes de começar o recesso Relator Romero Jucá (c) apresentou uma alteração no seu parecer preliminar graves executadas com recursos da União em 2013. O Aviso 8/14 apresenta informações que vão embasar o voto da comissão quanto à continuidade no repasse de recursos orçamentários a esses empreendimentos. Depois de votado na comissão, o relatório do TCU seguirá para exame do Plenário do Congresso. O envio dos dados está previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014. O relatório indica se as irregularidades inicialmente apontadas pelo tribunal foram confirmadas e se o empreendimento questionado poderá ter continuidade sem risco de prejuízos significativos ao Erário. O coordenador do comitê do Congresso Nacional que avalia as obras e os serviços com indícios de irregularidades graves executados com recursos federais, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), apresentou parecer em que propõe a liberação de dois empreendimentos que estão com recomendação de paralisação (ou IGP, no jargão orçamentário) por parte do Tribunal de Contas da União (TCU). A primeira obra é a implantação do sistema de esgotamento sanitário da cidade de Pilar (AL). A segunda é a construção da Avenida Marginal Leste, que margeia o rio Poti, em Teresina. Entre os problemas encontrados pelos técnicos do tribunal estão sobrepreço (valores ou quantidades orçados acima dos preços de mercado) e desembolso irregular de recursos. Com isso, as duas não serão incluídas do Anexo 6 da lei orçamentária de 2014. Esse anexo abrange obras e serviços que não podem ser executados enquanto não forem resolvidos problemas apontados por fiscalizações do TCU. Segundo Valdir Raupp, o próprio TCU informou ao comitê que os problemas encontrados nos dois empreendimentos foram sanados ou os contratos questionados foram rescindidos. A proposta orçamentária de 2015 (PLN 13/14), que tramita na Comissão Mista de Orçamento (CMO), recebeu 9.664 emendas de deputados e senadores. O prazo para apresentação das sugestões acabou na quarta-feira passada. Do total das emendas, 9.341 destinam-se à despesa, ou seja, são voltadas para gastos como investimento e custeio. Em valores, elas somam R$ 85,3 bilhões, sendo que R$ 75,6 bilhões foram apresentados pelas bancadas estaduais e comissões da Câmara dos Deputados e do Senado. O restante (R$ 9,7 bilhões) foi para as emendas individuais de deputados e senadores. Somente estas últimas terão execução obrigatória, como determina o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovado na quarta-feira passada pelo Congresso Nacional. Entre os órgãos, os ministérios da Saúde e das Cidades foram os principais beneficiados pelas emendas. O primeiro recebeu R$ 15 bilhões. O segundo, R$ 11,3 bilhões. Educação vem em terceiro lugar, com R$ 9,9 bilhões. No geral, os investimentos ficaram com a maior parte dos recursos, R$ 67,9 bilhões. Os parlamentares também apresentaram 323 emendas à parte normativa da próxima lei orçamentária. São as chamadas “emendas ao texto”. A proposta orçamentária tem 4.020 páginas. Uma pequena parte é normativa, com os números gerais do orçamento e regras de execução complementares à LDO. O restante é formado por tabelas com valores de receita e despesa. As emendas serão distribuídas aos dez relatores setoriais que auxiliam o relator-geral do projeto, senador Romero Jucá (PMDB-RR), na definição das despesas orçamentárias. Os relatores terão que decidir as que serão acolhidas. Com base nisso, as consultorias de orçamento da Câmara e do Senado vão elaborar os relatórios que serão colocados em votação. Sem a decisão dos relatores, os consultores não têm como preparar os textos. ‘Dilmo da Dilma’ terá seus poderes ampliados no segundo mandato Batizado de “primeiro-ministro” no Palácio do Planalto, o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), terá seus poderes ampliados no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Além de coordenar a equipe, o homem conhecido como “Dilmo da Dilma” vai monitorar os principais programas do governo e estabelecer metas com prazos mais apertados para a entrega de resultados. Na composição do novo ministério, Mercadante desempenha papel de destaque, causando a ira de dirigentes do PT. É ele que chama os mandachuvas dos partidos na Câmara e no Senado, expõe o desenho planejado por Dilma para o primeiro escalão, cobra fidelidade em votações de interesse do governo, “administra” a temperatura do escândalo da Petrobras e dis- tribui broncas a torto e a direito. O estilo mandão de Mercadante já provocou até mesmo discussões acaloradas no Palácio do Planalto. Quando Marta Suplicy saiu do Ministério da Cultura batendo a porta, em novembro, ele teve a ideia de acelerar o pedido de demissão coletiva da equipe para deixar a presidente mais “à vontade” no seu retorno da viagem à Austrália, onde participava da reunião de Cúpula do G-20. O chefe da Casa Civil queria neutralizar o impacto das fortes críticas de Marta, sua adversária no PT, à administração de Dilma. Não contava, porém, com o protesto de Miguel Rossetto, então titular do Desenvolvimento Agrário, ao plano da demissão coletiva. Os dois bateram boca. Amigo de Dilma desde a época em que trabalhou com ela no governo do gaúcho Olívio Dutra (1999-2002), Rossetto foi um dos últimos a entregar a carta. Só o fez após ter certeza de que a presidente sabia da estratégia. A partir de janeiro do ano que vem na Secretaria-Geral da Presidência, Rossetto agora vai dividir com Mercadante e com o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, o quarto andar do Planalto. Há quem aposte em ruídos e ranger de dentes no corredor da articulação política, apelidado de “Faixa de Gaza” no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o chefe da Casa Civil era José Dirceu (PT), hoje condenado no processo do mensalão. De saída da Secretaria-Geral da Presidência, o ministro Gilberto Carvalho (PT) é outro que já teve duros embates com Mercadante. Em meados deste ano, Carvalho achou que o colega queria queimá-lo no governo, jogando-o na campanha com o objetivo de se livrar do seu “sincericídio” no Planalto. Para salvá-lo da fritura, Lula entrou em campo e falou com Dilma. Sem muita paciência para jogar conversa fora e definido como “workaholic”, Mercadante é hoje quem “filtra” as indicações dos aliados para o ministério, antes de expor as demandas por cargos a Dilma. No dia a dia, é Mercadante - e não Berzoini - quem tem carta branca para dizer “não” a pedidos “esdrúxulos!” de políticos. O apelido de “Dilmo da Dilma” foi criado para compará-lo à “tia”, como a presidente ficou conhecida no PT, quando ocupava a Casa Civil no governo Lula (de 2005 a 2010).